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Figura 2.4 Ensaios de furos de sondagem: (a) carga constante; (b) carga variável; (c) extensão do furo de sondagem para evitar o desabamento; (d) medida da permeabilidade vertical em solo anisotrópico; e (e) medida da percolação in situ. O coeficiente de permeabilidade de um solo grosso também pode ser obtido a partir de medidas in situ da velocidade de percolação, por meio da Equação 2.5. O método consiste em escavar furos de sondagem sem revestimento ou poços de ensaio em dois pontos, A e B (Figura 2.4e), com a percolação ocorrendo de A para B. Obtém-se o gradiente hidráulico pela diferença entre os níveis permanentes de água nos furos de sondagem dividida pela distância AB. Insere-se um corante ou outra substância de contraste adequada no furo de sondagem A e, depois, mede-se o tempo que ele leva para aparecer no furo B. A velocidade de percolação é, então, a distância AB dividida por esse tempo. A porosidade do solo pode ser determinada a partir de ensaios de densidade (massa específica). Assim, Informações adicionais sobre a implementação de ensaios in situ de permeabilidade podem ser encontradas em Clayton et al. (1995). 2.3 Teoria da percolação Agora, será examinado o caso geral de percolação em duas dimensões. Inicialmente, admitiremos que o solo é homogêneo e isotrópico no que diz respeito à permeabilidade, sendo o coeficiente de permeabilidade denominado por k. No plano x–z, a lei de Darcy pode ser escrita de forma generalizada: com a carga total h diminuindo nas direções de vx e vz. A Figura 2.5 mostra um elemento de solo todo saturado e com dimensões dx, dy e dz nas direções x, y e z, respectivamente, com o fluxo ocorrendo apenas no plano x–z. Os componentes da velocidade de saída (descarga) da água que entra no elemento são vx e vz, e as taxas de variação das velocidades de descarga nas direções x e z são ∂vx/∂x e ∂vz/∂z, respectivamente. O volume de água que entra no elemento por unidade de tempo é e o volume de água que deixa o elemento por unidade de tempo é Se o elemento não apresentar alteração de volume e se admitirmos que a água é incompressível, a diferença entre o volume de água que entra no elemento por unidade de tempo e o volume que sai deve ser zero. Dessa forma, Figura 2.5 Percolação através de um elemento de solo. A Equação 2.11 é a equação da continuidade em duas dimensões. No entanto, se o volume do elemento apresentar alteração, ela se tornará na qual dV/dt é a variação de volume por unidade de tempo. Considere, agora, a função φ(x, z), chamada função potencial, tal que A partir das Equações 2.11 e 2.13, fica evidente que isto é, a função φ(x, z) satisfaz a equação de Laplace. Integrando a Equação 2.13: em que C é uma constante. Dessa forma, se a função φ(x, z) fornecer um valor constante, igual a φ1 (por exemplo), ela representará uma curva ao longo da qual o valor da carga total (h1) será constante. Se a função φ(x, z) fornecer uma série de valores constantes, φ1, φ2, φ3 etc., uma família de curvas será especificada, e, ao longo de cada uma delas, a carga total exibirá um valor constante (mas um valor diferente para cada curva). Tais curvas são denominadas equipotenciais (ou linhas equipotenciais). Agora, utiliza-se uma segunda função ψ(x, z), chamada função de fluxo, tal que Pode-se demonstrar que essa função também satisfaz à equação de Laplace. O diferencial total da função ψ(x, z) é Se a função ψ(x, z) fornecer um valor constante ψ1, então, dψ = 0 e Dessa forma, a tangente em qualquer ponto da curva representada por ψ(x, z) = ψ1 especifica a direção da velocidade de descarga resultante ali: a curva representa, portanto, o caminho do fluxo. Se a função ψ(x, z) fornecer uma série de valores constantes, ψ1, ψ2, ψ3 etc., será especificada uma segunda família de curvas, com cada uma representando um caminho de fluxo. Essas curvas são denominadas linhas de fluxo. Utilizando a Figura 2.6 como referência, o fluxo por unidade de tempo entre duas linhas de fluxo, para as quais os valores da função de fluxo sejam ψ1 e ψ2, é dado por Dessa forma, o fluxo através do “canal” entre as duas linhas de fluxo é constante. O diferencial total da função φ(x, z)é Se φ(x, z) for constante, então, dφ = 0 é Comparando as Equações 2.16 e 2.17, fica evidente que as linhas de fluxo e as equipotenciais se interceptam em ângulos retos. Considere, agora, duas linhas de fluxo, ψ1 e (ψ1 + Δψ), separadas entre si por uma distância Δn. Elas são interceptadas ortogonalmente por duas equipotenciais, φ1 e (φ1 + Δφ), separadas entre si pela distância Δs, conforme mostra a Figura 2.7. As direções s e n fazem um ângulo α com os eixos x e z, respectivamente. No ponto A, a velocidade de descarga (na direção s) é vs; os componentes de vs nas direções x e z, respectivamente, são Agora, Figura 2.6 Figura 2.7 Percolação entre duas linhas de fluxo. Linhas de fluxo e equipotenciais. Desse modo, ou aproximadamente 2.4 Redes de fluxo Em princípio, a fim de solucionar um problema prático de percolação, devem ser encontradas as funções φ(x, z) e ψ(x, z) para as condições de contorno pertinentes. A solução é representada por uma família de linhas de fluxo e uma de linhas equipotenciais, constituindo o que é conhecido como uma rede de fluxo. Existe ampla disponibilidade de software computacional baseado tanto no método das diferenças finitas quanto no dos elementos finitos para a solução de problemas de percolação. Williams et al. (1993) descreveram como obter soluções da equação de Laplace na forma de diferenças finitas com a utilização de uma planilha. Esse método será descrito na Seção 2.7, e há recursos eletrônicos disponíveis no site da LTC Editora que traz material complementar a este texto para acompanhar o material exposto no restante do capítulo. Problemas relativamente simples podem ser resolvidos por meio de um esboço da rede de fluxo, obtido por tentativa e erro, cuja forma geral é deduzida das considerações a respeito das condições de contorno. O esboço de redes de fluxo conduz a um entendimento mais amplo dos princípios da percolação. No entanto, para problemas nos quais a geometria se torna complexa e há zonas de permeabilidades diferentes ao longo da região de fluxo, normalmente, é necessário utilizar o método das diferenças finitas. A condição fundamental a ser satisfeita em uma rede de fluxo é que toda a interseção entre uma linha de fluxo e uma equipotencial deve ser em ângulo reto. Além disso, é conveniente construir uma rede de fluxo tal que Δψ tenha o mesmo valor entre duas linhas de linhas de fluxo adjacentes e Δφ tenha o mesmo valor entre duas linhas equipotenciais adjacentes. Também é conveniente ter Δs = Δn na Equação 2.18, isto é, as linhas de fluxo e equipotenciais formando “quadrados curvilíneos” ao longo de toda a rede de fluxo. Dessa forma, para qualquer quadrado curvilíneo Agora, Δψ = Δq e Δφ = kΔh, portanto: Para toda a rede de fluxo, h é a diferença de carga total entre a primeira linha equipotencial e a última, Nd é o número de quedas de carga entre equipotenciais, cada uma representando a mesma perda de carga total Δh, e Nf é o número de canais de fluxo, cada um transportando o mesmo fluxo Δq. Dessa forma, Daí, da Equação 2.19, A Equação 2.21 fornece o volume total de água que flui por unidade de tempo (por dimensão unitária na direção y) e é uma função da razão Nf/Nd. Entre duas linhas equipotenciais adjacentes, o gradiente hidráulico é dado por Exemplo de uma rede de fluxo Para ilustrar, será examinada a rede de fluxo do problema detalhado na Figura 2.8a. Ela mostra uma cortina de estacas-prancha enterrada 6,00 m em um estrato de solo com 8,60 m de espessura, suportada por um estrato impermeável. Em um lado das estacas, a profundidade da água é de 4,50 m; no outro, é de 0,50 m (reduzida por bombeamento). O solo tem uma permeabilidade de 1,5 × 10–5 m/s. O primeiro passo é levar em consideração as condições de contorno da região de fluxo (Figura 2.8b). Em todos os pontos do contorno AB, a carga total é constante, portantoAB é uma linha equipotencial; de forma similar, CD é uma linha equipotencial. O ponto de referência para a carga total pode ser escolhido em qualquer nível, mas, em problemas de percolação, é conveniente selecionar como referência o nível de água de jusante. Assim sendo, a carga total na linha equipotencial CD é zero, de acordo com a Equação 2.1 (carga piezométrica de 0,50 m; carga altimétrica de –0,50 m), e a carga total na linha equipotencial AB é 4,00 m (carga piezométrica de 4,50 m; carga altimétrica de –0,50 m). Do ponto B, o fluxo da água deve seguir para baixo ao longo da face de montante BE das estacas, contornar o ponto E e subir a face de jusante EC. O fluxo da água oriundo do ponto F deve seguir ao longo da superfície impermeável FG. Dessa forma, BEC e FG são linhas de fluxo. As outras linhas de fluxo devem se situar entre os extremos BEC e FG, enquanto as outras equipotenciais devem ficar entre AB e CD. Como a • região de fluxo é simétrica em qualquer um dos lados da cortina de estacas, quando a linha de fluxo BEC alcançar o ponto E, a meio caminho de AB e CD (isto é, ao pé da cortina de estacas), a carga total deverá ser a média entre os valores ao longo de AB e CD. Esse princípio também se aplica à linha de fluxo FG, de forma que uma terceira equipotencial pode ser escrita a partir do ponto E, conforme ilustra a Figura 2.8b. Deve-se selecionar, então, o número de quedas equipotenciais. Pode ser selecionado qualquer número, entretanto, é conveniente usar um valor de Nd que, ao dividir por ele mesmo a variação total da carga através da região de fluxo, forneça um número inteiro. Nesse exemplo, foi escolhido Nd = 8, assim, cada equipotencial representará uma queda de carga de 0,5 m. A escolha de Nd tem influência direta no valor de Nf. À medida que Nd aumenta, as equipotenciais vão ficando mais próximas entre si, de forma que, para obter uma rede de fluxo “quadrada”, os canais de fluxo também precisarão estar próximos (isto é, precisarão ser desenhadas mais linhas de fluxo). Isso levará a uma rede de fluxo mais fina e com maiores detalhes na distribuição das pressões de percolação; entretanto, a quantidade total de fluxo permanecerá inalterada. A Figura 2.8c mostra a rede de fluxo para Nd = 8 e Nf = 3. Os parâmetros para esse exemplo em particular fornecem uma rede de fluxo “quadrada” e um número inteiro de canais de fluxo. Isso deve ser construído por tentativa e erro; deve-se fazer uma primeira tentativa de traçado da rede de fluxo, e as posições das linhas de fluxo e das equipotenciais (e, até mesmo, Nd e Nf) devem, então, ser ajustadas conforme necessário, até que se atinja uma rede de fluxo satisfatória. Esta deve satisfazer às seguintes condições: Todas as interseções entre linhas de fluxo e equipotenciais devem fazer um ângulo de 90°. Figura 2.8 • Construção de uma rede de fluxo: (a) seção; (b) condições do contorno; (c) rede de fluxo final, incluindo um exame do “formato quadrado” dos quadrados curvilíneos; e (d) gradientes hidráulicos deduzidos com base na rede de fluxo. Os “quadrados curvilíneos” devem ser quadrados — na Figura 2.8c, o “formato quadrado” da rede de fluxo foi analisado pela inscrição de um círculo em cada quadrado. A rede de fluxo será aceitável se o círculo apenas tocar as bordas do “quadrado curvilíneo” (isto é, se não houver elementos retangulares). Devido à simetria dentro da região de fluxo, as equipotenciais e as linhas de fluxo podem ser desenhadas em metade do problema e, depois, refletidas em relação à linha de simetria (isto é, a cortina de estacas). Durante a construção da rede de fluxo, é um erro desenhar muitas linhas de fluxo; normalmente, de três a cinco canais de fluxo são suficientes, dependendo da geometria do problema e do valor de Nd que for mais conveniente. Na rede de fluxo da Figura 2.8c, o número de canais de fluxo é três, e o Parte 1 - Desenvolvimento de um modelo mecânico para o solo 2 Percolação 2.3 Teoria da percolação 2.4 Redes de fluxo
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