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Aula Aberta_Carolina Maria de Jesus_Palestrante Ariana Santos

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O pensamento social periférico, feminista e racializado: 
interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus
Racismo como estruturante da sociedade brasileira
Anibal Quijano ( 2005)
apreende a mundialização do capital, como um novo padrão de poder, que só se constitui
como mundial a partir da colonização do território que hoje conhecemos como América, e
que possui dois elementos centrais, a colonialidade e a modernidade.
Colonialidade
A colonialidade é um dos elementos constitutivos e específicos do padrão mundial do
poder capitalista. Sustenta-se na imposição de uma classificação racial/étnica da
população do mundo como pedra angular do referido padrão de poder e opera em cada
um dos planos, meios e dimensões, materiais e subjetivos, da existência social cotidiana
e da escala societal.
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O que significa isso?
Para Quijano (2005) o capitalismo se desenvolve de forma global, mundial, a partir da
colonização do território que hoje conhecemos como América Latina. E essa
mundialização ocorre tendo com um dos pilares centrais a classificação étnico/racial
hierarquizada.
A “codificação das diferenças entre conquistadores e conquistados na ideia de raça” (QUIJANO, 2005, p. 117), ocorre
pela colonialidade, se realizando a partir de uma suposta diferença na estrutura biológica que situa uns em condição
natural de inferioridade em relação a outros, se fundamenta um dos principais elementos das relações de dominação
necessários para legitimar a dominação do território denominado como Américas.
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Racismo como estruturante da sociedade brasileira
O autor aponta que não existia uma concepção de classificação racial no modelo que hoje
conhecemos, raça relacionada aos trações fenotípicos, isso só se constrói quando ocorre
a colonização do território que hoje conhecemos como América.
Portanto, a ideia de raça relacionada aos traços fenotípicos foi uma invenção dos “conquistadores” para legitimar as
relações de dominação necessárias para a conquista dos territórios e dos povos que aqui existiam. Os dominados
foram situados na condição de inferioridade, assim como seus traços fenotípicos, suas descobertas mentais e
culturais. Com a construção da Europa como nova identidade após a constituição da América e a ampliação do
colonialismo europeu ao resto do mundo, se conduz a uma: “elaboração da perspectiva eurocêntrica do conhecimento e
com ela a elaboração teórica da ideia de raça como naturalização dessas relações coloniais de dominação entre
europeus e não-europeus” (QUIJANO, 2005, 118).
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A formação de relações sociais fundadas nessa ideia, produziu na América identidades sociais
historicamente novas: índios, negrose mestiços ( a existência de vários povos) , e redefiniu outras.
Assim, termos como espanhol e português, e mais tarde europeu, que até então indicavam
apenas procedência geográfica ou país de origem, desde então adquiriram também, em relação
às novas identidades, uma conotação racial. E na medida em que as relações sociais que se
estavam configurando eram relações de dominação, tais identidades foram associadas às
hierarquias, lugares e papéis sociais correspondentes, com constitutivas delas, e,
consequentemente, ao padrão de dominação que se impunha. Em outras palavras, raça e
identidade racial foram estabelecidas como instrumentos de classificação social básica da
população. Com o tempo, os colonizadores codificaram como cor os traços fenotípicos dos
colonizados e a assumiram como a característica emblemática da categoria racial. (QUIJANO,
2005, p. 117)
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Relacionando colonialidade do poder e capitalismo mundial, o autor traz a reflexão de que as
novas identidades produzidas sobre a ideia de raça foram relacionadas à natureza dos papéis e
lugares na nova estrutura global de controle do trabalho. Assim raça e divisão do trabalho, foram
estruturalmente associados reforçando-se mutuamente, embora nenhum dos dois seja
dependente do outro para existir ou transformar-se.
Impôs-se uma divisão racial do trabalho, na área hispânica se determinou o fim da escravidão dos
índios, confinando-os na estrutura da servidão, os negros foram reduzidos a escravidão, os
espanhóis e portugueses como raça dominante, podiam receber salários, ser produtores
independentes de mercadorias e apenas os nobres podiam ocupar os médios e altos cargos da
administração colonial, civil ou militar (QUIJANO, 2005).
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Racismo como estruturante da sociedade brasileira
O autor traz a importante reflexão como raça e trabalho se articulam para o controle e dominação dos
grupos sociais, e segundo ele, esse mesmo processo se impôs para toda a população em escala
global com a expansão mundial da dominação colonial por parte dos brancos, que hoje conhecemos
como europeus. Assim, cada forma de controle do trabalho foi articulada a uma raça particular, com
isso, o controle de uma forma específica de trabalho também era o controle de um grupo
dominado específico, assim, raça e trabalho se articulam aparecendo como naturalmente
associadas e que para o autor tem sido excepcionalmente bem sucedido.
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Modernidade
A criação de uma nova perspectiva temporal da história, na qual a Europa, seu povo, sua
cultura, se tornam, o padrão de sociedade a ser perseguido. A Europa se relaciona
fenotipicamente com a população branca, então o ideal de humano a ser tornar é o
fenotipicamente branco, é o que reproduz comportamentos e formas de ser desse povo.
Para o Quijano (2005) os Europeus criaram uma nova perspectiva temporal da história, reescrevendo
a história da cultura e dos povos colonizados no passado, em uma trajetória em que o futuro destes
culminava na cultura Europeia. Os povos colonizados eram raças inferiores e por isso anteriores aos
europeus. Desse ponto de vista as relações culturais entre a Europa e o resto do mundo foram
relidas a partir de novas categorias:
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Oriente-Ocidente, primitivo-civilizado, mágico/mítico-científico, irracional-racional, tradicional-
moderno, Europa e não-Europa. Nessa classificação entre europeu e não-europeu, raça é uma
categoria básica, a única categoria que foi reconhecida como o outro da Europa ou “Ocidente”,
foi o “Oriente”, os índios da América e os negros da África foram simplesmente considerados
primitivos. Nesse sentido, essa perspectiva binária do conhecimento, se impõe de forma
hegemônica simultaneamente a expansão do domínio colonial da Europa sobre o mundo (QUIJANO,
2005).
Simultaneamente que a Europa amplia seu domínio sobre o mundo, também vai se tornando
hegemônica essa forma de pensamento. Por que será que as religiões de matrizes africanas
são demonizadas? Por que a gente tem uma sociedade baseada nas religiões judaico-cristã,
onde é seu centro hegemônico? Na Europa. Assim, a nossa perspectiva de conhecimento,
cultura, forma de ser, por conta da colonização, ela se desenvolveutendo por base a
perspectiva eurocêntrica.
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Só que hoje, isso já não é mais aceito e é impossível de se realizar, porque a manutenção disso, vai
produzindo cada vez mais morte para a maior parte do nosso povo, que é negro ( pretos e pardos).
Racismo e Favela
Abolição sem reformas
A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO OCORRE NO BRASIL EM 1888, SENDO O ÚLTIMO PAÍS DA AMÉRICA A
ABOLI-LA. IMPORTANTE RESSALTAR QUE A ABOLIÇÃO OCORRE TENSIONADA POR DUAS QUESTÕES
PRINCIPAIS: A “MODERNIZAÇÃO” DO BRASIL PARA ADERIR AO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA
TENDO O TRABALHADOR “LIVRE”/ASSALARIADO COMO MEIO DE FORÇA DE TRABALHO.
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Abolição sem reformas
O MEDO DOS RICOS PROPRIETÁRIOS BRANCOS QUE OCORRESSEM INSURGENCIAS E REBELIÕES
QUE FOSSEM CAPAZES DE DESTRUIR SEU PODER. SEGUNDO MARIA AZEVEDO ( ONDA NEGRA/MEDO
BRANCO) A DÉCADA DE 1870, ESPECIALMENTE EM SÃO PAULO, FOI MARCADA POR UM ACIRRAMENTO
DAS LUTAS DE ESCRAVOS NAS FAZENDAS, NUMA ONDA DE PEQUENOS ASSASSINATOS E REVOLTAS
QUE NÃO ERA COMUM.
UMA OUTRA HERANÇA NESSE ASPECTO E QUE INFLUENCIOU AS ELITES A COMEÇAREM A PENSAR NA
ABOLIÇÃO FOI O MEDO SUSCITADO PELA SANGRENTA REVOLUÇÃO EM SÃO DOMINGOS, ONDE OS
NEGROS HAVIAM SE REBELADO CONTRA A ESCRAVIDÃO EM 1790 E PROCLAMADO SUA
INDEPENDÊNCIA EM 1804, COLOCANDO EM PRÁTICA PRINCÍPIOS DA REVOLUÇÃO FRANCESA, O QUE
ACARRETOU TRANSTORNOS FATAIS PARA MUITOS SENHORES DE ESCRAVOS, SUAS FAMÍLIAS E
PROPRIEDADES.
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Racismo como estruturante da sociedade brasileira
Política Institucional de Imigração
ANTES DE SE DECLARAR O FIM DA ESCRAVIDÃO, OCORREU UM DEBATE EXTENSO POR
DEPUTADOS, PROPRIETÁRIOS, PARA AVALIAR O QUE FAZER COM A POPULAÇÃO NEGRA.
TORNOU-SE COMUM PENSAR A ESCRAVIDÃO COMO IRRACIONAL, POR SER TRABALHO
FORÇADO, EM CONTRAPOSIÇÃO AO TRABALHO LIVRE, QUE PASSA A SER VISTO COMO
RACIONAL, POR QUE É EM LIBERDADE.
ARGUMENTOS LIBERAIS EXPLICITAVAM QUE A SUPOSTA IRRACIONALIDADE DA
ESCRAVIDÃO PODIA SER EXPLICADA TANTO EM TERMOS DO CARÁTER COMPULSÓRIO DE
SEU REGIME DE TRABALHO QUANTO PELA INFERIORIDADE RACIAL DOS ESCRAVIZADOS.
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Política Institucional de Imigração
SE FAZIA A LIGAÇÃO ENTRE BRANCO E TRABALHO LIVRE, PORTANTO, PROGRESSO,
CIVILIZAÇÃO, LIBERDADE, QUE IMPLICA TAMBÉM PEQUENA PROPRIEDADE/CULTURA
INTENSIVA E DIVERSIFICADA/DESENVOLVIMENTO.
SE DEFINIA O NEGRO PELA FALTA DISSO TUDO E PELA NEGAÇÃO DO QUE É BOM. O NEGRO
ERA O REAL A CORRIGIR, POIS DENOTAVA A PRÓPRIA ESCRAVIDÃO E PORTANTO,
TRABALHO COMPULSÓRIO/ATRASO/BARBÁRIE E IMORALIDADE, O QUE IMPLICAVA GRANDE
PROPRIEDADE/MONOCULTURA EXTENSIVA E ROTINEIRA/ESTAGNAÇÃO.
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Política Institucional de Imigração
Fala de AURELIANO CÂNDIDO- DEPUTADO DA ÉPOCA
“INTERFERIR NESTE REAL QUE ERA O NEGRO E O ESCRAVO A FIM DE SE ATINGIR O IDEAL
— O BRANCO E O TRABALHADOR LIVRE — SIGNIFICAVA NAO SO ACABAR COM A
ESCRAVIDAO E INSTITUIR UM MERCADO DE TRABALHO LIVRE NO PAÍS, MAS SOBRETUDO
POSICIONAR-SE CONTRA O NEGRO E EM FAVOR DO BRANCO, SEM APELO A
SUBTERFUGIOS HUMANITARIOS. “PARA MIM, O EMIGRANTE EUROPEU DEVIA E DEVE DE
SER O ALVO DE NOSSAS AMBIÇÕES, COMO O AFRICANO O OBJETO DE NOSSAS
ANTIPATIAS”
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Política Institucional de Imigração
COM ESSE IMAGINÁRIO SOCIAL, SE CRIA UMA POLÍTICA INSTITUCIONAL DE IMIGRAÇÃO
PARA O BRASIL, FAVORECENDO OS POVOS EUROPEUS, DE PREFERÊNCIA DO CENTRO E
DO NORTE DA EUROPA.
A POLÍTICA INSTITUCIONAL IMIGRANTISTA TINHA COMO OBJETIVO “EMBRANQUECER” A
POPULAÇÃO, POIS SEGUNDO TESES DA ÉPOCA A PARTIR DO RACISMO CIENTÍFICO, DA
TEORIA DE EVOLUÇÃO DAS RAÇAS, NO QUAL A BRANCA ERA SUPERIOR, APÓS 5
GERAÇÕES A POPULAÇÃO DO BRASIL IRIA EMBRANQUECER, ASSIM TERÍAMOS UMA RAÇA
HOMOGENEA, SUPERIOR, QUE SERIA A BRANCA.
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Política Institucional de Imigração
A IMIGRAÇÃO TAMBÉM PREVEU CONCEDER BENEFÍCIOS COMO INCENTIVOS PARA VIREM PARA O
BRASIL, COMO ACESSO A PEDAÇOS DE TERRA, PODENDO SE TORNAR PEQUENOS PROPRIETÁRIOS,
MORADIA, ALIMENTAÇÃO, DENTRE OUTROS. PARA O NEGRO, SUA “LIBERTAÇÃO”, E OS PIORES
TRABALHOS, NA VERDADE SE MANTIVERAM EM TRABALHOS DESVALORIZADOS, AS MULHERES
NEGRAS COMO TRABALHADORAS DOMÉSTICAS NA CASA GRANDE E OS HOMENS NO CAMPO.
OU SEJA, OCORRE UMA ABOLIÇÃO, NA QUAL OS NEGROS SAEM SEM NENHUMA CONDIÇÃO DE
SOBREVIVÊNCIA COMO TRABALHADOR LIVRE, NA VERDADE, PARA SOBREVIVEREM ELES TINHAM
QUE VOLTAR PARA AS FAZENDAS E LÁ TRABALHAREM, EM CONDIÇÕES MUITAS VEZES IGUAIS A
ANTERIOR.
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Racismo como estruturante da sociedade brasileira
LEI DE TERRAS(04/09) X LEI EUZÉBIO DE QUEIROZ(18/09)
Proibição do tráfico de escravos.
ATE 1850- AS TERRAS ERAM PATRIMÔNIO PESSOAL DO REI. PARA CONSEGUIR UM LOTE DE TERRA,
VOCÊ TINHA QUE SOLICITAR UMA DOAÇÃO PESSOAL. A DECISÃO PARA A DOAÇÃO ERA BASEADA NA
AVALIAÇÃO DO PRETENDENTE, E ISSO SIGNIFICA, NO STATUS SOCIAL, AS SUAS QUALIDADES
PESSOAIS E OS SERVIÇOS PRESTADOS A COROA. POR VOLTA DO SÉCULO XIX, ESSE CONCEITO DE
ALTERA, A TERRA PASSA A SE TORNAR PATRIMONIO PÚBLICO, AGORA, A PARTIR DA LEI DE TERRAS,
VOCÊ SÓ PODERIA ADQUIRIR COMPRANDO-A DO GOVERNO, O QUAL ATUARIA COMO MEDIADOR
ENTRE O DOMÍNIO PÚBLICO E O PROVÁVEL PROPRIETÁRIO. AGORA QUALQUER PESSOA COM
CAPITAL SUFICIENTE PODERIA ADQUIRIR A TERRA.
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LEI DE TERRAS
ESSA AÇÃO É CONCEBIDA POR CLÓVIS MOURA, SOCIÓLOGO BRASILEIRO, COMO UMA
AÇÃO POLÍTICA, POIS A MÉDIO E A CURTO PRAZO, QUANDO A POPULAÇÃO NEGRA
ESCRAVIZADA FOSSE LIBERTADA, NÃO HAVERIA NENHUMA POSSIBILIDADE DE UM
DECRETO ABOLICIONISTA RADICAL QUE INCLUISSE A DOAÇÃO. PELO CONTRÁRIO,
QUANDO ELES FOSSEM LIBERTOS AS TERRAS SERIAM MERCADORIAS DE AQUIZIÇÃO
IMPOSSÍVEL, DEVIDO AO SEU AUTO GRAU DE DESCAPITALIZAÇÃO.
COM ESSE MECANISMO JURÍDICO SE CONTRIBUI PARA A IMPOSSIBILIDADE DA POPULAÇÃO
NEGRA ASCENDER ECONONOMICAMENTE.
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Racismo como estruturante da sociedade brasileira
Racismo e favela
As favelas são consequências da segregação socioespacial da população pobre, de maioria negra,
que ocorreu com a destruição dos cortiços no fim do século XIX, mas que tem origem na destituição
dos direitos da população negra após a abolição da escravidão, como a impossibilidade do direito à
terra, ao trabalho, aos direitos políticos ou seja, à condições de sobrevivência como pessoas “livres”.
O Brasil foi o último país da América a abolir a escravidão, em 1888, e como sabemos, uma abolição inconclusa,
uma vez que a população negra na atualidade, após 130 anos da abolição, se mantém nos piores índices
econômicos sociais.
O pensamento social periférico, feminista e racializado:interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus
Racismo como estruturante da sociedade brasileira
Racismo e favela
Com o início da República o Rio de Janeiro buscava a modernização econômica, tendo o interesse de atrair
novos capitais para as incipientes indústrias, para isso necessitava adequar o espaço às necessidades do
capital construindo a cidade e sua infraestrutura para esse propósito.
Segundo Campos (2012) em 1866, se desenvolveu a ideologia higienista, no qual a adoção da postura
municipal foi a de proibir a construção de novos cortiços na área central da cidade, que existiam desde 1850, no
qual residiam mais de 50% da população, pois era o local em que se tinham mais oportunidades trabalho.
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Racismo e favela
A ideologia higienista, discriminatória e criminalizatória, difundia argumentos que caracterizavam os
cortiços como locais insalubres e transmissores de doenças e que sua população exercia costumes
danosos a sociedade “as habitações coletivas seriam focos de erradicações de epidemias, além de,
naturalmente, terrenos férteis para a propagação de vícios de todos os tipos” (CAMPOS, 2012, P.60),
por isso era necessário destruí-los e expulsar seus habitantes.
O fato mais relevante é que a maioria da população moradora de cortiços, era negra, os
alforriados do período. A política da remoção tomou força a partir de 1873,
concomitantemente, entre 1870 a 1880 foram os anos nos quais mais se concederam alforrias,
o que liberou uma quantidade considerável de pessoas negras escravizadas, o que preocupou
as elites associando-os a formação das “classes perigosas” devido ao acelerado aumento.
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Racismo e favela
Em 1893 foi destruído o cortiço “cabeça de porco” na área central, que deixou mais de 4 mil pessoas
sem abrigo, o prefeito da época, Barata Ribeiro, autorizou então o deslocamento dos moradores para
as encostas. Em 1897 foi no morro da favela, conhecido hoje como morro da providência que os
soldados egressos da guerra de canudos foram se estabelecer com a autorização dos chefes
militares (CAMPOS, 2012), portanto, com a destruição dos cortiços essa população se deslocou para
as encostas, dando origem as primeiras favelas.
* Muitos dos soldados que lutaram em canudos, foram homens negros que eram escravizados
e que estavam lutando com a promessa de que se sobrevivessem teriam suas alforrias.
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Racismo como estruturante da sociedade brasileira
Racismo e favela
Em 1893 foi destruído o cortiço “cabeça de porco” na área central, que deixou mais de 4 mil pessoas
sem abrigo, o prefeito da época, Barata Ribeiro, autorizou então o deslocamento dos moradores para
as encostas. Em 1897 foi no morro da favela, conhecido hoje como morro da providência que os
soldados egressos da guerra de canudos foram se estabelecer com a autorização dos chefes
militares (CAMPOS, 2012), portanto, com a destruição dos cortiços essa população se deslocou para
as encostas, dando origem as primeiras favelas.
* Muitos dos soldados que lutaram em canudos, foram homens negros que eram escravizados
e que estavam lutando com a promessa de que se sobrevivessem teriam suas alforrias.
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Racismo como estruturante da sociedade brasileira
PERFIL DA POPULAÇÃO NEGRA BRASILEIRA
 Representam 55,8% da população, incluindo aqui pretos e pardos. (IBGE, 2019)
 Mulheres negras são maioria dentre as mulheres brasileiras, de 51,7% de mulheres no
Brasil, 51,8% são de mulheres negras (IRACI;Werneck. 2016)
PARTICIPAÇÃO EM ESPAÇOS DE PODER E DECISÃO
Quantidade de Ministras de Estado: hoje nenhuma negra.
Câmara federal 77 deputadas do total de 513 cadeiras, somente 13 negras= 2% do total de
deputados/as. Mulheres em geral sendo 15%
Senado são 13 de 81 senadores, nenhuma negra.
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Racismo e favela
População negra sendo maioria dos residentes em favelas
 Residem em favelas 12,3 milhões de pessoas, sendo 67% destas negras/os, mais da
metade, 6,3 milhões sendo de mulheres, dessas 69% são de mulheres negras. (Data
Favela, 2015)
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Racismo e favela
Dados do território de Manguinhos
Corroborando com tais dados, o perfil das 509 mulheres que realizaram o primeiro atendimento na
Casa da Mulher de Manguinhos no ano de 2014, 74% eram negras, 35% recebiam menos que um
salário mínimo que era de R$ 724,00, 33% não tinham renda e 30% recebiam de 1 a 3 salários
mínimos, nenhuma mulher atendida naquele ano recebia mais que 3 salários mínimos (Subsecretaria
de Políticas para as Mulheres do Estado do Rio de Janeiro, 2015).
Demonstra a feminização negra da pobreza.
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Racismo como estruturante da sociedade brasileira
Carolina Maria de Jesus
Na sua escrita demonstra a interseccionalidade das opressões, o que é ser uma mulher negra 
em condição de pobreza na década de 1950, e que podemos ver que ainda não foi possível 
alterar aquela condição embora se tenha avançado.
*Ler trechos do diário
A importância da valorização do conhecimento popular. Ela faz análise de classe, de
conjuntura, sem falar de conceitos como a academia, e isso é importante perceber nos nosso
atendimentos como assistente social, por isso é importante ter uma escuta qualificada no
atendimento.
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Relação do Estado com a Favela
- Produção de condições de exceção- Estado de exceção
O “estado de exceção apresenta-se como a forma legal daquilo que não pode ter forma
legal”, ele permite realizar ações que não estão nas leis, por que se concebe que ocorram
situações inusitadas que a lei não se aplica, mas ao mesmo tempo, a criação da
possibilidade de um estado de exceção está na lei, ou seja, é legitimada pelo direito
público.
* Estado de sítio
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Racismo e favela
Resultado
* É o extermínio da população negra
Após 1988, quando o Brasil ampliou formalmente os direitos através da promulgação da Constituição Cidadã,
ocorreram episódios que demonstraram que os direitos civis para a população residente em favela não estavam
garantidos, em 1990 ocorreu a chacina de Acari, no qual 11 pessoas desapareceram e em 1993 a chacina de
Vigário Geral, onde 21 pessoas moradoras da favela foram assassinadas, todas envolveram a ação de policiais.
Em ambos os casos você tem o direito à vida, sendo violado, muito claramente por agentes estatais;
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Racismo e favela
Em 2017 foram 1124 casos de assassinatos de civis realizados pela polícia do estado do Rio de Janeiro,
justificados em decorrência de suposta resistência,em maioria nos territórios de favela e periferia.
No período da intervenção federal a gente teve várias violações realizadas pelo exército,
autorizadas pelo ministro da justiça, que foram documentadas pela Ouvidoria da Defensoria
Pública do RJ. ( Relatório do circuito favelas por direitos)
* Os moradores de alguns territórios de favela, só podiam entrar e sair do local que moravam
se apresentassem documento de identidade e tirassem foto. Isso é cerceamento do direito de
ir e vir, que é um direito fundamental estabelecido pela Constituição.
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Cabral apoia aborto e diz que favela é fábrica de marginal.
Para o governador do Rio, interrupção da gravidez está
relacionada à redução da violência.
Para ele, rede pública teria de oferecer condições, já que
mulheres de melhor poder aquisitivo acabam pagando por
procedimento
“Tem tudo a ver com violência. Você pega o número de filhos por mãe 
na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão 
sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma 
fábrica de produzir marginal.”
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Racismo como estruturante da sociedade brasileira
Racismo ele é um dos elementos que estruturam a ação do Estado nos territórios de favela, por que a
maioria da população residente nesse território é negra.
Ex: A execução da Vereadora Marielle Franco
O destino desse sujeito é ser “ruim”, “bandido”, “incivilizado”.
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*A invisibilização das formas de violências que atingem as mulheres negras da favela
- Violência institucional
A violência perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra (violência institucional). (Art. 2 da 
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, 1994) 
- Violência Comunitária
A violência ocorrida na comunidade e que seja perpetrada por qualquer pessoa e que compreende, entre outros, violação, 
abuso sexual, tortura, tráfico de mulheres, prostituição forçada, sequestro e assédio sexual no lugar de trabalho, bem 
como em instituições educacionais, estabelecimentos de saúde ou qualquer outro lugar; 
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Formas de resistência a um projeto de genocídio da população negra
O que é comum a elas: A violência institucional
Organização Mulheres de Atitude – OMA, uma organização não governamental criada em 2010 por mulheres
negras, com o trabalho direcionado para a garantia e promoção dos direitos das mulheres com enfoque
interseccional7;
o Projeto Marias, criado há quinze anos, que visa realizar ações para crianças com deficiência e suas famílias,
criado pela moradora Norma, um mulher negra, que foi vítima de violência obstétrica74, tendo a consequência
de seu filho ter uma anoxia perinatal com sequelas severas que o deixou com deficiência, sem assistência
estatal de qualidade.
“
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Racismo como estruturante da sociedade brasileira
“Mães de Manguinhos” que surgiram em 2013, movimento social que reúne as mulheres desse
território que tiveram familiares, em maioria são filhos, assassinados por agentes estatais ou que
estão no sistema prisional, elas lutam por justiça e para que as condições de vida nas favelas se
modifiquem .
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MUITO OBRIGADA PELA ATENÇÃO!
ARIANA KELLY DOS SANTOS- ASSISTENTE SOCIAL
MESTRE EM POLÍTICAS PÚBLICAS EM DIREITOS HUMANOS PELO NEPP-
DH/UFRJ
DOUTORANDA EM SERVIÇO SOCIAL PELA ESS/UFRJ CONTATO: 
ARIANAKSANTOS@GMAIL.COM
mailto:arianaksantos@gmail.com

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