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TRABALHO DE DIREITO INTERNACIONAL

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RESUMO DE DIREITO INTERNACIONAL
PARTE I - DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO
Durante séculos, a guerra foi admitida como meio de solução de conflitos entre os Estados, constituindo um mecanismo de sanção das normas internacionais próprio de uma sociedade como a comunidade internacional, carente de mecanismos de coerção característicos dos ordenamentos internos estatais. O que garantia um direito de guerra, onde esse recurso se baseava fundamentalmente na questão moral, por parte dos Estados. 
O Direito da guerra (jus in bello) compreendia as normas reguladoras da conduta dos Estados beligerantes (leis e costumes de guerra). No século atual, a guerra foi formalmente prescrita pelo Tratado de Paris de 27 de agosto de 1928, também conhecido como Pacto Briand-Kellog, e pelo artigo 2.4 da Carta das Nações Unidas, que proíbe a ameaça ou o uso da força contra outros Estados. 
Desde 1945, depois da Segunda Guerra Mundial, a guerra já não constitui uma maneira aceitável de resolver as controvérsias entre os Estados na órbita internacional. Apesar disso, a sociedade internacional permanece mergulhada nas convulsões da guerra. Infelizmente o banimento da guerra pelo ordenamento jurídico não foi suficiente para provocar seu real desaparecimento. Por esse motivo, tornou-se necessário o estabelecimento de normas reguladoras da condução das hostilidades, impondo às partes em conflito um padrão mínimo humanitário e impedindo o uso descontrolado da força. 
A partir dessa necessidade, nasceu o Direito Internacional Humanitário que segundo o Professor Antônio Remiro BROTÓNS é “o conjunto de padrões internacionais, origem convencional ou consuetudinária, que restringir, por razões humanitárias, o direito das partes num conflito armado, seja internacional ou não, de utilizar meios de guerra e proteger pessoas e propriedades (que poderiam ser) afetadas por ele mesmo”.
O Direito Internacional Humanitário é o corpo de normas internacionais especificamente destinado a ser aplicado nos conflitos armados, internacionais ou não, e que limita, por razões humanitárias, o direito das partes em conflito de eleger livremente os métodos e os meios utilizados na guerra, protegendo as pessoas e os bens afetados pelo conflito. É um direito realista em que devem ser consideradas não só as exigências de índole humanitária, mas também as de necessidade militar.
A partir daí, deve ser analisada os convênios de Genebra, pois praticamente, é o mesmo que regulamenta sobre tal assunto. Dos quatro Convênios de Genebra, de 12 de agosto de 1949, e seus Protocolos Adicionais, de 8 de junho de 1977. O Convênio I protege os feridos e os enfermos das forças armadas em campanha; Convênio II protege os feridos, enfermos e náufragos das forças armadas no mar; Convênio III está relacionado ao trato dispensado aos prisioneiros de guerra; Convênio IV trata da proteção das pessoas civis em tempos de guerra. O Protocolo I regula a proteção das vítimas dos conflitos armados internacionais e o Protocolo II trata da proteção das vítimas dos conflitos armados não internacionais. Na verdade, os dois protocolos são verdadeiros tratados, pois se trata de textos extensos que atualizam as normas relativas aos conflitos armados, com a intenção não de substituir, mas sim de ampliar o conteúdo dos Convênios de 1949. Os Convênios de Genebra são um legado da Segunda Guerra Mundial. 
A partir da trágica realidade desse conflito, reforçasse a proteção jurídica das vítimas da guerra, especialmente dos civis em poder do inimigo. Hoje, praticamente todos os Estados são Partes nos Convênios de Genebra de 1949, que foram aceitos pela comunidade de nações e adquiriram um caráter universal. O Direito Internacional Humanitário surge nas relações entre Estados como uma resposta da comunidade internacional aos horrores da guerra.
O Direito Internacional Humanitário se converteu em um complexo conjunto de normas relativas a uma grande variedade de problemas. Sem sombra de dúvida, os seis tratados principais – os quatro Convênios de Genebra e seus dois Protocolos Adicionais – e o denso entramado de normas consuetudinárias restringem o recurso à violência em tempos de guerra. O conjunto desses textos legais contém algumas normas de comportamento de singular importância, aplicáveis a todos os conflitos armados.
As normas do Direito Internacional se aplicam a todos os conflitos armados, independentemente de suas origens ou suas causas. Tais normas devem ser respeitadas em qualquer circunstância, não sendo cabível nenhum tipo de discriminação às pessoas que são protegidas por elas. Não obstante a aplicação indiscutível dos princípios gerais supramencionados a todo e qualquer tipo de conflito armado, existem dois grupos de normas específicas que regem, por uma parte, os conflitos armados internacionais, e, por outra, os conflitos armados não internacionais. O último grupo é o que nos interessa mais de perto no presente trabalho, e que estudaremos mais adiante. São eles o artigo 3º, comum aos quatro Convênios de Genebra de 1949 e o Protocolo Adicional II de 1977.  
PARTE II - ESTUDO DE CASO - A intervenção militar russa na Ucrânia 2022
Um Estado não tem direito a interferir, como regra, na soberania de outro Estado. Os russos não têm respaldo jurídico válido para interferir na política ucraniana, nem para agredir seu povo, tampouco para macular seu território. A guerra russo-ucraniana de 2022 é repleta de retóricas, mas de uma única verdade.
Em um mundo com facilidade sem precedentes de acesso a informações pela população a respeito de acontecimentos que ocorrem ao redor do globo, a mídia ocupa um papel de grande relevância na sociedade, sendo aquela que possui o maior poder de disseminar tais informações que, por sua vez, são substancialmente relevantes para a construção da opinião pública acerca de quaisquer tópicos. Desta forma, nota-se a responsabilidade, bem como o poder, dos veículos midiáticos de estabelecerem as bases para a opinião pública global que, no que lhe concerne, pode deter de grande influência em tomadas de decisão políticas, tais como o próprio rumo do conflito russo-ucraniano aqui analisado. 
A área de Relações Internacionais têm buscado nos últimos anos compreender o papel da mídia nas decisões de política externa, incluindo conflitos, uma vez que a opinião pública tem se tornado cada vez mais relevante para a manutenção dos governos. Assim, diferentes autores têm buscado explicar o papel e a influência que a mídia pode exercer, desde a questão do alcance das notícias, da definição de pautas pelos veículos midiáticos, até mesmo o seu poder de manipular a realidade através de notícias. 
Uma teoria chave que aborda o vínculo entre as mídias e as Relações Internacionais é o Efeito CNN, que diz respeito à importância dos conglomerados midiáticos globais, como a BBC e a CNN, na condução de eventos políticos. O evento chave para a teorização do Efeito CNN foi a Guerra do Golfo (1990-1991), primeiro conflito televisionado em tempo real para a população, sendo um marco não apenas para a criação da CNN International, como também para a chegada de uma nova era nas mídias, mais globalizada e tecnológica. Ainda que não exista consenso sobre o que é, de fato, o Efeito CNN, ele pode ser reconhecido pela cobertura em tempo real das notícias e pela constante aceleração do ritmo da comunicação internacional (GILBOA, 2005, p.28). 
Observa-se que o Efeito CNN se relaciona diretamente com as problemáticas envolvendo a agenda setting e a influência midiática na opinião pública, que serão abordadas mais adiante. Ademais, segundo Benabid (2021), "(...) media coverage of human suffering and ensuing popular outrage have forced policymakers to put certain issues on their foreign policy agenda that otherwise they would not have considered". Tal reflexão certamente pode ser observada no conflito entre a Rússia e a Ucrânia, cuja situação do povo ucraniano, continuamente exposta pela mídia ocidental, influenciou os países ocidentais na adoção de políticas como o acolhimento de refugiados vindosdo país, tal como a União Europeia, que, segundo a BBC News Brasil (2022), "concedeu aos ucranianos que fogem da guerra o direito de permanecer e trabalhar em seus 27 países-membros por até três anos", mesmo em um contexto de rejeição ilegal de refugiados e violações de direitos humanos contra os mesmos que, segundo a ACNUR15, se tornou "normal" nas fronteiras de toda a Europa (UOL, 2022). 
No que tange a influência da opinião pública em matéria de política externa, foi estabelecido o consenso teórico Almond-Lippmann no período da Segunda Guerra Mundial, baseado em três proposições: A opinião pública é volátil, ou seja, se baseia nos humores das massas, que carecem de conhecimento sobre as lições da política externa passada; A falta de estrutura e coerência da opinião pública, especialmente em assuntos de política externa; E o impacto limitado da opinião pública na diplomacia, frente ao receio que os formuladores de políticas tinham sobre as duas últimas proposições (HOLSTI, 1992). 
Todavia, Holsti (1992) apresenta eventos da Guerra Fria que colocam esse consenso em xeque, como a Guerra do Vietnã, a Guerra da Coréia e a própria relação dos Estados Unidos com a União Soviética, cujas mudanças despertadas na opinião pública foram, segundo o autor, racionais e, como é amplamente sabido, impactaram diretamente na política externa. Nesse âmbito, de acordo com Alves (2021), há uma diferente abordagem críticas ao antigo consenso Almond-Lippmann, que compreende a mídia como também sendo um ator político, com notável capacidade de influência, sendo aquela que transporta informações para o público. Nesse sentido, é também importante compreender que a opinião pública pode ser deliberadamente manipulada pela mídia, que pode agir como força criadora de consensos.
A agenda setting é uma importante técnica empregada pelos veículos midiáticos ao redor do mundo, visando o estabelecimento de consensos acerca dos fatos, sendo um poderoso artifício de formação da opinião pública local e mundial. Em suma, a agenda setting¹¹ consiste na definição, por parte das mídias, das temáticas que vão ser ou não noticiadas. Desse modo, através da agenda setting¹¹, que costuma ser um movimento coordenado entre os vários veículos midiáticos, diferentes temáticas se tornam mais ou menos relevantes no âmbito do debate público, ou até mesmo são excluídas deste. De acordo com Mendonça e Temer (2015, p.198), a teoria de McCombs (2009), "aponta que a opinião pública não responde ao ambiente, mas sim ao pseudo ambiente que é construído pelos veículos de comunicação de notícias". 
De modo geral, através da agenda setting, os veículos midiáticos determinam os acontecimentos que serão colocados em pauta e, consequentemente, os que serão ignorados. Segundo Arbex (2021), o limite para a exclusão de tópicos das pautas dos veículos midiáticos é o impacto da credibilidade pública deste. Deste modo, tópicos de grande importância para a população, mas que vão de encontro ao viés que o jornal pretende passar são incluídos em suas agendas à medida em que, se fossem ignorados, causariam um impacto negativo em sua credibilidade pública. 
Há correlações entre esses fatos noticiados e a normativa internacional pesquisada na primeira parte do trabalho, tendo em vista os direitos infringidos e os crimes praticados pela Rússia. 
A Rússia viola, além dos princípios analisados neste trabalho, o Memorando de Budapeste. Neste caso, sob escusa de que não firmara acordo nenhum com o Estado Ucraniano que surgirá após a destituição de Viktor Yanukovich do governo ucraniano por seu parlamento. No entanto, há de se considerar que a retórica empregada não encontra respaldo no Direito Internacional, dado que não se firmara o memorando com um governante determinado, mas sim com um Estado determinado, Estado este que não perdeu o seu reconhecimento enquanto Estado. 
Além disso, se encontra violada a Carta das Nações Unidas, dado que um membro da ONU não poderia interferir assim na soberania de terceiro Estado como é feito pela Rússia. Não obstante, é de se reconhecer que outros signatários do Memorando de Budapeste, na condição de garantes da segurança ucraniana, estão a falhar na execução dessa garantia, dado que a Ucrânia permanece invadida.
Os diversos crimes humanitários cometidos na Ucrânia demonstram como a defesa dos direitos humanos, ainda que tenha feito grandes avanços nas últimas décadas, encontra barreiras. As questões, há muito levantadas por juristas e teóricos sobre a ausência de eficácia do Direito Internacional se mostram evidentes em casos como o presente. De fato, ainda que se tenha previsão legal referente a penalidades e sanções no caso de cometimentos de crimes em casos de guerra, a autonomia dos Estados impede que tais penas sejam aplicadas. 
A ideia de um governo mundial é, na mesma medida, absurda. Sendo absolutamente necessário que se garanta a autonomia e liberdade dos países. No entanto, resta evidente que novas medidas que garantam o cumprimento dos Tratados Internacionais precisam ser realizadas, possibilitando a todos os povos dignidade e vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LUQUINI, Roberto De Almeida. A aplicação do Direito Internacional Humanitário nos “conflitos novos”: Conflitos desestruturados e conflitos “de identidade” ou étnicos. BRASIL: SENADO FEDERAL, 2003.
IGNACIO, Julia. Entenda tudo sobre o Direito Internacional Humanitário! Disponível em: < https://www.politize.com.br/direito-internacional-humanitario/>. Acesso em 10 de abril de 2024.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Chefe de direitos humanos da ONU fala sobre o impacto arrasador da guerra na Ucrânia. Disponível em: < https://news.un.org/pt/story/2022/12/1806422>. Acesso em 10 de abril de 2024.
O DIREITO HUMANO À PAZ, O PRINCÍPIO DA NÃO-INTERVENÇÃO E A AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/DIGE. Acesso em 10 de abril de 2024.
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