Prévia do material em texto
INFERÊNCIAS PALEOCLIMÁTICAS COM BASE EM PALINOMORFOS CONTINENTAIS DE SEDIMENTOS QUATERNÁRIOS DO TALUDE CONTINENTAL BRASILEIRO DA BACIA DE CAMPOS, RJ Aline Gonçalves de Freitas1,2,3; Marcelo de Araujo Carvalho2; Alessandra da Silva dos Santos1, 2; João Graciano Mendonça-Filho4; 1Programa de Pós-Graduação em Geologia,UFRJ (tuttyfreitas@mn.ufrj.br) 2Laboratório de Palinologia Aplicada, Depto. Geologia e Paleontologia, MN/UFRJ 3Bolsista Universidade Corporativa, PETROBRAS 4Depto. Geologia, IGEO/UFRJ Abstract. Palynological analysis was carried out on 43 samples from one well (BU91-GL05) in the Campos Basin with the aim of the paleoclimatic reconstruction, based on continental palynomorphs of the Quaternary interval. The palynomorphs were identified, recorded (qualitative analysis) and counted (quantitative analysis). Paleoeclimatic investigations were carried out using cluster analysis to determine the ecological similarity between palynomorph assemblages of different depositional settings. The succession studied yielded a rich palynomorph assemblage, in particular pteridophyte and Podocarpaceae components. Altogether 57 taxa were identified. The paleoclimatic analysis provides data on the terrestrial palynomorph composition that reflect the climatic change from glacial period to the interglacial. The cluster analysis based on the abundance and composition of all 57 palynomorph revealed five clusters, which represent different palynological assemblages (PA): PA1: Betulaceae, Erythroxylaceae, Passifloraceae, Podocarpaceae, Polygalaceae, Anthoceraceae, Dennstaedtiaceae, Gleicheniaceae, Lycopodiacae, Schizeaceae and Sphagnaceae; PA2: Lentibulariaceae, Rosaceae, Sterculiaceae, Umbelliferae,Losophoriaceae, Polypodiaceae, fungal spores, Cyperaceae, Flaucortiaceae, Meliaceae, Symplocaceae, Cyatheaceae, Botryococcaceae, Ericaceae, Euphorbiaceae, Polygonaceae, Sapindaceae, Pteridaceae, Vittariaceae, Convolvulaceae and Curcubitaceae; PA3: Clusiaceae, Malvaceae, Proteaceae, Aspleniaceae, Marattiaceae, Zygnemataceae and Aquifoliaceae; PA4: Apocynaceae, Bombacaceae, Myrtaceae, Scrophullariaceae and Solanaceae; PA5: Bignoniaceae, Boraginaceae, Chenopodiaceae, Compositae, Gramineae, Leguminosae, Loranthaceae, Malpighiaceae, Onagraceae, Rubiaceae, Selaginellaceae, frutification body and Amanthaceae. The stratigraphic distribution of these assemblages allowed the identification dominance of PA2, in particular by pteridophyte spores. The mountain taxa (PA1) decrease upward denoting the climatic change. The high amount of palynomorphs is results of the strong terrigenous influx on the continental slope. Moreover, the high abundance of the grassland suggests that this vegetation covered the region since Pleistocene. Palavras-chave: Palinologia, Quaternário, Bacia de Campos. 1. Introdução Estudos paleoclimáticos do Quaternário, baseados em palinomorfos continentais, são referentes principalmente a influência das glaciações na composição da flora. Estudos anteriores focalizaram especialmente para áreas continentais e costeiras, com poucos estudos de sedimentos de águas profundas. Com o avanço do conhecimento sobre o talude continental brasileiro devido a exploração de águas profundas, alguns trabalhos sobre sedimentologia, matéria orgânica particulada, foraminíferos e https://mn.ufrj.br/cgi-bin/openwebmail/openwebmail-send.pl?action=composemessage&composetype=sendto&compose_caller=addrlistview&folder=INBOX&page=1&sort=date&searchtype=subject&keyword=&message_id=&abookpage=1&abooklongpage=0&abooksort=fullname&abooksearchtype=&abookkeyword=&abookcollapse=1&abookfolder=ALL&sessionid=morenasantos*mn.ufrj.br-session-0.790491989314166&to="Aline Freitas" <tuttyfreitas@mn.ufrj.br> dinoflagelados na região da Bacia de Campos (e.g. Vicalvi, 1999, Menezes, 2002, Oliveira, 2004), foram realizados. Esses estudos visaram um melhor entendimento dos processos sedimentares e suas relações com os eventos glaciais ocorridos no Quaternário. O objetivo desse estudo foi o reconhecimento das mudanças na vegetação induzidas por eventos paleoclimáticos com base no registro e distribuição das associações palinológicas dos grupos de palinomorfos continentais: grãos de pólen de Angiospermas e Gimnospermas, esporos de Briófita e Pteridófita, algas de água doce Chlorococcales e Zygnematales, esporos e corpos frutíferos de fungos registrados em sedimentos pleistocênicos e holocênicos do Talude Continental da Bacia de Campos, RJ. Essa análise resultou no reconhecimento de cinco associações palinológicas. 2. Material e Métodos Foram analisadas 43 amostras de um testemunho de sondagem BU 91-GL05, medindo aproximadamente 150 m de comprimento, em lâmina d’água de 630 m. (Fig. 1). As amostras foram coletadas nos níveis onde ocorriam mudanças faciológicas, correlacionadas aos perfis estratigráficos dos furos de sondagem (Menezes, 2002). Essa seção quaternária do talude é composta por lamas siliciclásticas de cor oliva, ricas em matéria orgânica, com médio conteúdo carbonático e raros cascalhos de composição bioclástica. A técnica de preparação das amostras seguiu os procedimentos palinológicos não oxidativos, eliminando os constituintes minerais através de ácidos e concentrando a matéria orgânica, principalmente os palinomorfos continentais - grãos de pólen, esporos, algas de água doce, esporos de fungos (Mendonça-Filho, 1999, Carvalho, 2001, Tyson, 1995). A identificação dos palinomorfos continentais foi realizada através de microscopia em luz branca transmitida no Setor de Paleobotânica e Paleopalinologia/DGP/MN/UFRJ. A classificação dos palinomorfos continentais baseou-se em literatura especializada (Barth & Melhen, 1988; Carvalho, 1996; Roubik & Moreno, 1991; Van Geel & Van der Hammen, 1978) e na coleção de referência do Laboratório de Palinologia (Museu Nacional/UFRJ). Foram contados entre 200 e 300 grãos por lâmina objetivando verificar a distribuição estratigráfica das associações. Além disso, foram empregadas análises estatísticas (análise de agrupamento). 3. Resultados Os palinomorfos registrados estão bem preservados. Foram registrados 57 tipos polínicos distribuídos em famílias. Os resultados quantitativos mostraram que dentre os palinomorfos continentais, os esporos de Cyatheaceae (20,5%) e Polypodiaceae (47,4%) foram os mais abundantes do total das associações palinológicas. Os grãos de pólen de Compositae (1,5%), Gramineae (2,4%) e Podocarpaceae (3,4%) registraram maiores percentuais, enquanto que, Leguminosae (0,06%), Rubiaceae (0,5%), Proteaceae (0,03%) e Myrtaceae (0,02%) foram menos abundantes. Entre as algas de Zygnemataceae, o gênero de Botryococcus foi o mais abundante (3,4%). Os esporos de fungos apresentaram baixos percentuais. A análise de agrupamento pelo modo-R baseado nos 57 tipos polínicos revelou cinco associações palinológicas denominadas AP1-AP5 (Fig. 2). Os resultados mais relevantes mostram que a AP1 diminui a sua abundância em direção ao topo da seção enquanto que a AP2 aumenta. As curvas de distribuição das demais associações não apresentaram oscilações substanciais. 4. Discussão Os tipos registrados constituem-se de exemplares na flora holocênica da região sudeste segundo dados fitoflorísticos e palinológicos (e.g. Araújo, 2000; Rizzini, 1979; Luz, 2003; Melhen et al.,2003). Segundo Behling et al. (2003), nos registros pós-glaciais marinhos do sudeste Atlântico do Brasil foram identificados tipos arbóreos de vegetação subtropical e mata de galeria (Podocarpus,Ilex e Symplocos), que correspondem à vegetação encontrada em manchas de terras altas no sudeste e se estendem ao sul do Brasil. Os registros das famílias de grãos de pólen de Aquifoliaceae, Betulaceae(?), Symplocaceae e Podocarpaceae do presente estudo corroboram com esta investigação. A análise de agrupamento revelou que a principal separação ocorre entre a AP5 e o restante das associações. AP5 é caracterizada de uma maneira geral por tipos polínicos oriundos de vegetação de campo. A diminuição de exemplar da flora de montanha, especialmente Podocarpaceae, em direção ao topo da seção coincide com passagem de um período glacial para interglacial. 5. Conclusão 1) identificação de cinco associações palinológicas; 2) grande quantidade de esporos de pteridófitas; 3) A grande quantidade de palinomorfos está relacionada ao aporte de material continental carrreados até o talude. 4) Expressiva representatividade de tipos de flora de campo, especialmente Compositae e Gramineae, instaladas de forma compartimentada desde o Pleistoceno. 6. Referência Bibliográfica ARAUJO D.S.D. 2000. Análise florística e fitogeográfica das restingas do Estado do Rio de Janeiro. Tese de Doutorado – Instituto de Biologia, Departamento de Ecologia, Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 176p. BARTH O.M. & MELHEN T.S. 1988. Glossário Ilustrado de Palinologia. Editora da UNICAMP. CARVALHO M.A. 1996. Estudo paleoecológico e paleoclimático, com base em palinologia, aplicado em sedimentos pleistocênicos e pliocênicos da Bacia da Foz do Amazonas. Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. 146p. CARVALHO M.A. 2001. Paleoenvironmental reconstruction based on palynology and palynofacies analyses of upper Aptian–middle Albian succession from Sergipe Basin, northeastern Brazil. Tese de Doutorado, Ruprecht-Karl Universität Heidelberg, Heidelberg, Alemanha, 160 pp., 6 estampas. [Não publicado]. LUZ C.F.P. 2003. Os registros palinológicos como sensores da vegetação no Holoceno da região norte do Estado de Rio de Janeiro (Brasil). Tese de Doutorado em Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro. MENDONÇA-FILHO J.G. 1999. Aplicação de estudos de palinofácies e fácies orgânicas em rochas do Paleozóico Superior da Bacia do Paraná, sul do Brasil. PhD Thesis, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brazil, (2): 254 p. MENEZES T.R. 2002. Aplicação de parâmetros palinofaciológicos e organogeoquímicos na reconstrução paleoambiental do talude continental brasileiro recente na Bacia de Campos, RJ. Dissertação de mestrado – Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 174 p. OLIVEIRA A.D. 2003. Reconstrução paleoambiental com base nas assembléias de dinoflagelados presentes nos sedimentos do Holoceno e Pleistoceno do talude continental brasileiro da Bacia de Campos, RJ, Brasil. Dissertação de mestrado – Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 198 p. RIZZINI C.T. 1979. Tratado de Fitogeografia do Brasil. Aspectos sociológicos e florísticos. Hucitec, São Paulo,(2):374p. ROUBIK D.W. & MORENO J.E. 1991. Polen and spores of Barro Colorado Island. Monographs in Systematic Botany, from Missouri Botanical Garden, (36): 270p. VAN GEEL B. & VAN DER HAMMEN T. 1978. Zygnemataceae in Quaternary Colombian sediments. Review Paleobotany and Palynology, 25: 377-392. VICALVI M.A. 1999. Zoneamento bioestratigráfico e paleoclimático do Quaternário Superior do Talude da Bacia de Campos e do Platô de São Paulo adjacente, com base em foraminíferos planctônicos. Tese de Doutorado em Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 184p. Fig. 1. Mapa de localização da Bacia de Campos, RJ e poço na região do talude continental. Modificado de Viana & Faugères (1998). Fig. 2. Agrupamento pelo modo-r dos tipos polínicos registrados no poço BU91-GL05. AP= associações palinológicas. Fig. 3. distribuição estratigráfica das associações palinológicas do poço BU91-GL05. GL - 05