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06_AE_UNICAMP_ALICENOPAISDASMARAVILHAS_YONNE_2023.qxp 31/08/2023 14:41 Página I
 
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 – 1 
1. O autor e a literatura infantil 
 
Conta-se que Alice no país das maravilhas surge 
de um passeio de barco que o professor de matemática, 
Charles Lutwidge Dodgson, fez com as filhas de Henry 
Liddell, reitor do Christ Church, da Universidade de 
Oxford, pelo rio Tâmisa. Com ele, estão as três irmãs: 
Lorina, Alice e Edith. Assim como o passeio, eram comuns 
os contos de fadas narrados de improviso pelo professor 
para agradar às meninas. Mas o manuscrito sobre a narra -
tiva do dia 4 de julho de 1862 dedicada à Alice Liddell 
ganharia o papel ainda com quatro capítulos ilustrados pelo 
próprio autor. Em 1865, sob o pseudônimo de Lewis 
Carroll, foram publicados 12 capítulos, com ilustrações de 
John Tenniel (1820-1914). 
Alice no país das maravilhas teve grande 
aceitação do público infantil na Grã-Bretanha. Na Era 
Vitoriana (1837-1901), a literatura infantil era marcada 
pelo moralismo e pela prescrição dos bons costumes. A 
personagem Alice, em sua atitude desafiadora sustentada 
pelo universo onírico, funciona como uma antítese do 
modelo racional previsto para o sujeito da sociedade 
vitoriana. Ao questionar a utilidade dos livros sem 
diálogos e desenhos, Alice, além de romper com o 
didatismo da literatura infantil do período, também sugere 
não querer ser tratada como uma adulta em miniatura. Sua 
decisão em seguir o Coelho e sua queda ao mundo do 
sonho e do grotesco são um convite à imaginação e à 
fantasia, elementos pelos quais a criança se faz criança. 
Em 1872, Lewis Carroll publica Alice através do 
espelho, seguindo os traços marcantes do estilo dado em 
sua obra inicial: a inventividade verbal, o nonsense, a 
sátira e a paródia. A fortuna crítica de Alice no país das 
maravilhas permitiu-lhe lugar na História da Literatura 
Ocidental. A força simbólica de sua narrativa permite uma 
fertilidade interpretativa e inesgotável, apesar de suas 
referências ao contexto sociocultural que circunda seu 
tempo de enunciação nos meados do século XIX inglês. 
Lewis Carroll, que nascera em Daresbury, na Inglaterra, 
em 27 de janeiro de 1832, cresceu em uma família 
anglicana rodeado de irmãos. Depois de uma longa vida 
dedicada à docência e ao universo infantil, morre em 
janeiro de 1898. Sua voz narrativa, que a priori intencio -
nava o mundo infantil, há tempos passeia por outros 
universos das artes e do pensamento. 
2. O sonho de Alice 
 
No verão, na tarde de ouro, 
Deslizamos vagarosamente. 
Nossos remos são manejados 
Sem perícia, no sol ardente: 
Mãos gentis, que fugindo vão 
Guiar nosso passeio errante. 
 
Ah, cruel trio, que em tal hora, 
Sob o céu de esplendor e sonho, 
Implora um conto sem vigor 
E de pobre alento, enfadonho. 
Mas que pode tão fraca voz 
Contra o coro infantil, risonho? 
 
Prima decreta, imperiosa: 
“Agora, por que não começa?...” 
Em tom brando, Segunda roga: 
“Que seja sem pé nem cabeça!” 
E Tertia, uma vez por minuto 
Fala somente, não se apressa. 
 
Logo mais se calam, de súbito, 
E vão seguindo em fantasia 
A viagem-sonho da heroína 
No país de assombro e magia 
Em alegra charla com os bichos. 
E creem um pouco na utopia. 
 
Quando a estória já se esgota 
– Seco o poço da imaginação – 
Tenta habilmente o contador 
Desviar-se do assunto, em vão: 
“Conto depois...” “Já é depois”, 
Elas protestam em confusão. 
 
E assim cresceu este País 
Das Maravilhas. Uma a uma 
Surgiram as suas aventuras. 
Está pronta, sem falha alguma 
A estória. Voltamos lépidos 
Antes que o sol da tarde suma.
ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS 
AULAS ESPECIAIS 
AS OBRAS DA UNICAMP
PORTUGUÊS
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2 – 
 
Alice! Recebe essa estória 
E com mãos gentis deposita 
Lá longe, onde os sonhos da infância 
Se confundem com lembranças idas, 
Tal guirlanda de flores murchas 
Em distante terra colhidas. 
 
(Carroll, Lewis. Alice no País das Maravilhas. Trad. Sebastião Uchoa Leite. 
São Paulo: Editora 34, 2016, p. 5.) 
 
3. Capítulos do livro 
 
Capítulo 1. Na toca do Coelho 
Cansada de livros sem figuras e diálogos, em cujas 
estórias já não prosperava a imaginação, Alice cai num 
sonho profundo e vê passar por ela um Coelho Branco. 
Preocupado com o horário, o Coelho tira um relógio do 
bolso do colete. Curiosa, Alice segue-o até uma grande 
toca. Ao entrar, cai em um grande túnel de paredes cheias 
de armários. A queda é tamanha que Alice pensa que 
poderia chegar ao centro da terra. Ao término da queda, 
apesar da escuridão do fundo do poço, segue o Coelho até 
chegar a uma sala com diversas portas. Uma chavezinha 
dourada, por sobre a mesa, serve para abrir uma delas. 
Assim o faz e percebe que a pequena porta era a passagem 
para o mais belo jardim. Mas, com seu tamanho, é 
impossível a travessia. Nesse momento, Alice encontra 
uma garrafa com a inscrição “beba-me”. Prudentemente, 
checa se o líquido não é veneno e toma-o todo. Encolhe 
até a altura de vinte e cinco centímetros. Agora pode 
passar para o jardim. Mas lembra que a chave ficou sobre 
a mesa e chora ao perceber que, pequena do jeito que 
estava, não conseguiria alcançar a mesa.Vê uma caixa de 
vidro com um pequeno bolo com as palavras “coma-me”. 
No intuito de ficar maior, pois queria de qualquer modo 
entrar no jardim, Alice come um pedacinho do bolo. Mas 
não cresce. Isso a entristece por não ser nada extraor -
dinário. E come o bolo de uma vez. 
 
Capítulo 2. O mar de lágrimas 
Depois de comer o resto do bolo, Alice cresce tanto 
que se despede dos próprios pés. Pensa em enviar para 
eles um presente no Natal. Com dois metros e meio de 
altura, pega a chavezinha dourada para abrir a pequena 
porta. Chora novamente: seu tamanho não permite que ela 
chegue ao jardim. Suas lágrimas formam uma lagoa. Mas, 
ao escutar o barulho de passos, enxuga os olhos para ver 
quem era. Questiona se ainda continua a mesma menina e 
pensa em todas as amigas que conhecia para ver se havia 
se transformado em alguma delas. Ada e Mabel, conclui, 
são diferentes. A primeira tem cabelos encaracolados e a 
segunda não é inteligente. Tudo se mostra complicado, e 
Alice decide testar seus conheci mentos. Tenta uma 
multiplicação, mas desiste por não atingir o número vinte. 
Da tabuada passa para a Geografia, mas confunde os 
nomes de algumas capitais. Alice insiste em recitar um 
poema, porém sua voz e palavras são estranhas. Em 
solidão, chora mais uma vez. Ela começa a encolher. 
Pequena, e feliz por existir, pode passar para o jardim. No 
entanto, escorrega e cai no lago de suas próprias lágrimas. 
Ela nada pelo mar de suas lágrimas até se deparar com um 
Rato e tenta falar com ele. Sem obter resposta, ela 
pergunta pela saída. Alice, então, pensa que o Rato talvez 
seja francês. Ela lembra da primeira frase de seu livro de 
francês e a repete: Où est ma chatte? (“onde está minha 
gata?”). Assustado, o Rato diz que não gosta de gatos. 
Para mudar de assunto, Alice pergunta se o Rato não gosta 
de cachorros. Ele então a convida para ir à praia. Lá ela 
saberia por que o Rato não gosta de gatos nem de 
cachorros. Já é tempo de partir, pensa Alice. Muitas 
criaturas estranhas estão agora em seu mar de lágrimas. E 
ela nada, assumindo a liderança. 
 
Capítulo 3. Uma corrida eleitoral e o longo 
rabo de uma história 
Um grupo singular se reúne à margem do lago. 
Encharcados, aves e animais questionam sobre como se 
secariam outra vez. Alice discute com o Papagaio, o qual 
se julga mais sábio por ser mais velho. O Rato chama a 
atenção de todos, que formam um círculo ao seuredor 
para ouvi-lo. Ele conta a história de Guilherme, o Con -
quistador que, apoiado pelo Papa, obteve a submissão dos 
ingleses. Estes, habituados à usurpação e às conquistas, 
necessitavam de um líder. A história do Rato não seca o 
corpo de Alice, o que a deixa melancólica. Dodô propõe 
uma corrida eleitoral: correr dentro de um círculo de 
forma desordenada por cerca de meia hora, até que todos 
estivessem enxutos de vez. Quando foi perguntado sobre 
como se definia o vencedor, Dodô diz que todos merecem 
ser premiados. Os prêmios seriam entregues por Alice. A 
menina tira uma caixinha de bombons do bolso e os 
distribui. Mas o Rato observa que também Alice merecia 
um prêmio. Dodô percebe que ela tem um dedal no bolso. 
Ele o toma para si e o entrega novamente a Alice. Tudo é 
tão absurdo para a garota, mas a seriedade do grupo 
impede o seu riso. Ela agradece solenemente. 
 
Capítulo 4. O Coelho dá um encargo a Bill 
O Coelho Branco caminha ansiosamente preocupado 
com a repressão da Duquesa. Alice o ajuda a procurar suas 
luvas e leque. O Coelho a chama de Mary Ann, o nome de 
sua empregada. Ordena que Alice procure pelos itens. Na 
busca, Alice encontra uma pequena casa em cuja porta 
estava escrito “Coelho B”. Entra em um quarto muito 
pequeno e encontra uma garrafa com as palavras 
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 – 3 
“Beba-me”. Cansada de ser tão pequenina, toma o líquido 
na esperança de crescer novamente. Aumenta tanto de 
tamanho que sua cabeça atinge o teto e seu corpo ocupa 
todo o espaço do quarto. Seus braços saem pelas janelas, 
e um pé, pela chaminé. Alice acredita estar em um conto 
de fadas. Pensa em escrever uma história. Ela encolhe e 
quando sai, encontra com uma multidão de animaizinhos 
que a hostilizam. Com medo, Alice corre. Deseja voltar 
ao seu tamanho normal e também reencontrar o caminho 
lindo do jardim. Percebe um latido. Um cachorrinho olha 
para ela. Alice estende um graveto e o cão responde aos 
seus comandos. Na brincadeira, o cão quase a pisoteia. 
Cansado, ele dá uma brecha para que Alice escape. Ela 
precisa crescer de novo. Pensa em comer algo, mas não 
sabe o quê. Talvez o cogumelo cuja altura se aproximava 
da sua. Mas, quando olha para o alto do cogumelo, avista 
uma lagarta azul fumando distraida mente um cachimbo 
turco. 
 
Capítulo 5. Conselhos de uma lagarta 
Depois de muito esforço para romper com o discurso 
lacônico da Lagarta, Alice tenta explicar quem era e 
confessa que está com a memória fraca. Tenta recitar um 
poema, mas as palavras lhe saem diferentes. A Lagarta 
sugere outro poema, e Alice recita-o prontamente. 
A Lagarta pergunta de que tamanho Alice gostaria de ser. 
A menina, que nunca fora tão contestada, responde que, 
pelo menos, um pouco mais de oito centímetros, medida 
que achava insignificante. Rispidamente, a Lagarta 
responde que oito centímetros são uma altura muito boa, 
demons trando ser essa a sua própria medida. Alice desce 
do cogumelo e, ao se afastar, ouve um conselho da Lagarta, 
a qual que um lado daria o crescimento e o outro, o 
encolhimento. Alice pensa em como definiria os lados de 
algo que era redondo. Então, come um pedacinho do lado 
direito e sente seu queixo bater em seu pé. Com muita 
dificuldade consegue abocanhar um pouco do lado 
esquerdo e cresce tanto que seu pescoço parece uma 
chaminé. Alice fica feliz por seu pescoço ser como uma 
serpente. Suas mãos, por fim, tocam na copa de uma 
árvore. Nesse momento, aparece uma Pomba que pensa 
estar vendo uma serpente. E reclama por ter de vigiar as 
serpentes pelos últimos três dias. Apesar de Alice afirmar 
não ser uma serpente, a Pomba segue desconfiada e 
pergunta se ela não comia ovos. Alice diz que é comum as 
meninas comerem ovos. Logo, as meninas são um tipo de 
serpente, segundo a Pomba. Alice retorna ao cogumelo e 
o mastiga de forma equilibrada até atingir seu tamanho 
normal. Mas faltava ainda entrar naquele lindo jardim. 
Chega a uma clareira, em cujo centro havia uma pequena 
casa de um metro e vinte de altura. Ela decide entrar, mas, 
para não assustar seus moradores com seu tamanho 
normal, come outro pedaço do cogumelo de sua mão 
direita até que sua altura se ajustasse à da casa. 
Capítulo 6. Porco e pimenta 
Diante da casa, avista um Lacaio, por estar de libré. 
Ele bate a porta, a qual logo é aberta por outro Lacaio com 
olhos de rã. O Lacaio-Peixe entrega um envelope destina -
do à Duquesa. Trata-se de um convite da Rainha para o 
jogo de croqué. Eles se cumprimentam enrolando suas 
cabeleiras, o que desperta o riso em Alice. Ela bate à porta, 
mas o mordomo diz que isso era inútil porque não havia 
porta entre eles, pois estavam do mesmo lado. A porta se 
abre e a menina aproveita uma brecha e entra. A passagem 
dá para uma ampla cozinha, em cujo centro está sentada 
a Duquesa segurando um bebê. Há um cheiro forte de 
pimenta no ar. A Duquesa acalenta seu bebê, mas logo 
solta um grosseiro “porco!” Mesmo espantada, Alice 
questiona por que o gato da Duquesa ria de um jeito tão 
intenso. A cozinheira tira o caldeirão do fogo e lança o que 
está ao seu alcance na direção da Duquesa e do bebê. A 
Duquesa emenda uma canção de ninar bizarra (Espanca 
de forma violenta/ Teu filho, se espirrar,/Ele sabe que isso 
atormenta,/ E quer nos irritar.) para o bebê, sacudindo-o 
violentamente. Depois, oferece-o a Alice para que ela 
também o ninasse. Em seu colo, a menina percebe que o 
bebê mais parecia uma estrela do mar e bufava como uma 
locomotiva. Alice consegue acalmá-lo. Pensa em tirá-lo 
daquele ambiente para que não o matassem. Mas, ao 
perceber que se tratava de um porco, fica feliz por não ter 
de levá-lo para sua casa quando regressasse. Imagina que, 
se ele crescesse mais um pouco, seria uma criança 
extremamente feia, e pensa nas crianças conhecidas que 
dariam belos porquinhos. O Gato de Cheshire aparece 
sentado em um galho de árvore. Alice pergunta a ele qual 
era o caminho para sair dali. Em seguida, questiona que 
tipo de gente vivia naquele lugar. E descobre que em uma 
direção, morava um Chapeleiro; em outra, a Lebre de 
Março. Ambos loucos, segundo o Gato. Alice diz que não 
quer se encontrar com gente louca. Mas isso era 
inevitável, conclui o Gato, afinal, todos eram loucos, 
inclusive Alice. Somente o cachorro não era louco por 
balançar o rabo quando está feliz. Já ele, por fazer o 
contrário, era louco. Já a loucura da garota se justificava 
pelo simples fato de estar ali. O Gato pergunta a Alice se 
ela jogaria croqué com a Rainha. A menina diz que 
gostaria muito, apesar de não ter sido convidada. Ele diz 
que espera Alice no evento e esvai-se no ar. Alice caminha 
e chega à casa da Lebre de Março. 
 
Capítulo 7. Um chá de loucos 
A Lebre de Março e o Chapeleiro tomam chá diante 
da casa. Um Leirão está entre eles e é usado como 
almofada. A mesa é grande, mas, quando avistam Alice, 
dizem que não havia mais lugar. A Lebre oferece vinho, 
mas Alice só vê chá sobre a mesa. A garota rechaça a 
atitude da Lebre por oferecer algo não disponível. Esta 
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devolve a admoestação criticando Alice por sentar à mesa 
sem ser convidada. O chapeleiro julga que Alice devia 
cortar os cabelos. Espontaneamente, Alice corrige-o, 
dizendo que era impróprio tecer comentários pessoais. O 
Chapeleiro arregala os olhos e desvia o assunto, ques -
tionando por que um corvo se parecia com uma escriva -
ninha. Alice diz ter a resposta, apesar de dividida 
inter na mente. Eles se silenciam e, depois de descobrirem 
a data daquele dia, Alice percebe que o relógio contem -
plado pela Lebre marcava os dias e não as horas, e acha 
graça. A Lebre se irrita e pergunta a Alice se o relógio dela 
marcava o ano. Estupefata, Alice diz que não, pois se fica 
no mesmo ano uma porção de tempo. O Chapeleiro conclui 
que o seu relógio fazia o mesmo. Alice o critica por gastar 
tempo com enigmas. Ele ponderaser a expressão “gastar” 
inadequada, porque trata o tempo como se ele fosse uma 
coisa. Ele é alguém. E aposta que Alice não havia 
conversado com o Tempo. Alice diz que certamente não, e 
acrescenta que marca o tempo quando ouve música. Mas 
o Tempo, segundo o Chapeleiro, não podia ser marcado 
como se fosse gado. Ele ainda explica que, se Alice vivesse 
em paz com o Tempo, ele correria nos momentos ruins, 
como nas horas em que se tem de estudar. Depois, lamenta 
ter brigado com o Tempo em março passado, antes da 
Lebre enlouquecer. Num concerto dado pela Rainha, o 
Chapeleiro deveria executar uma canção. Mas sua 
apresentação não a agradou e ela disse que ele estava 
“matando o tempo”. Desde então, são sempre seis da tarde 
e não é mais possível lavar a louça entre um chá e outro. 
Eles rodam em torno da mesa à medida que as louças se 
sujam. Decidem contar estórias para mudar de assunto. 
Leirão começa a narrativa de três irmãzinhas que viviam de 
melado. A Lebre oferece mais chá a Alice que, até aquele 
momento, não havia tomado a bebida! As irmãzinhas 
viviam no fundo de um poço porque, segundo o Leirão, 
era um poço de melado. Alice diz que tudo aquilo era 
impossível e é tachada de mal-educada. Outra vez, Alice se 
vê dentro da sala comprida e ao lado da mesa de vidro. Já 
experiente, a menina pega a chave, come o cogumelo e 
diminui ao tamanho de trinta centímetros. Atravessa a 
pequena passagem e entra no jardim, um lindo jardim com 
belos canteiros e muita água fresca. 
 
Capítulo 8. O campo de croqué da Rainha 
Três jardineiros – Sete, Cinco e Dois – ocupam-se em 
pintar de vermelho as rosas brancas de uma grande roseira 
à entrada do jardim. Eles discutem sobre o traba lho e 
Cinco fala sobre o risco que Sete teve de ser decapi tado 
pela Rainha por levar tulipas em vez de cebolas para 
cozinhar. Alice pergunta por que eles estavam pintando as 
rosas e um deles responde que planta ram rosas brancas 
por engano e podiam ser decapitados pela soberana. Cinco 
grita “A Rainha!” e todos se jogam ao chão para não 
serem vistos. Quando o cortejo passa por Alice, todos 
param e olham para ela. A Rainha pergunta seu nome. 
Alice reponde à pergunta e pensa que não precisa ter medo 
deles, pois todos não passam de um baralho de cartas. A 
Rainha questiona quem eram aqueles deitados ao pé da 
roseira e Alice diz que aquilo não era da conta dela. Com 
raiva, a Rainha ordena que cortem a cabeça da garota. 
Esta, admirada com sua coragem, diz que tudo aquilo era 
bobagem e a Rainha fica em silêncio. Depois ouve o 
conselho do Rei, que pondera que ela era apenas uma 
criança. A Rainha ordena que aprisionem os três 
jardineiros. Depois de perceber o que fizeram, decide por 
decapitá-los. Eles pedem socorro a Alice, que diz aos 
soldados que permitiria tal ato. Ela esconde os três 
jardineiros em uma jarra de flores. Os soldados desistem 
de encontrá-los e seguem o cortejo afirmando à Rainha 
que haviam cumprido a ordem. A Rainha pergunta a Alice 
se ela sabia jogar croqué. Alice responde que sim e segue 
o cortejo. Aparece o Coelho Branco, e Alice pergunta 
sobre o paradeiro da Duquesa. Esta fora executada por dar 
um murro na Rainha. Alice ri intensamente. A soberana 
convoca todos para o jogo. O campo era instável, as bolas 
eram ouriços vivos e os tacos eram flamingos também 
vivos. Os soldados formavam os arcos dobrando-se com 
as mãos e os pés. No jogo, Alice tem dificuldade em mane -
jar seu flamingo. Quando atinge o ouriço, seu flamingo 
olha perplexo para ela, fazendo-a gargalhar. Todos jogam 
ao mesmo tempo. A Rainha fica possessa e manda cortar a 
cabeça de um ou de outro jogador aleato riamente. Alice 
teme competir com a Rainha e ser decapitada. Avista o 
Gato de Cheshire e comenta que aquele jogo não era 
honesto, pois não havia regra nenhuma. 
Nesse momento, percebe que a Rainha estava bem 
atrás dela ouvindo tudo. Alice então comenta que a 
soberana era muito hábil no jogo. A Rainha sorri e se 
afasta. O rei pergunta quem era o Gato e Alice explica que 
ele era seu amigo. O Rei antipatiza com ele e pede à 
Rainha que ele desapareça. Ela pede que lhe cortem a 
cabeça. Amedrontada com o autoritarismo constante da 
Rainha, Alice volta ao jogo. Apanha com dificuldade seu 
flamingo e percebe que todos os arcos haviam sumido. 
Decide voltar para seu amigo e presencia uma calorosa 
discussão sobre a decapitação do Gato. Este, que apenas 
mostrara a cabeça em sua aparição, seria passível de 
decapitação? Para o Rei, todos que possuíssem cabeça 
poderiam ser decapitados. Já a Rainha ameaça a degola 
geral, caso não apresentem uma solução paro o imbróglio. 
Alice intervém dizendo que só a Duquesa poderia dar uma 
resposta, uma vez que era a dona dele. A Rainha manda o 
carrasco buscá-la na prisão e, nesse ínterim, o Gato some 
totalmente, enquanto o restante do grupo volta ao jogo. 
 
Capítulo 9. A história da Falsa Tartaruga 
A Duquesa se mostra feliz por reencontrar Alice. Na 
caminhada, a garota pensa em não ter pimenta nenhuma 
4 – 
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quando for uma Duquesa. A pimenta torna as pessoas 
belicosas. Essa proposição deixa Alice contente, pois se 
mostra como um novo tipo de regra. E acrescenta que o 
vinagre torna as pessoas azedas e a camomila deixa as 
pessoas amargas. Já o açúcar deixa as pessoas doces e 
suaves, e seria bom que os adultos soubessem disso. A 
Duquesa se aproxima de Alice e a menina não gosta 
porque a Duquesa é muito feia. Mas ela insiste e pousa o 
queixo no ombro de Alice. Para mudar de assunto, Alice 
comenta sobre o jogo e a Duquesa explica sentencio -
samente que é o amor que faz o mundo girar. Alice 
comenta que o mundo gira quando cada um cuida de sua 
vida, o que dá no mesmo, segundo a Duquesa. E 
acrescenta a moral: Cuide dos sentidos, que os sons 
cuidarão de si mesmos. Alice obser va que poderia 
entender melhor todos esses aponta mentos se visse tudo 
escrito. No jogo, a Rainha continua a gritar “cortem a 
cabeça!” e logo não há mais arcos no campo, já que os 
sentenciados deviam ficar sob a custódia dos soldados. A 
Rainha pergunta a Alice se ela não conhe cia a Falsa 
Tartaruga. Alice e a Rainha chegam junto a um Grifo que 
dormia profundamente. A Rainha ordena-lhe que 
levassem Alice até a Falsa Tartaruga. O Grifo ri e diz que 
tudo aquilo era fantasia da Rainha, pois eles nunca 
executavam ninguém. Ele leva Alice para encontrar com 
a Falsa Tartaruga. A Falsa Tartaruga suspirava de tristeza 
quando o Grifo lhe apresenta Alice, dizendo que a menina 
gostaria de ouvir a história dela. A Falsa Tartaruga conta 
que, certa vez, ela fora uma verdadeira tartaruga. Quando 
pequena, ela frequentava uma escola no mar. A professora 
era uma velha tartaruga chamada de Torturuga, já que era 
uma tortura aprender com ela. Na escola, havia matérias 
suplementares, como francês, música e lavagem, mas a 
Falsa Tartaruga não tinha recursos para pagar esses cursos. 
 
Capítulo 10. A quadrilha da Lagosta 
A Falsa Tartaruga observa que Alice talvez não tenha 
vivido muito tempo sob o mar, tampouco tenha sido apre -
sentada a uma lagosta. Em seguida, deixa Alice curiosa 
ao falar da Quadrilha de Lagostas. A Falsa Tartaruga e o 
Grifo tentam explicar o funcionamento da dança, mas se 
atrapalham. Alice agradece pela exibição e acha muito 
interessante a dança. Diz achar curiosa a canção sobre a 
enchova. A Falsa Tartaruga pergunta se ela já vira alguma 
enchova. Alice tenta uma descrição e diz que as enchovas 
tinham o rabo na boca e que eram cobertas de farelo de 
pão. Deste último elemento, discorda a Falsa Tartaruga. 
Depois, o Grifo explica a razão pela qual as enchovas 
tinham o rabo na boca: as enchovas queriam participar da 
dança das lagostas, mas foram atiradas e passaram muito 
tempo em queda livre. O Grifo acrescenta que as enchovas 
são usadas no fundo do mar para “enchovalhar” sapatos e 
botas. Alice, perplexa, diz que sapatos são lustrados com 
escovas. Mas no fundo do mar,conclui o Grifo, 
obviamente, sapatos e botas são “enchovalhados” com 
enchovas e não com escovas. Alice pensa na canção e na 
obrigação das enchovas em aceitar o boto. O Grifo pede 
a ela que conte suas aventuras. Alice começa sua narrativa 
a partir do momento em que viu o Coelho Branco, depois 
recita uma canção que sai totalmente diferente. Depois, a 
Falsa Tartaruga pede outra canção e Alice, cheia de tantas 
ordens, recita-a também de forma muito estranha. A 
menina se entristece e pensa se voltaria a ser como antes. 
Ela tenta outra canção e é criticada pela Falsa Tartaruga 
por não explicá-la enquanto a recita. Esta então decide 
cantar e, quando chega ao coro, ouve-se que o julgamento 
havia começado. Todos correm. 
 
Capítulo 11. Quem roubou as tortas 
O Rei e a Rainha estão cercados por enorme multidão. 
Alice jamais estivera em uma corte de justiça, mas 
identifica o juiz por causa da peruca. O juiz era o próprio 
Rei, que ordena ao Coelho Branco que leia a acusação. 
Ele desenrola o pergaminho e recita: A Rainha de Copas 
assou umas tortas/num dia de verão./O Valete de Copas 
roubou essas tortas/sem nenhuma razão. O Rei ordena ao 
júri que pense no veredicto. Mas o Coelho diz que havia 
muito o que fazer ainda. Ele chama a primeira testemunha, 
o Chapeleiro. Alice sente que está crescendo outra vez. A 
Rainha pede a lista dos cantores que participaram do 
último concerto. O Chapeleiro dá início ao seu depoi -
mento desastrado e, ao fim, recebe a condenação da 
Rainha. Em seguida, chamam a cozinheira da Duquesa. 
Todos espirram, pois ela entra com uma pimenteira na 
mão. Ela nega dar seu depoimento, porém, responde que 
as tortas são feitas de pimenta, principalmente. Mas o 
Leirão diz que são feitas de melado e a Rainha ordena que 
lhe cortem a cabeça. O tribunal entra numa tremenda 
confusão e a cozinheira desaparece. O Coelho Branco se 
atrapalha com a lista de testemunhas e Alice fica curiosa 
para saber quem seria a próxima. Foi quando o Coelho 
Branco disse o nome “Alice”. 
 
Capítulo 12. O depoimento de Alice 
Quando é chamada, Alice diz “presente!” e, ao se 
levantar, derruba todos que estavam em seu banco. Ela 
esquecera o quanto havia aumentado de tamanho. Ela se 
desculpa e pensa em juntar aquelas criaturas como se 
fossem peixinhos que tivessem caído de um aquário. Alice 
coloca o lagarto de cabeça para baixo e deixa o bicho 
traumatizado, olhando para o teto do tribunal de boca 
aberta. Todos se recompõem e o Rei pergunta a Alice o 
que sabia do caso. Ela responde que não sabia absolu -
tamente nada. O Rei, a princípio, achou isso importante, 
mas com a correção do Coelho Branco, muda a palavra 
para desimportante. Alguns jurados escreveram “impor -
tante”; outros, “desimportante”. Em seguida, o Rei lê o 
 – 5 
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Artigo Quarenta e Dois, que diz que Todas as pessoas com 
mais de um quilômetro e meio de altura devem abandonar 
o tribunal. Todos olham para Alice, que diz que não iria 
obedecê-lo porque o Rei acabara de inventar tal artigo. O 
Rei observa que esse era o mais antigo código. Alice 
argumenta que, então, ele devia ser o número um. 
Empalidecido, o Rei pede, com voz trêmula, que o júri dê 
o seu veredicto. O Coelho Branco interrompe e diz que 
havia um documento para ser analisado. Ele desdobra o 
papel e percebe que se tratava de uma porção de versos. A 
escrita não parecia ter sido feita por um prisioneiro, o que 
gera estranhamento nos membros do júri. O Valete se 
apronta a dizer que não fora ele o autor dos versos. Não 
havia prova porque ninguém assinou embaixo, acrescenta 
ele. O Rei observa que isso tornava pior a sua situação, 
porque uma pessoa honesta assina seus próprios escritos. 
O público aplaude o soberano e a Rainha vê nisso a prova 
de que o Valete era o culpado. Alice interfere dizendo que 
isso não era prova alguma. Era preciso saber o que diziam 
os versos. O Rei ordena a recitação, ponderando ao 
Coelho Branco, que não sabia por onde começar, que se 
começasse pelo começo e que se parasse ao fim. Ao 
término da leitura, nenhum presente no tribunal conseguiu 
dar o sentido do poema, apesar de o Rei dizer que era a 
prova mais importante que se apresentara naquele dia. 
Afinal, se não havia sentido, não era preciso procurar 
sentido. Aponta, em seguida, que um verso dizia “eu não 
sei nadar”, um atributo que cabia também ao Valete. A 
Rainha pede a sentença antes do veredicto. Alice protesta 
e é condenada a perder a cabeça. Mas ninguém se move. 
Alice diz a Rainha que ninguém se importava com ela e 
acrescenta que eles não passavam de um jogo de cartas. 
Nesse momento, todo o jogo de cartas voou para cima e 
voltou em sua direção. Alice se assusta e acorda no colo 
de sua irmã. Alice conta suas aventuras e segue para o seu 
chá, pensando no sonho maravilhoso que teve. E sua irmã, 
pensando nas maravilhosas aventuras de Alice, tem o seu 
próprio sonho envolvendo as personagens das estórias que 
acabara de ouvir. E, finalmente, imagina o quão afetuoso 
seria o coração da Alice adulta que, talvez rodeada de 
crianças, pudesse contar suas aventuras dos tempos felizes 
de sua infância. 
 
4. Considerações acerca de Alice no país 
das maravilhas 
 
Nos doze capítulos que compõem Alice no país das 
maravilhas, os eventos incomuns que marcam a viagem 
onírica da protagonista sugerem uma espécie de colagem 
de pequenas histórias, cujo fio condutor é o fantástico. O 
leitor é levado ao estranhamento que se dá por meio do 
jogo entre a ancoragem do senso lógico, dado por seu 
aprendizado de seu mundo da superfície, e o nonsense, 
termo em inglês que significa “ausência de sentido”. 
As regras desse jogo, já no início da narrativa, estabe -
lecem-se pela subversão da lógica, a qual é percebida pelo 
leitor por participar do senso comum que opera inicial -
mente nas atitudes de Alice. Sua perplexidade é compar -
tilhada a cada evento grotesco, a cada angústia diante do 
devir, a cada quebra de expectativa promove dora do riso. 
Esse jogo provoca uma quebra de paradigma na 
literatura infantil, que até então cumpria com os preceitos 
morais e didáticos da Era Vitoriana. No reinado da rainha 
Vitória (1837-1901), a sociedade inglesa vivenciou um 
momento de grande euforia e transformações culturais, ao 
mesmo tempo em que vigoravam os preceitos de um 
moralismo conservador. Com efeito, a narrativa nonsense 
de Carroll mostra-se como um ponto de inflexão pelo qual 
se rompe com o didatismo que marcara o universo da 
leitura das crianças e que sempre culminava em uma 
“moral da história”. 
Como narrativa que, a princípio, nasce da oralidade, e 
que obedece, portanto, a certos preceitos como a recolha de 
elementos do mundo cotidiano do ouvinte, Alice no país 
das maravilhas apresenta diversos elementos que par ti ci -
pam de seu contexto cultural. No exercício da paródia, 
gênero que se constrói a partir da imitação sarcástica de 
gêneros elevados, Carroll remete a provér bios, canções, 
anedotas que eram familiares ao leitor no tem po de 
enunciação de sua obra e que, hoje não escapa só a nós, 
mas também ao leitor inglês, que normalmente reco nhece 
o texto de partida da paródia pela própria obra de Carroll. 
Apesar das referências a seu contexto de enunciação, a 
narrativa de Carroll ganha valor simbólico mais amplo por 
conta da performance do narrador que, ao partir do mundo 
de suas ouvintes iniciais, atinge o universo infantil por meio 
da imaginação e da perplexidade. As vivências inusitadas 
de Alice transcendem o contexto de produção da obra. 
Nesse intuito transformador, as ilustrações são de 
suma importância, uma vez que corroboram o grotesco 
como um dois pilares da representação literária de Carroll 
ao legitimarem a estranheza intencionada pelo nonsense. 
As distorções da imagem, além de exemplificarem o 
espanto de Alice diante do fantástico, promovem a quebra 
da expectativa lógica do leitor e, com efeito, fundamentam 
o tom humorístico quemodula a narrativa. No final das 
contas, o fantástico gera o riso que, por sua vez, sugere 
uma moral, ou, no mínimo, uma nova percepção do real. 
Nesta subversão, o nonsense que sustenta a intriga da 
narrativa remete, ainda que erroneamente, ao Surrealismo, 
vanguarda heroica que compõe a tradição da ruptura dada 
pela Arte Moderna. O estilo surrealista emprega a “escrita 
automática” para reproduzir conteúdos que emergem 
instantaneamente do inconsciente e que são associados de 
forma insólita, representando o real de forma desorga -
nizada. O insólito, como elemento caro tanto ao Surrealis -
mo quanto ao nonsense, manifesta-se pelo fantástico e 
pelo maravilhoso. 
6 – 
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O maravilhoso aparece quando tem de se admitir 
novas leis da natureza para se explicar um determinado 
fenômeno. Por exemplo, quando Alice percebe os 
mecanismos que possui para aumentar ou diminuir de 
tamanho; ou quando compreende o motivo pelo qual as 
louças estão sempre sujas na mesa da Lebre de Março e do 
Chapeleiro. Já o fantástico reside no estranhamento que 
advém da interpretação de um evento extraordinário. Por 
exemplo, quando Alice vale-se de seus conhecimentos de 
mundo – do mundo da superfície –, para interpretar 
eventos como o da passagem do tempo e a velhice ou 
mesmo para se revoltar diante do autoritarismo da Rainha. 
Apesar do interesse comum pelo insólito, pelo sonho, pelo 
olhar infantil, o nonsense se difere do Surrealismo por 
obedecer a um sistema de coerência interna entre os 
elementos que compõem sua representação. O nonsense 
opera de forma mais metódica e tende a explorar o lúdico. 
Enquanto gênero literário, o nonsense surge na 
Inglaterra vitoriana e tem como principais representantes 
Edward Lear, cujo livro A book of nonsense, de 1846, traz 
o termo nonsense pela primeira vez, e Lewis Carroll. Mas 
o nonsense do autor de Alice no país das maravilhas traz 
elementos novos: a lógica e a matemática como instru -
mentos do “sem sentido”, além das marcas comuns ao 
gênero como a paródia, o grotesco e os jogos de linguagem. 
Nesse exercício lúdico com a palavra, é comum ao 
nonsense de Carroll o cruzamento vocabular pelo qual 
palavras e conceitos se juntam como em lesmolisas (liso 
como lesmas) ou Durmodongo (camundongo dormi -
nhoco). Além da invenção da palavra, nota-se os jogos de 
linguagem que se estabelecem a partir dos elementos 
comuns à lógica, em que as proposições, apesar de sua 
organização formal, fogem do senso comum quando se 
aplica a verificação. 
A ausência de referência aos fatos é o elemento 
catalizador do nonsense. Como acontecimento, o nonsense 
não pode ser caracterizado como falso, ou mentira, pois as 
vivências acontecem mesmo que dentro do sonho de 
Alice. A lógica proposicional, como parte da lógica que 
estuda as formas de argumentos, prevê a estruturação dos 
enunciados que, além de se organizarem rigidamente no 
plano da forma, devem ter consistência no plano do 
conteúdo. Este também passaria pelo método de 
verificação. O nonsense, portanto, torna-se um exercício 
lógico como se nota no diálogo entre Alice e o Gato de 
Cheshire: 
 
“Mas eu não quero me encontrar com gente louca”, 
observou Alice. 
“Oh, não se pode evitar”, disse o Gato, “todos são 
loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louca.” 
“Como sabe que eu sou louca?” indagou Alice. 
“Você deve ser”, respondeu o Gato, “ou então não 
teria vindo aqui.” 
Alice não achou que isso comprovava nada; todavia 
continuou: “E como você sabe que é louco?” 
“Para começar”, disse o Gato, “um cachorro não é 
louco. Concorda?” 
“Acho que sim”, respondeu Alice. 
“Bem”, prosseguiu o Gato, “você vê um cão rosnar 
quando está bravo, e abanar o rabo quando está 
feliz. Agora, eu rosno quando estou feliz e balanço o 
rabo quando estou bravo. Logo, sou louco” 
(Carroll, 2000, p. 84) 
 
Nesta conversa, percebe-se o seguinte raciocínio: 
 
Todo ser que habita aquele lugar é louco. 
Alice está naquele lugar. 
Logo, Alice é louca. 
 
Portanto, o nonsense se instaura em algum lugar em 
que “a ordem da língua encontra a desordem (nunca total) 
do que está além dela” (Bastos, 2001, p. 21). E dessa 
relação fronteiriça emerge o sentido pelo estranhamento e 
pelo humor. A ausência de sentido das premissas e a 
conclusão indevida rompem com a expectativa não só de 
Alice, mas também do leitor que, imerso à lógica insólita 
das aventuras de Alice, participa do jogo a que a obra se 
propõe. Nesse jogo de adequação, a linguagem de Alice 
impõe novas maneiras de perceber o mundo. 
 – 7 
Exercícios
Texto para a questão 1. 
 
“Mas eu não quero me encontrar com gente louca”, 
observou Alice. 
“Oh, não se pode evitar”, disse o Gato, “todos são 
loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louca.” 
“Como sabe que eu sou louca?” indagou Alice. 
“Você deve ser”, respondeu o Gato, “ou então não 
teria vindo aqui.” 
Alice não achou que isso comprovava nada; todavia 
continuou: 
“E como você sabe que é louco?” 
“Para começar”, disse o Gato, “um cachorro não é 
louco. Concorda?” 
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“Acho que sim”, respondeu Alice. 
“Bem”, prosseguiu o Gato, “você vê um cão rosnar 
quando está bravo, e abanar o rabo quando está feliz. 
Agora, eu rosno quando estou feliz e balanço o rabo 
quando estou bravo. Logo, sou louco.” 
“Eu chamo isso ronronar, não rosnar”, disse Alice. 
“Chame como quiser”, disse o Gato. “Você vai jogar 
croquet com a Rainha hoje?” 
“Gostaria muito”, falou Alice, “mas até agora não 
fui convidada.” 
“Você me encontrará lá”, disse o Gato, e 
desapareceu no ar. 
 
(CARROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas. Trad. Isabel 
de Lorenzo e Nelson Ascher. São Paulo: Objetivo, 2000, p. 84.) 
 
1. No excerto acima de Alice no país das maravilhas, 
nota-se um elemento marcante da literatura nonsense 
de Lewis Carroll. Assinale a alternativa que identifica 
e explica corretamente esse elemento. 
a) Os diálogos contribuem para o efeito moralizante 
intencionado pela narrativa que, pela fantasia, 
participa da tradição pedagógica da literatura 
infantil. 
b) As falas sem sentido do Gato, ao serem confron -
tadas com a atitude crítica da protagonista, corro -
boram o senso racionalista ao qual visa a narrativa. 
c) A conclusão falaciosa do Gato, além de subverter 
a lógica do senso comum, promove o humor ao 
corroborar o universo fantástico dado pela obra. 
d) O tom conselheiro do Gato remete à tradição do 
diálogo como discurso, cuja finalidade é a 
transmissão de valores e a busca da sabedoria. 
 
Texto para a questão 2. 
 
Quando a estória já se esgota 
– Seco o poço da imaginação – 
 Tenta habilmente o contador 
Desviar-se do assunto, em vão: 
“Conto depois...” “Já é depois”, 
Elas protestam em confusão. 
 
E assim cresceu este País 
Das Maravilhas. Uma a uma 
Surgiram as suas aventuras. 
Está pronta, sem falha alguma 
A estória. Voltamos lépidos 
Antes que o sol da tarde suma. 
 
(CARROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas. 
Trad. Sebastião Uchoa Leite. São Paulo: Editora 34, 2016, p. 5.) 
2. Considerando as intenções narrativas que marcam 
Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, 
assinale a alternativa que comenta corretamente o 
excerto anteriormente citado. 
a) A aventura surge como um elemento narrativo pelo 
qual permite à narrativa seu caráter pedagógico e 
moralizante. 
b) A atitude narrativa do narrador, diante das 
reivindicações das ouvintes, legitima o apelo à 
imaginação a partir do olhar da criança. 
c) A oralidade, como marca discursiva do narrador, 
justifica-se pelo interesse de valorização e 
transmissão das tradições culturais.d) O universo fantástico do “País das Maravilhas”, ao 
promover a imaginação, objetiva garantir à criança 
a crítica ao mundo real. 
 
Texto para a questão 3. 
 
“Vamos, de que serve chorar assim?” disse Alice a si 
mesma, asperamente. “Aconselho você a parar com 
isso agora mesmo!” Ela geralmente dava conselhos 
muito bons a si própria (embora raramente os 
seguisse), e às vezes se repreendia tão severamente 
que seus olhos se enchiam de lágrimas; lembrou-se 
que, uma vez, tentara dar um puxão nas próprias 
orelhas, por ter trapaceado numa partida de croquet 
que jogava contra si mesma — pois esta menina 
curiosa adorava fingir que era duas pessoas! “Mas 
de nada serve agora”, pensou a pobre Alice, “fingir 
que sou duas pessoas! Porque tudo o que sobrou de 
mim mesma é pouco até para ser uma só pessoa 
respeitável!” 
 
(CARROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas. Trad. Isabel de 
Lorenzo e Nelson Ascher. São Paulo: Objetivo, 2000, p. 25). 
 
3. Em Alice no país das maravilhas, a protagonista 
vivencia situações inusitadas que promovem questio -
namentos sobre sua própria identidade. Explique, com 
base no excerto, como se constitui essa reflexão. 
 
Texto para as questões 4 e 5. 
 
“Não sei o que você quer dizer”, disse Alice. 
“É claro que você não sabe!” disse o Chapeleiro, 
inclinando a cabeça com desdém. “Eu diria até 
mesmo que você nunca falou com o Tempo!” 
“Talvez não”, respondeu Alice com cautela, “mas sei 
que devo marcar o tempo quando aprendo música.” 
“Ah! Isso explica tudo!” disse o Chapeleiro. “Ele não 
suporta ser marcado. Agora, se você mantivesse com 
ele boas relações, ele faria qualquer coisa que você 
quisesse com o relógio. Por exemplo, suponha que 
8 – 
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1) O diálogo entre Alice e o Gato risonho exemplifica a 
literatura nonsense de Lewis Carroll ao romper com 
senso lógico comum por meio de uma estrutura 
silogística de raciocínio que, por promover conclusões 
falaciosas, produz efeito humorístico e corrobora o 
universo fantástico caro a Alice no país das maravilhas. 
Resposta: C 
 
2) A performance do narrador, cuja voz busca corres -
ponder ao apelo das crianças que desejam estórias que 
reflitam o olhar de descoberta e imagina ção, demonstra 
uma ruptura com a literatura infantil moralista a qual 
se destinava a esse público; outro elemento, que se 
sintoniza ao nonsense de Lewis Carroll, é a funda -
mentação da intriga a partir da fantasia em que a 
prescrição dá lugar à curiosidade e à possibilidade de 
desvelamento do real. 
Resposta: B 
3) Em sua viagem onírica, Alice, depois de sucessivas 
mudanças de tamanho, cai em angústia por não saber 
mais quem é. Em seu monólogo, nota-se que seu eu 
divide-se em dois diante das vivências inusitadas as 
quais Alice, por meio da lógica da superfície, já não 
consegue explicar. Essa quebra do princípio de 
identidade, em que um ser é o que é e não pode ser de 
outro modo, traduz a imaginação infantil e seus 
processos de descoberta e, ao mesmo tempo, representa 
o nonsense de Lewis Carrol, por meio do qual se rompe 
com a lógica do senso comum.
fossem nove horas da manhã, justamente a hora de 
começarem as lições: você teria apenas de sussurrar 
uma dica ao Tempo, e o ponteiro giraria num piscar 
de olhos: uma e meia, hora do almoço!”(“Como eu 
gostaria que fosse assim mesmo”, sussurrou a Lebre 
de Março para si mesma.) 
“Seria fantástico, com certeza”, disse Alice, 
pensativa; “mas, então, eu ainda não estaria com 
fome, não é?” 
“Não a princípio, talvez”, disse o Chapeleiro, “mas 
você poderia permanecer à uma e meia por quanto 
tempo quisesse.” 
“É assim que você faz?” indagou Alice. 
O Chapeleiro balançou a cabeça com desgosto: “Eu 
não!”, disse. “Nós brigamos em março passado... 
logo antes de ela ficar louca, sabe...” (apontou com 
sua colher para a Lebre de Março), “foi no grande 
concerto oferecido pela Rainha de Copas, e eu tinha 
de cantar (...) eu nem acabara o primeiro verso 
quando a Rainha bradou: ‘Ele está matando o tempo! 
Cortem-lhe a cabeça!’” 
“Mas que selvageria!” exclamou Alice. 
“E desde então”, continuou o Chapeleiro num tom 
pesaroso, “ele não faz nada do que eu peço! São 
sempre seis horas!” 
“É, é isso mesmo”, disse a Lebre de Março com um 
suspiro, “é sempre hora do chá, e nós não temos 
tempo de lavar a louça nos intervalos.” 
“É por isso que vocês ficam girando em torno da 
mesa?” disse Alice. 
“Exatamente”, disse o Chapeleiro, “conforme as 
louças vão ficando sujas.” 
“Mas o que acontece quando vocês retornam para o 
começo?” Alice ousou perguntar. 
“Que tal se mudássemos de assunto?” interveio a 
Lebre de Março, bocejando. “Estou cansada deste. 
Meu voto é que a senhorita nos conte uma história.” 
 
(Carroll, Lewis. Alice no País das Maravilhas. Trad. Isabel de 
Lorenzo e Nelson Ascher. São Paulo: Objetivo, 2000, p. 92.) 
 
4. Maravilhoso é um recurso narrativo pelo qual se 
explica uma realidade a partir de leis que transcendem 
as leis comuns da natureza. Explique como ocorre 
essa estratégia narrativa no excerto acima de Alice no 
país das maravilhas, do escritor inglês Lewis Carroll. 
 
5. Identifique os argumentos que levam à conclusão 
de que as louças da mesa do Chapeleiro e da Lebre de 
Março sempre estão sujas. 
 – 9 
ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS 
RESOLUÇÃO 
AS OBRAS DA UNICAMP 
PORTUGUÊS
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10 – 
4) A explicação da passagem do tempo se dá a partir de 
uma narrativa originária que configura o Tempo como 
uma entidade que age em relação aos seres conforme é 
tratado por eles. Isso se evidencia quando o Chapeleiro 
entende o termo “marcar” não como metragem do 
tempo musical, mas sim, como um ato de violência. Essa 
interpretação permite a explicação da passagem 
vagarosa do tempo ou mesmo de sua não passagem, 
como acontece na cena do excerto, cujo tempo 
permanece sempre às seis da tarde. 
5) Como o Tempo parou às seis da tarde, momento em que 
se lavam as louças, nunca é possível lavá-las. Em uma 
estrutura silogística, os enunciados seriam, aproxima -
damente: 1) lavam-se as louças depois do chá das seis 
da tarde; 2) sempre são seis da tarde; e 3) logo, toma-se 
chá e nunca se lavam as louças. 
 
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