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365Relações de dominação e resistência no mundo do trabalho nos séculos XVIII e XIX História Documento 6 Petição Cartista, Inglaterra (1838) Aos ilustres membros das Comunas da Grã-Bretanha e da Irlanda, reunidos em Parlamento, esta petição vem de seus abaixo assinados concidadãos. Nos encontramos oprimidos com o sofrimento pú- blico e privado. Estamos esmagados, sob uma carga de impostos. Nós dizemos à honrada Câmara que não devemos mais tempo ser privados de justo salário. Que as leis que criam a carestia dos alimentos e as que rareiam o dinheiro devem ser abolidas. Tal estado de coisas não pode se prolongar. Não o po- de sem o perigo sério para a estabilidade do trono e da paz no reino. O bem-estar de grande número, único fim legítimo, deve ser a única preocupação também do governo. Como preliminar essencial a es- sas reformas e a outras para assegurar ao povo os meios pelos quais seus interesses poderão ser efi- cazmente defendidos e assegurados, pedimos que, na confecção das leis, a voz de todos possa, sem entraves, ser ouvida. Eis porque pedimos o sufrágio universal. Agrade, pois, à respeitável Câmara, levar nossa petição em séria consideração e de esforçar-se, com vigor, por todos os meios constitucionais, em fazer promulgar uma lei que garanta a todo o cidadão masculino maior, são de espírito e inocente de qualquer crime, o direito de votar e que institua o voto secreto para todas as eleições parlamentares fu- turas. E seus peticionários rogarão para sempre. (Adaptado de MATTOSO, 1976, p. 46.) Analise os documentos 5 e 6 ressaltando os sujeitos envolvidos e suas reivindicações. Anote suas considerações a partir destes documentos. ATIVIDADE Texto 13 Os primeiros anos da década de 1830 foram marcados por agitações que levantaram questões nas quais os salários tinham importância secundária: os oleiros, contra o pagamento de salários em espé- cie; os trabalhadores têxteis, pela jornada de 10 horas de trabalho; os trabalhadores na construção, pe- la ação cooperativa direta; todos os grupos de trabalhadores, pelo direito de formação de sindicatos. A grande greve na região mineradora do nordeste, em 1831, girou em torno da segurança do emprego, do pagamento dos salários em espécie nas vendas e do trabalho das crianças. (THOMPSON, 1987, p.27-28, v. 2.) Ao examinar a resistência da classe trabalhadora, os conflitos e agita- ções freqüentes, percebe-se que giraram em torno de questões que nem sempre foram relacionadas ao custo de vida apenas. As questões que provocaram maior intensidade de envolvimento foram geralmente aque- las em que alguns valores morais, tais como costumes tradicionais, jus- tiça, independência, segurança ou economia familiar, estavam em risco. Entre as várias categorias de trabalhadores do século XIX, algumas se destacaram sendo portadoras de uma identidade singular, entretanto, agentes de uma ação coletiva. Veja um exemplo que a historiografia traz: 366 Relações de poder Ensino Médio Texto 14 No século XIX, os sapateiros, como ofício, tinham uma reputação de radicalismo. Eram militantes tanto nos assuntos que diziam respeito a seu ofício quanto em movimentos mais amplos de protesto social. Embora os sindicatos de sapateiros se limitassem a determinados setores e localidades dentro de um universo muito extenso, e embora fossem eficazes de forma pouco contínua, bem cedo se orga- nizaram em escala nacional tanto na França quanto na Suíça; isto para não mencionar a Inglaterra, on- de o sindicato londrino, fundado em 1792, teria porte nacional já em 1804. Os sapateiros e carpintei- ros foram os primeiros integrantes da Federação de Trabalhadores da Região da Argentina (1890), que constituiu a primeira tentativa de formação de um sindicato nacional naquele país. Eles ocasionalmen- te entraram em greve em grande escala e, durante a Monarquia de Julho na França, estavam entre os ofícios mais propensos à greve. Também sobressaíram nas multidões revolucionárias. Enfim, seu papel como ativistas políticos pode ser amplamente documentado. Dos integrantes ativos do movimento car- tista cujas ocupações são conhecidas, os sapateiros foram o maior grupo isolado a seguir aos tecelões e aos “trabalhadores” de ocupação não especializada. Na Tomada da Bastilha, ou pelo menos em meio aos detidos por esta razão, a representação dos sapateiros só foi superada pela dos marceneiros e ser- ralheiros; já nas revoltas do Campo de Marte e em agosto de 1792, sua representação não foi supera- da por nenhum outro ofício. Em 1871, entre os trabalhadores que se envolveram na Comuna de Paris, os que foram atingidos com a maior percentagem de deportações após a derrota, foram naturalmente os sapateiros. Quando eclodiu a rebelião na cidade alemã de Konstanz, em abril de 1848, os sapateiros constituíam de longe o grupo mais homogêneo de rebeldes, quase equivalendo ao total da soma dos alfaiates e marceneiros, os dois ofícios mais rebeldes que se seguiam. Do outro lado do mundo, o pri- meiro anarquista de que se tem notícia foi registrado em 1897, numa cidade provinciana no estado do Rio Grande do Sul, Brasil: era um sapateiro italiano; do mesmo modo, o único sindicato do qual se sa- be ter participado do primeiro Congresso de Trabalhadores de Curitiba (Brasil), de inspiração anarquis- ta, foi a Associação dos Sapateiros. (Adaptado de HOBSBAWM, 1998, p.37-38.) Identifique qual é a opinião do historiador sobre a questão abordada no texto 14. Emita também a sua opinião. ATIVIDADE O século XIX foi também o período em que um conjunto de obras foi publicada pelos socialistas – pensadores que propuseram formas alterna- tivas de organização de uma sociedade mais justa para os trabalhadores. Os primeiros teóricos socialistas desenvolveram suas idéias entre a Revolução Francesa de 1789 e os movimentos sociais de 1848, na Eu- ropa, e 1871, ano da Comuna de Paris, quando os operários parisien- ses chegaram a tomar o poder e organizaram um governo socialista re- volucionário que durou pouco mais de dois meses. Os principais socialistas desta fase foram os franceses Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-1834), Pierre Joseph Proudhon
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