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Psicopedagogia - Histórico E Fundamentos Básicos

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Psicopedagogia - histórico e fundamentos básicos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Psicopedagogia - histórico e fundamentos básicos 
SUMÁRIO 
 
Conhecendo a psicopedagogia .................................................................................. 3 
Conceitos gerais, bases históricas e fundamentação teórica ..................................... 3 
Sobre a epistemologia convergente ........................................................................... 7 
Psicopedagogia institucional na escola: desafios e processos ................................... 8 
Fracasso escolar ........................................................................................................ 9 
O currículo ............................................................................................................... 11 
O planejamento com enfoque psicopedagógica ....................................................... 11 
Avaliação de aprendizagem ..................................................................................... 13 
Conselho de classe .................................................................................................. 15 
Trabalhando por meio de projetos............................................................................ 15 
Afetividade e aprendizagem ..................................................................................... 16 
Reuniões de pais ..................................................................................................... 17 
Formação continuada de profissionais da educação ................................................ 18 
Indisciplina na escola ............................................................................................... 18 
Inclusão ................................................................................................................... 19 
O planejamento escolar como instrumento de prevenção das dificuldades de 
aprendizagem .......................................................................................................... 48 
Sugestões de formulários......................................................................................... 51 
Análise individualizada dos alunos ........................................................................... 51 
A avaliação escolar como instrumento de diagnóstico de rendimento do aluno e 
como parâmetro do replanejamento das práticas pedagógicas .............................. 53 
A psicopedagogia institucional na escola inclusive .................................................. 57 
Família e aprendizagem ........................................................................................... 65 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 69 
 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
Conhecendo a psicopedagogia 
 
Conceitos gerais, bases históricas e fundamentação teórica 
 
Certamente, no decorrer deste curso, você já teve contato com o conceito de 
Psicopedagogia e conheceu as suas principais formas de atuação. Mas, para começar 
a nossa disciplina, é necessário rever alguns desses conceitos e contextualizar de que 
forma as podem colaborar com as práticas pedagógicas no cotidiano escolar. 
Comecemos, então, pela Psicopedagogia, no seu sentido amplo. A 
Psicopedagogia é uma área de estudo bastante recente, existindo há 
aproximadamente 30 anos no Brasil, e tem por objetivo estudar, compreender e 
intervir na aprendizagem humana. Ao contrário do que o senso comum imagina, a 
Psicopedagogia não se restringe ao estudo das dificuldades e dos distúrbios de 
aprendizagem, mas à aprendizagem de um modo geral, seja no seu estado normal ou 
patológico. Além disso, todos os seres humanos, em qualquer faixa etária, podem 
fazer uso da Psicopedagogia para aprender de forma mais eficaz ou compreender o 
seu próprio processo de aprendizagem. Afinal, se estamos suscetíveis ao ato de 
aprender desde que nascemos até o fim de nossas vidas, por que, então, a 
Psicopedagogia teria um limite de atuação? Ela está presente onde a aprendizagem 
acontece, ou seja, em todos os momentos e faixas etárias de nossas vidas. 
Assim como a aprendizagem pode estar presente em todos os momentos de 
nossa vida, as dificuldades que ela representa também podem surgir em qualquer 
nível de ensino. Desta forma, uma pessoa pode ter sido um ótimo aluno, com 
excelente rendimento escolar até o final do Ensino Fundamental, e apresentar 
grandes dificuldades para aprender no Ensino Médio, ou até mesmo na universidade. 
Isso porque, mesmo com as estruturas cognitivas amadurecidas, um determinado 
assunto ou área de estudo pode se tornar árduo para a nossa aprendizagem, do ponto 
de vista afetivo, e reagimos negando-o. 
É provável que o fato de as pessoas restringirem a Psicopedagogia ao tra balho 
com alunos portadores de dificuldades de aprendizagem também esteja relacionado 
à sua origem, pois ela surge como uma alternativa de intervenção nas dificuldades de 
aprendizagem. Sua origem também é atribuída aos argentinos. No entanto, Bossa 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
(2000, p. 36) nos alerta que a origem do pensamento argentino acerca da 
Psicopedagogia está centrada na literatura francesa e se baseia em autores como 
Lacan, Mannoni, Françoise Dolto, Ajuriaguerra, Pichon-Rivière, entre outros. A 
Psicopedagogia tem o seu início, portanto, na Europa, ainda no século XIX, quando 
surgiram as preocupações com os problemas de aprendizagem. Contudo, podemos 
afirmar que a Argentina tem uma importância considerável na difusão do pensamento 
psicopedagógico, especialmente na epistemologia convergente. Seus principais 
representantes são Jorge Visca, Alicia Fernandez e Sara Paín. Ainda na Argentina, a 
Psicopedagogia tem o seu eixo teórico em três áreas da Psicologia. São elas: a 
Psicologia Genética de Jean Piaget, a Psicanálise de Freud e a Psicologia Social de 
Pichon-Rivière. Posteriormente, muitas outras teorias contribuíram e enriqueceram a 
teoria psicopedagógica, tais como a teoria de Vygotsky, a psicogênese da língua, tão 
bem defendida por Ana Teberosky e Emília Ferreiro. No entanto, ressaltamos que o 
berço, a gênese, o nascimento da Psicopedagogia acontece, de fato, com essas três 
teorias: Psicanálise (Freud), Psicologia Genética (Piaget), Psicologia Social (Pichon-
Rivière) e, é claro, com a herança francesa. 
Não podemos deixar também de citar os nossos representantes brasileiros, que 
tanto têm contribuído para o desenvolvimento da Psicopedagogia e produzido 
trabalhos de qualidade na área, tais como Maria Lúcia Weiss, Aglael Borges, Nadia 
Bossa, Beatriz Scoz e Heloísa Padilha, entre outros. É importante também dizer que, 
no Brasil, a formação do psicopedagogo se dá por meio de cursos de pós-graduação 
lato sensu, enquanto na Argentina o curso é de graduação e teve o seu início na 
Universidade de Buenos Aires, há mais de três décadas. No entanto, podemos atuar 
em diversos espaços educacionais, não necessariamente com a função de 
“psicopedagogo”, mas com um olhar e uma postura psicopedagógica diante da 
aprendizagem. Por exemplo, quando compreendemos o ato de aprender como um 
processo contínuo e singular, quando entendemos de que maneira os processos 
afetivos de um aluno estão interferindo na sua aprendizagem e, ainda, quando 
preparamos nossas aulas pensando no desenvolvimento cognitivo de nosso público, 
como alguém que prepara uma roupa sob medida. 
 
 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
Áreas da PsicopedagogiaA Psicopedagogia vem evoluindo e crescendo bastante ao longo dos anos. 
Hoje, temos a Psicopedagogia Clínica, de caráter predominantemente curativo. Seu 
espaço de trabalho é o consultório, e o atendimento individualizado é a forma mais 
comum. A Psicopedagogia Institucional possui caráter predominantemente 
preventivo, e normalmente a atuação ocorre com pequenos grupos de alunos, 
trabalhadores, pessoas em geral. A área institucional se divide hoje em três formas 
de atuação: a escolar, a empresarial e a hospitalar. 
Olhamos em volta e nos perguntamos qual o profissional da escola que poderá 
nos ajudar a solucionar os problemas de aprendizagem, o fracasso escolar, a 
formação continuada dos professores etc., já que a maioria dos profissionais da 
escola, quando busca em sua formação de base um referencial que ajude a solucionar 
especialmente os dilemas éticos, nem sempre encontra. A Psicopedagogia não é um 
elemento milagroso, mas, sem dúvida, é uma forma diferenciada de compreender a 
aprendizagem humana e atuar sobre ela, já que sempre analisará as situações 
procurando perceber o sentido cognitivo, afetivo e social de cada questão, bem como 
a interseção entre esses elementos. 
O atendimento psicopedagógico institucional escolar ocorre normalmente na 
escola, em grupos, não necessariamente grupos compostos por alunos da mesma 
série ou da mesma idade, já que o objetivo desta atuação é o desenvolvimento de 
habilidades e competências, não o de conteúdos. Aprender conteúdos deve ser uma 
consequência da intervenção psicopedagógica. E não um objetivo direto deste 
trabalho. 
A Psicopedagogia Institucional Empresarial ocorre nas empresas, procurando 
melhorar o desempenho dos profissionais que nela trabalham e também ajudando as 
pessoas a encontrar o seu potencial para desenvolvê-lo, visando o melhor 
aproveitamento possível de cada funcionário. Se compreendemos a aprendizagem 
humana como um processo contínuo, então é fato que ela também se faz presente na 
fase adulta. Se compreendemos ainda que a aprendizagem pode ocorrer em qualquer 
lugar, e que nenhum profissional, ao sair do seu curso de formação, está completo, 
podemos então conceber o ambiente de trabalho, seja ele qual for, como um espaço 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
privilegiado de aprendizagem. A Psicopedagogia Institucional Empresarial pode ainda 
colaborar com profissionais que apresentem dificuldades de adaptação a novos 
cotidianos, a novas funções, já que isso também é aprendizagem humana. Pode, 
ainda, colaborar nos processos de seleção junto aos administradores de empresa e 
psicólogos empresariais, planejando, em equipe, processos de treinamento que visem 
ao desenvolvimento do funcionário e da empresa. 
 
A Psicopedagogia Institucional Hospitalar é pouco conhecida e difundida no 
Brasil. Ela tem por objetivo colaborar com o desenvolvimento cognitivo das crianças e 
adolescentes que estejam acamadas ou internadas por longos períodos e, por isso, 
afastadas dos bancos escolares. A atuação da Psicopedagogia Institucional 
Hospitalar é junto ao leito, e seu principal objetivo é reduzir as defasagens que o 
afastamento da escola provocou na criança hospitalizada. Atuamos no sentido de que, 
no momento em que o paciente retornar à escola, ele possa acompanhar, da melhor 
forma possível, a turma. Essa fatia da Psicopedagogia ainda é pouco conhecida e 
praticada no Brasil e quando ocorre, normalmente, é executada por profissionais 
voluntários. 
Assim que começamos a definir as áreas de atuação da Psicopedagogia, você 
percebeu que falamos que a Psicopedagogia Institucional é predominantemente 
preventiva e a Psicopedagogia Clínica é predominantemente curativa. Por que será 
que utilizamos o termo predominantemente e não exclusivamente? Porque ocorre 
uma reciprocidade muito interessante nessas duas modalidades de intervenção 
psicopedagógica. No que diz respeito à Psicopedagogia Clínica, um profissional dessa 
área é procurado geralmente quando o problema de aprendizagem já existe e é 
necessário uma intervenção curativa. No entanto, na medida em que essa intervenção 
ocorre e soluciona os problemas que ora se apresentam, tal procedimento evita que 
estes se avolumem ou se tornem mais complexos, deixando os alunos ou profissionais 
mais refratários às intervenções. Na mesma proporção, quando a Psicopedagogia 
Institucional atua, ela pretende, primeiramente, prevenir situações de dificuldades de 
aprendizagem e/ou de adaptação ao ambiente escolar ou profissional; mas, uma vez 
que o problema de aprendizagem já exista e suas raízes estejam situadas não no 
sujeito, mas no ambiente escolar ou profissional, na prática pedagógica dos 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
professores, nas práticas administrativas ou, ainda, nos vínculos afetivos, a 
intervenção curativa grupal deve ocorrer no ambiente institucional. 
Durante muito tempo, concebemos os problemas de aprendizagem como 
aqueles que tinham como pano de fundo somente o componente biológico. 
Desprezamos os componentes afetivos, sociais e culturais que tanto interferem no ato 
de aprender. As crianças que não aprendiam eram comumente levadas ao médico, 
neurologistas e, na maioria das vezes, eram submetidas a exames neurológicos ou 
mesmo medicadas. É claro que uma criança pode de fato precisar de tratamentos 
médicos e possuir dificuldades de aprendizagem como uma consequência de alguma 
necessidade especial, mas, certamente, não é o caso da maioria. Temos a tendência 
a focalizar a causa do não aprender em nossos alunos, mas é necessário refletir 
também sobre as nossas práticas pedagógicas e todo o contexto que cerca o nosso 
educando, inclusive o familiar e o escolar. 
 
Sobre a epistemologia convergente 
 
A expressão epistemologia foi muito utilizada pelo professor Jorge Visca, na 
Argentina. Por definição, o termo epistemologia significa o estudo do conhecimento, 
da área, da matéria. A utilização da palavra convergente se justifica pela proposta de 
integração, de interdisciplinaridade que a Epistemologia Convergente propõe. Em 
outras palavras, para a Psicopedagogia, Epistemologia Convergente significa a 
integração de três escolas importantes para a base dos conhecimentos 
psicopedagógicos. São elas: a Escola Psicanalítica, a Escola Piagetiana e a Escola 
da Psicologia Social, de Pichon-Rivière. Essas três escolas convergem para um único 
ponto, e a Psicopedagogia vai se utilizar da interseção deste saber. Todos nós nos 
lembramos das aulas de Matemática no início de nossa vida escolar. Nessas aulas, 
aprendemos o conceito de interseção e recordamos que ela significa o que há de 
comum entre pontos, conjuntos ou áreas. No nosso caso, ela representará o que há 
de comum entre essas três teorias. Você pode imaginar qual seria esse ponto de 
convergência? A aprendizagem! Cada qual com o seu enfoque e com a sua forma de 
perceber o homem e seus processos internos e externos. Dessa forma, é possível 
afirmar que a epistemologia convergente pode significar uma posição teórica, mas 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
também pode representar uma prática (VISCA, 1987). Ou seja, podemos estudar as 
contribuições das três escolas e atuar sobre a aprendizagem dos nossos alunos de 
forma que os três enfoques teóricos (afetivo, cognitivo e social) sejam contemplados. 
Um professor pode não ser psicopedagogo por formação, mas pode adotar 
uma postura psicopedagógica diante da aprendizagem de seus alunos. Você 
concorda? 
No cotidiano escolar, em que momentos você consegue perceber a integração 
dos aspectos cognitivos, afetivos e sociais de seus alunos? 
Na sua opinião, porque sofremos a influência do pensamento argentino na 
construção do trabalho e da teoria psicopedagógica?Psicopedagogia institucional na escola: desafios e processos 
 
Agora que já sabemos como funciona a atuação da Psicopedagogia 
Institucional, vamos nos deter na atuação psicopedagógica institucional escolar e 
verificar de que maneira a Psicopedagogia, como teoria e prática, pode colaborar para 
o aperfeiçoamento de todos os profissionais da educação no cotidiano da escola. 
Se eu pedisse para você enumerar agora todos os assuntos do cotidiano da 
escola que se configuram em desafios para os educadores de um modo geral, quais 
seriam esses assuntos? Vamos ficar longas horas conversando sobre eles, não é 
mesmo? Os desafios são proporcionais à complexidade do espaço escolar, pois a 
nossa maneira de dar aulas, a forma como elaboramos o nosso planejamento, a nossa 
avaliação, a forma como conversamos com um aluno que cometeu um ato de 
indisciplina, entre outras atividades, traduzem a nossa forma de ver o mundo e, o mais 
importante, a nossa concepção de Educação. 
Todos nós, professores, já estudamos as tendências pedagógicas da educação 
brasileira e sabemos que, em cada período da história, o professor, o aluno e a direção 
da escola se comportam de uma maneira diferente. Da mesma forma, os métodos de 
ensino, os conteúdos que ensinamos não são os mesmos. Isso acontece porque a 
Educação está inserida num contexto muito mais amplo que é a sociedade e, é claro, 
ao mesmo tempo em que sofre influências desta, também ratifica ou colabora para a 
transformação de algumas práticas sociais. Em suma, para cada tempo, novos 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
desafios. Podemos concluir, então, que a prática psicopedagógica deve, obviamente, 
apoiar-se em bases teóricas sólidas, mas deve também adotar um pensamento 
dialético e contextualizado, sob pena de se transformar em algo obsoleto para a 
Educação. 
Voltemos aos desafios presentes no ambiente escolar. 
São eles: 
✓ fracasso escolar; 
✓ currículo; 
✓ planejamento com enfoque psicopedagógico; a avaliação da 
aprendizagem; 
✓ conselho de classe; trabalho com projetos; 
✓ afetividade e aprendizagem; 
✓ reuniões de pais; 
✓ formação continuada de profissionais da educação; indisciplina na 
escola; 
✓ inclusão. 
Fracasso escolar 
 
Eis um problema nacional. Por que tantas crianças e jovens não conseguem 
aprender? Especialmente no período da alfabetização, o problema do fracasso 
escolar tem tirado o sono dos professores. Ao analisar a questão, procuramos as 
causas no próprio aluno, muitas vezes atribuindo os seus resultados à falta de 
interesse, à ausência de investimentos na aprendizagem e até mesmo à existência de 
alguma deficiência que impede a aprendizagem de transcorrer normalmente. É 
comum também que o problema seja atribuído ao contexto familiar, às condições 
sociais do aluno e, ainda, à privação cultural. Todos esses fatores podem representar, 
certamente, causas para o não aprender. Ou, ainda, o fracasso escolar pode ter 
origem num conjunto de causas anteriormente apresentadas que se entrelaçam. No 
entanto, é preciso ter cuidado para não “responsabilizar” o aluno pelo seu fracasso 
escolar, pois nem sempre o problema está localizado no próprio sujeito. Recomenda-
se que o professor também reflita sobre a sua prática pedagógica, especialmente 
sobre as atividades repetitivas e sobre as experiências de aprendizagem que são 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
oferecidas, que nem sempre respeitam a individualidade dos alunos. Todos nós, 
crianças ou adultos, temos os nossos modelos próprios de aprendizagem e, dessa 
maneira, a aprendizagem torna-se um processo muito singular. 
Não se trata de buscar culpados para o fracasso escolar, nem de 
responsabilizar os professores, mas buscar alternativas que estão ao nosso alcance 
para solucionar o problema. Afinal, podemos trabalhar em conjunto com as famílias 
de nossos alunos, mas não podemos promover grandes alterações dentro desse 
contexto, podemos oferecer oportunidades de enriquecimento cultural na escola, mas 
não solucionar os problemas sociais e de privação cultural de nossos alunos. Então, 
a questão é: como podemos fazer com que o nosso aluno aprenda, apesar das 
adversidades? É nosso papel de educador buscar alternativas, e muitas delas são 
possíveis de serem realizadas dentro da escola. 
Aprender algo requer interesse pelo objeto; numa linguagem psicopedagógica, 
requer desejo. É preciso que a escola faça sentido na vida do aluno e que ele não 
pense que alguns nasceram para estudar e outros não, caindo nas armadilhas do 
sistema capitalista e neoliberal. Mas nós só conseguimos desejar aquilo que possui 
algum significado para nós. Aí entra o papel do professor na hora de eleger as 
oportunidades de aprendizagens significativas. Procurar mostrar para os alunos o 
sentido da educação e seus benefícios, bem como a necessidade de investimentos a 
longo prazo, também produz efeitos interessantes e, é claro, é bom evitar os discursos 
preconceituosos como “estudar para vencer na vida”, “estudar para ser alguém”. O 
mestre Paulo Freire pode nos ajudar a organizar um discurso de convencimento 
respeitoso e dialético sobre a importância do ato de estudar. 
Para a Psicopedagogia, cada um de nós aprende de uma forma diferente e o 
professor, na maioria das vezes, trabalha com números médios ou grandes de alunos. 
Assim, é impossível promover atividades individualizadas o tempo inteiro. Então, uma 
das soluções seria oferecer o maior número possível de atividades diferenciadas para 
um mesmo conteúdo, dando oportunidade para as diferenças dos modelos de 
aprendizagem operarem. Também não podemos nos satisfazer se parte da turma 
aprende e parte não. Se alguns alunos não acompanham a turma, não devemos 
esperar pelos períodos oficiais de recuperação para fazer algo. É necessário pensar 
de que maneira podemos utilizar a epistemologia convergente, ou seja, a integração 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
de áreas do conhecimento para oferecer oportunidades diferenciadas de 
aprendizagem para os alunos com dificuldades. O trabalho diversificado ainda é uma 
boa alternativa para que o professor tenha condições de dar maior atenção aos grupos 
de alunos com dificuldades. 
 
O currículo 
 
Seja qual for a escola, seja qual for a sociedade, uma coisa é certa: há um 
currículo definido para ser ensinado e que serve à sociedade no qual ele está in serido. 
Ou seja, a escola “presta serviços” à sociedade educando os seus cidadãos e 
entregando-os à sociedade para servi-la. Em contrapartida, a sociedade “diz” para a 
escola o que ela precisa ensinar aos seus cidadãos. Portanto, no momento da 
organização do currículo escolar, devemos nos perguntar o que precisamos ensinar 
aos nossos alunos de acordo com a nossa cultura. Isso nos faz concluir que nenhum 
currículo é neutro, ao contrário, está permeado de fatores sociais, políticos e 
econômicos. 
Organizar um currículo é tarefa de toda a escola e não só do professor, e não 
é apenas o componente sociopolítico que deve interferir na organização do currículo. 
Os componentes afetivos, cognitivos e biológicos também devem ser levados em 
conta na sua construção. É necessário que a escola fundamente o seu trabalho 
teoricamente e que construa um currículo adequado às condições afetivas, cognitivas 
e biológicas de cada grupo de alunos, pois, se ele for complexo demais para 
determinado nível de desenvolvimento, certamente estaremos “fabricando 
dificuldades de aprendizagem no ambiente escolar, mas se for aquém das 
possibilidades do aluno, estamos impedindo que ele se desenvolva”. 
 
O planejamento com enfoque psicopedagógica 
 
O planejamento é uma das atividades mais privilegiadas do cotidiano escolar, 
pois ele representa um momento de reflexãosobre o que vamos ensinar, sobre os 
conteúdos que precisam ser fixados, revisados, ou, ainda, ensinados de uma outra 
forma. Conhecemos vários níveis de planejamento que se traduzem em planos, pois 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
o planejamento é a atitude de planejar, e o plano é a atividade. 
Normalmente, ao executarmos um planejamento, traçamos objetivos, 
estratégias ou procedimentos, recursos didáticos e avaliação. Em todos os níveis de 
planejamento, podemos encontrar essa estrutura básica. Outros aspectos podem ser 
acrescentados, tais como o tempo, o número de horas, os recursos de incentivação, 
os tipos de exercícios que serão aplicados etc. No entanto, os primeiros itens não 
podem faltar, pois representam o eixo de nossa ação pedagógica. 
O papel da Psicopedagogia no planejamento escolar é refletir sobre as ações 
pedagógicas e suas interferências no processo de aprendizagem do aluno. No 
momento de formular os objetivos, devemos ter cuidado para que eles não se 
resumam à execução de atividades, já que devem promover um crescimento cognitivo 
de nossos alunos e construir competências e habilidades de utilização permanente 
nas suas vidas. É claro que nenhum objetivo geral (aqueles que são traçados para 
alcance a longo prazo) poderá ser alcançado em um dia de aula, mas, se o professor 
compreende o conhecimento como um processo de construção, ele terá em mente 
que nenhuma atividade tem um fim em si mesma, pois ela existe para funcionar como 
instrumento que leva ao alcance dos objetivos e para “provocar” a cognição dos 
nossos alunos. 
Quanto às estratégias (ou procedimentos), é importante refletir sobre qual a 
melhor forma de ensinar, ou melhor, a melhor forma de construir cada conhecimento 
junto aos nossos alunos. Já falamos que os modelos de aprendizagem são diferentes 
e que cada aluno tem o seu, e que, portanto, variar nas estratégias é fundamental, 
pois, dessa forma, as chances de atingir as diferenças individuais são maiores. 
A aprendizagem ocorre com mais facilidade quando sentimos prazer no ato de 
aprender e quando o conteúdo possui significado simbólico ou prático para nós. É aí 
que entra a criatividade do professor para organizar experiências de aprendizagem 
significativas, vibrantes, que envolvam os educandos. A experimentação também é 
uma ótima alternativa. Quando os alunos praticam, pesquisam ou experimentam, as 
chances de compreender as bases teóricas do conhecimento são maiores. Partir da 
prática para a teoria facilita a compreensão e evita a memorização sem compreensão. 
Por exemplo, ao ensinarmos uma fórmula de Física ou Matemática, podemos procurar 
fazer demonstrações práticas e deduções até chegarmos à fórmula em si. 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
Uma queixa muito comum das escolas, em geral, é a falta de materiais e 
recursos técnicos para o desenvolvimento das aulas. É certo que os recursos ajudam 
bastante, especialmente na facilitação do dia a dia, colaborando para que a turma 
fique mais motivada, mas, para a Psicopedagogia, que valoriza muito o componente 
afetivo para a aprendizagem, os únicos “recursos” que não podem faltar são o desejo 
de aprender e o desejo de ensinar. Com materiais simples e com muita criatividade, 
professores e alunos podem construir mecanismos de grande utilidade para a 
aprendizagem. 
A avaliação contida no planejamento pode sugerir o final do processo, não é 
mesmo? Pode ser que de fato o seja, se quisermos, com esta avaliação, apenas saber 
se o que foi ensinado foi realmente aprendido. Mas a avaliação pode significar também 
o início do ciclo docente (planejamento, execução e avaliação), já que partiremos dela 
para planejar a aula seguinte. A avaliação nos dirá o que foi aprendido, o que precisa 
ser revisado, o que precisa ser fixado etc. Além disso, sonda a aprendizagem do 
aluno, mas também o que o professor ensina. 
É importante que fique claro que, ao avaliar, o professor não deve prestar 
atenção somente no aluno e sim na aprendizagem. Para isso, ele não precisa 
necessariamente fazer uso de testes e provas. Atividades de sala de aula, como 
trabalhos em grupo, exercícios, projetos e a observação do professor, podem dizer 
muito sobre a aprendizagem dos alunos. 
 
Avaliação de aprendizagem 
 
Vamos tratar, agora, de um dos assuntos mais polêmicos da educação: a 
avaliação. Historicamente, a avaliação tem sido usada por muitos educadores como 
instrumento de poder sobre o aluno, incentivando uma relação mercantilista com o 
saber. Ou seja, o aluno aprende a estudar para tirar o número de pontos que precisa 
para ser aprovado. O sentido da aprendizagem é o de troca pelos pontos, ou melhor, 
a nota é o salário pago pelo tempo dedicado ao estudo. Alguns alunos chegam a 
estudar para tirar somente os pontos necessários para a aprovação, deixando a ideia 
do estudo para o desenvolvimento intelectual e pessoal completamente de lado. 
Entendemos que a forma de avaliação que o professor escolhe é uma 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
consequência de toda a sua prática pedagógica; portanto, se nas aulas há um 
incentivo à “decoreba” e à apreensão de ideias soltas, descontextualizadas, a 
avaliação não pode ser diferente. 
Pensemos, também, no absurdo que representa a utilização de médias para 
calcular a nota do aluno. Quando um aluno tira uma nota baixa e depois melhora o 
seu rendimento, a sua nota anterior é somada à nota mais alta e é feita a média 
aritmética entre elas. Ou seja, mesmo melhorando, o aluno sempre será punido pelo 
seu rendimento anterior. Ou, ainda, somamos e tiramos médias de resultados de 
áreas do conhecimento completamente diferentes. Isso seria justo? Por outro lado, se 
a escola esconde dos alunos a realidade das provas, o mundo mostrará, pois o 
estudante encontrará provas para ingressar na universidade (afinal, o vestibular ainda 
é uma realidade na nossa sociedade) e encontrará também os processos seletivos 
para ingressar no mercado de trabalho, ou para continuar sua carreira acadêmica, 
entre outros momentos. Logo, se a escola também tem como função preparar o aluno 
para a vida, não tem o direito de lhe negar a realidade. No entanto, podemos trabalhar 
com a avaliação humanizada, que é a proposta da Psicopedagogia. 
Vamos tratar de alguns princípios da avaliação humanizada. Se exercemos o 
magistério em uma sociedade que quantifica o conhecimento e o traduz em notas, 
não podemos nos contentar em aprovar um aluno que tirou média 5. Pense no 
absurdo que representa aprovar um aluno que aprendeu 50% do que ensinamos em 
sala. Ao compararmos o trabalho do professor com o de um médico, verificamos que 
nenhum médico se dá por satisfeito se o seu paciente estiver 50% curado, não é 
mesmo? Restaos lutar para “aumentar” esse percentual de aprendizagem dos alunos. 
Como? Oferecendo-lhes oportunidades de refazer a avaliação até que eles 
demonstrem que alcançaram um rendimento melhor porque suas dúvidas foram 
sanadas. 
A oferta de oportunidades diferenciadas de avaliação e não somente a 
utilização de testes e provas também pode contribuir e estimular a aprendizagem. 
Além disso, é importante que, ao formularmos essas situações de avaliação, 
procuremos sempre baseá-las em situações concretas, presentes de fato no 
cotidiano. Tornar o aluno personagem da questão. 
Não podemos também abrir mão da autoavaliação. Afinal, desenvolver a 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
consciência crítica dos nossos alunos também é nosso dever, e a autoavaliação é um 
excelente recurso para o desenvolvimento da autoconsciência. A autoavaliação pode 
ser feita desde a Educação Infantil, com utilização de desenhos e legendas. 
A utilizaçãoda avaliação qualitativa também é bem-vinda. Listar habilidades e 
comportamentos que desejamos trabalhar em nossos alunos e que, por causa da sua 
carga subjetiva não podem ser quantificadas, mas podem ser apreciadas e 
qualificadas pelo professor, podem dizer ao aluno coisas que as notas não conseguem 
dizer. 
 
Conselho de classe 
 
O conselho de classe é um momento de muita importância para a comunidade 
escolar e, infelizmente, é desperdiçado por muitos educadores. Há desperdício 
quando se transforma num momento de lamentações e de críticas improdutivas aos 
alunos. O conselho de classe deve ser visto como uma oportunidade (rara muitas 
vezes) de reunir professores de diferentes áreas para conhecer melhor os alunos, 
promover a integração do trabalho pedagógico e, acima de tudo, planejar alternativas 
de intervenções psicopedagógicas para os alunos que estão com dificuldades para 
aprender. Como vimos nos itens anteriores, planejamento e avaliação são elementos 
indissociáveis e o conselho de classe é um momento de avaliação. É uma 
oportunidade de ação coletiva dos profissionais da escola não só para os problemas 
de aprendizagem como também para os problemas de indisciplina, administrativos e 
operacionais da escola. Contudo, não devemos permitir que o burocrático sufoque o 
pedagógico. 
 
Trabalhando por meio de projetos 
 
Muitos autores já trataram da importância de se trabalhar com projetos. Dewey 
já tratava do assunto e, dada a sua pertinência, o tema continua atual. A maior 
vantagem de trabalhar com projetos, segundo a maioria dos autores, é a possibilidade 
de integrar as diferentes áreas do conhecimento, bem como promover a integração 
entre os alunos e a autonomia intelectual. Além disso, os educandos aprendem a 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
pesquisar, estratégia pouco utilizada na escola ou utilizada de forma equivocada, pois 
a maioria das pesquisas escolares param na fase da coleta de dados. Os projetos 
devem surgir de um problema real e, portanto, devem ter seus temas originados de 
debates com os alunos. Não cabe ao professor criar os temas de projetos, sob pena 
de não oferecer sentido aos alunos. Ao eleger o tema, o professor direciona o grupo 
para a investigação, primeira fase da pesquisa, posteriormente para a formulação dos 
assuntos aprendidos e, na última fase, temos a apresentação, e, portanto, a avaliação 
do trabalho. 
 
Afetividade e aprendizagem 
 
PichonRivière, na Teoria do Vínculo, ressalta a importância deste para a 
aprendizagem. Todos temos exemplos, em nossa história de aprendizagem, de 
professores que, com sua afetividade, fizeram com que gostássemos de suas 
disciplinas e até tivéssemos facilidade de aprender por causa deles. Mas também 
tivemos a experiência contrária: professores que desprezavam a afetividade e 
dificultavam bastante o nosso aprender. Não é à toa que temos preferências por 
algumas disciplinas e temos aversão a outras, como também não é à toa que 
escolhemos a profissão de educador. Diga-se de passagem, se fizemos esta escolha 
profissional, segundo a Psicopedagogia, é porque o nosso vínculo com a 
aprendizagem foi muito mais positivo do que negativo. 
Quando um aluno apresenta dificuldades para aprender, segundo a 
Psicopedagogia, uma das primeiras tarefas do educador é o resgate da autoestima 
do educando, pois ninguém consegue aprender se não conseguir investir no ato de 
aprender, e ninguém consegue investir na própria aprendizagem se não tiver o desejo 
de aprender e acreditar nas suas possibilidades. Então, cabe ao professor oferecer 
aos seus alunos oportunidades de acerto, experiências positivas que os conduzam ao 
desejo de continuar aprendendo para continuar acertando. São raríssimos os casos 
de alunos que recebem o fracasso escolar como um desafio a ser superado, afinal, 
isso exige uma maturidade que a criança não possui. Será necessário que o professor 
presenteie o aluno com um recurso valioso e que nada custa: o elogio. Elogiar é 
altamente reforçador do sucesso. 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
 
Reuniões de pais 
 
A sociedade mudou, assim como os nossos pais e alunos também mudaram. 
O número de mulheres no mercado de trabalho, em algumas regiões do Brasil,muitas 
vezes, é superior ao número de homens, sendo que muitas delas mantêm suas 
famílias sozinhas. Em suma, a família mudou bastante ao longo dos anos e isso nos 
faz pensar que as relações entre a escola e a família não podem ser as mesmas. 
É comum ouvirmos queixas, por parte das escolas, sobre a pouca participação 
dos pais na vida escolar dos filhos, inclusive que nas reuniões de pais a frequência é 
baixíssima, e também é frequente ouvir dos pais que a escola possui alguma falha e 
que gostariam de ser mais ouvidos pelos professores e equipe técnica. Refletir sobre 
esses desencontros é necessário para o bem da aprendizagem de nossos alunos. 
Alguns procedimentos muito simples podem ajudar no progresso dessas relações. Por 
exemplo, as reuniões podem variar de dia e horário, a fim de concentrar o maior 
número possível de pais. Ou, ainda, mantermos um horário fixo, depois de ter 
levantado a disponibilidade dos pais. As reuniões devem ser breves e respeitar o 
horário marcado. Além disso, é bom que tratemos dos assuntos coletivos, e os 
individuais devem ser agendados para uma conversa em particular. 
Quando se tem uma visão psicopedagógica, enxergamos os pais de nossos 
alunos como seres também em processo de aprendizagem e, por isso, em alguns 
momentos da reunião, cabem “prescrições”, sugestões de como os pais podem agir 
em casa para conduzir os estudos de seus filhos, sem, com isso, tornarem-se 
professores particulares dos filhos. Muitos pais afirmam textualmente, especialmente 
quando o problema é o comportamento, que não sabem o que fazer com seus filhos. 
Devemos acreditar nesse “não saber” e colaborar com eles, oferecendo-lhes leituras, 
pequenos vídeos, estudos de caso, algumas atividades práticas, enfim, tornar a nossa 
reunião o mais produtiva possível. 
É importante, também, que as reuniões tenham momentos informativos e 
momentos formativos, isto é, de construção de saberes. Além disso, é bom que os 
pais possam ver algumas atividades que foram desenvolvidas pelos seus filhos e que 
saibam onde eles tiveram maior facilidade ou dificuldade, bem como informar como 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
serão os próximos meses de aula e de que maneira eles podem participar. 
Se permitirmos que os pais de nossos alunos falem, vamos aprender com eles 
e descobrir talentos que podem ser úteis para a escola. 
 
Formação continuada de profissionais da educação 
 
Phillipe Perrenoud nos orienta que uma das competências do professor deve 
ser gerir a própria formação. Como profissionais da educação e da aprendizagem, 
sabemos que a nossa formação é um processo contínuo, sem fim. Participar das 
oportunidades de formação continuada oferecidas pelo nosso local de trabalho, bem 
como participar autonomamente de outros, é uma forma de aprimorar o nosso 
trabalho. 
As leituras de livros e periódicos diversos também são ótimos recursos, pois 
colaboram para que o professor passe de leitor para autor de conhecimentos e, por 
que não, um professor-pesquisador. Pedro Demo afirma que o professor que nunca 
foi pesquisador também nunca foi professor, pois ele torna-se um mero repetidor de 
informações, no lugar de produzir conhecimento. 
 
Indisciplina na escola 
 
Talvez um dos grandes desafios de nossos tempos seja a construção dos 
limites e da ética dentro da escola. 
Temos notícias de que muitos professores, competentes em sua área, 
possuem dificuldades para desenvolver o seu trabalho em função do comportamento 
de seus alunos. A Psicopedagogiaentende que esse comportamento pode ser um 
problema relativo de aprendizagem, com bases na afetividade do sujeito e na sua 
relação com o ato de aprender, e que, portanto, essa relação pode ser construída (ou 
reconstruída) por meio do vínculo afetivo entre professor e aluno. No entanto, a 
construção da ética na escola não pode ser uma atitude isolada do professor, e sim 
projeto de toda a escola. É bom que o professor também reveja o seu procedimento, 
pois, se analisarmos o cotidiano de nossa escola, alguns alunos com problemas de 
indisciplina não agem de forma inadequada com todos os professores, mas com 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
alguns. Isso nos faz pensar que o problema também pode não estar no aluno nem no 
professor, mas na relação que os une, que é o conhecimento. 
 
Inclusão 
 
Inclusão é um tema bastante amplo, pois ela não se restringe aos portadores 
de necessidades especiais. Os excluídos nesse grande Brasil são muitos e as 
exclusões vão desde questões raciais e étnicas até os problemas de desemprego. O 
fracasso escolar também merece uma análise sobre inclusão, pois, na verdade, esses 
alunos “não estão na escola”. 
Durante muito tempo, esses alunos estiveram fora da escola, recebendo uma 
educação segregada. Os professores, por sua vez, não recebiam, em seus cursos de 
formação, uma qualificação adequada para trabalhar com os portadores de 
necessidades especiais. No entanto, a inclusão se faz hoje uma realidade presente 
na maioria das escolas e, preparados ou não, esses professores estão recebendo os 
alunos especiais. 
É preciso sair do modelo de integração em direção ao modelo da inclusão, pois, 
enquanto a integração significa a abertura da vaga para o portador de necessidades 
especiais, mas não a adaptação da organização da escola para recebê-lo, a inclusão 
só é inclusão porque faz uma série de adaptações, de grande e pequeno porte, para 
melhor receber o aluno e promover a aprendizagem. 
Só podemos considerar um aluno de fato incluído quando ele está 
experimentando situações de aprendizagem, além da socialização. A socialização 
simplesmente não garante a inclusão de fato. 
Para promover a inclusão, é necessário, ainda, trabalhar junto à escola, à 
família e ao próprio sujeito. A família funciona como uma coautora da inclusão, pois 
poderá ser como um elemento reforçador das aprendizagens realizadas na escola, 
além de prestar informações importantíssimas para os profissionais que cuidam e 
atendem seu filho. A formação continuada do professor para melhor prepará-lo para 
o atendimento aos alunos especiais também é muito necessária, pois o educador 
precisa compreender os caminhos da aprendizagem de seu aluno especial ou, em 
outras palavras, o percurso psicopedagógico que ele faz, para melhor intervir. 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
Aprendizagem: o que é e como se processa na visão psicopedagógicaNesse 
capítulo, enfocaremos o objeto de estudo da Psicopedagogia e, certamente, o 
principal objetivo dos educadores: a aprendizagem. Como estudamos anteriormente, 
a Psicopedagogia busca o aperfeiçoamento das relações com a aprendizagem, bem 
como a melhor qualidade possível na construção da aprendizagem de alunos e 
educadores (WEISS, 2000). Mas, afinal, o que é aprendizagem? Como se 
processa?Muitos autores se preocuparam com o tema. Para Alicia Fernandez, 
por exemplo, todo sujeito tem a sua modalidade de aprendizagem e os seus 
meios para construir o próprio conhecimento, e isso significa uma maneira muito 
pessoal para se dirigir e construir o saber. Para a autora, esse processo inicia-se 
desde o nascimento e constitui-se em molde ou esquema, sendo fruto do nosso 
inconsciente simbólico. O desejo de aprender reside no inconsciente (BOSSA, 
2000) e, é claro, é fruto da história de cada sujeito e das relações que ele consegue 
estabelecer com o conhecimento ao longo da vida.Para Sara Paín, a aprendizagem é 
resultado da articulação de fatores internos e externos do próprio sujeito, do 
organismo (substrato biológico), do desejo de aprender, das estruturas cognitivas e 
do comportamento em geral. Todos esses aspectos convergem para um mesmo 
objetivo que é o ato de aprender. Para esta autora, a aprendizagem possui algumas 
funções contraditórias. São elas: a função socializadora, a função repressora e a 
função transformadora. Vejamos como essas funções se definem:a) Função 
socializadora: a educação leva o sujeito a experimentar a vida em comunidade 
e faz ensaios de participação social no ambiente escolar. A escola trabalha dentro de 
um projeto social de homem e atua para que este seja o mais integrado possível no 
seu ambiente. Para viver em sociedade, é necessário que o homem faça uso do 
conhecimento produzido pela sua cultura.b) Função repressiva: na visão da autora, a 
aprendizagem possui essa função, já que o professor trabalha com limites claros e a 
escola é um espaço permeado de limites (o uso de uniformes, horários, 
programação de tarefas pedagógicas etc.). Além disso, não há espaço para a 
expressão plena do desejo de aprender porque, na maioria das vezes, as atividades 
são coletivas e um sujeito representa o limite do outro.c) Função transformadora: eis 
aqui o elemento de dicotomia das funções da aprendizagem, pois, ao mesmo tempo 
em que ela possui a função da manutenção da cultura (função socializadora) e de 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
delimitar o sujeito (função repressora), a aprendizagem tem a função de libertar o 
homem a partir do conhecimento e, por conseqüência, transformar a sociedade.Para 
Sara Paín, o não-aprender pode representar um sintoma e não um problema, 
pois, por meio dele, o professor pode ter contato com a modalidade de aprendizagem 
do aluno. 
Para Jorge Visca, a aprendizagem representa uma construção 
intrapsíquica, considerando os componentes genéticos e as diferenças nascidas da 
evolução da espécie, resultantes das pré-condições biológicas, das condições 
energético-estruturais (condições afetivas) e das circunstâncias do meio. É a 
compreensão da aprendizagem por meio da epistemologia convergente, ou seja, 
todos os aspectos do ser humano convergindo para um único ponto, que é a 
aprendizagem. Jorge Visca considera que, na Psicologia Evolutiva, encontramos as 
explanações behaviorista, piagetiana, psicanalítica etc., que não abordam a 
aprendizagem de maneira específica e nem o seu processo evolutivo. Acrescenta que 
o esquema evolutivo da aprendizagem postula:1. a existência de quatro níveis de 
aprendizagem: proto-aprendizagem, deuteroaprendizagem, aprendizagem 
assistemática e aprendizagem sistemática;2. que a aprendizagem se dá em função 
de aspectos energéticos e estruturais e pela tematização dos esquemas de ação;3. 
que o processo geral e as aprendizagens particulares respondem a princípios 
estruturais construtivistas e interacionais (Visca, 1987, p. 75).Vamos entender o que 
significa cada termo e abordagem. Comecemos pelos níveis de aprendizagem.a) 
Proto-aprendizagem – representa as primeiras aprendizagens que acontecem nas 
relações afetivas da criança com sua mãe. O mundo externo da criança se reduz 
à mãe ou ao adulto que a substitui. b) Deuteroaprendizagem – trata-se da concepção 
de mundo e de vida que se adquire por meio da convivência com a família.c) 
Aprendizagem assistemática – esta se dá pela interação da criança com uma 
comunidade maior que a família, como, por exemplo, o seu bairro.d) Aprendizagem 
sistemática – é aquela que ocorre pela interação com as instituições educativas 
que transmitem conhecimentos, atitudese habilidades que a sociedade estima. É 
interessante comentar como Jorge Visca relaciona essas etapas da aprendizagem. 
Para o autor, desde que nascemos, inicia-se um processo de aparecimento e 
estabilização de condutas que permitem definir quatro níveis consecutivos de 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
aprendizagem (são as já citadas: proto-aprendizagem, deuteroaprendizagem etc.). 
Vejamos que o autor utiliza a palavra “consecutivos”, o que significa que cada nível 
de aprendizagem ocorre após o outro, mas não elimina o anterior. Se a proto-
aprendizagem consiste na aprendizagem dos vínculos e se dá, principalmente, com 
a mãe ou com a pessoa que a substitui, ela está baseada nos seus substratos 
biológicos, e a aprendizagem se da em forma de condicionamento, a partir dos 
estímulos biológicos.Quando a criança avança para o segundo nível, que é a 
deuteroaprendizagem, para Jorge Visa, é como se a placenta tivesse sofrido uma 
terceira mudança e ampliação. A primeira seria na ocasião do nascimento, a segunda 
na ocasião da proto-aprendizagem e a terceira na deuteroaprendizagem. Nesse 
segundo nívelde apr end iza gem, a cria nça tem co nta to c om as e str utu 
ras de con heci men to e com a cultura do grupo em que vive. É o que Visca 
vai chamar de axiologia do grupo. O mesmo substrato biológico que servia à 
proto-aprendizagem servirá à deuteroaprendizagem. A proto-aprendizagem 
modificava o substrato biológico e a deuteroaprendizagem modificará a proto-
aprendizagem. A aprendizagem assistemática, terceiro nível de aprendizagem, vai se 
efetuar pela interação da criança que atingiu a deuteroaprendizagem com a 
comunidade restrita (bairro, vizinhança, comércio local etc.), enquanto a 
aprendizagem sistemática ocorrerá nas instituições oficiais, eleitas pela sociedade 
para este fim e, obviamente, sofrerá influência de todos os níveis de aprendizagem 
anteriores. 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
 
VISCA, J. Clínica Psicopedagógica – Epistemologia Convergente. 
Porto Alegre: Artmed, 1987, p. 79. 
 
Como citamos bastante a participação do substrato biológico na 
composição da aprendizagem humana, é bom esclarecer que ele não é o único 
componente. Pelo enfoque dado à importância das interações, seja com a mãe, seja 
com a comunidade, é fato que o aspecto social, bem como a sua amplitude, favorece 
a aprendizagem. Além disso, para Visca, os aspectos estruturais e energéticos têm 
considerável implicação no processo. O termo energético diz respeito ao que 
nós, brasileiros, costumamos denominar de afetividade. Os argentinos preferem a 
utilização do termo energético. Dessa forma, se uma criança possui um bom vínculo 
com o objeto de aprendizagem, o investimento pode ser maior e o resultado muito 
favorável. Por outro lado, se o vínculo é inadequado, pode comprometer a 
aprendizagem. Mas existe uma terceira possibilidade: quando o vínculo é inadequado, 
afeta um determinado objeto, mas não afeta o núcleo essencial da aprendizagem, 
possibilitando que ela ainda se desenvolva.É muito importante que tenha claro 
como a aprendizagem se processa e como o conhecimento se constrói, para que 
a sua forma de ensinar seja respeitosa e eficaz, do ponto de vista psicopedagógico. 
O conhecimento não é cópia nem apropriação de algo que está fora de nós, mas 
uma constru ção (SOLÉ, 1998). Cabe Aprendizagem: o que é e como se processa na 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
visão psicopedagógica23 
ao professor, com visão psicopedagógica, ser um investigador dos 
processos de aprendizagem dos seus alunos.Para Fonseca (1995), a 
aprendizagem é o comportamento mais importante dos animais superiores e 
significa uma resposta modificada, estável, durável, interiorizada e consolidada no 
cérebro do indivíduo. Isso nos faz pensar sobre as confusões tão comuns entre 
aprendizagem e memória. Na escola tradicional, a memorização de informações era 
sinônimo de aprendizagem e o uso do conhecimento era pouco importante. Era 
valorizado, por exemplo, que o aluno soubesse o nome de todos os rios e afluentes 
da Bacia Amazônica, mas não se considerava se ele tinha adquirido uma noção 
espacial real e, ainda, uma visão crítica da utilização do meio ambiente. A visão 
psicopedagógica da aprendizagem concebe o conteúdo como instrumento para 
construir conhecimento, mas o conteúdo não pode ter um fim em si mesmo, 
principalmente porque ele é mutante. Portanto, interessa-nos que o aluno se 
aproprie dos conteúdos para construir estruturas mentais cada vez mais sofisticadas 
e aprenda a lidar e a buscar novos conhecimentos.Para aprender, é necessário que 
exista uma relação integrada entre o indivíduo e o seu meio, pois o produto 
aprendizagem é fruto de uma relação de condições externas e condições internas, por 
meio de um processo sensório-neuropsicológico (FONSECA, 1995). Ainda para este 
autor, a aprendizagem envolve complexos processos neurológicos, reações 
químicas, atividades bioelétricas, arranjos moleculares das células nervosas, 
eficiências sinápticas, redes interneuronais, metabolismo protéico etc. 
 
A intervenção psicopedagógica institucional nas dificuldades de 
aprendizagem 
 
Pretendemos agora abordar as dificuldades de aprendizagem, a fim de 
melhor compreendê-las e poder intervir adequadamente na sala de aula.Alunos que 
não aprendem são sempre um desafio para nós, professores, não é mesmo? Para 
aquele que possui estas dificuldades, a situação não é menos difícil. Não conseguir 
acompanhar o seu grupo destrói a auto-estima e deixa o aluno à margem de um 
processo que deveria ser plenamente integrador. As causas do não-aprender 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
podem ser diversas.Para Maria Lúcia Weiss, a prática psicopedagógica deve 
considerar o sujeito como um ser global, composto pelos aspectos orgânico, 
cognitivo, afetivo, social e pedagógico. Vamos entender a participação de cada 
aspecto na compreensão da dificuldade de aprendizagem. O aspecto orgânico diz 
respeito à construção biológica do sujeito; portanto, a dificuldade de aprender de 
causa orgânica estaria relacionada ao corpo. O aspecto cognitivo está 
relacionado ao funcionamento das estruturas cognitivas. Nesse caso, o problema 
de aprendizagem residiria nas estruturas do pensamento do sujeito. Por exemplo, 
uma criança pode estar no estágio pré-operatório e as atividades escolares 
exigirem que ela esteja no estágio operatório-concreto. O aspecto afetivo diz 
respeito à afetividade do sujeito e de sua relação com o aprender, com o desejo 
de aprender, pois o indivíduo pode não conseguir estabelecer um vínculo positivo 
com a aprendizagem. O aspecto social refere-se à relação do sujeito com a família, 
com a sociedade, seu contexto social e cultural. E, portanto, um aluno pode não 
aprender porque apresenta privação cultural em relação ao contexto escolar. Por 
último, o aspecto pedagógico, que está relacionado à forma como a escola organiza 
o seu trabalho, ou seja, o método, a avaliação, os conteúdos, a forma de ministrar 
a aula etc. Para esta autora, a aprendizagem é a constante interação do sujeito 
com o meio. Podemos dizer também que é a constante interação de todos os 
aspectos apresentados. Em contrapartida, a dificuldade de aprendizagem é o não-
funcionamento ou o funcionamentoinsatisfatório de um dos aspectos apresentados 
ou, ainda, de uma relação inadequada entre eles. Uma rede de aspectos não-
satisfatória para a aprendizagem. Da mesma forma que os aspectos relacionados 
podem justificar a dificuldade de aprendizagem, eles podem também servir de 
parâmetro para a organização de uma prática pedagógica eficaz e preventive. 
 
Contribuições e operacionalização das teorias de Piaget e Vygotsky no 
cotidiano escolar 
 
Piaget e o desenvolvimento humano 
Jean Piaget destaca-se ainda atualmente devido à grande contribuição de seus 
estudos para o entendimento do desenvolvimento humano. Entenderemos aqui como 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
desenvolvimento humano o desenvolvimento mental e o crescimento orgânico.Piaget 
demonstrou que a criança tem uma forma própria de ver o mundo e entender o 
que a cerca, e que, em cada faixa etária ou etapa de desenvolvimento, a concepção 
de mundo sofre alterações.Existem alguns fatores que interferem diretamente no 
desenvolvimento humano, como, por exemplo: a hereditariedade – o potencial 
humano também é estabelecido pela sua carga genética. Hoje sabemos que a 
hereditariedade influencia, mas não limita esse potencial. O crescimento orgânico 
também é um outro fator e diz respeito ao desenvolvimento físico da criança e o 
domínio do ambiente que ela passa a ter a partir do crescimento. A maturação 
neurofisiológica garante o desenvolvimento neurológico, e a sofisticação dos 
comportamentos e o meio influenciam na estimulação ambiental. É importante que, 
ao estudar a inteligência humana e a construção do pensamento, não esqueçamos 
que o homem é formado por diversos aspectos, como o físico-motor, o intelectual, o 
afetivo e o social.Piaget divide o desenvolvimento humano em períodos e estabelece 
uma faixa etária para cada um deles. É fato que as faixas etárias aqui 
apresentadas não são rígidas, mas servem de referência para os 
educadores.Período sensório-motor (0 a 2 anos)Como o nome já diz, a criança 
conquista o mundo por meio das sensações e das percepções. A inteligência, nessa 
fase, é prática e se manifesta por intermédio dos movimentos. Não há diferença 
entre o eu e o mundo, e o desenvolvimento muscular garante um domínio maior 
sobre o ambiente.Período pré-operatório (2 a 7 anos)O aparecimento da linguagem 
é a marca deste período e, por meio dela, a criança consegue expressar o seu 
mundo interior. O pensamento evolui por causa do aparecimento da linguagem e a 
realidade é transformada para atender às necessidades da criança. Necessidades do 
mundo simbólico. Nessa fase, a maturação neurofisiológica se completa e a criança 
adquire a coordenação motora. Há um grande interesse por atividades diversificadas 
e surgem os primeiros sentimentos morais.Período das operações concretas (7 a 12 
anos)Neste período, a criança abandona o egocentrismo e será capaz de cooperar 
com os outros, desenvolver trabalhos em grupo e, ao mesmo tempo, adquirir 
autonomia para o trabalho individual. As operações mentais se tornam mais 
sofisticadas e a criança é capaz de estruturar um planejamento para alcançar seus 
objetivos, tanto no plano físico como no plano mental. Surge a relação entre causa 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
e efeito e a noção de número já pode ser construída. O sentimento de grupo e a 
capacidade de cooperação tornam-se fortes e facilitadores do trabalho em sala de 
aula. Período das operações formaisA principal característica é a mudança do 
pensamento concreto para o pensamento abstrato, sendo possível realizar operações 
somente no plano mental. Nesta fase, por exemplo, o aluno já é capaz de 
compreender o conjunto Z dos números inteiros e realizar operações com números 
negativos, pois já existe a possibilidade de um número ser menor que zero. Do ponto 
de vista social, o adolescente interioriza as normas sociais, primeiramente rejeitando-
as para, posteriormente, ocorrer uma adaptação a elas. É uma fase de muita reflexão 
sobre os conceitos sociais e o desejo de transformação. Afetivamente, o adolescente 
vive conflitos indispensáveis à sua constituição adulta. Vygotsky e o desenvolvimento 
humanoVygotsky nos trouxe propostas teóricas inovadoras sobre o pensamento e a 
linguagem. Um conceito importante na sua obra é o fato de as origens das formas 
superiores de comportamento, como a memória, a atenção e o pensamento, para esse 
autor, serem construídas nas relações sociais e não dentro do próprio sujeito. 
Esse homem que se constitui por meio das relações sociais não é um simples 
receptor de informações, mas um sujeito participante de sua história que interage com 
os seus pares.As propostas de Vygotsky foram elaboradas ao lado de Luria e 
Leontiev, e o desenvolvimento da criança compreendido por Luria é composto por três 
aspectos importantes. O aspecto instrumental refere-se à natureza mediadora das 
funções psicológicas complexas. Isso significa que não só respondemos aos 
estímulos do ambiente, mas modificamos esses estímulos e os transformamos em 
instrumentos para o nosso comportamento. Por exemplo, mudar um objeto de 
lugar dentro de casa para lembrar de levar um material importante para o trabalho 
no dia seguin-te. O objeto que foi mudado de lugar estabelece uma mediação 
entre o estímulo, que é o próprio objeto, e o nosso comportamento. O aspecto 
cultural significa o conjunto de códigos que a sociedade cria para a solução de 
tarefas do cotidiano, e cada tarefa traz dentro de si uma série de subtarefas. 
Por exemplo, para tomar café, é necessário antes escovar os dentes. Para 
escovar os dentes, é necessário segurar a escova numa certa posição, colocar o 
creme dental etc. A linguagem é um dos códigos criados pela sociedade e 
indispensável para a humanidade. O aspecto histórico é utilizado para dominar o 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
ambiente social e representa uma mistura do histórico com o cultural, pois todos os 
meios que o homem usa para o domínio do ambiente foram construídos pela 
civilização.Os estudos de Vygotsky se concentraram, principalmente, na 
linguagem e no pen sa mento. Pa ra o autor, a fala pos sui u m de senvolvi mento 
prog res sivo, pois in icialmente a criança mistura a fala com as suas ações, e o objeto, 
o brinquedo, por exemplo, é quem or ient a a conver sa. Poster ior mente, ela utiliz a 
a fala pa ra se comun ica r com os adultos e demonstrar o que está fazendo ou 
querendo. Somente mais tarde é que a fala deixa de ser um i nstr umento do compor 
ta mento e a dquire u m sent ido a mplo.A linguagem é, portanto, um meio de 
construção da cultura e toda ela representa um sistema de signos. Para Vygotsky, 
todo o desenvolvimento ocorre no plano das interações e, por isso, desde bem 
cedinho, quando a criança balbucia, este ato toca o adulto, que devolve com outro 
ato, seja um carinho, uma palavra, que por sua vez realimenta e enriquece o 
repertório da criança. Para Piaget, a linguagem também passa por fases. Quando 
a criança se encontra no período sensório-motor, por exemplo, ela se utiliza do 
monólogo e da ecolalia. No período operatório-concreto, ela transita entre o 
monólogo coletivo e a adaptação da informação que recebe de acordo com o seu 
mundo simbólico. Neste período, já existe um diálogo estruturado e, no período das 
operações formais, os diálogos adquirem formas de discussões, muitas vezes 
ideológicas, já que na adolescência há uma grande preocupação com temas como 
a justiça e a igualdadesocial.Um conceito muito importante da teoria de Vygotsky é o 
de zona proximal. A zona proximal dos nossos alunos não pode ser medida, pois 
representa o desenvolvimento que ainda está por vir. Além disso, cada ser humano 
possui uma zona proximal diferente, pois cada informação, cada contato com a 
realidade e, portanto, cada aprendizagem, altera a nossa zona proximal. Isso 
significa que o professor pode se posicionar perante o aluno considerando que o 
desenvolvimento ainda não aconteceu ou que a aprendizagem ainda está por 
vir.Enquanto Piaget trabalhou com o desenvolvimento retrospectivo, ou seja, o 
desenvolvimento que já ocorreu, Vygotsky considera o desenvolvimento 
prospectivo, que é o desenvolvimento que ainda está por vir. Para Piaget, os 
estágios de desenvolvimento do pensamento existem em qualquer cultura, mais ou 
menos na mesma época, e o que determina o limite de aprendizagem das 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
crianças é a capacidade das estruturas mentais. Para Vygotsky, o cérebro humano 
possui uma característica muito importante que é a plasticidade cerebral. Significa 
que as capacidades de aprendizagem podem ser ampliadas, pois o cérebro é 
plástico e essa capacidade está ligada ao nível de interação social das crianças com 
o meio. A concepção de plasticidade foi muito importante para o trabalho que 
Vygotsky desenvolveu com crianças portadoras de deficiência e seu trabalho 
influenciou muito na atual compreensão de que todos são capazes de aprender.O 
surgimento da fala representa para Piaget o resultado de uma maturação biológica 
e das estruturas cognitivas, sendo um movimento do interior do sujeito para o mundo 
exterior. Para Vygotsky, o surgimento da fala representa que a criança se apropriou 
de mais um aspecto do mundo exterior e o levou para dentro de si, num 
constante processo de interação.Contribuições e operacionalização das teorias de 
Piaget e Vygotsky no cotidiano escolar45 
Em suma, enquanto Piaget enfatiza a maturação, as experiências concretas 
e a equilibração, Vygotsky enfatiza o aspecto interacionista, pois é por meio da 
interação social que os planos mentais superiores são construídos.Operacionalização 
das teorias de Piaget e Vygotsky no ambiente escolarAcredito que nenhuma teoria 
substitui inteiramente outra, pois o trabalho do professor é sempre interdisciplinar 
e pode buscar fundamentação teórica em diversas concepções, ainda que estas 
pareçam antagônicas em alguns momentos. Dessa forma, a teoria de Piaget pode 
enriquecer o trabalho do professor na medida em que traz concepções interessantes 
sobre o processo de aprendizagem, especialmente quando nos apresenta o 
conceito de assimilação e equilibração para a efetivação da aprendizagem.As 
características de cada estágio de desenvolvimento, especialmente como as 
estruturas cognitivas se apresentam em cada um deles, também podem colaborar 
para a construção de um planejamento mais adequado à compreensão infantil, 
principalmente no que diz respeito à seleção de conteúdos.Piaget considera o 
desenvolvimento retrospectivo e, portanto, a postura do professor é em relação ao 
que o aluno já sabe, ao que ele já aprendeu. Trata-se de uma postura de avaliação. 
Avaliar é fundamental para o caminhar do processo pedagógico, mas é importante 
que a avaliação não seja utilizada para rotular o aluno ou para fechar idéias em si 
mesmas. Por exemplo, um professor chega à conclusão de que o aluno não 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
consegue aprender determinados conceitos porque ele se encontra no estágio pré-
operatório quando os conteúdos exigem que ele esteja no período operatório-
concreto. Sim, descobrimos isso, mas o que faremos com essa informação? Se o 
professor vai utilizá-la para promover alternativas de estimulação da aprendizagem, 
então a avaliação e o posterior enquadramento do aluno no estágio pré-operatório foi 
válido. Caso contrário, cairemos na crença da espontaneidade do desenvolvimento. 
Vygotsky valoriza bastante a prática docente e seus estudos são voltados para a 
atuação do professor em sala de aula. Ele esclarece que, se temos 20 alunos em sala, 
temos, então, 20 zonas proximais diferentes, pois cada aluno chega à sala de aula 
com uma história diferente e com um repertório diferente, e a cada informação que o 
professor fornece, a cada proposta de novas experiências, essa zona proximal se 
altera, formando um novo repertório. Logo, o professor não possui nenhum tipo de 
controle sobre a zona proximal de seus alunos. O desenvolvimento, para Vygotsky, é 
prospectivo, por isso, o “não-saber” não existe para este autor. Existe o “ainda não-
saber”, pois o desenvolvimento sempre ainda está por vir. Nesse caso, cada aluno 
tem o seu tempo e o seu ritmo, o que contraria bastante o nosso sistema de 
educação por meio da organização de turmas, o tempo de um ano letivo que 
estipulamos para a aprendizagem do conteúdo da série etc.Vygotsky não acredita 
na espontaneidade. Para ele, a intervenção pedagógica é provocadora do 
desenvolvimento, e se um dos princípios de sua teoria é o interacionismo, a 
aprendizagem não pode ocorrer de dentro para fora e sim de fora para dentro.O 
trabalho em grupo é uma prática valorizada pelo autor, dada a força da interação 
social na sua teoria. Por meio das trocas, o aluno interioriza conceitos e aprende, 
apropriando-se do mundo. O conteúdo possui um papel importante, pois, para 
Vygotsky, a aprendizagem se dá pela mediação entre o homem e o mundo, 
logo, o conteúdo é o mediador entre o eu e o mundo.A partir do princípio da zona 
proximal do desenvolvimento, entendemos que avaliação/padronização seria a 
melhor alternativa dentro dessa teoria, pois cada aluno tem o seu ritmo próprio de 
desenvolvimento. No entanto, o nosso sistema de educação nem sempre permite a 
ausência total de padronizações e o nosso curso pretende, dentre outras coisas, 
aproximar as teorias da realidade do professor. Dessa forma, podemos sugerir a vocês 
que procurem variar na forma de avaliar os alunos e que construam instrumentos 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
individuais e coletivos de verificar a aprendizagem. 
 
Afetividade e aprendizagem: contribuições da teoria do vínculo de 
Pichon-Rivière para as práticas pedagógicas 
 
Omodelo de aprendizagem concebido por Pichon-Rivière é composto por três 
configurações: a pré-tarefa, a tarefa e o projeto. A pré-tarefa é caracterizada pelo 
medo do novo. Esse medo pode ser da indiscriminação, o medo do não-saber, 
que Pichon-Rivière denomina de ansiedade confusional, ou, ainda, a ansiedade 
esquizoparanóide, que é o medo do ataque, e a ansiedade depressiva, que 
representa o medo de perder o que já se sabe e trocar pelo que não se sabe. A 
segunda configuração é a tarefa, mas, ao contrário do que possa sugerir, tarefa para 
Pichon-Rivière não significa trabalho, a tarefa é um processo interno, que vai do 
manifesto ao latente. O projeto é a mudança de atitude para a aprendizagem.Pichon-
Rivière também elaborou a “teoria dos três D”. O que seria? Depositante, depositado 
e depositário. Esta teoria acredita na interação depositante/depositário por meio do 
depositado. O depositante é o cliente, no nosso caso, o aluno; o depositado é o capital 
que, para nós, representa o conteúdo, o conhecimento; e o depositário é o professor. 
A teoria de Pichon-Rivière nos faz concluir que a aprendizagem acontece por meio 
de um processo de interaçãoentre aluno, professor e o conteúdo, e que esta relação 
é permeada de afetividade e conflitos.Para Pichon-Rivière, a cultura do aluno 
influencia bastante, na medida em que pode funcionar como elemento de 
resistência para o aprender. É como se o aluno entrasse em conflito e pensasse 
que, aprendendo, deixará de pertencer a uma determinada cultura e comunidade, pois 
estará se distanciando dos seus iguais.Muito embora os termos citados sejam 
novos para muitos professores, na prática, a maioria de nós já experimentou 
essas situações, sem saber como elas se denominavam, seja na experiência de 
professor ou de aluno. Quem nunca teve medo de aprender? Ou, ainda, quem 
nunca sentiu ansiedade diante de um novo conteúdo, ou diante de uma 
avaliação?Pichon-Rivière, durante o tratamento de pacientes psicóticos, por meio da 
técnica analítica, percebeu que há objetos internos que se articulam em um mundo já 
construído, por meio de um processo de internalização. A partir da indagação 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
analítica, Pichon-Rivière ampliou o conceito de relação de objeto, que mais tarde 
veio a denominar de vínculo. É quando das relações intra-subjetivas, ou estruturas 
vinculares internalizadas, articuladas em um mundo interno, que a aprendizagem 
acontece para o autor.Para a Psicologia Social, nenhuma obra pode ser 
compreendida fora da complexidade das relações sociais, e toda obra cultural é a 
expressão do social em forma de sensibilidade e interpretação. Portanto, para este 
autor, nenhum conhecimento se constrói de forma singular, pois é resultado de uma 
produção social. Os estudos de Pichon-Rivière iniciam-se na Psicanálise e culminam 
na Psicologia Social.A aprendizagem para, Pichon-Rivière, é uma rede de 
contradições, por tudo que é heterogêneo. No grupo operativo, técnica criada 
pelo autor, o sujeito deve ser o autor de sua aprendizagem, por meio da 
apropriação da realidade e de sua identidade construída historicamente e, por isso, 
ao mesmo tempo em que a aprendizagem é um fenômeno psicológico, é também 
social.A técnica do grupo é justificada por ser uma experiência social e um sistema de 
relações que pretende atender às demandas dos seus participantes. Pichon-Rivière 
também possui um conceito muito importante para compreendermos a 
aprendizagem: o ECRO – Esquema Conceitual Referencial e Operativo, que 
representa a orientação para o ato de aprender, as experiências e a afetividade do 
aluno, ou do sujeito como um todo. Portanto, ele é único e não há um ECRO igual ao 
outro. Para que essa aprendizagem se configure, é necessário que haja o vínculo, que 
se define como a estrutura de complexidade que inclui um sujeito, um objeto e a 
relação que ocorre entre ambos. O vínculo pode se tornar patológico quando o 
sujeito perde suas relações com a realidade, que é o caso de doenças como a 
esquizofrenia.A teoria de Pichon-Rivière foi muito utilizada no campo da doença 
mental, mas é interessante que o professor também se aproprie desse 
conhecimento para compreender, por exemplo, como ocorrem as relações familiares 
do aluno, as suas relações com o colega de classe, o tipo de vínculo que ele consegue 
estabelecer na sala de aula, com o professor e com os colegas. Para esse estudioso, 
a família é o grande suporte da sociedade e é a partir dela que a criança se socializa. 
O grupo é o limite que estabelece as tendências afetivas, estéticas etc.O corpo 
biológico funciona como uma dimens ão da mente, na qual estão situados os 
objetos internos, mas não há uma divisão entre as dimensões do homem, pois 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
a única dimensão é a humana. O corpo biológico é o que vai ensinar à criança o limite 
do mundo. A Psicologia Social também contribuiu bastante para a Didática e, 
nesse caso, tem a função principal de modificar a atitude do sujeito. Para este modelo 
de didática, a aprendizagem é a apropriação instrumental da realidade, para 
transformá -la . E, assim, o processo ensino–aprendizagem e professor–aluno 
formam uma única unidade.Um dado importante para nós, professores, é considerar 
que os nossos alunos, ou melhor, todos os seres humanos que estiverem 
freqüentando um grupo, estarão desempenhando papéis grupais. Pichon-Rivière 
ressalta que a técnica do grupo operativo só pode ser aprendida por meio da 
experiência pessoal, da mesma forma que, para ser professor, é preciso ter sido 
aluno, e a tarefa deste grupo é aprender um assunto, utilizando como técnica de 
aprendizagem a interação com todos os componentes.As contribuições de Pichon-
Rivière nos fazem refletir sobre a importância do grupo para a aprendizagem e faz cair 
por terra um modelo antigo de ensino no qual o aluno recebe passivamente o 
conteúdo. Nessa proposta, o aluno torna-se autor do seu próprio conhecimento e o 
que é mais importante: o professor não é o único a ensinar, pois os componentes do 
grupo desempenham papéis, e esses papéis não são fixos.Se observarmos as turmas 
que já passaram por nós, vamos perceber que, em cada uma, havia o aluno que fazia 
o papel do engraçado, o aluno que era o modelo de intelectual, o indisciplinado, não 
é mesmo? Os anos passam, as turmas mudam, mas os papéis permanecem. É como 
se o grupo precisasse de determinadas funções para viver. Porém, nem sempre 
utilizamos o potencial do grupo como convém. Vale a pena sair do plano individual e 
investir num trabalho de grupo que construa um conhecimento de fato socializado.A 
teoria de Pichon-Rivière, especialmente o grupo operativo, foi criada para aplicação 
na área da saúde mental, mas, pela força da didática que nela existe e pela proposta 
educativa, tem sido adaptada pela educação e utilizada como técnica para favorecer 
a aprendizagem, trazer conflitos à tona e, principalmente, transformar alunos em 
sujeitos do seu próprio conhecimento.Mas, afinal, o que é um grupo? Para a 
Psicologia Social, é um conjunto de pessoas ligadas por uma mesma 
representação interna, e que precisam resolver um problema, uma tarefa. Há 
dois tipos de grupos: o primário (a família) e os secundários (que são todos os 
outros). Dessa forma, um conjunto de alunos pode estar na mesma sala de aula e 
 
 
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Psicopedagogia: histórico e fundamentos básicos 
não constituir um grupo, como podem também seus elementos disputarem os papéis 
grupais, como o de líder, por exemplo. Com uma visão renovada de conteúdo, 
entendemos que a matéria a ser ensinada não se resume somente aos estudos da 
Língua Portuguesa ou da Matemática, mas questões sobre ética, indisciplina, 
dilemas, podem fazer parte das aulas dos nossos alunos, a fim de se promover 
uma construção moral mais sólida. Nesse caso, o grupo operativo pode ser um 
grande aliado do professor na construção da moralidade, mas também da 
afetividade.Vimos que Pichon-Rivière apresenta a aprendizagem como um 
fenômeno psicológico e ao mesmo tempo social. Pois bem, podemos dizer que, à 
medida que seus componentes interagem, há também a construção de um vínculo 
afetivo entre os componentes, num processo de transferência e contratransferência. 
Da mesma maneira, cada componente pode agir da mesma forma com a figura 
do professor e o vínculo afetivo positivo se tornar um grande aliado. 
 
Grupos operativos e psicodrama educacional 
O grupo operativo e o psicodrama são recursos pouco usados na educação, 
mas a aplicação dessas técnicas pode trazer muitos benefícios para a 
aprendizagem, principalmente se estivermos atentos

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