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237 pondo-se de parte alguns pontos de suas idéias que se apóiam em dogmas de fé, resultam noções fundamentais que foram e podem ser acolhidas mes- mo por quem não aceite os princípios cristãos. Tomando a vontade de Deus como fundamento dos direitos huma- nos, Santo Tomás condena as violên- cias e discriminações dizendo que o ser humano tem Direitos Naturais que devem ser sempre respeitados, chegan- do a afirmar o direito de rebelião dos que forem submetidos a condições in- dignas. Nessa mesma época nasce a burguesia, uma nova força social, composta por plebeus que foram acu- mulando riqueza mas continuavam excluídos do exercício do poder políti- co e, por isso, eram também vítimas de violências, discriminações e ofen- sas à sua dignidade. Durante alguns séculos foram ain- da mantidos os privilégios da nobre- za, que, associada à Igreja Católica, tornara-se uma considerável força po- lítica e usava a fundamentação teoló- gica dos direitos humanos para sus- tentar que os direitos dos reis e dos no- bres decorriam da vontade de Deus. E assim estariam justificadas as discri- minações e injustiças sociais. Os sé- culos XVII e XVIII trouxeram elemen- tos novos, que acabaram pondo fim aos antigos privilégios. No campo das idéias surgem grandes filósofos políti- cos, que reafirmam a existência dos direitos fundamentais da pessoa huma- na, sobretudo os direitos à liberdade e à igualdade, mas dando como funda- mento desses direitos a própria natu- reza humana, descoberta e dirigida pela razão. Isso favoreceu a eclosão de mo- vimentos revolucionários que, associ- ando a burguesia e a plebe, ambas in- teressadas na destruição dos secula- res privilégios, levaram à derrocada do antigo regime e abriram caminho para a ascensão política da burguesia. Os pontos culminantes dessa fase revolu- cionária foram a independência das colônias inglesas da América do Nor- te, em 1776, e a Revolução Francesa, que obteve a vitória em 1789. A nova situação criada a partir daí foi intei- ramente favorável à burguesia, mas adiantou muito pouco para os que não eram grandes proprietários. Em 1789 foi publicada a Declaração dos Direi- tos do Homem e do Cidadão, onde se afirmava, no artigo primeiro, que “to- dos os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos”, mas, ao mesmo tempo, admitia “distinções so- ciais”, as quais, conforme a Declara- ção, deveriam ter fundamento na “uti- lidade comum”. Logo foram achados os pretextos para essas distinções, instaurando-se, desse modo, um novo tipo de socieda- de discriminatória, com novas classes de privilegiados, estabelecendo-se enorme distância entre as camadas mais ricas da população, pouco nume- rosas, e a grande massa dos mais po- bres. Sob o pretexto de garantir o di- reito à liberdade, e esquecendo com- pletamente a igualdade, foram cria- das novas formas políticas que pas- saram a caracterizar o Estado libe- ral-burguês: o mínimo possível de in- terferência nas atividades econômicas e sociais; supremacia dos objetivos do capitalismo, com plena liberdade contratual, garantia da propriedade como direito absoluto, sem responsa- bilidade social; e ocupação dos cargos e das funções públicas mais relevantes 238 apenas por pessoas do sexo masculi- no e com independência econômica. As injustiças acumuladas, as dis- criminações formalmente legalizadas, o uso dos órgãos do Estado para susten- tação dos privilégios dos mais ricos e de seus serviçais acarretaram sofrimentos, miséria, violências e inevitáveis revoltas, agravadas pelas disputas, sobretudo de natureza econômica, entre os partici- pantes dos grupos sociais mais favore- cidos, em âmbito nacional e internacio- nal. Essa produção de injustiças teve como conseqüência a perda da paz, com duas guerras mundiais no século XX, chegando-se a extremos, jamais imagi- nados, de violência contra a vida e a dig- nidade da pessoa humana. Um aspecto paradoxal da história dos direitos humanos é que, apesar de serem direitos de todos os seres huma- nos, o que deveria levar à conclusão ló- gica de que nenhuma pessoa é contra os insumos, pois não é razoável que al- guém se posicione contra seus próprios direitos, não é isso o que se tem verifica- do. Há pessoas que colocam suas am- bições pessoais, busca de poder, prestí- gio e riqueza acima dos valores huma- nos, sem perceber que desse modo eli- minam qualquer barreira ética e semei- am a violência, criando insegurança para si próprias e para seu patrimônio. Isso explica as violências da Idade Mé- dia, com o estabelecimento dos privilé- gios da nobreza e a servidão dos traba- lhadores. Essa é, também, a raiz das agressões sofridas pelos índios da Amé- rica Latina com a chegada dos europeus, estando aí, igualmente, o nascedouro das violências contra a pessoa humana ins- piradas nos valores do capitalismo, que tenta renovar agora sua imagem desgastada, propondo a farsa da globalização. Aí estão pessoas que são contra os direitos humanos. Assinale-se também que existem pessoas ingênuas, mal informadas ou excessivamente temerosas, que não chegam a perceber o jogo malicioso dos dominadores, feito especialmente através dos meios de comunicação de massa. A defesa dos direitos humanos é apresentada como um risco para a sociedade, uma subversão dos direi- tos, especialmente dos direitos patrimoniais, aterrorizando-se essas pessoas com a afirmação de que a defesa dos mais pobres significa uma caminhada para a pobreza generaliza- da, pois não há bens suficientes para serem distribuídos. Outros, igualmen- te ingênuos, mal informados ou exces- sivamente temerosos, aceitam o argu- mento malicioso de que protestar con- tra a tortura, exigir que a pessoa sus- peita, acusada ou condenada tenha respeitada a dignidade inerente à sua condição humana é fazer a defesa do crime. Aí está outra espécie de pesso- as que pensa ser contra os direitos humanos, por não perceberem que es- ses são os seus direitos fundamentais, que deveriam defender ardorosamente. São também contra os direitos humanos os que, em nome do progres- so científico e de um futuro e incerto benefício da humanidade, ou alegan- do atitude piedosa em defesa da dig- nidade humana, pregam ou aceitam com facilidade a inexistência de limi- tes éticos para as experiências cientí- ficas ou o uso dos conhecimentos mé- dicos para apressar a morte de uma pessoa. E assim estes últimos defendem a eutanásia e o suicídio assistido, que são formas de homicídio, atitudes que levam à antecipação da extinção da
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