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CBI of Miami 2 DIREITOS AUTORAIS Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre o mesmo estão reservados. Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais. CBI of Miami 3 Controle de Estímulos Lucelmo Lacerda Esse é um tema dos mais complicados dentro da Análise do Comportamento e aqui vamos fazer uma abordagem bem inicial, mas que irá perpassar por todo nosso curso, que é como os estímulos dos ambientes agem de diferentes maneiras para controlar o comportamento dos seres humanos. Apesar de “controle de estímulos” ser um termo abrangente que, por si, só, poderia indicar relações consequentes e antecedentes, o termo normalmente é utilizado para falarmos das relações antecedentes à emissão da resposta, limites que também respeitaremos nesta discussão abreviada aqui. Mas é claro que não podemos começar de outra forma que não com uma definição do que se trata, afinal, o tal do estímulo. Esta expressão é utilizada no senso comum para designar alguma coisa como alguma fala ou recompensa para que algum comportamento aconteça, neste caso dizemos que a pessoa foi “estimulada” a fazer algo. Mas em uma percepção analítico-comportamental, estímulo é uma mudança física do ambiente, percebida por algum sentido de um organismo. Esta mudança física pode ter variada natureza, pode ser na iluminação, percebida pelos órgãos do sentido da visão, pode ser uma mudança vibratória do ar, percebido pelos órgãos do sentido a que chamamos de audição, pode ser uma mudança da físico-química de algum aspecto do corpo, ocorrendo dentro da pele, percebido pela propriocepção (posição de um membro, por exemplo) ou nocicepção (dor, por exemplo). Tudo isso são estímulos do ambiente, mas só são considerados como estímulos que compõem uma contingência se esta mudança de fato exerce algum tipo de controle sobre um certo comportamento e não necessariamente somente por existir e ser percebido pelos sentidos. Por exemplo, digamos que eu esteja no alto de uma montanha e lá eu emita o comportamento de falar sobre o vento frio. A mudança do ar de um lado para o outro, que me permite sentir na pele uma certa sensação, a troca de calor entre meu corpo e este ar, a visão e audição de uma outra pessoa CBI of Miami 4 com quem subi a montanha são estímulos seguramente controladores de meu comportamento, mas uma nuvem específica ou a visão de uma moita específica também foram percebidos por minha visão, daí que eu tenha emitido o comportamento de vê-los, no entanto, em uma análise de meu comportamento de dizer “Esse ventinho aqui esfriou hein?” não tem essa visão como estímulo. Bom, dito tudo isso, nós já vimos nos capítulos anteriores de nossos encontros que o comportamento tem 3 termos, os antecedentes (A), a resposta em si (B) e as consequências que o mantém (C), mas agora nós falaremos mais dedicadamente de um termo que vocês já ouviram muito falar, mas de maneira ainda pouco explicativa, o Estímulo Discriminativo, que é um dos principais componentes dos antecedentes, junto com as Operações Motivacionais, que também falaremos por agora. O Estímulo Discriminativo utiliza a sigla vinda das palavras que o compõem em inglês, Discriminative Stimulus, daí que temos o tal Sd, assim, com o S maiúsculo e o d minúsculo. Esse termo diz respeito a algum estímulo do ambiente que sinaliza para o organismo que, se ele se comportar naquele momento, então seu comportamento terá alta probabilidade de reforçamento. Não se preocupe, muitos exemplos virão pela frente neste humilde textinho (sim, esse recadinho sinaliza para você que continuar lendo, seu comportamento, terá alta probabilidade de reforçamento - supondo que compreender o tema seja reforçador para você), então não pare por aqui. Imagine um bebê, que vamos chamar aqui de Lulu, explorando um ambiente, que pode ser a sala ou seu próprio quarto, o que faz ele passar a mão na parede? Lamber o chão? Pegar em tudo? Os antecedentes são genéricos, inespecíficos, ele vê as superfícies com as quais não possui qualquer história comportamental e “vai experimentando”, entre estes comportamentos, alguns possuem consequências vantajosas para ele e são reforçados enquanto outros não possuem consequência alguma e têm uma probabilidade reduzida de se repetirem e outros ainda têm consequências desvantajosas para o organismo sendo, portanto, punidos, isto é, passam a ter uma probabilidade ainda mais reduzida. CBI of Miami 5 Suponhamos o seguinte, que o pai, Sr. João, esteja próximo a Lulu, mas engajado no celular, ainda que esteja, digamos assim, com um olho no peixe e outro no gato, olhando de quando em vez para esta criança. Em um certo momento da brincadeira, o bebê coloca o dedo na tomada, quando o Sr. João dá um pulo do sofá e bloqueia o comportamento de Lulu, pegando-a no colo e a depositando em outro lado da sala, bem longe da tomada. Neste momento este cuidador pega um brinquedo e apresenta ao bebê, mostrando como se brinca, quando Lulu se engaja na nova brincadeira, o Sr. João fica mais tranquilo e se retira novamente rumo a seu celular. É claro que este bebê poderia estar saciado de atenção, que poderia ter recebido um pouco antes, mas para nossa hipótese ficar bem redonda, digamos que não seja o caso, Lulu estava, na verdade, bem privada de atenção e antes de ser colocada no chão, Sr. João pouco interagiu com ela, pois estava e casa, mas trabalhando em Home Office, precisando estar atento ao celular. Então convenhamos que o comportamento que Lulu emitiu que produziu a atenção do Sr. João, colocar o dedo na tomada, muito provavelmente terá sua probabilidade aumentada, justamente porque produziu aquilo que o bebê mais tinha necessidade daquele momento, a atenção do cuidador. Podemos dizer que o comportamento de colocar o dedo na tomada muito provavelmente foi reforçado, mas só iremos ter certeza disso se medirmos o comportamento e ele aumentar de probabilidade de ocorrência. Continuamos observando e, voilá, de fato o comportamento ocorreu mais e mais, Sr. João teve pouco sossego dali para frente. Lulu realmente aprendeu a colocar o dedo na tomada porque este comportamento produz um reforçador poderoso demais, a atenção do Sr. João, seu tão querido pai. Mas este comportamento, é preciso dizer, não ocorre tendo um pensamento prévio de planejamento, Lulu não disse a si mesma, dentro da pele “Sabe do que mais, vou ficar colocando o dedo na tomada e aí o papai vai largar o celular e me dará atenção!”, lembre-se, Lulu é uma bebezinha e ainda está longe do desenvolvimento desta linguagem e sabemos que este tipo de relação de reforçamento acontece mesmo em organismos que não desenvolvem linguagem e até organismos que não possuem cérebro. CBI of Miami 6 O comportamento de Lulu não acontece, neste começo, diante de algum aspecto específico do ambiente. Como dito, os antecedentes são inespecíficos. Mas, porém, contudo, todavia, no entanto, Lulu passa a colocar o dedo na tomada também em outros contextos. Quando o Sr. João vaiao banheiro e Lulu coloca o dedo na tomada, nada acontece. Quando o Sr. João vai atender a uma ligação e fazer algum comando simultâneo no computador, não adianta Lulu colocar o dedo na tomada, nada acontece também (a pressuposição é que não haja choque, claro), de modo que Lulu, mesmo pequenina, mesmo ainda sem linguagem, aprende uma coisa nova e passa a se comportar de modo diferente, esta aprendizagem chama-se Discriminação, este organismo fofinho e que dá vontade de apertar passa a discriminar que: Diante do papai, o comportamento de colocar o dedo na tomada tem alta probabilidade de produzir o reforçamento e, por sua vez, na ausência do papai, o comportamento de colocar o dedo na tomada tem baixa probabilidade de produzir o reforçamento. Não se engane, pelamor, deixe-me explicar bem, não estamos dizendo que Lulu coloca a mão no queixo, faz ar de inteligente e diz algo como “Ahhhh, agora entendi, na ausência do papai não adianta eu colocar o dedo na tomada, isso seria estúpido porque é super reduzida a probabilidade de que ele me interrompa de dê atenção, isto tem muito mais alta probabilidade de ocorrer se ele estiver no ambiente e puder ver o que eu faço. Não contavam com minha astúcia!”, isto seria impossível para um bebê, na verdade, o que sabemos muito claramente, porque nos é possível observar e mensurar, é que Lulu passa a: Emitir muito mais vezes o comportamento diante do pai. Não emitir o comportamento ou emiti-lo com muito menos probabilidade na ausência do pai. Neste momento, dizemos que o comportamento operante de Lulu, que ocorria diante de antecedentes inespecíficos, o que chamamos de Operante Livre, deixou de sê-lo e passou a ser um comportamento que passou a ocorrer diante de estímulos antecedentes específicos (a visão do pai no ambiente), ou seja, o que antes era um Operante Livre agora não é mais, ele se tornou um Operante Discriminado. Agora, qualquer análise comportamental que vá CBI of Miami 7 examinar a contingência em que o comportamento ocorre vai apontar algo como: Em privação de atenção (Operação Motivacional Estabelecedora) e diante do pai (Estímulo Discriminativo – Sd) (A), Lulu emite o comportamento de colocar o dedo na tomada (B), que é consequenciado com a adição da atenção do pai ao ambiente (C) que, em momento de privação, sacia a Operação Motivadora, sendo altamente vantajoso para o organismo (a fofinha Lulu), fazendo com que o comportamento aumente de probabilidade (Reforço Positivo). A relação oposta também é verdadeira, em certo momento Lulu vê o pai longe, sentado em frente ao computador, por exemplo, este estímulo (ausência do papai) é chamado de Estímulo Delta, representado pelo símbolo Δ, somado à sigla de Stimulus, formando o SΔ, que sinaliza que o comportamento, caso emitido, não será reforçado. Neste caso, sabemos que Lulu ainda não tem uma linguagem elaborada, nem na relação com outras pessoas, através da fala ou troca de cartões, nem dentro da pele, pensando consigo mesma, daí que sabemos que a discriminação não precisa, necessariamente de uma formulação verbal que a acompanhe e mesmo quando o indivíduo é plenamente verbal, ele pode fazer certas coisas em certas circunstâncias, isto é, ter comportamentos discriminados, que ele não conhece os estímulos discriminativos, isto é, não consegue descrever quais são os antecedentes específicos que o controlam. Nossos comportamentos quase sempre são controlados por Estímulos Discriminativos (Sd), o que torna nossa vida possível. Eu estou neste momento de escrita, teclando no computador e olhando as palavras se formando na tela, o que é Sd para eu escrever a próxima palavra e a próxima e a próxima. Se eu vir a tela ficar preta, ou ainda, aquela maldita tela azul que vira e mexe os computadores apresentam antes de reiniciarem do nada (aparentemente reforçados só por a gente ficar com raiva). Então, se eu vir a tela preta ou azul, isso é Estímulo Delta (SΔ) para eu me comportar, então eu paro de escrever, porque de nada adiantaria, não vai ter reforçamento algum. Escrever no computador é, portanto, um Operante Discriminado para mim, como organismo. CBI of Miami 8 Mas veja, os Estímulos Discriminativos não se trata de um 8 ou 80, eu poderia ver as palavras se formando na tela e depois o computador não salvar, eu vou chamar aqui então o Sd (ver as palavras no word na tela) de Sd1, enquanto se eu vir, do lado superior esquerdo do software a marcação “Salvamento Automático” (que aprendi a discriminar à custa da perda de muitos documentos) é um Estímulo Discriminativo diante do qual a probabilidade de reforçamento de meu comportamento é muito maior, o que posso chamar aqui de Sd2, por exemplo. Ou seja, o valor discriminativo de um certo estímulo pode variar, daí que tenha que ser avaliado segundo seu poder específico de evocar o comportamento quando a motivação esteja presente. Voltemos ao exemplo de Lulu, ela pode aprender, no decorrer do tempo, que a presença do papai no sofá da sala é Sd para seu comportamento de colocar o dedo na tomada, mas que se ele estiver olhando para ela, a probabilidade é quase de 100%, daí que esse cenário perfeito seja altamente capaz de evocar o comportamento dela, mas se ele estiver no zapzap, então pode ser que ele ainda acuda, mas a probabilidade disso ocorrer já diminui bastante, daí que a probabilidade de que a visão do Sr. João empolgado no zapzap, postando figurinhas iradas (a saber, aluninhos queridos, eu estou a par de todas as figurinhas que me têm como personagem – e adoro a maioria), tenha menor probabilidade de evocar o comportamento de nossa fofinha de colocar o dedo na tomada. Ou seja, os Estímulos são discriminativos em certa gradação, que pode ser extremamente variável. Além disso, é claro, que pode haver não somente um estímulo discriminativo no ambiente, mas uma série deles, que podem exercer o controle sobre o comportamento. Por exemplo, um belo dia alguém pode ter colocado do lado da cama um violão, que neste caso é o primeiro Sd, que posso representar com um número ou com uma letra, como Sd a, Sd b, Sd c, ou Sd 1, Sd 2, Sd 3 e diante deste violão Sd a e de um pedido para tocar uma música Sd b e da cifra que abri na internet Sd c, então eu poderia tocá-la com alta probabilidade de reforçamento. CBI of Miami 9 Vamos dar alguns exemplos do dia a dia de Estímulos Discriminativos: Antecedente Resposta Consequência Estímulo Discriminativo Uma pessoa que já está no elevador quando você entra faz contato visual. Falar “Bom dia” Outra pessoa diz “Bom dia” Terapeuta toca o nariz com a mão direita (Sd 1) e diz “Faz igual” (Sd 2) Tocar o nariz com o dedo Terapeuta diz “Muito bem!” e dá uma ficha Semáforo verde Acelero o carro Evito acidente e multa Uma tela no celular, com a foto de um cantor que aprecio (Sd 1), o nome de uma música que gosto e não ouço há muito tempo (Sd 2) e um símbolo de um triângulo com a ponta para a direita (Sd 3) e escrito “play” (Sd 4) Toco com o dedo em cima do triângulo Ouço a música que me é agradável Professora escreve na lousa (mais 10 minutos para terminar a atividade) Aluno grita e chora É retirado da sala e se livra da lição aversiva Diante da porta da academia (Sd 1) Entro e faço atividades físicas Acesso a sensações prazerosas na estimulação muscular e social
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