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O DIREITO RECUPERACIONAL PRESERVAÇÃO DA EMPRESA

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FACULDADE LEGALE
O DIREITO RECUPERACIONAL COMO MEIO GARANTIDOR DO PRINCÍPIO DE PRESERVAÇÃO DA EMPRESA
IGOR COSTA SANTOS
SÃO PAULO
2021
O DIREITO RECUPERACIONAL COMO MEIO GARANTIDOR DO PRINCÍPIO DE PRESERVAÇÃO DA EMPRESA
IGOR COSTA SANTOS[footnoteRef:1] [1: Advogado OAB/SE nº 12.469. Bacharel em Direito pela Universidade Tiradentes –UNIT/SE, Pós-graduando em Direito Público pela Faculdade Legale – FALEG/SP, Pós-graduando em Direito Empresarial pela Faculdade Legale –FALEG/SP, Pós-graduando em Direito e Planejamento Tributário pela Universidade União das Américas –UNIAMERICA/PR. Membro da Comissão de Estudos de Licitações e Contratos da OAB/SE, atualmente atuante Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe – FUNCAP/SE como Assessor Jurídico da Diretoria Administrativa e Financeira.] 
RESUMO:
O presente artigo científico tem por finalidade efetuar uma análise jurídica acerca do tema referente ao Direito Recuperacional e ao princípio da preservação da empresa, tomando como base uma pesquisa doutrinária, jurisprudencial, social e histórica acerca dos elementos que compõem e cercam o assunto em epígrafe, tal qual os aspectos que o dizem respeito. Será feita uma análise com vistas à lei nº 11.101/2005 em relação aos bens jurídicos por ela tutelados, bem como uma alusão aos benefícios que a empresa traz à sociedade e o porquê de a sua preservação ser objetivo Estatal.
Palavras-chave: Direito Recuperacional, Lei nº 11.101/2005, Preservação da Empresa.
ABSTRACT:
The purpose of this scientific article is to accomplish a juridical analysis of the subject relating to Recovery Law and the principle of company preservation, based on a doctrinal, jurisprudential, social and historical research on the elements that consist and involve the subject under discussion, as well as the aspects that concern it. An analysis will be made according to the law n. 11,101/2005 in relation to the legal interests under its protection, such as an allusion to the benefits that the company brings to society and why its preservation is an objective of the State.
Key words: Recovery Law, Law No. 11,101 / 2005, Company Preservation.
I – INTRODUÇÃO:
A Lei de recuperação de Empresas e Falência – Lei nº 11.101, de fevereiro de 2005, aparenta ser regida por princípios que servem de guia ao intérprete para a aplicação das normas da forma mais adequada possível, tendo em vista as premissas contidas neste diploma legal. Algo bastante sustentado e utilizado pela doutrina e pela jurisprudência brasileira.
	Corroborando com o que foi dito, a ideia da existência de princípios como a base dos sistemas jurídicos é amplamente utilizada para a compreensão e aplicação das mais diversas normas.
	Portanto, o objetivo deste artigo é compreender a relação entre o direito recuperacional e o princípio da preservação da empresa.
	Deste modo, ainda que seja aceita a tese de que há a existência de princípios do Direito Falimentar e Recuperacional, nos resta compreender como certos princípios podem ser aplicados utilizando-se de ferramentas concretas, especialmente à luz da atuação do judiciário diante da necessidade de sua aplicação efetiva.
	Desta maneira, ao passo em que concretizamos o objetivo deste artigo como “O direito recuperacional como meio garantidor do princípio de preservação da empresa”, temos que fazer uma referência aos complexos fenômenos que envolvem os problemas práticos relacionados ao tema. 
Esses problemas, compositores deste artigo científico são: I: A definição daquilo que temos que ter em mente como sendo Direito Recuperacional; II: A relação que o princípio contido no título (Princípio da preservação da Empresa) contém para com o Direito Recuperacional; e como tal relação funciona no mundo jurídico prático em nosso sistema normativo brasileiro.
	Sendo assim, a presente tese tem por finalidade desenvolver uma metodologia para a interpretação do direito recuperacional à luz do princípio da preservação da empresa.
	A metodologia proposta pelo estudo aqui relatado parte da inovação na abordagem do processo de recuperação judicial à luz dos princípios constitucionais, especialmente a função social da empresa. Portando, a perspectiva do sistema recuperacional a partir da observância de alguns dos princípios, garantias e regramentos que a Constituição da República consagra.
	A compreensão idônea dos significados (i) de empresa, (ii) da crise econômico- financeira enfrentada pela empresa, (iii) do princípio da preservação da empresa e (iv) do próprio direito de recuperação de empresas na qual estão inseridos, com as adaptações necessárias, podem ser utilizados de limites conceituais pra o conteúdo deste artigo.
	Primeiramente, devemos ter em mente que a conceituação para o “instituto” da empresa talvez se mostre impossível. Assim como em outros importantes institutos do direito civil e comercial, a empresa não pode ser analisada como algo uno, mas sim uma verdadeira trama de institutos jurídicos.
	Uma das maiores provas disto é a denominada “globalização”. Esta introduz uma infinita possibilidade de novas modalidades de prestação de serviços por meio da atividade empresarial e que acabam representando enormes combates para a absorção dessas figuras dentro da concepção cotidiana da empresa, inspirada na Teoria da Empresa do Código Civil Italiano de 1942.
	A partir desta premissa, transparecendo a função de organizar a atividade econômica, possibilitando o seu devido desempenho e facilitando a redução dos custos de transação, a empresa deve ser vista como uma organização que agrega múltiplos participantes e interesses. 
Assim sendo, a finalidade da empresa não pode visar unicamente o lucro da instituição para que este possa ser repassado aos sócios ou acionistas nela contidos, mas principalemente, ao alcance do interesse público por meio da coordenação dos mesmos objetivos.
	Partindo desta análise, a empresa, apesar de ter sido instituída por meio de um contrato, deve privilegiar o interesse público, colocando-o acima do mero interesse societário privado, haja vista a extrema importância exercida pela empresa no meio social. Uma vez considerada como uma instituição de direito público, deve perseguir objetivos e ter como visão finalidades que beneficiem os interesses da própria empresa, bem como da sociedade como um todo, inclusive do próprio Estado.
	Sendo assim, como o exercício da atividade empresarial brasileira é um dos centros que giram a economia e circulam a riqueza, é obrigação do Estado instituir um satisfatório ordenamento jurídico, a fim de de que se viabilize o desempenho necessário para as relações comerciais, seja em momentos de produtividade e lucratividade, seja em momentos de crise.
	O crédito é um dos mecanismos de circulação de riqueza e é tido como um dos principais elementos de alavancagem de empresas. Podendo ele ser comparado com uma mola da atividade mercantil, uma vez que possibilita a circulação de riquezas.
É importantíssimo que salvemos as empresas. É necessário considerar o seu caráter social, fomentador da economia (produção, tecnologia e mercado), produtos, mão de obra e justiça social. 
A busca de soluções para as intempéries das empresa deve constituir um esforço conjunto dos estudiosos do direito, de modo a buscarem uma materia condizente com as reais necessidades que o problema traz a tona na esfera jurídica, bem como na social.
II – A LEI 11.101/05:
Ao final das Guerras Mundiais, vários segmentos da sociedade passaram por muitas transformações e reformas face a um novo mundo que desabroxava.
No âmbito economico, iniciou-se um movimento de inovação e renovação das atividades comerciais, originadas por um intenso intercambio entre as mais variadas nações, a globalização. 
Por esse motivo, a lei de falências anterior (Decreto 7.661/45) começou a se defasar, tendo em vista que os institutos defendidos nela não estavam alcançando a eficácia desejada e com isso deixavam assegurar o reerguimento das empresas em dificuldade.
Sabendo da necessidade de se reformar a Lei de Falências,no início dos anos 90, o Ministério da Justiça formou uma Comissão com a incumbência de elaborar um anteprojeto de reforma à antiga lei.
Após o devido trâmite nas duas Casas Legislativas, devido a inúmeros debates a que fora submetida na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, bem como, ao emaranhado de emendas a que se submeteu, no dia 09 de fevereiro de 2005, o Presidente da República sancionou a Lei nº 11.101/05.
A lei 11.101/05 findou por trazer inovações pontuais, tendo como fundamental princípio a recuperação econômica da empresa, conforme elucida o artigo 47 da lei citada:
“a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica”. (Artigo 47 da Lei nº 11.101/05)
Esta transição de pensamentos se deve não só as imposições do FMI (Fundo Monetário Internacional) no tocante ao objetivo de assegurar maiores garantias ao investidor estrangeiro, mas sim no aumento de importância que as empresas privadas alcançaram no mundo globalizado atual.
Conforme Arnoldo Wald (2005; 09/10):
“A evolução da empresa constitui, na realidade, um elemento básico para a compreensão do mundo contemporâneo. Do mesmo modo que, no passado, tivemos a família patriarcal, a paróquia, o Município e as corporações profissionais, que caracterizaram um determinado tipo de sociedade, a empresa é, hoje, a célula fundamental da economia de mercado. Já se disse, aliás, que a criação da empresa moderna representa, na história da humanidade, uma mudança de civilização tão importante quanto o fim do estado paleolítico, ou seja, o momento em que o homem deixou de viver exclusivamente da caça para se dedicar à agricultura, abandonando o nomadismo para se fixar na terra.
Na realidade, a grande empresa contemporânea representa uma mudança não só quantitativa, mas qualitativa, quando comparada ao artesanato ou às pequenas sociedades familiares do passado. A nova dimensão que, a partir dos meados do século passado, adquiriram as multinacionais, as empresas públicas e as sociedades de economia mista importou criar uma nova unidade no sistema político, econômico e social. Trata-se de entidades que, pelo seu tamanho, pelo seu faturamento e pela diversificação de suas atividades, atingiram e chegaram, em alguns casos, a ultrapassar a importância dos próprios estados soberanos, como bem salientou o jornalista ANTHONY SAMPSON.” (WALD, Arnoldo. Comentários ao Novo Código Civil, 2005)
Com isso, ao passar dos anos, a empresa não se limita mais à busca desenfreada de lucros por meio do exercício de suas atividades, fazendo com que sua atuação no mercado seja vista como um importante meio de atendimento de interesses sociais.
III – DIREITO RECUPERACIONAL:
O instituto da recuperação, no direito comercial e concursal, é considerado um dos mais importantes do ramo. Principalmente para efeitos de aprendizado, tem-se considerado o direito recuperacional como integrante do direito comercial.
Por outro lado, dentro dos conceitos e contextos do presente trabalho, mostra-se mais adequado ponderar que o direito de recuperação de empresas exorbita os limites do direito empresarial. NEWTON DE LUCCA traz à tona a tendência de descodificação do direito privado, ressaltando ser “cada vez maior o número de lei esparsas ou de microssistemas” (DE LUCCA, Newton. A atividade empresarial no âmbito do projeto de Código Civil. In: SIMÃO FILHO, Adalberto; DE LUCCA, Newton. Direito empresarial contemporâneo. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2000. p. 53). 
Daí o enfoque interdisciplinar da matéria, por meio do qual se defende que para a assimilação do postulado da “nova disciplina jurídica das empresas em crise”, essa análise deve ser composta por todos os instrumentos encontrados no direito processual, econômico e constitucional.
É realmente singular a Lei de Recuperação e Falências porque esta traz em um só dispositivo jurídico disposições substanciais e processuais. Isso acontece devido à integração de ambas as disciplinas (processo e direito material) em um só contexto global jurisdicional, a qual deve ser aplicada para a empresa em momentos de crise, diante da importância comunitária que desempenha para a sociedade onde atua e para o Poder Estatal.
Cabe ao aplicador a tarefa de distinguir as normas processuais das normas materiais, principalmente a fim de que possa tratar adequadamente umas e outras, partindo dos pressupostos próprios a cada um desses campos jurídicos, todos norteados pela constituição.
O papel do direito é induzir condutas. Assim, a junção existente entre os fenômenos econômicos e jurídicos deve almejar alcançar o mesmo ideal de todos os ramos do conhecimento, qual seja, o de promover a paz social.
A natureza jurídica frente à recuperação processual e material caminha para a formação de uma “nova disciplina jurídica das empresas em crise”. A simples solução de pagamentos de débitos sem checar as chances da reorganização ou reutilização da empresa não podem mais continuar prevalecendo. 
A necessidade da mantenimento da empresa, enquanto atividade econômica organizada sob a atual ou outra administração, sobreleva qualquer instituto eminentemente liquidatário, desde que se possa executar estes institutos de modo eficiente, assim disserta o professor Ricardo Negrão, em seu livro A eficiência do processo judicial na recuperação da empresa. (NEGRÃO, Ricardo. A eficiência do processo judicial na recuperação da empresa. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 125-127.)
IV - SEPARAÇÃO DOS CONCEITOS DE EMPRESA E DE EMPRESÁRIO:
A separação dos conceitos de empresa e de empresário, majoritariamente aceita pela doutrina e jurisprudência relacionada ao tema, foi feita pioneiramente e discutida em clássico ensaio de Alberto Asquini sobre o Código Civil italiano de 1942[footnoteRef:2]. [2: A. ASQUINI. Profili dell’impresa. Rivista del diritto commerciale, pp. 1-20.] 
Deste modo, o conceito de empresa, entendido enquanto um fenômeno comercial de diversos lados, considerando o aspecto jurídico, tem não só um, mas diversos moldes em relação aos vários componentes que o integram: subjetivo, funcional, patrimonial e corporativo.
Com vistas ao lado subjetivo, a empresa é entendida no sentido de “empresário”, defendido pelo artigo 2082 do Código Civil italiano como aquele que exerce profissionalmente uma atividade econômica que exija e tenha organização, tendo como finalidade a produção ou a troca de bens ou serviços. É empresário o sujeito de direito, que seja pessoa física ou jurídica privada ou pública, exercendo em nome próprio a atividade empresarial. 
A atuação como sujeito de direito é a face subjetiva da empresa, seja como pessoa física – empresário individual – ou pessoa jurídica – sociedade empresária –, que, em seu nome e com capital e patrimônio autônomo, organiza os fatores da produção, com escopo lucrativo.
O perfil patrimonial ou objetivo é o que diz respeito à empresa como patrimônio e como estabelecimento. O exercício empresarial dá lugar à formação de um emaranhado de relações jurídicas que tem por centro o empresário, assim a principal característica deste patrimônio é a de resultar em relações organizadas com a finalidade em um movimento: a atividade do empresário, que tem o poder de desmembrar-se da pessoa do empresário e de adquirir por si mesma um valor econômico.
O último perfil elucidado por Asquini vem a ser o corporativo, que seria o instituto da empresa, ou seja, a organização formada pelo empresário e pelos empregados, seus colaboradores, formando um centro comercial e social organizado, em função do fim econômico comum, em que se juntam os fins individuais do empresário e de seus auxiliares, visando ao melhor resultado econômico possível. 
Deste modo, a instituição tem como base a hierarquia das relações entre o empresário, o qual possui o poder de ordem e os colaboradores, sujeitos à obrigação de interesse comum.
Verificando a Lei de Recuperação de Empresas e Falência, constata-se que como sendonítida a distinção de tratamento entre o empresário, seja ele individual ou sociedade e a organização, esta tida como a própria atividade, com destaque, também, para a projeção econômica da empresa, ou seja, o estabelecimento. Faz ainda referência a uma novidade que é a “unidade produtiva isolada” prevista no artigo 60, da Lei.
V - RECUPERAÇÃO DAS SOCIEDADES E EMPRESÁRIOS RECUPERÁVEIS:
A piori, se houver efetivamente um princípio que diga respeito a este instituto, deveria ele ser rotulado de “princípio da recuperação das empresas recuperáveis”, isto porque, surge do sistema jurídico adotado pela Lei nº 11.101/2005 o objetivo de preservar a empresa, não havendo preocupação em se proteger ou tutelar a figura do empresário ou da sociedade empresária.
Segundo o artigo 53, da Lei de Recuperação de Empresas e Falência, fica estabelecido a necessidade de o plano de recuperação conter a discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados, a demonstração de sua viabilidade econômica e laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, assinado por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada nesta atividade.
Trata-se da “viabilidade da empresa”, Fábio Ulhoa Coelho elucida que ela deve ser aferida pelo Poder Judiciário, em função de vetores como a importância social: a questão da viabilidade da empresa deve levar em conta os modos e as condições econômicas a partir das quais é possível ter planejamento para efetivar a reorganização da empresa e o impacto social que ela tem na economia local, regional ou nacional, a mão de obra e tecnologia empregadas: fatores esses que, atualmente, podem se complementar ou, eventualmente, se distinguir, pode ocorrer que sem atualizar o sistema e os mecanismos da tecnologia usada na empresa, seja impossível de ela se reorganizar, mas ao ser modernizada, ela utilizar-se-á de menor número de empregados, volume do ativo e passivo, tempo da empresa e porte econômico: ou seja, as medidas aplicadas para uma grande empresa não podem ser recomendadas a um pequeno empresário. (F. U. COELHO. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de empresas, pp. 127-128.)
Deste modo, diante da certeza de que só fazem jus à recuperação judicial as empresas que comprovarem sua viabilidade econômico-financeira, ou seja, que tenham condições de se reorganizar, e de que, em nome da recuperação da empresa, pode-se sacrificar o empresário percebe-se que não se trata de um princípio autônomo do Direito Falimentar e Recuperacional, mas apenas a reafirmação do princípio da preservação da empresa em vista sua função social.
VI – O DIREITO RECUPERACIONAL COMO MEIO GARANTIDOR DA SUSTENTABILIDADE A PARTIR DO PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA:
É muito discutida no mundo globalizado a sustentabilidade, tendo em vista que esta integra as atividades da empresa. Evidenciamos isso no que se refere à necessidade de termos atos planejados, que busque não apenas a lucratividade, mas também uma postura ética com a coletividade.
Temos a definição de Juarez Freitas acerca do que seja sustentabilidade: 
Trata-se de princípio constitucional que determina, com eficácia direta e imediata, a responsabilidade do Estado e da sociedade pela concretização solidária do desenvolvimento material e imaterial, socialmente inclusivo, durável e equânime, ambientalmente limpo, inovador, ético e eficiente, no intuito de assegurar, preferencialmente de modo preventivo e precavido, no presente e no futuro, o direito ao bem-estar. (FREITAS, Juarez. Sustentabilidade – direito ao futuro. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2012, p. 41)
A fim de comprovar o que vem a ser a sustentabilidade de forma integral, utiliza-se o exposto na obra de José Antônio Puppim de Oliveira:
Um modelo bastente difundido na prática é o Tripé da Performace de John Elkington [...], em que a medida adequada para medir o desempenho de uma empresa não é somente a parte financeira (botton line, em inglês), e sim um balanço entre as três dimensões: econômica, social e ambiental (o triple botton line). Muitas das ferramentas atuais, como as diretrizes de relatórios de sustentabilidade, são baseadas nesse princípio. (OLIVEIRA. José Antônio Puppim de. Empresas na sociedade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 156.)
Por conta disto, verificamos que a sustentabilidade não deve ser apenas ambiental, mas econômica e social, trazendo para as empresas uma preocupação constante, de maneira global, garantindo o bem-estar das presentes e futuras gerações.
Para Ignacy Sachs:
A sustentabilidade no tempo das civilizações humanas vai depender da sua capacidade de se submeter aos preceitos de prudência ecológica e de fazer um bom uso da natureza. É por isso que falamos em desenvolvimento sustentável. A rigor, a adjetivação deveria ser desdobrada em socialmente includente, ambientalmente sustentável e economicamente sustentado pelo tempo. (SACHS, Ignacy. Prefácio. In: VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de janeiro: Garamond, 2010. p. 10.)
Desta maneira, encontramos a aplicabilidade da sustentabilidade no atual modelo de recuperação judicial inserido na Lei 11.101/2005, pois, a partir do alcance de preservação da empresa, se busca a sustentabilidade em sua totalidade.
Nesta mesma seara de pensamento, expõe Carlos Roberto Claro:
[...] é imperioso destacar que a empresa capitalista deve procurar sim o lucro, pois é ínsito à atividade econômica, mas também deve buscar se reproduzir, se tornar perene, mas também com um olhar no princípio da dignidade humana. Assim agindo, e pouco importando o rótulo a que se dê, a empresa certamente passará não só a ser uma entidade importante como também desenvolverá uma atividade compatível com o que é buscado pela própria Carta Política brasileira, ou seja, terá um olhar também em relação ao social. (CLARO, Carlos Roberto. Recuperação Judicial: sustentabilidade e função social da empresa. São Paulo: LTR, 2009. p. 189).
Deste modo, é imprescindível elucidar temas que dizem respeito à recuperação judicial prevista na Lei 11.101/2005, para que se discuta o atual modelo de recuperação de empresas implantado no Brasil de acordo com os institutos legais de sustentabilidade em sua totalidade, integralidade e idoneidade, para garantir a preservação da empresa.
VII – O DIREITO RECUPERACIONAL E O PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA:
O princípio da preservação da empresa possui relação direta com a função social da empresa, chamada costumeiramente de função social dos meios de produção, que por sua vez, decorre da função social da propriedade, devido a isso, cumpre salientar, primeiramente, o significado de “função social da propriedade”.
É garantido o direito à propriedade, a qual deverá atender sua função social, segundo o disposto nos incisos XXII e XXIII do artigo 5º da Constituição Federal. Garantia que abrange não só a propriedade sobre bens móveis ou imóveis, mas também os demais valores patrimoniais, incluídas aqui as diversas situações de índole patrimonial, decorrentes de relações de direito privado ou não. (G. F. MENDES. Curso de direito constitucional, pp. 424-425.)
Partindo desses pressupostos, para Pontes de Miranda, o direito de propriedade é qualquer direito patrimonial, pouco importando se há direito real sobre bem material (propriedade, uso, habitação, hipoteca etc.) ou sobre bem imaterial ou abstrato (propriedade intelectual, seja artística, literária, ou científica etc.), ou se não há, na espécie, direito. (PONTES DE MIRANDA. Comentários à Constituição de 1967 com a emenda nº 1 de 1969, t. 5, p. 398).
Em relação à propriedade dos bens de produção, o artigo 170 da Constituição Federal preceitua que a ordem econômica e financeira baseada na humanização do trabalho e na livre iniciativa, tem por fim garantir a todos a existência de maneira digna, conforme os institutos da justiça social, ressaltando, entre outros, os princípios da propriedade privada (inciso II) e da função social da propriedade (inciso III).
A função social dosmeios de produção tem como significado o dever de abstenção, ou seja, de não fazer, estabelecendo o dever de o agente não utilizar a atividade econômica para atuar de forma contrária ao interesse da coletividade. Pode ser conceituada ainda como um dever de comportamentos ativos, exigindo um atuar positivo consistente no dever de organizar a empresa atendendo aos interesses externos da coletividade[footnoteRef:3]. [3: G. C. VIDIGAL. Teoria geral do direito econômico, p. 27.] 
É uma das principais característica da função social dos meios de produção é o dever de promover a organização e a exploração da atividade econômica da empresa de acordo com os dizeres da justiça econômica e social, harmonizando-se com os diversos interesses de todos os envolvidos na atividade empresarial, mesmo que alguns deles sejam divergentes. 
O Estado, como agente regulador da atividade econômica e promotor do controle social, tem o dever de criar leis que digam respeito ao cumprimento da função social dos meios de produção, sem desconsiderar a garantia constitucional da liberdade de iniciativa.
Apesar disto, é importante salientar que o “princípio da preservação da empresa” não tem aplicabilidade exclusiva e unicamente por meio da recuperação judicial ou extrajudicial, estas instituídas pela Lei nº 11.101/2005. Tal princípio também é aplicado no processo de falência. O artigo 75, ao preceituar que a falência, na medida em que promove o afastamento do devedor de suas atividades, almeja manter, preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e meios produtivos, evidencia o objetivo precípuo de preservar a empresa, mesmo que a crise econômico-financeira se mostre insuperável pelos métodos convencionais da recuperação. 
Tendo em vista a falência por este ponto de vista, o objetivo desta deve ser entendido como o de preservar a empresa, mesmo sendo necessário transferir sua exploração a outro empresário ou sociedade empresária[footnoteRef:4]. [4: C. K. ZANINI. Art. 75. Comentários à nova lei de recuperação de empresas e falência, p. 338] 
Deste mesmo modo, também constatamos a preocupação com a preservação da empresa no processo de falência ao passo em que lemos o artigo 140 da referida Lei. Nela as formas de alienação dos bens arrecadados pela massa falida, estão determinados a um rito específico, sendo realizado de acordo com a ordem estabelecida nos incisos I a IV, destacando, em primeiro lugar, que a “alienação da empresa” deverá ser feita com a “venda de seus estabelecimentos em bloco”, evidenciando a busca pela preservação da empresa como “organização”, o que se justifica em face de sua função social.
Bem verdade, o princípio da preservação da empresa é uma forma de otimização de natureza constitucional, ao passo em que é derivado do princípio da função social dos meios de produção, sendo aplicável tanto à recuperação judicial e extrajudicial, e da mesma forma, ao processo de falência.
Deste modo, enquanto a par conditio creditorum é o fundamento principal que estrutura o próprio campo do Direito Falimentar e Recuperacional, tem a natureza de seu objetivo central o princípio da preservação da empresa, que do mesmo modo, conforme os limites fáticos e jurídicos, é caracterizado por todos os dispositivos da Lei de Recuperação de Empresas e Falência.
VIII – CONCLUSÃO:
Em virtude da ausência de um tratamento unicamente interdisciplinar da matéria, julgou-se oportuno bifurcar os diversos pontos de afunilamento entre os diferentes sistemas que a matéria enseja. Tudo isso de modo a validar o Direito Recuperacional como meio garantidor da preservação de visando principalmente superação da crise da empresa, constituído por uma relação jurídica processual multifacetada, com procedimentos definidos em lei, bem como norteada pelos vetores sinalizados pelo princípio da função social da empresa, da preservação da empresa, da distinção entre empresa e empresário, etc.. Daí a relevância e conveniência em se desenvolver um estudo mais apurado acerca do tema.
Iniciamos nosso estudo jurídico com a verificação do conceito de empresa e de institutos similares, como na introdução do artigo e de conceitos básicos para a necessária assimilação do tema, enquadrando-o dentro de sua perspectiva institucionalista. Tudo isso tendo em vista o objetivo da empresa como não sendo o de se limitar apenas à maximização do lucro dos empresários nela localizados, mas, principalmente, à materialização do bem-comum por meio da coordenação dos mesmos interesses. 
Identifica-se com ainda mais força o caráter institucional da empresa e a função social por ela desempenhada e ainda que seja constituída por meio de um contrato privado, deve privilegiar o interesse público, principalmente por estar inserida dentro de um contexto social que requer o maior cuidado no tocante à sociedade como um todo. 
O conceito de preservação da empresa que o artigo abordou foi aquele que integra o direito comercial e concusal, objetivando a defesa da empresa enquanto atividade empresarial. Mas não a “burra” e desenfreada defesa da empresa em si, evitando-se assim o costumeiro “assistencialismo” tendo a Lei de Recuperação e Falências como vetor. 
Ao considerar a empresa um ente organizado de interesses comuns, o obstáculo é encontrado especificamente em validar o direito de recuperação de empresas como sistema efetivo para a superação da crise econômico-financeira que por hora esteja nela presente, seja propiciando a adoção de medidas coletivas para a superação da crise, seja possibilitando a sua rápida e eficiente liquidação em prazo demandado.
O princípio da recuperação de empresas, tomando como base o princípio constitucional da função social dos meios de produção, tem como seu conceito um mandamento de otimização aplicável tanto à recuperação judicial e extrajudicial, como também ao processo de falência, estabelecendo seu objetivo central de todo o Direito Falimentar e Recuperacional, seja por meio do próprio instituto da recuperação, seja por meio da falência, tendo como seu fim a preservação da atividade empresarial.
REFERÊNCIAS
ASQUINI, Alberto. Os perfis da empresa. Trad. Fábio Konder Comparato. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, São Paulo, v. 35, n. 104, p. 109-126, out./dez. 1996.
CEREZETTI, Sheila Christina Neder. A lei de recuperação e falência e o princípio da preservação da empresa: uma análise da proteção aos interesses envolvidos pela sociedade por ações em recuperação judicial. 2009. Tese (Doutorado) - Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, 2009. p. 136.
CLARO, Carlos Roberto. Recuperação Judicial: sustentabilidade e função social da empresa. São Paulo: LTR, 2009. p. 189
DE LUCCA, Newton. A atividade empresarial no âmbito do projeto de Código Civil. In: SIMÃO FILHO, Adalberto; DE LUCCA, Newton. Direito empresarial contemporâneo. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2000. p. 53. 
F. U. COELHO. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de empresas, pp. 127-128.
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade – direito ao futuro. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2012, p. 41
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
NEGRÃO, Ricardo. A eficiência do processo judicial na recuperação da empresa. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 125-127.
OLIVEIRA. José Antônio Puppim de. Empresas na sociedade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 156.
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