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oRGANTzAç0rs cntM IO ANflS DA LEI tlAS NOSAS ASPECTOS CRIMINOLOGICOS, PENAIS E PROC SSUAIS PENAIS [)aniel de Resende Salgado Fábio Ramazzini Bechara ßodrigo de Grandis lluu tlonadores \fÌ¡{ I E 2023 Biblioteca TOmh6 No ,',^r --ì'-l - Particular Badaró Al,t\ll,ll)lNA - CAPITULO 23 cApTAçÃ0 AMB¡ENTAT DE STNA|S ETETRoMAGNÉTICflS, opilcos ou ncÚsilcos: DA tEr 9.034/1995 À tEl t3.964/20r9. ENTRE EÌ'orUçfIES E 0MßS0ES Gusr¡vo B,qo,rnó Introdução captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos fora prevista na redação originária da revogada Lei nq 9.034,de 3 de de 1995, entre as técnicas de investigação especiais cabíveis na per- penal da criminalidade organizada. Posteriormente, a Lei ne 10.217, de 11 de abril de 2001, acrescentou o V ao art. 2e daLeine 9.03411995, incluindo entre os procedimen- de investigação de quadrilha ou bando e organizações criminosa: captação e a interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óti- ou acústicos, e o seu registro e análise, mediante circunstanciada judicial". Todavia, não est¿beleceu uma disciplina mínima tal meio de obtenção de prova, não atendendo a exigência de reserva lei para toda e qualquer restrição de direito fundamental. No mesmo erro incidiu o legislador ao editar a Lei 12.850, de 2 de de 2013, que no inciso II do art. 3e, previu com um dos meios obtenção de prova cabíveis na persecução penal de organização cri- a "captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou 573 10 ANOS DA LEI DAS ORGANIZAÇOES CRIMINOSAS acústicos",l nas sem lhe dar um regime jurídico próprio. O seja, n¡rlr nas nominou essa modalidade de interceptação ambiental, sem estult¡r lecer seus requisitos legais, prazo de duração da medida, espécies ctc, Mais recentemente, a Lei 13.964/2019, acrescentou o artigo 8"4 I Lei 9.29617996, disciplinando, ainda que sucintamente, a denonrlrudl "captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústic<x", Sua inserção na Lei 9.29611996 não decorre de sua na;tuteza ¡urldlril desse meio de obtenção de prova, na medida em que não envolvc ftlr trição ao direito assegurado no inciso XII do caput do art. 5q da ( )onlr tituição.2 Todavia, como há grande semelhança entre os regimes da intcrclfF tação telefônica e telemática, de um lado, e da captação ambientnl, ¡þ outro, inclusive com previsão de que as regras sobre as primelrur, || aplicam, subsidiariamente às segundas (Lei 9.296/1996, an.8-4, $ Pll apenas formalmente, a interceptação ambiental, enquanto mckr fi obtenção de prova, foi disciplinada na mesma lei que rege a intcrp¡r tação telefônica. O presente artigo pretende analisar a captação ambiental à lul df direito constitucional afetado, bem como tendo em vista regimes $ómü thantes de aþns países, para propor uma interpretação confrrrnta Constituição, dada a excessiva amplitude com que foram regratlnl hipóteses de cabimento pelo legislador. Além disso, buscará expor omissos, mas que deveriam ser disciplinados, vedando categoricont a captação ambiental, sob pena de produção de prova ilícita. 2. Direíto constitucional afetado: ¿ liberdade de manifestaçflo Pensamento Todos têm do direito constitucional à liberdade de manifestaçflrr pensamento (CR, art. 5q, caput, fÐ. A liberdade de manifestrçAo lf pensamento inclui o direito de escolher para quem se deseja manll'orlfl t Sobre os conceitos de sinais eleuomagnéticos, ópticos e acústicos, cf. Beonnr'r, (¡utlail Henrique, Processo Penal. 11 ed. São P¿ulo: F{I,2023,irem 10.14.1. 2 Não estão sob a regência daLei9.296/I996: (i) a captação ambiental por um rorr[llt mâs com ciência dos interlocutores, que pode ser denominada "escuta ambientrl"¡ e (llf I gravâção ambiental feita por um dos próprios interlocutores, sem o conheclnrcrrt¡r fi demais, que pode ser denominada, a semelhança com ¿ interceptação telefônlc:r, rlo "pj vação ambienta clandestina"). 574 575 A cAprAÇÃo AMBIENTAL DE sINArs ELITRoMAGNÉucos, óprtcos ou acúsucos... o pensamento e, até mesmo, o direito de não manifestar o pensamento para ninguém. Os aspectos positivo e negativo da liberdade de pensar e de manifestar um pensamento, como destaca Por.Ires DE MIRANDA, têm os seguintes desdobramentos: "liberdade de pensar, liberd¿de de não pensar, liberdade de emitir o pensamento, liberdade de não emitir o pensamento; liberdade de emitir o pensamento para todos, liberdade de só emitir para aþns ou para aþém, ou para sim mesmo". 3 A, razáo de ser da garantia constitucional da inviolabilidade das comunicações postal, telegráfica, telefônica e de dados, sem a intromis- são de terceiros que o autor da mensagem não deseja que participe do processo comunicativo, é direito à liberdade de manifestação e comu- nicação do pensamento de modo reservado.a O inciso )(II do caput do artigo 5q da Constituição não tem por objeto de tutela os meios de comunicação à distância em si. A garantia da comunicação por tais meios reservados, em que cabe ao emitente da mensagem escolher quem será o receptor e, consequentemente, excluir todas as demais pessoas, protege o exercício do direito à liberdade de manifestação do pensamento.s Como explica M¡Nopr GoNçerves FrRRBTRA Frlnq "correlativo à liberdade de expressão de pensamento é o direito de esco- lher o destinatário da transmissão. Para tanto, é necessário assegurar o sigilo das comunicações que não se dirige ao público em geral, mas a pessoâ, ou pessoas certas e determinadas. Daí assegurar a Constituição ¡ PoNr¡s oE MrneNDe., Francisco Cavalcanti, Comentários à Constltuição de 1967, com a Bmenda n. 1. 2.ed. São Paulo: Ed. RT, 1971, t. v, p. 170. ' GRrNovER, Ada Pellegrini. Liberdades públicas e processo penal: as interceptações tele- fônicas.2. ed. São Paulo: Ed. RT, 1982, pp.192-L93 distingue a "liberdade de manifestação tlo pensamento", como gênero, do qual é espécie a "liberdade de manifestação do pensa- mento", tendo por crítério de diferenciação o destinatário do pensamento m¿nifestado: "n primeira concerne a uma difusão do pensamento que pode não ter destin¿tário certo, en- quanto a segunda diz respeito a uma transmissão de pensamento com relação a determin¿do dcstinatário", No mesmo sentido: An¡¡qrrs FIlno, Márcio Geraldo Britto. A interceptação dc Comunlcação entre Pessoas Presentes. Brasília: GazetaJurídica, 2013, p. 105. I No regime constitucional anterior, analisando o objeto da inviolabilidade das comunica- çöes, Grinover (GmNown, Ada Pellegrini. Liberd¿des públicas...op. cit.,7982, pp. 190-191) cxplicava que o art. 153, S 9e, "quis tutelar a vontade do sujeito no smtido de que determinadas notí- clas sejam conhecidas somente por parte daquele a quem se desejou comunicd-las, Deriva daí que â tu- tcla constitucion¿l não depende do fato de as notícias comunicadas ou transmitidas serem rccretas, mas decorre de uma presunção iurís et de iure, da vontade do sujeito, no sentido de lnr a conhecer algumø notícia øpenas a outro sujeito, por ele determinado" (destaquei) 1O ANOS DA LEI DAS ORGANIZAÇOES CRIMINOSAS a inviolabilidade das comunicações de pensamento que não visam a pú. blico indeterminado, seja por meio de carta, seja através do telefonl¡ do telégrafo, ou por qualquer técnica que se inventar'16 Em suma, o ltl. ciso KI do art. 5a da Constituição tutela a liberdade de comunicação do pensamento, enquanto mecanismo de salvaguarda do direito à ltbor. dade de manifestação do pensamento de forma reservada, isto é, a rls6t. yatezza, a que se refere a doutrina italiana. A mesma ideia que justifica a proteção constitucional do direlto I liberdade de manifestação do pensamento à distância, por meios dl comunicação - postal, telegráfica, de dados e telefônica - vale parn C direito à liberdade de comunicação de pensamento entre pessoas prl' sentes. Embora para essa situação não haja um dispositivo semelhantl ao inciso )ilI do caput do art. 5e da Constituição, isso se deve ao fatt¡ rb que não há meios em si específicos para assegurar o direito de reservl ou de exclusão de terceiros, nas conversas entrepresentes. Mas, cotïC os meios de obtenção de provas invasivos em tal situação - a captrç10 ambiental de sons e imagens - também restringem um direito conitlr tucional, de liwe manifestação do pensamento, do art. 5q, caput, lV¡ seu regime jurídico tem que obedecer aos princípios de reserva de ld e de reserva de jurisdição. E foi nesse sentido que o artigo 8q-A da 9.2961L996, acrescido pela Lei 13.96412019, estabelece hipóteses, zos, modo e necessidade de prévia autonzaçáo judicial para a ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos e acústicos".7 6 F¡nnorn+ FIIHq Manoel Gonçalves. Comentários à Constituição br¿sileira de l98t, f ed. São P¿ulo: Saraiva, 1997,p.37, 7 fustamente por isso não é correta a utilização do regime jurídico próprio para tação telefônica, part a captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos cos. E exatamente por implicar afetações a direitos constitucionais distintos, antes dl 13.96+12019 acrescentar o art. 8e-A para na Lei9.29611996, afirmávamos que não serln F|| sível o emprego, por analogia, do regime legal das interceptações telefônicas para da'taptação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos": Baoenó, Gu¡tlil Henrique, Hipóteses que autorizam os meios excepcionais de obtenção de provl, til Aunos, Kai; Rorunnq Enéas (Org.). Crime Organizedo - Análise da Lei 12.850/ZOl3, trt São Paulo: Marcial Pons, 2012 p.26. Em sentido contrário, também antes da mudançl l¡l gislativa, Eduardo Araújo da Silva (Sllva, Eduardo Araújo da. Organizações crlmlnoill ¿spectos penais e processuais da Lei ne L2850113. São Paulo: Atlas,2014, p.1I0) su¡rdl quando não existia um regime legal captação ambiental de sinais eletromagnéticos, óptlgf ou acústicos, que "diante desse quadro precário, de duvldosa constitucionalidade, devctlf os operadores do direíto valer-se, por analogla e no que couber, do procedimento prcvlt[ s76 577 a intcrwf ou rcúr] A CAPTAçÁ,O AMBIENTAL DE SINAIS ELETROMi\GNÉrICOS, ÓPTICOS OU,tCÚSrrCOS... Por se trataÍ de captação de elementos de som e imagem de um acontecimento no qual os interlocutores (da conversa) ou agentes (da cena captada) estão no mesmo espaço ffsico em que é colocado o apa- relho de captação e gravação, não há resrrição do direito à liberdade de comunicação à distância. Não são afetadas, portanto, as liberdades de comunicação epistolar, telegráfica, de dados ou telefônica, asseguradas pelo inciso XII do capur do art. 5e da Constituição. |á na interceptação ambiental, ou como denomina a lei, a ,taptação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos", o que estará em jogo é o direito à liberdade de manifestação do pensamenro (C& art. 5e, caput, [V), na sua espécie de liberdade de comunicação do pen- sâmento. Mais do que isso, a depender do conteúdo do que é comuni- cado, ou do local em que se dá tal comunicação, também poderão ser afetados o direito à intimidade e vida privada (CR, art. 5e, caput, X) e a garantia constirucional da inviolabilidade do domicílio (cR, art. sq, caput, XI).8 Por isso é fundamental distinguir as interceptações ambien- tais stricto sensu, de um lado, e interceptações domiciliares, de outro, sendo que nestas as hipóteses de cabimento da captação ambiental devem ser mais restrita, por também afetar, de modo muito intenso, a privacidade. De qualquer forma, em ambos os casos, será necessário obedecer a reserva de lei e a reserva de jurisdição, sendo necessária a prévia autorização judicial, nos casos e hipóteses previstos no art. 8a-A da Lei 9.29611996, acrescido pela Lei 13.96412019. Por outro lado, é perfeitamente possível a rca\ização de uma capÞ- ção ambiental, com gravação de sons e imagens, em locais públicos nos quais o pensamento esteja sendo manifestado por sons ou adrudes, e sobre os quais não haja qualquer expectâtiva de reserva ou privacidade. nn Lei n. 9.296196, que disciplina a interceptação das conversações telefônicas, meio de obtenção de prova que também implica violação da intimidade e da vida privada dos inves- tlgados". I Por esse modvo, o $ 2'Q do art. 8-A daLei9.29611996, acrescido pela Lei 13.96412019, esta- bclece que % inst¿lação do dispositivo de captação ¿mbiental poderá ser realizada,quando nccessária, por meio de operação policial disfarçada ou no período noturno, excero na casa, nos termos do inciso xJ. do caput do art, 5q da Constituição Feder¿l". Se a entrada no domi- clho ocorrer no período noturno, mesmo que com ordem judicial, restará violada a garantia do lnciso x do caput do art. 5e da constiruição, que no período nofi.uno somente admite o ln¡ryesso em casa alheia, "em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro". 10 ANOS DA LEr DAS ORGANTZAÇOES CRTMINOSAS Por exemplo, um pastor pregando em praça pública ou arrisras de rua ra exibindo em semáforos. Também não haverá qualquer violação à dirol. tos constifucionais, incluindo a intimidade ou vida privada, na gravaçl0 de imagens de aþém numa arquibancada de um estádio de futehol, O mesmo se cliga em relação à captação de imagens que são feitas indlr. criminadamente, com finalidades preventivas, por câmeras de segurangl em logradouros públicos. Se for captada a ocorrência de um crime, g imagens poderão ser utilizadas para fins de investigação criminal. Pot exemplo, no caso de câmeras de segurança de um parque público regh. trarem um furto, ou de um estádio de futebol, que captem cenas de btl. gas ou outras infrações penais. Não havendo restrição da liberdadc df manifestação de pensamento (CR, art.5q, caput,IV) nem a intimidado I vida privada (CR, art. 5q, caput, X), sequer haverá necessidade de prévll autonzaçiojudicial para tal captação das imagens. Não são essas âs crpr tações ambientais que encontram disciplina no regime do art. 8e-A dl Lei9.29611996. Muito diversa será a situação em que, pâra uma investigação crlmlnd haja necessidade de captação de conversas ou imagens de pessoa qül manifesta um pensamento do modo reservado (CR, art. 5q, caput, IV) Terá incidência o aft. 8-A da Lei 9.29611996. O direito de comunlclr ção do pensamento, de modo reservado, ainda será potencializado, nQl casos em que tais comunicações digam respeito a fatos da intimldndf ou vida privada do interlocutor, comunic¿dos reservadamente, ou ,i0 C ato em si ocorrer em locais não abertos ao público, e especialmente tt01 domicílios que, por si sós, já denotam uma cl¿ra preocupação com n lü serva da comunicação do pensamento. No primeiro caso, também esilft envolvido o direito assegurado no inciso X do caput do art. 5e da Conrtr tuição, e no segundo, o direito do inciso X[, do mesmo dispositivo. 3. Espécies de Captações ambient¿is Quando ao conteúdo do que é captado, com finalidade probatórl¡, I possível distinguir as interceptações ambienrais, ou captações ambl0[r tais, em "captação de imagens" e ucaptação de sons", podendo lnclgr sive ocorrer as duas conjuntamente. As imagens, por sua vez, podent l1| captadas estaticamente, na forma de fotografias, ou em sequência, conC filmes ou vídeo. A distinção entre captâção de sons e imagens parccc rlt s78 579 A CAPTAÇÃO AMBIENTAL DE SINAIS ELETROMAGNÉTICOS, ÓPTICOS OU ACÚSrICOS.,. o sentido em que a lei se refere à captação de sinais "acústicos" e à cap- tação de sinais "ópticos".e sob outro enfoque, do local em que é realizadaa captação, com vis- tas aos diversos regimes de proteção legal, o gênero interceptação de comunicação entre pessoas presentes,lo pode ser dividido nas espécies captação ambiental e captação domiciliar. A captação ambiental, em sentido estrito, é aquela que se refere à captação de comunicação do pensamento de modo reservado, em locais que não são especialmente protegidos pela constiruição, podendo ocorrer até mesmo em espaços públicos. Por ourro lado, a inrerceptação domiciliar é aquela que ocor- re no_âmbito protegido pela inviolabilidade do domicílio, tanro no que se refere à casa, propriamente dita, quanto em outros locais a eles eqìi- parados, como locais não abertos ao público, escritórios profissionais, trailers etc. Quandoaþém decide comunicar um pensamento, ou reakzar ar- gum ato em um local reservado, não estando sob vigia dos ouvidos e olhares públicos, é possível exrrair desse modo de manifestar o pensa- mento uma clara escolha pelo seu caráfter reservado. consequentemente, é correto considerar que o emitente exclui de tal ato comunicativo to- dos os demais indivíduos que não estejam presentes em tal ambiente ou espaço. Algo que se passa em locais não abertos ao público esrá pro- tegido por a uma correta expectativa de privacidade.tl se este locai é o domicílio, em relação ao qual cada indivídvo gozado máximo de prote- ção e intimidade, a possibilidade de captação de sons e imagens deve ser restritivíssima, porque ao direito de liwe manifestação do pensamento cm oPeração ocult¿ e simultânea à comunicação, sem o conlecimento dos interlocutores ou com o conhecimento de um ou de alguns deles',. rr Há locais que, potencialmente, evidenciam o desejo de que a manifestação do pensa- mento permeneça reservado. Por exemplo, quando um advogado realiza uma reunião em reu escritório com o cliente, ou quando um amigo chama o seu confidente, para conversar cm sua casa, a reserva está ínsita. i0 ANos DA LEI DAS ORG,C,NIZAçOES CRTMINOSAS (CR, art. 5q, caput, IV) se soma a proteção constitucional da intimicl:r.h, e vida privada (CR, art. 5q, caput, X) e a garantia da inviolabilidadc .1,, domicílio (CR, art.5q, caput, XI). Mas o catâter reservado de uma conversa ou imagem não será dctt.t minado somente pelo local em que se realiza. Especialmente na connr nicação verbal de pensamentos entre pessoas presentes - que potlt.r,l ser objeto de captação ambiental acústica - a forma e o modo de reuliz,rr a manifestação pode indicar que o emitente deseja excluir tal contcri,l,' do conhecimento de terceiros. Se as pessoas sentadas lado a lado ..rrr poltronas de um avião, com muitos passageiros, conversarem, falrrrr,l,' baixo, e ao ouvido uma da outra, estará claro que o conteúdo da r',,rr versa não está aberto à captação de terceiros. O mesmo se diga dc rrrrr diálogo de namorados, de um banco de jardim público, aos cochiclr,,', Nesse caso, também haverá a proteção constitucional à liberdaclc rlr, comunicação do pensamento (CR, art.5q, caput, [V), mas por se rlul'u de um ambiente que não goza de especial proteção, não estarão clrvol vidos os direitos assegurados nos incisos X e XI do caput do art. 5" rl'r Constiruição. Por haver situações variadas, no caso de afetação dos direitos e,,rr¡ titucionais é preciso destacar as captações ambientais stricto s€nsrr, tl+' um lado, e captações domiciliares, de outro.l2 Numa escala de intensidade, considerando a expectativa de ¡rlotr, çáo, a captação ambiental é menos restritiva que captação domiclll,u A interceptação telefônica, por sua vez, é menos restritiva do quc ruu bas. Arualmente, todos sabem que é muito pouco seguro cotìv€rSrrr rrl telefone. As conversas pessoais, com cuidados para não serem escutrr(l,tì por terceiros, são mais seguras que conversas telefünicas. Na captação ambiental entre presentes, que se realize em krr',rl¡ diversos do domicílio, o regime deve ser mais restrito que o das intll ceptações telefônicas, seja quanto às hipóteses de cabimenro, sr'lrr quanto aos requisitos exigidos quanto ao suporte probatório de ¡rr',rlr,r bilidade de participação criminosa da pessoa que sofrerá restriçrro crrr seu domicílio, nos fatos investigados. 12 Na doutrina nacional, a distinção entre interceptação ambiental e intercepreçiìo tl,,rrl ciliar é feita por AteNrrs Frr,Ho, Márcio Gclllcft¡ lì-itto. A interceptação...op. (:it.,;ttll pp.180-185. 580 581 A cÄprAçAo AMBIENTAL DE srNnrs Er.ri'rr{oMAGNÉucos, óprrcos ou acúsucos.. Nas captações domiciliares, em que são colhidas conversas dentro das residências, a invasão da privacidade é ainda maior que a da inter- ceptação telefônica, pois são captadas todas as conversas ocorridas dentro do lar, sobre os assuntos mais íntimos, muitos deles que jamais seriam falados com interlocutores em conversas telefônicas. A situação é equivalente a atos e práticas que ocorrem no domicílio, com o desejo que seja absolutamente desconhecido das demais pessoas. Evidente que ninguém espera estar sendo filmado por estranhos, sem seu consenti- mento, quando está em seu dormitório. 4. Alguns regimes estrangeiros de captação ambiental e domiciliar No direito estrangeiro, as exigências legais têm sido fortemente res- tritivas para autorizaçáo de captação domiciliar, devido ao seu elevado potencial de atingimento de aspectos da privacidade, não só do inves- tigado, como de pessoas que com ele convivem. Bem diverso é o que se exige para uma captação ambiental em outros espâços, nos quais a expect¿tiva de privacidade é mais reduzida. Se o indivíduo age sob os olhares de terceiro, evidentemente é menor a sua expectativa de pri- vacidade e reserva.l3 Na Alemanha, o tema foi objeto de muitas discussões.l4 Atualmente, segundo o regime da SIPO, é possível a realização de interceptação rr Como destaca Francisco Muñoz Conde (Muñoz CoNor, Francisco. Valoración de las gra- lraciones audiovisuales en el proceso penal.2. ed. Buenos Ai¡es: Hammurabi,20O7,p.66) é necessário "distinguir lo que serian las manifestaciones privadas en espacios públicos, cuyri cap- trrción filmada genérica puede admitirse bajo ciertas condiciones, de lo que es el núcleo estricto tle la intimidad en domicilio particular, cuya filmación sólo puede admitirse excepcionalmente, y :run así de forma discutible, con una autorización específica de Ia autoridad judicial". r{ A reforma constitucion¿l de 1998 acrescentou incisos ao art. 13 da Constituição, passando rr admitir, no inciso III, a utilização de meios técnicos de captação e transmissão sonora sem o conhecimento do morador, para tom¿r a persecução penal mais eficiente, com o que pas- sou â ser possível uma autorização judicial para instalação de microfones dentro das resi- tlôncias ou a utilização de microfones exlernos capazes de captar as conversas ocorridas no lnterior do domicílio, por suspeitos da prdtica de crimes especiølmente graves. O Tribunal Cons- titucional Federal alemão, na sentença de 3 de março de 2004 (BVerfGE f09, p. 279-391), considerou constitucional a Emenda Constitucional, mas inconstitucionâl a lei que inseriu novos dispositivos no Código de Processo Penal alemão (SIPO). Destaque-se o seguinre ¡rrsso da decisão, extraído do detalhado artigo de Leonardo Martins (Menrrr.rs, Leonardo. t)rime Organizado, Terrorismo e inviolabilidade do domicílio. Sobre o controle de consti- tucionalidade de novas regras de Direito Processual Penal alemão e sua relevância para a 10 ANOS DA LEI DAS ORGANIZAÇOES CRIMINOSAS domiciliar,ls com regramento distinto da interceptação ambiental.l6 C,r¡tt base nessa diferenciação do texto legal, a doutrina distingue as 'þantl.'r espionagens acústicas" (grosser Lauschøngrifr), no caso de escutas dotrtl ciliares, das "pequenas espionagens acústicas" (kleiner Lauschøngri,ll), realizadas fora do domicílio privado,lT que integram o gênero escutas lrr tensivas (L øu s ch øngrifi) .rB As grandes espionagens acústicas sáo rcalizadas no interior de dortrl cílio privado que, em regrâ, deve ser o domicílio do investigado. No crts,r de domicílio de outra pessoa, a medida somente é admissível em carf l,'r excepcional, desde que haja suspeita, fundad¿ em circunstâncias fátit,r', interpretação do art. 5e, XI, da CR. Re\¡istâ dos Tribunais, n.824, p. 40I-437, jun./2(xl'l I "domicílio goza, 'enriquecido' com a dignidade human¿ e o mandamento constitucionrrl ,l'r observância incondicional de um¿ esfera do desenvolvimento exclusiv¿mente privado c 1','r sonalíssimo, de uma proteção absoluta. A comunícação sigilosa necessita de uma prolcrr'lr 'espacial'em que ela se dê e na qual o indivíduo con-fie. Ao indivíduo deve ser assegttr,t,h' o real exercício do direito de ser deixado empaz, mormente em seus espaços privrttllr,. mesmo sem medo de que órgãos do poder de polícia estatal vigiemou acompanhem o tk:r,'tt volvimento de sua personalidade no núcieo da configuração privada da vida. Neste núclc, ', 't vigilância acústica do domicílio não pode intervir, ainda que seja no interesse da eficfcl.r ,l¡ persecução penal e investigação da verdade real. Neste mister, não ocorre uma pondcr.r¡,1,, noneada pelo critério daproporcionalidade entre a inviolabilidade do domicílio e o lntr, resse estatal na persecução penal. Nem mesmo interesses muito imponantes da coietivl,l,r,l'. têm o condão de justificar uma intervenção nesta liberdade para o desenvolvimerrto ,'ttt questões personalíssimas que tenham ligação com a dignidade humana". Por outro lltl,,, r, TCF considerou que: "O conteúdo de conversas sobre crimes cometidos não pertencc x r'rlr núcleo absolurâmente protegido da administração privada da vida." (MenrrNs, Leott¡ttrl,r Crime Organizado... op. cit.,2004, p. a08). Como explica Kai Ambos (Arrleos, Kai. Lrts ¡'r, hibiciones de utilización de pruebas en el proceso penal alemán. In GóMss Coronttr, lrr'rtr Luis (Coord.). Prueba y proceso penal. Análisis especial de la prueba prohibida en ('l rlr tema español y en el derecho comparado, Valencia, Tirant 1o Blanch, 2008, p. 339), p:rr,r t,'r compatível com a exigência do Tribunal Constirucional Federal, que exigia uma pr(,lr'\,ltr absoluta do "núcleo da vida privada", "o legislador excluiu explicitamente esse campo c:'lr'l cial da possibilidade de vigilância ($ 100c tV 1). As medidas de vigilância têm que scr htr,'t rompidas imediatamente ($ l00c V l), e anular as respectivas gravações ($ 100c V .l), tl, podendo ser utiliz¿dos os respectivos conhecimentos ($ 100c V 3)". 's SIPQ $$ 10I.c a 101.e. 16 StPq S 101.f. 17 RoxrN, Claus, La prohibición de autoincrlminación y de las escuchas domlclll¡rr lrr¡ Buenos Aires: Hammurabi, 2008, p. 75. r8 AMBos, Kai. Las prohibiciones...op. cir., 2008, p :ì3t't. 582 583 A cAprAÇAo AMBTENTAL DE srNArs nr.ri IRoMA(ìNr!r'lcos, ópucos ou Acúsrlcos determinadas, de que o investigado se encontre em tal local;le ou quando a medida realizada, apenas no domicílio do investigado, não propicie, por si só, a investigação do fato ou a averiguação do paradeiro de outro investigado.2o Além disso, a escuta domiciliar somente pode ser ordenada com base em elementos obietivos, Que indiquem, especialmente no que se refere ao local em que seráL realizada a medida, as relações entre as pessoas que serão vigiadas; bem como seia possível identificar que não serão registradas expressões relativas ao âmbito essencial da vida privada.2l Quanto ao conteúdo da ordem judicial, é necessário que haja refe- rências às circunstâncias do câso concreto, com indicação de elementos fáticos que fundamentam a suspeitâ em relação ao investigado, além da indicação de elementos objetivos que revelam a ligação entre as pessoas investigadas e o local onde devam ser realizadas as diligências.22 Na Itália, o Codice di Procedura Penale também distingue a inter- ceptação entre presentes, de um lado, e da interceptação domiciliar, de outro. Os requisitos daquela são mais tênues que os desta. A intercepta- ção entre presentes segue o mesmo regime da interceptação telefônica, cxigindo 'þraves inícios de crime" previsto num rol de delitos graves e que "a medida seja absolutamente indispensável para o prosseguimento da investigaÇã.s".zt Já a interceptação domiciliar de comunicação de pes- soas presentes exige que haja fundado motivo para considerar que no domicílio esteja se desenvolvendo atividade criminosa.24 Diferentemente, o ordenamento jurídico de Portugal não se distin- gue entre interceptação domiciliar e ambiental. A Lei n. 512002, de lI de janeiro, que estabelece medidas de combate à criminalidade orga- nizada e econômico-financeira, prevê o "registro de voz e imagem", por c¡ualquer meio, mediante prévia autoúzaçáo ;udicial, cabível somente cm relação a um rol taxativo de crimes.2s No regime geral do Código de l)rocesso Penal português, o art. 189.1 prevê que, para as interceptações p SIPQ $ 101.c III L r" SIPQ $ 101.c III 2. 'r SIPQ $ 101.cIV. 'i SIPQ S 101.d III. " CPP italiano, art.266, comma 2e, primeira parte, c.c. art.267, commale " CPP italiano, art. 266, corrrma 2e, pane frnal, c.c. art. 267, comma le. '' Lei5f2002,art.6e. 10 ANOS DA LEI DAS ORGÁ,NIZAÇÕES CRIMINOSAS das comunicações entre presentes, aplica-se, por extensão, o regime dtl interceptações telefônicas. No aspecto do suporte probatório, a medldl somente será cabível "se houver razões para crer que a diligência é lnr dispensável para a descoberra da verd¿de ou que a prova seria, de outfl forma, impossível ou muito dificil de obter".26 Também no Chile, o Codigo Procesal Penal náo faz distinção enttrl interceptação ambiental, de um lado, e domiciliar, de outro. É posd. vel a obtenção de autonzação judicial para que se fotografe, filme o0 registre, mediante outro meio de reprodução de imagens, bem como l| determine a gravação de comunicações entre presentes.2T Há exprefil remissão ao regime das interceptações telefônicas, que exige "fundad{ suspeitas, baseadas em fatos determinados, de que uma pessoa tenhl cometido ou participado de um crime'128 A legislação brasileira não se valeu dos melhores modelos de dirolü estrangeiro, e disciplinou, em regime único, a interceptação ambienttl¡ como 'taptação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos e acúT ticos". Além disso, como se verá, comparado com os regimes de outfol países, o direito brasileiro estabelece requisitos mais amplos que a pÍó. pria interceptação ambiental stricto sensu, dos outros países. 5. Requísitos legais para a captação ambiental A Lei 13.964/2019 acrescentou o arr. 8e-A ìt Lei 9.296/7996, cendo um regime legal próprio enrre nós para a captação Até então, a revogada Lei do Crime Organizado - Lei 9.034/19g5, como a atual Lei 12.850120L1 apenas nominavam o meio de o de prova de "captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticor acústicos" (respectivamente, art.2e, caput,II, e art.3e,II), sem previsão sobre hipóteses de cabimento, requisitos legais ou mesmo cessidade de autorização judicial. Embora prevista na Lei de Interceptação Telefônica - Lei /1996 -, a captação ambiental de sinais eletromagnéricos, ópticor acústicos tem requisitos próprios (art. 8e-A, cøput), diversos doi interceptação telefônica e telemática (art. 2q, caput). 'z6 CPP pornrguês, art. 187.1. 27 CPP chileno, art.226. 28 CPP chileno, art. 222, n. l. 584 585 A cAprAÇÁo AMBIENTAL DE sINArs ELETRoMAGNÉrrcos, ópucos ou acúsucos... O primeiro requisito é: "a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e igualmente eficazes" (Lei 9.296/1996, art.8q-4, caput, I). A captação ambiental será cabível se os outros meios disponíveis (p. ex.: a busca e apreensão, a obtenção dos registros das ligações telefônicas etc.) forem menos efetivos ou de igual efetividade que a captação am- biental. Em outas palawas, a interceptação ambiental deve ser método mais eficaz para a investigação. Isso vale, inclusive, para em comparação com a própria interceptação telefônica ou relemática (Lei 9.29611996, art. 2e). Se a interceptação telefônica ou a telemânca for igualmente efrcaz, será preferível à captação ambiental de sinais eletromagnéricos, ópticos ou acústicos. Em suma, o inciso I do caput do art. 8e-A da Lei 9.29611996 deixa claro que a captação ¿mbiental só deve ser urilizada como ultima tatro, mesmo em relação à interceptação telefônica ou telemática. Obviamente, no requerimento e na fundamentação não basta repetir os termos da lei e afirmar que a investigação não poderia ser realizada por outros meios þalmente eficazes, o que não será uma fundamenta- ção válida, nos termos do inciso I do $ 2e do art.315 do CPP. O inciso I do caput do art. 8q-A da Lei9.29611996 deve ser lido em conjunto com o aft.4e, caput, da mesma lei, que determina que pedido de captação ombiental contenha "a demonstração de que a sua rcahzaçáo é necessá- rla à apuração de infraçáo penal"?e Devem ser expostos os motivos que Justifiquemo porquê não será possível apurar as infrações penais por outros meios igualmente eficazes. Para tanto, será necessário apontar, com base nos elementos de informação já disponível que, dentre os di- versos meios de prova e meios de meios obtenção de prova que possam vlr a ser utilizados, o que terá melhor êxito, em termos de reconstrução histórica dos fatos, será a captação ambiental. Será necessário fazer um prognóstico, partir do estado da investigação e dos meios disponíveis, valendo-se de uma máxima de experiência sobre o que normalmente ¡contece nas investigações, justificando a inferência de que a realtzaçãio de todos os demais meios provavelmente não terá como consequência ¡e Lênio Luiz Streck (Srnncç Lênio Luiz. As lnterceptações telefônicas e os direitos fì¡nd¿menteis. 2. ed. Porto Alegre: Liwari¿ do Advogado, 2001, pp. 52-53) observa que o¡ meios disponíveis não são o que, materialmente, a autoridade policial tenha à sua dispo- tlçllo, mas, sim , os meíos legais processuais. l0 ANos r)A LEI DAS ORGANIZAçÕES CRIMINOSAS um resultado melhor que a captação ambiental de sinais eletromagnétl cos, ópticos ou acústicos. O segundo requisito é haver "elementos probatórios razoáveis rk. autoria e participação em infrações criminais cujas penas máximu¡ sejam superiores a 4 (quatro) anos ou em infrações penais conexls" (artigo 8e-A, cøput,Il, da Lei 9.296196). A expressão "elementos probatórios razoáveis", do ponto de vist,r terminológico, não parece ser diversa da expressão "indícios razoáveis" do inciso I do art. 2e da Let 9.296/1996, aplicável às intercepraçirt.r telefônicas. Em ambos os casos, é aplicável um standard de prrvu simples probabilidade. Ou, seja a autoria é "mais provável que sim tlr que não". Serão insuficientes meras suspeitas ou simples possibilidrtlc de o investigado ser autor do crime. Não se exige um standard tlc prova de elevadíssima probabilidade, que é necessário somente parr ú condenação penal. E necessário, também, que o fato investigado constitua infração ¡rc nal cuja pena máxima cominada seja superior a 4 anos, ou seja infraç,lo penal conexa.3o Como se trata de artigo de lei que funciona como crrrrl logo de crimes, não há que se considerar a 'toma de penas máxinr¡l¡ cominadas", no caso de investigação de mais de um delito de mesr¡rrt espécie ou de espécies diversas. Uma lesão corporal leve, cuja pena nrrl xima cominada é de um ano, não autoriza a interceptação ambientrrl, assim como também não a autoriza a investigação de cinco lesões c:or porais leves praticadas em concurso material. O número de crimes lliìo altera a gravidade abstrata do delito, que é o fator considerado a, rc pensar em um catálogo de delitos ou categoria de infrações penais. A opção legislativa por infrações penais cuja pena máxima seja su¡rl rior a quatro anos indica a necessidade de que se trate de crimes ¡ir;r ves. Contudo, no ordenamento brasileiro, há vários crimes que l(rrrr penas máximas superiores a quatro anos, mas com penas mínimlls th, um ano,3t o que permite, inclusive, a suspensão condicional do proccs*,, 30 Trata-se de critério mais restrito que a interceptação telefônica, cabívei para todo c , ¡r r,r I quer crime punido com detenção (Lei 9 .29 6 / I99 6, art. 2a, lIl). 3t somente no código Penal há os seguintes crimes: lesão corporal grave (cp, arr. 129, () 1,,I abandono de incapazes, qualificado pelo resultado lesão corporal (Cp, an.133, $ lu), t.rr,, lionato (CP, art.l7l, caput),fra:ude no comércio (Cp, art. l75, S la), sonegação de cst:r,1,, ,1, filiação (CP, an. 243), atentad.o contra a segurançrì rlc scrviço cle utilidade públice (( ì1,, ,rrr 586 A cAprAçAo AMBIENTAL DE stN^rs rir.ri lrì()M^(;Nrilrcos, óprlcos ou Rcúsrlcos... (Lei 9.09911995, art.89). Em tais hipóteses, sendo possível dispensar a própria instrução processual, cabível ao final do período de prova, declarar extinta a punibilidade sem que haja o acertamento do fato, é rematado exagero admitir-se a interceptação ambiental, mormente se for aceita a espécie rnais restritiva de interceptação domiciliar. Haverá flagrante desproporcionalidade entre a restrição do direito fundamen- tal a ser realizada e o beneficio a ser obtido. Assim sendo, para evitar situação de inconstirucionalidade, por contrariedade aos incisos IV e XI do caput do art. 5e da Lei Maior, o correto será dar ao inciso II do caput do art. 8e-A da Lei9.29611996 interpretação conforme a Constituição, para considerar que será cabível em tais casos a captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos e acústicos, desde que não seja cabível, cm tese, a suspensão condicional do processo. Pela mesma razã"o, náo se deve decretara a captação ambiental em investigação de crimes que tenham pena máxima cominada maior que 4 antos, mas seja "infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos", pois permitem, em tese, o acordo de não persecução pe- nal, nos termos do art. 28-A do CPP. É absolutamente desproporcional admitir um meio de obtenção de prova, visando a correta reconstrução histórica de um fato, que pode ser objeto de um ato negocial que leva a uma solução consensuada, sem sequer haver oferecimento de denúncia. Há mais a ser considerado, ainda sobre os crimes que admitem a in- terceptação ambiental. A parte final do inciso II do caput do art. 8q-A da Lei 9.29611996, ao admitir a captação ambiental de "infrações pe- nais conexas", deve ser lida restritivamente, sob pena de inconstitucio- nalidade. Não é proporcional admitir a interceptação ambiental para investigação de crimes de pequena e média gravidade. Haverá despro- porcionalidade manifesta. Cabe considerar que, até a edição da Lei 13.96412019, embora apenas nominada na lei, a"captaçáo ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos" era meio de obtenção de prova somente cabível para persecuções penais envolvendo apenas orga- nizações criminos¿s! Nem mesmo em relação aos crimes praticados por organizaçáo cri- minosa faz sentido a admissão de que qualquer delito conexo, mesmo 265, cøput),falsificação de documento particular (CP, art. 298), falsidade ideológica (CP, an. 299,caput), falso reconhecimento de firma (CP, art.300), supressão de documento parti- cular (CP, art. 305), exploração de prestígio (CP, art. 357, caput). 1O ANOS DA LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS que de pequena ou baixa gravidade, possa ser investigado medirrrrr¡, captação ambiental. Embora haja a previsão da captação ambiental .ll sinais eletromagnéticos, ópticos e acústicos, no inciso II do art. 3e dl l,r,l 12.850/2013, como um dos meios de obtenção de provas passíveis tll utilizâção para a investigação de tais organizações, o próprio conceiro rll organização criminosa do art. 1n, $ 1n, da mesma lei, exige, entre outrn¡ elementos, que tal associação obtenha vantagem mediante "a prfll.,r de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (qulrro¡ anos". Em tais casos, é aceitável que se realize a interceptação ambir.rr tal não somente para provar o crime de participação em organização r.rl minosa (Lei 12.85012013, aft.2e), cuja pena máxima é de 8 anos, contl também os crimes por ela praticados, e que lhe são conexos. Mas, cstr,r crimes devem ser punidos com "penas máximas que sejam superiorr..., 'r 4 (quatro) anos"! Portanto, admitir a intercepção ambiental, além das infrações pcrr,rh com pena máxima superior a 4 anos, também em relação às quaist¡rrr.r "infrações penais conexas", independentemente das penas destas, st.rl,r 'utilizú tal meio de obtenção de provas até mesmo para contravençr1r,r penais conexas, o que náo faz nenhum sentido. Ao mais, essa amplirrçítl desmedida teria importantes reflexos na chamada "descoberta fortrrlt,r" de provas. Isso porque, em qualquer infração conexa que fosse clc.st u berta, como em tese se admitiria, por si, 'taptação ambiental de sirr,rh eletromagnéticos, ópticos ou acústicos", automaticamente a descolrt. r I rr seria legitimamente utilizável. Em suma, uma interpretação restritiva que sedefende é que a lrl¡r,i tese legal a exigir "elementos probatórios razoâveis de autoria e pîr'tlr I pação em infrações criminais cujas penas máximas sejam superiorcs :r 'l (quatro) anos ou em infrações penais conexas" (Lei9.29611996, arr. t{" /\, caput, II) seria: em relação ao investigado contra o qual haja elenrcrrr,rr probatórios que indiquem a probabilidade de ter praricado crimc t'rrf,r pena máxima é superior a 4 anos, na investigação desse delito é adr¡rlrsl vel a interceptação ambiental e, se na realizaçáo de tal meio de obtcrrq,t,, de prova, forem captado elementos de que tal imputado também ¡rr,rrl cou crime conexo, com pena inferior a tal patamar, tais element()s t;rilt bém poderão ser valorados. Por outro lado, o juiz náo poderá antoriz.u ,r interceptação ambiental contra quem haja somente elementos prolr,rtri rios razoáveis de autoria e participaçio cr.r.r inlrirções com pena rlrrixlrrr,r 588 589 A cAprAçAo AMBIENTAL DE sINAIS lìl.ri lROMA(;Nrj'rrcos, óprlcos ou acúsucos... lgual ou inferior a 4 anos, mesmo que estas sejam conexas com infrações praticadas por outras pessoas, cuja pena máxima seja superior a 4 anos. 6. Hipóteses inadmissíveis de captação ambiental: o sigilo profis- sional e o direito ao silêncio do imputado O regime jurídico da'taptação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos e acústicos" devia expressamente veda¡ considerando inadmis- slvel a medida, no caso que envolva o sigilo profissional. A captação am- biental não pode ser autorizada para funcionar como meio sub-reptício para superar ¿ garantia do sigilo profissional. No plano constitucional, o dever de sigilo profissional deriva da pro- teção da privacidade e da intimidade.32 Como explica JosÉ AnoNSo DA Srrva: 'b tirular do segredo é protegido, no caso, pelo direito à intimi- dade, pois o profissional, médico, advogado e também o padre-confes- sor (por outros fundamentos), não pode liberar o segredo, devassando rr esfera íntima, de que teve conhecimento, sob pena de violar aquele tlireito e incidir em sanções civis e penais".33 Há determinadas profissões, atividades ou funçõestu qr., para seu bom exercício,3s exigem que lhes sejam revelados fatos que compõem a vida íntima das pessoas. É o caso, por exemplo, dos padres, dos médicos c dos advogados, a quem as pessoas recorrem paru fazet confidências, u Nesse sentido: B,c,RRos, Marco Antonio. A busc¿ da verdade no processo penal. São I'rulo: Ed. RT, 2002, p. 201; Sonnrxno, Mário Sérgio e Lacavq Thaís Aroca Datcho. t) sigilo profissional e a produção da prova, In. Sc,rn¡Ncp FrrueNors, Antonio, G¡vrÃo o¡ i\lurtxe, José Raul e Z¡Noron or Monaus, Maurício (Coords.). Sigilo no processo penal. lificiência e garantismo. São Paulo: Rl 2008, p. 174. " SrLvA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 19 ed. São Paulo: Mrlheiros, 2001, pp. 2I0-2II. ''r A parrir da redação do art. 154 do Código Penal, que tipifica o crime de violação de sigilo ¡rrofessional, Paulo José d¿ Costa Júnior (Cosre JúNIon, Paulo ]osé da. Comentários ao {)ódigo de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1988, v. II, p. 121) explica que "função é o cncârgo recebido por lei, decisão judicial ou contrato (tutor, curador, inventariante, síndico, tliretores de escola, hospitais ou empresas); ministério é o mister que tem origem em deter- rrrinada condição social, de fato ou de direito (padre, freira, missionário, assistente social); ollcio é a ¿tividade remunerada, mecânica ou manual (sapateiro, ourives, cabeleireiro, cos- t ureiro etc.); profissão é a atividade remunerada, exercida com habitualidade, via de regra de t unho intelectual". "' CrNrrrva, Walter. Segredos profissionais. São Paulo: Malheiros, 1996,p.27. 1O ANOS DA LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRiMINOSAS tornando a relação de confiança e a obrigação de discrição inerentes u,,¡ profissionais. Uma vez detentor desse segredo, o profissional que recebe tal infì,r mação não está autorizado a revelar o fato da intimidade de seu clicrrr,,, de que teve conhecimento, a terceiras pessoas. Para proteg€r o s€$rr,rl', e a relação de confiança entre as partes, há o dever de sigilo profissiorr,rl, cuja violação sem justa causa, caracteriza o crime do art. 154 do Critll¡,i,, Penal. Ao estabelecer tal sigilo aos confidentes necessários, o legislador' ,rr segurâ dupla proteção, como bem destaca JoÃo BEnNARDTNo GoNznr,,r "ao impor o dever de sigilo aos confidentes necessários, a lei está, c,rr comitantemente, tutelando estes dois aspectos da liberdade indivitlrr,rl poder conservar ocultos certos dados da vida íntima, isto é, imunes rr lrr débitas interferências; e a liberdade de recorrer a determinados prolrr, sionais, cuja ajuda só se pode pedir com a garantia de que não trairiro , r¡ segredos a eles transmitidos".36 Há, porém, outro aspecto que não pode ser ignorado no sigilo ¡rrrr fissional: o interesse público no correto exercício de uma ativirl:r,ll relevante socialmente. A proteção do segredo profissional é tanrh,,rrr uma garantia instirucional: "por via da proteção dispensada âo S€glcrln particular, a norma busca também o seu escopo de garantir a confi:rrr¡,r pública na lealdade dos confidentes necessários; o que, à sua vez, i. lrr dispensável na preservação da saúde coletiva, na distribuição da jusrl¡rr, na moralidade dos negócios etcl'.37 Médicos, jornalistas, psicólogos e advogados, por exemplo, rtrrr l mesmo dever de resguardar o sigilo profissional não como obri¡¡:rçiìo para com o cliente que lhes depositou o segredo, ou como condição ¡rr,l soal para o exercício profissional, mas sob um enfoque mais amplo, ¡t,rr'r resguardar a credibilidade da corporação profissional a que pertcnçrn, pois esta é uma exigência ético-profissional. Em suma, arazáo de ser do sigilo profissional é a preservação do t,'rr teúdo do segredo emrazão da necessidade de manutenção e respcito rl,r relação de confiança que lhe é inerente.3s 36 Gor.rzace,João Bernardino. Violação de segredo profissional. São Paulo: Max l,in¡r,rr,r,l I976,p.43. 37 GoNzaca, ]oão Bernardíno. Violação de segredo...op. cít.,1976,p.44. 38 Comentando o tipo penal do art. 154 do Código l)cnrrl, João Bernardino Gonza¡¡rr ((.,rrr ztoa,,Jo:ao Bernardino. Violação de segredo...r4t. t:it., lt)76, p. 24) expiica que "a lci ohlr.rrr,r 590 59r A cAprlçÃo AMBTENTAL DE srNAts Irr.tì r't{oM^(ìNÉr.lcos, ópucos ou Rcúsrrcos... A outra face do dever de sigilo profissional é o direito de não ser obrigado a revelar os fatos proregidos pelo sigilo. Trara-se de um direito- -dever de todo profissional:3e um dever perante o cliente, um direito perante o juiz.ao Por tal motivo, o aft.207 do Código de Processo Penal proíbe o depoi- mento de pessoas que, razáo de função, ministério, offcio ou profissão, devam guardar segredo. De modo semelhante, o arr. 448, inc.Il, do Código de Processo Civil, prevê que a restemunha não é obrigada a depor sobre fatos a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo.al E, por força do art. 388, inc. II, nem mesmo a parte não é obrigada a depor de fatos a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo.a2 rqui, garantir a tranquila utilização dos serviços de determinados profissionais, encorajando r convicção pública de que perante eles, podemos desvendar nossas intimid¿des". , Nesse sentido, em relação ao sigilo profissional do advogado: SoonÉ, Ruy de Azevedo. O Advogado, seu Estatuto e a Ética Profissional. 2 ed. São Paulo, R! 1967, p.301; So- unÉ, Ruy de Azevedo. A ética profissional e o Estatuto do Advogado. São paulo: Ltr, 1991, p. 396; Crunvrve, Walter. Segredos proûssionais. ..op. cit.,1996, p.18. No mesmo sentido, na doutrina estrangeira: Cervq Mario Gómez. El secreto profesional de abogacía. Revista de ciencias Jurídicas, n. 11, 1968, p. 231. como *plica Juan Manuel Gonzâlez sabathié (Norma de Ética Profesíonal del Abogado, Colegio de Abogados de Rosario,1982) "El se- creto profesional constituye alavezun deber y un Derecho del abogado. Es hacia los clien- tes un deber de cuyo cumplimiento ni ellos mismos pueden eximirle;es un derecho del :rbogado hacia los jueces, pues no podría escuchar expresiones confidenciales si supiese que podía ser obligado a revelarlas". {{' CALvo, Ma¡io Gómez. El secreto profesional ... op. cit.,1968,p.231. {r Além disso, o art.166 do Código de Processo Civil, em relação às atividades de concilia- ção e mediação, prevê, na cabeça do artigo, que entre outros princípios, é governada pelo de confidencialidade. E os $$ te e 2'Q do referido dispositivo estabelecem: $ le A confdenciali- clade estende-se a todes as informações produzidas no curso do procedimento, cujo teor não ¡roderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto por expressa deliberação das partes. $ 2e Em razio do dever de sigilo, inerente às suas funções, o conciliador e o mediador, assim como os membros de suas equipes, não poderão divulgar ou depor acerca de fatos ou ele- nrentos oriundos da conciliação ou da mediação". 'rt Analisando regra semelhanre no direito argentino, Hugo Alsina (ArsrNe, Hugo. Tra- tndo de Derecho Procesal civil y comercial. Buenos Aires, cia. Argentina de Editores, f941, t. III, p.5a7) explica que "No es exacto que el dueño del secreto sea la parte, pues nrcdia tømbién una cuestión de ética profesionøl. No es sólo a aquélla a quien interesa la reserva, slno también al tesrigo, en cuya probidad y decoro confía la sociedad por razones de orden ptiblico. l'or consiguiente, ni la parte ni el juez pueden obligar al testigo a revelar un hecho que en su ('oncepto debe reservarlo por respeto a su dignidad profesionøl' (destaquei). IO ANOS DA LEI DAS ORGAN]ZAçÕES CRIMINOSAS Justamente por violar o sigilo profissional , náo é admissível a aur( )r I zação judicial de captação ambiental de manifestações do pensamr.rrtn protegidas pelo sigilo profissional e, caso produzida, tratar-se-á de pr',rv,r ilícita, que deverá ser desentranhada do processo. Não se pode autorl zar a captação ambiental em escritório de advocacia, em consultrirl,'¡ médicos, em confessionários ou outros lugares em que se exerçanr lrrrr ção, ministério, oficio ou profissão protegidos pelo sigilo profissiorr,rl Mas, independentemente no local em que se desenvolva a ativirlrrrlrr, não se pode admitir a captação ambiental de conversas entre advo¡p,|,' e cliente, mesmo que esteja, por exemplo, em antessalas de audiônr,l,r, num parlatório de presídio ou mesmo em um restaurante. Da nrcsrrrr forma, um sigilo entre padre e seu fiel deve ser protegido indepentk,rr temente do local em que ocorra a confissão. Outro direito que pode ser indevidamente afetado pela caprlçitl ambiental é o direito ao silêncio e a garantia constitucional conlr,r,l autoincriminação (CR, art. 5e, ca¡tut,Lxlll). Implementando tal direito, o Código de Processo Penal estahclr., r' que, antes do interrogatório, o acusado deveri¿ ser advertido dr¡ r,'l direito de permanecer calado e de não responder perguntas quc llrr, forem formuladas (art. 186, caput), bem como de que o silêncio, r¡ul não importa em confissão, não poderia ser interpretado em prejulzo rl,r defesa (art. 186, parâgrafo segundo). ]ustamente por isso, não é lícito buscar obter uma confissão clc lrr vestigados ou acusados por meios sub-reptícios, ardilosos, sem o irrlot mar de que poderia pennanecer calado. Uma autorizaçáo judicill .lr, captação ambiental de sinais acústicos, por exemplo, em uma cclrr rll penitenciária, num parlatório de presídio, ou mesmo em viaturrìs rll transporte de presos, caractetizatá prova ilícita, por violar o art. 5rr, rrr¡rlf , LX[I, da CR" c.c. art.186 do CPP. Na Alemanha, RoxrN posiciona-se contrariamente à utilizaçiro ,ll confidentes que gravam conversas com investigados em celas de ¡rllslrr, para depois ser utilizado como prova, por violação do nemo tenetur st' lrtr gere.a3 E, noutro estudo, afirma que o interrogatório por ardil devcri,r r,r.r a3 Roxrw, Claus. "Nemo Tenetur" la jurisprudencia en la encrucijada, In. Roxl¡, ( ll,rrrr Pasado, presente y futuro del Derecho Proces¡¡l Pcn:rl. Trad. Óscar Julián (lur.rr, r,, Peralta, Buenos Aires: Rubinzal - Culzoni Ed., 2009, ¡r. I(r7. 592 593 A caprAÇÁo ÄMBTENTAL DE srNArs ur,ri'r rìoM^(ìNri rrcos, óprrcos ou acúsrlcos... rubsolutamente proibido, independentemente da gravidade do crime, da maior ou menor complexidade das investigações ou de qualquer outra característica especial do caso, porque significa iludir a lei.aa O direito iro silencio será afetado, se os métodos utilizados pelos agentes estatais "se afiguraram um sucedâneo funcional'do interrogatório formal".as Trata-se de um imperativo de todo e qualquer Estado Democrático de Direito que acredite que, no processo penal, embora a obtenção da verdade seja muito relevante, não deve ser obtida a qualquer custo ou qualquer preço. O STF já decidiu que é ilícita a prova nos casos de interrogatório for- nal, ou de 'þravação clandestina de 'conversa informal' do indiciado com policiais", se em um ou outro, não houve a expressa adverrência do direito ao silêncio.tr Notadamente no caso de acusado preso, considerou que as "regras sobre a instrução quanto ao direito ao silêncio - as cha- madas Miranda rules - hao de se aplicar desde quando o inquirido está cm custódia ou de aþma outra forma se encontre significativamente ¡rrivado de sua liberdade de açio".a7 Mais recentemente, também con- siderou ilícita as "entrevistas informais", realizadas em cumprimento de 'a RoxtN, Claus. La prohibición de ¿utoincriminación y de las escuchas domiciliarias. lluenos Aires: Hammurabi, 2008, p. 65. No mesmo sentido, na Espanha, também Muñoz { )onde (Muñoz CoNor, Francisco. Valoración de las grabaciones...op. cit.,2007, p. 43), eonsidera que o direito " a no se declarar contra sí mismo" é violado: "cuando se utilizan agentes cncubiertos o confidentes que graban conversaciones con el presunto responsable (con el (lue, por ejemplo, conviven en Ia misma celda) u luego esas grabaciones se utilizan como ¡rruebas en el proceso, pues está claro que en estos casos la policía, o el agente estatal que sca, está incumpliendo su obligación de proporcionarle asistencia jurídica al sospechoso en su deciaración y de advertirle a éste que todo lo que diga puede ser utilizado en su contra''. No mesmo sentido, na doutima italiana: Cenl'Errr, Fernanda. Captazione indebita di dialoghi r rr imputati detenuti. Rivista Italiana di Diritto Processuale Penale, 1976, p. 1110. t" OuvEIRA r StrvA, Sandra. O Arguido como Meio de Prova contra sl mesmo. Conside- r;rções em torno do princípio nemo tenetur se ipsum accusar¿. Coimbra: Almedina, 2018, p. 316. 4" STF, Primeira Turma, HC 80.949-9/RJ, Rel. Min. Sepulveda Pertence, j.slll}l}l,Dj t4l12lor. " STF, Segunda Turma, RflC 122.2791R), ReI. Min. Gilmar Mendes, j. l2l08lI4, DI. \0ll0l14. Ou ainda, que "a Constituição Federal impõe a o Estado a obrígação de informar rro preso seu direito ao silêncio não apenas no interrogatório formal, mas logo no momento tll abordagem, quando recebe voz de prisão por policial, em situação de flagrante delito. ;1. Inexistência de provas independentes no c¿so concreto. Nulidade da condenação". (STR Scgunda Turma, AgR no RHC 192.7981SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 24l12l2l, Dj 0210312r) IO ANOS DA LEI DAS ORGANIZAÇÓES CRIMINOSAS mandados de busca e apreensão, quando o investigado não é advclrl,l,' do seu direito ao silêncio.a8 Em suma, como afirmava Ane PsrrEcntNt GnrNoven: "o interrr,¡r,,r tório sub-reptício do indiciado ou acusado, clandestinamente grlvu,l,,, constifui, inequivocamente prova ilicitamente obtida, não só enr f ,rr r dos princípios gerais, mas ainda por contrariar frontalmente as r€grur r lr advertência quanto ao direito ao silêncio".ae Por fim, não teria valia o paralelo com a possibilidade de legalnrcrrr, o Poder Judiciário autorizar a interceptação telefônica, telemáticn ,'rr captação ambiental, em local público ou em residência, de um sus¡rr.tt' ou investigado. Evidente que em tais casos, a produção do meio clt. ,,lr tenção de prova não exige prévia advertência do direito ao silêr¡r tl Se assimo fosse, tais técnicas de investigação seriam absolutamentc lrrr' ficazes. Em tais hipóteses, conrudo, os investigados que convers:ur,lr por telefone, ou trocam mensagens telemáticas, ou mesmo quc: ('.n versarem pessoalmente em local público ou privado, estarão livrcs, ,'¡ pressando seus pensamentos e exercendo normalmente suas ativirl:rrlr,r rotineiras. Muito diferente é a situaçáo de uma pessoa que estejt l)r '.!'t, sob a tutela do Estado, que tem o direito de ser alertado de quc ¡',',1,, permanecer calado, como condição de validade para que qualqucr rl,' claração autoincriminatória possa ser utilizada contra si. Em suma, constitui prova ilícita a "captaçáo ambiental de sinrris r,ll tromagnéticos, ópticos e acústicos" de manifestações de penslrrrr.rrtl de investigado sob tutela estatal, seja em celas de prisões, parlar<5rir':, rll presídio ou viatura policial, por violar o direito de permanecer cll,rrhr, assegurado pelo art. 5e, caput,inc. LKII, da Constituição. 7. Conclusões 1. O direito constitucional atingido pela ambiental de "crì¡rt.r¡,t,' ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos e acústicos" é o cìirt.tr,r I liberdade de comunicação de pensamento entre pessoas preserìlt.s, rlrr art. 5q, caput, IV, da Constiruição. 48 STF, Segunda Turma, Rcl 33.71ÿSP, ReL Min. Gilmar Mende s, j. Ill 06119, Dj 28 I ut I t', ae GRINoVER, Ada Pellegrini. As interceptações telefônicas e gravações clantlt.stlrrrq rrr, Processo Penal. In. Gnrxovrn, Ada Pellegrini. Novrrs T'endências do direito procr.rrrtl Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1990, p. (r7. 594 595 A CAPTAçÁO AMBIENT,A.L DE SINATS Iil.lt',l ROMA(ìNri'r'lCOS, Óprtcos ou Rcúsucos... 2. A legislação brasileira não distingue a captação ambiental strito sensu, da captação domiciliar. Deferia o fazer, pois nesse último caso há também a afetaçio do direito à inviolabilidade do domicílio (CR, art. 5e, caput, XI), que somente deveria ser admitida em hipóteses ainda mais restritas. 3. A expressão "elementos probatórios razoáveis", do inciso II do art. 8-A da Lei 9.29611996, deve ser interprerada como sendo um støndard de prova de prova simples probabilidade: é mais provável que o investi- gado seja autor do delito que não seja. 4. A previsão do inciso II do art. 8-A da Lei9.29611996, permitindo a captação ambiental no caso de crimes com pena máxima superior a qua- tro anos necessita de uma adequação, sendo exigida uma interpretação conforme a Constituição. A medida não deverá ser decretada em rela- ção a crimes que, em razáo da pena mínima cominada, admitam a sus- pensão condicional do processo ou acordo de não persecução penal, sob pena de uma ilegítima violação do direito a liberdade de manifestação do pensamento, porque desproporcional ao resulto obtido de efetivida- de da persecução penal. 5. A Lei admite a captação ambiental de "infrações penais conexas", sem qualquer limite de pena. O dispositivo deve receber uma interpre- tação conforme à Constituição, para que não seja admitido, por incons- titucionalidade, a decretação de tal meio de obtenção de prova crimes de pequena e média gravidade, por ser medida desproporcional em face clos resultados que podem. 6. Não é admissível a "captação ambiental de sinais eletromagnéricos, ópticos e acústicos" de manifestações do pensamento proregidas pelo sigilo profissional e, caso produzida, tratar-se-á de prova ilícita, que deverá ser desentranhada do processo. 7. Não deve ser admitida a"captaçio ambiental de sinais eletromag- néticos, ópticos e acústicos" de manifestações de pensamento de inves- rigado sob tutela estatal, seja em celas de prisões, parlatórios de presídio r¡u viatura policial, por violar o direito de permanecer calado, assegu- rado pelo art. 5q, cøput,inc. LXI[, da Constituição.
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