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PLANEJAMENTO URBANO E AMBIENTAL Tutora: Denise Rufino ANÁLISE DA PAISAGEM PARA PLANEJAMENTO URBANO ANÁLISE DA PAISAGEM PARA PLANEJAMENTO URBANO Informações sobre a paisagem de um município devem, por lei, ser coletadas e estudadas para traçar um diagnóstico das problemáticas da cidade e um prognóstico sobre o futuro. Estudando a paisagem de um município será possível planejar ou replanejar o desenho urbano, principalmente na abordagem das questões ambientais, sociais, econômicas, culturais e da saúde, para benefício de todos. Em geral, o estudo da paisagem de um município deve ser feito considerando como suas unidades de estudos às bacias hidrográficas existentes, pois em cada bacia existirão condições de relevo, solo e vegetação diferenciados que levarão a cuidados e usos do solo diferenciados. Bacia hidrográfica A bacia hidrográfica pode ser definida como uma área limitada por um divisor de águas, que a separa das bacias adjacentes e que serve de captação natural da água de precipitação através de superfícies vertentes. Com essa definição fica evidente que a bacia é o elemento fundamental de análise no ciclo hidrológico, principalmente na sua fase terrestre, que engloba a infiltração e o escoamento superficial. O bom manejo de uma bacia inclui o planejamento de corredores biológicos (mata ciliares conectando fragmentos de vegetação) e estratégias para minimizar os impactos da fragmentação da vegetação, como a perda de biodiversidade. Para se ter uma boa estratégia de uso dos recursos naturais, dois importantes conceitos devem ficar bem claros: Existe uma inter-relação delicada entre o uso da terra, do solo e da água. O que quer que aconteça a um, afetará os outros. Existe uma interligação entre as cabeceiras, a média bacia, a baixa bacia e o estuário. Em outras palavras, essa estratégia implica em que o uso dos recursos naturais, bem como qualquer outra atividade efetuada em uma área qualquer, devem ser planejados com base nos limites naturais das bacias hidrográficas e não nos limites políticos (limite de propriedade, limite de municípios etc.). Portanto, o conhecimento da hidrologia, bem como do funcionamento hidrológico da bacia hidrográfica, são fundamentais para o planejamento e manejo dos recursos naturais renováveis, visando o uso auto sustentável em bacias hidrográficas. Aspectos hídricos (fator abiótico) Um fator preocupante que deve ser levado em consideração é que o sistema hidrográfico é composto por diversas bacias que convergem para formar os grandes rios, funciona como condutor de elementos naturais, mas também de elementos contaminantes, ou seja, alterações desses fluxos comprometem todo o ecossistema nele inserido, e nos situados à jusante. Portanto, o equilíbrio na microbacia está diretamente condicionado aos processos hídricos. Aspectos geológicos e geomorfológicos (fator abiótico) O relevo está diretamente relacionado com as rochas que o sustentam, com o clima que o esculpe e com os solos que o recobrem. Informações de ordem geológica que formam o histórico da formação de solos e do relevo de uma região ou de uma paisagem. Uma bacia hidrográfica tem seu relevo basicamente formando um perfil topográfico com as seguintes partes: interflúvios, vertentes e leitos fluviais. Interflúvios são as regiões mais elevadas de uma Bacia Hidrográfica, servindo de divisor entre uma bacia e outra. Nos interflúvios predominam os processos de erosão areolar (em círculos), realizadas pelo intemperismo físico e químico, que tendem a rebaixar o relevo normalmente, mas dependem do interflúvio e do clima para isso. Vertente pode ser definida como superfícies inclinadas associada às áreas planas de uma bacia. Entretanto, as vertentes são mais do que superfícies; são consideradas as partes mais importantes de uma bacia, principalmente por estabelecerem conexão dinâmica entre os topos dos interflúvios e o fundo do vale. Além de servirem de região de transporte e fornecimento de sedimentos, a inclinação das vertentes é fundamental na densidade de drenagem em uma bacia. Em vertentes muito inclinadas e sem a presença de vegetação nas suas encostas, o resultado em geral é rápido e desastroso, causando perda de solo (erosão) e voçorocas (grandes buracos). O leito fluvial é denominado como sendo o canal de escoamento de um rio. E é o solo, com suas frações minerais e orgânicas, ar e solução, o ancoradouro que torna as raízes capazes de fixar as plantas e de funcionar como reservatório para água e nutrientes. O solo é o resultante da interação de cinco fatores ambientais: material de origem, clima, relevo, organismos e tempo. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUD), através do GLSOD (Global Assessment of Soil Degradation – Projeto de Avaliação Mundial da Degradação do Solo), registrou que 15% dos solos do planeta (aproxima- damente 20 bilhões de hectares) uma área do tamanho dos Estados Unidos e Canadá junto, estão classificados como degradados devido às atividades humanas. Portanto, para o planejamento do uso adequado do solo em paisagens fragmentadas, é fundamental a identificação dos tipos de solos, para obter o grau de fragilidade da área. Com base na classificação de solos da área e na determinação de suas vulnerabilidades é que poderá se planejar o ambiente de forma a garantir a sua estabilidade. Aspectos da vegetação (fator biótico) Cada bacia hidrográfica dependendo da região que se encontra no Brasil pode ter diferentes tipos de florestas e vegetação. Dentro de cada bioma do país existem várias tipologias vegetacionais que se espalham em diferentes bacias hidrográficas. O Brasil apresenta a maior riqueza de espécies da flora do mundo. Analisar que tipos de florestas e as espécies da flora existentes dentro de uma paisagem é fator importante para um planejamento de uso de solo. Os tipos de vegetação e seus níveis de conservação vão responder questões quanto à qualidade do solo e a biodiversidade existente. Essas áreas de vegetação trarão benefícios de proteção ao solo (redução de erosão, ou seja, diminuição da velocidade de vazão da água e aumento de infiltração), melhoras na qualidade da água, pois ajudam na purificação e filtragem; melhoras no microclima; abrigo para fauna, principalmente polinizadores que irão colaborar nas produções agrícolas, além de predadores naturais para pragas. Determinar regiões onde seja de maior relevância a conservação de áreas verdes será crucial, como: as margens de rios e nascentes; topos de morro; áreas de mananciais; áreas de fragilidade de solo; áreas com existência de remanescentes em bom estado de conservação (fontes de sementes e espécies); entre outras. ASPECTOS DA FAUNA (FATOR BIÓTICO) Tamanha diversidade de espécies de animais, existente no Brasil, necessitam de quantidade de habitat proporcional para que haja a devida conservação. Espécies predadoras de sementes, como queixadas, veados e antas, foram elementos importantes na determinação da composição da estrutura da floresta, mas, a despeito disso, são raramente encontrados atualmente. A maior parte dos ambientes florestais isolados na paisagem no Brasil (não conectados por corredores ecológicos) estão profundamente alterados e vazios de vida animal e de futuro. Cabe ressaltar, que as probabilidades de extinção de espécies da fauna são dependentes dos padrões da paisagem e de algumas propriedades críticas das espécies que determinam sua persistência em paisagens fragmentadas, como: habilidade de dispersão, requerimento de área, necessidade de habitats especializados e a resistência a efeitos de borda. LEGISLAÇÃO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL LEGISLAÇÃO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL: Histórico da legislação ambiental e da avaliação de impactos ambientais (AIA) Em 1969, os Estados Unidos aprovaram o “National Environmental Policy Act-NEPA”, que corresponde, no Brasil, à Política Nacional doMeio Ambiente. O NEPA instituiu a execução de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) interdisciplinar para projetos, planos e programas e para propostas legislativas de intervenção no meio ambiente. Os problemas ambientais associados ao desenvolvimento econômico não eram exclusivos dos Estados Unidos, com isso a concepção da Avaliação de Impactos Ambientais (AIA), formalizada no NEPA, difundiu-se mundialmente. Desde sua criação, a AIA e seus estudos ambientais têm sido considerados instrumentos valiosos para a discussão do planejamento, em todos os níveis, permitindo que o mesmo atinja plenamente os anseios conservacionistas, sociais e econômicos da sociedade. Após a Conferência de Estocolmo iniciou-se a discussão de mecanismos de proteção do meio ambiente e desenvolvimento socioeconômico, partindo-se, em seguida, para a Rio-92, Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada na cidade do Rio de Janeiro, em 1992. O processo de consolidação institucional da aplicação da AIA, em nível mundial, ocorreu nos anos 80. Até em países que a Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) não é prevista na legislação, esse instrumento acaba sendo aplicado por força das exigências de organismos internacionais. O primeiro Estudo de Impacto Ambiental realizado no Brasil foi o da Barragem e Usina Hidrelétrica de Sobradinho, em 1972. No entanto, o estabelecimento de critérios básicos e organização das exigências para estudos com AIA ocorreu apenas em 1986, através da Resolução CONAMA nº 1/1986. O primeiro passo relativo à exigência legal sobre AIA e para formalização de uma legislação ambiental mais incisiva no Brasil foi dado em 1980, na legislação federal que dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição, pela Lei nº 6.803. Entretanto, após quase 10 anos, da Primeira Conferência Mundial, realizada em Estocolmo, é que o Brasil define o grande marco da política ambiental nacional, e o primeiro dispositivo legal relacionado à AIA, a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) - Lei n° 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dentre as várias inovações e avanços que a PNMA introduz é importante destacar a criação do SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente que fica definido pela composição de vários órgão, hierarquicamente divididos: Conselho de Governo (órgão gerenciador). CONAMA (órgão consultivo e deliberativo). IBAMA (órgão executor). Órgãos Estaduais (órgão executor e fiscalizador de cada estado). Órgãos Municipais (órgãos executores e fiscalizadores nos municípios – Secretarias de Meio Ambiente). Outro ponto importante é a responsabilização do Estado em relação às suas iniciativas. Com a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) o ambiente passa a ser patrimônio público. Finalmente em 1986 o CONAMA, através da Resolução 001/86, definiu como deve ser feita a AIA, criando o Estudo de Impactos Ambientais (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Importante citar que a Constituição Federal de 1988, destinou um capítulo inteiro dedicado ao meio ambiente, consolidando os princípios, diretrizes e instrumentos adotados na PNMA. O fechamento do círculo da regulação legal do meio ambiente no Brasil chega com a aprovação da Lei dos Crimes contra o Meio Ambiente (Lei n° 9.605 de 12 de fevereiro de 1998). A AIA também está presente na Agenda 21 (2002, p. 18) em que, no capítulo de promoção do desenvolvimento sustentável, é definida a ação: “Desenvolver, melhorar e aplicar métodos de avaliação de impacto ambiental com o objetivo de fomentar o desenvolvimento industrial sustentável”. Código florestal No ano de 1934 (época de ouro do café no Brasil) o governo de Getúlio Vargas, pressionado por algumas organizações conservacionistas e provavelmente no intuito de estatizar a floresta e valorizar plantios comerciais que já geravam lucro, transformou um anteprojeto do Código Florestal em Decreto no dia 23 de Janeiro de 1934 e colocou em vigor no dia 21 de Julho de 1935. Esse Código Florestal negava o direito absoluto de propriedade, pois proibia, mesmo em propriedades privadas, o corte de árvores ao longo dos cursos d’água de árvores que abrigassem espécies raras ou que protegessem mananciais. As indústrias eram obrigadas a replantar árvores suficientes para manter suas operações. No mesmo código ficava determinada a criação de uma Guarda Florestal e era esboçada a base de organização de parques nacionais e estaduais. Código Florestal 1935 O Código Florestal de 1935 não foi muito respeitado, até porque tinha muitas falhas que permitiam o desmate de forma exagerada. A floresta heterogênea era vista, na época, como pouco lucrativa, não se tinha a menor ideia do valor da biodiversidade e o intuito do código florestal era principalmente estatizar a floresta, mas de forma alguma bloquear os lucros e o avanço da cafeicultura. O código permitia o corte de 100% de uma floresta nativa em uma propriedade se houvesse o replantio que poderia ser com espécies comerciais (exóticas) e em plantios homogêneos. Código Florestal 1965 Em 1965 foi instituído outro código florestal (Lei nº 4.771 de 1965), que no decorrer do tempo foi sendo complementado através de resoluções e leis estaduais e municipais. Esse código determinou a exigência de Áreas de Preservação Permanente (APP), sendo essas áreas, trechos de mata que tem sua localização determinada: ao longo dos rios, em faixa marginal e proporcional ao tamanho da drenagem; ao redor das lagoas ou reservatórios d’água naturais ou artificiais; nas nascentes, mesmo nos chamados “olhos d’água”, seja qual for a sua situação topográfica; em topo de morros, e serras; e em encostas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive, entre outros. Código Florestal 2012 Há muito tempo discussões sobre alterações no Código Florestal vem sendo feitas, e recentemente foi aprovado um novo Código Florestal: Lei 12.651/12, com alterações feitas pela Lei nº 12.727/2012. A nova lei instituiu que o tamanho da propriedade tem relação com o nível de proteção de recursos naturais que essa terá de seguir. As alterações propostas foram vistas por grande parte dos agricultores brasileiros, principalmente os politicamente ativos, denominados ruralistas, como aceitáveis e pelo meio científico e ambientalistas foram taxadas como extremamente impactantes e degradantes ao meio ambiente. Para as áreas urbanas as modificações causaram polêmica, pois acabaram por validar ocupações ilegais em morros (as encostas com declividade entre 25° e 45° poderão manter as atividades atualmente existentes, bem como a infraestrutura instalada) e desrespeitos à lei antiga existentes em todos os municípios brasileiros como a ocupação de APP com ruas, edificações entre outros aspectos. APP em área urbana A APP em áreas urbanas, na vigência da Lei nº 4.771/1965, sempre foi motivo de questionamentos, já que certos setores consideravam que o Código Florestal era só para aplicação em área rural. Cada município pode regulamentar legislação específica para APP, podendo deixar as áreas de proteção maiores, apenas não podem diminuir o determinado pela lei federal. De maneira geral dentro de área urbana estão sendo consolidados um mínimo de 30 metros de proteção de rios em faixa marginal, considerando a borda da calha regular de alagamento; e 50 metros para nascentes. Outra modificação importante trata da regularização fundiária, que fica admitida quando houver interesse social e específico de assentamentos inseridos em área urbana consolidada e que ocupam APP, mediante aprovação de projeto de regularização. Reservatórios Modificações também foram feitas a respeito dos reservatórios artificiais, áreas que acabam por formar lagos, bebedouros e até mesmo áreas de lazer tanto na zona urbana como rural. Para novos reservatórios a faixa de preservação será definida nolicenciamento ambiental do empreendimento. Em área rural exige-se APP de no mínimo 15 m para reservatórios de até 20 hectares, aqueles menores que 1 hectare não precisam de APP. Em área urbana fica entre 15 e 30 metros dependendo de especificações técnicas detalhadas na lei. Foi criado um novo sistema de cadastramento das propriedades rurais para regularização ambiental, denominado Cadastro Ambiental Rural (CAR), onde o próprio proprietário pode desenhar a situação de sua propriedade e fazer o cadastro (todos os proprietários rurais são obrigados a fazer). Criou-se também um sistema para organizar as recuperações de APP e Reserva Legal, denominado Programa de Regularização Ambiental (PRA), em que devem ficar determinadas as áreas de recuperação e o projeto para efetuá-la. Licenciamento ambiental O licenciamento é um dos instrumentos de gestão ambiental estabelecido pela Lei nº 6.938/1981, também conhecida como Lei da Política Nacional do Meio Ambiente. A Resolução CONAMA nº 237/1997 determina os tipos de empreendimentos que precisam de licenciamento ambiental. No processo de licenciamento o empreendedor terá de pedir três licenças: LP – Licença Prévia: deve ser solicitada na fase de planejamento da implantação, alteração ou ampliação do empreendimento. Aprova a viabilidade ambiental do empreendimento, não autorizando o início das obras. LI – Licença de Instalação: aprova os projetos. É a licença que autoriza o início da obra/empreendimento. LO – Licença de Operação: autoriza o início do funcionamento do empreendimento/obra. A solicitação de qualquer uma das licenças deve estar de acordo com a fase em que se encontra a atividade/empreendimento: concepção, obra, operação ou ampliação, mesmo que não tenha obtido anteriormente a Licença prevista em Lei. Dependendo do empreendimento e de suas características, o órgão ambiental irá solicitar diversos tipos de relatórios e projetos ambientais. Para empreendimentos grandes e impactantes, designados na Resolução CONAMA nº 1/1986, haverá a solicitação de uma Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) completa e mais complexas que outros estudos, com a apresentação do documento chamado de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). EIA/RIMA O EIA-RIMA ou outros projetos ambientais que possam ser requeridos: EAS: Estudo Ambiental Simplificado RAP: Relatório Ambiental Preliminar PBA: Plano Básico Ambiental RCA: Relatório de Controle Ambiental PCA: Plano de Controle Ambiental EIV: Estudo de Impacto de Vizinhança etc. Deverão ser desenvolvidos por uma empresa prestadora de serviços ambientais, essa deverá designar uma equipe multidisciplinar, que tenha competência para apresentar os projetos dentro do designado por Termo de Referência (TR) a ser fornecido pelo órgão ambiental. O órgão ambiental que irá ser responsável pelo processo de licenciamento poderá ser o IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais), isso quando as atividades do empreendimento em questão envolverem a participação de mais de um estado ou quando a legislação prever que se trata de atividade de competência federal; ou o OEMA (Órgão Estadual de Meio Ambiente), quando a atividade do empreendimento envolver apenas um Estado e não for atribuída por lei como de competência federal. A empresa prestadora de serviços ambientais e sua equipe são, dentre os personagens, a de perfil mais complexo, pois é onde temos o maior número de pessoas pensando em todos os aspectos do empreendimento e seus impactos. Ela possui um vínculo financeiro, mesmo que indesejado legalmente, com o empreendedor e irá possuir um vínculo de corresponsabilidade técnica com o órgão ambiental. O grande problema é que nem sempre esse desejo se torna realidade, durante a AIA pode-se constatar surpresas que levam os impactos e as medidas e programas a um grau alto de complexidade. Outro personagem substancial nessa história é a população envolvida, ou seja, a comunidade que sofrerá os impactos decorrentes do empreendimento em questão. Para empreendimentos urbanos de pequeno porte e impactos o Estatuto da Cidade determina que o licenciamento ambiental poderá ser feito através da análise de um estudo ambiental específico denominado Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV). EIV Segundo o Art. 37. do Estatuto da Cidade o EIV será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades, incluindo a análise, no mínimo, das seguintes questões: Adensamento populacional. Equipamentos urbanos e comunitários. Uso e ocupação do solo. Valorização imobiliária. Geração de tráfego e demanda por transporte público. Ventilação e iluminação. Paisagem urbana e patrimônio natural e cultural. É importante salientar que a elaboração do EIV não substitui a elaboração e a aprovação de EIA, porém, depende do órgão ambiental e do tipo de empreendimento quais tipos de estudos serão solicitados. PLANEJAMENTO URBANO: ETAPAS E DIMENSÕES CONCEITOS TÉCNICOS IMPORTANTES DO PLANEJAMENTO URBANO: Planejamento urbano O termo planejamento urbano facilmente pode ser confundido com urbanismo, desenho urbano, gestão urbana e principalmente com plano diretor, porém, não se trata de sinônimos. São várias as conceituações de planejamento urbano e devido à vastidão do termo elas acabam por se completar. De acordo com DROR (1973, p. 323) “planejamento é o processo de preparar um conjunto de decisões para ação futura, dirigida à consecução de objetivos através dos meios preferidos”. Trata-se de uma ferramenta de investigação para prever o futuro e com essa previsão determinar ações para que exista um novo futuro, diferente do previsto, melhorado. Plano diretor Plano Diretor é o principal documento para orientar a gestão urbana, trata-se das determinações do planejamento urbano documentadas e dirigidas para que exista uma gestão eficaz e as ações designadas tragam os resultados previstos. O plano diretor é o instrumento básico, exigido por lei, de um processo de planejamento municipal para a implantação de uma política de desenvolvimento urbano, norteando a ação dos agentes públicos e privados. Gestão urbana Gestão urbana pode ser conceituada como um conjunto de instrumentos, atividades, tarefas e funções que objetivam determinar um bom funcionamento de uma cidade. Cabe a gestão urbana executar as ações determinadas pelo plano diretor. Trata-se de uma etapa do planejamento urbano. Deseja-se de uma boa gestão urbana que: Realize os planos urbanísticos e suas propostas (Plano Diretor). Tenha um corpo técnico capacitado e multidisciplinar. Realize fóruns sociais para efetivar a participação democrática. Utilize de princípios da administração pública e privada para trazer resultados efetivos Governança Segundo o Banco Mundial, em seu documento Governance and Development, de 1992, a definição geral de governança é a maneira de exercer autoridade, controle e poder de governo na administração dos recursos sociais e econômicos de um país, estado ou município, visando o desenvolvimento. Nesta perspectiva, a abordagem da governança pode ser vista como uma possibilidade de restaurar a legitimidade do sistema político pela criação de novos canais de participação e parcerias entre o setor público e o setor privado ou iniciativas voluntárias, contribuindo para novas formas democráticas de interação público- privada. A governança não é uma ação isolada da sociedade civil buscando maiores espaços de participação e influência. Ao contrário, o conceito unifica a ação do Estado e sociedade na busca de soluções e resultados para problemas comuns. Urbanismo Hoje, o urbanismo como conceito fica definido como aquele que trabalha (historicamente) com o desenho urbano e o projeto das cidades, sem especificamente considerartodos os processos sociais que ocorrem nas cidades. O urbanismo estaria mais ligado ao desenho da cidade, tanto na escala de espaços amplos e de ordenação territorial quanto na escala do desenho de mobiliário urbano e espaços intra urbanos. Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-ND https://urbanidades.arq.br/2010/11/17/tipos-de-desenho-urbano/ https://creativecommons.org/licenses/by-nd/3.0/ ETAPAS DO PLANEJAMENTO URBANO: Análise (diagnóstico e prognóstico) Um planejamento urbano deve consistir em três etapas: análise (diagnóstico e prognóstico), propostas e a gestão. Na etapa de análise, deverá ser elaborado um diagnóstico sobre a realidade do município tentando responder às seguintes questões: quais são as condições econômicas, sociais, ecológicas (ambientais), culturais, infra estruturais, gerenciais e territoriais do município na atualidade? Como o município chegou a essa realidade? O que foi feito no passado? Será necessário a formação de uma equipe multidisciplinar, de preferência mesclando funcionários públicos com privados, que estejam familiarizados com as problemáticas da região. Serão tratados dados ambientais e geográficos (análise da paisagem), dados demográficos (taxa crescimento, composição etária, escolaridade entre outros), legais (Legislação existente), sociais e econômicos (renda população, atividades econômicas entre outros), além de vários outros dependendo de particularidades do município. Os dados irão gerar relatórios técnicos e mapas demonstrando a realidade do município. Propostas Nesta etapa são pensadas propostas para levar o município a um futuro diferente e melhor do que o verificado no prognóstico. O corpo técnico com a devida participação popular deve determinar onde existem falhas no planejamento urbano e ações que acertem para que ocorra melhorias, que em tese devem ser pensadas para o coletivo, para a melhoria da qualidade de vida da grande maioria dos cidadãos. Muito importante que as propostas sejam feitas com visões técnicas bem definidas e auxiliadas por visões de cunho político administrativo. Será identificado um problema como: o aumento de área desmatada de floresta nativa no município nos próximos 10 anos. Outro exemplo de problema seria: o aumento da população de favelas em um determinado período Gestão urbana A gestão deve ser dinâmica, deve monitorar resultados das ações e gastos e com isso trazer dados para futuros diagnósticos e prognósticos das atualizações de planos diretores. DIMENSÕES DO PLANEJAMENTO URBANO: Dimensão ambiental O planejamento urbano e sua gestão urbana podem ser divididos em várias dimensões de atuação. Não por coincidência grande parte dessas dimensões são também as dimensões da Sustentabilidade. Dentro do gerenciamento do município a atuação nessa dimensão se encaixa mais diretamente nas funções de várias secretarias como: meio ambiente, saúde, agricultura e social. A proteção de mananciais, a proteção de áreas naturais frágeis, o manejo das áreas verdes urbanas, o saneamento básico (incluindo a coleta e tratamento de resíduos sólidos), o uso da água, o controle de erosões, a organização da agricultura e o licenciamento ambiental, são os principais pontos de atuação focados nessa dimensão. Dimensão social A dimensão social é aquela preocupada diretamente com o bem- estar dos cidadãos. Enquadra-se nessa dimensão: a educação, saúde, cultura, cidadania, esportes, lazer, segurança, assistência social e habitação. Primeiramente, para todo o resto ser bem estruturado, os serviços voltados à educação básica e saúde devem ser prioritários, prevendo qualidade e disponibilidade para todos os cidadãos. O aspecto importante dessa dimensão é que ela está diretamente vinculada à dimensão territorial e infraestrutural, pois o Estatuto da Cidade coloca como ponto chave de um plano diretor a busca da função social da propriedade urbana. Em termos habitacionais é necessário ter um cenário de desenvolvimento que não existam grandes implosões populacionais. Sobre a segurança pública é importante ressaltar que a maior atribuição dessa seara é de responsabilidade do Estado. Na esfera municipal as ações acabam sendo limitadas, tanto por verba quanto por corpo técnico. Porém, o município pode planejar sua infraestrutura e zoneamento urbano buscando inibir a criminalidade. O acesso à cultura, ao lazer e ao esporte também ficam diretamente vinculados à diminuição da criminalidade. A assistência social é essencial, pois ela que tentará equalizar as condições sociais, tentando enquadrar socialmente aqueles que acabaram por ficar à margem da sociedade. A promoção da cidadania pode ser colocada como o último grau da dimensão social, pois depende do bom funcionamento de outras dimensões e das ações dentro da própria dimensão social. Dimensão econômica Trata dos recursos financeiros de um município e das variadas formas de se trabalhar esses recursos. Considerar os recursos financeiros das empresas e cidadãos e do poder público. Em relação aos recursos financeiros do órgão público do município, esses vêm em grande parte de impostos tanto de âmbito municipal, estadual e federal, porém, cabe salientar que existem maneiras do município aumentar sua renda trabalhando alguns produtos. Como exemplo podemos citar a boa administração de resíduos sólidos que pode promover renda com o desenvolvimento de produtos como: lenha, briquetes, adubo, reciclagem entre outros. Outro ponto importante é a organização dos programas de geração de renda alternativa para aqueles que estejam temporariamente afastados do mercado formal. O bom desenvolvimento do turismo em uma região é outro ponto importante para aumentar os recursos financeiros de um município, principalmente a longo prazo. Dimensão infraestrutural Trata dos serviços públicos essenciais, obras, infraestrutura e do transporte. No planejamento urbano devem ser colocadas as necessidades dentro dos temas destacados e estimados os gastos para o gerenciamento de toda essa dimensão. Nessa dimensão ficam estabelecidas as necessidades infraestruturais para a resolução das problemáticas encontradas em todas as dimensões do planejamento urbano. Dimensão gerencial Dimensão vinculada diretamente à gestão urbana. Trata das funções do órgão público municipal (prefeitura) na administração dos recursos humanos, recursos financeiros, governança (governo), do gerenciamento dos impostos (fazenda), da comunicação interna entre secretarias e na administração geral. As perguntas que se estabelecem nessa dimensão são: como serão utilizados os recursos e as formas de destinação desses? Como funcionarão as equipes, os profissionais e suas funções dentro das necessidades do município? Dimensão territorial Essa dimensão trata do planejamento do uso do solo no município, fica vinculada às outras dimensões, pois a divisão do território em zonas diferenciadas de uso será feita em função dos resultados dos diagnósticos da dimensão ambiental, social, econômica, infraestrutural e gerencial. NOVAS TECNOLOGIAS PARA USO NO PLANEJAMENTO URBANO: Técnicas e materiais de construção Pesquisadores da cidade de São Paulo desenvolveram uma possível solução para as águas das chuvas que castigam a cidade de São Paulo e causam as inundações durante o verão. Os pesquisadores da USP desenvolveram um asfalto poroso, ou seja, permeável, que absorve as águas da chuva e, consequentemente, diminui os riscos de alagamentos. O projeto, chamado de Pavimento Permeável Reservatório, é uma parceria entre o Departamento de Engenharia Hidráulica da USP e a Prefeitura de São Paulo, coordenado pelo Prof. José Rodolfo Martins. Nos Estados Unidos a maioria das casas são construídas seguindo os modelos SteelFrame e WoodFrame, em que a estrutura da casa é pré montada com partes de aço ou madeira e depois fechadas com placas de cimento e gesso. No Brasil, já existem tijolos ecológicos,onde o uso de argamassa é mínimo, pois este vem com encaixes e são fabricados de forma menos impactantes ao meio ambiente. Além de técnicas e materiais diferenciados, novos tipos de projetos para moradias vêm sendo executados, em que casas são desmontadas e podem com maior facilidade serem transportadas para novos locais. Além disso, normalmente os projetos introduzem todo tipo de inovação em prol da sustentabilidade. Como exemplo podemos citar o estúdio de design holandês Fiction Factory que desenvolveu uma casa sustentável que pode ser construída em apenas um dia. A grande diferença desse modelo de construção para os tradicionais é a matéria- prima. No lugar de tijolo ou concreto, a residência tem as suas paredes feitas em papelão. Turbina eólica sem hélice Essa tecnologia elimina a necessidade de hélices, aumentando a eficiência da turbina e reduzindo pela metade os custos de produção. O dispositivo converte esta energia com a ajuda de pistões e pode armazená-la para uso posterior em um acumulador hidráulico, Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY https://desenchufados.net/nueva-turbina-eolica-sin-palas-podria-ser-mas-eficiente/ https://creativecommons.org/licenses/by/3.0/ Bactéria que consome plástico O objetivo delas é criar uma bactéria que se alimenta dos resíduos plásticos, retornando água e CO2 para os oceanos. O sistema funciona em duas etapas: na primeira, o plástico é dissolvido com o uso de solventes, depois as bactérias entram em ação. A estimativa é que cada litro de solução com bactérias possa remover nove gramas de plástico das águas. Células solares para envelopar edifícios A ideia dos edifícios “energia zero” é que esses consigam gerar toda a energia que consomem, ou em alguns casos até mais. Uma equipe de pesquisadores australianos alcançou a maior eficiência já registrada em células solares flexíveis não tóxicas e com baixo custo de produção, e indicam que estas poderão ser usadas para envelopar edifícios, transformando suas paredes em gigantescos painéis solares. Tinta que absorve poluição atmosférica A tecnologia nova está sendo desenvolvida por cientistas de uma universidade italiana e já está em algumas áreas turísticas da cidade. A primeira experiência com o produto foi testada no túnel Umberto I, de 9 mil metros, subterrâneo, com tráfego intenso e agora todo pintado de branco com a nova tinta. A nova tinta feita à base de cimento, e de um princípio ativo fotocatalítico, é capaz de absorver a poluição do ar, chegando a reduzir pela metade esses gases no ambiente. A nova tinta acionada pela luz, que estimula substâncias como o dióxido de titânio, reduzindo imediatamente os níveis dos poluentes, em mais de 50%. A combinação da luz natural ou artificial com o produto cria oxidantes radicais que interagem com esses poluentes do ar e os transformam em moléculas de sal. Quando utilizada em ambientes internos, a tinta pode comer bactérias, vírus e fontes de mau cheiro em até 90%.