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LIVRO 1 - O que ensinar em educação profissional

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[Livro 1] O que ensinar em Educação Profissional
Site: Ambiente Virtual de Aprendizagem do Ifes
Curso: Didática Profissional
Livro: [Livro 1] O que ensinar em Educação Profissional
Impresso por: Jefferson Johnson de Carvalho Souza
Data: quinta, 8 fev 2024, 20:06
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Descrição
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Índice
Introdução
1 Fundamentos de uma Didática para a Educação Profissional
1.1 Didática - o que é?
1.2 Didática das técnicas: uma preocupação bem antiga e ainda nova
1.3 Princípios para uma Didática da Educação Profissional
2 Didática Profissional
2.1 Didática Profissional - Elementos
2.2 Transposição didática e contrato didático
2.3 Material complementar: Livro - Didática Profissional
Considerações finais
Referências
Ficha Técnica
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Introdução
Prezada e Prezado Estudante, o objetivo deste livro é apresentar a Didática com foco na Educação Profissional.
Para isso, vamos definir brevemente em que ela consiste e lembrar alguns pressupostos fundamentais para
melhor desenvolver o ensino em Educação Profissional.
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1 Fundamentos de uma Didática para a Educação Profissional
Capítulo 1
O que ensinar em Educação Profissional
Muito do planejamento em educação se refere a questões planeadas pela didática em seus temas clássicos (Pimenta e Anastasiou, 2002), como
avaliação, metodologias e estratégias de ensino, relações comunicacionais, ensino e aprendizagem, os quais serão estudados no seguimento
deste material.O que é didática e qual seu objeto de estudo?A Didática é a área da Pedagogia que tem como objeto de investigação o ensino.
XXXX A Grécia já empregava o termo didaktiké, definido como arte ou técnica de ensino. Contudo, foi João Amos Comenius, em sua obra
Didática Magna - Tratado da arte universal de ensinar tudo a todos, escrita entre os anos 1627-1657, quem começou a definir a arena
Didática.XXXX
João Amos Comenius
Fonte: Web Gallery Art.
Sua gênese dá conta de uma história que foi e vem sendo definida pela evolução dos processos educacionais. Já houve momentos nos estudos
e publicações na área, de defesa de um método didático único  onde as diferenças individuais, deveriam explicar os fracassos e sucessos dos
alunos, fundamentando uma ideia de desigualdade escolar e social pela condição natural de cada criança ou adolescente.Na lógica da exclusão,
a escola está disponível a todos e os professores nelas estão para ensinar. Se os alunos aprendem ou não, a responsabilidade não é dos
professores, de sua didática, de seus métodos, do que ensina, das formas de avaliar e de como se relacionam com os alunos. Nem das escolas,
da forma como estão organizadas e selecionam os alunos.
Jan Amos Comenius (1592-1670) é considerado o pai da didática moderna.
Nesta proposição, segue a autora explicando, que essas instituições assim como nós, teríamos papéis determinados e esperados pela
sociedade.
De que forma?
Fazendo uma docência de modo proficiente garantimos o cumprimento de nosso papel. Se os alunos não aprendem, isso se deve à condições
inatas, portanto naturais, de defasagens de aprendizagem.  Esse pensamento gerou uma desresponsabilização do sistema educacional e foi o
que vigorou no discurso político, e talvez ainda implicitamente esteja presente nas falas em defesa de uma educação mais eficaz. 
quadro Ainda que possamos remontar aos finais do século XIX para constatar os gérmenes do movimento científico em torno da eficácia
(escolar), o paradigma ganha um fôlego mais consistente após a segunda guerra mundial. Os anos 1950 e 1960 marcam a especialização de
alguns gabinetes universitários norte-americanos na fabricação de estudos científicos de avaliação da eficácia dos sistemas de ensino. A partir
de então, as pesquisas floresceram4 e, com elas, sofisticaram-se os instrumentos de medida da avaliação da eficácia escolar. Os anos 1980
trazem um revigoramento do movimento da school effectiveness. Causalidade ou coincidência histórica, este revigoramento é particularmente
incrementado pela reviravolta neo-liberal dos anos 1980, na Europa e nos Estados Unidos da América (Van Haecht, 2005).  (DIONISIO, 2010)
quadro
Os fundamentos exclusivamente meritocráticos que selecionam os estudantes pelos resultados escolares alcançados, acabam se contrapondo a
um projeto educacional XXXX. há uma super valorização da excelência escolar, que tem como saldo o ranqueamento das escolas.
Ainda segundo Pimenta isso gerou uma radicalização contrária a área, e na defesa de uma educação menos reprodutivista e mais crítica, a
didática foi substituída pelos estudos em ciências sociais, como História da Educação e Sociologia da Educação. 
Ironizando, poderíamos dizer que ele nasce professor, ou que aprender a ensinar se aprende ensinando. (Pimenta, 2002).
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Os anos 1960 e 1970 viram nascer um pouco por toda a Europa ocidental uma cultura crítica alimentada quer pela sociedade civil quer pelo
papel desempenhado pela sociologia crítica. A denúncia que era feita por parte dos sociólogos críticos revelava a injustiça do funcionamento
do sistema de ensino: suposta garante do cumprimento da igualdade universal de oportunidades, a escola ocultava no seu interior uma
nebulosa máquina de fabricação das desigualdades escolares e sociais, conversora de habitus culturais em (de) mérito escolar, tecendo uma
rede tão invisível quanto eficaz na preservação da violência simbólica, em prol da reprodução do habitus legítimo das classes dominantes
(Bourdieu & Passeron, 1978). Esta sociologia crítica dos anos 1960 e 1970 viria abalar profundamente a explicação das desigualdades escolares
baseada nos dons naturais, nas aptidões inatas e na hereditariedade da inteligência, trazida das correntes da psicologia (experimental) que
tiveram grande influência nas concepções de orientação vocacional dos finais do século XIX e primeiras décadas do século XX : a explicação das
desigualdades escolares com base na inteligência, inata ou herdada, geraria um destino fatal, um homem incapaz de se soltar das amarras a
que a natureza o havia destinado. Nos anos 1960, o debate desloca-se, portanto, para a interpretação das desigualdades escolares com base
em características sociais e culturais. As desigualdades escolares seriam tão mais fortes quanto maior fosse o desfasamento entre a socialização
familiar, habitus cultural transportado pelo aluno, e os códigos e habitus considerados legítimos pela instituição escolar.  (Dionisio, 2010)
Michiel Sweerts, A aula de desenho. 1657
Fonte: Web Gallery Art.
"Arte de ensinar tudo a todos" (Comenius)
A didática já foi definida como "a arte de ensinar tudo a todos" (Comenius, 1592-1670). Este termo é usado no dia a dia, em geral, com o
significado de facilitar a aprendizagem, ensinar bem, tarefa do professor, papel do ensino. A Didática é tudo isso e um pouco mais!
A Didática passou por um longo processo evolutivo, suas questões e implicações sempre fazem parte do cenário educacional,  ocupando-se de
estudos e pesquisas acerca dos processos de ensino e de aprendizagem, que envolvem técnicas da ação docente.
Mas, o que é a Didática e qual sua relação com a Educação Profissional?
Responder essa questão é um dos objetivos deste capítulo.
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6 of 20 08/02/2024, 20:061.1 Didática - o que é?
Capítulo 1
Na Grécia, já se empregava o termo didaktiké, definido como a técnica de ensinar. Mais tarde, João Amos Comenius (Jan Amos Komenský), em
sua obra Didática Magna - Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos, escrita entre os anos 1627 e 1657, realizou enormes avanços na
definição moderna de Didática.
Aqui cabe um destaque: a palavra técnica em grego é traduzida para o latim como arte, ou seja, arte e técnica são sinônimos, portanto,
devemos considerar a Didática como um conjunto de técnicas para ensinar!
Busto de Comenius
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/est%C3%A1tua-bronze-monumento-418735/
Comenius (1592 - 1670) deu um novo significado à Didática, com o postulado de ensinar “tudo a todos totalmente” (Omnes Omnia Omnimo),
um pensamento inovador para a época. Para Comenius, todos eram dotados da capacidade de aprender, e, pela brevidade da vida na Terra,
esse aprendizado deveria começar na infância e se prolongar até a vida adulta, sendo a aprendizagem um processo de experimentação do
mundo. Como crítico do processo educacional da época, Comenius acreditava na necessidade de um método para estimular o interesse pelo
ensino que não fosse pela disciplina imposta pelos castigos ou pela violência, mas que respeitasse etapas e fases do desenvolvimento da
criança, cabendo ao professor, no uso do método didático, saber preparar e estimular os alunos para a aprendizagem. 
Nesse ambiente de inovação, com os humanos substituindo o teocentrismo pelo antropocentrismo, a escola foi transformando gradativamente
os princípios de uma educação clássica em princípios da educação moderna. Surgiram novos ideais para uma nova sociedade que libertava a
escola do sacerdócio, este novo projeto de educação deveria reproduzir os processos da natureza, de organização do tempo e do currículo,
levando em conta os limites do corpo e a necessidade, tanto dos alunos quanto dos professores, que bem remunerados deveriam ser formados
para ação docente, docência até então destinada aos missionários religiosos.
A Didática é a disciplina da educação, que tem como objetivo desenvolver técnicas que possibilitem a aprendizagem do aluno pela orientação
do professor. Permitir a aprendizagem dos saberes e fazeres-saberes desenvolvidos pela humanidade é o que mobiliza os desafios dessa área.
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É, portanto, atribuição da Didática investigar os processos e modos de efetivar a educação formal por meio do ensino, como mediadora das
relações entre os seguintes elementos:
Fonte: Equipe de Materiais Didáticos - CERFEAD/IFSC (adaptado)
A partir destes elementos, podemos (com fins didáticos) decompor as ações didáticas em três grandes etapas, as quais não são
necessariamente sequenciais, isto é, estas etapas interagem e se retroalimentam:
PLANEJAMENTO - Inclui: a seleção dos objetivos educacionais e dos "saberes" (sejam eles técnicas, conceitos, contextos...); a escolha das
melhores estratégias de ensino para promover a aprendizagem destes, a reflexão inicial sobre aqueles a quem queremos ensinar, as
melhores formas de avaliação, entre outros;
MEDIAÇÃO - É o momento do ensino efetivo, quando há interação entre estudante e docente e quando as estratégias de ensino são
implementadas. O que está em jogo aqui são as formas de comunicação, de orientação dos estudantes, de motivação, de acompanhamento
do seu percurso... 
AVALIAÇÃO - Como veremos, a avaliação pode ter diversas funções, desde diagnosticar motivação e conhecimentos prévios dos
estudantes, como orientar o processo de ensino na direção mais adequada possível ou ainda direcionar o estudante para uma etapa futura
de aprendizagem ou de encerramento dos estudos. 
Estes elementos serão desenvolvidos nos livros 2 e 3.
Vamos refletir agora sobre o contexto da Educação Profissional e buscando elementos que possam ajudar a responder à questão "o que
ensinar em Educação Profissional?" e a quem ensinar, uma vez que jovens e adultos não têm necessariamente as mesmas formas de se
relacionar com o ensino do que crianças, por isso falaremos em Andragogia, ou seja, a Pedagogia para adultos. 
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1.2 Didática das técnicas: uma preocupação bem antiga e ainda nova
Capítulo 1
"É preciso estudar mais as artes práticas que as ciências especulativas."
Citamos o velho mestre da Didática, pela clareza que já possuía naquele tempo, sobre o fazer como aprendizagem...
“A teoria das coisas é fácil e breve, e não produz senão prazer; ao contrário, a sua aplicação é árdua e demorada, proporcionando maravilhosas
vantagens”, diz Vives. Sendo as coisas assim, importa investigar com diligência o método de guiar facilmente a juventude a pôr em prática as
coisas que dizem respeito às técnicas. (Comenius, 2001).
Comenius ainda destaca alguns cânones acerca da aprendizagem das técnicas, também chamadas de artes:
Aprenda a fazer fazendo;
Façam-se sempre os trabalhos segundo determinada forma e norma;
Mostre-se o uso dos instrumentos, mais com a prática que com palavras, isto é, mais com exemplos que com regras;
O exercício deve começar com os primeiros rudimentos, e não com as obras acabadas;
Os primeiros exercícios dos principiantes sejam acerca de matéria conhecida;
A princípio, a imitação faça-se segundo a forma prescrita; depois, poderá ser mais livre;
O modelo a imitar seja o mais perfeito possível, para que, se alguém consegue imitá-lo bem, possa ser considerado perfeito na sua arte;
O primeiro esforço de imitação seja o mais aprimorado possível, para que se não afaste do modelo nem sequer no mínimo pormenor (isso
naturalmente, nos limites do possível);
O erro seja corrigido pelo professor que assiste à lição, mas acrescentando as observações, a que chamamos regras e exceções às regras;
Exercícios de síntese devem ser feitos antes dos de análise;
Esses exercícios devem ser continuados, até que tenham criado o hábito da arte. Efetivamente, só a prática faz os artistas.
Será que vários destes "cânones" não seriam ainda atuais e ainda desafiadores em nossos contextos escolares e acadêmicos?
Didactica Magna
Acesse a obra máxima de Comenius em PDF, clicando aqui. Este livro, publicado em 1657, tem seus postulados atravessando os séculos e
produzindo ecos nas ciências da educação até nossos dias, inclusive quando novos autores retomam o mesmo desafio na construção do fazer
como fonte de saber. 
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1.3 Princípios para uma Didática da Educação Profissional
Capítulo 1
Uma abordagem específica para o ensino técnico, ou, mais amplamente, para toda a educação profissional, pode ser pensada a partir de
diferentes enfoques e autores: na França, temos já consolidada a Didática Profissional (PASTRÉ et al, 2006); no norte europeu, delineia-se uma
“pedagogia da formação profissional” com forte influência do psicólogo Vigotski (MJELDE, 2015); no Brasil, temos a proposta também fundada
no construtivismo de Jarbas Barato (2016), além de todos os movimentos de educação por competências, presentes em inúmeros países, de
Cuba ao Canadá, da abordagem do alinhamento construtivo (BIGGS; TANG, 2010), da epistemologia da prática (BILLETT, 2012), entre muitos
outros. Entretanto, resolvemos articular a fundamentação de uma didática da educação profissional em torno de alguns elementos
fundamentais:
Fonte: https://br.freepik.com/fotos-gratis/dois-colegas-em-um-fabrica_4410938.htm#page=1&query=f%C3%A1brica&position=24
Ensinar técnicas nem sempre é o mesmo que ensinar conteúdos verbais, teóricos ou discursivos. Aqui, um modelo didático baseado no par Teoria-
Prática revela-se insuficiente.(Barato, 2002)
Fonte: https://br.freepik.com/fotos-gratis/grupo-de-medico-veterinario-verificando-o-estado-de-saude-do-gado-na-fazenda-de-
vacas_11137369.htm#page=1&query=gado&position=40
O trabalho, pensado enquanto obra, representa uma orientação didática fundamental em educação profissional. Fala-se então em "aprendizagem
mediada por obras" como uma poderosa orientação didática, criadora de fazeres-saberes, de valores e de formação identitária (Barato, 2008)
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Fonte:  https://br.freepik.com/fotos-gratis/vista-lateral-de-dois-jovens-agricultores-cultivando-morango-em-uma-
estufa_5765968.htm#page=2&query=farmers&position=0
O ensino da técnica e da profissão deve considerar a  cultura técnica e profissional  da formação pretendida, a análise do trabalho real dos
trabalhadores, bem como a possibilidade de uma interdisciplinaridade ampla (Lave e Wenger, 1998; Moraes, 2016; Gruber, Allain e Wollinger, 2019).
Material complementar
Veja entrevista que realizamos em 2016 com Jarbas N. Barato
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2 Didática Profissional
Capítulo 2
Trataremos agora da Didática Profissional, corrente didática já consolidada em muitos países, tais como França, Canadá, Suíça, Itália, entre
outros. Cada país desenvolve suas próprias estratégias, de acordo com a cultura local. Todavia, é consenso que a educação profissional como
grande área de atividade educacional com sua epistemologia, exige um campo de estudos ou disciplina que aprimore o domínio técnico da
atividade de ensinar: sua própria didática!
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2.1 Didática Profissional - Elementos
Capítulo 2
Trazemos as palavras de três pensadores, Pierre Pastré, Patrick Mayen e Gérard Vergnaud, que escreveram um texto retomando os princípios da
didática profissional (texto disponível em português, em subcapítulo a seguir):
A didática profissional tem como objetivo analisar o trabalho com vistas à formação das competências profissionais. Nascida na França nos
anos 1990, na confluência de um campo de práticas – a formação de adultos – e de três correntes teóricas – a psicologia do desenvolvimento, a
ergonomia cognitiva e a didática –, ela se apoia na teoria da conceituação na ação de inspiração na obra de Piaget. Eis sua hipótese: a atividade
humana organiza-se na forma de esquemas, cujo núcleo central é constituído por conceitos pragmáticos. A didática profissional busca um
equilíbrio entre duas perspectivas: uma reflexão teórica e epistemológica sobre os fundamentos da aprendizagem humana; bem como uma
preocupação em operacionalizar seus métodos de análise para que possam servir à “engenharia” educacional. (...) A análise do trabalho
desenvolvida pela didática profissional tem um duplo papel. Ela é uma etapa prévia da construção de uma formação. É, também, pela sua
dimensão reflexiva, um importante instrumento de aprendizagem. (Pierre Pastré, Patrick Mayen e Gérard Vergnaud, 2006).
Destacaremos algumas reflexões sobre alguns aspectos da Didática Profissional, contextualizando-as à educação profissional brasileira,
considerando a estrutura legal de nossa oferta educativa, apontando possibilidades ao avanço educacional (clique em cada tópico para saber
mais):
As origens da didática profissional
A problemática desenvolvida pela Didática Profissional
Aprendizagem e atividade
Aprender uma cultura profissional
A questão epistemológica
Análise do Trabalho e Seus Campos de Aplicação
Recapitulando:
É preciso conhecer o trabalho para poder ensiná-lo. É uma premissa básica, porém frequentemente esquecida na cultura escolar e acadêmica.
Além disso, aprender o trabalho nunca é aplicar simplesmente uma teoria e requer o engajamento dos aprendizes em situações, em atividades
e em uma cultura profissional. Isso implica a necessidade de uma didática que coloque em cena estas situações e atividades, em que
perpassarão valores éticos, estéticos, políticos, econômicos, ambientais, intimamente ligados às estruturas conceituais das situações laborais. A
seguir, apresentaremos estratégias de ensino que têm o potencial de realizar este trabalho de "transposição didática", ou seja, de criar
condições, na formação, de trazer estes elementos apresentados acima.
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2.2 Transposição didática e contrato didático
Capítulo 2
Embora já tenhamos apresentado algumas modalidades de transposição didática na UC de Epistemologia da Educação Profissional, ao falar
de Simulação, Imersão e Aprendizagem mediada por obras, por exemplo, valem algumas palavras para relembrar o que isso significa para o
trabalho docente. Inicialmente desenvolvida por Chevallard no contexto do ensino de ciências, a Didática Profissional retoma esta ideia com
algumas transformações importantes para (re)pensar o ensino técnico:
A concepção de transposição abarca duas ideias distintas. A primeira, muito importante para Chevallard, é que o conteúdo do ensino das
matemáticas é o resultado de dois processos de transformação: a transformação do saber sábio em saber a ensinar, a transformação do saber a
ensinar em saber efetivamente ensinado. A segunda é o resultado de uma extensão do sentido da palavra “transposição”, e, ao mesmo tempo
de uma mudança de sentido: toda situação de referência, científica ou profissional, implica transformações quando a utilizamos como situação
de ensino e de aprendizagem: simplificação, supressão de certas variáveis, escolha de casos prototípicos, etc. (Pastré, Mayen, Vergnaud, 2019, p.
18)
Mas é bom lembrar que a construção do saber profissional, ou seja, a parte "externa" da transposição didática de escolha dos "conteúdos" e
objetivos de ensino, já é um desafio, não é um "saber dado", como colocamos anteriormente, trata de situações dinâmicas, complexas e
também culturais. 
Equipe cirúrgica, composta por diversos profissionais com diferentes competências, para a construção de uma atividade única.
Fonte: https://www.piqsels.com/fr/public-domain-photo-ifoxn
As estratégias que apresentaremos foram escolhidas considerando estas relações de aproximação do saber e dos contextos de criação destes
saberes, bem como das escolhas, limitações e potencialidades que temos no contexto da formação. Assim, a imersão permite um contato mais
direto em contextos reais de trabalho, bem como as estratégias de contato com a obra do trabalho permitem que o aprendiz construa uma
relação com a profissão por meio daquilo que nela se faz, o que tem o potencial de estabelecer relações identitárias com o fazer, com as
comunidades de prática, com os valores da profissão, suas dimensões éticas, estéticas etc. 
Simulador de condução de trem de alta velocidade
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Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Desk_Simulator_for_Eurostar.jpg
 As estratégias de simulação permitem também colocar o aprendiz em situações semelhantes àquelas que encontrará no mundo do trabalho.
Há vários tipos de simulação, com características diferentes: simuladores que buscam a maior fidelidade possível em relação à situação real de
ação (simulador de voo, de uma central nuclear, de manobra de navio, entre outros), o que permitem aprender diversos aspectos da atividade
sem correr riscos, com a possibilidade de antecipar eventos decorrentes das ações do aprendiz, que em termos normais só aconteceriam muito
depois.
Há outras formas de simulação que buscam uma fidelidadenão tão grande quanto a todas as variáveis das situações, mas sim quanto aos
problemas, desafios ou esquemas típicos de determinadas situações (dramatização, uso de bonecos, manequins simulações de fenômenos
específicos, entre outros). Neste caso também há um potencial didático muito grande a ser explorado pelo professor que mediará a
aprendizagem: poderá retomar as ações realizadas, repeti-las, estimular reflexões sobre o ocorrido, filmar para análise posterior, etc.
Estas são algumas das formas de "transpor" o saber, as técnicas, as situações de produção destes, etc., que envolvem transformações e
mediações por parte do docente (e da instituição de ensino).
Além disso, é bom lembrar também a ideia de contrato didático, que envolve a noção de que "no processo de ensino, existem expectativas
recíprocas entre o professor e seus alunos. Os descompassos entre estas expectativas são uma das razões principais para os mal entendidos e
os fracassos da comunicação" (Idem). Parte do contrato didático se desenha no planejamento das atividades de ensino - planejamento
institucional (como no Projeto Pedagógico do Curso), planejamento docente (plano de ensino e plano de aula) - quando são postos os
objetivos de ensino, as estratégias de ensino, as formas de avaliação. Outra parte consiste na negociação ao longo do processo de mediação
que o professor conduzirá na atividade de ensino.
Em resumo, o contrato didático diz respeito ao "conjunto de normas e expectativas, são os ‘contratos’ que determinam papéis e
estabelecem direitos e deveres relacionados às situações de ensino e aprendizagem. São contratos implícitos que quase sempre se tornam
observáveis somente quando são transgredidos" (Soligo, s/d, p. 2). Tais "regras" são perpassadas por relações sutis, motivacionais e estão
frequentemente (ou deveriam estar) em reconstrução (dialógica, sempre que possível). 
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2.3 Material complementar: Livro - Didática Profissional
Capítulo 2
Caso queira aprofundar seus estudos a respeito desta didática voltada para a formação de trabalhadores, acesse nosso livro Didática
Profissional: princípios e referências para a Educação Profissional. 
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Considerações finais
Fonte: adaptado de Vecteezy.com pela produção do curso
Neste Livro, além das definições básicas da Didática, definimos a Didática Profissional como um campo de estudos que trata da ação como
fonte de saberes, isto é, o fazer produz conhecimento. O ser humano sempre age conscientemente, ou seja, toda atividade laboral humana é
atividade consciente.
Retomando os saberes da epistemologia da educação profissional, na qual a técnica é a ação humana consciente de intervenção no mundo
para produção da existência, a Didática Profissional é o conjunto de técnicas que conduz uma pessoa a uma comunidade de práticas pela
transposição de sabres e valores através dos fazeres trazidos dessa comunidade para a escola.
Os fazeres-saberes que veem da comunidades de práticas transformam-se em competências profissionais ao longo da atividade educativa do
futuro profissional.
Trataremos no próximo livro das "ferramentas" ou instrumentos para operacionalizar uma didática profissional, isto é, como o professor leva
para a sala de aula, laboratório, oficina, campo de práticas e demais ambientes de aprendizagem as estratégias para garantir aprendizagem das
técnicas, contribuindo para a construção de competências profissionais, objetivo dos cursos de formação profissional.
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Referências
ALMEIDA, I. O.; SALAZAR, V. S.; LEITE, Y. V. P. "Processo de ensino e aprendizagem do profissional de cozinha: didática do saber técnico e
o restaurante-escola". Revista Acadêmica da Unigranrio. Vol. IX, n° 1, 2015. Disponível em: <http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/
raoit/article/view/3448/1576>
BARATO, Jarbas Novelino. Conhecimento, trabalho e obra: uma proposta metodológica para a educação profissional. B. Téc. Senac: a R.
Educ. Prof., Rio de Janeiro, v. 34, n.3, set/dez. 2008. 
_____. Em busca de uma didática para o saber técnico. B. Téc. SENAC. Rio de Janeiro, v.30, n.3, p. 46-55, Set/Dez. 2004. Disponível em: <http://
www.senac.br/BTS/303/boltec303d.htm>
_____. Fazer bem feito: Valores em educação profissional e tecnológica. Brasília: UNESCO, 2015. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/
images/0023/002336/233600POR.pdf> 
_____. Saber no trabalho, aprendizagem situada e ensino técnico. B. Téc. Senac: a R. Educ. Prof., Rio de Janeiro, v. 37, nº 3, set./dez. 2011.
Disponível em: <http://www.senac.br/bts/373/artigo2.pdf>
_____. Trabajo, conocimiento y formación profesional. Montevidéu: OIT/Cinterfor, 2016. Disponível em: <https://www.oitcinterfor.org/sites/
default/files/file_publicacion/trab_con_fp_jarbas_web_0.pdf>
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Ficha Técnica
Este material foi elaborado pelos professores e pela equipe pedagógica e de materiais didáticos do Cerfead.
[ Conteúdo ] Olivier Allain - Paulo Wollinger - Ana Beatriz Bahia Spínola Bittencourt
Baseado na edição 2019 (desenvolvido por Bartholomeo Barcelos - Gislene Miotto - Olivier Allain - Paulo
Wollinger)
[ Desenho educacional
]
Maria Luisa Hilleshein de Souza
[ Desenho gráfico ]  Daniel Mazon da Silva
 Camila Marques
[ Revisor ]
[Livro 1] O que ensinar em Educação Profissional https://ava3.cefor.ifes.edu.br/mod/book/tool/print/index.php?id=158458
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