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379Movimentos sociais, políticos e culturais na sociedade contemporânea: é proibido proibir? História Uma das explicações pode estar no fato dos países da América Lati- na possuírem uma economia baseada na exportação de produtos agrí- colas. A industrialização, na maioria dos países sul-americanos, tem suas origens no modelo primário-exportador. A maior parte dos gover- nos pouco fez para reverter esta ordem, as reivindicações dos campo- neses foram negligenciadas ou reprimidas. Marginalizados, os campo- neses que não conseguiam sobreviver dignamente com seu trabalho, exigiam dos governos a realização de reformas agrárias. Veja os exem- plos do México e do Brasil relativos à segunda metade do século XX. Os Zapatistas no México Em 1º de janeiro de 1994, data em que co- meçou a vigorar o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), também mar- cou o inicio das ações do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). Eles assumiram o controle das principais cidades nas proximida- des da Floresta de Lacandon, no estado mexi- cano de Chiapas. Formado por camponeses, a maioria índios txeltales, txotziles e choles, em geral oriundos das comunidades agrárias instaladas na região das florestas tropicais de Lacandon, na fron- teira com a Guatemala, os zapatistas, como fi- caram conhecidos, eram contra o NAFTA e a política de modernização da economia mexi- cana que prejudicava a produção dos peque- nos camponeses e favorecia os grandes lati- fundiários. A inspiração deste movimento teve origem com Emiliano Zapata (1879-1919), líder da Re- volução Mexicana (1910). Neste período, a vi- tória dos revolucionários teve como exigên- cia a redistribuição das terras aos indígenas e aos camponeses. Fato que só foi acontecer 20 anos mais tarde, quando o governo mexicano entregou setenta milhões de hectares a três mi- lhões de famílias. A partir de 1992, vários direitos das famílias que ocupavam as terras em reservas, princi- palmente na Floresta de Lacandon, foram sen- do anulados por decretos do então presidente Carlos Salinas de Gortari (1948- ), favorecendo os grandes proprietários de Chiapas. Ao mes- mo tempo, este governo acabou com os subsí- Documento 1 ACORDO DE LIVRE COMÉRCIO DA AMÉRICA DO NORTE - NAFTA Constitue-se em um instrumento de integra- ção das economias dos EUA, do Canadá e do México. O NAFTA (North America Free Trade Agre- ement) foi iniciado em 1988, entre norte-ameri- canos e canadenses, e por meio do Acordo de Liberalização Econômica, assinado em 1991, formalizou-se o relacionamento comercial entre os Estados Unidos e o Canadá. Em 13 de agos- to de 1992, o bloco recebeu a adesão dos me- xicanos. O NAFTA entrou em vigor em 1º de janeiro de 1994, com um prazo de 15 anos para a total eliminação das barreiras alfandegárias entre os três países, estando aberto a todos os Estados da América Central e do Sul. O NAFTA consolidou o intenso comércio re- gional no hemisfério norte do Continente Ame- ricano, beneficiando grandemente à economia mexicana, e aparece como resposta à formação da Comunidade Européia, ajudando a enfrentar a concorrência representada pela economia ja- ponesa e por este bloco econômico europeu. O bloco econômico do NAFTA abriga uma população de 417,6 milhões de habitantes, pro- duzindo um PIB de US$ 11.405,2 trilhões, que gera US$ 1.510,1 trilhão de exportações e US$ 1.837,1 trilhão de importações. (Extraído de http://www.camara.gov.br/mercosul/blocos/NAFTA.htm – Acesso em: 16 dez. 2005). n 380 Relações Culturais Ensino Médio dios e o protecionismo à produção de milho e café arruinando a eco- nomia das pequenas comunidades. Em 1992 e 1993, os camponeses mobilizaram-se pacificamente con- tra essas políticas, no entanto, suas manifestações foram ignoradas pe- lo governo. Em 1993, os camponeses mexicanos se organizaram para a luta armada e realizaram os primeiros conflitos com o exército. Em ja- neiro de 1994, toda comunidade nacional mexicana e internacional to- mou conhecimento da causa zapatista, o que forçou o governo de Sa- linas a entrar em negociação com este movimento. Documento 2 Comunicado do Comitê Clandestino Revolucionário Indígena – Comando Geral do Exército Zapatis- ta de Libertação Nacional. México, outubro de 2004. Ao povo do México: À sociedade civil nacional e internacional: Irmãos e irmãs: OEZLN se dirige a vocês para dizer a sua palavra: Primeiro. Devido à hostilidade de grupos paramilitares e à intolerância alimentada em algumas co- munidades pelo Partido Revolucionário Institucional, dezenas de famílias indígenas zapatistas, há tem- po, se viram obrigadas a refugiar-se e formar pequenos núcleos populacionais na chamada “biosfera dos Montes Azuis”. Durante o tempo em que permaneceram nesta terrível situação, longe de suas ter- ras de origem, os zapatistas refugiados se esforçaram para cumprir nossas leis que mandam cuidar dos bosques. Apesar disso, o governo federal de mãos dadas com as transnacionais, que pretendem apo- derar-se das riquezas da selva Lacandona, mais de uma vez, ameaçaram desalojar violentamente todos os povoados desta região, incluindo os zapatistas. Os companheiros e companheiras de várias comu- nidades ameaçadas de desalojamento decidiram resistir enquanto o governo não cumprir os chamados “acordos de San Andrés”. Sua decisão é respaldada e apoiada pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional. Sublinhamos isso no devido momento e agora o ratificamos: se alguma de nossas comunida- des é desalojada com violência, responderemos, todos, no mesmo tom. Segundo. Com o avanço das chamadas “juntas de bom governo”, grande parte das comunidades indígenas zapatistas se muniu de meios que melhoram substancialmente suas condições de vida. Sobretudo no que diz respeito à saúde e à educação, as comunidades rebeldes conseguiram avan- ços, sem nenhum apoio governamental federal, estadual ou dos municípios oficiais, que superam com folga os das comunidades vinculadas à oficialidade. Isso tem sido possível graças ao apoio de irmãos e irmãs de todo o México e do mundo. Contudo, estes benefícios não conseguem cobrir todas as comunidades rebeldes. Particularmente, as populações refugiadas nos Montes Azuis não são beneficiadas por estes avanços. .(...) Sétimo. Esperamos sinceramente que a sociedade civil nacional e internacional responda ao nos- so apelo para apoiar estas comunidades e melhorar assim suas condições de vida zapatista, ou seja, de luta e resistência.(...) Democracia! Liberdade! Justiça! Das montanhas do Sudeste Mexicano.
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