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História dos Direitos Humanos

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pondo-se de parte alguns pontos de
suas idéias que se apóiam em dogmas
de fé, resultam noções fundamentais
que foram e podem ser acolhidas mes-
mo por quem não aceite os princípios
cristãos. Tomando a vontade de Deus
como fundamento dos direitos huma-
nos, Santo Tomás condena as violên-
cias e discriminações dizendo que o
ser humano tem Direitos Naturais que
devem ser sempre respeitados, chegan-
do a afirmar o direito de rebelião dos
que forem submetidos a condições in-
dignas. Nessa mesma época nasce a
burguesia, uma nova força social,
composta por plebeus que foram acu-
mulando riqueza mas continuavam
excluídos do exercício do poder políti-
co e, por isso, eram também vítimas
de violências, discriminações e ofen-
sas à sua dignidade.
Durante alguns séculos foram ain-
da mantidos os privilégios da nobre-
za, que, associada à Igreja Católica,
tornara-se uma considerável força po-
lítica e usava a fundamentação teoló-
gica dos direitos humanos para sus-
tentar que os direitos dos reis e dos no-
bres decorriam da vontade de Deus. E
assim estariam justificadas as discri-
minações e injustiças sociais. Os sé-
culos XVII e XVIII trouxeram elemen-
tos novos, que acabaram pondo fim
aos antigos privilégios. No campo das
idéias surgem grandes filósofos políti-
cos, que reafirmam a existência dos
direitos fundamentais da pessoa huma-
na, sobretudo os direitos à liberdade e
à igualdade, mas dando como funda-
mento desses direitos a própria natu-
reza humana, descoberta e dirigida
pela razão.
Isso favoreceu a eclosão de mo-
vimentos revolucionários que, associ-
ando a burguesia e a plebe, ambas in-
teressadas na destruição dos secula-
res privilégios, levaram à derrocada do
antigo regime e abriram caminho para
a ascensão política da burguesia. Os
pontos culminantes dessa fase revolu-
cionária foram a independência das
colônias inglesas da América do Nor-
te, em 1776, e a Revolução Francesa,
que obteve a vitória em 1789. A nova
situação criada a partir daí foi intei-
ramente favorável à burguesia, mas
adiantou muito pouco para os que não
eram grandes proprietários. Em 1789
foi publicada a Declaração dos Direi-
tos do Homem e do Cidadão, onde se
afirmava, no artigo primeiro, que “to-
dos os homens nascem e permanecem
livres e iguais em direitos”, mas, ao
mesmo tempo, admitia “distinções so-
ciais”, as quais, conforme a Declara-
ção, deveriam ter fundamento na “uti-
lidade comum”.
Logo foram achados os pretextos
para essas distinções, instaurando-se,
desse modo, um novo tipo de socieda-
de discriminatória, com novas classes
de privilegiados, estabelecendo-se
enorme distância entre as camadas
mais ricas da população, pouco nume-
rosas, e a grande massa dos mais po-
bres. Sob o pretexto de garantir o di-
reito à liberdade, e esquecendo com-
pletamente a igualdade, foram cria-
das novas formas políticas que pas-
saram a caracterizar o Estado libe-
ral-burguês: o mínimo possível de in-
terferência nas atividades econômicas
e sociais; supremacia dos objetivos do
capitalismo, com plena liberdade
contratual, garantia da propriedade
como direito absoluto, sem responsa-
bilidade social; e ocupação dos cargos
e das funções públicas mais relevantes
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apenas por pessoas do sexo masculi-
no e com independência econômica.
As injustiças acumuladas, as dis-
criminações formalmente legalizadas, o
uso dos órgãos do Estado para susten-
tação dos privilégios dos mais ricos e de
seus serviçais acarretaram sofrimentos,
miséria, violências e inevitáveis revoltas,
agravadas pelas disputas, sobretudo de
natureza econômica, entre os partici-
pantes dos grupos sociais mais favore-
cidos, em âmbito nacional e internacio-
nal. Essa produção de injustiças teve
como conseqüência a perda da paz, com
duas guerras mundiais no século XX,
chegando-se a extremos, jamais imagi-
nados, de violência contra a vida e a dig-
nidade da pessoa humana.
Um aspecto paradoxal da história
dos direitos humanos é que, apesar de
serem direitos de todos os seres huma-
nos, o que deveria levar à conclusão ló-
gica de que nenhuma pessoa é contra
os insumos, pois não é razoável que al-
guém se posicione contra seus próprios
direitos, não é isso o que se tem verifica-
do. Há pessoas que colocam suas am-
bições pessoais, busca de poder, prestí-
gio e riqueza acima dos valores huma-
nos, sem perceber que desse modo eli-
minam qualquer barreira ética e semei-
am a violência, criando insegurança
para si próprias e para seu patrimônio.
Isso explica as violências da Idade Mé-
dia, com o estabelecimento dos privilé-
gios da nobreza e a servidão dos traba-
lhadores. Essa é, também, a raiz das
agressões sofridas pelos índios da Amé-
rica Latina com a chegada dos europeus,
estando aí, igualmente, o nascedouro das
violências contra a pessoa humana ins-
piradas nos valores do capitalismo, que
tenta renovar agora sua imagem
desgastada, propondo a farsa da
globalização. Aí estão pessoas que são
contra os direitos humanos.
Assinale-se também que existem
pessoas ingênuas, mal informadas ou
excessivamente temerosas, que não
chegam a perceber o jogo malicioso
dos dominadores, feito especialmente
através dos meios de comunicação de
massa. A defesa dos direitos humanos
é apresentada como um risco para a
sociedade, uma subversão dos direi-
tos, especialmente dos direitos
patrimoniais, aterrorizando-se essas
pessoas com a afirmação de que a
defesa dos mais pobres significa uma
caminhada para a pobreza generaliza-
da, pois não há bens suficientes para
serem distribuídos. Outros, igualmen-
te ingênuos, mal informados ou exces-
sivamente temerosos, aceitam o argu-
mento malicioso de que protestar con-
tra a tortura, exigir que a pessoa sus-
peita, acusada ou condenada tenha
respeitada a dignidade inerente à sua
condição humana é fazer a defesa do
crime. Aí está outra espécie de pesso-
as que pensa ser contra os direitos
humanos, por não perceberem que es-
ses são os seus direitos fundamentais,
que deveriam defender ardorosamente.
São também contra os direitos
humanos os que, em nome do progres-
so científico e de um futuro e incerto
benefício da humanidade, ou alegan-
do atitude piedosa em defesa da dig-
nidade humana, pregam ou aceitam
com facilidade a inexistência de limi-
tes éticos para as experiências cientí-
ficas ou o uso dos conhecimentos mé-
dicos para apressar a morte de uma
pessoa. E assim estes últimos defendem
a eutanásia e o suicídio assistido, que
são formas de homicídio, atitudes que
levam à antecipação da extinção da

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