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(2023) FARMACOLOGIA 07 - Drogas que agem no trato gastrointestinal

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 As drogas que agem em nível do trato gastrointestinal (TGI) são aquelas 
capazes de interferir nas principais funções deste sistema visceral. Tais funções 
são extremamente importantes do ponto de vista farmacológico, e seguem: 
 Secreção gástrica; 
 Controle do reflexo do vômito (êmese); 
 Motilidade intestinal e eliminação das fezes; 
 Formação e eliminação da bile. 
 
 Além de sua função primordial de digestão e absorção de alimentos, o 
TGI é um dos principais sistemas endócrinos do corpo e tem sua própria rede 
neuronal integradora (o sistema nervoso entérico). Admite-se que os 
medicamentos relacionados ao tratamento dos distúrbios gastrintestinais 
compreendem cerca de 8% de todas as prescrições no meio médico, daí a 
importância do estudo deste grupo farmacêutico. 
 
 
 Há dois plexos nervosos principais que comandam as ações do TGI: o plexo mioentérico (plexo de Auerbach) entre as camadas 
musculares longitudinal (mais externa) e a circular (média), e o plexo submucoso (plexo de Meissner) no lado luminal da camada muscular 
circular, ambos representantes pós-ganglionares do sistema nervoso autonômico parassimpático. 
 Estes plexos recebem fibras parassimpáticas pré-ganglionares do nervo vago (X par de nervos cranianos), principalmente. Tais 
fibras são, em sua maioria, colinérgicas e excitatórias (embora algumas sejam inibitórias). As fibras simpáticas que chegam ao TGI são, em 
sua maior parte, pós-ganglionares, e estas, além de inervar os vasos sanguíneos, músculo liso e algumas células glandulares diretamente, 
podem terminar nestes plexos, onde inibem a secreção de acetilcolina. 
 Os neurônios no interior dos plexos constituem o sistema nervoso entérico e secretam acetilcolina, noradrenalina, serotonina 
(5-hidroxitriptamina), purinas, óxido nítrico e vários outros peptídeos farmacologicamente ativos. 
 
 
 Os hormônios do TGI incluem secreções endócrinas e parácrinas. As secreções endócrinas (substâncias liberadas na corrente 
sanguínea) são, principalmente, de natureza peptídica e sintetizadas por células endócrinas da mucosa (como a gastrina e a 
colecistocinina). As secreções parácrinas incluem peptídeos reguladores liberados de células especiais encontradas em toda a parede 
do trato (como a histamina). 
 
 
 O estômago secreta cerca de 2,5 litros de suco gástrico por dia. As principais secreções exócrinas deste órgão são pró-enzimas, 
como o pepsinogênio (elaborado pelas células principais ou peptídicas) e o ácido clorídrico (HCl, produzido pelas células parietais ou 
oxínticas; e que também produzem HCO3-, o qual ganha a corrente sanguínea por antiporte). As células secretoras de muco são 
abundantes entre as células superficiais da mucosa gástrica. Íons bicarbonato também são secretados e ficam retidos no muco, criando 
uma barreira protetora, como um gel alcalino, que mantém a superfície da mucosa gástrica em uma faixa de pH que varia entre 6 e 7, em 
face de um ambiente muito mais ácido (pH 1 a 2) em sua luz. 
 
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OBS1: Enquanto que substâncias nocivas (como o álcool e a bile) possam romper esta camada alcalina produzida pelo muco, há 
substâncias endógenas que estimulam a secreção de muco e bicarbonados como prostaglandinas. 
 
REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DE ÁCIDO PELAS CÉLULAS PARIETAIS 
 A regulação da secreção de ácido pelas células parietais é especialmente importante na patogênese da úlcera peptídica e 
constitui um alvo em particular para a ação de fármacos. 
 A secreção das células parietais é uma solução isotônica de HCl com pH abaixo de 1, sendo a concentração de íons hidrogênio 
cerca de um milhão de vezes mais alta que a do plasma. O íon cloreto (Cl-) é transportado ativamente para canalículos parietais que se 
comunicam com a luz das glândulas gástricas em troca de HCO3- (que é lançado no sangue, ver OBS3) por meio de uma proteína de 
antiporte. A secreção de HCl para a luz do estômago é acompanhada por K+ (simporte) que foi trocado, previamente, por um H+ (por meio 
de uma bomba de prótons K+/H+) produzido na dissociação da ácido carbônico sintetizado previamente pela anidrase carbônica 
intracelularmente. 
A anidrase carbônica é a enzima responsável por catalisar a combinação do dióxido de carbono e água, gerando ácido carbônico 
(H2CO3) que rapidamente se dissocia nos íons H+ (lançado, como vimos, para a luz do estômago por meio da bomba K+/H+) e bicarbonato 
(HCO3-, que, como vimos, será trocado através da membrana basal da célula parietal por Cl-). 
 Os principais estímulos que atuam 
sobre as células parietais são: 
 Gastrina: hormônio peptídico 
estimulador sintetizado em células 
endócrinas do antro gástrico e 
duodeno e secretada no sangue do 
sistema porta. Sua principal ação se 
baseia na estimulação da secreção 
de ácido pelas células parietais. A 
gastrina também aumenta, 
indiretamente, a secreção de 
pepsinogênio, estimula o fluxo 
sanguíneo e aumenta a motilidade 
gástrica. Ao ganhar a circulação, a 
gastrina age no corpo do estômago 
(estimulando a produção de HCl) e 
em células diferenciadas do fundo 
do estômago (histaminócitos ou 
células enterocromafins, secretoras 
de histamina). 
 Acetilcolina: é liberada por 
neurônios colinérgicos (vagais) e 
estimula receptores muscarínicos 
específicos (M3) na superfície das 
células parietais e na superfície de células contendo histamina. 
 Histamina: a histamina é um neuropeptídeo produzido por células mastocitárias e algumas não-mastocitárias. Dentro do 
estômago, mastócitos e células não-mastocitárias situadas perto de células parietais fazem uma liberação basal constante de 
histamina (que ainda é alimentada pela gastrina e a acetilcolina). O hormônio atua sobre os receptores H2 (H2R) das células 
parietais, que são responsivas às concentrações de histamina que estejam abaixo do limiar para ativação do receptor H2 vascular. 
 Prostaglandinas E2 e I2: hormônios locais que inibem a secreção de ácido. 
 
 
OBS2: Aminoácidos, pequenos peptídeos e alimentos ricos em cálcio (como o leite) estimulam diretamente as células secretoras de 
gastrina, assim como leite e soluções de sais de cálcio – o que explica porque é inadequado usar sais de cálcio como antiácidos para tratar 
a gastrite. 
OBS3: A “maré alcalina” produzida pelo aumento da secreção gástrica (induzida pela presença de alimento, por exemplo) é explicada pelo 
antiporte que o Cl- (que irá compor o HCl) faz com o bicarbonato (HCO3-). Este, que é lançado na corrente sanguínea, altera o pH 
fisiológico ótimo para ação de algumas enzimas importantes para o metabolismo basal do organismo (principalmente àquelas localizadas 
no chamado centro do sono, no SNC). Isto explica a sonolência pós-prandial que geralmente induz ao sono. 
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 Observe o esquema ao lado para melhor entendimento 
do papel coordenado da acetilcolina, histamina e gastrina na 
regulação da secreção de ácido, e dos fármacos que interferem 
nesta fisiologia. A própria célula parietal apresenta receptores H2 
para histamina, receptores muscarínicos M2 para acetilcolina e 
receptores para gastrina (GR). A secreção de ácido vem depois 
da estimulação sinérgica dos receptores H2 (que aumentam o 
AMPc) e dos receptores M2 e de gastrina (que aumentam o Ca2+ 
citosólico). 
 A gastrina produzida no antro gástrico, via corrente 
sanguínea, ativa receptores de gastrina (“GR”) tanto na célula 
secretora de histamina (“CM”) quanto no GR da própria célula 
parietal do corpo do estômago. Em ambos os casos, ocorre 
estimulação de vias de transdução de sinal por aumento da 
concentração de cálcio citosólico, o qual aumenta a atividade da 
bomba de prótons (“P”), produzindo mais HCl. A produção de 
gastrina pelas células do antro é estimuladapor proteínas, 
aminoácidos e alimentos ricos em cálcio (ver OBS²). 
 A acetilcolina (“ACh”), via neurônios ganglionares 
colinérgicos, ativa tanto receptores M3 (“MR”) presentes nas 
células secretoras de histamina (CM) quanto MR nas células 
parietais. Além de estimular o plexo mioentérico (que por sua vez, comanda o aumento da contratilidade do trato e das secreções do 
mesmo), ao estimular as células do corpo (células parietais), estimula a produção de HCl. Além disso, ao agir sobre as células do fundo 
gástrico, estimula as CM a produzir histamina (que por sua vez, estimula receptores H2 nas células parietais que, via AMPc, produz mais 
gastrina). A atropina (bloqueador muscarínico) é capaz de evitar a ação da ACh em ambas as células (tanto os histaminócitos quanto as 
parietais). 
 
 
OBS4: Vale lembrar que todos os receptores colinérgicos pós-ganglionares presentes nas células gástricas são do tipo M3. Já os 
receptores colinérgicos pré-sinapticos (na membrana pré-sinaptica) são do tipo M1 pré-sinaptico. Se este receptor for estimulado, o seu 
neurônio é estimulado, por meio de feedback positivo, a secretar mais Ach na fenda, aumentando ainda mais a produção de HCl no 
estômago. Por este motivo, um aumento da atividade colinérgica nervosa pode desencadear um aumento excessivo na secreção de HCl, 
podendo gerar as chamadas gastrites nervosas. 
 
 
 A histamina, produzida pos histaminócitos do fundo do estômago, se liga nos receptores H2 (H2R) presentes nas células parietais. 
Semelhantemente ao que foi exposto na OBS4, quando o receptor H2 é ativado, ele ativa uma via de transdução de sinal que aumenta a 
concentração de AMPc nestas células. Este AMPc aumenta as concetrações da PKA que, por sua vez, fosforila e intensifica a ação da 
bomba de próton-potássio, axiliando na produção de HCl. 
 Em conclusão, observe que a acetilcolina, a histamina e a gastrina, mesmo ativando vias de transdução de sinal diferentes, 
desencadeiam o aumento da produção de ácido clorídrico pelas células parietais. 
 
 
OBS5: A PGE2, por sua vez, ao estimular seu receptor (“PGR”), induz a inativação dessas vias, inibindo assim a produção de HCl por estas 
células parietais. Daí, lembramos o que já foi visto em propósito do estudo dos AINEs: o principal efeito colateral dos anti-inflamatórios 
não-esteroidais é a irritação gástrica, gastrites e úlceras, uma vez que, inibindo a produção de PGE2 (por inibição da COX), além de diminuir 
a produção do muco protetor da mucosa gástrica, incapacitamos esta prostaglandina de inibir a via de transdução do sinal responsável 
pela produção de HCl. O Misoprostol (Cytotec®), versão sintética de prostanoides (capaz de ativar os mesmos receptores das 
prostaglandinas), é uma droga utilizada para tratamento da ulcera gástrica. Ela é responsável por aumentar a produção de muco protetor 
da mucosa gástrica e intensificar a vascularização do órgão (estimulando uma maior produção de bicarbonato). É totalmente 
contraindicada para gestantes por estimular contrações uterinas que podem causar aborto. 
OBS6: Inibidores da bomba de prótons (como o Omeprazol e o Pantoprazol) agem de forma direta na secreção gástrica, inibindo a 
produção de HCl ao inibir as proteínas transportadoras destes íons. Por esta razão, são considerados muito efetivos. 
 
 
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 O ato de vomitar nada mais é que um 
reflexo desencadeado por um estímulo físico-
químico que resulta na evacuação forçada do 
conteúdo gástrico através da boca. Costuma ser 
precedido por náuseas (sensação de “contração 
dolorosa” ou sensação iminente de vômito) ou 
ânsia de vômito (contrações repetitivas dos 
músculos abdominais, com ou sem efetiva 
expulsão de vômito). 
 Os vômitos podem ser uma resposta 
fisiológica valiosa à ingestão de uma substância 
tóxica, mas também são um efeito colateral e 
indesejado de muitos fármacos clinicamente 
úteis, notadamente os usados para 
quimioterapia (no câncer), bem como os 
opioides e anestésicos gerais. 
 
MECANISMO REFLEXO 
DO VÔMITO 
 Os vômitos são regulados 
centralmente pelo centro do vômito e pela 
zona de gatilho quimiorreceptiva (núcleo do 
tracto solitário), ambos situados no bulbo. A 
zona de gatilho, além de receber fibras 
aferentes viscerais gerais via nervo vago 
(oriundas de visceroceptores na mucosa 
gástrica), é sensível a estímulos químicos além 
de ser o principal ponto de ação de muitos 
fármacos eméticos e antieméticos. A barreira 
hematoencefálica nas vizinhanças da zona de 
gatilho é relativamente permeável, permitindo 
que mediadores circulantes atuem diretamente 
sobre este centro. Esta zona de gatilho envia, 
então, neurônios eferentes que ativam o centro 
do vômito. Deste centro, partem os 
componentes efetores para todos os eventos 
responsáveis pelo reflexo do vômito 
(fechamento do piloro, abertura da cárdia, 
aumento da mobilidade gástrica, contração do diafragma e de músculos da parede abdominal e a protrusão de língua). 
 Os principais neurotransmissores envolvidos no mecanismo do vômito são: acetilcolina, histamina, 5-hidroxitripitamina e 
dopamina, e os receptores para estes transmissores: M1, H1, 5-HT3 e D2. 
 
 
 
 Os principais fármacos abordados neste capítulo se resumem às seguintes classes: 
 Antagonistas do receptor H2 da histamina 
 Inibidores da bomba de prótons 
 Antiácidos 
 Protetores da mucosa gástrica 
 Fármacos antieméticos 
 Purgativos 
 Antiespasmódicos 
 
 
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ANTAGONISTAS DO RECEPTOR H2 DA HISTAMINA 
 Os antagosnitas do receptor H2 da histamina inibem, competitivamente, as ações da histamina em todos os receptores H2, mas 
seu principal uso clínico é como inibidores da secreção de ácido gástrico. Podem inibir a secreção de HCl estimulada pela histamina, pela 
gastrina e pela acetilcolina; a secreção de pepsina também cai com a redução do volume do suco gástrico. 
 Os fármacos representantes deste grupo são: Cimetidina, Ranitidina (algumas vezes combinada a Bismuto), Nizatidina e 
Famotidina. 
 
 
OBS7: Um experimento interessante foi feito ao se administrar 
Cimetidina via oral em um paciente (representado pela linha vermelha) e 
placebo em outro (represetando pela linha preta). Dias depois, ambos 
foram suspensos e foi realizada uma injeção subcutânea de betazol 
(droga análaoga à histamina, que funciona como um agonista dos 
receptores H2, estimulando a secreção de ácido gástrico) nos dois 
pacientes. Observou-se, ao final, o grande efeito que a histamina 
representa na inibição da secreção do HCl: bloqueando os receptores H2 
(linha vermelha), mesmo com o uso de betazol, não houve alteração na 
produção de HCl, mostrando a ação prolongada destas drogas na 
secreção gástrica. Já os pacientes que fizeram uso de placebo (linha 
preta) e que não apresentam seus receptores H2 bloqueados, ao serem 
submetidos à administração de betazol, passaram por picos de produção 
de HCl logo em seguida. 
 
 
INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS 
Os inibidores da bomba de prótons (IBP) – Omeprazol, Pantoprazol, Lansoprazol, 
Rabeprazol, Esomeprazol e Tenatoprazol – suprimem a secreção de ácido gástrico por 
meio de inibição específica da enzima H+/K+-ATPase (a “bomba de prótons”) na superfície 
secretora da célula parietal gástrica. Embora haja diferenças farmacocinéticas, todos os 
representantes dessa classe são similares entre si, reduzindo em até 95% a produção diária de 
ácido gástrico. 
O primeiro inibidor da bomba de prótons foi o benzimidazol, substituído pelo 
Omeprazol, que inibe irreversivelmente a H+/K+-ATPase (a bomba de prótons), a etapa 
terminal na via secretora de ácido. O fármaco é uma base fraca e se acumula no ambiente 
ácido dos canalículos da célula parietal, onde é ativado. 
Os IBPs devem ser ingeridos (via oral) preferencialmente em jejum, cerca de uma hora antes de cada refeição. São administrados 
naforma de precursores inativos, que no meio ácido dos canalículos da mucosa gástrica, são ativados e onde se concentram. Sofrem 
metabolização hepática. O seu potencial de efeitos máximos só é atingido após cerca de 4 dias. 
De forma aguda, essa classe de drogas pode ser utilizada como prova terapêutica para o diagnóstico (e tratamento) de uma 
gastrite clinicamente suspeitada. Há situações crônicas que justificam o uso contínuo de IBP, tais como: doença do refluxo gastresofágico 
(DRGE), esôfago de Barret, úlceras induzidas por AINE, etc. 
 
 
OBS7: Os IBP são bem tolerados e, na maioria dos casos em que surgem efeitos adversos, estes são moderados e passageiros. Os mais 
comuns (observados em aproximadamente 10% dos pacientes) são: cefaleia, diarreia, distúrbios gastrintestinais, constipação e flatulência. 
Efeitos adversos raros, porém importantes, incluem nefrite aguda intersticial, hiponatremia, hipopotassemia, hipomagnesemia, 
pancreatite, etc. Porém, alguns estudos levantam questões sobre a segurança do uso contínuo de IBP no manejo de doença péptica 
relacionada à acidez gástrica. A maior preocupação é com os efeitos de longo prazo. Um deles é o desenvolvimento de úlcera e câncer 
de estômago que surgem quando há condição de hipocloridria gástrica, isto é, quando o pH do estômago está elevado. 
 
 
 
ANTIÁCIDOS 
 Consistem na mais simples de todas as terapias para tratar os sintomas de secreção excessiva de ácido 
gástrico. Neutralizam diretamente o ácido por meio de uma reação química simples entre ácido e base, formando 
sal e água, elevando assim, o pH gástrico; isto também tem efeito de inibir a atividade das enzimas pépticas, que 
praticamente cessa em pH 5. 
A maioria dos antiácidos em uso comum são os sais de magnésio e alumínio. O hidróxido de magnésio é 
um pó insolúvel que forma cloreto de magnésio do estômago e não produz alcalose sistêmica, uma vez que o Mg2+ 
é pouco absorvido no intestino. Outro sal, o trissilicato de magnésio, é um pó insolúvel que reage lentamente 
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com o suco gástrico, formando cloreto de magnésio e sílica coloidal. Outros antiácidos bastante utilizados são o hidróxido de alumínio e 
o leite de magnésia. 
 Alginatos ou simeticona algumas vezes são combinados aos antiácidos. Acredita-se que os primeiros aumentam a viscosidade 
e a aderência do muco à mucosa esofágica, formando uma barreira protetora; enquanto que a segunda é um composto ativo sobre a 
tensão superficial que, impedindo a “formação de espuma”, pode aliviar a distensão abdominal e a flatulência. 
 
OBS8: O bicarbonato de sódio atua rapidamente e afirma-se que ele eleva o pH do 
suco gástrico para cerca de 7,4. Da reação, dióxido de carbono é liberado, e isso causa 
eructação. A água produzida na reação pode causar diarreia. O dióxido de carbono 
estimula ainda a secreção de gastrina e pode resultar em elevação secundária da 
secreção do ácido. Como uma parte do bicarbonato de sódio é absorvida no intestino, 
grande doses ou administração frequente deste antiácido podem causar alcalose, 
cujo início pode ser insidioso (ou seja, assintomático). Para evitar esta possibilidade, 
não deve ser prescrito bicarbonato de sódio para tratamento a longo prazo, nem deve ser dado a pacientes que estejam 
numa dieta hipossódica. 
OBS9: Os antiácidos mais utilizados são aqueles sais de magnésio e de alumínio. Deve-se ter cuidado antes de administrar 
antiácidos com base de sais de cálcio, íon este responsável por estimular as células produtoras de gastrina. 
 
 
FÁRMACOS QUE PROTEGEM A MUCOSA 
GÁSTRICA 
 Afirma-se que alguns agentes, denominados 
citoprotetores, aumentam os mecanismos endógenos de 
proteção de mucosa ou proporcionam uma barreira física sobre 
a superfície da úlcera. Os principais são: 
 Misoprostol: por ser um análogo estável da 
prostaglandina E1, exerce uma ação protetora gástrica 
no TGI. Pode ser adminsitrado por via oral e utilizado 
para promover a cicatrização de úlceras ou para 
prevenir lesão gástrica que pode ocorrer com o uso 
crônico de AINEs. Exerce uma ação direta sobre a 
célula parietal, inibindo a secreção basal de ácido 
gástrico em resposta a alimentos, histamina e cafeína. 
Os efeitos indesejáveis incluem diarreia, cólicas 
abdominais, contrações uterinas (por este motivo, não 
deve ser administrado durante a gravidez). 
 Quelato de bismuto: é usado em esquemas 
combinados para tratar Helicobacter pylori. Os efeitos 
indesejáveis incluem náuseas e vômitos, 
escurecimento da língua e das fezes. 
 Sucralfato: é um complexo de hidróxido de alumínio e 
sacarose sulfatada que libera alumínio em presença de 
ácido. Ele reduz a absorção de uma série de outros 
fármacos, incluindo antibióticos como 
fluoroquinolonas, tetraciclina e digoxina. Os efeitos 
indesejáveis são poucos, sendo o mais comum a 
constipação. 
 
FÁRMACOS ANTIEMÉTICOS 
 Existem vários agentes antieméticos, e estes, em geral, 
são usados para condições específicas, embora possa haver 
uma certa sobreposição. Ao usar fármacos para as náuseas 
matinais durante a gravidez, por exemplo, o problema é a 
potencial lesão ao feto que deve se ter em mente (boa parte 
dos fármacos deve ser evitada durante os três primeiros meses 
de gestação). Os principais sítios de ação para estes fármacos 
são os próprios receptores dos neurotransmissores envolvidos 
com o mecanismo do vômito (M1, H1, 5-HT3 e D2). 
 Muitos antagonistas dos receptores H1, muscarínicos 
(M1) e 5-HT3 exibem atividade antiemética clinicamente útil. Os 
efeitos indesejáveis como cefaleia e desconforto 
gastrointestinal são relativamente incomuns. 
 Antagonistas H1: Prometazina (Phenergan®), 
Cinarizina (Antigeron®; Cinarix®), Ciclizina, Meclizina 
(Meclin®) e Dimenidrinato (Dramin®). Seu uso 
apresenta efeitos colaterais como: sonolência (grande 
ação sedativa), diminuição da coodenação, disartria. 
 Antagonistas muscarínicos: Escopolamina/Hioscina 
(Buscopan®). Efeitos colaterais: boca seca, sonolência 
e visão embaçada são os efeitos indesejáveis mais 
comuns. 
 Antagonistas seletivos dos receptores 5-HT3: 
Ondansetron (Nausedron®), Granistron, 
Tropisetron e Dolasetron (Anzemet®). Os fármacos 
utilizados na quimioterapia do tratamento do câncer 
são capazes de ativar os receptores 5-HT3 do centro 
do vômito, desencadeando o reflexo do vômito. Daí a 
importância do uso de Ondasetrona neste tipo de 
tratamento. 
 Antagonistas D2 (antipsicóticos): Metoclopramida 
(Plasil®), Clorpromazina (Amplictil®), Perfenazina, 
Haloperidol (Haldol®; Loperidol®), 
Levomepromazina, Domperidona (Dom®). A 
Metoclopramida apresenta ainda a capacidade de se 
ligar aos receptores H1 e M1, provocando um bloqueio 
mais intenso da êmese 
 
PURGATIVOS 
 O trânsito de alimentos através do intestino pode ser 
agilizado por diferentes tipos de fármacos, inclusive os laxativos, 
emolientes fecais e purgativos estimulantes, agindo diretamente 
sobre a função de motilidade do TGI. Estes agentes podem ser 
utilizados para aliviar a constipação ou evacuar o intestino antes 
de cirurgia ou exame. 
 Laxativos formadores de bolo fecal (aumentam o bolo 
fecal em volume, o que provoca uma distensão da 
parede do TGI, estimulando a peristalse): 
Metilcelulose 
 Laxativos osmóticos (aumentam a retenção de água): 
Sulfato de magnésio e Hidróxido de alumínio 
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 Emolientes Fecais (atuam como detergentes 
amolecendo o bolo fecal): Docusato de sódio, 
Supositório de glicerina, etc. 
 Laxativos estimulantes (ativam o plexo mioentérico): 
Bisacodil (Lactopurga®) 
 
ANTIESPASMÓDICOS 
 Os agentes antiespasmódicos disponíveis incluem a 
Atropina, Sulfato de atropina (Atroveran® e Elixir 
paregórico®), Escopolamina/Hioscina (Buscopan®), 
Propantelina e Dicloverina. Estes fármacos antagonizam os 
receptores M3, reduzindo espasmos intestinais por inibir a 
atividadeparassimpática e, consequentemente, amenizam a dor 
do tipo cólica (como se sabe, tradicionalmente, a cólica é um 
tipo de dor causada por contração de uma víscera oca). 
 Desta modalidade de fármacos, a mais utilizada é a 
Escopolamina, sem sombra de dúvidas. Trata-se de uma opção 
válida para dores abdominais, dismenorreias, cólicas menstruais, 
etc. Embora tenha pouco efeito na musculatura lisa das vias 
urinárias, é largamente prescrita em casos de cólica nefrética. 
 
OBS10: Como sabemos, a cólica uterina é mediada pela PGF2α. A 
Escopolamina, por si só, não é capaz de deter a cólica 
completamente, uma vez que bloquearia apenas os receptores 
muscarínicos uterinos, mas não debeleria a produção da PGF2α. 
É necessário então utilizá-la associada a algum outro analgésico 
para potencializar seu efeito: enquanto a escopolamina bloqueia 
os receptores muscarínicos do útero, o analgésico inativaria a 
COX, que produz a PGF2α. A associação da Escopolamina a 
algum analgésico é, portanto, uma excelente associação a ser 
utilizado em casos de dor abdominal tipo cólica, seja uterina ou 
intestinal. Desta forma, vale ressaltar o seguinte: 
 Buscopan® Composto: escopolamina/hioscina + 
dipirona sódica (disponível em formulações orais e 
injetáveis venosas). 
 Buscopan® Plus e Buscopan® DUO: 
escopolamina/hioscina + paracetamol (administrado, 
exclusivamente, por via oral), sendo uma boa opção 
para pacientes alérgicos à dipirona. 
 Buscopan® Simples: apenas Escopolamina/Hioscina. 
 
 
OBS11: Embora a prescrição de antiespasmódicos para 
pacientes com diarreia infecciosa seja difundida, esta conduta 
deve ser desestimulada pois, como vimos, tais fármacos 
lentificam a peristalse intestinal para aliviar a dor, mas que pode 
predispor a translocação de bactérias patogênicas da luz 
intestinal para a corrente sanguínea, podendo desencadear uma 
infeccção generalizada. Nestes casos, prefere-se utlizar apenas 
analgésicos isolados. 
 
 
 
 Gastrite: é uma inflamação do epitélio gástrico. Nas endoscopias, o epitélio inflamado torna-se bem característico por 
apresentar uma coloração esbranquiçada com relação à mucosa circunjacente. O paciente pode apresentar epigastralgia, pirose, 
náuseas e vômito, fraquezas (por deficiência da vitamina B12), etc. Se não for tratada, pode evoluir para um quadro de úlcera. 
Conduta: se não houver sinais de alarme (disfagia, anemia, perda de peso, etc.), pode-se optar por uma prova terapêutica com 
IBP por 6 a 12 semanas; se não houver melhora, pode-se considerar em dobrar a dose do IBP ou encaminhar o paciente para 
uma endoscopia digestiva alta. 
 
 Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE): caracterizada um refluxo significativo e patológico de conteúdo gástrico para o 
esôfago, de forma exuberante e persistente. Isso geralmente ocorre quando o indivíduo perde um ou mais de um dos 
mecanismos antirreflexo: hipotonia do esfíncter esofágico inferior e/ou alteração na junção esofagogástrica alterada (hérnia de 
hiato, obesidade, etc.). O tratamento pode ser clínico (IBP + Antieméticos) ou cirúrgico (em caso de alteração anatômica). 
 
 Esofagite de refluxo: consiste na inflamação da mucosa que recobre o interior do esôfago geralmente causada por uma 
irritação crônica da mucosa esofágica pelo HCl oriundo do estômago. Pode vir acompanhada de um estreitamento no interior 
do conduto (estenose esofágica). Trata-se esta patologia ao tratar o refluxo e diminuir as concentrações de HCl. 
 
 Infecção por Helicobacter pylori: a H. pylori é uma bactéria gram-negativa flagelada bastante associada à gastrite (80-95% 
dos casos de úlcera duodenal e 70-80% dos casos de úlcera gástrica). Ela tem a capacidade de induzir a produção de HCl pelas 
células gástricas além de diminuir a camada protetora de muco desta víscera. A infecção por H. pylori também está envolvida 
com a formação de câncer de estômago. Em úlcera péptica de pacientes onde a infecção é descoberta, o procedimento normal 
é a erradicação da H. pylori para permitir a cura da úlcera. O tratamento de primeira linha consiste em uma terapia tripla, incluindo 
o uso de IBP com antibióticos. 
 
Erradicação da H. pylori 
Esquema no Brasil Esquema Internacional (Harrison) 
IBP 
Claritromicina por 7 dias 
Amoxicilina 
IBP 
Claritromicina por 14 dias 
Metronidazol 
 
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 Síndrome de Zollinger-Ellinson: é uma síndrome cuja 
etiologia tem como base um gastrinoma, neoplasia 
hipersecretora de gastrina geralmente localizada no pâncreas 
ou no antro gástrico (que acomete, justamente, as células 
produtoras de gastrina), o que aumenta, em larga escala, a 
secreção de ácido clorídrico. Raramente encontra-se ligada à 
fisiopatologia da úlcera péptica, uma vez que está mais 
intimamente relacionada à infecção por H. pylori e o uso de 
AINES. O tratamento é feito por meio de inibidores da bomba 
de prótons (como omeprazol e lansoprazol) ou antagonistas 
do receptor H2 da histamina (como a cimetidina ou a 
ranitidina) são usados para diminuir a secreção ácida. Se 
possível, os tumores devem ser removidos cirurgicamente ou 
tratados com quimioterapia. 
 
 
 
 
 
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