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Artigo Científico INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO NO SERVIÇOS TÉCNICOS ESPECIALIZADOS NO ENTENDIMENTO DO TCU

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UNIVERSIDADE TIRADENTES – UNIT 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
ASSESSORIA DE TCC - ARTIGO CIENTÍFICO
A LEI DE LICITAÇÕES E A QUESTÃO DA INEXIGIBILIDADE PARA CONTRATAÇÃO ADMINISTRATIVA DE SERVIÇOS TÉCNICOS
Islainne Maximo Trindade
Drª Ana Cristina Almeida Santana
Aracaju
 2018
ISLAINNE MAXIMO TRINDADE
A LEI DE LICITAÇÕES E A QUESTÃO DA INEXIGIBILIDADE PARA CONTRATAÇÃO ADMINISTRATIVA DE SERVIÇOS TÉCNICOS
Trabalho de Conclusão de Curso – Artigo – apresentado ao Curso de Direito, da Universidade Tiradentes – UNIT, como requisito parcial à obtenção de grau de Bacharel em Direito.
Aprovado em _____/_____/_____
Banca Examinadora
___________________________________________________________________
Professor Orientador
Universidade Tiradentes
___________________________________________________________________
Professor Examinador
Universidade Tiradentes
___________________________________________________________________
Professor Examinador
Universidade Tiradentes
A LEI DE LICITAÇÕES E A QUESTÃO DA INEXIBIGILIDADE PARA CONTRATAÇÃO ADMINISTRATIVA DE SERVIÇOS TÉCNICOS
THE LAW OF TENDERS AND THE QUESTION OF THE INEXIBIGILIDADE FOR ADMINISTRATIVE CONTRACT OF TECHNICAL SERVICES
Islainne Maximo Trindade[footnoteRef:1] [1: Discente do 10º período do Curso de Direito da Universidade Tiradentes. Email: islainnetrindade@gmail.com] 
Resumo: É cediço que para a Administração Pública contratar ou adquirir determinado bem é necessário haja prévia realização de licitação. Esse procedimento não decorre somente da legislação ordinária mas da Constituição Federal, que o institui como princípio nas relações entre o Poder Público e os particulares. Todavia, há situações em que o procedimento de licitação não se mostra como o adequado caminho para a realização de negócios jurídicos pela Administração Pública, como é o caso das hipóteses de Inexibilidade. Este artigo aborda o art. 25, inciso II da Lei nº 8.666/93 demonstrando de forma abstrata o melhor sentido dado ao dispositivo conforme o entendimento que o TCU tem tecido quando da interpretação dos termos legais. Para a presente pesquisa foi utilizada a técnica de pesquisa bibliográfica, com destaque para os referenciais teóricos Maria Sylvia Zanella Di Pietro e José dos Santos Carvalho Filho. Este trabalho ainda tem respaldo na análise das jurisprudências do TCU no julgamento de casos envolvendo a Inexibilidade de licitação.
Palavras-chave: Licitação. Legalidade. Serviços. Inexibilidade. Súmula.
Abstract: It is imperative that the Public Administration hire or purchase a particular good is necessary prior to the execution of a bid. This procedure does not derive only from ordinary legislation but from the Federal Constitution, which establishes it as a principle in the relations between the Public Power and individuals. However, there are situations in which the bidding procedure does not prove to be the adequate way for legal business to be carried out by the Public Administration, as is the case of the Inexitivity hypotheses. This article deals with art. 25, item II of Law No. 8.666 / 93, showing in an abstract way the best meaning given to the device according to the TCU's understanding when interpreting the legal terms. For the present research was used the bibliographical research technique, with emphasis on the theoretical references Maria Sylvia Zanella Di Pietro and José dos Santos Carvalho Filho. This work still has support in the analysis of the jurisprudence of the TCU in the judgment of cases involving the Inexibilidad of licitation.
Keywords: Bidding. Legality. Services. Inexitivity. Summary.
1 INTRODUÇÃO
Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, ficou patente que a Administração Pública deveria se submeter a princípios segundo os quais norteariam as relações públicas, deste modo abrangendo os serviços públicos de modo geral.
A licitação é um dos principais requisitos nesta gama legiferante, visto que a sua importância evidencia a necessária observância do princípio da impessoalidade. Aqui chama atenção a existência de competição no procedimento licitatório, fenômeno que promove aos particulares o direito de fazer suas propostas perante a Administração Pública, esta que precisa contratar para a mantença de suas atividades típicas.
Deste modo, com o advento da Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações) em qualquer esfera da Administração Pública seja direta ou indireta, ficou obrigatório proceder com a licitação, tudo de acordo com o procedimento nela previsto, sob pena de nulidade dos atos.
Daí que, a própria Lei de Licitações no art. 25 prevê hipóteses em que será inexigível realizar licitação para contratações públicas, segundo critérios por ela mesma estabelecidos, que são de observância obrigatória.
No caso da contratação de serviços técnicos, a Administração Pública deve se atentar para o fato de que a licitação somente será inexigível quando verificado e constatada a natureza singular do serviço somado a notória especialização.
É neste ponto, que reside um dos dispositivos que mais tem sido objeto de discussão e de interpretações, vez que não raro, são muitos os casos em que se contratam serviços técnicos, sem contudo ficar evidente os requisitos mencionados, de modo que encontram uma brecha legal para tais práticas.
Apesar disso, os Tribunais de Contas dos Estados bem como o Tribunal de Contas da União tem se esforçado para moldar o entendimento no sentido de dar melhor objetividade ao dispositivo com vistas a evitar o desvirtuamento de sua utilidade. Nesse sentido, cabe indagar quais os critérios adotados pelo TCU acerca da inexigibilidade.
Nesta ocasião, o TCU esclareceu melhor o dispositivo do inciso II do art. 25 da Lei de Licitações, resultando na edição de súmulas importantes como a de nº 264 e 252, que direcionam a Administração Pública quando da análise da natureza que o serviço técnico demanda.
O método será o hipotético-dedutivo, que “parte de um problema (P¹), ao qual se oferece uma espécie de solução provisória, com vista à eliminação do erro (EE) e, tal como no caso da dialética, esse processo se renovaria a si mesmo, dando surgimento a novos problemas (P²) (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 77). A técnica de pesquisa utilizada será bibliográfica.
O presente artigo se apoia na problemática da aplicação inadequada e ilegal da hipótese de inexigibilidade de licitação no serviço técnico especializado previsto no art. 25, II da Lei nº 8.666/93 como forma de burla ao princípio da obrigatoriedade de licitação. Com isso analisa-se o esforço do TCU em delimitar o âmbito de aplicação do dispositivo acima.
Os objetivos específicos consistem (a) na contextualização legiferante da Lei de Licitações, (b) abordagem teórica acerca dos princípios atinentes às licitações bem como ao seu procedimento, (c) discussão a respeito do entendimento do TCU sobre a questão da Inexibilidade de licitação.
2 CONTRATOS ADMINISTRATIVOS E O PROCEDIMENTO LICITATÓRIO
A Constituição Federal de 1988 assentou no capítulo VII, toda a base segundo a qual a Administração Pública deve sustentar-se, que vai desde a observância obrigatória dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência até as peculiaridades do controle de seus atos, tudo de modo a obedecer a legislação.
Nesta senda, o art. 37, inciso XXI, da CRFB/88, estabelece a base constitucional a respeito dos negócios jurídicos que o Poder Público celebraria, de forma que fosse garantida a igualdade do art. 5º da Carta Magna. E neste ponto central, aparece o procedimento licitatório, o qual sinteticamente chama-se licitação.
Art. 37, XXI: Ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantiado cumprimento das obrigações. (BRASIL, 1988)
Como visto, trata-se a licitação de um procedimento administrativo na qual os particulares participarão em igualdade de condições cada um lançará suas propostas, que deverão atender ao melhor critério de escolha que o ente licitante assim estabelecer.
2.1 Princípios Aplicados às Licitações
Assim como nos mais diversos institutos do direito, as licitações estão rodeadas de princípios segundo os quais direcionam as partes que ali fazem o contrato administrativo à uma série de condutas, de modo que garantam a lisura e principalmente a legalidade dos atos.
Oportunamente, julga-se importante o princípio da legalidade aplicado às licitações. Isto decorre logicamente do sistema normativo que abrange todos os atos oriundos da Administração Pública, que com base no art. 37, caput, da CRFB/88 o administrador público somente deve praticar determinado ato nos limites da lei, de modo que ultrapassar tal limite incorrerá, dentre outras sanções previstas na legislação, a anulação daquele ato.
Seguindo, outro grande princípio de destaque no âmbito do estudo das licitações é o da isonomia ou igualdade. Aqui é importante compreender que a cada procedimento deve-se tratar de forma igual os licitantes, de modo que não seja prejudicada a competição (BALTAR e TORRES, 2018, p. 316). 
Adiante, há o princípio da publicidade que realça a importância de que as pessoas obtenham as informações de como o Poder Público tem realizado os contratos e o procedimento de licitação. Não só, mas a publicidade garante a fiscalização e o direito do cidadão de participar nos atos administrativos, assim contribuindo para um melhor resultado nos negócios em que a Administração Pública realiza (DI PIETRO, 2014, p. 385).
O princípio a seguir é importante, por que pode-se considerar um dos pilares em questão de licitação, qual seja o da vinculação ao instrumento convocatório. Sua existência decorre da obediência estrita ao ato convocatório que torna pública o objeto, procedimento adotado e condições da licitação bem como os critérios de julgamento das propostas. Assim é mister observar e obedecer aos detalhes do ato de convocação, que ora pode ser o Edital ou o Convite, a depender da modalidade de licitação. 
Complementa DI PIETRO (2014, p. 387):
Quando a Administração estabelece, no edital ou na carta-convite, as condições para participar da licitação e as cláusulas essenciais do futuro contrato, os interessados apresentarão suas propostas com base nesses elementos; ora, se for aceita proposta ou celebrado contrato com desrespeito às condições previamente estabelecidas, burlados estarão os princípios da licitação, em especial o da igualdade entre os licitantes, pois aquele que se prendeu aos termos do edital poderá ser prejudicado pela melhor proposta apresentada por outro licitante que os desrespeitou. 
Umbilicalmente ligado à vinculação do instrumento convocatório, o princípio do julgamento objetivo tem por escopo a vinculação da escolha do administrador nos critérios objetivos estabelecidos no ato convocatório. Importante baliza que impede o administrador de utilizar-se de escolhas subjetivas além do que previamente posto no instrumento convocatório, ainda que tal escolha fosse mais favorável à Administração Pública (DI PIETRO, 2014, p. 386-387).
Por fim, sabendo que a licitação se trata de um procedimento administrativo específico previsto em lei, é importante que tal procedimento não se torne motivo de atrasos infundados que venha prejudicar os administrados, a sociedade em geral. Aplica-se, deste modo o princípio da celeridade, que conduz o procedimento a prática de atos procedimentais com agilidade e objetividade, sem embaraços excessivamente formais.
2.2 Modalidades de Licitação
A Lei nº 8.666/93 elenca cinco modalidades de licitação os quais são concorrência, concurso, tomada de preços, leilão e carta convite. Mais tarde foi criada a Lei nº 10.520/2002 que inovou o rol das modalidades acima incluindo o pregão.
As modalidades de licitação servem como ferramentas facilitadoras da Administração Pública a fim de buscarem com maior critério o objetivo almejado na realização de um contrato administrativo. Por isso, a cada modalidade há uma circunstância que motiva a escolha daquela, conforme vê-se adiante.
Iniciando pela concorrência, tem-se que é uma modalidade garantidora da maior e mais ampla participação de qualquer licitante que queira participar do certame. Em função disso, tal modalidade exige cumprimento rigoroso dos requisitos para a habilitação (FILHO, 2018, p. 346). 
A lei de licitações define como limites na concorrência para obras e serviços de engenharia, contratos com valor acima de R$ 3.300.000,01. Já para obras, produtos e serviços comuns o valor do contrato deve ser acima de R$ 1.400.000,01 (BRASIL, 1993, Lei nº 8.666/93).
Seguindo, a tomada de preços atende aqueles interessados que estão cadastrados perante determinado órgão da Administração Pública ou que cumpre com as condições necessárias para participação do certame, dispondo a pessoa neste último caso de prazo até 3 dias imediatamente anteriores ao da data do recebimento das propostas.
Complementa CARVALHO FILHO (2018, p. 348)
Os registros cadastrais têm previsão no art. 34 do Estatuto, e no dispositivo se estabelece que os órgãos públicos devem atualizar os cadastros pelo menos uma vez por ano. Devem, também, dar a eles ampla divulgação, deixando-os permanentemente abertos a novos interessados.
O parâmetro para os valores das compras ou de contratações tem como o mínimo de R$ 176.000,01 e o valor máximo de R$ 1.400.000,00 e em relação à obras e serviços de engenharia, os limites são acima de R$ 330.000,00 até o teto de R$ 3.300.000,00 (BRASIL, 1993, Lei nº 8.666/93).
O concurso por sua vez diferencia-se um pouco das modalidades anteriores quanto ao objeto do negócio jurídico firmado com a Administração Pública. Aqui, escolhe-se trabalho técnico, cientifico ou artístico apresentados pelos interessados e em contrapartida o Ente Público premia ou remunera os vencedores, consoante os critérios constantes do edital (BALTAR eTORRES, 2018, p. 343). 
A modalidade denominada Convite relaciona-se a interessados do ramo pertinente ao objeto licitado, sejam cadastrados ou não, que são escolhidos e convidados em número mínimo de 3 pelo órgão licitante. Cópia do instrumento convocatório deverá ser fixado em local público pelo licitante a fim de que proporcione aos demais interessados cadastrados correspondente especialidade conforme predileção do § 3º do art. 22 da Lei nº 8.666/93.
O leilão é utilizado pela Administração Pública na ocasião em que pretende-se vender bens móveis inservíveis, produtos legalmente apreendidos ou penhorados e conforme o art. 19 da Lei nº 8.666/93 alienar bens imóveis adquiridos em procedimento judicial ou através de dação em pagamento. Conforme reza o art. 22, § 5º da Lei de Licitações o candidato que oferecer o maior lance, obedecido o valor de avaliação, terá direito à compra.
Finalmente, sabendo que as modalidades anteriores, malgrado o princípio da celeridade, não atendiam de forma tão eficaz algumas das necessidades do Poder Público, foi criada a Lei nº 10.520/2002 (BRASIL, 2002), que institui o pregão como uma outra modalidade de licitação. Nesta há uma menor complexidade e rigidez em relação as demais modalidades. Sinteticamente o pregão é utilizado quando se adquire bens e serviços comuns de qualquer valor sendo que a disputa pelo fornecimento é feita via sessão pública, onde desde logo se visualiza as propostas e os lances, para classificação e habilitação do licitante. O critério objetivo sempre será o de menor preço. Acrescente-se, ainda, que essa modalidade licitatória pode ser realizada de maneira presencial ou eletrônica.
2.3 O Procedimento Administrativo
Pois bem, vejamos que a Administração Pública propicia que mais de uma escolha lhes sejam postas ‘sobre a mesa’, a fim de que possa assim fomentar a competição, que é um elemento presente quando do procedimento de licitação pública.Neste sentido, assevera a ilustre doutrinadora Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2014, p. 374):
No Direito Administrativo, a licitação equivale a uma oferta dirigida a toda a coletividade de pessoas que preencham os requisitos legais e regulamentares constantes do edital; dentre estas, algumas apresentarão suas propostas, que equivalerão a uma aceitação da oferta de condições por parte da Administração; a esta cabe escolher a que seja mais conveniente para resguardar o interesse público, dentro dos requisitos fixados no ato convocatório.
Assim, percebe-se que há um iter necessário para que ao final seja celebrado o contrato administrativo, diga-se, são as fases no procedimento de licitação. 
A licitação, como procedimento formal, caracteriza-se por trâmites que devem ser respeitados pelo gestor, como precedentes necessários à contratação pretendida. A melhor doutrina costuma dividir esse procedimento em duas fases: a interna e a externa. (BALTAR e TORRES, 2018, p. 359)
Consoante leitura do art. 38 da Lei de Licitações, a Administração Pública deverá iniciar o processo licitatório a partir de uma fase interna, que será o momento onde o ente ou o órgão vai proceder com a abertura, a definição do objeto bem como a indicação dos recursos necessários para a despesa.
Após isto, iniciar-se-á a fase externa, que deverá seguir uma sequência prevista em lei. Cumpre observar que cada modalidade de licitação terá uma singularidade no seu procedimento de modo que examinar uma-a-uma não é a proposta desta pesquisa. No entanto, vale informar as principais etapas existentes, quais sejam a audiência pública, edital, comissão de licitação, habilitação dos licitantes, julgamento das propostas, homologação e adjudicação ao vencedor.
Todas as etapas são importantes, visto que cada detalhe se torna importante vez que se trata de uma relação jurídica entre um ente público e uma pessoa privada, seja jurídica ou natural, e nisto consiste a respeitabilidade dos princípios constitucionais a fim de evitar fraudes e seletividade dentro dos quadros dos Entes Administrativos.
3 INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO
Conforme relatado anteriormente, a licitação envolve um procedimento administrativo, e para tanto verifica-se fatores essenciais que devem estar transparentes durante o certame. 
Um desses fatores é o da competição, afinal o procedimento licitatório é tornado público com esta intenção, qual seja a de garantir o conhecimento de terceiros para que qualquer interessado possa manifestar seu interesse no procedimento, claro, respeitando todas as exigências previstas em lei (CARVALHO FILHO, 2018).
Por tais razões, chama-se de propostas as ofertas por cada pessoa interessada ali apresentadas. Observe que há uma disputa, que geralmente tem como objeto os serviços e produtos comuns ou serviços e obras de engenharia, todos informando os preços e qualidades que cada um assim imputa a sua proposta. Caberá ao Órgão Licitante julgar as propostas e fazer o arremate final (CARVALHO FILHO, 2018).
No entanto, existem produtos e serviços que são dificilmente encontrados, sejam pela escassez de fornecedores sejam por questões singulares. Neste ponto, a licitação se torna ferramenta prejudicial à Administração Pública, que não pode esperar muito tempo para contratar um serviço ou adquirir um produto que necessita. 
Daí que a disputa se torna inviável, ocasião em que será aplicado o art. 25 da Lei de Licitação, conforme descrição abaixo:
Art. 25.  É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em especial:
I - para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que só possam ser fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo, vedada a preferência de marca, devendo a comprovação de exclusividade ser feita através de atestado fornecido pelo órgão de registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas entidades equivalentes;
II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação;
III - para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública. (BRASIL, 1993, Lei nº 8.666/93)
A partir da leitura acima, pode-se afirmar que a Inexibilidade de licitação abrange três categorias devidamente distintas. No inciso I vê-se a aquisição de bens e nesta ocasião o elemento distintivo da regra geral da licitação é a exclusividade do fornecedor.
No inciso III, aponta-se para aquele trabalho artístico que conta com tamanha notoriedade levando a crítica especializada ou a opinião pública como evidência de inviabilidade de competição.
O inciso II representa o principal ponto de análise neste artigo ante à sua utilização desvirtuada a fim de possibilitar a realização de contratos sem o crivo do procedimento licitatório, o que é uma afronta aos princípios constitucionais, em especial o da igualdade.
 
4 O ENTENDIMENTO DO TCU NAS SÚMULAS Nº 252 E 264 SOBRE O ARTIGO 25, INCISO II DA LEI Nº 8.666/93
De acordo com os parágrafos anteriores, entende-se ser a licitação, instrumento de obediência às garantias principiológica e constitucionais, mas existem casos em que a incidência do procedimento licitatório torna-se embargo à efetividade de outros princípios importantes, a exemplo da eficiência. Complementando essa tese, Mendes (2011, p. 632) acrescenta que “enquanto a licitação é norteada pelo princípio da impessoalidade, a inexigibilidade é marcadamente informada pelo da pessoalidade”.
Não se pode, por sua vez, utilizar-se desta premissa como um meio de escape ao administrador público a fim de furtar-se da lei, vez que os atos administrativos, seja lá quais forem, necessitam da presença de um elemento que é o motivo, e isso importa fundamentos razoáveis e concretos para tal.
A Administração Pública, para um melhor funcionamento de suas atividades necessita contratar certos serviços profissionais que importam cumprir uma necessidade sem a qual os serviços públicos ou as atividades internas de seus órgãos não progridem.
Como explicado anteriormente, para que o administrador aplique a hipótese de inexibilidade de licitação, primeiro deve observar se o caso se adequa com a lei e se de fato tem base, a partir da constatação de que é inviável a competição.
Sabendo que a legalidade administrativa vincula o administrador aos limites de atuação prevista em lei, os tais serviços técnicos estão objetivamente indicados no rol a seguir descrito:
Art. 13. Para os fins desta Lei, consideram-se serviços técnicos profissionais especializados os trabalhos relativos a:
I - estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou executivos;
II - pareceres, perícias e avaliações em geral;
III - assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias;
IV - fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;
V - patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;
VI - treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
VII - restauração de obras de arte e bens de valor histórico. (BRASIL, 1993)
Portanto, combinando esse rol com a regra de Inexigibilidade é necessário verificar se o serviço técnico possui natureza singular e notória especialização, e assim seja inviável a disputa, elemento volitivo nos procedimentos licitatório.
Partindo desta premissa, cabe investigar a adequada interpretação que recai sobre os termos acima, vez que a sua aplicação importa em relações administrativas e os precedentes da administração pública brasileira demonstram negativamente situações de fraudes envolvendo contratos administrativos que deveriam passar pelo crivo do procedimento licitatório.
O legislador bem se precaveu no tocante ao que poderia ser considerado notória especialização, pois deixar ao Administrador total discricionariedade quando dojulgamento de determinada demanda administrativa importaria em abrir brechas para que gestores mal intencionados realizassem contratações violadoras de postulados, principalmente o da impessoalidade.
Art. 25, § 1o. Considera-se de notória especialização o profissional ou empresa cujo conceito no campo de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior, estudos, experiências, publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica, ou de outros requisitos relacionados com suas atividades, permita inferir que o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais adequado à plena satisfação do objeto do contrato. (BRASIL, 1993)
Desta forma, a notória especialização não decorre simplesmente de um conceito fruto de exposição publicitária, mas de um histórico com trabalho confirmado e concretizado no campo de atuação que ali representa.
Pois bem, para além da notória especialização o TCU entendeu ser de extrema importância entender o sentido jurídico de natureza singular nos serviços técnicos que o inc. II do art. 25 da Lei de Licitações menciona. 
O Tribunal de Contas da União, mesmo antes da vigência da Lei nº 8.666/93 já vinha delimitando o campo de abrangência da Inexigibilidade de licitação quando da edição da súmula 39 e após vigência daquela dando novo entendimento, resultando na súmula de nº 264, que alterou a primeira, literalmente.
A inexigibilidade de licitação para a contratação de serviços técnicos com pessoas físicas ou jurídicas de notória especialização somente é cabível quando se tratar de serviço de natureza singular, capaz de exigir, na seleção do executor de confiança, grau de subjetividade insuscetível de ser medido pelos critérios objetivos de qualificação inerentes ao processo de licitação, nos termos do art. 25, inciso II, da Lei no 8.666/1993. (TCU, 2011)
Compreende-se que a natureza singular demanda muito mais do que a mera especialização, mas que a partir dessa especialização se constate destaque diferenciador capaz de impossibilitar ao administrador utilizar-se de critérios objetivos de escolha, o que configurará a inviabilidade de competição.
A inviabilidade de competição ocorre quando não se pode assegurar tratamento isonômico, porque, se for possível, a licitação deve ser realizada, salvo se houver hipótese tipicamente de dispensa. (MENDES, 2011, p. 634)
Bem fez o TCU, pois acaso não houvesse melhor esclarecimento do dispositivo legal em comento os Tribunais do Brasil estariam lotados de demandas envolvendo tanto fraudes quanto anulações de atos, tudo fruto do abuso de subjetivismos oriundo de administradores públicos.
Por certo, havendo muitos profissionais perante o mercado devidamente habilitados para satisfatoriamente executar um serviço, a licitação deve ser realizada, caso contrário estar-se-ia violando a sua obrigatoriedade e também o princípio da impessoalidade. Por outro lado, não se busca afirmar que a natureza singular signifique existir somente um profissional ou empresa que desenvolva certa atividade mas que caso o objeto de análise não demonstre complexidade tamanha para acarretar a competição a licitação deverá ser realizada.
A inviabilidade de competição significa a impossibilidade de assegurar os pressupostos da licitação, e isso não tem necessariamente relação direta com a ideia de possibilidade de eventual disputa. O fato de existir vários profissionais notoriamente especializados não afasta a inviabilidade jurídica de competição. (MENDES, 2011, p. 636)
Neste sentido o TCU, editou a Súmula nº 252 que assim dispõe:
A inviabilidade de competição para a contratação de serviços técnicos, a que alude o inciso II do art. 25 da Lei nº 8.666/1993, decorre da presença simultânea de três requisitos: serviço técnico especializado, entre os mencionados no art. 13 da referida lei, natureza singular do serviço e notória especialização do contratado. (TCU, 2010)
Como surgiram vários questionamentos do que fato seria considerado inviabilidade de competição, o Tribunal de Contas da União precisou esclarecer quais os critérios para a constatação do fenômeno. Conforme visto acima, são três requisitos, que evidentes no caso concreto confirma-se a hipótese de inelegibilidade de licitação.
Infere-se, portanto, que o art. 25, inciso II da Lei de Licitações e Contratos Públicos direciona a Administração Pública (Lei nº 8.666/93) não para uma alternativa corriqueira de contratação de serviços especializados mas à uma medida a ser tomada com critérios analíticos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, é concluso que o certame licitatório demanda a obrigatoriedade de sua incidência como regra na realização dos contratos públicos, seja por que é procedimento garantidor dos postulados constitucionais aplicáveis à Administração Pública seja por que garante maior participação dos particulares nos atos administrativos.
A licitação garante que a Administração Pública assegure a adequada e melhor fruição de seus serviços sejam de caráter intrínsecos à própria administração ou extrínsecos. Isto se dá por meio das diversas modalidades apresentadas neste artigo, onde cada uma atende uma finalidade, que vai desde grandes obras ou aquisições até simples compra ou contratação.
Ao revés disso, existe a Inexigibilidade de licitação, que significa a não exigência de realização de licitação, pois é inviável a competição, que repita-se é elemento volitivo na escolha dos critérios objetivos definidos em lei.
Para se chegar à conclusão de que a competição é inviável, o TCU revela o passo-a-passo necessário para tal fim, através dos enunciados das Súmulas nº 264 e 252.
Destarte, compreende-se que a notória especialidade e a natureza singular, representam serviço técnico especializado dotado de características que distinguem-se dos demais, que soma-se à necessidade e essencialidade de sua utilização, ou seja, contratação pela Administração Pública.
A partir de então, é possível concluir que o Poder Público dispõe de pouca discricionariedade no tocante à Inexigibilidade de licitação, levando em consideração o entendimento exarado na Corte de Contas, que alinhou os termos legais em uma interpretação bem delimitada a fim de garantir o estrito cumprimento do princípio constitucional da licitação.
REFERÊNCIAS
CARDOZO FILHO, Aloizio Apoliano. Da Contratação Direta De Advogados Pela Administração Pública, Por Inexigibilidade De Licitação. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 119, dez 2013. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13986>. Acesso em out 2018.
BALTAR, Fernando. TORRES, Ronny Charles L. de. Coleção Sinopses para Concursos - Direito Administrativo - V.9. Edição 8ª, revista, ampliada e atualizada, Salvador/BA, Editora JusPodivm, 2018. 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
BRASIL. Lei nº 8.666 de 21 de junho de 1993.
Lei 10520...
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 3ª Edição, revista, ampliada e atualizada. Salvador/BA, Editora JusPodivm, 2018.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. - 27. ed. - São Paulo: Editora Atlas, 2014.
FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de direito administrativo. Editora Atlas, 32. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: 2018.
FRIAS, Autor Osmar Pedrosa de. Contratação Direta De Advogado Pela Administração Pública. Acesso em 02/10/2018. Link http://www.tce.ms.gov.br/corregedoria/uploads/article/5/artigo-osmar.pdf-new.pdf.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Científica. 7ª ed. São Paulo, Atlas, 2010.
MENDES, Renato Geraldo. A Inexibilidade de Licitação na Visão do TCU. Revista Zênite de Licitações e Contratos. Ano: 2011. Pág. 629 – 639.
MENDES, Thays Cristina Ferreira. Inexibilidade de Licitação. Hipótese do art. 25, II, da Lei nº 8.666/93. Publicado em 2010. Acessado em 24/09/2018. Link: https://jus.com.br/artigos/18018/inexigibilidade-de-licitacao-hipotese-do-artigo-25-ii-da-lei-n-8-666-1993.
TCU. Súmula 252. Disponível em https://contas.tcu.gov.br/pesquisaJurisprudencia/#/detalhamento/13/%252a/NUMERO%253A252/DTRELEVANCIA%2520desc/false/1/falseTCU. Súmula 264. Disponível em https://contas.tcu.gov.br/pesquisaJurisprudencia/#/detalhamento/13/%252a/NUMERO%253A264/DTRELEVANCIA%2520desc/false/1/false 
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