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W BA 12 20 _V 1. 0 ESTRUTURAS MISTAS DE AÇO E CONCRETO 2 Mariana de Almeida Motta Rezende Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2023 ESTRUTURAS MISTAS DE AÇO E CONCRETO 1ª edição 3 2023 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR Homepage: https://www.cogna.com.br/ Diretora Sr. de Pós-graduação & OPM Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Mariana Gerardi Mello Revisor Igor Brumano Coelho Amaral Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Rezende, Mariana de Almeida Motta Estruturas mistas de aço e concreto/ Mariana de Almeida Motta Rezende, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2023. 33 p. ISBN 978-65-5903-288-4 1. Estruturas mistas de aço e concreto 2. Cálculo estrutural 3. Construção civil I. Título. CDD 620.1 _____________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 8/10534 R467e © 2023 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. https://www.cogna.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Características das estruturas mistas de aço e concreto _____ 07 Dimensionamento de vigas mistas e conectores de cisalhamento _____________________________________________ 19 Dimensionamento de lajes mistas e pilares mistos de aço e concreto ___________________________________________________ 30 Dimensionamento de treliças mistas e ligações mistas ______ 41 ESTRUTURAS MISTAS DE AÇO E CONCRETO 5 Apresentação da disciplina Esta disciplina é muito importante dentro da engenharia de estruturas: Estruturas Mistas de Aço e Concreto. Essa técnica construtiva tem se tornado cada vez mais comum em projetos de edificações, pontes, passarelas, viadutos e outras estruturas. E isso se deve às grandes vantagens que ela oferece, como maior resistência mecânica e ao fogo e maior durabilidade, menor peso e menor tempo de construção. Nesta disciplina, você aprenderá tudo sobre essa técnica, desde a teoria até a prática. Estudará sobre o dimensionamento e o cálculo das estruturas, além de aprender sobre o comportamento delas em situações de carregamento. O mais interessante é que você poderá ver exemplos de casos reais, o que te ajudará a entender melhor como a técnica é aplicada na prática. E sabe o que mais? Ao final da disciplina, você estará preparado para projetar, calcular e detalhar estruturas mistas de aço e concreto, seguindo as normas técnicas e as exigências do mercado. Isso te tornará um profissional ainda mais completo e preparado para atuar em projetos de grande complexidade, como a construção de pontes e viadutos. Além disso, é importante lembrar que a demanda por engenheiros civis especializados em estruturas mistas de aço e concreto tem crescido muito nos últimos anos. Então, a formação nessa área é uma excelente oportunidade para você se destacar no mercado de trabalho e conquistar boas oportunidades profissionais. 6 Enfim, espero ter te convencido da importância dessa disciplina para a sua formação como engenheiro civil especializado em estruturas. Vamos juntos caminhar para que você tenha a melhor experiência possível! 7 Características das estruturas mistas de aço e concreto Autoria: Mariana de Almeida Motta Rezende Leitura crítica: Igor Brumano Coelho Amaral Objetivos • Compreender o que são estruturas mistas de aço e concreto. • Entender as vantagens do uso desse tipo de estrutura. • Saber caracterizar estruturas mistas de aço e concreto. • Entender como se comportam os elementos mistos de aço e concreto. 8 1. Introdução Você aprenderá sobre as características das estruturas mistas de aço e concreto, que serão chamadas, aqui, apenas de “estruturas mistas” ou “construções mistas”, para simplificar o aprendizado. Embora não sejam cotidianamente tratadas no âmbito da Engenharia Civil no Brasil, essas estruturas foram utilizadas pela primeira vez há mais de um século nos Estados Unidos da América (EUA). Quando surgiram, as construções mistas eram compostas por uma viga com forma de aço preenchida com concreto. Por essa introdução, você consegue imaginar qual foi o problema inicial que acometeu o uso das estruturas mistas? Pois bem, logo foram identificados problemas de interação entre o aço e o concreto. Por isso, para garantirmos que uma estrutura mista funcione como um bloco único de aço e concreto, precisamos garantir também que não haja deslizamento entre esses materiais. Então, um tempo depois, um engenheiro dos EUA desenvolveu conectores de cisalhamento para evitar esse deslizamento, possibilitando a continuação das construções mistas. Atualmente, já sabemos que a interação concreto-aço pode ser obtida por meios: • Mecânicos: com conectores, mossas, ressaltos. • De atrito: fôrmas de aço com cantos reentrantes. • De aderência: por repartição de cargas em pilares mistos sujeitos apenas à força normal de compressão. Mas, retornando à situação histórica das estruturas mistas, você pode estar se perguntando qual a razão do surgimento das primeiras 9 estruturas mistas. Elas surgiram para superarem os problemas de resistência ao fogo e de estabilidade das seções ao longo do carregamento em estruturas de aço. Em conjunto, o aço e o concreto atuam de forma composta para resistir à força axial e aos momentos fletores, além de terem também boa resistência em situações de incêndio (UY; LIEW, 2003). Logo, percebeu-se também que pilares tubulares de estruturas mistas poderiam ser utilizados para reduzir o tempo de construção em obras de concreto armado. Consegue imaginar o motivo? Se você pensou que o perfil de aço pode ser utilizado como forma, evitando a montagem de formas de madeira, acertou. Além de reduzir o tempo de construção, é possível também extinguir o custo da obra que adviria das formas, dos reforços laterais e das amarrações, além de reduzir o custo da mão de obra. Recentemente, as lajes de estruturas mistas começaram a ser utilizadas porque fornecem reforço permanente e integral para o concreto. Da mesma maneira que para os pilares tubulares, isso despensa o uso de formas. Em resumo, as vantagens para o uso de estruturas mistas podem ser observadas tanto em relação às estruturas de concreto armado quanto em relação às estruturas metálicas. Em relação ao concreto armado, as estruturas mistas são vantajosas por: • Dispensar fôrmas e escoramentos. • Reduzir o prazo de execução da obra (referente à montagem de fôrmas e escoramentos). • Diminuir o peso próprio e o volume da estrutura. • Reduzir os custos da obra. • Fornecer maior precisão dimensional à estrutura. 10 Já em relação às estruturas metálicas, as estruturas mistas são vantajosas por: • Diminuir o consumo de aço estrutural. • Diminuir o custo, devido à diminuição do consumo de aço. • Reduzir a necessidade de proteções contra incêndio. • Aumentar a rigidez da estrutura. Atualmente, os pilares mistos são utilizados com um perfil de aço em forma de H, revestido total ou parcialmente com concreto. Nas vigas mistas, normalmente, são utilizadosperfis de aço em forma de I, que trabalham com uma laje de concreto sobreposta, propiciando união mecânica (com uso de dispositivos apropriados). Especificamente nas lajes mistas, normalmente, são utilizadas formas de aço conformadas a frio com seção trapezoidal na face inferior da laje, trabalhando como armadura positiva. Uma obra realizada completamente com estrutura mista pode ser observada na fotografa da Figura 1. Nessa figura, enfatizam-se os elementos mistos: pilares, vigas e laje. Figura 1 – Exemplo de obra feita em estrutura mista de aço e concreto Fonte: adaptada de Fakury, Silva e Caldas (2016, p. 3). 11 Segundo Fakury, Silva e Caldas (2016), o projeto de estruturas mistas é feito com base em um dimensionamento que priorize que: • As áreas preenchidas com concreto trabalhem à compressão, uma vez que o concreto resiste bem à compressão e mal à tração. • Os perfis de aço trabalhem predominantemente à tração, isentando-os de problemas de instabilidade, exceto em casos de pilares mistos. No caso de pilares mistos, é adequada a utilização de armadura longitudinal (conforme a Figura 1), a qual é formada por barras redondas nervuradas. Nesse caso, a contribuição da armadura longitudinal também é acrescentada à capacidade resistente do pilar. Similarmente aos pilares em concreto armado, em pilares mistos também são utilizados estribos (armadura transversal) em volta da armadura longitudinal, para resistir ao cisalhamento e posicionar esta armadura. No Brasil, a norma que rege o dimensionamento de projetos de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto para edifícios é a NBR 8800 (ABNT, 2008). Com base nessa norma e em estudos científicos acerca do dimensionamento e do entendimento do comportamento de estruturas mistas, agora, você está apto a entender como é o funcionamento estrutural de elementos mistos de aço e concreto. Vamos lá? 2. Elementos estruturais mistos de aço e concreto Neste capítulo, você entenderá qual é o comportamento estrutural dos elementos (lajes, vigas e pilares) separadamente. 12 2.1 Lajes mistas As lajes mistas de aço e concreto são conhecidas como “lajes com fôrma incorporada”, pois consistem, naturalmente, de uma fôrma de aço nervurada que acomoda o concreto. A aderência entre o aço e o concreto é obtida por meio de reentrâncias no perfil de aço. Um exemplo desse tipo de laje mista pode ser observado na Figura 2. Você consegue perceber por esta figura como é feita a interação aço-concreto? Figura 2 – Esquema de laje mista de aço e concreto Fonte: adaptado de Metform (2023, p. 3). Observe que o concreto se adere às reentrâncias da laje, possibilitando uma amarração entre ambos. Além disso, para evitar fissuras no concreto, este é armado com uma tela soldada de aço, posicionada acima do perfil de aço. Podem ser citadas diversas vantagens entre o uso das lajes mistas e as lajes convencionais, tais como: • Facilidade de instalação: diferentemente do concreto armado moldado in loco, as lajes mistas são chapas de aço fabricadas, 13 ou seja, prontas para serem instaladas, restando apenas o lançamento do concreto após sua instalação. • Dispensa de escoramento e fôrma: as chapas de aço já são utilizadas como fôrmas, dispensando a necessidade de montagem e desmontagem de fôrmas e escoramentos em obra. Automaticamente, aumenta-se a velocidade construtiva da obra. • Possibilidade de a fôrma de aço funcionar como plataforma para os serviços: como essas fôrmas têm formato de chapas, os operários podem utilizá-la para circular sobre ela e, ainda, acabam por proteger os operários que estão nos pavimentos inferiores. Mas, claro que tudo na vida tem pontos positivos e negativos. Você consegue imaginar como fica o design dessa laje? Pois é, não é muito bonito. Por isso, as lajes mistas, normalmente, demandam a instalação de forros. Além disso, como são um sistema construtivo diferente das estruturas de concreto armado ou das estruturas metálicas, podem demandar vigas secundárias perpendiculares às mossas das chapas de aço para suportarem a laje. 2.2 Vigas mistas O conceito de viga mista de aço e concreto pode parecer um pouco diferente do conceito de laje mista. É que, neste caso, a viga não será um perfil de aço preenchido com concreto. As vigas mistas caracterizam- se por serem um perfil de aço que atua em conjunto com uma laje de concreto. Para que haja essa interação entre aço e concreto, são necessários conectores de cisalhamento, cujo material é aço também. Geralmente, as vigas mistas de aço e concreto são bi apoiadas, submetidas à ação da gravidade estática. O perfil convencional é o perfil tipo I de alma cheia e fletida em relação ao eixo x. A laje fica situada na face superior do perfil. Com essa conformação construtiva, os edifícios 14 usuais tendem a ter um perfil de aço mais leve e com menor altura de seção transversal se comparadas às estruturas metálicas convencionais. A Figura 3 traz um esquema de viga mista de um perfil de aço tipo I, com alma cheia, que atua em conjunto com uma laje de concreto por meio de conectores de cisalhamento. Figura 3 – Esquema de viga mista de aço e concreto Fonte: adaptado de Fakury, Silva e Caldas (2016, p. 395). Existem algumas especificações tanto para os perfis de aço em I quanto para a laje de concreto. Vamos ver quais? Para os perfis de aço em I, estes devem ser: • Simétricos em relação ao eixo da linha média da alma (eixo y-y da Figura 3). • Laminados ou soldados. 15 • Simétricos no eixo perpendicular à alma (eixo x-x da Figura 3) com as mesas com as mesmas dimensões. • Assimétricos no eixo perpendicular à alma (eixo x-x da Figura 3) com a mesa superior de área menor que a mesa inferior para reduzir o consumo de aço, já que a mesa superior atuará em conjunto com a laje de concreto. Para as lajes de concreto, estas podem ser: • Moldadas in loco e maciças. • Mistas de aço e concreto (como apresentado no item 2.2). • Pré-lajes pré-fabricadas. Nesse caso, são posicionadas sobre a face superior do perfil de aço por meio de conectores de cisalhamento, com um concreto moldado in loco preenchendo os espaços vazios entre a laje e a mesa superior da viga. Garantindo essas especificações e o correto dimensionamento e procedimento construtivo, as vigas mistas podem ser uma excelente escolha estrutural para a construção civil. 2.3 Pilares mistos Os pilares mistos de aço e concreto são predominantemente de dois tipos, conforme você pode observar na Figura 4. À esquerda, pode ser observado um pilar em perfil de aço em I, armaduras longitudinais e transversais de aço em vergalhões e totalmente revestido com concreto. À direita, pode ser observado um pilar com perfil de aço em I com armaduras longitudinais e transversais de aço em vergalhões parcialmente revestido com concreto. 16 Figura 4 – Tipos de pilares mistos de aço e concreto totalmente revestido com concreto (à esquerda) e parcialmente revestido com concreto (à direita) Fonte: adaptada de Fakury, Silva e Caldas (2016, p. 453). Outros tipos de perfis podem ser encontrados também, como os perfis tubulares, que são perfis de aço de seção quadrada ou cilíndrica ocas. O interior é preenchido com concreto armado. Em relação aos pilares de aço, os pilares mistos apresentam vantagens interessantes. Quer saber quais? Especialmente, maior proteção ao fogo e à corrosão. Em relação aos pilares de concreto armado, os pilares mistos garantem uma maior capacidade resistente, já que podem ter dimensões reduzidas na seção transversal. Além disso, por apresentarem um perfil de aço ao longo de toda seção longitudinal, são elementos mais dúcteis que o concreto armado. Diferentemente das lajes e vigas mistas, os pilares mistos podem ser concretados de duas maneiras: • Em pilares em perfil I totalmente revestidos em concreto: a concretagem é feita após a montagem do perfil de aço. • Em pilares com perfil I parcialmente revestidos em concreto:a concretagem é feita em duas etapas, uma antes da locação do 17 perfil I, preenchendo um lado do pilar, e outra após a locação do perfil I, acabando de preencher o perfil. Neste último caso, você consegue perceber um requisito importante a se considerar? É muito importante que o perfil de aço resista isoladamente às ações do concreto, pelo menos até que ele atinja 75% de sua capacidade resistente à compressão, já que os concretos frescos não possuem resistência. 3. Considerações finais Parabéns por ter chegado ao final deste capítulo, aluno! Viu como as estruturas mistas de aço e concreto são uma solução competitiva em relação a outros sistemas estruturais? Ao final desta jornada, quero que você se lembre de alguns pontos importantes: 1. Para que você tenha uma estrutura mista de aço e concreto, é necessário um perfil de aço associado ao concreto. 2. Estruturas mistas de aço e concreto são muito vantajosas, especialmente por dispensarem fôrmas e escoramentos, reduzindo custos e tempo de construção. 3. Lajes mistas são compostas por chapas de aço com reentrâncias, preenchidas com concreto. 4. Vigas mistas, normalmente, são compostas por vigas em perfil I e lajes de concreto, unidas por conectores de cisalhamento. 5. Pilares de concreto, normalmente, são feitos com um perfil I preenchido completamente ou parcialmente por concreto. 18 Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8800. Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro, RJ: ABNT, 2008. FAKURY, R. H.; SILVA, A. L. C.; CALDAS, R. B. Dimensionamento de elementos estruturais de aço e concreto. São Paulo, SP: Pearson Education Brasil, 2016. METFORM. Steel deck. 2023. Disponível em: https://api.aecweb.com.br/cls/ catalogos/metform/steel_deck_metform[1].pdf. Acesso em: 23 mar. 2023. UY, B.; LIEW, J. Y. R. Composite Steel – Concrete Structures. In: CHEN, W. F. The civil Engeneering Handbook. London: CRC PRESS, 2003. p. 1919-1980. https://api.aecweb.com.br/cls/catalogos/metform/steel_deck_metform[1].pdf https://api.aecweb.com.br/cls/catalogos/metform/steel_deck_metform[1].pdf 19 Dimensionamento de vigas mistas e conectores de cisalhamento Autoria: Mariana de Almeida Motta Rezende Leitura crítica: Igor Brumano Coelho Amaral Objetivos • Compreender o que é uma viga mista de aço e concreto. • Entender o comportamento estrutural de uma viga mista de aço e concreto. • Saber como dimensionar uma viga mista de aço e concreto. • Entender como funcionam os conectores de cisalhamento. • Saber dimensionar os conectores de cisalhamento. 20 1. Introdução As vigas mistas de aço e concreto são compostas por uma viga em perfil de aço (normalmente, do tipo I com alma cheia) conectada por um conector de cisalhamento à laje de concreto. Dessa maneira, esses dois elementos trabalham solidariamente para resistir ao momento fletor. Para facilitar a leitura, a partir deste momento, sempre que você ler “viga mista”, entenda que é uma viga mista de aço e concreto, ok? Aqui, você aprenderá a dimensionar as vigas mistas e os conectores necessários para unir o perfil de aço à laje de concreto conforme a NBR 8800 (ABNT, 2008). O foco será nas vigas mistas biapoiadas submetidas a ações gravitacionais estáticas com viga I de alma cheia e simétricas em relação ao eixo perpendicular à alma, sobre a qual se apoia na face superior da laje de concreto. Os perfis de aço não devem ter alma esbelta, portanto, seguindo a condição estabelecida por norma: , na qual h é a altura da alma, tw a espessura da alma, Ea e fy o módulo de elasticidade e a resistência ao escoamento do aço, respectivamente. Já as lajes de concreto podem ser maciças, mistas de aço e concreto ou pré-moldadas. Sua resistência de cálculo (fcd) deve ser: , na qual fck é a resistência característica à compressão e (ponderação de resistência do concreto). A largura efetiva da laje, de cada lado do centro da viga, deve ser menor ou igual aos seguintes valores: • do vão da viga mista, considerado entre linhas de centro dos apoios. 21 • Metade do comprimento entre a linha de centro da viga analisada e a linha de centro da viga adjacente (ou o comprimento entre a linha central da viga à borda de uma laje em balanço). 2. Vigas mistas de aço e concreto Neste capítulo, você entenderá como é feito o dimensionamento de vigas mistas, iniciando com o estudo sobre os conectores de cisalhamento. 2.1 Conectores de cisalhamento Os tipos de conectores mais comuns utilizados em edifícios são os pinos de cabeça (stud bolt) e os conectores de perfil U laminados ou formados a frio. Começando pelos pinos com cabeça, eles são padronizados e comercializados com diâmetros de 19 mm (mais utilizado) e 22 mm. Os pinos de cabeça são soldados pelo processo automático de eletrofusão diretamente na mesa do perfil de aço ou através da fôrma de aço da laje mista. Após a instalação, os pinos devem possuir comprimento mínimo igual a quatro vezes o diâmetro, para que possam ser considerados dúcteis. Os pinos são submetidos a um esforço horizontal e um na cabeça devido ao deslizamento relativo entre o concreto da laje e o perfil de aço que evitam. Como consequência de o fuste do conector estar submetido predominantemente à tração, este provoca tensões no concreto que possibilitam a ocorrência de estados de ruptura do conector por tração e ruptura do concreto por esmagamento ou fendilhamento. Por isso, a força horizontal resistente de cálculo do conector (QRd) é dada por: 22 O primeiro valor é a ruptura do conector por tração, e o segundo, a ruína do concreto por esmagamento ou fendilhamento. Nessas equações, γcs é o coeficiente de ponderação da resistência do conector (considerado como 1,25), Acs é a área da seção transversal do fuste do conector, fucs é a resistência à ruptura do aço do conector e Ec é o módulo de elasticidade do concreto. Rg é o coeficiente de ajuste dos conectores e Rp é o coeficiente para consideração da posição do conector, que constam na NBR 8800 (ABNT, 2008). Agora, sobre os conectores em perfil U, estes devem ter altura de seção transversal igual ou maior que 75 mm e só devem ser utilizados em casos de lajes maciças. Sua instalação é feita em uma mesa assentada sobre o perfil de aço da viga mista e com o plano da alma perpendicular ao eixo longitudinal desse perfil. Normalmente, a soldagem do conector ao perfil de aço é feita antes da montagem. O comportamento do conector de perfil U é similar ao do pino de cabeça, mas com a força resistente de cálculo dada por: , na qual tfcs é a espessura média das mesas, twcs é a espessura da alma e Lcs é o comprimento do conector. Com o uso de conectores, existem dois casos possíveis de ocorrerem: 1. quando o número de conectores é suficiente para impedir totalmente o deslizamento relativo na superfície de contato entre o aço e o concreto; 2. quando o número de conectores é suficiente para impedir parcialmente esse deslizamento relativo. Nesses casos distintos, como você pode observar na Figura 1, há deformações diferentes quando a interação é completa e quando é parcial. 23 Figura 1 – Deformação da viga mista com interação completa e interação parcial entre o perfil de aço e a laje de concreto Fonte: adaptado de Fakury, Silva e Caldas (2016, p. 405). Você pode estar se perguntando qual a vantagem de uma interação parcial na viga mista. O fato é que elas são mais econômicas, pois possibilitam diminuir o número de conectores sem que haja redução significativa do momento resistente na viga. Um valor , em que QRd é a força resistente de cálculo de um conector de pinos de cabeça e Fhd é o esforço horizontal de cálculo, denominado grau de interação da viga, pode ser determinado para saber se a viga tem interação completa ou parcial. Os limites do grau de interação podem ser encontrados no Anexo Q da NBR 8800 (ABNT, 2008), na qual também podem ser encontrados detalhes sobrea distribuição dos conectores de cisalhamento. 2.2 Dimensionamento à flexão Nas vigas mistas, não pode acontecer flambagem lateral com torção (FLT), já que a mesa superior do perfil de aço está ligada à laje em toda sua extensão pelos conectores de cisalhamento. A flambagem local da 24 mesa (FLM) também não pode chegar ao estado-limite último (ELU), já que o principal elemento de resistência às tensões de compressão é a laje de concreto. Portanto, o ELU das vigas mistas está associado à flambagem local da alma (FLA) do perfil de aço, que depende da altura (h) e da espessura da alma (tw), conforme a relação: . Esse limite é característico dos perfis I duplamente simétricos. No caso de serem monossimétricos, pode ocorrer flambagem local da alma em regime elastoplástico, conforme a relação: . Como é natural dos dimensionamentos, o momento fletor solicitante de cálculo (MSd) tem de ser menor ou igual ao momento fletor resistente de cálculo (MRd). Para determinar o MRd, devemos separá-los em duas condições, conforme você pode observar a seguir: 1. Vigas mistas com e interação completa: a. Linha neutra plástica na laje: Tad – força resistente de cálculo do perfil de aço totalmente tracionado ( ), com Aa sendo a área total de aço. d1 – distância do centro geométrico do perfil de aço até a face superior. hf – distância entre a mesa e a laje (hf=0 em lajes maciças). tc – altura de concreto. b. Linha neutra plástica no perfil de aço: 25 d – altura total do perfil de aço. yt – distância do centro geométrico da parte. 2. Vigas mistas com e interação parcial ( : 3. Vigas mistas com e interação completa ( : Wrt,i e Wtr,s – módulos resistentes elásticos das faces inferior e superior da seção mista homogeneizada, respectivamente. αE – correção do valor do momento resistente de cálculo. Parece muito complexo, mas você verá que são cálculos simples de serem realizados se você entender o comportamento mecânico das vigas mistas. 2.3 Dimensionamento à força cortante Assim como para o dimensionamento à flexão, o dimensionamento à cortante deve ser tal que a força cortante resistente de cálculo (VRd) seja igual ou maior que a força cortante solicitante de cálculo (VSd). Para calcular a força cortante resistente, pode ser considerado apenas o perfil de aço, ou seja, é um dimensionamento à força cortante para estruturas metálicas de perfil de aço com seção tipo I, encontrado no item Q.3.1.2.1 do Anexo Q da NBR 8800 (ABNT, 2008). 26 2.4 Armadura de costura Atuando sobre a interface entre o aço e o concreto existe um esforço horizontal (Fh) transferido pelos conectores. O Fh provoca cisalhamento na laje de concreto na direção paralela à viga e ao perfil de aço. Para evitar ruptura da laje na região próxima ao aço, há necessidade de se utilizar um tipo de armadura que evite a ruptura por cisalhamento. A essa armadura dá-se o nome de armadura de costura, devido ao seu formato final (Figura 2). Figura 2 – Posição da armadura de costura para evitar ruptura da laje por cisalhamento Fonte: adaptado de Fakury, Silva, Caldas (2016, p. 417). Para evitar a ruptura na laje, é necessário que o esforço horizontal transferido por unidade de comprimento de cada lado da viga resistente de cálculo (Hv,Rd) seja maior que o solicitante de cálculo (Hv,Sd). Para calcular esses esforços, veja as equações a seguir: ; Nas quais: 27 nm – número de conectores situados no comprimento Lm. Acv – área de cisalhamento do concreto no plano considerado. , com e em Mpa. As – área da armadura transversal ao eixo da viga disponível na laje. AF – área da fôrma de aço no plano de cisalhamento. fys, fyF e fck – resistências ao escoamento dos aços da armadura e da fôrma e resistência característica do concreto à compressão, respectivamente. γa, γc e γs – coeficientes de ponderação da resistência do aço estrutural (1,10; 1,40 e 1,15, respectivamente). As barras de aço da armadura de costura devem cumprir os seguintes requisitos: • Pelo menos, 150 mm²/m. • Sua área de seção não pode ser inferior a 0,2% da área de seção de cisalhamento do concreto de lajes mistas com nervuras paralelas ao perfil de aço e de lajes pré-moldadas. • Não pode ser inferior a 0,1% da área de seção de cisalhamento do concreto de lajes mistas com nervuras perpendiculares ao perfil de aço. • Possuir diâmetro de até 32 mm. • Ter comprimento mínimo, do eixo vertical do perfil de aço, igual a: 28 Nesse caso, deve-se cumprir também: O é o diâmetro das barras da armadura, que tem valor máximo de 1/8 da altura total da laje (para laje maciça), da altura acima das nervuras (para laje com fôrma incorporada) e da altura acima da pré-laje (para pré-lajes de concreto). Essas armaduras devem estar dispostas com espaçamento que seja o maior entre os seguintes valores: • 20 mm. • Diâmetro das barras. • 1,2 vezes o diâmetro máximo do agregado graúdo (normalmente, brita 1 em lajes). Uma observação importante é que, se a borda da laje se situar além da mesa do perfil de aço, a ancoragem da armadura para evitar a ruptura do plano interno da laje deve ter detalhamento diferenciado, com uma curva na extremidade. O cobrimento de concreto deve ser igual ao estabelecido pela classe de agressividade ambiental, dependendo do tipo de ambiente, conforme estabelece a NBR 6118 (ABNT, 2014). Você consegue pensar em mais um assunto muito importante em vigas mistas? Se você pensou na corrosão, acertou. Para evitá-la, todos os tipos de conectores devem ficar completamente embutidos no concreto da laje, respeitando o cobrimento de concreto mínimo de 25 mm, conforme a norma estabelece. O concreto protege o aço da corrosão, assim como faz no caso de estruturas de concreto armado. 29 3. Considerações finais Parabéns por ter chegado ao final deste capítulo, aluno! Aqui, você aprendeu a importância dos conectores de cisalhamento, seus tipos, seu dimensionamento e seu detalhamento. Além disso, aprendeu a dimensionar a própria viga mista em si, levando em consideração que o perfil de aço e a laje de concreto podem ter uma interação completa ou parcial. Para ambos os casos, deve-se considerar as solicitações de flexão e de esforços cortantes na viga mista. Por fim, você entendeu a importância da armadura de costura, uma armadura transversal, que impede a ruptura por cisalhamento que poderia ocorrer no plano de interface do perfil de aço com a laje de concreto. Muita coisa, não é mesmo? Então, não se esqueça de realizar os exercícios para consolidar seus conhecimentos. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8800. Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro, RJ: ABNT, 2008. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118. Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, RJ: ABNT, 2014. FAKURY, R. H.; SILVA, A. L. C.; CALDAS, R. B. Dimensionamento de elementos estruturais de aço e concreto. São Paulo, SP: Pearson Education Brasil, 2016. 30 Dimensionamento de lajes mistas e pilares mistos de aço e concreto Autoria: Mariana de Almeida Motta Rezende Leitura crítica: Igor Brumano Coelho Amaral Objetivos • Compreender o comportamento de lajes mistas de aço e concreto. • Saber como dimensionar lajes mistas de aço e concreto. • Compreender o comportamento de pilares mistos de aço e concreto. • Saber como dimensionar pilares mistos de aço e concreto. 31 1. Introdução Você aprenderá sobre o comportamento estrutural de lajes mistas de aço e concreto (denominadas, aqui, de lajes mistas) e como dimensioná- las. Da mesma maneira, aprenderá também sobre o comportamento estrutural de pilares mistos de aço e concreto (denominados, aqui, de pilares mistos) e como dimensioná-los. Desejo que você tenha uma ótima jornada de conhecimento por esses assuntos! 2. Lajes mistas de aço e concreto As lajes mistas são também denominadas lajes com fôrma incorporada, pois são constituídas,normalmente, por uma chapa de aço nervurada (utilizada como fôrma), sobre a qual é lançado o concreto. Para que isso seja possível, a fôrma de aço deve ser capaz de suportar sozinha o peso do concreto em sua fase inicial, ou seja, até que ele atinja 75% de sua resistência característica à compressão (fck). Após esse período, na fase final, tanto a fôrma de aço quanto o concreto atuarão em conjunto para resistirem às cargas da estrutura. Esse tipo de laje apresenta diversas vantagens em sua utilização, especialmente, a dispensa de escoramento e fôrmas para o concreto, já que ambas as funções são realizadas pelo perfil de aço. Veja nos próximos itens quais são os materiais das lajes mistas e como é realizado seu dimensionamento. 2.1 Materiais As fôrmas de aço devem ser trapezoidais ou reentrantes. Isso é suficiente para promover o comportamento misto nas fôrmas reentrantes (Figura 1). Entretanto, nas fôrmas trapezoidais, não garante 32 o comportamento misto do aço com o concreto. Para isso, é necessário que essas fôrmas apresentem mossas para assegurar a lidação adequada. Figura 1 – Tipos comuns das lajes mistas de aço e concreto Fonte: ABNT (2008, p. 211). No Brasil, os fabricantes de fôrmas trapezoidais, as mais utilizadas, fornecem fôrmas com altura nominal das nervuras (hF) entre 50 mm e 75 mm, possibilitando uma altura total de laje (ht) entre 100 mm e 200 mm. Essas fôrmas devem ser fabricadas com chapas finas de aço estrutural, conforme a NBR 14762 (ABNT, 2010). O concreto sobre a fôrma deve ter altura mínima (tc) de 50 mm acima do topo das nervuras. A Figura 2 apresenta as dimensões da fôrma de aço e da laje de concreto para as lajes mistas mencionadas. Figura 2 – Dimensões da fôrma de aço e da laje de concreto trapezoidal (a) e reentrante (b) (a) (b) Fonte: ABNT (2008, p. 215). 33 Por essa figura, você pode perceber que existem algumas diferenças no dimensionamento de lajes trapezoidais e reentrantes, não é mesmo? Então, analisaremos melhor essa questão. 2.2 Dimensionamento Os procedimentos de dimensionamento das lajes mistas são dados pela NBR 8800 (ABNT, 2008). Na fase inicial, a fôrma de aço deve resistir isoladamente às ações atuantes durante a construção, tais como: 1. peso próprio do concreto fresco, da fôrma de aço, da tela soldada para evitar fissuração e de armaduras adicionais; 2. sobrecarga de construção, tomada como 1 kN/ m²; 3. efeito de empoçamento, no caso de o deslocamento no centro do vão da fôrma, calculado como o seu peso próprio somado ao do concreto fresco, ultrapasse o valor de LF/250 (LF é o vão teórico da laje na direção das nervuras). Na fase final, o carregamento é sustentado totalmente pela fôrma de aço trabalhando em conjunto com o concreto. Neste caso, para o dimensionamento, são aplicados os estados limites últimos: 1. plastificação de uma linha da laje na direção perpendicular às nervuras pela ação do momento fletor (denominada charneira plástica) em um mecanismo similar à formação da rótula plástica de vigas de aço e vigas mistas de aço e concreto; 2. colapso e cisalhamento vertical, causado pela força cortante; 3. colapso por cisalhamento longitudinal (na direção das nervuras), causado pela força cortante. O dimensionamento para resistência quanto à força cortante resistente de cálculo para o estado limite último (ELU) de colapso por cisalhamento é feito conforme a NBR 8800 (ABNT, 2008), mas é necessário encontrar os parâmetros m e k, que são determinados experimentalmente. O parâmetro “m” representa a relação entre a inércia da laje mista e a inércia da laje equivalente de concreto, ou seja, é uma medida da 34 eficiência da laje mista em relação à laje de concreto. Já o parâmetro “k” representa a relação entre a rigidez da laje mista e a rigidez da laje equivalente de concreto, ou seja, é uma medida da capacidade da laje mista de suportar cargas sem deformação excessiva. Esses parâmetros são importantes porque permitem que a laje mista seja dimensionada de forma mais precisa, levando em consideração as propriedades e os comportamentos específicos dos materiais envolvidos. Com o uso desses parâmetros, é possível otimizar o design da laje mista para garantir uma estrutura segura e eficiente. Em resumo, os fabricantes que fornecem as fôrmas de aço devem normalmente disponibilizar tabelas de dimensionamento que já apresentem esses parâmetros calculados. Da mesma maneira é feito para o estado-limite de serviço (ELS), mas desconsiderando a sobrecarga de construção. 3. Pilares mistos de aço e concreto Os pilares mistos são compostos por um perfil de aço e por concreto armado. Normalmente, são utilizados pilares totalmente revestidos (com perfil I) e parcialmente revestidos com concreto (com perfil H), solicitados exclusivamente pela força axial de compressão decorrente de ações estáticas. O concreto deve ser composto por armadura longitudinal e transversal (estribos). A seguinte condição deve ser obedecida para o dimensionamento de pilares mistos: Nc,Sd é a força axial de compressão solicitante de cálculo e Nc,Rd, a força axial de compressão resistente de cálculo. Essas forças axiais são descritas na NBR 8800 (ABNT, 2008) pelo método simplificado. 35 3.1 Hipóteses de dimensionamento Para que possa ser utilizado o método simplificado, algumas hipóteses básicas precisam ser verificadas: 1. o perfil de aço e o concreto trabalham em conjunto, sem escorregamento relativo significativo na superfície do concreto (interação entre aço e concreto completa); 2. as imperfeições iniciais são consistentes com aquelas adotadas na determinação da força axial de compressão resistente das barras de aço submetidas à compressão axial; 3. o perfil de aço do pilar misto não sofre flambagem local, sendo que, nos pilares totalmente revestidos com concreto, os cobrimentos de concreto nas duas direções, cx e cy, devem ser suficientes para impedir a ocorrência do fenômeno: ; ; Figura 4 – Tipos comuns de seções transversais de pilares mistos Fonte: ABNT (2008, p. 197). bf e tf são largura e espessura da mesa, respectivamente, e Ea e fy são o módulo de elasticidade e a resistência ao escoamento do aço. As dimensões mencionadas podem ser observadas na Figura 4. 36 3.2 Requisitos de projeto Alguns requisitos de projeto são importantes de serem considerados. Vamos conhecer quais são eles? 1. Quanto à seção transversal, os pilares mistos devem: a. Ser invariáveis ao longo do comprimento do pilar e possuir simetria dupla. b. Ter razão entre altura (hc) e largura (bc) entre 0,2 e 5,0. c. Ter cobrimento conforme as inequações a seguir, no caso de pilares totalmente revestidos: e , em que bf e d são a largura da mesa e a altura do perfil de aço, respectivamente. 2. Quanto às armaduras longitudinais (itens de “a” a “d”) e transversais (item “e”), os pilares mistos: a. Devem ter seção transversal mínima de 0,3% da área do concreto com diâmetro mínimo de 10 mm e máximo de 1/8 da menor dimensão do pilar. b. Devem ter espaçamento livre entre faces igual ou superior ao maior dos seguintes valores: 20 mm, diâmetro das barras ou 1,2 vezes a dimensão máxima do agregado graúdo. Esses mesmos valores devem ser observados entre a face de uma barra da armadura e a face mais próxima do perfil de aço. c. Devem ter espaçamento máximo entre os eixos da barra da armadura longitudinal inferior ou igual a duas vezes a menor dimensão da seção transversal sem exceder 400 mm. d. Devem ter barras de armadura longitudinal próxima de cada vértice nos pilares totalmente revestidos e pelo menos uma 37 barra próxima de cada extremidade da mesa do perfil de aço nos pilares parcialmente revestidos. e. Devem ter armadura transversal ao longo de toda extensão, com diâmetro mínimo igual ao maior valor entre 5 mm ou ¼ do diâmetro das barras da armadura longitudinal. Os espaçamentos entre os estribos devem ser iguais ao item “b”. 3. Quanto à concretagem, os pilares mistossão diferentes dependendo do revestimento: a. Totalmente revestido com concreto: concretagem feita depois da montagem do perfil de aço. b. Parcialmente revestido com concreto: concretagem tanto antes, para aproveitar a fôrma natural da mesa e da alma, quanto depois da montagem do perfil de aço. 4. Quanto ao fator de contribuição do perfil de aço (relação entre a força axial resistente de cálculo do aço e força axial resistente de cálculo da seção transversal mista), os pilares mistos devem: a. Ter fator de contribuição entre 0,2 e 0,9. b. Ser calculados como concreto armado caso o fator de contribuição seja igual ou inferior a 0,2. 3.3 Dimensionamento O dimensionamento dos pilares mistos depende do cálculo da força axial de compressão resistente de cálculo, o que acontece sempre em dimensionamento de pilares, não é mesmo? A diferença é que, no comportamento misto de pilares, conforme a NBR 8800 (ABNT, 2008), precisa-se garantir que não ocorra flambagem local do perfil de aço, 38 considerando-se apenas a instabilidade global por flexão. Portanto, a força axial de compressão resistente de cálculo é dada por: Em que Npl,Rd é a força axial resistente de cálculo na seção transversal à plastificação total e χ é o fator de redução associado à resistência à compressão, obtido pela equação: , se ou , se , em que Npl,Rk é a força axial resistente nominal da seção transversal à plastificação total e Ne é a menor força axial de flambagem elástica, entre as forças que provocam flambagem em relação aos eixos x e y da seção transversal, como você pode observar a seguir: KL é o comprimento de flambagem do pilar e (EI)e é a rigidez efetiva à flexão da seção mista, que pode ser calculada por: Ea é o módulo de elasticidade do aço estrutural; Ia é o momento de inércia da seção transversal do perfil de aço em relação ao eixo de flexão na flambagem; Ic é o momento de inércia da seção transversal do concreto em relação ao eixo de flexão na flambagem; Es é o módulo de elasticidade do aço da armadura; Is é o momento de inércia da seção transversal da armadura em relação ao eixo de flexão na flambagem e, por fim, Rc,red é o módulo de elasticidade reduzido desse material, considerando-se o efeito da fluência, podendo ser calculado por: 39 O módulo de elasticidade do concreto é Ec, o coeficiente de fluência do concreto é φ, o valor da força axial de compressão solicitante é NG,Sd, devido às ações permanente e variável de atuação quase permanente, e a força axial de compressão solicitante de cálculo é Nc,Sd. Não se assuste com tantas equações. O processo de dimensionamento pode parecer complexo, mas, se você seguir o passo a passo, tudo dará certo! 3.4 Introdução de carga Uma preocupação importante nas estruturas mistas, assim como ocorre nas estruturas metálicas, é a ligação entre os elementos. Essa ligação é conhecida também como introdução de carga. Nas ligações de vigas nos pilares, normalmente, as vigas são ligadas apenas ao perfil de aço do pilar misto. Por isso, a parcela da carga introduzida diretamente no perfil de aço precisa ser transferida para o concreto, assegurando que não haja escorregamento significativo na interface entre os dois materiais. Na NBR 8800 (ABNT, 2008), você poderá observar o comprimento em que ocorre a transferência de carga. A parcela de carga transferida do perfil de aço para o concreto é dada por: VSd é a soma das cargas introduzidas pelas vigas e Aa é a área da seção transversal do perfil de aço. Já nas bases e nas emendas dos pilares mistos, a força axial resistente de cálculo é reduzida se houver interrupção das barras da armadura longitudinal. Para evitar o cisalhamento, neste caso, são colocados conectores capazes de transmitir a força de compressão solicitante de cálculo das barras da armadura para elementos de aço adicionais 40 que restauram a capacidade resistente de cálculo. Assim como no caso anterior, a distância entre o primeiro e o último conector deve ser igual ou superior ao comprimento de ancoragem das barras. Esse comprimento pode ser calculado conforme os preceitos da NBR 6118 (ABNT, 2014). 4. Considerações finais Parabéns por ter chegado ao final deste capítulo, aluno! Percebeu como são diferentes os dimensionamentos das lajes e dos pilares mistos de aço e concreto? As lajes mistas são dimensionadas com o auxílio de tabelas fornecidas pelos fabricantes do mercado. Já os pilares mistos são dimensionados no método mais convencional, com o auxílio de equações. Esperamos que você tenha chegado até aqui entendendo o comportamento desses dois elementos estruturais mistos e sabendo como dimensioná-los. Bons estudos! Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8800. Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro, RJ: ABNT, 2008. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14762. Dimensionamento de estruturas de aço constituídas por perfis formados a frio. Rio de Janeiro, RJ: ABNT, 2010. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118. Projeto de estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, RJ: ABNT, 2014. 41 Dimensionamento de treliças mistas e ligações mistas Autoria: Mariana de Almeida Motta Rezende Leitura crítica: Igor Brumano Coelho Amaral Objetivos • Saber dimensionar treliças mistas de aço e concreto. • Compreender como é o comportamento de ligações mistas de aço e concreto. • Saber como dimensionar ligações mistas de aço e concreto. 42 1. Introdução Neste tema, você aprenderá sobre as treliças mistas de aço e concreto, seu comportamento e seu dimensionamento. Ainda, terá oportunidade de aprender sobre o comportamento das ligações mistas de aço e concreto e como dimensioná-las. Vamos lá? 2. Treliças mistas de aço e concreto As treliças são estruturas formadas por barras interligadas por nós que suportam cargas em diversas aplicações, como pontes, torres, edifícios e estruturas industriais. São constituídas por elementos triangulados, capazes de garantir a estabilidade e a resistência da estrutura, transferindo as cargas para uma viga inferior denominada banzo. Neste item, você aprenderá especificamente sobre as treliças mistas de aço e concreto, que serão chamadas apenas de treliças mistas de agora em diante. As treliças mistas de aço e concreto, ou mistas de alma cheia, são estruturas compostas por uma treliça de aço preenchida com concreto. Nesse caso, o concreto é lançado dentro da treliça, preenchendo os espaços vazios entre as barras de aço, sendo, então, vibrado e curado para garantir sua resistência e aderência ao aço. Também, é possível encontrar treliças de banzos em concreto e diagonais em perfis de aço. As treliças mistas podem apresentar diferentes geometrias e configurações, dependendo das necessidades da aplicação. Essas configurações são escolhidas com base nas cargas que a estrutura deverá suportar e nas condições de contorno da aplicação. A combinação de aço e concreto nas treliças proporciona uma série de benefícios em termos de resistência, rigidez e durabilidade especialmente. Dentre essas vantagens, podem ser citadas: 43 1. Resistência superior: a combinação de aço e concreto permite que a treliça apresente uma resistência superior em relação às treliças convencionais, uma vez que o concreto contribui para a resistência à compressão da estrutura, enquanto o aço contribui para a resistência à tração. 2. Maior rigidez: a adição de concreto à treliça de aço aumenta a rigidez da estrutura, o que reduz a sua deflexão sob cargas. 3. Maior durabilidade: a combinação de aço e concreto proporciona uma durabilidade melhor à estrutura, uma vez que o concreto protege o aço contra a corrosão. 4. Economia de material: apresentam uma grande eficiência em termos de uso de material, uma vez que a combinação entre aço e concreto confere alta resistência mecânica. 5. Facilidade de construção: podem ser construídas com facilidade e rapidez,o que reduz o tempo de construção e os custos envolvidos no processo. A NBR 8800 (ABNT, 2008) apresenta algumas exigências para a construção de treliças mistas, as quais devem: • Ser biapoiadas. • Ter interação completa com a laje de concreto. • Apresentar linha neutra na laje de concreto. • Apresentar a área do banzo superior desprezada nas determinações do momento fletor resistente de cálculo positivo e da flecha. • Ter resistência dos conectores de cisalhamento baseada na resistência do banzo interior (em consequência dos requisitos anteriores). 44 A referida norma direciona também o cálculo do momento de inércia efetivo (Ief) para as treliças mistas, dependendo do estágio do concreto. 1. Para ações atuantes antes de o concreto atingir 75% da sua resistência à compressão, o momento de inércia da seção da treliça (Itrel) deve ser calculado como 15% das cordas (banzos) inferior e superior da treliça de aço, devido ao efeito das deformações por cisalhamento: . 2. Quando o concreto atinge 75% de sua resistência à compressão, o momento de inércia da seção mista homogeneizada da treliça (Ief) pode ser calculado pela corda inferior da treliça de aço e pela laje de concreto considerada por sua largura efetiva (Itm), reduzido de 15% do momento de inércia da seção da corda inferior e superior da treliça de aço (Itrel), considerando as deformações por cisalhamento: . O momento fletor resistente de cálculo (MRd) em regiões de momentos positivos das treliças mistas é determinado ponderando com o coeficiente de 0,85 da resistência característica à compressão do concreto (fck). Além disso, é considerado também o coeficiente como 1,00, já que as treliças são biapoiadas. As treliças mistas com interação completa e linha neutra da seção plastificada situada na laje de concreto são dimensionadas através do somatório de forças resistentes de cálculo individuais (QRd) dos conectores de cisalhamento situados entre a seção de momento positivo máximo e a seção adjacente de momento nulo: , considerando que as seguintes condições devem ser cumpridas: 1. . 2. . 45 3. . 4. . Em que: Ccd – força resistente de cálculo da espessura comprimida da laje de concreto. b – largura efetiva da laje de concreto. a – espessura da região comprimida da laje (ou espessura efetiva). Tad – força resistente de cálculo da região tracionada do perfil de aço. Abi – área do banzo inferior da treliça de aço. d2 – distância entre as forças de tração e compressão da treliça mista. A Figura 1 apresenta a distribuição de tensões em treliças mistas que possuem interação completa. Figura 1 – Distribuição de tensões em treliças mistas (interação completa) Fonte: ABNT (2008, p. 179). 46 Além disso, as treliças mistas devem ser capazes de resistir aos esforços cortantes por meio de suas diagonais e montantes. Nesse caso, o dimensionamento é o mesmo feito para as treliças metálicas, conforme os itens 5.2 e 5.3 da NBR 8800 (ABNT, 2008). Com isso, finalizamos o dimensionamento das treliças mistas. Vamos prosseguir? 3. Ligações mistas de aço e concreto Afinal, o que são ligações mistas de aço e concreto? São aquelas que ocorrem quando a laje de concreto participa da transmissão de momento fletor de uma viga mista para um pilar ou para outra viga mista do vão seguinte. Dessa maneira, quando o momento fletor da viga for negativo, ocorre a tração da armadura da laje e, por consequência, quando o momento for positivo, ocorre a compressão da laje. Esse tipo de ligação mista é utilizado em vigas mistas contínuas (a ligação garante continuidade total do aço e da laje nos apoios) e semicontínuas (é uma ligação metálica flexível ou semirrígida que aumenta a rigidez e a resistência ao momento). Em resumo, as ligações mistas são compostas pela armadura da laje de concreto (apenas as barras da largura efetiva na região do momento negativo), pelos conectores de cisalhamento e pela ligação metálica do perfil de aço. A largura efetiva é a largura considerada nos trechos de momento negativo. A Figura 2 apresenta uma ligação mista feita com chapa de extremidade, na qual também é possível observar as exigências da NBR 8800 (ABNT, 2008). O dimensionamento desse tipo de ligação mista pode ser obtido no item R.2.5.2.2 dessa norma. 47 Figura 2 – Ligação mista com chapa de extremidade com altura total Fonte: ABNT (2008, p. 224). A Figura 3 apresenta uma ligação mista com cantoneiras parafusadas na alma (duas cantoneiras por viga) e na mesa inferior da viga apoiada. O dimensionamento desse tipo de ligação mista pode ser obtido no item R.2.5.2.3 da referida norma. Figura 3 – Ligação mista com cantoneiras parafusadas na alma (duas por viga) e na mesa inferior da viga apoiada Fonte: ABNT (2008, p. 224). 48 Por fim, a Figura 4 apresenta um terceiro tipo de ligação mista, composta por uma cantoneira parafusada na mesa inferior da viga apoiada. Como para as outras ligações, o dimensionamento desse tipo de ligação mista pode ser obtido no item R.2.5.2.4 da referida norma. Figura 4 – Ligação mista com cantoneiras parafusadas na mesa inferior da viga apoiada Fonte: ABNT (2008, p. 225). Uma consideração importante sobre as ligações mistas é que a própria ligação tem de garantir a rotação suficiente para o máximo momento positivo da viga, pois a resistência última da ligação mista é sempre menor que o momento plástico negativo da viga mista. Para que isso seja garantido, a norma brasileira traz tabelas de capacidade de rotação necessária para cada valor do coeficiente , que depende do tipo de apoio. Então, a Tabela 1 apresenta a capacidade de rotação necessária para , a Tabela 2, para , e a Tabela 3, para . Tabela 1 – Capacidade de rotação necessária (mrad) - DL e 1CL 2CL DL e 1CL 2CL 49 15 29 43 28 39 20 46 64 38 52 25 57 80 46 63 30 67 95 54 74 Fonte: ABNT (2008, p. 234). Tabela 2 – Capacidade de rotação necessária (mrad) - DL e 1CL 2CL DL e 1CL 2CL 15 22 32 21 29 20 35 48 29 39 25 43 60 35 47 30 50 71 41 56 Fonte: ABNT (2008, p. 234). Tabela 3 – Capacidade de rotação necessária (mrad) - DL e 1CL 2CL DL e 1CL 2CL 15 15 22 14 20 20 23 32 19 26 25 29 40 23 32 30 34 48 27 37 Fonte: ABNT (2008, p. 234). Nessas tabelas, é a relação entre o comprimento do tramo e a altura total da viga mista, DL é a carga distribuída uniformemente, 1CL significa que há apenas uma carga concentrada no centro da viga, e 2CL, que há duas cargas concentradas nos terços do vão da viga. Em situações em que a construção é escorada, podem ser considerados apenas 70% do valor correspondente de capacidade de rotação tabelado, pois as rotações necessárias, nesse caso, são inferiores. 50 4. Considerações finais Parabéns por ter chegado ao final deste capítulo, aluno! Recapitulando, você aprendeu a como dimensionar treliças mistas de aço e concreto e o comportamento de ligações mistas de aço e concreto. Esperamos que, agora, você saiba como são importantes esses elementos! As treliças mistas de aço e concreto estão sendo cada vez mais utilizadas no Brasil, então, não se esqueça do quão importante é aprender sobre seu dimensionamento e comportamento. Já as ligações mistas são essenciais para garantir o comportamento combinado dos materiais das estruturas mistas. Bons estudos! Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8800. Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro, RJ: ABNT, 2008. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14762. Dimensionamento de estruturas de aço constituídas por perfis formados a frio. Rio de Janeiro, RJ: ABNT, 2010. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118. Projeto de estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, RJ: ABNT, 2014. Sumário Apresentação da disciplina Características das estruturas mistas de aço e concreto Objetivos 1. Introdução 2. Elementos estruturais mistos de aço e concreto 3. Consideraçõesfinais Referências Dimensionamento de vigas mistas e conectores de cisalhamento Objetivos 1. Introdução 2. Vigas mistas de aço e concreto 3. Considerações finais Referências Dimensionamento de lajes mistas e pilares mistos de aço e concreto Objetivos 1. Introdução 2. Lajes mistas de aço e concreto 3. Pilares mistos de aço e concreto 4. Considerações finais Referências Dimensionamento de treliças mistas e ligações mistas Objetivos 1. Introdução 2. Treliças mistas de aço e concreto 3. Ligações mistas de aço e concreto 4. Considerações finais Referências
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