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Volume 5 – Edição 1 - 2021 
 
 
RESPOSTA FISIOLÓGICA DO SER HUMANO À EXPOSIÇÃO A 
AMBIENTES DE ELEVADA ALTITUDE 
 
João Pedro Stivanin de Almeida¹; João Carlos Trovão Martins²; Felipe dos Guaranys Costa Jorge³; Paulo 
Roberto Hernandes Júnior4; Patrick de Abreu Cunha Lopes5; Laura Marques Barro6; Tiago Veiga 
Gomes7; Rossy Moreira Bastos Junior8 
 
1 Universidade de Vassouras (UV), Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de medicina. 
joaopedrostivanin@hotmail.com 
2 Universidade de Vassouras (UV), Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de medicina. 
joaocarlostrovao@hotmail.com 
3 Universidade de Vassouras (UV), Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de medicina. 
felipedosguaranys@hotmail.com 
4 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina. 
paulorh.med@gmail.com 
5 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina. 
patrick.abreu33@gmail.com 
6 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmica de Medicina. 
lauramb00@hotmail.com 
7 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina. 
tiagoveigamed@gmail.com 
8 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Macaé, Rio de Janeiro, Brasil. Docente/Preceptor de Medicina. 
dr.rossymbastos@uol.com.br 
 
Seção: Saúde. 
Formato: Revisão de Literatura. 
 
ABSTRACT 
 Volume 5 – Edição 1 - 2021 
 
 
Altitude increase is associated with exponential barometric pressure decrease, and 
analogous to partial oxygen pressure of atmospheric air. Exposure to hypobaric hypoxic 
environments subjects the body to critical changes in different systems. Physical exercise, when 
performed at elevated locations, is strongly influenced by hypoxia and partial oxygen pressure, 
and as a consequence, it hinders oxygen diffusion to cells, causing both physiological and 
psychological changes. The most important physiological changes are the increases of 
respiratory rate and tidal volume. After a few hours of altitude elevation exposure, 
erythropoietin production increases, and a few weeks after, so the amount of red blood cells. 
The consumption of a rich carbohydrate diet improves blood oxygenation at elevated altitudes. 
The risk of dehydration may be greater due to excessive diuresis and increased pulmonary 
ventilation. Experts have created specific training models which allow using those 
physiological athletic changes and specific diet, to support the maximum performance of top 
athletes. 
 
KEY-WORDS: Physiology, Exercise, Altitude 
 
 
RESUMO 
A elevação da altitude está associada ao decréscimo exponencial da pressão barométrica 
e paralelamente da pressão parcial de oxigênio no ar atmosférico. A exposição a ambientes de 
hipóxia hipobárica submetem o corpo a inúmeras alterações nos diferentes sistemas. O 
exercício físico quando realizado em locais elevados sofre grande influência da hipóxia e da 
pressão parcial de oxigênio culminando em uma dificuldade na utilização do aporte de oxigênio, 
causando tanto mudanças fisiológicas quanto psicológicas. A alteração fisiológica mais 
característica é a elevação da frequência respiratória e do volume corrente. Nas primeiras horas 
de exposição à altitude, ocorre um aumento da produção de eritropoietina e algumas semanas 
depois, de hemácias na circulação. O consumo de carboidrato melhora a oxigenação sanguínea 
na altitude. O risco de desidratação pode ser maior devido à diurese excessiva e o aumento da 
ventilação pulmonar. Especialistas criaram um modelo de treinamento específico para utilizar 
as alterações fisiológicas a favor dos atletas, e essas novas técnicas quando combinadas com 
uma alimentação específica, podem levar ao máximo o rendimento dos atletas de ponta. 
 
 Volume 5 – Edição 1 - 2021 
 
 
PALAVRAS-CHAVES: Fisiologia; Exercício; Altitude. 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
À medida em que, ocorra o aumento da altitude, a disponibilização de oxigênio para as 
células do nosso corpo fica comprometida, pois quanto maior a altitude em que o indivíduo se 
encontra menor será a pressão barométrica, como a concentração de oxigênio no ar atmosférico 
é constante (20.93%), ou seja, não se altera em função da altitude, logo, a pressão parcial de 
oxigênio (PIO2) diminui proporcionalmente com o aumento da altitude; dessa forma, como a 
difusão de oxigênio acontece por gradiente de pressão a variação negativa da PIO2 prejudica 
diretamente a homeostasia de diferentes sistemas do corpo humano. (WEST, 1990; DEJOURS, 
DEJOURS, 1992). 
De uma maneira geral, a hipóxia hipobárica se traduz em uma redução do consumo 
máximo de oxigênio que a célula pode ter, para o mesmo trabalho, num aumento da intensidade 
relativa ou na diminuição da capacidade de trabalho desenvolvido para uma determinada 
intensidade de exercício, com aparecimento precoce da fadiga. (WEST, 1990; DEJOURS, 
DEJOURS, 1992). O exercício físico, enquanto agente estressor, quando realizado em locais 
elevados sofre grande influência da hipóxia e da pressão parcial de oxigênio, culminando em 
uma dificuldade na utilização do aporte de oxigênio, causando tanto mudanças fisiológicas 
quanto psicológicas. As alterações psicológicas produzem uma gama de alterações nas funções 
cognitivas e no estado de humor. As magnitudes dessas alterações dependem da altitude do 
tempo de exposição e da ascensão, além do período de adaptação de cada indivíduo. 
(GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; 
TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, MOORE, 2019) 
Pessoas não adaptadas a PIO2 reduzidas, sofrem alterações cardiovasculares, 
respiratórias e neurológicas. Diferentes déficits neuropsicológicos, como ataques de pânico e 
ansiedade severa também são descritos, devido a uma hiperventilação causada pela baixa oferta 
de oxigênio. Sintomas como cefaleia, dificuldade de memorização e insônia ocorrem com o 
aumento progressivo da altitude. Entretanto, pessoas já adaptadas apresentam melhores 
resultados nos quadros cognitivos e neuropsicológicos em geral, quando comparadas a 
indivíduos que vivem ao nível do mar e são expostos esporadicamente a esses ambientes de 
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estresse. (DE AQUINO LEMOS et al., 2010; LEACY et al., 2018; YAN, 2020; LEFFERTS et 
al., 2020) 
As alterações cardiorrespiratórias variam de vertigem até taquicardia e dispneia, 
causadas, principalmente, pela baixa umidade do ar. Esse ar seco exige um maior aporte de 
água para estruturas como, as paredes dos alvéolos e das mucosas, o que leva a um quadro de 
desidratação. Todo esse ambiente de mudanças fisiológicas leva a hipotermia, hipohidratação, 
hipoglicemia e hipóxia hipobárica. (BUSS et al., 2006; CARIS, SANTO, 2018; ARAGÓN-
VELA et al., 2020) 
A partir do momento em que indivíduos ficam expostos a altitudes elevadas há o 
aumento da frequência respiratória, isso se deve aos quimiorreceptores ao redor do tubo 
respiratório. Com a diminuição da saturação de O2, as alterações sofridas agem com intuito de 
manter a entrega de nutrientes e evitar a fadiga precoce. Vale ressaltar que atividades em 
altitudes elevadas geram perdade água corporal, que aumenta a viscosidade sanguínea. Tal 
fato, corrobora com o aumento do débito e frequência cardíaca para sanar a queda de volume. 
Faz-se necessário que o coração trabalhe com mais força, visto que a resistência exercida pelo 
sangue na parede dos vasos está drasticamente aumentada. (GRANJA et al., 2016; 
NAGASAKA et al., 1967; RILEY, GAVIN, 2017; LUKS et al., 2017; KUNIG, KUNIG., 2004; 
OHUCHI, 2005) 
Além dessas alterações fisiológicas, há também variações significativas no 
metabolismo, o que torna a alimentação fundamental para o indivíduo resistir a este ambiente 
hostil, e obter um melhor desempenho em competições de ponta. (SCHOENE, 1999; 
MAGALHÃES et al., 2002). 
 
2. MÉTODOS 
 
Este trabalho foi elaborado através de revisão da literatura utilizando a base de dados do 
Scielo e Pubmed, dos últimos 20 anos. 
 
3. DESENVOLVIMENTO 
 
3.1. A HIPÓXIA HIPOBÁRICA 
 
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Conforme Torricelli referiu em 1643 "vivemos submersos num oceano de ar que, 
mediante a experiências inquestionáveis, sabemos ter peso". Tendo isso como pressuposto, o 
incremento da altitude está associado ao decréscimo exponencial da pressão barométrica e, 
paralelamente, da pressão parcial de oxigénio no ar atmosférico (PIO2). (SCHOENE, 1999; 
MAGALHÃES et al., 2002). 
Usando a pressão atmosférica ao nível do mar como referência, à medida que subimos 
a altitude, a pressão barométrica diminui, por exemplo, a pressão no topo do Everest chega a 
ser um terço deste valor (GROCOTTG et al., 2009). Outro efeito referente a redução da coluna 
de ar é a redução da pressão parcial de oxigênio (PIO2). Isso se dá pelo fato do decréscimo da 
pressão barométrica tendo como constante a concentração de oxigênio no ar atmosférico 
independente da variação de altitude. 
Então, o decréscimo de PIO2 afeta de forma negativa a taxa de difusão de oxigênio nos 
alvéolos havendo a redução percentual da saturação de hemoglobina. Uma vez que, esta taxa é 
condicionada por gradientes de pressão nos diferentes níveis em que ocorrem as trocas gasosas 
(GROCOTTG et al., 2009). 
 
3.2. ACLIMATAÇÃO E ADAPTAÇÃO 
 
Na literatura é comum tais termos serem considerados sinônimos, porém a adaptação se 
refere aos efeitos agudos provocados pela exposição à altitude. Já a aclimatação relaciona-se às 
respostas fisiológicas no organismo a um período prolongado de exposição, geralmente entre 
duas a três semanas após mudança da altitude (GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 2014; 
FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, MOORE, 
2019). 
 
3.3. ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS 
 
A exposição a ambientes de hipóxia hipobárica submetem o corpo a inúmeras alterações 
nos diferentes sistemas. Essas adaptações tendem a reduzir os déficits causados pela baixa PIO2 
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disponível para os tecidos (SIEBENMANN et al., 2016). Estes mecanismos de adaptação, para 
sustentar trabalho em locais de elevada altitude, são um exemplo da capacidade adaptativa do 
organismo humano para superar as dificuldades impostas por um ambiente extremamente hostil 
e conseguir nutrir seus órgãos e tecidos. 
O exercício físico quando realizado em locais de altitudes elevadas, sofre grande 
influência da hipóxia e da pressão parcial de oxigênio, culminando em uma dificuldade na 
utilização do aporte de oxigênio, causando tanto mudanças fisiopatológicas. Entretanto, é 
importante falar que a exposição aguda a altitudes superiores 2500 metros, particularmente se 
associada a ascensões rápidas, poderá induzir a ocorrência de um conjunto de alterações e 
sintomas, como cefaleias, anorexia, tonturas, náuseas, fraqueza, vómitos, distúrbios no sono, 
entre outros. (WEST, 1990; DEJOURS, DEJOURS, 1992; SIEBENMANN et al., 2016) 
 
3.4. ALTERAÇÕES CARDIORRESPIRATÓRIAS 
 
A alteração fisiológica mais característica da hipóxia hipobárica é a elevação da 
frequência respiratória e do volume corrente. Esta resposta se dá essencialmente pela 
estimulação de quimiorreceptores periféricos sensíveis a variação da concentração arterial de 
oxigênio, possibilitando o aumento da ventilação alveolar em até 5 vezes. Consequentemente 
ocorre o aumento da PIO2 alveolar. Dessa forma, a utilização de O2 de forma eficiente e o não 
acúmulo de dióxido de carbono são essenciais para que o exercício não seja interrompido ou 
que não se torne anaeróbio. O processo de respiração ocorre em 2 fases distintas. Primeiramente 
há uma resposta quase imediata ao início da atividade física, realizada pelo córtex motor, que 
por sua vez envia estímulos ao centro respiratório aumentando a ventilação. Em seguida, a 
musculatura e articulações envolvidas mandam estímulos para o centro respiratório, o qual se 
ajusta à atividade. A segunda resposta relaciona-se com uma sequência de reações químicas, 
que ocorrem de forma mais lenta, incluindo o aumento no metabolismo muscular e geração de 
calor. (GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; 
TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, MOORE, 2019) 
O nível de treinamento do indivíduo pode vir a promover alterações no processo 
respiratório, podendo ser funcionais ou morfológicas. A capacidade de sustentação de um 
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exercício prolongado denomina-se resistência cardiorrespiratória (GONZALES, 2011; 
SIMON, SIMON, 2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; TARABORELLI et al., 
2019; JULIAN, MOORE, 2019). Essa se deve ao desenvolvimento do sistema aeróbio e está 
ligada ao aumento de volume de inspiração. 
 
3.5. ERITROPOIETINA (EPO) 
 
A eritropoetina é um hormônio produzido pelos rins, sendo o responsável mais 
importante pela liberação de eritrócitos (forma de condução de O2 dos pulmões para os tecidos) 
(WEST, 1990; DEJOURS, DEJOURS, 1992; SCHOENE, 1999; MAGALHÃES et al., 2002; 
GROCOTTG et al., 2009; SIEBENMANN et al., 2016; GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 
2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, 
MOORE, 2019). Nas primeiras horas de exposição a elevação da altitude, ocorre um aumento 
da produção de EPO, já o incremento do número de hemácias e hemoglobinas se dá mais 
lentamente, apenas após algumas semanas, desde que vivendo em ambiente de hipóxia 
hipobárica (WEST, 1990; DEJOURS, DEJOURS, 1992; SCHOENE, 1999; MAGALHÃES et 
al., 2002; GROCOTTG et al., 2009; SIEBENMANN et al., 2016; GONZALES, 2011; SIMON, 
SIMON, 2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; TARABORELLI et al., 2019; 
JULIAN, MOORE, 2019). 
Logo, esta elevação de EPO e eritrócitos, acarretam a melhora da capacidade aeróbia. 
Consequentemente, o O2 circulante no sangue aumentaria, favorecendo seu suprimento às 
demandas necessárias do organismo. Os benefícios desse aumento de liberação somente serão 
sentidos após alguns dias, na fase de aclimatação e irão variar com o grau de hipóxia. 
 
3.6. ALTERAÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS 
 
As alterações neuropsicológicas se manifestam de diferentes maneiras de acordo com o 
grau de exposição à hipóxia hipobárica. 
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A exposição a grandes altitudes emcurto intervalo de tempo, pode causar dores de 
cabeça, fraquezas, vertigens e prejudicar a performance do indivíduo. Além disso, poderá haver 
alterações no processamento de informações, que poderão levar o indivíduo a confundir-se em 
momentos inesperados, os quais podem exigir uma tomada de decisão objetiva e precisa, como 
também alterações momentâneas de memória (DE AQUINO LEMOS et al., 2010; LEACY et 
al., 2018). 
A exposição prolongada à hipóxia, cria um quadro crônico de hipóxia. Em roedores, 
tem sido observada uma diminuição de catecolaminas em diferentes estruturas cerebrais, dentre 
elas, o hipocampo e o lobo frontal. Em humanos atingidos por essa crônica exposição, foi 
relatado a presença de ilusões, distorções de esquema corporal, alucinações visuais e auditivas, 
além de privação social e tensão. (YAN, 2020; LEFFERTS et al., 2020). 
Em diferentes etnias, a hipóxia se manifesta de formas variadas, e essas alterações nos 
sinais e sintomas parecem estar relacionadas aos diferentes genótipos de cada grupo 
populacional, a partir de uma seleção natural imposta a eles ao longo dos anos. Populações que 
tradicionalmente vivem em altitudes elevadas, como Tibetanos ou Andinos, não apresentam os 
sintomas da hipóxia de forma tão intensa quanto os indivíduos que residem tradicionalmente 
ao nível do mar. (DE AQUINO LEMOS et al., 2010; LEACY et al., 2018; YAN, 2020; 
LEFFERTS et al., 2020) 
 
3.7. ASPECTOS NUTRICIONAIS PARA ATLETAS 
 
Atletas que viajam para altas altitudes podem ter uma perda de peso corporal de 
aproximadamente 3% em oito dias, o que vai variar de acordo com a altitude Isso se deve a 
redução de apetite e consumo alimentar, o que pode trazer consequências negativas para as 
reservas de energia do corpo, ocorrendo a perda de massa corporal, podendo ter um efeito 
negativo no desempenho do atleta. (BUSS et al., 2006). 
Ao se expor a condição de hipóxia hipobárica, ocorre um aumento na taxa metabólica 
basal em torno de 30%, porém, após aclimatação, essa taxa passa a ser de 17%, o que demonstra 
a necessidade de uma reposição de energia através da alimentação, para não ocorrer um saldo 
energético negativo (CARIS, SANTO, 2018). As alterações fisiológicas sofridas pelo corpo 
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impactam na necessidade de utilização de alguns nutrientes na aclimatação, o que resulta em 
uma maior dependência de glicose, e uma menor necessidade de lipídios como substrato 
energético. 
Uma dieta rica em carboidratos é mais relevante, pois são uma fonte de energia mais 
eficiente que a gordura. O consumo de carboidrato melhora também a oxigenação sanguínea na 
altitude, através do aumento da tensão de oxigênio e da saturação de oxihemoglobina no sangue 
arterial. É fundamental manter o consumo de carboidrato durante o exercício, o que pode ser 
feito ingerindo líquidos com 6% a 8% de carboidrato/mL e, na fase de recuperação pós-
exercício, por meio de bebidas energéticas 20% de carboidrato/mL É recomendável também 
não excluir alimentos ricos em gorduras, pois são ricos em energia, podendo auxiliar no 
fornecimento energético. (ARAGÓN-VELA et al., 2020). 
O risco de desidratação torna-se maior nas grandes altitudes, devido à baixa umidade 
do ar, diurese excessiva nas primeiras horas de exposição, e aumento da ventilação pulmonar. 
Atletas treinando neste ambiente devem ter o acompanhamento de uma equipe médica 
multidisciplinar. Recomenda-se o consumo de 3 a 5 litros de água por dia visando reduzir o 
risco de desidratação, além de uma dieta rica em certos nutrientes para melhorar a concentração 
de células vermelhas e o transporte de oxigênio (O2), reduzindo o prejuízo para o organismo 
pela baixa de O2. (BUSS et al., 2006; CARIS, SANTO, 2018; ARAGÓN-VELA et al., 2020). 
Devido ao estresse oxidativo aumentado, a suplementação com vitaminas antioxidantes 
é recomendável. O consumo de tais vitaminas poderia prevenir a diminuição do desempenho 
físico, diminuindo o número de radicais livres no organismo. A ingestão de ferro, para atletas 
com deficiência do mesmo, pode ser benéfica em razão do aumento da resposta eritropoiética 
na altitude (BUSS et al., 2006; CARIS, SANTO, 2018; ARAGÓN-VELA et al., 2020). Porém, 
a produção de radicais livres pode aumentar com o ferro livre em excesso, tornando-se 
essencial estimar a quantidade da suplementação de ferro. 
3.8. PATOLOGIAS ASSOCIADAS À HIPÓXIA HIPOBÁRICA EM ATLETAS 
 
3.8.1. MAL AGUDO DE MONTANHA (MAM) 
É a mais comum entre as patologias ligadas a ascensão da altitude. Os sintomas 
aparecem entre 4-8 horas após a exposição à hipóxia hipobárica. Os sintomas são cefaléia, 
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náuseas, anorexia, insônia e dispneia. Essa patologia é causada pela subida rápida sem 
aclimatação geralmente não letal. Existem medidas preventivas, tais como, aclimatação 
adequada, hidratação com 3 litros por dia e alimentação rica em carboidratos. (WEST, 1990; 
DEJOURS, DEJOURS, 1992; SCHOENE, 1999; MAGALHÃES et al., 2002; GROCOTTG et 
al., 2009; SIEBENMANN et al., 2016; GRANJA et al., 2016; NAGASAKA et al., 1967; 
RILEY, GAVIN, 2017; LUKS et al., 2017; KUNIG, KUNIG., 2004; OHUCHI, 2005; 
GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; 
TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, MOORE, 2019) 
3.8.2. EDEMA PULMONAR DE ALTITUDE 
Essa patologia possui as mesmas causas do MAM, porém é mais grave podendo ser 
letal. É comum em altitudes acima de 2700m. Apresenta como sintomas dispneia anormal, 
cianose, tosse seca e taquicardia. Utiliza-se como método de tratamento a descida imediata do 
indivíduo e o uso de medicamentos paliativos. (GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 2014; 
FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, MOORE, 
2019) 
3.8.3. EDEMA CEREBRAL DE ALTITUDE 
É a patologia mais grave, podendo ser precedida pelo MAM ou pelo edema pulmonar 
de altitude, sendo mais comum em altitudes acima de 4500m. Trata-se de um acúmulo de 
líquido no interior do cérebro. Cursa com dificuldade na marcha e na realização de tarefas 
manuais de precisão, cefaleia, alucinações e desgaste físico. Nestes casos a medida ideal e 
emergencial é o deslocamento imediato do indivíduo afetado para áreas de menor altitude. 
(GONZALES, 2011; SIMON, SIMON, 2014; FLAHERTY et al., 2016; MOORE, 2917; 
TARABORELLI et al., 2019; JULIAN, MOORE, 2019). 
4. DISCUSSÃO 
 
Baseado nas alterações fisiológicas descritas, os fisiologistas passaram a não mais 
observar a hipóxia hipobárica como um problema, mas sim como uma ferramenta de otimização 
de rendimento para atletas de ponta. Criaram-se modelos específicos de treinamentos, onde o 
atleta vive em locais com altitude elevada e treina em ambientes ao nível do mar. 
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Este modelo sugerido de treinamento, tem como intuito unir os benefícios da 
aclimatação à altitude, como a melhora no transporte de O2 e a maior intensidade de 
treinamento ao nível do mar, quando comparada com a realizada em altitude elevada. Isso deve-
se ao fato da capacidade aeróbica não estar tão prejudicada como ocorre em áreas com elevadas 
altitudes, nas quais o Volume de O2 (VO2) máximo diminui 1% para cada 100 metros acima 
de 1500 m de altitude. 
Os atletas vivendo em altitude específica elevada (determinada por especialista – 
altitudeelevada), por período (4 semanas), sofrem efeitos ligados ao aumento de eritrócitos 
que, em associação com treinamento ao nível do mar, podem caracterizar um método capaz de 
otimizar o desempenho do atleta. 
O modelo que sugeria o treino em altas altitudes mostrou uma série de desvantagens, 
tais como, destreino associado a necessidade de reduzir a intensidade do treino, elevada 
desidratação devido a redução do volume plasmático, sintomas associados a "doenças da 
montanha" e sobretreino (WEST, 1990; DEJOURS, DEJOURS, 1992; SCHOENE, 1999; 
MAGALHÃES et al., 2002; GROCOTTG et al., 2009; SIEBENMANN et al., 2016). 
 
4. CONCLUSÃO 
 
A baixa PaO2 presente em elevadas altitudes provoca uma redução do aporte de O2 nos 
tecidos. Essa hipóxia hipobárica estimula alterações fisiológicas pela ativação de 
quimiorreceptores periféricos. Isso aumenta, de duas a cinco vezes, o ciclo de ventilação, tendo 
como resultado, um aumento da frequência respiratória, do volume corrente e da frequência 
cardíaca. 
Em altitudes iguais a 5000 metros, o corpo apresenta diminuição da resistência muscular 
nas pernas e nos braços, tonturas, dor de cabeça, alterações vasomotoras e de personalidade. 
O glicogênio é o substrato que mais gera ATP por litro de O2, sendo, portanto, a 
principal fonte de energia em um exercício de altitude. Outra fonte energética são os ácidos 
graxos, mas utilizam um valor de O2 superior em relação ao glicogênio, ocasionando uma 
redução na intensidade do exercício. 
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Uma adaptação crônica a altitude provoca uma menor produção de lactato em 
comparação à fase aguda. Esse fenômeno é denominado Paradoxo do lactato. (MCARDLE. 
KATCH, KATCH, 2003) 
A adaptação varia de acordo com a altitude e a individualidade biológica. Períodos 
prolongados à altitude têm como resultado, ajustes que ocorrem de forma mais tardia, tais como 
o equilíbrio ácido básico dos líquidos corporais, aumento da quantidade de hemácias e uma 
maior concentração de hemoglobina. 
Em geral, o tempo ótimo para que haja uma aclimatação estável fica em torno de 15 dias 
e a uma altitude de 2500 metros. Os produtos dessas adaptações dissipam-se por volta de 20 
dias após o retorno ao nível do mar. Os hormônios adrenalina e noradrenalina facilitam esses 
processos adaptativos. 
Atletas que buscam a melhoria de desempenho, utilizam-se do modelo de treinamento 
"Living High - Training Low” visando um melhor transporte de oxigênio. O tempo de exposição 
e o nível de altitude são os principais fatores para um desempenho otimizado, ou prejuízos à 
saúde. 
 
5. REFERÊNCIAS 
 
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intermittent exposure to high altitude increase the risk of cardiovascular disease in workers? A 
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 Volume 5 – Edição 1 - 2021 
 
 
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	RESPOSTA FISIOLÓGICA DO SER HUMANO À EXPOSIÇÃO A AMBIENTES DE ELEVADA ALTITUDE
	3.4. ALTERAÇÕES CARDIORRESPIRATÓRIAS
	3.5. ERITROPOIETINA (EPO)
	3.6. ALTERAÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS
	3.7. ASPECTOS NUTRICIONAIS PARA ATLETAS
	3.8. PATOLOGIAS ASSOCIADAS À HIPÓXIA HIPOBÁRICA EM ATLETAS
	3.8.1. MAL AGUDO DE MONTANHA (MAM)
	4. DISCUSSÃO
	4. CONCLUSÃO
	5. REFERÊNCIAS

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