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AUH 236 - História da urbanização e do urbanismo I [Questões urbanas, as origens da urbanização: povos originários no Brasil] povos originários – cidade – civilização Indicação de leitura: KOPENAWA, Davi e ALBERT, Bruce. “Palavras dadas” e “Desenhos de escrita”. In: A queda do céu. Palavras de um xamã Yanomami. São Paulo: Cia das Letras, 2017, pp.63-79 e 610-12. (sugestão complementar: Prefácio de Eduardo Viveiros; Prólogo e capítulo 10). [objetivo] Desnaturalizar o olhar para a cidade, entendendo-a como uma construção social [percurso] 1. O que é cidade? 2. A cidade é a única e a mais evoluída forma possível de agrupamento humano? 3. O que podemos aprender/refletir com os povos originários (com as cosmologias indígenas) e com aqueles que não vivem em cidades? 1. o que é cidade? são paulo berlin machu pichu chonqing istambul albuquerque moji das cruzes toledo ouro preto atenas maputo caracas macaúbas liverpool limeira palmira brasília cidade estado turística informal provinciana administrativa moderna global mundial verticalizada satélite mineradora terceiromundista dormitório antiga industrial oriental fortaleza de fronteira medieval colonial portuária genérica mega- velha nova planejada cidade civitas derivada do latim civis a civitas é feita de civis [cidadãos] que se reúnem num mesmo lugar, para além de qualquer unidade étnica ou religiosa, organizados sob as mesmas leis civis [cidadão] gera o termo civitas [cidade] > o cidadão engendra a cidade CACCIARI, M., “Polis e civitas: a raiz étnica e o conceito dinâmico de cidade”. In: A cidade. Barcelona: GG, 2010, pp. 9-23 civilização civilis derivado do latim civis significa o que é relativo a um cidadão, à vida pública, adequado a quem vive na cidade civilidade cidadania "Ponto de aglomeração de uma civilização humana onde encontram-se os requisitos essenciais para a convivência entre as pessoas e seu bem-estar". "Onde grupos diferentes se juntam e formam uma comunidade, criando suas casas, famílias e círculos" "Resultado do processo de formação de relações comunitárias em determinado lugar" "Um lugar do espaço onde há uma concentração mais intensa de pessoas quando comparada a seu entorno e no qual ocorre trocas e interações de diversas naturezas, como social, cultural, financeira, educacional" "Local de encontro de um determinado limite, em que há um conjunto de moradias e espaços comuns, onde há a interação dos indivíduos que se inserem nela e que possuem um mesmo sistema de governo" "É um espaço onde as pessoas interagem socialmente entre si e com o ambiente, modificando-o de acordo com suas necessidades e possibilidades" Gordon Childe (1892-1957) O que aconteceu na História (1942) Ana Castro Ana Castro Ana Castro Ana Castro Ana Castro Ana Castro David Wengrow (1972- ) David Graeber (1961-2020) O despertar de tudo: uma nova história da humanidade (2021) 2. A cidade é a única e a mais evoluída forma de agrupamento humano? https://www.youtube.com/watch?v=kWMHiwdbM_Q http://www.youtube.com/watch?v=kWMHiwdbM_Q (...) A burguesia subjugou o país às leis das cidades. Criou cidades enormes; aumentou em grande escala a população urbana, se comparada à rural e, assim, resgatou uma considerável parte da população da idiotia da vida rural. Do mesmo modo como tornou o país dependente das cidades, tornou países bárbaros e semibárbaros dependentes dos países civilizados, nações de camponeses dependentes de nações burguesas, o Oriente dependente do Ocidente”. Karl Marx e Friedrich Engels, O Manifesto Comunista, 1848. Pierre Clastres (1934-1977) A sociedade contra o Estado (1974 - a partir de artigos publicados desde 1962) "O etnocentrismo media todo o olhar sobre as diferenças, para identificá-las e em seguida aboli-las." Pierre Clastres, Sociedade contra o Estado, [1974] 2003, p. 32 "Descobrimos no próprio espírito de nossa civilização, e co-extensiva a sua história, a vizinhança da violência e da Razão, com a segunda não chegando a estabelecer seu reino a não ser através da primeira. A Razão ocidental remete à violência como à sua condição e ao seu meio, pois tudo aquilo que não é ela própria encontra-se em “estado de pecado”; e cai então no campo insuportável do desatino. E é segundo essa dupla face do Ocidente, sua face completa, que deve se articular a questão de sua relação com as culturas primitivas." Pierre Clastres, Sociedade contra o Estado, [1974] 2003, p. 24 3. O que podemos aprender com os povos originários, com aqueles que não vivem em cidades? cidadania florestania Fotografias de Claudia Andujar Região do Catrimani, em Roraima (entre 1971 e 1977) ANDUJAR, C. A luta yanomami. Catálogo da Exposição (Org. Thyago Nogueira). São Paulo: IMS, 2018 Fotografias de Claudia Andujar da série Marcados, 1981/1983 ANDUJAR, C. A luta yanomami. Catálogo da Exposição (Org. Thyago Nogueira). São Paulo: IMS, 2018 A queda do céu: palavras de um xamã yanomami (2010) Davi Kopenawa Yanomami (1956- ) Bruce Albert (1952- ) Bibliografia da aula: ANDUJAR, C. A luta yanomami. Catálogo da Exposição (Org. Thyago Nogueira). São Paulo: IMS, 2018 CACCIARI, M., “Polis e civitas: a raiz étnica e o conceito dinâmico de cidade”. In: A cidade. Barcelona: GG, 2010, pp. 9-23 CHILDE, G., O que aconteceu na História. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1966 CLASTRES, P., A sociedade contra o Estado. São Paulo: CosacNaify, 2010 GRAEBER, D. e WENGROW, D., O despertar de tudo: uma nova história da humanidade. São Paulo: Cia das Letras, 2021 KOPENAWA, D. e ALBERT, B., A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Cia das Letras, 2010 SZTUTMAN, R. Introdução: Pensar com Pierre Clastres ou da atualidade do contra-Estado. Revista de Antropologia, 54 (2), 2012 (Disponível em: https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2011.39639) https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2011.39639 Robert PARK, A cidade (1915) A cidade é “um estado de espírito, um corpo de costumes e tradições e dos sentimentos e atitudes organizados, inerentes a esses costumes e transmitidos por essa tradição”. Louis WIRTH, Urbanismo como forma de vida (1938) “(...) uma cidade pode ser definida como um núcleo relativamente grande, denso e permanente, de indivíduos socialmente heterogêneos”. Lewis MUMFORD, A cultura das cidades (1938) “A cidade é a forma e o símbolo de um conjunto integrado de relações sociais: é a sede do templo, do mercado, da corte de justiça, da academia de ensino”. “A cidade (...) é o ponto de máxima concentração do vigor e da cultura de uma comunidade”. • fixação de pessoas em um sítio (sedentarização) • especialização de funções (heterogeneidade/ estratificação) • dependência do campo (funções urbanas/ comércio) cidade Em 2050, 70% da população humana – em torno de 10 bilhões de pessoas – viverá em centros urbanos, muitos deles abrigando dezenas de milhões de habitantes. No Brasil, 85% da população já vive em área urbana. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2015 A cidade é artefato, coisa complexa, fabricada, historicamente produzida. [...]. Espaços, estruturas, objetos, equipamentos, arranjos gerais, etc., todavia, foram produzidos por forças que não é possível excluir do entendimento: forças econômicas, territoriais, especulativas, políticas, sociais, culturais, em tensão constante num jogo de variáveis que é preciso acompanhar. Em última instância, o artefato é sempre produto e vetor deste campo de forças nas suas configurações dominantes e nas práticas que ele pressupõe. Mas, além de artefato, coisa material produzida pelas práticas sociais e por toda a atuação de um complexo campo de forças, a cidade é também representação. [...] O conceito de representações sociais dá conta da complexidade da imagem (imaginário, imaginação), sendo igualmente capaz de incorporaroutros ingredientes, como conhecimento imediato, esquemas de inteligibilidade, classificações, memória, ideologia, valores, expectativas, etc. MENESES, Ulpiano Bezerra de. Morfologia das cidades brasileiras: introdução ao estudo histórico da iconografia urbana. Revista USP, São Paulo, n. 30, p. 144-155, 1996, p. 149.