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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro Biomédico Faculdade de Ciências Médicas Viviane Abrantes Jardim Composição corporal em pacientes com doença inflamatória intestinal: antropometria versus bioimpedância Rio de Janeiro 2013 Viviane Abrantes Jardim Composição corporal em pacientes com doença inflamatória intestinal: antropometria versus bioimpedância Dissertação apresentada, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-graduação em Fisiopatologia Clínica e Experimental da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Orientador: Prof. Dr. Ruy Garcia Marques Coorientadora: Prof.ª Dra. Cristina Fajardo Diestel Rio de Janeiro 2013 CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CB-A Autorizo apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação desde que citada a fonte. _____________________________________________ _____________________ Assinatura Data J37 Jardim, Viviane Abrantes. Composição corporal em pacientes com doença inflamatória intestinal: antropometria versus bioimpedância / Viviane Abrantes Jardim. - 2013. 84 f. Orientador: Ruy Garcia Marques. Coorientadora: Cristina Fajardo Diestel. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Ciências Médicas. Pós-graduação em Fisiopatologia Clínica e Experimental. 1. Intestinos - Doenças inflamatórias - Teses. 2. Doença de Crohn. 3. Proctocolite. 4. Composição corporal - Teses. 5. Antropometria - Teses. 6. Impedância elétrica - Uso diagnóstico. I. Marques, Ruy Garcia. II. Diestel, Cristina Fajardo. III. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Ciências Médicas. IV. Título. CDU 616.34 Viviane Abrantes Jardim Composição corporal em pacientes com doença inflamatória intestinal: antropometria versus bioimpedância Dissertação apresentada, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-graduação em Fisiopatologia Clínica e Experimental da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Aprovada em 25 de março de 2013. Orientador: Ruy Garcia Marques Faculdade de Ciências Médicas – UERJ Coorientadora: Cristina Fajardo Diestel Hospital Universitário Pedro Ernesto – UERJ Banca Examinadora _____________________________________________ Prof.ª Dra. Márcia Regina Simas Torres Klein Instituto de Nutrição - UERJ _____________________________________________ Prof. Dr. Gustavo Casimiro Lopes Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde – UERJ _____________________________________________ Prof.ª Dra. Cyrla Zaltman Universidade Federal do Rio de Janeiro 2013 DEDICATÓRIA Aos meus pais, Lucia e Paulo (sempre presente em meu coração), e à minha irmã, Gabriela, pelo exemplo, apoio e incentivo durante toda a minha formação. Ao meu marido, Jeferson, pelo amor, paciência e companheirismo em todos os momentos. AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Ruy Garcia Marques, pelos ensinamentos transmitidos e pela oportunidade de realizar este trabalho. A minha coorientadora, Cristina Fajardo Diestel, exemplo de profissional competente e dedicada, pela orientação em todas as etapas deste estudo e pelos inúmeros ensinamentos transmitidos, não somente durante esta jornada, mas também ao longo da minha formação profissional. À nutricionista Márcia Regina Simas Torres Klein, pelo imenso auxílio e pelos conhecimentos técnicos fundamentais para a realização deste estudo. Ao professor José Firmino Nogueira Neto e toda a equipe do Laboratório de Lípides (LabLip) da UERJ, pelo profissionalismo na avaliação laboratorial de todos os participantes desta pesquisa. Ao professor Gustavo Casimiro Lopes e toda a sua equipe do Laboratório de Cineantropometria do Instituto de Educação Física da UERJ, pela dedicação e comprometimento na avaliação antropométrica de todos os indivíduos participantes deste projeto. À Dra. Ana Teresa Pugas Carvalho, por permitir o contato da nossa equipe com os pacientes atendidos, sob sua supervisão, no ambulatório de Doença Inflamatória Intestinal do Hospital Universitário Pedro Ernesto. À nutricionista e amiga Beatriz Peixoto Ramos, pelo auxílio em todas as etapas da coleta de dados, e por dividir comigo as angústias, reclamações e as risadas durante a realização deste trabalho. A toda a minha família, especialmente à minha mãe e a minha irmã, pelo amor incondicional e apoio durante toda a minha vida. Ao meu marido, Jeferson, pelo companheirismo, incentivo e compreensão pelas horas de convívio subtraídas, e pela paciência em ouvir minhas incansáveis reclamações ao longo desta pesquisa. Às queridas amigas, Helena Aguiar e Raquel Zimermann pela amizade incondicional, apesar da distância, e por torcerem pelas minhas conquistas. A todos os pacientes que participaram desta pesquisa, por acreditarem e confiarem em nossa equipe. E a todos aqueles que me cercaram com palavras de incentivo durante os momentos difíceis, e que contribuíram, de alguma maneira, para que este trabalho pudesse ser realizado. RESUMO JARDIM, Viviane Abrantes. Composição corporal em pacientes com doença inflamatória intestinal: antropometria versus bioimpedância. 2013. 84 f. Dissertação (Mestrado em Fisiopatologia Clínica e Experimental). Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2013. A Doença Inflamatória Intestinal (DII) é uma desordem caracterizada pela inflamação difusa do trato gastrointestinal. Os dois principais tipos de DII são a Retocolite Ulcerativa (RCU) e a Doença de Crohn (DC) e ambas cursam com alterações no estado nutricional (EN). O objetivo deste estudo foi comparar a composição corporal, obtida por meio de diferentes métodos, em pacientes com DC e RCU em atendimento ambulatorial, avaliando possíveis diferenças nos grupos de doentes entre si e quando comparados a indivíduos saudáveis. Foi realizado um estudo transversal incluindo 101 pacientes com DII, sendo 50 com DC (GDC) e 51 com RCU (GRCU), além de 35 indivíduos saudáveis (GCON), selecionados no Ambulatório do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Informações sócio-demográficas e pessoais, como prática de exercício físico, tabagismo, doenças pregressas e procedimentos cirúrgicos prévios foram coletadas. A avaliação antropométrica consistiu de: peso; altura; circunferências do braço, da cintura e do quadril; circunferência muscular do braço (CMB) e pregas cutâneas do tríceps, bíceps, peitoral, axilar, subescapular, suprailíaca, supraespinhal, abdominal, perna e coxa. O percentual de gordura corporal (% GC) foi estimado a partir de equações que utilizam o somatório de pregas cutâneas e por meio de bioimpedância elétrica (BIA). Para estimar o percentual de gordura subcutânea foi utilizado o somatório de dez dobras. As variáveis laboratoriais analisadas foram: hemograma completo, proteínas totais, albumina, globulina, velocidade de hemossedimentação e proteína C reativa. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o software STATA versão 10.0. A classificação do EN, por meio do índice de massa corporal(IMC), evidenciou baixa prevalência de desnutrição nos três grupos avaliados. Ao analisar diretamente as medidas antropométricas de peso e IMC, observou-se que os pacientes com DC apresentaram valores significativamente menores do que os indivíduos do grupo controle. A avaliação da CMB mostrou que os pacientes do GDC e GRCU apresentaram depleção de massa magra em comparação aos indivíduos do GCON, porém sem apresentar diferenças entre os dois grupos de pacientes com DII. Em relação ao %GC obtido por BIA não foram verificadas diferenças entre os três grupos de estudo. Ao se verificar o %GC com a utilização das fórmulas de Peterson, Durnin & Womersley e Jackson & Pollock (que utiliza o somatório de três dobras) observou-se que os pacientes com DC apresentaram tecido adiposo significativamente depletado em relação aos indivíduos do GCON e do GRCU. Ao compararmos os %GC obtidos por diferentes métodos de estimativa, observou-se que as equações de Jackson & Pollock (que utilizam o somatório de três e sete dobras) apresentaram resultados significativamente menores quando comparados aos das equações de Peterson e Durnin & Womersley, nos dois grupos de pacientes. Os níveis séricos de proteínas totais e albumina, e a contagem total de hemácias foram menores nos indivíduos com DC quando comparados aos indivíduos do grupo controle e/ou aos indivíduos do grupo com RCU. Os pacientes com DC apresentaram comprometimento importante do EN em comparação aos pacientes com RCU e, notadamente, em relação aos indivíduos saudáveis. Palavras-chave: Doença inflamatória intestinal. Composição corporal. Estado nutricional. Antropometria. Bioimpedância elétrica. ABSTRACT Inflammatory Bowel Disease (IBD) is a disorder characterized by diffuse inflammation of the gastrointestinal tract. The two main types of IBD are ulcerative colitis (UC) and Crohn's disease (CD), both coursing with changes in nutritional status (NS). The objective of this study was to investigate the existence of associations between body composition measured by electrical bioimpedance (BIA) and by the equations used for the estimate of fat percent in patients with CD and UC on ambulatory treatment and when compared to healthy individuals. A cross- sectional study was conducted on 101 patients with IBD, 50 of them with CD (GCD) and 51 with UC (GUC), and on 35 healthy subjects (GCON), selected at the Ambulatory of Pedro Ernesto University Hospital (HUPE) of the Rio de Janeiro State University (UERJ). Sociodemographic information such as practice of physical activity, smoking habit, previous diseases and surgical procedures was collected. Anthropometric evaluation consisted of weight; height; arm, waist and hip circumferences; arm muscle circumference (AMC), and the following skin folds: triceps, biceps, pectoral, axillary, subscapular, suprailiac, supraspinal, abdominal, leg, and thigh. Percent body fat (%BF) was estimated using equations based on the sum of skin folds and by BIA. Percent subcutaneous fat was estimated as the sum of ten folds. The laboratory variables analyzed, included: complete blood count, total protein, albumin, globulin, erythrocyte sedimentation rate, and C-reactive protein. Data were analyzed statistically using the STATA software, version 10.0. Classification of NS based on body mass index (BMI) revealed a low prevalence of malnutrition in the groups evaluated. Direct analysis of weight and BMI measurements revealed that patients with CD had significantly lower values than GCON individuals. The evaluation of AMC showed that GCD and GUC patients had depleted lean mass compared to GCON individuals, with no difference between the two groups of patients with IBD. No differences in %BF determined by BIA were detected among the three study groups. When %BF was determined using the formulas of Peterson, Durnin & Womersley and Jackson & Pollock (which use the sum of three folds), patients with CD were found to have significantly depleted adipose tissue compared to GCON and GUC individuals. Comparison of %BF values obtained by different estimate methods showed that the equations of Jackson & Pollock (which use the sum of three and seven folds) yielded significantly lower results than the equations of Peterson and Durnin & Womersley for the two patient groups. Seric levels of total protein and albumin, as well as red blood cell count and relative count of lymphocytes were lower in the individuals with CD than the individuals of the control group and/or the patients with UC. Patients with CD showed significant involvement of NS compared to patients with UC and especially compared to healthy individuals. Keywords: Inflammatory bowel disease. Body composition. Nutritional status. Anthropometry. Electrical bioimpedance. LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Características dos participantes do estudo................................... 33 Tabela 2 – Características específicas dos pacientes com doença de Crohn. 34 Tabela 3 – Valores médios das variáveis antropométricas e de bioimpedância elétrica................................................................... 36 Tabela 4 – Comparação entre os métodos de avaliação da composição corporal.......................................................................................... 37 Tabela 5 – Correlação entre o percentual de gordura corporal obtido por diferentes métodos........................................................................ Tabela 6 – Valores médios das variáveis laboratoriais..................................... 38 39 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AMB ANCOVA ANOVA BIA CB CC CCR CMB CQ DC DEXA DII EDTA EN GCON GDC GRCU GC %GC HUPE IL-1 IL-6 IMC LabLip MM %MM PCAb PCAx PCB PCC PCPt Área muscular do braço Análise de covariância Análise de variância Bioimpedância elétrica Circunferência do braço Circunferência da cintura Câncer colorretal Circunferência muscular do braço Circunferência do quadril Doença de Crohn Absorciometria com raios X de dupla energia Doença Inflamatória Intestinal Ácido etilenodiamino tetra-acético Estado nutricional Grupo controle Grupo com Doença de Crohn Grupo com Retocolite Ulcerativa Gordura corporal Percentual de gordura corporal Hospital Universitário Pedro Ernesto Interleucina 1 Interleucina 6 Índice de massa corporal Laboratório de Lípides Massa magra Percentual de massa magra Prega cutânea abdominal Prega cutânea axilar média Prega cutânea do bíceps Prega cutânea da coxa Prega cutânea peitoral PCPr PCR PCSE PCSEsp PCSI PCT RCU Soma 10D TGI TNF-α UERJ VHS Prega cutânea da perna Proteína C-reativa Prega cutânea subescapular Prega cutânea supra-espinhal Prega cutânea supra-ilíaca Prega cutânea triciptal Retocolite ulcerativa Somatório das dez dobras cutâneas Trato gastrointestinal Fator de necrose tumoral alfa Universidade do Estado do Rio de Janeiro Velocidade de hemossedimentação SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................. 15 1 OBJETIVO ....................................................................................... 22 1.1 Objetivo geral ................................................................................. 22 1.2 Objetivos específicos .................................................................... 22 2 MÉTODO ......................................................................................... 23 2.1 Critérios de inclusão ......................................................................24 2.2 Critérios de exclusão ..................................................................... 24 2.3 Coleta de dados ............................................................................. 24 2.4 Avaliação laboratorial..................................................................... 2.5 Avaliação antropométrica ............................................................. 25 26 2.5.1 Peso, altura e índice de massa corporal .......................................... 27 2.5.2 Circunferências da cintura e do quadril............................................ 27 2.5.3 Circunferência do braço e circunferência muscular do braço .......... 27 2.5.4 Pregas cutâneas............................................................................... 28 2.6 Gordura corporal ............................................................................ 29 2.7 Cálculo do tamanho da amostra.................................................... 31 2.8 Análise estatística........................................................................... 32 3 RESULTADOS ................................................................................ 33 4 DISCUSSÃO .................................................................................... 40 5 CONCLUSÃO .................................................................................. 50 REFERÊNCIAS ............................................................................... 51 APÊNDICE A - Características da população estudada.................. 59 APÊNDICE B - Variáveis antropométricas....................................... APÊNDICE C - Variáveis antropométricas (continuação)................ APÊNDICE D - Variáveis da análise de composição corporal por BIA.................................................................................................... APÊNDICE E - Variáveis laboratoriais.............................................. APÊNDICE F - Variáveis laboratoriais (continuação)....................... 63 66 69 72 75 ANEXO A - Termo de consentimento livre e esclarecido para os pacientes com DII............................................................................. 78 ANEXO B – Termo de consentimento livre e esclarecido para o grupo controle.................................................................................. ANEXO C – Protocolo de avaliação clínica para os pacientes com DII............................................................................................. ANEXO D – Protocolo de avaliação clínica para o grupo controle.. ANEXO E – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa............... 79 80 83 84 15 INTRODUÇÃO A doença inflamatória intestinal (DII) é uma condição inflamatória crônica do trato gastrointestinal (TGI) que se manifesta como Retocolite Ulcerativa (RCU) e Doença de Crohn (DC)(1). Cerca de 20% dos pacientes exibem um quadro clínico que se situa entre as duas doenças, sendo então utilizado o termo “colite não classificada”(2). A etiologia da DII permanece desconhecida, porém é consenso que resulte da interação entre agentes genéticos, imunológicos, ambientais (possivelmente microbiológicos)(3), alimentares (com baixa ingestão de fibras e consumo elevado de açúcar e gordura animal)(4) e relativos a alterações na permeabilidade da barreira do epitélio intestinal(3). A RCU é uma doença intestinal exclusiva do intestino grosso, caracterizada pelo surgimento de lesões inflamatórias limitadas à camada mucosa, estendendo-se em direção proximal, afetando parte ou todo o órgão, de forma uniforme e contínua, com nítida demarcação entre a mucosa envolvida e a mucosa intacta. Apresenta também grande incidência de envolvimento do reto, sendo em determinados casos restrita a essa localização(5;6). A DC é uma doença intestinal capaz de acometer qualquer parte do TGI, desde a boca até o ânus, embora as partes mais comumente envolvidas sejam o intestino delgado distal e o cólon. O processo inflamatório é transmural, estendendo- se através da parede intestinal, da mucosa até a serosa, apresentando acometimento segmentar, com áreas descontínuas normais no meio do intestino acometido(7). Ela pode ser definida pela sua localização (íleo terminal, cólon, ileocolônica, trato gastrointestinal superior) ou pelo padrão da doença (ulcerativo, penetrante ou estenosante). Ao contrário da RCU, que quase sempre afeta o reto, esse segmento em geral é preservado na DC, que, além disso, pode apresentar envolvimento exclusivo do canal anal(8). A evolução das DIIs depende da extensão, localização e atividade da lesão inflamatória e, de uma forma geral, a severidade dos sintomas relaciona-se à gravidade da doença. Nos pacientes com RCU o sintoma predominante é a diarreia que, comumente, está associada a sangue nas fezes. Urgência e incontinência fecal podem limitar a capacidade do paciente em suas funções sociais. Outros sintomas incluem febre e dor, que pode ocorrer no quadrante inferior ou no reto. Na DC, os 16 sintomas predominantes são diarreia, anorexia, perda de peso e dor abdominal. No entanto, o volume de diarreia e a hematoquesia são habitualmente menores em comparação aos indivíduos com RCU(9). No que concerne aos aspectos clínicos, tanto a DC como a RCU cursam com períodos de exacerbação e remissão(8). O espectro de gravidade da doença e o impacto nutricional são amplos, em parte relacionados ao local, natureza e extensão do comprometimento intestinal(10). Apesar de envolver principalmente o intestino, a DII também está associada a manifestações em outros sistemas do organismo. Cerca de 50% a 60% dos pacientes com DII sofrem de manifestações extra-intestinais e aproximadamente 25% têm mais de uma dessas manifestações(11). O envolvimento de ossos e articulações, pele, olhos, fígado e vias biliares é mais comum, mas o sistema de coagulação sanguínea, os pulmões, os rins e o sistema nervoso também podem ser afetados(12). A DII apresenta, também, importante associação com o desenvolvimento de câncer colorretal (CCR), que pode ser responsável por 10% a 15% das mortes entre esses pacientes(13). As DIIs acometem pacientes jovens, economicamente ativos e apresentam alta morbidade. Isso representa grande custo econômico para os indivíduos e para a saúde pública devido ao uso prolongado de medicamentos, necessidade de inúmeros e complexos exames diagnósticos, frequentes internações hospitalares e, muitas vezes, realização de procedimentos cirúrgicos(14). Alguns estudos populacionais sugerem que o pico de idade para a ocorrência de DC é de 20 a 30 anos, e para RCU entre 30 e 40 anos, podendo ocorrer um segundo pico entre 60 e 70 anos para ambas as doenças. Em relação ao sexo, a RCU é ligeiramente mais frequente em homens (60%), enquanto a DC ocorre de 20% a 30% mais frequentemente em mulheres, especialmente em áreas de alta incidência(15). O aumento da incidência das DIIs tem sido associado com maior grau de industrialização e à ocidentalização no estilo de vida, incluindo hábitos alimentares e tabagismo(16). No Brasil, são poucos os estudos epidemiológicos que permitem conhecer a incidência e a prevalência das DIIs. A maioria deles apenas descreve as características clínicas da doença e a frequência de internação hospitalar devido a DII, sem referência para a incidência e prevalência destas doenças em termos populacionais. Dados recentes mostram que as internações devido a DII se tornaram mais frequentes com predominância de DC em comparação com RCU(17). 17 O diagnóstico das DIIs é fundamentado em critérios clínicos, laboratoriais,endoscópicos, radiológicos e histológicos, sendo que nenhum deles, sozinho, é suficiente para estabelecer um diagnóstico preciso. Diversas técnicas estão atualmente disponíveis para auxiliar o diagnóstico correto dessas enfermidades, como, por exemplo, endoscopia, enteroscopia por tomografia ou por ressonância magnética, colonoscopia e trânsito de intestino delgado, porém, cada uma delas apresenta uma indicação específica, observando-se as suas limitações(11). O tratamento na DII visa promover a qualidade de vida para os pacientes, reduzindo os sinais e sintomas da doença com o mínimo de efeitos colaterais possíveis, além de prevenir o desenvolvimento de neoplasias colorretais(18;19). Os objetivos incluem induzir e manter o paciente em remissão, prevenir a recidiva, curar fístulas e evitar procedimentos cirúrgicos em caráter de emergência, ao invés de reverter o mecanismo patogênico subjacente(20;21). Corticosteróides, aminosalicilatos e agentes imunossupressores, tais como a azatioprina, são utilizados rotineiramente. Outras drogas, como o metronidazol e antibióticos de largo espectro, são úteis em alguns casos, enquanto a colestiramina, o cromoglicato de sódio, sais de bismuto e arsênico, e óleo de peixe fornecem terapias alternativas. Uma nova abordagem para o tratamento das DIIs utilizando preparações de anticorpos monoclonais humanizados produziu resultados encorajadores e pode, eventualmente, fornecer uma boa alternativa aos tratamentos tradicionais, haja vista que pode modificar as vias inflamatórias afetadas(20). A progressão da lesão anatômica pode levar ao desenvolvimento de complicações que são inacessíveis à terapia medicamentosa e requerem tratamento cirúrgico. Na DC, as principais indicações envolvem obstruções, abcessos, hemorragias e fístulas. Na RCU, os procedimentos cirúrgicos são importantes principalmente nos casos de megacólon tóxico, perfurações e hemorragia incontrolável. Em ambas as doenças, as indicações incluem também a intratabilidade clínica e a transformação neoplásica(22). A DII está frequentemente associada ao baixo peso e à desnutrição, especialmente nos pacientes com DC(23-25). A patogênese da desnutrição é multifatorial(26;27), podendo estar relacionada à diminuição na ingestão de nutrientes, ao processo inflamatório, à diarreia, às múltiplas ressecções e ao supercrescimento bacteriano(24;25;28-30), ao aumento do gasto energético(26;31) e, por fim, às terapias farmacológicas(28;32). 18 Pacientes com DII apresentam diferenças importantes em relação ao estado nutricional (EN)(23;25;33-35). A maioria dos estudos em pacientes com DC mostrou que o IMC apresenta-se diminuído(33;36-38), mas alguns autores mostram que não existe diferença significativa quando comparado aos indivíduos saudáveis(34;39;40). O baixo peso dos pacientes parece estar relacionado ao déficit de tecido adiposo, em detrimento da preservação de massa magra(33;41;42), mas alguns autores relataram existência de déficit de massa magra nesses pacientes(34;43), sendo significativamente maior em pacientes com DC do que com RCU(34). A perda de tecido adiposo pode trazer consequências importantes, uma vez que esse tecido é responsável pelo controle da temperatura corporal, armazenamento energético, transporte de vitaminas lipossolúveis e secreção de proteínas e peptídeos bioativos com ação local e a distância(44). Os déficits de massa magra, entretanto, apresentam maior gravidade e estão associados ao aumento da morbidade, à perda de força muscular, à alteração do metabolismo energético e às alterações da barreira intestinal, levando ao aumento da susceptibilidade a infecções(45). Embora a perda de peso seja um problema conhecido, particularmente na doença ativa, o ganho de peso excessivo pode ocorrer, mascarando possíveis deficiências nutricionais, sendo esses pacientes erroneamente considerados saudáveis(46). Entretanto, essa alteração no peso pode preceder o diagnóstico de DII, haja vista que o excesso de peso é considerado atualmente um problema de saúde pública mundial, resultante do consumo de alimentos industrializados, do sedentarismo e da mudança de status socioeconômico, ou consequente ao tratamento da própria doença(47). A terapia com corticosteróides, amplamente utilizada no tratamento das DIIs, pode estimular o aumento da ingestão alimentar, além de reduzir a massa muscular e o gasto energético, com consequente aumento de peso(34). Os efeitos catabólicos dos esteróides na composição corporal e no metabolismo energético incluem desmineralização óssea, retardo no crescimento, aumento da deposição de gordura e resistência à insulina(48). Tais fatores ganham grande importância diante do conhecimento atual sobre o tecido adiposo e seu papel no processo inflamatório(46). Um aumento da prevalência de obesidade em pacientes com DII foi descrita recentemente. Os números variam entre 15% e 20% em alguns estudos, com mais de 40% dos pacientes com excesso de peso(49). Embora não haja evidência de que 19 a obesidade altera o curso da doença, há dados na literatura sugerindo que pacientes com DC e sobrepeso requerem tratamento medicamentoso mais agressivo e intervenção cirúrgica mais precoce(50). Já os pacientes com DC obesos, apresentam taxas de complicações pós-operatórias maiores quando comparados aos pacientes não obesos(51). O peso corporal e o IMC são medidas antropométricas básicas e importantes, amplamente empregadas na prática clínica para a avaliação do EN. Apesar da facilidade de mensuração, o peso e o IMC não permitem a distinção entre massa gorda, massa magra e fluidos, sendo, portanto, considerados medidas globais de todos os compartimentos corporais. Dessa forma, a determinação da composição corporal pode refletir mais detalhadamente o EN desses pacientes, que pode ser influenciado por diversos fatores, como hormônios, medicações, ingestão alimentar e também pelo próprio processo fisiopatológico de uma doença crônica(34). Portanto, a avaliação do EN ideal para a melhor abordagem dietética na DII requer medições precisas da composição corporal(23). Diversos fatores podem influenciar a composição corporal. O efeito das citocinas inflamatórias no metabolismo de nutrientes nos pacientes com DC tem sido investigado. Fator de necrose tumoral (TNF-α), interleucina 1 (IL-1) e interleucina 6 (IL-6), que são citocinas pró-inflamatórias, têm demonstrado significativos efeitos deletérios no metabolismo proteico(52). Quando os níveis de TNF-α estão aumentados, o que ocorre principalmente durante os períodos de atividade da doença, a síntese de proteínas para fins nutricionais é afetada pelo desvio de aminoácidos para a síntese de proteínas inflamatórias(53). Outro fator relacionado à alteração na composição corporal são as ressecções intestinais, principalmente nos pacientes com DC. Pacientes submetidos a esses procedimentos frequentemente apresentam menor peso corporal e menor IMC quando comparados a indivíduos saudáveis. Essa diferença é resultado principalmente da má absorção de nutrientes devido à reduzida superfície de absorção, embora uma ingestão alimentar reduzida devido à anorexia ou dor abdominal, além de restrição na ingestão de lipídios para diminuir a diarreia, possam também contribuir em alguns pacientes(42). Permanece incerto se os estoques de tecido adiposo ou massa magra estão reduzidos em pacientes submetidos a ressecções intestinais. Alguns autores mostraram que a massa magra está mais 20 reduzida do que a gordura corporal(43;54), embora outros estudos tenham mostrado uma redução predominante na massa gorda(42;55;56). A variedade de resultados e conclusões de estudos anteriores sobre o EN de pacientes com DC e RCU, provavelmente, é consequência da heterogeneidade das populações estudadas. Além disso, os métodos de avaliação nutricional diferem quantoà precisão, complexidade, disponibilidade e custo(25). A avaliação nutricional é o primeiro passo para o sucesso do manejo nutricional(25). Existem diversos métodos para avaliar o EN incluindo história nutricional, exames físicos, parâmetros laboratoriais objetivos e critérios clínicos(57). Recentemente, testes mais complexos, como os de análise de composição corporal também vêm sendo amplamente utilizados(58). No entanto, até o momento, não existe um padrão ouro para a avaliação do EN desses pacientes. A avaliação nutricional inclui, portanto, a combinação de diversos parâmetros nutricionais(25). Diversas técnicas estão atualmente disponíveis para a avaliação precisa da composição corporal, mas algumas estão associadas com a exposição dos indivíduos à radiação, como a tomografia computadorizada e absorciometria com raios X de dupla energia (DEXA), ou são desagradáveis para o paciente, assim como a pesagem hidrostática. Outras são trabalhosas e requerem acesso a equipamentos e técnicas avançadas, como a avaliação tecidual de minerais, principalmente o potássio, o que implica em alto custo e que, por isso, não são habitualmente utilizadas na prática clínica e ambulatorial(59). Apesar dos avanços tecnológicos, a antropometria continua mantendo sua devida importância na avaliação do EN(60). As dobras cutâneas são habitualmente utilizadas para a determinação do percentual de gordura corporal (%GC), por constituírem método de baixo custo operacional, não invasivo e relativamente simples(61). Porém, sua realização requer treinamento prolongado para que se obtenham resultados confiáveis, pois a dificuldade de padronização dos avaliadores em relação aos pontos de medidas, assim como, dos procedimentos adotados para a realização das mesmas podem limitar a utilização do método(62). Existem na literatura diversas equações que utilizam as medidas de dobras cutâneas e outras medidas antropométricas, como circunferências, para determinação da composição corporal(63). Contudo, a validade dessas equações é restrita à população da qual elas foram derivadas. Diante da grande variabilidade dos compartimentos corporais entre as populações, é possível que as estimativas de 21 gordura corporal (GC), obtidas com as fórmulas disponíveis, apresentem erros(61). Assim, a validade e acurácia dessas equações precisam ser cuidadosamente avaliadas(59). Da mesma forma, as análises laboratoriais, associadas ao exame clínico e à antropometria, também apresentam grande utilidade para o diagnóstico nutricional, contribuindo na informação da quantidade e da qualidade de determinados nutrientes e funções que poderiam estar prejudicados por situações de deficiência ou excesso no organismo(60). Embora seja um método seguro, não invasivo e rápido, a utilização da Bioimpedância Elétrica (BIA) é limitada pelo custo do equipamento e pela necessidade de preparo específico(64). As medidas antropométricas, tais como dobras cutâneas e circunferências, podem indicar o EN e o padrão de gordura corporal(65). Quando comparadas à BIA, apresentam a vantagem do uso de equipamentos de fácil aquisição e baixo custo, facilitando a sua utilização em nível ambulatorial(61). Sabe-se que pacientes com DII apresentam diferenças importantes em relação ao EN. Entretanto, poucos autores avaliaram, ao mesmo tempo, pacientes com DC e RCU, e os estudos disponíveis na literatura médica especializada ainda apresentam muitas contradições. Existem poucos estudos publicados considerando o EN em pacientes com RCU e DC utilizando ampla variedade de parâmetros antropométricos e bioquímicos(23-25;36). Deste modo, a avaliação detalhada do EN e da composição corporal de pacientes com DII, utilizando diferentes métodos, como a antropometria e BIA, tem grande importância durante os períodos de atividade de doença, assim como na sua remissão clínica. Essa avaliação contribuiria para o tratamento e controle dessas doenças, possibilitando aos profissionais de saúde um atendimento nutricional adequado e fornecendo diretrizes objetivas para o suporte nutricional necessário. 22 1 OBJETIVO 1.1 Objetivo geral Comparar a composição corporal, obtida com a utilização de diferentes métodos, em pacientes com DC e RCU em atendimento ambulatorial, avaliando possíveis diferenças nos grupos de doentes entre si, e quando comparados a indivíduos saudáveis. 1.2 Objetivos específicos Realizar avaliação da composição corporal com a utilização de BIA, avaliação antropométrica e bioquímica, em pacientes com DC, RCU e em indivíduos saudáveis. Comparar a composição corporal entre os três grupos de indivíduos – DC, RCU e saudáveis –, após ajustes para fatores que podem interferir na mesma, como uso atual de corticosteróides, prática de atividade física, atividade de doença, idade e sexo. Investigar a existência de associações entre a composição corporal mensurada pelo uso de BIA e as equações utilizadas para a estimativa de percentual de gordura. 23 2 MÉTODO Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Pedro Ernesto (2234-CEP/HUPE). Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, após a explicação detalhada sobre os objetivos e métodos do estudo, e antes de qualquer procedimento. Os pacientes que participaram da pesquisa não sofreram qualquer risco relativo à coleta de dados. O tratamento efetuado não foi diferente para os pacientes que não concordaram em participar do estudo e todos os procedimentos seguiram rigorosamente a legislação existente para a pesquisa com seres humanos. Foi realizado um estudo transversal, incluindo 101 pacientes, de ambos os sexos, selecionados no ambulatório de Gastroenterologia especializado em Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), no período compreendido entre julho de 2008 e janeiro de 2010. Dentre os pacientes selecionados, 50 possuíam diagnóstico de DC e 51 de RCU. A abordagem inicial desses pacientes foi realizada por meio de contato telefônico, no qual eram convidados a participar do estudo, mediante prévio esclarecimento das suas características. No período compreendido entre março de 2010 e janeiro de 2011, foram incluídos no estudo 35 indivíduos saudáveis para a composição do grupo controle, selecionados no ambulatório geral de Gastroenterologia do mesmo hospital. Neste ambulatório, são acompanhados pacientes com sintomas simples de desconforto do TGI, com alterações que não comprometem o estado nutricional (EN) do indivíduo, e, por isso, considerados saudáveis. Os indivíduos que, pelo contato telefônico, foram considerados elegíveis para o estudo e aceitaram dele participar, tiveram sua visita agendada ao setor de Nutrição do HUPE. Durante o contato telefônico, todas as orientações relacionadas ao preparo para a avaliação da composição corporal e para a coleta de sangue, bem como a indicação de vestimenta adequada para a avaliação antropométrica, foram passadas. Ao comparecer à visita programada, os pacientes realizaram todas as etapas da pesquisa, que consistiram em: preenchimento de questionário com informações pessoais e relacionadas à doença (somente para os pacientes com DC e RCU), avaliação laboratorial, avaliação da composição corporal e avaliação antropométrica. 24 2.1 Critérios de inclusão Os pacientes incluídos no estudo preenchiam os seguintes critérios: idade entre 18 e 65 anos; diagnóstico de DC ou RCU, fundamentado em critérios clínicos, endoscópicos, radiológicos, laboratoriais e histológicos, definidos e registrados em prontuário médico; e preenchimento e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Os indivíduossaudáveis pertencentes ao grupo controle deveriam atender aos seguintes critérios: idade entre 18 e 65 anos; ausência de alteração na ingestão alimentar nos últimos seis meses; e preenchimento e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. 2.2 Critérios de exclusão Foram excluídos do estudo: indivíduos com outras doenças comprovadamente relacionadas com alterações ou comprometimento do EN, como câncer, síndrome da imunodeficiência adquirida, enfermidades hepáticas e disfunções renais ou endócrinas; indivíduos com sinais de edema ou desidratação; e gestantes ou lactantes. 2.3 Coleta de dados Todos os indivíduos participantes da pesquisa responderam a um questionário com informações sócio-demográficas e pessoais, como prática de exercício físico, tabagismo, doenças pregressas e procedimentos cirúrgicos prévios. As demais informações necessárias para a realização do presente estudo foram coletadas com base nos dados previamente documentados nos prontuários médicos desses pacientes. Foi considerado praticante de exercício físico o indivíduo que realizava regularmente qualquer exercício aeróbico ou de força, no mínimo três vezes por semana, e foram considerados tabagistas aqueles que mantivessem consumo de tabaco diário ou que houvessem fumado por mais de dez anos, em algum período da vida, desconsiderando-se a quantidade consumida diariamente. 25 No grupo de pacientes (RCU e DC), informações referentes às principais características de cada uma das doenças estudadas foram colhidas do prontuário médico, com o objetivo de detalhar suas manifestações, a topografia da doença, sua forma predominante, além de verificar o tempo de diagnóstico, o tratamento medicamentoso utilizado, procedimentos cirúrgicos realizados e a sintomatologia atual de cada paciente. Nessa ocasião, os pacientes também foram classificados segundo a presença de atividade de doença ou remissão clínica, com base nos critérios de Harvey e Bradshaw(66) para DC e de Truelove e Witts(67) para RCU. 2.4 Avaliação laboratorial As amostras de sangue foram coletadas por profissionais capacitados e armazenadas em tubos específicos (contendo ou não ácido etilenodiamino tetra- acético – EDTA), sendo imediatamente enviadas ao laboratório. Todas as análises foram realizadas no Laboratório de Lípides (LabLip) da Faculdade de Ciências Médicas da UERJ. Os seguintes parâmetros foram avaliados: hemograma completo, proteínas totais, albumina, globulina, velocidade de hemossedimentação (VHS) e proteína C- reativa (PCR), segundo os métodos, aparelhos e kits descritos abaixo: Hemograma Equipamento: Contador Hematológico Automatizado KX-21N Sysmex® Kit: Cellpack – marca Sysmex Stromatolyzer WH – marca Sysmex Controle utilizado: Eightcheck-3WP X-TRA Determinações: hemácias, hemoglobina, hematócrito, plaquetas e leucócitos. Proteínas totais Método: Biureto Equipamento: Analisador Automático A15 marca BioSystems Kit: BioSystems Unidade: g/dl 26 Albumina Método: Verde de Bromocresol Equipamento: Analisador Automático A15 marca BioSystems Kit: BioSystems Unidade: g/dl Globulina A determinação foi realizada por meio de cálculo, segundo a equação: Globulina = Proteínas totais – albumina. Unidade: g/dl Velocidade de hemossedimentação Método: Wintrobe. Unidade: mm/h Proteína C-reativa Método: Turbidimetria Equipamento: Analisador Automático A15 marca BioSystems Kit: BioSystems Unidade: mg/l 2.5 Avaliação antropométrica A avaliação antropométrica consistiu das seguintes medidas: peso corporal (quilogramas); estatura (centímetros); circunferências do braço relaxado (CB), da cintura (CC) e do quadril (CQ) (centímetros); circunferência muscular do braço (CMB) e as pregas cutâneas do tríceps (PCT), bíceps (PCB), peitoral (PCPt), axilar média (PCAx), subescapular (PCSE), supra-ilíaca (PCSI), supraespinhal (PCSEsp), abdominal (PCAb), perna (PCPr) e da coxa (PCC) (milímetros). Todas as mensurações foram realizadas no Laboratório de Cineantropometria do Instituto de Educação Física da UERJ, por profissionais treinados e capacitados e, de cada variável, foram realizadas três medidas, utilizando-se para análise a média entre os três valores obtidos. 27 2.5.1 Peso, estatura e IMC O peso foi aferido em balança antropométrica da marca Filizola®, com precisão de 100 g, estando os pacientes em jejum, sem sapatos e vestindo roupas leves. A estatura foi aferida com a utilização de estadiômetro com haste móvel da mesma balança, com precisão de 0,5 cm. O paciente foi posicionado descalço, com o peso igualmente distribuído entre os pés, com o dorso reto, membros superiores estendidos ao longo do corpo e calcanhares juntos, tocando a haste vertical do estadiômetro. O IMC foi calculado dividindo-se o peso (kg) pela altura ao quadrado (m2)(68). Para a classificação do EN a partir do IMC, foram utilizados os padrões propostos pela Organização Mundial de Saúde(68). 2.5.2 Circunferências da cintura e do quadril As circunferências da cintura (CC) e do quadril (CQ) foram mensuradas estando os pacientes em pé e com o auxílio de uma fita métrica inextensível. A CC foi determinada no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca, mantendo-se a fita paralela ao chão, sem comprimir a pele, ao final de uma expiração normal, com o abdome relaxado(68). A CQ foi medida na maior circunferência na extensão posterior das nádegas. 2.5.3 Circunferência do Braço e Circunferência Muscular do Braço A circunferência do braço (CB) foi mensurada no ponto médio entre o acrômio e o olécrano, com auxílio de fita graduada flexível e inextensível, com o paciente em pé e com o membro superior direito relaxado na lateral do corpo, com a palma da mão voltada para coxa. A CMB foi obtida de forma indireta, utilizando-se os dados da CB e PCT: (CMB = CB – 0,314 x PCT). 28 2.5.4 Pregas cutâneas As pregas cutâneas foram determinadas com a utilização de um plicômetro tipo Lange Skinfold Caliper. Todas as mensurações foram realizadas no lado direito do corpo, sendo o local identificado e marcado com caneta apropriada. O pinçamento da dobra cutânea foi feito com a mão esquerda e com os dedos polegar e indicador, cerca de 1 cm acima do local marcado. As hastes do plicômetro foram colocadas perpendicularmente à dobra, aproximadamente 1 cm abaixo do local pinçado, e em seguida, soltas lentamente. As dobras foram mantidas pressionadas durante a realização das medidas e no momento da leitura(69). Prega cutânea triciptal (PCT) – foi mensurada na face posterior do braço direito, paralelo ao eixo longitudinal, no ponto que compreende a distância média entre o acrômio e o processo do olécrano da ulna(70). Prega cutânea do bíceps (PCB) – foi aferida no ponto médio na face anterior do braço, entre o processo acromial da clavícula e o processo do olécrano da ulna(70). Prega cutânea peitoral (PCPt) – foi avaliada no primeiro terço (proximal) da linha formada entre a axila anterior e o mamilo para ambos os sexos, com o plicômetro no sentido perpendicular ao braço(71). Prega cutânea axilar média (PCAx) – foi mensurada no ponto de interseção entre a linha axilar média e uma linha imaginária transversal na altura do apêndice xifóide do esterno. A medida foi realizada verticalmente ao eixo longitudinal, com o membro superior do avaliado para trás ou para frente, para facilitar a obtenção e leitura da medida(72). Prega cutânea subescapular (PCSE) – foi aferida obliquamente em relação ao eixo longitudinal, seguindo a orientação dos arcos costais, sendo localizada 2 cm abaixo do ângulo inferior da escápula(70). Prega cutânea supra-ilíaca (PCSI) – foi determinada obliquamente em relaçãoao eixo longitudinal, na metade da distância entre o último arco costal e a crista ilíaca, 29 sobre a linha axilar média, sendo necessário que o avaliado afastasse o membro superior para trás para permitir boa execução e leitura da medida(71). Prega cutânea supra-espinhal (PCSEsp) – foi avaliada 5 a 7 cm acima da espinha ilíaca anterior, sobre uma linha que vai da borda axilar anterior para baixo e para a região medial a 45 graus(70). Prega cutânea abdominal (PCAb) – foi aferida a aproximadamente 2 cm à direita da cicatriz umbilical, paralelamente ao eixo longitudinal do corpo(70). Prega cutânea da perna (PCPr) – foi determinada no ponto medial da perna, no maior perímetro da panturrilha, estando o avaliado sentado, com a articulação do joelho em flexão de 90 graus, o tornozelo em posição anatômica e o pé com ou sem apoio(70). Prega cutânea da coxa (PCC) – foi mensurada verticalmente no ponto médio entre a prega inguinal e a borda superior da patela, estando o avaliado em pé e com a perna relaxada(70). 2.6 Gordura corporal (GC) O percentual de GC (%GC) foi estimado a partir de equações de predição que utilizam o somatório de pregas cutâneas e por Bioimpedância elétrica (BIA). Foram utilizadas as equações propostas por Durnin & Wormersley(73), Jackson & Pollock(74), Jackson e cols(75) e Peterson(65). Durnin & Wormersley (1974) propuseram a estimativa do %GC a partir da aferição de quatro dobras cutâneas: bíceps, tríceps, subescapular e supra-ilíaca. Desenvolveram este método avaliando homens e mulheres, com idade entre 16 e 72 anos, sendo que os indivíduos eram, em sua maioria, sedentários. Ao final das análises foi gerada uma tabela de consulta, contendo ampla faixa do somatório das quatro dobras com o equivalente %GC, de acordo com idade e sexo(73). Jackson & Pollock (1978) e Jackson e cols (1980) desenvolveram equações de estimativa do %GC, utilizando sete ou três dobras cutâneas. Utilizaram no 30 estabelecimento destes modelos homens com idade entre 18 e 61 anos e mulheres com idade entre 18 e 55 anos, os quais variaram, consideravelmente, quanto à estrutura e composição corporal, além da prática de atividade física. Para a determinação do %GC utilizando o somatório de três dobras, foram utilizadas as medidas das pregas peitoral, abdominal e da coxa para os homens, e do tríceps, supra-ilíaca e da coxa para as mulheres. Foi gerada uma tabela de consulta contendo ampla faixa do somatório das três dobras com o equivalente %GC, de acordo com idade e sexo(74;75). Para a determinação do %GC utilizando o somatório de sete dobras, foram utilizadas as medidas das pregas subescapular, axilar média, triciptal, coxa, supra-ilíaca, abdominal e peitoral, para ambos os sexos, em conjunto com dados referentes à idade, por meio das seguintes equações: Homens(74): Densidade Corporal = 1,11200000 - [0,00043499 (ST) + 0,00000055 (ST)²] - [0,00028826 (idade)] Mulheres(75): Densidade Corporal = 1,0970 - [0,00046971 (ST) + 0,00000056 (ST)²] - [0,00012828 (idade)] ST= soma das pregas cutâneas subescapular, axilar média, tríceps, coxa, supra-ilíaca, abdominal e peitoral. %GC= [(4,95/Densidade Corporal) - 4,50] x100 Na determinação do %GC, segundo Peterson (2003), foram, ainda, utilizadas fórmulas validadas com um modelo de quatro compartimentos corporais, onde também foram incluídos indivíduos obesos. Para estimar o percentual de gordura utilizou-se o somatório das pregas do tríceps, subescapular, supra-ilíaca e da coxa, juntamente com dados referentes à idade e altura, por meio das seguintes equações(65): 31 Homens: %GC = 20,94878 + (idade x 0,1166) – (altura x 0,11666) + (soma 4 x 0,42696) – (soma 42 x 0,00159) Mulheres: %GC = 22,18945 + (idade x 0,06368) + (IMC x 0,60404) - (altura x 0,14520) + (soma 4 x 0,30919) - (soma 42 x 0,00099562) Soma 4 = soma das pregas cutâneas do tríceps, subescapular, supra-ilíaca e da coxa. Altura em centímetros. Para a estimativa da quantidade de gordura subcutânea foi utilizado o somatório das dez dobras (PCT, PCB, PCPt, PCAx, PCSE, PCSI, PCSEsp, PCAb, PCPr e PCC). Na realização de BIA, utilizou-se o modelo tetrapolar, empregando-se o equipamento Biodynamics modelo 450®, de acordo com as recomendações da European Society of Parenteral and Enteral Nutrition (ESPEN)(76). O protocolo de preparo foi o seguinte: • 12 horas de jejum* * Foi considerado este período de jejum a fim de garantir condições adequadas para as análises bioquímicas, além da avaliação da composição corporal pela bioimpedância elétrica. • 48 horas sem ingestão de bebida alcoólica • 12 horas sem prática de atividade física • 24 horas sem ingestão de café, chás, mate, chocolate ou bebidas à base de cola • mulheres deveriam estar obrigatoriamente fora do período menstrual 2.7 Cálculo do tamanho da amostra O tamanho da amostra foi calculado com base no estudo realizado por Geerling e cols(23), no qual foram observados valores significativamente mais baixos de IMC no grupo de pacientes com RCU (diagnóstico há menos de cinco anos) em 32 comparação com o grupo controle (22,7 ± 2,4 vs. 24,7 ± 3,4 p < 0,01). Foram considerados erro tipo I de 0,05, erro tipo II de 0,20 e grupo de pacientes com tamanho três vezes superior ao grupo de controles. Nestas condições, o tamanho mínimo da amostra deveria ser de 19 participantes no grupo controle e de 57 nos grupos de pacientes (DC + RCU). 2.8 Análise estatística As variáveis contínuas foram expressas como média e desvio padrão. A apresentação das variáveis categóricas foi realizada com o seu número absoluto e frequência relativa. As variáveis que não apresentaram distribuição normal (PCR-US e CMB), cuja verificação foi realizada pelo teste de Shapiro-Wilk, foram transformadas em logaritmo (LOG). A comparação das características gerais dos três grupos de estudo (idade, sexo, exercício físico e tabagismo) foi realizada por meio de análise de variância (ANOVA), entre variáveis contínuas, e pelo teste de Kruskal-Wallis, para variáveis categóricas. As características específicas das DII (atividade de doença, uso de corticóide e tempo de diagnóstico) foram comparadas somente entre os pacientes com DC e RCU, por meio do teste t de Student, para variáveis contínuas, e pelo teste de Mann-Whitney, para variáveis categóricas. A ANOVA também foi utilizada para realizar as comparações entre as outras variáveis contínuas dos três grupos de estudo, seguida pelo pós-teste de Bonferroni, para comparações entre os grupos (dois a dois). A análise de covariância (ANCOVA) foi utilizada com o objetivo de realizar ajustes para fatores de confundimento (sexo, idade, exercício físico, atividade da doença e uso de corticóide). Para avaliar o grau de associação entre as estimativas do %GC obtidas pela mensuração das pregas cutâneas e a obtida por BIA foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson. As análises estatísticas foram realizadas com a utilização do software STATA versão 10.0. (StataCorp, College Station, TX, USA). O nível de significância adotado foi p< 0,05. 33 3 RESULTADOS Foram avaliados 136 indivíduos, sendo 50 pacientes com DC (GDC), 51 pacientes com RCU (GRCU) e 35 indivíduos saudáveis (GCON). As características dos participantes do estudo podem ser observadas na Tabela 1. Não foram observadas diferenças significativas entre os três grupos em relação à idade, sexo, prática de exercício físico e tabagismo. As características relacionadas à presença de DII foram comparadas apenas entre os pacientes com DC e RCU, não havendo diferenças significativas entre os dois grupos em relação à atividade da doença, uso de corticóide e tempo de diagnóstico (Tabela 1). Tabela 1. Características dos participantes do estudo.Característica GCON (n = 35) GDC (n = 50) GRCU (n=51) p Idade (anos) 40,89 ± 14,02 42,08 ± 11,98 46,39±11,67 0,09 0,09† Sexo (feminino/masculino) 22/13 24/26 33/18 0,30† Exercício físico (n; %) 10 (3,5%) 11 (5,5%) 10 (5,1%) 0,77† Tabagismo (n; %) 7 (20%) 18 (36%) 16 (32%) 0,45† Atividade doença (n; %) - 14 (28%) 11(22%) 0,46†† Uso corticoide (n; %) - 9 (18%) 5 (10%) 0,48†† Tempo de diagnóstico (anos) - 10,10±7,80 7,87±5,20 0,09†† Os valores são expressos como média ± desvio padrão da média. GCON = Grupo controle; GDC = Grupo de pacientes com Doença de Crohn; GRCU = Grupo de pacientes com Retocolite ulcerativa. † = Valor p referente à comparação entre os três grupos estudados por ANOVA (variáveis contínuas) ou Kruskal – Wallis (variáveis categóricas). †† = Valor p referente à comparação entre os dois grupos de pacientes (GDC vs. GRCU) por teste t de Student (variáveis contínuas) ou Mann– Whitney (variáveis categóricas). A Tabela 2 apresenta as principais características relacionadas ao padrão da doença observadas nos pacientes com DC. Verificou-se que, em relação à localização da doença, a maior parte dos pacientes (46%; n=23) apresentava acometimento da região íleocolônica, e as formas predominantes da doença observadas foram as do tipo ulcerativa (28%; n=14) e a do tipo fistulizante e estenosante (28%; n=14). Observou-se que 22% (n=11) dos pacientes com DC haviam sido submetidos a algum tipo de ressecção cirúrgica, sendo o cólon (46%; n= 5) a região mais abordada. 34 Tabela 2. Características específicas dos pacientes com doença de Crohn. Característica (n; %) Localização da Doença (n = 50) Ileal Íleocolônica Colite Delgado Outros 8 (16%) 23 (46%) 11 (22%) 5 (10%) 3 (6%) Forma predominante da Doença (n = 50) Fistulizante Estenosante Fistulizante/ estenosante Ulcerativa 11 (22%) 11 (22%) 14 (28%) 14 (28%) Ressecção intestinal prévia (n = 50) Sim Não 11 (22%) 39 (78%) Localização da ressecção (n = 11) Delgado Íleo colônica Colón 3 (27%) 3 (27%) 5 (46%) Com a utilização do IMC, verificou-se, globalmente, o EN dos participantes do estudo. No GCON, 3% (n=1) dos indivíduos eram desnutridos, 43% (n=15) eram eutróficos e 54% (n= 19) tinham sobrepeso. Entre os pacientes com DC, 8% (n=4) apresentavam-se desnutridos, 58% (n=29) eutróficos e 34% (n=17) encontravam-se com sobrepeso; já entre os pacientes com RCU, 2% (n= 1) eram desnutridos, 49% (n=25) eram eutróficos e 49% (n=25) apresentavam sobrepeso. Na Tabela 3 são observados os valores médios das variáveis antropométricas e de bioimpedância elétrica, e o resultado das comparações das variáveis entre os três grupos de indivíduos. Verificou-se que os pacientes com DC apresentaram peso e IMC significativamente menores do que os indivíduos do GCON (p<0,008 e p<0,004, respectivamente). Essa diferença não foi observada em relação aos pacientes com RCU. A CMB foi significativamente menor nos pacientes com DC e RCU quando comparados aos indivíduos do GCON (p<0,0001 e p<0,03, respectivamente), porém sem apresentar diferenças entre os dois grupos de pacientes (p>0,053). Já o somatório das dez dobras cutâneas mostrou-se significativamente menor entre os pacientes do GDC quando comparados aos indivíduos do GCON (p<0,01). Com relação aos percentuais de gordura estimados a partir da aferição de dobras cutâneas, observou-se que as equações de Peterson, Durnin & Womersley e 35 Jackson & Pollock (que utilizam o somatório de três dobras) apresentaram valores significativamente menores nos pacientes com DC quando comparados aos pacientes com RCU (p<0,048; p<0,035; e p<0,045, respectivamente) e aos indivíduos saudáveis (p<0,019; p<0,044; e p<0,012, respectivamente). 36 Tabela 3. Valores médios das variáveis antropométricas e de bioimpedância elétrica. GCON vs. GDC vs. GRCU GCON vs. GDC GCON vs. GRCU GDC vs. GRCU GCON GDC GRCU Variáveis (n= 35) (n= 50) (n= 51) p † p ‡ p* p** p* p** p* p** Estatura (cm) 162,06 ± 10,48 164,13 ± 10,07 162,05 ± 10,47 0,340 0,970 0,986 0,919 1,000 0,941 0,467 0,807 Peso corporal (kg) 69,28 ± 12,15 64,37 ± 14,09 68,23 ± 14,99 0,216 0,026 0,340 0,008 1,000 0,541 0,500 0,051 IMC (kg/m2) 26,44 ± 4,57 23,92 ± 4,89 26,09 ± 4,68 0,024 0,017 0,049 0,004 1,000 0,369 0,069 0,058 CC (cm) 81,17 ± 9,09 79,11 ± 10,71 83,94 ± 12,09 0,090 0,027 1,000 0,033 0,744 0,730 0,088 0,015 CQ (cm) 99,92 ± 8,32 94,15 ± 8,57 98,57 ± 9,88 0,009 0,012 0,014 0,003 1,000 0,360 0,049 0,053 CB (cm) 30,93 ± 4,18 27,89 ± 3,69 29,89 ± 4,09 0,002 0,000 0,002 0,000 0,708 0,130 0,040 0,006 PCT (mm) 20,49 ± 8,43 20,42 ± 7,66 24,45 ± 8,09 0,039 0,145 0,262 0,145 1,000 0,559 0,041 0,051 CMB (cm) 23,55 ± 4,20 21,48 ± 3,59 22,21 ± 3,91 0,057 0,005 0,052 0,0001 0,353 0,030 1,000 0,053 Somatório 10D 228,8 ± 71,78 178,3 ± 66,87 209,9 ± 53,74 0,005 0,013 0,006 0,010 1,000 0,187 0,047 0,058 %MM (BIA) 72,38 ± 9,67 73,73 ± 9,53 70,17 ± 7,39 0,133 0,677 1,000 0,486 0,812 0,698 0,139 0,378 %GC (BIA) 27,45 ± 9,80 26,25 ± 9,54 29,82 ± 7,39 0,131 0,700 1,000 0,0720 1,000 0,729 0,112 0,1580 %GC (Peterson) 35,62 ± 8,26 30,91 ± 9,19 35,46 ± 6,01 0,005 0,020 0,023 0,019 1,000 0,258 0,013 0,048 %GC (Pollock 3D) 26,9 ± 9,87 22,0 ± 8,64 26,3 ± 7,76 0,017 0,019 0,039 0,012 1,000 0,306 0,049 0,045 %GC (Pollock 7D) 28,2 ± 9,23 23,4 ± 8,49 27,6 ± 6,80 0,011 0,017 0,027 0,012 1,000 0,229 0,035 0,064 %GC (Durnin) 34,5 ± 9,68 30,9 ± 9,18 35,7 ± 6,62 0,018 0,042 0,185 0,044 1,000 0,802 0,017 0,035 Os valores são expressos como média ± desvio padrão da média. GCON = Grupo controle; GDC = Grupo de pacientes com doença de Crohn; GRCU = Grupo de pacientes com retocolite ulcerativa; IMC = Índice de massa corporal; CC = Circunferência da cintura; CQ = Circunferência do quadril; CB = Circunferência do braço; PCT = Prega cutânea triciptal; CMB = Circunferência muscular do braço; Somatório 10D = somatório das pregas cutâneas do tríceps, bíceps, peitoral, axilar média, subescapular, supra-ilíaca, supraespinhal, abdominal, perna medial e da coxa; %MM (BIA) = Percentual de massa magra pela Bioimpedância elétrica; % GC (BIA) = Percentual de gordura corporal pela Bioimpedância elétrica; % GC (Peterson) = Percentual de gordura corporal avaliado pela fórmula de Peterson (2003); % GC (Pollock 3D) = Percentual de gordura corporal avaliado pelas fórmulas de Jackson & Pollock (1978) e Jackson e cols (1980); % GC (Pollock 7D) = Percentual de gordura corporal avaliado pelas fórmulas de Jackson & Pollock (1978) e Jackson e cols (1980); % GC (Durnin) = Percentual de gordura corporal avaliado pela fórmula de Durnin & Wormersley (1974). † = Valor p referente à comparação entre os três grupos estudados por ANOVA; ‡ = Valor p referente à comparação entre os três grupos estudados por ANCOVA, ajustando para sexo, idade, atividade de doença, uso atual de corticóide e prática de exercício físico; * = Valor p referente ao pós-teste ANOVA (Bonferroni); ** = Valor p referente à ANCOVA, ajustando para sexo, idade, atividade de doença, uso atual de corticóide e prática de exercício físico. 37 A Tabela 4 apresenta os resultados das comparações entre os diferentes métodos de avaliação da composição corporal. Observou-se que as equações de Jackson & Pollock (que utilizam o somatório de três e sete dobras) apresentaram valores significativamente menores quando comparados aos das equações de Peterson (p<0,001) e Durnin & Womersley (p<0,001), nos dois grupos de pacientes. O %GC estimado pela BIA mostrou-se significativamente menor do que o encontrado pela equação de Peterson nos pacientes do GDC (p<0,05) e menor do que as equações de Peterson e Durnin & Womersley nos pacientes do GRCU (p<0,001 e p<0,001, respectivamente) e GCON (p<0,01 e p<0,05, respectivamente).Tabela 4. Comparação entre os métodos de avaliação da composição corporal. Métodos GCON (n = 35) p* GDC (n = 50) p* GRCU (n=51) p* Peterson vs Pollock 3D <0,01 <0,001 <0,001 Peterson vs Pollock 7D <0,05 <0,001 <0,001 Peterson vs Durnin >0,05 >0,05 >0,05 Peterson vs BIA <0,01 <0,05 <0,001 Pollock 3D vs Pollock 7D >0,05 >0,05 >0,05 Pollock 3D vs Durnin <0,01 <0,001 <0,001 Pollock 3D vs BIA >0,05 >0,05 >0,05 Pollock 7D vs Durnin >0,05 <0,001 <0,001 Pollock 7D vs BIA >0,05 >0,05 >0,05 Durnin vs BIA <0,05 >0,05 <0,001 GCON = Grupo controle; GDC = Grupo de pacientes com Doença de Crohn; GRCU = Grupo de pacientes com Retocolite ulcerativa. Peterson = Percentual de gordura corporal avaliado pela fórmula de Peterson (2003); Pollock 3D = Percentual de gordura corporal avaliado pelas fórmulas de Jackson & Pollock (1978) e Jackson e cols (1980); Pollock 7D = Percentual de gordura corporal avaliado pelas fórmulas de Jackson & Pollock (1978) e Jackson e cols (1980); Durnin = Percentual de gordura corporal avaliado pela fórmula de Durnin & Wormersley (1974); BIA = Percentual de gordura corporal pela Bioimpedância elétrica; * = Valor p referente ao pós-teste ANOVA (Bonferroni). Na Tabela 5 são observadas as correlações entre o percentual de gordura corporal obtido por diferentes métodos. Verificou-se que houve forte correlação entre as diferentes equações de estimativa de gordura corporal e a BIA. 38 Tabela 5. Correlação entre o percentual de gordura corporal obtido por diferentes métodos. Métodos GCON (n = 35) GDC (n = 50) GRCU (n = 51) r* p r* p r* p Pollock 3D x Pollock 7D 0,97 < 0,001 0,95 < 0,001 0,94 < 0,001 Pollock 3D x Durnin 0,95 < 0,001 0,91 < 0,001 0,87 < 0,001 Pollock 3Dx Peterson 0,91 < 0,001 0,94 < 0,001 0,90 < 0,001 Pollock 3D x BIA 0,84 < 0,001 0,86 < 0,001 0,72 < 0,001 Pollock 7Dx Durnin 0,96 < 0,001 0,96 < 0,001 0,91 < 0,001 Pollock 7Dx Peterson 0,94 < 0,001 0,96 < 0,001 0,93 < 0,001 Pollock 7D x BIA 0,87 < 0,001 0,86 < 0,001 0,76 < 0,001 Peterson x Durnin 0,96 < 0,001 0,94 < 0,001 0,92 < 0,001 Peterson x BIA 0,96 < 0,001 0,89 < 0,001 0,84 < 0,001 Durnin x BIA 0,91 < 0,001 0,86 < 0,001 0,79 < 0,001 GCON = Grupo controle; GDC = Grupo de pacientes com Doença de Crohn; GRCU = Grupo de pacientes com Retocolite ulcerativa. Pollock 3D = Percentual de gordura corporal avaliado pelas fórmulas de Jackson & Pollock (1978) e Jackson e cols (1980); Pollock 7D = Percentual de gordura corporal avaliado pelas fórmulas de Jackson & Pollock (1978) e Jackson e cols (1980); Durnin = Percentual de gordura corporal avaliado pela fórmula de Durnin & Wormersley (1974); Peterson = Percentual de gordura corporal avaliado pela fórmula de Peterson (2003); BIA = Percentual de gordura corporal pela Bioimpedância elétrica. * = Valor r referente ao coeficiente de correlação de Pearson. Os valores médios das variáveis laboratoriais e o resultado das comparações das variáveis entre os três grupos de indivíduos podem ser observados na Tabela 6. Os pacientes com DC apresentaram menores contagens de hemácias e linfócitos quando comparados aos indivíduos do GCON (p<0,038 e p<0,002, respectivamente) e GRCU (p<0,004 e p<0,002, respectivamente). Os valores de VHS mostraram-se significativamente maiores nos pacientes com DC quando comparados aos indivíduos do GCON (p<0,013). O valor de proteínas totais foi significativamente menor nos pacientes com DC quando comparado aos com RCU (p<0,008), enquanto os valores de albumina foram significativamente menores quando comparados aos indivíduos do GCON (p<0,000) e GRCU (p<0,030). 39 Tabela 6. Valores médios das variáveis laboratoriais. GCON vs. GDC vs. GRCU GCON vs. GDC GCON vs. GRCU GDC vs. GRCU GCON GDC GRCU Variáveis (n= 35) (n= 50) (n= 51) p† p‡ P* p** p* p** p* p** Hemácias (milhões/mcl) 4,78 ± 1,23 4,41 ± 0,53 4,49 ± 0,45 0,086 0,060 0,092 0,038 0,266 0,274 1,000 0,004 Hemoglobina (g/dl) 13,62 ± 1,90 13,06 ± 1,65 12,89 ±1,43 0,123 0,185 0,388 0,075 0,135 0,204 1,000 0,911 Hematócrito (%) 39,76 ± 4,31 38,99 ± 4,44 39,03 ± 3,74 0,658 0,366 1,000 0,098 1,000 0,883 1,000 0,393 Leucócitos (mil/ µl) 6,59 ± 1,92 6,44 ± 2,30 6,26 ± 2,07 0,772 0,203 1,000 0,088 1,000 0,176 1,000 0,655 Linfócitos (%) 31,36 ± 9,02 23,03 ± 9,37 29,91 ± 8,87 0,000 0,001 0,000 0,002 1,000 0,970 0,001 0,002 Neutrófilos (%) 59,46 ± 10,31 66,42 ± 10,56 60,34 ± 10,15 0,003 0,016 0,001 0,027 1,000 0,779 0,012 0,013 VHS (mm) 17,88 ± 12,92 23,85 ± 13,09 23,76 ± 15,36 0,099 0,124 0,163 0,013 0,168 0,465 1,000 0,253 PCR (mg/dl) 0,41 ± 0,39 0,85 ± 1,05 0,59 ± 0,82 0,335 0,275 0,429 0,277 1,000 0,793 1,000 0,194 Proteínas totais (g/dl) 7,20 ± 0,50 6,88 ± 0,78 7,27 ± 0,62 0,008 0,015 0,083 0,064 1,000 0,383 0,010 0,008 Albumina (g/dl) 4,14 ± 0,36 3,75 ± 0,39 3,94 ± 0,42 0,000 0,002 0,000 0,000 0,071 0,246 0,048 0,030 Globulina (g/dl) 3,07 ± 0,41 3,132 ± 0,51 3,33 ± 0,49 0,027 0,061 1,000 0,797 0,043 0,046 0,111 0,040 Os valores são expressos como média ± desvio padrão da média. GCON = Grupo controle; GDC = Grupo de pacientes com doença de Crohn; GRCU = Grupos de pacientes com retocolite ulcerativa; VHS = velocidade de hemossedimentação; PCR = proteína C reativa; † = Valor p referente à comparação entre os três grupos estudados por ANOVA; ‡ = Valor p referente à comparação entre os três grupos estudados por ANCOVA, ajustando para sexo, idade, atividade de doença, uso atual de corticóide e prática de exercício físico; * = Valor p referente ao pós-teste ANOVA (Bonferroni); ** = Valor p referente à ANCOVA, ajustando para sexo, idade, atividade de doença, uso atual de corticóide e prática de exercício físico. 40 4 DISCUSSÃO A desnutrição tem sido frequentemente relatada em pacientes com DII, particularmente naqueles com DC ativa(41;77;78). A etiologia dessa desnutrição é multifatorial e o estado nutricional (EN) é resultado de um complexo processo fisiopatológico que inclui baixa ingestão alimentar devido a dor pós-prandial, diarreia ou anorexia, má absorção e má digestão devido à atividade de doença, ressecções intestinais prévias, assim como perdas proteicas através do intestino e estresse metabólico associado à inflamação e terapia com corticóides(79-81). A presença de desnutrição, entretanto, não é limitada aos períodos de exacerbação da doença. Mais recentemente, pesquisadores têm demonstrado alterações nos estoques de tecido adiposo, massa muscular e ossos, mesmo nos pacientes em remissão clínica(34;82;83). Enquanto a perda de peso e a baixa densidade mineral óssea são bem documentadas na DC, poucos estudos têm focado em outros componentes da composição corporal, como a massa magra e os estoques de gordura(34;42). A determinação da composição corporal tem grande importância na prática clínica e na avaliação de populações, pois pode refletir mais detalhadamente o EN desses indivíduos(34), além de permitir a associação da gordura corporal com diversas alterações metabólicas(84). Existem diversos métodos para a avaliação do EN, mas, até o momento, não há um padrão ouro para a avaliação desse grupo de pacientes(25). Dentre as técnicas utilizadas para a avaliação da composição corporal destacam-se a tomografia computadorizada, ressonância magnética, bioimpedância elétrica, dobras cutâneas, DEXA e pesagem hidrostática(85). A escolha do método a ser utilizado dependerá de quais compartimentos corporais se pretende determinar e de outros aspectos, como custo, validade, aplicabilidade do método e grau de treinamento necessário ao avaliador(63). Entre os métodos antropométricos, as dobras cutâneas são habitualmente utilizadas para a determinação do percentual de gordura corporal, devido ao baixo custo operacional e à relativa simplicidade de utilização(61;85). Existem na literatura diversas equações que utilizam as medidas de dobras cutâneas e outras medidasantropométricas, como circunferências, para determinação da composição corporal(63). 41 Neste estudo, optou-se pela utilização das equações de Durnin & Wormersley(73), Jackson & Pollock(74) e Jackson e cols(75) para a avaliação antropométrica do %GC, por serem as equações mais utilizadas no Brasil(61). Essas equações foram desenvolvidas e validadas utilizando o modelo de dois compartimentos corporais, que divide a composição corporal em massa gorda e massa livre de gordura. Com esse modelo, pressupõe-se que o nível de hidratação e o conteúdo mineral ósseo são estáveis, não considerando as alterações em função da idade, sexo e etnia(86). Como a análise de somente dois compartimentos corporais tem sido questionada(87-89), utilizou-se também a equação de Peterson(65), que se fundamenta no modelo de quatro compartimentos corporais (gordura, massa muscular, água e conteúdo mineral). Dessa forma, para a determinação de um diagnóstico nutricional mais completo, optou-se pela associação da análise de composição corporal com medidas antropométricas e parâmetros laboratoriais, uma vez que estes são rotineiramente utilizados no ambiente hospitalar e ambulatorial. Assim, a seleção de todos estes métodos levou em consideração, principalmente, o baixo custo e a praticidade de suas técnicas, tornando-os, por isso, disponíveis e adequados para o uso rotineiro, além de possuírem validação de seus resultados(65;90;91). Grande parte dos estudos que avaliaram a composição corporal em pacientes com DII utilizaram apenas pacientes com DC, comparando-os a indivíduos saudáveis(41;43;50;64;92;93), sendo pequeno o número de pesquisas que compararam, ao mesmo tempo, pacientes com DC, RCU e um grupo controle(23;25;33-35). Apesar do grande número de investigações, não há, entretanto, consenso acerca das alterações envolvendo a composição corporal destes pacientes. Por isso, neste estudo se buscou realizar abordagem mais abrangente, comparando, ao mesmo tempo, os pacientes com DC e RCU com os indivíduos saudáveis, controlando, ainda, o efeito de outros fatores, como sexo, idade, atividade de doença, uso atual de corticóide e prática atual de atividade física, que podem influenciar o EN e a composição corporal. A classificação do EN, por meio do IMC, evidenciou baixa prevalência de desnutrição nos três grupos avaliados, encontrando-se 2% no GRCU e, como esperado, maior proporção no GDC (8%). Rocha e cols (2009) observaram prevalência de desnutrição de 14% entre os pacientes com DC e de 5,7% entre os pacientes com RCU(24). Inversamente, Mijac e cols (2010), verificaram prevalência 42 substancialmente maior de desnutridos (68,4%), porém avaliaram conjuntamente os pacientes com DC e RCU, e todos se encontravam na fase ativa da doença(25). Este fato pode justificar esse achado, uma vez que na fase ativa esses pacientes apresentam sintomas mais exacerbados, como anorexia, dor abdominal e diarreia, podendo levar a menor ingestão alimentar e, consequentemente, menor peso corporal(29). Ainda em relação ao IMC, observou-se grande prevalência de excesso de peso, principalmente no GCON (54%) e no GRCU (49%), mas também entre os pacientes com DC (34%). Um aumento da prevalência de obesidade em pacientes com DII foi descrita recentemente(49). Dados de Valongueiro e cols (2005) mostraram que um terço dos pacientes com DC inativa apresentava sobrepeso, em similaridade ao grupo controle(94). Essa alteração no peso pode preceder o diagnóstico de DII, haja vista que o excesso de peso é considerado atualmente um problema de saúde pública mundial(47). Embora não haja evidência de que a obesidade altera o curso clínico da doença, há dados na literatura sugerindo que pacientes com DC e sobrepeso requerem tratamento medicamentoso mais agressivo e intervenção cirúrgica mais precoce(50). Ao serem analisadas diretamente as medidas antropométricas de peso e IMC, observou-se que apenas os pacientes com DC apresentaram-se com valores inferiores aos indivíduos do GCON, o que também foi observado por outros autores(33;43). Isto pode ser explicado, possivelmente, pelas diversas intercorrências comumente encontradas durante o curso clínico da DC, como maior acometimento do intestino delgado, com prejuízo da função absortiva e perda de nutrientes através de fístulas, além de complicações, como abcessos e estenoses(3). Mijac e cols (2010) verificaram que tanto os pacientes com DC como os com RCU apresentaram peso e IMC significativamente reduzidos em comparação aos indivíduos controles. No entanto, essa diferença não foi observada quando os dois grupos de pacientes foram comparados, provavelmente porque ambos encontravam-se na fase ativa da doença(25). Em contraposição, Jahnsen e cols (2003) encontraram valores de peso e IMC superiores nos pacientes com RCU, enquanto os mesmos parâmetros permaneceram semelhantes entre os pacientes com DC e os indivíduos saudáveis. Os autores sugeriram que o elevado IMC dos pacientes com RCU, frente aos indivíduos saudáveis, poderia estar relacionado ao seu sedentarismo(34). 43 Neste estudo, os pacientes que haviam sido submetidos a ressecções intestinais prévias não foram separados dos demais na análise dos dados. Resultados da literatura mostram que pacientes submetidos a esses procedimentos apresentam frequentemente menor peso corporal e IMC do que indivíduos saudáveis(95). Haderslev e cols (2003) observaram que o baixo peso encontrado nos pacientes submetidos a enterectomias foi predominantemente resultado de diminuição significativa na massa gorda, enquanto a redução da massa livre de gordura foi relativamente pequena e insignificante(42). A CC foi utilizada em função da sua associação com adiposidade visceral e desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. Apesar do excesso de peso encontrado na população estudada, em nenhum dos grupos a média de CC foi superior aos valores estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde(68), e os pacientes com DC apresentaram valores significativamente menores do que o GCON e GRCU. Esse resultado não condiz com o elevado percentual de excesso de peso encontrado. Entretanto, neste estudo não houve diferenciação entre sobrepeso e obesidade, podendo-se especular que o excesso de peso esteja predominantemente relacionado com sobrepeso e não, propriamente, com a obesidade. Os estoques de massa magra têm se mostrado significativamente reduzidos nos pacientes com DC, mesmo em remissão clínica(34). Dados preliminares documentaram alta prevalência de redução da massa magra em 63% dos pacientes com DC comparado a 21% nos controles(96). Ao avaliarmos a circunferência muscular do braço (CMB), os pacientes do GDC e GRCU apresentaram tecido muscular depletado em comparação aos indivíduos do GCON. Resultados semelhantes foram encontrados por Mijac e cols (2010) que avaliaram pacientes com DII em atividade. Entretanto, os pacientes com RCU apresentaram depleção superior quando comparados aos pacientes com DC. Esses autores sugeriram que os dados encontrados poderiam estar relacionados ao fato de que as deficiências nutricionais podem se desenvolver mais rapidamente nos pacientes com RCU durante períodos de atividade de doença, pois sua agudização é geralmente maior nesses pacientes(25). A avaliação da CMB também foi realizada por Capristo e cols (1998) e Valentini e cols (2008). Entretanto, ao verificarem que este parâmetro possuía boa correlação com a massa magra disponibilizada pela BIA, utilizaram apenas esta para 44 comparações entre os grupos, não mencionando diretamente os resultados de CMB(33;35). Rocha e cols (2009) utilizaram a medida da área muscular do braço (AMB) para avaliar depleção de massa muscular em pacientes com DII em atividade e durante a fase de remissão. Encontraram depleção de massa magra em ambos os grupos de pacientes durante
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