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Combatendo a Inflamação COMO PARAR O DANO ANTES QUE COMPROMETA A SUA SAÚDE Special Health Report VERSÃO EM INGLÊS DE HARVARD HEALTH PUBLISHING, COPYRIGHT 2020. TRADUÇÃO CRIADA E CEDIDA COMO CORTESIA POR ESSENTIA GROUP. Aviso de direitos autorais ESTE RELATÓRIO TEM DIREITOS AUTORAIS DA HARVARD UNIVERSITY E É PROTEGIDO POR DIREITOS AUTORAIS DOS EUA E INTERNACIONAIS. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Aqui está o que você PODE fazer: Imprimir uma cópia e encaminhar este “original” para a família. • Você tem permissão para ter uma cópia desta publicação em seu computador a qualquer momento (você não pode colocá-la em uma rede, a menos que tenha adquirido uma licença para fazê-lo). Se você pagou por mais cópias, então você pode ter esse número de cópias nos computadores a qualquer momento. • Copiar, ocasionalmente, algumas páginas para dar a amigos, familiares ou colegas. • Somos registrados no Centro de Liberação de Direitos Autorais - Copyright Clearance Center (CCC). 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Harvard Health Publishing | Harvard Medical School | 4 Blackfan Circle, 4th Floor | Boston, MA 02115 Para maiores informações Solicitações de permissões Harvard Health Publishing www.health.harvard.edu/permissions Para licenciamento, taxas ou vendas corporativas HHP_licensing@hms.harvard.edu, ou visite-nos em www.health.harvard.edu/licensing Harvard Health Publishing Harvard Institutes of Medicine, 4th Floor - 4 Blackfan Circle Boston, MA 02115 www.health.harvard.edu Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Conteúdo Inflamação: amigo ou inimigo (ou ambos)? .................................2 Inflamação aguda ...................................................................................... 4 Inflamação crônica .................................................................................... 6 A biologia da resposta imune .............................................................. 7 Quando uma inflamação boa se torna ruim .............................. 12 Quando o sistema imune reage de forma exagerada ...................12 Quando o sistema imune não consegue voltar ao normal ...........13 Quando o sistema imune falha ............................................................13 Quando a inflamação é consequência do estilo de vida ou do envelhecimento ........................................................................................14 Inflamação e respostas alérgicas: quando seu corpo se rebela contra o seu ambiente ................................................. 17 Alergias ....................................................................................................... 17 Eczema ........................................................................................................18 Asma ...........................................................................................................20 Inflamação e doença autoimune: quando o seu corpo luta contra si mesmo .................................23 Doença inflamatória intestinal (DII) .....................................................23 Lúpus ..........................................................................................................24 Esclerose múltipla ...................................................................................24 Psoríase .....................................................................................................25 Artrite reumatoide ...................................................................................25 Diabetes tipo 1 ..........................................................................................27 SEÇÃO ESPECIAL - Combate à inflamação crônica com mudanças no estilo de vida ........................................................ 29 Inflamação e o coração .................................................................38 Inflamação e o seu cérebro .......................................................... 41 O sistema de defesa do cérebro ................................................. 41 AVC .............................................................................................................42 Demência, incluindo doença de Alzheimer .....................................43 Depressão .................................................................................................44 Inflamação e doença metabólica ................................................46 Diabetes tipo 2.........................................................................................46 Síndrome metabólica ............................................................................. 47 Inflamação e câncer ......................................................................49 Quando o sistema imune se torna o inimigo ...................................49 Recursos .........................................................................................52 Glossário .........................................................................................53 Fighting Inflammation SPECIAL HEALTH REPORT Medical Editor Robert H. Shmerling, MD Corresponding Member of the Faculty of Medicine, Harvard Medical School Division of Rheumatology, Beth Israel Deaconess Medical Center Senior Editor, Harvard Health Publishing Executive Editor Anne Underwood Writer Stephanie Watson Copy Editor Robin Netherton Creative Director Judi Crouse Production/Design Manager Susan Dellenbaugh Illustrators Scott Leighton, Michael Linkinhoker Published by Harvard Medical School David Roberts, MD Dean for External Education Urmila R. Parlikar Associate Director, Digital Health Products IN ASSOCIATION WITH Belvoir Media Group, LLC, 535 Connecticut Avenue, Norwalk, CT 06854-1713. Robert Englander, Chairman and CEO; Timothy H. Cole, Executive Vice President, Editorial Director; Philip L. Penny, Chief Operating Officer; Greg King, Executive Vice President, Marketing Director; Ron Goldberg, Chief Financial Officer; Tom Canfield, Vice President, Circulation. Copyright © 2020 by Harvard University. 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For Licensing, Bulk Rates, or Corporate Sales email HHP_licensing@hms.harvard.edu, or visit www.health.harvard.edu/licensing. ISBN 978-1-61401-249-8 The goal of materials provided by Harvard Health Publishing is to interpret medical information for the general reader. This report is not intended as a substitute for personal medical advice, which should be obtained directly from a physician. http://www.health.harvard.edu/permissions mailto:HarvardProd%40StrategicFulfillment.com?subject= http://www.health.harvard.edu/licensing Querido Leitor, Se você já torceu o joelho, cortou o dedo ou foi picado por um inseto, você conhece inflamação. As sensações familiares de dor, vermelhidão, inchaço e calor que resultam de uma lesão ou infec- ção são marcas registradas do processo inflamatório. A inflamação representa um mecanismo de sobrevivência essencial que ajuda o corpo a combater micróbios hostis e a reparar os tecidos danificados nas lesões. No entanto, há outro lado da inflamação que pode ser prejudicial em vez de benéfico para a saúde humana. Há evidências de que a inflamação está envolvida em vários processos de doenças. Como reumatologista do Beth Israel Deaconess Medical Center, tenho visto o lado prejudicial da inflamação em meus pacientes em primeira mão. Pode causar inchaço nas articulações, dor e redução da mobilidade. O gatilho para essa inflamação costuma ser uma doença autoimune, como a artrite reumatoide ou a artrite psoriática. Hoje, temos a sorte de ter inúmeras armas contra a inflamação autoimune induzida em nosso arsenal de tratamento – drogas que não apenas ali- viam os sintomas, mas na verdade interrompem o processo da doença, mesmo que não o curem. Inflamações menos óbvias também estão presentes em milhões de pessoas. Essa inflamação de baixo grau – que é alimentada por influências genéticas e fatores de estilo de vida, como uma dieta deficitária, falta de exercícios e excesso de peso – contribui para muitas das doenças mais traiçoeiras e mortais que enfrentamos hoje – entre elas, doenças cardíacas, câncer, doença de Alzheimer e outras formas de demência. Em casos como esses, a mesma resposta inflamatória que foi projetada para nos proteger contra agentes infecciosos, como bactérias e vírus, se volta contra nós. Este relatório foi elaborado para servir como um guia para as causas mais comuns de inflamação crônica e as muitas condições que a desencadeiam. Nas páginas a seguir, você aprenderá os sinais de condições que estão obviamente ligados à inflamação, desde doenças autoimunes, como doença inflamatória intestinal e artrite reumatoide, até problemas comuns que as pessoas muitas vezes não percebem que têm um componente inflamatório, como doenças do coração e demências. Mais importante, você obterá uma compreensão dos tipos de intervenções que as combatem de forma mais eficaz e aprenderá estratégias baseadas em evidências altamente eficazes que você pode implementar todos os dias para amortecer a inflamação antes que possa causar doenças. Sinceramente, Harvard Health Publishing | Harvard Medical School | 4 Blackfan Circle, 4th Floor | Boston, MA 02115 Robert H. Shmerling, M.D. Medical Editor 2Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Figura 1: Doenças relacionadas à inflamação crônica Quando você tem inflamação crônica, o seu corpo está em constante estado de alerta. A liberação de produtos químicos inflamatórios pode afetar muitos sistemas diferentes e ser uma causa ou consequência de várias doenças. Cérebro e medula espinhal: Alzheimer, esclerose múlti- pla e Parkinson Tireoide: tireoidite Pulmões: alergias, asma, COPD e câncer de pulmão Fígado: hepatite crônica Rins: doença renal crônica, falência renal e nefrite Inflamação: amigo ou inimigo (ou ambos)? Quanto mais os cientistas aprendem sobre o corpo humano, mais extraordinário ele parece. Composto por cerca de 37 trilhões de células, o corpo executa uma infinidade de tarefas com força e precisão surpreendentes. Os exemplos são inúmeros. Os olhos podem distinguir 10 milhões de cores. O fêmur pode suportar 2.722 kg de força compressiva. O coração tem o poder de bombear 7.571 litros de sangue por dia, às vezes contra a força da gravidade – e faz isso dia após dia, década após década. O corpo também vem equipado com um sistema de defesa embutido – um exército complexo de célu- las e proteínas que combatem infecções, avisando outras células sobre invasores, lutando contra elas e curando qualquer dano que o conflito resultante tenha produzido. A inflamação é uma parte impor- tante desse sistema defensivo e essencial para a nossa a sobrevivência. Você já viu os efeitos da inflamação em tempo real se alguma vez teve um corte, torceu o tornozelo ou foi picado por uma abelha. A palavra vem do verbo latino inflammare, que significa “atear fogo”. O nome é apropriado, visto que vermelhidão e calor são dois dos sinais que um médico romano notou no século I, quando se tornou a primeira pessoa a documentar esse fenômeno (ver “Uma breve história da inflama- ção”, página 3). A vermelhidão e o calor, junto com a dor e o inchaço que resultam de uma lesão ou infecção, são evidências do processo inflamatório em curso sob a superfície da pele. Não visível, mas semelhante ao processo é a inflamação resultante de uma infecção como resfriado ou pneumonia. Em ambos os casos, o sistema imune está travando uma batalha dentro do seu corpo contra micróbios inva- sores. Sem as suas defesas, um pequeno corte ou uma doença pode rapidamente se tornar mortal. No entanto, a poderosa arma da inflamação nem sempre é dirigida a invasores externos. Às vezes, o sistema imune falha e se volta contra o próprio corpo, lançando uma resposta autoimune que se manifesta em doenças como lúpus, artrite reuma- toide, psoríase e esclerose múltipla. Esses proble- mas são dramáticos e bastante óbvios. No diabetes tipo 1, por exemplo, o sistema imune ataca células especializadas do pâncreas, prejudicando a sua capacidade de produzir o hormônio insulina. Felizmente, a proporção da população afetada por doenças autoimunes é relativamente pequena. Mas quase todas as pessoas são potencialmente afeta- das por uma gama muito mais ampla de problemas inflamatórios. Um crescente corpo de evidências sugere que a inflamação crônica de baixo grau – o tipo que pode estar ocorrendo há décadas sem que você perceba – contribui para algumas das princi- pais causas de morte do país, incluindo doenças cardiovasculares, câncer e diabetes tipo 2, que, jun- tas, são responsáveis por cerca de dois terços de todas as mortes nos Estados Unidos. O que torna esse tipo de inflamação de baixo grau tão misterioso e assustador é a sua natureza silen- ciosa. Embora um corte avermelhado e inchado – ou uma articulação afetada por uma doença autoimune Olhos: degene- ração macular, degeneração da retina e uveíte Coração e vasos sanguíneos: aterosclerose (endurecimento das artérias) e doença do coração Pâncreas: diabetes tipo 1 Sistema digestivo: doença inflamatória intestinal, incluindo Crohn e colite ulcerativa Articulações: algumas formas de artrite, incluindo artrite reumatoide e psoriásica Também Pele: Acne, eczema, psoríase, câncer de pele. Sistema Imunológico: distúrbios autoimunes como lúpus 3Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020.Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação UMA BREVE HISTÓRIA DA INFLAMAÇÃO A inflamação não é uma descoberta nova. No primeiro século, o médico romano Aulus Cornelius Celsus descreveu pela pri- meira vez os quatro sinais marcantes ou “pilares” da inflama- ção: rubor (vermelhidão), tumor (inchaço), calor e dor. Essa definição simplista foi baseada em sintomas, ao invés de uma compreensão dos processos fisiológicos mais profundos. Dois séculos depois, Galeno, o médico do imperador romano Marco Aurélio, reconheceu que a inflamação era a resposta do corpo ao ferimento. Até o início do século 19, muito do pensamento em torno da inflamação era baseado em especulação e raciocínio, ao invés de ciência verdadeira. Os fundamentos científicos do processo inflamatório começaram a emergir com os avanços tecnológicos, que permitiram aos cientistas examinar através de microscópios e testemunhar as atividades celulares reais em funcionamento sobre a questão. Os cientistas observa- ram maravilhados enquanto os glóbulos brancos migravam ao local da lesão ou infecção, onde alguns engoliam germes, enquanto outros varriam os restos celulares. Os biólogos pos- tularam que a inflamação não era um evento único, como se supôs anteriormente, mas sim uma série de etapas que come- çam com uma lesão nos tecidos e terminam no seu reparo. Em 1871, Rudolf Virchow, o cientista alemão conhecido como o “pai da patologia moderna”, acrescentou um quinto sinal aos quatro de Celsus: perda de função na área afetada. Ele descreveu o processo de inflamação como uma manifestação de doença decorrente da liberação de nutrientes dos vasos sanguíneos danificados, o que causa um fluxo de células para o local. Virchow também foi o primeiro a supor que, embora a inflamação de curto prazo (aguda) promovesse a cura, a inflamação de longo prazo (crônica) poderia ter implicações prejudiciais, incluindo o desenvolvimento de câncer (consulte “Inflamação e câncer”, página 49). Enquanto os patologistas estudavam as formas como o corpo humano responde a doenças e ferimentos, e os imunologis- tas investigavam como o sistema imune reage a invasores, a incipiente indústria farmacêutica do século 19 começava a procurar maneiras de diminuir a inflamação. Embora a aspirina tenha sido descoberta nos idos de 1890 e usada para a inflamação das articulações, um destaque da descoberta da droga veio em 1962, quando os pesquisadores da Merck identificaram um modelo de roedor no qual pode- riam testar potenciais medicamentos anti-inflamatórios. Esse modelo acelerou drasticamente o processo de desenvolvi- mento do medicamento e levou à introdução, um ano depois, do medicamento anti-inflamatório não esteroidal (AINE) indo- metacina (Indocid), que ainda hoje é usado para tratar gota e outras doenças inflamatórias. No entanto, o mecanismo por trás dos efeitos da indometacina e da aspirina permaneceu indefinido até a década de 1970, quando o farmacologista John Vane descobriu que essas drogas atuam bloqueando a produção de hormônios promotores da dor chamados prostaglandinas. Sua descoberta levou ao desenvolvimento do ibuprofeno (Advil e Motrin), naproxeno (Aleve) e mais de 20 outros AINEs que agora temos disponíveis para reduzir a inflamação. Mais recentemente, os cientistas também elucidaram o papel que a genética desempenha no processo inflamatório e os benefícios das escolhas de estilo de vida, como dieta e exer- cícios, para controlá-lo. Atualmente, percebemos que a infla- mação envolve uma interação complexa de muitos eventos diferentes, pelos quais o dano ao tecido ativa sinais que ini- ciam e perpetuam a resposta imune para eliminar a ameaça e reparar os tecidos danificados. Temos à nossa disposição ferramentas que nenhuma outra geração teve para entender e lidar com a inflamação. – seja uma manifestação óbvia, a inflamação que se encontra em áreas mais profundas do corpo é invisível e insidiosa. No entanto, isso não significa que sejamos impotentes para combatê-la. Tanto a inflamação quanto as doenças que ela pode causar são frequentemente evitáveis com a correta combi- nação de medidas de estilo de vida, incluindo dieta saudável, exercícios regulares, controle de peso, redução do estresse e cessação do tabagismo. Claro, é impossível traçar regras rígidas sobre o tamanho do problema que esse tipo de inflama- ção poderá ser para você. A maneira como você, seu parceiro ou uma criança reage aos efeitos dela é única – impulsionada por uma combinação de genes, estilo de vida e saúde atual. Além disso, ainda existem lacunas em nossa compreensão sobre a inflamação. Para muitas condições, os pes- quisadores ainda não determinaram totalmente se ela realmente causa o processo da doença, contri- bui para ele (junto com outros fatores) ou se é um efeito da doença. E eles não concordam comple- tamente se, ou quais, estratégias anti-inflamatórias podem prevenir eficazmente a inflamação, e as doenças às quais ela estaria associada. Mas sabe- mos o suficiente para informar sobre as medidas que você pode tomar em direção a um estilo de 4Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação BONS GERMES, MAUS GERMES O sistema imune tem grande interesse em erradicar micróbios nocivos, como bactérias, vírus, fungos e parasitas, e é por isso que ele rapidamente distribui glóbulos brancos para cercar e eliminar esses organismos hostis. Existe um bom motivo para o ataque. As doenças que causam podem variar de algo menor, como o resfriado comum, a uma doença potencial- mente fatal, como a meningite. No entanto, nem todo germe é ruim para você e merece ser destruído. Na verdade, você tem um mundo inteiro de micróbios vivendo harmoniosamente com você – em sua pele e dentro do seu sistema digestivo, nariz e outras áreas do seu corpo. Esses trilhões de bactérias benéficas, conheci- das coletivamente como microbioma (consulte “O papel do microbioma nas doenças inflamatórias”, página 24), agem de maneira muito semelhante às suas próprias células, que- brando nutrientes e sintetizando as vitaminas de que você precisa para se manter saudável, além de protegê-lo de ger- mes mais prejudiciais. Alguns desses microrganismos – como o Bifidobacterium – na verdade ajudam a controlar a inflamação prejudicial, esti- mulando o crescimento de células imunes que controlam a resposta inflamatória. O sistema imune é treinado para distin- guir essas bactérias amigáveis das prejudiciais, de modo que não ataque os microrganismos que são bons para a saúde. Os pesquisadores também descobriram que um pouco de exposição a germes saudáveis e nocivos no início da vida pode ser uma coisa boa, preparando nosso sistema imune para responder com mais eficácia aos patógenos no futuro. Com efeito, essa exposição “ensina” o seu sistema imune a responder a ameaças, de modo que possa regular a resposta inflamatória e prevenir o tipo de reação exagerada que pode levar a alergias e asma. vida anti-inflamatório que ajudará na diminuição das chances de desenvolver várias doenças. Este informativo traça um plano de seis pontos para ajudá-lo a fazer exatamente isso (consulte a Seção Especial, “Combatendo a inflamação crônica com mudanças no estilo de vida”, página 29). Ele tam- bém explora o papel da inflamação em vários tipos de doenças – incluindo problemas autoimunes, alergias, doenças cardíacas, problemas metabóli- cos, como o diabetes, e até mesmo distúrbios cog- nitivos, como a doença de Alzheimer. Mas, primeiro, você precisa entender os dois tipos de inflamação – aguda e crônica. Inflamação aguda A inflamação vem em duas formas – aguda (curto prazo) e crônica (longo prazo). A inflamação aguda é a resposta imediata do corpo a uma lesão ou infec- ção. Ela surge rapidamente – geralmente em minu- tos – e desaparece em alguns dias. Esse tipo de inflamação é a reação que ocorrequando você dá uma topada no dedão do pé, corta o dedo enquanto corta vegetais, pega um resfriado ou cai e quebra a perna. É uma função vital, acionada quando o sistema imune detecta danos aos tecidos ou um exército invasor de germes (consulte “Ato 2: imunidade inata”, página 7). Assim como ocorre rapi- damente, geralmente se dissipa rapidamente, resol- vendo em algumas horas ou dias. Você pode detectar uma inflamação aguda perto da superfície do corpo por meio dos seus cinco sinais reveladores: vermelhidão, aumento do calor, inchaço, dor e perda de função. O sangue, aque- cido na temperatura central do corpo, sobe para a superfície da pele normalmente fria, causando uma sensação de aquecimento local e o aparecimento de vermelhidão na pele. O fluido dos vasos sanguí- neos que se acumula nos tecidos causa inchaço. A pressão do acúmulo de fluido e da liberação de substâncias químicas inflamatórias irrita as fibras nervosas sensíveis, causando dor. Como resultado dessa coleção de alterações, o tecido na área infla- mada pode não funcionar tão bem quanto deveria. Por exemplo, você pode não conseguir andar se tiver torção no tornozelo ou engolir facilmente se tiver dor de garganta. Esses sinais não são tão aparentes quando a infla- mação está em locais mais profundos do corpo, par- ticularmente em áreas sem terminações nervosas sensoriais. É por isso que um corte na pele, repleta de terminações nervosas, é muito mais doloroso do que a inflamação pulmonar (como em uma infecção pulmonar, como pneumonia), que afeta um órgão com poucas terminações nervosas. Como a inflamação aguda se desenvolve Quando ocorre dano tecidual, seja por trauma, subs- tâncias nocivas, uma invasão bacteriana ou viral, o seu corpo envia células pró-inflamatórias para des- truir quaisquer substâncias prejudiciais, curar os tecidos e retornar a área afetada a um estado de equilíbrio. Essa resposta rápida resulta em todos os sintomas que você vê quando se machuca. 5Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação SINAIS DE INFLAMAÇÃO AGUDA • Dor • Vermelhidão • Calor • Inchaço • Imobilidade ou perda de função glóbulos brancos, que partem para o ataque. Eles e alguns outros glóbulos brancos, juntos conhecidos como fagócitos (consulte “Conheça o time”, página 9), engolfam, consomem e destroem os organis- mos prejudiciais. Os subprodutos desse processo, junto com os sinais contínuos de estresse envia- dos por tecidos danificados, aumentam a resposta inflamatória. À medida que essa batalha entre os patógenos e as células do sistema imune continua, forma-se um campo de batalha repleto de glóbulos brancos vivos e mortos, fluido, germes e fluido linfático, conhe- cidos coletivamente como pus. O sistema imune acaba enviando outra equipe de glóbulos brancos, chamados macrófagos, para limpar o campo. Mas às vezes o pus se acumula dentro de uma bolsa vazia, formando uma área inchada conhecida como abscesso. Como o processo retrocede Assim que a batalha termina, o corpo começa a reparar o dano e a inflamação subsequente. Muitos dos mesmos mecanismos que entraram em ação ini- cialmente, agora mudam de marcha para remover células mortas e reparar tecidos danificados. Um grupo de moléculas à base de gordura invade para evitar mais danos e iniciar o processo de cica- trização. Esses mediadores pró-resolução especia- lizados, como são chamados, ajudam a resolver a inflamação e evitam que ela fique fora de controle. Essas moléculas são tão eficientes que os pesquisa- dores estão tentando aproveitar as suas habilidades em tratamentos para lesões, infecções e doenças inflamatórias crônicas. As células sobreviventes se replicam para substituir as que foram perdidas na batalha. As células que fazem parte de estruturas menos complexas, como a superfície da pele, se multiplicam facilmente. As células de órgãos mais complexos, como as do fígado ou das glândulas, normalmente não aumen- tam em número, mas podem ser solicitadas a fazê- -lo após a ocorrência do dano. Se for impossível o estabelecimento do tecido normal no local, devido à extensão do dano, pode ocorrer a formação de tecido cicatricial. À medida que o sistema imune volta ao normal, a vermelhidão desaparece, o inchaço e a dor dimi- nuem, ou seja, os sinais internos e externos de infla- mação se dissipam em algumas horas ou dias. Primeiro, células especializadas em tecidos próxi- mos, chamadas de mastócitos (consulte “Conheça o time: o sistema imune inato”, página 9), enviam o sinal de emergência através da liberação da hista- mina. Perto da área do dano, as paredes dos peque- nos vasos sanguíneos (capilares) se contraem para minimizar a perda de sangue, mas logo em seguida, elas se dilatam para trazer mais sangue para a área. Essa concentração sanguínea local faz com que a parte machucada inche e fique vermelha. Tanto diretamente (por causa da lesão) ou indire- tamente (pela liberação de substâncias químicas, como a histamina), as células endoteliais que reves- tem a superfície interna dos vasos sanguíneos pri- meiro incham, mas depois encolhem, aumentando o espaço entre elas. Esse espaço extra entre as células torna os vasos sanguíneos mais porosos, de modo que o fluido, as proteínas inflamatórias, os fatores de coagulação e os glóbulos brancos (uma grande categoria de células especializadas que os cientistas chamam de leucócitos) podem migrar da corrente sanguínea para o tecido afetado. A cole- ção de células e fluido que vaza dos vasos sanguí- neos é chamada de exsudato. Ao mesmo tempo, a circulação sanguínea na área desacelera para dar às células imunes a chance de se agrupar e respon- der à ameaça. A combinação do aumento de líquido que entra nos tecidos e da diminuição da circulação resulta em inchaço. À medida que o fluido se acumula dentro dos teci- dos, o sistema de drenagem entra em ação. Assim como a água da tempestade transbordando para um ralo de esgoto, o excesso de fluido dos tecidos é drenado pelo sistema linfático do corpo. Junto com esse fluido, germes, toxinas e outras substâncias prejudiciais são eliminadas. Enquanto isso, vários tipos de glóbulos brancos são atraídos para o local da lesão ou infecção, con- vocados por quimiotaxinas (substâncias químicas liberadas por tecidos danificados e germes). Os pri- meiros soldados desse exército imune a chegar ao local são os neutrófilos, o tipo mais abundante de 6Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Inflamação crônica Em contraste com a inflamação aguda, a inflamação crônica não dura pouco – e raramente é útil. Embora possa começar com as mesmas ações celulares da inflamação aguda, ela se transforma em um estado latente que persiste por meses ou anos. O corpo soa o alarme e a ajuda de emergência chega, mas o sinal de ameaça não diminui e o fogo continua a queimar. A inflamação crônica é um processo mais lento, mas mais insidioso do que a inflamação aguda, e tem sido associada a uma série de doenças graves, incluindo doenças cardíacas, AVC, diabetes tipo 2, câncer, Alzheimer e artrite (ver Figura 1, página 2). Como a inflamação aguda se torna crônica Na inflamação crônica, o que pode ter começado como solução – por exemplo, uma maneira de livrar o corpo de um invasor perigoso – torna-se pro- blema. Os tecidos cronicamente inflamados conti- nuam a enviar sinais de alarme que acionam a res- posta imune do corpo, muito depois de a ameaça ter desaparecido. Quando os glóbulos brancos aten- dem ao chamado e chegam ao local, eles podem atacar tecidos e órgãos saudáveis, amplificando ainda mais a resposta e estabelecendo um estado inflamatório persistente. Como resultado, em vez de curar os tecidos, o corpo os decompõe ainda mais. Por exemplo, quando células pró-inflamatórias per- manecem nos vasos sanguíneos,elas promovem o acúmulo de placa pegajosa – a mesma placa res- ponsável pela doença cardiovascular. O corpo vê essa placa como estranha e envia outro exército de primeiros socorros. A inflamação crônica pode se desenvolver de várias maneiras. Uma possibilidade é que a ameaça per- maneça porque o corpo não consegue se livrar da substância agressora, seja ela um organismo infec- cioso, um irritante ou uma toxina química. O sistema imune é muito bom para eliminar invasores, mas às vezes os patógenos resistem até mesmo às nossas melhores defesas e se escondem nos tecidos, pro- vocando a resposta inflamatória repetidamente. Ou, seu corpo não consegue quebrar e remover produ- tos químicos prejudiciais com eficácia. Outro cenário possível é que o sistema imune entre no “modo de ameaça” quando nenhuma ameaça real existe. Em um distúrbio autoimune, o sistema imune parece se tornar excessivamente sensível às células e tecidos saudáveis do próprio corpo. Ele reage contra as articulações, intestinos ou outros órgãos e tecidos como se fossem perigosos. À medida que a resposta inflamatória continua, ela danifica o corpo em vez de curá-lo. Escolhas de estilo de vida não saudáveis também podem causar inflamação contínua. Hábitos inade- quados como fumar, não praticar exercícios regu- larmente ou seguir uma dieta rica em carboidratos refinados podem contribuir para a inflamação crô- nica com o passar do tempo. Essa inflamação con- tínua é tão prejudicial que as doenças associadas – incluindo doenças cardíacas, AVC, diabetes, câncer e doença pulmonar obstrutiva crônica – são coleti- vamente as principais causas de morte em todo o mundo. Três em cada cinco pessoas no mundo mor- rem de uma doença que tem sido associada à infla- mação. Portanto, é a inflamação crônica que quere- mos combater com intervenções no estilo de vida e, possivelmente, com medicamentos. Sinais e sintomas de inflamação crônica Os sintomas da inflamação crônica podem não ser tão óbvios quanto os da inflamação aguda. Pode não haver nenhuma pontada aguda de dor como quando você se corta, nenhum inchaço ou verme- lhidão para alertá-lo de um problema. Muitos dos sintomas são mais sutis e comuns a outras doenças, tornando difícil discernir qual é a causa real. Alguns dos sinais e sintomas de inflamação crônica são: • fadiga e falta de energia • depressão e ansiedade • dores musculares e nas articulações • constipação, diarreia e outras queixas gastrointestinais • mudanças no peso ou apetite • dores de cabeça • um estado mental “confuso” Ao contrário dos sinais clássicos da inflamação aguda, esses sintomas perduram por muito tempo ou aparecem e desaparecem com o tempo. 7Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação A biologia da resposta imune Antes de examinarmos as maneiras pelas quais a inflamação pode levar a doenças, é útil entender um pouco sobre a sofisticada rede de células e molécu- las que constituem o sistema imune. Este capítulo fornece algumas explicações que servem de base para o restante do relatório. Se você já está fami- liarizado com essas informações ou não tem inte- resse nos detalhes científicos que estão por trás dos mecanismos inflamatórios, fique à vontade para pular este capítulo. No entanto, você pode achar seu conteúdo útil, especialmente porque explica os termos que encontrará nos próximos capítulos. (Definições mais breves desses termos aparecem no Glossário, página 53). A resposta imune em três atos A inflamação se origina no sistema imune – a rede de defesa que o protege de organismos invasores, como bactérias, fungos e vírus, bem como de cânce- res que surgem em nosso corpo. A resposta imune é essencialmente uma sequên- cia de eventos que ocorre após um invasor violar as defesas externas do corpo ou quando os tecidos são danificados de outras maneiras. Cada um des- ses eventos tem jogadores com funções atribuídas. Como o tempo é a chave para o sucesso, pense na resposta imunológica do corpo como um drama de três atos. O Ato 1 apresenta a chegada dos bandidos (os patógenos) e as primeiras tentativas do corpo de impedir o seu progresso. O Ato 2 apresenta os joga- dores do sistema imune inato e os seus esforços para engolfar os invasores e enviar reforços. O Ato 3 apresenta os componentes do sistema imune adap- tativo, que constroem uma defesa contra os ataques repetidos. Todo o processo é extremamente com- plexo, mas o resumo a seguir fornece um esboço básico. Ato 1: defendendo as barricadas A melhor abordagem para derrotar os germes, em primeiro lugar, é impedi-los de entrar. Seu corpo tem um conjunto aparentemente simples de barreiras iniciais para impedir a entrada de microrganismos indesejados – e, caso eles consigam entrar, estraté- gias para lidar com eles de pronto. A pele, o maior órgão do corpo, é uma barreira for- midável contra infecções. Não só funciona como um obstáculo físico impressionante, mas também é um ambiente hostil para muitos micróbios. A superfície da pele é ligeiramente ácida e algumas áreas são bastante secas: nenhuma das condições é ade- quada para muitos micróbios, que preferem umi- dade e um ambiente menos ácido. Além disso, a pele já está povoada por bons solda- dos: bactérias que chamam a sua pele de “casa”, efetivamente pendurando uma placa de “Proibido Invadir” para outras bactérias. Na verdade, muitas partes do seu corpo estão repletas de bactérias. Algumas são aproveitadoras que não fazem nada além de desfrutar da sua hospitalidade. Outras, entretanto, são necessárias para o funcionamento ideal do corpo. Sem as bactérias úteis na pele, por exemplo, micróbios infecciosos teriam acesso mais fácil. Por mais impressionante que seja, a pele não pode fornecer proteção perfeita. Possui aberturas pelas quais alimentos, água, ar e outras substâncias entram ou saem do corpo. Os olhos, a boca, os ouvi- dos, as vias aéreas, o trato digestivo e o trato uroge- nital são exemplos de portas de entrada do corpo. Embora vitais, eles fornecem uma maneira de os patógenos entrarem. Não é de surpreender que o corpo esteja em busca dos patógenos e exerça vigilância regular para eli- miná-los antes que tenham tempo de se estabele- cer. Por exemplo, a conjuntiva (a membrana mucosa que cobre a parte externa dos olhos) é periodica- mente umedecida e varrida, como o para-brisa de um carro. O alto nível de ácido no estômago mata muitas bactérias perigosas, assim como as bacté- rias benéficas no trato digestivo, que mantêm as bactérias causadoras de doenças sob controle na maior parte do tempo. A mucosa (os tecidos moles que revestem as cavidades úmidas do corpo) tam- bém possui propriedades antimicrobianas. Mas, às vezes, essas respostas não são suficientes. Então, é hora de trazer os jogadores do Ato 2. Ato 2: imunidade inata A imunidade inata é a próxima linha de defesa depois que as barreiras da pele e da mucosa são rompidas. O papel do sistema imune inato é atacar os patógenos invasores, desencadeando uma res- posta inflamatória imediata e disparando a terceira linha de defesa, o sistema imune adaptativo. A imu- nidade inata tem esse nome porque todos nascem com ela – é inata. 8Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação 1. As bactérias entram no corpo em uma farpa. 2. Os fagócitos envolvem as bactérias. Dentro dos fagócitos, os receptores de reconhecimento de padrões analisam os intrusos e levantam sinalizadores de perigo na superfície da célula. 3. Também na super- fície celular, pedaços da bactéria (antígenos) são exibidos para que possam ser reconhe- cidos pelas células do sistema imune adaptativo. As células imunes inatas, conhecidas como fagócitos, atacam os germes, mastigando-os e exibindo pedaços deles em suas superfícies junto com uma bandeira de perigo, comoum sinal de ajuda. A imunidade inata não é especializada, o que sig- nifica que não é direcionada especificamente a um vírus ou a uma bactéria em particular. É assim que ela pode montar uma resposta tão rápida. Compare isso com a imunidade adaptativa, que precisa de tempo para se desenvolver nos primeiros anos de vida. A imunidade inata é a primeira resposta ativa do corpo a patógenos específicos. O sistema imune inato tem uma resposta multiface- tada (ver Figura 2, abaixo à esquerda). Engolindo o invasor. O sistema imune inato é mais conhecido por uma categoria de glóbulos brancos chamados fagócitos, que residem muito perto da camada de células epiteliais que revestem grande parte da superfície do corpo. As células fagocíticas, como neutrófilos, macrófagos e células dendríticas, destroem os patógenos, engolindo-os e mastigan- do-os quimicamente (consulte “Conheça o time: sis- tema imune inato”, página 9). Enviando alertas para o sistema imune adaptativo. Depois que um fagócito envolve um micróbio inva- sor, ele exibe pedaços de proteína do micróbio (antígenos) em sua superfície. Isso alerta o sistema imune adaptativo para o invasor e ativa outras célu- las imunes chamadas células T, para que possam reconhecer uma célula infectada no corpo e se preparar para a batalha (consulte “Ato 3: imunidade adaptativa”, página 9). No entanto, isso não é suficiente para desencadear a resposta imune adaptativa completa. Também é necessário que haja um sinal de perigo exibido na superfície do fagócito para ativar totalmente o sis- tema imune adaptativo. Esse processo começa com proteínas nos fagócitos, chamadas de receptores de reconhecimento de padrões (em inglês, pattern recognition receptors, ou PRRs). Os PRRs permitem que o fagócito distinga rapidamente padrões mole- culares únicos – apropriadamente chamados de “alarminas” – em bactérias e outros patógenos, bem como em tecidos corporais danificados. As alarmi- nas vêm em duas formas: • Padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs) são moléculas únicas encontradas em germes, como bactérias e vírus, mas não em humanos. • Padrões moleculares associados a danos (DAMPs) são moléculas liberadas por células humanas quando o tecido foi ferido ou transformado (como por um tumor, trauma ou falta de oxigênio). Tanto os PAMPs quanto os DAMPs se ligam a recep- tores nas células do sistema imune, de maneira semelhante a uma chave em sua fechadura. A liga- ção ativa uma cascata de sinais que mobilizam um exército de células imunes para atacar o invasor e disparar mais sinais de alarme. As células imunes então engolem e destroem diretamente os invaso- res, como descrito acima, ou geram outras substân- cias para destruí-los. Liberando interferons. Ainda outra estratégia do sistema imune inato envolve a presença de pro- teínas de detecção de vírus dentro das células. A detecção de um vírus faz com que a célula libere proteínas antivirais conhecidas como interferons, que se ligam às células vizinhas não infectadas, tornando-as resistentes ao vírus. O nome fornece a Figura 2: Sistema imune inato Espinho pele bactérias fagócitos antígenos 9Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação pista para o funcionamento: os interferons interfe- rem no avanço viral. Marcando para destruir. O sangue também parti- cipa da imunidade inata. Proteínas conhecidas como proteínas do complemento (sistema complemento) circulam no sangue, cobrindo invasores e abrindo buracos neles para destruí-los. Pequenos fragmen- tos de proteínas do complemento também aderem à superfície do patógeno, marcando-os para destrui- ção pelos fagócitos. Em suma, o sistema imune inato é um sistema necessário de resposta rápida, mas tem algumas limitações. Embora os PRRs possam reconhecer muitos tipos de patógenos, eles são menos eficazes CONHEÇA O TIME: SISTEMA IMUNE INATO Todas essas células imunes desempenham um papel na res- posta do sistema imune inato. Várias delas – como basófilos, citocinas, células dendríticas e mastócitos – estão direta- mente ligadas à inflamação. Os basófilos são um tipo de glóbulo branco que faz parte de um grupo conhecido como granulócitos. Dentro dessas célu- las estão pequenas partículas (grânulos) contendo enzimas que quebram as proteínas internas das bactérias e fungos. Os basófilos liberam a histamina, que faz com que os pequenos vasos sanguíneos se dilatem e se tornem um pouco porosos, permitindo que os glóbulos brancos e as proteínas saiam da circulação para atacar os invasores. As quimiocinas são uma família de citocinas (veja abaixo) que atraem os glóbulos brancos para o local de uma infecção ou lesão. As citocinas são proteínas de sinalização que as células imu- nes liberam para orquestrar a resposta inflamatória, como os interferons, as interleucinas e o fator de necrose tumoral. As células dendríticas são as sentinelas do sistema imune. Durante um ataque ativo, elas reconhecem e ingerem antí- genos estranhos, produzindo citocinas pró-inflamatórias que aumentam a resposta imune inata. Elas também servem como uma ponte para o sistema imune adaptativo, viajando através da corrente sanguínea para os nódulos linfáticos e baço, onde expõem as células do sistema imune adaptativo aos antíge- nos que ingeriram, essencialmente “ensinando” essas células a responder ameaças futuras. Os eosinófilos são um tipo de glóbulo branco, também do grupo conhecido como granulócitos (consulte “basófi- los”, acima). Eles secretam substâncias tóxicas que matam bactérias, vírus e parasitas. O sistema imune controla cuida- dosamente a liberação de eosinófilos porque essas células podem ser altamente prejudiciais aos tecidos saudáveis, como o coração, os nervos ou a pele. Os macrófagos são comedores, tipo glutões, que saem da corrente sanguínea e chegam ao local de uma infecção ou ferimento para desinfetar e limpar. Eles comem bactérias e outros patógenos, junto com células mortas e outros restos de tecidos danificados deixados para trás. Os macrófagos também liberam citocinas para recrutar outras células bran- cas do sangue. Os mastócitos são células imunes presentes no tecido con- juntivo. Elas iniciam a resposta inflamatória, liberando citoci- nas e produtos químicos pró-inflamatórios, como a histamina, que é uma característica fundamental das reações alérgicas. A histamina aumenta o fluxo sanguíneo para a área, fazendo com que os vasos sanguíneos se dilatem. Os neutrófilos são glóbulos brancos que fazem parte da linha de frente de defesa do corpo. Em parte, isso ocorre porque muitos deles circulam em sua corrente sanguínea. Um adulto saudável produz cerca de 100 bilhões de neutrófilos por dia. Eles também são um tipo de granulócito (consulte “basófilos”, acima, à esquerda). Os neutrófilos também são classificados como fagócitos; eles chegam minutos após o ataque ou lesão do patógeno e começam a engolfar e destruir os germes. Os fagócitos são uma categoria de células imunes que atuam como necrófagas do sistema imunológico. Os tipos de glóbu- los brancos classificados como fagócitos incluem neutrófilos, monócitos, macrófagos e células dendríticas. Eles patrulham a corrente sanguínea em busca de vírus e outros patógenos e são convocados ao local da lesão ou infecção por substâncias químicas chamadas citocinas. contra alguns outros. Em segundo lugar, o sistema imune inato não retém memória do inimigo que ven- ceu. É por isso que a resposta imune adaptativa é tão importante. Ato 3: imunidade adaptativa A imunidade adaptativa é um processo mais gradual pelo qual os glóbulos brancos (linfócitos) são prepa- rados para distinguir os inimigos das células do pró- prio corpo. (Doenças autoimunes ocorrem quando esse processo dá errado.) Se a primeira linha de defesa ativa – a resposta imune inata – não consegue derrotar o inimigo em 10Versão em inglês de Harvard Health Publishing,copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação fagócitovírus antígenos células T células T ativadas células infectadas destruídas células T de memória citocinas mensageiras cerca de quatro a sete dias, a segunda linha de defesa ativa, imunidade adaptativa, entra em ação. A imunidade adaptativa é um processo mais lento do que a imunidade inata, mas é muito mais precisa (ver Tabela 1, à direita). Ela reconhece os patóge- nos e foca especificamente neles. O sistema imune adaptativo produz células de “memória” que o per- mitem lembrar dos antígenos e responder nova- mente a eles no futuro. É por isso que, uma vez que você pega uma doença como a varicela, diz-se que você está “imune” a ela. Se você for exposto nova- mente ao vírus varicela-zoster, que causa a varicela, o seu sistema imune saberá automaticamente como combatê-lo. Como o sistema imunológico adaptativo responde a uma ameaça depende de onde essa ameaça está – se em suas células (respostas mediadas por células); se em seu sangue e fluidos corporais (respostas de anticorpos). As células T realizam respostas mediadas por célu- las. As células T são linfócitos, um tipo de glóbulo branco produzido na medula óssea. Embora ainda imaturos, eles viajam para um pequeno órgão atrás do seu esterno, conhecido como timo (daí, o “T” do seu nome). Lá, eles são “treinados” para distinguir antígenos estranhos dos próprios antígenos do corpo (autoantígenos). Uma vez maduras, as células T deixam o timo, sendo muitas delas armazenadas nos gânglios linfáticos, no baço, nas amígdalas, no apêndice e no intestino delgado, enquanto outras circulam pela corrente sanguínea e pelo sistema lin- fático, à espreita de invasores. As células T podem reconhecer células infectadas através de encontros anteriores ou identificando antígenos que o sistema imune inato marcou para elas (ver Figura 3, abaixo). Quando as células T reconhecem uma entidade estranha, elas se desen- volvem em qualquer uma das quatro variações especializadas: TABELA 1: DIFERENÇAS ENTRE IMUNIDADE INATA E ADAPTATIVA IMUNIDADE INATA IMUNIDADE ADAPTIVA Responde rápido (em horas) Responde mais devagar (em dias) Envolve fagócitos (macrófagos, células dendríticas e neutrófilos) Envolve linfócitos (células T e células B) Reconhece padrões gerais de patógenos Reconhece patógenos específicos Figura 3: Resposta imune adaptativa: células T As células T atacam e destroem os invasores, depois se multiplicam para se preparar para uma futura invasão do mesmo germe. O fagócito envolve um patógeno invasor e exibe seu antígeno. A célula T reconhece seu antígeno específico, liga-se a ele e começa a fazer cópias de si mesma. Algumas cópias tornam-se células T de memória. Algumas cópias tornam-se células T ativadas que podem reconhecer uma célula do corpo infectada com o mesmo vírus e destruí-la. 1 2 3 4 11Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação • As células T auxiliares ajudam outras células do sistema imune a funcionarem de maneira mais eficaz. Existem vários subtipos de células T auxiliares. As células Th1 são vitais para controlar certos tipos de infecções virais e bacterianas. As células Th2 promovem a produção de anticorpos pelas células B. Em uma reação alérgica, entretanto, as células Th2 podem responder a substâncias que não são realmente prejudiciais. • As células T assassinas se ligam a antígenos em células infectadas ou cancerosas, fazem orifícios na membrana celular e injetam enzimas que destroem a célula. • As células T reguladoras produzem substâncias que regulam a resposta imune, impedindo-a de continuar sem controle ou danificar os tecidos do corpo. Essas células também ajudam a distinguir as células do próprio corpo e os invasores. • As células T de memória lembram antígenos de germes específicos, para que possam identificá- los no futuro. As células B realizam respostas de anticorpos. As células B produzem anticorpos – proteínas que têm como alvo antígenos específicos. Elas podem se lembrar de um número quase infinito de antígenos diferentes. Quando um anticorpo de uma célula B reconhece e se liga a um antígeno em uma partícula de vírus invasora, bactéria ou outro patógeno, ele inativa o invasor, impedindo-o de se ligar a recep- tores nas células do corpo. O processo de ligação também marca esses invasores para destruição por outras células do sistema imune (consulte a Figura 4, acima). Figura 4: Resposta imune adaptativa: células B As células B produzem anticorpos para bloquear invasores e se multiplicar para se preparar para futuras invasões do mesmo patógeno. células B células B células T Fagócito anticorpos células B de “memória” células plasmáticas células saudáveis A célula B se liga a uma célula T e então começa a fazer copiar de si mesma. As células B reconhecem o antígeno na superfície de uma bactéria invasora específica e se ligam a ela. Algumas cópias tornam-se células B de “memória” que reconhecem e destroem a mesma bactéria na próxima vez que ela entrar no corpo. Algumas cópias tornam-se células plasmáticas que produzem anticorpos específicos para essa bactéria. Os anticorpos bloqueiam os locais dos receptores nas bactérias invasoras para que não possam se ligar às células saudáveis. O fagócito engole e destrói a bactéria agora marcada com anticorpos. 1 2 3 4 5 6 12Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Quando uma inflamação boa se torna ruim Como os capítulos anteriores explicaram, a inflama- ção é uma parte fundamental da resposta imune. Mas esse processo, que deveria salvar sua vida, pode acabar o prejudicando em várias circunstân- cias – se a resposta imune (com a inflamação que a acompanha) for muito forte; se não parar após o desaparecimento de uma infecção; se falhar, cau- sando alergia ou distúrbios autoimunes; ou se for continuamente desencadeada por fatores de estilo de vida. Este capítulo fornece uma visão geral do que estaria errado em cada um desses casos e os problemas que podem resultar. Os capítulos pos- teriores examinarão mais de perto alguns desses problemas. Quando o sistema imune reage de forma exagerada A resposta contra germes nocivos, ou patógenos, é rigidamente regulamentada. Um conjunto de “freios” está em vigor para evitar que o sistema imune reaja exageradamente e produza inflamação descontrolada, mas não é perfeito. Se uma bacté- ria, vírus ou outro patógeno for particularmente virulento, ou se a reação imunológica for especial- mente robusta, a resposta inflamatória pode causar mais danos às células do que o próprio organismo agressor. Por exemplo, uma resposta defeituosa do sistema imune a uma infecção viral pode fazer com que ele ataque erroneamente as células saudáveis do cérebro, levando a uma inflamação com risco de vida chamada encefalite. Outro exemplo é a síndrome do desconforto respira- tório agudo (SDRA). As pessoas desenvolvem SDRA após um trauma grave que afeta direta ou indire- tamente os seus pulmões, como quando quase se afogam, quando respiram na fumaça de um incêndio ou quando desenvolvem um caso grave de pneu- monia. Na SDRA, a resposta inflamatória do corpo envia células imunes para os pulmões. Essas células fazem com que pequenos vasos sanguíneos na área vazem fluido, como é normal durante essa reação. Mas quando o fluido vaza para os pulmões, ele se acumula nos alvéolos, os sacos de ar através dos quais o oxigênio normalmente passa para a corrente sanguínea. O acúmulo de fluido impede que o oxi- gênio entre no sangue, dificultando a respiração. Sem um bom tratamento de suporte, a SDRA pode ser fatal. A natureza letal da gripe de 1918 (que matou cerca de 50 milhões de pessoas em todoo mundo) refle- tiu não apenas em sua capacidade de se replicar rapidamente e se espalhar facilmente de pessoa para pessoa, mas também em sua capacidade de provocar a SDRA. Uma inundação de células imunes e substâncias inflamatórias sobrecarregou rapida- mente o corpo das pessoas e fez com que o fluido se acumulasse em seus pulmões. Em essência, as vítimas se afogaram em seus próprios corpos. Essa resposta inflamatória catastrófica foi a razão pela qual até adultos jovens e saudáveis sucumbiram ao vírus. Mais recentemente, uma versão da SDRA parece ter matado muitos dos que morreram de COVID-19. Algumas pessoas correm maior risco do que outras por uma perigosa reação inflamatória. Por exem- plo, aquelas com a condição rara linfo-histiocitose hemofagocítica produzem excesso de células imu- nes. Embora a causa dessa condição seja frequen- temente incerta, pode ser devida a uma mutação genética hereditária, uma resposta defeituosa a uma infecção ou uma complicação de uma doença autoimune, como a artrite reumatoide juvenil. A síndrome do desconforto respiratório agudo se desenvolve após um trauma – como um quase afogamento, fumaça de um incêndio ou uma infecção pulmonar grave. Envolve inflamação maciça nos pulmões. 13Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Quando o sistema imune não consegue voltar ao normal Um aspecto essencial de uma resposta imune adap- tativa é o retorno a um estado normal ou basal. Logicamente, uma resposta imunológica deve dimi- nuir com o tempo, porque o único propósito da ati- vidade é eliminar um antígeno ou ajudar a reparar o dano ao tecido. Assim que o problema que desen- cadeou a resposta acabar, o drama acaba, e a maio- ria dos jogadores sai do palco. Mas isso nem sempre acontece. Em vez disso, a inflamação pode persistir em um nível baixo e se tornar crônica. Existem vários cenários em que isso pode acontecer. Às vezes, o sistema imune elimina uma ameaça, mas os glóbulos brancos continuam a atacar de qualquer maneira. Sem nenhum inimigo real para vencer, essas células acabam destruindo o tecido saudável em lugares como articulações, artérias, intestinos ou cérebro. Um bom exemplo disso é uma condição chamada artrite reativa, na qual uma infecção (como uma no trato intestinal) provoca inflamação nos olhos, nas articulações e no trato urinário, mesmo que a infecção tenha desaparecido. Os médicos não sabem por que o sistema imune se comporta dessa maneira, embora uma teoria comum seja o “mimetismo molecular” (consulte “Autoimunidade”, à direita). Em outros casos, pode ser difícil para o sistema imune erradicar uma infecção, então a luta continua. Isso é o que acontece em condições como hepatite C ou HIV. Em ambos os casos, a resposta inflama- tória contínua pode causar mais danos ao corpo do que a própria condição. Em um terceiro conjunto de casos, a inflamação é provocada não por um germe, mas por uma exposi- ção repetida a uma toxina ou um tumor. Quando o sistema imune falha O sistema imune geralmente é capaz de realizar a difícil tarefa de distinguir ameaças das não ameaças. Por exemplo, na maioria das vezes, ele sabe que não deve atacar os alimentos ou componentes dos ali- mentos, mesmo que sejam substâncias “estranhas” que vêm de fora do corpo. Mas, às vezes, o sistema falha. As reações alérgicas se desenvolvem contra coisas, como o pólen, que não apresentam perigo de infectar as células. Pior ainda: o sistema imune pode errar e atingir os próprios tecidos do corpo, causando uma variedade de doenças autoimunes. Hipersensibilidade / reações alérgicas. Às vezes, o sistema imune desenvolve uma sensibilidade a outras substâncias ambientais inofensivas, como poeira, pólen, marisco ou pelos de animais, fazendo com que direcione erroneamente seu alvo e levando à inflamação (consulte “Inflamação e respostas alérgicas: quando seu corpo se rebela contra seu ambiente”, página 17). Durante uma reação alérgica, a substância agressora ativa o sistema imune para produzir uma proteína chamada imunoglobulina E (IgE), que viaja para os mastócitos e faz com que eles liberem substâncias químicas que desenca- deiam sintomas, como espirros, coceira, inchaço e liberação de muco. Além das alergias, as reações de hipersensibilidade incluem dermatite atópica (eczema) e asma. Em alguns casos, ocorre uma rea- ção rápida e muito grave chamada anafilaxia, que pode ser mortal se não for tratada rapidamente. Autoimunidade. Durante a hipersensibilidade ou reações alérgicas, o corpo está respondendo a ame- aças externas. Em condições autoimunes, o inimigo percebido vem de dentro, à medida que o sistema de defesa do corpo indevidamente trava uma guerra contra seus próprios tecidos (consulte “Inflamação e doenças autoimunes: quando seu corpo luta contra si mesmo”, página 23). As razões pelas quais a autoimunidade se desen- volve são complexas e não totalmente compreendi- das. Os genes claramente desempenham um papel; doenças autoimunes, como esclerose múltipla, lúpus e artrite reumatoide, têm um componente familiar, e as pessoas que têm uma doença autoimune são mais suscetíveis a outras. Dois genes em particular foram identificados no aumento do risco de doença celíaca, em que o sistema imune visa a proteína glúten do trigo, do centeio e da cevada, mas acaba danificando o revestimento do intestino delgado no processo. Como resultado, o corpo perde a sua capacidade de absorver certos nutrientes, levando à osteoporose, infertilidade e uma série de outros problemas. Uma teoria é que a autoimunidade pode ser o dano colateral de uma resposta imune normal contra a infecção. A ideia é que células saudáveis, como as das articulações ou da pele, podem ser capturadas pela resposta do corpo, levando a doenças como artrite reumatoide ou psoríase. Em alguns casos, uma proeza celular (de malandragem), conhecida como mimetismo molecular, pode estar envolvida. Certas bactérias e vírus produzem antígenos que imitam as proteínas do próprio corpo. Esses pató- genos ainda acionam os sinais inflamatórios que 14Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação acionam a resposta imune. Mas porque se parecem com as células do próprio corpo, o sistema imune começa a ver as suas próprias células como estra- nhas. O processo leva à produção de autoanticorpos – ou seja, anticorpos contra si próprio. Em um deter- minado subgrupo de pessoas, esse processo pode levar a doenças autoimunes – embora nem todas com autoanticorpos desenvolvam uma doença autoimune. Há muito se levanta a hipótese de que doenças como artrite reumatoide e lúpus podem ser causadas por uma resposta imune anormal a um agente infeccioso – no entanto, isso é uma hipótese, já que nenhuma causa infecciosa foi encontrada. De fato, as causas da maioria das condições autoimu- nes são desconhecidas. Quando a inflamação é consequência do estilo de vida ou do envelhecimento Cada vez mais, os cientistas estão descobrindo que uma série de doenças importantes envolvem infla- mação crônica de baixo grau (consulte “Inflamação e seu coração”, página 38, “Inflamação e seu cérebro”, página 41, “Inflamação e doença metabólica”, página 46 e “Inflamação e câncer”, página 49. As causas dessa inflamação parecem não estar relacionadas a infecções ou imunidade automática, mas a fatores como uma dieta inadequada, o avanço da idade, obesidade, estilo de vida sedentário e estresse. Infelizmente, os gatilhos não desaparecem simples- mente com o tempo – por definição, estilo de vida é a maneira como você vive, dia após dia – e isso sig- nifica que a inflamação também não desaparece. Os pesquisadores ainda têm muito a aprender sobre as causas da inflamação crônica de baixo grau, mas certos problemas estão ficando mais claros. Envelhecimento.A inflamação crônica é um fator de risco para várias doenças que se tornam mais comuns com o avanço da idade – incluindo hiper- tensão, diabetes, aterosclerose (endurecimento das artérias) e câncer. No entanto, a própria idade está associada a níveis mais elevados de moléculas inflamatórias, o que leva a um estado persistente de inflamação de baixo grau. Idosos tendem a ter níveis mais elevados de citocinas inflamatórias (ver “A bio- logia da resposta imune”, página 7) no sangue do que os adultos mais jovens. Os cientistas apelida- ram essa inflamação crônica de baixo grau relacio- nada à idade de “inflammaging”. O processo pelo qual o envelhecimento leva à inflamação é altamente complexo, envolvendo vários processos celulares. Entre os jogadores mais importantes estão as moléculas chamadas espécies reativas de oxigênio (ERO), que incluem os radicais livres. As moléculas de ERO contêm um átomo de oxigênio com um elétron desemparelhado em sua camada. Elas se formam durante o processo de rea- ções celulares que usam oxigênio, bem como de exposições ambientais, como tabagismo, drogas, luz solar ou poluição. Para ser estável, um átomo deve conter um número equilibrado de partículas carre- gadas negativamente, ou elétrons, em sua camada externa. Quando o número está desequilibrado, o átomo irá roubar um elétron de uma molécula pró- xima ou perder um elétron na tentativa de se esta- bilizar. Quando uma molécula de ERO rouba um elé- tron, a molécula da qual ela roubou o elétron rouba um elétron de outra e assim por diante, em uma rea- ção em cadeia semelhante a um dominó que, com o tempo, deixa as células danificadas. Os processos necessários para livrar o corpo dessas células danifi- cadas criam um estado constante de inflamação e, à medida que envelhecemos, os danos se acumulam a partir das ERO e da inflamação que as acompanha. Também culpado pela inflamação nos idosos é o declínio gradual do sistema imune com a idade, um processo que os pesquisadores chamam de imu- nossenescência. Embora o corpo tente neutralizar os danos infligidos pelos radicais livres, eventual- mente ele é incapaz de acompanhar. Anos de danos acumulados afetam as células do sistema imune. Ao mesmo tempo, o timo – o minúsculo órgão do tórax onde as células T são “treinadas” – encolhe com a idade. O resultado é um declínio geral ou prejuízo da regulação imune. O corpo continua a ser exposto a ameaças (antígenos), mas não pode mais responder a elas com a mesma eficácia de antes. Como outras partes do sistema imune podem não funcionar de maneira ideal com a idade, as moléculas inflamató- rias podem estar em um estado de ativação cons- tante, o que leva a uma inflamação de baixo grau. Finalmente, o tempo cobra o seu preço na forma de exposições prolongadas a substâncias nocivas. Quanto mais tempo você vive, mais fica exposto à poluição prejudicial, à radiação ultravioleta do sol e aos produtos químicos dos cigarros (se você fuma ou passa algum tempo perto de fumantes). Obesidade. À medida que os anos se acumulam, o peso tende a se acumular também – uma média de um ou dois quilos por ano, desde o início da idade adulta até a meia-idade. Quase 40% dos americanos são obesos (o que significa que seu índice de massa corporal é 30 ou mais), e a inflamação é uma das consequências. O acúmulo de gordura aumenta a 15Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação resposta imunológica, levando a um ciclo de infla- mação constante de baixo nível. Pessoas obesas têm excesso de tecido adiposo, o tipo de tecido usado para armazenar gordura. Suas células de gordura, chamadas adipócitos, também são maiores do que o normal. Antigamente, pen- sava-se que as células de gordura eram depósitos inertes de ácidos graxos da dieta, mas agora os cientistas sabem que não é esse o caso. A pesquisa revelou que os adipócitos produzem proteínas sinali- zadoras pró-inflamatórias chamadas adipocitocinas, que deixam o sistema imune em um estado de alerta constante. Como essas células de gordura crescem em tamanho e número, elas produzem ainda mais adipocitocinas. Portanto, quanto mais sobrepeso uma pessoa possui, mais substâncias inflamatórias produz. Dieta. A comida faz mais do que simplesmente nutrir o seu corpo. A maneira como você preenche o seu prato pode promover ou ajudar a controlar a inflamação. Dietas ricas em gorduras saturadas e açúcares refinados estão associados ao aumento da produção de moléculas pró-inflamatórias. Certos ali- mentos em particular são conhecidos por promover a inflamação, incluindo carboidratos à base de fari- nha branca (pão branco, biscoitos, bolos e doces), alimentos fritos, refrigerantes e outras bebidas ado- çadas com açúcar, carnes vermelhas e processadas, margarina e gordura vegetal. Esses tipos de alimen- tos não apenas estimulam diretamente a liberação de citocinas inflamatórias, mas também promovem o ganho de peso, o que significa que há mais tecido adiposo liberando adipocitocinas. Alimentos como vegetais de folhas verdes, peixes gordurosos e azeite de oliva têm o efeito oposto, ou seja, suprimem a produção de moléculas pró-infla- matórias e aumentam a produção de moléculas anti- -inflamatórias (consulte “Se alimente combatendo a inflamação”, página 29). Estilo de vida sedentário. O estilo de vida viciado em sofá tem sido associado a uma série de riscos à saúde, entre eles, obesidade, hipertensão, doenças cardíacas, diabetes tipo 2, osteoporose e depres- são. Vários estudos também associaram um estilo de vida sedentário ao aumento da inflamação. Em grande parte da pesquisa, tem sido difícil descobrir se a inflamação é o resultado direto de ficar sentado demais ou se vem de problemas que costumam ser parte integrante de um estilo de vida sedentário, como obesidade, alto nível de açúcar no sangue ou uma dieta deficitária. Mas um estudo publicado na revista PLOS One encontrou níveis elevados da A inflamação crônica está ligada a muitos fatores de estilo de vida, que por definição não desaparecem, porque fazem parte do nosso dia a dia. Mas podemos mudar a maioria desses fatores, incluindo excesso de peso, dieta inadequada, comportamento sedentário e tabagismo. citocina pró-inflamatória interleucina-6 (IL-6) em pes- soas que passavam muito tempo sentadas, mesmo depois que os pesquisadores ajustaram para esses fatores relacionados. Essa descoberta sugere que um estilo de vida sedentário pode ter um efeito direto sobre a inflamação, enfatizando a necessi- dade de se levantar e se movimentar ao longo do dia. Tabagismo. Além das suas contribuições para o câncer, doença pulmonar e uma série de outros problemas de saúde, fumar é um conhecido acele- rador da inflamação. A ação de acender um cigarro gera uma “poção de bruxa” com milhares de pro- dutos químicos, muitos dos quais são tóxicos para as células e tecidos humanos. A queima do fumo gera ERO, que danificam as células das vias aéreas. ERO e outros componentes da fumaça do tabaco, também como células das vias aéreas danificadas, enviam sinais que ativam a resposta inflamatória. Nas vias aéreas de fumantes regulares, isso produz um estado de lesão e inflamação constantes. A boa notícia é que parar de fumar pode ajudar a reverter esse processo. Alguns anos depois que uma pes- soa para de fumar, os níveis sanguíneos de proteína C reativa (PCR) e outros marcadores de inflamação diminuem. Além de a fumaça do cigarro promover inflamação em geral, ela também amortece a resposta do sis- tema imune inato necessária para protegê-lo contra infecções e câncer. Por exemplo, quando as células 16Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação das vias aéreas que foram expostas à fumaça do tabaco são infectadas com o vírus influenza, elas produzem níveis mais baixosde citocinas pró-infla- matórias como IL-6 e interleucina-8 do que as célu- las que não foram expostas à fumaça, que permite que o vírus se replique sem controle. Os efeitos do tabagismo sobre a função imune podem ser o motivo pelo qual os fumantes têm maior probabili- dade de desenvolver tuberculose e tendência de gripe e pneumonia mais graves. Estresse. O estresse é semelhante à inflamação no sentido de que pode ser útil em pequenas quanti- dades, mas prejudicial quando permitido por longo prazo. Uma certa quantidade de estresse ajuda você a ter sucesso, fazendo com que você estude bas- tante para uma prova ou cumpra um prazo no traba- lho. Mas muito disso pode prejudicar a sua saúde. O corpo desenvolveu um sistema de resposta emer- gencial ao estresse, chamado de resposta luta ou fuga, para ajudá-lo a sobreviver a ameaças como um urso prestes a atacar ou uma motocicleta cor- rendo em sua direção. A liberação de hormônios do estresse, como o cortisol (consulte “Hormônios e inflamação”, à esquerda) e a adrenalina, faz o seu coração bater mais rápido, a sua respiração acelerar e os seus músculos se prepararem para a ação. Isso é muito bom quando você está sob ameaça, mas se essa resposta dispara de maneira constante por causa de um trabalho estressante ou um casamento infeliz, essas reações continuam a ocorrer sem ame- aças reais para tal. O fluxo contínuo de cortisol eventualmente torna seus tecidos e células imunes menos sensíveis aos seus efeitos. Como resultado, o cortisol se torna menos eficaz na regulação da resposta inflamatória e a inflamação pode ficar fora de controle. HORMÔNIOS E INFLAMAÇÃO O sistema imune trabalha em estreita colaboração com o sistema endócrino – o conjunto de glândulas que liberam hormônios que controlam o metabolismo, o crescimento e outras funções em todo o corpo. Os hormônios esteroides, que incluem os hormônios sexuais (como estrogênio, proges- terona e testosterona) e os glicocorticoides, ajudam a modu- lar a resposta do sistema imune. Os glicocorticoides, um grupo de hormônios que incluem o cortisol, fazem parte do mecanismo de feedback do sis- tema imune. Esses hormônios ajudam a regular a inflamação durante a eliminação de patógenos e o reparo de tecidos após uma doença ou lesão. Os glicocorticoides têm pro- priedades anti-inflamatórias tão poderosas que as versões sintéticas deles (cortisona, hidrocortisona e prednisona) são os pilares do tratamento de doenças inflamatórias, como a artrite reumatoide. Os hormônios sexuais também afetam a inflamação, mas de maneiras diferentes. Os hormônios masculinos (andrógenos), como a testosterona, são principalmente anti-inflamatórios, enquanto os hormônios femininos (como o estrogênio e a pro- gesterona) podem suprimir ou promover a inflamação. Essas diferenças podem estar por trás das respostas imunes mais fortes que as mulheres apresentam, tanto contra agentes estranhos quanto contra os seus próprios corpos. Isso pode ajudar a explicar, pelo menos em parte, por que as mulheres correm um risco muito maior do que os homens para a maio- ria das doenças autoimunes. 17Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Inflamação e respostas alérgicas: quando seu corpo se rebela contra o seu ambiente Mais de 50 milhões de americanos são alérgicos a algo normalmente inofensivo, como poeira, pólen, pelos de animais de estimação, ovos, frutos do mar ou mofo. A exposição a esses gatilhos traz uma onda de sofrimento, com sintomas como espirros, olhos lacrimejantes ou (em casos mais graves) urti- cária, lábios inchados e respiração ofegante. A mais extrema dessas reações, conhecida como anafila- xia, é uma resposta corporal que pode ser mortal. O termo “alergia”, que vem da palavra grega para “outro”, foi cunhado pela primeira vez em 1906 pelo pediatra austríaco Clemens von Pirquet. Ele usou a palavra para descrever a reação anormal do sistema imune, ou resposta de hipersensibilidade, desenca- deada por uma substância estranha que ele chamou de “alérgeno”. Os distúrbios de hipersensibilidade produzidos por essa reação exagerada incluem rinite alérgica (coloquialmente denominada “febre do feno”), asma alérgica, anafilaxia, dermatite atópica (eczema) e alergias alimentares. Alergias, asma e eczema cos- tumam ocorrer juntos, iniciados pelas mesmas subs- tâncias que desencadeiam os sintomas da alergia. Alergias Em certas pessoas, o sistema imune responde a substâncias inofensivas, como pólen ou pelos de animais, como se fossem agentes infecciosos peri- gosos. Os genes são parcialmente responsáveis. Mas, à medida que a incidência de alergias aumen- tou no mundo desenvolvido – junto com a redução das doenças infecciosas – a chamada hipótese da higiene também ganhou força. Proposto pelo imu- nologista David Strachan na década de 1980, a exposição a germes no início da vida “treina” o sis- tema imune incipiente de uma criança para identifi- car patógenos causadores de doenças estimulando células T (consulte “As células T realizam respostas mediadas por células”, página 10). Isso significa que sem a exposição a “bandidos” na primeira infân- cia, certos componentes do sistema imune não se desenvolvem adequadamente. O resultado é uma alergia, pois as células do sistema imune, que nor- malmente ajudam a impedir a invasão de vírus e bactérias, tornam-se hiperativas e têm como alvo essas substâncias não infecciosas. Comer, inalar ou tocar qualquer uma dessas subs- tâncias pode desencadear uma reação alérgica em pessoas sensíveis a elas. Os alérgenos mais comuns incluem: • grama e pólen • pelos de animais • ácaros • látex • alimentos como amendoim, nozes, peixes, crustáceos, ovos e leite • veneno de inseto Normalmente, o sistema imune pode distinguir entre substâncias nocivas, como germes, e substâncias inofensivas, como pólen ou pelos de animais. Mas em pessoas com alergias, o sistema imune ataca substâncias inofensivas. 18Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Para se tornar alérgico a uma dessas substâncias, o corpo precisa passar por um processo denominado sensibilização (ver Figura 5, página 19). Quando os alérgenos entram no corpo, as células imunes, cha- madas células apresentadoras de antígenos (como as células dendríticas), os capturam e, como o nome indica, os apresentam a outras células imunes, parti- cularmente as células T. Existem dois tipos de células T: Th1 e Th2. Durante uma reação normal, as células Th1 liberam citocinas que fazem com que as células B comecem a fabricar um tipo de anticorpo protetor denominado imuno- globulina G (IgG). Os anticorpos são proteínas que o sistema imune produz quando percebe uma ameaça potencial. O corpo produz cinco imunoglobulinas: IgA, IgD, IgE, IgG e IgM. Os anticorpos IgG circulam pela corrente sanguínea e vão atrás de bactérias, vírus e outros organismos prejudiciais. As células Th2 também direcionam as células B para a produção de anticorpos, mas do tipo IgE. A imunoglobulina IgE prepara o sistema imune para reconhecer o alérgeno na próxima vez que entrar no corpo. Esse processo é conhecido como sensi- bilização. IgE se liga a receptores na superfície dos mastócitos nos tecidos e basófilos na corrente san- guínea. Uma única exposição à substância agres- sora provoca uma reação aguda (fase inicial), que não produz sintomas, mas prepara o sistema imune para ficar à procura desse alérgeno no futuro. Na próxima vez que essa pessoa for exposta ao mesmo alérgeno, a IgE é capaz de se ligar a ele. Poucos minutos após a exposição ao alérgeno, outra reação de fase inicial é iniciada. A ligação faz com que o mastócito ou basófilo libere substâncias químicas como histamina, prostaglandinas e leuco- trienos que produzem inflamação. A liberação des- ses produtos químicosleva a alguns ou todos os sin- tomas característicos de uma reação alérgica: • dilatação dos vasos sanguíneos, o que produz pele e/ou olhos avermelhados • vazamento dos vasos sanguíneos, causando inchaço dos tecidos e lacrimejamento dos olhos, contração dos músculos dos pulmões, causando respiração ofegante e dificuldade para respirar • aumento da secreção de muco, produzindo coriza • estimulação dos nervos sensoriais, causando espirros, tosse e coceira. Os produtos químicos que os mastócitos liberam atraem outros glóbulos brancos – eosinófilos, neu- trófilos e basófilos – para a área. Essa parte da resposta alérgica é conhecida como reação de fase tardia, e ocorre horas após a exposição ao alérgeno. Esses glóbulos brancos essencialmente movem-se para os tecidos e permanecem lá. Tanto os mastócitos quanto os glóbulos brancos recrutados liberam citocinas que danificam teci- dos. Quando a exposição ao alérgeno é contínua ou repetida, causa inflamação persistente, junto com mudanças nas células na área que podem per- manentemente remodelar a estrutura e função do órgão afetado. Por exemplo, pessoas com asma crônica podem desenvolver células produtoras de muco adicionais em suas vias aéreas, e mais células do músculo liso que causam o engrossamento dos músculos das vias aéreas. Eczema Eczema, também conhecido como dermatite ató- pica, é uma doença inflamatória da pele que produz manchas vermelhas na pele com coceira intensa. Muitas vezes começa na infância, mas pode durar até a adolescência e a idade adulta. Embora a con- dição seja geralmente considerada mais incômoda do que perigosa, pode aumentar o risco de doenças cardíacas e AVC, possivelmente devido ao aumento da inflamação no corpo. O eczema também pode causar infecções na pele, uma vez que a função da barreira da pele é prejudicada. Tanto a genética quanto o meio ambiente desem- penham papéis no desenvolvimento do eczema. Pessoas com eczema apresentam níveis elevados de anticorpos IgE no sangue, associados a reações O eczema produz manchas vermelhas na pele com coceira intensa. A reação da pele é o resultado de uma resposta imune anormal que produz inflamação dentro do corpo. 19Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Alérgeno Célula dendrítica Célula Tfh Célula B Citocinas Anticorpos IgE Fragmento de alérgeno apresentado pela célula dendrítica à célula T Alérgeno Mastócito Eosinófilo Célula B Anticorpos IgE Th2 Triptase, histamina, leucotrienos, prostaglandinas. Citocinas Citocinas Citocinas As células dendríticas, um tipo de célula imune que monitora os tecidos do corpo para alérgenos e outros materiais estranhos, começa a resposta imune inata. Essas células reconhecem um alérgeno como um invasor, devorando-o onde quer que estejam (o revestimento interno do nariz, por exemplo). Elas processam o invasor e exibem uma porção reconhecível como um antígeno, que ativa um tipo especial de célula T chamada Tfh (auxiliar folicular T). Isso desencadeia uma complexa reação em cadeia envolvendo a liberação de citocinas, substâncias químicas que sinalizam as células B para produzir anticorpos IgE; esses anticorpos estarão prontos para o alérgeno na próxima vez. Os anticorpos IgE que foram criados na primeira exposição ao alérgeno ficam à espreita na superfície dos mastócitos, células do sistema imune encontradas nas camadas da membrana mucosa dos pontos de entrada do corpo (como nariz, olhos, pulmões e intestinos). Quando um alérgeno encontra os anticorpos IgE, os mastócitos liberam substâncias pró-inflamatórias, como triptase, histamina, leucotrienos e prostaglandinas, que causam inflamação. Os mastócitos também produzem as suas próprias citocinas que estimulam as células B a produzir mais IgE, equipando mais os mastócitos para que, da próxima vez que o alérgeno apareça, a reação seja ainda mais forte. Ao mesmo tempo, as células Th2 produzem citocinas que estimulam os mastócitos, induzem a sua proliferação e causam inflamação local. Os mastócitos e células Th2 ativados também recrutam outras células do sistema imune, conhecidas como eosinófilos, para o local da resposta alérgica, aumentando a inflamação local. Figura 5: Desenvolvendo uma alergia: um processo de duas etapas 1. Primeira exposição (sensibilização): você produz anticorpos que reconhecerão o alérgeno no futuro. 2. Exposições subsequentes (reações alérgicas): seus anticorpos IgE reconhecem o alérgeno e desencadeiam uma resposta alérgica. 20Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação alérgicas. Muitos têm histórico pessoal ou familiar de outras condições alérgicas, como asma, alergias alimentares e rinite alérgica. A hipersensibilidade a substâncias no meio ambiente, incluindo pólen e pelos de animais domésticos, pode desencadear surtos de eczema, especialmente em pessoas com casos graves. No entanto, o eczema não é causado por uma reação alérgica a substâncias que tocam a pele; essa é uma condição separada chamada der- matite alérgica de contato. A erupção na pele vermelha e com coceira é o sin- toma óbvio de eczema, mas sob a superfície da pele, muitas outras coisas estão ocorrendo. A manifesta- ção cutânea é o resultado de uma reação imune anormal que produz inflamação dentro do corpo. O eczema é às vezes referido como “a coceira que causa erupções na pele”, e por um bom motivo. Começa com uma coceira, quando mediadores quí- micos na pele estimulam as terminações nervosas da epiderme. A maioria das pessoas não consegue deixar de coçar. Mas quando você coça, na tentativa de encontrar alívio, mais substâncias inflamatórias são liberadas, levando a uma sequência repetida de eventos conhecida como “ciclo da coceira”. Cada vez que você coça a pele, você quebra as células dela. Normalmente, a camada externa da pele, ou epiderme, serve como uma barreira para evitar que alérgenos, irritantes, bactérias e outras substâncias indesejáveis entrem. No eczema, essa barreira é mais fraca e porosa do que o normal, o que a torna mais suscetível a danos e inflama- ção. Micróbios, pelos de animais, ácaros e outras substâncias estranhas podem deslizar mais facil- mente para essas áreas danificadas, agravando a reação imunológica. As células imunes próximas à superfície da pele enviam o alerta às células Th1 e Th2, que liberam produtos químicos que produzem a vermelhidão e a erupção cutânea. Em situações normais, a resposta do sistema imune acabaria parando. Mas no eczema, ela continua produzindo um estado constante de inflamação de baixo nível. Mesmo quando nenhuma erupção está visível, a inflamação persiste sob a pele. Asma A asma é uma doença nos pulmões que envolve uma relação complexa entre alérgenos e irritantes no meio ambiente, brônquios excessivamente reati- vos e inflamação. Normalmente, quando inspiramos, o ar saturado de oxigênio passa para os pulmões por meio de dois tubos ramificados conhecidos como brônquios, que então se ramificam em tubos menores chamados bronquíolos. O ar inalado viaja para o arranjo semelhante a um cacho de uvas de pequenos sacos chamados alvéolos nas extremida- des dos bronquíolos, onde o oxigênio entra na cor- rente sanguínea através da rede de vasos sanguí- neos que circundam os alvéolos nas profundezas do tecido pulmonar. A asma costumava ser entendida estritamente com base em seus efeitos físicos nos pulmões. Os mús- culos ao redor dos brônquios se contrairiam, estrei- tando esses tubos e restringindo o fluxo de ar – ou assim se acreditava. Agora, os médicos e pesquisa- dores reconhecem que a asma é uma doença infla- matória que envolve as ações de células inflamató- rias, como mastócitos, eosinófilos e neutrófilos, e a liberação de produtos químicos inflamatórios, como histamina, leucotrienose uma variedade de citoci- nas. A inflamação, além da constrição dos múscu- los circundantes, é o que causa o estreitamento dos brônquios. O estreitamento deixa menos espaço para o ar fluir para os pulmões. Essa restrição do fluxo de ar leva aos sintomas reveladores da asma – falta de ar, respiração ofegante e aperto no peito. O que desencadeia esse processo inflamatório é único para cada pessoa. Em pessoas com asma alérgica, a exposição a alérgenos típicos, como pólen, pelos de animais ou poeira, aciona o pro- cesso inflamatório. Na asma não alérgica, os sintomas são desencade- ados não por alérgenos, mas por irritantes, como fumaça ou exercício. As infecções virais também Em pessoas com asma, as vias respiratórias nos pulmões sempre mostram algum grau de inflamação. Mas durante um surto, as vias aéreas incham, bloqueando o fluxo de ar. Medicamentos chamados broncodilatadores podem ajudar. 21Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação podem causar crises de asma, especialmente em crianças. No entanto, mesmo quando as pessoas com asma não são expostas a substâncias agressivas e parecem estar respirando bem, uma inflamação de baixo nível persiste em seus brônquios (veja a Figura 6, à direita). O que causa esse estado constante de inflamação ainda não está claro, mas torna os tubos brônquicos ultrarresponsivos ou “espasmódicos” – isto é, propensos a espasmos em resposta a alérgenos ou irritantes no ar que normalmente não causariam problema. A inflamação persistente produz mudanças estrutu- rais de longo prazo nas vias aéreas, o que exacerba o ciclo. As vias aéreas ficam mais espessas e apre- sentam cicatrizes. As células musculares aumentam. As células das vias aéreas liberam produtos quími- cos inflamatórios e muco pegajoso. Os mastócitos ativados repetidamente liberam substâncias quí- micas que atraem os eosinófilos, que por sua vez causam mais inflamação. Todo o conjunto dessas mudanças incha as paredes das vias aéreas, estrei- tando ainda mais as suas vias. Reduzindo a inflamação para tratar asma e alergias Existem duas maneiras fundamentais de controlar a asma, o eczema e as alergias. Uma é evitar a exposi- ção a gatilhos como pólen ou mofo (o teste de aler- gia pode identificar os seus gatilhos específicos). A outra é tomar medicamentos que suprimam a infla- mação e as suas complicações, visando os proces- sos que estão por trás dos sintomas. Os principais medicamentos para alergias, asma e eczema atuam atenuando a inflamação localmente ou em todo o corpo. Os anti-histamínicos bloqueiam a liberação de his- tamina, que causa sintomas como coceira, coriza, espirros e urticária. Os exemplos incluem difeni- dramina (Benadryl) e loratadina (Alavert e Claritin). Essas drogas atuam ligando-se aos receptores de histamina nos mastócitos. Elas tratam alergias sazo- nais e internas, mas não são eficazes contra a asma. Os corticosteroides são drogas projetadas para imitar os efeitos do cortisol, um poderoso hormônio anti-inflamatório natural produzido pelas glândulas suprarrenais. (Os corticosteroides não são iguais aos esteroides anabolizantes que os halterofilis- tas às vezes tomam para aumentar a sua força e massa muscular.) Os corticosteroides atuam direta- mente nas células inflamatórias, como mastócitos e Em uma via aérea normal (A), os músculos estão relaxados para que o ar circule facilmente por ela. A asma causa dois problemas que podem restringir a respiração. Primeiro, os músculos brônquicos se contraem (B), geralmente em resposta a um alérgeno ou algum outro gatilho da asma. Em segundo lugar, as paredes brônquicas, que sempre apresentam algum grau de inflamação nas pessoas com asma, ficam inchadas, se tornando excessivamente cheias de muco (C). Algumas das células envolvidas na inflamação das vias aéreas são os mastócitos e os eosinófilos, que liberam substâncias químicas que causam o estreitamento das vias aéreas (D). Via aérea (brônquio) A. Via aérea normal (seção) B. Broncoconstrição Estreitamento das vias aéreas Contração muscular C. Inflamação D. Inflamação de perto Produção de muco extra Célula epitelial Eosinófilo Mastócito com IgE de superfície Músculo Glândula mucosa Vaso sanguíneo Estreitamento das vias aéreas Figura 6: Como a asma restringe a respiração Membrana mucosa Cílios, células epiteliais Músculo Via aérea normal 22Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação eosinófilos, ajudando a reduzir a produção de cito- cinas. Quando borrifados no nariz, eles reduzem o inchaço que causa congestionamento. Quando ina- lados ou tomados por via oral, eles suprimem as vias que contribuem para a inflamação das vias aéreas e o inchaço na asma. Os cremes esteroides tópicos reduzem o inchaço e aliviam a coceira e as erup- ções cutâneas no eczema. Os broncodilatadores relaxam os músculos ao redor das vias aéreas para permitir que mais ar flua para os pulmões. Existem três tipos de broncodila- tadores: beta-agonistas, anticolinérgicos e teofilina. Esses medicamentos funcionam de duas maneiras: broncodilatadores de ação curta (ou inaladores de “resgate”) agem rapidamente para interromper uma crise de asma, enquanto os broncodilatadores de ação prolongada são tomados diariamente para pre- venir os sintomas da asma. Os inibidores de leucotrienos, como o montelu- caste (Singulair), bloqueiam a ação dos leucotrie- nos, substâncias químicas inflamatórias que o seu corpo libera depois de entrar em contato com um gatilho de alergia, como mofo ou pólen. Os leuco- trienos causam sintomas como congestão, nariz escorrendo e dificuldade para respirar durante uma alergia ou crise asmática. A imunoterapia – normalmente na forma de “vaci- nas para alergia”, mas às vezes administrada por via oral – é outra abordagem às alergias que expõe o corpo a doses gradativamente crescentes de um alérgeno. Durante um período de semanas ou meses, o sistema imune lentamente se torna insen- sível à substância. O número de células Th2 diminui enquanto as células Th1 aumentam, os mastócitos e basófilos liberam menos de seus produtos químicos após a exposição ao alérgeno, e as células B produ- zem menos IgE. Como resultado desses efeitos, os sintomas de alergia melhoram. Drogas imunossupressoras, como azatioprina (Azasan e Imuran) e ciclosporina (Neoral), reduzem a resposta do sistema imune para dar uma chance de cicatrização à pele afetada por eczema. Os ini- bidores tópicos da calcineurina, como tacrolimus (Protopic) e pimecrolimus (Elidel), suprimem parte da resposta imune ao inibir a enzima calcineurina, que ativa as células T. Produtos biológicos são uma nova classe de drogas feitas de organismos vivos. Eles são geneticamente modificados para atingir células ou proteínas espe- cíficas que controlam o processo inflamatório. Cinco produtos biológicos injetáveis foram aprovados pelo FDA para tratar asma em pessoas com sinto- mas graves que não respondem a outros tratamen- tos. Omalizumab (Xolair) tem como alvo os anticor- pos IgE. Mepolizumab (Nucala), reslizumab (Cinqair) e benralizumab (Fasenra) bloqueiam a interleu- cina-5 em pessoas com uma forma grave de asma. Dupilumab (Dupixent) também trata a asma e é o único medicamento biológico aprovado pela FDA para tratar eczema. Ele bloqueia duas citocinas pró-inflamatórias, IL-4 e IL-13, de se ligarem a seus receptores. Uma melhor compreensão dos fatores genéticos, ambientais e imunológicos que contribuem para as alergias e a inflamação alérgica está ajudando os pesquisadores a desenvolver novas maneiras de tratar ou mesmo prevenir as alergias – por exemplo, visando receptores específicos, células T, citocinas, ou outras partes das vias envolvidas na resposta inflamatória alérgica. Os pesquisadores também estão tentando desenvolverterapias mais perso- nalizadas que sejam específicas para alérgenos ou que se concentrem na resposta alérgica específica de um indivíduo. 23Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Inflamação e doença autoimune: quando o seu corpo luta contra si mesmo Uma doença autoimune é essencialmente a revolta do seu corpo contra si mesmo. Em vez de protegê- -lo de ameaças externas, o sistema imune direciona o seu ataque contra tecidos e órgãos saudáveis. Nesse caso, os anticorpos (chamados de autoanti- corpos porque atacam os seus próprios tecidos) e as células T têm como alvo certas proteínas (autoan- tígenos) e lançam uma resposta imune contra elas. Existem mais de 100 doenças autoimunes diferen- tes. Juntas, elas afligem mais de 23 milhões de americanos, sendo as mulheres as mais afetadas. Algumas doenças autoimunes, como esclerose múl- tipla, artrite reumatoide e diabetes tipo 1, são bem conhecidas. Outras, como doença de Behçet, arte- rite de células gigantes e síndrome de Goodpasture, podem ser menos familiares. O que faz com que o corpo se volte contra si mesmo? Abundam as teorias sobre as origens das doenças autoimunes. A genética, sem dúvida, desempenha um papel. Essas doenças têm um componente fami- liar, e qualquer pessoa com um dos pais ou irmão que tenha esclerose múltipla, lúpus ou outra dessas doenças enfrenta um risco maior. Às vezes, a predis- posição para a autoimunidade, ao invés da doença específica, é herdada. Por exemplo, alguém que tem um parente próximo com artrite reumatoide pode desenvolver lúpus. No entanto, os genes não contam toda a história. O mais provável é que os genes apenas definam o cenário, e então as exposições ambientais real- mente colocam a doença em movimento. A expo- sição à fumaça do cigarro e à poluição têm sido implicadas em doenças autoimunes, como artrite reumatoide. Produtos químicos na fumaça e poluen- tes podem induzir danos celulares que produzem inflamação e iniciam a resposta imune. Alguns pes- quisadores acreditam que essas doenças são o resultado de danos colaterais que ocorrem quando células saudáveis são afetadas pela carga do sis- tema imune contra uma infecção. Abaixo estão algumas das doenças autoimunes mais comuns, listadas em ordem alfabética. Embora este não seja um diretório completo, ele ilustra como as doenças autoimunes funcionam, o papel que a infla- mação desempenha nelas e a forma como as tera- pias que visam a inflamação as tratam. Doença inflamatória intestinal (DII) A doença inflamatória intestinal (DII) é um termo amplo que se refere a duas condições inflamatórias que afetam o sistema digestivo: doença de Crohn e colite ulcerativa. Ambas causam úlceras e inflama- ção no revestimento do trato intestinal. Essa inflama- ção altera a função intestinal de uma forma que dá origem a sintomas como dor, diarreia e cólicas abdo- minais intensas. Há muita sobreposição de sintomas entre as duas condições, o que pode dificultar sua distinção. A colite ulcerativa, no entanto, concentra- -se principalmente no cólon e no reto, enquanto a doença de Crohn pode causar feridas e inflamação em qualquer parte do trato digestivo, da boca ao ânus. A inflamação também é o que distingue a DII da síndrome do intestino irritável (SII). A SII compar- tilha sintomas como diarreia e cólicas abdominais com a DII. As principais características distintivas são que, com a SII, a inspeção do intestino e as amostras de biópsia não revelam inflamação significativa ou qualquer outra anormalidade específica. Embora a causa exata da DII seja desconhecida, existe um forte fator genético associado à doença. Pessoas que têm pais ou irmãos com a doença têm 10 a 15 vezes mais probabilidade de desenvolvê-la do que pessoas sem esse histórico familiar. Uma teoria é que essa predisposição genética configura uma resposta anormal do sistema imune às bacté- rias intestinais, o que leva a um estado de inflama- ção crônica (consulte “O papel do microbioma nas doenças inflamatórias”, página 24). Outros fatores ambientais, incluindo tabagismo, também podem estar envolvidos no desencadeamento da doença. A inflamação persistente pode danificar permanen- temente o intestino e aumentar o risco de câncer colorretal em pessoas com DII. Pessoas com DII também apresentam risco elevado de doenças infla- matórias nos olhos e na pele, bem como inflamação crônica nos pulmões e vias aéreas, coágulos san- guíneos e distúrbios no fígado e nos dutos biliares. 24Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação O PAPEL DO MICROBIOMA EM DOENÇAS INFLAMATÓRIAS O corpo humano é mais do que simplesmente uma coleção de células, tecidos e órgãos. Todo um mundo microscópico, repleto de mais de 100 trilhões de bactérias, fungos, vírus e protozoários, habita o seu intestino e outras partes do seu corpo. Esses microrganismos superam em número as suas próprias células por um fator de dez para um. Embora alguns membros do seu microbioma possam deixá-lo doente, a maioria vive harmoniosamente e até prestativa den- tro de você. As bactérias benéficas ajudam o corpo a digerir os alimentos, produzir vitaminas, protegê-lo contra as bacté- rias nocivas e inibir a inflamação. Embora a composição do seu microbioma permaneça razoa- velmente estável, certos fatores ambientais – incluindo uma dieta rica em calorias e gorduras e medicamentos como os antibióticos – podem alterar a sua composição. Algumas des- sas mudanças podem danificar a barreira que mantém essas bactérias fora da corrente sanguínea. Uma vez que a barreira é danificada, as bactérias podem cau- sar inflamação no trato digestivo e em todo o corpo (embora seja incerto como isso acontece). A pesquisa descobriu que um desequilíbrio no microbioma, chamado disbiose, pode contribuir para o desenvolvimento de doenças autoimunes como doença inflamatória intestinal, artrite reumatoide e outros tipos inflamatórios de artrite, diabetes tipo 1, esclerose múltipla e lúpus. Atualmente, os estudos estão investigando se os probióticos (alimentos e suplementos que contêm bactérias vivas benéfi- cas) e os prebióticos (alimentos e suplementos que alimentam e estimulam o crescimento de bactérias benéficas) podem ajudar no tratamento de pessoas com doenças autoimunes. Até agora, essa pesquisa está inconclusiva. Outra terapia pro- missora sob investigação é o transplante fecal, que transfere uma amostra do microbioma de um doador saudável para uma pessoa com doença autoimune. Além, disso, outras pes- quisas estão focadas em como certas dietas – como a dieta mediterrânea – podem alterar o microambiente intestinal de uma forma que atenua a inflamação em doenças autoimunes. Lúpus Ao contrário de algumas doenças autoimunes que atingem uma parte específica do corpo, como as articulações ou a pele, o lúpus eritematoso sistê- mico, ou lúpus, como é mais conhecido, pode afetar muitas partes do corpo. Ele causa inflamação, afe- tando a pele, as articulações, os pulmões, o coração, os rins, os olhos, o sistema digestivo, os músculos e até o cérebro. O grande número de sistemas de órgãos envolvidos leva a uma constelação de sinto- mas, incluindo fadiga, dores nas articulações, febre, anemia, dor no peito, erupção cutânea em forma de borboleta no rosto, sensibilidade à luz, feridas na boca e dificuldade para respirar – o que pode tornar o diagnóstico dessa doença complexo e demorado. Tal como acontece com outras doenças que caem sob o guarda-chuva autoimune, as origens do lúpus não são claras, mas é provável que também se origine de uma combinação de genes e gatilhos ambientais. Os pesquisadores identificaram mais de 50 genes que aumentam a suscetibilidade à doença. Quando um gêmeo idêntico tem lúpus, o outro tem cerca de 30% de chance de desenvolvê-lo. Genes compartilhadossão provavelmente uma das razões pelas quais certos grupos étnicos, incluindo pes- soas de ascendência africana e asiática, têm uma maior prevalência de lúpus. Em pessoas que herdaram uma suscetibilidade genética ao lúpus, é possível que algo no ambiente “ligue” a doença. Não se sabe qual seria esse “inter- ruptor”. Pode ser uma infecção (ainda não desco- berta) que desencadeia uma resposta imune anor- mal em pessoas que são suscetíveis a esse “erro de ignição” por causa da fiação genética do seu sistema imune. Uma característica importante do lúpus é a capaci- dade prejudicada de remover células envelhecidas e danificadas do corpo. À medida que os detritos celulares se acumulam, eles fornecem uma fonte constante de autoantígenos para o sistema imune alvejar. As células mortas liberam substâncias que ativam continuamente o sistema imune, que atacam os tecidos do corpo. Os gatilhos ambientais também podem desenca- dear sintomas do lúpus. Os raios ultravioletas do sol, doenças virais, certos medicamentos, exaus- tão, estresse e lesões podem provocar uma reação imune que leva ao surgimento de doenças. Esclerose múltipla Na esclerose múltipla (EM), o ataque do sistema imune é direcionado contra o sistema nervoso cen- tral. Os nervos do corpo transmitem sinais elétricos do cérebro e da medula espinhal para o resto do corpo e de volta para a medula espinhal e o cérebro. Essas mensagens controlam quase tudo que você faz – pegar um copo d’água, correr, falar ao celular. Na EM, entretanto, essa rede vital é atacada. 25Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação O alvo específico do ataque é a bainha de mielina que cobre e protege os seus nervos. Feito de pro- teína e gordura, esse revestimento isola os nervos, assim como o revestimento de borracha ou plástico dos fios elétricos da sua casa. O ataque inflamatório à mielina não apenas danifica essa camada protetora, mas também destrói as fibras nervosas, produzindo áreas de cicatrização – ou esclerose – no cérebro e na medula espinhal. O dano ao nervo interrompe a transmissão normal da mensagem, causando uma série de sintomas, incluindo dificuldade de locomo- ção, dormência e formigamento, espasmos muscu- lares, fraqueza, problemas de visão e problemas de bexiga. Novamente, os genes parecem estabelecer os pro- cessos que levam à esclerose múltipla, embora os pesquisadores ainda não tenham identificado os alvos genéticos exatos. Uma teoria sobre as ori- gens da doença é que, após uma infecção por um vírus como Epstein-Barr, sarampo ou herpes, o vírus permanece latente no corpo por muitos anos, final- mente despertando e provocando uma resposta imune inflamatória. Uma nova escola de pensa- mento postula que traumatismo craniano no cére- bro, particularmente durante a adolescência, pode estar por trás do processo autoimune. Um estudo de 2017 descobriu que pessoas que tiveram uma concussão entre as idades de 10 e 20 anos apre- sentavam 20% mais probabilidade de ter EM do que aquelas que nunca tiveram uma concussão. Psoríase Embora a psoríase se manifeste como uma doença de pele, de fato, ela começa nas profundezas do corpo como resultado de uma anormalidade do sis- tema imune que causa inflamação. Quando você sofre uma lesão na pele, as células T geralmente curam a lesão (consulte “Ato 2: imuni- dade inata”, página 7). Mas na psoríase, as células T hiperativas fazem com que as células saudáveis da pele, chamadas queratinócitos, se multipliquem muito mais rápido do que o normal. Normalmente, as novas células são feitas nas camadas inferiores da epiderme (a camada mais externa da pele). Elas gradualmente sobem à superfície e então morrem e se desprendem quando o corpo não precisa mais delas. O processo geralmente leva cerca de quatro semanas. Mas na psoríase, as células da pele que se multiplicam rapidamente se movem para a superfície em apenas quatro ou cinco dias, rápido demais para o corpo eliminá-las com eficiência. O excesso se acumula na superfície da pele, formando manchas vermelhas, inflamadas e escamosas, conhecidas como placas. As células T também enviam sinais de perigo na forma de citocinas – substâncias quími- cas, como o fator de necrose tumoral (TNF) e a inter- leucina-2 – que produzem inflamação na pele e em outros órgãos. A psoríase pode ocorrer em diferentes locais do corpo, com sintomas ligeiramente diferentes. A forma mais comum, psoríase em placas, faz com que as placas se formem em áreas como cotove- los, joelhos e couro cabeludo. Em cerca de 15% das pessoas com psoríase, as células do sistema imune migram para as articulações, como os joelhos e dedos das mãos e dos pés, e desencadeiam a infla- mação conhecida como artrite psoriásica. Os pesquisadores não sabem exatamente o que causa o sistema imune ir atrás de células saudáveis da pele na psoríase, mas há um forte componente genético para a doença. Cerca de 40% das pessoas com psoríase ou artrite psoriásica têm um membro da família com a doença. Outros fatores também desempenham um papel. A psoríase geralmente se manifesta em resposta a alguns eventos ambientais, como um dia estressante no trabalho, uma infecção como faringite estreptocócica, um corte ou outra lesão na pele, excessiva ingestão de bebida alco- ólica, tabagismo ou o uso de certos medicamentos como betabloqueadores (usados para tratar a hiper- tensão) ou lítio (prescrito para transtornos de humor). Artrite reumatoide A inflamação é um componente-chave de todas as doenças articulares autoimunes, incluindo artrite psoriásica, lúpus e síndrome de Sjögren. A artrite reumatoide é a mais comum dessas condições, afe- tando mais de 1,3 milhão de americanos. A artrite em geral é caracterizada por inflamação das arti- culações; no caso da artrite reumatoide, a doença geralmente ataca várias articulações e geralmente é simétrica, afetando articulações em ambos os lados do corpo, particularmente as articulações dos dedos, bases dos polegares, punhos, cotovelos, joelhos, tornozelos ou pés. Na artrite reumatoide, uma resposta imune defeitu- osa inicia a inflamação, que começa no tecido que reveste as cápsulas articulares (a membrana sinovial; ver Figura 7, página 26). As células sinoviais e outras células produzem substâncias químicas, incluindo citocinas, que destroem as articulações por den- tro. O processo que leva à inflamação das articu- lações pode começar muito antes de os sintomas 26Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação de rigidez, dor e inchaço se tornarem aparentes. Cinco anos ou mais antes que as articulações mos- trem qualquer sinal de inflamação, os pesquisado- res detectaram autoanticorpos, bem como citocinas inflamatórias, no sangue de pessoas que mais tarde desenvolveram artrite reumatoide. A inflamação contínua acaba danificando os tecidos próximos, incluindo ossos, tendões, ligamentos e cartilagem (o material de amortecimento nas articu- lações). As células do tecido sinovial também come- çam a se multiplicar, fazendo com que a sinovial nor- malmente lisa forme um tecido áspero e granulado (pannus) que cresce na cavidade articular a corro- endo. Se os tendões ficam inflamados, eles podem encurtar e imobilizar a articulação. Se os tendões se rompem, a articulação pode ficar frouxa ou mole. Com o tempo, os ligamentos e os tendões que mantêm os ossos no lugar também podem esticar e enfraquecer, fazendo com que os ossos fiquem desalinhados. Fazer um diagnóstico preciso da artrite reumatoide, o mais cedo possível, é crucial para reduzir a deficiência. Sem o tratamento ade- quado, a inflamação pode danificar permanente- mente as articulações afetadas. A artrite reumatoide é uma doença sistêmica pro- gressiva, o que significa que, com o tempo, pode afetar muitas partes ou até mesmo todo o corpo.Além das articulações, a inflamação pode afetar a pele, os olhos, os pulmões e os vasos sanguíneos. Outras complicações incluem doenças pulmonares, cardíacas e neurológicas. Por exemplo, cicatrizes Articulação normal Articulação afetada por artrite reumatoide Sinovial Cartilagem Cápsula articular Pannus Erosão Ligamento Inflamação Perda de cartilagem Osso Osso Osso Osso ARTRITE REUMATOIDE E DOENÇAS CARDÍACAS Pessoas com artrite reumatoide enfrentam o dobro das chan- ces de desenvolver doenças cardíacas, uma ameaça que não é inteiramente atribuível a fatores de risco típicos, como pres- são alta, diabetes, colesterol alto ou tabagismo. Especialistas dizem que a conexão provavelmente decorre da inflamação. Os mesmos processos inflamatórios que atingem a sinovial nas articulações também podem prejudicar o coração (con- sulte “Inflamação e o coração”, página 38). A inflamação danifica o revestimento dos vasos sanguíneos e permite o acúmulo de depósitos de gordura chamados placas, que estreitam as artérias, aumentam a pressão arterial e o risco de ataque cardíaco ou AVC. O endurecimento das artérias (aterosclerose) não só é mais comum em pessoas com artrite reumatoide do que na população em geral, mas também pro- gride em um ritmo mais rápido. A boa notícia é que controlar a inflamação das articulações na artrite reumatoide parece proteger o coração também. Alguns dos medicamentos usados para tratá-la, incluindo o metotrexato, demonstraram prevenir a progressão da doença cardiovascular e reduzir o risco de morte por doença cardíaca. Outros medicamentos podem ser mais problemáticos para pessoas com artrite reumatoide. Os anti-inflamatórios não esteroides, usados para controlar a dor e o inchaço na artrite, podem aumentar a pressão arterial e têm sido associados a um risco maior de ataque cardíaco e AVC. A segurança de uso desses medicamentos pode depender em parte dos fatores de risco cardíaco existentes. Se você tem pressão alta, níveis altos de colesterol ou outros fatores de risco para doenças cardíacas, converse com seu médico sobre outras possibili- dades para aliviar a dor. Figura 7: Alterações articulares na artrite reumatoide A artrite reumatoide pode afetar todas as estruturas ao redor de uma articulação. A. A inflamação começa na membrana sinovial, o revestimento das cápsulas articulares. B. As células sinoviais começam a proliferar e formar pannus – um tecido áspero e granulado que cresce no espaço entre os ossos. C. As células do pannus liberam substâncias que se alimentam da cartilagem e do osso, causando erosão óssea. O dano muitas vezes não para por aí. Os tendões próximos e a cápsula articular também podem inflamar. Todos esses danos às estruturas articulares podem causar dor, instabilidade, deformidade, fraqueza, perda de movimento e, ocasionalmente, ruptura de tendões. A B C 27Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação pulmonares (fibrose pulmonar), inflamação do reves- timento do coração (pericardite) e síndrome do túnel do carpo (dor e dormência nas mãos e dedos cau- sados pela compressão de um nervo no pulso) são complicações bem conhecidas da artrite reumatoide (consulte “Artrite reumatoide e doenças cardíacas”, página 26). Diabetes tipo 1 Os diabetes tipo 1 e 2 são o resultado da incapa- cidade do corpo mover adequadamente a glicose (açúcar) da corrente sanguínea para as células. A diferença entre as duas condições é que o diabetes tipo 1 é de natureza autoimune e é marcado pela produção insuficiente de insulina pelo pâncreas, enquanto o diabetes tipo 2 não é considerado autoimune e se desenvolve porque as células de todo o corpo se tornam resistentes aos efeitos da insulina, de modo que o pâncreas eventualmente não consegue acompanhar o aumento da demanda. O diabetes tipo 1 costumava ser conhecido como “diabetes juvenil” para diferenciá-lo do diabetes tipo 2, que geralmente ocorre na idade adulta. Mas com o aumento do diabetes tipo 2 entre jovens adultos e até mesmo adolescentes e crianças, o termo caiu em desuso. Em pessoas com diabetes tipo 1, o sistema imune ataca as células beta produtoras de insulina no pâncreas. Normalmente, as células beta saudáveis liberam insulina em resposta ao aumento do açúcar no sangue, pois os carboidratos dos alimentos são decompostos em glicose. A insulina se liga às célu- las como uma chave, essencialmente desbloquean- do-as para que possam absorver o açúcar para usar como energia. A insulina então direciona qualquer resíduo de açúcar para o fígado, onde é armaze- nado e pode ser liberado quando os suprimentos acabam. No diabetes tipo 1, no entanto, os danos do ataque autoimune impedem as células beta de produzir e liberar insulina. Quando mais de 90% das células beta são destruídas, aparecem os sintomas de alto nível de açúcar no sangue, incluindo sede extrema e excesso de urina. O açúcar elevado no sangue dani- fica os vasos sanguíneos de todo o corpo. Isso atua como um alerta para o sistema imune, que produz inflamação crônica em resposta. A combinação de inflamação e alto nível de açúcar no sangue eventu- almente danifica órgãos como rins, coração e olhos, bem como nervos e vasos sanguíneos. Pessoas com diabetes tipo 1 precisam tomar insulina pelo resto da vida para controlar o açúcar no sangue. Como outras doenças autoimunes, o diabetes tipo 1 tem causas ambientais e genéticas. Se ambos os pais têm, o filho pode correr um risco de até 25% de desenvolver a doença. Isso é 75 vezes maior do que o risco entre os membros da população em geral. Mas, entre gêmeos idênticos, se um dos gêmeos tiver a doença, o risco de o outro desenvolver a doença é ainda maior – 50% aos 40 anos. Uma teoria é que em pessoas que são geneti- camente suscetíveis, um gatilho ambiental dis- para a resposta imune. Um possível gatilho é um vírus como o da caxumba, rubéola, enterovirus ou Coxsackievirus. Em um estudo, crianças genetica- mente suscetíveis que tiveram infecções respira- tórias no primeiro ano de vida apresentaram maior propensão de desenvolver diabetes tipo 1. A expo- sição a toxinas também pode ajudar a desencadear a cascata de eventos autoimunes. Os especialistas acreditam que, à medida que o sistema imune tenta livrar o corpo de um vírus ou toxina, ele destrói erro- neamente as células beta no processo. A marca registrada do diabetes tipo 1 é a inflamação das ilhotas pancreáticas – o tecido que contém célu- las beta produtoras de insulina. Essa inflamação é conhecida como insulite. Parece que vários tipos de A OSTEOARTRITE É UMA DOENÇA INFLAMATÓRIA? A osteoartrite é de longe a forma mais comum de artrite, afe- tando mais de 30 milhões de pessoas apenas nos Estados Unidos. É marcada por danos graduais à cartilagem articular, o tipo que reveste as extremidades dos ossos em articula- ções, como joelhos, ombros, cotovelos e pulsos. A osteoar- trite já foi considerada um processo exclusivamente mecânico e degenerativo, decorrente do desgaste gradual da cartila- gem protetora nas articulações por anos de corrida, salto e outras atividades físicas. Isso rendeu-lhe o apelido de artrite de “desgaste”. Nos últimos anos, os pesquisadores começaram a olhar para essa doença sob uma nova luz. Estudos revelaram a presença de células inflamatórias como células T no tecido sinovial (a membrana que reveste a superfície interna da articulação). Embora o número dessas células não seja tão alto quanto nas formas de artrite autoimunes, ele é significativo o suficiente para que a comunidade médica considere a osteoartrite uma doença pelo menos em parte relacionada à inflamação. Dada a inflamação crônica de baixo grau que parece existir, os médicos estão considerando se os medicamentos biológicos como os atualmente usados para tratar a artrite reumatoide poderiam também ter uma aplicação no tratamento da osteo- artrite crônica. 28Versãoem inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação células imunes convergem para provocar a destrui- ção das células beta. Os pesquisadores descobri- ram um suprimento abundante de linfócitos, neutró- filos e células exterminadoras naturais (células NK, de natural killer) dentro e ao redor das ilhotas. Se a inflamação estiver ocorrendo no diabetes tipo 1, ela seria um alvo lógico para o tratamento. Estudos têm investigado uma série de possíveis tratamen- tos imunoterápicos que enfocam o processo infla- matório, como o anticorpo monoclonal rituximabe (Rituxan). Até agora, essas investigações produzi- ram apenas um sucesso mínimo, em parte porque os estudos incluíram apenas pessoas cujas células beta já sofreram uma quantidade significativa de danos induzidos pelo sistema imune. Os pesquisa- dores afirmam que a única maneira de alcançar uma cura verdadeira para o diabetes tipo 1 com a imuno- terapia seria tratar as pessoas antes que houvesse danos extensos ou substituir de alguma forma as células beta que foram perdidas. Controle da inflamação para tratar doenças autoimunes O tratamento para a maioria das doenças autoimu- nes atualmente envolve o uso de medicamentos que reduzem a inflamação ou suprimem a resposta imunológica. Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como aspirina, ibuprofeno (Advil e Motrin) e naproxeno (Naprosyn e Aleve), também proporcionam efeitos analgésicos. Eles atuam bloqueando as enzimas cicloxigenase (COX), que promovem a produção de prostaglandinas – hormônios que se formam a partir de reações químicas no local de uma lesão ou infec- ção. Embora as prostaglandinas promovam a cura, também causam inflamação e dor. O bloqueio das enzimas COX inibe esses efeitos. Mas essas dro- gas também podem causar sangramento gástrico e úlceras estomacais, e têm sido associadas a pro- blemas cardíacos, incluindo infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca. Os corticosteroides, como a prednisona, regulam a produção de citocinas e outras substâncias inflama- tórias, para reduzir a inflamação nas áreas afetadas do intestino, das articulações, da pele ou de outros lugares. Esses medicamentos foram usados pela pri- meira vez na década de 1940 para reduzir o inchaço nas articulações e aliviar a dor em pessoas com artrite reumatoide, e agora eles são usados para tratar uma série de doenças inflamatórias, incluindo asma. Sua eficácia, entretanto, tem um custo – efeitos colaterais graves, como infecção, ganho de peso e enfraquecimento dos ossos. Portanto, os corticosteroides são frequentemente prescritos apenas para uso em curto prazo. Eles podem redu- zir a inflamação e aliviar a dor temporariamente, mas geralmente são incapazes de retardar a progressão das doenças autoimunes. As drogas imunossupressoras convencionais – incluindo metotrexato, azatioprina (Imuran e Azasan) e ciclofosfamida (Cytoxan e Neosar) – podem real- mente retardar e às vezes até interromper o dano infligido pelo sistema imune às articulações, pele, nervos e outros tecidos, especialmente quando ini- ciadas no início do curso da doença. Esses medi- camentos imunossupressores inibem a produção de citocinas e outras substâncias inflamatórias para suprimir o impacto da resposta imune. No entanto, devem ser usados com cautela, pois suprimir o sis- tema imune também reduz a sua capacidade de combater infecções. Os medicamentos biológicos são uma forma mais recente de imunossupressores, derivados de célu- las vivas ou contendo componentes de organismos vivos. Os anticorpos monoclonais e outros tipos de drogas biológicas têm como alvo proteínas espe- cíficas que contribuem para a resposta imune e levam à inflamação. Por exemplo, inibidores como adalimumabe (Humira), etanercepte (Enbrel) e inflixi- mabe (Remicade) bloqueiam TNF, uma citocina que desempenha um papel importante nas respostas imunes e inflamatórias. Produtos biológicos que têm como alvo outras citocinas pró-inflamatórias tam- bém foram desenvolvidos. Por exemplo, tocilizumab (Actemra) bloqueia a IL-6 para tratar pessoas com artrite reumatoide que não melhoraram o suficiente durante tratamento com bloqueadores de TNF. Como os medicamentos biológicos são mais sele- tivos em seus alvos do que os imunossupressores mais antigos, eles também produzem menos efeitos colaterais. No entanto, eles têm sido associados a um risco aumentado de infecções como tuberculose e pneumonia. 29Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação SEÇÃO ESPECIAL Combate à inflamação crônica com mudanças no estilo de vida Como este relatório explicou até agora, existem mui- tas causas óbvias de inflamação, variando de feridas e vírus a alergias e doenças autoimunes. Mas tam- bém existem muitas causas mais sutis de inflamação – incluindo obesidade, dieta pouco saudável, taba- gismo, consumo de álcool, privação crônica de sono e estilo de vida sedentário – que podem ser o resul- tado de escolhas que fazemos todos os dias. Com o passar dos anos, essa inflamação contínua e de baixo grau pode contribuir para o desenvolvimento de problemas médicos importantes, como doenças cardíacas, diabetes tipo 2, certos tipos de câncer e até mesmo depressão, todos discutidos nos capítu- los posteriores. Esta seção especial enfoca as estratégias que você pode usar para ajudar a combater essa infla- mação crônica e os seus muitos efeitos insidiosos. Isso não quer dizer que a adoção deste programa é uma garantia férrea contra o desenvolvimento dessas doenças – ou de que você pode controlar essas condições apenas com mudanças no estilo de vida depois de desenvolvê-las – mas tais mudanças podem definitivamente ajudar. A seguir estão algu- mas das melhores estratégias pesquisadas para controlar a inflamação relacionada ao estilo de vida. 1- Se alimente combatendo a inflamação Sua dieta desempenha um papel importante no desencadeamento da inflamação crônica. Uma razão está no seu intestino. Bactérias digestivas liberam substâncias químicas que podem estimular ou suprimir a inflamação. Os tipos de bactérias que povoam o seu intestino e os seus subprodutos quí- micos variam de acordo com os alimentos ingeridos. Alguns deles estimulam o crescimento de bactérias que estimulam a inflamação, enquanto outros pro- movem o crescimento de bactérias que a suprimem (consulte “Como a dieta pode transformar o micro- bioma”, página 30). Outro motivo para a conexão é a obesidade. Comer demais – especialmente alguns tipos de alimentos – leva ao ganho de peso, que é uma causa de inflamação. Adicionalmente, certos As dietas ricas em vegetais ajudam a combater a inflamação. Apesar das alegações persistentes, não há evidências de que os alimentos da família das solanáceas (como os tomates) promovam inflamação. alimentos desencadeiam a inflamação independen- temente da sua capacidade de promover ganho de peso, sugerindo que algumas dietas são mais pró- -inflamatórias do que outras. Inflamação é uma palavra da moda em saúde e nutri- ção – por um bom motivo, considerando o número de condições de saúde associadas à inflamação sistêmica crônica. Dito isso, onde há burburinho, há exagero, e muitas dietas “anti-inflamatórias” apre- goadas em livros e online não possuem evidências científicas. Seja cauteloso ao considerar qualquer dieta que alega ser anti-inflamatória. A evidência cientí- fica para tal alegação é geralmente escassa ou 30Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação inexistente. Estudos epidemiológicos, que analisam as taxas de doença nas populações, observam que pessoas que adotam dietas ricas em frutas, vege- tais, grãos integrais, peixes gordurosos, oleaginosas e óleos saudáveis (essencialmente a dieta mediter- rânea)– têm taxas mais baixas de doenças crôni- cas, como doenças cardíacas e câncer. O que esses estudos não podem provar é se essas taxas mais baixas de doenças são diretamente atribuíveis aos alimentos ingeridos ou a outros fatores, como uma maior prática de exercícios. Certos alimentos têm sido destaque na mídia por sua suposta capacidade de combater inflamações – entre eles, gengibre, cebola, açafrão-da-terra e frutas vermelhas. No entanto, os pesquisadores não sabem a quantidade necessária desses alimen- tos para a obtenção de um benefício específico. De qualquer forma, os níveis de compostos antio- xidantes e anti-inflamatórios em produtos agríco- las variam de acordo com as condições de cultivo (como clima e qualidade do solo) e as condições de armazenamento (como temperatura e tempo de pra- teleira), portanto não há como padronizar a prescri- ção alimentar da mesma maneira que as empresas farmacêuticas padronizam os medicamentos. Para praticar uma “alimentação anti-inflamatória”, é melhor se concentrar em uma dieta globalmente saudável (consulte “As melhores dietas anti-infla- matórias”, página 31). A mesma dieta que protege o seu coração e mantém o seu peso sob controle tam- bém tende a reduzir a inflamação. Isso significa uma enfatização em frutas, vegetais, oleaginosas, grãos integrais, peixes e óleos saudáveis, e uma restrição nos alimentos com açúcares simples (como refri- gerantes e doces), bebidas que contêm xarope de milho com alto teor de frutose (como muitos sucos e bebidas esportivas) e carboidratos refinados. Vegetais. A maioria dos vegetais de cores vivas con- tém naturalmente altos níveis de compostos prote- tores. Vegetais verdes com folhas, como espinafre, couves e brócolis, contêm antioxidantes que prote- gem as células dos efeitos nocivos do excesso de radicais livres. As cebolas são uma fonte rica de poli- fenóis anti-inflamatórios. O licopeno, um nutriente do tomate, pode ajudar a reduzir a inflamação que contribui para o crescimento e disseminação do câncer. Frutas. Os mesmos produtos químicos que dão aos berries e outras frutas os seus matizes brilhan- tes também os impregnam de nutrientes. Ao esco- lher frutas, quanto mais cor em sua cesta, melhor. Berries, incluindo morangos, mirtilos e framboesas, são uma fonte especialmente rica em antioxidan- tes e produtos químicos anti-inflamatórios. Além de poder comê-los por si só, você pode usar em recei- tas, como em saladas e no iogurte. Uvas, ameixas e cerejas são fontes abundantes de polifenóis, e foi demonstrado em estudos animais que reduzem a produção de citocinas. Oleaginosas e sementes. As oleaginosas são potências nutricionais. Elas fornecem proteínas, fibras, antioxidantes e gorduras insaturadas que aju- dam a reduzir o colesterol e a proteger o coração. Algumas variedades de nozes, castanhas e semen- tes também são ricas em ácido alfa-linolênico, um tipo de ácido graxo ômega-3 com propriedades anti-inflamatórias. Estudos descobriram que o con- sumo de oleaginosas e sementes está associado a marcadores reduzidos de inflamação e a um menor risco de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2. Em um estudo, pessoas que substituíram três por- ções de carne, ovos ou grãos refinados por semana com o mesmo número de porções de oleaginosas tiveram medidas significativamente mais baixas de inflamação sistêmica no sangue. Peixe gorduroso. Peixes gordurosos, como sal- mão, sardinha, anchova e cavala, oferecem doses saudáveis de ácidos graxos ômega-3 (ácido COMO A DIETA PODE TRANSFORMAR O MICROBIOMA Você pode ver os efeitos de uma dieta saudável com bas- tante facilidade através da perda de peso e ganho de ener- gia. Sob a superfície, a ingestão de alimentos anti-inflama- tórios também provoca muitas mudanças. Não apenas os marcadores de inflamação sanguíneos diminuem, como a microbiota intestinal muda dramaticamente. A microbiota intestinal (as bactérias e outros microrganis- mos que habitam seu trato digestivo) incluem tanto bactérias que auxiliam em processos como a digestão e absorção de nutrientes quanto bactérias que contribuem para a inflama- ção, doenças e disfunção metabólica. Quando se trata des- ses minúsculos residentes, a diversidade é uma vantagem. Pessoas com uma população mais diversa de bactérias em seu trato digestivo tendem a ter menos inflamação crônica de baixo grau do que aquelas com menos diversidade. Certos estilos de alimentação - como uma dieta com baixo teor de açúcar e gordura e rica em fibras - promovem uma variedade maior de microrganismos em seu intestino. Os probióticos, como alimentos (chucrute, kimchi, kefir, missô) e/ou suplementos, contêm bactérias “benéficas”. Outros alimentos chamados prebióticos (que contêm fibras ou ingredientes fermentáveis dos quais as bactérias gostam de se alimentar) são encontrados, por exemplo, na cebola, banana, alho-poró, alho, aveia e soja. 31Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação eicosapentaenoico e ácido docosahexaenoico), que há muito se sabe que podem reduzir a inflamação. O poder do ômega-3 no combate à inflamação reside em sua capacidade de interromper a produção de citocinas, que é a chave para a resposta inflamatória do corpo. Como o ômega-3 pode cruzar a barreira hematoencefálica, ele pode até ajudar a diminuir a inflamação associada à doença de Alzheimer e reduzir o risco de AVC. Seu corpo não produz esses ácidos graxos, por isso a necessidade de obtê-los através dos alimentos. Se você não é fã de peixes, a suplementação é uma alternativa, embora não haja evidências sólidas de que tomar ômega-3 em cáp- sulas possa diminuir o risco de doenças cardíacas, câncer ou outras doenças relacionadas à inflamação. Óleos saudáveis. Os óleos são outra fonte abun- dante de ácidos graxos insaturados, desde que você os escolha com sabedoria. Os melhores óleos anti-inflamatórios são azeite de oliva, óleo de nozes (da nogueira), óleo de linhaça e óleo de canola, que podem ajudar a reduzir o colesterol e o risco de doenças cardíacas. Use-os nas receitas e regue-os nas saladas. Bebidas. O que você bebe também pode influen- ciar os níveis de inflamação em seu corpo. O café contém polifenóis e outros compostos anti-inflama- tórios. É uma bebida saudável, desde que você não exagere no creme e açúcar. O chá verde também é rico em polifenóis e antioxidantes. Não é de se surpreender que os alimentos que contribuem para a inflamação sejam os mesmos Uma característica comum de todas as boas dietas anti- inflamatórias é uma boa dose de vegetais. Óleos saudáveis como o azeite de oliva também ajudam. AS MELHORES DIETAS ANTI-INFLAMATÓRIAS Para combater a inflamação com dieta não é necessário seguir um programa específico. Na verdade, muitas das chamadas dietas anti-inflamatórias exageram em comparação com as evi- dências. Dito isso, algumas dietas reúnem todos os elementos anti-inflamatórios em um plano alimentar e têm mais evidências de benefícios do que outras dietas. Se você não tem certeza por onde começar, essas dietas são boas escolhas: Dieta mediterrânea. Pessoas que vivem em países ao redor do Mar Mediterrâneo, como a Itália e a Grécia, tradicionalmente possuem uma dieta que consiste principalmente de frutas e vegetais, oleaginosas e sementes, grãos integrais, peixe e azeite de oliva – os mesmos alimentos que os especialistas recomen- dam para reduzir a inflamação. Com o passar dos anos, os pes- quisadores começaram a descobrir que as pessoas que seguiam esse estilo de alimentação tinham taxas mais baixas de doenças e viviam mais do que as pessoas nos Estados Unidos que faziam uma dieta ao estilo ocidental. A dieta mediterrânea tem uma boa classificação entre médicos e nutricionistas, e por boas razões. Estudos mostram que ela pro- tege contra doenças relacionadas à inflamação, incluindo doen- ças cardiovasculares, síndrome metabólica ediabetes tipo 2. E, como inclui uma variedade de alimentos, a dieta mediterrânea é relativamente fácil de seguir e manter. Dieta DASH. Embora seu nome possa sugerir um regime de fast-food, não se engane. DASH significa Dietary Approaches to Stop Hypertension (em português, abordagens dietéticas para parar a hipertensão). Foi originalmente desenvolvida para diminuir a pressão arterial sem uso de medicação, mas agora é amplamente considerada um dos padrões alimentares mais sau- dáveis. Inclui alimentos com baixo teor de gordura total, gordura saturada e colesterol, e muitas frutas, vegetais e grãos integrais. A proteína é fornecida através de produtos lácteos com baixo teor de gordura, peixes, aves e oleaginosas. Carnes vermelhas, doces e bebidas açucaradas são limitadas. Possuindo baixo teor de sódio, a DASH é rica em fibras, potássio, cálcio e magnésio. Dieta anti-inflamatória do Dr. Andrew Weil. Outra dieta anti- -inflamatória baseada em evidências científicas vem do médico integrativo formado pela Harvard, Dr. Andrew Weil. Ele começou a falar em medidas anti-inflamatórias décadas atrás, muito antes da ideia começar a virar tendência. Sua dieta anti-inflamatória poderia ser descrita como uma dieta mediterrânea com influên- cias asiáticas. Cerca de 40% a 50% das calorias vêm de carboi- dratos, 30% de gordura e 20% a 30% de proteína. O sucesso da dieta está na ênfase de alimentos baseados em plantas e fontes de proteína saudáveis, bem como específicos elementos (peixes gordurosos, frutas, vegetais, óleos, oleagino- sas e sementes) que ajudam a reduzir a inflamação. Ela também reduz a presença de alimentos altamente processados, que podem contribuir para a inflamação. 32Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação geralmente considerados ruins para outros aspec- tos da saúde. Isso inclui refrigerantes e carboidratos refinados (como pão branco, café com leite ado- çado com muito açúcar e bolo), bem como carnes vermelhas e carnes processadas (cachorro-quente e mortadela). Esses alimentos não saudáveis tam- bém podem contribuir para o ganho de peso, que é um fator de risco para inflamação. Além disso, certos componentes ou ingredientes em alimentos proces- sados, como os emulsificantes adicionados ao sor- vete, podem ter efeitos sobre a inflamação. 2- Exercite-se regularmente O governo e a maioria das principais organizações de saúde pedem para que todos pratiquem, pelo menos, 150 minutos (duas horas e meia) de atividade aeróbica e duas ou três sessões de treinamento de força por semana. Um sólido corpo de pesquisas mostra que o exercício regular ajuda a proteger o coração e o cérebro, fortalecendo os ossos, preve- nindo doenças, como demência, diabetes tipo 2, doenças cardíacas e depressão, e até podendo pro- longar a sua vida. O exercício causa muitas mudanças no corpo que produzem esses efeitos positivos. Mas um fator importante que muitas vezes é subestimado é que ajuda a combater a inflamação crônica de baixo grau – o mesmo tipo de inflamação que está por trás de tantas doenças crônicas. A pesquisa sobre exercícios e inflamação ainda é recente, mas já produziu descobertas fascinantes. Por exemplo, o exercício regular parece controlar a inflamação de várias maneiras. Ao ajudar a pre- venir o ganho de peso em excesso, impede indire- tamente a proliferação de macrófagos promotores de inflamação no tecido adiposo. Também pode ter efeitos mais diretos sobre os níveis de citocinas pró-inflamatórias, como foi visto em um estudo de pesquisadores da University of California San Diego, publicado em 2017 na Brain, Behavior and Immunity, onde apenas 20 minutos de exercício aeróbico moderado reduziram a produção de TNF. Os auto- res observaram que o efeito anti-inflamatório pode vir das catecolaminas, hormônios que as glândulas suprarrenais liberam durante o exercício. A advertência é que se você exagerar – digamos, exercitando-se em uma intensidade muito alta ou por muito tempo –, uma sessão de exercícios pode danificar os músculos e o tecido conjuntivo e pro- vocar uma resposta inflamatória. Antes de iniciar ou aumentar um programa de exercícios, você deve falar com o seu médico, especialmente se você pas- sou por uma cirurgia recentemente, se possui pro- blemas musculoesqueléticos ou uma doença grave, como doença cardíaca. Já se você treina regular- mente e conhece os seus limites, os efeitos devem ser extremamente benéficos. Todos os tipos de exercício são bons, a questão é a manutenção da prática regular e a observação dos cuidados básicos para evitar ferimentos. (Harvard Health Publishing tem vários Relatórios Especiais de Saúde sobre o exercício. Para obter mais informa- ções, consulte “Recursos”, página 52) 3- Gerencie seu peso O excesso de peso é um contribuinte conhecido e associado à inflamação. Os cientistas agora per- cebem que a gordura corporal é mais do que ape- nas uma massa inerte que o seu corpo carrega. Em vez disso, o tecido adiposo produz ativamente uma ampla variedade de hormônios e químicos pró-infla- matórios (consulte “Inflamação e doença metabó- lica”, página 46). Esse efeito ajuda a explicar o papel consistente que a obesidade desempenha nas doenças cardíacas, diabetes e outras doenças crônicas metabólicas. A gordura abdominal, em particular, parece importante como fator de risco para doenças cardiovasculares. Todos os tipos de exercícios são bons para a saúde. Qualquer dose ajuda, mesmo que você não consiga fazer a quantidade recomendada. Mais é melhor do que pouco. Pouco é melhor do que nada. 33Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Não é de se surpreender que manter um índice de massa corporal equilibrado reduz significativamente o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e outras condições que podem causar ou contribuir para a inflamação. Embora a dieta e os exercícios sejam frequente- mente citados para a perda de peso, a dieta é a mais poderosa das duas nesse quesito – em parte porque os exercícios tendem a fazer com que você coma mais para repor as calorias gastas. Uma dieta específica é uma abordagem, mas a sim- ples limitação do tamanho das porções também pode ajudar. Um truque é servir na cozinha, em vez de colocar travessas na mesa, onde você fica ten- tado a colocar mais no prato. Tente não beliscar ao retirar a mesa ou limpar os pratos. E tente “fechar a cozinha” depois de uma certa hora da noite para não entrar e fazer um lanche, especialmente se esses lanches forem um problema para você. Outra ferramenta útil é manter um diário alimentar, para que você fique ciente de quanto está realmente comendo. Anote tudo – aqueles biscoitos que você comeu no lanche da manhã, aquela pequena porção de chocolate... Você pode se surpreender ao desco- brir quanto está ingerindo, uma vez que grande parte é consumida quase sem pensar enquanto faz outras coisas. Quando você começa a prestar atenção em quanto está comendo, fica mais cuidadoso. Uma das maneiras mais confiáveis de reduzir calorias de maneira saudável é aumentar a ingestão de vege- tais, que são densamente carregados de nutrientes e fibras, mas têm poucas calorias. Ao mesmo tempo, é importante reduzir os açúcares adicionados (açú- car que é adicionado no preparo ou fabricação de um alimento). Muitos sentem dificuldade em reduzir os açúcares adicionados. Se esse é o seu caso, aqui estão algumas dicas para ajudá-lo: Dê ao seu cérebro tempo para se adaptar. Se você normalmente bebe três latas de refrigerante por Gerenciar o seu peso é uma parte importante no combate à inflamação. As células gordurosas produzem uma variedade de produtos químicos pró-inflamatórios que desempenham um papel importante em doenças como o diabetes. dia, elimine uma lata e substitua por uma bebida semaçúcar, como uma gaseificada aromatizada. Eventualmente, você vai querer cortar todas as três. Use ervas e especiarias de sabor doce. Enquanto muitas ervas e especiarias são saborosas, outras – incluindo menta, canela, pimenta-da-jamaica, cravo e noz-moscada – adicionam um toque adocicado à sua comida. Tente substituir o açúcar pela canela em seu café ou na aveia matinal, use hortelã para ado- çar o seu chá gelado ou até mesmo o iogurte. Pense nas frutas como opção de sobremesa. Maçãs e laranjas são naturalmente doces. Adicione um pouco de creme aos berries para enaltecê-los. Ou experimente fatias de banana assadas, adicionando um pouco de limão e cobrindo com nozes ou casta- nhas de caju ao sair do forno. Essas opções podem ser muito mais saborosas do que a maioria dos donuts, sorvetes e outras sobremesas açucaradas. Beba chás de sabor doce. Muitos chás de ervas têm doçura natural suficiente para satisfazer o seu desejo. Procure misturas que contenham ervas de sabor doce, como Anis hissopo ou hortelã. As mis- turas que contêm alcaçuz são especialmente doces, embora as pessoas com pressão alta não devam bebê-las com muita frequência, porque o alcaçuz pode elevar a pressão arterial. Mude para sabor neutro. Qualquer que seja o ali- mento com sabor que você comprar, o sabor adi- cionado geralmente significa adição de açúcar. Se o iogurte com sabor de frutas for sua fonte de açú- car adicionado nº 1, substitua-o por iogurte natural e adicione frutas frescas ou estévia (um adoçante vegetal sem calorias). Em vez de um mocha de cara- melo salgado da Starbucks (69 gramas de açúcar), experimente um cappuccino normal, apenas com café expresso, espuma de leite e canela. Faça o seu próprio. Você pode cozinhar um delicioso molho de tomate sem adição de açúcar, se come- çar com tomates maduros e saborosos. Variedades antigas, em particular, tendem a ser especialmente saborosas. E se você fizer o seu próprio molho, você evitará não apenas o açúcar adicionado, mas tam- bém conservantes e outros aditivos. Ou, se você gosta de assar tortas, experimente reduzir a quan- tidade de açúcar exigida pelas receitas. Na maioria das receitas, você pode cortar 10% do açúcar sem perda de sabor (5 colheres de chá de cada xícara). Com algumas sobremesas, especialmente assa- dos que contenham frutas doces (como maçã ou morango crocantes), você pode cortar até 25% ou às vezes mais. 34Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação 4- Durma o suficiente Até 70 milhões de americanos sofrem de privação crônica de sono e, de acordo com o CDC, a situa- ção atingiu proporções epidêmicas. A privação do sono é uma consequência dos nossos estilos de vida mais rápidos e dependentes da tecnologia. A combinação de estresse no trabalho e a tecnolo- gia de luz azul (celulares, computadores e tablets) que levamos conosco para o quarto nos impede de ter um sono suficientemente repousante. Para 50 milhões de americanos, o principal perturbador do sono é um distúrbio, como insônia crônica, apnéia do sono ou síndrome das pernas inquietas. Estudos demonstraram que a perda de sono produz alterações nas citocinas inflamatórias e outros mar- cadores de inflamação. Quando o ritmo circadiano sai do controle porque não estamos dormindo o suficiente, a função imune (além de outras) também é afetada. Qualquer pessoa que passou a noite inteira ten- tando dormir desesperadamente sabe o quanto pode ficar grogue e mal-humorada no dia seguinte. No entanto, os riscos de um sono insatisfatório vão muito além de um humor irritadiço e de uma produti- vidade reduzida. A privação de sono à noite também tem sido associada a um maior risco de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, ganho de peso e problemas de memória. O sono inadequado – menos de sete horas por noite – parece ser espe- cialmente prejudicial à saúde do coração. Parte da razão para esses riscos à saúde é um aumento nos níveis sanguíneos de substâncias inflamatórias em pessoas que dormem mal. Mesmo uma única noite de privação de sono é suficiente para perturbar o A privação de sono – uma consequência de nossas vidas dependentes da tecnologia – aumenta a inflamação. Quando o ritmo circadiano sai do controle devido à falta de sono, a função imune é afetada. seu sistema e provocar inflamação, o que reforça a necessidade de uma boa rotina de sono. A falta de sono regular também contribui para a obe- sidade, que por sua vez está associada à inflama- ção. Com sono insuficiente, você produz níveis mais elevados de hormônios da fome e níveis mais baixos de hormônios da saciedade, fazendo com que coma demais – em particular, é provável que você anseie por carboidratos refinados. Também é possível que a fadiga possa influenciar uma pessoa a ser menos ativa fisicamente e, assim, perder os benefícios anti- -inflamatórios e de perda de peso do exercício. Curiosamente, pessoas que dormem muito (além de nove horas por noite) também têm altos níveis de substâncias inflamatórias no sangue. Os especia- listas dizem que o tempo ideal para dormir é entre sete e nove horas todas as noites. Uma maneira de conseguir esse ponto ideal é criar o hábito de ir para a cama no mesmo horário todas as noites e acor- dar sete a nove horas depois – todas as manhãs. Mantenha o seu quarto silencioso, fresco e escuro – as condições ideais para dormir. E deixe os seus dis- positivos em outro cômodo para não ficar tentado a pegá-los no meio da noite. Em vez de perder tempo na tela, faça algo que o desanuvie antes de dormir, como ler um livro ou tomar um banho quente. Gerenciar o estresse é outro elemento crucial para um sono melhor. As preocupações com todas as pressões que você está sofrendo podem aumen- tar durante todo o dia e atingir o pico logo antes da hora de dormir, impedindo que você tenha uma noite tranquila. O sono insatisfatório aumenta os efeitos emocionais e físicos do estresse, tornando 35Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação ainda mais difícil dormir na noite seguinte. O ciclo estressante dia–noite com pouco descanso con- tinuará até que você consiga controlar o estresse (consulte “Reduzir o estresse crônico”, à direita). E o próprio estresse é um gatilho para a inflamação. 5- Não fume A ideia de que fumar faz mal à saúde já é notícia velha. A fumaça do tabaco está associada a uma ver- dadeira enciclopédia médica de doenças, incluindo asma, vários tipos de câncer, doença pulmonar obs- trutiva crônica, diabetes, doenças gengivais, doen- ças cardíacas e perda de visão (catarata, degene- ração macular, glaucoma e retinopatia diabética). Fumar danifica os vasos sanguíneos de uma forma que os torna mais vulneráveis à aterosclerose e às doenças cardiovasculares resultantes. Além de afetar diretamente o desenvolvimento dessas doenças, o tabagismo também aumenta o risco delas, ao promover a inflamação. Os fumantes têm altos níveis de inflamação, medida pelos níveis elevados de CRP, TNF e IL-6 no sangue (proteínas que refletem a inflamação em todo o corpo). Fumar também piora doenças inflamatórias crônicas, como artrite reumatoide e esclerose múltipla. Parar de fumar é um bom conselho de saúde geral, mas tam- bém produz uma queda dramática nos marcadores inflamatórios — em apenas algumas semanas. Se você lutou para largar o vício e falhou, não desista. Muitos ex-fumantes tiveram que fazer várias tentativas, sob vários métodos de cessação antes de encontrar aquele que finalmente acabou com a sua vontade de fumar. Consulte o seu médico para obter conselhos sobre medicamentos e produtos de reposição de nicotina para ajudar a controlar os seus desejos. Livre-se de tudo que desperte o desejo de fumar, incluindo cigarros, isqueiros e cinzeiros – e evite ir a lugares onde costumava fumar. Sevocê não consegue parar de fumar por conta própria, ligue para 800-QUIT-NOW para obter conselhos de coaches treinados ou junte-se a um grupo de apoio em sua área. 6- Limite o uso de álcool Quando se trata de inflamação, o álcool pode ser amigo ou inimigo, dependendo de você. Você deve ter lido que o uso moderado de álcool (uma bebida/ dose por dia para as mulheres e uma a duas para os homens) reduz o risco de desenvolver doenças relacionadas à inflamação, como doenças cardíacas e artrite. Um copo de vinho diário parece reduzir os marcadores de inflamação, incluindo CRP, IL-6 e TNF. Portanto, a palavra-chave é “moderação”. Beber em excesso pode ter o efeito oposto, alterando o sis- tema imune de uma forma que estimula a produção de citocinas pró-inflamatórias. Beber em demasia tem sido associado a muitas das mesmas doenças que a inflamação promove, incluindo hipertensão, AVC, câncer e demência. 7- Reduza o estresse crônico Quando nossos ancestrais avistavam um inimigo empunhando uma lança ou um faminto predador, automaticamente, os seus corpos produziam mais hormônios, como adrenalina, noradrenalina e corti- sol, que lhes permitiam enfrentar o perigo ou fugir o mais rápido possível. Essa resposta de “luta ou fuga” é excelente para nos proteger de ameaças de curto prazo. Mas quando disparada dia após dia por pres- sões no trabalho ou em casa, torna-se contraprodu- cente e prejudicial. Esse contínuo estresse tem liga- ções com o desenvolvimento e os surtos de várias condições inflamatórias crônicas, incluindo artrite reumatoide, doenças cardiovasculares, depressão e doença inflamatória do intestino. Pessoas que se envolvem em atividades regulares de promoção de relaxamento percebem os resul- tados não apenas através da redução do estresse, mas também na redução dos marcadores inflama- tórios. Por exemplo, pessoas que praticam medita- ção regularmente têm níveis mais baixos de cortisol e menos estresse percebido em comparação com aquelas que não praticam (veja “Como diminuir o estresse com a meditação”, página 36). A prática regular de ioga também está associada a níveis mais baixos de cortisol, bem como de marcadores de inflamação. Meditação e ioga são duas técni- cas comuns de redução do estresse, mas existem muitas outras opções que você pode escolher com base em suas preferências pessoais. Dê um passeio ao ar livre em um parque ou floresta. Passar algum tempo em espaços verdes tem um efeito calmante e restaurador na mente. Fuja do seu dia. Feche os olhos e imagine-se em uma praia. Sinta a areia quente entre os dedos dos pés. Ouça a água batendo suavemente nas pedras. Sinta o cheiro do ar rico e salgado. Deixar a sua mente vagar para um local tranquilo, uma técnica conhecida como visualização criativa, pode lhe dar férias temporárias das suas preocupações. 36Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Relaxe os seus músculos. O relaxamento muscular progressivo é uma maneira de se livrar de qualquer estresse armazenado nos músculos. Também pode ajudá-lo a adormecer. Começando pelos dedos dos pés, tensione e libere um grupo de músculos de cada vez, subindo pelo corpo. No momento em que você alcança sua cabeça, sente um estado de rela- xamento total. Pratique tai chi. Este programa de exercícios de fluxo suave combina movimentos lentos e objetivos com respirações profundas. Como o tai chi é fácil para as articulações, é seguro para pessoas de todas as idades e níveis de habilidade. E quando praticado regularmente, pode tanto reduzir o estresse quanto melhorar a qualidade do sono. Deixe lá fora. Antes de ir para a cama, escreva tudo o que o tem incomodado em um diário. Liberar as suas preocupações por meio de palavras é uma boa maneira de limpar a sua mente para que você possa se concentrar em adormecer. Saia com um amigo. Passar o tempo com alguém que o entende pode ajudar a desanuviar a sua mente. Se você usar esse tempo para assistir a um filme engraçado, terá o benefício adicional de uma boa risada para aliviar o estresse. Como iniciar a rotina anti-inflamatória Como acontece com qualquer hábito ou rotina sau- dável, o combate à inflamação deve ser iniciado cedo na vida. Quanto mais cedo você adotar uma dieta predominantemente baseada em vegetais, incorporar exercícios em sua rotina diária, controlar o seu sono e lidar com os seus estressores diários, menos tempo as substâncias nocivas terão para se acumular em seu corpo e aumentar o risco de doenças crônicas. Incorporar as estratégias discu- tidas neste capítulo em sua vida diária se tornará gradualmente tão rotineiro que, com o tempo, você se envolverá nelas sem ter que pensar consciente- mente sobre o que come ou se vai fazer exercícios – essas atividades simplesmente terão se tornado velhos bons hábitos. Se você tem seguido um estilo de vida pró-inflamató- rio por décadas e está lutando para quebrar o ciclo, uma visita ao seu médico para um check-up pode ser útil. Revise a sua dieta, os exercícios, o sono e os outros hábitos de vida para identificar as áreas que precisam ser melhoradas. Avalie o seu histórico familiar para riscos potenciais, como doenças cardí- acas ou doenças autoimunes. E certifique-se de ter COMO DIMINUIR O ESTRESSE COM MEDITAÇÃO Uma das maneiras mais simples e eficazes de controlar o estresse é praticando a meditação. Leva apenas alguns minutos, não requer nenhum equipamento e pode ser feito em qualquer lugar. Existem muitos tipos diferentes de medi- tação. Alguns, como a ioga e o tai chi, combinam movimento com respiração profunda e concentração mental. Em uma das técnicas mais básicas, chamada meditação da atenção plena, você se concentra na respiração e permanece enraizado no momento presente, afastando todas as preocupações da mente. Para praticar a meditação da atenção plena: 1. Reserve cinco ou 10 minutos quando você sabe que não será incomodado. Você pode usar um alarme para marcar a hora. 2. Encontre um lugar tranquilo onde não haja distrações. 3. Sente-se em uma cadeira ou almofada no chão. 4. Deixe o seu olhar descansar suavemente para baixo e colo- que as mãos sobre as pernas. 5. Comece a se concentrar na sensação da sua respiração, movendo-se suavemente para dentro e para fora do seu nariz ou da sua boca. Sinta o seu peito subir e descer a cada respiração. 6. Mantenha a sua mente focada no momento presente. Se ela começar a vagar, traga-a suavemente de volta ao presente. Pense em suas preocupações como nuvens. Observe-as vagar, em vez de ficar ruminando-as. 7. Quando estiver pronto para terminar a prática, traga gen- tilmente a sua atenção de volta para a sala. Observe como o seu corpo se sente no momento e quais pensamentos estão passando por sua mente. Tente praticar a meditação da atenção plena pelo menos uma vez por dia – com mais frequência, se tiver tempo. 37Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação feito todos os testes de rotina que podem destacar um problema potencial, incluindo pressão arterial, colesterol e glicemia. Lembre-se de que uma vida anti-inflamatória é um processo. Pode levar algum tempo para você se ajustar a uma rotina nova e mais saudável, espe- cialmente se você gosta de comer fast food, passar muito tempo no sofá ou fumar. Trabalhe de forma progressiva, fazendo pequenas mudanças que você pode gerenciar. Se você andava sedentário, caminhe 10 minutos por dia durante as primeiras semanas, depois aumente o tempo para 20 minu- tos e depois 30 minutos. Semanalmente, troque um pedido de batatas fritas por uma salada e substi- tua um refrigerante por um copo de água com gás. Conforme você faz melhorias em seu estilo de vida, visite novamente o seu médico. Depois de ver como esses ajustes afetaram a sua saúde na forma de pressão arterial baixa,melhores níveis de coleste- rol, peso mais saudável, marcadores de inflamação reduzidos e melhorias de doenças, como diabetes e artrite, você perceberá que o esforço valeu a pena. CONSTRUIR AMIZADES, COMBATE INFLAMAÇÕES? Os pesquisadores sabem há muito tempo que as pessoas soli- tárias e socialmente isoladas têm mais problemas de saúde, principalmente à medida que envelhecem. Elas têm uma inci- dência maior de tudo, desde resfriados e gripes a doenças cardíacas, depressão, mal de Alzheimer e até mesmo cânce- res agressivos. Uma variedade de explicações foi oferecida, incluindo as comportamentais – por exemplo, as pessoas que não têm uma rede de amigos próximos ou familiares não têm ninguém para motivá-las a comer bem e se exercitar. Mas agora parece que pode haver outro motivo. Parece que a solidão faz com que os glóbulos brancos sejam mais ativos, levando a níveis mais elevados de inflamação. Em um estudo publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, rastrearam 141 pessoas por cinco anos. Eles registraram a “percepção da solidão” em intervalos regulares e também coletaram amostras de sangue para ava- liar a atividade do gene e os níveis de um neurotransmissor importante envolvido na resposta de luta ou fuga. Os resulta- dos mostraram claramente que a solidão estava correlacio- nada com o aumento da atividade dos genes inflamatórios, e que também andava de mãos dadas com uma resposta anti- viral reduzida (especificamente, níveis mais baixos de interfe- ron), tipicamente encontrada no cenário de luta ou fuga. Em suma, diferentes partes do sistema imune estavam reagindo de maneiras diferentes – em detrimento das pessoas que sentiam solidão – mesmo depois que os pesquisadores con- tabilizaram outros fatores potenciais para a inflamação. 38Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Inflamação e o coração O maior risco de saúde dos americanos não é o câncer, o diabetes, as lesões ou as doenças pul- monares. É problema de coração. De acordo com o CDC, uma em cada quatro mortes está diretamente atribuível a doenças cardíacas, que somam quase 650.000 vidas perdidas a cada ano. Dado esse enorme número, pesquisadores e médicos sentem um imperativo particularmente forte para encontrar as causas subjacentes e os fatores que contribuem para as doenças cardíacas – e resolvê-los. O tipo mais comum de doença cardíaca, a doença arterial coronariana, decorre do acúmulo de placas de gordura repletas de colesterol dentro das artérias do coração. Os médicos costumavam ver a doença arterial coronariana simplesmente como um “pro- blema de encanamento”. Eles teorizaram que uma vida inteira comendo alimentos gordurosos deixava bolhas de colesterol na superfície interna dos vasos sanguíneos. Eventualmente, esse sedimento blo- queia o fluxo sanguíneo, levando a um ataque car- díaco. Nos últimos anos, surgiu uma compreensão mais sutil, na qual a inflamação crônica desempe- nha um papel central em cada etapa do processo da doença. Os fundamentos dessa nova teoria, na verdade, apareceram pela primeira vez há séculos. O médico grego Aretaeus, da Capadócia, notou inflamação na aorta (a principal artéria que transporta o sangue do coração) no primeiro século. Mas, nos últimos anos, novas técnicas de imagem, juntamente com os avanços na biologia molecular, expandiram nossa compreensão. Os cientistas agora percebem que quando partí- culas de colesterol LDL, popularmente conhecido como “mau”, infiltram as camadas mais internas das paredes das artérias, que são revestidas por células endoteliais, células inflamatórias de vários tipos se ligam a essas células e iniciam o processo inflama- tório (ver Figura 8, página 39) . O sistema imune vê a placa como uma substância estranha e inicia uma resposta para isolar a placa do fluxo sanguíneo. As citocinas enviam o alerta aos fagócitos, que correm para o local para devorar a placa agressora. À medida que os fagócitos consomem partículas de colesterol, camadas de gordura e detritos celulares se acumulam no revestimento da artéria. Isso faz com que a parede da artéria engrosse e enrijeça, estreitando o canal e assim dificultando o fluxo san- guíneo. As placas nas artérias são cobertas por uma camada de tecido conhecida como capa fibrosa. Se essa capa abrir, a placa pode romper, espalhando o seu conteúdo na corrente sanguínea. As plaquetas e outras células sanguíneas se ligam à lesão e for- mam um coágulo, que pode eventualmente crescer o suficiente para bloquear o fluxo de sangue. Se o coágulo bloquear o fluxo sanguíneo em um vaso que alimenta o coração, ele pode desencadear um infarto. Ou pode se romper e viajar pela corrente sanguínea, entrando em vasos sanguíneos cada vez menores e, por fim, ficar preso em um. Se ficar embutido em um vaso que vai para o cérebro, pode desencadear o AVC. Qualquer um é um desenvolvi- mento potencialmente fatal. Exame de inflamação Os sinais de inflamação servem como um alerta sobre os riscos para o coração (assim como as doenças periodontais; consulte “Doença periodon- tal e doença cardiovascular”, página 40). Examinar marcadores de inflamação no sangue é uma forma de o médico avaliar o risco. O único marcador infla- matório comumente testado para avaliar o risco cardiovascular é a proteína C reativa (CRP), uma substância que o fígado produz em resposta à infla- mação no corpo. O CRP é examinado através de um teste de sangue de alta sensibilidade (conhecido como hsCRP). Um nível inferior a 1 miligrama por litro (mg/L) significa baixo risco; 1 a 3 mg/L indica médio risco; e 3 mg/L significa alto risco de doença car- diovascular, infarto e AVC. A maioria das operadoras de planos de saúde cobrem o custo do teste, desde que o seu médico o prescreva. Se o seu nível de CRP estiver alto, o seu médico pode solicitar mais exames para procurar a causa da inflamação, e você pode precisar instituir mudanças no estilo de vida que protegem o coração ou começar a tomar medi- camentos para controlar os seus riscos. Controlando a inflamação para proteger o coração Desde a descoberta de que a inflamação desem- penha um papel nas doenças cardíacas, os pes- quisadores vêm tentando descobrir se as drogas que combatem os processos inflamatórios podem prevenir infarto do miocárdio e outros eventos cardiovasculares. 39Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação LDL Endotélio Glóbulos vermelhos Glóbulos brancos e LDL Células de espuma Capa Ruptura de placa Ruptura de placa Trombo (coágulo de sangue) Figura 8: Da artéria saudável ao infarto Os infartos não são apenas o resultado do acúmulo de placas de gordura nas artérias. A inflamação, desencadeada por danos ao revestimento interno de uma artéria, desencadeia o crescimento constante da placa aterosclerótica. Se uma placa se romper repentinamente, pode causar um infarto. FASE 1: O EXCESSO DE LDL PASSA PELA ARTÉRIA O colesterol viaja na corrente sanguínea dentro de partículas esféricas chamadas lipoproteínas. Cerca de dois terços do colesterol sanguíneo está na forma de lipoproteína de baixa densidade (LDL), frequentemente chamada de colesterol “ruim”, porque o excesso de LDL se aloja nas paredes das artérias. Ter LDL alto aumenta o risco de aterosclerose. FASE 2: A PLACA SE ACUMULA E A ARTÉRIA SE ESTREITA O colesterol LDL se aloja na parede da artéria, onde desencadeia uma sequência prejudicial de eventos. O sistema imune reconhece a placa resultante como uma substância estranha e lança um ataque contra ela. Os glóbulos brancos vão para o local e engolem o colesterol LDL na parede da artéria. Essas células, então, aumentam de tamanho e se transformam em células espumosas carregadas de gordura. FASE 3: UMA CAPA FIBROSA COBREA PLACA Conforme as células espumosas morrem, elas liberam uma substância macia e gordurosa que provoca mais inflamação. As células musculares lisas na parede da artéria aumentam e se multiplicam, formando uma capa sobre toda a bagunça e aumentando o volume da placa. Algumas placas grandes podem estar contidas principalmente dentro da parede do vaso, enquanto outras podem se estender para o interior da artéria, limitando o fluxo sanguíneo e de oxigênio. Quanto maior a placa, menos fluxo sanguíneo. FASE 4: A PLACA SE ROMPE Cerca de três em cada quatro infartos ocorrem por causa da ruptura de placa. Mas não são necessariamente as placas grandes que são mais perigosas, desde que elas geralmente são cobertas por espessas capas fibrosas que resistem à ruptura. Por outro lado, as placas menores podem ser lesões dinâmicas ativas em conjunto com as células inflamatórias e podem ter capas muito finas que se rompem facilmente. FASE 5: UM COÁGULO BLOQUEIA A ARTÉRIA Assim que uma placa se rompe, uma proteína chamada fator tecidual é liberada na corrente sanguínea, onde atrai as plaquetas. As plaquetas aderem à placa rompida, desencadeando proteínas para iniciar a coagulação. O resultado é um trombo – um coágulo feito de glóbulos vermelhos, plaquetas e outros materiais – que pode ser grande o suficiente para impedir que o sangue chegue às células do coração a jusante. Privado de sangue e oxigênio, uma parte do músculo cardíaco morre. 40Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Em 2008, o estudo JUPITER descobriu que, em adultos mais velhos com níveis elevados de marca- dores inflamatórios no sangue, mas que não tinham colesterol alto, o tratamento com estatina, reduzi- dora de colesterol, diminuiu o risco de infarto e AVC. No entanto, não ficou claro a partir do estudo se esses efeitos foram simplesmente um subproduto da capacidade das estatinas de baixar o coleste- rol ou devido a outros fatores, como a redução da inflamação. As evidências sugerem que as estatinas podem ter propriedades anti-inflamatórias e antioxi- dantes que protegem as paredes das artérias contra danos do colesterol. Elas também podem: • proteger as células do coração e dos vasos sanguíneos diretamente, acelerando o reparo do DNA e retardando a morte celular • ajudar a dilatar as artérias para transportar mais sangue para o músculo cardíaco e para outros tecidos • estabilizar as placas repletas de colesterol, reduzindo a chance de rompimento e desencadeamento de infarto • inibir as plaquetas, ajudando assim a prevenir coágulos sanguíneos que bloqueiam a artéria • reduzir a viscosidade ou “espessura” do sangue, talvez facilitando o fluxo sanguíneo através de artérias parcialmente bloqueadas. Uma grande virada no pensamento dos médicos sobre o tratamento ocorreu em 2019, com os resul- tados do estudo CANTOS. Os pesquisadores desig- naram aleatoriamente mais de 10.000 pessoas com níveis elevados de CRP e que tiveram um infarto para tomar o medicamento canacinumabe (Ilaris) em uma das três doses, ou um placebo (tratamento inativo). O canacinumabe tem como alvo a citocina interleucina-1 beta para reduzir a inflamação. Os par- ticipantes que tomaram o medicamento apresenta- ram 15% menos probabilidade de ter outro infarto ou AVC, mostrando que reduzir a inflamação, mesmo sem baixar os níveis de colesterol, pode afetar signi- ficativamente o risco de doenças cardíacas. O cana- cinumabe não é amplamente prescrito para diminuir a inflamação, em parte por causa do seu alto custo e efeitos colaterais, que incluem um maior risco de infecções. Estudos estão investigando se outras drogas anti-inflamatórias potencialmente mais bara- tas e seguras podem reduzir de forma semelhante os riscos cardíacos. Como observado, as estatinas – os medicamentos para baixar o colesterol mais prescritos – também têm efeitos anti-inflamatórios. Dito isso, os médicos consideram um estilo de vida saudável como a primeira linha de defesa con- tra doenças cardíacas (consulte a Seção Especial, “Combate à inflamação crônica com mudanças no estilo de vida”, página 29). Medidas de estilo de vida, como dieta baseada em vegetais, exercícios e parar de fumar, continuam sendo os pilares da saúde cardiovascular, recomendados por grandes organizações como a American Heart Association – e todas essas estratégias ajudam a combater a inflamação. DOENÇA PERIODONTAL E DOENÇA CARDIOVASCULAR A doença periodontal começa com a placa pegajosa que se forma ao redor dos dentes. Isso não é o mesmo que a placa de gordura e colesterol que reveste as artérias numa doença cardíaca, mas as duas condições estão mais intimamente relacionadas do que você possa imaginar. Pessoas com doença periodontal correm um risco 50% maior de infarto do que pessoas sem a doença. Algumas das associações entre as duas condições podem refletir fatores de risco compartilhados. Por exemplo, pessoas que comem grandes quantidades de refrigerantes açucara- dos e junk food são mais propensas a ter gengivas inflama- das (gengivite) e obstrução das artérias. Fumar também está relacionado a problemas gengivais e doenças cardíacas. No entanto, há evidências crescentes de que as doenças perio- dontais podem ser um fator de risco independente para pro- blemas cardiovasculares. Uma teoria é que as mesmas bac- térias que crescem nas gengivas se espalham pela corrente sanguínea e provocam inflamação nas artérias ao redor do coração. Como evidência, os pesquisadores descobriram bactérias da boca em vasos sanguíneos distantes. Outra possibilidade é que a inflamação em todo o corpo seja responsável por ambas as condições. A pesquisa sugere que outras condições inflamatórias sistêmicas também podem estar associadas a doenças periodontais, incluindo diabetes tipo 2, osteoporose e artrite reumatoide. Até o momento, não há evidências de que a escovação regu- lar e o uso do fio dental podem prevenir o infarto. Mas dada a possível conexão, faz sentido prestar atenção à sua higiene bucal, escovando e passando fio dental todos os dias, indo ao dentista para limpezas semestrais e não fumar. 41Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Inflamação e o seu cérebro Quando você dá uma topada no dedo do pé ou corta um dedo, a inflamação resultante é rápida e óbvia. No cérebro, a inflamação pode ser mais gradual e muito mais difícil de detectar. Ainda assim, os efeitos da inflamação de longo prazo no cérebro podem ser muito mais destrutivos do que uma lesão visível no dedo do pé. Os pesquisadores vincularam a inflamação cerebral ao desenvolvimento de doenças neurodegenerati- vas, como Alzheimer e Parkinson, bem como a con- dições de saúde mental que vão desde a depressão à esquizofrenia. Agora, eles estão tentando enten- der quais mecanismos estão por trás dessa conexão e como o combate à inflamação pode proteger esse órgão vulnerável. O sistema de defesa do cérebro Para fins de proteção, o cérebro tem um conjunto de defesas diferente do resto do corpo. Como um ataque total do sistema imune contra bactérias ou toxinas pode ser devastador para o cérebro e os tecidos nervosos sensíveis, a imunidade cerebral adota uma abordagem decididamente mais gentil. No entanto, quando a lesão é extrema, como no caso de um acidente vascular cerebral (consulte a página 42) ou sepse (consulte “Infecções e névoa cerebral”, abaixo à direita), a resposta inflamatória pode ser mais grave e se assemelhar mais à res- posta em outras partes do corpo. O sistema imune do cérebro é denominado sistema neuroimune. Sua primeira linha de defesa é a bar- reira hematoencefálica, que separa o sangue que flui através dos vasos sanguíneos do cérebro das células e tecidos circundantes. Em outras partes do corpo, os vasos sanguíneos são revestidos por célu-las endoteliais, que são espaçadas para permitir que as substâncias entrem e saiam dos vasos com rela- tiva facilidade. No cérebro, a barreira é muito menos permeável. Ela permite a entrada de oxigênio, de glicose e de outros nutrientes que o cérebro pre- cisa, mas impede a entrada de germes e toxinas na corrente sanguínea que podem danificar as células cerebrais. A próxima linha de defesa é uma equipe especia- lizada de macrófagos chamados micróglia, que costumam ser chamados de células necrófagas. Elas examinam constantemente o cérebro em busca de sinais de lesão ou infecção. Quando detectam qualquer um deles, a micróglia se multiplica, libera substâncias inflamatórias e engole germes, células danificadas e outros detritos. A micróglia é o ator central na resposta inflamató- ria do cérebro (neuroinflamação). Como no resto do corpo, esse processo tem como objetivo servir como um mecanismo de proteção. Mas quando a ativação da micróglia é significativa (como após uma lesão cerebral traumática ou AVC) ou quando se torna crônica (como no caso de uma doença como o Alzheimer ou esclerose múltipla), as substâncias inflamatórias que são liberadas podem ter efei- tos prejudiciais, e pode levar ao declínio cognitivo (demência) e depressão. A micróglia também está implicada em outras doenças neurodegenerativas, incluindo doença de Parkinson, AVC isquêmico e lesão cerebral traumática. Infecções e névoa cerebral Se você já pegou um forte resfriado ou gripe, pode ter experimentado uma “névoa cerebral” temporá- ria que costuma acompanhar essas infecções. Os especialistas presumiram que a neuroinflamação durante uma infecção contribui para essa queda rápida e dramática na cognição. Existem várias teorias sobre como a inflamação pode levar a esses efeitos mentais. Um estudo des- cobriu que a inflamação relacionada a uma infecção A dieta MIND, desenvolvida para reduzir o risco de demência, enfatiza as folhas verdes, outros vegetais, oleaginosas, frutas vermelhas e peixes como o salmão. A MIND está associada a uma taxa mais lenta de declínio cognitivo. 42Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação afeta especificamente as áreas do cérebro que, nor- malmente, o mantém alerta, o que poderia explicar a névoa cerebral que algumas pessoas experimentam quando estão doentes. Apesar da barreira hematoencefálica, o cérebro é vulnerável a inflamações em outras partes do corpo. Um exemplo dramático disso é o rápido declínio mental que ocorre em pessoas com sepse, uma condição com risco de vida em que uma infecção avassaladora causa disfunção de múltiplos órgãos. Na sepse, uma resposta imune excessivamente robusta (conhecida como tempestade de citocinas) cria uma inflamação generalizada que leva a sinto- mas, como fraqueza severa, dificuldade para respi- rar e função anormal do coração e de outros órgãos. Sem um tratamento rápido, é fatal. Mais de 80% das pessoas com essa resposta extrema geral à infecção desenvolvem delírio. A inflamação em todo o corpo pode interromper a comunicação entre as células nervosas e causar danos permanentes à estrutura do cérebro. De fato, estudos de imagem revelaram danos a várias partes do cérebro em pessoas com sepse. Mesmo a inflamação de baixo grau, se contínua, pode contribuir para o declínio mental. Um estudo publicado em 2019 na revista Neurology atri- buiu a mais de 12.000 adultos de meia-idade uma pontuação composta com base nos níveis de quatro marcadores inflamatórios em seu sangue. As habili- dades de pensamento e memória dos participantes foram testadas no início do estudo, seis a nove anos depois, e no final do estudo de 20 anos. Pessoas que começaram com as pontuações de inflamação mais altas tiveram quase 8% mais declínios cogniti- vos em comparação com aquelas que começaram com as pontuações mais baixas. Os autores afir- mam que é possível que a inflamação crônica não seja a causa do declínio mental, mas sim um mar- cador ou uma resposta às doenças cerebrais que causam esse declínio. Mas eles acrescentam que a inflamação ainda pode ser um alvo possível para tratamentos. AVC Um acidente vascular cerebral (AVC) pode ser tanto consequência da inflamação quanto sua causa. Os mesmos processos inflamatórios que danificam as artérias e contribuem para os infartos também podem danificar os vasos sanguíneos que forne- cem às células cerebrais sangue rico em oxigênio e nutrientes. Até 85% dos AVC são do tipo deno- minado AVC isquêmico, que ocorre quando um coágulo sanguíneo ou um aglomerado de placas bloqueia um vaso sanguíneo no cérebro. (O outro tipo, AVC hemorrágico, ocorre quando um vaso san- guíneo no cérebro se rompe, causando hemorragia no local.) Privados de sangue e nutrientes, os neurônios (células cerebrais) começam a morrer rapidamente, a uma taxa estimada de 1,9 milhão de células por minuto. Conforme essas células cerebrais morrem, elas liberam moléculas chamadas DAMPs (consulte “Ato 2: imunidade inata”, página 7) – sinais que ati- vam e recrutam células inflamatórias como neutró- filos, células T, macrófagos e fagócitos para a área. Essas células liberam os seus próprios sinais para chamar ainda mais reforços inflamatórios. Durante a fase inicial do AVC, que pode durar de alguns minutos a várias horas, a produção de cito- cinas e espécies reativas de oxigênio aumenta. Os mediadores inflamatórios alargam os vasos san- guíneos e aumentam a permeabilidade da barreira hematoencefálica. Sangue adicional, bem como mais células de defesa do sistema imune, correm para o local da lesão. A micróglia também participa. Elas limpam os danos do AVC engolindo os detritos celulares. No entanto, as suas ações não são todas positivas. A micróglia A névoa cerebral pode ser o resultado de uma inflamação em outras partes do corpo. Um estudo descobriu que a inflamação relacionada a uma infecção afeta áreas específicas do cérebro que normalmente o mantém alerta. 43Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação também libera citocinas pró-inflamatórias, como TNF e interleucina-1, que podem acelerar a morte neuronal. A inflamação relacionada ao AVC tem vários efeitos deletérios no cérebro. Por um lado, pode contribuir para a depressão pós-AVC (PSD), que aflige cerca de um terço dos sobreviventes de AVC (consulte “Depressão”, página 44). A PSD geralmente começa dentro de alguns meses após o evento e pode durar de dois a três anos. Como a depressão pode dificultar a recuperação de um AVC, as pessoas com PSD apresentam risco aumentado de pior prognóstico ou morte. Além disso, a neuroinflamação pode contribuir para o comprometimento cognitivo pós-AVC ou mesmo para a demência. Até um terço dos sobreviventes de AVC desenvolvem demência – na maioria das vezes demência vascular, mas às vezes doença de Alzheimer ou as duas juntas. Em parte, isso ocorre porque o AVC e a demência compartilham fatores de risco, como idade avançada, pressão alta, obe- sidade e tabagismo. Mas as mudanças cerebrais induzidas por um AVC também podem contribuir diretamente para a atrofia cerebral e o acúmulo de proteínas beta-amiloides anormais na doença de Alzheimer (consulte “Demência, incluindo a doença de Alzheimer”, acima à direita). Os principais esforços de pesquisa estão focados em compreender os mecanismos subjacentes do comprometimento cognitivo pós-AVC e da demên- cia. Mais recentemente, o National Institutes of Health concedeu US $39 milhões a uma nova rede nacional de centros acadêmicos, liderada pela Harvard, que examinará vários fatores, incluindo a neuroinflamação. O tratamento padrão para um AVC isquêmico hoje é com medicamentos ou com cirurgia para quebrar ou remover o coágulo e restaurar o fluxo sanguíneo – de preferência dentro de algumas horas após o evento. Osmédicos então usam drogas anticoa- gulantes e outros medicamentos para controlar os fatores de risco e prevenir uma recorrência. Os pes- quisadores estão investigando se os medicamentos anti-inflamatórios podem melhorar os resultados, ajudando a reduzir a inflamação após um AVC. Até o momento, esse tratamento tem se mostrado pro- missor em estudos com animais, mas os seus efeitos ainda não foram confirmados em humanos. Demência, incluindo doença de Alzheimer Muitos americanos temem a doença de Alzheimer – a forma mais comum de demência – mais do que o AVC, o infarto do miocárdio e até o câncer. A perda potencial da sua própria história, da sua memória de entes queridos e da sua capacidade de cuidar de si mesmo torna o Alzheimer um adversário terrível e temível. As estatísticas só aumentam a sensação de ansiedade: quase seis milhões de americanos vivem atualmente com o Alzheimer e, no ano de 2050, esse número deverá aumentar para quase 14 milhões. O número crescente de pacientes com demência ressalta a necessidade de compreender melhor os mecanismos que estão por trás dessa doença e de abordá-los com novos tratamentos. As marcas da doença de Alzheimer são as placas amiloides pegajosas e os emaranhados retorcidos da proteína tau, encontrados no cérebro das pes- soas com a doença. O que os cientistas ainda não entendem é quais são os mecanismos por trás dos depósitos dessas proteínas anormais e se elas real- mente contribuem para a demência. Uma área de crescente interesse é a inflamação. Uma das primeiras alterações patológicas na doença de Alzheimer é o acúmulo de beta-amiloide no tecido cerebral. À medida que a doença se instala, as células cerebrais começam a morrer e os níveis de neurotransmissores, que carregam mensagens entre bilhões de neurônios, diminuem. Muitas das conexões entre os neurônios cerebrais, tão cruciais para a memória e outras funções mentais, também desaparecem. A formação de placas beta-amiloides parece iniciar uma resposta imune no tecido cerebral. As células da micróglia se acumulam ao redor das placas em uma tentativa de erradicar a proteína indesejada e limpar as células danificadas. Mas, ao contrário de um vírus ou bactéria, as placas não são facilmente eliminadas. Elas persistem e continuam a provocar o sistema imune em uma ação constante e impla- cável. À medida que a batalha avança, citocinas e outros produtos químicos inflamatórios continuam a ser liberados, infligindo danos colaterais às células cerebrais saudáveis. A inflamação também aumenta a atividade da enzima de clivagem precursora de beta-amiloides, que em um ciclo vicioso aumenta a produção de beta-amiloides. 44Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação A inflamação também leva ao acúmulo de outra pro- teína anormal chamada tau. Tau é uma componente estrutural das células que ajuda a estabilizar os tubos microscópicos (ou microtúbulos) que permi- tem o transporte de moléculas de uma extremidade da célula para a outra. Na doença de Alzheimer, no entanto, a tau se colapsa em fios que acabam se tornando emaranhados. Esses emaranhados interfe- rem ainda mais na capacidade de comunicação dos neurônios. Se os cientistas conseguirem estabele- cer com firmeza o papel que a inflamação desempe- nha no desenvolvimento da doença de Alzheimer, a esperança é que eles consigam encontrar trata- mento para interromper a progressão, ou mesmo prevenir, o declínio cognitivo e a demência. A inflamação também está profundamente envol- vida na segunda forma principal de demência, a demência vascular. Esse tipo resulta de danos aos vasos sanguíneos do cérebro, que normalmente envolvem um processo inflamatório. Os AVCs (ver página 42) são uma das causas da demência vascu- lar. A demência vascular também pode resultar de vários pequenos derrames ou, mais comumente, de danos crônicos a muitos vasos sanguíneos minúscu- los no cérebro. Além disso, a inflamação pode piorar os danos do AVC. A inflamação também parece contribuir para o aumento do risco de demência entre as pessoas que sofreram traumatismo cranioencefálico (TCE). O TCE é um dos principais fatores de risco para demência mais tarde na vida; um traumatismo craniano grave pode aumentar quatro vezes o risco de Alzheimer. Também contribui para o risco de Parkinson, escle- rose múltipla e esclerose lateral amiotrófica (ELA). Após um TCE, o cérebro inicia uma série de even- tos denominados lesões secundárias, que inclui a neuroinflamação, a perda de neurônios e a produ- ção e o depósito de beta-amiloide, e a ativação da micróglia que também contribui para a geração de placas beta-amiloides. Níveis de beta-amiloide e tau aumentam no cérebro de alguém que teve um TCE, às vezes horas após a lesão. O acúmulo dessas pro- teínas desempenha um papel na morte dos neurô- nios após a lesão, embora os mecanismos exatos que ligam o TCE e a demência ainda não sejam claros. Depressão Como todo conhecimento médico, a compreen- são sobre a depressão sofreu uma mudança sís- mica ao longo dos séculos. Nos primeiros relatos, descobertos na antiga Mesopotâmia, a depressão e outras doenças mentais eram vistas como resultado de possessão demoníaca. Os demônios precisavam ser exorcizados para que os aflitos encontrassem alívio. Hoje, os cientistas chegaram à conclusão de que a depressão tem raízes biológicas. Uma descoberta interessante foi a descoberta de que a depressão compartilha muitas das mesmas características, fatores de risco e sintomas das res- postas inflamatórias de base imunológica. Sabemos que mau humor, perda de apetite, distúrbios do sono, dificuldade de concentração e falta de energia são marcas claras da depressão, mas também são sinais de inflamação. Muitos dos mesmos fatores de risco que tornam as pessoas mais vulneráveis à depres- são – como estresse, obesidade e ingestão de uma dieta altamente processada – também as colocam em risco de doenças cardíacas e outras condições inflamatórias. Doenças inflamatórias crônicas, como a artrite reumatoide, a doença inflamatória intestinal, a doença cardíaca aterosclerótica e o diabetes têm sido associadas a um risco aumentado de depres- são. Os médicos acreditavam que a depressão era o resultado natural de viver com uma dessas doenças crônicas e dolorosas, mas agora eles reconhecem que o relacionamento é mais complexo do que isso. A inflamação que essas doenças compartilham é fundamental para a conexão entre elas. Pessoas diagnosticadas com depressão têm níveis mais elevados de citocinas pró-inflamató- rias e outros marcadores de inflamação no sangue. Estudos sugerem que, quando alguém sem quais- quer sinais de depressão tem marcadores inflamató- rios elevados, ele ou ela pode estar em maior risco de desenvolver depressão no futuro. Outras evidências da conexão entre inflamação e depressão vêm de pesquisas com citocinas. Em estudos, os animais que receberam citocinas torna- ram-se letárgicos, retraídos e desinteressados em comida ou sexo – sintomas conhecidos de pessoas que já lutaram contra a depressão. Um efeito semelhante foi observado em pessoas com hepatite C que são tratadas com medicamen- tos de interferon – versões da citocina natural indus- trializadas. Esse tipo de medicamento já foi um tra- tamento básico para a hepatite C porque “interfere” na capacidade de replicação do vírus; no entanto, é muito menos eficaz e causa mais efeitos colaterais do que os tratamentos mais recentes. Quando as pessoas com hepatite recebem interfe- ron, geralmente ficam cansadas e com dores, como 45Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação se tivessem contraído uma gripe. (Na verdade, quando as pessoas são infectadas com o vírus da gripe, são as citocinas que produzem a sensação avassaladora de fadiga que as mantémconfina- das à cama por dias.) O tratamento contínuo com interferon frequentemente leva a um aumento dos sintomas de depressão e ansiedade. A depressão desencadeada pela administração de interferon é tipicamente tratada com antidepressivos, assim como outros tipos de depressão; no entanto, quando é grave, o interferon pode ter que ser interrompido. Nos últimos anos, descobertas de pesquisas labora- toriais com células sugerem que a inflamação pode aumentar o risco de depressão, suprimindo o nas- cimento de novas células cerebrais (neurogênese) e acelerando a morte de células cerebrais existen- tes (apoptose). Acredita-se que essa diminuição na neurogênese seja um fator importante que contribui para o desenvolvimento da depressão. Atualmente, a busca é para ver se as terapias anti- inflamatórias podem ter um papel no tratamento da depressão. Dado que cerca de um terço das pessoas com depressão não responde aos antidepressivos tradicionais, há uma necessidade urgente de encontrar alternativas. Os AINEs e o antibiótico tetraciclina estão entre os candidatos sob investigação. Até agora, não está claro se essas drogas têm algum efeito real sobre os sintomas depressivos. Uma desvantagem potencial para eles é que podem bloquear os efeitos benéficos dos medicamentos antidepressivos. E como os AINEs apresentam riscos como aumento de sangramento e problemas cardíacos, atualmente não são recomendados para tratar ou prevenir a depressão. Combatendo a inflamação para proteger o cérebro Há um grande esforço em andamento na indústria farmacêutica para encontrar drogas que reduzam a inflamação cerebral para tratar uma variedade de doenças, incluindo o Alzheimer. Alguns estudos sugerem que pessoas que tomam AINEs, como aspi- rina ou ibuprofeno, têm um risco menor de desen- volver Alzheimer. Mas, até agora, os resultados das pesquisas sobre terapias anti-inflamatórias para combater a demência têm sido decepcionantes. Uma das terapias mais promissoras foi o uso do antibi- ótico minociclina (Minocin). Além da sua capacidade de combater uma variedade de agentes infecciosos, essa droga tem propriedades anti-inflamatórias e neuroprotetoras, bem como a capacidade de passar com relativa facilidade a barreira hematoencefálica. A pesquisa sugeriu que a minociclina, junto com a estimulação magnética transcraniana (que usa campos magnéticos para estimular os neurônios no cérebro), pode ajudar os neurônios a se recupe- rar ou regenerar após um AVC. No entanto, em um estudo de dois anos, o tratamento com minociclina em duas doses diferentes (200 e 400 mg) não retar- dou o declínio cognitivo em pessoas com Alzheimer leve e causou efeitos colaterais. Uma investigação de dois anos de um AINE entre pessoas com alto risco para a doença de Alzheimer teve resultados igualmente decepcionantes. O trata- mento duas vezes ao dia com naproxeno não dimi- nuiu o declínio cognitivo e causou efeitos colaterais significativos, como problemas gastrointestinais e cardiovasculares. Outros pesquisadores estão com- binando o AINE ibuprofeno com cromoglicato, uma droga normalmente usada (sob a marca Intal) para combater a inflamação pulmonar e tratar a asma. Em estudos com camundongos, o tratamento com cromoglicato demonstrou reduzir os depósitos de placas beta-amiloides. Resta saber se a droga pode ajudar a evitar a demência em humanos. Uma dieta saudável também pode ajudar, e a MIND é considerada a dieta mais benéfica para o cérebro. Ela é um cruzamento entre a dieta mediterrânea (ver página 31) e a dieta DASH com baixo teor de sódio e rica em vegetais, com ênfase em certos ali- mentos saudáveis para o cérebro, como berries e folhas verdes. A dieta foi desenvolvida por Martha Clare Morris, epidemiologista nutricional do Rush University Medical Center. Um estudo de 2016 des- cobriu que a dieta ajudou a reduzir o risco de desen- volver Alzheimer durante um período de 4,5 anos. E um estudo de 2018 descobriu que a MIND estava associada a uma taxa substancialmente mais lenta de declínio cognitivo em sobreviventes de AVC. O momento oportuno de ação pode ser vital quando se trata de conter a inflamação que leva ao declínio cognitivo. As estratégias anti-inflamatórias podem ser mais eficazes quando iniciadas antes do desenvolvi- mento da demência, para ajudar na prevenção. 46Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Inflamação e doença metabólica Estamos em uma epidemia de obesidade. Em todo o mundo, mais de 1,9 bilhão de pessoas são con- sideradas com sobrepeso e mais de 650 milhões são obesas. A prevalência da obesidade dobrou desde 1980. Com ela, complicações como diabetes tipo 2 e síndrome metabólica (que preparam o palco para doenças cardíacas) se tornaram extremamente comuns e causaram um impacto devastador na população mundial. Ambos são problemas metabólicos, o que significa que envolvem a desregulação do metabolismo (os processos celulares de conversão de proteínas, car- boidratos e gorduras em energia e conversão da energia armazenada em crescimento). Como esses processos ocorrem em todo o corpo, os problemas metabólicos podem afetar vários órgãos – entre eles, o pâncreas, o fígado, o coração, os músculos e o cérebro. Nas últimas duas décadas, os pesquisadores come- çaram a traçar uma linha clara conectando o excesso de peso com a desregulação metabólica e a infla- mação – especificamente, a inflamação constante e de baixo grau desencadeada metabolicamente. Chamada de meta inflamação, ela desempenha um papel importante tanto no diabetes tipo 2 como na síndrome metabólica. O excesso de peso, especialmente ao redor da barriga, está relacionado à inflamação. As células de gordura são particularmente ativas metabolicamente, produzindo uma variedade de compostos pró-inflamatórios. Diabetes tipo 2 Os médicos observaram há muito tempo que a obe- sidade e o diabetes tendem a andar de mãos dadas. A correlação é tão forte que alguns especialistas se referem à combinação das duas como “diabesi- dade”. Ambos envolvem inflamação. Recentemente, o papel da inflamação crônica no processo da doença começou a entrar em foco. A inflamação é um gatilho importante que aciona o diabetes tipo 2, uma vez que outras condições prévias estejam estabelecidas – por exemplo, excesso de peso, dieta inadequada e estilo de vida sedentário. A infla- mação também é um dos principais contribuintes para muitas das complicações da doença, incluindo infarto do miocárdio, AVC e doenças renais. O que é diabetes? O diabetes é uma doença caracterizada pelo alto nível de açúcar no sangue. Normalmente, quando você come, à medida que o seu corpo decompõe os carboidratos dos alimentos em açúcar (glicose), o nível de açúcar no sangue aumenta. Em resposta, o pâncreas libera o hormônio insulina, que permite que as células musculares, gordurosas e hepáticas absorvam o açúcar da corrente sanguí- nea para uso como energia ou armazenamento para uso futuro. O diabetes interrompe esse ciclo normal. Existem duas formas diferentes da doença. O dia- betes tipo 1 (consulte a página 27) é uma doença autoimune. O sistema imune ataca e destrói as célu- las produtoras de insulina no pâncreas, e a falta de insulina resultante acaba levando a um alto nível de açúcar no sangue. O diabetes tipo 2, responsável por 95% dos casos de diabetes, também resulta em alto nível de açúcar no sangue, mas o processo da doença subjacente é diferente. No diabetes tipo 2, o corpo ainda produz insulina, mas as células de todo o corpo não respon- dem adequadamente a ela – um problema conhe- cido como resistência à insulina. O pâncreas produz mais insulina na tentativa de superar essa resistên- cia. Depois de alguns anos de luta para acompanhar a demanda cada vez maior de insulina do corpo, as células pancreáticas ficam cada vez mais exau- ridas. Nesse ponto, além da resistência à insulina,também há pouca insulina. Essa combinação leva ao aumento consistente do açúcar no sangue, que é característico do diabetes. Como o diabetes afeta os níveis de glicose na corrente sanguínea, complicações podem se 47Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação desenvolver em todo o corpo se o açúcar no san- gue não for mantido sob controle. O diabetes pode causar danos aos olhos e aumentar o risco de doen- ças nas retinas (retinopatia), catarata e glaucoma. Pode danificar os rins, que filtram o sangue, e cau- sar doenças renais. Pode danificar os nervos (neuro- patia), causando dor, dormência e formigamento. E pode danificar os vasos sanguíneos que alimentam o coração e o cérebro, aumentando o risco de doen- ças cardíacas e AVC. Pessoas com diabetes tipo 2 desenvolvem doenças cardiovasculares mais cedo (talvez uma década antes) e mais severamente do que pessoas sem diabetes. O papel da gordura e da inflamação As pessoas tendem a pensar nas células de gordura como depósitos inertes de armazenamento de calo- rias. Ao contrário, as células de gordura são meta- bolicamente ativas. A gordura produz uma varie- dade de substâncias pró-inflamatórias, como TNF e interleucinas. Várias dessas substâncias interferem no funcionamento da insulina, incluindo o TNF e um composto chamado resistina, porque contribui para a resistência à insulina. Como a gordura que se acumula em torno da sua cintura é a mais metabolicamente ativa, ter uma forma corporal de “maçã” (maior excesso de gor- dura em volta da cintura) é mais perigoso do que ter uma forma de “pera” (excesso de gordura acumu- lado em torno dos quadris). Nem todos os produtos das células gordurosas são prejudiciais, entretanto. Elas também produ- zem um composto denominado adiponectina, que reduz a resistência à insulina. Infelizmente, quanto mais excesso de peso você tiver – particularmente, quanto mais gordura visceral (barriga) –, mais resis- tina e menos adiponectina você produz. Esse não é o único problema do excesso de peso. Quando você engorda, a gordura pode se acumu- lar no fígado, nos músculos e em outros órgãos. No fígado, o armazenamento do excesso de gordura (esteatose hepática ou fígado gorduroso) pode levar à inflamação e causar doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). A DHGNA está se tornando a causa mais comum de cirrose e insuficiência hepá- tica que requer transplante. Um processo semelhante ocorre em outras partes do corpo, contribuindo para algumas das complica- ções do diabetes tipo 2. Por exemplo, nas artérias, a liberação de substâncias pró-inflamatórias ajuda a preparar o terreno para doenças cardiovasculares, que estão ligadas à obesidade e ao diabetes tipo 2. O diabetes também está associado a um risco maior de vários tipos de câncer, incluindo os do fígado, pâncreas, ovário, cólon, pulmão, bexiga e mama. Existem algumas explicações possíveis para essa associação. Primeiro, o câncer e o diabetes compar- tilham importantes fatores de risco, como envelheci- mento, obesidade, estilo de vida sedentário e uma dieta rica em gorduras e carboidratos refinados. Em segundo lugar, as alterações bioquímicas associa- das ao diabetes – como resistência à insulina, alto nível de açúcar no sangue e inflamação – também podem contribuir para o desenvolvimento do cân- cer. Essa evidência ainda é preliminar, portanto, mais pesquisas são necessárias. Síndrome metabólica A síndrome metabólica é uma combinação de con- dições que aumentam o risco de doenças cardía- cas, diabetes tipo 2, AVC e câncer. Essas condições incluem obesidade abdominal, pressão alta (hiper- tensão), níveis anormais de colesterol e triglicerí- deos e tolerância à glicose diminuída (dificuldade de controlar os níveis de açúcar no sangue). Nos últimos anos, os pesquisadores descobriram que a inflamação contribui para as suas complicações. A síndrome metabólica, obesidade e diabetes tipo 2 estão interligados. Todas as três condições estão relacionadas à genética, alimentação excessiva, dieta pouco saudável e falta de exercícios. E todas são marcadas por um estado crônico de inflamação. Os cientistas não entendem completamente todos os fatores envolvidos na síndrome metabólica, mas possuem algumas teorias. Uma área de foco é a mitocôndria – as organelas produtoras de energia em cada uma das nossas células. As mitocôndrias fazem mais do que apenas gerar energia. Elas tam- bém desempenham um papel importante em mui- tas funções celulares, incluindo ajudar as células a se multiplicarem quando são necessárias e morrer quando não são necessárias. A disfunção mitocon- drial tem sido associada à resistência à insulina e pode danificar as células e os órgãos nos quais elas residem. A inflamação crônica de baixo grau foi identificada tanto como causa quanto como consequência da síndrome metabólica. Pessoas com síndrome meta- bólica têm níveis acima do normal de marcadores inflamatórios, como CRP (consulte “Exame de 48Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação inflamação”, página 38) e TNF, particularmente no fígado, nos intestinos e no tecido adiposo. Esses marcadores também são preditores de resistência à insulina, diabetes tipo 2 e doença cardiovascular. Combatendo a inflamação em doenças metabólicas Hoje, os tratamentos de primeira linha para síndrome metabólica e diabetes tipo 2 são intervenções no estilo de vida direcionadas à perda de peso. Em par- ticular, os médicos recomendam uma dieta rica em frutas e vegetais, grãos integrais e dieta com baixo teor de gordura em geral, além de reduzidos teores de açúcar e gordura saturada (consulte “Se alimente combatendo a inflamação”, página 29). O aumento da atividade física também é recomendado – em parte porque o movimento exige energia, o que, por sua vez, faz com que as células absorvam a glicose com mais eficiência. Até certo ponto, o exercício também ajuda na perda de peso, embora seja mais eficaz para manter a perda de peso do que alcan- çá-la em primeiro lugar. Essas estratégias são natu- ralmente anti-inflamatórias e, juntas, demonstraram prevenir o desenvolvimento e a progressão da sín- drome metabólica e do diabetes tipo 2. Quando se trata de medicamentos, a abordagem atual é tratar cada componente dessas condições – açúcar elevado no sangue, pressão alta, coleste- rol anormal e assim por diante – separadamente, com medicamentos direcionados. No entanto, os pesquisadores estão descobrindo que alguns dos medicamentos que os médicos já usam para contro- lar essas doenças também têm uma função dupla, atenuando a inflamação. Por exemplo, muitos dos medicamentos que os médicos prescrevem atualmente para controlar o aumento do açúcar no sangue em pessoas com dia- betes tipo 2 reduzem simultaneamente os níveis de inflamação. Os medicamentos com efeitos anti-infla- matórios incluem insulina; metformina (Glucophage); e agonistas do receptor de GLP-1, como exenatida (Byetta) e liraglutida (Victoza). Alguns até mostraram reduzir os marcadores inflamatórios no sangue. A metformina também demonstrou alterar a compo- sição do microbioma (ver “O papel do microbioma nas doenças inflamatórias”, página 24), que pode desempenhar um papel no desenvolvimento da sín- drome metabólica e doenças relacionadas. Mais recentemente, pesquisadores têm investi- gado se os anti-inflamatórios padrões podem ter algum valor no tratamento do diabetes. Embora os primeiros estudos desses agentes para o tratamento do diabetes tenham sido geralmente negativos, eles permanecem sob investigação ativa. Alguns dos mesmos medicamentos usados para controlar a inflamação em doenças autoimunes como a artrite reumatoide – incluindo metotrexato e medicamentos biológicos (consulte “Controle da inflamação para tratar doenças autoimunes”, página28) – também podem ter potencial para prevenir diabetes. Por exemplo, pessoas com doenças infla- matórias que receberam inibidores de TNF apresen- taram melhor controle do açúcar no sangue e menor incidência de diabetes tipo 2. Mais pesquisas são necessárias nessa área. Os medicamentos não são a única forma de contro- lar a inflamação no diabetes e na síndrome meta- bólica. Além das intervenções no estilo de vida, a cirurgia bariátrica é altamente eficaz na promo- ção da perda de peso e, portanto, na redução da inflamação. Na gastrectomia vertical, a forma mais comum desse procedimento, parte do estômago é removida, limitando a quantidade de alimento que o estômago pode conter. A cirurgia para perda de peso é recomendada para pessoas com diabetes tipo 2 que estão gravemente obesas (índice de massa corporal de 40 ou mais). Esse procedimento não apenas resulta em perda significativa de peso, mas nos dois anos seguintes, até 70% das pessoas melhoram as medições metabólicas e entram em remissão do diabetes. A cirurgia bariátrica também reduz os níveis de marcadores inflamatórios no san- gue e pode diminuir o risco de infarto e AVC. 49Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Inflamação e câncer A maior redução em um único ano nas mortes por câncer já relatada ocorreu em 2016–2017, graças aos avanços nos tratamentos e uma redução nas taxas de tabagismo, de acordo com a American Cancer Society. No entanto, o câncer é um inimigo que não é facilmente vencido. As taxas de certos diagnós- ticos de câncer nos Estados Unidos ainda estão aumentando, principalmente para melanoma e cân- cer de rim, de fígado e de mama. Por isso, a busca por novos métodos de prevenção e combate a essa doença continua sendo de extrema importância. Quando se trata do desenvolvimento do câncer, o sistema imune é uma faca de dois gumes. Para começar, ele caça e destrói todas as células anor- mais do corpo, incluindo as células cancerosas. Sem essa ação, sucumbiríamos a muito mais cânceres. À medida que as células cancerosas começam a formar pequenos tumores, as células T do sistema imune os reconhecem e destroem antes que pos- sam crescer muito e causar danos. Isso é chamado de estágio de “expansão” do processo de elimina- ção do câncer. Enquanto as células cancerosas e as células do sistema imune lutam, o câncer não cresce e permanece essencialmente inativo. Esse é o está- gio de “equilíbrio”. Entretanto, as células cancerosas são astutas. Com o tempo, elas podem desenvolver mutações gené- ticas, ou mudanças, que permitem que se tornem essencialmente invisíveis para o sistema imune e evitem a detecção pelas células T. Essas células cancerosas mutantes perdem as moléculas em sua superfície celular que ajudam as células T a reco- nhecê-las. Adicionalmente, elas também aprendem como desativar as células do sistema imune e alterar o ambiente de maneira que o torna muito hostil para as células T operarem. Isso é chamado de estágio de “fuga” e é o ponto em que as células cancerosas podem novamente se multiplicar, formar tumores e se espalhar para outras partes do corpo. Quando o sistema imune se torna o inimigo Embora o seu sistema imune inquestionavelmente o proteja contra o câncer, a imunidade inata (consulte “Ato 2: imunidade inata”, página 7) e a inflamação também desempenham papéis centrais no desen- volvimento do tumor. Quando infecções, respostas Evidências sugerem que a aspirina e outras drogas anti- inflamatórias não esteroides têm poderosas propriedades anticâncer. Elas bloqueiam enzimas que desempenham um papel na dor e na inflamação. autoimunes ou condições como a obesidade dão errado e causam inflamação crônica, essa inflama- ção pode, com o tempo, promover o crescimento e a replicação das células cancerosas. Em 1863, o médico alemão Rudolf Virchow desco- briu leucócitos – glóbulos brancos – no tecido can- ceroso. Ele foi a primeira pessoa a fazer uma cone- xão clara entre inflamação e câncer, concluindo que o câncer ocorria como resultado de uma inflamação que permanecia sem controle. Mas apenas recente- mente os pesquisadores identificaram a inflamação crônica como um fator de risco para o câncer. Em 1986, o patologista e pesquisador vascular Harold Dvorak, da Universidade de Harvard, notou algumas semelhanças entre inflamação e câncer, incluindo a proliferação de células como linfócitos e macrófa- gos, que também são ativados no local das lesões. Na época, ele se referia aos tumores como “feridas que não cicatrizam”. Uma das ligações mais claras entre inflamação e câncer é evidente nas infecções causadoras de câncer. Nos países em desenvolvimento, quase um quarto dos cânceres são causados por infec- ções com patógenos, como hepatite B e C (câncer de fígado), papilomavírus humano (câncer cervical e anal) e bactérias H. pylori (câncer de estômago). Alguns vírus e bactérias fazem com que as células se tornem cancerosas diretamente, enquanto outros produzem um estado de inflamação crônica, libe- rando substâncias pró-inflamatórias que ajudam os cânceres a crescerem e se desenvolverem. O vírus da AIDS, HIV, que enfraquece a resposta imune a 50Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação ponto de ela não conseguir se defender contra outras infecções, aumenta o risco de muitos tipos de câncer, incluindo sarcoma de Kaposi, linfoma não- -Hodgkin e câncer cervical. As doenças inflamatórias também criam um ambiente favorável ao crescimento do câncer. Pessoas com doença inflamatória intestinal (doença de Crohn ou colite ulcerativa) têm maior risco de câncer de cólon, presumivelmente porque a inflamação dani- fica as células em seu trato digestivo a ponto de elas se tornarem cancerosas. Pessoas com artrite reumatoide enfrentam cerca do dobro do risco de desenvolverem linfoma não-Hodgkin. Portanto, é a própria doença que contribui para esse aumento. As mesmas células imunes que produzem inflamação na artrite reumatoide – células B e T – são aque- las que se tornam malignas no linfoma. Pessoas cuja doença não está sob controle, ou seja, maior inflamação, correm o maior risco de desenvolverem linfoma. A inflamação crônica aumenta o risco de câncer por meio de vários mecanismos diferentes. Por um lado, danifica o DNA, causando mutações que permitem que as células cancerosas se multipliquem sem controle. Esse dano ativa uma enzima com função reparadora, mas que também ativa a liberação de substâncias pró-inflamatórias. Um estado de inflamação crônica também cria um ambiente acolhedor e estimulante no qual as células cancerosas podem se replicar e se espalhar mais. O processo inflamatório produz substâncias, como quimiocinas e outras citocinas, fatores de cresci- mento e radicais livres, que estimulam a proliferação de células cancerosas enquanto inibem a sua morte. Também estimula a angiogênese – o crescimento de novos vasos sanguíneos que alimentam os tumo- res. Todos esses processos ajudam a impulsionar o crescimento do câncer. Enquanto isso, as próprias células cancerosas liberam substâncias que ajudam a amortecer a resposta natural do sistema imune contra elas. Estudos sugerem que até 20% dos cânceres come- çam como resultado direto da inflamação. E muitos dos maiores fatores de risco – incluindo tabagismo, obesidade e consumo de álcool – estão relaciona- dos à capacidade de promover inflamação. Focando a inflamação para combater o câncer Atualmente, os cientistas vêm fazendo uso dos efei- tos protetores do sistema imune como ajuda no combate ao câncer. A imunoterapia, que usa subs- tâncias projetadas em laboratório ou produzidas pelo próprio corpo, é um tratamento relativamente novo e estimulante que capitaliza a capacidade do sistema imune de procurar e atacar os tumores. Entre os medicamentosimunoterápicos, temos os anticorpos monoclonais. Cultivados em laborató- rio a partir de clones de uma única célula parental, esses anticorpos se ligam a receptores na superfície das células cancerosas. Uma vez ligados às células, eles alertam o sistema imune para entrar em ação e destruir o câncer. Outro grupo de medicamentos é composto pelos inibidores da proteína checkpoint, que normalmente evitam que uma resposta imune se torne muito forte ao ponto de às vezes evitar que as células T matem as células cancerosas. Em resumo, os inibidores de checkpoints interrom- pem os caminhos que as células cancerosas usam para se ocultar e escapar do ataque. Uma terceira abordagem, conhecida como terapia do receptor de antígeno quimérico de células T (CAR T), coleta células T do próprio sangue do paciente e as altera geneticamente para adicionar receptores CAR sinté- ticos em sua superfície. Esses receptores permitem que as células T reconheçam mais eficazmente um antígeno específico em uma célula cancerosa para matá-las. Adicionalmente, a investigação atual busca por terapias contra o câncer que resolvam o problema da inflamação. Diversas terapias potenciais dire- cionadas a citocinas e células do sistema imune já estão sob investigação em laboratório. Em estudos usando modelos de células e camundongos, essas terapias de combate à inflamação têm reduzido o crescimento e a disseminação do câncer. Mas as abordagens mais simples que já estão dis- poníveis podem ser úteis também, pelo menos para ajudar a prevenir o câncer e, possivelmente, para suprimi-lo em seus estágios iniciais. Boas evidên- cias apoiam a ideia de que os AINEs, especialmente a aspirina, têm propriedades anticâncer poderosas. Essas drogas funcionam bloqueando as enzimas COX-1 e COX-2, que são necessárias para a produ- ção de prostaglandinas, um grupo de hormônios que desempenham um papel no desencadeamento da dor, inflamação e febre durante uma infecção ou lesão. Os pesquisadores descobriram que as enzi- mas COX-2 são produzidas por células cancerosas colorretais, bem como por quase todos os outros tipos durante os estágios iniciais de formação de tumores. 51Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Em um estudo de 2016 publicado no JAMA Neurology, o uso regular de aspirina em baixas doses por um período de seis anos foi associado a um risco significativamente menor de câncer, espe- cialmente os do trato gastrointestinal. Em outros estudos, os AINEs não apenas reduziram o risco de câncer colorretal, mas também reduziram o número de pólipos existentes – presença pré-cancerosa no cólon – em pessoas com transtorno hereditário de polipose adenomatosa familiar (FAP), que aumenta o risco para o câncer colorretal. O celecoxibe foi aprovado pela FDA para a prevenção de câncer gas- trointestinal em pessoas com FAP. A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA recomenda que adul- tos com idade entre 50 e 59 anos com maior risco de doenças cardiovasculares tomem aspirina em baixas doses diárias para prevenir o câncer color- retal, bem como problemas cardiovasculares. (Para as idades de 60 a 69, a decisão deve ser individuali- zada com base na doença cardíaca da pessoa e nos riscos de sangramento.) A aspirina diária tem o potencial de prevenir não apenas o câncer colorretal, mas também o câncer de esôfago, estômago, pâncreas, pulmão, cérebro e próstata. O uso de aspirina em longo prazo pode reduzir o diagnóstico de câncer e as mortes em até 25%. O dilema que os pacientes e os seus médicos enfrentam ao considerar o protocolo de AINEs diá- rios é como equilibrar os riscos cardiovasculares e de sangramento desses medicamentos com a sua capacidade de prevenir o câncer. Outros medicamentos também estão sendo inves- tigados por seu potencial preventivo. As estati- nas que reduzem os níveis de colesterol, de PCR e citocinas, parecem prevenir o desenvolvimento de vários tipos de câncer, incluindo câncer color- retal e de mama. O medicamento para diabetes, a metformina (Glucophage), tem sido associado a um risco reduzido de câncer de cólon, mama, pulmão, próstata e outros. Apesar do seu potencial, esses medicamentos não são atualmente recomendados para prevenir o câncer. Essa abordagem está em fase experimental e precisa de mais validação em ensaios clínicos para provar que essas drogas real- mente funcionam contra o câncer. Um obstáculo significativo a ser superado é o efeito prejudicial que a contenção da inflamação pode ter sobre a resposta imune como um todo. Como observado anteriormente, a inflamação nem sem- pre é uma inimiga. Você precisa da resposta infla- matória para protegê-lo contra agentes infeccio- sos, como bactérias e vírus, e para reparar danos aos tecidos. Se você reduzi-la demais, essas ações podem ser comprometidas. Aproveitar os potenciais benefícios de supressão tumoral dos AINEs, estati- nas ou metformina exigirá uma compreensão mais profunda de todos os mecanismos inflamatórios envolvidos, para que as terapias possam ter preci- samente os alvos corretos. Uma abordagem mais segura para a prevenção do câncer se concentra em intervenções no estilo de vida, como dieta e exercícios para manter a inflama- ção equilibrada. Estima-se que um em cada cinco casos de câncer decorre de uma combinação de excesso de peso, inatividade, nutrição deficitária e consumo excessivo de álcool, todos os quais podem contribuir para o aumento da inflamação e são evi- táveis. Em pessoas obesas, a perda de peso com a cirurgia bariátrica ou outros métodos demonstrou reduzir o risco de câncer. Nessa população, o uso de suplementos de ácido graxo ômega-3 também pode oferecer proteção contra o câncer, reduzindo a inflamação no tecido adiposo. Reduzir o consumo de álcool e parar de fumar também pode retardar ou prevenir o desenvolvimento de câncer. Como evidência, a recente redução nas mortes por câncer coincidiu com taxas mais baixas de tabagismo nos Estados Unidos. Todas essas estratégias são discu- tidas na Seção Especial que começa na página 29. Quer você tenha o objetivo de prevenir o câncer ou o seu foco seja em doenças cardíacas, diabetes ou demência, há muitos motivos para a adoção de medidas de estilo de vida que reduzam a inflama- ção crônica de baixo grau. Com a compreensão que você adquiriu por meio deste Relatório Especial de Saúde, desejamos que você possa começar hoje a tomar medidas para combater as fontes contínuas de inflamação – e viver uma vida mais longa e sau- dável. 52Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Recursos ORGANIZAÇÕES Associação de Alzheimer (Alzheimer’s Association) 800-272-3900 (ligação gratuita) www.alz.org A Associação de Alzheimer é a principal organização do país dedicada ao cuidado de pessoas com essa forma de demência. Seu site oferece uma variedade de recursos e publicações para pacientes e cuidadores, bem como informações de ajuda por telefone e grupos de apoio locais. Academia Americana de Alergia, Asma e Imunologia (American Academy of Allergy, Asthma & Immunology – AAAAI) 414-272-6071 www.aaaai.org Essa organização é formada por mais de 7.000 alergistas, imunologistas e outros especialistas em saúde cujo foco é o tratamento de alergias e doenças imunológicas. O site oferece uma visão geral dessas condições, bem como um guia completo dos medicamentos usados para tratá-las. Ele também oferece um banco de dados de provedores por cidade, em todos os Estados Unidos. Sociedade Americana de Câncer (American Cancer Society) 800-227-2345 (ligação gratuita) www.cancer.org O site da Sociedade Americana de Câncer inclui informações abrangen- tes sobre cada tipo de câncer, incluindo causas, estatísticas, diagnóstico e tratamento. Adicionalmente, nele você encontra dicas de rastreamento e prevenção,além de conselhos sobre o pagamento de tratamentos. Faculdade Americana de Reumatologia (American College of Rheumatology – ACR) 404-633-3777 www.rheumatology.org Esse site para profissionais de reumatologia inclui uma seção amigável ao consumidor, completa com visões gerais de doenças reumáticas, como artrite. Inclui informações sobre o que fazer quando você for diag- nosticado recentemente, como gerenciar os seus medicamentos e como viver melhor com essas condições. Associação Americana de Diabetes (American Diabetes Association – ADA) 800-DIABETES (800-342-2383, ligação gratuita) www.diabetes.org A missão dessa organização é melhorar a vida das pessoas afetadas pelo diabetes. Além do seu trabalho de defesa de direitos, a ADA ofe- rece uma variedade de ferramentas e materiais educacionais para ajudar as pessoas com diabetes tipo 1 ou tipo 2 a controlar melhor a doença. Para quem ainda não foi diagnosticado, a ADA oferece um teste de risco online que leva apenas 60 segundos. Fundação Artrite (Arthritis Foundation) 404-872-7100 844-571-HELP (ligação gratuita) www.arthritis.org Essa organização nacional sem fins lucrativos tem filiais locais em mui- tos estados. O site tem materiais educacionais sobre a artrite, a cirurgia articular, o controle da dor e as terapias padrões e complementares, bem como vídeos de exercícios e um diretório de escritórios e eventos locais. Comitês locais podem oferecer aulas de exercícios de saúde articular. Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue (National Heart, Lung, and Blood Institute – NHLBI) 877-NHLBI4U (877-645-2448, ligação gratuita) www.nhlbi.nih.gov O NHLBI é o ramo do Instituto Nacional de Saúde (National Institutes of Health) que lida com doenças relacionadas ao coração, aos pulmões e ao sistema circulatório. Seu site contém informações sobre doenças cardíacas, pressão alta e outras condições relacionadas ao coração e aos vasos sanguíneos. Instituto Nacional de Artrite e Doenças Musculoesquelética e da Pele (National Institute of Arthritis and Musculoskeletal and Skin Diseases – NIAMS) 301-495-4484 877-226-4267 (ligação gratuita) www.niams.nih.gov Essa divisão do Instituto Nacional de Saúde (NIH) lida com artrite e outras doenças do sistema musculoesquelético. Seu site inclui uma variedade de recursos informativos sobre essas condições. RELATÓRIOS DA ESCOLA MÉDICA DE HARVARD (HARVARD MEDICAL SCHOOL) Os seguintes Relatórios Especiais de Saúde e Guias Online da Harvard Medical School se aprofundam sobre vários tópicos mencionados neste relatório. Você pode solicitá-los acessando www.health.harvard.edu ou ligando para 877-649-9457 (ligação gratuita). Exercício Cardiovascular: 7 exercícios para aumentar a energia, com- bater doenças e ajudá-lo a viver mais. Controlando as Alergias: como controlar a asma, febre do feno, aler- gias alimentares e outras condições alérgicas. Exercícios Para Fortalecer o Core: 6 exercícios para firmar o abdômen, fortalecer as costas e melhorar o equilíbrio. Plano de 6 Semanas da Harvard Medical School para uma Alimentação Saudável e Melhora da Memória: compreendendo a perda de memória relacionada à idade. Melhorando o Sono: um guia para uma boa noite de descanso. Condições Inflamatórias da Pele: eczema, dermatite seborreica e psoríase. Vivendo Bem com o Diabetes: estratégias inteligentes para controlar o açúcar no sangue. Perda e Manutenção do Peso: abordagens inteligentes para atingir e manter um peso saudável. Pare de Fumar para Sempre. Artrite Reumatoide: como proteger as articulações, reduzir a dor e melhorar a mobilidade. Mudanças simples, Grandes Recompensas: um guia prático e fácil para uma vida saudável e feliz. Gerenciamento de Estresse: melhore seu bem-estar reduzindo o estresse e fortalecendo a resiliência Colite Ulcerativa e Doença de Crohn: tratamento da doença inflama- tória intestinal Caminhando pela Saúde: por que essa atividade simples pode ser seu melhor seguro de saúde. 53Versão em inglês de Harvard Health Publishing, copyright 2020. Tradução criada e cedida como cortesia por Essentia Group. | Combatendo a Inflamação Glossário Sistema imune adaptativo: imunidade gerada ao longo da vida que aprende a reconhecer e atacar patógenos específicos. Inclui células B e células T. Adipócito: tipo de célula que armazena gordura e que produz proteínas sinalizadoras pró-inflamatórias chamadas adipocitocinas. Pessoas com sobrepeso ou obesas têm mais dessas células e os seus adipócitos são maiores do que o normal. Anticorpo: proteína que o sistema imune produz em resposta a substân- cias estranhas como bactérias e vírus (antígenos) no corpo. Os anticor- pos se ligam aos antígenos, permitindo que as células do sistema imune os detectem. Antígeno: uma proteína estranha, como aquela encontrada em uma bactéria ou vírus, que provoca uma resposta imune. Distúrbio autoimune: condição na qual o sistema imune se volta contra o corpo e ataca tecidos saudáveis, em vez de patógenos invasores. Célula B (linfócito B): tipo de glóbulo branco responsável pela produção de anticorpos. Basófilo: tipo de glóbulo branco que contém pequenas partículas cha- madas grânulos, que são liberadas durante reações alérgicas e crises de asma. Proteína C reativa (CRP): um marcador de inflamação no sangue. Níveis elevados podem ser encontrados em muitas condições diferen- tes, incluindo câncer, doenças inflamatórias autoimunes e diabetes. Pequenas elevações podem indicar um risco aumentado de doenças cardíacas. Quimiocinas: um grupo específico de citocinas que atraem os glóbulos brancos para o local de uma infecção ou lesão. Cortisol: hormônio do estresse que ajuda a regular os níveis de inflama- ção no corpo. Formas sintetizadas de cortisol são usadas como medica- mento para a artrite reumatoide e outras doenças inflamatórias. Citocinas: proteínas sinalizadoras, incluindo interleucinas e interferons, liberadas por células imunes que regulam as respostas inflamatórias no corpo. Padrões moleculares associados a danos (DAMPs): moléculas libera- das por células danificadas, ativando a resposta do sistema imune inato. Células dendríticas: sentinelas do sistema imune que reconhecem os antígenos e os apresentam na superfície da célula para as células T, atu- ando como mensageiras entre o sistema imune inato e adaptativo. Células endoteliais: células que revestem a superfície interna dos vasos sanguíneos e que participam da resposta imune. Eosinófilo: um tipo de glóbulo branco que libera substâncias tóxicas para matar bactérias, vírus e parasitas. Granulócitos: qualquer um dos vários tipos de glóbulos brancos que carregam pequenas partículas (grânulos) contendo enzimas, que são liberadas durante infecções e reações alérgicas. Basófilos, eosinófilos e neutrófilos são todos classificados como granulócitos. Histamina: substância química liberada pelos mastócitos durante uma reação alérgica. Imunoglobulina E (IgE): um anticorpo que o sistema imune libera durante certas infecções como as parasitárias e durante as reações alérgicas. Inflamação: uma resposta a uma lesão, infecção ou irritação marcada por sintomas como vermelhidão, calor e dor, que visa livrar o corpo de invasores potencialmente prejudiciais. A inflamação pode ser aguda (curto prazo) ou crônica (longo prazo). Sistema imune inato: parte não específica do sistema imunológico que identifica entidades estranhas e as engolfa logo após entrarem no corpo. Inclui células dendríticas, macrófagos, mastócitos e neutrófilos, entre outros. Leucócito: sinônimo de glóbulo branco. Os tipos de leucócitos incluem granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos), linfócitos (como células T e células B) e monócitos (que por sua vez se desenvolvem em macró- fagos ou células dendríticas). Leucotrienos: agentes da resposta inflamatória liberados pelas células do sistema imune que atuam para perpetuar as reações inflamatórias, especialmente na asma e nas reações alérgicas. Linfócito: um tipo de glóbulobranco que ajuda o sistema imune a com- bater infecções. Células B e células T são exemplos de linfócitos. Macrófago: um tipo de glóbulo branco que consome resíduos nos teci- dos e na corrente sanguínea e alerta as células T sobre a presença de antígenos. Mastócitos: célula especializada, encontrada no revestimento das vias respiratórias, nos olhos, no intestino e em certas camadas da pele, que libera histamina e outras substâncias que fazem parte da resposta alérgica. Microbioma: os trilhões de vários microrganismos, como bactérias, fun- gos e protozoários, além dos vírus, que vivem dentro e sobre o corpo humano. Micróglia: células que agem como necrófagas do próprio sistema imune do cérebro, patrulhando em busca de germes, atacando-os e limpando detritos celulares. Monócito: um tipo de glóbulo branco que envolve bactérias e outros microrganismos e limpa as células mortas. Ele dá origem a células den- dríticas e macrófagos. Neutrófilos: sendo o glóbulo branco mais abundante, os neutrófilos são particularmente importantes no combate a infecções e na cura de teci- dos danificados. Padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs): moléculas que são liberadas por germes como bactérias e vírus, que ativam o sis- tema imune inato. Fagócito: qualquer um dos vários tipos de células do sistema imune que envolvem bactérias e restos celulares durante a resposta imunológica. Os exemplos incluem neutrófilos, monócitos, macrófagos, células den- dríticas e mastócitos. Célula T (linfócito T): tipo de glóbulo branco que desempenha um papel proeminente na resposta imune. Receive HEALTHbeat, Harvard Health Publishing’s free email newsletter Go to: www.health.harvard.edu to subscribe to HEALTHbeat. This free weekly email newsletter brings you health tips, advice, and information on a wide range of topics. You can also join in discussion with experts from Harvard Health Publishing and folks like you on a variety of health topics, medical news, and views by reading the Harvard Health Blog (www.health.harvard.edu/blog). Order this report and other publications from Harvard Medical School online | www.health.harvard.edu phone | 877-649-9457 (toll-free) mail | Belvoir Media Group Attn: Harvard Health Publishing P.O. 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