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Mulheres e liderança na América Latina e o Caribe: avanços e desafios Introdução «Si una mujer entra a la política, cambia la mujer, si muchas mujeres entran a la política, cambia la política».1 Bachelet (2011), expresidenta de Chile. Nesta leitura, exploraremos a situação da liderança feminina nos setores público e privado da América Latina e o Caribe (ALC), revisaremos as barreiras que impedem que mais mulheres assumam posições de liderança e, por fim, apresentaremos três recomendações para aumentar o número de mulheres líderes. Qual é a situação da liderança feminina no setor público? As mulheres ocupam, em média, 41% dos cargos de decisão e liderança na política e na administração pública. Vamos examinar como se manifesta a baixa representação feminina em diferentes espaços do setor público. Brechas nos cargos eletivos: Sabia que, em todo o mundo, quatro países da região - Cuba, Nicarágua, México e Costa Rica - estão entre os 'top 10' congressos nacionais com o maior número de mulheres deputadas? Ou que a América Latina e o Caribe (ALC) é a segunda região do mundo com o segundo maior número de mulheres congressistas, ficando atrás apenas dos países nórdicos? Parece que estamos indo relativamente bem! De fato, ao comparar a situação atual com a de 30 anos atrás, em 1990, as mulheres ocupavam apenas 9% dos assentos no Congresso; em 2023, 34,9%2. Paridade e cotas de gênero3. Nos 26 países mutuários do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) na região, a Guatemala e a Venezuela são os únicos países latino-americanos que não adotaram 1 Em português: Se uma mulher entra na política, muda a mulher; se muitas mulheres entram na política, muda a política. (Tradução própria). 2 https://www.unwomen.org/sites/default/files/2023-03/Women-in-politics-2023-en.pdf 3 As cotas de gênero são uma medida de ação afirmativa temporária que visa a aumentar o número de mulheres candidatas a cargos eletivos. Atualmente, o debate foi além das cotas como um piso mínimo ou medida temporária e está focado na https://www.unwomen.org/sites/default/files/2023-03/Women-in-politics-2023-en.pdf cotas de gênero, em comparação com o Caribe, onde apenas a Guiana, o Haiti e a República Dominicana as adotaram. Quando bem planejadas, elas contribuíram para um maior crescimento no número de mulheres candidatas e eleitas. No entanto, uma análise mais detalhada dos dados mostra que ainda há um longo caminho a percorrer: • Onde estão as presidentas? Seu país já teve alguma presidenta ou vice-presidenta? Dos 26 países membros mutuários do BID, houve apenas 12 presidentas ou chefas de Estado eleitas democraticamente. Em 2010, 4 mulheres ocuparam a presidência da República simultaneamente na Argentina, Chile, Costa Rica e Trindade e Tobago, enquanto em 2023, há apenas duas mulheres chefas de Estado em Barbados e Honduras. Tabela 1 Mulheres presidentas4 eleitas democraticamente na ALC País Presidenta/chefa de Estado Anos Argentina Cristina Fernández de Kirchner 2007-2011 / 2011-2015 Barbados Mia Motley 2018- 2022 / 2022-2027 Brasil Dilma Rousseff 2011-2014 / 2015-2016 Chile Michele Bachelet 2006-2010 / 2014-2018 Costa Rica Laura Chinchilla 2010-2014 Guiana Janet Jagan 1997-1999 Haiti Claudette Werligh 1995-1996 Michèle Pierre-Louis 2008-2009 Honduras Xiomara Castro 2021-2025 Jamaica Portia Simpson-Miller 2006-2007 / 2012-2016 Nicarágua Violeta Chamorro 1990-1997 Panamá Mireya Moscoso 1999-2004 Trinidade e Tobago Kamla Persad-Bissessar 2010-2015 Nota. Tomado de União Interparlamentar (2023). paridade como uma meta permanente e um princípio da democracia. Oito países adotaram o princípio da paridade democrática em suas leis eleitorais. 4 “Os casos de María Estela Martínez de Perón, da Argentina, Lidia Gueiler Tejada, da Bolívia, Rosalía Arteaga Serrano, do Equador, Dina Boluarte, do Peru, e Ertah Pascal Trouillot, do Haiti, merecem uma menção à parte porque, apesar de terem sido chefes do poder executivo de seus respectivos países, ocuparam o cargo de forma interina ou provisória.” (Strategia Electoral, 2019). • Congressistas: variações entre países. Você sabe quantas mulheres foram eleitas para o Congresso Nacional em seu país? Convidamos você a dar uma olhada na Tabela 2. Tabela 2 Representação das mulheres nos congressos da América Latina e o Caribe País Ano última eleição Câmara dos Deputados ou Câmara única Câmara do Senado ou Câmara alta Ambas as câmaras N.o de Mulheres N.o de cadeiras Percentagem de mulheres N.o de mulheres N.o de cadeiras Percentagem de mulheres Percentagem de mulheres Argentina 2021 115 257 44.8 31 72 43.1 44.38 Bahamas 2021 7 39 18 4 16 25 20.00 Barbados 2022 8 30 26.7 8 19 42.1 32.65 Belize 2020 5 32 15.6 6 14 42.9 23.91 Bolívia 2020 60 130 46.2 20 36 55.6 48.19 Brasil 2022 90 513 17.5 15 81 18.5 17.68 Chile 2021 55 155 35.5 12 50 24 32.68 Colômbia 2022 54 187 28.9 32 106 30.2 29.35 Costa Rica 2022 27 57 47.4 - - 47.37 Equador 2021 53 137 38.7 - - 38.69 El Salvador 2021 23 84 27.4 - - 27.38 Guatemala 2019 31 160 19.4 - - 19.38 Guiana 2020 26 71 36.6 - - 36.62 Haiti 2015 0 92 0 0 24 0 0.00 Honduras 2021 35 128 27.3 - - 27.34 Jamaica 2020 18 63 28.6 8 21 38.1 30.95 México 2021 250 500 50 64 127 50.4 50.08 Nicarágua 2021 47 91 51.7 - - 51.65 Panamá 2019 16 71 22.5 - - 22.54 Paraguai 2023 18 80 22.5 11 45 24.4 23.20 Perú 2021 50 129 38.8 - - 38.76 República Dominicana 2020 53 190 27.9 4 32 12.5 25.68 Surinam 2020 15 51 29.4 - - Trinidade /Tobago 2020 12 42 28.6 13 32 40.6 33.78 Uruguai 2019 26 99 26.3 9 31 29 26.92 Venezuela 2015 37 167 22.2 - - - 22.20 Nota. Tomado de União Interparlamentar (2023). • Congressistas indígenas e afrodescendentes: As mulheres indígenas e afrodescendentes estão sub-representadas nos congressos da região. Isso acontece apesar do fato de alguns países (Peru, Equador e Bolívia) terem adotado um sistema de assentos reservados para as populações indígenas e afrodescendentes. • Mulheres Prefeitas: Na América Latina, as mulheres representam uma média de 15,4% dos prefeitos. Embora tenhamos avançado muito em relação aos apenas 5,5% de 1998, essa percentagem ainda é baixa. Ver Figura 1. Figura 1 Percentagem de prefeitas (2018) Nota. Tomado de Cepal (2023). Brechas de gênero nos gabinetes ministeriais: Os ministros (ou secretários) são a autoridade máxima nos ministérios responsáveis pelo desenvolvimento do país e são nomeados pelos presidentes. Alguns presidentes da região se convenceram dos benefícios de apostar na liderança da mulher e nomearam voluntariamente um gabinete paritário. Em seu país, já houve um gabinete paritário? Verifique a Tabela 3 e procure seu país. Você o achou? Tabela 3 Gabinetes paritários na América Latina e o Caribe País Presidente Año de nombramiento Chile Michele Bachelet Gabriel Boric 2006 2021 Nicaragua Daniel Ortega 2017 Colombia Iván Duque Gustavo Petro 2018 2022 Costa Rica Carlos Alvarado 2018 El Salvador Nayib Bukele 2019 Haití Fritz-William Michel 2019 México Andrés Manuel López Obrador 2018 Nota. Elaboração própria. A maioria dos presidentes da região não integra um número significativo de mulheres em seus gabinetes, e os dados corroboram isso: as mulheres ocupam, em média, apenas 32% dos cargos de gabinete na região (consulte a Tabela 4). Além do baixo número médio de ministras e da grande heterogeneidade entre os países (variando de 7% de ministras na República Dominicana a 63% na Nicarágua), há uma segregação setorial de gênero nos cargos ministeriais. Tanto globalmente quanto na ALC, as ministras estão concentradas em ministérios ligados aos papéis tradicionais de gênero, como os ministérios do meio ambiente, social, família, juventude, trabalho, educaçãoe cultura (União Interparlamentar, 2021). Em geral, na maioria dos países, os homens lideram os ministérios com importante poder de tomada de decisão ou onde o orçamento nacional é gerenciado de forma mais estratégica, por meio dos ministérios da Fazenda e da Economia ou da Presidência. Tabela 4 Percentagem de mulheres com cargos ministeriais (janeiro 2023) País N.o de mulheres Total Percentagem Argentina 4 18 22.22% Bahamas 3 16 18.75% Barbados 4 17 23.53% Belize 2 17 11.76% Bolívia 2 16 12.50% Brasil 11 30 36.67% Chile 14 24 58.33% Colômbia 9 18 50.00% Costa Rica 10 22 45.45% Equador 5 20 25.00% El Salvador 6 16 37.50% Guatemala 1 14 7.14% Guyana 6 18 33.33% Haiti 6 18 33.33% Honduras 8 21 38.10% Jamaica 4 16 25.00% México 8 19 42.11% Nicarágua 10 16 62.50% Panamá 5 16 31.25% Paraguai 3 17 17.65% Peru 9 19 47.37% República Dominicana 1 15 6.67% Suriname 5 17 29.41% Trinidade e Tobago 7 22 31.82% Uruguai 2 14 14.29% Venezuela 9 32 28.13% Regional 154 488 31.56 % Nota. Tomado de União Interparlamentar (2023). Outra brecha evidente na administração pública é a segregação setorial, em que as mulheres estão super-representadas nos ministérios associados aos papéis tradicionais de gênero, como educação, saúde e proteção social. Tabela 5 Cargos gerenciais do setor público por sexo País Cargo Mulheres (%) Argentina (2020) Gestão pública sênior (função executiva do Sistema Nacional de Emprego Público [SINEP]) e cargos executivos (diretores/as nacionais; gerais, simples e coordenadoras/es). 46 % Bolívia (2016) Diretoras gerais. 32 % Brasil (2017) Cargos de Direção e Assessoramento Superiores (DAS) 42 % Chile (2016) Altas autoridades políticas e chefes superiores de serviço (chefe de serviços, diretores, vice-diretores, diretor regional ou equivalente, chefe de divisão ou seu equivalente). 29 % Colômbia (2016) Diretivos de alto nível. 42 % Costa Rica (2017) Chefias. 37 % Equador (2016) Nível hierárquico superior. 40 % El Salvador (2017) Chefia. 52 % Honduras (2017) Diretores e executivos. 49 % México (2016) Diretores gerais/coordenadores gerais 28 % Panamá (2016) Nível político, diretivo geral, chefias e nível de execução. 48 % Paraguai (2016/2018) Nível C: Gerência superior. 46 % Perú (2019) Funcionários e diretivos. 29 % República Dominicana (2017) Diretores e supervisores (Grupo 5). 43 % Uruguai (2017) Gerência de área (Nível 4). 46 % Nota. Adaptado de «Mujeres en la política: 2021. Situación al 1o de enero de 2021», por Unión Interparlamentaria, 2021 (https://www.undp.org/es/guatemala/publications/informe-sobre-igualdad-de-g%C3%A9nero-en-la-administraci%C3%B3n- p%C3%BAblica-de-am%C3%A9rica-latina-y-el-caribe-2020). Brechas de gênero na administração pública. As mulheres ocupam menos da metade dos cargos de liderança no setor público, apesar de representarem mais de 50% da população. A presença de mulheres em cargos de liderança na administração pública é fundamental. Não só por fatores de igualdade de gênero, mas por haver evidências de que sua presença, além de contribuir para novas experiências e perspectivas, gera mais crescimento econômico, melhor prestação de serviços públicos, melhor desempenho das organizações públicas e redução dos níveis de corrupção, entre outros benefícios. Alguns números sobre a presença de mulheres no setor público podem parecer encorajadores. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho, na América Latina e no Caribe, as mulheres representam 52% da força de trabalho no setor público e ocupam 41% dos cargos gerenciais. No entanto, os números agregados fornecem informações parciais e contam apenas parte da história. Um estudo recente do BID preenche essa lacuna de informação ao analisar a presença de mulheres nos quatro mais altos níveis de função executiva, em 12 setores, em 15 países da região. Os resultados não são necessariamente surpreendentes e esse é precisamente o problema. A seguir, contamos as principais conclusões da análise. Figura 2 Presença de mulheres nos quatro mais altos níveis de função executiva https://www.undp.org/es/guatemala/publications/informe-sobre-igualdad-de-g%C3%A9nero-en-la-administraci%C3%B3n-p%C3%BAblica-de-am%C3%A9rica-latina-y-el-caribe-2020 https://www.undp.org/es/guatemala/publications/informe-sobre-igualdad-de-g%C3%A9nero-en-la-administraci%C3%B3n-p%C3%BAblica-de-am%C3%A9rica-latina-y-el-caribe-2020 Nota. Elaboração própria com base na metodologia utilizada neste estudo. Há uma falta de mulheres nos mais altos níveis de tomada de decisão nas administrações públicas centrais. Nos 15 países analisados, as mulheres ocupam apenas 23,6% dos cargos de nível 1 na hierarquia, equivalentes a ministra, em comparação com 44,2% em cargos de nível 4 equivalentes a diretora. Em média, 41,5% das posições de liderança das 12 agências selecionadas para o estudo são ocupadas por mulheres. A ausência de mulheres em cargos gerenciais não é apenas um problema do Executivo, ela também é observada nos poderes judiciário e legislativo, bem como no setor privado. Dados da América Latina e do Caribe mostram que, em média, 30,4% das ministras na mais alta corte de justiça ou suprema corte são mulheres; 30,94% dos cargos legislativos estavam ocupados por mulheres em 2021 e, no setor privado, as mulheres representam 32% dos cargos gerenciais. No caso do Brasil, as mulheres representavam somente 18,6% dos cargos de liderança nos 12 setores do estudo, de acordo com dados de março de 2022. Elas eram apenas 18,2% das ministras no Supremo Tribunal de Justiça e ocupavam 13,8% dos cargos legislativos (dados de 2021). Nos estados, 26% das secretarias estão ocupados por mulheres (segundo dados de 2023). As mulheres continuam a fazer “coisas de mulheres”. A presença de mulheres em cargos de liderança é maior (45,9%) em áreas associadas a estereótipos tradicionais de gênero, como Educação e Saúde, e sua presença diminui (38%) em setores tradicionalmente dominados por homens, como Finanças e Defesa. Esse comportamento persiste mesmo nos países onde a participação das mulheres é maior. Figura 3 Participação das mulheres em cargos de liderança por setor Nota. Elaboração própria com base na metodologia utilizada neste estudo. No papel, a região prevê mais inclusão, mas, na prática, a tarefa ainda está pendente. Na maioria dos países existem regulamentos, organizações e políticas públicas para a integração da perspectiva de gênero, mas seu efeito ainda é incerto. A mera existência destes instrumentos não garante que o fim para o qual foram criados será cumprido. Para que a região implemente com sucesso políticas em direção à uma igualdade substantiva, é essencial fortalecer a capacidade do Estado de implementar, monitorar e avaliar tais políticas. Por exemplo, implementar sistemas de gestão de recursos humanos com uma perspetiva de género que promovam o acesso, a participação e a promoção das mulheres em múltiplos setores, especialmente a nível da tomada de decisões. A vontade política é fundamental para alcançar a igualdade de gênero, mas o maior desafio é sustentar esses avanços ao longo do tempo. Na maioria dos países da região, os cargos de liderança no setor público são cargos de confiança cuja nomeação é uma decisão política. Essa realidade tem duas implicações. Em primeiro lugar, mostra que é preciso considerar a forma de recrutamento ao projetar políticas que reduzam as barreiras de acesso das mulheres em cargos gerenciais, por exemplo. Em segundo lugar, mostra que, se existir vontade política, a presença de mulheres em cargos de gestão no sector público poder ser maior. O Brasil é um bom exemplo. Na época em que o estudo foi realizado, analisando dados entre janeiro e março de 2022, não havia mulheres ministras nos 12 setores analisados. A recente mudançade administração aumentou a participação para 27% para estes setores. Em 2018, aconteceu o contrário: o percentual de mulheres ministras caiu de 36% para 0. A volatilidade das posições políticas nos lembra que os ganhos em termos de presença de mulheres em cargos de liderança não são assegurados e, por isso, é necessário institucionalizar as políticas de igualdade de gênero para que sejam políticas de Estado e não políticas de governo. Figura 4 Percentagem de ministras no Brasil Nota. Elaboração própria com base na metodologia utilizada neste estudo. A América Latina e o Caribe exigem uma agenda de gênero mais ambiciosa no setor público, que vai desde o cumprimento das formalidades até o verdadeiro aproveitamento do talento das mulheres na região. O setor público poderia ser a referência em cada país de como fechar a lacuna de gênero. Isso requer vontade política e priorização de ações concretas que sejam mensuráveis e alcançáveis ao longo do tempo. É hora de medir o progresso nas questões de gênero em termos de resultados, não simplesmente adotando normas, padrões e políticas que, na prática, não mudam nada. Confira o estudo completo Mulheres líderes no setor público na América Latina e no Caribe para saber mais sobre as propostas apresentadas para gerar mudanças efetivas para reduzir essas lacunas. Como se compara a situação de liderança das mulheres no setor público com a do setor privado? Os dados indicam que houve mais progresso no setor público do que no setor privado. No setor privado, as mulheres ocupam apenas 8,3% dos assentos nos conselhos de administração das empresas latino- americanas (Corporate Women Directors International [CWDI], 2020). Das 100 maiores empresas da América Latina, 47% dos conselhos de administração estão compostos exclusivamente por homens (Organização Internacional do Trabalho [OIT], 2019). Nos cargos de gerência sênior, as mulheres ocupam 33% dos cargos, uma percentagem um pouco maior do que a média global de 29% (Catalyst, 2020). Tabela 6 Mulheres na administração sênior de empresas País N.o de mulheres África 38 % Europa do Leste 35 % América Latina 33 % União Europeia 30 % América do Norte 29 % Ásia-Pacífico 27 % Nota. Adaptado de «Women in Management (Quick Take)», por Catalyst, 2020 (https://www.catalyst.org/research/women-in- management/). Quando as mulheres alcançam cargos gerenciais, elas tendem a ocupar funções de apoio, como diretoras de recursos humanos ou diretoras financeiras. Além disso, as mulheres estão super- representadas em funções de apoio, como nas de administração, enquanto os homens ocupam cargos em operações, lucros e perdas, pesquisa e desenvolvimento, cargos considerados como experiência crítica para os de diretor executivo e conselho diretivo (OIT, 2019). Com o objetivo de acelerar a inclusão de mais mulheres nos conselhos e diretorias das empresas, dois países da região adotaram cotas de gênero. O Panamá tem uma cota para empresas listadas em bolsa e estatais desde 2018, e o Chile adotou cotas de gênero para empresas estatais em 2015. Quais são as barreiras que as mulheres enfrentam para assumir cargos de liderança? Há muitas teorias para explicar a falta de liderança feminina. Vejamos algumas delas: Não é visto como uma prioridade empresarial. De acordo com uma pesquisa realizada pela International Business Machines (IBM, 2021), com 2687 executivos e profissionais em organizações de 10 setores e 9 regiões geográficas em todo o mundo, cerca de 48% dois entrevistados afirmaram que suas organizações estabeleceram metas para a igualdade de gênero. Para 70% das empresas em todo o mundo, a paridade de gênero em cargos de liderança não é uma prioridade (IBM, 2021). Licenças parentais escassas e desiguais. 40% dos países da ALC têm licenças maternidade com duração menor do que o mínimo de 14 semanas recomendado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Igualmente, 29% dos países não têm licença paternidade e, entre os países que têm, a duração é de cinco dias ou menos em 53% dos casos. Apenas Uruguai, Equador, Chile e Cuba oferecem licença parental para cuidar de crianças após o nascimento (Bilo e Tebaldi, 2020). Falta de corresponsabilidade. Um dos principais desafios que as mulheres continuam enfrentando no mercado de trabalho é a expectativa culturalmente incorporada de seu papel como principais cuidadoras. As mulheres na região geralmente dedicam mais do que o dobro do tempo que os homens ao trabalho doméstico e de cuidados não remunerados: 38 horas contra 16 horas por semana, respectivamente (BID, 2020). Essa brecha se intensifica nos lares com crianças menores de cinco anos, onde há uma diferença de 33 horas de trabalho não remunerado por semana entre homens e mulheres (Bustelo et al., 2019). Preconceitos inconscientes de gênero. De acordo com uma pesquisa do World Economic Forum (WEF, 2020) com gerentes de recursos humanos de mais de 350 empresas líderes de diferentes https://www.catalyst.org/research/women-in-management/). https://www.catalyst.org/research/women-in-management/). indústrias, 44% dos entrevistados disseram que os preconceitos inconscientes entre os gerentes são uma grande barreira para alcançar a igualdade de gênero no trabalho. Falta de modelos para seguir. As evidências mostram que, com mais mulheres em cargos de liderança, há uma influência delas nas aspirações profissionais e no desempenho escolar de meninas e adolescentes (Beaman et al., 2021). No entanto, poucas mulheres chegaram a cargos de liderança, o que limita o número de modelos a serem seguidos. Vieses nos anúncios de emprego. Estudos realizados em vários países desenvolvidos indicam que a forma como os anúncios de emprego são redigidos é importante. Esses estudos constatam que, quando palavras como líder, competitivo e dominante são incluídas em anúncios de emprego, as mulheres as associam a estereótipos masculinos, o que resulta em maior desinteresse em se candidatar a esses cargos. Em contrapartida, expressões como salário negociável, apoio e compreensão estão associadas a estereótipos mais femininos (Gaucher et al., 2011). Além disso, de acordo com dados da pesquisa "Women in Technology: O que as empresas estão fazendo para quebrar as barreiras?", apenas 26% das empresas latino-americanas têm programas para reter e atrair talentos femininos. Cobertura desigual da mídia. Pesquisas indicam que há menos cobertura da mídia sobre as mulheres candidatas do que sobre seus colegas homens durante as campanhas eleitorais, bem como uma cobertura mínima sobre as questões de igualdade de gênero na mídia durante esse período. As pesquisas também mostram que a cobertura geralmente se refere à aparência física, idade, estado civil, famílias, papéis parentais e familiares, em vez de suas propostas políticas, trajetórias profissionais e cargos públicos ocupados. Isso faz com que elas pareçam menos experientes em comparação com os homens, que são cobertos pela mídia com foco nas prioridades da agenda profissional e pública (Beaudoux et al., 2018). Falta de apoio dos partidos políticos. Os partidos são a porta de entrada para a política formal, pois recrutam e selecionam candidatos para cargos políticos. Apesar de as mulheres representarem 50% dos membros dos partidos, elas ocupam apenas 10% das presidências dos partidos e 13% das secretarias gerais. Além disso, a maioria dos partidos (55,1%) não tem compromisso nenhum com a igualdade de gênero ou a não discriminação com base no sexo, pois não mencionam essas questões em seus estatutos (Llanos e Roza, 2015). O que podemos fazer para incluir mais mulheres nos espaços de tomada de decisão? Já vimos a situação da liderança das mulheres na região e algumas das barreiras que elas precisam superar nos setores público e privado. Agora, o que precisamos fazer para nivelar o campode atuação para que as mulheres tenham acesso a oportunidades de liderança e participem em igualdade de condições com os homens? Há muitas políticas, programas e ações que podem ser adotados tanto no nível da política pública quanto empresarial. Mas o que cada uma de nós pode fazer para fomentar a liderança feminina? Aqui apresentamos 3 ideias: 1. Visibilizar o problema de não ter mulheres em cargos de liderança e destacar os benefícios de fazê-lo. 2. A partir do espaço que cada um de nós ocupa, potenciar e visibilizar a liderança das mulheres com quem trabalhamos diariamente. 3. Atrair mais homens aliados para promover a igualdade de gênero, porque a igualdade beneficia a todos nós e não é só tarefa das mulheres. Conclusão A medida que o poder aumenta, o número de mulheres diminui. Apesar de as mulheres representarem 50% da população e 60% dos formandos de programas de ensino superior e universitário, elas ainda estão longe da paridade de gênero nos espaços de tomada de decisão, tanto no setor público quanto no privado. Além disso, as mulheres que alcançam espaços de tomada de decisão geralmente ocupam cargos em áreas e setores associados a papéis tradicionais de gênero. E os retornos não estão garantidos. A representação das mulheres em cargos de tomada de decisão cresceu, mas de forma gradual e, em alguns casos, acompanhada de retrocessos. Considerando que uma maior igualdade de gênero em posições de liderança gera retornos positivos na gestão e administração de todos os setores econômicos, políticos e sociais, devemos apoiar ações que contribuam para alcançar uma massa crítica de mulheres em posições de liderança e fortalecer sua capacidade de incidir nos espaços de tomada de decisão. A mudança começa com cada uma de nós! E você, a que se compromete? Glossário Equidade de gênero: conjunto de ações legais, educacionais, sociais, políticas, econômicas e ideológicas que promovem a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres na esfera laboral e social. Para alcançar a igualdade de gênero, são necessárias ações voltadas para a equidade, o que implica a provisão e a distribuição de benefícios ou recursos de forma a reduzir as brechas existentes, reconhecendo que essas brechas podem ser prejudiciais tanto para as mulheres quanto para os homens (BID, 2010). Gênero: as características comportamentais e os papéis socialmente atribuídos a mulheres e homens em determinados contextos históricos, culturais e socioeconômicos, para além de suas diferenças biológicas, que ajudam a definir as responsabilidades, as oportunidades e as barreiras de homens e mulheres (BID, 2010). Igualdade de gênero: mulheres e homens têm as mesmas condições e acesso a oportunidades para exercer seus direitos e atingir seu potencial em termos sociais, econômicos, políticos e culturais (BID, 2010). Paridade de gênero: participação equilibrada de homens e mulheres nas posições de poder e tomada de decisões em todas as esferas da vida (política, econômica e social). Referências Banco Interamericano de Desenvolvimento. (2010). Política Operativa sobre Igualdad de Género en el Desarrollo [Política operacional sobre igualdade de gênero no desenvolvimento]. Beaman, L., Duflo, E., Pande, R. e Topalova, P. (2012). Female Leadership Raises Aspirations and Educational Attainment for Girls: A Policy Experiment in India [A liderança feminina aumenta as aspirações e os resultados educacionais das meninas: um experimento de políticas na Índia]. Science, 335(6068), 582-586. Beaudoux, V., D’Adamo, O., y Gavensky, M. (2018). 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