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Tutoria 01: Enxaqueca 1-Definir enxaqueca e os seus tipos, explicando epidemiologia e fatores de risco. Definição: Enxaqueca é uma modalidade de cefaleia primária herdada que é tipicamente unilateral, mas, às vezes, bilateral, intensidade moderada a intensa, agravada pela atividade física de rotina, associada a náuseas e vômitos, e acompanhada de fotofobia e fonofobia. A dor de cabeça ocorre a qualquer momento e persiste por quatro a 72 horas; pode ocorrer com aura (sintoma neurológico focal que pode ser visual, sensorial ou motor) ou sem aura. As auras visuais podem ter características positivas (fotopsias) e negativas (escotomas). Epidemiologia: ❖ A prevalência da enxaqueca é de 15 a 20% em mulheres e 4 a 7% em homens. ❖ Em crianças a prevalência pode ser de até 17% e é igual em meninos e meninas. ❖ Na puberdade, a prevalência aumenta em meninas e continua sendo maior durante toda sua vida. ❖ A maior prevalência ocorre entre 25 e 55 anos de idade. ❖ Enxaqueca com aura afeta 5% da população adulta, e 90% são de auras visuais. ❖ A enxaqueca é mais prevalente em brancos e naqueles com um estado socioeconômico ou renda mais baixa. Estudo recente no Brasil, em base populacional, mostrou que a prevalência em um ano da enxaqueca foi de 15,2%. Ela foi mais frequente em mulheres, indivíduos mais escolarizados, com menor nível sócio econômico e sedentários independentemente de seu índice de massa corporal. Condições de comorbidade que podem ser associadas à enxaqueca incluem epilepsia, acidente vascular cerebral, depressão, ansiedade, infarto do miocárdio, forame oval patente, síndrome de Raynaud, síndrome do intestino irritável e fibromialgia. A menstruação e a ovulação podem aumentar a frequência de dor de cabeça. Fatores de risco: Os fatores de risco da enxaqueca podem variar de pessoa para pessoa e incluem uma combinação de fatores genéticos, ambientais, hormonais e comportamentais. ❖ Histórico Familiar: Ter parentes de primeiro grau, como pais ou irmãos, com enxaqueca aumenta significativamente o risco de desenvolver a condição. ❖ Sexo: Mulheres têm uma prevalência maior de enxaqueca do que homens, sugerindo uma influência hormonal significativa. ❖ Hormônios: Alterações hormonais, como flutuações nos níveis de estrogênio durante o ciclo menstrual, gravidez, uso de contraceptivos hormonais ou terapia de reposição hormonal, podem desencadear enxaquecas. ❖ Idade: As enxaquecas podem ocorrer em qualquer idade, mas geralmente começam durante a adolescência ou idade adulta jovem e tendem a diminuir em frequência e gravidade à medida que a pessoa envelhece. ❖ Estresse: Altos níveis de estresse físico ou emocional podem desencadear ou piorar episódios de enxaqueca. ❖ Mudanças no Padrão de Sono: Dormir demais, privação de sono, bem como mudanças nos horários de sono, podem desencadear enxaquecas. ❖ Alimentos e Bebidas: Certos alimentos e bebidas, incluindo álcool (especialmente vinho tinto), cafeína, queijos envelhecidos, chocolates, alimentos processados, glutamato monossódico (MSG) e adoçantes artificiais, podem desencadear enxaqueca. ❖ Jejum ou Saltar Refeições: Irregularidades nos padrões alimentares, como jejum prolongado ou pular refeições, podem desencadear enxaquecas. ❖ Ambiente: Fatores ambientais, como luzes brilhantes, fortes odores, mudanças climáticas, barulho excessivo e poluição atmosférica, podem desencadear enxaquecas. ❖ Atividade Física: Exercícios intensos ou atividades extenuantes podem desencadear enxaquecas. 2-Explicar o quadro clínico de enxaqueca com aura, correlacionando com os critérios diagnósticos. Quadro clínico: Enxaqueca ❖ A enxaqueca geralmente começa com um pródromo, que pode persistir durante horas a dias, quando os pacientes observam dificuldade de concentração ou fadiga, sem dor de cabeça. ❖ Uma aura pode ou não ocorrer, mas é geralmente presente antes da dor de cabeça começar. ❖ A dor de cabeça pode ser unilateral ou bilateral, latejante, moderada a grave, e piora com a atividade. ❖ Características clínicas que acompanham incluem náuseas, vômitos, sensibilidade à luz e som, dor no pescoço, ocasionalmente tontura, osmofobia (hipersensibilidade aos odores) e dificuldade para pensar. ❖ A enxaqueca com aura é geralmente visual, mas pode ser sensitiva ou pode incluir afasia ou vertigem. Aura visual: É o tipo mais comum de aura e pode incluir uma variedade de sintomas visuais, como: Escotomas; visão em túnel; visão borrada ou distorcida; sensação de luzes piscando ou cintilantes (escotomas cintilantes); visão de linhas onduladas ou em zigue-zague (escotomas em forma de serpentina); e alterações na percepção de cores. Aura sensitiva: Alguns indivíduos podem experimentar sintomas sensitivos durante uma enxaqueca com aura, como: ❖ Formigamento ou dormência em uma ou ambas as mãos, braços, rosto ou pernas (parestesia); ❖ Sensação de agulhadas ou alfinetadas; ❖ Sensação de fraqueza ou peso em uma parte do corpo. Aura motora: Em casos menos comuns, a aura pode incluir sintomas motores, como: ❖ Dificuldade na fala (disfasia); ❖ Fraqueza muscular, especialmente em um lado do corpo (hemiparesia); ❖ Coordenação comprometida ou dificuldade em movimentar membros. Diagnóstico: O diagnóstico da enxaqueca é baseado no histórico. ❖ O diagnóstico diferencial inclui dor de cabeça tensional, mas a maioria das dores de cabeça de moderada a grave é enxaqueca. ❖ Em pacientes com um histórico sugestivo de uma dor de cabeça secundária, uma avaliação mais aprofundada com a RM deve ser considerada. ❖ No entanto, se a dor de cabeça é típica da enxaqueca e os achados no exame neurológico são normais, nenhum estudo adicional é necessário. 3-Diferenciar enxaqueca com aura de outras cefaleias primarias, comparando com os achados clínicos e resultados dos exames complementares do caso. Enxaqueca com aura: Achados clínicos: A enxaqueca com aura é caracterizada por episódios recorrentes de dor de cabeça moderada a severa, muitas vezes unilateral, que pode ser acompanhada por sintomas visuais, sensitivos ou motores conhecidos como aura. A aura geralmente precede a dor de cabeça e pode incluir sintomas como visão turva, pontos cegos, formigamento ou fraqueza muscular. Resultados dos exames complementares: Os exames complementares geralmente são normais em casos de enxaqueca com aura. A ressonância magnética pode ser realizada para descartar outras causas subjacentes de sintomas neurológicos, mas é comum que os resultados sejam normais em pessoas com enxaqueca. Cefaleia tensional: Achados clínicos: A cefaleia tensional é caracterizada por dor de cabeça bilateral, pressão ou aperto, de intensidade leve a moderada. Não é acompanhada por aura, náuseas ou vômitos, e os sintomas não são agravados por atividade física rotineira. A dor geralmente é descrita como uma faixa ao redor da cabeça. Resultados dos exames complementares: Assim como na enxaqueca com aura, os exames complementares geralmente são normais na cefaleia tensional. É importante realizar uma avaliação clínica cuidadosa para descartar outras causas de dor de cabeça, como problemas de visão, problemas de sinusite ou distúrbios temporomandibulares. Cefaleia em salvas: Achados clínicos: A cefaleia em salvas é uma dor de cabeça extremamente intensa e unilateral, que ocorre em clusters ou "salvas" ao longo de semanas ou meses, seguidos por períodos de remissão. A dor é geralmente descrita como lancinante ou perfurante e pode ser acompanhada por sintomas como lacrimejamento, congestão nasal e ptose palpebral. Resultados dos exames complementares: Os exames complementares podem mostrar alterações específicas, como dilatação da pupila ou alterações nos padrões de sono, que podem apoiar o diagnóstico de cefaleia em salvas. A ressonância magnética também pode ser realizada paradescartar outras causas subjacentes de dor de cabeça. Em resumo, a enxaqueca com aura pode ser diferenciada de outras cefaleias primárias com base em seus achados clínicos distintos, como a presença de aura, bem como nos resultados dos exames complementares, que geralmente são normais na enxaqueca com aura, enquanto podem revelar achados específicos em outras cefaleias primárias, como a cefaleia em salvas. 4- Avaliar fatores desencadeantes e exacerbadores da enxaqueca com aura, enfatizando a privação de sono, estresse e fatores ambientais. FATORES DESENCADEANTES: Estresse emocional; Hormônios em mulheres; Jejum; Clima; Distúrbios do sono; Odores; Cervicalgia; Luzes; Alcool; Cigarro; Dormir tarde; Calor; Alimentos; Exercícios; Atividade sexual. Privação de sono: Quando uma pessoa não dorme o suficiente ou tem uma qualidade de sono ruim, isso pode levar a alterações neuroquímicas e hormonais que aumentam a suscetibilidade à enxaqueca. A privação de sono afeta diretamente o equilíbrio dos neurotransmissores no cérebro, incluindo a serotonina, a dopamina e a noradrenalina, que desempenham papéis importantes na regulação da dor e no funcionamento do sistema nervoso. Essas alterações podem tornar o cérebro mais suscetível a desencadear uma enxaqueca. A falta de sono pode interferir no ritmo circadiano natural do corpo, que regula diversos processos fisiológicos, incluindo o ciclo sono-vigília. A interrupção desse ciclo pode afetar negativamente a regulação dos neurotransmissores, dos hormônios e do sistema imunológico, aumentando assim o risco de enxaqueca. Durante o sono, os músculos têm a oportunidade de relaxar e se recuperar do estresse do dia. A falta de sono pode levar a um aumento da tensão muscular, especialmente na região do pescoço e dos ombros. Essa tensão muscular crônica pode contribuir para o desencadeamento das enxaquecas, especialmente em pessoas que são propensas a dores de cabeça tensionais. Estresse: O estresse é um dos fatores desencadeantes mais comuns para enxaquecas com aura. Situações estressantes, tanto físicas quanto emocionais, podem desencadear uma resposta no sistema nervoso que desencadeia uma enxaqueca. O estresse também pode levar a tensão muscular, alterações nos padrões de sono e hábitos alimentares prejudiciais, todos os quais podem contribuir para o desencadeamento das enxaquecas. Fatores ambientais: Fatores ambientais, como mudanças climáticas, luzes brilhantes, fortes odores ou exposição a poluentes do ar, podem desencadear enxaquecas com aura em algumas pessoas. A sensibilidade ambiental varia de pessoa para pessoa, mas certos estímulos ambientais podem desencadear a cascata de eventos neuroquímicos que resultam em uma enxaqueca. ❖ Além disso, certos ambientes estressantes ou desconfortáveis podem aumentar a ansiedade e a tensão, o que por sua vez pode contribuir para o desencadeamento das enxaquecas. 5-Entender o manejo e tratamento da enxaqueca com aura, diferenciando o tratamento sintomático, profilático e não farmacológico. Tratamento sintomático: O tratamento sintomático busca aliviar o sintoma de dor e os outros associados ao quadro de enxaqueca, sobretudo as náuseas e os vômitos. O tratamento sintomático obedece a alguns princípios básicos. Inicialmente, o paciente deve ser bem orientado em relação à automedicação, sendo informado sobre doses máximas e risco de abuso de medicações. A cefaleia crônica diária por uso excessivo de analgésicos é uma situação extremamente desagradável, que pode ser evitada com uma boa conversa inicial. As classes usadas para o tratamento sintomático da enxaqueca são: ❖ Analgésicos simples: dipirona e paracetamol; ❖ Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs): cetoprofeno, naproxeno, diclofenaco, piroxicam etc.; ❖ Ergotamínicos: di-hidroergotamina; ❖ Triptanos: sumatriptano, eletriptano, naratriptano, zolmitriptano, frovatriptano, rizatriptano; ❖ Agonista 1F de serotonina: lasmiditan (indisponível no Brasil); ❖ Antagonista do CGRP: ubrogepant e rimegepant (indisponíveis no Brasil); ❖ Antipsicóticos: clorpromazina e haloperidol. A escolha da classe terapêutica vai depender inicialmente da intensidade da dor apresentada. Em casos leves, escolhemos os analgésicos e AINEs. Quando a dor é mais intensa, as melhores opções são os triptanos, medicações desenvolvidas especificamente para o tratamento da enxaqueca, mas que possuem alguns efeitos colaterais em maior frequência do que os analgésicos e AINEs. Tratamento profilático: O tratamento profilático tem o objetivo de diminuir a frequência, a intensidade e a duração das crises de dor. Além disso, ele pode ajudar a melhorar a resposta ao tratamento sintomático. Outras finalidades desse tipo de terapêutica incluem melhora funcional e redução da incapacidade, evitar a progressão ou transformação de quadros episódicos em crônicos e reduzir o risco de lesões neurológicas ou sequelas quando o paciente apresentar quadros de enxaqueca hemiplégica, com aura de tronco encefálico. Indicações de tratamento profilático: ❖ Crises com impacto significativo na qualidade de vida apesar do uso adequado de medicamentos analgésicos e mudanças no estilo de vida. ❖ Número mensal de crises exigindo uso frequente de analgésicos. ❖ Frequência de crises maior do que três vezes ao mês, sem melhora adequada com sintomáticos. ❖ Mais de 8 dias por mês com cefaleia, mesmo que os sintomáticos tenham eficácia (risco de uso excessivo). ❖ Crises infrequentes, porém limitantes, de acordo com a preferência do médico ou do paciente (ex.: duração > 12h, enxaqueca hemiplégica). ❖ Dor esporádica, mas com contraindicação/intolerância ao uso de sintomáticos específicos. As opções com maior evidência de eficácia no tratamento profilático da enxaqueca são: ❖ Betabloqueadores: metoprolol, propranolol ou timolol; ❖ Antidepressivos: amitriptilina ou venlafaxina; ❖ Anticonvulsivantes: valproato ou topiramato; ❖ Antagonistas do CGRP: erenumab, fremanezumab e galcanezumab. Entre todos os profiláticos, os mais eficazes (redução de mais de 50% de crises em mais da metade dos pacientes) são a amitriptilina, a venlafaxina, os betabloqueadores e o topiramato. A escolha do tratamento profilático deverá ser feita de acordo com o perfil de comorbidades, sexo e idade do paciente, afinal ele receberá durante um período prolongado (de meses) uma medicação que deverá ser, na maioria das vezes, usada diariamente. Tratamento não-farmacológico: ❖ Identificar e gerenciar os gatilhos; ❖ Adotar um estilo de vida saudável: manter uma dieta balanceada, alimentação nos horários corretos, fazer exercícios físicos regulares, manter um peso saudável, limitar o consumo de álcool, higiene do sono adequada e praticar técnicas de relaxamento; ❖ Gerenciamento do estresse; ❖ Evitar exposição a estímulos sensoriais: Luzes brilhantes, sons altos e odores fortes; 6-Avaliar o impacto da enxaqueca com aura na qualidade de vida dos pacientes acometidos, enfatizando medidas de apoio psicológicos e mudanças no ambiente profissional. ❖ Limitações nas Atividades Diárias: Durante uma crise de enxaqueca, as pessoas podem enfrentar incapacidade para realizar tarefas cotidianas, como trabalhar, estudar. ❖ Restrições nas Relações Sociais: A enxaqueca pode levar a dificuldades em participar de atividades sociais devido ao desconforto causado pela dor de cabeça e aos sintomas associados. ❖ Impacto no Desempenho no Trabalho: As crises de enxaqueca podem resultar em falta ao trabalho e redução da produtividade. ❖ Comprometimento do Bem-Estar Emocional: A enxaqueca pode causar estresse, ansiedade, frustração, irritabilidade etc. ❖ Prejuízo na Qualidade do Sono: As crises podem afetar o sono, levando a dificuldade para dormir, despertares noturnos e sonolência diurna, o que pode contribuir para a piora daqualidade de vida. ❖ Restrições na Prática de Atividades Físicas: A dor e os sintomas associados à enxaqueca podem limitar a capacidade das pessoas de praticar exercícios físicos regulares. Apoio psicológico: Redução do Estresse e da Ansiedade: Muitas pessoas com enxaqueca enfrentam altos níveis de estresse e ansiedade devido à imprevisibilidade das crises, à dor crônica e aos impactos na qualidade de vida. O apoio psicológico pode ajudar os pacientes a desenvolverem habilidades de enfrentamento e estratégias de gerenciamento do estresse, reduzindo assim os sintomas psicológicos associados à enxaqueca. Identificação e Manejo de Gatilhos Emocionais: O apoio psicológico pode ajudar os pacientes a identificar e entender melhor os gatilhos emocionais que podem desencadear crises de enxaqueca, ao gerenciar esses gatilhos, os pacientes podem reduzir a frequência e a gravidade das crises. Melhoria da Adesão ao Tratamento: A enxaqueca pode ser uma condição crônica que requer tratamento contínuo e acompanhamento médico regular. O apoio psicológico pode ajudar os pacientes a compreender a importância do tratamento e a melhorar a adesão às recomendações médicas, incluindo o uso adequado de medicamentos preventivos e a adoção de hábitos de vida saudáveis.
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