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apostila Jacqueline Mila Tirotti - Perita em Documentoscopia Reginaldo Tirotti – Perito em Ciências Forenses TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Sumário 1 HISTÓRICO E CONCEITUAÇÃO................................................................................................ 3 1.1 Breve histórico da escrita ............................................................................................... 3 1.2 Conceitos Importantes ................................................................................................... 6 2 MÉTODOS GRAFOSCÓPICOS .................................................................................................. 8 2.1 Métodos Morfológico ..................................................................................................... 8 2.2 Método Grafológico ....................................................................................................... 8 2.3 Método Grafométrico..................................................................................................... 9 2.4 Método Sinalético .......................................................................................................... 9 2.5 Método Grafocinético ...................................................................................................10 2.6 Pontos importantes .......................................................................................................11 3 LEIS DA ESCRITA ..............................................................................................................12 4 - ANÁLISE DE GRAFISMOS .....................................................................................................16 4.1 Aspecto Grafocinético e Morfológico .............................................................................16 4.1.1. INSTRUMENTOS GRÁFICOS E TRAÇADOS ...............................................................17 4.1.1.1 Penas ...............................................................................................................17 4.1.1.2 Esferográficas...................................................................................................18 4.1.1.3 Hidrográficas ....................................................................................................19 4.1.1.4 Lápis ................................................................................................................19 4.1.2 GRAFOCINÉTICA......................................................................................................19 4.1.2.1 Velocidade .......................................................................................................20 4.1.2.2 Estrias e Esquírolas ...........................................................................................20 4.1.2.3 Sucessão de movimentos .................................................................................21 4.1.3 MORFOLOGIA GRÁFICA...........................................................................................23 4.1.3.1 Diferenças formais ...........................................................................................23 4.1.3.2 Grama ..............................................................................................................23 4.1.3.3 Letra ................................................................................................................25 4.1.3.4 Ataque e Remate .............................................................................................26 4.1.3.5 Linhas de Impulso, Traços Ornamentais e Cetras ..............................................29 4.1.3.6 Polimorfismos Gráficos ....................................................................................31 4.1.3.7 Escritas correntes, Assinaturas e Rubricas ........................................................31 4.2 QUALIDADES DO GRAFISMO ..........................................................................................32 4.2.1 EOGs Subjetivos ......................................................................................................33 Ritmo ..........................................................................................................................33 Dinamismo ..................................................................................................................33 Velocidade...................................................................................................................34 Habilidade ...................................................................................................................36 4.2.2EOGs Objetivos ........................................................................................................37 Trajetória.....................................................................................................................37 Idiografismos ...............................................................................................................37 Espontaneidade ...........................................................................................................38 Andamento gráfico ......................................................................................................38 Alinhamento ................................................................................................................38 Espaçamentos gráficos ................................................................................................40 Inclinação axial ............................................................................................................42 Proporcionalidade .......................................................................................................43 Calibre .........................................................................................................................44 Pressão ........................................................................................................................46 Gladiolagem ................................................................................................................47 Tendência de punho ....................................................................................................49 5 IDENTIFICAÇÃO GRÁFICA ......................................................................................................51 5.1 Classificação das escritas ...............................................................................................51 5.1.1 Grafismos naturais ..................................................................................................51 5.1.2 Grafismos disfarçados .............................................................................................54 5.1.3 Grafismos imitados .................................................................................................54 6- INDÍCIOS DE AUTENTICIDADE E FALSIDADE .....................................................................56 7- AÇÕES FRAUDULENTAS: Espécies de autenticidade e falsificação ....................................58 7.1 Autofalsificação .............................................................................................................58 7.2 Falsificação por imitação servil ......................................................................................59 7.3 Falsificação de memória ................................................................................................60 7.4 Falsificação sem imitação ..............................................................................................61 7.5 Falsificações por decalque .............................................................................................62 8- EXAMES E PROCEDIMENTO .............................................................................................63 8.1 Paradigmas ....................................................................................................................638.2 Objetivo do Exame ........................................................................................................64 8.2.1. Autenticidade/falsidade .........................................................................................64 8.2.2 Autoria ...................................................................................................................65 8.3 Diferenças entre disfarce e simulação ............................................................................66 8.4 Observações importantes ..............................................................................................67 9 CONCLUSÃO .........................................................................................................................69 BIBLIOGRAFIA .........................................................................................................................71 1 HISTÓRICO E CONCEITUAÇÃO O aspecto histórico vem para demonstrar a evolução, as descobertas e os alfabetos desde o início da escrita até os dias atuais, enriquecendo a sabedoria do leitor, somada aos conceitos necessários para a compreensão dos demais capítulos. 1.1 Breve histórico da escrita A escrita apareceu junto às primeiras civilizações no momento em que a organização social se tornou complexa, sendo impossível transmitir conhecimentos apenas pela tradição oral. Como aprendizado de qualquer criança do mundo antes de saber ler e escrever, ela aprende a contar, assim, os homens inventaram a escrita para poder contar melhor e reter conhecimento. A humanidade viveu durante um longo período sem a escrita, sua origem remonta a um passado relativamente recente em relação a história da humanidade. A espécie de escrita figurada foi chamada de pictografia (do latim pictus significa pintado e do grego grafe significa descrição). Cenas de caçadas, objetos de uso, animais, e acidentes da natureza foram retratados durante alguns milênios nas rochas das primeiras habitações humanas. Assim, a técnica de desenhar o que se via, ou coisas que lhe sucediam, o homem passou a se comunicar por meio de tais ideias, o sol, não significava apenas o astro, mas também a posição, claridade, dia ou ainda luz, calor. Este tipo de linguagem é denominada ideográfica. Esse tipo de escrita é encontrado em povos primitivos, pois com o passar do tempo, cresceu a necessidade de aumentar o número de desenhos para melhor comunicação, assim os homens descobriram que poderiam formular frases, usando os símbolos chamados IDEOGRAMAS. E assim, o homem começou a criar sinais, que não representavam mais uma ideia, mas, um som, e dessa forma foram evoluindo para a escrita pictórica pura. Estes sons podiam ter qualquer forma, não havendo necessidade de quaisquer ligações entre suas formas externas, assim nasceu a escrita FONÉTICA. Os povos, em várias partes do mundo foram evoluindo e abolindo os ideogramas, de modo transforma-los em silábicos puros. Posteriormente surgiu a escrita alfabética, que assumiu tal importância nesses últimos 3.000 anos, embora seja subdivisão da fonética, mereceu ser estudada separadamente. Inicialmente haviam dois alfabetos: O Cuneiforme e o Hieróglifo. A escrita cuneiforme, criada pelos sumérios por volta de 3500 a.C., sendo a designação geral dada a certos tipos de escrita feitas com auxílio de objetos em formato de cunha. Inicialmente a escrita representava formas do mundo (pictogramas), mas por praticidade as formas foram se tornando mais simples e abstratas. O Hieróglifo ou hieróglifo são os sinais da escrita de antigas civilizações, tais como os egípcios, os hititas, e os maias. Tal escrita se popularizou graças a utilização de tal linguagem em Papiro, que foi utilizada por muitos séculos. Por muito tempo permaneceu incógnita. Em 1799, homens sob o comando de Napoleão Bonaparte enquanto cruzavam a região de Roseta, Egito, descobriram o texto da Pedra de Roseta, do Antigo Egito escrito em hieróglifos, grego e demótico egípcio em um grande bloco de granito. Esse texto foi fundamental para a interpretação dos hieróglifos atualmente, foi compreendido pela primeira vez por Jean François Champollion em 1822 e por Thomas Young em 1823, comparando a versão em hieróglifos com a em grego, sendo que ambos eram profundos conhecedores da língua grega. Surgiram os fenícios, povo de origem semítica que se estabeleceu na costa oriental do mediterrâneo. Os fenícios precisavam ser compreendidos, assim modificaram, disciplinaram e simplificaram o alfabeto hebraico, criando o seu alfabeto. Deram conhecimento ao mundo de vinte e dois sinais, através dos quais, ao longo do tempo, deu origem ao nosso abecedário. Os gregos, após o desaparecimento da Fenícia, aperfeiçoaram o alfabeto e, em meados do Século IV a.C., ele já estava completo. Quando Roma começou a se expandir, a Grécia já estava em declínio. No ano de 496, houve o início da conquista da península e já em 200 a 130 a.C., Roma dominava o Oriente e incorporava a Grécia, tomando também o alfabeto grego através dos colonos. Pouco tempo depois o Alfabeto Romano conquistava o mundo e inicialmente compunha-se de 16 letras. Posteriormente, foram somando-se as letras G, H, J, Q, V, X, Y e Z 1. O português e outras línguas neolatinas adotaram o alfabeto romano, bem como o inglês, turco, entre outras. Atualmente existem cinco alfabetos, todos derivados do alfabeto grego e latino. O Grego (na Grécia), Cirílico (em países eslavos), Gaelino (na 1 CAVALCANTI, A. e LIRA, E. Grafoscopia essencial. Porto alegre: Sagra - Luzato, 1996. P. 17. Irlanda), o Latino (nos diversos países de língua latina entre outros) e o gótico (na Alemanha)2. 1.2 Conceitos Importantes O conceito tradicional da Grafoscopia está relacionado com os estudos criminalísticos, apontando como finalidade da disciplina a verificação da autenticidade ou falsidade documental, bem como, a determinação de sua autoria. O conceito de Grafoscopia, segundo Gomide3 “é a disciplina que tem por finalidade determinar a origem do documento gráfico” Assim, o documento gráfico é o objeto da disciplina, devendo ser estudada a verificação de autoria ou a existência de suposta fraude. Ademais, o conceito de documento para Gomide4 “é o suporte que contém um registro gráfico”. Os suportes mais usuais são os papeis, pergaminhos, tecidos, plásticos entre outros materiais. Objetos ou superfícies utilizadas para a fixação de inscrições. Quanto aos registros gráficos, o que se destaca é a escrita, sendo a mais importante e conceituada pelo respeitável Gomide “o registro gráfico contendo elementos técnicos mínimos para a determinação de sua origem”. A escrita pode ser direta ou indireta, conforme seu tipo de formação: - Diretas ou grafismos são as provenientes diretamente do homem, através de gestos. - Indiretas ou impressões são aquelas produzidas através de processos artificiais. 2 Idem, p. 21. 3 GOMIDE, L. e GOMIDE, T. L. F.. Grafoscopia – Estudos. São Paulo: Editora Oliveira Mendes, 1997. p. 1. 4 Idem, p. 2 Quanto aos tipos de grafismos são: - Rubricas - Assinaturas - Escritas cursivas - Escritas em letras de forma - Pictografias - Criptografias Assim, com os conceitos básicos em mente, começaremos o estudo da Grafoscopia. 2 MÉTODOS GRAFOSCÓPICOS Ao longo dos anos, a perícia grafoscópica utilizou diversos métodos para examinar a escrita. Alguns métodos, por ineficiência, foram deixados para trás enquanto outros perduraram até os dias atuais. Assim, iniciaremos nosso estudo do método mais antigo ao mais atual, sempre apontando os prós e contras da sua utilização. 2.1 Métodos Morfológico Também chamado de homológico de comparação formalou método de Bertillon, consistia na apreciação de convergências e divergências dos elementos de ordem puramente formal, além de semelhanças no feitio das letras, mediante a comparação de letra por letra. Assim, havendo analogias, as escritas provavelmente teriam saído do mesmo punho. Se predominassem divergências, a conclusão seria, obrigatoriamente, contrária. Historicamente, deste método resultaram graves erros judiciais, relatado como mais importante o caso de Dreyfus, que era oficial do exército francês e foi falsamente acusado de passar informações militares para os alemães). 2.2 Método Grafológico Enquanto o método morfológico só observava as formas, o método grafológico, dava mais a tenção às características subjetivas do grafismo, calcado no estudo dos símbolos. Deste método surgiram duas escolas: A francesa, chefiada por Crepieux-Jasmin e a Alemã de Ludwirges Klages. A escola francesa, segundo diversos critérios como dimensão, direção, forma, ordem, pressão, continuidade, velocidade, entre outros. Objetivava buscar por “signos” reveladores das qualidades morais, intelectuais e artísticas do escritor. Com base nesses signos, atingia-se a identificação gráfica. Vale lembrar que na escola alemã os “grafismos-tipp” são, por assim dizer, subordinados às diferentes classes de “ritmos gráficos” e os signos substituídos pelo movimento de concentração e relaxamento musculares, assim revelando se identificaria o escritor revelando suas qualidades temperamentais. 2.3 Método Grafométrico Este método foi criado por Edmond Locard, Perito Francês, autor do tratado sobre criminalística. Ele procurou se fundamentar nas observações iniciadas por Langebruch que ensinava a variabilidade da escrita em todas as suas características, permanecendo constante na proporcionalidade de seus gramas. Isto é, na Grafometria a maior preocupação gira em torno das grandezas da escrita, o estudo do calibre das letras, com o fundamento no pressuposto de que não variam as características da proporcionalidade. Porém, o próprio Locard reconheceu que o método requer a coleta de textos de extensão razoável e é impraticável no exame de assinaturas5. 2.4 Método Sinalético Este método teve como fundador o italiano Ottolengui que simplesmente procurou melhorar o método de Bertillon. 5 DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PICCHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: “da falsidade documental”. 2. Ed. rev., ampl. E atual. - São Paulo: Editora Pillares, 2005. P.206 Assim, de posse de padrões de confronto, deveria o técnico analisa- los convenientemente, partido do geral para o particular, procurando individualizar os valores da escrita, para depois pesquisa-los na peça questionada. Este método teve poucos seguidores, posto que ignora a verdade de que a escrita reúne no documento elementos qualitativos identificados e integrados, que se vincula aos elementos quantitativos de reciprocidade compreensível e naturalmente fundamental6. 2.5 Método Grafocinético Este método não é embasado em características isoladas, pelo contrário, considera todos os elementos gráficos de qualquer natureza, dando-lhes valor consoante e raciocínio pericial. O método Grafocinético ou morfocinético, estabelecido em 1927 por Edmond Solange Pellat em seu livro “Les lois de l'écriture”, formulando o que denominou de leis da escrita – mais a frente aprofundaremos nas leis da escrita. Antes de iniciar a perícia, confrontação entre peça questionada e padrões de confronto, o perito deve estar ciente da finalidade do seu trabalho, se objetiva a confirmação da autenticidade ou caso não seja autêntico, de quem seria a autoria da falsificação. Conforme Cavalcante e Lira7, neste método é dada atenção especial ,aos movimentos que dão origem ao gesto gráfico, que é o grafocinetismo, objetivando verificar: 6 DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PICCHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: “da falsidade documental”. 2. Ed. rev., ampl. E atual. - São Paulo: Editora Pillares, 2005. P.339 7 CAVALCANTI, A. e LIRA, E. Grafoscopia essencial. Porto alegre: Sagra - Luzato, 1996.P. 68 1) Como se formam os traços; 2) Quais os hábitos de movimentação do escritor; 3) Quais são as causas determinantes dos impulsos, ênfases e anomalias do gesto gráfico. O exame necessita ser procedido sob o critério racional, derivado de profundo estudo das diversas maneiras de produção gráfico. 2.6 Pontos importantes Há uma distinção importante entre GRAFOLOGIA e GRAFOSCOPIA. A Grafologia se refere a ciência que estuda as características da personalidade do homem por meio de seu grafismo, muito utilizada na área de recursos humanos, posto que é um exame rápido (muitas vezes por meio de ditado) objetivando conhecer a personalidade do indivíduo e não há a possibilidade de simulações. Assim, o método Grafológico não é utilizado para exames de apuração quanto a autenticidade ou falsidade. A Grafologia não se confunde com Grafoscopia ou Grafotecnia, como sabemos a grafologia está voltada ao estudo da personalidade, já a Grafoscopia ou Grafotecnia é o estudo do punho escritor, objetivando conhecer a autoria de certo grafismo por meio do Método Grafocinético, atualmente o método utilizado para tal exame. Sem mais delongas, passemos para o próximo capítulo, onde começaremos a estudar afundo a GRAFOSCOPIA, por meio do método Grafocinético. 3 LEIS DA ESCRITA Primeiramente, importante ressaltar que as leis da escrita independem dos alfabetos utilizados. Após esse breve aviso, iniciemos o estudo das 4 Leis da escrita retiradas do livro “Les lois de l'écriture” do perito francês Edmond Solange Pellat. 1ª Lei da escrita: “O gesto gráfico está sob a influência imediata do cérebro. Sua forma não é modificada pelo órgão escritor se este funciona normalmente e se encontra suficientemente adaptado à sua função”. O cérebro humano é o gerador do gesto gráfico, onde nasce a imagem das letras e demais símbolos utilizados na escrita, assim, desde que o mecanismo muscular esteja convenientemente adaptado à sua função, haverá produção escrita sempre com as mesmas e idênticas peculiaridades. Após a Segunda Grande Guerra Mundial, observou-se que pessoas cujas mãos ou cujos braços haviam sido amputados e que desenvolveram a habilidade de escrever segurando o lápis ou a caneta com outro órgão, como, por exemplo, a boca ou o pé, mantiveram as mesmas características individualizadas da sua escrita pelo punho escritor, conforme é farta a literatura a este respeito, provada pela casuística pericial Desta forma, o indivíduo com punho escritor destro, que escreve com a mão direita, se, por exemplo, passar a fazê-lo com a mão esquerda, canhota, após sucessivos treinamentos, apresentará escrita com idênticas características Grafocinéticas. A situação dos loucos é outro exemplo, em seus acessos não conseguem escrever, porém voltam a fazê-lo nos momentos de lucidez, essa é a maior evidência da premissa da primeira lei de Solange Pellat. O cérebro que comanda o sistema motor composto por ossos, músculos e nervos, cuja tonicidade e controle varia de pessoa para pessoa, sendo desta forma, portanto, o ato de escrever um gesto humano, que se origina no cérebro. Robert Saudek, grafologista tcheco, que fundou a sociedade de grafologia profissional na Holanda, publicou "Grafologia Experimental", em 1929, e examinando a velocidade de escrita. Pelo uso de microscópio, paquímetro, placa de pressão, régua, transferidor e imagens em câmera lenta, relatou que “ninguém é capaz de imitar, ao mesmo tempo, estes cinco elementos do grafismo: riqueza e variedade de formas, dimensão, enlaces, inclinaçãoe pressão”. Em 1930, foi constatado por Jules Crepieux-Jamin, médico francês, em “ABC de la Graphologie” (PUF 1930), “ABC da Grafologia” que “nenhuma escrita é idêntica a outra. Cada indivíduo possui uma escrita característica, que se diferencia das demais e que é possível reconhecer". Assim, constata-se que como não existem duas pessoas com cérebro idêntico ou com idênticos músculos, ossos e nervos, também não existem duas pessoas com idêntica escrita. A doutrina explica que para produzir o grafismo, o ser humano passa por três fases8: 1) Evocação; 2) Ideação; 3) Execução. A evocação é a busca de informações, imagens, sons ou emoções dentro da memória/cérebro. É a imagem gráfica (morfológica). A ideação é a fase na qual o escritor, após ter evocado a ideia, põe em funcionamento a sua criatividade, acrescentando à simbologia sua característica individual (gênese). A execução é a emissão da ordem do cérebro para que o órgão que porta o instrumento escritor execute os movimentos sobre o papel ou documento, já evocados e ideados (cinetismo). A primeira fase é a base e provém do cérebro. 8 CAVALCANTI, A. e LIRA, E. Grafoscopia essencial. Porto alegre: Sagra - Luzato, 1996.p. 32 2ª Lei da escrita: “Quando se escreve, o "eu" está em ação, mas o sentimento quase inconsciente de que o "eu" age passa por alternativas contínuas de intensidade e de enfraquecimento. Ele está no seu máximo de intensidade onde existe um esforço a fazer, isto é, nos inícios, e no seu mínimo de intensidade onde o movimento escritural é secundado pelo impulso adquirido, isto é, nas extremidades”. O enunciado desta segunda lei se aplica aos casos de anonimografia, onde o esforço inicial dos disfarces é muito mais acentuado, perdendo sua intensidade à medida que a escrita vai progredindo, pois o punho escritor nunca conseguirá mascarar o seu verdadeiro “eu” por muito tempo, denunciando-se em certo momento. O mesmo pode ocorrer nos casos de falsificação, demonstrando a importância de um exame mais atento nos fins dos lançamentos, onde os maneirismos gráficos ocorrerão com mais frequência. 3ª Lei da escrita: “Não se pode modificar voluntariamente em um dado momento sua escrita natural senão introduzindo no seu traçado a própria marca do esforço que foi feito para obter a modificação”. Na prática essa lei tem aplicação usualmente nos casos de autofalsificação, podendo ocorrer em outras simulações. Em qualquer deles, o simulador se trairá através de paradas súbitas, desvios, quebras e mudanças abruptas de direção ou interrupções, sobreposições da escrita, cabendo ao técnico em Grafotecnia interpretar convenientemente essas particularidades. 4º Lei de Escrita: "O escritor que age em circunstâncias em que o ato de escrever é particularmente difícil, traça instintivamente ou as formas de letras que lhe são mais costumeiras, ou as formas de letras mais simples, de um esquema fácil de ser construído”. Há casos em que se torna difícil ou penoso escrever, como em escritas produzidas em circunstâncias desfavoráveis, posições desfavoráveis, tais como em veículos em movimento ou deitado em uma cama, em suportes inadequados, como em madeiras e paredes, por pessoas enfermas, por exemplo, ou em situações que demandem extrema urgência, quando prevalecerá a “lei do mínimo esforço”, resultando em simplificações, abreviaturas, letras de forma ou esquemas pouco usuais, buscando abreviar os lançamentos. Esta lei explica também a Lei do menor esforço, simplificação ocorrida quando é necessário o lançamento de diversas assinaturas em um curto período de tempo, por exemplo, diversos cheques pré-datados para pagar a anuidade de um curso. 4 - ANÁLISE DE GRAFISMOS O capítulo objetiva conhecer o grafismo em todos os seus aspectos e, para melhor compreensão, será dividido em dois subcapítulos: primeiramente aspectos Grafocinético e Morfológico, e posteriormente, Qualidades do Grafismo. O primeiro subcapítulo tratará do estudo constitutivo dos traços, para a compreensão sobre os instrumentos gráficos (são os instrumentos que podemos escrever) e principalmente, desvendar como saber a trajetória. Ademais, no segundo subcapítulo observaremos as qualidades ou características do grafismo, a finalidade é conhecer do grafismo, saber suas variantes e suas diferenças. 4.1 Aspecto Grafocinético e Morfológico A escrita é produzida por duas forças básicas: uma vertical ou oblíqua, pressionando o instrumento escritor (lápis, caneta, usualmente) contra o suporte (geralmente papel) e outra horizontal (deslocamento), arrastando o instrumento escritor, sobre o suporte, em movimentos retilíneos ou circulares. Os vetores dessas forças (intensidade, direção e sentido) dependerão muito das características pessoais. Não há como explicar sobre grafocinética, sem antes adentrar nos instrumentos gráficos. Cada instrumento gráfico se comporta de uma maneira, sendo importante conhece-los. Na morfologia conheceremos das diferenças formais: gramas, letras entre outras características de igual importancia. 4.1.1. INSTRUMENTOS GRÁFICOS E TRAÇADOS Nesse subtítulo, vamos desvendar todos os aspectos constitutivos do traço, então primeiramente, vislumbraremos com o que podemos escrever, quais são os INSTRUMENTOS GRÁFICOS: a) Penas; b) Esferográficas; c) Hidrográficas; d) Lápis; e) Giz; f) Carvão ou outros materiais improvisados. No livro trataremos apenas dos instrumentos gráficos mais prováveis de acorrerem em um documento. 4.1.1.1 Penas As penas podem ser: a.1) Penas comuns a) Metálicas a.2) Penas de caneta tinteiro ou simplesmente, caneta tinteiro b) De pato c) De Cana As penas comuns ou de aço, ainda que constituídas de ligas metálicas, são aquelas adaptáveis às canetas. Existem milhares de espécies com variações de tamanhos, formatos, tipos de bicos e marcas dos fabricantes. As penas de bico fino exigem a leveza do punho para lançamentos de grafismos rápidos. As penas de pato e de cana, não são muito utilizadas no Brasil, sendo usada apenas por alguns povos, principalmente na índia. Ocorre que muitos grafotécnicos e documentólogos insurgem contra, pois facilita o trabalho dos falsificadores, por ter em seu traçado muito comumente, falhas e deficiências, suscetíveis de serem confundidas com anormalidades provocadas pelas reproduções fraudulentas9. Não aprofundaremos nesse tópico pois esse tipo de instrumento escritor, atualmente é pouco utilizado no Brasil. PARA SABER MAIS: Não aprofundarei neste livro pelo fato de tal instrumento estar em desuso, mas, para os leitores que queiram se aprofundar no tema, indico o livro do renomado perito Celso M.R. Del Picchia, Tratado de Documentoscopia – Da falsidade documental. 4.1.1.2 Esferográficas Seu traçado não possui sulcagem e os traços resultam de movimento de rotação da pequena esfera que se impregna da massa colorida, existente no depósito. A esferográfica somente transfere a massa corante para o suporte quando sua esfera se atrita com o mesmo. Apenas com a rotação da esfera é permitida a fixação dos traços. - ESFEROGRÁFICAS À TINTA Esse tipo de esferográfica geralmente denominadas como “floating- ball” ou “roller-ball” possui o mesmo sistema da esferográfica comum, porém comporta cargas fluídas, líquidas, e muitas vezes esfera de cerâmica (ao invés da metálica das esferográficas comuns). Algumas características diferenciadoras são fluxos mais intensos e sem bolas de tinta ou borrões concentrados, podendo haver esquírolas eventualmente. Uma característica visível é o fato de, muitas vezes, o traçado sofrer “engordamento” ou espraiamentos alongados. 9 DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PICCHIA,A. M. G. Tratado de Documentoscopia: “da falsidade documental”. 2. Ed. rev., ampl. E atual. - São Paulo: Editora Pillares, 2005. P.162 4.1.1.3 Hidrográficas Também denominadas de pontas porosas ou bico de nylon. Uma das grandes desvantagens está na facilidade com que permitem lavagens, as quais em regra não são visíveis nem mesmo ao ultravioleta. E, por conta da ausência de sulcos ou depressões, as operações de supressão podem ser realizadas sendo dificultada a sua detecção10. 4.1.1.4 Lápis Na escrita a lápis não existem sulcagens, mas apenas o sulco deixado pela pressão que se denomina “foulage”. 4.1.2 GRAFOCINÉTICA Por sua vez, após aprendermos sobre os instrumentos escritores e seus traços, aprenderemos a fazer a análise grafocinética, com a finalidade de desvendar os hábitos de movimentação do escritor e, ainda, de suma importância, as causas determinadoras dos impulsos, ênfases e anomalias do gesto gráfico. Nesse sentido, analisaremos a formação dos traços com caneta ESFEROGRÁFICA. Observa-se a intensidade do traçado para descobrir sua velocidade, e após, podemos detectar o sentido por meio das estrias e esquírolas. Após descobrir o sentido, importante também descobrir a sucessão dos movimentos. Assim, estudaremos cada um nos subcapítulos abaixo. 10 DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PICCHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: “da falsidade documental”. 2. Ed. rev., ampl. E atual. - São Paulo: Editora Pillares, 2005. P.168 4.1.2.1 Velocidade No grafismo, muitas vezes, observa-se a mudança de intensidade de cor claro/escuro, isso denota alternâncias naturais de pressão e velocidade, fixando diferenças entre movimentos ALIOCÊNTRICOS (mais leves e rápidos) e EGOCÊNTRICOS (mais pressionados e lentos)11. 4.1.2.2 Estrias e Esquírolas Após conhecer da velocidade, observa-se outras peculiaridades das esferográficas, as quais muitas vezes denominamos de falhas. Serão fundamentais para a definição correta do sentido, aclarando a formação ou gênese gráfica. Essa falha, pode decorrer da própria esquirola. A esquírola resulta na descarga excessiva de massa, até a carga do bulbo se acomodar, geralmente presente nos cotovelos, vértices horizontais/laterais, evidentemente, onde estiver a esquírola estará o segundo traço. 11 DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PICCHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: “da falsidade documental”. 2. Ed. rev., ampl. E atual. - São Paulo: Editora Pillares, 2005. P. 178 Estrias: Esquirolas: 4.1.2.3 Sucessão de movimentos Um traço raramente terá significado sem o outro, quando considerado isoladamente. Depois do primeiro traço, vira o segundo, que poderá ser sobreposto ou conjugado. Após tais esclarecimentos sobre grafocinética, veremos a morfologia gráfica. Traços sobrepostos apontados por meio das setas. Traços conjugados apontados por meio das setas. 4.1.3 MORFOLOGIA GRÁFICA 4.1.3.1 Diferenças formais As variações formais ocorrem, geralmente, quando se empregam letras ou sinais pertencentes a sistemas caligráficos ou com esquemas distintos. A diferença de tamanho não é considerada divergência formal (Del Picchia). 4.1.3.2 Grama O conceito de grama compreende naturalmente um traço executado sem inversão de movimento. Apenas um traço e, havendo mudança de sentido, vislumbrar-se-á outro grama. Por exemplo, a letra V possui 2 gramas. Estudo dos gramas NÃO PASSANTES: Quando não existe nenhum traço acima ou abaixo do corpo da letra. Os PASSANTES PODEM SER: SUPERIORES, INFERIORES, DUPLO PASSANTE, PRESILHA OU ANEL. Platô é quando há uma planície no topo do grama ou letra. PASSANTES SUPERIORES PASSANTES INFERIORES DUPLA PASSANTES OUTRAS ESPÉCIES DE GRAMAS 4.1.3.3 Letra Letra é a unidade do alfabeto. Suas formas usuais, obedecem dois esquemas, podendo ser, impressa ou cursiva: - Impressa é usada nas impressões tipográficas, vulgarmente conhecida como letra de forma. - Cursiva comumente utilizado no lançamento de grafismos. 4.1.3.4 Ataque e Remate Sempre que o instrumento escritor é colocado sobre a superfície de um papel e passa em seguida a desenvolver símbolos, necessariamente haverá o início e o fim de um ou mais gramas (resultado de um gesto gráfico feito sem mudança brusca de sentido ou, também, unidade gráfica). Ao traço inicial é dado o nome de ataque e ao final o de remate, podendo ser classificada em: A) ENSAIADOS - Aqueles em que, antes do traço o escritor faz um verdadeiro exercício no ar, baixando a mão paulatinamente até o instrumental tocar no papel; ocorre mais nos lançamentos circulares; B) NÃO APOIADO - Assim como alguns utilizam o apoio no início ou término da assinatura, outros simplesmente executam o movimento inicial ou final do traço sem que haja o descanso do instrumento escritor, pelo que a espessura ou a intensidade da coloração do traço tende a apresentar-se usual durante a imediata extensão. C) APOIADO - No momento da execução ou término da escrita, algumas pessoas “descansam” a caneta sobre a superfície do papel, dando a oportunidade da ocorrência de um pequeno entitamento; podendo este hábito gráfico ser observado tanto no momento do ataque (início) quanto no remate (final). D) ARPÃO - Há um hábito gráfico que pode ser detectado mediante a análise do ataque e remate, caracterizando-se pela formação de uma pequena quebra brusca de sentido, ocasionando a formação do arpão; sendo importante salientar que tal característica é típica de um determinado tipo de punho escritor. F) EM GANCHO - O escritor inicia o lançamento com um pequeno arco. O ataque ganchoso só se situa à esquerda, à direita, voltado para cima ou para baixo. G) INFINITO - Da mesma forma, outras pessoas costumam executar movimentos rápidos para iniciar ou terminar um grama, ocasionando um afilamento, também chamado infinito. H) EM PONTO DE REPOUSO - quando o escritor, ao iniciar o gesto, apoia o instrumento escrevente no papel, provocando o aparecimento de um ponto, para depois, projetar o lançamento. Esse tipo de ataque é muito frequente na escrita senil: o escritor, não tendo mais controle do braço e da mão, apoia a caneta no papel para depois desenvolver a escrita. Trata-se, no caso, de uma característica que resulta de circunstâncias do momento e é possível que, anteriormente, o escritor não possuísse ataque desse tipo. 4.1.3.5 Linhas de Impulso, Traços Ornamentais e Cetras As linhas de impulso, como o próprio nome explana, são linhas que impulsionam a assinatura, traços adicionados ao ataque, no início da assinatura. LINHA DE IMPULSO E CETRA - Se no ataque existe a linha de impulso, consiste em um traço longo precedendo a formação do lançamento. Já no remate existe a cetra, trata-se de um traço ornamental que conclui o lançamento, sobretudo nas assinaturas. Del Picchia12 conceitua os traços ornamentais “Os traços ornamentais, são acessórios, adicionados a determinadas letras com interesse estético, que mais tarde, podem integrar o conjunto de hábitos gráficos, mais frequentemente nos ataques e remates”. As cetras são como traços ornamentais, porém, adicionados ao fim da assinatura. Traços ornamentais 12 DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PICCHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: “da falsidade documental”. 2. Ed. rev., ampl. E atual. - São Paulo: Editora Pillares, 2005. P. 185 4.1.3.6 Polimorfismos Gráficos Polimorfismos gráficos corre quando o escritor utiliza concomitantemente maisde uma forma. Algumas vezes o punho escritor pode variar com escrita cursiva e impressa. 4.1.3.7 Escritas correntes, Assinaturas e Rubricas Os grafismos das assinaturas nem sempre guardam as mesmas características dos dizeres do mesmo escritor. As vezes o escritor prefere empregar letras de forma distinta daquela usual na escrita corrente. A assinatura, geralmente composta pelo nome e sobrenome. As rubricas se reduzem a um pequeno número de traços, esta sendo uma simplificação de sua assinatura, geralmente utiliza-se a primeira letra do nome ou sobrenome. No cotejo, o melhor é comparar a escrita corrente questionada com escrita corrente paradigma e/ou assinatura questionada com assinatura paradigma, e não, por exemplo, o cotejo da escrita corrente paradigma com assinatura questionada, pois pode trazer resultados errôneos. Assim, não é apropriado utilizar um estilo de grafismo para examinar outro. 4.2 QUALIDADES DO GRAFISMO As qualidades do grafismo, são todas as características do grafismo. A maioria da doutrina denomina como Elementos de Ordem Geral, subdividindo em Subjetivos e Objetivos. ELEMENTOS DE ORDEM GERAL (EOGs) Ritmo Dinamismo Subjetivos Velocidade Habilidade ------------------------------------------------------------------- Andamento Gráfico Alinhamentos Espaçamentos Gráficos Limitantes Verbais Relações de Proporcionalidade Objetivos Inclinação axial Calibre Pressão Trajetória Gladiolagem Tendência de punho Espontaneidade Iniciaremos o estudo pelos Elementos de Ordem Gerais - EOGs Subjetivos, passando posteriormente para os EOGs Objetivos. 4.2.1 EOGs Subjetivos Os EOGs Subjetivos são características muito difíceis de serem simulados ou maquiados, pois são involuntários. Ademais, tem sua conceituação mais abstrata do que os EOGs Objetivos. Assim sendo, conheceremos um a um. Ritmo Ritmo gráfico, conceituado por Del Picchia13, consiste na cadência de movimentos, compreendendo as formações harmoniosas ou contrafeitas. Existem escritas de ritmos fraco, médio e forte. Dinamismo Há duas conceituações: • Para Falat14 “é o estudo concomitantemente do movimento e força” • Para Del Picchia15 “é o estudo concomitantemente das forças de pressão e velocidade” Os dois autores supra divergem quanto a natureza do Dinamismo. Falat, entende que o dinamismo é Elemento de Ordem Geral Objetivo, porém Del Picchia elenca como Elemento de Ordem Geral Subjetivo. Nossa posição é convergente com Del Picchia, concordamos com o entendimento Dinamismo como Elemento de Ordem Geral Subjetivo devido a subjetividade implícita ao seu conceito, divergente dos Elementos de Ordem Geral Objetivos que possuem fácil visualização. 13 DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PICCHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: “da falsidade documental”. 2. Ed. rev., ampl. E atual. - São Paulo: Editora Pillares, 2005. P. 213 14 FALAT, Luiz Roberto Ferreira. Produção da prova pericial grafotécnica no processo civil. Curitiba: Juruá, 2008. P. 124 15 Idem P. 215 Velocidade Não há uma dissecação objetiva dessa qualidade. Porém, observando o grafismo, é possível verificar se a escrita foi: Rápida, média ou lenta. Antes de explicar como notar tais divergências, teremos que esclarecer sobre os MOMENTOS do grafismo. Momentos Gráficos – São os momentos entre as paradas e retomadas. Momentos Diminutos – Parecem, muitas vezes, momentos gráficos, pois o instrumento escritor quase não toca o papel, por conta da leveza e rapidez. Há características que denotam rapidez e lentidão: RAPIDEZ LENTIDÃO Momentos diminutos Momentos gráficos Pressão baixa Pressão alta Traços ágeis Traço oscilante Assim, no cotejo dessas características, é possível desvendar a velocidade. Habilidade Não é a escrita mais bem desenhada, não é a escrita mais bela, mas sim, essa característica está na dependência da educação do gesto gráfico e da habilidade muscular do punho escrevente. Abaixo, podemos examinar 3 grafismos coletados e observar a habilidade diferenciada conforme a escolaridade: Observa-se, em regra, que o estudo aprimora o grafismo. 4.2.2EOGs Objetivos Os EOGs objetivos são demonstráveis com mais facilidade, sendo assim, as características materiais e visíveis do grafismo. Trajetória Por trajetória, entende-se o caminho, o sentido, desenvolvido pelo instrumento escritor na progressão do gesto gráfico. Pode ser, sinistro-destro (da esquerda para a direita) ou destro- sinistro (da direita para a esquerda), horário ou anti-horário. Idiografismos Os idiografismos são característica individualizadora do punho escritor, dotada de caráter amorfo, não sendo permitido estabelecer classificação ou enumeração. TEORIA DOS IDIOTISMOS GRÁFICOS16: A doutrina antiga utilizava desta teoria, sob a qual, concluía-se que a presença de determinados idiotismos representava a autenticidade do gesto, bem como, a ausência destes implicaria a conclusão de que os punhos escritores eram divergentes. 16 FALAT, Luiz Roberto Ferreira. Produção da prova pericial grafotécnica no processo civil. Curitiba: Juruá, 2008. P. 136 Espontaneidade O gesto espontâneo é aquele sem artificialismos, ou seja, o punho escritor habituado com aqueles grafismos o faz sem tentar modifica-lo e sem tentar mascara-lo. Andamento gráfico O Andamento Gráfico é o estudo do desenvolvimento do grafismo em relação aos seus momentos gráficos ou levantamentos normais do instrumento gráfico. Alinhamento A análise grafotécnica observa as formas de lançamento do grafismo, tomando-se o ponto de partida a linha de base do primeiro grama minúsculo em relação aos demais. A assinatura pode ser alinhada, ascendente, arqueada, descendente ou sinuosa. • Alinhada: A assinatura alinhada, não tem propensão nem para o alto nem para baixo, assim, faz-se reta e alinhada em relação a linha base. • Ascendente: O gesto gráfico se inicia na linha base apresentando posteriormente uma ascendência em relação a mesma; • Arqueada: Apresenta uma concavidade em sentido inferior, sendo no primeiro momento ascendente e em seguida descendente; • Descendente: o gesto gráfico descendente inicia na linha base do primeiro grama minuscular, apresentando posteriormente uma descendência em relação a mesma; • Sinuosa: Neste tipo de grafismos, os gestos são dispostos de forma a apresenta, ascendência e descendências consecutivas em relação à linha de base do primeiro grama minuscular. Espaçamentos gráficos O punho escritor, que execute um determinado gesto gráfico por inúmeras vezes, o faz com similar simetria espacial. Dessa forma, deverão ser observadas junto ao desenvolvimento gráfico as seguintes características quanto aos tipos de espaçamento: • Intergramaticais: são aqueles estabelecidos pela distância inserida entre o lançamento dos gramas. • Interliterais: São aqueles estabelecidos pelas distancias existentes entre as letras. • Intervocabulares: São os detectados entre os lançamentos dos vocábulos. • Interlineares: São aqueles contidos entre as linhas do grafismo, dispostos em um texto inserido numa folha de papel sem pautas. Inclinação axial Na análise do gesto gráfico poderemos encontrar mais de um tipo de inclinação no mesmo vocábulo, haja vista serem as mesmas características de cada símbolo gráfico representativo da terra. Tomamos como referência a base do grama e lançamos um eixo vertical, visualizando o sentido de projeção do símbolo representativo da letra. • Alinhada: aquela que o eixo gramaticalse situa em 90º. • Dextrogira: inclinação no sentido destro (90º até 180º). • Sinistrógira: Tendência em sentido sinistro (0º até 90º). Proporcionalidade A relação de proporcionalidade gramatical é verificada através do estabelecimento de uma correlação entre as maiúsculas e as minúsculas não passante. A doutrina adota os seguintes tipos de proporcionalidade: • Alta proporcionalidade: Quando as letras maiúsculas, passantes e hastes são bem maiores que as letras minúsculas não passantes. • Baixa proporcionalidade: Quando a letra maiúscula, passantes e hastes não tem muita diferença para as letras minúsculas não passantes, assim, as hastes e passantes possuem a mesma grandeza das letras maiúsculas. • Proporcional: É quando a medida da letra maiúscula, passante e hastes é proporcional às minúsculas não passantes. Calibre A conceituação de calibre “diâmetro da parte interior de um tubo”, na Grafotecnia, vem examinar a grandeza das letras minúsculas. Também, observa-se quanto ao desenvolvimento lateral. Obs. Enquanto a proporcionalidade é a relação das letras maiúsculas, passantes e hastes em relação a minúscula, o calibre, é a relação apenas quanto as letras minúsculas, não passantes e sem hastes. • Grande calibre: São sinais gráficos representativos não passantes, dotados de extensões verticais superiores a 4 mm (h>4mm); • Médio calibre: São aqueles sinais gráficos representativos dos não passantes dotados de extensões verticais situadas entre 3 a 4 mm (h>3 e <4 mm); • Pequeno calibre: São aqueles gestos gráficos minúsculos e não passantes dotados de altura inferior a 3 mm (h<3mm); Não será medido letra por letra, mas sim, uma média das letras que compõe a assinatura ou o grafismo. A título de curiosidade, cabe acrescentar que a calibragem muito reduzida é denominada de micrografias. No entanto, quanto ao desenvolvimento lateral, que compreende a expansão dos traços lançados, podem ser normais ou aglutinadas. • A escrita normalmente tem um desenvolvimento e traços laterais, prolongados, enquanto que na aglutinada a escrita é comprimida. Na imagem, a primeira transcrição é normal, já a segunda é aglutinada: Relação de proporcionalidade gramatical é a proporcionalidade entre os gramas, observando toda a escrita, como se relacionam. Pressão Pressão é a força exercida, em sentido vertical. As marcas objetivas da pressão também dependem da natureza do instrumento escritor ou escrevente (canetas esferográficas comportam maior pressão do que canetas hidrográficas). A pressão ou peso gráfico pode ser, conforme sua intensidade, alto, médio ou baixo. Normalmente, observa-se na utilização do instrumento escritor como as canetas esferográficas. Assim, no verso da folha grafada, é possível visualizar o relevo deixado pelo grafismo, quanto maior o relevo, maior a pressão. Alguns punhos escritores mantem o mesmo ritmo com maior ou menor pressão, outros apresentam ciclotimias, irregularidades e desconexões. Gladiolagem A Gladiolagem é a variação quanto a extensão vertical dos gramas e apresenta 3 momentos distintos: em grupos gráficos, em vocábulos isolados ou em conjuntos vocabulares. A Gladiolagem, pode ser compreendida em 3 aspectos: • Gladiolagem constante: Quando os gramas ou sinais gráficos se desenvolvem de maneira semelhantes, constante, uniforme e sem variação quanto à altura. • Gladiolagem positiva: Ocorre quando detectamos que o punho escritor, com o andamento do grafismo é dotado de crescente extensão vertical – Há a expansão do grafismo. • Gladiolagem negativa: Contrária a positiva, o andamento gráfico é dotado de decrescente extensão – Há o afunilamento do grafismo. Tendência de punho É perceptível apenas em determinados símbolos gráficos, é bem visível no grafismo das letras M e N. • Tendência à angulosidade: Na trajetória ocorre a formação de movimentos angulosos, através de uma inversão curva de sentido. • Tendência à arcada: o lançamento produz uma concavidade voltada à região inferior, e consequente convexidade para a região posterior. • Tendência à guirlanda: o lançamento ocorre de forma oposta à arqueada, apresentando convexidade em sentido inferior e concavidade em sentido superior. • Tendência mista: Quando o punho escritor executa o lançamento de diversas formas. 5 IDENTIFICAÇÃO GRÁFICA Após ensinar todas as características que compreendem o grafismo, esse capítulo vem para explicar como fazer a identificação gráfica. Cabe ressaltar a diferença entre os exames de AUTENTICIDADE GRÁFICA e AUTORIA GRÁFICA. A autenticidade é um exame meramente confirmativo, utiliza-se para a confirmação se a escrita é autentica. Na autoria gráfica é necessária a investigação, busca-se saber quem é o autor daquele grafismo, comparando o grafismo questionado entre os punhos suspeitos para encontrar similitudes e características identificadoras da autoria. Assim sendo, no caso de assinaturas, quando se procura conhecer o verdadeiro autor de uma escrita, é afastada a sua autenticidade. 5.1 Classificação das escritas A classificação das escritas vem para auxiliar a determinar a autoria. Ao investigar a autoria da escrita, preliminarmente, devemos procurar enquadra-la nas seguintes classes: I) Grafismos naturais; II) Grafismos disfarçados; III) Grafismos imitados ou simulados. Os quais, vamos analisar profundamente cada um deles nos tópicos a seguir. 5.1.1 Grafismos naturais Os grafismos naturais são aqueles provenientes daquele mesmo punho escritor, sendo autênticos. Porém há certas características que podem confundir o técnico. O organograma a seguir, especifica as subclassificações dos grafismos naturais: São apontados como normais aqueles escritos lançados espontaneamente, isentos de perturbações de qualquer natureza, sejam passageiras ou patológicas. Por sua vez, os grafismos acidentais são aqueles que fogem do normal, em decorrência de causas passageiras, como por exemplo, emoção, calor, frio, intoxicações, moléstias agudas e efêmeras, fraqueza. A Lei do menor esforço trata-se de simplificação do gesto gráfico, diante de grande demanda de assinaturas. Assim, o punho escritor, acaba aumentando a velocidade e muitas vezes simplificando certos gramas. EMOTIVIDADE: Nos distúrbios desse gênero, as formas gráficas, em regra, não se modificam. Em casos especiais, registram polimorfismos ou inconsistências. Algumas vezes, aparecem letras de formas dissonantes na escrita habitual17. Del Picchia18 explica que “a calibragem muda sensivelmente. Nos estados inibitórios, as letras em regra tendem a diminuição. Nos estados 17 DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PICCHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: “da falsidade documental”. 2. Ed. rev., ampl. E atual. - São Paulo: Editora Pillares, 2005. P.316 18 Idem, P.316 Grafismos naturais Normais Acidentais Patológicos exaltivos, mostram maior calibragem. Trêmulos também acompanham a emotividade, acentuando no início, diminuindo progressivamente”. Calor e frio: O calor, pode causar moleza, fraqueza muscular, bem como o frio, pode causar tremores, modificando de forma sucinta a escrita. Intoxicações: As vezes causam sérios distúrbios na escrita, o uso de entorpecentes em geral. Os patológicos são aqueles deturpados por patologias eviternas a exemplo, senilidade e estado mórbido crônico. Senilidade: A idade avançada com as desagregações dos centros nervosos superiores, vai acompanhada de frequente distúrbio na escrita. Não se pode fixar idade exata para tais variações, pois não acompanha a idade civil, e sim, a psicofisiológica19. Patológicos: Não seria possível esquematizar um quadro dos distúrbios maisfrequentes. Mas no caso de doenças, cria-se uma dificuldade para a autenticação de documentos não contemporâneos, já que tal patologia pode ser frequentemente confundida com fraudes20. Assim, vimos os tipos de grafismos que apesar de algumas vezes não ser formalmente igual, são autentico. 19 DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PICCHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: “da falsidade documental”. 2. Ed. rev., ampl. E atual. - São Paulo: Editora Pillares, 2005. P.318 20 Idem, P. 319 5.1.2 Grafismos disfarçados Grafismos disfarçados são escritas autenticas, mas o autor não deseja transparecer suas características gráficas, contudo não imita escrita de outra. Assim, veremos os diversos tipos de disfarces, a serem utilizados isoladamente ou cumulativamente. Alguns dos diversos critérios são: a) Escrita cursiva, modificando as formas dos caracteres; b) Escrita cursiva, com caligrafação dos caracteres; c) Escrita cursiva, variando a inclinação; d) Aumento ou diminuição da calibragem; e) Utilização da mão esquerda (esquerdismo), entre outros membros; f) Deformação dos caracteres e dos traços, simulando canhestrismo gráfico; g) Variações de forma, aumento ou diminuição de calibragem, erros ortográficos, mudanças de inclinação. O perito deve ter muita cautela para não confundir esta classificação com os grafismos simulados ou imitados. 5.1.3 Grafismos imitados A determinação da sua autoria é muito complexa, pois na imitação, tenta-se copiar os gestos gráficos de outrem e, muitas vezes, deixa-se transparecer poucas características do seu punho escritor. Os decalques dificilmente permitirão dizer quem os executou, pois não constituem escrita e sim são desenhos. Não passam de meras recoberturas, sem liberdade de movimento. O escritor se limita a acompanhar o debuxo, ou imagem vista por transparência. Escrita à mão guiada: Duas pessoas podem conjuntamente executar a mesma assinatura. Um é guia, outro o guiado. Esse tipo de escrita imitativa, divide-se em: a) Escrita à mão forçada: Somente cabível quando houver disparidade de forças entre o guia e o guiado. Manifestam-se distúrbios como borrões, arranhaduras e arrastamento. Por outro lado, nenhum característico gráfico do guiado passará pela peça forjada. b) Escrita à mão apoiada: A colaboração do guia não interfere no grafismo, os característicos ficarão registrados com aas perturbações próprias de seu estado patológico. c) Escrita à mão guiada propriamente dita: Na execução de alguns gestos, as duas vontades coincidem e os movimentos recebem ênfase maior, do que os da escrita normal do guiado. Em outros trechos, porém, há desencontro das vontades. Decorrem quebras bruscas de movimento. d) Escrita à mão inerte: Nula será a colaboração do guiado. Ela refletirá os característicos do guia, com as deformações consequentes às dificuldades de acomodação da mão inerente, transformada em acessório inadequado ou incorreto equipamento escritural. Escrita de espelho: Também chamada de escrita invertida ou “au miroir”, nada mais é que a escrita de trás para frente. Ao invés da escrita comum, que é da esquerda para a direita, essa é da direita para a esquerda21. A linha entre os dois últimos institutos é tênue, podendo induzir o perito a erro, porém, a tabela demonstrada no capítulo 8.3 Diferenças entre disfarce e simulação estanca qualquer dúvida pertinente. 21 DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PICCHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: “da falsidade documental”. 2. Ed. rev., ampl. E atual. - São Paulo: Editora Pillares, 2005. P. 326 6- INDÍCIOS DE AUTENTICIDADE E FALSIDADE Neste capítulo verificaremos alguns indícios que servirão para ajudar na apuração de falsidade ou autenticidade de escrita. Essas são apenas algumas características, lembrando que para a persuasão do perito é imprescindível o cotejo entre as assinaturas paradigmas e questionadas. É essencial, lembrar: Qual o objetivo do falsário? Induzir alguém ao erro. Assim, o falsário na maioria das vezes, tentará confeccionar um documento perfeito, sem borrões, falhas e etc... bastando o erro essencial, que está na autenticidade assinatura, assim, o falsário tenta isentar o documento de outras falhas. Entendendo um pouco da mente do falsário, veremos os indícios que podem nos ajudar a chegar a persuasão pela autenticidade: • Emprego de instrumento gráfico em mau estado de funcionamento; • Uso de tintas apagadas; • Borrões e Borraduras; • Retoques ostensivos e necessários; • Falta de tinta; • Repetição inútil da assinatura *exceto: Quando em cheques, o falsificador, não raro, repete a firma no verso, por mero engodo psicológico; • Suportes inadequados – por exemplo: papel recortado, com alguma rebarba; • Assinatura em local inadequado – o falsário, costuma lançar a assinatura no local correto. Assim sendo, agora veremos os indícios que podem nos ajudar a chegar a persuasão pela falsidade: • Retoques delicados e desnecessários; • Sobreposição ou superposição. Superposição ou sobreposição – Assinatura idêntica. Verificou-se na prática que ninguém consegue executar duas assinaturas iguais entre si, havendo sempre alguma divergência formal. Quando se encontra assinatura idêntica a algum documento, provavelmente se tratar de uma falsificação por decalque. 7- AÇÕES FRAUDULENTAS: Espécies de autenticidade e falsificação Nos capítulos anteriores vislumbramos as variações do gesto gráfico, bem como, algumas formas de alteração e imitação. Dessa forma, passaremos a relacionar os métodos utilizados, já estudados neste livro com as espécies de ações fraudulentas conceituadas pela doutrina. 7.1 Autofalsificação Entende-se por autofalsificação quando o agente escritor tenta produzir gesto gráfico dissonante com seu próprio grafismo. É uma espécie de Autenticidade com a presença de disfarce. Poderemos observar tanto nas peças questionadas como nas peças paradigmas. Como o autor busca promover a alteração do grafismo original, não há como impedir a denúncia dos elementos gráficos originários do subconsciente, inerentes à exteriorização do “eu” gráfico. Na maioria das vezes, o autor tenta modificar com a utilização de maior ou menor pressão, alteração de inclinação axial e mudança de trajeto. 7.2 Falsificação por imitação servil Nessa falsificação, o falsário possui um padrão à vista e assim, tenta copia-lo de maneira idêntica, nem que para isso tenha que treinar incessantemente. Porém, apesar de incansável treinamento, serão passiveis de identificação, já que há alterações no emprego da dinâmica, naturalidade e espontaneidade. Mesmo quando bem semelhantes, não poderia constituir uma falsificação perfeita, haja vista que o número de características concomitantemente inseridas no gesto gráfico. 7.3 Falsificação de memória Para concretizar essa falsificação o falsário deverá possuir contato anterior com o padrão gráfico, momento oportuno para assimilar as principais características do gesto gráfico. A memória apenas guardará os aspectos gerais do grafismo, salientando a imagem e pontos da trajetória, portanto, não se atendo às demais características genéticas do grafismo. A produção, contará apenas com a memória. Assim, guardará apenas os aspectos gerais do grafismo, salientando a imagem e pontos da trajetória, portanto não se atentando às demais características genéticas do grafismo. 7.4 Falsificação sem imitação Em alguns casos, o falsificador não possui o padrão de assinaturas da vítima, então muitas vezes apenas transcreve seu nome ou perfaz alguma insígnia. Nesse tipo de falsificação é possível verificar a autoria, dentre os suspeitos, jáque a liberdade de produção desse tipo de falsificação é tão grande, que se deixará denunciar pelas suas características gráficas. PQ 7.5 Falsificações por decalque O decalque pode ser elaborado de forma direta ou indireta. A direta, é sob transparência, coloca-se a assinatura decalcada por baixo e o papel por cima, ambos sob uma superfície luminosa, assim, o papel fica transparente, permitindo que o falsificador execute o mesmo traçado. Da forma indireta, pode-se executar a assinatura levemente sob papel carbono e depois executa-la à caneta, ou de outro modo indiretamente. Esse tipo de falsificação necessita da utilização de padrão original em sua execução. O padrão original serve de guia para o falsificador, que assim o copia de maneira idêntica, com a utilização de um leve traço à lápis ou por meio de papel carbono, e depois, encoberta o traço à caneta. Nesse tipo de falsificação ocorre paradas não habituais, ausência de dinamismo, espontaneidade, naturalidade, bem como, comprometimento do ritmo e velocidade. 8- EXAMES E PROCEDIMENTO Para proceder um bom exame é necessário, primeiramente o objetivo do exame, para então buscar paradigmas adequados para o cotejo. Quando visa apurar uma autenticidade, paradigmas extemporâneos podem até permitir afirmar a sua autenticidade, porém, não é possível vislumbrar falsidade com paradigmas de épocas muito distantes, posto que as divergências podem ser mudanças sofridas pelo próprio punho. O perito deve ser muito zeloso ao escolher os paradigmas ou padrões de confronto, pois estes guiam o exame e a falta de critério na escolha pode levar à conclusão errônea. 8.1 Paradigmas Para fazer a análise da Peça questionada (ou peça de exame) é necessário a presença de Peças paradigmas de qualidade. Os critérios para a escolha de uma peça paradigma são: • Adequabilidade (o grafismo coletado deve ser adequado, tendo boa qualidade, nitidez e de preferência que o examinado esteja em boa condição física, posto que algumas doenças podem afetar o grafismo); • Contemporaneidade (pois a grafia muda conforme o tempo, então de preferência peças paradigmas com até 5 anos de diferença). Importante ressaltar que em casos de doenças que possam alterar a musculatura o intervalo recomendado é ainda menor, em torno de 2 anos, dependendo do agravamento da doença); • Quantidade (quantidade de grafismos suficientes para que o técnico possa reconhecer as características do punho escritor, preferencialmente mais que 3); • Autenticidade (documentos pessoais, assinaturas lançadas presencialmente). • Espontaneidade Fator muito importante vislumbrado na Doutrina de SILVA et FEUERHARMEL22. Algumas vezes a coleta se mostra insuficiente, seja pelo nervosismo ou o intuito de simular ou, até mesmo, pelo fato de pensar antes de produzir cada palavra. Assim, o 22 SILVA, E.S.C.; FEUERHARMEL, S. DOCUMENTOSCOPIA: Aspectos Científicos, Técnicos e Jurídicos. Campinas/SP, Millennium, 2014. p. 242 autor enfatiza a espontaneidade, quando o autor age no automático, demonstrando seus reais características. Se respeitados e observados tais critérios, e observados, concomitantemente, elementos genéticos, elementos formais (morfológicos) e cinéticos (dinâmicos), o exame será produzido com transparência e fidelidade, alcançando um resultado inequívoco e conclusivo, resultando em um laudo pericial grafotécnico. O método de exame mais eficiente e fidedigno que temos atualmente é o método Grafocinético, supra explanado neste livro. Assim, faz-se o cotejo entre as assinaturas conhecendo suas características e comparando-as quanto as convergências e divergências. 8.2 Objetivo do Exame Qual a finalidade do exame: confirmar a autoria? Ou descobrir o autor? O perito deve estar atento aos quesitos, pois são eles que guiam a perícia demonstrando o que necessita ser examinado e apurado. 8.2.1. Autenticidade/falsidade A apuração da autenticidade gira em torno de uma peça questionada ou peça de exame, aquela onde reside a dúvida e o objetivo é apurar se a assinatura ou o grafismo é ou não é proveniente do punho escritor suspeito. O exame vislumbra apenas dois resultados: AUTENTICIDADE ou FALSIDADE. Apesar da aparência simplista, o exame é complexo. A autenticidade pode ser facilmente confundida com uma falsificação por imitação servil ou decalque, no entanto, a assinatura diferente do padrão pode ter aparência de falsificada, mas, na realidade, tratar-se de simulação (autofalsificação). As aparências podem enganar um leigo, porém o perito precisa estar preparado para diferenciar tais singularidades. Para um exame apurado visando detectar a falsidade Del Piccha23 ensina que deverá se apoiar não apenas nas características morfológicas, mas também, em outros elementos: I) Cinetismo: Deve ser obrigatoriamente distinto. O examinador deverá notar nas peças paradigmas as formações mais típicas, pois dificilmente se repetirão nas peças questionadas. Idiografocinetismos, oferecerão um conjunto antagônico significativo. II) Qualidade do traçado: Em regra os característicos dessa natureza manifestar-se-ão antagônicos. III) Qualidades gerais do grafismo: Na maioria dos casos, será franco o predomínio das divergências. Alguns característicos dessa natureza, porém, podem ser encontrados dentro do quadro de semelhanças, se repetem nos grafismos do falsário. IV) Velocidade e pressão: Impossível a realização de todos os movimentos com igual velocidade e pressão. Algumas características podem até se assemelhar, porém, impossível a concordância de todos os aspectos. 8.2.2 Autoria A autoria busca acusar o autor do grafismo ou assinatura. A apuração da autoria de um grafismo ou assinatura é uma situação muito delicada. Quando há falsificação por imitação, na maioria das vezes, o punho escritor omite suas características, tentando desenhar a assinatura da vítima, assim deixando vestígios insuficientes para proceder o exame. Na autoria, vislumbra-se um grafismo/assinatura e dois ou mais supostos autores. Assim, havendo possibilidade, o perito deve identificar características suficientes do autor, presentes no documento questionado. O objetivo da comparação não é só em sua forma, mas também, nos movimentos, o dinamismo e nas forças utilizados no gesto de escrever, os 23 DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PICCHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: “da falsidade documental”. 2. Ed. rev., ampl. E atual. - São Paulo: Editora Pillares, 2005.P. 224 hábitos da escrita e a avaliação do significado das respectivas semelhanças, variações ou diferenças, para identificação da autoria. 8.3 Diferenças entre disfarce e simulação Os disfarces e simulações podem até confundir os leigos, porém, ao perito é imprescindível fazer tal diferenciação. O disfarce é quando o autor deseja enganar terceiros e disfarçar as suas características, tentando demonstrar ser outra pessoa, no entanto, a simulação é o ato contrário, é um terceiro tentando demonstrar ser a vítima do ato fraudulento. Do disfarce provém a autofalsificação e da simulação provém a falsificação de memória, por imitação servil ou decalque. KOPPENHAVER (2007) apud SILVA et FEUERHARMEL24 traz um quadro comparativo elaborado para auxiliar nesta diferenciação, vejamos: DISFARCE SIMULAÇÃO 1) Velocidade moderada 1) Escrita lenta 2) Desvio em relação ao modelo 2) Tentativa de imitar o modelo 3) Letras maiúsculas modificadas 3) Letras maiúsculas próximas ao modelo 4) Características sutis convergentes com os padrões 4) Características sutis divergentes dos padrões 5) Padrão de variação correto 5) Padrão de variação incorreto 6) Inconsistente 6) Ausência de variação natural em característicasde escrita 7) Adere-se mais proximamente do padrão 7) Adere-se mais proximamente as regras do sistema de escrita 8) Método de construção correto 8) Método de construção incorreto 9) Ritmo moderado 9) Ritmo pobre 24 SILVA, E.S.C.; FEUERHARMEL, S. DOCUMENTOSCOPIA: Aspectos Científicos, Técnicos e Jurídicos. Campinas/SP, Millennium, 2014. p. 252-253 10) Ausência de levantamento do instrumento escritor ou gotas de tinta anormais em relação aos padrões 10) Presença de levantamento do instrumento escritor ou gotas de tinta anormais em relação aos padrões 11) Sem retoques 11) Com retoques 12) Escrita mais natural 12) Atenção consciente ao ato da escrita 13) Mudança na inclinação 13) Inclinação similar 14) Tamanho diferente 14) Mesmo tamanho 15) Mesmas proporções 15) Diferentes proporções 16) Algumas formas de letras não usuais 16) Formas de letras similares 17) Disposição similar 17) Disposição distinta 18) Utilização de espaços similares 18) Utilização de espaços diferentes 19) Alinhamento em relação a linha de base similar 19) Alinhamento em relação a linha de base distinto 8.4 Observações importantes A incumbência do perito é trazer a verdade ao incidente, descobrir o que está oculto, para que seja permitido solucionar o caso que lhe foi confiado. Assim, não sendo permitido ao mesmo incidir em erro. Huber & HEADRICK (1999) apud SILVA et FEUERHARMEL25 elencam as 10 causas que podem ocasionar erros nos exames de manuscritos, vejamos: 1. Padrões inadequados ou não autênticos; 2. Limitações ou insuficiência do material questionado; 3. Falta de compreensão dos elementos determinadores da escrita; 4. Falta de apreciação dos movimentos da escrita que resultaram na forma; 5. Avaliação inadequada das divergências; 25 SILVA, E.S.C.; FEUERHARMEL, S. DOCUMENTOSCOPIA: Aspectos Científicos, Técnicos e Jurídicos. Campinas/SP, Millennium, 2014. p. 252-253 6. Superavaliação de características de classe ou sistema; 7. Ignorar ou subestimar divergências; 8. Omissão de avaliação dos padrões para confirmação de mesma autoria; 9. Influência de informações externas sobre o caso; 10. Incompetência do perito. O perito deve levar em consideração todas as particularidades da escrita, obedecendo os princípios e mandamentos da Grafotecnia e sempre estar atento para não cometer erros, como os supracitados. 9 CONCLUSÃO O Histórico demonstrou que a escrita vem para auxiliar na organização social, sendo necessária para transmitir conhecimento, com a escrita, foi permitido a elaboração de documentos e o estudo da Grafoscopia. Cada ser humano possui um grafismo próprio, sendo, como sua digital, personalíssima. Como toda ciência, os métodos grafoscópicos foram aprimorados, de um simples comparativo morfológico para o método Grafocinético, criado por Edmond Solange Pellat em 1927, estabelecendo leis e um exame completo visando cada característica própria do grafismo. Concluiu-se a importância das 4 leis da escrita criadas pelo perito supracitado. O título da Análise de Grafismos trouxe os aspectos Grafocinético e Morfológico, explicando sobre as forças básicas e os instrumentos gráficos e suas peculiaridades, o mesmo título também examinou a grafocinética pelo instrumento mais comum, a caneta esferográfica, visando compreender a velocidade, estrias, esquírolas e a sucessão de movimentos. Na morfologia gráfica os objetos de estudo foram as diferenças formais e os gramas e suas peculiaridades também adentrando quanto ao conceito e tipos de letra. Não podemos iniciar os gramas sem o ataque e finaliza- los com o remate, assim, adentramos nos tipos de ataques e remates e alguns tipos peculiares como as linhas de impulso, traços ornamentais e cetras. O polimorfismo gráfico e a variabilidade dos tipos de letra em uma escrita. E por fim, os conceitos de escrita corrente, assinaturas e rubricas. Adentrando as qualidades do Grafismo, observamos o conjunto de Elementos de Ordem Geral subjetivos (Ritmo, dinamismo, velocidade e habilidade) e objetivos (Andamento gráfico, alinhamento, espaçamentos gráficos, limitantes verbais, relações de proporcionalidade, inclinação axial, calibre, pressão, trajetória, gladiolagem, tendência de punho e espontaneidade), os quais foram conceituados e demonstrados visando a total compreensão. Após estancados a conceituação das características do grafismo, adentramos na identificação gráfica, identificando quanto as classes do grafismo: Naturais, disfarçados, imitados ou simulados. Os grafismos naturais são autênticos, mas podem sofrer perturbações de naturezas normais, acidentais ou patológicos. Assim como os grafismos naturais, os grafismos disfarçados são autênticos, porém o autor visa esconder sua real identidade. No entanto, os grafismos imitados ou simulados são aqueles imbuídos de falsidade. No título 6, Indícios de Autenticidade e Falsidade, observamos algumas características que podem auxiliar na persuasão. As ações fraudulentas, elencadas em espécies de autenticidade e falsificação. A autofalsificação é autêntica, porém, disfarçada, visando esconder seus reais características. A Falsificação sem imitação, nem mesmo visa copiar o gesto gráfico, sendo uma falsificação grosseira. As falsificações por imitação servil, de memória e por decalque, são práticas de simulação. No derradeiro título Exame e procedimento aprofundamos no exame, a importância dos paradigmas que nortearão o exame, os possíveis objetivos do exame: Autenticidade/falsidade ou autoria, deixando um capítulo apenas para a diferenciação de disfarce e simulação, denotando a importância de tal diferenciação. Assim, no cotejo, observa-se a quantidade de convergências e divergências dos Elementos de Ordem Geral Subjetivos e Objetivos, examinando se há disfarce ou simulação. O perito deve ter em mente que cada caso possui suas particularidades, devendo pautar o seu trabalho no estudo dos grafismos, requisitando quantos paradigmas forem necessários e requisitando o tempo hábil para a execução do trabalho. Ao término desta obra lembramos que: o segredo do sucesso está na dedicação ao estudo, apenas esta tem o condão de transformar um profissional comum em um profissional brilhante. BIBLIOGRAFIA CAVALCANTI, Ascendino e LIRA, Evson. Grafoscopia essencial. Porto alegre: Sagra - Luzato, 1996.151p. DEL PICCHIA FILHO, José; DEL PICCHIA, Celso Mauro Ribeiro; DEL PICCHIA, Ana Maura Gonçalves. Tratado de Documentoscopia: “da falsidade documental”. 2. Ed. rev., ampl. E atual. - São Paulo: Editora Pillares, 2005. 702p FALAT, Luiz Roberto Ferreira. Produção da prova pericial grafotécnica no processo civil. Curitiba: Juruá, 2008. 154p. GOMIDE, Líveio e GOMIDE, Tito Lívio Ferreira. Grafoscopia – Estudos. São Paulo: Editora Oliveira Mendes, 1997. 83p. GOMIDE, Tito Lívio Ferreira. Perícia Grafoscópica – guia para advogados: explicações, modelos de questões, textos de laudos, legislação e jurisprudência. São Paulo: J. de Oliveira, 2000. 100p SILVA, Erick Simões da Camara; FEUERHARMEL, Samuel Feuerharmel, DOCUMENTOSCOPIA: Aspectos Científicos, Técnicos e Jurídicos. Campinas/SP, Millennium, 2014. 734p , Perito em Ciências Forenses, formado Bel. em Direito pela FMU e em Gestão de Segurança Pública pela Universidade Braz Cubas, Pós-Graduado em Criminalística pela AVM Faculdade Integrada; Pós-Graduado em Investigação Criminal e Psicologia Forense pela AVM Faculdade Integrada, Pós- Graduado em Pericia Criminal pela Escola Superior Verbo Jurídico e Pós-Graduado em Pericias Forenses e Criminais pelo IPOG, Formação em Docência Superior pelo IPOG. É membro da APEJESP – Associação dos Peritos Judiciais do Estado de São Paulo, sob o
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