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A HISTÓRIA DO CURSO DE PEDAGOGIA E OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL Entre as décadas de 1930 e 1960, os estudos pedagógicos em nível superior no Brasil, tanto em instituições públicas quanto privadas, geralmente progrediram de forma lenta e irregular. Isso deve, em grande parte, ao fato de que a educação é um dos setores da sociedade mais afetados pela resistência aos processos de mudança. Além disso, essa área de conhecimento muitas vezes é desvalorizada. No campo educacional, há uma crença equivocada de que a teoria difere da prática, como se fossem realidades separadas. Buscando superar esse conceito simplista, a análise da práxis educacional revela a importância do objeto deste estudo: o curso de pedagogia como agente formador de profissionais da educação. A literatura educacional aborda a formação de profissionais da educação com diversos objetivos e abordagens. No entanto, a revisão dessa literatura, iniciada nos anos 80, evidencia a necessidade contínua de analisar a evolução do curso de pedagogia. A origem do curso de pedagogia remonta aos cursos pós-normais ministrados nas antigas Escolas Normais. Sua formalização como curso ocorreu em 1939, quando foi regulamentado para se adequar ao "padrão federal" a formação de professores instituídos pelas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras criadas em 1931 pelo Estatuto das Universidades Brasileiras. Compreender as origens do curso de pedagogia abre espaço para uma investigação mais profunda: sua evolução ao longo do tempo. Nesse sentido, foram analisados debates, reflexões e decisões que moldaram as tendências na formação de profissionais da educação. Desde 1978, os educadores têm se mobilizado em resposta às Indicações do Conselho Federal de Educação (CFE) de 1975/1976, que, na percepção desses profissionais, ameaçavam a existência do curso de pedagogia. Do ponto de vista político, durante a "abertura democrática" na década de 1980, os educadores nutriram a esperança de uma transformação política e social essencial para a sociedade brasileira. Impulsionados pela consciência coletiva, iniciaram uma luta pela valorização do magistério, buscando resgatar um profissionalismo que havia sido prejudicado pelo utilitarismo das políticas educacionais. Do ponto de vista didático-pedagógico, os educadores, com uma certa engenhosidade típica da época, almejavam apresentar uma proposta nacional para a reformulação curricular do curso de pedagogia. Esta proposta, construída de forma colaborativa pelos participantes do movimento, visava impedir o interesse do Conselho Federal de Educação (CFE). O objetivo era conferir ao curso de pedagogia um caráter científico, acadêmico, político, técnico e pedagógico, levando em conta as diferentes experiências regionais e locais. Além disso, era fundamental garantir a autonomia das instituições de ensino superior na definição dos currículos dos seus cursos. Entretanto, os objetivos do movimento foram se expandindo, pois a reformulação do curso de pedagogia não poderia ser realizada sem abranger todas as licenciaturas. A própria trajetória do Movimento Nacional evidenciou a necessidade de estabelecer diretrizes para uma política abrangente de formação dos profissionais da educação, diretrizes estas baseadas na concepção de educador delineadas pelo próprio Movimento Nacional e nos princípios que o fundamentaram. Em meio à resistência ao autoritarismo, diversos segmentos sociais se mobilizaram assim que o cenário político apresentou sinais mínimos de “abertura”. O Movimento Nacional de Educadores, ao liderar ações para reformular os currículos dos cursos de formação de profissionais da educação, se insere entre os movimentos sociais promovidos pela sociedade civil. No final da década de 1970, uma das preocupações dos educadores brasileiros envolvidos na formação de profissionais da educação era uma possível reformulação ou até mesmo a extinção do curso de pedagogia, que mais uma vez enfrentava críticas à sua identidade. Essas críticas surgiram com a divulgação, em 1976, da Indicação de VALNIR CHAGAS, do Conselho Federal de Educação (CFE), que propunha a eliminação do curso de pedagogia e, consequentemente, da profissão de pedagogo. O principal articulador da Pedagogia Nova no Brasil foi ANÍSIO TEIXEIRA, discípulo de Dewey. Essas concepções de Teixeira reforçaram o papel social da educação escolar, exacerbando-se a crença de que seria possível reformar a sociedade pela reforma do homem. À escola atribuiu-se o papel de transformar a sociedade, e a escolarização passou a ser interpretada como o mais decisivo instrumento de aceleração histórica. Entre as reformas empreendidas situam-se as que abrangeram o aperfeiçoamento de professores vislumbrando a elevação dos estudos pedagógicos ao nível superior por iniciativa do poder público. “Pelo decreto nº 4.888/1931, instituiu-se o curso de aperfeiçoamento para o preparo técnico de inspetores, delegados de ensino, diretores e professores da Escola Normal. Na verdade, desse curso pós-normal, instalado no Instituto Pedagógico como um substituto provisório para uma futura escola superior de estudos pedagógicos, quando houvesse condições para tanto”. (ANTUNHA 1974, p. l00). O curso de pedagogia, como substância da Faculdade de Educação, teve sua finalidade e sua duração prescritas pelo Parecer 252/1969. Quanto à finalidade, como já foi enfatizado, é a de preparar profissionais da educação. Sua duração mínima é de 2.200 horas distribuídas em no mínimo três e no máximo sete anos letivos. A estrutura curricular é composta por duas partes. A primeira, comum, é constituída pelas seguintes matérias: sociologia geral, sociologia da educação, psicologia da educação, história da educação, filosofia da educação e didática. A segunda parte, diversificada e propriamente profissionalizante. Para Chagas, (1962), à medida que o homem comum pretendesse aumentar sua escolarização, não se conformando com os níveis primários, a elevação dos níveis de formação do professor ocorreria pressionada por interesses da sociedade. Assim definido, o currículo mínimo visava manter uma unidade básica de conteúdos aplicável como critério para transferências de alunos, em todo o território nacional. Mudanças estruturais no curso de pedagogia No início dos anos 60, ocorreram debates intensos no meio universitário, com a participação de estudantes, professores e dirigentes universitários, sobre os rumores da educação brasileira, especialmente em relação à reforma universitária. Simultaneamente a estas discussões, os órgãos oficiais começaram a elaborar uma nova legislação educacional que deveria refletir esses debates. No entanto, essa legislação acabou sendo fundamentada nas definições político-econômicas derivadas do modelo econômico brasileiro que se consolidou ao longo da década de 1960. O intervalo 1960-1964 foi marcado pela eficaz preparação de técnicos, entre esses os da educação, objetivando atender ao apelo do modelo desenvolvimentista. Embora caiba discordância quanto à ideologia subjacente ao “modelo” de formação constituído como reflexo da política planificada do modelo desenvolvimentista ambíguo (Ianni 1986, passim) é preciso reconhecer que o treinamento de técnicos em larga escala foi muito eficiente aos propósitos do modelo econômico. A adoção dessa política de treinamento em massa visava compartilhar de transformações das forças produtivas para dinamizar a economia. É a etapa do capitalismo brasileiro dedicada aos investimentos em educação alicerçados no ideário tecnicista. Esses investimentos deflagraram uma política de desenvolvimento de recursos humanos, informada, notadamente, pelos aportes teóricos das teorias do capital humano. Na década de 70, essa política foi intensificada com o objetivo de moldar um indivíduo comum mais capacitado. Esse indivíduo tornou-se um personagemdemandado pelo sistema de produção capitalista, caracterizado pela divisão social do trabalho, que fragmentava as tarefas. Por sua vez, o sistema capitalista exigia uma mão de obra mais comprometida, predominantemente voltada para gerar lucro em vez de satisfação das necessidades humanas. Nesse contexto, a escola passou a formar profissionais treinados e equipados por meio de um conhecimento fragmentado, buscando aumentar a produtividade. Ao mesmo tempo, qualquer oportunidade de reflexão, crítica ou criatividade foi negada. Assim, houve uma supervalorização dos cursos universitários apenas para formar técnicos. Darcy Ribeiro projetou a Universidade de Brasília – UnB (1961), que nasceu na nova capital do Brasil, como uma universidade nova, planificada para promover a renovação do ensino superior brasileiro. O planejamento da Universidade de Brasília foi orientado pelos pressupostos do planejamento racional, modernizado e integrativo. O modelo da UnB é atribuído pelo seu próprio criador à equipe de cientistas da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC. O modelo originário da UnB foi fortemente influenciado pela estrutura organizacional do projeto da UDF de Anísio Teixeira, balizado pela típica organização das universidades norte-americanas compostas por departamentos reunidos em institutos e faculdades. É preciso destacar que a Faculdade de Educação da UnB foi a primeira iniciativa renovadora da década de 1960, que ocuparia o lugar do projeto de Faculdade de Educação de Anísio Teixeira, dos anos 30. O especialista em educação Antes de 1964, a sociedade brasileira testemunhou a consolidação do modelo econômico urbano/industrial. A classe burguesa, que antes defendia o aumento do consumo e a autonomia nacional da indústria, aderiu à tendência de internacionalização do mercado interno. Isso resultou em uma partilha dos lucros gerados pelo emprego da tecnologia moderna e pelo congelamento da volatilidade das classes populares entre a classe burguesa e as multinacionais. Enquanto isso, a classe trabalhadora enfrentou diretamente as consequências da inflação, o que levou a uma demanda por melhorias salariais e uma maior participação política. Por outro lado, a classe detentora do capital lutava para promover o processo de acumulação de capital, evoluindo para a expansão da economia em consonância com seus interesses. A Lei 5.540/1968 provocou mudanças nos cursos de formação de professores e em consequência na Faculdade de Educação, à qual conferia a função de formar técnicos denominados especialistas [27] em educação. A concepção de Faculdade de Educação, a definição de seus princípios e finalidades, bem como seus conteúdos específicos foram exaustivamente debatidos nas comissões do CFE nomeadas para pesquisar sobre o tema.
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