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93 A HISTÓRIA DO CURSO DE PEDAGOGIA E OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

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A HISTÓRIA DO CURSO DE PEDAGOGIA E OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO 
PROFISSIONAL 
Entre as décadas de 1930 e 1960, os estudos pedagógicos em nível superior 
no Brasil, tanto em instituições públicas quanto privadas, geralmente progrediram de 
forma lenta e irregular. Isso deve, em grande parte, ao fato de que a educação é um 
dos setores da sociedade mais afetados pela resistência aos processos de mudança. 
Além disso, essa área de conhecimento muitas vezes é desvalorizada. 
No campo educacional, há uma crença equivocada de que a teoria difere da 
prática, como se fossem realidades separadas. Buscando superar esse conceito 
simplista, a análise da práxis educacional revela a importância do objeto deste estudo: 
o curso de pedagogia como agente formador de profissionais da educação. A literatura 
educacional aborda a formação de profissionais da educação com diversos objetivos 
e abordagens. No entanto, a revisão dessa literatura, iniciada nos anos 80, evidencia 
a necessidade contínua de analisar a evolução do curso de pedagogia. 
A origem do curso de pedagogia remonta aos cursos pós-normais ministrados 
nas antigas Escolas Normais. Sua formalização como curso ocorreu em 1939, quando 
foi regulamentado para se adequar ao "padrão federal" a formação de professores 
instituídos pelas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras criadas em 1931 pelo 
Estatuto das Universidades Brasileiras. 
Compreender as origens do curso de pedagogia abre espaço para uma 
investigação mais profunda: sua evolução ao longo do tempo. Nesse sentido, foram 
analisados debates, reflexões e decisões que moldaram as tendências na formação 
de profissionais da educação. Desde 1978, os educadores têm se mobilizado em 
resposta às Indicações do Conselho Federal de Educação (CFE) de 1975/1976, que, 
na percepção desses profissionais, ameaçavam a existência do curso de pedagogia. 
Do ponto de vista político, durante a "abertura democrática" na década de 1980, 
os educadores nutriram a esperança de uma transformação política e social essencial 
para a sociedade brasileira. Impulsionados pela consciência coletiva, iniciaram uma 
luta pela valorização do magistério, buscando resgatar um profissionalismo que havia 
sido prejudicado pelo utilitarismo das políticas educacionais. 
Do ponto de vista didático-pedagógico, os educadores, com uma certa 
engenhosidade típica da época, almejavam apresentar uma proposta nacional para a 
reformulação curricular do curso de pedagogia. Esta proposta, construída de forma 
colaborativa pelos participantes do movimento, visava impedir o interesse do 
Conselho Federal de Educação (CFE). O objetivo era conferir ao curso de pedagogia 
um caráter científico, acadêmico, político, técnico e pedagógico, levando em conta as 
diferentes experiências regionais e locais. Além disso, era fundamental garantir a 
autonomia das instituições de ensino superior na definição dos currículos dos seus 
cursos. 
Entretanto, os objetivos do movimento foram se expandindo, pois a 
reformulação do curso de pedagogia não poderia ser realizada sem abranger todas 
as licenciaturas. A própria trajetória do Movimento Nacional evidenciou a necessidade 
de estabelecer diretrizes para uma política abrangente de formação dos profissionais 
da educação, diretrizes estas baseadas na concepção de educador delineadas pelo 
próprio Movimento Nacional e nos princípios que o fundamentaram. 
Em meio à resistência ao autoritarismo, diversos segmentos sociais se 
mobilizaram assim que o cenário político apresentou sinais mínimos de “abertura”. O 
Movimento Nacional de Educadores, ao liderar ações para reformular os currículos 
dos cursos de formação de profissionais da educação, se insere entre os movimentos 
sociais promovidos pela sociedade civil. 
No final da década de 1970, uma das preocupações dos educadores brasileiros 
envolvidos na formação de profissionais da educação era uma possível reformulação 
ou até mesmo a extinção do curso de pedagogia, que mais uma vez enfrentava críticas 
à sua identidade. Essas críticas surgiram com a divulgação, em 1976, da Indicação 
de VALNIR CHAGAS, do Conselho Federal de Educação (CFE), que propunha a 
eliminação do curso de pedagogia e, consequentemente, da profissão de pedagogo. 
O principal articulador da Pedagogia Nova no Brasil foi ANÍSIO 
TEIXEIRA, discípulo de Dewey. Essas concepções de Teixeira reforçaram o papel 
social da educação escolar, exacerbando-se a crença de que seria possível reformar 
a sociedade pela reforma do homem. À escola atribuiu-se o papel de transformar a 
sociedade, e a escolarização passou a ser interpretada como o mais decisivo 
instrumento de aceleração histórica. 
Entre as reformas empreendidas situam-se as que abrangeram o 
aperfeiçoamento de professores vislumbrando a elevação dos estudos pedagógicos 
ao nível superior por iniciativa do poder público. 
“Pelo decreto nº 4.888/1931, instituiu-se o curso de 
aperfeiçoamento para o preparo técnico 
de inspetores, delegados de ensino, diretores e 
professores da Escola Normal. Na verdade, desse 
curso pós-normal, instalado no Instituto Pedagógico 
como um substituto provisório para uma futura 
escola superior de estudos pedagógicos, quando 
houvesse condições para tanto”. (ANTUNHA 1974, 
p. l00). 
 
O curso de pedagogia, como substância da Faculdade de Educação, teve sua 
finalidade e sua duração prescritas pelo Parecer 252/1969. Quanto à finalidade, como 
já foi enfatizado, é a de preparar profissionais da educação. Sua duração mínima é de 
2.200 horas distribuídas em no mínimo três e no máximo sete anos letivos. A estrutura 
curricular é composta por duas partes. A primeira, comum, é constituída pelas 
seguintes matérias: sociologia geral, sociologia da educação, psicologia da educação, 
história da educação, filosofia da educação e didática. A segunda parte, diversificada 
e propriamente profissionalizante. 
Para Chagas, (1962), à medida que o homem comum pretendesse aumentar 
sua escolarização, não se conformando com os níveis primários, a elevação dos 
níveis de formação do professor ocorreria pressionada por interesses da 
sociedade. Assim definido, o currículo mínimo visava manter uma unidade básica 
de conteúdos aplicável como critério para transferências de alunos, em todo 
o território nacional. 
Mudanças estruturais no curso de pedagogia 
No início dos anos 60, ocorreram debates intensos no meio universitário, com 
a participação de estudantes, professores e dirigentes universitários, sobre os 
rumores da educação brasileira, especialmente em relação à reforma universitária. 
Simultaneamente a estas discussões, os órgãos oficiais começaram a elaborar uma 
nova legislação educacional que deveria refletir esses debates. No entanto, essa 
legislação acabou sendo fundamentada nas definições político-econômicas derivadas 
do modelo econômico brasileiro que se consolidou ao longo da década de 1960. 
O intervalo 1960-1964 foi marcado pela eficaz preparação de técnicos, entre 
esses os da educação, objetivando atender ao apelo do modelo desenvolvimentista. 
Embora caiba discordância quanto à ideologia subjacente ao “modelo” de formação 
constituído como reflexo da política planificada do 
modelo desenvolvimentista ambíguo (Ianni 1986, passim) é preciso reconhecer que 
o treinamento de técnicos em larga escala foi muito eficiente aos propósitos do modelo 
econômico. A adoção dessa política de treinamento em massa visava compartilhar de 
transformações das forças produtivas para dinamizar a economia. É a etapa do 
capitalismo brasileiro dedicada aos investimentos em educação alicerçados no ideário 
tecnicista. Esses investimentos deflagraram uma política de desenvolvimento de 
recursos humanos, informada, notadamente, pelos aportes teóricos das teorias do 
capital humano. 
Na década de 70, essa política foi intensificada com o objetivo de moldar um 
indivíduo comum mais capacitado. Esse indivíduo tornou-se um personagemdemandado pelo sistema de produção capitalista, caracterizado pela divisão social do 
trabalho, que fragmentava as tarefas. Por sua vez, o sistema capitalista exigia uma 
mão de obra mais comprometida, predominantemente voltada para gerar lucro em vez 
de satisfação das necessidades humanas. 
Nesse contexto, a escola passou a formar profissionais treinados e equipados 
por meio de um conhecimento fragmentado, buscando aumentar a produtividade. Ao 
mesmo tempo, qualquer oportunidade de reflexão, crítica ou criatividade foi negada. 
Assim, houve uma supervalorização dos cursos universitários apenas para formar 
técnicos. 
Darcy Ribeiro projetou a Universidade de Brasília – UnB (1961), que nasceu na 
nova capital do Brasil, como uma universidade nova, planificada para promover a 
renovação do ensino superior brasileiro. O planejamento da Universidade de Brasília 
foi orientado pelos pressupostos do planejamento racional, modernizado e integrativo. 
O modelo da UnB é atribuído pelo seu próprio criador à equipe de cientistas da 
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC. O modelo originário da 
UnB foi fortemente influenciado pela estrutura organizacional do projeto da UDF de 
Anísio Teixeira, balizado pela típica organização das universidades norte-americanas 
compostas por departamentos reunidos em institutos e faculdades. 
É preciso destacar que a Faculdade de Educação da UnB foi a primeira 
iniciativa renovadora da década de 1960, que ocuparia o lugar do projeto de 
Faculdade de Educação de Anísio Teixeira, dos anos 30. 
O especialista em educação 
Antes de 1964, a sociedade brasileira testemunhou a consolidação do modelo 
econômico urbano/industrial. A classe burguesa, que antes defendia o aumento do 
consumo e a autonomia nacional da indústria, aderiu à tendência de 
internacionalização do mercado interno. Isso resultou em uma partilha dos lucros 
gerados pelo emprego da tecnologia moderna e pelo congelamento da volatilidade 
das classes populares entre a classe burguesa e as multinacionais. Enquanto isso, a 
classe trabalhadora enfrentou diretamente as consequências da inflação, o que levou 
a uma demanda por melhorias salariais e uma maior participação política. 
Por outro lado, a classe detentora do capital lutava para promover o processo 
de acumulação de capital, evoluindo para a expansão da economia em consonância 
com seus interesses. 
A Lei 5.540/1968 provocou mudanças nos cursos de formação de professores 
e em consequência na Faculdade de Educação, à qual conferia a função de formar 
técnicos denominados especialistas [27] em educação. A concepção de Faculdade de 
Educação, a definição de seus princípios e finalidades, bem como seus conteúdos 
específicos foram exaustivamente debatidos nas comissões do CFE nomeadas para 
pesquisar sobre o tema.

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