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julgado TJDFT - cessão de crédito

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Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS
Órgão 4ª Turma Cível
Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0704687-95.2023.8.07.0003
APELANTE(S) RAFAEL DA SILVA FERREIRA
APELADO(S) ITAPEVA XI MULTICARTEIRA FUNDO DE INVESTIMENTO EM DIREITOS
CREDITORIOS NAO PADRONIZADOS
Relator Desembargador ARNOLDO CAMANHO
Acórdão Nº 1829788
EMENTA
DIREITO CIVIL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CESSÃO DE CRÉDITO. ART. 290, DO CC.
 NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. SUPRIMENTO PELA CITAÇÃO.INSCRIÇÃO EM ORGÃOS DE
 PROTEÇÃO AO CRÉDITO. LEGITIMIDADE. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS.
 1. Em regra, para ter eficácia em relação ao devedor, a cessão de crédito deve ser a ele notificada,
 conforme preceitua o art. 290, do CC. Contudo, a exigência de prévia notificaçãopode ser suprida pela
citação, que acabará cientificando o devedor sobre a cessão de crédito, podendo este, então,
defender-se a tal respeito.
2. Sendo legítima a inclusão do nome do consumidor nos cadastros de inadimplentes, não há de se falar
em indenização por danos morais.
3. Apelo não provido.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 4ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios, ARNOLDO CAMANHO - Relator, MARIO-ZAM BELMIRO - 1º Vogal e
AISTON HENRIQUE DE SOUSA - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador
ARNOLDO CAMANHO, em proferir a seguinte decisão: NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.
UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 15 de Março de 2024
Desembargador ARNOLDO CAMANHO
Presidente e Relator
RELATÓRIO
O Senhor Desembargador ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS - Relator
Cuida-se de recurso de apelação interposto por Rafael da Silva Ferreira contra sentença proferida pela
 MM. Juíza da 3ª Vara Cível de Ceilândia, que julgou improcedentes os pedidos de exclusão do seu
 nome dos cadastros de inadimplentes e de pagamento de indenização por danos morais. Em face da
sucumbência, o autor/apelante foi condenado ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, sendo estes fixados em dez por cento (10%) sobre o valor da causa, cuja exigibilidade
 restou suspensa em razão da gratuidade de justiça.
 Em suas razões, o recorrente alega que seu nome foi indevidamente incluído em cadastro de
 inadimplentes, em razão de débitoobjeto de cessão de crédito, da qual não foi notificado, conforme
 exigido pelo art. 290, do CC. Argumenta que o crédito não pode ser considerado cedidoenquanto não
houver a notificação exigida pelo referido dispositivo legal. Aduz, com isso, que a inscrição de seu
nome em cadastro de inadimplentes foi indevida, já que oriunda de débito cuja cessão foi ineficaz.
Afirma, ainda, que houve falha na prestação de serviço, impondo-se o reconhecimento dodano moral,
que, nesse caso, é presumido, conforme prevê o art. 14, §§ 1º e 3º, incisos I e II, do CDC. Requer o
 provimento do recurso, a fim de que os pedidos sejam julgados totalmente procedentes.
Contrarrazões pugnando pelo não provimento do recurso.
É o relatório.
VOTOS
O Senhor Desembargador ARNOLDO CAMANHO - Relator
 Eis os termos da sentença resistida, in verbis:
“(…)
A cessão de crédito consiste em modalidade contratual pela qual o credor transfere a terceiro os
direitos relativos a uma relação jurídica obrigacional, conforme se depreende do disposto no art. 286
do Código Civil.
Conforme entendimento fixado pela jurisprudência que emana do Superior Tribunal de Justiça, a falta
da notificação da cessão de crédito não torna a dívida inexigível, exceto no caso de ter havido
quitação perante o credor originário.
A respeito disso, confira-se o precedente a seguir:
(...)
A confirmar o entendimento, transcreve-se o acórdão abaixo:
‘AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. EXCESSO DE EXECUÇÃO. FALTA DE INDICAÇÃO DO
DISPOSITIVO LEGAL SUPOSTAMENTE VIOLADO. APLICAÇÃO DA SÚMULA 284/STF.
CESSÃO DE CRÉDITO. AUSÊNCIA DE PRÉVIA NOTIFICAÇÃO DO DEVEDOR. SÚMULA
83/STJ. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 1. A ausência de indicação do dispositivo de lei
federal supostamente violado impede a abertura da instância especial, nos termos da Súmula 284 do
Supremo Tribunal Federal, aplicável, por analogia, nesta Corte Superior. 2. A jurisprudência do STJ
se firmou no sentido de que a ausência de notificação do devedor acerca da cessão do crédito não
torna a dívida inexigível, tampouco impede o novo credor de praticar os atos necessários à
preservação dos direitos cedidos, bem como não exime o devedor da obrigação de arcar com a dívida
contraída. Precedentes. Incidência da Súmula 83 do STJ. 3. Agravo interno a que se nega provimento.
 (AgInt no AREsp n. 2.258.565/SP, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em
 22/5/2023, DJe de 25/5/2023).
A despeito disso, vislumbra-se a existência de entendimento que esposa a tese de que a eficácia do
 negócio jurídico depende da notificação prévia, na forma do art. 290 do C.C.
Nesse sentido:
(...)
Contudo, os precedentes que adotam o entendimento consignam que a citação supre a ciência do
devedor.
Acerca disso, confira-se o julgado a seguir, para exemplificar:
‘AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.
SUCESSÃO PROCESSUAL. CESSÃO DE CRÉDITO. NOTIFICAÇÃO. DESNECESSIDADE.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. A presente hipótese consiste em examinar a possibilidade
de sucessão processual diante da cessão do crédito respectivo, bem como a necessidade de notificação
do devedor que já está a ser demandado judicialmente. 2. A valoração da situação jurídica concreta
indica que há urgência, no caso em exame, cujo exame seria prejudicado, em tese, se fosse postergado
para momento posterior. Assim, deve ser conhecido o presente recurso. 3. A notificação do devedor,
exigida pelo art. 290 do Código Civil, tem como finalidade primordial a cientificação do devedor a
respeito da alteração do sujeito ativo da relação jurídica substancial. Por isso a propositura da
demanda contra o devedor, com a subsequente citação, supre a necessidade de notificação
extrajudicial. 4. No caso em deslinde a cessão de crédito foi devidamente comprovada pelo
cessionário. Além disso o devedor foi demandado por meio do ajuizamento de ação de busca e
apreensão pelo cedente. 4.1. Nesse contexto, basta que o devedor seja intimado, caso ainda não tenha
sido citado, para que se manifesta a respeito do seu assentimento em relação ao requerimento de
sucessão processual, ocasião em que será igualmente suprida a necessidade de notificação
extrajudicial do devedor. 5. Recurso conhecido e provido. (Acórdão 1715915,
07110649120238070000, Relator: ALVARO CIARLINI, 2ª Turma Cível, data de julgamento:
14/6/2023, publicado no DJE: 3/7/2023. Pág.: Sem Página Cadastrada)’.
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De toda sorte, no caso dos autos, a parte requerida demonstrou que houve envio de comunicação ao
requerente a respeito de sua posição de credora, pois houve encaminhamento de notificação do
SERASA ao requerente informando que fora solicitada a inclusão do débito no cadastro de
 inadimplentes, vinculado ao nome do autor. De fato, considerando essas circunstâncias, não há
falar-se em ineficácia do negócio jurídico de cessão de crédito.
Quanto ao mais, o autor não questionou a existência do débito, que, aliás, restou comprovado, sendo
oriundo de dívida contraída em cartão de crédito, conforme documentos que instruem os autos.
A ausência de comprovação do pagamento torna legítima a cobrança, que constitui exercício regular
de direito, situação que afasta a irregularidade do registro negativo e que conduz à improcedência do
pedido.
Dispositivo
Pelas razões expostas, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos formulados, resolvendo o mérito com
fundamento no art. 487, inciso I, do CPC. Face à sucumbência, arcará a parte autora com as custas e
despesas processuais e com os honorários advocatícios, que fixo em 10% sobre o valor atribuído à
causa, suspensa a exigibilidadedas verbas sucumbenciais por ser a parte autora beneficiária da
gratuidade de justiça (CPC, art. 98)”.
Em que pese o art. 290, do CC, condicionar a eficácia da cessão à ciência do devedor, é certo
que tal premissa deve ser conjugada com as consequências ditadas pelo art. 292, do mesmo
Código, relativas ao pagamento feito de boa-fé ao credor cedente.
Assim, o fato de o apelante não ter sido notificado da cessão de crédito não torna indevida a
cobrança realizada pelo apelado, que só teria relevância se tivesse havido a extinção da
obrigação pelo pagamento em favor do cedente.
Logo, se não houve pagamento a quem quer que seja, a ausência de notificação não tem a
envergadura jurídica pretendida pelo recorrente, sendo certo que este egrégio Tribunal de
 Justiça entende que a citação no processo judicial supre o efeito da notificação prévia:
“DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. MONITÓRIA.
PRELIMINARES. ILEGITIMIDADE ATIVA. AFASTADA. INOVAÇÃO RECURSAL.
ACOLHIDA. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
EDUCACIONAIS. PROVA ESCRITA DA DÍVIDA. CESSÃO DE CRÉDITO. ANUÊNCIA
DO DEVEDOR DESNECESSÁRIA. (...) 3. A cessão de crédito independe da anuência do
 devedor para que ocorra a perfectibilização do negócio jurídico, bastando a sua notificação, nos
termos do art. 290 do Código Civil. 4. A citação do devedor na ação monitória ajuizada pelo
cessionário do crédito se revela suficiente para cumprir a exigência de notificação sobre a
cessão de créditos. 5.Apelação parcialmente conhecida e, na parte conhecida, desprovida”
(Acórdão 1427258, 07040246620218070020, Relator: LUCIMEIRE MARIA DA SILVA, 4ª
Turma Cível, data de julgamento: 26/05/2022, publicado no DJE: 10/06/2022. Pág.: Sem Página
Cadastrada).
“APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. PROCESSO CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA. CESSÃO
DE CRÉDITO. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO DO DEVEDOR. ART. 290 DO CÓDIGO
CIVIL. EMENDA. EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. IMPOSSIBILIDADE. 1.
Afasta-se a necessidade de notificação acerca da cessão do crédito, se o devedor está sendo
demandado pelo credor/cessionário (detentor do título), não havendo o risco de pagamento ao
credor primitivo ou a terceiro não legitimado a receber o crédito. 2. No caso concreto, tendo
sido apresentadas as duplicatas, comprovantes de recebimento das mercadorias, notas fiscais e
cessão do crédito, encontra-se suficientemente instruída a inicial da monitória, não sendo
possível sua extinção, sem resolução do mérito. 3. Deu-se provimento ao apelo para cassar a r.
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sentença e determinar o regular prosseguimento do feito” (Acórdão 1332611,
07074907820198070007, Relator: SÉRGIO ROCHA, 4ª Turma Cível, data de julgamento:
08/04/2021, publicado no DJE: 22/04/2021. Pág.: Sem Página Cadastrada).
Por conseguinte, sendo legítima a inclusão do nome do autor nos cadastros de inadimplentes, não há
de se falar em indenização por danos morais.
Dessa forma, nego provimento ao apelo, mantendo na íntegra a sentença recorrida. Atento ao disposto
no art. 85, § 11, do CPC, majoro os honorários advocatícios para doze por cento (12%) do valor da
causa, restando suspensa sua exigibilidade, em razão da concessão da gratuidade de justiça.
É como voto.
O Senhor Desembargador MARIO-ZAM BELMIRO - 1º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador AISTON HENRIQUE DE SOUSA - 2º Vogal
Com o relator
DECISÃO
NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME

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