Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fluidos Biológicos Samantha Brum Leite Doenças renais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar as principais patologias associadas à função glomerular. � Descrever as principais patologias associadas aos processos não glomerulares. � Reconhecer as provas laboratoriais associadas ao diagnóstico das principais doenças renais. Introdução Neste capítulo, você vai estudar que os rins podem ser acometidos por diversas patologias que comprometem seu desempenho e sua função. Assim, determinadas doenças podem afetar regiões específicas ou afetar mais de uma região do órgão ou do sistema renal. A identificação das principais patologias e a sua etiologia será importante para a investigação diagnóstica. Por exemplo, uma das formas de manifestação da lesão renal aguda (LRA) é por necrose tubular aguda (NTA). Uma vez que ela está relacionada a um dano tubular, podemos inferir que no sedimento urinário haverá células epiteliais tubulares renais. Todo o conhecimento construído sobre o significado clínico das al- terações e dos elementos presentes no sedimento será fundamental para o correto diagnóstico clínico de diversas doenças renais. Você irá acompanhar algumas dessas patologias e poderá correlacionar com os resultados das provas laboratoriais. Patologias glomerulares Tendo em vista as etapas do processo de formação da urina, os glomérulos participam da etapa de filtração do sangue, sendo então a primeira etapa do processo. Diversas patologias afetam essa região, comprometendo a filtração glomerular e, com isso, o funcionamento renal. As doenças que afetam os glomérulos são denominadas de glomerulopatias, sendo chamadas também de glomerulonefrites. As glomerulopatias, apesar de serem relativamente raras, representam uma das três principais causas de perda definitiva da função renal. A sua classificação se baseia nos diagnósticos etiológico, sindrômico e histológico. A LRA caracteriza-se como uma variedade de síndromes que levam o indivíduo, em questão de horas a poucas semanas, a uma diminuição rá- pida da taxa de filtração glomerular (TFG) e, consequentemente, retenção de compostos nitrogenados que correspondem a creatinina, ureia e outras moléculas não rotineiramente medidas. Está presente em 5% dos pacientes hospitalizados e corresponde a 30% das internações em unidade de tratamento intensivo. Normalmente, no início, o paciente é assintomático, sendo mani- festada oligúria (volume urinário < 400 ml/24 h) em 50 a 70% dos casos, e a recuperação espontânea está presente em 90% dos pacientes, porém em 5% há uma perda irreversível da função renal, e nos 5% restantes a recuperação é parcial. Aumento da ureia e aumento da creatinina sérica em 0,3 mg/dl ou aumento de 150-200% do valor basal (1,5 a 2 vezes) em relação ao seu valor de referência representa insuficiência renal aguda. Acesse, no link a seguir, o documento elaborado pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, em 2015, sobre o passo a passo para a implantação da estimativa da taxa de filtração glomerular (eTFG) e entenda como funciona e é realizado o cálculo. https://qrgo.page.link/81hmu A LRA é classificada em: � Pré-renal: representa 55-60% dos casos e a função renal é recuperada após o restabelecimento da perfusão renal e da pressão de filtração glomerular. Está associada a três causas: (1) diminuição do volume intra- Doenças renais2 vascular em razão de baixa ingestão de água, perdas renais, problemas extrarrenais, como queimaduras, e perdas para outros espaços, como peritonite; (2) estado de baixo débito cardíaco, como embolia pulmonar, arritmia, tamponamento cardíaco ou (3) situações de resistência vascular sistêmica diminuída, como sepse. Assim, a redução da TFG resulta da diminuição do fluxo sanguíneo ou da diminuição da pressão de perfusão renal, influenciando, portanto, na função glomerular. � Renal (intrarrenal): representa cerca de 40% dos casos de LRA e apresenta lesão no parênquima renal. Dentre os casos, 90% correspon- dem à lesão tubular decorrente de isquemia e/ou nefrotoxicidade por drogas, quimioterápicos, antibióticos e NTA. Doenças relacionadas a um acometimento dos vasos renais, glomérulos e túbulos intersticiais também estão envolvidas. Logo, a redução da TFG é decorrente da lesão direta do parênquima renal. � Pós-renal: representa <5% dos casos de LRA e está associada a inter- corrências no fluxo urinário por obstrução ureteral bilateral ou de um único rim, da bexiga ou da uretra. Os agentes causadores podem ser cálculos, cristais, edemas, infecções, entre outros. Assim, há redução da TFG pela obstrução do fluxo urinário. Para a classificação, consideram-se os exames laboratoriais e de imagem, sendo a etiologia determinada por biópsia renal, a qual é útil para o diagnóstico diferencial de insuficiência renal crônica. Veja o Quadro 1. Pré-renal Intrarrenal Pós-renal Depleção de volume “verdadeira” Doença vascular � Arterial, arteriolar e venosa Obstrução pélvica/ ureteral � Doença retroperitoneal � Nefrolitíase � Bola fúngica e coágulos sanguíneos Quadro 1. Etiologias da LRA (Continua) 3Doenças renais Quadro 1. Etiologias da LRA Pré-renal Intrarrenal Pós-renal Perdas extrarrenais � Náusea/vômitos � Diarreia e fístula externa Doença glomerular � Glomerulonefrite aguda (imunocomplexo, � Vasculite e anti-mbG) � Microangiopatia trombótica (púrpura trombótica trombocitopênica/ síndrome hemolítico-urêmica) � Doença de depósito de imunoglobulina monoclonal Obstrução vesical � Estrutural (cálculos, hiperplasia prostática benigna e coágulos sanguíneos) � Funcional (neuropática e medicamentosa) Perdas renais � Diurese excessiva � Perda renal de sal � Diabetes insípido Necrose tubular aguda � Nefrotóxica � Isquêmica � Relacionada a pigmentos � Nefropatia associada a cristais � Nefropatia osmótica Obstrução ureteral Depleção de volume “efetiva” � Sepse � Miocardiopatia � Cirrose/ insuficiência hepática � Síndrome nefrótica Nefrite intersticial aguda � Induzida por medicamentos � Infecção (viral, fúngica e bacteriana) � Doenças sistêmicas Doença estrutural renal arterial/ arteriolar � Estenose da artéria renal e arteríolo- nefroesclerose (Continua) (Continuação) Doenças renais4 Fonte: Adaptado de Reilly Jr. e Perazella (2015). Quadro 1. Etiologias da LRA Pré-renal Intrarrenal Pós-renal Hemodinâmica intrarrenal alterada � Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), inibidores de calcineurina, inibidores da enzima conversora da angiotensina e bloqueadores do receptor da angiotensina (Continuação) A LRA intrarrenal pode ser subdividida em doença tubular, doença glome- rular, doença intersticial e doença vascular, estando relacionada aos casos de NTA decorrente de isquemia, sepse ou ação de toxinas. No entanto, o principal mecanismo associado é a lesão das células tubulares, e não de fato a necrose do tecido. Condições de risco implicadas com a LRA são avanço da idade, diabetes melito, depleção de volume, cirurgia vascular, insuficiência renal crônica e uso múltiplo de antibióticos. Assim, caracterizam-se em pacientes com alto risco e, por isso, exigem maiores cuidados. A LRA intrarrenal tubular e por doença intersticial serão abordadas na próxima seção, por estarem relacionadas a processos não glomerulares. Sob a forma de doença glomerular, as glomerulonefrites são as principais, cuja forma que promove a LRA é a glomerulonefrite rapidamente progressiva. Ela é mais estudada e abordada, estando relacionada à síndrome nefrítica. Tanto a síndrome nefrítica quanto a síndrome nefrótica são doenças que se caracteri- zam pela associação à função tubular, entretanto, em razão da complexidade, recebem atenção especial em sua abordagem. A LRA por doença vascular não se caracteriza necessariamente como uma patologia associada às funções renais,visto que é decorrente de ques- tões secundárias, sobretudo em pacientes idosos após procedimento vascular 5Doenças renais invasivo. As principais causas associadas à LRA pós-renal são hipertrofia prostática benigna, cânceres de próstata e cervical, carcinoma metastático e nefrolitíase. Assim, essa forma da doença não está associada a nenhum dos processos de formação da urina, visto que a obstrução ocorre no nível dos ureteres ou abaixo da bexiga. A doença renal crônica (DRC) trata-se de uma insuficiência renal crônica, a qual representa uma redução lenta e gradual da função renal em um período de meses a anos. Ocorre em razão de uma lesão renal prévia que evolui para a piora da função renal. As causas são diversas: diabetes melito, lúpus eritomatoso sistêmico (LES), rins policísticos, amiloidose, hipertensão, glomerunefrite, mieloma múltiplo, obstrução do trato urinário, pielonefrite crônica, nefrite intersticial, sendo, portanto, de origem primária ou secundária (SIMON; EVE- RITT; VAN DORP, 2013; MCANINCH; LUE, 2014; HAMMER; MCPHEE, 2016; PRADO; RAMOS; VALLE, 2018; LERMA; BERNS; NISSENSON, 2012; REILLY JR.; PERAZELLA, 2015). Patologias não glomerulares Uma das formas de manifestação da LRA intrarrenal é pela NTA, a qual está relacionada a uma lesão tubular aguda, de modo que não está associada à função glomerular, e sim ao processo de reabsorção. Assim, a NTA consiste em um processo reversível, desde que a isquemia não tenha provocado necrose nos demais tecidos, associado à oligúria ou anúria (<100 ml/24 h). Representa cerca de 80% dos casos de LRA intrarrenal e pode ser de origem isquêmica ou nefrotóxica, principalmente. A NTA isquêmica se relaciona à hipoperfu- são renal prolongada, à hipotensão pós-operatória e à NTA nefrotóxica com diferentes agentes etiológicos. Pode ser decorrente de nefrotoxinas exógenas, como antibióticos, que agem provocando lesão direta das células tubulares e ocorrem em razão de (1) uso de doses altas ou repetidas ou terapia prolongada, (2) idade avançada, (3) depleção de volume (arterial efetivo reduzido) e (4) coexistência de isquemia renal ou outras nefrotoxinas. Os agentes de contraste radiológico provocam tanto vasoconstrição quanto lesão celular direta. O etilenoglicol costuma ser tóxico na sua forma habitual de anticongelante, o que acarreta a presença de cristais de oxalato de cálcio. Nefrotoxinas endógenas, como mioglobina, acarretam um quadro de rabdomiólise (que se caracteriza pela liberação de Doenças renais6 uma grande quantidade de mioglobina do tecido muscular necrótico) que leva à NTA. A NTA também pode estar associada a cristais, como os de ácido úrico, sulfa, aciclovir e ciprofloxacina, sendo esses dois perfis facilmente identificados pelo exame de urina. Há também a nefrite intersticial aguda (NIA), a qual é induzida por muitos fármacos, como AINEs, penicilinas, cefalosporinas, sulfonamidas, diuréticos e alopurinol, além de agentes infecciosos e doenças sistêmicas. Está associada, normalmente, à presença de infiltrados celulares de linfócitos e outras células leucocitárias no interstício renal. Os sintomas associados estão relacionados a febre, erupções cutâneas e presença de eosinófilos na urina. Os agentes infectantes são: bactérias, como Mycoplasma e Legionella, e vírus, incluindo citomegalovírus, vírus Ebstein-Barr, HIV e da rubéola. A NIA pode evoluir para nefrite intersticial crônica (NIC), que evolui para fibrose intersticial com infiltração, cujas células inflamatórias estão associadas à atrofia tubular. A NIC pode ser classificada em primária ou secundária. As causas são as mesmas que as decorrentes da NIA, com destaque pelo poliomavírus BK, como causa primária e por complicação da pielonefrite aguda ou crônica, como causa secundária. Outra classe de doenças, além das adquiridas (anteriormente citadas), diz respeito a doenças renais hereditárias, as quais normalmente são identificadas durante a infância. Rins policísticos são decorrentes da formação de cistos no córtex renal, cuja ocorrência se dá pela falta de união entre os túbulos coletores e os túbulos convolutos de alguns néfrons. Assim, caso os cistos presentes aumentem de tamanho, há um aumento na pressão intrarrenal e, como consequência, há destruição do tecido adjacente. Há também anomalias hereditárias do túbulo proximal, as quais estão associadas com defeitos na reabsorção de aminoácidos. Assim, há a cistinúria congênita que apresenta excreção elevada de cistina e, com isso, há a formação de cálculos de cistina que podem ser visualizados na análise do sedimento urinário. Em relação ao túbulo contorcido distal, sua ocorrência pode se dar por defeito na secreção do íon hidrogênio e da reabsorção de bicarbonato, caracterizando como uma acidose tubular renal. Ainda, a anomalia pode estar associada a defeitos na absorção de água, como o que ocorre no diabetes insípido no qual há falta de resposta ao hormônio antidiurético (MCANINCH; LUE, 2014; FOCHESATTO FILHO; BARROS, 2013). Observe a Figura 1. 7Doenças renais Figura 1. Cristal de cistina. 400x. Fonte: Schmitz (2012, p. 169). Provas laboratoriais em doenças renais Para a investigação diagnóstica das doenças, a partir da suspeita clínica, realiza- -se uma série de provas laboratoriais a fim de confirmar ou não a hipótese diagnóstica. Para isso, é importante que se saiba quais são os exames que deverão ser realizados e o significado dos achados laboratoriais em compara- ção com a condição clínica do paciente. Desse modo, pode-se obter tanto um diagnóstico precoce como um acompanhamento ou prognóstico dos pacientes. Para a LRA, a creatinina e a ureia sérica são marcadores importantes, cujos resultados serão elevados para ambos. A creatinina sérica tem uma relação inversa com a TFG, logo, um aumento na creatinina representa diminuição da TFG. O mesmo ocorre com a ureia sérica, no entanto, a ureia também pode variar independente da TFG, visto ser um marcador menos específico da função renal, quando comparado com a creatinina. Isso se dá em função de que 40 a 70% de ureia retorna para o plasma por processos de difusão passiva, de modo que a sua análise fica aquém da TFG. Em adição, a ureia sofre interferência de outros fatores externos (como ingestão de dieta rica em proteínas, hipercatabolismo proteico e outros). A doença pode causar alterações no equilíbrio eletrolítico e, consequentemente, retenção de fósforo e potássio. A hipercalemia (excesso de potássio no sangue) leva o indivíduo a uma série de problemas associados ao aumento no risco de formação de Doenças renais8 cálculos urinários e prejuízo na função cerebral e cardíaca, o que leva o indi- víduo a um descompasso dos batimentos cardíacos e, com isso, pode ocorrer parada cardíaca. A avaliação do volume urinário em 24 horas é variável, não sendo um critério decisivo, uma vez que pode apresentar poliúria, oligúria ou anúria. Desse modo, para tal avaliação, é importante também o controle do estado de hidratação do indivíduo. Avaliações referentes ao sódio urinário, quando elevado >20 mEq/L (hipernatremia) junto à fração de excreção de sódio (FENa) maior que 2%, sugerem NTA. � Azotemia: acúmulo de compostos nitrogenados no sangue como creatinina e ureia. � Uremia: sintomas e sinais de disfunção em diversos órgãos em razão da retenção de toxinas urêmicas em casos de insuficiência renal. No entanto, uma das principais formas de acompanhar os pacientes com LRA, de modo geral, é pela avaliação no exame de urina, cujos aspectos como densidade, leucocitúria, hematúria, proteinúria, cristalúria, cilindrúria e hematúria (sendo considerada a pesquisa para dismorfismo eritrocitário e eosinofilúria) são analisados. A densidade muito alta sugere um processo pré-renal, enquanto que uma urina isostenúrica (densidade=1,010) estará associada à uma LRA intrarrenal como a NTA. O dismorfismo irá determinar a origem da hematúria, visto que a presença de hemácias dismórficas indicaa ocorrência de hematúria glomerular. Os exames de imagem de rotina, como a ultrassonografia, colaboram para avaliação dos rins e das vias urinárias (PRADO; RAMOS; VALLE, 2018; REILLY JR.; PERAZELLA, 2015). A LRA por NTA, de forma geral, provoca lesão tubular e por isso propicia a ocorrência de cilindrúria no sedimento urinário, com a presença de cilindros granulosos e epiteliais, e células epiteliais tubulares renais livres, que repre- sentam um sinal de dano celular. Sendo a NTA nefrotóxica por mioglobinúria, a sedimentoscopia é caracterizada pela presença de cilindros pigmentados por mioglobina, os quais apresentam coloração marrom a marrom-avermelhada e estão associadas a um quadro de rabdomiólise, assim como ao nível elevado de creatinoquinase. Já na ocorrência de NTA nefrotóxica por cristais ocorre pela presença de cristais de urato de sódio, que, por sua vez, produzem uma reação inflamatória intersticial. O urato precipita-se em urina ácida e assim 9Doenças renais forma cálculos de ácido úrico. Por isso, constantemente está relacionada à presença de cristais de ácido úrico livres no sedimento, cilindros contendo cristais de ácido úrico e, de forma complementar, cristais de urato amorfo. Os cristais de sulfa pela sulfadiazina, quando presentes, indicam o depósito intratubular dos cristais em urina ácida. Cristais de aciclovir são decorrentes de doses intravenosas elevadas do medicamento, assim como os de ciproflo- xacina em urina alcalina. Veja a Figura 2. Figura 2. Células epiteliais tubulares renais no sedimento urinário (microscopia de campo claro no painel esquerdo e de contraste de fase no painel direito). Fonte: Reilly Jr. e Perazella (2015, p. 226). Já a LRA por NIA em razão da ação farmacológica pode refletir no fun- cionamento hepático, de modo que as provas laboratoriais associadas ao seu diagnóstico são a presença de um aumento nas transaminases hepáticas (aspartato e alanina aminotransferases), com proteinúria leve, hematúria e leucocitúria, sendo comum a presença de eosinófilos e cilindrúria com os cilindros leucocitários. Quando relacionada a agentes infecciosos requer a investigação etiológica por urocultura ou provas sorológicas. Apesar do indicativo das provas laboratoriais, o diagnóstico diferencial ocorre por meio de biópsia renal. Doenças renais10 A NIA causada pelo poliomavírus BK pode ser detectada com a pesquisa de células decoy no sedimento urinário e quando apresenta a pielonefrite como etiologia, observam-se leucócitos e cilindros leucocitários. Os eosinófilos podem ser investigados pela coloração de Wright ou a coloração de Hansel na urina. Apesar de presentes no sedimento de NIA não são sensíveis ou específicos da doença, a sensibilidade é de 67% e a especificidade é de 87%. Observe a seguir o Quadro 2. Exame Pré-renal NTA NIA Glomerunefrite Densidade Alta Isosmótica Isosmótica Normal/alta Sangue* Negativo Positivo Positivo Positivo Albumina* Negativo Negativo Positivo Positivo Sedimento urinário Cilindros hialinos Cilindros granulosos e células epiteliais tubulares renais Cilindro leucocitário e eosinófilo Cilindro hemático e dismorfismo eritrocitário * Análise pela tira reativa. Quadro 2. Resultados por exame De modo geral, as demais provas laboratoriais estão relacionadas à pesquisa de anticorpo antinuclear (FAN) para investigação de LES, anticorpo anticito- plasma de neutrófilos (ANCA) para identificação da formação de complexos imunes na glomerunefrite rapidamente progressiva, sorologia para hepatite, crioglobulinas séricas, níveis de complemento e hemocultura. Tais exames têm o objetivo de identificar a etiologia das doenças. 11Doenças renais Os achados laboratoriais na DRC assemelham-se aos da LRA, no entanto, são muito inespecíficos e a alteração dos marcadores séricos ocorre de forma gradual. Logo, se observa a ocorrência de hiperfosfatemia, comprometimento na excreção de potássio (com hipercalemia), sódio e água e diminuição da TFG. Em paralelo, ocorre elevação sérica dos marcadores renais (ureia e creatinina). O que se observa de diferente em relação aos demais perfis é a presença de cilindros céreos e cilindros céreos largos. Ademais, a análise do hemograma é útil, pois os pacientes costumam apresentar anemia normocítica e normocrômica (sedundária à diminuída secreção de eritropoietina) e de forma complementar, podem apresentar deficiência de ferro. A ocorrência de rim policístico está associada à presença de leucocitúria e hematúria no exame de urina, acompanhada de baixa TFG e creatina e ureia elevadas. A cistinúria congênita consegue ser diagnosticada pela presença de cristais de cistina na urina. A acidose tubular renal requer testes que estimu- lem a capacidade renal de acidificar a urina, como avaliação do pH urinário após jejum de 12 horas, infusão de bicarbonato ou de solução de sulfato de sódio ou com administração oral de furosemida e análise da urina após 2 a 3 horas. São observados níveis de sódio, potássio, cálcio e fosfato maiores que o normal em urina alcalina e potássio sérico baixo. Já o diabetes insípido tem como prova laboratorial os aspectos físicos da urina com aumento do volume urinário e com baixa densidade. De modo geral, há biomarcadores envolvidos na determinação da função renal, apesar do uso da estimativa da TFG já ser amplamente utilizada. São eles: creatinina e ureia sérica, cistatina C e outros marcadores que podem auxiliar na determinação da TFG como iolatamato e inulina. No entanto, há marcadores precoces que podem determinar a ocorrência de lesão renal e que ocorrem previamente à diminuição da filtração glomerular. Assim, há a lipocalina associada com gelatinase de neutrófilos humanos (NGAL), N-acetil-β-d-glucosaminidase (NAG), KIM-1 (Kidney Injury Molecule-1) e Interleucina-18. Pode-se inferir a ocorrência de doença renal precoce pela análise de proteínas na análise química do exame de urina de rotina, visto que normalmente há uma pequeníssima excreção de proteínas na urina (elas são normalmente reabsorvidas em um indivíduo com sua função renal íntegra). A proteinúria, portanto, pode representar dano tubular e/ou glomerular (ver o assunto síndrome nefrítica/nefrótica), assim como a presença de células epiteliais tubulares renais (REILLY JR.; PERAZELLA, 2015; SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA CLÍNICA E MEDICINA LABORATORIAL, 2017; PRADO; RAMOS; VALLE, 2018; SIMON; EVERITT; VAN DORP, 2013; MCANINCH; LUE, 2014; HAMMER; MCPHEE, 2016; SCHMITZ, 2012). Doenças renais12 FOCHESATTO FILHO, L.; BARROS, E. (Org.). Medicina interna na prática clínica. Porto Alegre: Artmed, 2013. HAMMER, G. D.; MCPHEE, S. J. Fisiopatologia da doença: uma Introdução à medicina clínica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. (Série Lange). LERMA, E. V.; BERNS, J. S.; NISSENSON, A. R. Current diagnóstico e tratamento: nefrologia e hipertensão. Porto Alegre: AMGH, 2012. (Série Lange). MCANINCH, J.; LUE, T. F. Urologia geral de Smith e Tanagho. 18. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. (Lange). PRADO, F. C. do; RAMOS, J. de A.; VALLE, J. R. AT/DT: atualização terapêutica: diagnóstico e tratamento. 26. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2018. REILLY JR., R. F.; PERAZELLA, M. A. Nefrologia em 30 dias. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. (Série Lange). SCHMITZ, P. J. Rins: uma abordagem integrada à doença. Porto Alegre: AMGH, 2012. (Série Lange). SIMON, C.; EVERITT, H.; VAN DORP, F. Manual de clínica geral de Oxford. Porto Alegre: Artmed, 2013. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA CLÍNICA E MEDICINA LABORATORIAL. Reco- mendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML): realizações de exames em urina. Barueri, SP: Manole, 2017. Disponível em: http://www. sbpc.org.br/publicacao-legislacao/publicacoes-tecnicas/. Acesso em: 2 nov. 2019. Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamentedinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 13Doenças renais
Compartilhar