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1 2 3 4 Características básicas dos solos Resultados de aprendizagem Depois de trabalhar com o material deste capítulo, você deverá ser capaz de: Entender como os depósitos de solo são formados, além da composição básica e da estrutura dos solos quanto à sua microtextura (Seções 1.1 e 1.2). Descrever (Seções 1.3 e 1.4) e classificar (Seção 1.5) os solos com base em suas características físicas básicas. Determinar as características físicas básicas de um contínuo de solo (isto é, no que diz respeito à sua macrotextura; Seção 1.6). Especificar a compactação exigida para produzir materiais para os aterros de engenharia, com as propriedades desejadas do contínuo para uso em construções geotécnicas (Seção 1.7). 1.1 A origem dos solos Para o engenheiro civil, solo é qualquer reunião de partículas minerais soltas ou fracamente unidas (cimentadas), formada pela decomposição de rochas como parte do ciclo delas (Figura 1.1), sendo o espaço vazio entre as partículas ocupado por água e/ou ar. As ligações fracas podem ser causadas por carbonatos ou óxidos precipitados entre as partículas ou por matéria orgânica. A deposição e a compressão subsequentes dos solos, combinadas com a cimentação entre as partículas, os transformam em rochas sedimentares (um processo conhecido como litificação). Se os produtos da exposição ao tempo permanecerem no local original, eles constituirão um solo residual. Se forem transportados e depositados em um local diferente, constituirão um solo transportado, sendo a gravidade, o vento, a água e as geleiras seus agentes de transporte. Durante o deslocamento, o tamanho e a forma das partículas podem sofrer modificações, e estas podem ser classificadas em intervalos específicos de tamanho. Os tamanhos das partículas de solo podem variar desde mais de 100 mm até menos de 0,001 Figura 1.1 Figura 1.2 mm. No Reino Unido, os intervalos de tamanhos são descritos de acordo com a Figura 1.2. Nela, os termos “argila”, “silte” etc. são usados apenas para descrever o tamanho das partículas entre os limites especificados. No entanto, eles também descrevem tipos particulares de solos, classificados de acordo com seu comportamento mecânico (ver Seção 1.5). O ciclo das rochas. Intervalos de valores dos tamanhos de partículas. O tipo de transporte e a deposição subsequente de partículas de solo têm uma forte influência sobre a distribuição do tamanho das partículas em um determinado local. A Figura 1.3 mostra alguns regimes comuns de deposição. Em épocas glaciais, o material do solo é erodido da rocha subjacente pela ação do atrito e do congelamento/descongelamento das geleiras. O material, que normalmente apresenta partículas de tamanhos variados, desde aquelas com o tamanho de argila até as que têm o tamanho de pedregulhos, é transportado ao longo da base da geleira e depositado quando o gelo se derrete; o material resultante é conhecido como tilito (glacial). Material similar também é depositado como uma morena (ou moraina) terminal na borda da geleira. Quando esta se derrete, a morena é transportada nas águas do degelo (outwash); é mais fácil para as partículas menores e mais leves serem transportadas em suspensão, levando a uma gradação no tamanho das partículas de acordo com a distância até a geleira, conforme mostra a Figura 1.3a. Em climas de temperaturas mais quentes, o principal meio de transporte é a água (isto é, rios e mares), conforme mostra a Figura 1.3b. O material depositado é conhecido como aluvião, e sua composição depende da velocidade do fluxo de água. Rios com fluxos mais rápidos podem transportar partículas maiores em suspensão, resultando na aluvião, que é uma mistura de partículas com tamanho de areia e cascalho, ao passo que a água com fluxo mais lento tenderá a transportar apenas partículas menores. Nos locais de estuários, onde os rios se encontram com o mar, o material pode ser depositado como uma plataforma ou um delta. Em ambientes áridos (deserto; Figura 1.3c), o vento é o agente de transporte principal, erodindo os afloramentos de rochas e formando um pedimento (o solo do deserto) de sedimentos finos levados pelo vento (loess ou loesse). Ao longo da costa, também pode ser formada uma praia de lagos temporários evaporados, deixando depósitos de sal. As grandes diferenças de temperatura entre a noite e o dia causam intemperismo térmico adicional dos afloramentos de rocha, produzindo seixos. Esses processos de superfície, geologicamente muito recentes, são conhecidos como depósitos de deriva (drift) em mapas geológicos. O solo que sofreu compressão/consolidação significativa após sua deposição é normalmente muito mais velho e é conhecido como maciço, junto a rochas, em mapas geológicos. As proporções relativas das partículas de diferentes tamanhos em um solo são descritas como sua distribuição do tamanho de partículas (DTP, distribuição granulométrica ou ainda PSD, para o termo em inglês particle size distribution), e as curvas típicas para os materiais em diferentes ambientes de depósitos são mostrados na Figura 1.4. O método de determinação da DTP de um depósito e seu uso subsequente na classificação do solo são descritos nas Seções 1.4 e 1.5. Figura 1.3 Ambientes comuns de depósitos: (a) glacial; (b) fluvial; (c) deserto. Em um determinado local, os materiais da subsuperfície serão uma mistura de rochas e solos, remontando a centenas de milhões de anos em tempo geológico. Em consequência, é importante conhecer a história geológica de uma área para entender as características prováveis dos depósitos que estarão presentes na superfície, uma vez que o regime de deposição pode ter mudado significativamente ao longo do tempo geológico. Figura 1.4 Distribuição do tamanho das partículas de sedimentos de diferentes ambientes de depósitos. Para citar um exemplo, a região de West Midlands, no Reino Unido, era deltaica no período carbonífero (há ≈395–345 milhões de anos), depositando materiais orgânicos que, mais tarde, se tornaram camadas de depósito de carvão. No período triássico subsequente (há 285–225 milhões de anos), devido a uma alteração no nível do mar, foram depositados materiais arenosos que, posteriormente, se litificaram para se tornar o arenito Bunter. Durante esse período, a formação de montanhas onde é agora o continente europeu fez com que as camadas de rocha existentes ficassem dobradas. Posteriormente, durante os períodos cretáceo/jurássico (há 225–136 milhões de anos), elas foram inundadas pelo Mar do Norte, depositando partículas finas e material carbonatado (argila Lias e calcário Oolítico). As eras glaciais do período pleistoceno (ha 1,5–2 milhões de anos) levaram, posteriormente, à glaciação de quase toda a parte mais meridional do Reino Unido, erodindo algumas das rochas mais macias (sedimentares) recentemente depositadas e sobrepondo tilito glacial. O derretimento subsequente dos glaciares criou os leitos dos rios, que depositaram aluvião sobre o tilito. A história geológica sugeriria, portanto, que provavelmente as condições do solo superficial consistem em aluvião acima de tilito/argila, que, por sua vez, cobre rochas mais fortes, conforme o esquema mostrado na Figura 1.5. Esse exemplo demonstra a importância da geologia para a engenharia em relação ao entendimento das condições do terreno. Uma introdução completa sobre esse Figura 1.5 tópico pode ser encontrada em Waltham (2002). Perfil típico do solo em West Midlands, Reino Unido. 1.2 A natureza dos solos O processo destrutivo para a formação de solo a partir de rochas pode ser tanto físico quanto químico. O processo físico pode ser a erosão pela ação do vento, da água ou de geleiras ou a desintegração causada pela alternância de congelamento e descongelamento em fendas da rocha. As partículas de solo resultantes conservam a mesma composição da rocha original, ou rocha-mãe (uma descrição completa disso está além do escopo deste texto). As partículas desse tipo são descritas como “graúdas”, estando na forma “granular”, e seu formato pode ser indicado por expressõescomo angular, arredondada, chata ou alongada. Elas se apresentam em uma grande variedade de tamanhos, desde matacões e pedregulhos, passando por cascalho e areia, até uma fina poeira de rocha formada pela ação trituradora de geleiras. O arranjo estrutural das partículas granulares (Figura 1.6) é descrito como grão simples (granular simples ou de grãos individuais), em que cada partícula está em contato direto com as adjacentes, sem que haja elemento de Figura 1.6 ligação algum entre elas. O estado das partículas pode ser descrito como denso, medianamente denso ou solto, dependendo de como elas estejam agrupadas (ver Seção 1.5). Estrutura granular simples. Os processos químicos provocam modificações na forma mineral da rocha-mãe devido à ação da água (especialmente, se ela contiver traços de ácidos ou de bases alcalinas), do oxigênio e do dióxido de carbono. O intemperismo químico causa a formação de grupos de partículas cristalinas de tamanho coloidal (<0,002 mm), conhecidos como minerais de argila ou simplesmente argilas. A argila caolinita, por exemplo, é formada pela decomposição do feldspato por ação da água e do dióxido de carbono. A maioria das partículas de argila encontra-se na forma de “placas” e apresenta grande superfície específica (isto é, uma grande relação entre sua área de superfície e sua massa), o que faz com que sua estrutura seja influenciada significativamente por forças de superfície. Também podem ocorrer partículas delgadas (na forma de “agulhas”), mas elas são relativamente raras. As unidades estruturais básicas da maioria das argilas são um tetraedro de silício-oxigênio e um octaedro de alumíniohidroxila, conforme ilustra a Figura 1.7a. Há desequilíbrios de valência em ambas as unidades, resultando em cargas líquidas negativas. Dessa forma, as unidades básicas não existem isoladas, mas se misturam para formar estruturas laminares. As unidades Figura 1.7 tetraédricas se combinam, compartilhando os íons de oxigênio para formar uma estrutura laminar de sílica. As octaédricas se combinam, compartilhando íons de hidroxila para formar uma estrutura laminar de gibsita. A estrutura de sílica conserva uma carga líquida negativa, mas a de gibsita é eletricamente neutra. O silício e o alumínio podem ser substituídos parcialmente por outros elementos, o que é conhecido como substituição isomórfica, resultando em um desequilíbrio ainda maior de cargas. As estruturas laminares são representadas simbolicamente na Figura 1.7b. As estruturas de camadas são formadas, então, pela ligação de uma estrutura laminar de sílica com uma ou duas de gibsita. As partículas de argila consistem em pilhas dessas camadas, com diferentes formas de ligação entre elas. As superfícies das partículas de argila carregam cargas residuais negativas, em decorrência, principalmente, da substituição isomórfica do silício ou do alumínio por íons de menor valência, mas também devido à dissociação dos íons de hidroxila. Minerais de argila: unidades básicas. Aparecem também cargas desequilibradas em consequência de “ligações quebradas” nas bordas das partículas. As cargas negativas causam a atração, para as partículas, dos cátions presentes na água do espaço vazio. Os cátions não estão presos fortemente e, se a natureza da água for modificada, eles podem ser substituídos por outros cátions, um fenômeno conhecido como troca de base. Os cátions são atraídos para uma partícula de argila por causa da superfície carregada negativamente, mas, ao mesmo tempo, eles tendem a se afastar uns dos outros por sua energia térmica. O efeito líquido resultante é que os cátions formam uma camada dispersa adjacente à partícula, com a concentração de cátions diminuindo conforme aumenta a distância da superfície, até a concentração se tornar igual àquela da massa geral de água no espaço vazio do solo como um todo. O termo “camada dupla” descreve a superfície da partícula carregada negativamente e a camada dispersa de cátions. Para uma determinada partícula, a espessura da camada de cátions depende principalmente da valência e da concentração deles: um aumento na valência (devido à troca de cátions) ou na concentração causará um decréscimo na espessura da camada. Camadas de moléculas de água são mantidas em torno de uma partícula de argila por ligações de hidrogênio (já que as moléculas de água são bipolares) e pela atração às superfícies carregadas negativamente. Além disso, os cátions cambiáveis atraem água (isto é, eles se tornam hidratados). Dessa forma, a partícula é envolvida por uma camada de água adsorvida. A água mais próxima à partícula é fixada com maior força e aparenta ter alta viscosidade, mas esta diminui à medida que aumenta a distância entre a superfície livre da partícula e aquela água “livre” no contorno da camada adsorvida. As moléculas de água adsorvida podem se mover com relativa liberdade paralelamente à superfície da partícula, mas o movimento perpendicular à superfície é restrito. As estruturas dos principais minerais da argila estão representadas na Figura 1.8. A caolinita consiste em uma estrutura baseada em uma única lâmina de sílica, combinada com somente uma lâmina de gibsita. Há uma substituição isomórfica muito limitada. As lâminas combinadas de sílica- gibsita são conservadas unidas, de uma forma relativamente forte, por meio de ligações de hidrogênio. Uma partícula de caolinita pode consistir em mais de 100 pilhas. A ilita tem uma estrutura básica que compreende uma lâmina de gibsita entre duas de sílica, com as quais se combina. Na lâmina de sílica, há uma substituição parcial de sílica por alumínio. As lâminas combinadas são unidas entre si por uma ligação relativamente fraca devida aos íons não intercambiáveis de potássio mantidos entre elas. A montmorillonita tem a mesma estrutura básica que a ilita. Na lâmina de gibsita, há uma substituição parcial de alumínio por magnésio e ferro, e, na de sílica, há novamente uma substituição parcial de sílica por alumínio. O espaço entre as lâminas combinadas é ocupado por moléculas de água e cátions cambiáveis diferentes do potássio, resultando em uma ligação muito fraca. Pode ocorrer uma expansão considerável da montmorillonita (e, portanto, de qualquer solo do qual ela faça parte) em consequência da água adicional adsorvida entre as lâminas combinadas. Isso demonstra que o entendimento da composição básica de um solo em termos de sua mineralogia pode fornecer informações para a solução de problemas geotécnicos que possam ser encontrados posteriormente. Existem forças de repulsão e atração agindo entre partículas adjacentes de minerais de argila. A repulsão ocorre entre as cargas idênticas de camadas duplas e depende das características destas. Um aumento na valência dos cátions ou em sua concentração causará um decréscimo da força repulsiva e vice-versa. A atração entre as partículas deve-se a forças fracas de curto alcance de van der Waals (forças elétricas de atração entre moléculas neutras), que são independentes das características da camada dupla e diminuem rapidamente com o aumento da distância entre as partículas. As forças líquidas entre elas influenciam a forma estrutural das partículas de minerais de argila em sedimentação. Se houver repulsão, as partículas tendem a assumir uma orientação face a face, que é conhecida como uma estrutura dispersa. Se, por outro lado, houver atração, a orientação das partículas tende a ser aresta a face ou aresta a aresta, o que se conhece como uma estrutura floculada. Essas estruturas, que envolvem a interação entre partículas isoladas de minerais de argila, estão ilustradas nas Figuras 1.9a e b. Em argilas naturais, que normalmente contêm uma proporção significativa de partículas granulares, o arranjo estrutural pode ser extremamente complexo. A interação entre as partículas isoladas de minerais de argila é rara, havendo a tendência para a formação de agrupamentos elementares de partículas orientados face a face. Estes, por sua vez, se combinam para formar ajuntamentos (conjuntos) maiores, cujaestrutura é Parte 1 - Desenvolvimento de um modelo mecânico para o solo 1 Características básicas dos solos Resultados de aprendizagem 1.1 A origem dos solos 1.2 A natureza dos solos
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