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HELOÍSA MARIA DOS SANTOS TOLEDO
PAULO NICCOLI RAMIREZ
RENAN REIS FONSECA
SUSANA MESQUITA BARBOSA
ÉTICA E CIDADANIA
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Vivência profissional e construção da cidadania
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UNIDADE 3
VIVÊNCIA PROFISSIONAL E 
CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
INTRODUÇÃO
A partir do que entendemos sobre a ação boa do indivíduo, a ação ética, podemos 
partir para o que ela deve constituir em seu todo: enquanto sociedade, ela dá origem 
à vivência cidadã. Na contemporaneidade, ser considerado cidadão está diretamente 
relacionado à possibilidade de uma pessoa ter acesso aos denominados direitos civis, 
políticos e sociais. É importante destacarmos que gozar de direitos significa que o indi-
víduo também arca com deveres perante a sociedade. 
Nos dias atuais, a concepção de cidadania, no contexto brasileiro, deve ser aplica-
da a todos (homens, mulheres, crianças, idosos), independentemente de cor, gênero, 
orientação sexual etc. No entanto, nem sempre foi assim: por muito tempo, os direitos, 
políticos e/ou sociais, foram proibidos às mulheres, os analfabetos, à população negra 
e indígena, entre outros grupos excluídos historicamente.
Nesta unidade, temos o intuito de compreender a relação entre Ética e Cidadania, como 
se estabelecem em nossa sociedade e em nosso cotidiano profissional, impulsionando 
mudanças em processos gerenciais, práticas e políticas institucionais e, sobretudo, em 
nossos próprios comportamentos.
Se há algo que vai se consolidando entre nós é que tanto o conceito de ética quan-
to o de cidadania não têm definições estanques e acabadas, definitivas. São con-
ceitos que são históricos, vinculados a circunstâncias específicas dependen-
tes e variáveis no tempo e no território, cronologicamente considerados e nos 
espaços culturalmente estabelecidos.
Nosso estudo e nossa análise, à vista disso, devem sempre ser encaminhados e diri-
gidos pelo olhar da complexidade, a partir de múltiplas relações e interlocuções. E isso 
pode se dar por meio dos estudos interdisciplinares, uma vez que temos que lembrar 
que são conceitos e estes são originários no seio de teorias referenciadas em realida-
des, neste caso, plurais e multifacetadas.
Vale aqui, então, recordarmos como nota histórica sobre a cidadania: sua conceitua-
ção contemporânea encontra raízes nas revoluções sociais, políticas e econômicas, 
iniciadas no século XVIII, que culminaram na conquista de direitos políticos e civis, 
decorrentes da reestruturação de estados monárquicos e absolutistas em repúblicas e 
parlamentos, da construção de instituições democráticas (executivas, judiciárias e legis-
lativas), das inúmeras transformações sociais, culturais, de ordem religiosa e científica, 
além da consolidação do sistema econômico capitalista. Essa origem é fundamental 
para nos revelar uma das grandes facetas do conceito, que diz respeito à compreensão 
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de seus espaços de consolidação e pertencimento, colocando-nos perguntas profundas 
que tentamos desenvolver.
Ainda nesta unidade, traremos a ideia de que uma postura cidadã exige dos indivíduos 
um cuidado que vai além do mundo humano, alcançando o mundo natural, chamado 
também de natureza mais que humana. As questões ambientais têm ganhado destaque 
dentre as grandes preocupações contemporâneas e devem ser assumidas com respon-
sabilidade por todos que atuam no mundo profissional. Vamos começar!
1. CIDADANIA ONTEM E HOJE
1.1 A CIDADANIA NA ANTIGUIDADE
A concepção de cidadania – e cidadão – está diretamente atrelada à democracia. Com-
preender a história e a evolução desses termos remonta diretamente ao mundo antigo 
grego. Com a evolução do modelo político grego, transitando da monarquia, passando 
pela oligarquia e chegando à democracia, houve a necessidade de se determinar quais 
pessoas teriam direito à participação política e ao usufruto dos direitos determinados pelo 
corpo político na pólis. Emerge, nesse sentido, a concepção de cidadão, ou seja, dos 
indivíduos que seriam diretamente representantes de uma determinada cidade-estado.
Democracia direta e democracia representativa
Na Grécia Antiga, a democracia funcionava por meio da representação direta, ou seja, os indiví-
duos considerados cidadãos participavam ativamente e votavam nas propostas apresentadas 
pela assembleia. Na atualidade, incluindo o Brasil, vigora, de modo geral, a democracia repre-
sentativa, na qual os cidadãos elegem indivíduos (vereadores, deputados, senadores etc.) que 
os representarão no processo democrático do funcionamento do Estado e de sua organização.
SAIBA MAIS
No mundo grego, primeiramente nasceu a cidade-estado, a pólis, e, posteriormente, o 
cidadão – condição que, no caso da cidade de Atenas, por exemplo, era restrita aos ho-
mens livres, filhos de pai e mãe atenienses, maiores de 18 anos e que fossem nascidos 
na cidade. Em Roma, o conceito era um pouco mais aberto, estendendo-se às distintas 
cidades que compunham a Península Itálica e, posteriormente, às províncias do Impé-
rio, incluindo também os escravos que fossem libertados por seus senhores. No caso 
das mulheres, elas eram consideradas membros da sociedade, mas, não gozavam da 
condição da cidadania plena, nem participavam da política.
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Vivência profissional e construção da cidadania
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1.2. A CIDADANIA A PARTIR DA IDADE MODERNA
Da cidadania no mundo greco-romano, passando pelo mundo medieval, ocorreram 
modificações intensas, principalmente com a introdução do cristianismo. No entan-
to, as modificações mais significativas para o mundo ocidental atual se concentram 
na Idade Moderna com as denominadas Revoluções Burguesas. É nesse período 
que acontecem importantes transições, tais como a mudança de súdito para cida-
dão e a implementação dos denominados direitos naturais e inalienáveis do homem, 
pontos que serão tratados a seguir.
“No sentido moderno, cidadania é um conceito derivado da Revolução Francesa (1789) para 
designar o conjunto de membros da sociedade que têm direitos e decidem o destino do Esta-
do. Essa cidadania moderna liga-se de múltiplas maneiras aos antigos romanos, tanto pelos 
termos utilizados como pela própria noção de cidadão. Em latim, a palavra cinis gerou ciuitas, 
‘cidadania’, ‘cidade’, ‘Estado’. Cidadania é uma abstração derivada da junção de cidadãos e, 
para os romanos, cidadania, cidade e Estado constituem um único conceito – e só pode haver 
esse coletivo se houver, antes cidadãos. Ciuis é o ser humano livre e, por isso, ciuitas carrega 
a noção de liberdade em seu centro. Cícero, pensador final da República romana, afirmava no 
século I a.C. que ‘recebemos de nossos pais a vida, o patrimônio, a liberdade, a cidadania’. A 
descrição daquilo que os pais nos deixam, segundo o estadista romano, é cronológica, mas 
também acumulativa. Recebemos a vida ao nascer; em seguida, a herança, na forma de nossa 
educação quando crianças, o que nos permite alcançar a liberdade individual e coletiva na vida 
adulta. Se para os gregos havia primeiro a cidade, polis, e só depois o cidadão, polites, para 
os romanos era o conjunto de cidadãos que formava a coletividade. Se para os gregos havia 
cidade e Estado, politeia, para os romanos a cidadania, cinitas, englobava cidade e Estado.” 
(FUNARI, 2005, p. 49)
SAIBA MAIS
Figura 01. Direitos
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a. DE SÚDITO A CIDADÃO
O avanço definitivo da concepção moder-
na de cidadania deriva das denominadas 
Revoluções Burguesas. Desde a Revolu-
ção Inglesa (1640-1688), a projeção da 
cidadania começou a mudar drasticamen-
te. Porém, foi com a Revolução America-
na (1775-1783) e a Francesa (1789-1799) 
que a ordem definitivamente se alterou, 
modificando a estrutura das sociedades 
organizadas por súditos (indivíduos sub-
metidos ao rei soberano) para cidadãos 
de direitos (submetidos às cartas consti-
tucionais). Ocorreu, assim, o abandono 
da concepção de súdito e seus deveres: 
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quando o indivíduoera submetido diretamente a um rei e às suas vontades, por uma 
população cidadã que, agora, gozava de direitos e podia, com inúmeras restrições, par-
ticipar da política de forma mais ampla.
Ainda que tais revoluções tenham favorecido, predominantemente, a classe burguesa, 
elas contaram também com participações de grupos mais populares, como os nivela-
dores e cavadores na Revolução Inglesa e os sans culotes na Revolução Francesa. 
Contudo, ainda levaria um bom tempo e muitos outros processos reivindicatórios para 
que os grupos mais populares pudessem ter acesso pleno aos seus direitos, fato que 
ocorreu, de modo geral, no mundo ocidental apenas no século XX.
Nessa evolução, alguns documentos escritos nos contextos inglês, norte-americano e 
francês, principalmente, tornaram-se importantes marcos históricos para a evolução da 
cidadania como a conhecemos atualmente. Podemos destacar entre eles:
 ` Bill of Rights (Declaração de Direitos, 1689), no caso da Inglaterra;
 ` Carta dos Direitos dos Estados Unidos (1787), no caso dos Estados Unidos;
 ` Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), no caso da França.
Nesses documentos, a concepção de cidadão e cidadania ganhou seus primeiros con-
tornos e serviu de modelo para grande parte das constituições das sociedades contem-
porâneas ocidentais.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – 1789
“Os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia Nacional, considerando que a 
ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos 
males públicos e da corrupção dos governos, resolveram expor, em uma declaração solene, 
os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que essa declaração, cons-
tantemente presente junto a todos os membros do corpo social, lembre-lhes permanente-
mente seus direitos e deveres; a fim de que os atos do poder legislativo e do poder executivo, 
podendo ser, a todo instante, comparados ao objetivo de qualquer instituição política, sejam 
por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante funda-
das em princípios simples e incontestáveis, estejam sempre voltadas para a preservação da 
Constituição e para a felicidade geral.”
SAIBA MAIS
Fonte: https://br.ambafrance.org/A-Declaracao-dos-Direitos-do-Homem-e-do-Cida-
dao. Acesso em: 11 jun. 2022.
https://br.ambafrance.org/A-Declaracao-dos-Direitos-do-Homem-e-do-Cidadao
https://br.ambafrance.org/A-Declaracao-dos-Direitos-do-Homem-e-do-Cidadao
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Essa nova concepção de cidadania surgida na modernidade, que se pautou em grande 
parte nos pressupostos do Iluminismo e do Liberalismo Político, pressupunha, como 
ponto de partida, os denominados direitos naturais e inalienáveis, tais como o direito 
à vida, à liberdade, à igualdade, além da ampliação do direito de participação política 
diante do Estado-nação.
É importante ressaltarmos que, durante grande parte do século XIX e XX, esses direitos 
estavam restritos aos indivíduos adultos (homens) e, grosso modo, levavam em conta 
critérios censitários (que poderiam ser por idade, riqueza etc.), de alfabetização, ra-
ciais e de gênero. Nesse sentido, frisamos que as mulheres foram, por muito tempo, 
relegadas a uma condição marginalizada de cidadania, sendo, inclusive, proibidas tanto 
de participar da política quanto de exercer o direito ao voto.
“Cidadania é noção construída coletivamente e ganha sentido nas experiências tanto so-
ciais quanto individuais, e por isso é uma identidade social. Claro que pensamos aqui em 
identidade como uma construção social relativa, contrastiva e situacional. Ou seja, ela é 
uma resposta política a determinadas demandas e circunstâncias igualmente políticas, e 
é volátil como são diversas as situações de conflito ou de agregamento social. Porque é 
política, também sua força ou fragilidade depende das inúmeras mobilizações, confrontos e 
negociações cotidianas, práticas e simbólicas. Confrontos e negociações que, por sua vez, 
variam enormemente à medida que avançam os processos de construção do Estado-nação, 
da expansão capitalista, da urbanização e da coerção — e pensamos aqui especialmente na 
guerra. ‘Identidade social politizada’ significa, portanto, que a extensão dos direitos da cida-
dania democrática deve ser pensada como resultados possíveis das contendas concretas de 
grupos sociais, e que essas contendas são, por sua vez, fontes poderosas de identificação 
intersubjetiva e reconhecimento entre as pessoas. Nesse sentido, identidade e cidadania 
não são conceitos essenciais, fixos por natureza. Eles variam conforme a agência que fazem 
deles os homens que os mobilizam. Na verdade, e diferente do que se pensa, a comuni-
dade se une como grupo, e depois dele é que se criam sentidos e políticas identitárias.” 
(SCHWARCZ; BOTELHO, 2012, p. 12-13).
PARA REFLETIR
Após esse primeiro momento que comportava uma concepção ainda muito excludente 
de cidadania, principalmente ao longo dos dois últimos séculos, ocorreram intensas mo-
bilizações de grupos que foram excluídos dessa possibilidade de participação, que se 
organizavam e lutavam com o intuito de ampliar seus direitos civis e políticos, ou seja, 
que lutavam para serem considerados cidadãos de fato.
Durante o século XIX, movimentos que vão desde os agrupamentos de trabalhadores, 
como o movimento ludista e o cartista na Inglaterra, até o movimento em prol do sufrá-
gio feminino e dos movimentos abolicionistas ganharam cenário na história. Além das 
organizações citadas, podemos destacar ainda mobilizações no contexto brasileiro ao 
longo do século XIX, principalmente as revoltas regenciais (Sabinada, Balaiada, Caba-
nagem, Revolta dos Malês, Revolução Farroupilha) e o movimento de Canudos.
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O século XX iniciou-se arrebatado pelas lutas dos mais distintos grupos, principalmente 
os movimentos organizados sindicais, que estavam em busca da possibilidade de usu-
fruírem, plenamente, de seus direitos e de exercerem livremente sua cidadania. Além 
das lutas trabalhistas, no caso brasileiro, houve também distintas mobilizações popula-
res, como a Revolta da Chibata, a Revolta da Vacina e a Guerra do Contestado.
A partir da segunda metade do século, essas lutas se intensificaram, e muitas delas per-
sistem até os dias atuais. Nesse sentido, podemos sublinhar as recentes mobilizações 
pela luta dos direitos à educação, como as ocupações de escolas ocorridas nos últimos 
anos no Brasil, mas também movimentos de cunho racial, como o Black Lives Matter 
“vidas negras importam”.
1.3. A CIDADANIA NA CONTEMPORANEIDADE
Após o término da Segunda Guerra Mun-
dial, em 1945, e com a reorganização de 
uma nova ordem mundial, os pressupos-
tos cidadãos existentes até aquele mo-
mento se somaram aos denominados Di-
reitos Humanos. Em 1948, a Organização 
das Nações Unidas (ONU), recém-criada, 
publicou a emblemática Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos. Tal docu-
mento, ainda que não verse sobre a cida-
dania, visto que esta é definida por cada 
Estado nacional, serve de parâmetro para 
a ampliação dos direitos cidadãos nos 
mais distintos países do mundo, incluindo o Brasil.
No Brasil, a condição cidadã e o direito à cidadania são garantidos pela Constituição 
Federal promulgada em 1988. Entretanto, ainda que este seja um pressuposto cons-
titucional, diversos indivíduos ainda não usufruem plenamente de tais condições, seja 
por ausência da presença efetiva de um Estado que possa garantir tal usufruto, seja 
por condições históricas e econômicas de desigualdade social, entre outros elementos.
Diante dessas exclusões, diversos movimentos sociais têm, nas últimas décadas, 
lutado para garantir que a condição cidadã e o acesso pleno aos direitos, incluin-
do o de igualdade, sejam acessíveis a todos. Dentre eles, ressaltamos as lutas pe-
los direitos indígenas, das mulheres, da população negra (incluindo os quilombolas),da comunidade LGBTQIA+ etc.
A cidadania, nesse sentido, é um conceito em transformação contínua e é através de 
tensões e mobilizações que ela vai tanto se reconfigurando como se ampliando. Vale 
destacarmos que, ao se tratar de uma prerrogativa constitucional, ela deveria, de fato, 
ser acessível a todos os brasileiros.
Figura 02. Black lives matter 
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A história da cidadania, como apontado, não segue uma linha de evolução clara. Desse 
modo, é importante considerarmos a cidadania no mundo antigo, levando em conta as 
peculiaridades daquele contexto, ou seja, a forma como a pólis antecedia o cidadão. No 
mundo moderno, o ponto de transição entre a condição de súdito para cidadão demarca 
um fator importante de ruptura e de inauguração de toda uma tradição que se poster-
garia até os dias atuais.
Declaração Universal dos Direitos Humanos – 1948
“Agora, portanto, a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos 
Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o 
objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade tendo sempre em mente esta Decla-
ração, esforce-se, por meio do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos 
e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por 
assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os 
povos dos próprios Países-Membros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.”
Fonte: FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA – Unicef. Declaração Universal 
dos Direitos Humanos – 1948. 
Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos.
Acesso em: 11 jun. 2022.
“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para 
instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e in-
dividuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça 
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada 
na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica 
das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA 
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
TÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e 
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como 
fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana [...]”
Fonte: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil – 1988. Disponível em:http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 11 jun. 2022.
SAIBA MAIS
https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
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Na contemporaneidade, diferentemente do mundo antigo, é o corpo de cidadãos que 
inaugura os Estados nacionais e que, portanto, torna-se a entidade soberana de suas 
diretrizes, principalmente, por meio das inúmeras cartas constitucionais que regem os 
países na atualidade. São os denominados cidadãos que, a partir das vontades coleti-
vas, direcionam os andamentos de uma sociedade democrática.
Pertencer ao corpo de cidadãos, usufruindo dos direitos, mas também respondendo aos 
deveres, é uma parte fundamental para a constituição de uma sociedade não apenas 
mais justa, mas que seja, especialmente, capaz de garantir a igualdade entre os indi-
víduos que a compõem, abarcando, inclusive, suas diferenças, e sendo, portanto, uma 
sociedade que garante a cidadania de forma plural.
Figura 03. Mapa Conceitual - Cidadania
MAPA CONCEITUAL
Somente homensBill of rights 
- 1680
Carta dos Direitos dos Estados Unidos 
- 1780
Estado-nação
Cidadão
Direitos
SúditoPessoa
Modernidade
Antiguidade Greco-Romana
Democracia Cidadão
Somente homensPolítica
Pólis
Cidadania
Rei Declaração de Direitos do Homem e do 
Cidadão - 1789
Contemporaneidade
Cidadão
Direitos e deveres
Plural
Civis
Políticos
DireitosMovimentos sociais
Declaração Universal dos 
Direitos Humanos - 1948
Constituição da República Federativa do Brasil - 1988
Sociais
Igualdade
Justiça Social
Fonte: elaborada pelo autor
Para a reflexão, indicamos assistir aos vídeos a seguir e buscar considerar como eles repre-
sentam a sociedade atual, quais os problemas sociais que abordam e quais suas contribui-
ções para a discussão desta unidade.
SAIBA MAIS
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Vivência profissional e construção da cidadania
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 ` MANIFESTAÇÃO: Fernanda Montenegro e Chico Buarque em clipe pelos Direi-
tos Humanos. Vídeo (8min 33s). Postado pelo canal #ProgramaDiferente. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hISHrW79sQQ. Acesso em: 
11 jun. 2022.
 ` MARTINHO, Marcos. O dever da educação como formação do cidadão. Vídeo 
(11min 53s). Postado pelo canal Casa do Saber. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NhQq76oBHJE. Acesso em: 
11 jun. 2022.
 ` RODRIGUES, Gilberto. Quais são os direitos das minorias? Vídeo (4min 22s). 
Postado pelo canal Casa do Saber. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Y5hoPS-mQsc&t=21s. Aces-
so em: 12 jun. 2022.
 ` PINSKY, Jaime. Prof. Jaime Pinsky fala sobre o livro “História da Cidadania”. 
Vídeo (7min 49s). Postado pelo canal Editora Contexto. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=L_NpX6XQyEI&t=17s. Aces-
so em: 12 jun. 2022.
O tema da cidadania, atualmente, está presente nas mais diversas esferas da sociedade e, mais 
recentemente, tem feito parte, inclusive, do universo do trabalho. Cada vez mais tanto as empresas 
como os profissionais têm se dedicado a pensar acerca da responsabilidade social e de suas con-
tribuições enquanto participantes diretos da organização econômica e social dos mais diversos pa-
íses. Nesse sentido, pensar atitudes diárias e construir espaços abertos e praticantes da cidadania 
se tornaram elementos cada vez mais comuns no mundo profissional. Além de tais participações 
dentro das empresas, muitas delas têm valorizado atividades voluntárias praticadas por seus fun-
cionários e candidatos a vagas de emprego.
Leia a matéria abaixo e veja como as empresas têm colocado a cidadania como um conceito cada vez 
mais importante tanto na contratação de seus funcionários como no cotidiano do exercício do trabalho.
“Não é de hoje que diversas empresas descobriram a responsabilidade social e a importância de 
uma preocupação maior com a realidade que as cerca. A cidadania também faz parte desse con-
ceito. Atitudes que podem ser consideradas cidadãs - como envolvimento em projeto sociais, ati-
vidades comunitárias e voluntárias - podem até contar pontos no currículo de quem procura um 
emprego, uma vaga em programas de trainee ou mesmo na carreira de quem já trabalha.”
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/eleicoes/2010/cidadania-e-valorizada-pelas-
-empresas-34v3t48z5dvryk6lscxmtg8cu/ Acesso em: 11 jun. 2022.
Caso de aplicação 1
https://www.youtube.com/watch?v=hISHrW79sQQ
https://www.youtube.com/watch?v=NhQq76oBHJE
https://www.youtube.com/watch?v=Y5hoPS-mQsc&t=21s
https://www.youtube.com/watch?v=L_NpX6XQyEI&t=17s
https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/eleicoes/2010/cidadania-e-valorizada-pelas-empresas-34v3t48z5dvryk6lscxmtg8cu/
https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/eleicoes/2010/cidadania-e-valorizada-pelas-empresas-34v3t48z5dvryk6lscxmtg8cu/
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2. O ESPAÇO DA CIDADANIA
2.1. IGUALDADE E DESIGUALDADE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Desde os primeiros registros acerca das sociedades, temos como marca importante o 
diagnóstico – de pensadores aos primeiroscientistas – da existência de desigualdades. 
Em Platão e Sócrates – filósofos gregos e referência para o mundo ocidental –, apren-
demos que a “civilização de ouro”, a Grécia Antiga, organizava sua sociedade a partir 
de distinções de:
homens livres e escravos.
homens e mulheres com direitos e atribuições distintas;
crianças, jovens, adultos e idosos;Faixa etária
Econômica
Gênero
Na Grécia antiga, a palavra “cidadania” se referia àquele que vivia na cidade, que participava 
de suas decisões. Cidade, em grego, tem o nome de polis. Como nos lembra a professora de 
filosofia Marilena Chauí (2002, p. 509), a pólis era a “[...] reunião dos cidadãos em seu territó-
rio e sob suas leis. Dela se deriva a palavra política (politikós: o cidadão, o que concerne ao 
cidadão, os negócios públicos, a administração pública)”.
Quando traduzido para o latim, o termo continuou a se referir ao espaço público em referência 
imediata a civitas, isto é, à cidade. O cidadão é aquele que está e participa da vida das cidades.
SAIBA MAIS
Na filosofia romana, entendemos que essas distinções e discriminações eram dife-
rentes, incorporando distinções entre funções dentro das cidades – senadores, cléri-
gos, administradores públicos, trabalhadores –, de distinção social – nobres, religio-
sos, plebeus –, distinção por exercício de profissão – magistrados, generais – e de 
nacionalidade – cidadãos e estrangeiros.
Contemporaneamente, a partir da segunda metade do século XX, só alcançamos 
um conceito genérico de cidadania ao olharmos para os pactos sociais internacio-
nais, ou seja, aqueles nos quais cada Estado, respeitando sua soberania, concor-
dou em aceitar como critério objetivo para diálogo e proposição de ações um único 
conceito. E conceitos genéricos podem, muitas vezes, ser potencializadores ou não 
de diferenças naturais.
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Vivência profissional e construção da cidadania
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A filósofa Hannah Arendt (1906-1975) dedicou-se a refletir sobre as questões do per-
tencimento dos cidadãos aos seus territórios, inclusive quando estão na condição de 
estrangeiros – situação que ela compreendia com profundidade, pois, como judia, con-
seguiu fugir da Alemanha nazista e se refugiar nos EUA. Em diferentes obras da autora, 
a filósofa assevera que a igualdade não é natural entre os homens, no sentido do que 
quis exprimir a Declaração dos Direitos do Homem de 1948.
Hannah Arendt (1906-1975), filósofa alemã, dedicou-se à reflexão sobre as questões políticas 
e filosóficas de seu tempo, sobretudo, vinculada à formação dos Estados Modernos e seus 
processos de legitimidade. Arendt é autora de obras como: Origens do Totalitarismo (1951), A 
condição humana (1958), Sobre a revolução (1963), Eichmann em Jerusalém (1963).
Somos todos iguais perante uma lei que estabelece “Todos devem” ou “Todos podem” ou “To-
dos são”; somos iguais perante uma regra que aponta que “todos terão os mesmos direitos 
de autodefesa”, ou seja, mandamentos formais uma vez que esses direitos, efetivamente, só 
alcançavam os homens livres (cidadãos) e não mulheres, crianças e escravos. Por isso, para 
ele, a igualdade está presente somente na realização e concretização da justiça artificial, ou 
seja, naquela criada por convenções e regras (promoção da igualdade).
SAIBA MAIS
EXEMPLO
Resgatando em seu argumento as teses antigas, Arendt (1989, p. 46) postula que a na-
tureza produz homens desiguais em cultura, gênero, condições físicas e psicológicas, 
estatura, cores e tons de pele. A regra do mundo é a desigualdade. A igualdade é, 
para a autora, um conceito resultado de uma construção coletiva da comunidade polí-
tica, que estabeleceu um critério para garantir a todos da mesma condição o exercício 
autônomo dos direitos políticos pelo homem.
Desde Aristóteles (384-322 a.C), perpetuado em sua obra Ética a Nicômaco, apren-
demos sobre igualdade e desigualdade como fundamento da Justiça. Para o filósofo, 
apenas formalmente somos iguais.
No cotidiano, a regra da sociedade é a desigualdade. Essa é a condição da natureza. 
E, em um mundo de desigualdade, o único critério possível de justiça é a Equidade – 
redução das desigualdades. A equidade é o critério formal para minorar diferenças e 
estabelecer oportunidades concretas a todos, independentemente de suas diferenças 
que, para o filósofo, eram naturais.
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Contemporaneamente, as estatísticas nos revelam que a realidade das sociedades é 
de profunda desigualdade, não somente em relação às naturais e culturais, mas sobre-
tudo em virtude das diferenças de acesso aos bens e patrimônios coletivos como traba-
lho, educação, saúde e moradia. Isso nos coloca em reflexão contínua sobre o processo 
de consolidação da cidadania.
2.2. O CIDADÃO COMO DETENTOR DE DIREITOS INDIVIDUAIS E 
COLETIVOS
Quando Thomas Humphrey Marshall, sociólogo britânico, expôs sua teoria sobre ci-
dadania, ele observou esta nova condição do membro da comunidade e postulou que
[c]idadania é um status concedido àqueles que são membros plenos da co-
munidade. Todos os que possuem o status são iguais no que diz respeito 
aos direitos e deveres com os quais o status é conferido. Não existe um 
princípio universal que determine quais devem ser esses direitos e deveres, 
mas sociedades nas quais a cidadania é uma instituição em desenvolvimen-
to criam uma imagem de uma cidadania ideal contra a qual as realizações 
podem ser medidas e para a qual as aspirações podem ser dirigidas. (MAR-
SHALL, 1963, p. 87, tradução livre)
Ao construir tal definição, o sociólogo estabeleceu o conceito de cidadania a partir de 
duas estruturas fundamentais: primeiro, a de que a cidadania é um status (sociologi-
camente considerado) e, segundo, que os cidadãos devem ser titulares de deveres e 
direitos decorrentes dessa posição.
Sobre a segunda dimensão, a sociedade contemporânea a caracteriza sob a expressão 
da cidadania democrática, construída por meio do modelo desenhado pela Declaração 
Universal dos Direitos Humanos que pressupõe, ao menos, o exercício de três formas 
de cidadania (PINSKY; PINSKY, 2008, p. 9):
Nos últimos anos, vemos circular na internet e redes so-
ciais imagens como esta, para descrever o que seria a 
verdadeira justiça. Quando a igualdade é colocada como 
parâmetro de justiça ela, ao invés de promover o bem para 
todos, amplifica as diferenças. Em uma situação em que o 
degrau tem a mesma altura para todos, somente aqueles 
que já têm naturalmente uma vantagem terão acesso ao 
benefício. Entretanto, quando percebemos as diferenças 
naturais, somos capazes de projetar uma rampa com al-
turas desiguais que permita que todos alcancem seu prê-
mio. Exemplo contemporâneo de uma forma de promoção 
de equidade são as políticas públicas de inclusão social 
– de deficientes, de gênero e raça, étnicas dentre outras.
SAIBA MAIS
Figura 04. Diferença entre igualdade 
e equidade 
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Vivência profissional e construção da cidadania
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No Brasil, com o restabelecimento da república e do estado democrático após o período 
da ditadura militar, a marca simbólica e factual do estabelecimento desse status jurídico 
é a Constituição da República Federativa de 1988.
No início da Constituição Federal, foi estabelecido um conjunto de princípios e diretri-
zes, tais como princípios da soberania, da cidadania, da dignidade da pessoa humana 
e dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, além do pluralismo político. Esse 
conjunto é considerado como essencial para a manutenção do Estado e do poder do 
povo. Percebemos que, na lei constitucional, o aspecto social e o campo econômico dos 
princípios são pontos de destaque, motivo pelo qual a Constituição Federal recebe o 
apelido de “Constituição Cidadã”. Mais adiante, a Constituição inova em sua concepção 
de cidadania e incluiu, sobretudo, um rol de valores socioeconômicos expressos como 
Direitos Sociais – artigos 6° ao 11º –, colocando diretrizes concretas para efetivação no 
espaçopúblico da cidadania.
Fato é que a consolidação da cidadania exige a proteção estatal, mas só se concretiza 
se for acompanhada de um movimento de apropriação de valores e reconhecimento da 
importância da participação de todo e cada indivíduo em sua comunidade, a partir de 
ações da vida cotidiana.
2.3. A ATUAÇÃO PROFISSIONAL E A VIVÊNCIA CIDADÃ: A 
RETOMADA DO PROTAGONISMO SOCIAL
No caso do Brasil, o processo de consolidação jurídica democrática vem deixando claro 
que a percepção da cidadania é consequência, muitas vezes, de ação exclusiva do 
Estado, afastando, em um primeiro momento, a compreensão de que ela só se cria e 
concretiza na ação individualizada de cada ser humano, como membro de sua comuni-
dade e ator nos espaços individuais e coletivos.
Pensar dessa forma – que só sou cidadão se houver uma determinação externa do 
Estado, das leis – trouxe consequências muito sérias para a sociedade. A primeira foi 
o surgimento do que se denominou na literatura nacional de “cidadania de papel”, ou 
seja, um Estado que formalmente prevê todos os direitos que compõem o conjunto da 
cidadania, mas que, efetivamente, não os implementa (DIMENSTEIN, 2012, p. 58). Tal 
fato vem gerando um total desinteresse dos cidadãos por seus direitos e esse proces-
so de consolidação, fazendo surgir o fenômeno da cidadania passiva, “[...] outorgada 
pelo Estado, se diferencia da cidadania ativa, na qual o cidadão, portador de direitos e 
deveres, é essencialmente criador de direitos para abrir novos espaços de participação 
política”. (VIEIRA, 2002, p. 40).
I. A civil: que se refere às liberdades pessoais e aos direitos individuais;
II. A política: que se trata da participação política e à representação democrática;
III. A social: vinculada à intervenção do Estado na redução das desigualdades econômicas e 
promoção da justiça social – sobretudo por intermédio de políticas públicas e ações afirmativas.
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“Cidadania de papel” é um termo derivado da interpretação do livro O cidadão de papel, do 
jornalista Gilberto Dimenstein (1956-2020). Nessa obra, escrita no início dos anos 1990, somos 
apresentados ao Brasil real dos contrastes. Analisando notícias divulgadas cotidianamente nos 
jornais da cidade, faz-nos refletir sobre como o país que tem uma das maiores economias do 
planeta se torna ao mesmo tempo um dos lugares mais socialmente injustos para se viver e 
indaga o porquê dos cidadãos não se revoltarem com tal situação, aceitando a condição da 
desigualdade como algo natural da sociedade. Uma de suas respostas é que vivenciamos uma 
cidadania passiva, existente só no papel.
SAIBA MAIS
A segunda forma de pensar seria o desvirtuamento da percepção dos homens como mem-
bros de suas comunidades, deixando o papel de construtores de direitos para se tornarem 
consumidores de direitos (ROCHE, 1992, p. 31-32), visto que o Estado deixou de lado sua di-
mensão de representatividade para ser provedor de direito, limitando-os aos seus interesses.
Com o intuito de retomar o protagonismo desse movimento de consolidação, no campo 
profissional, muitas ações vêm sendo implementadas para que os indivíduos (re)apren-
dam a participar e se envolver em temas e decisões que são geradoras de bens coleti-
vos e, muitas vezes, de benefícios individuais. Esse é um movimento que dá base para 
a chamada cidadania empresarial e são exemplos de ações: participação em fóruns de 
planejamento estratégico, em comissões de empresas – representantes, segurança do 
trabalho, compliance, dentre outras.
Compreender o movimento histórico faz com que percebamos que a cidadania não é uma 
estrutura meramente formal, mas sim um desdobramento da continua busca pela realização 
do desejo homem de estar presente. Os juristas Wolkmer e Leite (2003, p. 23) comentam que,
[p]or serem inesgotáveis e ilimitadas no tempo e no espaço, as necessi-
dades humanas estão em permanente redefinição e criação. Por conse-
quência, as situações de necessidade e carência constituem a razão moti-
vadora e a condição de possibilidade do aparecimento de “novos” direitos. 
(WOLKMER; LEITE, 2003, p. 23).
Nessa perspectiva, então, não podemos afirmar que esse seja um rol fechado de ações 
de cidadania, pois, a cada dia, temos novas necessidades (por exemplo: na década 
de 1990, a Internet era uma tecnologia não popularizada; a partir dos anos 2000, ela 
passa a ser considerada como direito de acessibilidade e ganha um novo status, pois 
sabemos o quanto precisamos dela em nosso dia a dia).
A cidadania ativa, assim, exige o que podem ser chamados mergulhos na realidade. 
Essa cidadania se manifesta em ações de responsabilidade social, trabalhos voluntá-
rios junto a comunidades vulneráveis, discussões internas em organizações e institui-
ções sobre diversidade e gestão da inovação, a revisão dos códigos de ética e conduta, 
com o estabelecimento claro de punições aos desvios e às práticas de discriminação 
e propagação de crimes de ódio e a mudança e a transformação dos ambientes pro-
fissionais de modo a propiciar inclusão verdadeira são caminhos obrigatórios para o 
entendimento da cidadania no tempo presente.
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Vivência profissional e construção da cidadania
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Dessa forma, a retomada do protagonismo implica em um compromisso com uma pos-
tura participativa e não meramente consumista. A cidadania se realizará plenamente 
quando este for o direcionamento concreto da sociedade.
A Cidadania do consumismo é um termo referenciado na literatura, usado para definir a pos-
tura de cidadãos que escolhem não se envolver em decisões. Manziini-Crove (2007, p. 72-73) 
explica que “A proposta da cidadania da etapa atual permite abrir espaço para a retomada 
daquele exercício de cidadania [...], com a vantagem de que, agora, a sociedade tecnológica 
criou bens e condições de realmente atender a todos os homens do planeta. Isso depende de 
uma condição sine qua non – a de que os sujeitos precisam construir o possível nesse espaço 
aberto, lutando por todos os direitos do cidadão. E lembrando sempre: o que se reivindica tem 
relação íntima com o modo usado para reivindicar.
A bandeira da luta da cidadania é transformar o cotidiano do trabalhador em algo bom, satisfa-
tório, sob condições que respeitem a própria vida, dando chance também à questão do desejo 
– a identidade do indivíduo com as atividades que realiza [...]”.
MANZINI-COVRE, Maria de Lourdes. O que é cidadania? São Paulo: Brasiliense, 2007. 
[Primeiros Passos]
SAIBA MAIS
A polarização e a exteriorização das diferenças entre os povos, típicas da economia e 
política mundial contemporânea, colocou em questão, no final do século XX, o direito 
a sua autodeterminação (soberania). Isso significa apontar que o espaço da cidadania 
esteve em perigo, uma vez que se tornou um espaço de formalidade.
A cidadania ativa implica que todo e qualquer cidadão saiba e reconheça que a garantia 
de direitos e o estabelecimento de deveres, depende de sua participação efetiva nos 
processos de melhoria e desenvolvimento de sua sociedade, de suas regras jurídicas e 
de sua profissão. A necessidade de incorporação de novas práticas, novas competên-
cias e novos valores promotores de justiça social e bem comum tornam-se garantia da 
própria sobrevivência de determinados grupos sociais e culturais.
O exercício dos direitos e a mensuração dos deveres é parâmetro objetivo para o de-
senvolvimento de políticas de pertencimento profissional e, consequentemente, de re-
conhecimento social. O status de cidadão hoje passa, necessariamente, pela análise de 
como nós atuamos e nos comportamos na execução de nosso trabalho – com princípios 
éticos, de transparência e sem corrupção – e em nossos espaços privados e públicos – 
com o respeito a toda e qualquer diferença.
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Ética e Cidadania
Pertencimento a uma nação/sociedade
Ações em espaços privados como residência, 
comunidade, família
Realização individualde direitos e garantias 
fundamentais (vida, liberdade, autonomia privada, 
desenvolvimento individual)
Participante do projeto social estabelecido na 
Constituição Federal
Ações em espaços públicos coletivos, comunidades 
religiosas e profissionais
Realização coletiva de direitos e garantias sociais 
(educação, transporte, lazer, segurança)
Defesa das propriedades coletivas (direitos urbanos, 
cultura, esporte, limpeza, meio ambiente)
Inclusão social: construção de ambientes coletivos 
inclusivos e acessíveis
Cidadania econômica coletiva: combate à 
corrupção, elogia da transparência e respeito às 
regras de concorrência
Gestão da diversidade: criação de projetos de integra-
ção e punição de crimes de ódio, de discriminação, de 
racismo e outros ambientes coletivos
Cidania econômica individual: exercício dos direitos do 
consumidor (escolhas pessoais) e proteção 
contra abusos
Cidadania política individual: participação nas 
decisões que impactam o seu cotidiano
Respeito à individualidade e direito a ser quem 
se é (diversidade)
Valorização da tolerância, da cultura de paz e do 
respeito ao outro em sua integridade
Redução de desigualdades
O ESPAÇO DA 
CIDADANIA
Preservação de igualdade
INDIVIDUAL COLETIVO
Figura 05. Mapa Conceitual - O espaço da cidadania 
Fonte: elaborada pela autora
SOCIAL WATCH (Observatório da cidadania/social). 
Disponível em: https://www.socialwatch.org/es. Acesso em: 11 jun. 2022. Dados em inglês, 
espanhol e francês.
Resumo: “Site da rede internacional de organizações de cidadãos na luta para erradicar a po-
breza e suas causas, propondo ações e fornecendo dados necessários para acabar com todas 
as formas de discriminação e racismo, para garantir uma distribuição equitativa da riqueza e a 
realização dos direitos humanos. Analisa dados de responsabilidade dos governos, do sistema 
das Nações Unidas e das organizações internacionais no cumprimento dos compromissos 
nacionais, regionais e internacionais de erradicação da pobreza”.
SAIBA MAIS
Filme ou Documentários
 ` VIDAS Descartáveis, de Alexandre Valenti e Alberto Graça
 � Sinopse: O documentário lança olhar para a precariedade do trabalho no Brasil, a partir 
de situações reais. A temática da escravidão aparece, também, no modo como ela se 
dá na atualidade, ao ser considerado um conjunto de situações de trabalho degradante, 
seus processos de produção e consequente exclusão da cidadania – seja na cidade ou 
no campo, sempre considerando a busca dos trabalhadores por melhoria de vida. Tam-
bém é analisada a responsabilidade das empresas e dos profissionais.
https://www.socialwatch.org/es
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Vivência profissional e construção da cidadania
3
 ` O MENINO que descobriu o vento (The Boy Who Harnessed the Wind), 
de Chiwetel Ejiofor
 � Sinopse: “O filme, disponível em plataformas de streaming, é baseado em uma 
história real retratada no livro “O menino que descobriu o vento”. Trata-se da histó-
ria real de Willian Kamkwamba, morador do Malawi, país litorâneo do sudeste da 
África, que sofre com as inconstâncias do tempo indo da extrema seca até a inten-
sidade das chuvas. O aluno, em um período de grande problema econômico, é obri-
gado a abandonar a escola. Entretanto, curioso e autodidata, ele continua estudan-
do e descobre uma forma de construir um sistema de irrigação em seu povoado”. 
 
O MENINO que descobriu o vento (The Boy Who Harnessed the Wind). Drama. Direção 
e Roteiro: Chiwetel Ejiofor. EUA, Malawi, França, Reino Unido, Netflix Filmes. 1h 53min. 
Textos Complementares
 ` Educação para a cidadania democrática: Desafios, impasses e perspecti-
vas, de Luís Fernando Santos Corrêa da Silva e Egidiane Michelotto Muzzato
 � Resumo: “O presente artigo tem como objetivo discutir as intersecções contemporâneas 
entre a cidadania e a democracia, sobretudo no que concerne ao papel da educação para a 
consolidação de ambas. Resgata-se o debate teórico e conceitual sobre os desafios e os 
impasses da cidadania e da democracia na contemporaneidade, bem como enfatiza-se as 
características de um modelo específico de cidadania, mais ativa e substantiva, que é a ci-
dadania democrática. Tal modelo fundamenta-se em três pilares que devem integrar o currí-
culo escolar: a) o pensamento crítico, b) a cidadania universal, c) a capacidade imaginativa. 
 
Entende-se que a construção da cidadania democrática depende de uma formação hu-
mana plural, de modo a superar o utilitarismo técnico e econômico. Surge daí a impor-
tância da presença das ciências humanas, da filosofia e das artes no currículo escolar, 
dado o caráter crítico e desnaturalizador dessas áreas do conhecimento”.
MUZZATTO, Egidiane Michelotto; SILVA, Luís Fernando Santos Corrêa da. Educação 
para a cidadania democrática: desafios, impasses e perspectivas. Educação. Porto Ale-
gre, Porto Alegre, v. 44, n. 1, e32656, enero 2021 . 
Disponível em <http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1981-25822021000100004&lng=es&nrm=iso>. Acesso em: 11 jun. 2022.
 ` Ética, cidadania e cidadania organizacional: conceito, trajetória e alguns 
direitos e deveres relacionados, de Nelson Lambert de Andrade
 � Resumo: “Este artigo aborda os conceitos e bases históricas a respeito da cidadania, 
seus diversos direitos e deveres relacionados e a cidadania organizacional dentro do 
mundo empresarial. O objetivo deste trabalho foi demonstrar que a cidadania atual-
mente está ligada aos direitos humanos, deveres impostos pelas constituições de cada 
país, e no mesmo sentido a cidadania aplicada dentro das organizações, que são uma 
extensão da sociedade, onde os colaboradores têm direitos e deveres que precisam ser 
gerenciados com ética para um convívio harmônico no ambiente de trabalho”.
http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-25822021000100004&lng=es&nrm=iso
http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-25822021000100004&lng=es&nrm=iso
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Ética e Cidadania
3. É PRECISO CUIDAR!
3.1. O HOMEM E O MEIO AMBIENTE
Nas últimas décadas, a preocupação com 
a questão ambiental ganhou espaço nas 
discussões internacionais e suscitou dis-
cussões intensas tanto em nível global 
como local. Identificar responsabilidades 
em relação ao meio ambiente, acerca de 
temas como exploração e preservação da 
natureza e sustentabilidade, passou a fa-
zer parte do cotidiano das pessoas, das 
empresas e das nações.
Nesse sentido, entendemos, na atualida-
de, que se portar como um cidadão cons-
ciente inclui assumir uma postura ética diante de questões relacionadas não apenas às 
relações humanas, mas também em relação a todo o meio que nos cerca, incluindo a 
natureza e os animais.
 ` POR UMA CIDADANIA AMBIENTAL
Quando começamos a nos preocupar com a natureza e o meio ambiente que nos 
cerca? A resposta, se colocada individualmente, percorreria toda a história, em 
maior ou menor medida. Sempre houve indivíduos que refletiram e se preocuparam 
com o meio, a natureza e os animais. No entanto, ao colocarmos o mesmo questio-
namento para o coletivo de cidadãos, encurtaríamos esse intervalo de tempo para 
um período que se iniciaria em finais do século XIX e que percorreria todo o século 
XX, chegando aos dias atuais. Partindo desse recorte é que poderíamos apontar a 
projeção de uma cidadania ambiental.
DE ANDRADE, N. (2020). ÉTICA, CIDADANIA E CIDADANIA ORGANIZACIONAL: 
CONCEITO, TRAJETÓRIA E ALGUNS DIREITOS E DEVERES RELACIONADOS. Re-
vista Científica E-Locução, 1(18), 13. 
Recuperado de https://periodicos.faex.edu.br/index.php/e-Locucao/article/view/278
Figura 06. Consciência ecológica 
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Pode-se apontar que “[...] a noção de cidadania ambiental pressupõe o estabelecimen-
to de uma relação mais harmoniosa com a natureza. Essa postura deve estar presente 
em toda a extensão da vida cotidiana, com cada cidadão exercitando sua responsabilida-
de ambiental em toda a ocasião que estiver manipulando bens e materiais, buscandoa 
GLOSSÁRIO
https://periodicos.faex.edu.br/index.php/e-Locucao/article/view/278
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Vivência profissional e construção da cidadania
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Tal questionamento tem relação direta com o advento da Revolução Industrial no século 
XVIII. As modificações produzidas sobre o meio natural se tornaram muito mais intensas 
e criaram formas de exploração que, ao longo dos séculos, deixaram fortes impactos 
na natureza. Florestas foram derrubadas, rios e mares foram poluídos, espécies foram 
extintas, solos foram contaminados e grande parte desses recursos naturais ainda se 
encontra degradada. Acrescenta-se, ainda, em decorrência da rápida industrialização, a 
queima intensiva de combustíveis fósseis, a destruição da camada de ozônio e o efeito 
estufa que vem alterando as condições climáticas nos últimos séculos.
Nas últimas décadas, têm ocorrido inúmeras mobilizações internacionais volta-
das para a discussão de uma ética ambiental. Um dos pontos de referência so-
bre o tema ocorreu no Brasil, em 1992, no Rio de Janeiro: a Conferência das Na-
ções Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como 
Eco 92. O evento teve um impacto importante nas discussões e resultou na propos-
ta da Agenda XXI, que tinha como prerrogativa apresentar medidas para se estabe-
lecer uma melhor forma de interação com o meio ambiente, além de projetar meios 
de se realizar um consumo mais sustentável.
A partir desse evento, a sustentabilidade se converteu em um conceito extremamente 
importante e cotidiano. Governos passaram a projetar políticas públicas que visassem 
atingir tais medidas, além de inúmeras empresas começaram a se preocupar com o ali-
nhamento de seus processos produtivos a medidas eco sustentáveis, adotando assim 
posturas éticas em relação ao meio ambiente.
A constituição brasileira de 1988, em seu capítulo VI, artigo 225, estipula alguns pontos 
em relação ao meio ambiente, no entanto, uma legislação mais específica encontra-se 
dividida em áreas distintas (biossegurança, agrotóxicos, crimes ambientais etc.), sendo 
um dos mais importantes o denominado “código florestal”, Lei 12.651, de 2012.
finalidade mais ecológica possível em cada atitude adotada no seu dia a dia e com cons-
ciência do impacto que os mais simples procedimentos podem provocar no meio natural”. 
(WALDMAN apud PINSKY; PINSKY, 2005, p. 557, grifo nosso)
O acordo de Paris – 2015
Mais recentemente, em 2015, aconteceu a COP21, a 21ª Conferência das Nações Unidas 
sobre mudanças climáticas, em Paris. Nesse encontro foi firmado o Acordo de Paris, no qual 
os governos dos países participantes estabeleceram metas de redução de gases que provo-
cam o efeito estufa a partir de 2020. O acordo foi discutido por 195 países e entrou em vigor 
em novembro de 2016, sendo o Brasil um de seus signatários.
CURIOSIDADE
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Ética e Cidadania
É importante destacarmos que, em um mundo capitalista que passa por um exponencial 
crescimento demográfico e urbano, equilibrar produção, consumo e meio ambiente não 
é uma tarefa fácil. Nesse sentido, a proposição de uma formação consciente e ética de 
uma cidadania em relação ao meio ambiente se apresenta como uma demanda urgente.
Sobre a relação entre capitalismo e meio ambiente “Uma das principais fontes de tensão con-
temporânea ao desenvolvimento do capitalismo está justamente na dificuldade em relacionar 
tempos diferentes. A racionalidade produtivista de sociedade de consumo é incompatível com 
as diversas temporalidades que integram os sistemas naturais. Enquanto máquinas deman-
dam energia e matéria-prima sem parar, os ambientes naturais possuem um ritmo mais lento 
para absorver os dejetos da produção e para repor a base material da existência”. (RIBEIRO 
apud PINSKY; PINSKY, 2005, p. 413).
PARA REFLETIR
Hoje, além da preocupante questão da escassez de água, que já é uma realidade em 
diversas partes do mundo, tema que tem trazido à tona a necessidade do uso cons-
ciente da água, outra preocupação é em relação à adoção de uma ética sustentável no 
consumo de energia, mais especificamente, em referência a quais fontes de energia 
utilizamos: renováveis ou não renováveis.
Fontes não renováveis como o petróleo e o carvão mineral, extremamente poluentes, 
vêm sendo substituídas por outras fontes de energia renováveis e limpas, como a energia 
eólica, a solar e a hídrica. O Brasil obtém grande parte de sua energia por meio das hi-
drelétricas. Porém, durante o período das secas, que têm sido impactos recorrentes das 
mudanças climáticas dos últimos anos, a utilização das termelétricas em tem crescido.
Assumir posturas éticas em relação ao meio ambiente, muitas vezes, implica custos 
mais elevados. Assim, construir uma cidadania ambiental ética deve pressupor um es-
forço generalizado que envolva as pessoas, o Estado e as empresas privadas. Todos 
precisam estar alinhados na projeção de uma produção em consonância não somente 
com o meio ambiente, mas também com a realidade econômica dos indivíduos de uma 
em determinada região ou país. Promover tal condição é abarcar, de forma mais ampla, 
uma sustentabilidade que seja tanto ambiental como socioeconômica. 
Dentro das preocupações ambientais, dois termos são ressaltados com relação ao que 
concerne à interação entre o homem e a natureza: preservacionismo e conservacio-
nismo. Os termos, muitas vezes, são utilizados de forma incorreta e não são sinônimos.
Enquanto o preservacionismo se preocupa em salvar ecossistemas, espécies, biomas etc., 
sem levar em consideração interesses econômicos que eles podem vir a render, o con-
servacionismo pressupõe a proteção e a conservação, mas permitindo a integração do 
homem com a natureza.
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Vivência profissional e construção da cidadania
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Nessa leitura, o preservacionismo compreende que o homem é uma ameaça à nature-
za e propõe que ela seja isolada, por exemplo, em áreas de preservação permanente 
(manguezais, nascentes de rios e córregos, mata ciliar etc.). Já o conservacionismo de-
fende uma integração e um desenvolvimento sustentável entre o homem e a natureza, 
por meio de parques ecológicos e áreas de conservação (Parque Nacional do Iguaçu, 
Parque Nacional da Chapada dos Guimarães etc.).
A temática da interação entre homem e natureza atingiu também, nos últimos anos, 
todo o mercado de trabalho e apontou a necessidade de se pensar não apenas sobre 
as posturas das empresas, mas também exigiu posicionamentos éticos de seus funcio-
nários. Dessa forma, a temática de uma cidadania ambiental vem se desdobrando para 
além da vida privada dos indivíduos e, com o seu desenvolvimento, fez surgir nomen-
claturas para essas relações; agora podemos acompanhar o avanço de funcionários e 
empresas sustentáveis.
3.2. POR UMA ÉTICA ANIMAL: O ANIMAL HUMANO E OS ANIMAIS 
NÃO HUMANOS
A preocupação com o meio ambiente e 
uma prática de vida mais sustentável se 
estendeu à forma como lidamos com os 
animais. Ao longo do século XX, e princi-
palmente no século XXI, a questão animal 
foi ganhando contornos amplos, desde 
perspectivas filosóficas até questões re-
lacionadas ao mundo do direito, como a 
Lei 9.605/1998, que no Capítulo V, Seção 
I, dos crimes contra a fauna, artigo 32, 
estipula punições para crimes cometidos 
contra animais silvestres, domésticos ou 
domesticados. Três nomes são realçados 
nessa discussão: o filósofo australiano Peter Singer, o filósofo americano Tom Regan e 
o ativista, também americano, Henri Spira.
Figura 07. Relação humano e não-humano 
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 ` LIBERTAÇÃO HUMANA, LIBERTAÇÃO ANIMAL
Um dos marcos das mudanças acerca da preocupação com a questão animal está as-
sociado à publicação do importante livro de Peter Singer, Libertação Animal, de 1975. 
Na obra, Singer estabelece uma leitura importante sobre a ética animal. Partindo da 
concepção de especismo, o autor aponta que a diferenciação e a discriminação entre 
os seres vivos acontecem apenas porque eles pertencem a outras espécies. Eleainda 
pontua que as formas de sentir e sofrer, de escravizar e matar deveriam ser colocadas 
como proibidas de forma igualitária para todos os seres. Peter Singer, dessa forma, 
afirma que escravizar animais para a alimentação é injustificável e fere uma ética animal 
que precisa ser levada em consideração, visto que fere e mata um outro ser vivo, uma 
outra espécie. Singer avançou em suas proposições em outras obras, sempre pensan-
do a relação entre as espécies animais (incluindo os humanos), a ética e a moral.
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Outro texto basilar para a temática é The Case for Animal Rights (1983), de Tom Regan, 
lançado em 1983. A proposta de Regan, difere da proposta de Peter Singer (este, que 
segue uma vertente de defesa dos animais não humanos de acordo com a filosofia 
utilitarista): Regan propõe uma leitura de que a ética deve se assentar na análise das 
ações que compreende como boas quando elas causam a felicidade e más, caso tenha 
como consequência o sofrimento. Essa concepção ética pode ser denominada de “con-
sequencialismo”, visto que propõe uma abordagem diretamente associada ao direito.
Singer avalia que a possibilidade de se utilizar animais em alguns experimentos cien-
tíficos é válida, o que Tom Regan rejeita, já que aborda uma perspectiva em que os 
direitos deveriam se equivaler. Apesar de ambos abordarem uma perspectiva da ética 
animal, Regan advoga, por meio de uma visão de direitos ampla, a total abolição dos 
animais em relação a qualquer tipo de exploração humana, enquanto Singer concede 
algumas permissões que ele entende como éticas.
Para se aprofundar um pouco mais na proposição de Tom Regan e sua relação com a ética, 
leia o trecho abaixo retirado do recomendado artigo de Gabriela Dias de Oliveira, A teoria dos 
direitos animais humanos e não-humanos, de Tom Regan. “O que impele o trabalho de Tom 
Regan é a intuição de que algo vai mal com a moralidade humana. Não se trata de uma alar-
mista ‘crise de valores’, mas de algo um tanto mais alarmante: uma profunda incoerência de 
princípios de valoração no seio do sujeito moral humano. Velha fórmula de injustiça: dois pesos, 
duas medidas. Na trapaça quem perde são os animais, mas não perdem menos os humanos 
a eles assemelhados.
Ao apresentar-se como advogado da causa dos animais, Regan tem em mira os preconceitos 
que envolvem o próprio estatuto moral da vida humana; é por isso que, no trabalho intelectual 
por ele empreendido, não está em jogo apenas a inclusão dos animais no âmbito da moralidade 
humana, através do redimensionamento das relações entre animais humanos e não-humanos, 
mas a própria fundamentação dos direitos humanos”. (OLIVEIRA, 2004, p. 283)
Fonte: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/view/14917/13584. Acesso em: 11 jun. 2022.
SAIBA MAIS
Outra questão bastante em voga na atualidade, mas que ganhou repercussão a partir 
da década de 1980, refere-se à vivissecção (que consiste em realizar uma cirurgia – 
dissecação – em um ser ainda vivo com a finalidade de analisar o funcionamento do 
seu organismo interno) e os testes farmacêuticos e industriais realizados em animais.
Neste ponto, o nome de maior evidência é o do ativista Henri Spira que, desde a déca-
da de 1950, se tornou um importante ativista dos direitos civis e, posteriormente, dos 
direitos animais. Realizando uma série de manifestações públicas nos Estados Unidos, 
Spira criticava fortemente a utilização de animais em testes científicos.
Na busca por ampliar a discussão, na década de 1970, o autor supracitado trouxe ao co-
nhecimento público o modo como muitos desses testes ocorriam, o que gerou uma am-
https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/view/14917/13584
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pla comoção popular e fez com que diversas empresas nos Estados Unidos passassem 
a rever seus métodos. Spira é o fundador da organização Animal Rights International, 
criada com o objetivo direto de expor e pressionar as empresas que utilizavam animais 
em testes. Essas proposições, aliadas a uma série de questões ambientais e de saúde, 
contribuíram para um crescimento exponencial do vegetarianismo e do veganismo nas 
últimas décadas. Simplificadamente, o vegetarianismo propõe uma alimentação isenta 
de produtos animais, já o veganismo (compreendido por muitos como uma filosofia de 
vida) pressupõe uma alimentação e um estilo de vida sem qualquer tipo de produto ou 
alimento de origem animal ou que cause algum dano a esses seres.
Ambas as práticas possuem inúmeras ramificações. No entanto, o ponto que frisamos é 
que a preocupação com os animais e com o meio ambiente como um todo tem acarre-
tado uma série de transformações na forma de se viver e entender nossa relação com 
o mundo que nos cerca.
Para uma maior definição sobre os termos vegetarianismo e veganismo, veja como a Socie-
dade Vegetariana Brasileira apresenta as diferenças:
“Vegetarianismo é o regime alimentar que exclui os produtos de origem animal. A SVB re-
conhece variações de interpretação do termo por causa do dinamismo da linguagem. Os 
principais tipos de vegetarianismo são:
a. Ovolactovegetarianismo: utiliza ovos, leite e laticínios na sua alimentação.
b. Lactovegetarianismo: utiliza leite e laticínios na sua alimentação.
c. Ovovegetarianismo: utiliza ovos na sua alimentação.
d. Vegetarianismo estrito: não utiliza nenhum produto de origem animal na sua alimentação.
O veganismo, segundo definição da Vegan Society, é um modo de viver (ou poderíamos 
chamar apenas de “escolha”) que busca excluir, na medida do possível e praticável, todas as 
formas de exploração e crueldade contra os animais - seja na alimentação, no vestuário ou 
em outras esferas do consumo”.
Fonte: https://www.svb.org.br/vegetarianismo1/o-que-e. Acesso em: 11 jun. 2022.
GLOSSÁRIO
Posto isso, podemos sublinhar que nos concentramos, aqui, em apontar alguns di-
recionamentos para que aprofundamentos possam ser feitos, posteriormente. As 
questões que trouxemos, brevemente, nesta unidade, estão na pauta do dia das 
discussões contemporâneas.
Ao pensar sobre meio ambiente, sustentabilidade, direitos animais etc., somos levados 
diretamente a refletir sobre a forma como nos portamos e interagimos com o mundo que 
nos cerca. Nesse sentido, ser um cidadão hoje inclui ser um agente de direitos e deve-
res, mas também um indivíduo em constante transformação diante das mais diferentes 
demandas que vão surgindo.
https://www.svb.org.br/vegetarianismo1/o-que-e
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Ser um cidadão de direitos e ser alguém que se preocupa em garantir direitos aos outros 
e, como vimos, a outros que podem ser inclusive de espécies diferentes da humana. 
A preocupação em adotar posicionamentos éticos é, cada vez mais, uma demanda na 
atualidade e envolve não apenas outros seres humanos, mas também o meio ambiente 
e as outras espécies que habitam o mundo.
No intuito de propiciar outros materiais que acrescente ao seu repertório de discussões sobre 
a cidadania ambiental e a ético ecológica, indicamos 3 vídeos recomendados para ouvir outros 
especialistas e suas articulações com o tema, sugestões de reflexões e posicionamentos éticos.
 ` SINGER, Peter. O status moral do sofrimento. Vídeo (3min 29s). Postado pelo 
canal Fonteiras do Pensamento. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lw74Q2w7NHE&t=1s. Acesso em: 13 jun. 2022.
 ` SINGER, Peter. Mudança climática é uma questão ética. Vídeo (2min 48s). Pos-
tado pelo canal Fonteiras do Pensamento. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2EaGQfbKtOE. Acesso em: 13 jun. 2022.
 ` O AMANHÃ é hoje Link. Vídeo (23min 10s). Postado pelo canal O amanhã é hoje. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=azrnx55oawQ. Acesso em: 11 jun. 2022.
SAIBA MAIS
Sustentabilidade
Ética e Cidadania
Teses de laboratório
Vivisecção
Ética animal
Cidadania Ambiental
Posturas Diárias
Empresase funcionários sustentáveis
Vegetarianismo
Veganismo Filosofia
Ato político
Ações no presente e para o futuro
Fontes de energia renováveis
Capitalismo
ECO-92
Poluição
Agenda XXI
Políticas Públicas
Estado
Conservadorismo e Preservacionismo
Industrialização
Fontes de energia não-renováveis
Figura 08. Mapa Conceitual - Ética, cidadania e meio ambiente 
Fonte: elaborada pelo autor
https://www.youtube.com/watch?v=lw74Q2w7NHE&t=1s
https://www.youtube.com/watch?v=2EaGQfbKtOE
https://www.youtube.com/watch?v=azrnx55oawQ
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Filme
 ` Okja, de Bong Joon-ho
 � Sinopse: O filme Okja é uma narrativa que parte de um olhar da infância para abordar 
temas concernentes aos impactos de uma sociedade capitalista de consumo desenfreado 
e, portanto, pouco consciente dos impactos sobre o meio ambiente. Partindo da relação 
entre uma menina (Mihka) e um animal fictício, Okja, (um superporco) com quem ela man-
tém uma relação de amizade, o filme nos apresenta o conflito entre a indústria da carne 
e as preocupações por uma ética animal. Quando o animal é sequestrado pela líder de 
uma dessas indústrias, inicia-se uma trajetória de resgate por parte da jovem Mihka. A jor-
nada apresentada de forma fabular problematiza não apenas o consumo exagerado, mas 
também a falta de uma perspectiva ambiental diante desse consumo. Também mostra as 
falsas narrativas de uma preocupação ambiental, que são apresentadas pela empresa 
que sequestra Okja, ou seja, aborda a necessidade de exigir medidas sustentáveis e a 
importância de se analisar criticamente o objetivo por trás de tais medidas.
A preocupação com o meio ambiente e a adoção de medidas mais sustentáveis, como apon-
tado ao longo da unidade, se tornou uma pauta recorrente na atualidade. No entanto, não 
somente as empresas têm pensado na adoção de políticas ambientais como parte de seus 
valores, mas também o próprio mercado profissional tem começado a apontar nesse sentido. 
Diante disso, ser um funcionário que preza por medidas sustentáveis e que as pratique vem 
se tornando uma demanda crescente no mercado de trabalho. Leia o excerto abaixo e veja 
como as empresas têm destacado tais elementos como pressupostos cada vez mais impor-
tantes na contratação de seus funcionários e no cotidiano do exercício do trabalho.
“Agora, as organizações começam a perceber que não existem empresas sustentáveis sem 
pessoas sustentáveis. Neste novo cenário, os departamentos de Recursos Humanos con-
quistam ainda mais espaço e enfrentam o desafio de se atualizar constantemente diante da 
necessidade de incorporar os valores da sustentabilidade na rotina da empresa e dos funcio-
nários. Esta necessidade criou o conceito de funcionário sustentável, que é comprometido 
com a cultura de responsabilidade ambiental da empresa e da sociedade. Muito valorizado 
atualmente, este profissional é adepto do chamado ‘gerenciamento verde’, ou seja, adota ati-
tudes simples para preservar o meio ambiente e evitar desperdícios, dentro e fora do trabalho”.
Fonte: https://msarh.com.br/blog/o-funcionario-sustentavel/. Acesso em: 11 jun. 2022.
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Ética e Cidadania
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