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Prof. Dr. Fábio Haach Téo Metabolismo dos lipídeos Colesterol, triglicérides e formação da bile Lipídeos Os lipídeos englobam um conjunto de moléculas biológicas que tem a característica comum de serem insolúveis em água e solúveis em solventes de gorduras e solventes orgânicos, como o benzeno. Caracteristicamente, os lipídeos possuem uma longa cauda hidrocarbonada, como nos ácidos graxos e nos isoprenos, ou então múltiplos anéis aromáticos, como nos esteróis. Dentre suas funções nas células, podemos citar: constituintes das membranas plasmáticas (fosfolipídeos e esteróides) regulação hormonal (esteróides) reserva de energia (ácidos graxos) termogênese (ácidos graxos) Ácidos graxos Ácidos graxos Triacilgliceróis Gorduras naturais Os ácidos graxos insaturados das gorduras naturais geralmente possuem ligações duplas na configuração cis. A hidrogenação parcial desses ácidos graxos realizada na indústria faz com que algumas ligações cis sejam convertidas em trans. O consumo de gorduras trans aumenta o risco de doenças cardiovasculares Metabolismo de lipídeos Os lipídeos da dieta, absorvidos no intestino, e aqueles sintetizados endogenamente são distribuídos pelos tecidos pelas lipoproteínas plasmáticas para utilização ou armazenamento. Os triacilgliceróis são os lipídeos mais abundantes da dieta e constituem a forma de armazenamento de todo excesso de nutrientes. Como são mais reduzidos que os carboidratos, a oxidação dos triacilgliceróis apresenta rendimento maior uma reserva de glicogênio, com a mesma quantidade de energia de 15kg de triacilgliceróis, pesaria em torno de 150kg A utilização do depósito de triacilgliceróis pelo organismo e a sua reconstrução ocorrem através de vias diferentes, localizadas em compartimentos celulares distintos e submetidas a regulações antagônicas. Degradação de lipídeos A lipólise nos adipócitos depende da interação de enzimas com a a gota de triacilglicerol. A gota é revestida por uma monocamada de fosfolípídeos e colesterol, à superfície da qual se associam numerosas proteínas da família das perlipinas. A gota de triacilglicerol constitui uma organela dinâmica, cuja a estrutura sofre alterações frente a situações fisiológicas vigentes. A lipólise é ativada durante períodos de aumento da demanda de energia por ação hormonal. Degradação de lipídeos O glicerol não pode ser usado pelo adipócito, que não possui a enzima glicerol quinase, sendo, então, liberado na circulação. No o fígado e outros tecidos, o glicerol pode ser metabolizado a diidroxiacetona fosfato, um intermediário da glicólise ou da gliconeogênese. Os ácidos graxos liberados são transportados pelo sangue ligados à albumina e utilizados pelos tecidos. Os ácidos graxos da dieta, transportados pelos quilomícrons e VLDL, são hidrolisados pela lipase lipoproteica, presente no endotélio dos capilares nos tecidos extra-hepáticos. Degradação de lipídeos Os ácidos graxos são ativados e transportados para a matriz mitocondrial, onde são oxidados . Degradação de lipídeos Ciclo de Lynen Degradação de lipídeos A cada volta do ciclo de Lynen, há produção de 1 FADH2, 1 NADH, 1 acetil- CoA e 1 acil-CoA com dois atómos de carbono a menos do que o ácido graxo original. As coenzimas reduzidas são oxidadas no ciclo de Krebs. A oxidação dos ácidos graxos produz uma grande quantidade de ATP. Degradação de lipídeos Degradação de lipídeos Nos mamíferos, a oxidação dos ácidos graxos ocorre nas mitocôndrias, peroxissomos e retículo endoplasmático. As mitocôndrias são responsáveis pela β-oxidação de ácidos graxos de cadeia linear curta, média e longa (até 20 carbonos). Já a β-oxidação peroxissômica promove o encurtamento de ácidos graxos de cadeia linear muito longa (mais de 20 carbonos), de ácidos graxos ramificados (α-oxidação), de ácidos graxos dicarboxílicos e da cadeia lateral de intermediários da síntese de ácidos biliares. Os ácidos graxos encurtados são transferidos para a mitocôndria para oxidação completa. No retículo endoplasmático dos mamíferos, encontra-se uma via de oxidação de ácidos graxos dependente de enzimas da família do citocromo P450, a ω-oxidação. Degradação de lipídeos Doenças graves são causadas por defeitos genéticos que afetam a oxidação de ácidos graxos no peroxissomo . A de maior incidência (1:15000) é a adrenoleucodistrofia ligada ao cromossomo X, que se manifesta na infância e tem consequências fatais. A deficiência da translocase que transporta os ácidos graxos de cadeia muito longa para o interior dos peroxissomos leva ao acúmulo dessas substância no sistema nervoso central, o que provoca lesões graves. Degradação de lipídeos Ácidos graxos ramificados ou hidroxilados são oxidados pela α- oxidação nos peroxissomos. Deficiência hereditária da enzima que catalisa a hidroxilação do carbono α resulta na moléstia de Refsum, caracterizada por lesões neurológicas múltiplas. Corpos cetônicos Uma pequena quantidade de acetil-CoA é transformada em acetoacetato e β-hidroxibutirato nos hepatócitos dos mamíferos. O acetoacetato sofre descarboxilação espontânea, dando origem a acetona. Os três compostos, em conjunto, são chamados de “corpos cetônicos” e são sintetizados na matriz mitocondrial pela condensação de três moléculas de acetil-CoA. Os corpos cetônicos são liberados na corrente sanguínea e o acetoacetato e o β-hidroxibutirato são aproveitados como fonte de energia pelos tecidos extra-hepáticos, principalmente coração e músculos esqueléticos. A acetona é volatilizada nos pulmões. O jejum prolongado e o diabetes são condições onde há grande formação de corpos cetônicos. A alta concentração dessas substâncias na circulação induz a síntese de monocarboxilato translocase, permitindo a utilização dessas substâncias pelo cérebro. Corpos cetônicos Os corpos cetônicos constituem uma forma de transferência de carbonos oxidáveis do fígado para outros órgãos. A produção de corpos cetônicos é anormalmente elevada quando a degradação de triacilgliceróis não é acompanhada pela degradação de caboidratos. na ausência de carboidratos, a concentração de oxalacetato diminui, reduzindo drasticamente a velocidade de oxidação da acetil-CoA pelo ciclo Krebs. Quando a produção de corpos cetônicos ultrapassa o aproveitamento pelos tecidos extra-hepáticos, ocorre cetose (concentração elevada de corpos cetônicos no plasma e na urina), o que resulta em acidose devido ao simporte de β- hidroxibutirato com prótons para o plasma. A acidose pode levar o paciente a coma e óbito. Corpos cetônicos Produção de corpos cetônicos β-hidroxibutirato como combustível Corpos cetônicos Metabolismo do etanol O etanol ingerido pelos seres humano é rapidamente absorvido, sendo detectado no sangue minutos após a sua ingestão. No fígado, o principal responsável por seu metabolismo, é oxidado pela álcool desidrogenase citossólica. O acetato origina acetil-CoA por ação de uma acil-CoA sintetase. Metabolismo do etanol A ingestão de álcool a longo prazo determina a indução de uma segunda via de oxidação do etanol que se processa no RE catalisada pelo sistema microssomal de oxidação de etanol (MEOS), cujo componente principal é um citocromo P450 que oxida etanol a acetaldeído utilizando NAPH e O2 e forma H2O2. Os efeitos metabólicos da ingestão episódica de grandes quantidades de álcool ilustram a importância da concentração relativa das formas oxidada e reduzida de coenzimas no controle do metabolismo a oxidação do etanol a acetaldeído gera altos níveis de NADH no citosol dos hepatócitos, o que favorece aformação de lactato a partir de piruvato pela lactato desidrogenase a contínua conversão de piruvato a lactato impossibilita a gliconeogênese, o que pode gerar hipoglicemia e coma altos níveis mitocondriais de NADH inibem o ciclo de Krebs e o ciclo de Lynen, levando a cetoacidose e esteatose Síntese de ácidos graxos Nos seres humanos, a via de síntese de ácidos graxos inicia-se com acetil-CoA e produz ácido palmítico. A síntese de ácidos graxos é sujeita a mecanismos diversos, mas ocorre, invariavelmente, quando a carga energética celular (ATP/ADP) é alta e a acetil-CoA disponível pode ser armazenada como gordura. Carboidratos e proteínas, os precursores dos ácidos graxos, são degradados a piruvato, que origina acetil-CoA pelo complexo piruvato desidrogenase e oxaloacetato pela piruvato carboxilase. Esses dois compostos sofrem condensação, formando citrato, na primeira reação do ciclo de Krebs, catalisada pela citrato sintase. Como o ciclo de Krebs está inativo em condições de alta carga energética celular, o citrato acumula, dando início à síntese dos ácidos graxos. Síntese de ácidos graxos Alongamento e insaturação de ácidos graxos O alongamento de ácidos graxos é realizado no retículo endoplasmático através da mesma sequência de etapas utilizadas na síntese do ácido palmítico. A capacidade dos mamíferos de sintetizar ácidos graxos insaturados é muito menor do que a dos vegetais. Os ácidos graxos que não podem ser sintetizados pelos mamíferos são classificados como “essenciais” e devem ser obtidos da alimentação. Síntese de triacilgliceróis Os triacilgliceróis são produzidos a partir de acil-CoA derivadas de ácidos graxos e glicerol 3-fosfato. Nos seres humanos, as enzimas que sintetizam triacilgliceróis estão ligadas ao retículo endoplasmático, na superfície voltada para o citossol. O fígado e o tecido adiposo são os principais responsáveis pela conversão de ácidos graxos a triacilgliceróis. Os triacilgliceróis sintetizados no fígado são incorporados em lipoproteínas plasmáticas e distribuídos aos tecidos extra-hepáticos. O tecido adiposo, por sua vez, encarrega-se da síntese e armazenamento de triacilgliceróis e, ainda, da sua hidrólise, liberando ácidos graxos para uso interno ou para exportação a outros órgãos. O armazenamento ou mobilização de triacilgliceróis ocorrem em condições fisiológicas antagônicas. Síntese de triacilgliceróis Regulação da síntese de triacilgliceróis Produção de glicerol Síntese de triacilgliceróis síntese de triacilgliceróis No fígado, existe uma rota alternativa para a produção de glicerol 3-fosfato no fígado Ciclo do triacilglicerol Regulação da gliceroneogênese Colesterol O colesterol é sem dúvida o lipídeo que recebe maior publicidade, sendo famoso devido à forte correlação entre altos níveis de colesterol no sangue e incidência de doenças cardiovasculares em humanos. O colesterol, entretanto, desempenha funções fundamentais no organismo humano, pois é um dos componentes da membrana plasmática das células e participa da via de síntese de hormônios esteróides e dos ácidos biliares. O colesterol é formado a partir de acetil-CoA em quatro estágios 1. condensação de três unidades de acetato, formando uma molécula de seis carbonos, o mevalonato 2. conversão do mevalonato em unidades de isopreno ativadas 3. polimerização das seis unidades de isopreno com 5 carbonos, formando o esqualeno linear, com 30 carbonos 4. ciclização do esqualeno e mudanças adicionais Estrutura da molécula de colesterol A molécula de colestrol pode ser dividida em três partes: núcleo esteróide (quadro anéis fusionados, 3 com 6 carbonos e 1 com 5 carbonos) grupo - cabeça polar (parte hidrofílica) cadeia lateral alquila Síntese de colesterol 1 A maior parte do colesterol em seres humanos não é obtido da dieta, mas é sintetizado pelo próprio organismo. A classe de fármacos denominada “estatinas”, utilizada no tratamento da hipercolesterolemia, inibe a síntese endógena de colesterol através da inativação da enzima HMG-CoA redutase, atuando na primeira etapa da via metabólica, que é a etapa limitante. 2 3 4 Demais etapas da síntese de colesterol O papel da bile A bile é formada por ácidos biliares, provenientes do colesterol, e seus sais. Transporte de lipídeos O colesterol e os ésteres de colesterila, assim como os triacilgliceróis e os fosfolipídeos, são essencialmente insolúveis em água. A maioria dos lipídeos é transportada, portanto, via lipoproteínas plasmáticas, que são complexos macromoleculares solúveis. Principais classes de lipoproteínas plasmáticas humanas Transporte de lipídeos Lipoproteínas Transporte de lipídeos Apoliproproteínas humanas Transporte de lipídeos Transporte de lipídeos Regulação do metabolismo do colesterol A regulação da formação de colesterol equilibra a síntese com a captação a partir da alimentação e o estado energético. Aterosclerose Nature Reviews Immunology 1-12, June 2006 Evolução da aterosclerose Adventícia Células Musculares Lisas Media Íntima Endotélio Artéria normal Ateroma precoce Placa “Vulnerável” Capa fibrosa I.A.M. Nature 420: 868-874, 2002 Aterosclerose Dislipidemias Defeitos no metabolismo das lipoproteínas levam a desordens conhecidas como hiperlipidemias ou dislipidemias. As dislipidemias podem ser classificadas de diferentes maneiras Etiologia dislipidemias primárias - são aquelas nas quais o distúrbio lipídico é de origem genética. dislipidemias secundárias - a dislipidemia é decorrente de estilo de vida inadequado, de certas condições mórbidas, ou de medicamentos Fenotipagem (Fredrickson) classificação é baseada na separação eletroforética e/ou por ultracentrifugação das frações lipoproteicas Parâmetros laboratoriais hipercolesterolemia isolada, hipertrigliceridemia isolada, hiperlipidemia mista HDL-c baixo Dislipidemias Dislipidemias de origem genética - alterações em TG e/ou CT Dislipidemias Dislipidemias de origem genética - diminuição isolada de HDL-c Geralmente baixos níveis de HDL-c não ocorrem isoladamente, mas estão associados a hipertrigliceridemia e/ou altas elevadas taxas de ApoB. Dislipidemias Menos utilizada atualmente, tendo sido substituída largamente pela classificação laboratorial. Classificação de Fredrickson Dislipidemias Dislipidemias secundárias a estilo de vida inadequado Dislipidemias Dislipidemias secundárias a medicamentos
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