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ANÁLISE DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE ÁCIDO SULFÚRICO: UMA APLICAÇÃO DO CONTROLE ESTATÍSTICO DE PROCESSOS Caroline Fontoura Barreto barretofcarol@gmail.com Júlia Queiroz Cajado juliacajado@gmail.com Laura Beatriz de Carvalho Embiruçu laura.embirucu@gmail.com RESUMO: O conceito de melhoria contínua é amplamente aplicado na indústria e é uma área crescente nas empresas ao qual a produção de ácido sulfúrico (H2SO4) faz a sua aplicação objetivando o controle de qualidade bem como a satisfação do cliente. Nesse sentido, o presente artigo surgiu da necessidade de analisar as variáveis envolvidas na produção de ácido sulfúrico e o principal objetivo deste estudo é aplicar o Controle Estatístico de Processos (CEP) nos componentes do produto final do processo de produção de ácido sulfúrico, visando a qualidade do produto de modo a analisar se o mesmo está dentro das especificações exigidas pelos clientes da fábrica XXW. A metodologia utilizada para tal análise foi a realização do levantamento dos dados de composição do ácido sulfúrico adquiridos através do software da empresa XXW e posterior estudo da concentração do H2SO4 e do contaminante arsênio (As) por meio da utilização da base de dados disponibilizada. Após a coleta de todas as informações necessárias, foi utilizado o software Minitab para obtenção das cartas de controle, análise de controle, capabilidade e performance do processo. Encerrando a análise com a recomendação de uma amostra maior do ácido sulfúrico, devido ao resultado de alta variabilidade do processo. PALAVRAS CHAVE: H2SO4; Minitab; Produção; Controle; Análise. 1. INTRODUÇÃO 1.1 PRODUÇÃO DE H2SO4 O ácido sulfúrico, também conhecido como vitríolo, é composto pelos elementos: hidrogênio, enxofre e oxigênio. Possui fórmula molecular H2SO4 e massa molecular de 98,08 g/mol (ATKINS, 2008). Suas propriedades gerais mais características descritas na Ficha de Informação de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ) são: o seu caráter altamente ácido; possuir alto teor corrosivo para metais e quando em contato com a pele pode gerar queimaduras de até segundo grau. Sua coloração é límpida e incolor e possui aparência de um líquido viscoso, tem ponto de fusão e densidade (solução) iguais a, respectivamente, 10,31°C e 1,8302 g/cm³. O H2SO4 pode ser apresentado de diversas formas, das quais pode-se citar baterias ácidas, ácido de câmara ou ácido fertilizante, ácido de Torre ou ácido de Glover e concentrado em diversos processos. O ácido sulfúrico representa um papel muito importante na indústria mundial, visto que sua utilização é atrelada a diversos processos e sua representatividade é evidenciada quando observa-se que a produção de ácido sulfúrico é um indicador de força industrial de um país. Historicamente a produção em escala industrial só foi possibilitada no ano de 1736, por Joshua Ward, um farmacêutico londrino que estudou e adaptou para a grande demanda uma forma de síntese desenvolvida por John Roebuck, que até então só havia sido realizada em escala laboratorial. O processo consiste na na obtenção do ácido por meio da queima de enxofre com nitrato de potássio (KNO3) na presença de vapor, dessa forma a medida que o Nitrato vai se decompondo, ele oxida o enxofre, que se combina com a água formando o H2SO4. Considera-se a produção de ácido sulfúrico um processo pioneiro com amplo reconhecimento na área da química, visto que houve todo o estudo de como evoluir esse processo que até então era apenas de bancada para uma escala industrial. No entanto, a concentração final do ácido é baixa, chegando a apenas 65% nesse processo. Como o mercado necessitava de um ácido com concentração mais elevada, o químico francês Joseph Louis Gay-Lussac desenvolveu o método que posteriormente viria a ser conhecido como câmara de chumbo. Dessa forma foi possibilitado o desenvolvimento de um ácido com concentração de até 78%. No entanto, esta concentração ainda não era suficiente para atender a demanda de mercado, então em 1831 Peregrine Phillips desenvolveu o método que é utilizado até hoje chamado de processo por contato. Como demonstrado na figura 1 consiste na passagem de dióxido de enxofre sobre um catalisador, e posterior o absorção do trióxido de enxofre em ácido sulfúrico. Gerando assim uma concentração de 98,5 a 99%. Dessa forma dando o retorno esperado e o melhor custo benefício. Figura 1 - Fluxograma típico de produção ácido sulfúrico pelo processo de contato (SHREVE, 1997) 1.2. MEDIÇÃO DE CONTAMINANTES A poluição do ar representa hoje um dos maiores problemas de Saúde Pública, afetando a saúde dos seres humanos, de outros animais e das plantas. O rápido avanço tecnológico do mundo moderno trouxe consigo um aumento na quantidade e na variedade de poluentes eliminados na atmosfera, prejudicando de maneira muito séria a qualidade de vida em nosso planeta, além de afetar os produtos que estão sendo fabricados. Altos níveis de poluição do ar podem desencadear crises (exacerbações) em pessoas com asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica. As doenças pulmonares relacionadas à poluição do ar também aumentam o risco de distúrbios do coração e dos vasos sanguíneos e podem aumentar o risco de câncer de pulmão. Por isso há a importância de evitar poluentes atmosféricos, e para isso é importante fazer a medição correta dos contaminantes que serão liberados na atmosfera. Na fábrica XXW existe uma filtração dos componentes aos quais tem como objetivo maximizar a porcentagem do produto final (H2SO4) e diminuir os outros elementos, purificando mais o ar liberado na fábrica, onde os principais componentes químicos analisados e filtrados são: As, Cl-, Cr, Cu, F-, H2SO4, Hg e Ni. As medições são feitas através de Espectrômetro de emissão ótica, representado pela figura 2, que hoje já gera registros de forma gráfica digitalmente e/ou mediante de imagens de altíssima resolução espacial e/ou espectral. Várias técnicas existem para isso como a Ressonância magnética Nuclear, Difração de Elétrons e Nêutrons, Efeito Mossbauer e Difração de raios X, mas as técnicas ópticas têm a vantagem de serem altamente sensíveis, principalmente no que diz respeito à constituição da matéria. Grande parte das técnicas espectroscópicas utiliza o fenômeno da absorção e emissão da radiação pela espécie atômica. Através da análise espectroscópica da luz absorvida/emitida é possível identificar e determinar a concentração de diferentes espécies químicas. Esses espectros característicos ocupam uma porção ampla do espectro da radiação eletromagnética, e vão da região das microondas (devido a transições rotacionais da molécula) ao ultravioleta (onde as transições eletrônicas provêm das camadas exteriores). Figura 2 - Espectrômetro de emissão óptica 1.3. CONTROLE ESTATÍSTICO DE PROCESSOS O controle estatístico de processos (CEP) é um conjunto de ferramentas de monitoramento, controle e melhoria da qualidade de processos através de análises estatísticas que avalia o comportamento dos processos e previne defeitos,possibilitando redução de custos e consequente aumento do lucro (DE VRIES & RENEAU, 2010; SLACK, 2009). Destaca-se no processo de implementação do CEP o papel das cartas de controle, também chamadas de gráficos de controle. Eles são utilizados para a análise dos dados obtidos, através da qual é possível identificar as causas existentes em um processo, que dividem-se em especiais, originadas por falhas ocasionais, e comuns, inerentes ao processo. A partir dos dados obtidos através da análise destes gráficos, é possibilitado o auxílio no diagnóstico do processo, bem como a tomada decisões preventivas e controle de eventuais desvios de variabilidade no processo produtivo (MICHEL & FOGLIATTO, 2002). Apesar de ser uma característica importante para o controle do processo, a estabilidade em si, analisada através das cartas de controle, não garante o aproveitamento máximo do potencial produtivo. Tendo em vista essa realidade, o CEP utiliza de ferramentas de análise de capabilidade para verificar se dentro da estabilidade alcançada os critérios de engenharia vêm sido atingidos e indicar suas possíveis tendências de desvios (MONTGOMERY, 2012). Neste contexto, o objetivo do presente artigo é apresentar o estudo realizado sobre Controle Estatístico de Processos para a análise de contaminantes no processo de produção de ácido sulfúrico. 2. METODOLOGIA Para a criação deste artigo foram utilizados dados da fábrica XXW, ao qual está localizada no município de Dias D'ávila na Bahia é do ramo de produtos químicos fabricando Cobre primário, Ácido sulfúrico e outros tipos de produtos da área. Os dados foram coletados por um gestor do laboratório de química, obtidos a partir do software ligado ao dispositivo Espectrômetro de emissão óptica, ao qual cada amostra gera um conjunto de dados sobre os elementos químicos presentes nesta amostra. Cada elemento químico contido na amostra é chamado de contaminante, exceto o Ácido sulfúrico que é o produto final. Temos 25 subgrupos onde cada uma delas têm os dados destes contaminantes, que são o Ar, Cr, Cu, H2SO4, Hg, F-, Cl- e Ni, todos classificados em Parte por milhão (ppm), exceto do Ácido sulfúrico que é em porcentagem (%). De acordo com a organização dos dados recebidos a carta escolhida foi Medidas individuais e Amplitude móvel, porque os dados são gerados de forma automática pelo software. Serão analisados os dados referentes ao produto final (H2SO4) e os contaminantes mais importantes Cr e Ni, onde o critério de escolha para os elementos mais relevantes foi indicação pela empresa devido a estudos a respeito da manutenção das torres utilizadas na produção do ácido sulfúrico. Através do software Minitab analisaremos as amostras por meio da carta escolhida, que foi a de Medidas Individuais e Amplitude móvel. O Minitab foi selecionado pois é um programa estatístico muito difundido no mercado e possui todos os níveis de ferramentas estatísticas, desde o mais básico ao mais avançado. Além disso, com ele é possível otimizar funções, transformar dados e facilitar nos cálculos. Em razão desta variedade de possibilidades e de ser um software conhecido e fácil de ser utilizado, ele foi escolhido. 3. FÓRMULAS Para o desenvolvimento do referido estudo, é necessário o conhecimento de algumas fórmulas de estatística, das cartas para medidas individuais e amplitude móvel, bem como dos índices de capacidade do processo. Tais equações estão descritas nas tabelas 1 a 5 a seguir. Tabela 1 - Equações Gerais Tabela 2 - Equações para análise da Amplitude Móvel Tabela 3 - Equações para análise das Medidas Individuais Tabela 4 - Equações para análise das Medidas Individuais Equação 1: Média Equação 2: Amplitude Equação 3: Amplitude Móvel Equação 4: Cálculo da LC Equação 5: Cálculo da LSC Equação 6: Cálculo da LIC Equação 7: Cálculo da LC Equação 8: Cálculo da LSC Equação 9: Cálculo da LIC Equação 10: Cálculo da LC Equação 11: Cálculo da LSC Equação 12: Cálculo da LIC Tabela 5 - Equações para cálculo dos índices de capacidade do processo 4. DISCUSSÃO E RESULTADOS A partir da aplicação da metodologia supracitada somada ao referencial teórico abordado no presente artigo, foram estudados os dados do contaminante As e do produto H2SO4. Como resultado de tal estudo, foram obtidos os gráficos das Figuras 3 a 9. Figura 3 - Gráfico de Controle para Amplitude Móvel As 01 Observa-se no gráfico da Figura 3 a existência de um ponto fora de controle, localizado acima do Limite Superior de Controle (LSC), no subgrupo 6. Uma vez identificado este ponto, foi retirado o respectivo subgrupo da base de dados e obtido um novo gráfico de controle para amplitude móvel do As, representado pela Figura 4. Equação 13: Cálculo do desvio padrão estimado Equação 14: Cálculo do Cp Equação 15: Cálculo da faixa de especificação usada pelo sistema Equação 16: Cálculo do Cpk Figura 4 - Gráfico de Controle para Amplitude Móvel As 02 Figura 5 - Gráfico de Controle para Medidas Individuais As 01 Observa-se no gráfico da Figura 5 a existência de uma sequência de 6 pontos acima da linha central, começando no subgrupo 6 e terminando no 12. Uma vez identificado este sinal de variabilidade do processo, estes subgrupos foram retirados da base de dados e obtido um novo gráfico de controle para amplitude móvel do As, representado pela Figura 6. Figura 6 - Gráfico de Controle para Amplitude Móvel As 03 Figura 7 - Gráfico de Controle para Medidas Individuais As 02 Figura 8 - Análise de Capacidade As A partir dos gráficos das Figura 6 e 7, conclui-se que o processo associado ao contaminante As está sob controle, uma vez que não possui nenhum dos sete sinais de variabilidade. Após esta conclusão, é possível realizar a análise de capabilidade do processo. Os resultados dos índices Cp e Cpk indicam que o processo, com todas as variações inerentes ao mesmo, é capaz de atender de maneira aceitável as especificações pretendidas. Após analisar a capabilidade do processo, é possível realizar a análise dos índices de performance do processo Pp e Ppk, os quais indicam que o processo se comportou, em geral, aceitavelmente dentro das especificações. No entanto, o mesmo não está centralizado e tende ao limite superior de especificação, como é possível visualizar na Figura 8. Figura 9 - Gráfico de Controle para Amplitude Móvel H2SO4 Após o estudo de controle do contaminante As, inicia-se a análise do H2SO4 a partir do gráfico da Figura 9. Observa-se, neste gráfico, a existência de dois pontos fora de controle acima do Limite Superior de Controle (LSC), nos subgrupos 1 e 2. Além disso, é identificada uma sequência de pontos abaixo da linha central, do subgrupo 6 ao 17. Após realizarmos a retirada dos 14 dados que indicam sinais de variabilidade do processo, a amostra se reduz a mais de 50% do valor inicial. Esta redução evidencia um alto grau de variabilidade, impossibilitando o prosseguimento da análise deste processo. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir das evidências analisadas foi obtido o resultado de um alto grau de variedade do ácido sulfúricoimpossibilitando a continuidade da análise, sendo assim sugere-se, para trabalhos futuros, que seja coletada uma amostra superior à a adquirida para a elaboração deste artigo, que totalizou 25 subgrupos, para a reanálise do processo, melhor identificação de um padrão e estudo mais aprofundado do controle, da capabilidade e da performance do processo. Não obstante, o processo do Arsênio (As) mostrou-se dentro dos padrões esperados, mantendo-se em controle estatístico de processo apesar de descentralizado. REFERÊNCIAS ATKINS, P. et al. Shriver & Atkins – Química Inorgânica. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008. ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de Química – Questionando a Vida Moderna e o Meio Ambiente. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. Cia. Nitro Química Brasileira. Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico – FISPQ ÁCIDO SULFÚRICO 98%. 2006. Costa, C.A.J., (2013) Ácido Sulfúrico, Rev. Ciência Elem., V1(1):070 SHREVE, R. N.; BRINK JR., JOSEPH A. Indústrias de Processos Químicos. 4. ed. Editora Guanabara Koogan S. A., 1997. Hermano Albuquerque de Castro; Nelson Gouveia; José A. Escamilla-Cejudo. Questões metodológicas para a investigação dos efeitos da poluição do ar na saúde. Disponível em: <www.scielosp.org/article/rbepid/2003.v6n2/135-149/>; Acesso em 19/10/2020 Abigail R. Lara , MD, University of Colorado. Doenças relacionadas à população. Disponível em: <www.msdmanuals.com/pt/casa/distúrbios-pulmonares-e-das-vias-respiratórias/doenç as-pulmonares-ambientais/doenças-relacionadas-à-poluição-do-ar#:~:text=Altos%20ní veis%20de%20poluição%20do,risco%20de%20câncer%20de%20pulmão>. Acesso em: 19/10/2020 A. R. ZANATTA. Laboratório avançado de física - Espectroscopia Óptica 2. Disponível em: <http://www.ifsc.usp.br/~lavfis/images/BDApostilas/ApEspOpt2/EspOpt2_1.pdf>. Acesso em: 19/10/2020 IFSC. Espectroscopia ótica. Laboratório de óptica. Disponível em.: <www.edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/97390/mod_resource/content/1/09%20Espectr oscopia_mfc_ERdA.pdf>. Acesso em: 19/10/20 DE VRIES, A.; RENEAU, J. K. Application of statistical process control charts to monitor changes in animal production systems. Journal of Animal Science, v. 88, p. 11-24, 2010. SLACK, Nigel. Administração da Produção. São Paulo-SP: Editora Atlas, 2009-4ª impressão. MICHEL, R; FOGLIATTO, F.S. Projeto econômico de cartas adaptativas para monitoramento de processos. Revista Gestão da Produção, v9, n.1, p 17-31, 2002. MONTGOMERY, Douglas. Introdução ao Controle Estatístico da Qualidade. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Cientifícos S.A., 2012 - 4ªedição. http://www.ifsc.usp.br/~lavfis/images/BDApostilas/ApEspOpt2/EspOpt2_1.pdf https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/97390/mod_resource/content/1/09%20Espectroscopia_mfc_ERdA.pdf https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/97390/mod_resource/content/1/09%20Espectroscopia_mfc_ERdA.pdf
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