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Climatologia Lindberg Nascimento Júnior

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Código Logístico
59919
CLIMATOLOGIA
LINDBERG NASCIMENTO JÚNIOR
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-65-5821-044-3
9 7 8 6 5 5 8 2 1 0 4 4 3
Climatologia 
Lindberg Nascimento Júnior
IESDE BRASIL
2021
© 2021 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e 
do detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Piyaset/ Galyna Lysenko/Shutterstock
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
N195c
Nascimento Júnior, Lindberg 
Climatologia / Lindberg Nascimento Júnior. - 1. ed. - Curitiba [PR] : 
IESDE, 2021. 
110 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-044-3
1. Climatologia. I. Título.
21-71562 CDD: 551.6
CDU: 551.58
Lindberg Nascimento 
Júnior
Doutor e mestre em Geografia pela Universidade 
Estadual Paulista (Unesp). Licenciado e bacharel em 
Geografia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). 
Professor adjunto do Departamento de Geociências da 
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde 
atua nos cursos de Pós-Graduação em Geografia e em 
Desastres Naturais. Pesquisa temas voltados para a 
climatologia geográfica, geografia do clima e educação 
geográfica das relações étnico-raciais, com foco em 
impactos da variabilidade, teleconexões climáticas, clima 
urbano, riscos climáticos, vulnerabilidade e cartografia 
histórica da África.
SUMÁRIO
1 Introdução à climatologia 9
1.1 História da climatologia 9
1.2 Objeto e método da climatologia 14
1.3 Conceitos de tempo e clima 17
1.4 Clima e sociedade 20
2 Escalas do clima 25
2.1 Escalas espaciais e temporais 25
2.2 Escalas locais – ritmo climático 31
2.3 Escalas regionais – variabilidade climática 33
2.4 Escalas globais – mudanças climáticas 36
3 A atmosfera da Terra 42
3.1 Origem e formação da atmosfera 42
3.2 Características da atmosfera 45
3.3 Estrutura da atmosfera 47
3.4 Balanço de energia 51
4 Dinâmica climática e fatores geográficos do clima 56
4.1 Elementos climáticos 56
4.2 Circulação geral da atmosfera 60
4.3 Sistemas atmosféricos 64
4.4 Fatores geográficos do clima 69
5 Climatologia aplicada 74
5.1 Classificações climáticas 74
5.2 Clima e agricultura 79
5.3 Clima urbano 83
5.4 Clima e saúde 87
6 Mudanças climáticas 91
6.1 Os climas do passado 91
6.2 Aquecimento global 95
6.3 Riscos climáticos e desastres naturais 97
6.4 O clima e o futuro da humanidade 101
7 Resolução das atividades 104
APRESENTAÇÃO
Vídeo
Em tempos de emergência climática, os conceitos de clima e de tempo 
meteorológico – referente à previsão que diariamente acompanhamos 
nos jornais e na imprensa –, assim como de eventos extremos, desastres 
naturais, ilha de calor urbana, mudanças climáticas e aquecimento global, 
nunca foram tão debatidos e nem ganharam tanta importância como 
atualmente.
Este livro trata exatamente desses processos, e vamos abordá-los como 
um todo, valorizando especialmente o clima como fenômeno geográfico, 
ou seja, como um dos processos de produção do espaço geográfico, uma 
construção social, incorporado e atravessado por uma série de contradições, 
sendo melhor entendido e explicitado no conjunto das relações entre 
sociedade e natureza do mundo contemporâneo.
Basicamente, partiremos do clima em suas múltiplas dimensões. Vamos 
valorizar o conhecimento das suas bases físicas e biológicas, ecológicas, pois 
nos auxiliam na interpretação do conjunto dos condicionantes formadores 
da paisagem e dos graus de influência climática nos sistemas naturais, 
humanos e produtivos. Também discutiremos como o clima é apropriado 
pelos agentes sociais, sobretudo quando é utilizado como insumo econômico 
ao processo produtivo. 
Com essas possibilidades, podemos compreender o uso e a finalidade 
do clima para atender aos processos de territorialização da nossa sociedade, 
seja no contexto da humanidade global, seja no contexto das nossas cidades, 
comunidades e famílias.
Esses conhecimentos devem ajudar você a questionar, problematizar, 
antecipar e propor resoluções para muitos problemas que nossa sociedade 
tem enfrentado e que, em grande parte, são atribuídos ao clima. Estamos 
falando, de fato, das chuvas extremas, das inundações, das secas, das ilhas de 
calor urbanas, do desconforto térmico, da proliferação de pragas e doenças, 
entre outros, que tornam altamente vulnerável e exposta a qualquer 
manifestação natural grande parte das populações e países pobres.
Como geógrafos, esse conhecimento é inicialmente importante porque 
podemos definir regiões e zoneamentos, elaborar políticas públicas e 
sistemas para uso e conservação das riquezas naturais e defesa civil, 
além de nos ajudar a compreender estratégias para redução de conflitos 
socioambientais e os marcos regulatórios e geopolíticos do mundo atual. 
Este é, portanto, o principal objetivo desta obra: oferecer um debate 
sobre as dimensões do fenômeno climático e sua relação com o mundo 
contemporâneo.
Por isso, este livro aborda os temas, os conteúdos e os problemas 
do clima, partindo da sua história natural e social, abrindo críticas ao 
conhecimento e à nossa sociedade sempre que possível. Essa estratégia 
didático-pedagógica deve indicar a formação de um olhar voltado para a análise das 
nossas ações (como sociedade) no passado, requerendo mudanças em nosso presente e 
transformações futuras.
Associações e articulações entre o estudo do clima e da geografia são bastante 
valorizadas. Escolhemos essa perspectiva para evidenciar a particularidade da climatologia 
dentro da ciência geográfica, que chamamos de climatologia geográfica, e, ao mesmo tempo, 
para não perder de vista a indissociabilidade entre o clima e as diversas áreas e campos do 
conhecimento científico. 
Veremos esse encadeamento em seis capítulos. No primeiro vamos apresentar a 
história e o desenvolvimento da climatologia. Entendemos que as relações entre natureza e 
sociedade, ou clima e sociedade, são resultado, inicialmente, de um conjunto de significados 
e sentidos que foram sendo codificados com base em nossas visões de mundo e projetos 
de sociedade. Nesse caso, a climatologia é o ramo do saber orientado a desvendar como o 
tempo, os tipos de tempo e o clima são conceitos que servem para entender a organização 
das paisagens naturais e a constituição dos territórios.
Em seguida, no segundo capítulo, trataremos das formas de representação, 
interpretação e explicação do fenômeno climático, com a premissa analítica possibilitada 
pelas escalas geográficas do clima. Vamos admitir que a escala geográfica do clima pode 
ser operada como um processo que integra movimentos com ritmos e variações muitos 
rápidos e constantes junto com outros lentos e excepcionais e que, por isso, carece de uma 
organização analítica para oferecer coerência da sua interface natural e social, diversidade 
e diferença.
No terceiro capítulo vamos debater a gênese, a formação e a composição da atmosfera 
como o ambiente principal do fenômeno climático sob modelos explicativos mais bem 
aceitos pela comunidade científica. Vamos partir da sua importância geográfica para a 
manutenção e a transformação da vida no sistema terrestre, especialmente no que tange 
ao balanço de radiação e aos debates da degradação ambiental.
No quarto capítulo vamos colocar mais foco na articulação entre elementos e fatores 
do clima. Tentamos utilizar uma abordagem de trabalho aplicado, que deve auxiliar na 
coerência entre conceitos e teorias, bem como na construção integrada e próxima da 
realidade e do cotidiano. Reconheceremos os princípios dinâmicos que regem os fluxos 
atmosféricos e explicam o tempo meteorológico, os tipos de tempo e o clima como 
resultados de complexos movimentosde troca de matéria e energia. 
No quinto capítulo daremos destaque às possibilidades de trabalho dos profissionais 
formados em Geografia e aos problemas reais. Vamos enfatizar o estudo do clima e sua 
relação com o espaço rural e urbano e, também, seus impactos na produtividade, na saúde, 
na qualidade ambiental e nos riscos de desastres. O objetivo é aprofundar o estudo mais 
prático do clima no sistema terrestre.
No sexto e último capítulo vamos tratar das mudanças climáticas e considerar sua 
importância no passado, bem como os problemas associados aos dias atuais, inclusive 
quanto a questões relativas ao aquecimento global, à emergência climática e ao futuro da 
humanidade.
Esperamos que esta obra enriqueça suas ideias atuais e suas perspectivas na Geografia. 
Boa leitura!
Introdução à climatologia 9
1
Introdução à climatologia
Com o estudo deste capítulo você será capaz de:
 • Definir o objeto de estudo da climatologia, suas relações com a Geo-
grafia e conhecer os seus métodos teóricos e aplicados. 
 • Entender a evolução histórica da climatologia e discutir seus 
paradigmas. 
 • Distinguir as noções de tempo e clima e compreender suas intera-
ções com a sociedade.
Objetivos de aprendizagem
Seja bem-vindo ao primeiro capítulo do material de Climatologia. Neste 
momento vamos aproximar você do estudo geográfico sobre o clima. 
Pretendemos, ainda, indicar elementos analíticos para que as conexões 
dentro e fora da Geografia também possam ser cada vez mais coerentes 
e interessantes.
Para isso, vamos valorizar os fundamentos da climatologia geográfi-
ca que mais podem ser articulados às práticas profissionais, seja como 
 licenciado ou bacharel. Aprenderemos que, para além de fenômeno físico-
-natural, o clima é um fenômeno geográfico, pois nos oferece maneiras de 
tratamento da história natural e social associadas às questões ambiental, 
agrária, urbana, econômica, política, social, de gênero, étnica, racial etc.
Inicialmente, recorreremos aos atributos históricos da formação dos 
saberes que organizaram a climatologia como campo científico. Para isso, 
destacaremos seus objetos e métodos, valorizando especialmente a parti-
cularidade que interessa à ciência geográfica. Além disso, apresentaremos 
os principais paradigmas e conceitos que envolvem as formas de análise 
e de interpretação do clima e quais oferecem processos consistentes de 
produção do espaço geográfico.
Não se esqueça do bloco de anotações, da sua caneta ou lápis e 
construa sempre sínteses para otimizar seus estudos. Essa técnica de 
estudo serve sobretudo para que você construa um saber independen-
te, autônomo e crítico.
10 Climatologia
1.1 História da climatologia
Vídeo Na ordem do desenvolvimento histórico, a ideia de clima sempre foi apresenta-
da de modo inseparável das preocupações biológicas, sociais e produtivas. Nessa 
perspectiva, os primeiros registradores não foram os instrumentos tecnológicos 
de medida, mas sim os naturais, em particular a sensibilidade dos seres humanos.
Segundo Sorre (1943), não se conhecia o calor e o frio a não ser por seus efei-
tos sobre o organismo humano, e, por isso, grande parte da representação desse 
saber, chamado saber climático, foi inicialmente associada às concepções mitoló-
gicas ou sobrenaturais sobre a natureza.
Trata-se do saber climático elaborado pelos primeiros seres humanos, que não 
diferenciavam a vontade dos deuses das suas práticas cotidianas. A construção de 
instrumentos tecnológicos, apropriados à produção agrícola, foi inserida na estru-
tura socioespacial como meio de realização original de criação de tempo e produ-
ção de espaço.
Esses primeiros saberes climáticos eram obtidos, em geral, por presságios e adi-
vinhações e relacionavam o fenômeno natural com ações associadas à vontade dos 
deuses. Em nossa história e até os dias atuais, nós operamos esse saber quando 
transvestimos o tempo e o clima de benção, dádiva, castigo e fúria, elementos que 
o artista do Romantismo John Martin representou em uma de suas obras (Figura 1).
Figura 1
A sétima praga do Egito (1823)
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Na pintura, Martin ilustra uma das histórias bíblicas sobre o processo de libertação do povo hebreu e a ocorrência 
de chuva de pedras misturada com fogo.
Nesse período, a produção do espaço era definida pelos ritmos dos sistemas 
naturais, em uma concepção sobrenatural de um tempo-espaço eterno e absoluto, 
mas que já envolvia alguma possibilidade de se criarem parâmetros de medida e 
instrumentos de observação.
Introdução à climatologia 11
A título de exemplificação, a Figura 2 representa um tipo de embarcação uti-
lizada pelos egípcios da Antiguidade e que servia para medir as cotas fluviais do 
Rio Nilo acopladas. Essa concepção possibilitou representar os limites dos fenô-
menos naturais, bem como princípios de um espaço-tempo cíclico que servia tanto 
para descrever o nascer e o pôr do sol, as mudanças das estações e as posições 
das constelações no céu quanto para subsidiar a origem das noções de calendário, 
orientação e localização geográfica.
Figura 2
Embarcação egípcia retratada em baixo relevo
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Desse modo, o saber climático se fazia presente com base no regime de chuvas, 
na força do vento, nos espetáculos luminosos e ópticos (raios, auroras, arco-íris, 
estrelas cadentes etc.), na dinâmica dos rios e nas plantas que definiam das esta-
ções do ano (a época de inundação, germinação, colheita), associados à história das 
primeiras civilizações (SANTOS, 2008).
A utilização das técnicas de observar, descrever, medir e mapear foi suficiente 
para determinar os limites, o controle e a organização do território levando em 
conta a abrangência do sistema natural – os canais fluviais, por exemplo. A relação 
clima e produção do espaço não apenas era associada para definir períodos e lu-
gares de lazer, moradia, trabalho, ritos, mas também para estabelecer uma cultura 
12 Climatologia
própria e autóctone, notadamente no entorno de grandes rios e sob domínio de 
climas semiáridos (secos ou com baixos índices de precipitação).
Dentro de uma racionalidade explicada pelo conjunto de saberes empíricos, 
repletos de manifestações místicas e religiosas, esse saber pôde ser construído 
no conjunto de possibilidades tecnológicas e linguísticas das primeiras formas de 
apropriação da natureza. É importante considerar esses aspectos, uma vez que 
mostram desde esse momento uma estreita relação de princípios-base da geogra-
fia no que se refere às relações natureza-sociedade e clima-sociedade.
Como todo conhecimento humano, o saber climático foi inicialmente construído com base 
em concepções sobrenaturais. Atualmente, podemos atribuir esses saberes ao conjunto de 
tradições, folclores, artes e obras cinematográficas. Isso significa que, até os dias atuais, esse 
conhecimento subsidia grande parte das nossas concepções de clima, natureza e sociedade. 
Para que você tenha mais elementos sobre esse momento histórico, leia o artigo Mitologia e 
Climatologia: um estudo das divindades relacionadas à ocorrência de tempo severo, de Daniel Hen-
rique Candido e Lucí Hidalgo Nunes, publicado na Revista Brasileira de Climatologia em 2012.
Acesso em: 28 abr. 2021.
https://revistas.ufpr.br/revistaabclima/article/view/27788/20844
Artigo
No entanto, foi a partir da civilização grega, com a atribuição da razão como 
tarefa dos filósofos, que surgem os primeiros estudos sistemáticos sobre o 
clima. Baseando-se na separação espiritual, orientando para o entendimento 
naturalista e empirista com base nas perspectivas cosmológicas e físicas do 
mundo, essa sociedade ofereceu as principais contribuições lógicas, referindo-
-se primeiro ao termo Klima 1 , utilizado por Parménides de Eleia para designar 
a inclinação da Terra e a explicação para a ocorrência de zonas climáticas: tórri-
da, temperada e frígida (primeiro zoneamento climático da história).Em seguida, somam-se os avanços de Anaxímenes de Mileto, que acreditava 
que o fenômeno da vida estava ligado ao ar e que o vento era definido pelo 
movimento do ar; e também de Hipócrates, que escreveu a obra Dos Ares, Águas 
e Lugares (fins do século V a.C.) e associou as condições ambientais dos lugares 
às diferentes culturas, povos, sociedades, costumes, paisagens e enfermidades 
(doenças).
De outro modo, foi fundamentalmente com as contribuições de Aristóteles, 
por meio da obra Meteorologika (340 a.C.), que o saber climático foi mais bem 
desenvolvido. Primeiramente porque o filósofo introduziu a noção de meteo-
rologia como discurso sobre as coisas do alto, que incluíam meteoros e fenô-
menos ópticos. Desse período em diante, as observações da natureza física do 
céu, do ar, da terra, da água e do mar já consideravam todos os fenômenos 
meteorológicos até então conhecidos.
É também importante destacar que o saber climático construído na Antigui-
dade grega constituiu-se pela representação local do mundo, com reconhecida 
legitimação do domínio e do controle dos ambientes topicalizados como terri-
tórios destinados à exploração econômica. Ressaltamos que ainda se tratava de 
uma sociedade organizada em classes e estabelecida no escravagismo.
A sociedade grega exagerou na influência que o clima exerce nas sociedades 
e nos povos, iniciando um processo de naturalização dos processos de domina-
autóctone: original, 
primária.
Glossário
Klima também pode ser 
considerada a primeira 
classificação climática da 
história, e seu zoneamento 
atendia a concepção da 
Terra plana, em que as 
zonas tórrida e frígida 
estariam como as porções 
mais próximas e distantes 
do Sol, respectivamente. 
Por esse caráter, esse con-
ceito orientou concepções 
de que nessas regiões 
o fenômeno da vida era 
impossível devido às re-
giões extremas. Por outro 
lado, as zonas temperadas 
sugeriam uma condição 
climática ideal para o 
desenvolvimento da vida e 
do ser humano.
1
https://revistas.ufpr.br/revistaabclima/article/view/27788/20844
Introdução à climatologia 13
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Sede da OMM, em Genebra, compartilhada com o Painel Intergovernamental sobre 
Mudanças Climáticas (IPCC) e o Grupo de Observações da Terra.
ção, que posteriormente seria chamado na geografia de Determinismo Ambien-
tal. Nesse sentido, até hoje essa concepção tende a oferecer sentidos de que o 
clima é o principal agente determinante da vida, da sociedade, do desenvolvi-
mento e da produção do espaço
Essas concepções, em geral, prevaleceram por quase 1500 anos até a revo-
lução científica, quando, a partir do século XIII, o cientista inglês Francis Bacon 
introduziu de maneira crítica aos estudos de Aristóteles o método experimen-
tal. Após esse momento, houve um avanço expressivo das experimentações, 
que deram outra qualidade às observações do tempo e do clima (SANT’ANNA 
NETO, 2001).
Ao mesmo tempo que essas experimentações foram paulatinamente intro-
duzindo a instrumentalização para mensuração quantitativa dos elementos 
climáticos e meteorológicos, suplantando sobretudo as concepções religiosas 
vigentes, elas também ofereceram mais possibilidades de ampliação do uso 
do saber climático para fins de dominação dos povos e exploração das rique-
zas naturais.
Para exemplificar, a invenção de instrumentos de medida do vento, da umi-
dade, das chuvas e da temperatura ocorre analogamente aos registros sobre o 
magnetismo e as manchas solares, bem como à explicação empírica dos equi-
nócios, dos solstícios e das estações do ano. Observe que todos esses conheci-
mentos formavam o estabelecimento de um momento rico sobre as dinâmicas 
da natureza, tanto em termos de produção de informação quanto de geração 
de dados.
Essas transformações no conhecimento ofereceram aos agentes he-
gemônicos da época uma visão ampla de mundo. Trata-se da origem 
da sociedade capitalista, cuja funcionalidade do instrumental técnico 
não servia somente para medir os elementos climáticos nos luga-
res, mas também para sistematizar um conjunto de informações 
sobre as riquezas naturais (metais e pedras preciosas) a serem 
exploradas, especialmente a partir da fase mercantilista, das 
grandes navegações e do processo colonial.
Da mesma forma, o desenvolvimento do saber climá-
tico ocorre de maneira paralela ao conhecimento filo-
sófico e se fundamenta notadamente pela sofisticação 
dos instrumentos tecnológicos. Em outras palavras, 
filosofia e técnica uniram-se em um único processo 
de produção do conhecimento científico, tanto para 
indicação de seus procedimentos como para consoli-
dação de um campo que no futuro marcaria a gêne-
se da climatologia e da meteorologia moderna 
(SANT’ANNA NETO, 2001).
Se até o século XIX o saber climático era de-
senvolvido no conjunto das ciências naturais, 
a partir do século XIX, com o extraordinário 
avanço da física newtoniana (mecanista), o rigor 
metodológico e a disciplinarização de todos os 
ramos do saber, ele começa também a ser sub-
14 Climatologia
metido a fragmentações para se diferenciar e se distanciar de outros campos em 
termos metodológicos e em propósitos de análise.
O momento era tão importante que, em 1950, a Organização Meteorológica 
Mundial (OMM) foi criada, substituindo a Organização Meteorológica Internacio-
nal (OIT), fundada em 1873, tendo como papel fornecer padronização de equi-
pamentos, instrumentos e lugares de instalação de estações meteorológicas e 
normas para serem obtidas séries históricas confiáveis e consistentes, bem como 
suas formas de representação e análise.
Nesse período, notáveis esforços por parte de geógrafos, meteorologistas, 
geólogos e biólogos foram imprescindíveis para consolidar o clima no rol dos 
estudos da natureza, com um objeto e uma teoria lógica que poderiam ser ab-
sorvidos como processo do método científico. Nesse escopo, os estudos de 
previsão meteorológica foram os que ganharam maior destaque, uma vez que 
acurácia e precisão estariam associadas à qualidade das séries históricas (lon-
gas e consistentes) e à padronização dos dados meteorológicos.
Acompanhando o desenvolvimento técnico-científico, as previsões foram 
cada vez mais precisas conforme se ampliavam a quantidades de estações me-
teorológicas pelo mundo. Enquanto o campo da meteorologia foi sendo orien-
tado para concentrar estudos da previsão do tempo, a climatologia foi instigada 
ao estabelecimento do conceito e das regras do estudo científico do clima.
1.2 Objeto e método da climatologia
Vídeo
Podemos considerar que a origem da climatologia como campo do conheci-
mento científico foi construída de modo análogo à astronomia, à meteorologia 
e à geografia, visto que sempre se tornaram centrais para definir os fenômenos 
processados no ambiente atmosférico. Além disso, até a modernidade, esses 
saberes atendiam quase que exclusivamente à constituição dos climas dos lu-
gares, ou seja, a definição de clima era restrita às localidades e às condições do 
seu entorno imediato.
A partir do século XIX, quando essas ciências começaram a oferecer con-
tribuições mais consistentes sobre o que definiria o objeto e o método da cli-
matologia, um conjunto de estudos sistemáticos sobre a distribuição espacial 
dos climas no mundo foi desenvolvida de maneira mais racionalista e criteriosa. 
Dentre esses estudos, destacam-se os realizados pelo naturalista Alexander von 
Humboldt, que, com base na integração entre meteorologia e geografia, elabo-
rou observações que designaram os papéis dos climas na formação da paisa-
gem (SANT’ANNA NETO, 2001).
Para ele, o clima se apresentava por meio de múltiplas relações dentro do 
escopo da geografia física, isto é, poderia oferecer explicações de acordo com 
as correspondências de tamanho das formações naturais, da disponibilidade hí-
drica, da cobertura vegetal, da presença de neve, entre outros. Dessas interpre-
tações, Humboldt identificou a existência de determinados padrões regionais, 
principalmente combase em sua proposta de mapeamento global da tempera-
tura 2 (Figura 3).
O mapeamento foi basea-
do em isotermas, ou seja, 
linhas desenhadas em 
um mapa que conectam 
diferentes localidades com 
as mesmas temperaturas 
iguais. Dessa representa-
ção, Humboldt ofereceu 
uma explicação coerente 
do globo, em termos de 
correspondência com os 
domínios de paisagem 
mais abrangentes do 
planeta.
2
Introdução à climatologia 15
Figura 3
Carta de isotermas do mundo (1823)
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William Channing Woodbridge, criador do mapa, foi o primeiro a utilizar cores representando temperaturas. O 
geógrafo o elaborou baseando-se em dados de Humbodlt sobre as condições climáticas de vários países.
É importante compreender já em primeira instância que a necessária coesão 
do fenômeno climático foi a valorização da sua dimensão espaço-temporal. Essa 
tradição, mais do que um fundamento dos estudos científicos sobre o clima, está 
presente até os dias atuais como um dos principais elementos para construção 
teórica do clima como objeto de estudo científico.
Ou seja, para um estudo que busca utilizar valores e informações climáticas, 
o primeiro exercício a ser realizado é a definição de uma unidade espacial (uma 
casa, um bairro, um ambiente, uma cidade, um estado, um domínio, um país etc.) e 
outra temporal (horas, dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos etc.). A união 
espaço-tempo é o que define, por exemplo, a área de estudo e sua periodização 
(MONTEIRO, 1971a).
Humboldt praticamente ofereceu esses princípios e incorporou diretamente o 
estudo do clima no escopo da geografia. Nesse contexto, a climatologia tanto au-
xiliou na consolidação e na institucionalização da ciência geográfica como também 
foi integrada a outros ramos do saber, atualmente designada como um dos cam-
pos das ciências atmosféricas.
16 Climatologia
O conjunto de campos que envolvem as ciências atmosféricas define o clima 
como o principal fenômeno do ambiente atmosférico. Seus processos de aná-
lise são diversos, uma vez que cada campo científico retira do clima aquilo que 
é mais interessante para dimensionar seus estudos. Dessa forma, devido ao 
caráter múltiplo do clima, o fenômeno não pode ser reduzido e restrito a um de-
terminado campo – pelo contrário, é fundamental entender que, antes de mais 
nada, o clima é uma teoria. O sentido é de que cada investigador implementa 
uma dada experiência de tempo meteorológico adequada aos seus próprios 
propósitos (CURRY, 1952).
A Figura 4 apresenta esquematicamente o posicionamento da climatologia e 
seus subcampos, demonstrando seu caráter interdisciplinar, representado no 
âmbito das relações da climatologia com a geografia, com a meteorologia, e 
também os subcampos: bioclimatologia, agrometeorologia, dendroclimatologia 
e hidroclimatologia. Em geral, podemos entender que ela pode ser, em síntese, 
entendida como o campo voltado ao estudo científico do fenômeno climático, 
oferecendo desde o entendimento dos seus padrões espaço-temporais, asso-
ciando-o às relações adaptativas dos seres vivos e da produtividade agrícola, 
como também às interações que promove com a dinâmica natural do sistema 
terrestre, sobretudo em relação à dinâmica da atmosfera e da hidrosfera.
Figura 4
Organização da climatologia como campo científico
• Padrões climáticos em sua 
concepção geográfica
• Interações do fenômeno na 
produção do espaço
• Ordem espacial do 
fenômeno climático
• Estudo de processos 
atmosféricos em sua 
concepção física
• Interação dos 
fluidos ar e água na 
atmosfera
• Dinâmica 
dos sistemas 
atmosféricos
• Relações adaptativas 
dos seres vivos à 
influência climática
• Interações do clima 
na saúde e no 
conforto
• Influência fisiológica 
do clima
• Relações de causa e efeito 
entre clima e produtividade 
agrícola
• Exigências climáticas de 
plantas e animais
• Clima como fator de 
rendimento
• Clima como fator de variação ambiental e de 
crescimento de árvores
• Impacto registrado na estruturação e 
organização de anéis de árvores
• Variações climáticas ao longo 
da formação da Terra por 
influência geofísica (interna ou 
externa)
• Indicadores paleoclimáticos da 
história natural
• Clima como fenômeno geológico
CLIMATOLOGIA 
estudo científico do clima
Geografia
Meteorologia Bioclimatologia
Agrometeorologia
Dendroclimatologia
Paleoclimatologia
• Interação climática entre 
atmosfera, hidrosfera e 
criosfera
• Papel de oceanos, 
geleiras e calotas
• Clima e dinâmica da água 
no planeta
Hidroclimatologia
Fonte: Elaborada pelo autor.
É por isso que os subcampos da climatologia não são puros e separados en-
tre si; na verdade, cada um deles se articula e nutre o processo de produção do 
conhecimento do clima como um todo, sendo particularizados exclusivamente 
com base em critérios definidos e aplicados às suas indagações.
Introdução à climatologia 17
A climatologia geográfica, ou a climatologia que interessa aos estudos geográfi-
cos, além de aumentar a relação com outras áreas da geografia (física e humana), 
atende à particularidade de desenvolver a análise que envolve a ordem espacial 
do fenômeno climático. Isso significa afirmar que se trata essencialmente de uma 
análise orientada para integrar a complexidade do clima no escopo das relações 
natureza-sociedade considerando suas espacialidades, ou seja, sua realização, 
apropriação e construção no processo de produção do espaço geográfico.
Em outras palavras, na climatologia geográfica o interesse é garantir a inse-
parabilidade das questões biológicas, ambientais, sociais e produtivas, admitin-
do-as como o centro das problemáticas que envolvem o clima como fenômeno 
geográfico, um exercício que pode ser realizado desde que se garanta a indis-
sociabilidade entre suas dimensões física (natural) e social (histórica).
Para aprofundar os conhecimentos sobre o aspecto particular da climatologia geográfica, 
recomendamos um texto clássico e introdutório do estudioso Max Sorre, publicado na 
Revista do Departamento de Geografia em 2006. Objeto e método da climatologia apresenta as 
preocupações iniciais para os geógrafos, inclusive indicando as diferenças e as similaridades 
com os estudos desenvolvidos por meteorologistas.
Acesso em: 29 abr. 2021.
http://docplayer.com.br/21446875-Objeto-e-metodo-da-climatologia-max-sorre-1.html
Artigo
Mas como operacionalizar de modo prático esses princípios? Digamos que, em 
função da natureza dos estudos geográficos do clima, a resposta para essa pergun-
ta precisa ser dimensionada com base nos seus paradigmas e conceitos principais. 
Vamos facilitar a compreensão por meio da identificação das finalidades, dos pro-
pósitos, das intencionalidades e das aplicabilidades do estudo geográfico do clima.
1.3 Conceitos de tempo e clima
Vídeo O desenvolvimento da climatologia geográfica, em sua fase moderna, teve 
seu princípio na sua legitimação como campo científico, fundamentando-se no 
método positivista e respaldando-se na abordagem clássica. Nesse sentido, a 
literatura clássica aponta duas vertentes teóricas e metodológicas principais: a 
climatologia tradicional e a climatologia dinâmica.
A climatologia tradicional, também conhecida como separativa ou analítica, 
organiza os estudos do clima baseando-se na análise separada e fragmentada 
dos elementos climáticos – radiação, temperatura, precipitação, umidade etc. –, 
passando pela sua máxima descrição. Não à toa, até os dias atuais a climatolo-
gia valoriza muito a linguagem matemática e estatística.
Essa vertente está historicamente vinculada aos conceitos de tempo e clima 
de Julius Hann, que elaborou a obra Handbuch der Klimatologie (Manual de clima-
tologia), publicada em 1883. Segundo ele, o clima é o conjunto de fenômenos me-
teorológicos que caracterizam o estado médio da atmosfera sobre determinado 
ponto da superfície terrestre. Já o tempo seria a condição instantânea, efêmera, 
momentânea da atmosfera sobre um determinadolugar (CONTI, 2001).
http://docplayer.com.br/21446875-Objeto-e-metodo-da-climatologia-max-sorre-1.html
18 Climatologia
Essa perspectiva valoriza a espacialidade do clima como um fator estático 
e um fenômeno passível de fragmentação, sendo bem definido em termos es-
tatísticos e associado às configurações territoriais (limites e abrangência) dos 
sistemas naturais – os domínios vegetacionais, por exemplo. Em seu processo 
de análise, a climatologia estática oferece inicialmente a caracterização do clima 
tratando os valores médios e o regime climático. Pelo tipo climático regional, ela 
confere a indicação geográfica e o enfoque locacional de onde, como e quando 
as riquezas dos lugares poderiam ser extraídas.
Contudo, a concepção de clima como estado médio apresenta duas limi-
tações importantes, que foram bastante debatidas pelo geógrafo francês 
 Maximilien Sorre em pelo menos dois pontos. O primeiro se refere ao uso ex-
cessivo das médias. Segundo Sorre (1943), os valores médios são abstrações e 
não permitem a compreensão da realidade climática concreta em suas caracte-
rísticas e sua manifestação. O segundo é que esse conceito representa o clima 
como fenômeno estático, com limites e valores quase absolutos, o que não pos-
sibilita compreender como o desenvolvimento e a formação de paisagens, bem 
como os sistemas produtivos e sociais podem estar adaptados às condições 
climáticas.
A título de exemplificação, apresentando os valores médios de 30 ºC de tem-
peratura no deserto do Saara, sugere-se um clima típico de verão no Brasil, ou 
seja, não se tem a noção de uma paisagem naturalmente seca e que apresenta 
grandes amplitudes térmicas, podendo variar de -10 ºC a 50 °C diariamente, 
dependendo da época do ano. O valor médio de 30 ºC mascara uma realidade 
em que diferentes tecnologias, como construções, vestimentas, domesticação 
de animais e conservação de água e alimentos, ofereceram historicamente às 
populações africanas um conhecimento adequado sobre a dinâmica climática 
do clima semiárido.
An
na
 O
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rs
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Deserto do Saara, terceiro maior deserto da Terra e maior deserto quente.
A definição de clima de Hann 
é tradicionalmente expressa 
no sequenciamento das con-
dições de tempo, em termos 
de observação da tempera-
tura, chuva, umidade do ar, 
visibilidade etc. O período 
mínimo de observação é de 
30 anos, sendo admitido pela 
OMM e comumente denomi-
nado normal climatológica. As 
normais climatológicas para 
todo o território nacional 
podem ser acessadas no 
site do Instituto Nacional 
de Meteorologia (INMET), 
que é a instituição federal 
responsável por prover 
informações meteorológicas 
por meio de monitoramento, 
análise e previsão do tempo 
e do clima. No portal são 
apresentados dois conjuntos 
de dados – 1961-1990 e 
1981-2010. Acesse o site e 
descubra quais são os valo-
res médios da sua região.
Disponível em: https://portal.inmet.
gov.br/normais. Acesso em: 29 
abr. 2021.
Saiba mais
O regime climático é 
um conceito-chave da 
climatologia estática e que 
serve para caracterizar 
inicialmente os climas par-
tindo da variação anual dos 
elementos. Habitualmente, 
o regime é apresentado de 
modo gráfico, sendo con-
vencionalmente represen-
tado pela variação anual, 
como por termogramas 
(representação gráfica de 
temperaturas máxi-
mas, médias e mínimas 
mensais); pluviogramas 
(representação gráfica da 
média dos totais mensais 
de chuva); e climogramas 
(representação gráfica 
das temperaturas médias 
mensais e da precipitação 
média mensal conjun-
tamente). Para além da 
representação gráfica, a 
análise estatística também 
valoriza a descrição dos 
valores médios, máximos, 
mínimos, entre outras 
medidas de descrição 
estatística.
Importante
https://portal.inmet.gov.br/normais
https://portal.inmet.gov.br/normais
Introdução à climatologia 19
Partindo dessas críticas, Sorre (1943) elaborou o conceito de clima que está di-
retamente relacionado com a vertente da climatologia dinâmica, que Pédèlaborde 
(1970) intitulou de climatologia sintética das massas de ar e dos tipos de tempo, 
essencial para definir e caracterizar o clima de um lugar. É importante considerar 
que essa abordagem foi desenvolvida em outro contexto técnico-científico, sobre-
tudo porque as ciências da natureza já apresentavam incorporações das teorias do 
movimento (gravidade e termodinâmica).
Sorre (1943) conceituou o clima como sendo a sucessão habitual dos tipos de 
tempo sobre um determinado lugar. Essas interpretações já estavam sendo con-
templadas na meteorologia sinótica pelos estudiosos da Escola Escandinava de 
Meteorologia Sinótica, que ofereciam à sociedade a inclusão da dinâmica do ar 
 atmosférico pelos conceitos de massas de ar, frentes, ciclones e anticiclones, bem 
como a organização dos movimentos atmosféricos por modelos de circulação geral.
Nessa abordagem a dinamicidade do clima está presente nos princípios de va-
riação, duração, intensidade e frequência, que pressupõem a existência de ritmos, 
sendo fundamentais para uma interpretação do tempo (uma parte do fluxo, uma 
fração do clima, um momento no movimento dinâmico da atmosfera) e do clima 
como totalidade espaçotemporal (MONTEIRO, 1971b).
Como você deve ter percebido, a transposição do paradigma estático para o 
paradigma dinâmico ofereceu à climatologia um reordenamento quase que total 
dos seus conceitos. Para além da ideia de clima baseado na abstração matemáti-
ca, a sucessão habitual demonstrava não só a dinâmica apresentada pelo ritmo 
de entrada da energia solar na atmosfera, na superfície terrestre e nas atividades 
humanas, mas também outra maneira de compreender o ambiente atmosférico 
(SANT’ANNA NETO, 2001; MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007).
De outro modo, as condições de adaptação do clima no deserto do Saara mos-
tram fundamentalmente a marca cultural de uma sociedade que convive com seus 
climas e fez da adversidade um obstáculo momentâneo. Em geografia, chamamos 
de ajuste espacial essa habilidade das sociedades humanas de extrair dos sistemas 
naturais aquilo que é suficiente para incrementar suas formas de reprodução so-
cial (SANTOS, 2008).
Esse jogo complexo de ajustes espaciais e adaptação climática foi mais relevante 
quando a introdução dos satélites orbitais e as técnicas computacionais ajudaram a 
conceber o clima como um sistema, chamado de sistema climático. O tempo, por 
outro lado, seria a condição empírica, experimentada e percebida da atmosfera.
Essa maneira de compreender colaborou para a construção do discurso e das 
práticas da geografia, bem como das demais ciências atmosféricas, e estas dirigi-
ram seu olhar para a análise do sistema climático, que integra e articula os fatores 
bióticos e abióticos passíveis de serem compreendidos tanto por correspondências 
quanto pela articulação com o sistema terrestre como um todo.
Assim, o conceito de sucessão habitual sugeriu a integração entre os elementos 
que compõem a atmosfera dinâmica, altamente mutável a qualquer alteração no 
sistema climático. E, dependendo das combinações, as sensações para os seres 
vivos podem ser muito diferentes. Ao considerar esse caráter, a análise climáti-
Como você descreveria 
a sucessão dos tipos de 
tempo da sua cidade, co-
munidade e região? Você 
pode encontrar a resposta 
para essa pergunta em 
sites, pesquisando a 
tipologia climática. Seguem 
algumas dicas:
• Weather Spark - O clima 
típico de qualquer lugar 
da Terra é um portal 
que apresenta análises 
com gráficos de regimes 
climáticos para qualquer 
lugar do planeta. Inclui 
também possibilidades 
de comparação do clima 
entre lugares diferentes.
Disponível em: https://
pt.weatherspark.com/. Acesso em: 
29 abr. 2021.
• CLIMATE-DATA.ORG. – 
Dados climáticos para 
cidades mundiais é um 
portal que apresenta 
análises com gráficos de 
regime climático, tipolo-
gia e previsão do tempo 
instantânea.
Disponível em: https://pt.climate-
data.org/. Acesso em: 29 abr. 2021.
Dica
Vilhelm Bjerknes e 
 Carl-Gustaf Rossbysão 
os principais estudiosos 
da Escola Escandinava de 
Meteorologia Sinótica. Preo-
cupados com a acurácia dos 
sistemas de previsão meteo-
rológica – grande parte ba-
seada nas cartas de pressão 
em superfície (também cha-
madas de cartas sinóticas ou 
de isóbaras) – e da interação 
do ar atmosférico em altos e 
baixos níveis da troposfera, 
esses estudiosos fundamen-
talmente contribuíram com a 
estruturação e são, também, 
os precursores da aborda-
gem da climatologia dinâ-
mica. Nessa concepção, o 
clima de um lugar não pode 
ser caracterizado somente 
por valores médios, mas, 
sobretudo, pelo conjunto 
de fluxos (locais e remotos) 
que resultam da atuação 
de sistemas atmosféricos e 
definem a sucessão habitual 
dos tipos de tempo.
Saiba mais
https://pt.weatherspark.com/
https://pt.weatherspark.com/
https://pt.climate-data.org/
https://pt.climate-data.org/
20 Climatologia
ca foi organizada em dimensões escalares (global, zonal, regional, local e micro), 
contemplando a participação de eventos excepcionais ou extremos como parte da 
dinâmica natural do clima dos lugares.
O clima, de acordo com essa lógica, é o fenômeno formado na interação de 
processos naturais e antrópicos, além de incorporar as irregularidades da variabi-
lidade sazonal e de eventos que formam a paisagem e afetam os sistemas sociais, 
produtivos e humanos. Essa concepção foi fundamental para destacar a gênese 
dos processos climáticos que se manifestam na superfície terrestre, seja na forma 
de impactos, seja como variações ao longo da história natural.
Dessa forma, o sistema climático pode ser interpretado por meio da ocorrência 
dos eventos e episódios concretos, que, para além das condições médias e habi-
tuais, são os processos que se constituem como os principais insumos, por ex-
celência, das transformações ecológicas e históricas da paisagem, bem como das 
calamidades que causam alterações para o ambiente e para os sistemas sociais, 
produtivos e humanos (SANT’ANNA NETO, 2008).
1.4 Clima e sociedade
Vídeo Você deve estar convencido de que, ao longo do desenvolvimento histórico, o 
clima sempre esteve presente na organização dos saberes e das sociedades. De 
fato, as mudanças nas noções sobre esse aspecto foram provocadas por cada nova 
transformação tecnológica e avanço no conhecimento. Do mesmo modo, nenhuma 
dessas mudanças ficou de fora das transformações que se processavam nos con-
textos políticos, sociais, culturais e produtivos.
A partir disso, a abordagem geográfica incorporou a interpretação dos seus im-
pactos do clima, assumindo papel de condicionante ambiental e insumo econômi-
co. Agora o clima não pode mais ser concebido exclusivamente como dádiva divina, 
fruto do acaso, fator aleatório ou acidental, fenômeno físico ou sistema climático 
– tudo isso fará parte do processo da produção do espaço.
Desse modo, são os contextos social, político e cultural das sociedades que de-
vem produzir, desenvolver e orientar determinadas ideias, que caracterizam uma 
concepção ou tendência mais geral do que o tempo e o fenômeno climático. No 
processo, não somente a gênese e a configuração espacial do clima são interes-
santes, mas também as múltiplas concepções de clima que orientam e revelam a 
ordem espacial das relações entre sociedade e natureza.
Em outras palavras, toda sociedade constrói um determinado conceito de cli-
ma. Sob o modo de produção capitalista, por exemplo, o clima se territorializa por 
diferentes formas de uso e ocupação da superfície terrestre e por lógicas incompa-
tíveis com o bem-estar de grande parte das pessoas. Assim, o fenômeno climático 
se manifesta espacialmente de maneira desigual, gerando problemas também de 
origens desiguais.
Introdução à climatologia 21
Por isso, a incorporação da dimensão socioespacial na interpretação do clima 
na produção do espaço deve compreender que a repercussão dos fenômenos 
 atmosféricos na superfície terrestre se dá em um território, transformado e produ-
zido pela sociedade, e apropriado segundo os interesses, as intencionalidades e as 
capacidades dos agentes sociais (SANT’ANNA NETO, 2001).
Recomendamos a leitura do artigo Da climatologia geográfica à geografia do clima gênese, para-
digmas e aplicações do clima como fenômeno geográfico, de João Lima Sant’Anna Neto, publica-
do na Revista da Anpege em 2008, para você se aprofundar nas questões contemporâneas e 
que estão diretamente associadas às formas com que relacionamos com o clima atualmente.
Acesso em: 29 abr. 2021.
https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/anpege/article/view/6599/3599
Artigo
Essa perspectiva de análise foi denominada por Sant’Anna Neto (2001) como 
Geografia do Clima. Observe que essa noção qualifica uma abordagem geográ-
fica orientada para explicação dos processos formadores do planeta (com con-
junção com estrutura geológica, relevo, solo, água, fauna e flora no escopo da 
paleoclimatologia), como também da problemática ambiental, do aquecimento 
global, dos desastres naturais e das alterações antrópicas no escopo de um 
mundo em globalização.
Além disso, é interessante avaliar a essência geográfica do fenômeno climático, 
já que ele sugere a inseparabilidade de conexões e da sua origem dentro e fora da 
geografia. Ou seja, se inicialmente os serem humanos eram os instrumentos na-
turais de medida, uma vez que só os sentidos podem oferecer percepção e obser-
vação concreta das variações atmosféricas, atualmente, em um estágio bem mais 
avançado do desenvolvimento técnico-científico, quando se adquire uma ideia 
mais lógica das relações e interações climáticas, os seres humanos ainda conti-
nuam como parâmetro principal e final de estudo
Por esses aspectos, a relação entre clima e sociedade, com base na climatolo-
gia geográfica, sugere pelo menos duas abordagens complementares. A primeira é 
que o clima desempenha um importante papel como condicionante ambiental, 
principalmente quando ele é entendido como: gerador de impactos e se qualifica 
na ocorrência de desastres, influencia a saúde ambiental, o desempenho humano 
e as perdas e os prejuízos econômicos; modificante e estruturante da paisagem 
natural, quando é a variável de primeiro tratamento para explicar as diversas varia-
ções (pretéritas e atuais) e os níveis de intervenção humana em termos de degra-
dação ambiental, alteração climática, entre outros.
A segunda vê o clima como insumo econômico ao processo produtivo, quando 
ele é incorporado na cadeia produtiva (da mecanização, das sementes, da prepa-
ração do solo, dos funcionários etc.) por meio dos custos econômicos e financeiros 
que oferece a cada manifestação (CURRY, 1952). O princípio é que o resultado do 
https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/anpege/article/view/6599/3599
22 Climatologia
impacto é relativo à capacidade de elaborar planos de ação e de adaptabilidade 
frente à dinâmica climática, uma concepção que não dissocia os padrões climáticos 
das consequências humanas e das decisões políticas.
O que queremos afirmar é que, para o estudo geográfico do clima, devemos 
sempre partir da indissociabilidade sociedade-natureza na produção do espaço. 
Dizendo de outra maneira, o clima como fenômeno geográfico pode ser operado 
para explicar a organização das paisagens naturais (representada pela espacialida-
de dos domínios naturais e que incorpora uma abordagem sistêmica quando se as-
sume o caráter condicionante ambiental); e, ao mesmo tempo, revela os processos 
de constituição dos territórios, com base na identificação das lógicas da produção 
da riqueza e da apropriação da natureza (Figura 5).
Na relação clima-produção do espaço, as interpretações correspondem às pos-
sibilidades técnico-científicas de representação da dinâmica natural como algumas 
das formas mais adequadas à profissão de geógrafo, ou seja, no conjunto das sé-
ries históricas de dados, podemos também desenvolver estudos com recursos que 
auxiliam a análise climática, como mapas, geotecnologias, técnicas estatísticas, sen-
soriamento remoto e geoprocessamento.
Alémdisso, há interpretações e formas com que podemos utilizar e construir 
o fenômeno climático segundo determinadas práticas espaciais. Por exemplo, 
quando desenvolvemos políticas e planos de recuperação ambiental, exploração 
de recursos naturais, zoneamento climático para produção agrícola, calendário de 
atividades turísticas, mitigação das mudanças climáticas, gestão dos riscos natu-
rais, entre outros, estamos de fato utilizando o clima para desenvolver o território.
Figura 5
O clima como fenômeno geográfico
Condicionante ambiental
Concepção: Natureza físico-natural
Explicação: Leis gerais do movimento
Abordagem: Sistêmica – dinâmica e 
funcionamento
Representação: Gênese e formação dos 
domínios naturais
Interpretações associadas ao 
desenvolvimento e à sofisticação 
técnico-científica
Insumo econômico
Concepção: Natureza híbrida (complexa)
Explicação: Transformações 
epistemológicas
Abordagem: Crítica – construção social
Representação: Estruturação e apropriação 
da natureza
Interpretações associadas às 
práticas espaciais e das lógicas 
da produção da riqueza
Produção do espaço geográfico
Organização das paisagens naturais Constituição dos territórios
Fonte: Elaborada pelo autor.
Assim, na climatologia geográfica é importante incorporar a dimensão socioes-
pacial do fenômeno climático, na qual ele deve ser sistematicamente conhecido 
e definido segundo suas manifestações socioespaciais, sendo negativas ou positi-
vas. Ou seja, desde que previamente estabelecidos, representados e conhecidos, 
o clima e suas variações e manifestações poderão ser suportáveis, o que oferece 
possibilidades de qualificar os processos de mitigação e adaptação.
Mas como isso pode ser apresentado de maneira prática? Vejamos a situação 
do clima no Brasil. Na qualidade de condicionante ambiental, o clima é apresen-
tado em grande parte do país como tropical, por isso ele oferece naturalmente, 
e a partir da sazonalidade, pelo menos duas estações: uma chuvosa e outra seca 
ou menos chuvosa. A primeira é também predominantemente mais quente que a 
segunda e, em razão disso, muitas dinâmicas dos sistemas naturais ocorrem e são 
desenvolvidas com base nessa organização – por exemplo, o fluxo sazonal dos rios 
(enchente e vazante) e de reprodução plantas e animais.
O conhecimento da dinâmica climática tropical é utilizado também para desen-
volver uma série de práticas espaciais, como as atividades turísticas e de lazer, que 
na estação chuvosa ocorrem concentrando atividades na zona costeira ou próximo 
a rios, cachoeiras, resorts, clubes etc. Podemos destacar, ainda, as atividades agrí-
colas, como é o caso do cerrado brasileiro, que, devido ao desenvolvimento de uma 
agricultura altamente tecnológica e adaptada, tem transformado a paisagem natu-
ral no maior território produtor de commodities 3 e também em um dos ambientes 
mais degradados do país.
Observe que nesses dois exemplos destacamos o clima como um dos fatores 
de produção do espaço, mas, para que esse processo aconteça, é preciso ainda 
muito conhecimento sobre a dinâmica (condicionante ambiental), algo que não se 
dá sem o avanço técnico-científico, e também sobre sua participação nas políticas 
de desenvolvimento regional e territorial (insumo econômico).
É possível considerar que as múltiplas concepções foram definidas com base 
nos interesses de cada sociedade em escolher seus parâmetros e conceitos de 
tempo e clima. Para isso, basta rever que todas as sociedades, povos e nações 
representaram e representam o clima com muitas e diferentes faces, grande parte 
destas estabelecidas por concepções próprias de espaço.
Mercadorias produzidas 
em larga escala e que são 
comercializadas no mer-
cado internacional (bolsa 
de valores). O Brasil é um 
dos principais produtores 
de commodities do mundo, 
sobretudo no que tange à 
produção de soja, milho, 
laranja, petróleo, minério 
de ferro, entre outros.
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s
Introdução à climatologiaIntrodução à climatologia 2323
Área de plantio no noroeste do 
Mato Grosso, próximo à região do 
Parque Indígena do Xingu.
Assim, na climatologia geográfica é importante incorporar a dimensão socioes-
pacial do fenômeno climático, na qual ele deve ser sistematicamente conhecido 
e definido segundo suas manifestações socioespaciais, sendo negativas ou positi-
vas. Ou seja, desde que previamente estabelecidos, representados e conhecidos, 
o clima e suas variações e manifestações poderão ser suportáveis, o que oferece 
possibilidades de qualificar os processos de mitigação e adaptação.
Mas como isso pode ser apresentado de maneira prática? Vejamos a situação 
do clima no Brasil. Na qualidade de condicionante ambiental, o clima é apresen-
tado em grande parte do país como tropical, por isso ele oferece naturalmente, 
e a partir da sazonalidade, pelo menos duas estações: uma chuvosa e outra seca 
ou menos chuvosa. A primeira é também predominantemente mais quente que a 
segunda e, em razão disso, muitas dinâmicas dos sistemas naturais ocorrem e são 
desenvolvidas com base nessa organização – por exemplo, o fluxo sazonal dos rios 
(enchente e vazante) e de reprodução plantas e animais.
O conhecimento da dinâmica climática tropical é utilizado também para desen-
volver uma série de práticas espaciais, como as atividades turísticas e de lazer, que 
na estação chuvosa ocorrem concentrando atividades na zona costeira ou próximo 
a rios, cachoeiras, resorts, clubes etc. Podemos destacar, ainda, as atividades agrí-
colas, como é o caso do cerrado brasileiro, que, devido ao desenvolvimento de uma 
agricultura altamente tecnológica e adaptada, tem transformado a paisagem natu-
ral no maior território produtor de commodities 3 e também em um dos ambientes 
mais degradados do país.
Observe que nesses dois exemplos destacamos o clima como um dos fatores 
de produção do espaço, mas, para que esse processo aconteça, é preciso ainda 
muito conhecimento sobre a dinâmica (condicionante ambiental), algo que não se 
dá sem o avanço técnico-científico, e também sobre sua participação nas políticas 
de desenvolvimento regional e territorial (insumo econômico).
É possível considerar que as múltiplas concepções foram definidas com base 
nos interesses de cada sociedade em escolher seus parâmetros e conceitos de 
tempo e clima. Para isso, basta rever que todas as sociedades, povos e nações 
representaram e representam o clima com muitas e diferentes faces, grande parte 
destas estabelecidas por concepções próprias de espaço.
Mercadorias produzidas 
em larga escala e que são 
comercializadas no mer-
cado internacional (bolsa 
de valores). O Brasil é um 
dos principais produtores 
de commodities do mundo, 
sobretudo no que tange à 
produção de soja, milho, 
laranja, petróleo, minério 
de ferro, entre outros.
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Área de plantio no noroeste do 
Mato Grosso, próximo à região do 
Parque Indígena do Xingu.
24 Climatologia
CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
Inicialmente apresentamos que as bases mitológicas e o instrumental foram funda-
mentalmente os antecedentes dos saberes climáticos. Da mesma forma, destacamos 
a elaboração das primeiras noções de tempo e clima, da dimensão espaço-temporal e 
da racionalidade científica, que promoveu a instituição da climatologia moderna. O es-
tudo do clima incorpora, mais recentemente, uma multiplicidade de concepções, por 
isso distintos campos do saber são organizados para dar ênfase em seus interesses, 
definindo suas particularidades.
Podemos considerar, assim, que o estudo do clima sempre muda quando o conhe-
cimento sobre a dinâmica natural se modifica, e esses avanços sempre são incorpo-
rados de transformações nas formas de observação, sobretudo a cada novo contexto 
técnico-científico.
Nesse sentido, o estudo geográfico do clima não limita o fenômeno climático a ser 
físico e natural, uma vez que ele é também uma construçãosocial, ou seja, um conjun-
to de processos e práticas espaciais. Essa análise pode ser elaborada desenvolvendo 
estudos que orientem as questões evolvendo a constituição de paisagem (clima como 
condicionante ambiental) e/ou a definição de territórios (insumo econômico). Separa-
das ou combinadas, as duas formas de análise são bastante adequadas ao trabalho 
do geógrafo.
ATIVIDADES
1. Quais são os atributos fundamentais de constituição do clima?
2. O que diferencia as abordagens da climatologia estática e tradicional?
3. Com quais critérios podemos desenvolver uma análise geográfica do clima?
REFERÊNCIAS
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https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/123516/119794. Acesso em: 29 abr. 2021.
CURRY, L. Climate and economic life: a new approach with examples from the United States. Geographical 
Review, v. 42, n. 3, p. 367-383, 1952.
MONTEIRO, C. A. de F. Análise rítmica em climatologia: problemas da atualidade climática em São Paulo e 
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MONTEIRO, C. A. de. F. Análise rítmica em climatologia. São Paulo: USP/Igeog, 1971b.
MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina 
de textos, 2007.
PÉDÈLABORDE, P. Introduction a I´étude scientifique du clima. Paris: Sedes, 1970.
SANT’ANNA NETO, J. L. Por uma geografia do clima: antecedentes históricos, paradigmas contemporâneos 
e uma nova razão para um novo conhecimento. Terra Livre, São Paulo, n. 20, 2001.
SANT’ANNA NETO, J. L. Da climatologia geográfica à geografia do clima gênese, paradigmas e aplicações 
do clima como fenômeno geográfico. Revista da Anpege, v. 4, n. 4, p. 51-72, 2008. Disponível em: https://
ojs.ufgd.edu.br/index.php/anpege/article/view/6599/3599. Acesso em: 29 abr. 2021.
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2008.
SORRE, M. Les fondements biologiques de la géographie humaine. Paris: Colin, 1943.
Vídeo
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https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/anpege/article/view/6599/3599
https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/anpege/article/view/6599/3599
Escalas do clima 25
2
Escalas do clima
Com o estudo deste capítulo você será capaz de:
 • Compreender a importância das escalas espaciais e temporais e 
suas implicações na análise geográfica do clima.
 • Distinguir as escalas locais, regionais e globais, por meio dos concei-
tos de ritmo climático, variabilidade climática e mudanças climáticas.
Objetivos de aprendizagem
Seja bem-vindo ao segundo capítulo do estudo de climatologia. Dessa 
vez discutiremos outros elementos para a construção da perspectiva analí-
tica dos estudos geográficos do clima, que é inicialmente operada com base 
nas escalas do clima.
Entenderemos as escalas do clima como processos espaçotemporais, os 
quais integram não somente a área e a frequência para as representações gráfi-
ca e cartográfica do fenômeno climático, mas fundamentalmente a definição de 
sua espacialidade, organização e estruturação com base na realidade concreta.
Discorreremos sobre como os atributos naturais e sociais são articulados 
em processos temporais e espaciais e sugerem, no conjunto do estudo geo-
gráfico do clima, a potencialidade de explicar, caracterizar e interpretar as con-
figurações do clima nos lugares. Desse modo, nosso objetivo é que você possa 
compreender a importância das escalas espaciais e temporais e suas implica-
ções para os estudos geográficos do clima.
Para isso, distinguiremos as escalas locais, regionais e globais por meio dos 
conceitos de ritmo, variabilidade e mudanças, fundamentos analíticos para aten-
dermos os processos de particularização, organização e generalização do clima.
2.1 Escalas espaciais e temporais 
Vídeo Para uma interpretação analítica da diversidade climática, as escalas do clima 
apresentam-se como recurso fundamental para o enquadramento dos fluxos 
atmosféricos nos lugares, sejam eles utilizados para a sistematização dos controles 
que condicionam ambientalmente a formação das paisagens naturais, sejam como 
conhecimento inicial para territorialização – quando é utilizada e apropriada como 
insumo econômico do processo produtivo.
26 Climatologia
Com o auxílio das escalas, é possível revelarmos sistematicamente a definição 
do fluxo atmosférico com base em sua duração, abrangência, domínio, padrão, 
intensidade, frequência, variação e ritmo, oferecendo, assim, uma maneira lógica 
para entendermos a dinâmica, os movimentos, o funcionamento e a manifestação 
em impactos concretos.
Nessa perspectiva, a qualidade, a consistência e a confiabilidade da análise cli-
mática dependerão, basicamente, de como as escalas climáticas são operacionali-
zadas e integradas à abordagem espaçotemporal coerente, a qual envolve:
Um conjunto metodológico rigoroso de técnicas de análise 
quantitativas e qualitativas. 
Um sistema apropriado de instrumentos tecnológicos e 
adequados aos tipos de dados e informações.
Um processo criterioso para validação dos resultados associado 
a uma representação gráfica e cartográfica significativa.
Para contemplar esse caráter do uso das escalas do clima, Monteiro (1999) apre-
senta uma organização hierárquica e taxonômica das escalas do clima (Quadro 1), 
articulando os níveis de influência superiores (na faixa dos milhões de km² de 
abrangência espacial), passando pelas dimensões intermediárias (da ordem de 
centenas ou milhares de km²), chegando às escalas inferiores (a dezenas de km²) 
na dimensão dos climas locais, dos topoclimas (climas organizados pelo relevo) e 
dos microclimas (climas muito específicos relativos a qualquer fluxo turbulento ou 
unidade muito particular).
Ordens de 
grandeza
Unidades de 
espaço
Unidades de 
tempo
Escalas 
cartográficas
Espaços 
climáticos
Zonal Milhões de km²
Uma semana a 
seis meses
1:45.000.000
1:10.000.000
Zonal
Regional
Milhares de km²
Centenas de 
km²
Um dia a um mês
1:5.000.000
1:2.000.000
1:1.000.000
1:500.000
Regional
Sub-regional
Local
Dezenas de km²
Centenas de m²
12 horas a uma 
semana
1:250.000
1:100.000
1:50.000
1:25.000
Local
Mesoescala
Topoclima Dezenas de m²
Variações diurnas 
(24 horas)
1:10.000 
1:5.000
Topoclima
Microclima Alguns m²
Horas, minutos e 
segundos
1:2.000 
1:1.000
Microclima
Quadro 1
Ordem de grandeza e níveis taxonômicos das escalas do clima
(Continua)
Escalas do clima 27
Espaços rurais Espaços urbanos
Estratégias de abordagens
Meios de observação Fatores de organização Técnicas de 
análise
Grandes zonas climáticas Satélites e reanálise
Latitude e centros de 
pressão
Caracterização 
comparativa
Biomas e domínios 
morfoclimáticos
Megalópole
Região metropolitana
Cartas sinóticas, 
sondagens aerológicas, 
rede de superfície 
(30 anos)
Sistema meteorológico e 
circulação atmosférica
Fatores geográficos 
regionais
Redes de 
superfície e 
transectos
Grande propriedade
Pequena e média 
propriedade e parcela rural
Metrópole
Cidade ou periferia 
 de metrópole
Posto meteorológico
Registros móveis 
(episódios)
Paisagem natural e 
atividades humanas
Forma e estrutura da 
superfície
Mapeamento 
sistemático, 
análise espacial, 
rede de abrigos 
meteorológicos, 
e transectos 
móveis
Desnível em relação ao plano e 
 rugosidade do terreno
Diferenças altimétricas
Planta e espécie vegetal
Quarteirão, edificações, 
material construtivo etc.
Instrumentos 
de captação do 
turbilhamento
Habitação, condições de 
contorno, planta etc.
Fonte: Monteiro, 1999.
Observamos que para ordem de grandeza – zonal, regional, local, topoclima e mi-
croclima – Monteiro (1999) oferece unidades de espaço e de tempo específicas, as 
quais podem ser tanto representadas pela escala cartográfica quanto por processos 
espaciais, sobretudo quando atendem à dinâmica dos espaços rurais e urbanos. Além 
disso, precisamos destacara preocupação do autor com a qualificação das estratégias 
de abordagem, em que os parâmetros de análise e os instrumentos de observação são 
decisivos para o desenvolvimento do estudo do clima por meio das escalas.
Nessa hierarquia escalar, a possibilidade de estabelecer conexões com as esca-
las superiores (zonal) pode ser designada com um nível de gradualismo, que se dá 
por meio dos desdobramentos dos impactos dos fluxos atmosféricos e meteoroló-
gicos em todas as variáveis climáticas observadas nas escalas inferiores (regional 
e sub-regional), bem como sua identificação e particularização no conjunto dos cli-
mas locais – mesoclima, topoclima e microclima (SANT’ANNA NETO, 2013).
Outra característica importante é que na lógica hierárquica e gradual quanto 
mais inferior se torna a escala, maior será a exigência de tratamento integrado e 
articulado com os conhecimentos produzidos por outros campos do saber, para 
além da climatologia.
Por exemplo, no clima local, que ocorre em espaços urbanos, o debate entre cli-
matologia, geografia, arquitetura e engenharias é tão importante quanto a articula-
ção entre agronomia e biologia nos espaços rurais. O mesmo nível de diálogo deve 
acontecer quando são integrados os impactos do clima na saúde e no conforto 
humano, que atendem também um rico diálogo com a medicina, a saúde pública, 
a epidemiologia, a educação física etc.
É importante sempre considerarmos que os processos físico-naturais e os de 
origem socioeconômica interferem nas suas características e/ou as determinam e 
28 Climatologia
é por meio delas que o clima se articula ao espaço geográfico (SANT’ANNA NETO, 
2013). Nesse caso, as escalas do clima não devem ser entendidas como a tradi-
cional escala cartográfica 1 , isto é, apenas com base nas dimensões espaciais ou 
temporais nas quais os elementos climáticos se manifestam.
De outro modo, as escalas climáticas devem ser compreendidas como processos 
dinâmicos dotados de atributos altamente sensíveis aos ritmos, às variações e às 
alterações de todas as forças terrestres, atmosféricas e cósmicas que de alguma 
forma exercem ou provocam qualquer tipo de interferência no sistema climático. 
Incluem-se também as interferências de origem antrópica e socioespacial com valor 
importante na dinâmica integrada do sistema climático (SANT’ANNA NETO, 2013).
Estudiosos das alterações climáticas globais contemporâneas têm debatido que 
os processos climáticos de larga escala podem afetar os climas regionais e locais 
não somente em um sentido hierárquico e gradual, mas também com formas va-
riadas e contraditórias, modificando, inclusive, os padrões originais e preexistentes. 
Em outras palavras, o desenvolvimento de dado processo climático (uma chuva, 
uma seca, um vento, um tornado) pode ser desencadeado nas escalas superiores e 
manifestar-se de maneira oposta em diferentes regiões remotas do planeta.
A mudança, a variabilidade e o ritmo são os três conceitos analíticos que 
mais devem servir para a compreensão desses processos e que auxiliam em suas 
determinações espaçotemporais, ora dotando-os de estabilidade e constância, 
ora manifestando-se como perturbações e instabilidades que modificam os pa-
drões habituais e provocam alterações em variadas intensidades e magnitudes.
Nessa perspectiva, o encontro da duração, velocidade e extensão com que os 
processos climáticos se manifestam está associado à produção do espaço geográ-
fico. Assim, nesse processo, é mais relevante integrar o tempo longo ao tempo cur-
to, como unidades fundamentais, para explicitar os níveis de articulação, sincronia 
e diacronia das relações entre sociedade e natureza, clima e espaço (SANT’ANNA 
NETO, 2013). O esquema apresentado na Figura 1 resume essa perspectiva e repre-
senta a articulação desses processos.
Figura 1
Processos espaçotemporais das escalas geográficas do clima
Tempo curto (histórico) 
Tempo longo (geológico) 
Mudança 
Variabilidade 
Ritmo 
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Sant’Anna Neto, 2013. 
A escala cartográfica (gráfi-
ca ou numérica) é utilizada 
fundamentalmente para 
reproduzir de maneira pro-
porcional determinada área 
de um mapa. Trata-se, por-
tanto, de um valor arbitrá-
rio de referência espacial, 
que depende da finalidade 
do produto e do propósito 
de sua representação.
1
A perspectiva de Sant’Anna 
Neto (2013) nos orienta a 
compreender as escalas do 
clima para além do caráter 
hierárquico e do gradual, 
os quais sugerem defini-
ções absolutas com limites 
precisos. Nessa perspecti-
va, a forma mais adequada 
de tratar do fenômeno cli-
mático é em sua totalidade 
espaçotemporal, uma vez 
que ele se apresenta muito 
mais como resposta final 
do conjunto de forçan-
tes, movimentos e fluxos 
diversos, que atuam no 
decorrer do tempo (geoló-
gico e/ou histórico), do que 
necessariamente como 
um evento isolado, sob 
determinada área ou com 
relação a determinados 
sistemas atmosféricos.
Importante
Escalas do clima 29
Enquanto o tempo longo é definido pela escala geológica de processos que 
duram milhares ou milhões de anos, modificando os climas do planeta (global), 
ora mais quentes, ora mais frios, alternadamente mais secos ou mais úmidos, o 
tempo curto relaciona-se diretamente ao tempo histórico, ou seja, as variações 
do clima estão associadas à presença do homem e da sociedade como agentes de 
transformação das paisagens e modificadores dos ambientes (regional e local) ou 
como grupo social que percebe e sofre as suas variações (SANT’ANNA NETO, 2013).
O tempo logo é explicado por movimentos astronômicos da órbita da Terra, 
pelas manchas solares, pela intensa atividade vulcânica de determinados períodos 
geológicos ou mesmo pela tectônica de placas. Já no tempo histórico essas forças 
deixam de influenciar exclusivamente os climas terrestres, tornando-os muito mais 
complexos e de difícil determinação (SANT’ANNA NETO, 2013).
Em todas essas movimentações, o fenômeno climático remete a princípios dis-
tintos de análise (Quadro 2). Por exemplo, o encontro de processos adequados às 
escalas globais e de mudança é mais bem interpretado por análises mais generali-
zantes, que valorizam o fundamento da gênese natural do clima.
Quadro 2
Escalas geográficas do clima
Escala espacial Escala temporal Gênese Processos
Generalização Global Mudança Natural
Movimentos astro-
nômicos, glaciações, 
vulcanismo, tectônica 
de placas
Organização Regional Variabilidade
Natural e 
antrópica
Sazonalidade, padrões 
e ciclos naturais, 
mudanças da paisa-
gem (desmatamento, 
poluição)
Especialização Local Ritmo Antrópica
Uso da terra, expan-
são territorial urbana, 
cotidiano
Fonte: Sant’Anna Neto, 2013.
Assumimos também atributos regionais e da variabilidade como necessários 
quando os processos climáticos integram seu caráter híbrido, isto é, da mistura, in-
teração e combinação de processos com gêneses naturais e antrópicas, que podem 
ser identificados como níveis de organização espaçotemporal.
Para além da organização e generalização, variações climáticas muito par-
ticulares e até singulares favorecem a especialização climática, uma vez que 
absorvem com maior significância a influência antrópica, da fauna, da flora, de 
organismo vivos e de objetos naturais e artificiais mais adequados às escalas 
locais e do ritmo climático.
30 Climatologia
É importante observarmos que esses processos são essencialmente temporais, 
manifestando-se em todas as escalas espaciais. Entretanto, alterações espaciais 
em escalas inferiores (locais e regionais) podem resultar em modificações na cir-
culação da atmosfera capazes de afetar todo o planeta (SANT’ANNA NETO, 2013).
É imprescindível nos orientarmos por definições que contemplem respostas à 
seguinte indagação: quais espaçotemporalidades são exigidas para interpretar, ex-
plicar e analisar o fenômeno climático de interesse? Em outras palavras, essa ques-
tão remete necessariamente à identificação de como os mecanismos climáticos 
evidenciam essencialmente suas movimentaçõese manifestações em seu quadro 
espaçotemporal. A Figura 2 a seguir sintetiza uma parte desses atributos, sobre-
tudo a identificação dos diversos processos climáticos e sua relação com os ciclos 
observados na Terra.
Figura 2
Processos climáticos de ciclos da Terra
 ---------------------- MUDANÇA ------------------------------------------------------ VARIABILIDADE --------------------------- RITMO -----
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Impacto de grandes 
asteroides
Ciclos vulcânicos e tectonismo
Ciclos solares e lunares 
Oscilações de baixa frequência
Teleconexões climáticas
Sistemas atmosféricos
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Superciclos 
(galácticos e 
tectônicos)
Ciclos orbitais 
(Milankovitch)
Ciclos do Holoceno 
(solares, lunares, 
atmosféricos e oceânicos)
Ciclos curtos 
(diários a interanuais) 
An
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Fonte: Elaborada pelo autor.
Partindo dos princípios da velocidade, duração, intensidade, mobilidade, 
instabilidade, estabilidade e alternância de padrões climáticos, é possível reco-
nhecermos os ciclos (as repetições e os retornos dos processos climáticos), as 
periodicidades (a organização de instabilidades e estabilidades em fases distin-
tas) e principalmente a estruturação, os quais induzem a gênese e formação das 
paisagens e a constituição dos territórios.
Para aprofundar esse debate, detalharemos cada um desses processos separa-
damente, evidenciando suas formas de representação e seus meios instrumentais 
para a análise e diversidade de aplicações.
*Ma: milhões de anos.
Escalas do clima 31
2.2 Escalas locais – ritmo climático 
Vídeo Como inicialmente apresentado, na escala do ritmo, as interações dos 
processos climáticos apresentam velocidades muito variadas, por isso são muito 
complexas em termos de dinâmicas, ciclos e manifestações associados à articula-
ção do tempo histórico.
Trata-se de uma escala inferior, pois seus atributos permitem a identificação 
dos tipos de tempo associados ao cotidiano da sociedade e apresentam um nível 
de especialização muito ligado à produção dos espaços urbano e rural.
A análise rítmica mostra-se nessa escala como o instrumento principal de enten-
dimento do clima, já que associa a decomposição do tempo a nível cronológico como 
também o clima do cotidiano, o clima mais próximo do homem, em uma feição emi-
nentemente geográfica (MONTEIRO, 1999). Essa técnica é representada pelo gráfico 
de análise rítmica, em que são ordenados todos os elementos do clima observados 
no conjunto dos tipos de tempo e dos sistemas atmosféricos (Figura 3).
Figura 3
 Exemplo de gráfico de análise rítmica
Fonte: Borsato; Borsato, 2014.
32 Climatologia
A estratégia de abordagem relaciona-se com uma perspectiva embricada das pers-
pectivas dinâmica, sistêmica e dialética, em que a sucessão dos tipos de tempo tam-
bém é construída por climas antropizados, ou seja, produzidos pelas interferências 
dos agentes sociais e econômicos e pelas incorporações tecnológica (medidas adap-
tativas) e infraestrutural (material construtivo e densidade das edificações), as quais 
se efetivam em alterações dos padrões climáticos originais. Destacam-se nessa esca-
la os estudos de clima urbano, das relações clima e planta e clima, saúde e qualidade 
ambiental e dos impactos de eventos e episódios extremos.
Sem dúvida, os estudos dos climas urbanos são mais difundidos. 
Contemplam-se nesse escopo o estudo do clima das cidades, restrito à área 
urbana, admitida pelos seus diversos portes, tamanhos, estruturas e formas, 
articulado aos processos históricos de transformação do sítio urbano (ambiente 
original da área urbana) por meio da implantação de residências, arruamentos, 
edificações, equipamentos urbanos etc.
A influência significativa dessa transformação deve resultar em um ambiente al-
terado, que promove modificações primeiro no balanço enérgico e hídrico e depois 
em todos os elementos climáticos – temperatura, umidade, ventos, composição 
química da atmosfera etc. O estudo também deve envolver as interações com o 
material construtivo, a densidade construtiva, a distribuição de áreas verdes e a 
presença de corpos hídricos.
Em função de todos esses processos, o clima urbano contempla ainda uma série 
de derivações associadas, que, em geral, deve se constituir em outros fenômenos 
de mesma complexidade, como as ilhas de calor (Figura 4) e de frescor, as inver-
sões térmicas, a insalubridade do ar, a inércia térmica, o conforto bioclimático e as 
morbidades negativas à saúde humana.
Figura 4
Representação do efeito das ilhas de calor urbanas em diferentes solos
PERFIL DAS ILHAS DE CALOR URBANAS
Área rural
Temperatura
ºC
33.3
32.8
32.2
31.7
31.1
30.6
30.0
29.4
Área periférica
Área comercial 
Cento da cidade
Área residencial
Área verde
Área periférica
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Já nos espaços rurais, a interpretação por meio da escala do ritmo é contextuali-
zada segundo a seletividade e exigência de plantas e animais e a sua adaptabilidade 
Escalas do clima 33
natural ao regime pluviométrico, à variação da temperatura, ao fotoperíodo e à ra-
diação solar. Basicamente, os tipos de tempo devem revelar os graus de interação 
e dependência, nos quais o clima é fator natural que condiciona o desenvolvimento 
da diversidade de práticas econômicas. O resultado é sem dúvida reconhecer a 
influência climática no rendimento e na produtividade.
A explicação é conjuntiva, sistêmica e ecológica, uma vez que a produtivida-
de final corresponde em grande parte à radiação solar (primeira fonte de ener-
gia), à importância ecológica da temperatura do ar e do mar, à disponibilidade 
hídrica e ao regime de ventos. Em geral, são esses os atributos principais que 
acarretam as condições ambientais ideais para as atividades agrícolas, pecuá-
rias, pesqueiras e silvícolas.
Portanto, o progresso científico e a sofisticação tecnológica são muito relevan-
tes para proporcionar segurança a essas atividades, possibilitando práticas com 
culturas adaptadas às distintas regiões edafoclimáticas 2 , mesmo que o sistema 
climático ofereça adversidades e excepcionalidades, como as condições naturais 
que estimulam a proliferação de pragas e a ocorrência de estresses hídricos (secas 
e estiagens) e térmicos (baixas ou altas temperaturas).
Conceito que integra o con-
junto sistêmico da relação 
solo, clima e vegetação.
2
2.3 Escalas regionais – variabilidade climática 
Vídeo A escala da variabilidade, que compreende os níveis de organização da escala 
regional, valoriza análises com níveis abrangentes e em constante combinação, po-
dendo potencializar e minimizar mecanismos climáticos e combinar-se com eles, 
sendo tanto de ordem global quanto local. Por isso, esse domínio escalar é tradicio-
nalmente chamado de intermediário, pois atende à complexidade eminentemente 
geográfica das interações entre sistemas naturais,