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Cristóvão Falcão (?-?), possível autor de Crisfal (1554), poema pastoril. Bernardim Ribeiro (?-?), que aparece com poemas no Cancioneiro geral é o autor da novela Menina e moça. 1. MENINA E MOÇA, DE BERNARDIM RIBEIRO O romance Menina e moça, de Bernardim Ribeiro, recebeu três edições ainda no século XVI (1554, 1557-58 e 1559). O enunciador feminino, o caráter subjetivo, a confissão das paixões e outros recursos fazem desse romance precursor da narrativa psicológica em, pelo menos, dois séculos em relação a autores como Daniel Defoe, por exemplo, com Moll Flandres. CAPÍTULO I DO ROMANCE MENINA E MOÇA CAPÍTULO I Menina e moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe. Que causa fosse então daquela minha levada, era ainda pequena, não a soube. Agora não é ponho outra, senão que parece que já então havia de ser o que depois foi. Vivi ali tanto tempo quanto foi necessário para não poder viver em outra parte. Muito contente fui naquela terra, mas, coitada de mim, que em breve espaço se mudou tudo aquilo que em longo tempo se buscou e para longo tempo se buscava. Grande desanventura foi a que me fez ser triste ou, por aventura, a que me fez ser leda. Depois que eu vi tantas cousas trocadas por outras, e o prazer feito mágoa maior, a tanta tristeza cheguei que mais me pesava do bem que tive, que do mal que tinha. Escolhi para meu contentamento (se em tristezas e cuidados [há] algum) vir-me viver a este monte onde o lugar e a mingua da conversação da gente fosse como já para meu cuidado cumpria, porque grande erro fora, depois de tantos nojos quantos eu com estes meus olhos vi, aventurar- me ainda a esperar do mundo o descanso que ele não deu a ninguém. Estando eu assi sou tão longe de toda a gente e de mim ainda mais longe, donde não vejo senão serras que se não mudam de um cabo, nunca, e doutra águas do mar que nunca estão quedas, onde cuidava eu já que esquecia a desaventura porque ela e depois eu, a todo poder que ambas podemos, não deixamos em mim nada em que pudesse achar lugar nova mágoa; antes tudo havia muito tempo, como há, que povoado de tristezas, e com razão. Mas parece que das desaventuras há mudança para outras desaventuras, que do bem não a havia para outro bem. E foi assi que por caso estranho fui levada em parte onde me forem diante meus olhos apresentadas em coisas alheias todas as minhas angustias, e o meu sentido de ouvir não ficou sem sua parte de dor. Ali vi então na piedade que ouve de outrem, tamanha a devera de ter de mim, se não fora demasiadamente mais amiga de minha dor do que parece que foi de mim quem me é a causa dela. Mas tamanha é a razão por que são triste, que nunca me veio mal nenhum que eu já não andasse em busca dele. Daqui me veio a mim parecer que esta mudança em que me eu agora vejo, já a eu então começava a buscar, quando me esta terra onde me ela aconteceu, aprouve mais que outra venha para vir nela acabar os poucos dias de vida, que eu 100