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MICROBIOLOGIA BROOKS, G.F.; CARROLL, K.C.; BUTEL, J.S.; MORSE, S.A.; MIETZNER, T.A. Microbiologia Médica de Jawetz, Melnick e Adelberg – 26.ed. CHAMPE, P.C.; HARVEY, R.A.; FISHER, B.D. Microbiologia Ilustrada – 2.ed. GLADWIN, M.; TRATTLER, B. Microbiologia Clínica Ridiculamente Fácil – 4.ed. HÖFLING, J.F.; GONÇALVES, R.B. Microscopia de Luz em Microbiologia: Morfologia Bacteriana e Fúngica LEVINSON, W. Microbiologia Médica e Imunologia – 1 .ed.3 MADIGAN, M.T.; MARTINKO, J.M; DUNLAP, P.V.; CLARK, D.P. Microbiologia de Brock – 1 .ed.4 SCHAECHTER, M.; INGRAHAM, J.L.; NEIDHART, F.C. Micróbio – Uma Visão Geral TORTORA, G. J.; FUNKE, B.R.; CASE, C.L. Microbiologia – 10.ed. IMUNOLOGIA DOAN, T.; MELVOLD, R.; VISELLI, S.; WALTENBAUGH, C. Imunologia Ilustrada MURPHY, K. Imunobiologia de Janeway – 8.ed. PARHAM, P. O Sistema Imune – 3.ed. Microbiologia médica e imunologia, 13ª edição, contempla aspectos básicos e clínicos da bacteriologia, virologia, micologia, parasitologia e imunologia. Esta nova edição traz também uma seção inteiramente nova sobre doenças infecciosas importantes, organizadas por sistemas de órgãos. Destacam-se ainda as questões para autoavaliação e os casos clínicos. • esumos sobre microrganismos de importância médica auxiliam no estudo do tema.R • casos clínicos demonstram a das ciências básicas no diagnóstico clínico.50 relevância • 654 questões práticas abrangem os principais temas de cada área. • Forte ênfase no texto quanto à aplicação clínica da microbiologia nas doenças infecciosas. • Imagens coloridas ilustram sinais clínicos importantes. DESTAQUES DESTA EDIÇÃO: CAPÍTULOS NOVOS SOBRE DOENÇAS INFECCIOSAS! Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 L665m Levinson, Warren. Microbiologia e imunologia médicas [recurso eletrônico] / Warren Levinson ; tradução: Danielle Soares de Oliveira Daian ; tradução e revisão técnica: Flávio Guimarães da Fonseca. – 13. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2016. Editado como livro impresso em 2016. ISBN 978-85-8055-557-8 1. Microbiologia médica. 2. Imunologia. I. Título. CDU 579.61 Tradução Flávio Guimarães da Fonseca Professor associado do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutor em Microbiologia pela UFMG. Danielle Soares de Oliveira Daian Doutoranda do curso de Pós-Graduação em Microbiologia da UFMG. Mestre em Microbiologia pela UFMG. Revisão técnica desta edição Flávio Guimarães da Fonseca Professor associado do Departamento de Microbiologia da UFMG. Doutor em Microbiologia pela UFMG. C A P Í T U L O VÍRUS DE MENOR IMPORTÂNCIA MÉDICA Esses vírus são apresentados em ordem alfabética, listados na Ta- bela 46-1, de acordo com seu ácido nucleico e a presença de um envelope. ASTROVÍRUS Astrovírus são vírus de RNA não envelopados, de tamanho si- milar ao dos poliovírus. Apresentam morfologia característica de cinco ou seis pontas. Causam diarreia aquosa, sobretudo em crianças. A maioria dos adultos possui anticorpos contra astro- vírus, sugerindo que a infecção ocorre frequentemente. Não há fármacos antivirais ou medidas preventivas disponíveis. VÍRUS BK O vírus BK é um membro da família dos poliomavírus. Os po- liomavírus são vírus não envelopados com um genoma forma- do por DNA de dupla-fita circular. Vírus BK e poliomavírus JC (ver Capítulo 44) são os dois poliomavírus que infectam seres humanos. A infecção pelo vírus BK é amplamente difundida, confor- me determinado pela presença de anticorpo, geralmente adqui- rida na infância, e a infecção não é associada a nenhuma doença até o momento. Contudo, causa nefropatia e perda de enxerto em transplantados renais imunossuprimidos. Ocorre eliminação assintomática do vírus BK na urina de pacientes imunocompro- metidos e na de mulheres grávidas no terceiro trimestre. Não há terapias antivirais eficientes contra o vírus BK. VÍRUS BORNA O vírus Borna é um vírus envelopado com genoma de RNA de fita simples não segmentado e polaridade negativa. Possui o me- nor genoma entre os vírus com esse tipo de RNA e é o único vírus que se multiplica no núcleo da célula infectada. Sequências de DNA homólogas ao genoma do vírus Borna estão integradas no DNA humano. Ele é um vírus neurotrófico conhecido por infec- tar regiões do encéfalo, como o hipocampo. Borna é o nome de uma cidade na Alemanha onde o ví- rus foi responsável por causar doença em cavalos, em 1885. É um vírus zoonótico causador de doença em animais domés- ticos, como bovinos, ovinos, cães e gatos. O vírus Borna não foi estabelecido como um patógeno humano, porém, existem evidências de que ele esteja associado a doenças psiquiátricas humanas, caracterizadas por comportamento anormal, como o distúrbio bipolar. VÍRUS DE MENOR IMPORTÂNCIA MÉDICA Astrovírus Vírus BK Vírus Borna Vírus do Vale de Cache Vírus Chikungunya Vírus Ebola Hantavírus Vírus Heartland Vírus Hendra Herpes-vírus B Bocavírus humano Herpes-vírus simples 6 Metapneumovírus humano Vírus Jamestown Canyon Ví rus da encefalite japonesa Vírus da febre de Lassa Vírus Lujo Vírus da coriomeningite linfocitária Vírus Marburg Vírus Nipah Vírus Powassan Poxvírus de origem animal Espumavírus Vírus do complexo Tacaribe Vírus Whitewater Arroyo Vírus Zika Aplique seu conhecimento Resumos dos organismos Questões para autoavaliação C O N T E Ú D O D O C A P Í T U L O Patógenos Virais de Menor Importância 46 Levinson_book.indb 377Levinson_book.indb 377 22/12/15 16:2122/12/15 16:21 378 PARTE IV Virologia Clínica VÍRUS DO VALE DE CACHE Esse vírus foi inicialmente isolado em Utah, em 1956, embora seja encontrado em todo o Hemisfério Ocidental. É um buniaví- rus transmitido de animais domésticos para pessoas pelos mos- quitos Aedes, Anopheles ou Culiseta. É uma causa rara de ence- falite em seres humanos. Não há tratamento nem vacina contra infecções pelo vírus do Vale de Cache. VÍRUS CHIKUNGUNYA Esse vírus causa a febre Chikungunya, caracterizada por apa- recimento súbito de febre alta e dores nas articulações, princi- palmente nos punhos e nos tornozelos. Uma erupção macular ou maculopapular em grande parte do corpo é comum. Surtos envolvendo milhões de pessoas na Índia, na África e nas ilhas do Oceano Índico ocorreram nos anos de 2004 a 2006. O vírus Chikungunya é um vírus de RNA envelopado e membro da família dos togavírus. Possui genoma de RNA de fita simples e polaridade positiva. Ele é transmitido por mosquitos do gênero Aedes, tanto Aedes aegypti quanto Aedes albopictus. Este último mosquito é encontrado nos Estados Unidos e tam- bém no Brasil,* de forma que existe o potencial para ocorre- rem surtos. Indivíduos retornando aos Estados Unidos vindos de regiões onde houve surtos foram diagnosticados com febre Chikungunya. O diagnóstico laboratorial envolve a detecção do vírus no sangue tanto por meio da cultura quanto por meio de testes imunoenzimáticos (ELISA). Testes de anticorpos para IgM ou para uma elevação no título de IgG também podem ser utilizados para o diagnóstico. Não há terapia antiviral ou vacina disponível. VÍRUS EBOLA O vírus Ebola leva o nome de um rio do Zaire, que foi o local de um surto de febre hemorrágica, em 1976. A doença inicia com febre, cefaleia, vômito e diarreia. Posteriormente, ocorre sangramento no trato gastrintestinal, seguido por choque e coa- gulação intravascular disseminada. As hemorragias são causadas por trombocitopenia grave. A taxa de mortalidade associada a esse vírus aproxima-se de 100%. A maioria dos casos surge por transmissão secundária a partir do contato com sangue ou secre- ções do paciente (p. ex., em equipe hospitalar). A reutilização de agulhas e seringas também está implicada na disseminação nos hospitais. Embora muito temida, a febre hemorrágica Ebola é bastante rara. Até 2009, aproximadamente 1.000 casos ocorreram desde seu aparecimento em 1976. O vírus Ebola é membro da família dos Filovírus. A aparên- cia dos Filovírus (filo = fio) é única. Eles são os vírusmais longos, frequentemente medindo milhares de nanômetros (Figura 46-1). O reservatório natural do vírus Ebola é desconhecido. Macacos podem ser infectados, mas pelo fato de ficarem doentes, é impro- vável que sejam o reservatório. Morcegos são suspeitos de ser o reservatório, no entanto, isso ainda não foi determinado. A alta taxa de mortalidade do vírus Ebola é atribuída a diversos fatores de virulência: sua glicoproteína de superfície é capaz de matar cé- lulas endoteliais, o que resulta em hemorragia. Além disso, duas outras proteínas virais são capazes de inibir a indução e ação do interferon. Linfócitos são mortos e a resposta de anticorpos é ine- ficaz. Em 2014, ocorreu um surto severo de febre hemorrágica por Ebola na África Ocidental, acometendo principalmente a Li- béria, a Guiné e a Serra Leoa. Milhares de pessoas foram infecta- TABELA 46-1 Patógenos virais de menor importância Caracterí sticas Vírus representativos Vírus de DNA envelopados Herpes-vírus B, herpes-vírus simples 6, poxvírus de origem animal (vírus da varíola bovina, vírus da varíola dos macacos) Vírus de DNA não envelopados Vírus BK, bocavírus humano Vírus de RNA envelopados Vírus Borna, vírus do Vale de Cache, vírus Chikungunya, vírus Ebola, hantavírus, vírus Hendra, metap- neumovírus humano, vírus Jamestown Canyon, vírus da encefalite japonesa, vírus da febre de Lassa, vírus Lujo, vírus da coriomeningite linfocítica, vírus Marburg, vírus Nipah, espumavírus, vírus do complexo Tacaribe (p. ex., vírus Junin e Machupo), vírus Whitewater Arroyo, vírus Zika Vírus de RNA não envelopados Astrovírus *N. de R.T. No Brasil, a febre Chikungunya surgiu como doença emer- gente no ano de 2014. FIGURA 46-1 Vírus Ebola – micrografia eletrônica. A seta lon- ga aponta para um vírion característico do vírus Ebola. A seta curta aponta para a aparência de “cajado de pastor” de alguns vírions Ebola. (Figura cortesia do Dr. Erskine Palmer e do Dr. Russell Regnery, Public Health Ima- ge Library, Centers for Disease Control and Prevention.) Levinson_book.indb 378Levinson_book.indb 378 22/12/15 16:2122/12/15 16:21 CAPÍTULO 46 Patógenos Virais de Menor Importância 379 das e a taxa de mortalidade excedeu os 50%. Esse foi o pior surto já registrado da doença, o que levou a OMS a declarar estado de emergência mundial em Saúde Pública. O diagnóstico é realizado pelo isolamento do vírus ou pela detecção de aumento no título de anticorpos. (Extremo cuidado deve ser tomado na manipulação de espécimes no laboratório.) Nã o há terapia antiviral disponí vel. Tratamento com imunoglo- bulinas séricas contendo anticorpos contra o vírus Ebola teve re- sultados variáveis. A prevenção é concentrada em limitar a disseminação se- cundária pelo manuseio apropriado das secreções e do sangue do paciente. Nã o há vacina. HANTAVÍRUS Os hantavírus são membros da família dos buniavírus. O vírus- -protótipo é o vírus Hantaan, o agente da febre hemorrágica da Coreia (FHC). A FHC é caracterizada por cefaleia, hemorragias petequiais, choque e insuficiência renal. Ocorre na Ásia e na Eu- ropa, mas não na América do Norte nem na América do Sul, e exibe uma taxa de mortalidade de aproximadamente 10%. Os Hantavírus fazem parte de um grupo heterogêneo de vírus, deno- minados robovírus, sigla que significa “rodent-borne virus” (ou vírus originados de roedores). Os robovírus são transmitidos por roedores de forma direta (sem que haja necessidade de um vetor artrópode), ao passo que os arbovírus são “arthropod-borne”, ou seja, originados de artrópodes. Em 1993, um surto de uma nova doença, caracterizada por sintomas similares aos da gripe, seguidos rapidamente por insuficiência respiratória aguda, ocorreu no Oeste dos Estados Unidos, centralizado no Novo México e no Arizona. Essa doença, atualmente denominada síndrome pulmonar por hantavírus, é causada por um hantavírus (vírus Sin Nombre) endêmico em camundongos-cervo (Peromyscus) e é adquirida pela inalação de aerossóis de urina e fezes do roedor. Esse hantavírus não é trans- mitido de um indivíduo para outro. Poucos indivíduos possuem anticorpos contra o vírus, indicando que infecções assintomáti- cas não são comuns. O diagnóstico é realizado pela detecção de RNA viral no te- cido pulmonar pelo ensaio de reação em cadeia da polimerase (PCR), por imuno-histoquímica de tecido pulmonar ou pela de- tecção de anticorpos IgM no soro. A taxa de mortalidade da sín- drome pulmonar por hantavírus é muito alta, aproximadamente 35%. Entre 1993 e dezembro de 2009, um total de 534 casos de síndrome pulmonar por hantavírus foram relatados nos Estados Unidos. A maioria dos casos ocorreu nos Estados do Oeste do Mississippi, particularmente Novo México, Arizona, Califórnia e Colorado, nessa ordem.* Não há fármaco efetivo; ribavirina foi utilizada, no entanto, parece ser ineficaz. Não há vacina contra nenhum dos hantavírus. VÍRUS HEARTLAND Esse vírus foi primeiramente reconhecido como patógeno humano em 2012, quando foi relacionado a episódios de febre, tromboci- topenia e leucopenia em dois homens no estado Norte-americano do Missouri. O vírus é membro da família Bunyaviridae, e é trans- mitido pela picada do carrapato da estrela solitária, Amblyomma. Não há tratamento antiviral ou vacina para esse vírus. VÍRUS HENDRA Esse vírus foi inicialmente reconhecido como patógeno huma- no em 1994, quando causou uma grave doença respiratória em Hendra, Austrália. É um paramixovírus semelhante ao vírus do sarampo, anteriormente denominado morbilivírus equino. As infecções humanas foram adquiridas pelo contato com cavalos infectados, porém, morcegos frutíferos parecem ser o reserva- tório natural. Não há tratamento ou vacina para infecções pelo vírus Hendra. HERPESVÍRUS B Esse vírus (vírus B de macacos ou herpes-vírus de símios) causa uma encefalite rara e é frequentemente fatal em indivíduos em contato próximo com macacos ou seus tecidos (p. ex., tratadores de zoológicos ou técnicos de culturas celulares). O vírus causa uma infecção latente em macacos similar à infecção pelo herpes- -vírus simples (HSV) 1. O herpes-vírus B e o HSV-1 reagem cruzadamente do ponto de vista antigênico, porém, anticorpos contra o HSV-1 não pro- tegem contra a encefalite causada pelo herpes-vírus B. A presen- ça de anticorpos contra o HSV-1, no entanto, pode causar erros no diagnóstico sorológico, tornando difícil a interpretação do aumento do título de anticorpos. Assim, o diagnóstico pode ser realizado apenas pela recuperação do vírus. O uso do aciclovir pode ser benéfico. A prevenção consiste no uso de vestuário e máscaras para prevenir a exposição ao vírus. Imunoglobulinas contendo anticorpos contra herpes-vírus B devem ser adminis- tradas após uma mordida de macaco. BOCAVÍRUS HUMANO O bocavírus humano (HBoV) é um parvovírus isolado de crian- ças pequenas com infecções do trato respiratório. Anticorpos contra HBoV são encontrados na maioria dos adultos em todo o mundo. Uma descrição desse vírus foi inicialmente relatada em 2005, e o seu exato papel na doença do trato respiratório ainda precisa ser definida. HERPESVÍRUS SIMPLES 6 Esse herpes-vírus é a causa do exantema súbito (roséola infantil), uma doença comum em crianças, caracterizada por febre alta e *N. de R.T. No Brasil, as hantaviroses (causadas por vírus do gênero Han- tavirus) são consideradas doenças emergentes e causam desde infecções assintomáticas e febris até doenças graves. As infecções graves incluem duas síndromes principais: 1) a síndrome pulmonar por hantavírus, doença caracterizada por extenso comprometimento respiratório; e 2) a síndrome cardiopulmonar por hantavírus, na qual, além dos sintomas pulmonares, há também extenso dano cardíaco. De 1993 até 2013, apro- ximadamente 1.500 casos confirmados de hantaviroses foram relatados no Brasil, com uma taxa de mortalidade de aproximadamente 50%. Levinson_book.indb 379Levinson_book.indb 379 22/12/15 16:2122/12/15 16:21 380 PARTE IV VirologiaClínica erupção macular ou maculopapular transiente. O vírus é encon- trado mundialmente e até 80% dos indivíduos são soropositivos. O vírus é linfotrófico e infecta tanto as células B quanto as células T. Ele permanece latente dentro dessas células, mas pode ser re- ativado em pacientes imunocomprometidos, causando pneumo- nia. Muitas das características virológicas e clínicas do herpes- -vírus simples 6 são similares àquelas do citomegalovírus, outro membro da família dos herpes-vírus. METAPNEUMOVÍRUS HUMANO Esse paramixovírus foi primeiramente relatado, em 2001, como causa de bronquiolite e pneumonia graves em crianças pequenas, na Holanda. É similar ao vírus sincicial respiratório (também um paramixovírus) em relação à gama de doenças que causa no trato respiratório. Estudos sorológicos demonstraram que a maioria das crianças foi infectada por esse vírus até a idade de 5 anos, e que ele está presente nos seres humanos há pelo menos 50 anos. VÍRUS JAMESTOWN CANYON O vírus Jamestown Canyon (JCV) é um membro da família dos buniavírus que causa encefalite. É transmitido pela picada de mosquitos, mais comumente pela espécie Aedes. O JCV circula amplamente em cervos na América do Norte, mas raramente causa doença em seres humanos. Nos Estados Unidos, os casos ocorrem principalmente nos Estados do nordeste e Centro-oeste. Não há tratamento antiviral ou vacina contra infecções por JCV. VÍRUS DA ENCEFALITE JAPONESA Esse vírus é a causa mais comum de encefalite epidêmica. A doença é caracterizada por febre, cefaleia, rigidez da nuca, es- tados alterados de consciência, tremores, falta de coordenação e convulsões. A taxa de mortalidade é alta, e as sequelas neuroló- gicas são graves e podem ser observadas na maioria dos sobrevi- ventes. A doença ocorre em toda a Ásia, porém, é mais prevalente no Sudeste Asiático. Os casos raros observados nos Estados Uni- dos ocorreram em viajantes retornando da Ásia. Militares Norte- -americanos foram afetados na Ásia. O vírus da encefalite japonesa é membro da família dos flavivírus. É transmitido aos seres humanos por certas espécies de mosquitos Culex, endêmicos nos campos de arroz da Ásia. Existem dois principais hospedeiros reservatórios – aves e por- cos. O diagnóstico pode ser realizado pelo isolamento do vírus, pela detecção de anticorpos IgM no soro ou no líquido espinal, ou pela coloração do tecido cerebral com anticorpos fluorescen- tes. Nã o há terapia antiviral. A prevenção consiste em uma vacina inativada e uso de pesticidas para o controle do mosquito-vetor. A imunização é recomendada para indivíduos que vivem em áreas com infecção endêmica por vários meses ou mais. VÍRUS DA FEBRE DE LASSA O vírus da febre de Lassa foi inicialmente observado em 1969, na cidade nigeriana de mesmo nome. O vírus causa febre hemorrá- gica grave e frequentemente fatal, caracterizada por envolvimen- to de múltiplos órgãos. A doença inicia lentamente, com febre, cefaleia, vômitos e diarreia, progredindo para o envolvimento de pulmões, coração, rins e encéfalo. Ocorre erupção petequial e he- morragia do trato gastrintestinal, seguidas pelo óbito por colapso vascular. O vírus da febre de Lassa é membro da família Arenaviridae, que inclui outros patógenos humanos infrequentes, como o vírus da coriomeningite linfocitária e certos membros do complexo Tacaribe. Os arenavírus (arena significa areia) são agrupados em razão de sua aparência incomum ao microscópio eletrônico. Sua característica mais notável são as partículas semelhantes à areia na sua superfície, que são os ribossomos. A função desses ribos- somos, se houver, é desconhecida. Os arenavírus são vírus enve- lopados com superfície espiculada, nucleocapsídeo helicoidal e RNA de fita simples e polaridade negativa. O hospedeiro natural do vírus da febre de Lassa é o peque- no roedor Mastomys, que apresenta infecção crônica por toda a vida. O vírus é transmitido aos seres humanos por alimentos ou água contaminados pela urina do animal. A transmissão secun- dária entre profissionais hospitalares também ocorre. A infecção assintomática é amplamente disseminada em regiões de infecção endêmica. O diagnóstico é realizado pelo isolamento do vírus ou pela detecção de aumento no título de anticorpos. Ribavirina reduz a taxa de mortalidade quando administrada precocemente, e o soro hiperimune, obtido de indivíduos que se recuperaram da doença, tem sido benéfico em alguns casos. Não há vacina dispo- nível e a prevenção se concentra nas práticas adequadas de con- trole das infecções e no controle dos roedores. VÍRUS LUJO O vírus Lujo é um arenavírus que causa uma febre hemorrági- ca semelhante à febre de Lassa. Esse vírus surgiu na Zâmbia, em 2008, e foi a causa de um surto no qual quatro dos cinco pacien- tes infectados morreram. O único sobrevivente foi tratado com ribavirina. A identificação desse vírus foi realizada pelo sequen- ciamento do RNA viral do fígado e do soro de pacientes. O reser- vatório animal e o mecanismo de transmissão são desconhecidos, mas outros arenavírus são transmitidos pela excreta de roedores. VÍRUS DA CORIOMENINGITE LINFOCITÁRIA O vírus da coriomeningite linfocitária é um membro da família dos arenavírus. É uma causa rara de meningite asséptica e não pode ser diferenciado clinicamente de causas virais mais frequen- tes (p. ex., ecovírus, vírus de Coxsackie ou vírus da caxumba). O quadro geral consiste em febre, cefaleia, vômito, torcicolo e al- terações do estado mental. O líquido espinal apresenta um maior número de células, principalmente linfócitos, com alta concen- tração de proteínas e concentração normal ou baixa de açúcar. O vírus é endêmico na população de camundongos, nos quais ocorre infecção crônica. Animais infectados via transpla- centária tornam-se portadores permanentes sadios. O vírus é transmitido aos seres humanos por alimentos ou água contami- nados por urina ou fezes de camundongos. Não ocorre dissemi- nação de pessoa a pessoa (i.e., seres humanos são hospedeiros Levinson_book.indb 380Levinson_book.indb 380 22/12/15 16:2122/12/15 16:21 CAPÍTULO 46 Patógenos Virais de Menor Importância 381 acidentais terminais), embora a transmissão do vírus por trans- plante de órgãos tenha ocorrido. Em 2005, sete entre oito recep- tores de transplante que foram infectados morreram. O diag- nóstico é realizado pelo isolamento do vírus a partir do líquido espinal ou pela detecção de aumento no título de anticorpos. Não há terapia antiviral ou vacina disponível. Essa doença é o protótipo utilizado para ilustrar a imu- nopatogênese. Se camundongos adultos imunocompetentes forem inoculados, ocorrem meningite e morte. Entretanto, se camundongos recém-nascidos ou adultos imunodeficientes por radiação X forem inoculados, não ocorre meningite, apesar da intensa multiplicação viral. Quando células T sensibilizadas são transplantadas nos adultos imunodeficientes, ocorrem meningite e morte. Os camundongos adultos imunodeficientes, aparente- mente sadios, lentamente desenvolvem glomerulonefrite. Esses camundongos parecem ser parcialmente tolerantes ao vírus pelo fato de sua imunidade celular estar inativa, embora anticorpos suficientes sejam produzidos para causar a doença por imuno- complexos. VÍRUS MARBURG O vírus Marburg e o vírus Ebola são similares pelo fato de que ambos causam febre hemorrágica e são membros da família dos filovírus; no entanto, são antigenicamente distintos. O vírus Marburg foi inicialmente reconhecido como causa de doença em seres humanos, em 1967, em Marburg, na Alemanha. A caracte- rística comum dos indivíduos infectados foi a exposição a maca- cos-verdes africanos recentemente chegados da Uganda. Assim como o vírus Ebola, o reservatório natural do vírus Marburg é desconhecido, apesar de morcegos serem suspeitos. O quadro clínico dessa febre hemorrágica é como o descrito para o vírus Ebola (ver página 378). Em 2005, um surto de febre hemorrágica causado pelo vírus de Marburg matou centenasde pessoas em Angola. Nenhum caso de doença causada pelo ví- rus Ebola ou vírus Marburg ocorreu nos Estados Unidos antes de 2008. No entanto, nesse ano, um viajante dos Estados Unidos ficou doente após visitar uma caverna em Uganda habitada por morcegos frutíferos. Ele retornou aos Estados Unidos, onde foi diagnosticado com a febre hemorrágica de Marburg. O paciente se recuperou sem apresentar sequelas. O diagnóstico é realizado pelo isolamento do vírus ou pela detecção de aumento no título de anticorpos. Não há terapia anti- viral ou vacina disponível. Assim como o vírus Ebola, ocorreram casos secundários entre profissionais da área de saúde; portanto, práticas rigorosas de controle das infecções devem ser instituídas para prevenir a disseminação nosocomial. VÍRUS NIPAH O vírus Nipah é um paramixovírus que causa encefalite, princi- palmente em países do Sul da Ásia, como Bangladesh, Malásia e Singapura. O reservatório natural parece ser morcegos frutíferos. Indivíduos que tiveram contato com porcos estão, particulamen- te, sob risco de encefalite, e alguma transmissão entre seres huma- nos ocorre. Em geral, paramixovírus são transmitidos pela saliva e pelo escarro, e esse é, provavelmente, o mecanismo de transmis- são. Não há tratamento ou vacina para infecções pelo vírus Nipah. VÍRUS POWASSAN O virus Powassan é um flavivírus que causa encefalite com o po- tencial para deixar sequelas significativas. É transmitido por car- rapatos do gênero Ixodes, e roedores são o reservatório. Trata-se do único flavivírus transmitido por carrapatos.* O vírus recebeu seu nome em referência à cidade de Powa- ssan, Ontario, Canadá, onde um dos primeiros casos notificados ocorreu. Nos Estados Unidos, a maioria dos casos ocorre nos Es- tados de Minnesota e Wisconsin. A cada ano ocorrem, em geral, entre 0 e 10 casos nos Estados Unidos. O diagnóstico pode ser feito por PCR ou por meio de testes sorológicos. Não há fármaco antiviral ou vacina disponíveis. POXVÍRUS DE ORIGEM ANIMAL** Quatro poxvírus causam doenças em animais e também causam lesões pustulosas em seres humanos em ocasiões raras. São trans- mitidos pelo contato com os animais infectados, geralmente em situações ocupacionais. O vírus da varíola bovina causa lesões vesiculares nos úberes das vacas e pode causar lesões similares na pele de indivíduos que realizam a ordenha das vacas. O vírus da pseudovaríola bo- vina causa um quadro similar, porém, é antigenicamente distinto. O vírus Orf é a causa da dermatite pustulosa contagiosa em car- neiros e de lesões vesiculares nas mãos de tosquiadores. O vírus da varíola dos macacos é distinto dos outros três; causa uma doença em seres humanos semelhante à varíola. Essa doença ocorre quase exclusivamente na África Central. Em 2003, um surto de varíola dos macacos ocorreu em Wisconsin, Illinois e Indiana. Nesse surto, a fonte do vírus foi animais importados da África. Aparentemente, os vírus dos animais importados in- fectaram cães-da-pradaria locais, os quais, então, foram a fonte da infecção humana. Nenhum dos afetados morreu. Na África, o vírus da varíola dos macacos apresenta taxa de mortalidade entre 1 e 10%, ao contrário dos 50% para a varíola. Não há tratamento antiviral efetivo. A vacina contra varíola parece ter algum efeito protetor contra o vírus da varíola dos macacos. Qualquer caso novo de doença similar à varíola deve ser precisamente diagnosticado para garantir que não seja devido ao vírus da varíola. Não foram registrados casos de varíola no mun- do todo desde 1977,1 e a imunização contra varíola foi autorizada a ser interrompida. Por essas razões, é importante ter certeza de que casos no- vos de doença similar à varíola devem-se ao vírus da varíola dos macacos. O vírus da varíola dos macacos pode ser diferenciado, em laboratório, do vírus da varíola pela antigenicidade e pelas *N. de T. Essa informação está incorreta. O vírus Powassan é o único flavivírus transmitido por carrapatos na América do Norte, porém, vários outros flavivírus transmitidos por carrapatos causam entre 10 mil e 15 mil casos de infecção humana em todo o mundo. **N. de R.T. No Brasil, doenças zoonóticas causadas pelo vírus vaccínia e que afetam gado bovino e seres humanos são descritas desde 1996. Vacas infectadas apresentam lesões nas tetas, por meio das quais ordenhadores se infectam e passam a apresentar a formação de pústulas nas mãos e nos membros superiores. Ainda não está claro como e quando esse vírus pas- sou a circular em ambientes rurais e silvestres, mas sabe-se que roedores peridomésticos estão envolvidos na cadeia de transmissão. 1Com a exceção de dois casos adquiridos em laboratório, em 1978. Levinson_book.indb 381Levinson_book.indb 381 22/12/15 16:2122/12/15 16:21 382 PARTE IV Virologia Clínica lesões características que causa na membrana corioalantóide de ovos de galinha. ESPUMAVÍRUS Os espumavírus são uma subfamília dos retrovírus que provocam um aspecto espumoso nas culturas celulares. Podem representar um problema na produção de vacinas virais quando contaminam as culturas celulares utilizadas na produção de vacinas. Não há patógenos humanos conhecidos. VÍRUS DO COMPLEXO TACARIBE O complexo Tacaribe contém diversos patógenos humanos, to- dos causadores de febre hemorrágica. Os mais conhecidos são o vírus Sabiá, no Brasil, vírus Junin, na Argentina, e vírus Machupo, na Bolívia. As febres hemorrá- gicas, como o nome implica, são caracterizadas por febre e san- gramento no trato gastrintestinal, na pele e em outros órgãos. O sangramento deve-se à trombocitopenia. Morte ocorre em até 20% dos casos, e os surtos podem envolver milhares de pessoas. Trabalhadores agrícolas estão particularmente em risco. Semelhantes a outros arenavírus, como o vírus da febre de Lassa e o vírus da coriomeningite linfocitária, esses vírus são en- dêmicos na população de roedores e são transmitidos a seres hu- manos pela contaminação acidental de alimentos e da água pela excreta de roedores. O diagnóstico pode ser realizado pelo isola- mento do vírus ou pela detecção de aumento no título de anticor- pos. Em uma infecção laboratorial pelo vírus Sabiá, a ribavirina foi um tratamento eficaz. Nã o há vacina disponí vel. VÍRUS WHITEWATER ARROYO Esse vírus é a causa de febre hemorrágica/síndrome do descon- forto respiratório agudo no Oeste dos Estados Unidos. É um membro da família Arenaviridae, assim como o vírus da febre de Lassa, que causa febre hemorrágica na África (ver Bocavírus hu- mano, página 380). Ratos do mato são o reservatório do vírus, o qual é transmitido pela inalação de excrementos secos dos roedo- res. Esse modo de transmissão é idêntico ao observado para han- tavírus, como o vírus Sin Nombre (ver Hantavírus, página 379). Não há terapia antiviral estabelecida e não há vacina. VÍRUS ZIKA O vírus Zika é um flavivírus que causa uma doença semelhante à dengue, caracterizada por febre, artralgia, erupções e conjuntivi- te. O vetor é constituído por várias espécies de mosquito Aedes. Em 2007, um surto em Yap, uma ilha na Micronésia, afetou pelo menos 49 indivíduos*. Nenhuma morte ocorreu. Não há fármaco antiviral ou vacina. APLIQUE SEU CONHECIMENTO 1. Em relação ao vírus Ebola, qual das seguintes opções é a mais correta? (A) Gambás e guaxinins são os principais reservatórios naturais para o vírus Ebola. (B) Em áreas endêmicas, a maioria dos indivíduos é latentemente infectada com o vírus Ebola. (C) Deve ser administrado ganciclovir para prevenir a doença em indivíduos expostos ao vírus Ebola. (D) A febre hemorrágica Ebola ocorre principalmente em indiví- duos com imunidade celular deficiente. (E) A aparência do vírus Ebola na microscopia eletrônica é de um fio longo, que, frequentemente, possui uma extremidade curva. 2. Em relação ao vírus Sin Nombre (um hantavírus), qual das seguin- tes opções é a mais correta? (A) Sua principal manifestação clínica é encefalite. (B) Os principais reservatórios são animais domésticos,como o porco. (C) A infecção é adquirida pela inalação de fezes secas e urina de camundongo. (D) Oseltamivir é um fármaco profilático eficiente se administra- do em 48 horas de exposição. (E) A imunização de crianças com idade de 15 meses com a vacina inativada reduz consideravelmente a incidência da doença. 3. Em relação ao vírus da encefalite japonesa (JEV), qual das seguintes opções é a mais correta? (A) O principal reservatório do JEV são morcegos. (B) É transmitido pela picada do carrapato de cães, Dermacentor. (C) Aciclovir é o fármaco de escolha para a encefalite causada pelo JEV. (D) A vacina inativada deve ser administrada em pessoas que vi- vem em áreas endêmicas. (E) JEV é um vírus não envelopado com genoma de RNA de du- pla-fita circular. RESPOSTAS 1. (E) 2. (C) 3. (D) RESUMOS DOS ORGANISMOS Breves resumos dos organismos descritos neste capítulo iniciam- -se na página 648. Favor consultar esses resumos para uma rápida revisão do material essencial. QUESTÕES PARA AUTOAVALIAÇÃO Questões sobre os temas discutidos neste capítulo podem ser encontradas na seção de Virologia Clínica da Parte XIII: Ques- tões para Autoavaliação, a partir da página 703. Consulte tam- bém a Parte XIV: Questões para Diagnóstico Clínico, a partir da página 731. * N. de T. Os primeiros casos de infecção pelo vírus Zika no Brasil ocor- reram em 2015, no Rio Grande do Sul e na Bahia. Também em 2015, centenas de casos de microcefalia em recém-nascidos foram atribuídos à infecção da gestante. No entanto, a associação entre a infecção e a doença não foi comprovada ainda. Levinson_book.indb 382Levinson_book.indb 382 22/12/15 16:2122/12/15 16:21 jpsantos Caixa de texto Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Capa Iniciais Ficha catalográfica Parte IV - Virologia Clínica Capítulo 46 - Patógenos Virais de Menor Importância
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