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Edição Especial
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Edição Especial
Edição Especial
A revista digital "Sentir Alhos Vedros" pretende dar a conhecer a toda a população em geral o que de bom 
existe, se faz e há na freguesia de Alhos Vedros.
Temos como objectivo dinamizar e aumentar a economia local, aproximando pequenos negócios, 
comerciantes em nome individual e empresas da população Alhosvedrense.
Pretendemos conciliar passado e presente e traçar um futuro próspero para a freguesia de Alhos Vedros e 
para as suas gentes.
Somos a plataforma que ajudará a freguesia de Alhos Vedros a dar-se a conhecer a todo o nosso país e 
quiçá, dar a conhecer Alhos Vedros a nível europeu e/ou mundial.
O projecto "Sentir Alhos Vedros" é um projecto apartidário, independente, sem cores políticas associadas, e 
que pretende trabalhar com todos e para todos os Alhosvedrenses.
A todos os que pretendem descredibilizar este projecto e os seus membros efectivos, informamos que a 
equipa Sentir Alhos Vedros continuará a trabalhar em prol de toda a freguesia de Alhos Vedros, em prol das 
suas gentes e em prol de um futuro promissor para todos.
Estamos e estaremos sempre a trabalhar por e para Alhos Vedros!
Se tem um negócio na freguesia de Alhos Vedros (negócio físico e/ou online) e/ou outras informações 
sobre a freguesia que queira partilhar e divulgar, se pretende contribuir com sugestões para a 
melhoria contínua da revista "Sentir Alhos Vedros", contacte-nos via e-mail para 
geral@sentiralhosvedros.pt.
PERIODICIDADE: Mensal | ANO: 3.º | EDIÇÃO: Especial 2.º Aniversário
CONTACTO: geral@sentiralhosvedros.pt
TÍTULO: Sentir Alhos Vedros
EDIÇÃO, COORDENAÇÃO DE EDIÇÃO, REDACÇÃO E FOTOGRAFIA:
Ana Cristina Rosado
Fábio Silvano
Irina Cardoso
Paulo Sérgio Pereira
Rosa Paula Marques
http://geral@sentiralhosvedros.pt
http://geral@sentiralhosvedros.pt
http://geral@sentiralhosvedros.pt
http://geral@sentiralhosvedros.pt
http://geral@sentiralhosvedros.pt
http://geral@sentiralhosvedros.pt
http://geral@sentiralhosvedros.pt
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http://geral@sentiralhosvedros.pt
http://geral@sentiralhosvedros.pt
http://geral@sentiralhosvedros.pt
No mês que assinala o 2.º aniversário do projecto Sentir Alhos Vedros e assinala 
também o lançamento do novo layout da revista, decidimos viajar pelos editoriais das 
25 edições anteriores, relembrando e agradecendo a todos os que até hoje deram o seu 
contributo para elevar o nome de Alhos Vedros.
Sentir Alhos Vedros
EDITORIAL
Pág. 4
Edição Especial
Edição 1/2022 - Equipa Sentir Alhos Vedros
"(...) Bem-vindo/a ao boletim Sentir Alhos Vedros!
O boletim Sentir Alhos Vedros pretende alavancar o 
desenvolvimento da freguesia de Alhos Vedros e que 
esse desenvolvimento contribua para melhorar as 
condições de vida, habitabilidade, emprego, saúde e 
segurança de todos os Alhosvedrenses.
Sentir Alhos Vedros é ter orgulho no nosso passado, 
respeitar o nosso presente e traçar um futuro de 
sucesso para a terra que tanto amamos.
Sentir Alhos Vedros é honrar as nossas raízes, 
dignificando o nome desta freguesia e 
impulsionando o seu crescimento! (...)"
Edição 2/2022 - Maria Celeste Cantante
"(...) A celebração do Dia da Mulher remete-nos para o 
enaltecimento e o seu contrário, para a celeridade e o 
anonimato, para a magnificência e para a 
insignificância, mas sobretudo para a necessidade de
lembrar ao mundo a sua importância na família, em 
todos os actos da vida social, em todas as lutas por 
uma igualdade, ainda hoje negada pela burka que a 
oculta e lhe retira o direito de existir e por tantos 
outros actos de segregação, que, de tão comuns, 
passam, quantas vezes despercebidos, numa 
sociedade que afirma defender os direitos do 
Homem. Por que não os direitos do ser humano?
Uma tradição enraizada numa mentalidade de 
liderança e superioridade masculinas, ao longo de 
séculos, tem relegado para segundo plano a 
importância do papel da mulher em todos os actos 
da vida social, económica, política, nas artes. A 
supremacia masculina exibe-se, ainda nos dias de 
hoje, com a naturalidade dos seres superiores.
Desde as sufragistas à actualidade, que a luta da 
mulher pela igualdade de direitos tem sido uma 
constante e muito se tem evoluído nesse sentido. De 
facto, a mulher, nomeadamente no mundo 
ocidental, adquiriu patamares jamais imaginados 
pelas subjugadas mulheres puritanas, pelas escravas 
dos campos de algodão nos Estados Unidos da 
América, de séculos atrás, pelas donas de casa da 
família tradicional dos, ainda muito lembrados e 
recentes, tempos salazaristas.
Edição Especial
Pág. 5
Porém, o caminho é longo, e muito está por alcançar. 
Sabemos que a História da Humanidade é feita de 
avanços e recuos e não basta evoluir na ciência e na 
tecnologia. É urgente uma transformação maior, 
sobretudo nas mentalidades. Embora as mulheres 
estejam conscientes de que podem celebrar, com 
alegria, os progressos alcançados, assistem, por vezes 
indefesas, ao recrudescimento da violência sobre as 
mulheres, ainda no namoro, ao seu assassinato 
frequente no seio das famílias, à negação camuflada, 
da igualdade de acesso a carreiras profissionais, 
políticas e económicas, à violação das mulheres em 
tempos de guerra, à barbárie da morte por 
apedrejamento.
É com estupefação que se observa, que a mulher 
continua a ser vítima de exploração sexual. A capa de 
revista colorida de moda, de insignificantes 
acontecimentos da alta sociedade, aprimora-se na 
exposição, por vezes indecorosa, da mulher que se 
expõe para deleite. É tão constante, que já nem 
damos por isso, mas está lá. Todavia, é cheia de 
glamour, disfarçada de uma beleza que não enaltece 
o ser feminino com direito a direitos de dignidade.
Em tempos de guerra é usada nas fábricas de 
material de guerra, é gestora familiar, mãe e pai, 
enfermeira e médica, voluntária na Cruz Vermelha. 
Meritórias todas estas tarefas a enobrecem, mas 
quando é que a sociedade estará preparada para o 
entendimento da existência da mulher na sociedade, 
enquanto parte integrante e igual?
Tal como na paz e na guerra, nunca o ser humano 
pode baixar os braços e deixar-se embalar pelo que 
adquiriu. Há sempre que estar alerta e preparar-se 
para o ressurgimento do lado negro do ser humano. 
Assim, a mulher não deve ser incauta e estar atenta 
às sirenes que, sem que se espere, gritam o medo e 
recomendam a protecção no bunker.
É urgente que as sirenes toquem, sim, para 
recordarem à mulher que o seu lugar de igualdade 
não se conquista no bunker, mas cá fora, no dia a dia, 
nas batalhas, aparentemente, mais insignificantes da
vida. Quando se poderá afirmar com convicção, que 
a mulheconstitui, de facto a outra metade da 
Humanidade? (...)"
Porém, celebre-se cada dia, como se fosse o primeiro 
da sua inteira liberdade, da sua individualização 
consciente, da sua individualidade permanente.
Edição 3/2022 - Maria das Dores Nascimento
"(...) Recuemos ao ano de 1972.
Nesse ano aconteceu a primeira cimeira sobre o 
ambiente, na Suécia.
Não foi atribuído prémio nobel da paz.
A guerra colonial dizimava os jovens portugueses e 
massacrava os povos africanos, a ditadura de Marcelo 
Caetano abatia-se sobre o país, o analfabetismo 
dominava e o lápis azul da censura amordaçava as 
opiniões.
E em Alhos Vedros nasceu a Feira do Livro.
Os homens sonharam e a obra nasceu.
Uma geração carregada de irreverência,coragem e 
vontades de mudança, sob o teto da Academia 
Musical e Recreativa 8 de Janeiro de Alhos Vedros,
sonhou.
Sonhou em fazer dos livros uma festa, uma 
celebração, um ato de coragem e de desafio. E os 
livros saíram à rua.
No local onde se viria a instalar o parque infantil 25 de 
Abril, na avenida Humberto Delgado, nesses tempos 
Marechal Carmona, aconteceu a festa.
Calcorrear Lisboa, contactar incrédulas editoras, 
trazer e devolver os livros, calcular preços e fazer os 
descontos. Montar e desmontar as bancas coloridas, 
usadas em mercados de rua, com folhos no topo, 
perante uma animada e curiosa multidão de gente, 
gente sedenta de conhecimento, num país fechado 
sobre si próprio, com o obscurantismo como 
presente e futuro. Muitos, ansiosos pela leitura dos 
clássicos, pela posse de gramáticas e dicionários 
expostos em lugar de destaque, por literatura 
temática. Outros, requisitando à boca fechada as 
publicações proibidas, clandestinamente guardadas 
e aguardando atrás das bancas.
Leonel Coelho, José Augusto, Edgar, Sequeira, José 
da Palma, Zé Nando, Estreia, João Carvalho, Cordeiro, 
Adelaide, Júlio, eu própria, com os meus tenros 12 
anos, e outros, rapazes e raparigas, com a felicidade e 
a esperança instaladas nos sentidos, assumiram 
Edição Especial
Pág. 6
aquela corajosa responsabilidade, que foi o embrião 
de algo maior, algo que nascera para intervir, para 
medrar, para vingar, para continuar.
Num estrado de madeira tosco, atuou o rancho das 
Arroteias, abrilhantando de música, ritmos e alegria 
um acontecimento improvável e corajoso. Foi 
magnífico.
No ano seguinte, aconteceu a segunda feira do Livro. 
Alhos Vedros foi visitada pelo ilustre músico, 
compositor, maestro e professor Fernando Lopes 
Graça, acompanhado pelo coro que 
primorosamente dirigia e que maravilhosamente 
interpretou o cancioneiro português, de que recordo 
emocionada, parte da belíssima canção:
à sombra do rio nascem
violetas ao comprido
já me vieram dizer
que querias casar comigo
Fernando Lopes Graça, entrevistado pelo jornal 
Notícias da Amadora, uns dias depois, a propósito da 
Feira do Livro de Alhos Vedros, disse: “Isto é heroico”. 
E foi.
E a Feira continuou ininterruptamente, ano após ano, 
até à 48a edição. Passou por vários locais, mas foi no 
Largo do Coreto que mais se impôs. A pandemia 
adiou duas edições. Estes dois últimos anos de 
insuportáveis solidões, de desumanos 
distanciamentos e de doenças sorrateiras, foram 
trágicos para três dos mais empenhados obreiros da 
Feira do Livro, ano após ano. Maria Celina Baltazar, 
Manuel Figueira Carvalho e Leonel Eusébio Coelho, a 
quem muitos chamam o pai da Feira do Livro. Esta 
referência tem tanto de justa como de indispensável, 
pois honrar a memória dos bons que partem é o 
mínimo exigível aos que ficam. Continuar a obra é o 
que nos move e moverá.
A “nossa Feira do Livro” envolve a comunidade, 
crianças e jovens, alguns do ténis de mesa e da 
ginástica, outros da vizinhança, que têm sido os fiéis 
vendedores, arrumadores incansáveis, em gerações 
renovadas. Comem a sandes e bebem o sumo, 
lanche que se tornou tradição, riem e brincam, 
correm e divertem-se. As rifas alimentam a feira, os 
prémios são oferecidos pelos comerciantes amigos e 
pelos artistas amantes destas iniciativas. O saudoso e 
querido Toninho oferecia um avio, a florista Mena um 
arranjo, o Nelson e o Assalto ao Tacho duas ou três 
refeições, o Tó dá pão para os lanches dos 
colaboradores. Do doutor Sampaio, do Barão e Costa 
e da Refrigue, há sempre um contributo monetário. 
O Luís Delgado, a Celeste, o Kira, o Vítor Moinhos, o 
Luís Guerreio, o Tapadinhas, a Amália, a Ilda, a Sandra, 
o José Augusto, o Paulo Nogueira e tantos outros, 
oferecem arte. A cabeleireira Sandra, serviços. O 
Coviran, sumos e condutos. A população compra rifas 
e muitos outros, ao longo dos anos, têm apoiado em 
atos, palavras e presença, palestras, colóquios e 
debates. O poder local tem ajudado com verbas, 
logística e alguma propaganda. E a quermesse 
também contribui.
As exposições integradas na Feira do Livro já 
mostraram artes e ofícios, pintura e fotografia, 
trabalhos em pão, livros, autores e escultura, 
instalações, vida e obra de Zeca Afonso e objetos de 
estimação.
Já passaram pela Feira oleiros e latoeiros, cesteiros, 
teares e artesanato, palhaços e dramatizações, 
atividade circense e passatempos, circuito ciclista e 
troféu Tiago Faquinha.
Exibiu-se folclore, cante alentejano, jazz, rock, baladas, 
canto lírico e popular, música de intervenção fado e 
rap, teatro, coros, ballet, ginástica, dança 
contemporânea, de salão e de fusão, marchas e as 
Batucadeiras de Cabo Verde, instrumentistas e 
bandas, escolas de música e cinema. 
Estiveram presentes com os seus livros, simpatia e 
autógrafos, Aurora Rodrigues, Fernando Cardoso, 
Beatriz Costa, Ana Nunes, que nos visitaram de fora, e 
acima de tudo os autores locais, a prata da casa, que 
é ouro. Leonel Coelho, Manuel João Croca, Luís Carlos 
Santos, Maria das Dores Nascimento, Rafael Augusto, 
José Miguel Oliveira, Celeste Cantante, Luís Filipe 
Gomes, Hélder Martins, Fernando Reis, António 
Tapadinhas, Tomás Gavino Coelho, Carlos Vardasca, e 
peço perdão se alguém não foi nomeado. Este ouro 
de que falo merece sair do guarda-joias, ter superior 
Edição Especial
Pág. 7
visibilidade e ser olhado como uma valia de que o 
concelho se deve orgulhar, que o poder local deve 
abraçar, mostrar e incentivar, como investimento na 
cultura, na literacia e na escrita. Esperemos que se 
mude o rumo.
Atrevo-me a concluir que a inusitada quantidade de 
autores na freguesia de Alhos Vedros e arredores tem 
certamente uma relação com esta chama que se 
renova a cada ano, insistindo na leitura, na palavra, na 
escrita.
Durante muitos anos, a Feira do Livro era o espaço e o 
tempo em que os leitores e amantes dos livros os 
adquiriam, se encontravam, conversavam, 
tertuliavam, se é que me é permitida esta palavra, 
talvez inventada. Que alternativas tinham?
Praticamente nenhumas. Nesses tempos, as editoras 
precisavam das feiras de livro locais. Eram parceiras, 
eram amigas. Enviavam os catálogos, e permitiam 
que escolhêssemos os livros. Nos últimos tempos, as 
editoras desinteressaram-se da divulgação do livro 
como uma missão, abandonando estas louváveis 
iniciativas locais. Não se aplica a esta relação 
comercial a regra de fidelização. Infelizmente.
Por essas e por outras, principalmente por outras, há 
que mudar um pouco o paradigma. Há que apostar 
mais na divulgação dos autores locais, nos autores 
independentes ou não, naqueles que escrevem sobre 
aquilo que entendem, livremente, e que amam os 
livros e as palavras.
Há muitos anos atrás, adquiri, numa das edições da 
Feira do Livro, De Profundis, Valsa Lenta, de José 
Cardoso Pires, e li-o todo nessa mesma noite. Trata-se 
de uma magnífica descrição sobre um grave 
problema de saúde do autor, que ele descreve com a 
excelência a que o seu nome nos habituou. 
Deslumbrei-me tanto que, ao terminar o livro, fiz uma 
promessa aos meus botões: “Se alguma vez tiver um 
problema de saúde grave, comprometo-me a 
escrever sobre isso”.
E fui posta à prova com um maldito cancro da 
mama, de que resultou o livro Inimigo do Peito. Mais 
tarde, escrevi e publiquei a História do Touro Azul, 
infantil. E, na 48a Feira do Livro, lancei um romance: O 
homem que tinha medo de que ninguém fosse ao 
seu funeral. Na 49a feira do livro, que terá lugar este 
ano de 24 a 26 de junho no FAVO, apresentarei o livro 
Maria Celina. Não fora a Feira do Livro, quem sabe se 
os meus pensamentos se aconchegariam nas 
páginas que os têm acolhido. Já agora, aproveito 
para divulgar que Luís Carlos dos Santos apresentará 
ao publico o seu último livro, Daqui até já, na próxima 
Feira do Livro. E talvez não fiquemos por aqui.
Para finalizar, acrescento quea Feira do Livro de 
Alhos Vedros foi distinguida pela Região de Turismo 
da Costa Azul no ano de 2007.
Alguém escreveu num jornal como título: “Esta é 
uma feira de afetos onde o livro é um amigo”. Vem e 
traz outro amigo também. (...)"
Edição 4/2022 - Helder Martins
"(...) Quando o Fábio Silvano, do Boletim Digital “Sentir 
Alhos Vedros”, me contactou no sentido de falar um 
pouco sobre o que é a literatura para mim ou do 
meu percurso como escritor; tudo isto envolto por 
um papel de embrulho que é a nossa vila, 
imediatamente o que trouxe em lembrança foi o de 
uma antiga tarefa escolar. Creio que no 8o ou 9o ano, 
não o posso precisar, mas recordo que foi um projeto 
que falava sobre o Foral de Alhos Vedros, atribuído 
por D. Manuel, realizado para o agora atual 
Agrupamento de Escolas José Afonso.
E vejo-me perdido nos pensamentos desta memória, 
límpida como se o fosse hoje, que foi um trabalho 
onde sinto ter conhecido o meu primeiro contacto 
com a “inspiração”. A maneira como a escola explora 
a nossa capacidade de síntese; a nossa forma de 
construir um novo texto por palavras nossas; o zelo 
que nos compele a questionar e a esclarecer; tudo 
isso gerava em mim um agrado sobre os textos que 
ia formando, enquanto explorava a história de Alhos 
Vedros, quase que num mesmo sentimento poético 
como aquele que trago aqui hoje para este Boletim 
Digital. Mas claro, éramos miúdos naqueles tempos, 
e os livros eram uma obrigação e eu sei que não os 
procurava.
Sem o saber, ou alguma vez ter equacionado uma 
reta direta para o mundo da literatura, algo existia lá. 
Sem reconhecer os sinais, como a facilidade que era 
Edição Especial
Pág. 8
para mim em ultrapassar as metas escolares no 
âmbito das línguas, lembro-me que andava em 
esquiva a escritas cujos temas pouco interesse 
despertava em mim. Mas sei que uma história 
pairava, na altura, na minha mente. Borrões, claro; 
pacientes do meu próprio crescimento para 
ganharem forma e também para que eu descobrisse 
o fator que me levaria à leitura.
E é isso que trago aqui hoje ao Boletim Digital; para 
além de um percurso, explorar o que nos inspira. 
Porém, e primeiramente, apresentações são devidas.
O meu nome é Helder Martins, filho da terra de Alhos 
Vedros. Nascido a 10 de Março de 1986, no vizinho 
Barreiro e durante muitos anos residente no Bairro 
Gouveia.
Mesmo hoje, já criado, ainda a laborar no concelho da 
Moita.
Em paralelo à saga do que são as minhas crónicas 
editadas, a minha pessoal jornada teve início na 
Escola Primária do Bairro Gouveia. Ainda que trinta 
anos, bem distantes agora, recordo da professora o 
louvor pela letra “q” bem traçada na folha do caderno. 
Mas somos miúdos e a época trazia na altura a saga 
do Dragon Ball.
Ultrapassado esse arranque que nos projeta para as 
horas que aprendemos a ver ou as contas que 
começamos a decifrar, mantive o meu percurso 
dentro do ensino de Alhos Vedros, saltando para o 
que conhecia na altura como a Escola EB 2,3 José 
Afonso. Lá, a literatura torna-se então mais real e mais 
poética. Como a escrita de Gil Vicente, com o Auto da 
Barca do Inferno, recriada numa peça teatral em aula, 
onde recordo o papel de Judeu por mim 
interpretado.
Porém, e em franqueza, os temas abordados pouco 
favoreciam o meu interesse pela leitura, 
nomeadamente quando no foco da poesia, a qual 
trazendo o meu próprio calcanhar de Aquiles. Mas, os 
resultados lá eram conseguidos e as metas 
ultrapassadas, sobressaindo-me nas suas provas 
escritas e na facilidade em reter o importante dos 
temas abordados. Contudo, para mim, tudo ainda era 
visto num sentimento de obrigação, até que 
apareceu Ulisses, de Maria Alberta Meneres. E aí, 
pretendo deixar a minha primeira mensagem para 
um bom leitor: descobrir o(s) tema(s) que o identifica.
Naquele tempo, não sei se seriam dos jogos de 
computador (RPG’S) que atraíam pela sua raiz 
medieval e aventureira ou se dos ares de Alhos 
Vedros com o histórico do seu passado ou das suas 
lendas, como a do poço mourisco, mas a literatura 
focada no fantástico passou a trazer em mim um 
desejo em pegar nos livros, pela primeira vez, a gosto. 
Mesmo hoje, lembro a primeira obra que li de 
“empreitada”: “O ciclo do Graal: Nascimento do rei 
Artur” de Jean Markale. 
E, então, desde aí a literatura passou a acompanhar-
me pela minha vida projetada para o ramo laboral. 
Recordo obras como a “Trilogia de Bartimaeus” de 
Jonathan Stroud ou “Lobo Branco” de David 
Gemmel. E até mesmo da saga do Harry Potter, 
entre tantos. Todas elas construíram o meu caráter, 
fortaleceram a minha imaginação e enriqueceram o 
meu vocabulário e companheiras das minhas 
múltiplas profissões, que exigiam longas deslocações 
pelos transportes públicos. E aí remato com uma 
segunda mensagem para um bom leitor: descobrir o 
conforto para uma boa e inspirada leitura. Porque 
refiro isto? Porque, no meu caso, apenas e só, era 
capaz de ler/escrever se inspirado pelo exterior do 
que são as pessoas e ares do mundo à minha volta.
Começou então a curiosidade em trazer para o papel 
as formas de uma história que
sempre me acompanhara; e perceber, nas 
competências e formações adquiridas pelo ensino, e 
até mesmo pela minha experiência no kickboxing, 
como seriam os contornos das minhas personagens 
traduzidas em palavas. Na altura, cinco anos antes da 
data de lançamento do meu primeiro livro a 24 de 
Novembro de 2013, recriei na íntegra toda a obra a 
papel e caneta. Claro que apercebi-me mais tarde 
que para enviar estes originais, os mesmos seriam 
necessários em digital, e todo o livro foi novamente 
filtrado para o computador, criando assim no ecrã à 
minha frente: O TEMPLO DE BORKUDAN.
Certo que tudo era apenas um hobbie, um escape e 
ao mesmo tempo uma necessidade para o meu 
bem-estar psicológico, mas as pessoas certas 
Edição Especial
Pág. 9
alimentaram a minha curiosidade em saber se esta 
história poderia ser mais. Começa então aquele 
nervoso miudinho, naquilo que não sabemos se será 
bem correspondido.
Pegamos naquele ficheiro, salvaguardado nos seus 
direitos de autor, e percorremos editoras e mais 
algumas para onde enviamos o nosso trabalho.
Até que, quase sempre quando não esperamos, as 
primeiras respostas surgem e a excitação traduz o 
sentimento em ver-se reconhecido. Ainda que 
algumas editoras declinassem por se tratar de um 
nicho de mercado, no seu todo o interesse pela 
história em si era valorizada, percebendo-se nela a 
componente humana que retendo expor nesta 
literatura de ficção. Assinei então pela editora 
CHIADO BOOKS, e com eles até hoje, editando outros 
dois volumes das CRÓNICAS DE TELLARGYA, sendo 
eles: “AASA DA CONSEQUÊNCIA”, publicado a 31 de 
Julho de 2016 e “GRILHETAS DA APATIA”, o meu mais 
recente livro, lançado a 28 de Novembro de 2021. 
Uma saga - que irei sintetizar no final deste boletim – 
que conta com uma escrita rica nas suas metáforas e 
alegorias; trabalhada em muito no gerúndio, mas 
capaz de agradar até aqueles que reticentes da 
leitura de ficção. Isto npela capacidade em explorar 
não uma história de heróis, mas sim de personagens 
iguais a como quem as lê, nas suas virtudes, erros e 
sonhos.
Mas esta é a parte fácil. A de trabalhar e estudar a 
capa certa; a de reverificar possíveis erros; a 
composição da sinopse ou mesmo da foto de autor; o 
ir a reuniões de estratégias de promoções e preparar 
e organizar o lançamento que nos projeta. O difícil é 
quando transformamos um hobbie num 
compromisso.
Compromisso para quem leu e espera pela 
continuação; compromisso para mim, como autor, 
que acredita no melhor destas CRÓNICAS DE 
TELLARGYA; um compromisso melhor explicado 
pelas antigas palavras de JOSÉ SARAMAGO, quando 
na minha presença na 47a FEIRA DO LIVRO DO 
FUNCHAL, que dizem: “ser escritor não é apenas 
escrever livros, é muito mais uma atitude perante a 
vida, uma exigênciae uma intervenção.”
Quando li tal passagem foi como que um reflexo do 
que tem sido o meu percurso como escritor; um 
resumo do que implica esta arte: o isolamento 
necessário, por vezes as quebras de inspiração, a 
própria dúvida, o procurar, em paralelo à nossa vida 
profissional, uma forma de persistir no que se 
acredita, pois para lá das fotografias, o confronto 
interior é maior do que aquele que as minhas 
personagens enfrentam.
E como contornar o que por vezes nos questiona? 
Em resposta, lembro maior satisfação ao regressar à 
Escola EB 2,3 José Afonso e partilhar as minhas 
conquistas.
O agrado de professores que me reconheciam e 
felicitavam pelos feitos, abrindo-me portas para uma 
das minhas missões que era o de chegar aos mais 
novos, revelando-lhes a importância da leitura e da 
escrita. É prazenteiro ser ouvido, não só por mim a 
narrar uma nova realidade, mas escutado por turmas 
de alunos, tal como eu onde no passado estive 
também, curiosos pelo tema em si e pelo percurso 
de alguém que da escola se projetou.
Alhos Vedros, terra de um passado que certamente 
fomentou o épico da minha fantasia, sempre me 
facultou o melhor das suas gentes. Ainda hoje, 
lembro a minha entrada pela Junta de Freguesia, no 
meu primeiro livro, perguntando o que eu poderia 
fazer para partilhar este trabalho. Refletiu-se com a 
participação nas suas Feiras do Livro.
43a Feira do Livro de Alhos Vedros e tenho em 
memória estar, lado a lado, com Leonel Coelho, 
lutador e grande escritor, e o mesmo que em 
curiosidade abriu os meus livros numa leitura em 
diagonal dizendo-me, enquanto aguardamos por 
leitores curiosos: “isto é de profissional”. Mesmo mais 
tarde, numa nova oportunidade, na 46a Feira do 
Livro de Alhos Vedros, com Dores Nascimento, numa 
entrevista à luz do luar onde me foi permitido falar 
um pouco mais do meu trabalho.
A verdade é que o percurso é de luta. Temos de 
procurar chegar mais longe; procurar espaços num 
Portugal inteiro e ter a disposição de alcançar 
aqueles que ainda hoje não conhecem o nome 
Helder Martins, escritor das Crónicas de Tellargya.
Edição Especial
Pág. 10
E o apoio é importante. A surpresa e o 
reconhecimento, como a do convite para este 
Boletim, para que eu hoje pudesse lembrar, quem 
sou em nostalgia, “recarregam baterias”.
AS CRÓNICAS DE TELLARGYA
O TEMPLO DE BORKUDAN,Vol. 1
Esta saga conta a história de um jovem mago, Helzar 
Tharmin, resignado com a sua vida estagnada na 
aldeia de Surdave, sentindo-se subvalorizado. No seu 
caminho, cruza passagem com um pequeno dragão, 
Drinus, sem qualquer memória do seu passado. 
Porém, numa noite marcada por más escolhas, o 
rapaz vê a sua aldeia atacada por uma figura que o 
identifica como a reencarnação de um deus antigo. 
Instigando-o a lutar, o vilão da história rapta-lhe a 
irmã e destrói toda a aldeia; lançando então aí o início 
de uma demanda. Helzar tem agora um dever em 
mãos, ao mesmo tempo que conhece Tellargya pela 
primeira vez, no verdadeiro sentido da exigência; 
enfrentando pelo caminho desafios que o superam 
por aquilo que nunca esperara ou ambicionara.
A ASA DA CONSEQUÊNCIA,VOL. 2
Regressado de o Templo de Borkudan, Helzar e 
Drinus contam agora com um novo companheiro de 
viagem. Com um novo destino traçado, o mago 
enfrenta agora os imprevistos da vida, com agora as 
consequências das suas decisões, em que a cada 
uma se vê cada vez mais afastado do seu objetivo 
inicial; ainda que por elas, cruzando passagem com 
uma bela jovem. Em paralelo a esta história, uma 
nova personagem, Jllanu, põe em marcha um 
ressentimento antigo para com a sua vida bastarda. E 
mesmo dos túneis de Tellargya, um anão irrompe 
focado para um castigo a todos que da superfície.
GRILHETAS DAAPATIA,VOL. 3
Com todos os companheiros do seu grupo raptados 
por figuras arcanas misteriosas, Helzar vê-se 
confrontado com o novo percalço. Dividido entre a 
necessidade do resgate dos seus amigos, a 
tenacidade falta-lhe com o encontro de uma nova 
vida, mais confortável, e agora bem mais desejada. 
Cruzados os mares pela primeira vez, Jllanu põe em 
marcha o seu desígnio e Tellargya enfrenta agora os 
tremores que assolam cada um dos seus habitantes. 
Com o papel do herói agora em suspenso, uma nova 
personagem insurge para essa responsabilidade, e 
com ela a verdade na ponta da sua espada. (...)"
Edição 5/2022 - Tânia Alves
"(...) Este mês comemora-se o Dia Mundial da Criança, 
celebrado no dia 1 de Junho.
No nosso país comemoramos este dia mimando as 
nossas crianças com presentes, passeios, 
experiências fantásticas e com tudo aquilo que 
achamos que as fazem felizes. No entanto, este dia 
não surgiu apenas para oferecermos presentes aos 
nossos filhos, sobrinhos e amigos.
Este dia é uma data muito importante para toda a 
comunidade mundial. Começou a celebrar-se na 
década de cinquenta, num cenário pós Guerra (II 
Guerra Mundial), por parte da ONU, que tinha como 
objectivo alertar e sensibilizar toda a população para 
os problemas e dificuldades que muitas crianças 
enfrentavam, sem que tivessem acesso a cuidados 
básicos como o amor, segurança e saúde 
(dificuldades essas, que infelizmente ainda nos dias 
de hoje se verificam). Defendiam o princípio de que 
todas as crianças têm direitos que devem e 
merecem ser respeitados.
Desta forma a ONU e a Federação Democrática 
Internacional das Mulheres criaram a tão proclamada 
mas nem sempre cumprida ou seguida Declaração 
Universal dos Direitos das Crianças. Esta declaração é 
composta por dez princípios que devem ser seguidos
para que as crianças vivam em paz:
1 - Todas as crianças têm direito à vida e à liberdade;
2 - Todas as crianças devem ser protegidas da 
violência doméstica, do tráfico humano e do trabalho 
infantil;
3 - Todas as crianças são iguais e têm os mesmos 
direitos, não importa a sua cor, sexo, religião, origem 
social e nacionalidade;
4 - Todas as crianças devem ser protegidas pela 
família e pela sociedade;
Edição Especial
Pág. 11
5 - Todas as crianças têm direito a um nome e 
nacionalidade;
6 - Todas as crianças têm direito a alimentação, 
habitação e atendimento médico;
7 - As crianças portadoras de dificuldades especiais, 
físicas e mentais, têm o direito a educação e cuidados 
especiais;
8 - Todas as crianças têm direito ao amor, à 
segurança e à compreensão dos pais e da sociedade;
9 - Todas as crianças têm direito à educação, que 
deve ser gratuita e obrigatória. E têm direito a 
brincarem;
10 - Todas as crianças têm direito de não serem 
violentadas verbalmente ou serem agredidas por 
pais, avós, familiares e pela sociedade. 
Nunca nos devemos esquecer que já todos fomos 
criança e que essa criança continua dentro de nós. Há 
dias em que essa criança pode estar mais 
adormecida mas há outros dias em que essa criança 
salta cá para fora e só nos apetece brincar, rir e 
descomplicar a vida e perceber como ela pode ser 
simples.
Como educadora de infância, considero também 
indispensável reflectirmos naquilo que é ser criança, 
na sua verdadeira essência.
Assim, ser criança é ser livre, é poder rir à gargalhada 
até a barriga doer, é brincar, correr e saltar e levar a 
vida de forma simples e espontânea. É ser 
verdadeiramente feliz!
Cabe-nos a nós, enquanto pais, cuidadores, avós, tios, 
educadores, professores, etc., transmitir-lhes 
exemplos, princípios e valores que lhes permitam 
viver e crescer de forma harmoniosa e que entendam
o quanto são importantes a tolerância, a humildade e 
o respeito.
Também nos cabe a nós proporcionar-lhes vivências, 
experiências e ambientes que as deixem ser 
genuinamente felizes e que sejam capazes de tirar 
um maior partido da vida.
Em jeito de conclusão, deixo-vos aqui um elucidativo 
poema de Dorothy Law Nolte:
As Crianças Aprendem o que Vivem
“Se as crianças vivem com críticas, aprendem a 
condenar.
Se as crianças vivem com hostilidade,aprendem a 
ser agressivas.
Se as crianças vivem com medo, aprendem a ser 
apreensivas.
Se as crianças vivem com pena, aprendem a sentir 
pena de si próprias.
Se as crianças vivem com o ridículo, aprendem a ser 
tímidas.
Se as crianças vivem com inveja, aprendem a ser 
invejosas.
Se as crianças vivem com vergonha, aprendem a 
sentir-se culpadas.
Se as crianças vivem com encorajamento, aprendem 
a ser confiantes.
Se as crianças vivem com tolerância, aprendem a ser 
pacientes.
Se as crianças vivem com elogios, aprendem a 
apreciar.
Se as crianças vivem com aceitação, aprendem a 
amar.
Se as crianças vivem com aprovação, aprendem a 
gostar de si próprias.
Se as crianças vivem com reconhecimento, 
aprendem que é bom ter um objectivo.
Se as crianças vivem com partilha, aprendem a ser 
generosas.
Se as crianças vivem com honestidade, aprendem a 
ser verdadeiras.
Se as crianças vivem com justiça, aprendem a ser 
justas.
Se as crianças vivem com amabilidade e 
consideração, aprendem o que é respeito.
Se as crianças vivem com segurança, aprendem a 
confiar em si próprias e naqueles que as rodeiam.
Se as crianças vivem com amizade, aprendem que o 
mundo é um lugar bom para se viver.“ (...)"
Edição 6/2022 - Francisco José Noronha dos 
Santos
"(...) Escrever sobre Alhos Vedros é um júbilo e um 
repto!
Na margem esquerda do Tejo, na Barra-a-Barra e no 
Rosário foram encontrados vestígios da presença de 
comunidades do neolítico.
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No devir das eras, a estas terras estuarinas acorreram 
as mais variadas gentes, em busca de pouso seguro. 
Tal amálgama de povos e de culturas forjou uma 
salutar miscigenação, qual coluna vertebral destas 
populações ribeirinhas.
Das cerradas brenhas brotaram terras aráveis, e do 
rio, ora manso, ora alteroso, granjearam o sustento e a 
subsistência.
No século XIII da era cristã, Alhos Vedros é um 
aglomerado de habitações edificadas em torno do 
seu templo religioso.
Alhos Vedros «terra franca» escreveu alguém.
Franca porque sem muralhas que tolhessem os 
passos a quem dela se abeirasse a rogar acolhida; 
terra de gente franca, solícita, laboriosa...
Nos séculos subsequentes, a localização geográfica, a 
amenidade do clima, os recursos naturais atraíram 
Nobres e Plebeus.
Alhos Vedros está intimamente encrustada na 
História Nacional.
Em Alhos Vedros, no mês de julho de 1415, o Rei João, 
o primeiro de nome, transmitiu aos membros do 
Conselho Régio a decisão definitiva de materializar a 
abalada da frota para a conquista de Ceuta.
Nos séculos seguintes, os Alhosvedrenses 
cooperaram ativamente na empresa marítima 
portuguesa. Mas o seu hercúleo labor também se 
verificou na agricultura, na pesca e na navegação 
fluviais, na salicultura...
No dealbar século XX, o incremento da indústria 
corticeira e da indústria de confecções são marcos 
identitários da personalidade expedita deste povo 
ribeirinho.
Ser Alhosvedrense é um regozijo, um privilégio!
Oxalá cada um de nós, Alhosvedrense, se esforce por 
dignificar os nossos valorosos antepassados, 
incontestáveis Heróis locais e nacionais!
Para mim, é uma honra ser natural desta vetusta 
«terra da borda d’água».
Alhos Vedros e a sua História merecem ser 
divulgadas a nível nacional!
Qual tem de ser o papel, o esforço e a obrigação das 
Autoridades Locais e de cada um dos 
Alhosvedrenses?
Meditemos, organizemo-nos e exijamos aquilo a que 
Alhos Vedros tem direito. (...)"
Edição 7/2022 - Carlos Vardasca
"(...) O meu nome é Carlos Vardasca, tenho 72 anos e 
nasci em 1949 na freguesia do Socorro em Lisboa.
Desde muito cedo e devido à extrema pobreza dos 
meus pais, com apenas quatro anos de idade fui 
internado no Colégio Nuno Álvares Pereira em 
Lisboa, e mais tarde, com 13 anos, na Fragata D. 
Fernando II e Glória, onde sobrevivi a um violento 
incêndio que deflagrou a bordo em 3 de Abril de 
1963.
Eram instituições do Estado, onde permaneci vários 
anos ficando desde muito cedo privado de afectos e 
do aconchego familiar, o que contribuiu para moldar 
um pouco a minha personalidade, embora em datas 
festivas (nem sempre) fosse passar férias a Santarém 
onde os meus pais viviam.
Desde muito cedo me interessei pela leitura, dado 
que apenas com doze anos, e com as moedas que as 
minhas vizinhas me davam quando lhes fazia alguns 
recados, investia esses trocos na compra do jornal “O
SÉCULO” que na altura custava 1 escudo, 
inicialmente para recortar as tiras de Banda 
Desenhada que geralmente vinham na última 
página.
Mais tarde, com 14 anos de idade e por influência dos 
meus amigos que também frequentavam o Cine 
Clube de Santarém, começei a interessar-me por 
assuntos mais sérios, lendo livros e notícias sobre 
assuntos de ordem social e política, mais 
concretamente sobre a guerra de Vietname, a guerra 
colonial que passei a contestar, e sobre os 
acontecimentos donMaio de 68 que ocorreram em 
França.
Foi com esses amigos que iniciei muito cedo a minha 
discussão que versava assuntos de ordem política e, 
por sua influência e por acreditar nos valores que 
defendiam, comunguei e partilhei com eles a crítica 
ao regime do Estado Novo, embora naquela altura 
eu não estivesse ligado ou associado a alguma 
formação política, apesar de a PIDE pensar que 
quem frequentava o Cine Clube de Santarém se 
Edição Especial
Pág. 13
movia pelas vias da contestação e por isso exercia 
naquela instituição cultural uma vigilância apertada.
Apesar da descrição anterior e dos valores que já 
defendia, em 24 de Janeiro de 1971 fui, embora 
contrariado, mobilizado para participar na guerra 
colonial para Moçambique, de onde por pouco 
pensei que não regressava, por ter sido ferido em 
combate numa emboscada desencadeada pela 
FRELIMO em 3 de Janeiro de 1972.
Esclareço que, embora tivesse participado numa 
guerra que sempre condenei, fui convidado para 
desertar por duas vezes antes de embarcar no navio 
NIASSA, não o tendo concretizado com receio que a 
PIDE exercesse represálias sobre os meus pais como 
já vinha sendo prática daquela polícia política.
Quando regressei da guerra colonial em 6 de Março 
de 1973 e porque os meus pais se tinham mudado 
para Alhos Vedros, vim morar para esta vila onde me 
integrei e acabei por ficar aqui até aos dias de hoje, 
onde arranjei novos amigos e com eles mais tarde 
partilhei preocupações que me ajudaram a abrir 
novos horizontes com os quais me tornei solidário, 
criando novas amizades que ainda hoje perduram.
Como já não tinha muito entusiasmo em voltar ao 
meu primeiro emprego na Marinha Mercante onde 
entrei com apenas 17 anos de idade, em 1973 fui 
trabalhar para uma fábrica de automóveis em 
Setúbal e aí, como operário metalúrgico, fui 
reforçando a minha consciência política a exemplo 
do que já vinha fazendo em Santarém, tendo eu 
corrido o risco, apesar de estar lá apenas há um mês, 
de ser despedido, por terem descoberto que fora eu 
o autor da afixação na parede da fábrica de um cartaz 
que denunciava o golpe de Estado no Chile liderado 
por Augusto Pinochet, com o derrube do governo de 
Unidade Popular chefiado por Salvador Allende em 
1973, que foi assassinado durante esse conflito.
Como o processo disciplinar com vista ao meu 
despedimento durou alguns meses a ser elaborado e 
a ser decidido, a intenção de me despedirem não se 
concretizou por que entretanto deu-se 25 de Abril 
em 1974 e meu processo disciplinar acabou por ser 
arquivado, o que causou alguma irritação na direcção 
da fábrica por não ter concretizado aquele objectivo.
Na primeira Comissão de Trabalhadores em que 
participei, propus a criação de uma Comissão de 
Extinção da PIDE/DGS na fábrica devido à 
desconfiança que recaia sobre dois operários.
Apesar de ter conseguido documentos que 
confirmavam a sua ligação àquela polícia política, a 
sua extinção não se concretizou devido ao golpe do 
25 de Novembro que inviabilizou aconclusão desse 
processo, tendo eu anteriormente participado 
activamente no PREC (Processo Revolucionário em 
Curso) como militante da UDP (União Democrática 
Popular) com várias intervenções políticas, 
nomeadamente percorrendo com outros amigos as 
ruas da Alhos Vedros vendendo o jornal 
“REPÚBLICA” em sua solidariedade, para que o 
mesmo não fosse tomado por outras forças políticas 
alheias aos princípios que norteavam aquele jornal 
em defesa da luta dos trabalhadores.
Durante vários anos fui eleito membro de Comissões 
de Trabalhadores e de Delegados Sindicais da 
empresa onde trabalhava, e nessa condição propus 
numa delas que se estabelecesse um intercâmbio 
entre a fábrica e a Reforma Agrária, nomeadamente 
com as Cooperativas agrícolas, com o objectivo de 
escoar os seus produtos agrícolas devido às 
dificuldades por que passavam. 
Por outo lado e nesse período, propus também que 
se realizasse um facto inédito, com a deslocação à 
fábrica da orquestra do maestro José Atalaya, que 
realizou um concerto memorável que foi do agrado 
de todos os operários que assistiram com grande 
entusiasmo, ao contrário do que alguns mais 
conservadores diziam que não ia resultar por ser 
“música para ricos”.
Aos quarenta anos de idade decidi voltar a estudar e, 
beneficiando do estatuto de trabalhador estudante 
conclui o 12o ano e entrei para a universidade no 
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas 
(ISCSP) no curso de Sociologia do Trabalho.
Em 1986 fui um dos fundadores da CACAV. Círculo de 
Animação Cultural de Alhos Vedros, sendo autor do 
seu símbolo, participação que fui exercendo em 
paralelo com a minha actividade na fábrica como 
Controlador de Qualidade e os estudos na 
universidade.
Edição Especial
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Na direcção daquela associação cultural tive, até aos 
dias de hoje uma participação regular, fazendo parte 
dos seus órgãos sociais desde a sua fundação, onde 
tem sido desenvolvida uma actividade cultural 
permanente e regular, com actividades 
diversificadas, desde o debate realizado na Escola 
José Afonso de denuncia do Massacre de Santa Cruz 
em Timor-Leste em 12 de Novembro de 1991, entre 
tantas iniciativas efectuadas ao longo dos anos, que 
trouxeram à nossa vila personalidades várias e tão 
distintas como Agostinho da Silva e António Vitorino 
de Almeida entre outros, assim como o Coral Alius 
Vetus, o coral Luiza Tody e o Coro da Casa da Achada.
Foi através da CACAV que participei em iniciativas de 
âmbito cultural e partilhei a preocupação desta 
associação pelo Meio Ambiente, com a criação do 
grupo “ECOS da TERRA”, assim como pelo 
Património Histórico e Cultural de Alhos Vedros, 
como foi, entre outras, a realização das primeiras 
Comemorações do Foral de Alhos Vedros em 1987, 
muito antes de o poder local se ter lembrado disso; as 
Noites de Lua Cheia e o mais recente concerto de 
Tributo a José Mário Branco a propósito do 36o 
aniversário da CACAV em 2022, iniciativas que ao 
longo de vários anos têm granjeado a simpatia e a 
participação das populações de Alhos Vedros e do 
concelho em geral.
Por me sentir um pouco irrequieto, o que não me 
permitia estar muito tempo “inactivo mas fazer mais 
qualquer coisa”, em 15 de Março de 2001, numa 
Assembleia de Pais e Encarregados de Educação da 
Escola Básica no 1 de Alhos Vedros, participei numa 
lista que foi eleita para os corpos sociais da respectiva 
Associação para os anos 2001/2002 onde, propus que 
fosse editado um boletim informativo de nome 
“INTERVIR” que visava propor melhorias e outras 
intervenções a efectuar no recinto escolar.
“INTERVIR” era um boletim gratuito e distribuído 
mensalmente a todos os pais e encarregados de 
educação, cuja distribuição que era gratuita, só foi 
possível graças às cópias que eram tiradas de forma 
quase “clandestina” na fábrica onde trabalhava, e a 
sua publicação visava informa-los da actividade da 
nossa associação e medidas a tomar para melhoria 
do espaço escolar.
Fazendo jus ao meu interesse pela leitura e pela 
escrita que já vinha desde os tempos da minha tenra 
juventude, fui colaborador assíduo do jornal “O RIO” 
dirigido por Brito Apolónia, contribuindo 
quinzenalmente com artigos de opinião até à sua 
extinção, ao mesmo tempo que nas eleições 
autárquicas de 2001 fui eleito nas listas do Bloco de 
Esquerda para um mandato para a Assembleia de 
Freguesia de Alhos Vedros, mandato renovado em 
eleições autárquicas seguintes no ano de 2005.
No campo da literatura, em 2012 editei o meu 
primeiro livro com o título “Do Tejo ao Rovuma”, 
apresentado pelo professor António Ventura
no Núcleo Cultural José Afonso (Biblioteca Municipal 
de Alhos Vedros), livro que retrata a história da minha 
Companhia na guerra colonial (1971-1973) e em 
homenagem aos meus companheiros que 
tombaram em combate naquela guerra de má 
memória, para onde também fui enviado “sem jeito 
nem prosa”.
Em 2015 voltei a editar um novo livro com o título 
“Fardados de Lama”, apresentado pelo Tenente 
Coronel Mário Tomé e pelo tradutor meu amigo de 
infância José Colaço Barreiros (na mesma Biblioteca 
Municipal), sessão moderada por Joaquim 
Raminhos, romance autobiográfico que descreve e 
minha vivência desde a infância até ao ano de 1987, 
escrito com base e inspirado num poema de minha 
autoria em 19 de Dezembro de 1969 com o título, 
“Andei por aí”, onde se reflete uma parte da minha 
infância e juventude repleta de ausência dos afectos 
que já referi anteriormente, mas também por 
alguma rebeldia e contestação acumulada pelos 
acontecimentos de Maio de 68 em França.
Andei por aí
Nasci.
Olhei à minha volta e
Senti-me parido de ninguém.
Gritei para dentro de mim e não me ouvi.
Tentei abraçar alguém que era vento e nada senti.
Corri, andei à procura, tudo era vazio
E mergulhei no nada.
Tudo parecia sorrir,
Edição Especial
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Mas nada para mim sabia a quem.
Andei por aí,
Por aí andei.
A par do gosto e do amor que sentia pela escrita, a 
música também foi uma das áreas a que dei corpo, 
ao participar durante alguns anos no coro “ALIUS 
VETUS da colectividade a “Velhinha”, onde participei 
até que a minha entrada no ensino superior me 
impossibilitou de cumprir com a assiduidade 
desejada.
Sempre atento e com a preocupação em transmitir 
aos outros a minha visão do mundo e o meu 
pensamento sobre as questões sociais e políticas que 
iam surgindo no meu dia-a-dia, em 2017 decido 
editar novo livro com o título “Tempos Inquietos” 
apresentado pelo ex-director do jornal “O RIO” Brito 
Apolónia, livro onde “desfilam” artigos de opinião por
mim escritos de 1989 a 2016.
Esta obra foi editada também com base numa de 
compilação de artigos de opinião escritos para o 
jornal “O RIO”, a par de outros que descrevem 
acontecimentos de ordem social e política, nacional e 
internacional, que fui registando durante o mesmo 
período.
O interesse pela escrita e aproveitando o período de 
algum recolhimento que foi transversal a todo o país, 
“dei corda aos dedos” e praticamente tenho 
concluídos mais dois livros que muito entusiasmo 
me deram escrever, cuja apresentação só será 
possível quando as condições o permitirem.
O primeiro é um romance autobiográfico que vem 
no seguimento de outro que escrevi anteriormente e 
que considero, em parte, a sua continuação, pois 
reconheço que algo ficou por dizer em “Fardados de 
Lama”.
Esse romance tem como título “Uma Lua Ancorada 
no Cais” e nele conclui o que em “Fardados de Lama” 
me pareceu ter findado abruptamente, ao ponto de 
algumas pessoas que o leram terem ficado curiosas, 
pois o seu final indiciava que algo mais havia para 
dizer devido à expectativa e ao interesse que ficou a 
pairar no ar com o seu final tão inesperado.
O seguinte livro, este sim já concluído, tem como 
título “Regressámos Todos Tão diferentes” e é mais 
uma incursão ao período da guerra colonial.
Regressei a estetema porque verifiquei que sobre o 
assunto havia muito para dar conhecer daquilo que 
fui escrevendo durante o conflito colonial, mais 
concretamente sobre os momentos vividos em 
Moçambique, no Planalto dos Macondes, província 
da Cabo Delgado na fronteira com a Tanzânia.
Durante esse período e quando regressava aos 
aquartelamentos fui alinhavando alguns 
apontamentos no meu caderno diário de tudo o que 
fui observando durante as operações em que 
participei, ou registando fotos batidas pela minha 
“MIRANDA”, máquina fotográfica de fabrico japonês 
que me acompanhava sempre que me deslocava 
para o mato, ao ponto do comandante da 
companhia me ter dito um dia: - Oh nosso soldado! - 
Você pensa que está em Hollywood ou quê?
Para sua irritação, não dei grande importância a este 
tipo de observações que este oficial era hábito fazer 
sobre a minha pessoa e o meu pensamento, ao 
ponto de me alcunhar de “maoista”, continuei a 
registar apontamentos fotográficos que hoje os vejo 
com muita satisfação estampados nas páginas de 
“Do Tejo ao Rovuma” e em “Regressámos Todos Tão 
Diferentes”, este último que em breve estará à 
disposição de quem se interessar por este género de 
leitura.
Actualmente tenho como “profissão” a de reformado, 
condição onde me sinto extremamente feliz, porque 
ainda hoje recordo a frase que disse ao engenheiro, 
responsável pelo sector do controlo de qualidade 
onde eu trabalhava na minha despedida da fábrica, 
quando ele me perguntou:
- Então Carlos Vardasca! – O que é vai fazer agora que 
se vai reformar?
Ao que eu lhe respondi sem hesitações:
- “Agora, vou fazer tudo aquilo que não tive tempo de 
fazer quando trabalhava para os outros”.
Abraçamo-nos e disse-me:
- Gostei muito de trabalhar consigo, e espero que 
continue fiel aos seus princípios e valores que sempre
Edição Especial
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o vi defender.
Para meu espanto, foi ao seu gabinete e ofereceu-me 
uma pequena placa com a efigie de Che Guevara 
gravada em madeira, que me trouxera numa das 
suas férias à ilha de Cuba.
Finalmente, concluo este meu “Pedaço do meu 
sentir” que é mais do que elucidativo e um 
testemunho daquilo que vos dei a conhecer de mim, 
para que cada um que o vai ler possa fazer o seu juízo 
de valor, que eu não fico nada preocupado com 
aquilo que legitimamente possam pensar.
Por agora, tenho dito. (...)"
Edição 8/2022 - Manuel João Croca
"(...) “Eu acho que, para toda a gente, o que é 
necessário haver num país é os três S: S número um, 
sustento; S número dois, saber; S número três, saúde. 
Só a seguir ao sustento é que vem o saber.”
Professor Agostinho da Silva
1. O primeiro S: Sustento.
Para que uma sociedade seja livre, educada e 
democrática deve reger-se por princípios e valores 
que respeitem e dignifiquem a comunidade na sua 
pluralidade e diversidade.
Nesse sentido, e considerando que a quase 
totalidade da população se sustenta do rendimento 
do trabalho, a todos deverá ser assegurado esse 
direito. Se não for garantido a todos e a todas a 
possibilidade de ganhar o seu sustento como será 
possível viver condignamente e com liberdade para 
fazer escolhas e construir o seu destino?
Deveremos por isso abordar o trabalho na 
perspectiva de um direito e não de uma mera 
possibilidade geradora de conflitos, por via de uma 
competição desenfreada e tantas vezes sem regras 
onde prolifera o tráfico de influências ou, para sermos 
mais directos, o cancro das chamadas “cunhas”. E 
porque uma sociedade democrática não se erege 
apenas na vertente política – a possibilidade de 
regularmente sermos chamados a eleger os nossos 
representantes – , antes se afirma, também, nas 
vertentes social e económica importa considerar o 
seguinte:
- Sendo que todas as ocupações são socialmente 
necessárias, deverá ser assegurado a cada 
trabalhador(a) um salário que lhe garanta a 
possibilidade de viver com dignidade.
Para isso será preciso fazer contas, as contas 
necessárias e certas.
As contas que importam a cada e a todos, as contas 
que possibilitem o acesso a uma habitação digna, à 
saúde, à educação, à cultura e ao lazer.
Será esta a forma mais justa de chegarmos ao valor 
mínimo a pagar como rendimento do trabalho. Só 
assim será possível assegurar uma mais justa 
distribuição da riqueza criada, ao invés do que agora 
se verifica e em que 5% da população mundial 
detém mais de 90% da riqueza criada no planeta.
Garantir o primeiro S é fundamental para poder 
garantir os seguintes pois só depois do sustento estar 
assegurado haverá disponibilidade e motivação para 
tudo o resto. Sem o sustento garantido toda a nossa 
atenção (e preocupação) será canibalizada por esse 
problema que é o que infelizmente acontece a 
milhões de portugueses que, não obstante estarem 
numa situação de pleno emprego, vivem no limiar 
da pobreza. A desvalorização do factor trabalho é 
uma chaga que importa corrigir e eliminar.
2. O segundo S: Saber.
A construção do edifício social em que queremos 
viver é tarefa de toda a comunidade e, por isso 
mesmo, ninguém pode ser isentado de tal 
responsabilidade.
Uma comunidade culta e informada estará, pois, 
muito melhor apetrechada para alcançar tal 
propósito com sucesso, considerando-se aqui 
sucesso o conseguimento de uma sociedade justa, 
livre e democrática.
Aceder ao “Saber” implica uma atitude activa e 
reflexiva permanente por parte de cada um e de 
todos enquanto receptores/emissores de 
conhecimentos.
A aquisição de conhecimentos, de “Saberes”, começa 
desde logo na família, depois na escola, depois uns 
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com os outros, nas colectividades e associações, nas 
artes, ... enfim, em toda a comunidade no geral.
E, por isso mesmo, será mais correcto falarmos de 
“Saberes” tendo em conta a diversidade das suas 
naturezas e dos seus interlocutores.
Daí, também, falar do papel receptor/emissor que 
todos temos, visto que, se para isso estivermos 
disponíveis, com todos poderemos aprender 
qualquer coisa e, concerteza, também teremos algo 
para ensinar.
Parece-me, no entanto, inquestionável, no processo 
educativo de aquisição de conhecimentos, o papel 
primordial e insubstituível da escolaridade e de tudo 
o que a envolve.
Falar da escola pública é, desde logo, falar de 
Professores e de Alunos, de Pessoal Auxiliar e de 
Conselhos Directivos, de Planos Curriculares e de 
Edifícios, de Ministério, de Ministro e de Estado (tudo 
com maiúsculas porque são muito importantes).
É um universo complexo como todos os que 
envolvem pessoas. Muitas pessoas. Com histórias, 
percursos, circunstâncias e contextos diferentes.
Pessoais e sociais.
Não sou, obviamente, especialista na matéria, já 
decorreram várias décadas desde que cumpri a 
escolaridade e mesmo a dos filhos já ocorreram há 
quase uma década. No entanto, como a educação 
(ou a falta dela) é um factor estruturante de qualquer 
sociedade, é um universo que me interessa e que 
procuro compreender na sua grande complexidade. 
Tenho vários amigos e amigas professores ou ligados 
ao processo educativo e conversamos 
frequentemente (quer dizer eu escuto, 
fundamentalmente) sobre o assunto.
Alguns amigos (e conterrâneos) têm até obra 
publicada nesse domínio como são os casos de Luís 
Carlos Rodrigues dos Santos e a sua tese de 
doutoramento “Agostinho da Silva: Filosofia e 
Espiritualidade, Educação e Pedagogia” e José 
Miguel Oliveira com a obra “Dar aulas é fácil.Difícil é 
ser professor! Manual em 7 lições ”, obras que para 
mim foram (são) bastante enriquecedoras e que me 
permito vivamente recomendar.
Lendo e ouvindo e escutando (que não são a mesma 
coisa) aprende-se muito e alarga-se 
substancialmente o universo das problemáticas em 
equação.
Há quem pense que ser professor é “apenas” debitar 
um programa curricular superiormente definido e 
programado e, provavelmente, há professores que 
tenderão a ser “apenas” isso, embora, depois,o 
enfrentar da(s) realidade(s) os obrigue a ser muitas 
outras coisas.
A reflexão e prática pedagógicas têm evoluído. Têm 
surgido novos pensadores, novas correntes dentro 
do universo educacional como, por exemplo, a 
denominada “Escola Nova” e é nesses contextos que 
tomamos conhecimento e percebemos (por 
aproximação) da imensa complexidade da 
actividade docente.
Na escola desembocam todos os problemas sociais 
de que a comunidade padece. Famílias 
desestruturadas, separações, divórcios, desemprego, 
carências financeiras, violência doméstica, iliteracia, 
toxicodependência, violações, delinquências várias, 
enfim, tudo aquilo que inferniza e destrói vidas, tudo 
aquilo que corrói os alicerces de uma sociedade que 
se deseja equilibrada.
Para os receber e para os ensinar.
Para com eles, educandos, construir uma equipa.
Com papéis e funções diferentes como em qualquer 
equipa mas, ainda assim, uma equipa.
Tudo isto entra dentro de uma sala de aula.
Turmas sobrelotadas muito para além do que seria 
desejável e recomendável. Salas de aula 
frequentemente mal equipadas e desconfortáveis.
Aí estão os professores para os receber.
Esse é o objectivo e a sua persecução é o factor mais 
determinante para o sucesso (ou o insucesso) da 
missão. 
E são professores tantas vezes deslocados centenas 
de quilómetros da sua área de residência. Afastados 
do convívio das suas famílias e sem quaisquer ajudas 
de custo para fazer face às despesas de 
deslocalização, delapidando um salário que tem 
vindo a ser minguado progressivamente.
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Professores desinseridos do meio, desconhecendo os 
seus contextos e as suas circunstâncias.
Professores.
Homens e mulheres de quem se esperam resultados 
e sucesso “numa das grandes, mais desafiantes e 
ainda nobres tarefas que se pode colocar a um ser 
humano: educar crianças e jovens para que possam 
um dia contribuir para a melhoria da sociedade em 
que vivemos, afirmando-se como sujeitos críticos e 
proactivos, agentes transformadores, capazes de 
(re)pensar e de agir sobre o presente com vista ao 
progresso e à melhoria do mundo. E, tudo isto 
enquanto se fornecem ferramentas, técnicas e 
conhecimentos, enquanto se treinam 
comportamentos e reforçam atitudes, enquanto se 
proporcionam aprendizagens e se desocultam 
caminhos para a felicidade.“1
Neste contexto, o professor acaba por se assumir 
como transmissor de conhecimentos, pedagogo, 
psicólogo, sociólogo,... e até “aprendiz de feiticeiro”, 
não sendo por isso estranho considerar-se a 
actividade docente uma profissão de desgaste 
rápido.
Professores. Uma tão nobre missão que tem vindo a 
ser progressivamente desvalorizada (e por isso 
iremos - já estamos - a pagar um preço elevado), 
traduzindo-se em:
- “pouco reconhecimento social, numa crescente 
pressão dos encarregados de educação, ataques à 
imagem da classe na comunicação social, onde 
germinam opiniões pseudo-especializadas de (não) 
especialistas sobre a educação e a vida nas escolas, 
categorizações e generalizações abusivas;
Diminuição dos direitos e das condições laborais; 
aumento da precariedade e da incerteza; cortes 
salariais; alterações ao nível da protecção e segurança 
social; aumento do tempo de trabalho e da idade de 
reforma.”2
Professores. E cada vez há menos. Podem brandir 
gráficos e estatísticas, números e orçamentos que, 
neste como em muitos outros casos, a percepção 
não engana: cada vez há menos professores, mais 
mal pagos e com menos condições.
Este tema é tão importante e pertinente que 
apetece organizar um ciclo de conferências sobre o 
assunto onde pudessem ser ouvidos todos os 
participantes do processo educativo: professores, 
alunos, auxiliares, gestores, encarregados de 
educação, representantes do ministério, ...
Pensando bem nesta ideia é isso mesmo que irei 
propor na Associação que integro, a Cacav.
***
Recentemente procedeu o Ministério da Educação a 
uma descentralização de competências para as 
Autarquias Locais. As escolas ficam sob 
responsabilidade das autarquias. O processo é 
recente e carece de mais algum tempo para se 
poder tirar conclusões mas o que já se vai ouvindo 
por aí é que «descentralizaram responsabilidades 
mas não os recursos necessários».
Vamos ficar atentos.
1 José Miguel Oliveira, “Dar aulas é fácil. Difícil é ser 
professor!”, pág. 10;
2 ibidem, pág. 125
3. O terceiro S: Saúde.
Uma das maiores conquistas do 25 de Abril foi a 
criação de um Serviço Nacional de Saúde 
tendencialmente gratuito para todos.
É uma conquista de elevado alcance, garante que a 
ninguém será negada assistência médica por falta de 
meios. Muito à frente de outros países apresentados 
como modelos de desenvolvimento onde, neste 
domínio da saúde (e também noutros), campeia a 
barbárie. É o garante de que a assistência na saúde é 
um direito e não um negócio como ficou 
exuberantemente provado neste período de 
pandemia do covid que grassou no mundo.
Exuberantemente provados os propósitos quer do 
SNS quer dos grupos privados da saúde. Só não vê 
quem não quiser ver.
Todos os serviços que são indispensáveis e públicos, 
tendencialmente gratuitos portanto, têm vindo a ser 
sujeitos a uma pressão cada vez maior por parte dos 
privados.
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Tal situação tem sido particularmente evidente no 
domínio da saúde (embora também se verifique no 
domínio da educação) e tem vindo a provocar um 
evidente desgaste no SNS e nos seus profissionais.
Os motivos repetem-se: faltam profissionais e faltam 
meios.
Faltam médicos, enfermeiros, técnicos de 
diagnóstico, pessoal auxiliar, ...
Consequência do arrastar de tal situação, é o facto de 
os profissionais do SNS serem chamados, cada vez 
mais, a trabalho extraordinário.
Tratando-se de profissões sujeitas a enorme 
responsabilidade e elevado desgaste, e porque as 
capacidades humanas não são ilimitadas, os serviços 
estão a entrar em ruptura um pouco por todo o país.
Os serviços de obstetrícia claudicaram um pouco por 
todo o lado com consequências dramáticas, nalguns 
casos, como todos sabemos.
As listas de espera para consultas externas e 
intervenções cirúrgicas continuam a crescer e a 
dilatar.
Nos centros de saúde assiste-se à ignomínia de os 
utentes terem de ir de madrugada para as filas de 
espera na esperança, frequentemente frustrada, de 
conseguirem uma consulta.
Faltam médicos de família. Só na freguesia de Alhos 
Vedros há mais de 5.000 utentes sem médico de 
família.
A ministra Marta Temido, que estoicamente 
enfrentou a crise pandémica, demitiu-se. Não é de 
admirar, todos temos limites. E no entanto, todos 
sabemos que a culpa da situação não é da ministra. A 
culpa é de quem enfia a cabeça na areia e não vê 
porque não quer ver.
O SNS tem falta de meios e de profissionais. Tem falta 
de um plano de carreiras para os seus profissionais 
que seja aliciante e os fidelize em exclusividade.
Mas também aqui os que exercem o poder brandem 
mapas, gráficos e relatórios, extrapolam números 
tentando-nos convencer de que está tudo bem 
quando a nossa percepção não engana e nos 
evidencia que não está, não se conseguindo 
responder às necessidades. Não porque os 
profissionais sejam maus, antes pelo contrário, é por 
serem insuficientes.
E também os profissionais de saúde têm vindo a ser 
desvalorizados.
Quer ao nível das condições salariais que são 
insuficientes quer ao nível de um plano de carreiras 
que seja aliciante e motivador.
Estamos em situação preocupante em áreas 
sensíveis da sociedade.
Trabalho, Educação, Saúde. E não falamos de Justiça 
porque o tema não é aqui tratado.
Está mais do que na hora de arrepiar caminho. Já 
ontem era tarde!
***
E já que falamos de saúde convém atentar no 
seguinte:
O planeta Terra é um organismo vivo e também ele 
está doente, muito doente. Precisamos tratar dele 
até porque, como se sabe, não há Planeta B.
Só algunsdados:
Desde que as Nações Unidas reconheceram a 
existência de alterações climáticas, nos anos 70, as 
emissões mundiais praticamente duplicaram.
Os últimos cinco anos foram os mais quentes desde 
que há registos, mas o compromisso de redução das 
emissões poluentes nos acordos climáticos 
internacionais ficou por cumprir. Por este caminho – 
e apesar dos discursos bem intencionados – todas as 
metas para limitar o aumento da temperatura 
ficarão por atingir nos próximos anos, empurrando o 
planeta para a catástrofe. Mas muita gente, 
sobretudo as gerações mais jovens, já percebeu a 
dimensão do problema e sai às ruas em todo o 
mundo para exigir acção urgente dos governos. Não 
bastam promessas e acordos no papel. É preciso 
descarbonizar a economia agora e não ficar à espera 
de 2050, porque nessa altura já será tarde de mais.
A luta em defesa do planeta e do seu equilíbrio é para 
já e para agora e é uma luta de todos, diária e 
permanente, onde devemos tentar pôr em prática a 
máxima de “pensar global, agir local”.
Significa isto que sem perder de vista o fenómeno à 
sua escala global devemos procurar acudir ao que 
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nos é mais próximo já que há muito por fazer. 
Devemos começar, desde logo, por alterar os nossos 
próprios hábitos dando especial atenção ao 
consumismo supérfluo, ao reciclar dos lixos 
domésticos, ao restringir a utilização automóvel ao 
indispensável, ao moderar o consumo da água e 
outros procedimentos diários que, no seu conjunto, 
podem ajudar qualquer coisinha na luta maior que é 
necessário travar. Por todos, já que ninguém está 
isento nem se deve demitir.
Creio que estaremos de acordo ao considerar que 
vale a pena pensar nisto. E, depois, tentar agir em 
conformidade. (...)"
Edição 9/2022 - Maria Gabriel Filipe
"(...) Escolha o comércio tradicional e surpreenda-se 
com as pequenas histórias da Vila ou dos bairros, de 
quem lá vive e trabalha.
As lojas, sejam antigas ou mais recentes, fazem parte 
da identidade da terra, da rotina diária. Têm a 
vantagem de ter um atendimento personalizado, em 
que se pode confiar e fazem qualquer pessoa sentir-
se em casa. Muitas têm uma história que se identifica 
no mobiliário ou na decoração e foram passando 
pelo tempo graças à paixão dos seus proprietários.
Escolher o comércio tradicional para fazer compras é 
também uma forma de contribuir para salvaguardar 
este património e fazer parte da história local.
Em cafés antigos, bares, relojoarias, talhos, lojas de 
tecidos ou roupa, retrosarias onde se encontram 
peças únicas, há muitas histórias a descobrir.
Não podemos esquecer que, em situações de maior 
dificuldade, era no pequeno comércio que se 
socorriam todos aqueles que necessitavam de 
crédito para alimentarem as suas casas, vestirem os 
seus filhos, levantarem as reformas que chegavam 
por vales de correio, etc.
Hoje, é o pequeno comércio, aquele que deu alma e 
vida às suas terras, que mais sente as vicissitudes da 
atual situação.
Vamos ajudar o comércio local e dezenas de 
famílias que dele dependem.
A sensação de entrar na mercearia ao pé de casa e 
receber um “Bom dia, Gabriela” ou no café da 
esquina ou ao fundo da rua e ouvir “Então, o que vai 
ser? É o costume?” é uma sensação única, comum 
nos nossos bairros ou na Vila. Este é o comércio local 
na sua mais profunda identidade – recheado de 
relacionamentos de proximidade e atendimento 
personalizado.
Quando a pandemia chegou e apanhou todos 
desprevenidos, as pessoas mudaram a forma de 
estar, socializar e viver. 
As compras no comércio local, especialmente nas 
lojas de comida, aumentaram, seja pela proximidade 
e conveniência das lojas – as pessoas estiveram mais 
tempo em casa e evitavam fazer grandes 
deslocações.
O comércio local é uma atividade bastante 
representativa da nossa economia. Das lojas 
familiares que passam o seu legado de geração em 
geração, às novas tendências que vão dando mais 
vida à localidade, estas lojas lutam pela sua 
sobrevivência em tempos de consumismo de 
massas e contra as grandes superfícies.
Numa altura em que o on-line passa a ser crucial 
para a sobrevivência de qualquer empresa, loja ou 
atividade, é importante perceber, para além dos 
apoios económicos, como este sector de atividade 
pode vingar nos dias de hoje. Uma das respostas 
pode passar pelo contar histórias: a história da loja, as 
memórias da terra, as peripécias de uma atividade 
familiar.
Não deixar que o comércio local desabe perante a 
incerteza económica é crucial para a nossa economia 
porque são geradoras de postos de trabalho, pela 
autonomia da Câmara Municipal, através do 
cumprimento das obrigações fiscais, e por manter o 
dinheiro a circular.
Comprar local é a forma mais fácil e a mais imediata 
de apoiar. Procurar farmácias, padarias, talhos, 
mercearias, cafés, cabeleireiros, etc. nas redondezas. 
Trocar as grandes redes pelos pequenos 
comerciantes, pode ajudar a dar um pequeno fôlego 
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às finanças de um pequeno comerciante, para além 
de ter um efeito multiplicador de emprego.
Se comprarmos numa loja, esta terá que contratar 
um contabilista local, por exemplo, o proprietário e 
seus funcionários podem ir a restaurantes locais e a 
outras lojas próximas.
Todos nós conhecemos alguém que tem uma loja de 
roupa, um café, um restaurante, um bar, um 
cabeleireiro. Tornarmo-nos cliente desse alguém e 
incentivarmos outros a serem clientes, tornamo-nos 
responsáveis por garantir uma receita mensal que 
permite o funcionamento do negócio.
Só há vantagens em ajudar o comércio local.
- O período de pandemia mostrou fragilidade do 
comércio local. Agora é importante ajudar estes 
negócios e manter as suas lojas. A melhor forma de 
fazer é trocar o hipermercado pela compra local.
- As lojas de rua são pequenas e acolhedoras, são 
perto das nossas casas e não precisamos de 
transporte para lá chegar.
- Temos atendimento personalizado. O dono da 
padaria já sabe o que queremos, o café recebe-nos 
com o pedido de sempre, etc.
- Em regra geral, a qualidade dos produtos no 
comércio local, supera em muito os da produção em 
massa, disponíveis nos hipermercados.
O comércio local pode ser descoberto ao 
explorarmos as lojas que rodeiam a nossa casa, mas 
também em alternativas digitais, como aplicações e 
plataformas on-line.
A existência de políticas públicas dirigidas ao apoio a 
estas atividades económicas, criadoras de emprego, 
é hoje uma excelente oportunidade de valorização 
de recursos.
Ao Município e respectivas Freguesias compete dar 
apoio e incentivo à proteção dos estabelecimentos, 
integrando em programas de apoio ao comércio 
tradicional. (...)"
Edição 10/2022 - João Paulo de Sousa da Silva 
Gaspar
"(...) Quando recebi o simpático convite do Fábio 
Silvano para escrever o Editorial da Revista Sentir 
Alhos Vedros, projeto incrível de louvar que 
acompanho, pensei de imediato se sabia que tema 
iria abordar, pensei nos mais de 20 anos de pesquisa 
genealógica sobre as gentes de Alhos Vedros, desde 
o Séc. XVI até ao Séc. XX, contar as suas incríveis 
histórias de vida, de como as suas vidas fazem parte 
dos dias de hoje, de como se fez o “caminho de 
Ferro” no Sec. XIX , dos que arrotearam campos, dos 
que construíram marinhas , dos que faziam sal , dos 
que construíram monumentos que nos chegam aos 
dias de hoje e de que obra iremos deixar para ser 
avaliada daqui a 100 anos? Como vamos ser 
conhecidos?
Estas e outras questões inquietam-me e como tal 
seria um belo Editorial.
Mas dias depois mudei de ideias e pensei em falar 
sobre Arquitetura civil na nossa Freguesia, 
mostrando ao olhar mais desatento a beleza de 
edifícios que urge preservar antes que sejam 
reduzidos a nada e Alhos Vedros continue a ficar 
mais pobre, mas esse levantamento e o das Árvores 
Monumentais demorará mais algum tempo a ficar 
completo, e a seu tempopoderá ter interesse de ser 
partilhado.
Então numa crise de criatividade, mas seguro que a 
honra de escrever um editorial não deverá ficar 
reduzido a uma promoção narcísica como tantos 
outros, compreendi que o editorial deverá ser sobre o 
facto que nos une a todos e nos distingue dos 
demais que é “Ser Alhosvedrense”!
Ser de Alhos Vedros é um privilégio e uma angústia, 
privilégio por crescermos numa Vila com tanta 
historia e tanto passado que desde crianças que 
somos intensos, envolvidos na sociedade... e uma 
angústia porque a queremos mais e melhor e a 
temos visto definhar como uma bela senhora de 
outrora que fora abandonada a um canto para 
morrer. 
Relembro vários momentos da minha vida com a 
maior ternura e saudade, os Carnavais da Velhinha 
em que grande parte da comunidade se envolvia, de 
pessoas extraordinárias tais como é exemplo o Vítor 
Cabral, a Dona Edite, a Fatinha, a Dona Luisinha, da 
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Paula Panoias, do Cláudio Neves, da Vanessa 
Lavrador, Torcato a Vitália e os filhos, o Vladimir de 
Sousa, a mulher e os filhos e tantos outros que 
fizeram os melhores Carnavais da vida de tantos de 
nós! Os bailes da Velhinha , a cave e as suas tertúlias , 
percorrer os corredores e andares da nossa Velhinha 
nesses tempo, fazia-me imaginar ao encontrar uns 
instrumentos da Banda, como teria sido Alhos 
Vedros e a Velhinha no tempo do meu avô Joaquim 
de Sousa o Barrote e do seu pai António Pedro de 
Sousa, ambos músicos da Banda da Velhinha? Como 
seriam as tardes de Domingo com a banda no 
coreto, ou a grafonola na janela da Velhinha a dar 
música todos os Domingos para o jardim em frente? 
Como seria o Cinema e as suas dinâmicas? Quem se 
lembra das marchas populares do Bairro Gouveia e 
do Saudoso Ezequiel? dos Jogos do CRI , 
da Dinossauros e antes dela a Mobil Garden, do La 
Fontaine nas Arroteias, de celebrar o dia da Árvore no 
destruído Parque dos Eucaliptos , nas Cavalhadas no 
Xico Pires, no Baile da Pinha, tantas são as pessoas e 
as memórias que não caberão num só artigo.
E como este editorial é sobre todos nós, sobre as 
nossas memórias e sobre que memórias queremos 
construir hoje para o amanhã, vou terminar com 
uma história verídica que resume muito bem este 
sentimento de comunidade e pertença que todos 
devemos almejar reconstruir para a nossa amada Vila 
de Alhos Vedros e devemos recordar sempre e para 
não voltarmos a repetir erros do passado que, Um 
Mundo de Igualdade não é feito de Pessoas Iguais 
mais de pessoas com direitos iguais para serem 
diferentes.
Alhos Vedros e a sua maior riqueza foi sempre a 
diversidade de gentes que aqui convergiam para 
criar algo único e especial. Respeitar as diferenças e a 
partir dai construir algo grandioso é a lição que os 
nossos antepassados nos deixaram, mas que 
teimosamente não quisemos ouvir.
Aqui fica esta memória.
Esta história verídica é me contada pela minha mãe 
Raquel , que ouvia o seu pai contar...
No Século XIX em Alhos Vedros, não sei precisar o 
ano, fora Corregedor da Vila de Alhos Vedros, o Sr. 
Eusébio António de Sousa (bisavô da minha mãe, 
fora batizado em Alhos Vedros em 1820 e morava ele 
mais ou menos onde é a casa do Victor Cabral), certa 
noite, o foram chamar a casa, porque havia dias que 
a população de Alhos Vedros andava assustada , 
eram ouvidos barulhos estranhos , vindos de outro 
Mundo seguramente, no cemitério da Vila, pela noite.
O Eusébio lá rumou até ao cemitério, seguido por 
um número de gente, homens e mulheres com paus 
e terços, com medo, mas juntos, lá foram ver de 
expulsar as almas d’outro Mundo. Chegados ao 
cemitério da Vila, ficaram todos ao longe vendo o 
Corregedor Eusébio entrar porta adentro destemido 
e um silencio ensurdecedor reinou. Minutos depois 
saíram a correr uns quantos burros assustados e 
atrás deles o Corregedor a gritar: aqui têm as almas 
penadas” e entre gritos de susto e gargalhadas de 
alívio, ficou desvendado o mistério, eram os burros de 
saltimbancos que na calada da noite pastavam no 
cemitério. (...)"
Edição 11/2022 - Joaquim Raminhos
"(...) AS MEMÓRIAS QUE NOS MARCAM E FAZEM 
CRESCER
Todos os povos, todas as comunidades têm as suas 
memórias, que constituem referências fundamentais 
da sua identidade social e cultural, que se perpetuam 
no tempo, de geração em geração, constituindo um 
património histórico, que contribui para 
entendermos melhor o presente e perspetivarmos o 
futuro.
A Vila de Alhos Vedros pela sua antiguidade e pelos 
contextos vividos, caracteriza-se por uma grande 
riqueza histórica, quer pela importância que foi 
adquirindo na administração de um vasto território, 
do então designado Concelho do Ribatejo, cujos 
limites se estendiam da então aldeia Galega 
(Montijo), até Coina, quer pelas vivências sociais, 
económicas e culturais registadas ao longo de 
séculos, que António Ventura muito bem caracteriza 
na sua investigação.
Muitas das memórias de Alhos Vedros estarão ainda 
Edição Especial
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por registar, mas muitos factos históricos têm vindo à 
luz do dia, através do trabalho, de investigadores, de 
antropólogos e de historiadores, como António 
Gonzalez, António Ventura, José Manuel Vargas e 
tantos outros, que têm dado importantes contributos 
para o conhecimento e compreensão da evolução do 
nosso território regional e local, sobre o património 
construído, sobre as atividades aqui desenvolvidas e 
sobre os modos de vida e das relações humanas que 
se foram construindo ao longo dos tempos.
Sem precisarmos de nos colocar em bicos de pés, 
Alhos Vedros regista nas memórias da sua história 
local, muitos acontecimentos que nos orgulham e 
que não podem cair no esquecimento nem no 
anonimato. 
É certo que fruto da evolução dos tempos, Alhos 
Vedros que foi sede de concelho, deixou de o ser, 
mas fica-nos a memória de alguns factos de relevo 
na nossa história, como a chegada do rei D. João I a 
Alhos Vedros, vindo refugiar-se dos efeitos da peste, 
que alastrava pelo país e por Lisboa. A vinda dos 
Infantes a Alhos Vedros, no ano de 1415, (D. Duarte, D. 
Pedro e o Infante D. Henrique ), a designada “ínclita 
geração”, que vieram reunir-se com o pai, a fim de 
receberem a permissão para partirem para a 
expansão ultramarina, que seria a epopeia dos 
descobrimentos, são alguns factos que enaltecem a 
história local da nossa Vila ribeirinha.
Mas as memórias de Alhos Vedros também se 
estendem às gentes que aqui têm vivido, gente 
simples e humilde que constituíram família e aqui 
desenvolveram a sua atividade social e laboral, de 
início com maior incidência na agricultura, com uma 
ligação muito estreita com a vida ribeirinha, nas 
atividades da pesca e da extração do sal, nas salinas 
que proliferavam ao longo da nossa frente ribeirinha 
do Tejo.
A extração do sal foi uma atividade de algum relevo e 
que marcou muitas gerações. Com a sua mestria e 
ensinamentos ancestrais, passados de geração em 
geração, os homens das salinas moldavam os talhos, 
preparavam a água até ao final do circuito, para 
fazerem a rapação do sal, que tinha sido facultado 
com a ajuda do efeito do calor do verão. No final do 
verão avistavam-se ao longo da borda d ́água muitas 
serras de sal, que aguardavam o seu em embarque, e 
transporte através do rio para outras paragens. No 
entanto, devido a conjunturas económicas e 
concorrências de mercado, esta atividade foi 
perdendo o seu fulgor e as últimas salinas ainda 
funcionaram até à década de 80. Hoje praticamente 
estão todas extintas.
Mas esta ocupação era sazonal, ocupando a mão de 
obre no verão e era repartida pela atividade corticeira 
que na primeira metade do Sec. XX, veio a 
transformar Alhos Vedros num núcleo onde se 
aglutinavam bastantes fábricas de cortiça, que 
empregavam muitos residentes e constituía o 
sustento de muitas famílias. A vida de Alhos Vedros 
foi marcada ao longo de décadaspor esta atividade. 
A cortiça depois de ser retirada dos sobreiros, 
principalmente nas herdades alentejanas, era aqui 
trabalhada, cozida, selecionada e enfardada, para ser 
comercializada e exportada. Em dias de embarque 
da cortiça já trabalhada nas fábricas, as carroças e 
galérias puxadas por animais, movimentavam-se nas 
ruas num vai vem, em direção ao Cais de Alhos 
Vedros, onde os fardos eram descarregados e 
levados às costas pela força humana, para dentro das 
fragatas, que seguiriam pelo rio Tejo até Lisboa.
Na segunda metade do Séc. XX, todo este 
movimento industrial começou a entrar em declínio, 
e as fábricas foram encerrando uma após outra, 
restando hoje apenas uma em atividade plena.
Esta atividade corticeira envolveu toda a vida social 
de Alhos Vedros. Logo pela manhã, ao som da buzina 
da fábrica do Rolim, que ecoava por toda a Vila, 
cadenciava-se o ritmo das pessoas que despertavam 
para mais um dia ativo. Uns caminhavam em passo 
acelerado para as fábricas, outros iam para a escola e 
outros que iam ocupar os seus postos de trabalho 
nalgum comércio e serviços aqui existentes.
Relembrando ainda a atividade industrial, nestas 
memórias não podemos esquecer o surgimento das 
fábricas de confeções, que alimentadas por capitais 
do norte da Europa, vieram ocupar por algum tempo
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o “espaço” deixado pela atividade corticeira, a Gefa, a 
Bore, a Norporte e a Helly Hansen, são algumas 
daquelas que ainda recordo.
Aqui se empregava mão de obra essencialmente 
feminina, que logo de manhã dava vida às ruas de 
Alhos Vedros, caminhando às dezenas para as 
fábricas. À hora do almoço com as batas de várias 
cores, passavam pelas ruas imprimindo um colorido 
pouco vulgar. Mas as conjunturas económicas e 
empresariais esfumaram toda esta dinâmica, e uma 
após outra todas as fábricas de confeções em Alhos 
Vedros encerraram. Hoje ainda restam em 
escombros testemunhos de uma outra época.
A propósito de comércio, nestas memórias não 
poderemos esquecer a existência da Cooperativa 
Operária de Crédito e Consumo de Alhos Vedros, 
fundada em 25/05/1916, cuja sede ainda está de pé, 
onde a partir das 18 h. abria as suas portas, para 
atender os trabalhadores que saíam aquela hora das 
fábricas. Era assim naquele tempo.
Ainda me recordo do sr. Serafim que vinha à pressa 
da fábrica e ia para trás do balcão com a sua bata 
cinzenta, para atender os clientes (sócios).
Esta organização em cooperativa permitia fazer 
frente a muitas dificuldades económicas, sentidas 
por todas as famílias trabalhadoras que viviam em 
Alhos Vedros.
As despesas eram feitas mediante o registo feito 
numa caderneta de cada sócio, cujo saldo ia sendo 
liquidado conforme as possibilidades de cada um 
naquele mês.
No final do ano, quando a Cooperativa registava 
alguns lucros, estes eram distribuídos pelos sócios. 
Era a nossa grande superfície comercial.
O Associativismo teve sempre uma componente 
muito forte aqui em Alhos Vedros, onde as 
coletividades eram locais de encontro, de convívio e 
de diversão, das passagens de ano, ou dos bailes da 
pinha. Mas também eram polos de cultura e 
aprendizagem, onde também não faltavam as 
bibliotecas, nalgumas havia teatro e temos a realçar a 
banda filarmónica da SFRUA. É de realçar também o 
ensino do Esperanto, uma linguagem 
internacionalista que permitia a comunicação de 
todos os povos na mesma língua, cujo mestre Aníbal 
Paula dinamizava as aulas no CRI e na SFRUA. No 
entanto o regime político nunca viu com bons olhos 
estes ensinamentos, considerados subversivos.
Nestas memórias é de referir o papel que muitas 
Associações tiveram na resistência ao obscurantismo, 
à censura e à ditadura fascista quereinou no nosso 
país até ao 25 de Abril/74.
Algumas destas coletividades eram revistadas pela 
PIDE (polícia política), onde por vezes apreendiam os 
livros das bibliotecas, por conterem conteúdos 
considerados subversivos, e algumas bibliotecas 
chegaram a ser seladas.
Falando de resistência ao fascismo, Alhos Vedros 
regista nas suas memórias muitas perseguições e 
prisões de homens e mulheres, que apesar de todas 
as dificuldades nunca baixaram os braços, contra a
repressão pela liberdade e democracia.
Não devem cair no esquecimento os cercos que a 
PIDE fazia na rua da Corça, em perseguição de 
ativistas da resistência, como o Germano.
Talvez a história da rua da Corsa ainda esteja por 
contar.
Não poderei deixar de referir aqui um episódio, 
contado pelo José Filipe, que já não está entre nós, 
vivido enquanto músico da Banda da SFRUA. A fim 
de se festejar o fim da Segunda Guerra Mundial, a 
Banda Filarmónica saiu a tocar, em desfile pelas ruas. 
Mas a festa foi interrompida por uma brutal carga 
policial, motivando a dispersão de todos músicos. 
Segundo nos relatou o José Filipe, conseguiu fugir 
atravessando o esteiro a nado, do lado da Corsa para 
o Cais de Alhos Vedros, tendo conseguido salvar o 
seu clarinete, que era o instrumento com que tocava 
na Banda.
Neste contexto não posso deixar de referir a atividade 
da Academia M.R. 8 de Janeiro, que foi uma 
referência para muitas gerações, foi uma escola social 
e política, onde não faltavam as tertúlias, os colóquios, 
com diversas figuras da oposição como Urbano 
Tavares Rodrigues, Isabel do Carmo e tantos outros, 
não esquecendo as músicas do Zé Mário Branco e do
Edição Especial
Pág. 25
Zeca Afonso que nos visitou por diversas vezes.
Ao terminar estas referências sobre memórias de 
Alhos Vedros, não poderia deixar de recordar o velho 
cais, onde se “guardam”, tantas histórias de vida de 
figuras como o Mário da Graça, o João Mantas, o 
Manuel Tavares, e tantos outros que nos deixaram 
páginas da história da vida ribeirinha, que talvez 
ainda estejam por escrever.
Fica-nos também a saudade dos barcos, das fragatas, 
dos varinos e das canoas, que com as velas abertas ao 
vento, nos acenavam para as margens dos esteiros e 
do estuário.
Deixo apenas uma referência à “Pombinha” uma 
canoa de Alhos Vedros, que hoje talvez ainda 
pudesse estar ancorada no cais, a testemunhar 
tantas viagens e aventuras vividas no nosso Tejo, mas 
veio a terminar os seus dias no estaleiro do mestre 
Jaime em Sarilhos Pequenos.
Agora em pleno Séc. XXI, vamos continuar a “navegar 
à bolina”, olhando a linha do horizonte e levando no 
farnel tantas memórias que serão o fermento para 
continuar a viagem.
Estando em vésperas da inauguração das obras do 
palacete dos Condes de Sampaio, que será o espaço 
do Museu Municipal, talvez também tenha lugar a 
ideia da criação da Casa das Memórias de Alhos 
Vedros, onde possamos reunir todo um espólio 
histórico que está disperso em casas particulares, em 
arquivos ou bibliotecas. (...)"
Edição 12/2023 - Andreia Ramos
"(...) No passado mês de dezembro abrimos portas do 
Palacete do Morgado da Casa da Cova / Condes de 
Sampayo, localizado no Largo do Descarregador, em 
Alhos Vedros, após a conclusão da primeira fase das 
obras de reabilitação. Envolvidos por estas paredes 
históricas, é-nos possível observar uma exposição da 
Coleção Régia, um conjunto de pinturas do século 
XVIII que retratam e representam os reis de Portugal, 
da autoria do pintor e retratista Miguel António do 
Amaral. Coleção essa que se encontra à guarda do 
Município desde finais do século XIX, e é única no 
país, sendo constituída por 26 quadros, dos quais 19 
integram esta exposição e são exibidos ao grande 
público pela primeira vez.
Há algo sobre a história de reis e rainhas, príncipes e 
princesas, que sempre me fascinou, pelo que este 
tema é-me impossível de ignorar. E esta vila, embora 
muitos não o saibam, está ligada desde cedo a reis e 
rainhas, príncipes e princesas.
E, portanto, por entre outros motivos, fascina-me.
Ao longo do século XV, Alhos Vedros conquistou a 
reputação de ser uma povoação de ares saudáveis e 
aprazíveis,funcionando como zona de veraneio para 
algumas famílias nobres portuguesas. E, em 1415, na 
sequência da pandemia de Peste Negra que 
assolava a capital e levou à morte da própria rainha 
Da Filipa de Lencastre, é em Alhos Vedros que o rei D. 
João I se refugia, a pedido do seu Conselho, de forma 
a afastar-se dos ambientes pestíferos da epidemia.
Após a morte da rainha, os Infantes reuniram-se duas 
vezes com o seu pai, em Alhos Vedros. Foi num 
desses encontros que o monarca tomou a decisão 
final de dar continuidade à expedição da tomada de 
Ceuta que estava já planeada desde o ano de 1412. 
Enquanto os três Infantes retornaram à capital para 
ultimarem os preparativos da viagem, o Rei 
permaneceu na nossa vila, saindo apenas na 
antevéspera da partida da armada para Ceuta, para o 
Restelo, com o seu filho, D. Afonso, Conde de 
Barcelos.
Este passo, tomado nesta vila, simboliza o começo da 
expansão ultramarina portuguesa.
Deixo-vos assim o meu convite para, nos próximos 
dias, visitarem a Coleção Régia no Palacete do 
Morgado da Casa da Cova / Condes de Sampayo e 
também vocês inspirarem um pouco da magia de 
reis e rainhas, príncipes e princesas, que respiramos 
aqui na nossa vila. (...)"
Edição 13/2023 - Cláudio Neves
"(...) O Carnaval em Alhos Vedros, já é uma tradição 
que vem de há muito tempo.
Na década de 50, do século passado, era normal na 
altura do Carnaval, saírem grupos de jovens e 
adultos, de carroça, a brincar ao Entrudo, faziam 
Edição Especial
Pág. 26
desde as Arroteias passando por Alhos Vedros, 
passavam as marinhas e iam até à Baixa da Banheira. 
Era muito usual nessa altura, serem surpreendidos 
pelo caminho por outros que moravam nessas zonas 
e lhes faziam partidas de Carnaval.
Na minha memória, tenho muito presente, ser 
levado pelo meu pai nos dias de Carnaval (Domingo 
ou Terça-Feira) até à zona do coreto para assistir ás 
brincadeiras que existam nessa zona por essa altura, 
raro era o carro que passava por essa área que não 
tinha a surpresa de ficar todo encharcado, tal era a 
força da água que vinha das dezenas de pessoas que 
se aglomeravam por ali...
Durante os anos 80, começou então a ser organizado 
pela SFRUA o Corso de Carnaval, no primeiro ano tive 
o privilégio de participar, numa charrete, 
devidamente trajado pelo Rancho Folclórico do 
Clube das Arroteias.
Nessa altura, existia um grupo muito bonito e muito 
bem organizado no Bairro Gouveia, que tinha a sua 
sede no GRF, saíam do bairro até à vila para se 
juntarem ao desfile de Carnaval, acabou com a morte 
prematura do principal organizador (foi pena).
 Foi o início da aventura para mim. Depois dessa 
participação comecei a integrar o desfile de Carnaval, 
e a seu tempo, fazer parte daquela organização que 
muito me orgulha e onde aprendi imenso.
Foi um local onde aprendi, conheci pessoas que levo 
para a vida, e que prezo para que se mantenha 
sempre atual.
De há alguns anos a esta parte, como elemento do 
Rancho das Arroteias, numa altura em que as 
associações estavam a passar uma situação muito 
difícil, pensámos em criar uma escola de samba nas 
Arroteias, poderíamos desta forma revitalizar a 
coletividade e trazer esta festa para o bairro. Foi então 
que nasceu a ESUCA (Escola de Samba Unidos do 
Clube das Arroteias). No início, a medo, criámos o 
grupo de passistas, que foi crescendo e que 
atualmente já tem trabalho feito e reconhecido. No 
ano de 2023, apareceu a Bateria Ousada, projeto de 
precursão em parceria com o grupo musical 
OUSADIA, que se irão apresentar pela primeira vez no
desfile de Carnaval da ESUCA deste ano. (...)"
 Edição 14/2023 - Edgar Cantante
"(...) Antes de iniciar esta breve reflexão sobre a 
importância do Associativismo na nossa 
comunidade, quero agradecer o convite que me foi 
endereçado pelo "Sentir Alhos Vedros" para escrever 
um artigo, à minha escolha, para a sua revista.
Nos tempos que correm, em que se acentua o 
individualismo, o isolamento, a competição, o 
fervilhar dos interesses pessoais acima dos interesses 
coletivos, o aparecimento de um grupo de jovens 
com esta iniciativa de fazer uma revista para dar a 
conhecer e a valorizar a sua terra, assume uma 
enorme importância ao contrariar aquilo que, há 
muito tempo, se sente: a crise e algum declínio do 
associativismo.
Neste sentido, devemos reconhecer a importância 
que as coletividades e todo o movimento associativo 
tiveram, antes e depois do 25 de abril, nas nossas 
terras e nas nossas gentes, ao promover o convívio, a 
formação cívica, a aproximação entre as pessoas, a 
instrução e o recreio, a consciencialização política, a 
cultura e o desporto.
Como sinal de reconhecimento e gratidão, é de toda 
a justiça, destacar e homenagear as várias gerações 
de dirigentes associativos que num espírito de 
voluntariado, de entrega aos outros, sem ter 
qualquer retribuição monetária, nas horas livres, 
depois da sua atividade profissional, de alma e 
coração, sempre se disponibilizaram para servir o 
interesse coletivo.
Num outro plano e como consequência de todo este 
importante trabalho realizado nas coletividades, é de 
destacar o seu contributo para a consciencialização e 
formação de muitos dos dirigentes políticos e 
autárquicos no pós 25 de Abril que com esses 
ensinamentos e experiência, contribuíram 
decisivamente para o progresso e desenvolvimento 
locais.
É preciso ter sempre presente, que a liberdade e a 
democracia são como as plantas sensíveis, que 
precisam de ser cuidadas e regadas regularmente, 
Edição Especial
Pág. 27
caso contrário não sobrevivem. Por isso, é da maior 
importância para o nosso futuro coletivo, que as 
gerações mais novas tenham consciência disso e 
também estejam disponíveis para participar e 
colaborar, de acordo com as suas possibilidades, nas 
várias iniciativas locais, nomeadamente nas reuniões 
públicas autárquicas onde são discutidos e se 
procuram as soluções para o problemas existentes.
A nossa Vila, em particular, que em tempos teve 
importância industrial, principalmente na cortiça e 
confeções, dando emprego a muita gente dos 
concelhos vizinhos, em que o comércio também era 
pujante e dinâmico. Como o prova, destacamos o 
facto de haver, por esses tempos, três agências 
bancárias e hoje não termos nenhuma.
Nos últimos tempos, a dinâmica da vila tem vindo a 
decair a vários níveis, estando hoje, de certa forma, 
reduzida, essencialmente a um dormitório. Por isso, 
são benvindos todos os esforços e contributos 
daqueles que gostam e sentem Alhos Vedros para 
que, em conjunto e não com divisões descabidas e 
sem sentido, possamos recolocar a nossa Vila onde 
sempre deveria ter permanecido. (...)"
Edição 15/2023 - Paula Diogo
"(...) Começo por agradecer à equipa do “Sentir Alhos 
Vedros” o convite que me endereçou para escrever o 
editorial deste número sobre um tema à minha 
escolha.
Depois de bastante reflexão e alguma angústia sobre 
a decisão do tema que escolheria para este editorial, 
por haverem tantos e tão pertinentes, inspirei-me no 
nome desta revista, “Sentir Alhos Vedros”, e esta 
pena, que é como quem diz os meus dedos, afagarão 
o teclado num mote que me é querido: “Sentir a 
primavera em Alhos Vedros”.
Com a chegada da primavera as temperaturas 
começam a aumentar, o céu torna-se mais claro, o 
sol mais radiante e os dias são maiores. Estes fatores 
contribuem para que o estado de espírito das 
pessoas, no geral, se torne mais alegre e positivo.
O início da primavera é, no entanto, um verdadeiro 
pesadelo para alguns por causa das alergias. Com a 
chegada da primavera, existe uma maior circulação 
de pólenes e fungos no ambiente exterior que 
induzem e acentuam os sintomas de alergias. Essas 
pessoas deverão adotar comportamentos que 
minimizem os efeitos da primavera nas suas alergias, 
não devendo, em certos horários, realizar atividades 
ao ar livre.
Para as outras pessoasé um deleite ouvir o chilrear 
dos passarinhos e o sentir a reflorestação da nossa 
primavera boreal através do odor dos jardins e dos 
campos, do cheiro da terra e do aroma esfuziante das 
flores.
A freguesia de Alhos Vedros, onde resido há cerca de 
20 anos, torna-se especialmente bela durante a 
época da Primavera. Como é do conhecimento de 
todos a primavera caracteriza-se por ser uma época 
do reflorescimento da flora terrestre. Em Alhos 
Vedros existem zonas com características rurais, 
ribeirinhas e urbanas. Em todas essas zonas sentimos 
a presença da primavera. O verde aparece de onde 
menos se espera e as flores estão por toda a parte, 
até nos terrenos que parecem abandonados ou não 
cultivados.
Quando caminhamos podemos observar uma flora 
diversificada e encontrar espécies tais como o Alho-
bravo, o Cachapeiro-das-Traças, o Cardo-dos-Picos, o 
Rosmaninho, a Salgadeira, o Espargo-bravo, o Bem-
me-quer, a Papoila-brava, entre outras. Os percursos 
pedestres são uma forma maravilhosa de ver com 
outros olhos a natureza e desfrutar deste meio 
deslumbrante que nos rodeia, através de atalhos, 
caminhos tradicionais e zonas agrícolas. Dito isto, 
proponho a todos nós promover em Alhos Vedros 
mais iniciativas de caminhadas organizadas, 
constituindo verdadeiros produtos de turismo ativo.
A prática de Passeios Pedestres é uma atividade de 
lazer de carácter lúdico, que pode ser feita de forma 
autónoma e independente. Mas, para que se torne 
uma prática saudável e segura para a população 
local ou visitante, é necessário definir e sinalizar trilhos 
nos vários locais. Temos espaços maravilhosos na 
nossa Freguesia, por onde podemos dar belos 
passeios, desfrutar de paisagens paradisíacas e 
Edição Especial
Pág. 28
únicas.
Puxando a brasa à minha sardinha, observemos 
matemática na natureza que nos rodeia:
- O número de pétalas numa flor segue, em muitas 
espécies, a sequência matemática conhecida por 
Fibonacci. A sequência de Fibonacci começa com os 
números 1 e 1. O número seguinte é o resultado da 
soma dos dois números anteriores (1+1=2). O número 
que se segue é o 3 (1+2) e depois o 5 (2+3) e assim 
sucessivamente. Esta sequência está muito presente 
na natureza, como por exemplo, no número de 
espirais numa pinha, na pereira, na ameixeira, na 
roseira, ou em sementes de um girassol.
- As simetrias nas flores são fenómenos muito 
interessantes de se observar. Elas têm um eixo 
central, à volta do qual as partes das flores se 
repetem. Acredita-se que várias flores têm simetrias 
para atrair polinizadores, como as abelhas e as 
borboletas. A simetria ajuda esses animais a 
identificar a posição do néctar e do pólen da flor. Se 
observarem uma borboleta, constatam facilmente 
que tem um eixo de simetria que divide o seu corpo 
e asas em duas metades muito semelhantes entre si. 
As simetrias são de facto muito comuns na natureza.
- Os flamingos, patos e gansos, tão típicos dos sapais 
de Alhos Vedros, voam em V para aproveitar a 
aerodinâmica do vento e poupar energia, 
conseguindo assim percorrer grandes distâncias. 
Quem vai à frente quebra a resistência do vento e as 
aves vão-se revezando.
- As formigas fazem operações aritméticas simples 
para calcular distâncias a percorrer até aos locais 
onde estão os alimentos, passando seguidamente 
essa informação aos restantes membros da colónia.
E poderia dar mais exemplos da matemática na 
natureza.
Para terminar, sentir a primavera é de todos, 
sintamos a natureza de Alhos Vedros que é para 
todos. Aproveitemos esta estação do ano.
Carpe diem! (...)"
Edição 16/2023 - Elvira Freitas
"(...) Falar sobre Alhos Vedros no mês que se celebra o
dia da mãe é, para mim, nostálgico!
À semelhança de muitos dos habitantes desta 
pacata vila, também eu, sou uma migrante há 
décadas por estas bandas! Oriunda da Ilha da 
Madeira decorria o ano de 1990 quando me radiquei 
no Bairro das Arroteias.
Ironicamente rua de migrantes alentejanos, fui 
literalmente, adoptada!
Sem laços familiares ganhei muitos “tios” e "tias", 
voltei a sentir-me na TERRA!
Duas décadas depois deixei de viver lá, mas os meus 
laços de fraternidade e amizade ainda hoje se 
mantêm! Continuo ligada à vila pois há dez anos que 
trabalho no Bairro da Quinta Fonte da Prata e 
também ali sou muito “amada”, gosto do bairro, das 
pessoas e de tudo o que lá se faz!
É dando que se recebe e procuro dar o maior 
contributo para ajudar as pessoas pois também ali há 
muitos emigrantes, alguns migrantes, gente 
deslocada à procura de uma “terra”!
Na década de 90 encontrei uma Alhos Vedros cheia 
de vida!
Eram dezenas, centenas de mulheres a “correr” para 
as fábricas!...
À hora de almoço era quase impossível ir a um banco 
ou a uma farmácia!
Até um hospital com urgências existia! Outrora 
maternidade... muitos se recordam da vida/ritmo de 
Alhos Vedros de então!
Mas tudo muda, e Alhos Vedros também “sofreu” a 
desaceleração do País, fábricas que fecharam, 
comércios abandonados e todo um desinvestimento 
que fez de Alhos Vedros quase uma vila “fantasma”.
E é hora de louvar e parabenizar a revista Sentir Alhos 
Vedros. Com esta iniciativa é possível fazer a ponte 
entre o antes e o agora.
Vão surgindo relatos que vão desde a história 
longínqua de Alhos Vedros, passando por ao longos 
dos tempos acontecimentos, pessoas, factos e 
actualidade com este e aquele acontecimento, este 
ou aquela história de vida. 
Parabéns pela iniciativa e continuem este belo 
trabalho de manter viva tão nobre Vila.
Com o vosso trabalho dão a conhecer e mantêm viva
Edição Especial
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 e presente a importância desta Vila!
Felizmente, hoje, Alhos Vedros vai “renascendo” e 
acredito que melhores dias virão.
A propósito de melhores dias virão, não vou finalizar 
sem deixar um apelo em jeito de desafio.
Para todos nós e vós, migrantes, naturais ou até 
emigrantes, é preciso amar o nosso espaço, o nosso 
Bairro, a nossa Vila, em suma a nossa "TERRA"!
Aprendam a amar esta terra tão “natural”, pois nós 
somos e fazemos o que nos rodeia!
É urgente cuidar, tratar, amar o nosso espaço, o 
espaço de todos.
Somos parte de um todo, pedras de uma mesma 
comunidade.
Não podemos esquecer que juntos somos mais 
fortes.
Não deixem o individualismo e o materialismo 
desvalorizar o ser humano que há em vós.
Se todos se lembrarem que existe o “outro” estou 
certa de que todos passarem a SENTIR e a CHAMAR 
esta terra de SUA/NOSSA - ALHOS VEDROS.
Edição 17/2023 - Tiago Faquinha
"(...) 50 anos de Feira do Livro de Alhos Vedros: Troféu 
Tiago Faquinha, Torneio Leonel Coelho e prémio de 
Conto Leonel Coelho.
Chegou junho. Tudo aponta para um mês quente 
como é esperado. E esperam-se consigo muitas 
iniciativas por parte do associativismo como tem 
vindo a ser regra ao longo dos anos. Umas por gosto, 
outras por paixão e outras ainda por teimosia.
As entidades institucionais lá vão apoiando uns e 
outros eventos. Mas muito se deve à “carolice”, de 
pequenos e/ou grandes grupos de pessoas que 
pretendem levar aos alhosvedrenses o que melhor 
sabem fazer.
Desenvolvendo projetos de cariz artístico, cultural ou 
desportivo.
A nossa Vila de Alhos Vedros não é muito grande 
mas é muito rica e diversificada em iniciativas. Umas 
já com décadas de existência e outras mais recentes. 
Este mês arrancou com mais uma edição do Festival 
de Rock. Segue- se a Feira Medieval e, por fim, e não 
menos importante - a 50a Edição da Feira do Livro de
Alhos Vedros.
É na Feira do Livro que me debruçarei, por ser 
dirigente da coletividade que a organiza, a Academia 
Musical e Recreativa 8 Janeiro, (AMR8J).
Este ano por celebrar um redondo número de 
edições são várias as niciativas agregadas que a 
organização a cargo da Academia Musica e 
Recreativa 8 janeiro tem planeadas para a 
comunidade.
A Feira do Livro de Alhos Vedros é a mais antiga do 
país a nível associativa.
Ao longo dosanos foram vários os locais da nossa vila 
histórica por onde passou. Este ano será realizada 
novamente no F.A.V.O (Fábrica de Artes Visuais e 
Ofícios), junto ao depósito da Água, em Alhos Vedros.
Apesar de ter inicio a 29 de junho, este ano antecipa 
as comemorações com mais uma edição do Troféu 
Tiago Faquinha a 17 de junho no Pavilhão da Escola 
Básica José Afonso com entrada grátis.
O Troféu Tiago Faquinha que este ano conta com a 
sua IX edição é um dos maiores eventos de Ginástica 
Aeróbica do país organizada a cargo de uma 
associação. A sua origem remonta a 2012 com a 
proposta de um diretor da Sfrua, de seu nome 
Fernando Dinis, que me propôs a organização de um 
evento de Ginástica Aeróbica na coletividade. Não 
hesitei e prontamente aceitei o convite e o desafio.
Afinal, todo o meu percurso e resultados ao longo 
dos anos (anteriores e posteriores), seriam motivo 
para organizar o evento que não seria mais do que: 
um motivo para dinamizar a disciplina, incrementar 
novas dinâmicas e impulsionar no concelho e distrito 
o gosto pela mesma.
O meu percurso gímnico começou na AMR8J com 
nove anos de idade. Mas foi na SFRUA que descobri a 
Ginástica Aeróbica. A disciplina da ginástica à qual 
estou ligado desde então. Fui ginasta, hoje treinador 
e juiz internacional.
Assim, fez todo o sentido iniciar lá o o projeto. Atleta 
na seleção nacional desde os meus quatorze anos, foi 
com dezassete anos que, a convite da Federação de 
Ginástica de Portugal, passo a treinar com a seleção e 
os treinadores 3nacionais no Centro de treinos da 
Federação, em Barcarena. Aos dezoito anos mudei-
Edição Especial
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me para Centro de Alto de Rendimento no Jamor. 
Local onde vivi oito anos e onde partilhei bons 
momentos e troquei experiências com a elite do 
desporto nacional. Atletas como: Francis Obikwelu, 
(atletismo) Vanessa Fernandes (triatlo) ou Patrícia 
Mamona, (atletismo) entre muitos outros de muitas 
outras modalidades.
Até à data tinha participado em três campeonatos do 
Mundo, três campeonatos da Europa e uns Jogos 
Mundiais (a competição olímpica onde modalidades 
não olímpicas competem). Onze vezes campeão 
nacional na categoria de individual masculino e 
outras tantas em pares mistos. Em 2013 mal sabia eu 
que dois anos depois, em 2015, iria estar a representar 
o país nos Jogos Europeus (Jogos olímpicos da 
Europa) em Baku.
O curriculum era vasto. Porque não organizar uma 
competição já que para as camadas mais jovens seria 
uma inspiração? Se não me falha a memória a ideia 
foi pioneira a nível nacional. Hoje em dia contamos já 
com algumas competições com nomes de ginastas 
ou ex-ginastas em outras disciplinas.
O Troféu Tiago Faquinha realizou-se três anos na 
SFRUA, passando depois por ser organizado um ano 
pela Associação de Ginástica de Setúbal e desde 2017 
que é organizado pela AMR8J. Com uma interrupção 
devido à pandemia, o ano passado foi organizado 
não num contexto “prova”, mas mais com atributos 
de espetáculo.
Com atletas de todos os cantos do país e com o 
pavilhão cheio de público, o sucesso foi plausível e, 
por isso, este ano o formato será semelhante.
No fim de semana seguinte, a 24 de junho, 
prosseguimos com as comemorações antecipadas. 
Desta vez com o Torneio Leonel Coelho. Um torneio 
de ténis de mesa organizado pela primeira vez pela 
Academia Musical e Recreativa 8 de Janeiro. Leonel 
Coelho que foi treinador de ténis de mesa durante 
décadas na AMR8J, que conquistou inúmeros títulos 
e que, mais do que resultados, instruiu crianças 
passando verdadeiros valores como o - 
desportivismo. Que colocou as relações humanas 
sempre à frente de qualquer resultado. Que 
percorreu Portugal de norte a sul numa carrinha 
com os seus atletas para ver sobretudo nos seus 
rostos sorrisos esboçados. Era sobretudo e 
essencialmente a alegria que proporcionava às 
crianças que o motivava. Este evento desportivo é 
mais do que merecido e tem que se realizar para 
manter viva a sua memória.
E por falar na sua memória, este ano, também pela 
primeira vez, numa iniciativa da Junta de Freguesia 
de Alhos Vedros, foi criado o Prémio de Conto Leonel 
Coelho”, cujos premiados serão divulgados na Feira 
do Livro, no dia 2 de Julho pelas 17 horas.
Como é do conhecimento geral, Leonel Coelho 
esteve ligado ao associativismo durante muitas e 
largas décadas tendo sido diretor da AMR8J e foi 
ainda escritor. Publicou inúmeras obras literárias. 
Obras que poderão adquirir na Feira do Livro ou que 
poderão consultar na biblioteca da coletividade.
A 50a Edição da Feira do Livro está recheada de 
iniciativas que prometem ser do agrado de todos. 
Conta com lançamento de livros; presença de 
autores; música ao vivo; animação; exposições de 
pinturas, espaço para os mais novos, entre outras 
surpresas. Mas alguém duvida que a feira do livro 
está para continuar? A feira do livro de Alhos Vedros é 
um marco e não pode morrer!
A Feira do Livro de Alhos Vedros engrandece a nossa 
terra. A sua cultura e história.
Para comemorarmos cinco décadas convido todos a 
participarem com a vossa presença. Afinal, é para a 
comunidade que a direção, sócios, pais, comércio 
local entre outros, dão o seu contributo para que 
possamos mostrar que: o que é nosso é o que nos 
move! (...)"
alfacinha
Edição 18/2023 - Dr.º António do Carmo Alfacinha 
"(...) Um pouco de mim...
Hoje relembro uma irmã que já partiu deste plano de 
vida e de quem fui mais amigo que médico.
No enorme sofrimento físico e mental ela aguentava 
as noites escuras porque sabia que do outro lado 
havia um amanhecer mais brilhante do que 
qualquer outro que ela já tinha vivido antes...
Agora que já partiu a Luz dela está crescendo e 
Edição Especial
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iluminando a Luz dos outros, deste mundo, da 
Humanidade.
E pela primeira vez vou desrespeitar o segredo 
profissional para que muitos dos meus amigos e 
pacientes de Alhos Vedros, onde exerci durante mais 
de 30 anos possam saber de quem falo.... Josefa 
Santos!
Quando vivia as pessoas achavam que a Josefa tinha 
um comportamento diferente, estranho, como 
alguns diziam, mas eu sabia o porquê de ser 
diferente, o quanto ela se sentia inadaptada a esta 
sociedade. Juntos, muitas vezes em pequenos 
diálogos caminhámos juntos por outros mundos. Até 
um dia Josefa! (...)"
Edição 19/2023 - Ruben Martins 
"(...) A casa assombrada
A história que vos vou contar teve inicio no verão de 
97. Se há coisa à qual a nossa terra sempre foi muito 
fértil, é em locais «abandonados» (ou pelo menos 
com aspecto de tal). A casa assombrada foi o nome 
que lhe demos. Será fácil de perceber que para 
crianças na idade dos 12 anos, qualquer local em tais 
circunstâncias carregava consigo uma forte carga de 
mistério, exploração e aventura. Como um amigo de 
longa data costuma dizer, «não existe local 
abandonado em Alhos Vedros que não tenha sido 
explorado por nós». Ele está certo. Mas nenhum outro 
local está presente de forma tão vivida na minha
memória, como aquela casa.
Alguns de vós pensarão que me refiro à casa que fica 
na Estrada Nacional, a poucos metros da estação dos 
correios. Mas estão enganados. A casa a que me 
refiro ficava situada na rua Dom. Jerónimo de 
Noronha, rua paralela à S.F.R.U.A, e as suas traseiras 
davam para a rua 5 de Outubro.
A história tem inicio no verão de 97, mas estende-se 
até outono do ano seguinte. Durante aquele período, 
a exploração da casa assombrada foi o passatempo 
de muitos dos miúdos da nossa terra. Para mim, a 
casa assombrada foi muito mais do que isso. Foi nela 
que, numa tarde chuvosa de outono, tive o maior 
susto da minha vida. O episódio foi de tal forma 
tenso, que me mijei pelas calças abaixo. Mas já lá 
chegaremos.
Descobrimos a casa por mera coincidência. Eram as 
férias grandes, e como em grande parte dos dias, o 
nosso grupo andava de bicicleta pela vila em busca 
de algo comque ocupar o tempo. Quem cresceu em 
Alhos Vedros nos anos 90, sabe que nessa época a 
vila estava repleta de crianças que brincavam pelas 
ruas. Fosse no largo atrás do mercado, no campo de 
futebol das Morçoas, ou no parque da rua de Damão.
Não vos sei dizer ao certo se o nosso destino naquela 
tarde era ou não o cais novo. Sei que deveriam ser 
umas 15:00 horas quando cruzamos pela rua Dom. 
Jerónimo de Noronha, montados nas nossas 
bicicletas. Eu era o último da fila de um grupo de 
quatro rapazes. Passámos por um muro onde 
existiam garagens do outro lado, coloquei-me de pé 
em cima dos pedais (um movimento típico) para 
espiar acima dele. Foi quando que por mero acaso, 
rodei para a minha direita e me deparei com a casa.
Da estrada era difícil de vê-la. Ela ficava escondida à 
direita de uma propriedade que parecia 
efectivamente abandonada. Existia um portão de 
ferro gradeado, pelo qual espreitamos, e vimos a 
vegetação do jardim que havia crescido de forma 
completamente descontrolada.
O muro da propriedade era relativamente baixo. Para 
nos facilitar ainda mais a tarefa, existia um monte de 
areia junto dele que possibilitava escalá-lo sem 
grandes dificuldades. Recordo-me que nenhum de 
nós tinha cadeado para prender as bicicletas, e a 
solução foi passá-las por cima do muro até ao interior 
da propriedade. Sim, sei o que estão a pensar. 
Invasão de propriedade privada.
Mas dêem um desconto. Tínhamos 12 anos e muito 
pouca noção do que isso significava. Caminhámos 
cerca de vinte metros pelo meio daquela selva, onde 
a vegetação chegava a atingir quase um palmo 
acima das nossas cabeças. Por fim, ali estava ela 
diante de nós. Ao vê-la de perto, imaginei-a saída de 
um filme de terror dos anos 80. Achámos de 
imediato que o nome lhe assentava perfeitamente. A 
casa assombrada.
Era uma moradia de dois andares, desprovida de 
qualquer tom colorido que lhe concedesse um ar 
 
Edição Especial
Pág. 32
menos sombrio. Ao invés disso, as paredes eram 
preenchidas por um cinzento gasto, o que 
demonstrava claramente o estado de degradação 
em que se encontrava. Ainda do lado de fora, pude 
perceber que uma das paredes do primeiro andar 
tinha cedido, o que tornava possível ver uma parte da 
divisão desde o local onde nos encontrávamos.
Caminhámos lentamente, sempre receando que 
alguém estivesse dentro da casa. Mas estávamos 
completamente sós. Pelo menos, naquele dia. Não 
existiu a necessidade de entrar por uma janela, ou de 
escalar até à divisão ausente de parede exterior. A 
ausência de porta na entrada principal da casa, 
mostrou-se ser um convite à nossa passagem.
O andar de baixo possuía quatro divisões, e um 
pequeno corredor que terminava nas escadas que 
levavam ao piso superior. Uma das divisões era fácil 
de perceber que outrora havia sido a cozinha. Por 
cima da bancada que ficava situada no centro da 
cozinha, pude ver um grande buraco no tecto, o qual 
mais tarde serviu para subirmos ao primeiro andar. 
Sim, existiam escadas.
Mas meses mais tarde estas acabaram por ruir, e 
aquela passagem na cozinha passou a ser o nosso 
elevador improvisado. Existia uma outra divisão que, 
pelo seu tamanho, imaginei que se tratava de uma 
sala de estar. Ao passarmos por ela, deparámos-nos 
com um outro quarto que ficava na zona mais a este 
da casa. Apelidamos-o de quarto escuro, porque a 
ausência de janelas tornava impossível ver um palmo 
à frente do nariz. Eu nunca passei da porta e tenho 
dúvidas que alguma vez alguém o tenha feito. Nunca 
soube o que existia no seu interior.
Quando me preparava para subir ao primeiro andar, 
apercebi-me de uma porta que ficava ao lado das 
escadas. Estava trancada com um cadeado. Calculei 
que se tratasse de uma espécie de despensa.
No primeiro andar existiam quatro divisões. Três 
quartos, e uma casa de banho. Em alguns dos 
quartos ainda era possível ver o papel de parede, o 
qual era igual em todos eles, respeitando o mesmo 
padrão de listras verdes e brancas. Não existiam 
mobílias nem utensílios esquecidos ou perdidos no 
tempo, com uma excepção. Um quadro.
 
Quem viveu em Alhos Vedros naquela época, 
recordar-se-á que houve um período em que era 
comum encontrarmos esses quadrados espalhados 
pelas ruas da nossa vila. Os quadradinhos azuis 
serviram de moeda de troca durante algum tempo, e 
mais tarde, quando muitos já conheciam a sua 
origem, passaram a munição nas nossas guerras de 
faz de conta.
Com o passar do tempo, a casa assombrada foi 
perdendo um pouco do seu interesse. Não só porque 
explorá-la já não era novidade para nós, mas 
essencialmente devido à descoberta de novos locais 
que mereciam a nossa atenção. Penso que terei 
regressado à casa mais um par de vezes, até aquele 
último dia fatídico no outono de 98.
Recordo-me que naquele dia chovia imenso. Não vos 
sei precisar exactamente se era uma quarta ou 
quinta-feira. Sei que nessa época, existia uma tarde 
em que a escola José Afonso encerrava para todos os 
alunos. O motivo seriam as reuniões de professores. 
Mas posso não estar totalmente correto.
Pelo meio da tarde, a chuva terá abrandado por 
alguns instantes. Eu encontrava-me na casa de um 
colega de turma, um dos quais tinha estado presente 
no dia em que vimos a casa pela primeira vez. Um de 
nós terá sugerido aproveitar a oportunidade para sair 
e visitar a casa. E assim fizemos.
Não levámos connosco as bicicletas, ao invés disso 
fizemos o nosso percurso a pé. E ainda bem que 
assim foi. Penso que de outra forma, teríamos 
abandonado a casa naquele dia e deixado lá as 
bicicletas.
Pulámos o muro, e como sempre fomos rogando 
pragas enquanto atravessávamos os vinte metros de 
vegetação até ao nosso destino. Passámos a entrada 
principal, e utilizámos o balcão da cozinha para subir 
e atravessar o buraco até ao primeiro andar.
Explorámos novamente as divisões daquele piso, 
como se de alguma forma esperássemos descobrir 
algo de novo. Penso que nem dez minutos tinham 
passado da nossa chegada, quando me afastei do 
meu amigo e caminhei até à divisão mais a oeste da 
casa. Aquela era a divisão na qual a parede tinha 
cedido. Do local onde me encontrava (na beira do 
 
 
Edição Especial
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andar) era possível ver uma parte da rua Dom. 
Jerónimo de Noronha. Fiquei por breves instantes a 
imaginar que talvez alguém me conseguisse ver da 
estrada caso se colocasse no ângulo certo. Depois, 
olhei para baixo e foi ai que me pareceu ver algo. Mais 
do que parecer, eu tinha quase a certeza. Só que 
havia sido tudo tão rápido, que por momentos 
duvidei.
Em bicos de pés caminhámos até à divisão da 
parede ruída. Por mais que tentássemos não fazer 
barulho, o chão chiava a cada passo dando a 
sensação que um gigante caminhava pelo primeiro 
andar. Parámos junto à beira da divisão e olhámos 
para baixo.
- O que viste? - perguntou-me.
- Vi algo a passar bem aqui por baixo - expliquei, 
apontando com o dedo.
Ele sorriu. Foi um sorriso trocista.
- Provavelmente um desses milhares de gatos que 
por ai andam - disse. - Ou então estás a espetar-me 
uma peta, meu!
Não era um gato, eu tinha a certeza disso. O que vi 
passar era algo muito maior.
Era um vulto. O vulto de uma pessoa.
Ficámos mais algum tempo parados na beira do 
andar, de olhos postos na vegetação do lado de fora. 
Eu com cara de assustado, ele com um sorriso de 
parvo estampado no rosto. O que aconteceu quando 
nos virámos para o interior da casa, é algo que ainda 
hoje me custa a perceber. Não ouvimos qualquer 
barulho. Nada a arrastar, passos, qualquer 
movimento. NADA!
Na entrada da divisão, do lado oposto onde nos 
encontrávamos, estava um homem. Ele estava ali 
parado, de olhos fixos em nós. Eu não olhei para a 
cara do meu amigo, estava demasiado assustado 
para o fazer. Mas acredito que o sorriso que tinha se 
evaporou. As minhas pernas tremeram. A minha 
bexiga que já gritava para ser aliviada,acabou por 
ceder.
A única coisa que me recordo sobre aquela pessoa, é 
que tinha um bigode.
Não me lembro das suas feições, do que tinha 
vestido, se era alto ou baixo, ou que idade aparentava 
 
ter. 
Penso que de alguma forma o meu cérebro terá 
bloqueado tudo isso. Li algures que é algo comum 
numa situação deste género. 
- O que estão vocês aqui a fazer? - foi a única 
pergunta que nos fez.
Não sei se a telepatia existe, mas a verdade é que 
naquele instante pensámos os dois da mesma 
forma. Saltámos do primeiro andar para a vegetação 
do lado de fora. Hoje dou graças por ela ali estar e ter 
aparado a nossa queda.
Corri. Corri o mais que pude por entre as ervas 
daquele caminho esquecido.
Não me recordo de escalar o muro, nem tão pouco 
de correr pela rua. Apenas despertei quando o meu 
amigo gritou, e alertou que ninguém nos seguia.
Estávamos ao lado do antigo edifício da prisão. 
Ofegantes e de mãos nos joelhos, tentando 
recuperar o fôlego.
Como aquele homem subiu até ao primeiro andar 
sem que nenhum de nós tivesse dado por isso, é algo 
que ainda hoje me questiono. Talvez existisse uma 
outra passagem que levasse até lá. Talvez fosse 
naquele quarto escuro que nunca tive a coragem de 
explorar. Quem sabe?
Passaram 25 anos desde aquele dia. Hoje, a casa 
assombrada apenas existe na nossa memória como 
uma boa lembrança. Poderia contar-vos outras 
histórias, outras aventuras e explorações. Mas acho 
que para muitos dos miúdos que cresceram em 
Alhos Vedros naqueles anos, a casa assombrada é 
uma marca no tempo.
Um tempo em que não existiam telemóveis ou redes 
sociais. A Internet ainda era um termo estranho, e 
fazia uns ruídos ainda mais estranhos quando nos 
tentávamos conectar. Não sabíamos o que eram 
selfies nem filtros para as fotos. As mães gritavam o 
nosso nome pela janela quando era hora de jantar.
Os pacotes de batatas fritas traziam brindes, e 
parávamos às 16:30 para ver o Dragon Ball. Um 
tempo em que saíamos de casa sem destino, mas 
sempre sabendo os locais onde podíamos encontrar 
um companheiro para as nossas aventuras. O tempo 
em que ser criança não passava disso mesmo.
 
 
 
Edição Especial
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Recordo-me quando naquela tarde parámos junto 
ao antigo edifício da prisão. Ofegantes, tentando 
recuperar daquele que provavelmente havia sido o 
maior susto das nossas vidas. O meu amigo olhou 
para mim.
- Fogo, meu! Foi do caraças não foi?
Sim amigo, foi do caraças. Aqueles tempos, foram do 
caraças! (...)"
 Edição 20/2023 - Rosa Paula Santos Marques
"(...) A terra que me acolheu
Alhos Vedros é a terra que me acolheu há 41 anos. 
Aqui vivi grandes e marcantes momentos da minha 
vida.
A terra que me acolheu na adolescência, onde casei e 
onde nasceram os meus filhos. Onde trabalho e 
resido.
Quando vim para cá em 1982 era tudo muito 
diferente. A azáfama diária por causa das fábricas que 
existiam na Freguesia tornava a vila mais activa. O 
comércio local estava ao rubro, até havia um 
mercado, onde eu costumava ir ao sábado de manhã 
e que bom era ver aquelas bancas com alimentos 
frescos. Uns anos mais tarde também a Quinta da 
Fonte da Prata teve um mercado de rua, onde a 
querida “Tia” Edite tinha uma banca de legumes que 
era um “mimo”. Algum tempo depois construíram 
um mercado onde está a fonte (salvo erro). Existiam 
entidades bancárias. Também havia um hospital 
com maternidade, foi aí que nasceu o meu filho mais 
velho. Que foi baptizado pelo Sr. Padre Carlos na 
igreja mais bonita do Concelho, a de Alhos Vedros.
Em 2013 já mais estabilizada relativamente à família, 
os filhos cresceram e a disponibilidade para agir no 
sentido de melhorar a qualidade de vida dos 
Alhosvedrenses permitiu-me participar activamente 
e civicamente. Comecei a frequentar reuniões 
públicas e assembleias de Freguesia e Municipais 
participando com intervenções. Em 2014 foi criada a 
Comissão de Moradores da Quinta da Fonte da Prata 
da qual fui presidente. A Comissão funcionava como 
elo-de-ligação entre a Junta de Freguesia de Alhos 
Vedros e a Câmara Municipal da Moita. A relação 
com o poder local foi sempre dentro da cordialidade 
 
e com resultados positivos.
Hoje, as fábricas fecharam, o comércio local na sua 
maioria “morreu”, o mercado da vila “virou” FAVO, o 
mercado da Quinta da Fonte da prata foi destruído, 
não existem entidades bancárias, o hospital 
(maternidade) também já não existe, “salva-se” a 
igreja.
Alhos Vedros perdeu a vida de outrora. Tudo na vida 
tem um fim, mas esse fim pode sempre tornar-se 
num recomeço.
A expressão certa, para todo um passado, que é um 
presente com futuro é: “SENTIR ALHOS VEDROS”
Hoje eu continuo disponível para participar 
ativamente na melhoria da qualidade de vida da 
terra que me acolheu.
Como costumo dizer: eu vou andando por aí. (...)"
 Edição 21/2023 - Nuno Castanheira "Larápio"
"(...) O tempo é uma coisa estranha, passa rápido e 
nunca sabemos quando acaba, se soubéssemos 
talvez nunca viveríamos realmente. Existem pessoas 
que se cruzam nas nossas vidas que esperamos não 
ter de cruzar e depois temos outras que não 
queremos acreditar que partiram. Vou parafrasear 
Tiago Henriques, porque não sou ninguém, porque 
precisa ser dito em voz alta, pois hoje represento o 
sentimento de milhares por este mundo espalhado. 
Algures na margem a sul do Tejo, onde as nossas 
vidas foram parar, há um lugar circunscrito e 
escondido para o azar não o encontrar sempre. Aqui 
moram muitas das pessoas mais importantes para o 
crescimento pessoal, espiritual e humano de cada 
um. Aqui ficam guardadas muitas das nossas 
melhores memórias da vida. Aqui fomos felizes. 
Neste pequeno bairro isolado do mundo, mas 
rodeado de uma aura especial que faz encher de um 
orgulho tonto muitos dos que aqui cresceram, 
muitos dos que aqui vivem e muitos que deixaram 
este porto de abrigo, rumo a outras paragens.
De entre muitas dessas memórias e pessoas que 
deixamos para trás, há umaque é merecedora de um 
respeito inigualável, de uma admiração transversal à 
geração que nasceu com lendas e mitos e de uma 
estima que poucos que nos conseguem fazer sentir. 
 
 
Edição Especial
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Tu tratavas todos pelo nome, todos se sentiam 
especiais, tu ensinaste-nos o respeito, valores, a 
crescer sem nada e mesmo assim a sentirmo-nos 
grandes, enormes. Tu usas-te o desporto como arma 
e o sorriso como escudo. Claro que tudo tem um 
princípio e um fim, mas o caminho é que importa, e 
tu caminhaste em grande com bué putos ao teu 
lado. Acredito que continuaremos a ser os “teus 
putos”. E que putos!
 O GP dispensa apresentações e tudo o que precisava 
ser dito, já o foi por quem mais perto dele privava. 
Para todos nós, fica essas memórias de alguém que 
tinha um carisma único, de alguém que tinha 
sempre uma palavra de apreço para com quem 
tivesse a sorte de se cruzar com ele e receber um 
pouco dessa energia.
Numa época de fraturas, cisões e individualismo, GP 
mostrava-nos que os “verdes” podiam ser amigos dos 
“amarelos”, que as raças eram apenas uma, que os 
benfiquistas podiam ver os jogos com os 
sportinguistas. É assim que nos lembramos de ti GP, 
um farol, um pilar, um agregador, um apaziguador, 
um missionário da fé humana e um homem com 
um coração maior que ele, sempre acompanhado – 
esse mesmo coração que lhe falhou, sozinho. Irónico. 
Paulo Flores eternizou-te com a música “GEPE”, um 
clássico de 2008, onde ele viu em ti o orgulho de ser 
angolano, na diáspora sem nunca perder o encanto 
pela terra, uma alegria tão genuína, tão pura que nos 
contagiava a todos.
Ficámos mais pobres.
O mundo é um lugar ainda mais estranho sem ti, 
nosso kota. One love e onde estiveres recebe a nossa 
pequena homenagem, espero que continues a tua 
missão, para o lugar onde foste.
Um brinde a ti e como tu dizias: “EU SOU DE UM 
LUGAR ONDE O VENTO NÃO QUER CHEGAR...ONDE 
NASCEU DEUS, AKWÁ,BONGA E PAULO FLORES. 
SOU DE LÁ... SOU FRUTO DAQUELA TERRA E CRESCI 
COM A SECA...SOU DEANGOLA. Ginho Proprio GP”
RIP (...)"
 
Edição 22/2023 - Dinorá da Silva Martins Vilhana 
Ribeiro
"(...) 50 anos do 25 deAbril e Poder Local
Comemoram-se em 2024 os 50 anos do 25 de Abril 
de 1974.
Celebrar Abril é invocar o Movimento das Forças 
Armadas, lembrar Salgueiro Maia, Otelo Saraiva de 
Carvalho, Melo Antunes e todos os demais. No dia 9 
de Setembro de 1973 cerca de 136 jovens Capitães 
reuniram-se em Monte Sobral, Alcáçovas, Viana do 
Alentejo e iniciaram o caminho vitorioso para a 
Revolução/ Liberdade. Pela minha parte, que vivi 
intensamente aqueles tempos únicos, de perfeita 
harmonia entre todos os portugueses, sempre me 
comovo quando penso naquela gesta de Capitães e 
da enorme dívida que tenho para com eles e que 
nunca conseguirei pagar. Como testemunho da 
minha gratidão nunca traí os valores de Abril e tenho 
passado a mensagem aos meus filhos e netos.
Abril muito nos trouxe, mas essencialmente: a 
Liberdade, que temos imperativamente de defender 
dia a dia, tão frágil ela é; o fim da Guerra Colonial, 
profundamente traumática e injusta para ambos os 
lados; a Constituição da República Portuguesa que, 
se cumprida à risca, faria de Portugal o tal “jardim à 
beira mar plantado”.
A Constituição, aprovada em 2 de Abril de 1976, 
consagrava o Poder Local Democrático através do 
Arto.235o., (Autarquias Locais) que, no ponto 2., diz:
- “ As autarquias locais são pessoas colectivas 
territoriais dotadas de órgãos representativos, que 
visam a prossecução de interesses próprios das 
populações respectivas”.
No final desse mesmo ano, no dia 12 de Dezembro, 
realizaram-se as primeiras eleições autárquicas onde, 
por voto directo e livre, foram eleitos 304 presidentes 
de Câmara, 5135 deputados Municipais e 26.000 
membros das Assembleias de Freguesia. Estava-se 
no princípio de uma nova era que se adivinhava 
árdua e trabalhosa, porque quase tudo estava por 
fazer: estradas, caminhos, rede eléctrica, distribuição 
de água ao domicílio, saneamento básico, escolas, 
bibliotecas, creches, recintos desportivos, postos 
médicos, etc., etc.! Então, os autarcas puseram mãos 
 
 
Edição Especial
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à obra e, com o seu insano trabalho desenvolvido em 
prol do interesse das populações, os municípios, as 
freguesias, obtiveram profundas alterações, para 
melhor, e a face de Portugal mudou radicalmente de 
Norte a Sul! O Poder Local que emergiu nos alvores 
da Revolução de Abril afirmou-se como um espaço 
de intervenção cívica e com uma inegável 
capacidade para reconhecer e resolver problemas. 
Assim, e do ponto de vista das populações, com todo 
o enorme processo de transformação, pelas imensas 
realizações levadas a cabo, podemos afirmar sem 
qualquer margem para dúvidas que o Poder Local 
Democrático resultou, até hoje, na conquista maior 
do 25 de Abril.
Alhos Vedros e as Mulheres Autarcas
Artigo 109o. Da Constituição da República
(Participação política dos cidadãos)
A participação directa e activa de homens e 
mulheres na vida política constitui condiçãe 
instrumento fundamental de consolidação do 
sistema democrático, devendo a lei promover a 
igualdade no exercício dos direitos cívicos e políticos 
e a não discriminação do sexo no acesso a cargos 
políticos.
Estava lançada a directiva! O pior eram as realidades! 
Durante anos a fio a vida política foi talhada por 
homens e para homens e à mulher atribuído o papel 
obrigatório de dona de casa, de mãe, de cuidadora 
dos mais velhos e, de preferência, nada de trabalhar 
fora de casa. Essa era a função principal do homem, 
enquanto chefe de família, pai e marido, a quem 
todos os familiares deviam respeito e submissão, 
muito particularmente a sua mulher. A Revolução do 
25 de Abril veio introduzir importantes mudanças na 
vida das mulheres, ainda que muito lentas, de tal 
modo que ainda hoje não foi alcançado, 
verdadeiramente, o desejado patamar da igualdade. 
De sublinhar, porém, que entre avanços e recuos no 
número de mulheres eleitas e após muita discussão, 
foi publicada a Lei da Paridade- Lei Orgânica 3/2006 
de 21 de Agosto, a qual assegurava a representação 
mínima de 33% de ambos os sexos na Assembleia da 
República, Parlamento Europeu e Autarquias.
Posteriormente a Lei Orgânica 1/2009 de 29 de 
 
Março, subia para 40% essa representatividade. 
As mulheres de Alhos Vedros com tradições de luta e 
atentas às realidades da sua freguesia, cientes do que 
poderiam desenvolver, agarraram a oportunidade e, 
logo nas eleições autárquicas de 1976, integraram a 
lista para a Assembleia de Freguesia. Em todas as 
eleições seguintes nunca a nossa freguesia deixou de 
ter mulheres nas suas listas para os órgãos 
autárquicos (Assembleia de Freguesia, Assembleia 
Municipal e Câmara Municipal), mulheres que, 
quando eleitas, souberam desempenhar com rigor e 
no feminino o seu lugar. Alhos Vedros foi a freguesia 
pioneira com uma mulher na presidência da Junta, à 
qual se juntaram, mais tarde, outras duas, ( Fernanda 
Gaspar e Eli Rodrigues). Na presidência da 
Assembleia de Freguesia também esteve uma 
mulher e, actualmente, está outra (Maria Albertina 
Cardoso e Maria Gabriela Nunes Filipe).
Em 1976 eu aceitei com um grande entusiasmo o 
convite para integrar a lista para a Assembleia de 
Freguesia pela APU (Aliança Povo Unido), mais tarde 
CDU (Coligação Democrática Unitária) e do meu 
percurso autárquico fazem parte os seguintes 
mandatos:
- 1977/79 – Secretária da Assembleia de Freguesia;
- 1980/82 – Secretária do Executivo da Junta de 
Freguesia;
- 1983/85 e 1986/89 – Presidente da Junta de 
Freguesia;
- 1993/97 e 2001/05 – Presidente da Assembleia de 
Freguesia.
Alhos Vedros de 2023 não tem nada a ver com o da 
década de 70! Desde as primeiras eleições 
autárquicas que a vida da sua população se foi 
transformando, com o surgimento de novos 
equipamentos, novas actividades de cariz cultural e 
desportivo, nomeadamente: a creche “O Charlot”, a 
Escola Básica E.B. 2/3- José Afonso, a escola de 
“Iniciação Musical” da Junta de Freguesia, a fundação 
do Coro “Alius Vetus”, a instituição do “Dia das 
Colectividades”-1 de Julho, o “Musivedros”- festival de 
música para jovens, as festas em Honra de Nossa 
Senhora dos Anjos, por iniciativa da Junta e após 18 
anos de interregno, a comemoração do Marçob -Mês
 
 
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da Mulher com um colóquio onde, convidadas pela 
Junta, estiveram presentes Hélia Correia - escritora 
,Irene Ribeiro- pintora, Eunice Munhoz- actriz, Teresa 
Rico- Tété - Palhaço e Margarida Morgado, da 
Comissão da Condição Feminina, a aquisição da 
primeira carrinha de caixa aberta para o serviço da 
autarquia, as obras nas nossas escolas e a distribuição 
de novo mobiliário para salas de aula a par de outros 
equipamentos, a compra de painéis de azulejos ao 
nosso artista Luís Guerreiro, etc., etc.. O que atrás 
refiro é apenas uma pequenina gota de água e, 
talvez, eu as entenda como aquelas realizações mais 
emblemáticas! E era o tempo em que não havia 
eleitos a tempo inteiro, o que só aconteceu, creio, a 
partir de Setembro de 1999.
Como sempre concebi que o colectivo é a mais valia 
de todo um trabalho e para que não sejam 
esquecidos, aqui ficam os nomes dos queridos 
companheiros que me acompanharam nos 
executivos a que pertenci:
- Frederico Jorge Bajanca Fatia, Hermenegildo José 
da Luz Pinho, Joaquim Baptista Lima, António 
Gaspar de Oliveira, Carlos António Vieira, João José de 
Almeida, Elísio Brás, Júlio da Costa Delgadinho e João 
Manuel de Jesus Lobo.
Infelizmente, desta equipa, já só resto eu e o João 
Lobo.
Cabe aqui, também, uma palavra de grande apreço 
para os trabalhadores da autarquia, sempre leais e 
colaboradores.
Por último, e nunca será em vão fazê-lo, aqui deixo o 
nome de todas as Mulheres que fizeram parte da 
Juntae da Assembleia de Freguesia até ao ano de 
2009:
- Dinorá da Silva Martins V. Ribeiro ,Elisabete dos Reis 
Moura , Maria Albertina Calvário Cardoso, 
Guilhermina Nunes Almeida Dias, Lucinda Carrusca, 
Maria Elisabete Zeverino da S. Santos, Fernanda de 
Oliveira Gaspar, Liberdade Maria Ramos de Almeida, 
Judite dos Santos Pereira Faquinha ,Dora Maria 
Freixo da Siva ,Maria Eduarda Teixeira da Silva, Helena 
Maria Valente Simões Pereira, Mónica Alexandra da 
Silva Vilhana Ribeiro, Vivina Maria Semedo Nunes, 
Maria Zulete Arês Vieira Xufre Ferreira, Andreia 
 
Susana Correia Estrela, Maria Gabriela Nunes Filipe, 
Maria Irene Marques A. da Conceição Cunha, Ana 
Maria Mendes de Carvalho, Andrea da Conceição M. 
Plácido Corte Real, Cláudia Alexandra Magalhães 
Soares, Maria Luís Marques M. Fernandes Gaio, Maria 
Cristina Martins, Eli Andrea Martins Dias de B. 
Rodrigues, Sílvia Cristina Valadas Aires, Marilú Luísa 
Graça Goto, Maria Josefa Nunes R. Lourenço, Isaura 
Lopes Belo, Elisabete Raposo Vidal, Mariana 
Gonçalves Baptista, Ana Paula Pina Henrique M. 
Ruivo, Teresa Paula Soares Dias, Marisa Pires Marques 
R. Correia, Maria Dulce Maia Marques.
Fonte onde fui buscar os nomes das Mulheres 
Autarcas: “As nossas escolhas – homenagem às 
Mulheres Autarcas da Freguesia de Alhos Vedros, 
comemorações do Dia Internacional da Mulher”, livro 
editado em 2008 pelo executivo da Junta de 
Freguesia de Alhos Vedros (Fernanda Gaspar, Maria 
Luís Gaio, Manuel Graúdo, Jorge Taylor e Pedro Levy).
À Equipa do “Sentir Alhos Vedros” agradeço pois, ao 
escrever este modesto, despretensioso e muito 
incompleto texto, obriguei-me a revisitar os meus 
velhos documentos das lides autárquicas, o que é 
sempre uma maneira de recordar e voltar a sentir o 
que foram aqueles tempos! (...)"
Edição 23/2023 - Vítor Cabral
"(...) Tradição dos presépios Em AlhosVedros
Comecei a frequentar a Igreja de Alhos Vedros aos 8 
anos de idade, quando os meus pais compraram um 
terreno no Bairro Francisco Pires e construíram a 
casa de família.
Família católica praticante, logo comecei a 
frequentar a Igreja de Alhos Vedros e as missas 
celebradas pelo Pe. José Feliciano. Pese embora 
terem decorrido 58 anos as memórias continuam 
bem presentes, das missas em latim, dos rituais, da 
Festa de Verão em honra de Na. Sa. dos Anjos mas 
principalmente do Natal. Os meus olhos brilhavam a 
admirar os presépios com as suas figuras em 
cerâmica, S. José. Na. Senhora, o Menino, a vaca e o 
burrinho, os Reis Magos, os Anjos, os pastores, tudo 
distribuído num cenário onde predominava o musgo 
e as verduras mas principalmente a cortiça virgem.
 
 
Edição Especial
Pág. 38
Para o Sr. Joaquim Afonso Madeira, o artista desta 
arte efémera à época, a cortiça não faltava, pois podia 
muito bem escolher entre as dezenas de fábricas de 
cortiça que laboravam nesta época em Alhos Vedros.
Passados uns anos, esta arte foi continuada pelo 
Alexandre Ventura que chegou a ocupar toda a 
Capela de Na. S. dos Anjos com os seus presépios 
monumentais. E sempre, sempre a cortiça virgem a 
brilhar e a dar forma com a sua superfície rugosa às 
grutas, montes e vales.
Quando me passaram o testemunho, depressa 
coloquei em prática aquilo que tinha aprendido. E 
assim, durante vários anos continuei esta tradição 
dos presépios em cortiça.
Actualmente é o Agrupamento de Escuteiros que 
mantém viva esta prática.
Com o passar dos anos comecei a colecionar 
pequenos presépios, uns mais comerciais, outros 
mais artesanais. Pelos locais por onde passava era 
habitual dirigir o olhar para uma montra ou 
escaparate, à procura daquela peça especial para 
juntar à coleção, tendo já exposto presépios em 
diversos locais.
Com a moda das feirinhas de Natal, e através da 
Associação Aliusvetus, começámos a montar uma 
casinha do presépio na Praça da República, a fazer 
lembrar aos passantes a origem e o significado do 
Natal.
Neste ano de 2023, lembramos S.Francisco de Assis e 
os 800 anos do acto visionário que teve em Gressio, 
no norte de Itália em que, pela primeira vez 
representou o nascimento de Jesus com um cenário 
vivo. Nesse ano de 1223, em vez de festejar a noite de 
Natal na Igreja, como era seu hábito, o Santo fê-lo na 
floresta para onde mandou transportar uma 
manjedoura, um boi e um burro, para melhor 
explicar o Natal aos camponeses que não 
conseguiam entender a história do nascimento de 
Jesus.
O costume espalhou-se por entre as principais 
Catedrais, Igrejas e Mosteiros da Europa durante a 
Idade Média, começando a ser montado também 
nas casas de Reis e Nobres já durante o 
Renascimento.
 
 
Em Portugal os primeiros vestígios de um presépio 
português datados de 1569 foram encontrados no 
Convento de Santa Catarina da Carnota, no concelho 
de Alenquer. Dos conventos o costume passou aos 
palácios e depois à classe média e ao povo. Foi já no 
Século XVIII que o costume de montar o presépio nas 
casas comuns se disseminou pela Europa e depois 
pelo mundo.
Lembrando esta comemoração dos 800 anos dos 
presépios, a Associação Aliusvetus promove esta 
exposição de “Presépios do Mundo” onde vão estar 
presentes cerca de 200 presépios da minha coleção. 
Também não poderia faltar um presépio 
monumental, montado todo em cortiça virgem, 
fornecida pela única fábrica a laborar no concelho, 
Correia, Branco & Nunes Lda, a quem agradecemos.
Um agradecimento especial à Mesa da Santa Casa 
da Misericórdia de Alhos Vedros pela cedência da 
Capela e à Junta de Freguesia de Alhos Vedros e 
Câmara Municipal da Moita pelos apoios habituais.
Feliz Natal para todos! (...)"
Edição 24/2024 - Irina Cardoso
"(...) Bem-vindos às Arroteias!
Para mim escrever-vos sobre as Arroteias, é muito 
mais do que querer explicar-vos a origem do nome 
tão peculiar e do seu surgimento como bairro 
pertencente à freguesia de Alhos Vedros, é querer 
transmitir-vos por palavras, o amor e o orgulho que 
sinto e tenho em ser Arroteense... O amor e o orgulho 
na terra que foi, é e sempre será a minha casa...
Nasci em Maio de 1987 e passei a ser filha das 
Arroteias desde então... Nessa altura e até meados 
dos anos 90, o bairro não tinha arruamentos 
alcatroados nem passeios, as ruas eram de gravilha e 
os poucos passeios existentes eram construídos 
pelos próprios moradores. Apesar das parcas 
condições de acesso, nós, os miúdos do bairro, 
eramos felizes e sentia, como hoje ainda sinto, que 
vivemos como se fossemos uma 
família/comunidade.
Recuar no tempo e relembrar a minha infância no 
bairro, é relembrar tempos felizes...
Tempos em que as Arroteias proporcionavam aos 
 
 
Edição Especial
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seus moradores condições de vida melhores que ao 
dia de hoje... Até ao ano 2000, as Arroteias tinham 
duas escolas primárias, um parque infantil, um talho, 
duas mercearias, uma papelaria/retrosaria, uma 
pastelaria/taberna, cinco padarias, uma sapataria, 
quatro cabeleireiros, várias oficinas automóveis e 
diversos negócios ligados à restauração (desde já as 
minhas mais sinceras desculpas se não enumerei 
algum comerciante/negócio).
Tenho um enorme orgulho em ter sido uma das 
alunas que frequentou a Escola Primária n.o 2 das 
Arroteias (Escola Primária Henrique Galvão, 
construída por moradores e inaugurada a 24 de 
Dezembro de 1975). Fui aluna da antiga professora 
Adelina Vinagre... Naquela época, a Escola Primária 
n.o 2 era o ex-libris das Arroteias por ter nela inserido 
um parque infantil. Parque esse que naquele tempo 
era encarado como inovador, por ter nele um espaço 
com cegonhas e outras aves.
Recordo-me, como se fosse hoje, do último dia do 
parque infantil... Recordo-me da professora Adelina 
nos informar que a Câmara Municipal estava a retirar 
os brinquedos do parque para proceder à reparação 
de alguns e colocar outros novos...
Contudo, após o espaço do parque infantil ter ficado 
devoluto, nada mais regressou, e nós,filhos do bairro, 
começámos a perder a nossa identidade enquanto 
Arroteenses...
O parque infantil deu lugar a uma parcela de terreno 
com eucaliptos e mato rasteiro e, a partir desse 
momento, os dias de funcionamento da Escola 
Primária n.o 2 estavam contados. A Escola foi 
encerrada com a informação de que o número de 
alunos tinha diminuído e não se justificava manter no 
bairro duas escolas primárias.
O comércio de proximidade foi fechando portas... Uns 
por falecimento dos proprietários, outros por falta de 
rentabilidade...
E todas estas percas direccionaram as Arroteias para 
o papel/valor que tem ao dia de hoje para o poder 
local: o bairro tornou-se aos olhos dele invisível... 
Apostar na comodidade e melhoria das condições de 
vida de quem cá vive não é prioridade, nem 
excepção, simplesmente o bairro para o poder local é
 
 
nulo... Vejamos pequenos exemplos:
1. A Rua Padre António Vieira é um perigo 
permanente para a circulação de pessoas e veículos;
2. As iniciativas e eventos realizados pelo poder local 
não contemplam o bairro;
3. Foi colocada à entrada do bairro, junto à Papelaria 
Topline, uma pequena iluminação de Natal, mas 
toda a restante área não teve direito;
4. A deficiência na rede urbana de escoamento 
(sarjetas) nunca foi corrigida, pelo que cada vez que a 
precipitação é em quantidade maior, as ruas das 
Arroteias passam a ser piscinas a céu aberto.
Como filha do bairro e, tendo a possibilidade de fazer 
mais e melhor pela casa que me acolheu, jamais 
deixarei de lutar por aquilo que é nosso por direito 
enquanto Arroteenses.
Está nas mãos de todos, incluindo do poder local (se 
o mesmo estiver predisposto a isso), dignificar e 
valorizar o bairro das Arroteias! (...)"
Edição 25/2024 - Cláudio Neves
"(...) O desfile de carnaval da ESUCA este ano tem 
como título ‘ Esuca traz o terror as Arroteias’ , vamos 
contar a história de várias personagens maléficas que 
vão animar quem nos vai assistir. Desde o Fredie 
Krüger , a Maléfica, a Rainha do Gelo a boneca 
Annabelle , alguns personagens que vão desfilar na 
avenida mais aterradora do nosso concelho. Na 
quarta feira, recuperando uma tradição do Rancho 
das Arroteias, secção onde o carnaval está inserido, 
fazemos o enterro do bacalhau por algumas ruas da 
freguesia de Alhos Vedros. Tanto o desfile de carnaval 
como o Enterro do Bacalhau só é possível graças à 
ajuda do comércio e empresas locais, bem como das 
entidades oficiais (Junta Fregusia de Alhos Vedros e 
Câmara Municipal da Moita) A Escola de Samba 
Unidos do Clube das Arroteias, deseja a todos os 
Alhosvedrenses um excelente carnaval com muita 
alegria e muita folia. (...)
 
 
Edição Especial
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