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Desafios sociopolíticos da inclusão de grupos vulnerabilizados Professora Aline Menezes Aula 1 - Desafios sociopolíticos da inclusão de grupos vulnerabilizados Aline Menezes Assistente Social e Professora Mestra em Política Social @profalinemenezes Para entendermos como são formados os mecanismos de invisibilidade social enfrentados pelos grupos vulnerabilizados, é preciso analisar os conceitos de VULNERABILIDADE, EXCLUSÃO, INVISIBILIDADE E ESTIGMA SOCIAIS. Brazileiro, et.al., 2023 Estigma • Estigma é um termo utilizado na sociedade desde a Antiguidade e também na Idade Média, quando sinalizava as cicatrizes nos corpos de pessoas que cometiam crimes, escravos, causadas por doenças ou supostamente divinas. Porém, é a partir do século XX, com Goffman, que lhe foi atribuído conceitos associados à sua dimensão social. Atualmente, este conceito está associado com a categorização de um grupo por outro, atribuindo-lhe um grau inferior de estrato social. Ou seja, os indivíduos estigmatizados encontram-se marcados, muitas vezes em razão das suas peculiaridades físicas, psicológicas, ou de raça, nação e religião, e, por isso, são considerados como diferentes e inferiores em relação a maioria da sociedade. • Assim, segundo Goffman, estigma seria: “a situação do indivíduo que está inabilitado para aceitação social plena” (2004, p. 4). Nesse sentido, ele estaria correlacionado com os preconceitos, os estereótipos e o medo do desconhecido que a sociedade considerada “normal” faz sobre os outros “não normais” Brazileiro, et.al., 2023 • O estigma é, assim, uma identidade deteriorada por uma ação social, que representa um mal dentro da sociedade e, por isso, deve ser combatida. Além disso, os “normais” elaboram uma teoria para justificar a inferioridade dos indivíduos estigmatizados e para controlá-los do suposto perigo que eles simbolizam, como se o estigmatizado não fosse verdadeiramente humano. Brazileiro, et.al., 2023 FCC - 2015 - TRT - 3ª Região (MG) - Analista Judiciário - Serviço Social • No âmbito dos Direitos Humanos observa-se que, historicamente, há um movimento de dividir a sociedade de forma dicotômica caracterizando os seres humanos em normais e anormais, iguais e diferentes entre outras nomenclaturas estigmatizantes. Nessa lógica, a) as diferenças sociais não podem ser caracterizadas como elementos estigmatizantes. b) esta caracterização por oposto representa de forma natural as diferenças na sociedade. c) por se tratar de uma construção histórica, não há mecanismos que possam mudá- la. d) os estigmas são parte constitutivas das sociedades contemporâneas. e) ao dividir a sociedade de forma dicotômica, reforça os processos de exclusão e segregação social. E Vulnerabilidade e Exclusão Social • A vulnerabilidade é um conceito multidimensional. • Dentre vários sentidos, ela pode ser entendida como uma “CONJUNÇÃO DE FATORES, SOBREPOSTOS DE DIVERSAS MANEIRAS E EM VÁRIAS DIMENSÕES, DE MODO A TORNAR O INDIVÍDUO OU GRUPO MAIS SUSCETÍVEL AOS RISCOS E CONTINGÊNCIAS” (CANÇADO; CARDOSO;SOUZA, 2014, p. 3). • Impende observar que o conceito de vulnerabilidade não necessariamente está relacionado ao conceito de pobreza. • O indivíduo pode ser vulnerável em razão do seu gênero, da sua idade, da sua condição física ou mental, da sua etnia, da sua religião, e sofrer preconceitos, violências de vários tipos, desemprego, exclusão social e negação de direitos em razão disso, não estando relacionado a qualquer fator econômico. Brazileiro, et.al., 2023 No que se refere aos direitos humanos, A VULNERABILIDADE possui outro sentido: atinge as pessoas que não são inteiramente reconhecidos como sujeito de direitos. Isto quer dizer que a vulnerabilidade social se refere a um atributo que o indivíduo ou um grupo pode possuir quando se encontram em situação de desrespeito aos direitos fundamentais elativos a qualquer pessoa, tais como a vida, a liberdade, a alimentação, a educação, o trabalho, ou seja, os direitos básicos para o exercício da cidadania e o mínimo existencial para sobreviver. Brazileiro, et.al., 2023 Pessoas Vulneráveis ou Vulnerabilizadas? • E a palavra exata é VULNERABILIZADOS e NÃO VULNERÁVEIS. • Efetivamente só existem grupos vulneráveis porque há outros desmensuradamente mais poderosos que eles que são invulneráveis. • Ou seja, ninguém é inatamente vulnerável; É VULNERABILIZADO PELAS RELAÇÕES DESIGUAIS DE PODER QUE CARACTERIZAM A SOCIEDADE. • Estes grupos vulnerabilizados são os que mais precisam de ver os seus direitos efetivamente realizados uma vez que carecem dos privilégios de que gozam os “invulneráveis”, os que têm acesso direto (por vezes à margem da lei) à ordem e à segurança sociais, enfim, à proteção social que é negada às grandes maiorias. https://defensoria.mg.def.br/wp-content/uploads/2023/03/DPMG_Fica-a-Dica_Vulnerabilizados_dez-2022.pdf VULNERABILIZADOS • A utilização do termo vulnerabilizados traz a acepção de que a condição vulnerável não é inerente à pessoa, mas circunstancial, e, por essa razão, exige a atenção necessária a viabilizar sua transformação. NÃO SE TRATA DE UMA CARACTERÍSTICA PESSOAL COMO UM DNA, QUE NASCE COM A PESSOA, E, DESTARTE, DEVE SER CARREGADA POR TODA A VIDA. • Correlata à ideia de que determinadas pessoas e grupos são vulneráveis está a ideia de que prestações/condutas do Estado (a exemplo dos serviços públicos ou até mesmo das ações afirmativas) e da sociedade (como colaboração, cooperação e respeito) consistiriam em caridade, não em deveres. • Seja pela história de anos de opressão (desde à época do período do colonialismo, cuja herança maléfica ainda se amarga na era do pós colonialismo), seja pela sociedade estratificada que ainda se mantém muito preconceituosa e conivente com a opressão dos indesejáveis, fato é que, à medida em que a compreensão sobre esses termos se altera e se aprimora, perfazendo a passagem da caridade para o dever, a fundamentação das práticas de resistência e os modos de cobrança pelas ações – omissões atingem contornos jurídicos, muitos deles narrados na presente obra. https://defensoria.mg.def.br/wp-content/uploads/2023/03/DPMG_Fica-a-Dica_Vulnerabilizados_dez-2022.pdf • Assim, quando se utiliza o TERMO VULNERABILIZADOS, o que se deve ter em mente é o resgate de história de violação de direitos para que, a partir disso, esses mesmos direitos violados possam ser resgatados. • O esforço de se resgatar direitos que foram solapados ao longo da história, resgatar a cidadania que foi mitigada para esse grupo de pessoas (vulnerabilizados) é, sim, uma forma de ação afirmativa em direitos. • Por isso, a linguagem que apresenta o conceito (no caso, o conceito de pessoas e grupos vulnerabilizados ou em situação de vulnerabilidade) é tão importante para que esses direitos que foram violados sejam vislumbrados como objeto de luta possível, necessária e viável. O CONCEITO RESGATA A HISTÓRIA DE OPRESSÃO E MOSTRA A NECESSIDADE DE AÇÕES AFIRMATIVAS PARA A REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES. https://defensoria.mg.def.br/wp-content/uploads/2023/03/DPMG_Fica-a-Dica_Vulnerabilizados_dez-2022.pdf O que são vulnerabilizadas? • A Conferência Judicial IberoAmericana elaborou as “Regras de Brasília sobre o Acesso à justiça das pessoas em condições de vulnerabilidade” (100 Regras de Brasília), definido assim a condição de vulnerabilidade: • Consideram-se em condição de vulnerabilidade aquelas pessoas que, por razão da sua IDADE, GÉNERO, ESTADO FÍSICO OU MENTAL, OU POR CIRCUNSTÂNCIAS SOCIAIS, ECONÓMICAS, ÉTNICAS E/OU CULTURAIS, encontram especiais dificuldades em exercitar com plenitude perante o sistema de justiça os direitos reconhecidos pelo ordenamento jurídico. • Poderão constituir CAUSAS DE VULNERABILIDADE, entre outras, as seguintes: a idade, a incapacidade, a pertença a comunidades indígenas ou a minorias, a vitimização, a migração e o deslocamento interno, a pobreza, o gênero e a privação de liberdade. A concreta determinação das pessoas em condição de vulnerabilidade em cada paísdependerá das suas características específicas, ou inclusive do seu nível de desenvolvimento social e econômicos. https://defensoria.mg.def.br/wp-content/uploads/2023/03/DPMG_Fica-a-Dica_Vulnerabilizados_dez-2022.pdf • Observa-se que tal situação acabar por gerar a exclusão social e a vulnerabilidade destes grupos, visto que estes possuem uma enorme dificuldade de ter acesso ao conhecimento e efetivação dos seus direitos básicos, o que produz uma negação de direitos e oportunidades. • A vulnerabilidade jurídica, neste sentido, diz respeito à situação de invisibilidade social, e não está necessariamente ligada a ideia de condição de pobreza. • A consequência da vulnerabilidade para este grupo é, então, a de fragilizá-lo diante de grupos sociais dominantes, que exercem aqueles direitos básicos, sem dificuldades. Em decorrência dessa desigualdade social, cada vez mais surgem grupos vulnerabilizados, com tendência a se perpetuarem nessa condição. https://defensoria.mg.def.br/wp-content/uploads/2023/03/DPMG_Fica-a-Dica_Vulnerabilizados_dez-2022.pdf Quais grupos serão abordados? crianças e adolescentes idosos pessoas com deficiências pessoas em situação de rua povos indígenas comunidades quilombolas e demais minorias sociais. Para que os processos de vulnerabilização sejam evitados, é necessário conhecer e compreender os indivíduos que estão em processo de categorização, concatenando os atributos negativos a eles impostos com as medidas políticas, econômicas, sociais e culturais estabelecidasno contexto social em que vivem. Assim, é necessária a provocação de reflexões, de maneiras ou condições adequadas de emancipação social, por meio da garantia da autonomia destas pessoas, o que é fundamental para o exercício dos direitos mais básicos. Por isso a importância de uma educação em direitos humanos, para que tais grupos possam, pelo diálogo social com instituições públicas, assimilarem os direitos que possuem, e para que possam exigir estes do poder público, visando a redução de suas desigualdades, a sua emancipação enquanto cidadãos, e respeito enquanto indivíduos. https://defensoria.mg.def.br/wp-content/uploads/2023/03/DPMG_Fica-a-Dica_Vulnerabilizados_dez-2022.pdf Indicação de Leitura • 100 regras de Brasília - https://www.anadep.org.br/wtksite/100- Regras-de-Brasilia-versao-reduzida.pdf • Fica a Dica – Defensoria Pública de Minas Gerais - https://defensoria.mg.def.br/wp- content/uploads/2023/03/DPMG_Fica-a- Dica_Vulnerabilizados_dez-2022.pdf https://www.anadep.org.br/wtksite/100-Regras-de-Brasilia-versao-reduzida.pdf https://www.anadep.org.br/wtksite/100-Regras-de-Brasilia-versao-reduzida.pdf https://defensoria.mg.def.br/wp-content/uploads/2023/03/DPMG_Fica-a-Dica_Vulnerabilizados_dez-2022.pdf https://defensoria.mg.def.br/wp-content/uploads/2023/03/DPMG_Fica-a-Dica_Vulnerabilizados_dez-2022.pdf https://defensoria.mg.def.br/wp-content/uploads/2023/03/DPMG_Fica-a-Dica_Vulnerabilizados_dez-2022.pdf Referência • Ferreira Fernandes Brazileiro, J., & Passon Picoretti Francischetto, G. . (2023). Educação em Direitos Humanos para Grupos Vulnerabilizados e Defensoria Pública. Direito Público, 20(105). https://doi.org/10.11117/rdp.v20i105.6925 Slide 1 Slide 2: Aula 1 - Desafios sociopolíticos da inclusão de grupos vulnerabilizados Slide 3 Slide 4: Estigma Slide 5 Slide 6: FCC - 2015 - TRT - 3ª Região (MG) - Analista Judiciário - Serviço Social Slide 7: Vulnerabilidade e Exclusão Social Slide 8 Slide 9: Pessoas Vulneráveis ou Vulnerabilizadas? Slide 10: VULNERABILIZADOS Slide 11 Slide 12: O que são vulnerabilizadas? Slide 13 Slide 14: Quais grupos serão abordados? Slide 15 Slide 16: Indicação de Leitura Slide 17: Referência
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