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O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Anibal Quijano ( 2005) apreende a mundialização do capital, como um novo padrão de poder, que só se constitui como mundial a partir da colonização do território que hoje conhecemos como América, e que possui dois elementos centrais, a colonialidade e a modernidade. Colonialidade A colonialidade é um dos elementos constitutivos e específicos do padrão mundial do poder capitalista. Sustenta-se na imposição de uma classificação racial/étnica da população do mundo como pedra angular do referido padrão de poder e opera em cada um dos planos, meios e dimensões, materiais e subjetivos, da existência social cotidiana e da escala societal. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira O que significa isso? Para Quijano (2005) o capitalismo se desenvolve de forma global, mundial, a partir da colonização do território que hoje conhecemos como América Latina. E essa mundialização ocorre tendo com um dos pilares centrais a classificação étnico/racial hierarquizada. A “codificação das diferenças entre conquistadores e conquistados na ideia de raça” (QUIJANO, 2005, p. 117), ocorre pela colonialidade, se realizando a partir de uma suposta diferença na estrutura biológica que situa uns em condição natural de inferioridade em relação a outros, se fundamenta um dos principais elementos das relações de dominação necessários para legitimar a dominação do território denominado como Américas. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira O autor aponta que não existia uma concepção de classificação racial no modelo que hoje conhecemos, raça relacionada aos trações fenotípicos, isso só se constrói quando ocorre a colonização do território que hoje conhecemos como América. Portanto, a ideia de raça relacionada aos traços fenotípicos foi uma invenção dos “conquistadores” para legitimar as relações de dominação necessárias para a conquista dos territórios e dos povos que aqui existiam. Os dominados foram situados na condição de inferioridade, assim como seus traços fenotípicos, suas descobertas mentais e culturais. Com a construção da Europa como nova identidade após a constituição da América e a ampliação do colonialismo europeu ao resto do mundo, se conduz a uma: “elaboração da perspectiva eurocêntrica do conhecimento e com ela a elaboração teórica da ideia de raça como naturalização dessas relações coloniais de dominação entre europeus e não-europeus” (QUIJANO, 2005, 118). O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira A formação de relações sociais fundadas nessa ideia, produziu na América identidades sociais historicamente novas: índios, negrose mestiços ( a existência de vários povos) , e redefiniu outras. Assim, termos como espanhol e português, e mais tarde europeu, que até então indicavam apenas procedência geográfica ou país de origem, desde então adquiriram também, em relação às novas identidades, uma conotação racial. E na medida em que as relações sociais que se estavam configurando eram relações de dominação, tais identidades foram associadas às hierarquias, lugares e papéis sociais correspondentes, com constitutivas delas, e, consequentemente, ao padrão de dominação que se impunha. Em outras palavras, raça e identidade racial foram estabelecidas como instrumentos de classificação social básica da população. Com o tempo, os colonizadores codificaram como cor os traços fenotípicos dos colonizados e a assumiram como a característica emblemática da categoria racial. (QUIJANO, 2005, p. 117) O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Relacionando colonialidade do poder e capitalismo mundial, o autor traz a reflexão de que as novas identidades produzidas sobre a ideia de raça foram relacionadas à natureza dos papéis e lugares na nova estrutura global de controle do trabalho. Assim raça e divisão do trabalho, foram estruturalmente associados reforçando-se mutuamente, embora nenhum dos dois seja dependente do outro para existir ou transformar-se. Impôs-se uma divisão racial do trabalho, na área hispânica se determinou o fim da escravidão dos índios, confinando-os na estrutura da servidão, os negros foram reduzidos a escravidão, os espanhóis e portugueses como raça dominante, podiam receber salários, ser produtores independentes de mercadorias e apenas os nobres podiam ocupar os médios e altos cargos da administração colonial, civil ou militar (QUIJANO, 2005). O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira O autor traz a importante reflexão como raça e trabalho se articulam para o controle e dominação dos grupos sociais, e segundo ele, esse mesmo processo se impôs para toda a população em escala global com a expansão mundial da dominação colonial por parte dos brancos, que hoje conhecemos como europeus. Assim, cada forma de controle do trabalho foi articulada a uma raça particular, com isso, o controle de uma forma específica de trabalho também era o controle de um grupo dominado específico, assim, raça e trabalho se articulam aparecendo como naturalmente associadas e que para o autor tem sido excepcionalmente bem sucedido. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Modernidade A criação de uma nova perspectiva temporal da história, na qual a Europa, seu povo, sua cultura, se tornam, o padrão de sociedade a ser perseguido. A Europa se relaciona fenotipicamente com a população branca, então o ideal de humano a ser tornar é o fenotipicamente branco, é o que reproduz comportamentos e formas de ser desse povo. Para o Quijano (2005) os Europeus criaram uma nova perspectiva temporal da história, reescrevendo a história da cultura e dos povos colonizados no passado, em uma trajetória em que o futuro destes culminava na cultura Europeia. Os povos colonizados eram raças inferiores e por isso anteriores aos europeus. Desse ponto de vista as relações culturais entre a Europa e o resto do mundo foram relidas a partir de novas categorias: O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Oriente-Ocidente, primitivo-civilizado, mágico/mítico-científico, irracional-racional, tradicional- moderno, Europa e não-Europa. Nessa classificação entre europeu e não-europeu, raça é uma categoria básica, a única categoria que foi reconhecida como o outro da Europa ou “Ocidente”, foi o “Oriente”, os índios da América e os negros da África foram simplesmente considerados primitivos. Nesse sentido, essa perspectiva binária do conhecimento, se impõe de forma hegemônica simultaneamente a expansão do domínio colonial da Europa sobre o mundo (QUIJANO, 2005). Simultaneamente que a Europa amplia seu domínio sobre o mundo, também vai se tornando hegemônica essa forma de pensamento. Por que será que as religiões de matrizes africanas são demonizadas? Por que a gente tem uma sociedade baseada nas religiões judaico-cristã, onde é seu centro hegemônico? Na Europa. Assim, a nossa perspectiva de conhecimento, cultura, forma de ser, por conta da colonização, ela se desenvolveutendo por base a perspectiva eurocêntrica. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Só que hoje, isso já não é mais aceito e é impossível de se realizar, porque a manutenção disso, vai produzindo cada vez mais morte para a maior parte do nosso povo, que é negro ( pretos e pardos). Racismo e Favela Abolição sem reformas A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO OCORRE NO BRASIL EM 1888, SENDO O ÚLTIMO PAÍS DA AMÉRICA A ABOLI-LA. IMPORTANTE RESSALTAR QUE A ABOLIÇÃO OCORRE TENSIONADA POR DUAS QUESTÕES PRINCIPAIS: A “MODERNIZAÇÃO” DO BRASIL PARA ADERIR AO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA TENDO O TRABALHADOR “LIVRE”/ASSALARIADO COMO MEIO DE FORÇA DE TRABALHO. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Abolição sem reformas O MEDO DOS RICOS PROPRIETÁRIOS BRANCOS QUE OCORRESSEM INSURGENCIAS E REBELIÕES QUE FOSSEM CAPAZES DE DESTRUIR SEU PODER. SEGUNDO MARIA AZEVEDO ( ONDA NEGRA/MEDO BRANCO) A DÉCADA DE 1870, ESPECIALMENTE EM SÃO PAULO, FOI MARCADA POR UM ACIRRAMENTO DAS LUTAS DE ESCRAVOS NAS FAZENDAS, NUMA ONDA DE PEQUENOS ASSASSINATOS E REVOLTAS QUE NÃO ERA COMUM. UMA OUTRA HERANÇA NESSE ASPECTO E QUE INFLUENCIOU AS ELITES A COMEÇAREM A PENSAR NA ABOLIÇÃO FOI O MEDO SUSCITADO PELA SANGRENTA REVOLUÇÃO EM SÃO DOMINGOS, ONDE OS NEGROS HAVIAM SE REBELADO CONTRA A ESCRAVIDÃO EM 1790 E PROCLAMADO SUA INDEPENDÊNCIA EM 1804, COLOCANDO EM PRÁTICA PRINCÍPIOS DA REVOLUÇÃO FRANCESA, O QUE ACARRETOU TRANSTORNOS FATAIS PARA MUITOS SENHORES DE ESCRAVOS, SUAS FAMÍLIAS E PROPRIEDADES. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Política Institucional de Imigração ANTES DE SE DECLARAR O FIM DA ESCRAVIDÃO, OCORREU UM DEBATE EXTENSO POR DEPUTADOS, PROPRIETÁRIOS, PARA AVALIAR O QUE FAZER COM A POPULAÇÃO NEGRA. TORNOU-SE COMUM PENSAR A ESCRAVIDÃO COMO IRRACIONAL, POR SER TRABALHO FORÇADO, EM CONTRAPOSIÇÃO AO TRABALHO LIVRE, QUE PASSA A SER VISTO COMO RACIONAL, POR QUE É EM LIBERDADE. ARGUMENTOS LIBERAIS EXPLICITAVAM QUE A SUPOSTA IRRACIONALIDADE DA ESCRAVIDÃO PODIA SER EXPLICADA TANTO EM TERMOS DO CARÁTER COMPULSÓRIO DE SEU REGIME DE TRABALHO QUANTO PELA INFERIORIDADE RACIAL DOS ESCRAVIZADOS. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Política Institucional de Imigração SE FAZIA A LIGAÇÃO ENTRE BRANCO E TRABALHO LIVRE, PORTANTO, PROGRESSO, CIVILIZAÇÃO, LIBERDADE, QUE IMPLICA TAMBÉM PEQUENA PROPRIEDADE/CULTURA INTENSIVA E DIVERSIFICADA/DESENVOLVIMENTO. SE DEFINIA O NEGRO PELA FALTA DISSO TUDO E PELA NEGAÇÃO DO QUE É BOM. O NEGRO ERA O REAL A CORRIGIR, POIS DENOTAVA A PRÓPRIA ESCRAVIDÃO E PORTANTO, TRABALHO COMPULSÓRIO/ATRASO/BARBÁRIE E IMORALIDADE, O QUE IMPLICAVA GRANDE PROPRIEDADE/MONOCULTURA EXTENSIVA E ROTINEIRA/ESTAGNAÇÃO. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Política Institucional de Imigração Fala de AURELIANO CÂNDIDO- DEPUTADO DA ÉPOCA “INTERFERIR NESTE REAL QUE ERA O NEGRO E O ESCRAVO A FIM DE SE ATINGIR O IDEAL — O BRANCO E O TRABALHADOR LIVRE — SIGNIFICAVA NAO SO ACABAR COM A ESCRAVIDAO E INSTITUIR UM MERCADO DE TRABALHO LIVRE NO PAÍS, MAS SOBRETUDO POSICIONAR-SE CONTRA O NEGRO E EM FAVOR DO BRANCO, SEM APELO A SUBTERFUGIOS HUMANITARIOS. “PARA MIM, O EMIGRANTE EUROPEU DEVIA E DEVE DE SER O ALVO DE NOSSAS AMBIÇÕES, COMO O AFRICANO O OBJETO DE NOSSAS ANTIPATIAS” O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Política Institucional de Imigração COM ESSE IMAGINÁRIO SOCIAL, SE CRIA UMA POLÍTICA INSTITUCIONAL DE IMIGRAÇÃO PARA O BRASIL, FAVORECENDO OS POVOS EUROPEUS, DE PREFERÊNCIA DO CENTRO E DO NORTE DA EUROPA. A POLÍTICA INSTITUCIONAL IMIGRANTISTA TINHA COMO OBJETIVO “EMBRANQUECER” A POPULAÇÃO, POIS SEGUNDO TESES DA ÉPOCA A PARTIR DO RACISMO CIENTÍFICO, DA TEORIA DE EVOLUÇÃO DAS RAÇAS, NO QUAL A BRANCA ERA SUPERIOR, APÓS 5 GERAÇÕES A POPULAÇÃO DO BRASIL IRIA EMBRANQUECER, ASSIM TERÍAMOS UMA RAÇA HOMOGENEA, SUPERIOR, QUE SERIA A BRANCA. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Política Institucional de Imigração A IMIGRAÇÃO TAMBÉM PREVEU CONCEDER BENEFÍCIOS COMO INCENTIVOS PARA VIREM PARA O BRASIL, COMO ACESSO A PEDAÇOS DE TERRA, PODENDO SE TORNAR PEQUENOS PROPRIETÁRIOS, MORADIA, ALIMENTAÇÃO, DENTRE OUTROS. PARA O NEGRO, SUA “LIBERTAÇÃO”, E OS PIORES TRABALHOS, NA VERDADE SE MANTIVERAM EM TRABALHOS DESVALORIZADOS, AS MULHERES NEGRAS COMO TRABALHADORAS DOMÉSTICAS NA CASA GRANDE E OS HOMENS NO CAMPO. OU SEJA, OCORRE UMA ABOLIÇÃO, NA QUAL OS NEGROS SAEM SEM NENHUMA CONDIÇÃO DE SOBREVIVÊNCIA COMO TRABALHADOR LIVRE, NA VERDADE, PARA SOBREVIVEREM ELES TINHAM QUE VOLTAR PARA AS FAZENDAS E LÁ TRABALHAREM, EM CONDIÇÕES MUITAS VEZES IGUAIS A ANTERIOR. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira LEI DE TERRAS(04/09) X LEI EUZÉBIO DE QUEIROZ(18/09) Proibição do tráfico de escravos. ATE 1850- AS TERRAS ERAM PATRIMÔNIO PESSOAL DO REI. PARA CONSEGUIR UM LOTE DE TERRA, VOCÊ TINHA QUE SOLICITAR UMA DOAÇÃO PESSOAL. A DECISÃO PARA A DOAÇÃO ERA BASEADA NA AVALIAÇÃO DO PRETENDENTE, E ISSO SIGNIFICA, NO STATUS SOCIAL, AS SUAS QUALIDADES PESSOAIS E OS SERVIÇOS PRESTADOS A COROA. POR VOLTA DO SÉCULO XIX, ESSE CONCEITO DE ALTERA, A TERRA PASSA A SE TORNAR PATRIMONIO PÚBLICO, AGORA, A PARTIR DA LEI DE TERRAS, VOCÊ SÓ PODERIA ADQUIRIR COMPRANDO-A DO GOVERNO, O QUAL ATUARIA COMO MEDIADOR ENTRE O DOMÍNIO PÚBLICO E O PROVÁVEL PROPRIETÁRIO. AGORA QUALQUER PESSOA COM CAPITAL SUFICIENTE PODERIA ADQUIRIR A TERRA. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira LEI DE TERRAS ESSA AÇÃO É CONCEBIDA POR CLÓVIS MOURA, SOCIÓLOGO BRASILEIRO, COMO UMA AÇÃO POLÍTICA, POIS A MÉDIO E A CURTO PRAZO, QUANDO A POPULAÇÃO NEGRA ESCRAVIZADA FOSSE LIBERTADA, NÃO HAVERIA NENHUMA POSSIBILIDADE DE UM DECRETO ABOLICIONISTA RADICAL QUE INCLUISSE A DOAÇÃO. PELO CONTRÁRIO, QUANDO ELES FOSSEM LIBERTOS AS TERRAS SERIAM MERCADORIAS DE AQUIZIÇÃO IMPOSSÍVEL, DEVIDO AO SEU AUTO GRAU DE DESCAPITALIZAÇÃO. COM ESSE MECANISMO JURÍDICO SE CONTRIBUI PARA A IMPOSSIBILIDADE DA POPULAÇÃO NEGRA ASCENDER ECONONOMICAMENTE. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Racismo e favela As favelas são consequências da segregação socioespacial da população pobre, de maioria negra, que ocorreu com a destruição dos cortiços no fim do século XIX, mas que tem origem na destituição dos direitos da população negra após a abolição da escravidão, como a impossibilidade do direito à terra, ao trabalho, aos direitos políticos ou seja, à condições de sobrevivência como pessoas “livres”. O Brasil foi o último país da América a abolir a escravidão, em 1888, e como sabemos, uma abolição inconclusa, uma vez que a população negra na atualidade, após 130 anos da abolição, se mantém nos piores índices econômicos sociais. O pensamento social periférico, feminista e racializado:interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Racismo e favela Com o início da República o Rio de Janeiro buscava a modernização econômica, tendo o interesse de atrair novos capitais para as incipientes indústrias, para isso necessitava adequar o espaço às necessidades do capital construindo a cidade e sua infraestrutura para esse propósito. Segundo Campos (2012) em 1866, se desenvolveu a ideologia higienista, no qual a adoção da postura municipal foi a de proibir a construção de novos cortiços na área central da cidade, que existiam desde 1850, no qual residiam mais de 50% da população, pois era o local em que se tinham mais oportunidades trabalho. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Racismo e favela A ideologia higienista, discriminatória e criminalizatória, difundia argumentos que caracterizavam os cortiços como locais insalubres e transmissores de doenças e que sua população exercia costumes danosos a sociedade “as habitações coletivas seriam focos de erradicações de epidemias, além de, naturalmente, terrenos férteis para a propagação de vícios de todos os tipos” (CAMPOS, 2012, P.60), por isso era necessário destruí-los e expulsar seus habitantes. O fato mais relevante é que a maioria da população moradora de cortiços, era negra, os alforriados do período. A política da remoção tomou força a partir de 1873, concomitantemente, entre 1870 a 1880 foram os anos nos quais mais se concederam alforrias, o que liberou uma quantidade considerável de pessoas negras escravizadas, o que preocupou as elites associando-os a formação das “classes perigosas” devido ao acelerado aumento. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Racismo e favela Em 1893 foi destruído o cortiço “cabeça de porco” na área central, que deixou mais de 4 mil pessoas sem abrigo, o prefeito da época, Barata Ribeiro, autorizou então o deslocamento dos moradores para as encostas. Em 1897 foi no morro da favela, conhecido hoje como morro da providência que os soldados egressos da guerra de canudos foram se estabelecer com a autorização dos chefes militares (CAMPOS, 2012), portanto, com a destruição dos cortiços essa população se deslocou para as encostas, dando origem as primeiras favelas. * Muitos dos soldados que lutaram em canudos, foram homens negros que eram escravizados e que estavam lutando com a promessa de que se sobrevivessem teriam suas alforrias. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Racismo e favela Em 1893 foi destruído o cortiço “cabeça de porco” na área central, que deixou mais de 4 mil pessoas sem abrigo, o prefeito da época, Barata Ribeiro, autorizou então o deslocamento dos moradores para as encostas. Em 1897 foi no morro da favela, conhecido hoje como morro da providência que os soldados egressos da guerra de canudos foram se estabelecer com a autorização dos chefes militares (CAMPOS, 2012), portanto, com a destruição dos cortiços essa população se deslocou para as encostas, dando origem as primeiras favelas. * Muitos dos soldados que lutaram em canudos, foram homens negros que eram escravizados e que estavam lutando com a promessa de que se sobrevivessem teriam suas alforrias. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira PERFIL DA POPULAÇÃO NEGRA BRASILEIRA Representam 55,8% da população, incluindo aqui pretos e pardos. (IBGE, 2019) Mulheres negras são maioria dentre as mulheres brasileiras, de 51,7% de mulheres no Brasil, 51,8% são de mulheres negras (IRACI;Werneck. 2016) PARTICIPAÇÃO EM ESPAÇOS DE PODER E DECISÃO Quantidade de Ministras de Estado: hoje nenhuma negra. Câmara federal 77 deputadas do total de 513 cadeiras, somente 13 negras= 2% do total de deputados/as. Mulheres em geral sendo 15% Senado são 13 de 81 senadores, nenhuma negra. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Racismo e favela População negra sendo maioria dos residentes em favelas Residem em favelas 12,3 milhões de pessoas, sendo 67% destas negras/os, mais da metade, 6,3 milhões sendo de mulheres, dessas 69% são de mulheres negras. (Data Favela, 2015) O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Racismo e favela Dados do território de Manguinhos Corroborando com tais dados, o perfil das 509 mulheres que realizaram o primeiro atendimento na Casa da Mulher de Manguinhos no ano de 2014, 74% eram negras, 35% recebiam menos que um salário mínimo que era de R$ 724,00, 33% não tinham renda e 30% recebiam de 1 a 3 salários mínimos, nenhuma mulher atendida naquele ano recebia mais que 3 salários mínimos (Subsecretaria de Políticas para as Mulheres do Estado do Rio de Janeiro, 2015). Demonstra a feminização negra da pobreza. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Carolina Maria de Jesus Na sua escrita demonstra a interseccionalidade das opressões, o que é ser uma mulher negra em condição de pobreza na década de 1950, e que podemos ver que ainda não foi possível alterar aquela condição embora se tenha avançado. *Ler trechos do diário A importância da valorização do conhecimento popular. Ela faz análise de classe, de conjuntura, sem falar de conceitos como a academia, e isso é importante perceber nos nosso atendimentos como assistente social, por isso é importante ter uma escuta qualificada no atendimento. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Relação do Estado com a Favela - Produção de condições de exceção- Estado de exceção O “estado de exceção apresenta-se como a forma legal daquilo que não pode ter forma legal”, ele permite realizar ações que não estão nas leis, por que se concebe que ocorram situações inusitadas que a lei não se aplica, mas ao mesmo tempo, a criação da possibilidade de um estado de exceção está na lei, ou seja, é legitimada pelo direito público. * Estado de sítio O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Racismo e favela Resultado * É o extermínio da população negra Após 1988, quando o Brasil ampliou formalmente os direitos através da promulgação da Constituição Cidadã, ocorreram episódios que demonstraram que os direitos civis para a população residente em favela não estavam garantidos, em 1990 ocorreu a chacina de Acari, no qual 11 pessoas desapareceram e em 1993 a chacina de Vigário Geral, onde 21 pessoas moradoras da favela foram assassinadas, todas envolveram a ação de policiais. Em ambos os casos você tem o direito à vida, sendo violado, muito claramente por agentes estatais; O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Racismo e favela Em 2017 foram 1124 casos de assassinatos de civis realizados pela polícia do estado do Rio de Janeiro, justificados em decorrência de suposta resistência,em maioria nos territórios de favela e periferia. No período da intervenção federal a gente teve várias violações realizadas pelo exército, autorizadas pelo ministro da justiça, que foram documentadas pela Ouvidoria da Defensoria Pública do RJ. ( Relatório do circuito favelas por direitos) * Os moradores de alguns territórios de favela, só podiam entrar e sair do local que moravam se apresentassem documento de identidade e tirassem foto. Isso é cerceamento do direito de ir e vir, que é um direito fundamental estabelecido pela Constituição. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Cabral apoia aborto e diz que favela é fábrica de marginal. Para o governador do Rio, interrupção da gravidez está relacionada à redução da violência. Para ele, rede pública teria de oferecer condições, já que mulheres de melhor poder aquisitivo acabam pagando por procedimento “Tem tudo a ver com violência. Você pega o número de filhos por mãe na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal.” O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Racismo ele é um dos elementos que estruturam a ação do Estado nos territórios de favela, por que a maioria da população residente nesse território é negra. Ex: A execução da Vereadora Marielle Franco O destino desse sujeito é ser “ruim”, “bandido”, “incivilizado”. O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira *A invisibilização das formas de violências que atingem as mulheres negras da favela - Violência institucional A violência perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra (violência institucional). (Art. 2 da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, 1994) - Violência Comunitária A violência ocorrida na comunidade e que seja perpetrada por qualquer pessoa e que compreende, entre outros, violação, abuso sexual, tortura, tráfico de mulheres, prostituição forçada, sequestro e assédio sexual no lugar de trabalho, bem como em instituições educacionais, estabelecimentos de saúde ou qualquer outro lugar; O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira Formas de resistência a um projeto de genocídio da população negra O que é comum a elas: A violência institucional Organização Mulheres de Atitude – OMA, uma organização não governamental criada em 2010 por mulheres negras, com o trabalho direcionado para a garantia e promoção dos direitos das mulheres com enfoque interseccional7; o Projeto Marias, criado há quinze anos, que visa realizar ações para crianças com deficiência e suas famílias, criado pela moradora Norma, um mulher negra, que foi vítima de violência obstétrica74, tendo a consequência de seu filho ter uma anoxia perinatal com sequelas severas que o deixou com deficiência, sem assistência estatal de qualidade. “ O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus Racismo como estruturante da sociedade brasileira “Mães de Manguinhos” que surgiram em 2013, movimento social que reúne as mulheres desse território que tiveram familiares, em maioria são filhos, assassinados por agentes estatais ou que estão no sistema prisional, elas lutam por justiça e para que as condições de vida nas favelas se modifiquem . O pensamento social periférico, feminista e racializado: interpretações de Brasil em Guerreiro Ramos e Carolina Maria de Jesus MUITO OBRIGADA PELA ATENÇÃO! ARIANA KELLY DOS SANTOS- ASSISTENTE SOCIAL MESTRE EM POLÍTICAS PÚBLICAS EM DIREITOS HUMANOS PELO NEPP- DH/UFRJ DOUTORANDA EM SERVIÇO SOCIAL PELA ESS/UFRJ CONTATO: ARIANAKSANTOS@GMAIL.COM mailto:arianaksantos@gmail.com
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