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Volume 5 – Edição 1 - 2021 RESPOSTA FISIOLÓGICA DO SER HUMANO À EXPOSIÇÃO A AMBIENTES DE ELEVADA ALTITUDE João Pedro Stivanin de Almeida¹; João Carlos Trovão Martins²; Felipe dos Guaranys Costa Jorge³; Paulo Roberto Hernandes Júnior4; Patrick de Abreu Cunha Lopes5; Laura Marques Barro6; Tiago Veiga Gomes7; Rossy Moreira Bastos Junior8 1 Universidade de Vassouras (UV), Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de medicina. joaopedrostivanin@hotmail.com 2 Universidade de Vassouras (UV), Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de medicina. joaocarlostrovao@hotmail.com 3 Universidade de Vassouras (UV), Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de medicina. felipedosguaranys@hotmail.com 4 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina. paulorh.med@gmail.com 5 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina. patrick.abreu33@gmail.com 6 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmica de Medicina. lauramb00@hotmail.com 7 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina. tiagoveigamed@gmail.com 8 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Macaé, Rio de Janeiro, Brasil. Docente/Preceptor de Medicina. dr.rossymbastos@uol.com.br Seção: Saúde. Formato: Revisão de Literatura. ABSTRACT Volume 5 – Edição 1 - 2021 Altitude increase is associated with exponential barometric pressure decrease, and analogous to partial oxygen pressure of atmospheric air. Exposure to hypobaric hypoxic environments subjects the body to critical changes in different systems. Physical exercise, when performed at elevated locations, is strongly influenced by hypoxia and partial oxygen pressure, and as a consequence, it hinders oxygen diffusion to cells, causing both physiological and psychological changes. The most important physiological changes are the increases of respiratory rate and tidal volume. After a few hours of altitude elevation exposure, erythropoietin production increases, and a few weeks after, so the amount of red blood cells. The consumption of a rich carbohydrate diet improves blood oxygenation at elevated altitudes. The risk of dehydration may be greater due to excessive diuresis and increased pulmonary ventilation. Experts have created specific training models which allow using those physiological athletic changes and specific diet, to support the maximum performance of top athletes. KEY-WORDS: Physiology, Exercise, Altitude RESUMO A elevação da altitude está associada ao decréscimo exponencial da pressão barométrica e paralelamente da pressão parcial de oxigênio no ar atmosférico. A exposição a ambientes de hipóxia hipobárica submetem o corpo a inúmeras alterações nos diferentes sistemas. O exercício físico quando realizado em locais elevados sofre grande influência da hipóxia e da pressão parcial de oxigênio culminando em uma dificuldade na utilização do aporte de oxigênio, causando tanto mudanças fisiológicas quanto psicológicas. A alteração fisiológica mais característica é a elevação da frequência respiratória e do volume corrente. Nas primeiras horas de exposição à altitude, ocorre um aumento da produção de eritropoietina e algumas semanas depois, de hemácias na circulação. O consumo de carboidrato melhora a oxigenação sanguínea na altitude. O risco de desidratação pode ser maior devido à diurese excessiva e o aumento da ventilação pulmonar. Especialistas criaram um modelo de treinamento específico para utilizar as alterações fisiológicas a favor dos atletas, e essas novas técnicas quando combinadas com uma alimentação específica, podem levar ao máximo o rendimento dos atletas de ponta. Volume 5 – Edição 1 - 2021 PALAVRAS-CHAVES: Fisiologia; Exercício; Altitude. 1. INTRODUÇÃO À medida em que, ocorra o aumento da altitude, a disponibilização de oxigênio para as células do nosso corpo fica comprometida, pois quanto maior a altitude em que o indivíduo se encontra menor será a pressão barométrica, como a concentração de oxigênio no ar atmosférico é constante (20.93%), ou seja, não se altera em função da altitude, logo, a pressão parcial de oxigênio (PIO2) diminui proporcionalmente com o aumento da altitude; dessa forma, como a difusão de oxigênio acontece por gradiente de pressão a variação negativa da PIO2 prejudica diretamente a homeostasia de diferentes sistemas do corpo humano. (WEST, 1990; DEJOURS, DEJOURS, 1992). De uma maneira geral, a hipóxia hipobárica se traduz em uma redução do consumo máximo de oxigênio que a célula pode ter, para o mesmo trabalho, num aumento da intensidade relativa ou na diminuição da capacidade de trabalho desenvolvido para uma determinada intensidade de exercício, com aparecimento precoce da fadiga. (WEST, 1990; DEJOURS, DEJOURS, 1992). O exercício físico, enquanto agente estressor, quando realizado em locais elevados sofre grande influência da hipóxia e da pressão parcial de oxigênio, culminando em uma dificuldade na utilização do aporte de oxigênio, causando tanto mudanças fisiológicas quanto psicológicas. As alterações psicológicas produzem uma gama de alterações nas funções cognitivas e no estado de humor. As magnitudes dessas alterações dependem da altitude do tempo de exposição e da ascensão, além do período de adaptação de cada indivíduo. (GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, MOORE, 2019) Pessoas não adaptadas a PIO2 reduzidas, sofrem alterações cardiovasculares, respiratórias e neurológicas. Diferentes déficits neuropsicológicos, como ataques de pânico e ansiedade severa também são descritos, devido a uma hiperventilação causada pela baixa oferta de oxigênio. Sintomas como cefaleia, dificuldade de memorização e insônia ocorrem com o aumento progressivo da altitude. Entretanto, pessoas já adaptadas apresentam melhores resultados nos quadros cognitivos e neuropsicológicos em geral, quando comparadas a indivíduos que vivem ao nível do mar e são expostos esporadicamente a esses ambientes de Volume 5 – Edição 1 - 2021 estresse. (DE AQUINO LEMOS et al., 2010; LEACY et al., 2018; YAN, 2020; LEFFERTS et al., 2020) As alterações cardiorrespiratórias variam de vertigem até taquicardia e dispneia, causadas, principalmente, pela baixa umidade do ar. Esse ar seco exige um maior aporte de água para estruturas como, as paredes dos alvéolos e das mucosas, o que leva a um quadro de desidratação. Todo esse ambiente de mudanças fisiológicas leva a hipotermia, hipohidratação, hipoglicemia e hipóxia hipobárica. (BUSS et al., 2006; CARIS, SANTO, 2018; ARAGÓN- VELA et al., 2020) A partir do momento em que indivíduos ficam expostos a altitudes elevadas há o aumento da frequência respiratória, isso se deve aos quimiorreceptores ao redor do tubo respiratório. Com a diminuição da saturação de O2, as alterações sofridas agem com intuito de manter a entrega de nutrientes e evitar a fadiga precoce. Vale ressaltar que atividades em altitudes elevadas geram perdade água corporal, que aumenta a viscosidade sanguínea. Tal fato, corrobora com o aumento do débito e frequência cardíaca para sanar a queda de volume. Faz-se necessário que o coração trabalhe com mais força, visto que a resistência exercida pelo sangue na parede dos vasos está drasticamente aumentada. (GRANJA et al., 2016; NAGASAKA et al., 1967; RILEY, GAVIN, 2017; LUKS et al., 2017; KUNIG, KUNIG., 2004; OHUCHI, 2005) Além dessas alterações fisiológicas, há também variações significativas no metabolismo, o que torna a alimentação fundamental para o indivíduo resistir a este ambiente hostil, e obter um melhor desempenho em competições de ponta. (SCHOENE, 1999; MAGALHÃES et al., 2002). 2. MÉTODOS Este trabalho foi elaborado através de revisão da literatura utilizando a base de dados do Scielo e Pubmed, dos últimos 20 anos. 3. DESENVOLVIMENTO 3.1. A HIPÓXIA HIPOBÁRICA Volume 5 – Edição 1 - 2021 Conforme Torricelli referiu em 1643 "vivemos submersos num oceano de ar que, mediante a experiências inquestionáveis, sabemos ter peso". Tendo isso como pressuposto, o incremento da altitude está associado ao decréscimo exponencial da pressão barométrica e, paralelamente, da pressão parcial de oxigénio no ar atmosférico (PIO2). (SCHOENE, 1999; MAGALHÃES et al., 2002). Usando a pressão atmosférica ao nível do mar como referência, à medida que subimos a altitude, a pressão barométrica diminui, por exemplo, a pressão no topo do Everest chega a ser um terço deste valor (GROCOTTG et al., 2009). Outro efeito referente a redução da coluna de ar é a redução da pressão parcial de oxigênio (PIO2). Isso se dá pelo fato do decréscimo da pressão barométrica tendo como constante a concentração de oxigênio no ar atmosférico independente da variação de altitude. Então, o decréscimo de PIO2 afeta de forma negativa a taxa de difusão de oxigênio nos alvéolos havendo a redução percentual da saturação de hemoglobina. Uma vez que, esta taxa é condicionada por gradientes de pressão nos diferentes níveis em que ocorrem as trocas gasosas (GROCOTTG et al., 2009). 3.2. ACLIMATAÇÃO E ADAPTAÇÃO Na literatura é comum tais termos serem considerados sinônimos, porém a adaptação se refere aos efeitos agudos provocados pela exposição à altitude. Já a aclimatação relaciona-se às respostas fisiológicas no organismo a um período prolongado de exposição, geralmente entre duas a três semanas após mudança da altitude (GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, MOORE, 2019). 3.3. ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS A exposição a ambientes de hipóxia hipobárica submetem o corpo a inúmeras alterações nos diferentes sistemas. Essas adaptações tendem a reduzir os déficits causados pela baixa PIO2 Volume 5 – Edição 1 - 2021 disponível para os tecidos (SIEBENMANN et al., 2016). Estes mecanismos de adaptação, para sustentar trabalho em locais de elevada altitude, são um exemplo da capacidade adaptativa do organismo humano para superar as dificuldades impostas por um ambiente extremamente hostil e conseguir nutrir seus órgãos e tecidos. O exercício físico quando realizado em locais de altitudes elevadas, sofre grande influência da hipóxia e da pressão parcial de oxigênio, culminando em uma dificuldade na utilização do aporte de oxigênio, causando tanto mudanças fisiopatológicas. Entretanto, é importante falar que a exposição aguda a altitudes superiores 2500 metros, particularmente se associada a ascensões rápidas, poderá induzir a ocorrência de um conjunto de alterações e sintomas, como cefaleias, anorexia, tonturas, náuseas, fraqueza, vómitos, distúrbios no sono, entre outros. (WEST, 1990; DEJOURS, DEJOURS, 1992; SIEBENMANN et al., 2016) 3.4. ALTERAÇÕES CARDIORRESPIRATÓRIAS A alteração fisiológica mais característica da hipóxia hipobárica é a elevação da frequência respiratória e do volume corrente. Esta resposta se dá essencialmente pela estimulação de quimiorreceptores periféricos sensíveis a variação da concentração arterial de oxigênio, possibilitando o aumento da ventilação alveolar em até 5 vezes. Consequentemente ocorre o aumento da PIO2 alveolar. Dessa forma, a utilização de O2 de forma eficiente e o não acúmulo de dióxido de carbono são essenciais para que o exercício não seja interrompido ou que não se torne anaeróbio. O processo de respiração ocorre em 2 fases distintas. Primeiramente há uma resposta quase imediata ao início da atividade física, realizada pelo córtex motor, que por sua vez envia estímulos ao centro respiratório aumentando a ventilação. Em seguida, a musculatura e articulações envolvidas mandam estímulos para o centro respiratório, o qual se ajusta à atividade. A segunda resposta relaciona-se com uma sequência de reações químicas, que ocorrem de forma mais lenta, incluindo o aumento no metabolismo muscular e geração de calor. (GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, MOORE, 2019) O nível de treinamento do indivíduo pode vir a promover alterações no processo respiratório, podendo ser funcionais ou morfológicas. A capacidade de sustentação de um Volume 5 – Edição 1 - 2021 exercício prolongado denomina-se resistência cardiorrespiratória (GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, MOORE, 2019). Essa se deve ao desenvolvimento do sistema aeróbio e está ligada ao aumento de volume de inspiração. 3.5. ERITROPOIETINA (EPO) A eritropoetina é um hormônio produzido pelos rins, sendo o responsável mais importante pela liberação de eritrócitos (forma de condução de O2 dos pulmões para os tecidos) (WEST, 1990; DEJOURS, DEJOURS, 1992; SCHOENE, 1999; MAGALHÃES et al., 2002; GROCOTTG et al., 2009; SIEBENMANN et al., 2016; GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, MOORE, 2019). Nas primeiras horas de exposição a elevação da altitude, ocorre um aumento da produção de EPO, já o incremento do número de hemácias e hemoglobinas se dá mais lentamente, apenas após algumas semanas, desde que vivendo em ambiente de hipóxia hipobárica (WEST, 1990; DEJOURS, DEJOURS, 1992; SCHOENE, 1999; MAGALHÃES et al., 2002; GROCOTTG et al., 2009; SIEBENMANN et al., 2016; GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, MOORE, 2019). Logo, esta elevação de EPO e eritrócitos, acarretam a melhora da capacidade aeróbia. Consequentemente, o O2 circulante no sangue aumentaria, favorecendo seu suprimento às demandas necessárias do organismo. Os benefícios desse aumento de liberação somente serão sentidos após alguns dias, na fase de aclimatação e irão variar com o grau de hipóxia. 3.6. ALTERAÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS As alterações neuropsicológicas se manifestam de diferentes maneiras de acordo com o grau de exposição à hipóxia hipobárica. Volume 5 – Edição 1 - 2021 A exposição a grandes altitudes emcurto intervalo de tempo, pode causar dores de cabeça, fraquezas, vertigens e prejudicar a performance do indivíduo. Além disso, poderá haver alterações no processamento de informações, que poderão levar o indivíduo a confundir-se em momentos inesperados, os quais podem exigir uma tomada de decisão objetiva e precisa, como também alterações momentâneas de memória (DE AQUINO LEMOS et al., 2010; LEACY et al., 2018). A exposição prolongada à hipóxia, cria um quadro crônico de hipóxia. Em roedores, tem sido observada uma diminuição de catecolaminas em diferentes estruturas cerebrais, dentre elas, o hipocampo e o lobo frontal. Em humanos atingidos por essa crônica exposição, foi relatado a presença de ilusões, distorções de esquema corporal, alucinações visuais e auditivas, além de privação social e tensão. (YAN, 2020; LEFFERTS et al., 2020). Em diferentes etnias, a hipóxia se manifesta de formas variadas, e essas alterações nos sinais e sintomas parecem estar relacionadas aos diferentes genótipos de cada grupo populacional, a partir de uma seleção natural imposta a eles ao longo dos anos. Populações que tradicionalmente vivem em altitudes elevadas, como Tibetanos ou Andinos, não apresentam os sintomas da hipóxia de forma tão intensa quanto os indivíduos que residem tradicionalmente ao nível do mar. (DE AQUINO LEMOS et al., 2010; LEACY et al., 2018; YAN, 2020; LEFFERTS et al., 2020) 3.7. ASPECTOS NUTRICIONAIS PARA ATLETAS Atletas que viajam para altas altitudes podem ter uma perda de peso corporal de aproximadamente 3% em oito dias, o que vai variar de acordo com a altitude Isso se deve a redução de apetite e consumo alimentar, o que pode trazer consequências negativas para as reservas de energia do corpo, ocorrendo a perda de massa corporal, podendo ter um efeito negativo no desempenho do atleta. (BUSS et al., 2006). Ao se expor a condição de hipóxia hipobárica, ocorre um aumento na taxa metabólica basal em torno de 30%, porém, após aclimatação, essa taxa passa a ser de 17%, o que demonstra a necessidade de uma reposição de energia através da alimentação, para não ocorrer um saldo energético negativo (CARIS, SANTO, 2018). As alterações fisiológicas sofridas pelo corpo Volume 5 – Edição 1 - 2021 impactam na necessidade de utilização de alguns nutrientes na aclimatação, o que resulta em uma maior dependência de glicose, e uma menor necessidade de lipídios como substrato energético. Uma dieta rica em carboidratos é mais relevante, pois são uma fonte de energia mais eficiente que a gordura. O consumo de carboidrato melhora também a oxigenação sanguínea na altitude, através do aumento da tensão de oxigênio e da saturação de oxihemoglobina no sangue arterial. É fundamental manter o consumo de carboidrato durante o exercício, o que pode ser feito ingerindo líquidos com 6% a 8% de carboidrato/mL e, na fase de recuperação pós- exercício, por meio de bebidas energéticas 20% de carboidrato/mL É recomendável também não excluir alimentos ricos em gorduras, pois são ricos em energia, podendo auxiliar no fornecimento energético. (ARAGÓN-VELA et al., 2020). O risco de desidratação torna-se maior nas grandes altitudes, devido à baixa umidade do ar, diurese excessiva nas primeiras horas de exposição, e aumento da ventilação pulmonar. Atletas treinando neste ambiente devem ter o acompanhamento de uma equipe médica multidisciplinar. Recomenda-se o consumo de 3 a 5 litros de água por dia visando reduzir o risco de desidratação, além de uma dieta rica em certos nutrientes para melhorar a concentração de células vermelhas e o transporte de oxigênio (O2), reduzindo o prejuízo para o organismo pela baixa de O2. (BUSS et al., 2006; CARIS, SANTO, 2018; ARAGÓN-VELA et al., 2020). Devido ao estresse oxidativo aumentado, a suplementação com vitaminas antioxidantes é recomendável. O consumo de tais vitaminas poderia prevenir a diminuição do desempenho físico, diminuindo o número de radicais livres no organismo. A ingestão de ferro, para atletas com deficiência do mesmo, pode ser benéfica em razão do aumento da resposta eritropoiética na altitude (BUSS et al., 2006; CARIS, SANTO, 2018; ARAGÓN-VELA et al., 2020). Porém, a produção de radicais livres pode aumentar com o ferro livre em excesso, tornando-se essencial estimar a quantidade da suplementação de ferro. 3.8. PATOLOGIAS ASSOCIADAS À HIPÓXIA HIPOBÁRICA EM ATLETAS 3.8.1. MAL AGUDO DE MONTANHA (MAM) É a mais comum entre as patologias ligadas a ascensão da altitude. Os sintomas aparecem entre 4-8 horas após a exposição à hipóxia hipobárica. Os sintomas são cefaléia, Volume 5 – Edição 1 - 2021 náuseas, anorexia, insônia e dispneia. Essa patologia é causada pela subida rápida sem aclimatação geralmente não letal. Existem medidas preventivas, tais como, aclimatação adequada, hidratação com 3 litros por dia e alimentação rica em carboidratos. (WEST, 1990; DEJOURS, DEJOURS, 1992; SCHOENE, 1999; MAGALHÃES et al., 2002; GROCOTTG et al., 2009; SIEBENMANN et al., 2016; GRANJA et al., 2016; NAGASAKA et al., 1967; RILEY, GAVIN, 2017; LUKS et al., 2017; KUNIG, KUNIG., 2004; OHUCHI, 2005; GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, MOORE, 2019) 3.8.2. EDEMA PULMONAR DE ALTITUDE Essa patologia possui as mesmas causas do MAM, porém é mais grave podendo ser letal. É comum em altitudes acima de 2700m. Apresenta como sintomas dispneia anormal, cianose, tosse seca e taquicardia. Utiliza-se como método de tratamento a descida imediata do indivíduo e o uso de medicamentos paliativos. (GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, MOORE, 2019) 3.8.3. EDEMA CEREBRAL DE ALTITUDE É a patologia mais grave, podendo ser precedida pelo MAM ou pelo edema pulmonar de altitude, sendo mais comum em altitudes acima de 4500m. Trata-se de um acúmulo de líquido no interior do cérebro. Cursa com dificuldade na marcha e na realização de tarefas manuais de precisão, cefaleia, alucinações e desgaste físico. Nestes casos a medida ideal e emergencial é o deslocamento imediato do indivíduo afetado para áreas de menor altitude. (GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, MOORE, 2019). 4. DISCUSSÃO Baseado nas alterações fisiológicas descritas, os fisiologistas passaram a não mais observar a hipóxia hipobárica como um problema, mas sim como uma ferramenta de otimização de rendimento para atletas de ponta. Criaram-se modelos específicos de treinamentos, onde o atleta vive em locais com altitude elevada e treina em ambientes ao nível do mar. Volume 5 – Edição 1 - 2021 Este modelo sugerido de treinamento, tem como intuito unir os benefícios da aclimatação à altitude, como a melhora no transporte de O2 e a maior intensidade de treinamento ao nível do mar, quando comparada com a realizada em altitude elevada. Isso deve- se ao fato da capacidade aeróbica não estar tão prejudicada como ocorre em áreas com elevadas altitudes, nas quais o Volume de O2 (VO2) máximo diminui 1% para cada 100 metros acima de 1500 m de altitude. Os atletas vivendo em altitude específica elevada (determinada por especialista – altitudeelevada), por período (4 semanas), sofrem efeitos ligados ao aumento de eritrócitos que, em associação com treinamento ao nível do mar, podem caracterizar um método capaz de otimizar o desempenho do atleta. O modelo que sugeria o treino em altas altitudes mostrou uma série de desvantagens, tais como, destreino associado a necessidade de reduzir a intensidade do treino, elevada desidratação devido a redução do volume plasmático, sintomas associados a "doenças da montanha" e sobretreino (WEST, 1990; DEJOURS, DEJOURS, 1992; SCHOENE, 1999; MAGALHÃES et al., 2002; GROCOTTG et al., 2009; SIEBENMANN et al., 2016). 4. CONCLUSÃO A baixa PaO2 presente em elevadas altitudes provoca uma redução do aporte de O2 nos tecidos. Essa hipóxia hipobárica estimula alterações fisiológicas pela ativação de quimiorreceptores periféricos. Isso aumenta, de duas a cinco vezes, o ciclo de ventilação, tendo como resultado, um aumento da frequência respiratória, do volume corrente e da frequência cardíaca. Em altitudes iguais a 5000 metros, o corpo apresenta diminuição da resistência muscular nas pernas e nos braços, tonturas, dor de cabeça, alterações vasomotoras e de personalidade. O glicogênio é o substrato que mais gera ATP por litro de O2, sendo, portanto, a principal fonte de energia em um exercício de altitude. Outra fonte energética são os ácidos graxos, mas utilizam um valor de O2 superior em relação ao glicogênio, ocasionando uma redução na intensidade do exercício. Volume 5 – Edição 1 - 2021 Uma adaptação crônica a altitude provoca uma menor produção de lactato em comparação à fase aguda. Esse fenômeno é denominado Paradoxo do lactato. (MCARDLE. KATCH, KATCH, 2003) A adaptação varia de acordo com a altitude e a individualidade biológica. Períodos prolongados à altitude têm como resultado, ajustes que ocorrem de forma mais tardia, tais como o equilíbrio ácido básico dos líquidos corporais, aumento da quantidade de hemácias e uma maior concentração de hemoglobina. Em geral, o tempo ótimo para que haja uma aclimatação estável fica em torno de 15 dias e a uma altitude de 2500 metros. Os produtos dessas adaptações dissipam-se por volta de 20 dias após o retorno ao nível do mar. Os hormônios adrenalina e noradrenalina facilitam esses processos adaptativos. Atletas que buscam a melhoria de desempenho, utilizam-se do modelo de treinamento "Living High - Training Low” visando um melhor transporte de oxigênio. O tempo de exposição e o nível de altitude são os principais fatores para um desempenho otimizado, ou prejuízos à saúde. 5. REFERÊNCIAS ARAGÓN-VELA J, BEJDER J, R HUERTAS J, PLAZA-DIAZ J, NORDSBORG NB. Does intermittent exposure to high altitude increase the risk of cardiovascular disease in workers? A systematic narrative review. BMJ Open. 2020 Nov 20;10(11):e041532. doi: 10.1136/bmjopen- 2020-041532. PMID: 33444211; PMCID: PMC7682469. BUSS C, DE OLIVEIRA AR. Nutrição para os praticantes de exercício em grandes altitudes. Revista de Nutrição. 2006 02;19:77 – 83. Available from: http://www.scielo.br/scieloOrg/php/articleXML.php?lang=enpid=S1415- 52732006000100008. 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