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IMAGENOLOGIA AULA 1 Profª Andressa Santi 2 CONVERSA INICIAL O biomédico na imagenologia A biomedicina é conhecida por abranger diversas áreas de atuação, sendo uma delas a de diagnóstico por imagem. Mas o que exatamente faz um biomédico imagenologista? Sabe-se que, quando o assunto é diagnóstico, é muito importante que existam diversas áreas atuando de maneira conjunta para que seja possível chegar a uma conclusão. A imagenologia abarca todos os exames que geram, de fato, imagens a serem avaliadas e interpretadas por profissionais médicos a fim de, em conjunto com outros exames clínicos, diagnosticar determinadas doenças. Para que as imagens sejam geradas, é necessário – além, é claro, dos equipamentos – que exista um profissional legalmente habilitado e capaz de manusear essas máquinas e realizar os exames. Entre esses profissionais, encontra-se o biomédico imagenologista. Nesse campo, várias são as opções de exercício da profissão que incluem tomografia computadorizada, ressonância magnética, medicina nuclear, densitometria óssea, mamografia, raio X e outras. Em qualquer uma delas, é muito importante que o profissional tenha conhecimento e domínio não apenas sobre o equipamento que está sendo utilizado, mas também a respeito da anatomia e funcionamento dos sistemas do corpo humano. Pode-se afirmar que é básico para que atua no diagnóstico por imagem reconhecer todas as estruturas do corpo, sabendo distinguir até mesmo nos diferentes planos (sagital, coronal e axial). Até mesmo dentro das áreas que citamos, existem subespecialidades, como na medicina nuclear, na qual se pode atuar tanto na Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET/CT) quanto nos exames de cintilografia no geral. A imagenologia constitui um grande leque de possibilidades e requer conhecimentos básicos e aprofundados sobre o corpo humano – sem falar no interesse em se manter permanentemente atualizado para que os diagnósticos sejam cada dia mais precisos. 3 TEMA 1 – ANATOMIA DO CORPO HUMANO O conhecimento e o domínio da anatomia humana são essenciais para estudantes e profissionais de saúde. É aqui que todos os órgãos, sistemas e estruturas do corpo humano são estudados, e quando o assunto é diagnóstico por imagem, pode-se dizer que é a base para conseguir entender todo o restante da disciplina. O corpo humano pode ser dividido em cabeça, pescoço, tronco e membros. Já a anatomia humana pode ser classificada em: • anatomia sistêmica – estuda os sistemas do corpo humano (respiratório, digestório, esquelético, muscular, cardiovascular e endócrino). Cada um deles exerce determinadas funções e, dentro de cada função, existem órgãos responsáveis para que ocorra o funcionamento correto de tudo. • anatomia regional ou topográfica – estuda as regiões (com base na anatomia sistêmica), como tórax e abdômen. • Anatomia clínica – o estudo do corpo humano é feito com auxílio de aparelhos de imagem, como a tomografia computadorizada. • Anatomia palpatória ou de superfície – também com base na anatomia sistêmica, o profissional avalia por intermédio do toque. Como base para estudo da anatomia humana, existe a posição anatômica do corpo humano, padronizada dessa maneira para evitar erros de referência. Essa posição é o corpo humano de pé, ereto, cabeça e olhos voltados para o horizonte, queixo em paralelo com os pés, braços ao lado do corpo e palmas das mãos viradas para frente (Figura 1). É baseado nela que os outros posicionamentos são realizados. 4 Figura 1 – Posição anatômica Crédito: Lazuin/Shutterstock. Com base nisso, o corpo humano pode ser dividido em planos e eixos, conforme disposto a seguir. • Plano coronal: corta-se o corpo lateralmente, indo de orelha a orelha. Nesse plano, identifica-se se a estrutura é anterior ou posterior (Figura 2). Figura 2 – Corte coronal Crédito: Excellent Dream/Shutterstock. 5 • Plano sagital: corta-se o corpo em dois lados (direito e esquerdo), como ilustrado na Figura 3. Figura 3 – Corte sagital Crédito: Excellent Dream/Shutterstock. • Plano axial (ou transversal): corta-se o corpo ao meio, separando em parte superior e inferior (Figura 4). Figura 4 – Corte axial Crédito: Excellent Dream/Shutterstock. 6 É muito importante que esses planos sejam estudados e entendidos, visto que na área da imagenologia todos os exames requerem conhecimento dos cortes anatômicos, desde o posicionamento do paciente até a realização deles. Quando se fala em plano coronal, sagital e axial, deve-se lembrar que esses cortes englobam, além do esqueleto, os órgãos do corpo humano, como o cérebro, que pode ser visto nos três diferentes planos (Figura 5). Figura 5 – Cortes anatômicos do cérebro Crédito: Radiological Imaging/Shutterstock. Em determinados exames de imagem – a tomografia computadorizada é um deles –, as imagens adquiridas podem ser reconstruídas nos três planos, de maneira que facilitem a visualização médica para conclusão de diagnósticos. Além dos cortes, existem os eixos anatômicos: • eixo sagital – também chamado de eixo anteroposterior, é formado pelo encontro do plano sagital com o plano axial e possibilita os movimentos de adução e abdução; • eixo longitudinal – também chamado de eixo craniossacral, é formado pelo encontro dos planos coronal e sagital e possibilita os movimentos de rotação lateral e rotação medial; • eixo transversal – também conhecido como eixo látero-lateral, estende-se de um lado ao outro e possibilita os movimentos de flexão e extensão. Para designar a posição do membro conforme a distância entre a estrutura e a raiz dele, usam-se os termos proximal (quando se encontra mais próximo da raiz do membro) e distal (quando está mais afastado dela). É um conceito muito importante na imagenologia, visto que na aquisição de imagens o profissional muitas vezes deve ser bem específico quanto ao posicionamento do paciente para a realização das imagens corretas (Figura 6). 7 Figura 6 – Posição anatômica Crédito: Vectormine/Shutterstock. TEMA 2 – ÓRGÃOS E SISTEMAS Para que o corpo humano funcione de forma correta, é necessário que exista a chamada homeostase que, segundo Claude Bernard descreveu em 1929, é a constância do meio interno (Avila-Pires, 1976). Essa constância é feita mediante um processo de autorregulação dos sistemas biológicos para que se ajustem às condições ótimas de sobrevivência. Uma vez que ocorra algum tipo de mudança (seja interna, seja externa) que possa ocasionar desequilíbrio dessa homeostasia, há também a probabilidade de se desencadearem falhas e, consequentemente, doenças do meio interno. Os principais sistemas do corpo humano que são trabalhados na imagenologia são: • Sistema esquelético – o esqueleto é composto por ossos e cartilagens e tem duas partes principais: esqueleto axial e esqueleto apendicular. O axial consiste nos ossos da cabeça, pescoço e tronco, ou seja, crânio, 8 vértebras cervicais, costelas, esterno vértebras e sacro; e o apendicular, nos ossos dos membros (braços e pernas). • Sistema articular – as articulações são as junções entre duas ou mais peças esqueléticas e podem ser classificadas quanto ao número de ossos presentes (simples ou compostas), histologicamente (com base nos tipos de tecidos) e funcionalmente (com base na quantidade de movimentos permitidos entre os ossos que formam a articulação). • Sistema muscular – tem como principal função possibilitar o movimento, visto que é o único tecido do corpo que tem capacidade de contração e, consequentemente, fazer com que ocorram os movimentos do corpo. Também é responsável pela manutenção da postura e posição do corpo. Geralmente, os músculos se contraem para manter o corpo imóvel ou em umaposição específica. • Sistema cardiovascular – é responsável pelo fornecimento de nutrientes, retirada de metabólitos, regulação da pressão arterial, transporte de hormônios, regulação da temperatura corporal e outros ajustes homeostáticos em estados alterados. • Sistema respiratório – permite o transporte de oxigênio (O2) para o sangue com a finalidade de ser distribuído às células. Também é responsável pela retirada de gás carbônico (CO2) do sangue para o exterior. Pode ser dividido em porção condutora (que leva o ar para os locais onde acontecem as trocas gasosas), formada por cavidade nasal, faringe, laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos e bronquíolos terminais, e porção respiratória (onde ocorre a troca de gases entre o ar e o sangue), formada pelos bronquíolos respiratórios, ductos alveolares, sacos alveolares e alvéolos. • Sistema nervoso – coordena as funções de todos os sistemas do organismo por meio da recepção e interpretação de estímulos dos meios interno e externo, desencadeando respostas adequadas. Com essa função, auxilia na manutenção da homeostase do organismo. Pode ser dividido em: • Sistema Nervoso Central (SNC), que é composto por encéfalo e medula espinhal e tem a função de processar e integrar informações. 9 • Sistema Nervoso Periférico (SNP), que é composto por nervos e gânglios e responde pela condução de informações entre órgãos receptores de estímulos, o SNC e órgãos efetores. • Sistema geniturinário – é formado pelo sistema urinário e pelos sistemas reprodutores feminino e masculino. As principais funções do sistema urinário são: armazenar, produzir e excretar a urina, fazer a regulação da composição química do sangue, eliminar todo o excesso de líquidos e resíduos existentes no organismo por meio da urina, garantir o equilíbrio dos minerais e ajudar na regulação da produção das hemácias. Ele é composto pela bexiga, uretra, rins, esfíncteres e ureteres. O sistema reprodutor feminino é composto por tuba uterina, ovário, vagina e útero (órgãos genitais internos) e lábios menor e maior, vestíbulo da vagina, monte púbico, clitóris, glândulas vestibulares maiores e bulbo do vestíbulo. Nos homens, os órgãos genitais são compostos pelos testículos, ductos deferentes, epidídimos, ductos ejaculatórios, vesículas seminais, glândulas bulbouretrais, próstata e pênis. • Sistema digestivo – responsável pela digestão e absorção dos alimentos, é formado pelo tubo gastrointestinal e pelas glândulas acessórias. Nesse sistema, existem segmentos que produzem hormônios que contribuem para o bom funcionamento da digestão dos alimentos. O trato gastrointestinal (TGI) é o segmento musculoso que transporta os alimentos desde a boca até a excreção pelo ânus mediante a defecação. Esse trajeto é formado por cavidade bucal, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, reto, canal anal e ânus. • Sistema linfático – é uma rede complexa formada por vasos linfáticos, capilares linfáticos, ductos linfáticos, linfonodos e órgãos linfoides que complementam o sistema sanguíneo, além de produzir linfa, formar células de defesa, impedir edema intersticial, armazenar sangue e destruir hemácias velhas. Os principais órgãos linfoides são o baço, o timo e as tonsilas. As funções desse sistema são manutenção das proteínas plasmáticas e dos líquidos, imunidade celular e humoral e absorção de lipídeos da dieta. • Sistema endócrino – realiza o controle das funções fisiológicas, pela produção e liberação de hormônios na corrente sanguínea. Esses hormônios são produzidos em pequenas quantidades pelas glândulas 10 endócrinas para agir em específicos órgãos. As glândulas endócrinas são tireoide, paratireoides, hipófise, suprarrenal, pineal e timo. Juntos, esses sistemas trabalham para garantir que as funções vitais do organismo estejam em pleno funcionamento. O equilíbrio desses sistemas em funcionamento é a homeostase. TEMA 3 – CONCEITOS BÁSICOS DE RADIAÇÃO Ao falar sobre imagenologia, é de extrema importância o conhecimento sobre o conceito de radiação e tudo o que ela engloba. A radiação é a energia em trânsito, ou seja, que se propaga de um ponto a outro no espaço por meio de partículas dotadas de energia cinética (radiações corpusculares) ou de ondas eletromagnéticas (radiações eletromagnéticas). Pode ser gerada por fontes naturais ou por dispositivos criados pelo homem. Um subconceito de radiação é a radioatividade, que é a capacidade que alguns elementos fisicamente instáveis possuem de emitir energia sob forma de partículas ou de radiação. As radiações podem ser: ionizantes e não ionizantes. As radiações ionizantes são aquelas cuja energia é superior à energia de ligação dos elétrons de um átomo com o seu núcleo. Energias emitidas de núcleos instáveis são capazes de causar ionização. Quando esse núcleo instável emite partículas, elas são tipicamente na forma de partículas alfa, beta ou nêutrons. No caso da emissão de energia, ela se faz em forma de ondas eletromagnéticas semelhantes aos raios-X: os raios gama. As partículas alfa, por terem massa e carga elétrica relativamente maior, podem ser facilmente detidas. A blindagem é uma folha de papel. Já as partículas beta têm capacidade de penetração maior do que as partículas alfa e são capazes de penetrar cerca de um centímetro dos tecidos, ocasionando danos à pele (sem prejudicar os órgãos internos). Pode ser blindada com acrílico. A radiação gama – ao contrário da alfa e beta, que são constituídas por partículas – é formada por ondas eletromagnéticas emitidas dos núcleos instáveis logo após a emissão de uma partícula alfa ou beta. Os raios gama são extremamente penetrantes, e a blindagem típica é o chumbo. Na Figura 7, é possível observar as radiações ionizantes. Figura 7 – Blindagem das radiações ionizantes alfa, beta, gama e nêutron, respectivamente, através de uma folha de papel, alumínio, chumbo e concreto 11 Crédito: Osweetnature/Shutterstock. Por sua vez, a radiação não ionizante tem baixa energia e baixa frequência. Também é denominada de campo eletromagnético, que se propaga através de uma onda eletromagnética constituída por um campo elétrico e um campo magnético. Nesse caso, pode ser gerada por fonte natural ou não natural. 3.1 Interação das radiações com a matéria Uma das principais dúvidas sobre radiação diz respeito aos efeitos que pode causar. Quando ela interage com a matéria, ocorre a transferência de energia, o que pode vir a provocar ionização e excitação dos átomos e moléculas, causando modificação (ao menos temporária) na estrutura dessas moléculas. O dano mais considerável é o que pode ser causado no DNA. Ao entrar em contato com a radiação, os efeitos físico-químicos não podem ser controlados e acontecem logo após alguns segundos. Os efeitos biológicos acontecem em maiores intervalos de tempo – podem variar de minutos a anos. Nesse caso, a resposta é natural, gerada pelo organismo devido à exposição a um agente agressor, e não necessariamente causa doença; pode provocar, por exemplo, redução nos leucócitos. Quando ocorre alguma doença, é causada pelo efeito orgânico. Isso acontece quando o organismo não consegue se recuperar devido à quantidade e/ou frequência dos efeitos biológicos. Podemos citar como exemplo a leucemia. 12 A exposição à radiação pode ser externa, ou seja, de fontes exteriores ao corpo, provenientes de fontes radioativas ou raios-x, ou de fontes internas, resultante da ingestão de materiais radioativos, por exemplo. Os danos podem ser somáticos (quando acontecem diretamente na pessoa irradiada) ou hereditários (quando os danos se manifestam nas gerações seguintes como resultado dos danos causados nos órgãos dos reprodutores). TEMA 4 – EFEITOS BIOLÓGICOS DAS RADIAÇÕES IONIZANTES Os efeitos biológicos podem ser estocásticosou determinísticos. O que difere os dois é que nos estocásticos ocorre apenas a transformação celular, ao passo que nos determinísticos há a morte celular. • Efeitos estocásticos – a probabilidade de ocorrerem é diretamente proporcional à dose de radiação, mas a gravidade independe da dose recebida. Podem acontecer com doses pequenas de radiação, ou seja, não apresentar limiar de dose para que se deem. Ocorre alteração aleatória do DNA de uma única célula que continua a se reproduzir, levando à alteração celular. A severidade dos danos causados é determinada pela localização e pelo tipo de tumor ou anomalia resultante. No entanto, o organismo possui excelentes métodos de defesa, e na maioria das vezes essas transformações neoplásicas não evoluem para câncer. Quando esses métodos falham, após um longo período de latência, o câncer aparece. Pode também ocorrer efeito hereditário, caso o dano ocorra em células germinativas. • Efeitos determinísticos – estão diretamente relacionados à dose de radiação absorvida, e, diferentemente dos efeitos estocásticos, a gravidade aumenta à medida que a dose cresce também, pois existe um limiar de dose. Nesse caso, ocorre a morte celular, e as alterações causadas são somáticas. Apesar da existência desses efeitos, o corpo humano apresenta um mecanismo chamado de reversibilidade, responsável pelo reparo das células mesmo quando os danos causados são profundos. 13 TEMA 5 – PROTEÇÃO RADIOLÓGICA Como visto, existem muitos danos que podem ser causados pela exposição à radiação. Como na imagenologia essa exposição é frequente, existe a proteção radiológica para que o profissional atue de maneira segura. O objetivo dela é fornecer um padrão apropriado de proteção ao indivíduo que está atuando na área. A proteção radiológica baseia-se em princípios fundamentais: • Justificativa: o benefício tem que ser tal que justifique o detrimento, que se define como sendo a relação entre a probabilidade de ocorrência e o grau de gravidade do efeito. • Otimização: o número de pessoas expostas, as doses individuais e a probabilidade de ocorrência de efeitos nocivos devem ser tão baixos quanto razoavelmente exequíveis (princípio As Low As Reasonably Achievable – ALARA). • Limitação de dose: a dose individual dos trabalhadores e indivíduos públicos não deve exceder os limites de dose recomendados, excluindo- se as exposições médicas de pacientes. • Prevenção de acidentes: todo esforço deve ser direcionado do sentido de estabelecer medidas rígidas para prevenção de acidentes (CNEN, 2014). Esse sistema de proteção radiológica existe a fim de evitar os efeitos determinísticos, visto que há um limiar de dose e o objetivo é manter os indivíduos expostos abaixo dele. Para a proteção radiológica das exposições externas, consideram-se distância, tempo e blindagem. Sendo assim, quanto mais longe da fonte, melhor; quanto menos tempo exposto a essa fonte, melhor; e, quanto mais eficiente for a blindagem, melhor. Também é possível classificar as exposições dos seres humanos à radiação da seguinte maneira: • exposição ocupacional – ocorre no ambiente de trabalho; • exposição médica – é a exposição de indivíduos que passam por tratamento ou diagnóstico no meio da radiologia e também de pessoas que ajudam a conter ou amparar pacientes ou até mesmo de voluntários de pesquisas clínicas; • exposição ao público: todas as outras. 14 Quando falamos em frequência e intensidade de exposição, podem ser diferenciadas, por exemplo: • exposição única – radiografia convencional; • exposição fracionada – radioterapia (nesse caso, são necessárias várias sessões de tratamento); • exposição periódica – originada da rotina de trabalho com materiais radioativos; • exposição de corpo inteiro – acidente nuclear, por exemplo; • exposição parcial – pessoa que manipula os radionuclídeos; • feixe intenso – radioterapia e esterilização de alimentos. • feixe médio – radiodiagnóstico; • feixe fraco – radioatividade natural. Para que o profissional que tem contato com a radiação possa trabalhar de maneira segura, existe a avaliação de dose individual, ou seja, em locais que possam determinar algum tipo de risco, o indivíduo deve usar um dosímetro, sendo ele de tórax e de pulso (este é usado quando o profissional faz manipulação de materiais radioativos). Há um limite de dose individual a que se pode estar exposto, e este não deve ser ultrapassado. NA PRÁTICA Saber utilizar os materiais disponíveis, bem como livros e imagens facilmente encontradas quando o assunto é anatomia humana, ajuda muito na prática clínica. Esse é um conhecimento indispensável para quem atua na área da imagenologia. Os conceitos básicos são sempre tão importantes quanto os estudos mais profundos, e ter uma boa base torna o processo de aprendizado mais fácil. FINALIZANDO Os cortes anatômicos (sagital, coronal e axial), bem como as estruturas e sistemas do corpo humano e os conceitos básicos de radiação, são o início do caminho na imagenologia. Dominar esses assuntos a ponto de colocá-los em prática no dia a dia é um diferencial para o profissional que deseja atuar na área. Saber utilizar os princípios da proteção radiológica visando manter os cuidados 15 necessários durante a rotina de trabalho em situações que empregam radiação ionizante vai trazer benefícios não apenas ao paciente que está sendo tratado, mas principalmente ao profissional que tem contato direto com esse meio. 16 REFERÊNCIAS ANDRADE FILHO, E. P.; PEREIRA, F. C. F. Anatomia geral. Sobral: INTA, 2015. Disponível em: <https://md.uninta.edu.br/geral/anatomia- geral/pdf/anatomia-geral.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2021. AVILA-PIRES, F. D. A contribuição de Claude Bernard à ecologia médica. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 10, n. 4, p. 225-230, ago. 1976. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rsbmt/a/VVCCvxN4h4CCHvkCG8H7b9L/?format=pdf&l ang=pt>. Acesso em: 13 ago. 2021. AZEVEDO, A. C. P. Radioproteção em serviços de saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, [S.d.]. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/biossegurancahospitalar/dados/material10.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2021. CNEN − Comissão Nacional de Energia Nuclear. CNEN NN 3.01 − Diretrizes básicas de proteção radiológica. 2014. Disponível em: <http://appasp.cnen.gov.br/seguranca/normas/pdf/Nrm301.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2021. RAIDAN, C. Introdução ao estudo da anatomia humana. São Mateus: UFES, [S.d.]. Disponível em: <https://citogenetica.ufes.br/sites/nupea.saomateus.ufes.br/files/field/anexo/aul a_1_anatomia.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2021. UNEP – United Nations Environment Programme. Radiação – efeitos e fontes. Nairóbi: UNEP, 2016. Disponível em: <http://www.aben.com.br/Arquivos/544/544.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2021. XAVIER, A. M.; MORO, J. T.; HEILBRON, P. F. Princípios básicos de segurança e proteção radiológica. 3. ed. rev. Porto Alegre: UFRGS, 2006. Disponível em: <https://www.gov.br/cnen/pt-br/acesso-rapido/centro-de- informacoes-nucleares/material-didatico-1/principios-basicos-de-seguranca-e- protecao-radiologica-terceira-edicao-revisada.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2021. IMAGENOLOGIA AULA 2 Profª Andressa Santi 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, iremos entender os conceitos de medicina nuclear e um pouco sobre alguns exames que são muito realizados neste meio. O conhecimento básico desse tema é muito relevante para entender melhor o fluxo e a rotina do profissional que trabalha nessa área. TEMA 1 – MEDICINA NUCLEAR Uma das principais áreas de atuação do biomédico imagenologista é na medicina nuclear, que é responsável pelo diagnóstico de diversas doenças utilizando materiais radioativos e equipamentos que são capazes de realizara captação desses materiais. Na medicina nuclear, os principais exames realizados são as cintilografias (que podem ser de todas as partes do corpo) e o PET/CT, um dos exames mais utilizados na oncologia. 1.1 As primeiras descobertas na radioatividade Em 1896, pela primeira vez na história, Henri Becquerel descreveu o fenômeno da radioatividade. Ele observou que o urânio emitia radiações semelhantes aos raios-x, que causavam impressões em chapas fotográficas e ionizavam gases. Em 1898, o casal Marie e Pierre Curie batizaram esse fenômeno, descoberto por Becquerel, com o nome que o chamamos até hoje: radioatividade. Eles destacaram que cada elemento radioativo possuía essa propriedade de forma particular, constatando, em sequência, nos elementos rádio, polônio e tório. Marie Curie foi a primeira pessoa na história a receber dois prêmios Nobel por criar a base científica para os futuros estudos desenvolvidos nesse campo por meio do livro Tratado de Radioatividade, publicado em 1910. Também foi a primeira mulher a tornar-se membro da Academia Francesa de Medicina. Já em 1899, Rutherford observou que as emissões radioativas são compostas de, no mínimo, dois tipos de “raios”, sendo um mais penetrante e outro facilmente absorvido, chamando-os de alfa (α) (os menos penetrantes) e beta (β), que ainda não possuía características muito conhecidas. 3 O casal Curie verificou que alguns raios eram defletidos pelo ímã e outros não eram. Os que eram defletidos, correspondiam à radiação beta de Rutherford, tendo o sentido da deflexão semelhante aos raios catódicos. Posteriormente, a radiação que não defletia foi identificada como raios alfa. Com essa experiência, foram determinadas as cargas elétricas das partículas radioativas e as suas massas. Figura 1 – O casal Curie Créditos: Everett Collection/Shutterstock. Em 1900, Paul Villard verificou que existia um tipo de radiação que não sofria nenhum tipo de influência de campos elétricos e magnéticos e que tinha um poder de penetração maior do que todas as outras anteriormente descobertas. Produzia efeito elétrico, luminoso e fotográfico muito maior que os das radiações alfa e beta. 4 Ele percebeu que, quando essa radiação atravessa um gás ou um sólido, produz um tipo de radiação secundária similar à radiação beta, que pode impressionar igualmente placas fotográficas, tornar o ar condutor e desviar por um campo magnético. Desta forma, a radiação gama (γ) foi a última descoberta. A radioatividade é um fenômeno natural, ocorre devido à desintegração de radionuclídeos (ou núcleos instáveis), onde há emissão de energia na forma de onda eletromagnética (γ) ou partículas (α, β ou nêutrons, dependendo das suas propriedades físicas, como carga e massa). Os raios-x para uso médico ou industrial são considerados uma radiação artificial, pois são gerados por meio de uma descarga elétrica de alta voltagem, onde, por aceleração, os elétrons (no catodo) se chocam com um alvo metálico polarizado positivamente (ânodo), gerando, assim, os raios-x. Tanto a radiação γ quanto os raios-x são ionizantes. Na medicina nuclear, a aplicação da radiação é utilizada em procedimentos não invasivos que possibilitam avaliações funcionais, anatômicas e morfológicas. 1.2 Princípios da medicina nuclear O uso dos radionuclídeos pode ser tanto como fontes, quando o meio biológico recebe apenas a radiação, como com traçadores radioativos. O primeiro exame que foi feito utilizando radioisótopos foi a captação de iodo pela tireoide. Desde 1938, o iodo radioativo é muito utilizado na medicina nuclear, em que também foi usado com fins de tratamento em pacientes com câncer de tireoide. Em 1958, Hal Anger desenvolveu a câmara de cintilação, um sistema que faz a formação de imagens que não exigia que o detector fosse movimentado e que apresentava maior resolução geométrica, além de ser possível obter projeções diferentes a partir de uma mesma distribuição do radiofármaco. Essas informações que as câmaras adquiriam eram transformadas em imagens e exibidas por um tubo de raios catódicos, de modo que se tornavam filmes ou chapas fotográficas. Os equipamentos que são utilizados hoje em dia são derivados desta câmara de Anger. Hoje, os equipamentos câmara gama são compostos por um Gantry, um sistema de movimentação, um sistema de processamento, um sistema de armazenamento de dados e o sistema de impressão. 5 • Gantry: é o componente que contém o sistema de detecção da radiação acoplado a uma parte eletrônica necessária para essa detecção. O sistema de detecção da radiação utiliza cristais cintiladores e nesses cristais estão acoplados vários tubos fotomultiplicadores. O tamanho e o formato desses cristais podem variar. • Sistema de movimentação: esse sistema envolve os movimentos do gantry e da mesa onde estará o paciente. Para que seja possível realizar imagens em diferentes planos, o gantry precisa se movimentar em diferentes ângulos. Além desses movimentos, ele também deve rotacionar em torno de um eixo fixo para adquirir as imagens tomográficas. • Sistema de processamento, armazenamento de dados e impressão: os dados que são coletados pelo gantry são armazenados por um computador e, posteriormente, processados para dar origem a uma imagem digital que poderá ser visualizada em um monitor. Uma vez que as imagens foram adquiridas e visualizadas, são impressas para avaliação para laudo. Diferente da tomografia computadorizada, que utiliza um espectro de raios-x com várias energias, na medicina nuclear são utilizados fótons de raios gama com apenas uma energia. As imagens são, então, processadas digitalmente em um processo chamado reconstrução tomográfica para a formação da imagem axial ou de um corte do paciente. 1.3 Tecnécio Este é um elemento radioativo pertencente à classe dos metais de transição obtido apenas a partir de formas artificiais. Na medicina nuclear, é usado na forma de isótopo 99 metaestável (Tc-99m). Este composto tem afinidade por tecidos como tireoide e intestino quando administrado sozinho, ou seja, sem ligação com algum fármaco. Historicamente falando, existem duas “fases” muito importantes que dividem a medicina nuclear, a fase pré-tecnécio e a fase pós-tecnécio. A primeira fase foi marcada pela publicação na revista Science, em 14 de Junho de 1945, de um artigo que anunciou a disponibilidade de radionuclídeos ao setor privado. Nesta época, esses materiais eram disponibilizados sem qualquer tipo de garantia em relação à sua esterilidade e apirogenicidade. Quando a Abbot 6 Laboratories comprou a produção desses radionuclídeos e decidiu transformá- los em radiofármacos para uso médico, os padrões de qualidade foram reavaliados, essa foi a primeira produtora de radiofármacos do mercado. O primeiro radiofármaco comercialmente disponível foi o Iodo 131. A comercialização desse material se iniciou em 1950. Já em relação à fase II, iniciou-se com a descoberta do tecnécio (Tc-99m), naquela época denominado de elemento número 43. Quando descoberto, foi questionado se o seu uso era realmente interessante para a medicina nuclear, visto que seu tempo de meia vida é de seis horas. Apesar disso, a energia gama produzida por esse elemento o tornava ideal para a formação de imagens (140 KeV). Em 1957, foi anunciado o desenvolvimento do gerador de tecnécio, pelo sistema Mo-99/ Tc-99m. No Brasil, em 1965, houve um convênio entre o CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa) e a USP (Universidade de São Paulo), quando foi criado o IEA (Instituto de Energia Atômica). Em 1959, começaram as primeiras produções de I-131 para aplicação médica. Quatro anos mais tarde, o IEA (atualmente IPEN – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), começou a produção de radioisótopos e, depois, com a inclusão de procedimentos farmacêuticos, os radiofármacos.Os radiofármacos compreendem: • Geradores de radionuclídeos. • Conjunto de reativos liofilizados (para marcação com Tc-99m). O gerador de radionuclídeo é um sistema de preparação de radiofármacos onde é utilizado um radionuclídeo de meia vida longa que decai em outro radionuclídeo, que será eluído para preparação do radiofármaco. Os agentes liofilizados são reconstituídos e/ou combinados com radionuclídeos na preparação final dos radiofármacos. 1.4 Gerador de tecnécio Consiste em uma coluna cromatográfica, contendo alumina como suporte, na qual é adsorvido o Mo99 de fissão. Este nuclídeo pai, que possui meia vida de 66 horas, decai para o filho Tc-99m, que possui meia vida mais curta de 6 horas. Como o tecnécio possui afinidade pequena pela alumina, pode ser eluído facilmente da coluna mediante passagem de solução salina 0,9% estéril. Em 7 ambas as extremidades, a coluna é fechada e duas agulhas de aço inoxidável permitem a entrada e a saída do líquido eluente, o qual é conduzido ao frasco coletor. O gerador é blindado e acondicionado em um recipiente plástico, o que garante proteção contra radiação ionizante. Figura 2 – Gerador blindado Créditos: Parilov/Shutterstock. TEMA 2 – EXAMES EM MEDICINA NUCLEAR Basicamente, a medicina nuclear é uma especialidade médica que utiliza métodos seguros, praticamente indolores e não invasivos, fazendo uso de materiais radioativos com finalidades de diagnóstico e terapia. Atualmente, a medicina nuclear é aplicada aos campos da oncologia, cardiologia, hematolofia, neurologia, entre outros. Os exames de cintilografia podem ser usados para diagnóstico de diversas doenças, estadiamento de pacientes com câncer, marcações pré cirúrgicas, acompanhamento de metástases ósseas, entre vários outros diagnósticos. Para poder realizar os exames de cintilografia, é necessário que, além do Tc-99m, existam os fármacos que vão ser marcados com o pertecnetato 8 para avaliação de determinados órgãos. Para cada exame, é utilizado um radiofármaco. As principais cintilografias realizadas são: • Cintilografia óssea: é um dos principais exames de estadiamento para pacientes oncológicos para avaliação de metástases ósseas. Além de pacientes oncológicos, a cintilografia óssea também auxilia na avaliação de osteomielite, necrose avascular, doenças metabólicas (Paget e osteoporose), artropatias, fibrodisplasias e outras doenças congênitas raras, fratura por estresse, perda ou infecção de próteses articulares, dor lombar ou sacral, síndrome do reflexo simpático e qualquer outra lesão em estrutura óssea. O fármaco utilizado nesse exame é o MDP, que tem afinidade pelo tecido ósseo. O material é injetado via endovenosa e após três horas de intervalo, a imagem é realizada em um equipamento gama câmara. Figura 3 – Cintilografia óssea (1) Fonte: Santi, 2021. 9 Figura 4 – Cintilografia óssea (2) Fonte: Santi, 2021. O profissional que realiza o exame é o responsável pela avaliação das imagens antes de elas irem para laudo médico. Áreas com hipercaptação devem ser avaliadas observando a necessidade da realização de imagens mais específicas que facilitem a visualização da extensão da lesão. • Cintilografia do miocárdio: é um exame que tem como finalidade avaliar o fluxo sanguíneo nas artérias que nutrem o músculo cardíaco, tornando possível detectar falhas na irrigação de determinadas regiões do coração. É indicado para pacientes propensos a doenças cardiovasculares, de maneira que identifica e previne problemas cardíacos mais graves, como infarto do miocárdio. O radiofármaco utilizado para este exame é o MIBI, que, além de ter afinidade pelo miocárdio, também pode ser usado para cintilografia das paratireoides. A cintilografia do miocárdio é realizada em duas etapas: repouso e stress. Nas duas etapas, o radiofármaco é injetado no paciente e, após 45min a 1hora da injeção, é realizada a imagem do paciente no equipamento gama câmara. O resultado final é a comparação das imagens das duas etapas. A etapa do stress pode ser feita com esforço físico ou esforço farmacológico. O importante é que o material seja injetado no pico do esforço para que seja feita a comparação. 10 Figura 5 – Cintilografia do miocárdio Fonte: Santi, 2021. É muito importante saber avaliar as imagens antes da liberação do paciente, pois, como citado acima, a cintilografia do miocárdio pode diagnosticar casos graves de infarto, os quais podem até indicar que o paciente deve ser encaminhado diretamente para algum hospital para evitar complicações graves. • Cintilografia renal dinâmica: a cintilografia renal dinâmica permite avaliar a função glomerular dos rins e a perviedade das vias excretoras urinárias. O fármaco utilizado nesse exame é o DTPA, que fornece informações quanto ao fluxo sanguíneo renal, morfologia renal e a dinâmica das vias urinárias. Ao contrário da maioria dos exames, no DTPA, o material é injetado com o paciente deitado no equipamento, de maneira que possibilita a visualização do fluxo sanguíneo, ou seja, é possível avaliar o material chegando nos rins. É adquirida a imagem do fluxo sanguíneo, seguida da imagem do DTPA e pré e pós-micção. Quando algum resquício do material permanece no rim e não é excretado para a bexiga após a micção, é necessário fazer a injeção de um diurético. O mesmo processo de imagens é repetido após a administração desse material. 11 Figura 6 – Cintilografia renal dinâmica Fonte: Santi, 2021. • Cintilografia renal estática: é um exame utilizado para detecção de anormalidades parenquimais, diagnóstico de pielonefrite aguda e diagnóstico de rim ectópico. Basicamente, avalia estrutura renal, deixando a função renal para ser avaliada no DTPA. Figura 7 – Cintilografia renal estática Créditos: Hayirhah/Shutterstock. 12 • Linfocintilografia para detecção de linfonodo sentinela: a linfocintilografia é um exame pré-operatório no qual é realizada a marcação da localização do linfonodo sentinela na pele do paciente, geralmente um dia antes ou no próprio dia da cirurgia. Grande parte dos casos de linfocintilografia são de pacientes com câncer de mama ou melanoma. O fármaco utilizado é o Fitato. Figura 8 – Linfocintilografia para detecção de linfonodo sentinela Fonte: Santi, 2021. • Linfocintilogradia de drenagem: por se avaliar a dinâmica linfática através dos canais linfáticos e das cadeias linfonodais, a linfocintilografia é considerado um exame de escolha na avaliação de linfedema. O fármaco utilizado para este exame é o Dextran. 13 Figura 9 – Linfocintilogradia de drenagem Fonte: Santi, 2021. • Cintilografia das Paratireoides: é um exame indicado para pacientes que apresentam alterações nos exames laboratoriais compatíveis com hiperparatireoidismo primário, de forma que o exame procura localizar o adenoma na paratireoide que é responsável pela produção excessiva de PTH. Neste caso, também é utilizado o fármaco MIBI. Figura 10 – Cintilografia das paratireoides Fonte: Santi, 2021. 14 TEMA 3 – IODO131 Na medicina nuclear, o iodo131 pode ser utilizado para diagnóstico e terapia. Com relação ao uso diagnóstico, é indicado para: estudos de captação e cintilografia da tireoide, pesquisa de corpo inteiro (PCI), diferenciação entre tireoidite subaguda e hipertireoidismo por doença de Graves e outras formas de hipertireoidismo, confirmação do diagnóstico de hipertireoidismo por doença de Graves, avaliação geral da estrutura da glândula da tireoide em relação à sua função, avaliação de presença de tecido tireoidiano ectópico. Com relação ao uso terapêutico: tratamento de doenças benignas da tireoide, por exemplo, hipertireoidismo causado por doença de Graves, por doença autoimune ou bócio nodular tóxico. Tratamento de doençasmalignas da tireoide, como carcinoma papilar e carcinoma folicular. O exame é realizado para avaliar a existência de células cancerígenas provenientes da tireoide em outros locais do corpo. Para realizar a imagem, é necessário que o paciente seja submetido a uma dose de Iodo¹³¹ e, após alguns dias (que podem variar de acordo com o objetivo do exame), a imagem é feita no equipamento preparado para aquisição de alta energia. Figura 11 – Iodo131 Fonte: Santi, 2021. 15 TEMA 4 – RA²²³ Além do I¹³¹, existem outros radiofármacos que são utilizados com fins terapêuticos específicos, como é o caso do Ra²²³ (Xofigo). É um radiofármaco classificado como isótopo radioativo antineoplásico com objetivo de tratar adultos com câncer de próstata avançado e resistente à castração, ou seja, um tipo de câncer de próstata que não responde ao tratamento que reduz os hormônios masculinos. O Xofigo é utilizado quando a doença chegou a nível ósseo e causa sintomas como dor. O Xofigo contém o elemento radioativo Ra²²³ que imita o cálcio encontrado nos ossos. Quando é injetado no paciente, o Ra²²³ vai até o local em que o câncer afetou os ossos e emite radiação de curto alcance (partículas alfa) que vão eliminar as células tumorais circundantes. TEMA 5 – OCTREOTATO-DOTA-177LU O lutécio também é utilizado como terapia na medicina nuclear, tendo como principais objetivos a estabilização de tumores neuroendócrinos, redução do volume desses tumores, redução da função tumoral, melhora dos sintomas e da qualidade de vida. Tem boa eficácia em pacientes com captação elevada do radiofármaco pelo tumor, porém, não demonstra ser tão eficaz em pacientes terminais. Além de ser indicado para pacientes com tumores neuroendócrinos, o Lu177 também é, eventualmente, indicado para tumores não neuroendócrinos com expressão significativa de receptores de somatostatina subtipo 2, evidenciada pela cintilografia ou PET com análogo da somatostatina. NA PRÁTICA Apesar de não ser tão conhecida pela maioria das pessoas, a medicina nuclear tem grande impacto na detecção e até mesmo nos tratamentos de doenças no geral, sendo muito utilizada principalmente na área da oncologia, como estadiamento da doença. Ter conhecimento de que o trabalho na medicina nuclear vai além das noções básicas de anatomia e radiologia, deve-se lembrar sempre de priorizar a proteção radiológica não apenas do paciente, mas também do profissional atuante. 16 Cada tipo de exame dentro da medicina nuclear necessita de compostos específicos para que seja possível a realização dele, lembrando que esses compostos são marcados com materiais radioativos e que para que seja feita a captação, é necessário um equipamento específico também FINALIZANDO Os exames de medicina nuclear estão cada vez mais comuns entre os solicitados pelos médicos a fim de diagnóstico e tratamento de doenças que envolvem todos os sistemas do corpo humano. Como em todos os outros casos, é importante dominar o essencial para compreender o todo. Vale lembrar que é possível avaliar todas as estruturas do corpo humano quando se trata de medicina nuclear, desde a parte morfológica até a funcional dos órgãos e sistemas. São exames muito utilizados para estadiamento e diagnóstico de diversas doenças. 17 REFERÊNCIAS ALMEIDA, R. dos S. Medicina Nuclear: do surgimento à atualidade pela ótica dos radionuclídeos. 2009. Disponível em: <https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/6533/2/Rodrigo%20dos%20Santos%2 0Almeida.pdf>. Acesso em: 10 set. 2021. CONSELHO NACIONAL DE TÉCNICOS E TECNÓLOGOS EM RADIOLOGIA. Radioproteção: manual básico de proteção radiológica. 1. ed. Disponível em: <https://prorad.com.br/sis/storage/conteudos/271/2214_Manual_Radioprotecao _Conter.pdf>. Acesso em: 10 set. 2021. CRF SP. Radiofarmácia. 1. ed. 2019. Disponível em: <http://www.crfsp.org.br/images/cartilhas/radiofarmacia.pdf>. Aceso em: 10 set. 2021. OLIVEIRA, R. S. et al. Radiofarmácia e radiofármacos no Brasil: aspectos sanitários e fabris para a construção de uma linha de produção de radiofármacos PET. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 44, n. 2, abr.-jun. 2008. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rbcf/v44n2/a03.pdf>. Acesso em: 10 set. 2021. IMAGENOLOGIA AULA 3 Prof.ª Andressa Santi 2 CONVERSA INICIAL A tomografia por emissão de pósitrons (PET) é um mapa da distribuição de um radiofármaco emissor de pósitrons em um determinado corte do corpo. A ideia de realizar uma imagem a partir da emissão de pósitrons foi proposta para avaliar atividade cerebral em 1951 por Gordon L. Brownell para o neurocirurgião William H. Sweet e, separadamente, por Frank R. Wreen e colaboradores. Porém, apenas o sistema idealizado por Brownell foi capaz de produzir um mapa aproximado da distribuição do radiofármaco por meio da detecção do par de fótons de aniquilação com dois cristais de iodeto de sódio ativado com tálio, colocados em lados opostos da cabeça do paciente e acoplados a um sistema de varredura. Ainda na década de 1950, Michel M. Ter-Pogossian e William E. Powers detectaram o uso de oxigênio em neoplasias malignas com ¹5O. Para a produção dos radionuclídeos emissores de pósitrons são usados os cíclotrons, que são aceleradores de partículas eletricamente carregadas para produzir reações nucleares. É o bombardeio de núcleos atômicos com prótons acelerados pelo cíclotron que permite a produção dos radioisótopos radioativos utilizados nos estudos de PET/CT, sendo o principal deles o 18F, marcado com a fluordeoxiglicose (FDG), um análogo da glicose, que é consumido por células ativas, de maneira que sua presença indica função metabólica tecidual. TEMA 1 – PET CT O PET/CT é uma técnica híbrida que faz a união do exame da medicina nuclear (PET – Tomografia por Emissão de Pósitrons) com a tomografia computadorizada convencional. Com esta união, é possível encontrar informações metabólicas e anatômicas no mesmo exame, permitindo diagnósticos mais precisos. Como já citado, o traçador mais utilizado para este exame é o FDG (fluordeoxiglicose), que é um análogo da glicose, cujo acúmulo depende do metabolismo glicolítico nos diversos órgãos e tecidos. Nos tumores malignos, o consumo da glicose é aumentado, de forma que é possível avaliar esta diferença de metabolismo na aquisição da imagem do PET. Tumores com baixo metabolismo podem apresentar pouca avidez ao FDG. 3 Algumas lesões encontradas no PET podem ter a intensidade da captação quantificada, gerando um valor numérico SUV (standard uptake value), que expressa a atividade metabólica desta lesão, de maneira que torna o exame muito importante para detecção de tumores malignos em fases bem iniciais. O SUV fornece uma informação semiquantitativa do metabolismo da glicose nos tecidos, corrigido pela atenuação e normalizado pela dose injetada e pelo peso do paciente, na maioria dos casos. Também pode ser feita a normalização do SUV pela massa magra ou superfície corpórea, sendo esta particularmente muito indicada para crianças, em que o SUV normalizado pelo peso pode ficar subestimado. O PET/CT pode ser solicitado com diversas finalidades, mas acaba sendo muito utilizado quando se trata de acompanhamento oncológico, como por exemplo: • Confirmar diagnóstico suspeito pela avaliação clínica; • Definir extensão da doença, de maneira que possibilita a melhora no planejamento do tratamento; • Avaliar se o tratamento que o paciente está realizando contra a doença está sendo de acordo com o planejado; • Confirmar se a doença não está em progressão; • Ser utilizado como guia para biópsia. Para realização do exame é necessário que o paciente realize preparo, visto que o FDGé um análogo da glicose. É necessário que o paciente esteja em jejum de 4 a 6h (incluindo bebidas – exceto água) –, este jejum é feito para minimizar os níveis fisiológicos de glicose e insulina. Pacientes que fazem uso de soro glicosado e alimentação parental também devem suspender por 4 a 6 horas antes do exame. Alguns alimentos devem ser evitados no preparo para o PET/CT, como iogurte, leite e derivados, açúcar, mel, melado, glucose de milho, balas e doces em geral; arroz e massas; todos os tipos de grãos; cereais matinais; chocolates e sorvetes, entre muitos outros alimentos que possam induzir a produção de glicose. Também é recomendado que o paciente não pratique atividades físicas nas 24h que antecedem o exame. 4 Já no local que o exame será realizado, após a administração do material, o paciente deve permanecer deitado ou reclinado para que não haja captação muscular. Durante o tempo de espera (em torno de 1 hora), o paciente deve permanecer em repouso dentro de uma sala aquecida ou com um cobertor para minimizar a captação em gordura marrom, que pode causar dificuldade na interpretação das imagens, principalmente na região cervical, podendo ser crítico para neoplasias nesta região (cabeça e pescoço e tireoide, por exemplo). Antes da injeção do traçador, é necessário avaliar o índice glicêmico do paciente, pois estados de hiperglicemia reduzem a captação do marcador. Antes da realização do exame, é necessário que seja feita anamnese com o paciente, a qual deve conter informações como localização da neoplasia, tempo de diagnóstico, tratamentos já realizados, medicamentos que estão sendo utilizados, processos inflamatórios/infecciosos em vigência (que podem causar falsos positivos), se é diabético e realização correta do preparo. As imagens são normalmente realizadas após 1 hora da injeção do traçador. Antes de entrar no equipamento, o paciente deve esvaziar a bexiga e retirar todos os objetos metálicos. A produção do traçador utilizado para a realização do exame é feita em um acelerador de partículas do tipo cíclotron. TEMA 2 – 18-FDG A captação celular do 18F-FDG ocorre por sistemas carregadores tecidos-específicos, que são parcialmente insulinodependentes, podendo ser influenciados pela alimentação, condições nutricionais e existência de diabetes mellitus. O 18F-FDG é transportado via membrana celular de modo similar à glicose, mas realiza somente a primeira etapa de glicólise (conjunto de reações metabólicas cujos resultados são a degradação da glicose ou de outros carboidratos e a produção de energia), formando assim o fluordeoxiglicose18F- 6-fosfato que permanece na célula alterada, não sendo metabolizado. Cabe salientar que, em indivíduos sadios, o 18F-FDG é distribuído amplamente no organismo. 5 O uso do FDG na oncologia é baseado nas taxas diferenciais de metabolismo de glicose nos tecidos benignos e malignos. No entanto, a absorção do material também é acelerada em processos inflamatórios, assim como nas infecções, granulomas, abcessos, e outros processos que podem conduzir resultados falsos positivos e de menor especificidade. Além disso, a absorção de FDG-F18 é muito variável para diferentes tipos de tumores. Este radiofármaco apresenta finalidade diagnóstica. A manipulação e armazenamento deste material devem ser feitos em conformidade com as regulamentações nacionais relativas aos produtos radioativos, do mesmo modo que as precauções de assepsia e de radioproteção devem ser respeitadas. A eliminação de rejeitos radioativos deve ser feita também de acordo com as regulamentações nacionais. Crédito: Andressa Santi. 6 TEMA 3 – FORMAÇÃO DE IMAGENS A formação da imagem do PET/CT é feita por meio da fusão das imagens da Tomografia Computadorizada com o PET, de maneira que é feita a avaliação da parte anatômica (TC) e da parte metabólica (PET). Créditos: Springsky /Shutterstock. 3.1 Protocolos Quando a indicação clínica é de pacientes oncológicos, a aquisição da imagem é realizada na maior parte dos casos da base do crânio até a raiz das coxas. Os braços do paciente devem ficar acima da cabeça para evitar artefatos de imagem na região torácica. Quando a região de interesse é da cabeça e pescoço, deve-se adquirir imagem com os braços abaixados ou adquirir uma imagem dedicada à esta região após a aquisição do corpo inteiro. Para tumores que possuem alta probabilidade de metástases para crânio ou membros, a aquisição pode ser estendida, por exemplo, melanoma. 3.2 Interferências nas imagens Pouco antes de iniciar a imagem, é solicitado que o paciente use o banheiro para esvaziar a bexiga o máximo que puder, pois como o material é excretado pela urina, quando a bexiga está com urina radioativa, dificulta a 7 visualização e interpretação da região pélvica, que é de grande importância principalmente em casos de neoplasia nesta região, por exemplo, câncer de próstata, útero, reto e cólon. O PET/CT não deve ser solicitado em casos de o paciente estar realizando o “check-up”. Estudos japoneses mostraram que a chance de detectar um câncer primário utilizando PET/CT com FDG-F18 é de apenas 1%. Alguns tumores conhecidamente apresentam pouca captação de glicose e, portanto, nestes casos, este exame não é indicado ou é de pouca utilidade. Os principais exemplos deste caso são: • Adenocarcinoma usual de próstata • Carcinoma de células claras renais • Carcinoma lobular de mama • Cistoadenocarcinoma mucinoso de ovário • Tumores neuroendócrinos de baixo grau • Adenocarcinoma pleural in situ • Hepatocarcinoma • Linfomas de baixo grau • Leucemias • Gliomas de baixo grau TEMA 4 – GÁLIO-68 Dentre os radionuclídeos metálicos utilizados na marcação de peptídeos, o gálio-68 tem sido de grande destaque, com diversos trabalhos descrevendo a aplicação clínica de novos peptídeos radiomarcados no diagnóstico de diferentes patologias. O gálio-68 é um dos mais antigos radionuclídeos emissores de pósitrons utilizados na medicina nuclear, recebendo destaque na utilização clínica de rotina devido a sua fácil disponibilidade por meio do gerador de germânio-68, o que permitiu a obtenção de Ga68 sem a necessidade de um cíclotron. Este gerador de 68Ge/68Ga pode ser eluído diariamente. O radionuclídeo 68Ga é de grande utilidade para exames de imagem empregando a tecnologia PET. Possui meia vida de 68 minutos e decai principalmente por emissão de pósitrons de 1,92 MeV de energia e com 89% de abundância. O gerador de 68Ge/68Ga consiste em uma coluna de alumina, 8 dióxido de estanho ou titânio na qual o 68Ge está imobilizado e, à medida que este decai para o 68Ga, seu “isótopo filho”, pode ser eluído com HCl 0,1 M ou HCl 0,6 M de acordo com a matriz utilizada. Independentemente da matriz empregada, o eluato apresentará impurezas metálicas que devem ser separadas pelo fato de que podem competir com o 68Ga, dificultando sua complexação. A purificação do eluato do gerador é feita por meio de coluna de troca iônica capaz de fornecer solução com níveis adequados de impurezas para utilização em pacientes. Créditos: Andressa Santi. 9 Créditos: Andressa Santi. 4.1 PET com PSMA No início, o PET/CT com FDG-F18 era utilizado para avaliar pacientes com câncer de próstata, mas os resultados eram frustrantes. Devido ao baixo metabolismo glicolítico das células deste tipo de câncer, os resultados costumavam ser negativos até mesmo quando a recidiva bioquímica era evidente. Neste contexto, o PSMA revolucionou os estudos no diagnóstico por imagem de câncer de próstata. O termo PSMA vem do inglês Prostate-specific Membrane Antigen, que significa Antígeno de Membrana Específico da Próstata, este antígeno se trata de uma glicoproteína ligada à membrana no carcinoma prostático. Há uma superexpressãode PSMA em tumores resistentes à terapia de supressão androgênica e após tratamento com antiandrogênicos. A principal indicação de PET/CT com PSMA-Ga68 é a detecção de recorrências em pacientes com recidiva bioquímica após prostatectomia radical ou radioterapia. Ao ser marcado com o isótopo gálio-68, o PSMA é capaz de detectar metástases muito pequenas provenientes do câncer de próstata que dificilmente seriam detectáveis por outros métodos de imagens. 10 Os dados obtidos pela literatura e os resultados obtidos pelo PET/CT – PSMA na prática clínica para a detecção de recidivas de câncer de próstata são muito promissores. 4.2 PET com Dota Os radiotraçadores Dota são peptídeos análogos de somatostatina com grande afinidade pelos receptores de somatostatina expressos pelas células dos tumores neuroendócrinos. Em relação à cintilografia (Octreoscan), o PET/CT é mais rápido, capaz de detectar lesões menores, além de expor o paciente a doses menores de radiação. Contudo, é importante salientar que nem todas as neoplasias neuroendócrinas são detectadas por este método. As mais indiferenciadas perdem a expressão de receptores de somatostatina e aumentam o consumo glicolítico. Por este motivo, a indicação de PET/CT com FDG ou Dota para estes pacientes depende fundamentalmente do grau de diferenciação celular. Os tumores neuroendócrinos são um grupo heterogêneo de neoplasias com origem nas células endócrinas de diversos órgãos e tecidos como medular da adrenal, hipófise, paratireoide, tireoide, pâncreas ou do trato respiratório ou gastrointestinal. Existem várias formas de classificação destes tumores, esta classificação leva em consideração a contagem miótica e a expressão do Ki67 e divide os tumores em G1, G2 e G3. Os tumores G1 são mais diferenciados e apresentam maior expressão dos receptores de somatostatina, enquanto os classificados como G3, chamados carcinomas neuroendócrinos, são menos diferenciados e apresentam pouca ou nenhuma expressão de receptores e tendem a apresentar alto metabolismo glicolítico, sendo mais bem avaliados nas imagens de PET/CT com FDG-F18. Basicamente, o objetivo do PET com Dota é caracterizar a presença de lesões que tenham expressão dos receptores de somatostatina. A sensibilidade do exame está relacionada ao tamanho e ao grau de expressão dos receptores de somatostatina nas lesões. Algumas causas relevantes de falso positivo que podem afetar a especificidade do exame incluem: captação fisiológica no processo uncinado do pâncreas, captação fisiológica em baço acessório ou esplenose, captação inespecífica em processos inflamatórios e em alterações osteodegenerativas, fraturas, meningioma, outras neoplasias e contaminação urinária. A análise conjunta detalhada com a tomografia computadorizada, 11 preferencialmente contrastada, ajuda a excluir grande parte dos falsos positivos. Alguns tumores são grandes receptores de somatostatina, como tumores gastroenteropáticos funcionantes e não funcionantes, tumores do sistema simpático adrenal, carcinoma medular da tireoide, adenoma hipofisário, meduloblastoma, câncer de pulmão de pequenas células e meningioma. Estes exemplos representam as indicações mais frequentes do uso de Dota. Por outro lado, alguns tumores apresentam baixa expressão de receptores de somatostatina, por exemplo, câncer de mama, melanoma, linfoma, carcinoma de próstata, câncer de pulmão (não pequenas células), sarcomas, carcinoma de células renais, câncer diferenciado de tireoide, astrocitoma e ependimoma. Portanto, estes exemplos não são muito recomendados para avaliação com Dota. TEMA 5 – PET/RM O primeiro sistema integrado de PET e ressonância magnética (PET/RM) de corpo inteiro foi introduzido recentemente, em meados de 2010. As possíveis vantagens do PET/RM incluem o alto contraste de tecidos moles e a capacidade funcional da ressonância. Esta tecnologia, ainda não muito utilizada em comparação com o PET/CT, fornece informações anatômicas e moleculares e pode vir a atingir níveis de sucesso semelhantes aos do PET/CT, principalmente em casos oncológicos, em que a avaliação por RM é mais recomendada do que a tomográfica, tendo em vista o contraste superior de tecidos moles. Na oncologia, o PET/RM de corpo inteiro é especialmente indicado em casos que se beneficiam tanto das vantagens do PET na detecção de doença extramedular, como na superioridade da RM na detecção de compressão medular, doença extramedular e sítios residuais ativos após o tratamento. De todas as áreas do PET/RM, a neuroimagem apresenta o caminho mais promissor. Isto se deve principalmente às excelentes ferramentas disponíveis para ambas as modalidades, para avaliar vários aspectos da anatomia e a função cerebral, bem como a sua estrutura simétrica. Outras áreas que o PET/RM pode desempenhar um papel maior seria cabeça e pescoço, abdômen superior e aplicações musculoesqueléticas. 12 Até o surgimento da PET RM híbrida, não era possível integrar o PET com a RM numa mesma máquina devido os ímãs da ressonância magnética criarem o campo magnético para o exame de ressonância que interferem nos detectores da imagem do scanner PET. Foi desenvolvido pelos fabricantes um sistema de blindagem especializado para praticamente eliminar as interferências do campo magnético na cadeia de detecção e processamento PET. A solução deste problema foi o desenvolvimento de uma nova tecnologia de detectores PET compatível com campos magnéticos, ou seja, detectores com fotomultiplicadores de silício (SiPM), que possibilitam maior sensibilidade de detecção com maior flexibilidade dos protocolos de PET/RM. Para o funcionamento do equipamento, as aquisições das imagens PET/RM iniciam-se com o localizador de ressonância magnética, para definir a área de cobertura da imagem, servindo como base para a programação de aquisição de PET e RM. Após, as imagens PET são adquiridas em blocos sequenciais de posições do leito, de crânio a caudal e as sequências de RM são programadas para cada leito, de acordo com a sequência estipulada. Caso sejam necessárias sequências de RM mais longas em um segmento específico do corpo, o tempo de aquisição do PET deve ser o mesmo que o da RM. Da mesma forma que no PET/CT, para a realização do PET/RM deve ser utilizado um radiofármaco, neste caso, o 18F-fluordesoxiglicose (18F-FDG) como radiotraçador para a detecção de alterações anatômicas e funcionais do organismo, apresentando alta afinidade com áreas de aumento metabólico da glicose. Considerando as características do 18F-FDG, também é o principal radiofármaco utilizado para a identificação e visualização dos aspectos radiológicos das doenças neurodegenerativas. Para aquisição de imagens cerebrais nos equipamentos de PET/RM, o paciente deve ser mantido em sala silenciosa e com luminosidade reduzida, para administração do FDG-18F e na fase de captação subsequente. Existem três maneiras de integrar o PET com a RM: 1. Os aparelhos PET e RM ficam em salas separadas, sendo assim, a integração das imagens é feita por programas especializados, gerando uma flexibilidade, já que os sistemas podem ser usados separadamente; 13 2. O paciente permanece na mesa de exame, sendo que a mesa é transferida entre os equipamentos e as imagens são realizadas em aparelhos separados. Este sistema é “hardware-fused”. 3. Por meio de sistemas totalmente integrados em que se realiza a aquisição simultânea das imagens, ou seja, em uma única posição da mesa, nem o paciente e nem a mesa vão se mover. São estes os equipamentos híbridos. NA PRÁTICA O uso do PET/CT e do PET/RM na prática clínica é de grande importância para o conhecimento e diagnóstico de importantes doenças, principalmente na área da oncologia. Assim como na cintilografia é utilizado um material radioativo para detecção das estruturasanatômicas, no PET também é utilizado o FDG-F18, que tem afinidade por células que estão com alta atividade metabólica devido ao grande uso que estas fazem de glicose. FINALIZANDO É importante saber reconhecer o uso dos protocolos e adaptar as imagens que serão realizadas de acordo com cada caso de cada paciente. Dominar anatomia, como sempre, é necessário para realização de exames adequados e, consequentemente, imagens precisas para diagnóstico e reconhecimento de lesões que são, em sua grande maioria, reconhecidas e tratadas a partir de exames como o PET/CT e PET/RM. Como muitas vezes é utilizado como exame de estadiamento, é a partir dele que o médico decide qual tratamento será realizado, além disso, com base nele também é feito o acompanhamento e avaliação do tratamento, se este está sendo preciso ou se é melhor partir para uma nova tentativa. A tecnologia avança gradativamente, de modo que acompanhar este crescimento é muito válido para entender e utilizar melhor o que ela nos oferece. 14 REFERÊNCIAS ALCARDE, L. F. Estudo de radiomarcação com gálio-68 do inibidor de PSMA baseado em ureia – avaliação comparativa de método automatizado e não automatizado. Tese de Mestrado em Ciências na área de Tecnologia Nuclear. Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, São Paulo, 2016. Disponível em: <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/85/85131/tde-30112016- 103604/publico/2016AlcardeEstudo.pdf>. Acesso em: 3 set. 2021. DOT-IPEN-68. [Bula]. Ipen - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares. Disponível em: <https://www.ipen.br/portal_por/conteudo/geral/8676_293_Bula%20DOT-IPEN- 68%20Profissional%20da%20saude.pdf>. Acesso em: 3 set. 2021. FLUORDEOXIGLICOSE – 18F (FDG-18F). [bula]. Campinas: Cyclobrás. Disponível em: <https://www.cyclobras.com.br/uploads/produtos/84690930910006b.pdf>. Acesso em: 3 set. 2021. FLUR-IPEN. [bula]. São Paulo: Ipen - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares. Disponível em: <https://intranet.ipen.br/portal_por/conteudo/geral/BULA%20FLUR- IPEN%20Profissional%20da%20saude.pdf>. Acesso em: 3 set. 2021. GUIMARÃES, J. B. et al. A importância da PET/CT na avaliação de pacientes com tumores de Ewing. Radiol Bras. 2015 maio/jun.; 48(3):175–180. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rb/v48n3/pt_0100-3984-rb-48-03- 0175.pdf>. Acesso em: 3 set. 2021. MORETTI, S. E.; MEDEIROS, G. S. A modalidade PET/RM para aplicações na visualização e identificação da doença de Alzheimer. Curso Superior de Tecnologia em Radiologia. Projeto de Intervenção Profissional, II Semestre, 2019/4, Caxias do Sul. Disponível em: <https://repositorio.ucs.br/xmlui/bitstream/handle/11338/5855/TCC%20Sandra% 20Elisa%20Moretti.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 3 set. 2021. OLIVEIRA, M. A. C. de. PET/CT DOTA68Ga. Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, [S.d.]. Disponível em: <https://sbmn.org.br/wp- content/uploads/2017/12/Guideline-PETGA68_FINAL.pdf>. Acesso em: 3 set. 2021. 15 PET/CT FDG18F. Disponível em:<https://sbmn.org.br/wp- content/uploads/2015/11/PET-CT-FDG.pdf>. Acesso em: 3 set. 2021. RAMOS, C. D. PET/CT com fluoreto-18F na prática clínica. Radiol Bras., 2015 jul./ago.;48(4):VII–VIII. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rb/v48n4/pt_0100-3984-rb-48-04-0VII.pdf>. Acesso em: 3 set. 2021. ROBILOTTA, C. C. A tomografia por emissão de pósitrons: uma nova modalidade na medicina nuclear brasileira. Rev Panam Salud Publica. 2006; 20(2/3):134–42. Disponível em: <https://www.scielosp.org/pdf/rpsp/2006.v20n2- 3/134-142/pt>. Acesso em: 3 set. 2021. SILVA, J. M. et al. Princípios e aplicações da tomografia por emissão de pósitrons/ ressonância magnética. XX Encontro Latino-Americano de Iniciação Científica, XVI Encontro Latino-Americano de Pós-Graduação e VI Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba, 2016. Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2016/anais/arquivos/RE_0442_1067_01. pdf.> Acesso em: 3 set. 2021. IMAGENOLOGIA AULA 4 Profª Andressa Silva Santi 2 CONVERSA INICIAL A tomografia computadorizada (TC) é considerada uma das grandes inovações no campo da radiologia desde o anúncio dos raios X, em 1895. A técnica, que produz imagens por secção, permite um diagnóstico com melhor visualização das áreas avaliadas, tornando o estudo mais específico e, consequentemente, melhorando a avaliação de áreas para futuros tratamentos. Nas décadas de 1960 e 1970, com os relatos de Allan Cormack e Godfrey Hounsfield, foi desenvolvido o primeiro tomógrafo, o que rendeu aos dois o Prêmio Nobel de Medicina, em 1979. Entretanto, estudos sobre conceitos básicos de TC são datados de 1917, como o estudo de Johann Radon e suas reconstruções matemáticas. Em 1980, pesquisas mostraram o avanço no uso da TC, sendo essa de grande eficiência para estudos de câncer de pulmão. Além disso, a técnica também passou a ser utilizada para diagnóstico de lesões cerebrais. Atualmente, a TC é um dos métodos mais importantes no diagnóstico por imagem, pois possibilita a visualização das estruturas anatômicas em cortes, sem sobreposições e com melhor contraste, entre os tecidos se comparada à radiografia convencional. TEMA 1 – CONCEITOS DE TC A palavra tomografia tem origem no grego, em que tomos significa corte e grafia significa imagem. Originalmente, foi chamada de tomografia axial computadorizada (TAC). O tubo do equipamento de TC gira 360° e o seu detector acompanha o giro desse tubo, permitindo que as imagens sejam adquiridas em todos os ângulos. Os cortes originais são os axiais e coronais e, deles, faz-se a reconstrução do volume total escaneado, o que é conhecido como reconstrução multiplanar (RMP), gerando cortes sagitais, parassagitais e tridimensionais. Cada corte tem como finalidade determinar a composição de uma única secção do corpo e é formado por um conjunto de elementos de imagem digital (picture elements) denominados pixels. A quantidade e a espessura dos cortes estão diretamente relacionadas ao tamanho desses pixels, influenciando na qualidade final da imagem. O conjunto de pixels forma a imagem tridimensional, com elementos cúbicos de imagem denominados voxels. O voxel apresenta altura, 3 largura e espessura; dessa forma, é possível que ele forme uma imagem em terceira dimensão (3D). Figura 1 – Tomografia computadorizada Crédito: Triff/Shutterstock. As imagens adquiridas na TC apresentam uma grande variedade na escala de tons de cinza, de acordo com o valor relativo de atenuação da água em TC. O nome dessa escala é uma homenagem ao inventor da TC: escala de Hounsfield. Ela é composta de valores que vão de 1.000 a -1.000 unidades de Hounsfield (HU). De acordo com a estrutura estudada, haverá um valor correspondente na escala de Hounsfield, ou seja, essas unidades representam a quantidade de radiação absorvida no corpo e traduzem as variações existentes em uma escala de cinza. É importante ressaltar que os valores dessa escala são dependentes da energia dos fótons de raios X necessária para se atravessar um corpo. Em 1973, Hounsfield descreveu uma técnica de transmissão dos raios X realizada em múltiplos ângulos, obtendo, dessa forma, imagens em “fatias”. A formação das imagens em cortes foi possível devido à rotação da fonte e dos detectores ao redor do paciente. Os detectores mediam a densidade dos raios X absorvidos pelos diferentes tipos de tecidos e calculavam, por meio de um coeficiente de absorção, a densidade de cada um deles. Em seguida, o computador construía uma matriz com a imagem de cada corte. A decodificação do coeficiente de absorção de cada estrutura para feixes de raios X de 120 KV resultou na elaboração da escala de Hounsfield. Na escala de cores, o preto correspondia ao ar,passando por tonalidades de cinza, correspondentes à água 4 e a líquidos corpóreos, até finalizar no branco, que corresponde aos tecidos mais densos, como o ósseo. Essa técnica permitiu a diferenciação entre as estruturas. Na aquisição da imagem tomográfica, as informações adquiridas pelo sensor eletrônico são apresentadas na forma de sinais elétricos (de modo analógico. O computador não arquiva e nem modifica, em seus circuitos, nenhuma informação analógica, pois ele trabalha com números distintos, que não representam, diretamente, tons de cinza ou cores contínuas. Para que o computador possa operar com imagens, essas precisam ser convertidas em representações numéricas conhecidas como notação binária. Os dados digitais são, então, transmitidos para a unidade central de processamento (CPU) e transformados em imagem. Existem, basicamente, duas técnicas de obtenção de imagens tomográficas disponíveis no mercado: 1. técnica convencional (não helicoidal); 2. técnica helicoidal. Na técnica convencional (ou circular), os detectores permanecem parados enquanto o tubo de raios X executa um movimento circular em torno do paciente. Cada slice (corte) é obtido individualmente. Entre uma aquisição e outra, é necessário o reposicionamento da mesa, o que prolonga o tempo de obtenção de dados. Por outro lado, existe a técnica helicoidal, que foi um grande avanço na obtenção de imagens por TC. Os tomógrafos helicoidais são classificados como aparelhos de quinta geração, com aquisições extremamente rápidas, visto que um corte pode ser obtido em poucos segundos. Nessa técnica, o paciente é movido ao longo do eixo horizontal, enquanto o tubo de raios X executa um movimento rotacional contínuo. O feixe central de raios X incide no paciente seguindo uma trajetória helicoidal, ao longo do exame. 5 Figura 2 – Realização de exame Crédito: Golden Sikorka/Shutterstock. Já em 1998 surgiu a tomografia computadorizada espiral multislice, chamada assim devido aos seus múltiplos anéis de detectores. Sua técnica foi introduzida comercialmente no ano de 2000, com a apresentação de tomógrafos com quatro canais de detectores, os quais permitiam a aquisição de imagens mais rápidas, com menor dose de radiação e cortes com espessura de 0,5 mm e com intervalo de reconstrução de 0,25 mm. As imagens são obtidas por meio de uma fonte de raios X em forma de leque, que rotaciona o paciente de forma circular e em espiral, enquanto o paciente se move pelo tomógrafo. No mercado, existem tomógrafos de 4, 8, 16, 32, 40, 64 e 256 canais. Figura 3 – Tomografia computadorizada espiral multislice Crédito: Zlikovec/Shutterstock. 6 TEMA 2 – OBTENÇÃO DE IMAGENS Na obtenção das imagens no corte tomográfico, o feixe de raios X atravessa ou é absorvido pelas estruturas que estão interpostas entre a fonte de raios X e o detector, em diferentes quantidades, o que depende da densidade, da espessura, do número atômico da estrutura e do poder de penetração dos raios X. Isso é conhecido como atenuação do feixe de raios X. O detector é capaz de mensurar a atenuação de cada feixe de raios X que o atinge e o computador soluciona as equações geradas durante o escaneamento, interpreta as propriedades de atenuação de cada feixe e as correlaciona com a posição do respectivo feixe. O resultado dessa correlação é chamado de perfil de atenuação. O conjunto dos perfis de atenuação obtidos pelos detectores de raios X forma os dados brutos. O processo para obtenção da imagem com base nesses dados brutos é denominado reconstrução. Figura 4 – Obtenção de imagens Crédito: Wichudapa/Shutterstock. 2.1 Algoritmo de reconstrução nas imagens tomográficas de feixe em leque Na aquisição das imagens tomográficas, os algoritmos constituem filtros matemáticos utilizados para se criar uma imagem que represente o objeto escaneado de forma mais precisa possível. Os equipamentos oferecem 7 algoritmos diferenciados de reconstrução de imagens que variam de acordo com o tecido avaliado. Por exemplo, os filtros usados para tecido ósseo permitem a reconstrução de detalhes finos, nos quais as bordas das estruturas anatômicas apresentam contornos mais nítidos, resultando em uma imagem de alta resolução. Figura 5 – Algoritmo de reconstrução nas imagens tomográficas de feixe em leque (1) Crédito: Creativity Love/Shutterstock. Figura 6 – Algoritmo de reconstrução nas imagens tomográficas de feixe em leque (2) Crédito: Springsky/Shutterstock. TEMA 3 – MEIOS DE CONTRASTE O primeiro exame radiológico com contraste iodado foi feito em 1920, uma angiografia. Durante o século XXI, os meios de contraste foram evoluindo, de agentes iônicos de elevada osmolalidade para não iônicos de baixa 8 osmolalidade, reduzindo-se assim o número de reações adversas causadas por esses meios. O contraste é utilizado para evidenciar determinadas estruturas anatômicas. Em geral, o contraste altera a capacidade de absorção da radiação ionizante nos tecidos, durante o procedimento radiológico. Nas imagens, as partes mais opacas, como ossos, aparecem de forma clara, enquanto rins, estômago, vasos sanguíneos e outros tecidos têm a visualização um pouco mais complicada. Isso ocorre porque as áreas do corpo que são preenchidas por fluidos possuem densidade semelhante em toda a sua estrutura anatômica. Levando em consideração que as imagens radiográficas são formadas de acordo com a densidade da estrutura, por exemplo, os ossos são mais densos e, consequentemente, absorvem mais radiação, aparecendo em tons mais claros. Já os órgãos e partes moles absorvem menos radiação, aparecendo em tons mais escuros nos exames não contrastados. No caso das veias e artérias, por exemplo, o contraste possibilita a verificação da sua anatomia e do caminho percorrido pelo sangue, identificando possíveis obstruções. Os contrastes podem ser classificados com base em propriedades como a capacidade de absorção e a composição química. Na TC, o meio de contraste utilizado é o iodado. O contrate iodado pode ser administrado por via oral ou endovenosa. Ele se apresenta em compostos iônicos e não iônicos, sendo que os compostos iônicos têm alta concentração de contraste, que podem desencadear reações adversas com mais facilidade, enquanto os não iônicos apresentam menor concentração do contraste, raramente causando reações adversas. Existem algumas contraindicações para realização de exames contrastados, especialmente com contrastes iodados. Uma das principais é para pacientes diabéticos que usam medicamentos com cloridato de metformina, pois, quando associada ao iodo, a metformida pode auxiliar no desenvolvimento de insuficiência renal aguda. Quando o paciente apresenta histórico de algum tipo de alergia ou comprovação de alergia ao iodo, é necessário que tenha acompanhamento médico durante a realização do exame, visto que as reações que o contraste iodado pode causar nesses pacientes incluiriam: • urticária; • edema nas pálpebras e face; • náusea, vômito e diarreia; 9 • tontura; • dor de cabeça; • aumento da pressão arterial; • convulsões; • falta de ar; • edema de glote; • arritmias; • parada cardíaca. Figura 7 – Uso de contraste Crédito: Yok_Onepiece/Shutterstock. TEMA 4 – PROTOCOLOS DE TC Para cada exame realizado, utiliza-se determinado protocolo, que facilita a visualização da região a ser estudada. 4.1 Protocolo de TC de abdome e pelve A concentração de iodo comercialmente mais utilizada é de 300 mg/mL. Existem maiores concentrações no mercado, que determinam uma maior densidade/contrastação por mL do produto (350 mg/mL e 370 mg/mL), podendo ser utilizadas em estudos angiográficos e mesmo em outras áreas com menor volume administrado no paciente. Com o advento de equipamentos de múltiplas fileiras de detectores,
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