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EA D Os Dogmas Marianos 3 1. OBJETIVO • Conhecer e compreender os dogmas marianos. 2. CONTEÚDOS • Tradição teológica: os dogmas marianos. • Assunção de Maria: dogma. 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Para maiores informações sobre a concepção virginal de Jesus, confira as seguintes obras: • OTT, L. Grundriss der Katholischen Dogmatik. Freiburg im Breisgau, 1957. © Mariologia78 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO • SÖLL, G. Handbuch der Dogmengeschichte. v. 3 e 4. 2) Com relação à explicação de Santo Tomás sobre a con- cepção virginal de Jesus, confira S. Th. III, Q.28, a.1; NI- COLAS, J.‑H., 478‑ 480. 3) O conceito de isenção de pecado faz parte da definição do dogma da Imaculada Conceição. Do ponto de vista oriental, a ideia mais importante é a de panagia, ou seja, Maria é toda santa. O Concílio Vaticano II conseguiu fa- zer a síntese desses dois conceitos. Confira o importante texto na Lumen Gentium, cap. 56. 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Na unidade anterior, você foi subsidiado com conteúdos re- lacionados à Maria na Bíblia. Agora, na Unidade 3, você será convidado a estudar sobre os dogmas marianos. Vamos lá! 5. TRADIÇÃO TEOLÓGICA: OS DOGMAS MARIANOS No sentido próprio do termo, a Igreja apresenta para a fé do Povo de Deus quatro dogmas marianos. Aos primeiros tempos da Igreja, pertencem os dogmas da maternidade divina e da virgindade perpétua. Esses dois dogmas estão intimamente interligados um ao outro, indissoluvelmente ligados com a fé em Cristo e com a sua formulação histórico‑dog- mática. Informação complementar ––––––––––––––––––––––––––––– Na linguagem corrente da Igreja e da Teologia, generalizada somente a partir do século. 18, o dogma é uma tese ou um axioma, objeto da “fides divina et catholica”, o qual a Igreja declara oficialmente pelo magistério ordinário e geral, ou por uma definição papal ou conciliar, como tendo sido revelado por Deus (DS 3011). 79© Os Dogmas Marianos As qualidades fundamentais do dogma são: origem divina, veracidade, obrigatoriedade de fé, imutabilidade, historicidade, capacidade de evolução (no sentido de uma explicitação sempre maior, sem que haja, no entanto, mudança no núcleo revelado), estrutura encarnatória como autêntica e inseparável unidade entre o divino e o humano etc. (RAHNER, K. Herders Theologisches Taschenlexikon (HThTL) 11, 55). A declaração de uma sentença como dogma representa a mais alta qualificação teológica (Lexikon für Theologie und Kirche (LThK) VIII, p. 917‑918). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Mais recentemente, foram definidos o dogma da imaculada conceição, em 8 de dezembro de 1854, e o da assunção de Maria, em 1º de novembro de 1950 (NUOVO DIZIONARIO DI MARIOLO- GIA, 486). Do ponto de vista essencial da constituição do objeto da fé, a maternidade divina, a virgindade perpétua de Maria, a imaculada conceição e a assunção de Maria, sendo dogmas, são verdades “de fé” (de fide) (OTT, 1957). Em contrapartida, doutrinas tais como a da mediação de to- das as graças por Maria são consideradas como sententia certa; a obrigação de hiperdulia: sententia certa; Maria sofreu a morte cor- poral: sententia communis; enfim, o ensinamento de que, após a assunção de Maria, nenhuma graça é distribuída aos homens sem a intercessão de Maria, sendo considerada somente como senten‑ tia pia et probabilis (OTT, 1957). Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Nessas referências, baseamos‑nos na obra de Ludwig Ott, que, embora sendo já relativamente antiga, conserva seu inegável valor no que toca ao uso do método estritamente dogmático. Karl Rahner expressava‑se assim por ocasião da reimpressão recente da 10ª edição da obra de Ott: Grundriss der Katholischen Dogmatik: “este comprovado compêndio da dogmática católica vale como uma obra prima, por causa da disposição didática e inteligente da matéria, da apresentação precisa, e limitação ao método estritamente dogmático”. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– É importante ressaltar que, aqui, iremos nos limitar a apre- sentar somente os dogmas marianos. © Mariologia80 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Maternidade divina: Maria é verdadeiramente Mãe de Deus (Concílio de Éfeso, 431 d.C.) Em 431 d.C., o Concílio de Éfeso definiu explicitamente Maria como a Mãe de Deus: Theotokos (DS 251). O texto do concílio reza que: “se alguém não confessa que o Emanuel (Cristo) é realmente Deus e que, por esta razão, a Santa Virgem é mãe de Deus – pois ela deu à luz segundo a carne e o Verbo de Deus feito carne –, que ele seja anátema”. Dessa forma, a intenção do Concílio foi afirmar a unidade da pessoa de Cristo. Com efeito, reconhecer Maria como mãe de Deus significa professar que Cristo, filho de Maria segundo a geração humana, é Filho de Deus e Deus ele mesmo (“Deus” aqui designando natural- mente a pessoa única do Filho). A expressão justifica‑se, pois, pelo fato de que cada mulher é mãe não só do corpo, mas também da pessoa de seu filho. Theotokos significa, teologicamente, não ser mãe da divindade, mas do Verbo encarnado (NUOVO DIZIONARIO DI MARIOLOGIA (NDM), 486‑487). O dogma da maternidade divi- na de Maria abarca, assim, duas realidades: Maria é verdadeira- mente mãe, no sentido natural, e é verdadeiramente mãe de Deus (OTT, 1957). Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Quanto à função de Maria na encarnação do Verbo pela maternidade, certos teólogos falam até mesmo em um papel causal, no sentido de uma causalidade instrumental; outros até falam de causalidade principal (segunda), o que é absolutamente impossível, pois a causalidade instrumental deve contribuir para produzir o efeito da causa principal, sem o que ela não é nada. Para maiores informações sobre esse assunto, confira a seguinte obra: NICOLAS, M. J. Synthèse Dogmatique. De la Trinité à la Trinité. Fribourg, 1985. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A fundamentação escriturística da maternidade divina de Maria baseia‑se, inicialmente, em Gl 4,4: “quando, porém, chegou à plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de uma mulher”. O texto alude à preexistência do Filho, que foi enviado ao mundo pelo Pai, e isso leva a considerar o Filho na sua existência divina, e é esse Deus Filho que é concebido e dado à luz pela mu- lher, o que conduz à maternidade divina de Maria (POZO, 1978). 81© Os Dogmas Marianos Quase no mesmo sentido apresenta‑se Rm 9,5, uma doxolo- gia a Cristo, em que se afirma que Cristo, que é Deus, procede dos israelitas, segundo a carne, o que, historicamente, quer dizer “de Maria”; logo, Maria engendrou Cristo, que é Deus (POZO, 1978). Igualmente, Lc 1,35 mostra o caráter divino do filho que Ma- ria concebe e dá à luz: “o anjo respondeu: 'o Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso, o Santo que nascer será chamado Filho de Deus”’. Como na mentalidade semítica o nome corresponde ao ser, não há a menor dúvida de que a locução verbal “será chamado” é o equivalente de “será”, isto é, o Santo que nascer é realmente Filho de Deus. Esse trecho de Lucas contém, provavelmente, duas reminis- cências bíblicas importantes: Gn 1,2 e Ex 40,34. Então, Lucas alude não somente ao Espírito Santo como a força que realizará a con- cepção milagrosa, como a que no início criou todas as coisas (Gn 1,1s), mas também ao fato de que o seio de Maria vai se converter em tabernáculo de Deus mediante a presença do próprio Deus, o que leva a concluir que aquele que nascerá de Maria será Filho de Deus (Deus, aqui, em sentido estrito) (FEUILLET, 1981; LAURENTIN, 1964). Assim, a Escritura prova, de um lado, a divindade de Cristo e, de outro lado, a autenticidade da maternidade divina de Maria (OTT, 1957). Da parte dos primeiros padres da Igreja, temos, inicialmen- te, o testemunhode Santo Inácio de Antioquia, que, afirmando a materni dade divina de Maria, escreveu: “pois nosso Deus Jesus Cristo foi trazido por Maria no seu seio, conforme o decreto salvífi- co de Deus, sem dúvida da linhagem de Davi, no entanto por obra do Espírito Santo” (Eph 18,2). Já São Justino afirma que Cristo “é também Deus”, o qual “se fez homem, de uma virgem” (APOLOGIA I 63; PG 6, 424). Na sua controvérsia com o judeu Trifão, Justino defende o caráter profético de parthénos em Is 7,14, o qual os judeus procuravam enfraquecer, traduzindo o hebraico “ha ‘alma” com neãnis (mu- © Mariologia82 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO lher jovem). São Justino insistia dizendo: “além desse nosso Cristo nunca ninguém nasceu de uma virgem” (DIAL 43, 7; PG 6, 569; SÖLL, 1978, p. 33). Santo Ireneu dizia: “Este Cristo que, como Logos do Pai, esta- va junto do Pai [...] nasceu de uma virgem” (Epid 53). Esses e outros testemunhos antiquíssimos da Igreja opõem- ‑se ao docetismo (heresia), segundo o qual Cristo não se fez real- mente homem, tendo assumido somente um corpo aparente; e opõem‑se, também, ao agnosticismo valentiniano, segundo o qual Cristo teve não um corpo de carne recebido de Maria, mas um corpo celeste que “passou” por Maria. Foi contra o docetismo que Tertuliano escreveu o De carne Christi, defendendo a plena reali- dade humana da carne de Cristo que procede de Maria (DE CARNE CHRISTI 21; PL 2, 787). Em contrapartida, os testemunhos patrísticos excluem o adocionismo de Paulo de Samosata, para quem o Cristo teria nas- cido meramente homem, sendo depois adotado como Filho de Deus. Os padres testemunham, ao contrário, que a ação geradora de Maria tem como sujeito sempre Deus ou o Verbo (POZO, 1978). A doutrina dos Padres sobre a maternidade divina cristali- za‑se nos símbolos da fé, tal como no símbolo niceno (325 d.C.), que reza: “O Filho de Deus, único engendrado do Pai, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz da luz, engendrado, não cria- do, consubstancial ao Pai [...], que, para nós, homens, e para a nos- sa salvação, desceu do céu, se encarnou, se fez homem” (DS 125). O símbolo de Santo Epifânio (374 d. C.) acrescenta: “que, para nós, homens, e para a nossa salvação, desceu e se encarnou, isto é, engendrado perfeitamente de santa Maria, a sempre vir- gem, pelo Espírito Santo” (DS 44). É importante ressaltarmos, ainda, que o título Theotokos esteve em uso desde o século 3º. Ele foi atestado por Orígenes, Alexandre de Alexandria(o titulo foi comprovadamente utilizado 83© Os Dogmas Marianos por ele (PG 82, p. 908), Eusébio de Cesareia, Atanásio e Epifânio. Gregório Nazianzeno escrevia em 382: “se alguém não reconhece que a santa Maria é a mãe de Deus, ele é separado da divindade”. O grande defensor desse título mariano contra Nestório foi São Cirilo de Alexandria (OTT, 1957). Entre os Padres latinos, foi Santo Ambrósio que utilizou expressões tais como “mãe de Deus” (PL 16, 209; 14,223) e “genitora de Deus” (PL 15, 1837). Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– As pesquisas atuais parecem não prover que Orígenes já tenha empregado o título Theotókos: “No texto do comentário da carta aos Romanos, de Orígenes, transmitido hoje por Rufin, não se encontra nenhum traço da Theotokos”. Também uma atribuição mais antiga a Hipólito de Roma é considerada pretensiosa, tendo sido possivelmente uma interpolação (OTT, 1978, p. 238). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Maria, graça personificada de Deus, é, portanto, verdadei- ramente Mãe de Deus, e esse fato coloca‑a em uma situação toda especial. A maternidade é relação de pessoa a pessoa, composta de um conjunto de relações interpessoais de conhecimento, de amor, de trocas de toda sorte. Isso seriam aspectos já da materni- dade natural; mas, no caso de Maria, o seu Filho é Deus, de modo que as suas relações interpessoais com esse seu Filho são, ao mes- mo tempo, naturais e feitas de graças. Essa graça consiste no fato de que a maternidade divina: • é, por si mesma, uma graça singular; • implica as graças de santida de; • é graça mais alta que os dons de santidade (NICOLAS, 1985). O essencial da maternidade divina de Maria é a sua relação pessoal toda especial com Deus, a mais profunda das relações que possa existir entre uma pessoa e Deus. É certo que ela permanece infinita mente longe das relações trinitárias, substancialmente di- vinas, mas, mesmo assim, é a relação mais digna compatível com uma personalida de criada, a mais estreita que liga uma pessoa hu- mana à pessoa divina. © Mariologia84 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Essa relação de Deus com Maria é tão íntima que ela é trans- formante: “o Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso, o Santo que nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1,35). Maria é tipologicamente iden- tificada à arca da aliança, sugerindo que o Espírito opera nela uma consagração que a assimila a Deus. O versículo “Alegra‑te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1,28) mostra que ela foi por excelência objeto do favor de Deus, sendo conaturalizada com o “santo” que se tornaria seu Filho (LAURENTIN, 1967). Essa relação maternal com o Filho de Deus, a segunda pessoa da divindade, estabelece Maria em relação especial não somente para com esse mesmo Filho, mas também para com a Santíssima Trindade e o Espírito Santo. Essa relação especial estende‑se, tam- bém, à humanidade nova, a Igreja (BOFF, 1979). “Todo este nó de relações implicadas na maternidade humana e divina de Maria en- volvendo a Santíssima Trindade, a espi ritualização, a encarnação, a humanidade e a Igreja fez de Maria uma santa inigualável” (BOFF, 1979), uma criatura acima das outras criaturas (LAURENTIN, 1967). A Virgem Maria é a imagem esplêndida da conformação ao projeto trinitário que se cumpre em Cristo. “Desde a sua Concepção Imaculada até sua Assunção, recorda‑nos que a beleza do ser humano está toda no vínculo do amor com a Trindade, e que a plenitude de nossa liberdade está na resposta positiva que lhe damos”. O significado soteriológico da maternidade divina está no fato de que foi o meio escolhido por Deus para a realização da encarnação, que, embora não seja ainda a salvação consumada, é, no entanto, o início decisivo da epopeia salvífica, em que Deus vem ao encontro do homem, fazendo‑se um deles e assumindo a sua natureza. Esse encontro do divino e do humano concretiza- ‑se por meio da maternidade humano‑divina de Maria. Pela união hipostática, é o próprio humano que foi beneficiado, assimilado pelo divino. 85© Os Dogmas Marianos Para concretizar a missão da maternidade divina, Maria foi cumulada de graças e privilégios, o que se tornará explícito nos outros dogmas. Virgindade perpétua de Maria – dogma: Maria foi virgem antes, durante e depois do parto (Concílio Lateranense IV; 649 d.C.) O Concílio Lateranense IV (649 d.C.), sob o papa Martinho I, pôs em evidência os três momentos da virgindade de Maria, ensinan do que ela é santa, sempre virgem e imaculada; concebeu especial mente e verdadeiramente do Espírito Santo sem o sêmen humano, dando à luz sem violação, permanecendo a sua virgin- dade inalterada depois do parto. Em 1555, Paulo IV declarava a bem‑aventurada Virgem Maria, virgem antes, durante e perpetua- mente depois do parto. “A bem‑aventurada Virgem Maria [...] permaneceu na integridade virginal antes, durante e depois do parto” (DS 1880). A virgindade de Maria antes do parto (virginitas ante partum): Maria concebeu do Espírito Santo sem o sêmen humano O anjo anunciou a Maria que ela conceberia virginalmente, isto é, por obra do Espírito Santo. O texto diz que o anjo fora en- viado a uma virgem (Lc 1,27), o que indica que Maria era virgem naquele momen to. A ela é anunciada a concepção de um filho(Lc 1,31). À pergunta de Maria (Lc 1,34), o anjo explica‑lhe o modo vir- ginal da concepção: “o Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Al- tíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso, o Santo que nascer será chamado Filho de Deus”. A José, igualmente, o anjo testificara que Maria concebera virginalmente: “não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo” (Mt 1,20) (POZO, 1974). Tanto Lucas como Mateus viram em Jesus o cumprimento da profecia de Isaías sobre a concepção virginal do Emanuel: “uma © Mariologia86 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO virgem conceberá e dará à luz um filho, e o seu nome será Ema- nuel” (Is 7,14). Enfim, é afirmado claramente na Escritura que não houve nenhum comércio carnal antes do nascimento de Jesus: “não a conhe ceu até o dia em que ela [Maria] deu à luz um filho” (Mt 1,25) (POZO, 1974). Em vista desse claro testemunho do Novo Testamento sobre a concepção virginal de Jesus e, consequentemente, sobre a vir- gindade de Maria, é natural que, na tradição da Igreja, os testemu- nhos da fé explícita na concepção virginal tenham existido desde os primeiros tempos do cristianismo (POZO, 1974). Os padres testemunham a concepção virginal com plena unanimi dade. Inácio de Antioquia escreve: “verdadeiramente nas- cido de uma virgem” (SMYRN 1,1; cf. tb. Trall 9,1; Eph 7,2; 18,2; 19,1). O significado messiânico de Is 7,14 é defendido, também, pelos padres, começando por São Justino, acentuando que as pa- lavras do profeta devem ser entendidas no sentido de que a mãe do Emanuel conceberá e dará à luz como virgem (Dial 43; 66‑67; 77; Apol l,33; Irineu, Adv her III,21; Origenes, Contra Celsum I, 34). A concepção virginal de Jesus aparece também expressa nos símbolos da fé (DS 10‑30), e vários concílios ecumênicos reitera- ram a afirmação da fé na concepção virginal de Jesus (NUOVO DI- ZIONARIO DI MARIOLOGIA, 487). A virgindade de Maria durante o parto (Virginitas in partu): Maria deu à luz sem lesão de sua integridade Em relação ao parto virginal, impõe‑se a necessidade de fa- zer uma distinção entre o aspecto material, que não é um dado e uma afirmação de fé, e a verdade de fé definida no Concílio Latera- nense (649 d.C.), que Maria permaneceu fisicamente e moralmen- te virgem no parto (SOLL, 1978). Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– A virgindade durante o parto é considerada matéria de fé (De fide) em razão do magistério geral, embora o dogma fale do fato da continuidade da virgindade física de Maria durante o parto, sem, no entanto, determinar nos pormenores 87© Os Dogmas Marianos como explicar isso fisiologicamente (OTT, 1957, p. 247). O dado mais importante é que Maria concebeu virginalmente, isto é, sem comércio carnal e sem que o óvulo feminino tenha sido fecundado pelo sêmen masculino. Dado esse fato, a lesão do hímen no parto não suprime a virgindade. Da noção de virgindade, não se pode concluir o caráter miraculoso do processo de nascimento, havendo necessidade de deduzi‑lo de outros fatos de revelação (OTT, 1957, p. 247‑248). Nicolas (1985, p. 483) afirma que: “No que concerne à permanência da integridade corporal é preciso ver aí essencialmente um valor simbólico baseado no papel do corpo, de ser em geral a expressão da pessoa. Neste sentido, poder ‑se‑ia ver no hímen – o que de um ponto de vista puramente biológico não tem nenhuma importância – o signo natural e o símbolo da virgindade. Impedindo miraculosamente seu rompimento, Deus teria querido preservar, nascendo dela, não somente a própria virgindade, mas até o seu signo”. Para mais informações sobre o assunto, confira, também, o Nuovo Dizionario di Mariologia, 487. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Biblicamente, poderia se perguntar se Is 7,14 conteria a afir- mação não somente da concepção, como também do parto vir- ginal, opinião essa partilhada por muitos autores. A razão disso estaria no fato de que, no texto mencionado, “conceberá” e “dará à luz” (Is 7,14) têm no hebraico (harah‑yoledet) praticamente a mesma forma verbal de par ticípio presente, e ambos referem‑se ao substantivo “virgem” com o mesmo sentido de presencialida- de, o que levaria à afirmação de parto em que se dá à luz, sendo simultaneamente virgem e mãe. A ar gumentação filológica é im- pecável, mas é de se crer que o texto em si não esclarece o dogma da virgindade durante o parto (POZO, 1974). O texto de Lucas (2,7) “e ela deu à luz o seu filho primogêni- to, envolveu‑o com faixas e reclinou‑o numa manjedoura” parece aludir que, tendo Maria entrado em atividades imediatamente de- pois do parto, não teria sofrido as dores naturais, o que seria uma confirmação da virgindade no parto. Mas aqui também o texto não significaria necessariamente um parto milagroso (OTT, 1957). Os padres, com poucas exceções, intervêm em favor de um parto milagroso. Para maiores informações sobre o assunto, confira as obras de Soll (1978) e Pozo (1974). Nesse caso, os textos escriturísticos por si só não bastariam, havendo, então, a necessidade de se recorrer à Tradição (POZO, © Mariologia88 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO 1974). Estamos aqui, com efeito, diante de uma tradição muito antiga e de uma fé firme da Igreja: Maria, dando à luz Jesus, não conheceu nem as dores do parto, nem o rompimento do claus‑ trum virginitatis (NCIOLAS, 1985). As primeiras testemunhas en- contram‑se nas chamadas odes de Salomão (120 d.C.) (QUASTEN apud POZO, 1950). Santo Irineu afirmou, também, um parto milagroso, apoian- do‑se na profecia de Is 7,14 (SC 62, 115s). Tertuliano teria opinado que Maria perdera a integridade corporal, influenciado provavel- mente pelo desejo de refutar as teorias gnósticas que afirmavam ter sido o corpo de Cristo um corpo celeste, que teria simplesmen- te passado por Maria (DE CARNE CHRISTI, 23). Contudo, quase na mesma época, Clemente de Alexandria defendeu a virgindade no parto, embora possivelmente suas po- sições não estejam totalmente livres da influência das narrações apócrifas (POZO, 1974). Entre outras testemunhas a favor da vir- gindade no parto, temos Orígenes, Santo Ambrósio, São Jerônimo e Santo Agostinho (OTT, 1957). Do ponto de vista do Magistério e da tradição teológica, o ensinamento sobre a virgindade no parto teve lugar desde o sé- culo 3°, sem grandes oposições. O primeiro texto eclesiástico é do Concílio Lateranense (649 d.C.), cujo tema principal era a luta contra o monotelismo. Embora a declaração desse concílio tenha sido confirmada pelo papa Martinho I, não se tratou de decisão ex cathedra. Também em nenhum outro documento oficial da Igreja, a noção de virginitas in partu foi tratada de maneira mais comple- ta do ponto de vista do conteúdo (BEINERT, 1985). Mas, como foi dito, esse ensinamento é considerado de fide em razão do ensina- mento geral da Igreja (OTT, 1957). Concílio Lateranense (649 d.C.), tratou‑se de um concílio local de bispos italianos e africanos (BEINERT, 1985). 89© Os Dogmas Marianos Na tradição teológica, temos o ensinamento favorável de Santo Tomás, que afirma a virgindade de Maria no parto. A sua prova baseia‑se em um discurso pronunciado por Teodoro de An- cira no Concílio de Éfeso: “a natureza, após o parto, não conhece mais a virgem. Mas a graça mostrou uma mãe que dá à luz sem detrimento da virgindade” (PG 77, 1439; S. Th.III, Q.28. a.2). Ele se serve, também, de Is 7, 14, observando que o profeta não se limita a dizer: “eis que uma virgem conceberá”, mas acrescenta ainda: “e dará à luz um filho” (Is 7,14), e isso foi conveniente por três razões: pela propriedade característica do Filho, pelo efeito da encarnação e para a honra da mãe (S. Th. Q. 28,a.2). No que se refere à discussão sobre esse tema na Teologia contemporânea, ela tem sido difícil (NICOLAS, 1985). Nesse senti- do, o que se pode dizer é que: Escapam‑nos os conhecimentos sobreos processos concretos ocorridos por ocasião do nascimento de Jesus. Mas foi um nascimento verdadeiro. Não foi como os nascimentos comuns, pois, à diferença deles, aquele de Jesus não pressupõe relação sexual prévia. O nascimento corresponde à natureza de quem estava nascendo, Jesus, que é a um tempo Homem e Deus. Houve um verdadeiro nascimento bem como uma plena maternidade (BOFF, 1979). A virgindade de Maria depois do parto (virginitas post partum): Maria viveu virgem também depois do nascimento de Jesus. A convicção de que Maria permaneceu virgem na sua vida terrestre após o nascimento de Jesus existe na Igreja desde os pri- meiros séculos: Maria não teve mais filhos nem consumou o seu matrimônio com José. Que Maria permaneceu sempre virgem não é dito expressamente na Escritura, mas é verdade de fé (de fide), enquanto ela é atestada pela fé viva dos fiéis (sensus fidelium), e elucidada pela reflexão teológica (NUOVO DIZIONARIO DI MARIO- LOGIA, 487). Embora a Escritura não faça menção explícita da virginitas post partum, o desenvolvimento da fé tem sido possível na con- vicção de que a Escritura não apresenta argumentos sérios e váli- © Mariologia90 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO dos em favor de opinião contrária. Vários trechos dos evangelhos, ao contrário, dão a entender como provável que Maria não teve mais filhos depois de Jesus, e isso é ainda hoje a opinião de vários exegetas católicos. Segundo eles, os chamados irmãos de Jesus foram, na verdade, seus primos de diferentes graus (NUOVO DI- ZIONARIO DI MARIOLOGIA, 487). É em uma reflexão de fé que é preciso considerar a ideia da virgin dade depois do parto em sua relação com a Escritura. Em Lc 1,34: a passagem “Maria, porém, disse ao anjo ‘Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?”’ mostra que, em Maria, há pelo menos um propósito de virgindade. Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– A Bíblia de Jerusalém anota em relação a Lc 1,34 o seguinte: “Nada no texto impõe a idéia de um voto de virgindade”. Mas, Loisy escreveu: “A asserção de Maria é tão absoluta que o sentimento comum dos exegetas católicos, que vêem aqui a intenção de guardar a virgindade perpetuamente, não deve ser qualificada de arbitrária” (apud POZO, 1974, p. 252). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Na Tradição, o primeiro que propôs a questão foi Tertuliano, mas a sua posição foi negativa. Ensinava, é claro, que a concepção virginal de Cristo era verdade de fé, mas admitiu que Maria teve outros filhos depois, em um matrimônio normal (POZO, 1974). Em contrapartida, Orígenes aprovava a ideia da virgindade depois do parto, e antes dele já Clemente de Alexandria fazia o mesmo. Além disso, essa ideia foi defendida igualmente por Santo Ambrósio, São Jerônimo, Santo Agostinho, entre outros, de forma que, a partir do século 4º, os padres começaram a falar dos três momentos da virgindade de Maria: Virgo concepit, virgo peperit, virgo permansit (Aug., Sermo 51,11,18) (OTT, 1957). Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O dogma foi negado também por Eunonômio, Joviniano, Helvidio e outros ainda. O protestantismo moderno, à diferença do antigo, nega esse artigo de fé, baseado nos textos evangélicos que falam dos irmãos de Jesus (Mc 3,31; Jo 2, 12; lCor 9,5; G1 1,19). Para enriquecer seu conhecimento, confira os seguintes autores: OTT (1957); BOFF (1979) e POZO (1974). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 91© Os Dogmas Marianos Com base no século 4°, a fé na virgindade de Maria depois do parto cristaliza‑se na fórmula semper virgo, e ela é utilizada pelo II Concílio de Constantinopla (DS 421,427,437). O Concílio La- teranense (649 d.C.) retoma as mesmas fórmulas (DS 502; 504). Paulo IV, em 1555, na Constituição Cum quorumdam hominum, empregou a fórmula: “ante partum scilicet, in partu et perpetuo post partum” (DS 1880) (POZO, 1974, p. 249). Do ponto de vista dogmático, os três momentos da virginda- de de Maria não têm o mesmo peso e o mesmo significado para a fé, porque, segundo os dados do Novo Testamento, a prioridade concentra‑se sobre o fato da concepção sem a intervenção de ho- mem. Na verdade, a fé na virgindade de Maria está a serviço do dogma cristológico, o que se pode comprovar no contexto dos do- cumentos do Magistério, como é o caso também do dogma da ma- ternidade divina (HM, 270‑271). Mas da relação entre virgindade e maternidade divina decorreria, também, o significado soterioló- gico da virgindade de Maria, devido ao seu alcance antropológico. Com efeito, em Maria, virgindade e mater nidade divina não se excluem. A virgindade fez parte da perfeição da maternidade divina. Se toda maternidade comporta uma consagração da mãe à criança, a maternidade divina de Maria comporta a sua consagra- ção total ao Verbo, e a sua virgindade é o efeito e o signo dessa sua consagração (NICOLAS, 1985). Essa consagração e dedicação total de Maria a Cristo e, também, ao Espírito Santo se confirmou na sua virgindade perpétua depois do parto (BOFF, 1979). Nascendo de uma virgem, Deus evidenciou o novo começo da humanidade: “por um lado, procede da terra, mediante Maria; por outro, irrompe do céu e da terra, o princípio de uma humani- dade, enfim liberta do pecado e da morte e introduzida na união plena com Deus” (BOFF, 1979, p. 162). E importante perceber que virgindade não significa hostilidade contra o sexo e o matrimônio, e também não é apenas reserva para Deus (cf. Lc 1,39). A exemplo © Mariologia92 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO de Maria, é ser criativo e fértil no amor, e, desse modo, a virgin- dade cristã apresenta uma característica maternal, gerando obras de serviço. A virgindade de Maria é, pois, a realização de uma atitude fundamental proposta a todo o homem, isto é, a da total disponibilida de e acolhida. Nessa total doação a Deus e aos irmãos é que o homem encontra a sua libertação. A Imaculada Conceição de Maria – dogma: Maria foi concebida sem a mancha do pecado original (Pio IX, 08/12/1854) Em vista da salvação de toda a humanidade, Deus prepara Maria, uma mulher, toda pura e santa, preservada de toda infec- ção do pecado, para o grande acontecimento da encarnação, para a qual ela contribuiu decisivamente pela sua maternidade humana e divina. A doutrina da Imaculada Conceição, antes de ser declarada dogma por Pio IX em 8 de dezembro de 1854, era aceita implici- tamente pela Igreja até o Concílio de Éfeso (431 d.C.). Já desde o século 2º, aparecem fórmulas que indicam a íntima associação de Maria a Cristo, o Redentor, em luta contra o diabo: nessa associa- ção, expressa‑se o paralelismo Maria‑Eva, ou seja, Maria como a nova Eva associada ao novo Adão. Nesse primeiro momento, não se chegou, ainda, à ideia de imunidade de Maria em relação ao pecado original, embora se in- dique já certa segregação de Maria relativamente ao pecado: Eva vencida e Maria vencedora seriam imagens que estão subjacentes a esse paralelismo (POZO, 1974), o qual foi utilizado, inicialmen- te, por São Justino (DIALOGUS CUM TRYPHONE IUDAEO, 100; PG 6,712). Um fato a lembrar, no final do período da fé implícita na ima- culada conceição, é a posição de Santo Agostinho que, sem falar expressamen te no pecado original, afirma a suma santidade de Maria em razão da honra do Senhor, do qual é mãe (DE NATURA ET GRATIA 36, 42; PL 44, 267). 93© Os Dogmas Marianos Do Concílio de Éfeso até o século 11, deu‑se, então, o primei- ro passo em direção à fé explícita. São Máximo de Turim escrevia no século 5º: “Maria, habitação plenamente idônea para Cristo, não pela qualidade do corpo, mas pela graça original” (HOMILIA 5 IN NATALE DOMINI; PL 57, 235). No século 6º ou 7º, no Oriente, Teotecno, bispo de Lívias, é o primeiro a falar na imaculada conceição: “[Maria] nasceu como querubim, ela que foi de barro puro e imaculado” (WENGER, 1955).Mas, do ponto de vista da tradição oriental, a propósito da imacu- lada conceição, é importante constatar, segundo Pinto de Oliveira, que a ideia mais importante é a de panagía, a saber, Maria é toda santa, que corresponde na tradição latina ao superlativo: santissi‑ mus. A panagía diz, então, ao oriental que Maria é toda santa, por- tanto, não tem pecado, o que seria um conceito mais englobante de isenção de pecado. Em relação ao dogma da Imaculada Conceição, o Concílio Va- ticano II permanece fiel aos termos da proclamação oficial na bula Ineffabilis de Pio IX, declarando, explicitamente, que a Virgem foi preservada e foi imune de toda mancha da culpa original (LUMEN GENTIUM, 59). Contudo, na fundamentação, além de apresentar os fundamentos apresentados por Pio IX, o documento conciliar explicita os fundamentos do dogma, deixando mais claro ainda que a Imaculada Conceição tem a ver com a íntima associação de Maria com o Redentor, o seu Filho Jesus Cristo, associação na obra salvífica, na sua maternidade divina, e para tudo isso foi moldada pelo Espírito Santo. Nesse sentido, é fundamental o n. 56 da Lu‑ men Gentium: Quis, porém, o Pai das misericórdias que a encarnação fosse pre- cedida pela aceitação daquela que era predestinada a ser Mãe de seu Filho, para que assim como a mulher contribuiu para a morte, a mulher também contribuísse para a vida, o que de modo exce- lentíssimo vale da Mãe de Jesus, a qual deu ao mundo a própria Vida que tudo renova e foi por Deus enriquecida com dons dignos para tamanha função. Daí não admira que nos Santos Padres pre- valecesse o costume de chamar a Mãe de Deus toda santa, imune de toda mancha de pecado, como plasmada pelo Espírito Santo e © Mariologia94 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO formada nova criatura. Dotada desde o primeiro instante de sua conceição dos esplendores de uma santidade inteiramente singu- lar, a Virgem de Nazaré é por ordem de Deus saudada pelo Anjo anunciador como "cheia de graça" (Lc 1,28). E ela mesma responde ao mensageiro celeste: "Eis aqui a serva do Senhor, faça‑se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38). Assim Maria, filha de Adão, con- sentindo na palavra divina, se fez Mãe de Jesus. E abraçando a von- tade salvífica de Deus com coração pleno, não retida por nenhum pecado, consagrou‑se totalmente como serva do Senhor à pessoa e obra de seu Filho, servindo sob Ele e com Ele, por graça de Deus onipotente, ao mistério da redenção. A síntese doutrinal do capítulo 8 da Lumen Gentium, no que se refere à associação de Maria ao Cristo, retoma a reflexão patrís- tica sobre o paralelo Maria e Eva, em que Maria é agora a Nova Eva associada ao Novo Adão na luta contra o pecado. Assim como o Novo Adão, em nenhum momento Maria foi conivente com o pecado e a injustiça, sendo, portanto, a Imaculada Conceição. O paralelismo Maria/Eva constitui, na realidade, importante teolo- gúmeno, cuja primeira apresentação nos é dada pelo apologista Justino (165 d.C.), tendo, inaugurado, assim, ocasionalmente, a temática que, mais tarde, por meio de Santo Irineu (202 d.C.), re- cebeu um estatuto teológico (MULLER, 1974). No Ocidente, a posição de Pascásio Radberto (século 9°) teve grande influência, pois ele diz que, para que Cristo fosse isento do pecado original, foi necessário que ele fosse concebido não só virginalmente, mas também que Maria estivesse livre do pecado original (SCHEFFCZYK apud POZO, 1974, p. 303). Além desses testemunhos doutrinais, é de se notar que, no final do século 7º e começo do século 8º, se encontram testemu- nhos claros sobre uma festa da Conceição (POZO, 1974). Convém notar, porém, que a festa da Natividade da Santíssima Virgem já era celebrada no Oriente certamente na metade do século 6º (POZO, 1974). 95© Os Dogmas Marianos Do século 12 ao 14 houve, no entanto, um período de con- trovérsia no Ocidente, mas é normal que o progresso de um dog- ma possa ter períodos de crise. Na origem da controvérsia estão as ideias agostinianas, cuja concepção afirma que o pecado original se transmite pela geração natural (não virginal) e pela concupis- cência a ela ligada (HOLSTEIN). Além dessa influência, vivia‑se na convicção de que a reden- ção de Cristo tinha de ser universal, incluindo até Maria, mas não podiam compreender que ela tenha podido ser redimida, a não ser que tivesse o pecado original. Santo Anselmo, por exemplo, nega a Imaculada Conceição justamente pela dificuldade de a conciliar com a redenção univer- sal de Cristo, mas, em contrapartida, apresenta uma série de prin- cípios que influenciaram positivamente no progresso ulterior do dogma: afirmação da santidade de Maria; a sua purificação antes da concepção de Cristo em previsão aos méritos dele, preparando a ideia de uma redenção preventiva (DE CONCEPTU VIRGINALI 18; PL 158, 451; Cur Deus homo 2,16; PL 158,419). A mesma dificuldade de Santo Anselmo parece ter tido Ale- xandre de Hales e São Tomás de Aquino, ou seja, a questão da universalida de da redenção de Cristo. Pela importância de São To- más, é fácil compreender em que medida a sua posição negativa retardou o progresso do dogma da Imaculada Conceição (POZO, 1974). Pelas suas posições favoráveis, contribuíram enormemente para o progresso do dogma Eadnero, discípulo de Santo Anselmo, fazendo a distinção entre a concepção ativa pela concupiscência dos genitores e a passiva sem pecado original; Guilherme Ware, mestre de Escoto, que fala da concessão a Maria da redenção (preservativa) de Cristo, ideia essa exposta mais claramente por Escoto, que desenvolve a ideia da redenção preservativa como a redenção mais perfeita, e propõe uma fórmula clara, segundo a qual, ainda que Maria não tenha tido o pecado original, teve o seu © Mariologia96 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO débito, e teria estado na inimizade de Deus se não tivesse sido preservada. Aí temos o balanço das posições principais, positivas e negativas, que permitiram preparar a via para a proclamação do dogma (POZO, 1974). Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– Apesar das dificuldades e das oposições, pode‑se dizer que numa visão retrospectiva se revela o fato de que o progresso no reconhecimento da verdade em questão tem sido constante (NUOVO DIZIONARIO DI MARIOLOGIA). Além disso, ao período das controvérsias sucedeu‑se um período da fé explicita. No final do século 17, 150 universidades defendiam o privilégio mariano; o concilio de Basileia (1439), embora cismático desde 1437, definiu a doutrina da imaculada conceição, e tudo isso era sinal de que o estado da opinião em torno do tema estava mudando rapidamente (POZO, 1974). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A proclamação do dogma por Pio IX em 8 de dezembro de 1854 foi feita nos seguintes termos: Declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina, segundo a qual a bem‑aventurada Virgem Maria foi, no primeiro momento de sua Conceição, por uma graça e um favor singular de Deus todo‑po- deroso, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, preservada intacta de toda mancha do pecado original, é uma doutrina revelada de Deus (DS, 2803). Nesse texto da bula Ineffabilis, Deus põe em evidência que a con ceição é entendida no sentido da conceição passiva (OTT, 1957). É a pessoa de Maria que se encontra como sujeito da defi- nição. No primeiro momento da sua existência pessoal, por graça e por benefício especial (e não por exceção à lei), pelos méritos previstos de Cristo, ela foi preservada do pecado original (NUOVO DIZIONARIO DI MARIOLOGIA). O texto da definição, contudo, não diz nada no que toca à consequência do pecado original, mas a natureza deste é admiti- da, e Maria, pertencendo à estirpe humana de Adão, estaria sujei- ta, em princípio, como todos os homens às consequências do pe- cado original, se Deus não a tivesse preservado desde o primeiro momento de sua concepção,por privilégio (privilegium) fundado sobre os méritos (causa meritoria) redentores de Cristo. 97© Os Dogmas Marianos “O ser preservada do pecado original foi para Maria um imerecido presente de Deus (gratia), e uma exceção (privilegium), que foi concedido somente a ela” (OTT, 1957, p. 241). A causa eficiente (causa efficiens) da imaculada conceição é, em última análise, o Deus todo‑poderoso. Se a causa meritória foi a obra redentora de Jesus Cristo, significa que Maria também pre- cisou ser salva e o foi em plenitude desde o momento de sua con- cepção, em vista da maternida de divina (causa finalis proxima), pelo efeito de redenção preservativa (redemptio praeservativa), de modo que o dogma da Imaculada Conceição não contradiz o dogma da universalidade do pecado original e da necessidade da redenção (POZO, 1978). Na Sagrada Escritura, o ponto de apoio desse dogma en- contra‑se na passagem clássica do protoevangelho (Gn 3,15), cujo sentido é certamente mariológico, em que se afirma a inimizade entre Maria e o demônio, assim como Cristo, que não teve ne- nhum pacto com o demônio. Em seu contexto paralelístico, Cristo e Maria tiveram as mesmas inimizades contra o demônio, o que leva a deduzir que essa inimizade de Maria tenha sido total, ex- cluindo qualquer amizade com ele desde o momento de sua con- cepção, don de há total isenção de mancha nela. No Novo Testa- mento, é decisivo como o anjo na perícope da anunciação chama Maria: “cheia de graça” (Lc 1,28), que quer dizer, sem dúvida, que ela pos sui, de modo estável, a graça correspondente à sua dignida- de de Mãe de Deus, uma graça estável porque ela a possui desde o primeiro instante de sua vida, porque ela é a Imaculada Conceição (POZO, 1978). O significado soteriológico do dogma da Imaculada Concei- ção está no fato de que Maria, isenta do pecado original, é para- digma para todos os homens. Apesar desse privilégio, a vida ter- restre de Maria não foi menos onerosa, difícil, monótona e sofrida, mas ela já é a nova criação, a criatura salva, plena de graça, des- © Mariologia98 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO tino daqueles que se abrem ao dom de Deus. Maria é a mulher toda pura e santa, receptáculo de Deus, e todo o ser humano está destinado a poder acolher também a autodoação total e plena de Deus (BOFF, 1979). Pela encarnação do Verbo no interior da reali- dade humana, é o divino que se uniu ao humano, de modo que o homem é destinado a uma alta espiritualização, cuja preparação e antecipação é a Imaculada Conceição. Para participar em uma obra de tal envergadura, uma condi- ção fundamental é a santidade, que é, em Maria, um estado desde a sua concepção: "a Virgem foi preservada e foi imune de toda mancha da culpa original” – proclama o dogma. O extraordinário na apresentação da Imaculada Conceição pelo Vaticano II é que o Concílio não se restringe somente à noção de isenção do pecado, mas recupera e assimila uma noção que era cara aos santos padres, ou seja, a noção de santidade de Maria ao dizer no n. 56 que a Mãe de Deus é toda santa. A expressão “toda santa” corresponde ao termo grego “panagia” ou ao termo latino “santissimus”, ou seja, Maria é toda santa, santíssima, e é isto que o dogma da Imaculada Conceição no fundo quer afirmar: que Ma- ria é toda santa desde o início de sua concepção, donde há a noção de isenção do pecado original. Ao integrar a expressão “toda santa” na explicitação do dog- ma da Imaculada Conceição, o Concílio demonstra, também, a sua sensibilidade ecumênica, pois, na igreja oriental, em vez do con- ceito de isenção do pecado, usa‑se o conceito de panagia, ou seja, Maria é toda santa. Com isso, em relação ao dogma da Imaculada Conceição, o Concílio Vaticano II realizou uma síntese extraordinária integrando a riqueza doutrinal de dois milênios e que vem fazer jus mesmo àqueles que no passado (OTT, 1997), antes da proclamação oficial do dogma, tiveram dificuldades de aceitar a noção de isenção de pecado, como Boaventura, Alberto Magno e Tomás de Aquino, en- tre outros, mas que sempre reconheceram a suma santidade de Maria (S. Th. III. Q. 27, a. 2, sol. 2). 99© Os Dogmas Marianos Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– “Dicendum quod, si nunquam anima Beatae Virginis fuisset contagis originalis peccati inquinata, hoc derogaret dignitati Christi secundum quam est universalis omnium Salvator” (S. Th. III. Q. 27, a. 2, sol. 2). “Deve‑se dizer que se a alma da Bem‑aventurada Virgem não tivesse sido nunca manchada pela transmissão do pecado original, seria uma diminuição da dignidade de Cristo, que é o Salvador universal de todos” (OTT, 1997, p. 317). “Et ideo sub Christo, qui salvari non indiguit, tanquam universalis Salvator, maxima fuit Beatae Virginis puritas” (S Th. III. Q. 27, a. 2, sol. 2): (Por isso, a pureza da Bem‑aventurada Virgem foi a maior de todas, abaixo de Cristo, que não tinha necessidade de ser salvo por ser o salvador universal). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 6. ASSUNÇÃO DE MARIA: DOGMA Maria foi recebida de corpo e alma na glória celeste (Pio XII, 01/12/1950) No dia primeiro de novembro de 1950, Pio XII proclamava o dogma da Assunção de Maria nos seguintes termos: Para a alegria e a exultação de toda a Igreja, pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem ‑aventurados Apóstolos Pedro e Paulo e por nossa própria autoridade, afirmamos, declaramos e definimos como dogma divinamente revela do que: a imaculada Mãe de Deus, Maria sempre virgem, após ter terminado o curso de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à gloria celeste. DS 3903: “ad totius Ecclesiae gaudium exsultationemque, auctoritate Domini Nostri Jesu Christi, Beatorum Apostolorum Petri et Pauli ac Nostra pronuntiamus declaramus et definimus divinitus revelatum dogma esse: Immaculatam Deiparam semper Virginem Mariam, expleto terrestris vitae cursu, fuisse corpore et anima ad caelestem gloriam assumptam.” A fundamentação bíblica da doutrina da assunção encontra- ‑se, segundo autores como M. Jugie e A. Feuillet, na descrição de Ap 12,1 : “um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vesti- da com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”. Mas, situado o texto no seu conjunto, não permite por si só ser tomado como fundamento sólido. © Mariologia100 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Outros recorrem ao proto evangelho (Gn 3,15), mas é pre- ciso reconhecer que uma argumen tação puramente bíblica com base nesse texto em favor da doutrina da assunção não é nada fácil (POZO, 1978). A graça em Maria seria o fundamento de sua assunção corporal e glorificação. Em um sentido típico, padres e teólogos têm‑se servido, ainda, dos textos seguintes: Sl 131,8; Ap 11,19 e Ct 8,5 (OTT, 1957). Em vista da impossibilidade de apresentar um testemunho direto na Escritura, Pio XII, na Constituição Apostólica Munificen‑ tissimus Deus (DS 3900ss), serve‑se de método misto, ou seja, não unicamente bíblico, implicando argumentação complexa, na qual aparece o pensa mento dos padres, sobre a união de Maria, a Nova Eva, com Cristo, Novo Adão, na luta contra o diabo. A essa argu- mentação patrística viria ao encontro o protoevangelho (Gn 1,15) e São Paulo (Rm 5,6; lCor 15,21‑26.54‑57) com a doutrina da vitó- ria de Cristo contra o diabo, que trouxe como consequência a sua vitória sobre o pecado e a morte. Maria participou de maneira es- pecial nessa vitória, cujo coroamento foi a Ressurreição de Cristo. No entanto, a participação dela na vitória de Cristo não teria sido completa sem a sua glorificação corporal (POZO, 1978). Tanto aqui como no dogma da Imaculada Conceição, o fundamen to encontra‑se no apelo a uma longa tradição da Igreja, sendo a própria forma bíblica considerada no interior desse apelo à tradição. A cons tituição definitória da assunção coloca de manei- ra especial o acento também sobre o consensoatual de fé da Igreja no seu conjunto e indica esse consenso como a última instância no reconhecimento do caráter revelado da doutrina (NUOVO DIZIO- NARIO DI MARIOLOGIA). Os dois documentos de definição (Bula Ineffabilis Deus de Pio IX e a Constituição Apostólica Munificentissimus Deus de Pio XII) mostram, assim, que a fé cristã é dinâmica, e que, em direção a um conhecimento sempre maior da verdade, tem a possibilidade de se desenvolver em uma visão religiosa mais profunda daquilo 101© Os Dogmas Marianos que é revelado só implici tamente e adquirir, dessa forma, novos conhecimentos, sem falsificar e sem acrescentar nada à verdade colhida no início somente em germe (NUOVO DIZIONARIO DI MA- RIOLOGIA). Antes de ser definida como dogma, a assunção de Maria já fazia parte do depósito da fé da Igreja, o que pode ser constatado na doutrina da Tradição. Já antes do século 4º, os apócrifos oferecem‑nos numerosas narrações do trânsito da Santíssima Virgem. Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– “Dois apócrifos, o Proto‑evangelho de Tiago e a Dormição de Maria, respondem a essa curiosidade (isto é, sobre o fim da existência terrestre de Maria). O primeiro ascende para além do III século; o segundo não é posterior ao século V” (WENGER, A. Aux origines de la croyance en l’assomption. In: De Primordiis Cultus Mariani: Acta Congressus Mariologici-Mariani in Lusitania Anno 1967 Celebrati. Vol. IV: De Cultu B. V. Mariae respectu Habito ad Mythologiam ET Libros Apocryphos (PCM), p. 327‑ 328). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Nos apócrifos, pode‑se encontrar uma tradição antiquíssima sobre a morte de Maria. De outro lado, a glorificação corporal de Maria não podia ser objeto de teste munhos históricos, pelo fato de ser acontecimento transcendente (POZO, 1978). O primeiro escritor cristão que, em ligação com um apócrifo Transitus B. M. V., fala da assunção corporal de Maria é Gregório de Tours, no século 5° (OTT, 1957). Já no século 4°, encontra‑se o testemunho de Santo Epifânio, que admitiu a possibilidade de o corpo glorificado de Maria se encontrar junto à glória dos mártires (POZO, 1978). Pregações por ocasião da festa da dormição de Maria, feitas pelo pseudo‑Modesto de Jerusalém, ou, ainda, por Germano de Constantinopla, André de Creta, João Damaceno e Teodoro Stu- dita, foram transmitidas de longa data (OTT, 1957). Na liturgia, a festa da dormição já era celebrada em Jerusalém no século 6º, e, em Constantinopla, até o ano 600. © Mariologia102 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Celebra‑se, também, a festa da glorificação de Maria, cujo nome, a festa da assunção, parece ser mais antiga que a da dor- mição. Esta foi introduzida em Roma no século 7º, e era chamada assunção de Santa Maria, estendendo‑se por todo o Oci dente no século 8º e 9º. Com essa festa, a aceitação da assunção na piedade popular generaliza‑se sob a guia dos pastores. No pensamento te- ológico, a persuasão dos teólogos generaliza‑se a partir do século 15 e, depois da definição dogmática da Imaculada Conceição, ini- cia‑se um grande movimento em favor da definição da assunção. No Concílio Vaticano I, 187 padres conciliares pediram a defi- nição dogmática. A unanimidade no povo cristão aumenta de ano para ano, manifestando ‑se nas petições em favor da definição, di- rigidas à Santa Sé, sobretudo da parte dos bispos. Essa universa- lidade da fé, da qual os bispos davam testemunho, como reflexo da fé geral do povo cristão, ofereceu o mais firme fundamento à definição, que finalmente se tornou realidade por meio da Consti- tuição Apostólica Munificentissimus Deus de Pio XII. Maria assunta à glória do céu não significa transladação lo- cal, e sim mudança de estado. O texto da definição dogmática in- siste, com efeito, que Maria foi assunta não ao céu, uma noção es- pacial, mas à glória celeste “fuisse corpore et anima ad caelestem gloriam assumptam” (DS 3903). E isso foi voluntariamente assim formulado por sugestão dos teólogos, segundo Pinto de Oliveira, que o papa não dissesse simplesmente “assumida ao céu” para não dar a ideia de movimento corporal, e não se pronunciar sobre a questão do lugar, pois o que houve foi uma passagem por trans- formação da situação terrestre à condição gloriosa. Como Maria se encontra de corpo e alma na condição da glória que é prometida na escatologia bíblica, não se diz, portanto, que ela foi elevada espacialmente, mas foi elevada à condição da glória definitiva dos filhos de Deus. Assunta em corpo e alma, sig- nifica, também, que ela foi glorificada em sua unidade como pes- soa viva em toda a sua realidade existencial humana (POZO, 1978). 103© Os Dogmas Marianos O texto da definição não diz se Maria morreu ou não: “ter- minado o curso da sua vida terrestre” – são esses termos da de- claração. Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Segundo Pozo (1978), não se pode deduzir que a forma definitória favoreça a negação da morte de Maria ou que ela declare que a questão da morte de Maria seja teologicamente livre. Essa questão permanece simplesmente no estado anterior à definição. Boff (1979), embora constate a cautela do texto dogmático em relação à morte de Maria, afirma que “Maria morreu, pois só assim se pode falar, verdadeiramente, de ressurreição, porquanto somente um morto pode ressuscitar”. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Contudo, se, em Cristo, a morte não é mais uma tragédia, e sim a culminação e a integração, a passagem para uma vida mais plena em Deus, podemos supor que Maria assimilou perfeitamen- te a morte como ato supremo de amor e de entrega a Deus. Além disso, “Maria se associou total mente ao destino de seu Filho. Por sua vida e morte Jesus nos libertou. Por sua vida e morte Maria par- ticipou desta obra messiânica e universal. A morte não foi punição nem angústia. Foi forma de doação e de amor sacrificado”(BOFF, 1979). Aos pés da cruz, Maria está em plena comunhão com a sor- te de seu Filho crucificado, que na Teologia joanina é, ao mesmo tempo, o elevado e o glorificado. Naquele momento, ao dizer: “Eis a tua mãe!” (Jo 19,27), Jesus oferece à humanidade, na pessoa do seu discípulo amado, um dom precioso do seu amor, um dom de salvação, a saber, a natureza humana representada na pessoa de Maria, totalmente salva, o feminino totalmente glorificado. O destino de Maria é, portanto, o destino de todos em Cris- to, e ela já goza desse destino em plenitude. 7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade: © Mariologia104 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO 1) O Dogma da Maternidade Divina de Maria tem alcance cristológico. De- monstre, portanto, o alcance cristológico desse dogma, ou seja, que con- sequência tem o dizer que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus para o dogma cristológico. 2) A fundamentação bíblica do dogma da Maternidade Divina de Maria tem sido tranquila. Elabore os argumentos principais dessa fundamentação. 3) Dos três momentos da Virgindade Perpétua de Maria, o mais importante é a virgindade antes do parto, pois isso incide diretamente na concepção virginal de Jesus, ou seja, Jesus foi concebido sem a participação do sêmen masculino. Qual a importância que esse fato tem para o dogma cristológico? 4) O dogma da Virgindade Perpétua de Maria não é uma negação da sexualida- de nem do matrimônio. Na verdade, por meio da concepção virginal, Deus evidenciou o novo começo da humanidade. Demonstre, portanto, o signifi- cado teológico da virgindade. 5) Na fundamentação do dogma da Assunção de Maria, não há referências di- retas na Bíblia. Descubra qual a argumentação utilizada por Pio XII na Cons- tituição Apostólica Munificentissimus Deus para fundamentar esse dogma. 8. CONSIDERAÇÕES Nesta unidade, estudamos a fé e a Teologia da Igreja na pes- soa de Maria, manifestada nessa ciência e nas proclamações dog- máticas.Na próxima unidade, abordaremos o culto a Maria. Até lá! 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOFF. L. O rosto materno de Deus: ensaio interdisciplinar sobre o feminino e suas formas religiosas. 2. ed. Petrópolis: s.d., 1979. FEUILLET, A. Jésus et sa Mère: D'après les récits lucaniens de l'enfance et d'après saint Jean. Paris, 1981. HOLSTEIN, H. Le développement du dogme marial. In. Maria, t. 6, 270. LAURENTIN, R. Court traité sur la Vierge Marie: Refondu à la suite du Concile. 5. ed. Paris, 1967. ______. Structure et théologie de Luc I‑II. Paris, 1964. MULLER, A. Ecclesia: Maria. Die Einheit Marias un der Kirche. 2. ed. Freiburg/CH, 1955. 105© Os Dogmas Marianos OTT, L. Grundriss der Katholischen Dogmatik. Freiburg im Breisgau: Herder, 1957. ______. Manual de Teología Dogmática. Barcelona: Herder, 1997. POZO, C. María em la obra de la salvación. Madri, 1974. SCHEFFCZYK. Das Mariengeheimnis in Frommigkeit und Lehre der Karolingerzeit, Leipzig, 1959. SÖLL, G. Handbuch der Dogmengeschichte. Freiburg im Breisgau, 1978, v. 3 e 4. WENGER, A. L’Assomption de la T. S. Vierge dans la tradition byzantine du VIe au Xe siècle. Paris, 1955. WENNEMER, K. Die Aufnahme Mariens in den Himmel und die Heilige Schrift: die leibliche Himmelfahrt Mariens, 35‑45. Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
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