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Luddismo e Resistência no Trabalho

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363Relações de dominação e resistência no mundo do trabalho nos séculos XVIII e XIX
História
Texto 11 
O luddismo subsiste na mentalidade popular como um caso estranho e espontâneo de trabalhado-
res manuais analfabetos, resistindo cegamente às máquinas. Mas a destruição das máquinas tem uma 
história muito mais comprida. A destruição de materiais, teares, debulhadoras, o inundamento de minas 
ou estragos na boca de minas, o saque ou o ateamento de fogo à casa ou aos bens de patrões impo-
pulares – estas e outras formas de ação direta, violenta foram empregadas no século XVIII e na primei-
ra do século XIX. Esses métodos, às vezes, dirigiam-se contra as máquinas tidas por odiosas enquan-
to tais. Na maioria das vezes, eram uma forma de fazer valer condições consagradas pelo costume, de 
intimidar fura-greves, os trabalhadores “ilegais” ou patrões ou outras ações “sindicais”. 
Em Lancashire – embora a espinha dorsal da organização consistisse de tecelões – mineiros, fian-
deiros de algodão e todos os tipos de artífices participaram dos distúrbios. Em West Riding, embora 
os alvos de ataques fossem cardas mecânicas e cisalhadeiras, estavam associados aos ludditas não 
só aparadores de tecido, mas ainda séries de tecelões, alfaiates, sapateiros e representantes de qua-
se todas as especialidades de artesãos. Pode-se ver o luddismo como uma manifestação de uma cul-
tura operária com maior independência e complexidade do que qualquer outra vivida pelo século XVIII 
e XIX. 
(Adaptado de THOMPSON, 1987, p.124-179, v. 3).
tos de trabalhadores. Na Inglaterra, já no século XVIII, sociedades re-
creativas de ajuda mútua, organizadas por ofícios, ocasionalmente in-
tervinham para impedir a redução dos salários ou exigir sua elevação 
quando subia o custo de vida. Essas atividades, que iam de petições 
ao Parlamento para a fixação de salários até a organização de greves, 
eram chamadas combinações. Quando ocorriam, os capitalistas atingi-
dos reclamavam junto ao Parlamento e, em geral, obtinham sua proi-
bição em ramos profissionais específicos. Em 1799, o Parlamento britâ-
nico aprovou uma lei proibindo as combinações de trabalhadores em 
qualquer atividade.
A proibição às combinações dos trabalhadores e a perseguição aos 
seus sindicatos se reproduziram nos outros países, à medida que se in-
dustrializavam. As leis contra as combinações, na prática, colocaram as 
organizações operárias fora da lei. Os trabalhadores ficaram legalmen-
te proibidos de reivindicar o que quer que fosse, enquanto os empre-
gadores tinham plena liberdade para combinar contra qualquer movi-
mentação de seus empregados.
Para os trabalhadores restavam, então, algumas vias de ação: a prá-
tica da destruição de máquinas, as quais os destituíam do trabalho e 
desvalorizavam os injustos salários impostos pelos patrões; a ação por 
vias mais difusas ensaiando as manifestações de uma revolução; e a 
agitação política pela reforma do Estado.
A primeira via ficou célebre como movimento dos Luddistas, ou 
“quebradores de máquinas”. Conheça um pouco mais sobre este mo-
vimento:
364 Relações de poder
Ensino Médio
Texto 12
Há pelo menos dois tipos de quebra de máquinas, bastante diferentes da quebra acidental em dis-
túrbios comuns contra alta de preços ou outras causas de descontentamento. O primeiro tipo não im-
plica nenhuma hostilidade especial contra as máquinas como tal, mas é, sob certas condições, um 
meio normal de fazer pressão contra os empregadores ou os trabalhadores extras. Como se notou, os 
ludditas de Nottinghamshire, Leicestershire e Derbyshire usaram os ataques contra a maquinaria, no-
va ou velha, como meio de forçar seus empregadores a fazer-lhes concessões com relação aos sa-
lários e às outras questões. Este tipo de destruição fazia parte, tradicional e rotineiramente, do conflito 
industrial no período do sistema doméstico de fabricação, e nas primeiras fases das fábricas e minas. 
Não era dirigido apenas contra as máquinas, mas também contra as matérias-primas, produtos aca-
bados, ou mesmo à propriedade privada dos empregadores, dependendo do tipo de danos a que es-
tes eram mais sensíveis.
O segundo método de destruição remonta à hostilidade da classe operária às novas máquinas da 
revolução industrial, especialmente as que economizavam mão-de-obra. O trabalhador estava preocu-
pado não com o progresso técnico abstratamente, mas com o duplo problema prático de impedir o de-
semprego e manter o padrão de vida habitual, o que incluía fatores não-monetários, como a liberdade, 
a dignidade, bem como os salários.
(Adaptado de HOBSBAWM, 1999, p.17-21).
Após a leitura dos textos 11 e 12, identifique as razões da ocorrência da prática luddista. Registre 
por escrito.
 ATIVIDADE
Na Inglaterra, a classe trabalhadora alinhou-se atrás de um impor-
tante movimento, o Cartista, assim chamado por ter redigido e apre-
sentado um documento - a Carta do Povo - ao Parlamento Britânico, na 
qual constava uma lista de reivindicações.
Manifestação pública. 
ilustração, Illustred 
London News, abr. 
1848. A ilustração do 
jornal inglês revela que 
milhares de pessoas 
compareciam aos co-
mícios cartistas na In-
glaterra. 
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