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Prévia do material em texto

JERRY BRIDGE3
M
D E L I S
MESMO QUANDO A VIDA NOS
GOLPEIA, AFLIGE E FERE
ia
Je rrç Bridges (1 9 2 9 -2 0 1 6 ) fez parte da e p ip e m inisterial da organização 
p ara -eclesiológ ica The Navigators. Foi o d i renom ado e scrito r e um 
palestrante munriialm eote conhecido.
Título original em Inglês: Trusting G od - Even W hen L ife Hurts 
Copyright © 1988, 2008 by Jerry Brigdes
This edition issued by contractual arrangement with NavPress, a division 
o f The Navigators, U.S. A. Originally published by NavPress in English as 
TRUSTING GOD, Copyright 1988 by Jerry Bridges. Ali rights reserved.
NavPress - P.O. Box 35001, Colorado Springs, CO 80935, USA.
Todos os direitos em Língua Portuguesa reservados. Nenhuma porção deste livro 
poderá ser reproduzida, armazenada em sistema de recuperação ou transmitida 
de qualquer forma - eletrônica, mecânica, fotocópia, gravação ou outras - sem 
permissão prévia de NUTRA Publicações Ltda., Rua Alfeu Tavares, 219, São 
Bernardo do Campo, SP, 09641-000, exceção feita a breves citações para fins de 
resenha ou comentário.
Coordenação Editorial: Jayro Malmegrin Cáceres 
Tradução: Enrico Pasquini
Revisão: Eros Pasquini Jr. e Rejane L. Martins da Quinta 
Capa: Anderson Alvarenga de Alcântara 
Projeto de miolo e composição: Jonatas Belan 
Coordenação de produção: Jayro Malmegrin Cáceres 
Impressão e acabamento: Imprensa da Fé
1* Edição - 2013 (Tiragem: 3000 exemplares)
Reimpressão - setembro de 2014 (Tiragem: 3000 exemplares)
Textos Bíblicos: Almeida Revista e Atualizada
As citações bíblicas contidas nesta obra são provenientes da versão João Ferreira de 
Almeida, ©1993 da Sociedade Bíblica do Brasil. Qualquer citação de outra versão 
será indicada.
D ad os In tern acio n ais de C ata lo g ação na P u b licação (C IP ) 
(Câm ara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Brigdes, Jerry
C onfiando em Deus m esm o quando a vida nos golpeia, aflige e fere / Jerry Brigdes; 
[tradução Eros Pasquini Jr. e Enrico Pasquini]. - 1. ed. - São Paulo: NUTRA 
Publicações, 2013.
Tilu lo original: Trusting god: even when life hurts.
ISBN 978-85-61867-16-4
1. Confiança em Deus 2. Providência divina - C ristianism o I. Titulo.
13-00979 C D D -231.4
Índ ices p ara catálogo sistem ático :
1. A tributos de Deus: D outrina cristã 231.4
2. Deus: Atributos: D outrina cristã 231.4v______________:_________________________________ J
São Paulo 
Ia Edição, 2013
Aos meus filhos, Kathy e Dan, 
que me trouxeram 
muita alegria como pai.
SUMÁRIO
Prefácio à Edição Brasileira 9 
Prefácio 13
1. Posso Confiar em Deus? 17
2. Será que Deus Está no Controle? 27
3. A Soberania de Deus 41
4. A Soberania de Deus Sobre as Pessoas 65
5. O Governo de Deus Sobre as Nações 89
6. O Poder de Deus Sobre a Natureza 111
7. A Soberania de Deus e a Nossa Responsabilidade 125
8. A Sabedoria de Deus 139
9. Conhecendo 0 Amor de Deus 161
10. Experimentando o Amor de Deus 177
11. Confiando em Deus Quanto a Quem Sou 191
12. Crescendo Através da Adversidade 209
13. Optando por Confiar em Deus 235
14. Sempre Dando Graças 251
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
Harmonizar a soberania e a providência de Deus com o so­
frimento humano tem sido uma tarefa desafiadora para os 
teólogos ao longo dos séculos. A dificuldade dessa harmonia 
para alguns está no fato de aceitar que Deus é Soberano. Um 
Deus Soberano tem o poder de evitar o sofrimento humano, 
afirmam. Uma maneira de resolver esse dilema é assumir que 
Deus, de fato, não é Soberano, considerando que os sofrimen­
tos acompanham a existência humana. Há um Deus que não 
é Soberano e que, ao se deparar com o sofrimento humano, 
nada pode fazer senão “juntar os cacos” do estrago que o so­
frimento produz no homem para, de alguma maneira, compor 
a Sua história e conduzir Seus planos.
A dificuldade, também, pode estar no fato de alguns acei­
tarem que Deus é sim Soberano, mas não é Bondoso. O que 
esses sustentam é que Deus tem o poder de fazer todas as coi­
sas como bem entende, mas que Seu caráter não é Bondoso o 
bastante para não permitir o mal. Como não harmonizam a 
Soberania e a Providência de Deus com o sofrimento humano, 
tais indivíduos atribuem a Deus uma falha em Seus atributos.
A verdade bíblica, entretanto, é que Deus é tanto Soberano 
quanto Bondoso. Davi fez a seguinte afirmação no SI 62:
Uma vez falou Deus, duas vezes ouvi isto: Que o poder per­
tence a Deus e a ti, Senhor, pertence a graça: pois a cada um 
retribuis segundo as suas obras (Sl 62.11,12).
Ao discorrer sobre a Soberania de Deus o mesmo Davi re­
gistra de maneira humilde seus limites: “Tal conhecimento é 
maravilhoso demais para mim: é sobremodo elevado, não o 
posso atingir” (Sl 139.6).
Confiando em Deus - Mesmo quando a Vida nos Golpeia, 
Aflige e Fere é um trabalho humilde e equilibrado de Jerry 
Bridges acerca da Soberania e Providência de Deus. O autor 
não se propõe a explicar o que o próprio Deus não disponibi­
lizou ao homem nem faz malabarismos teológicos para har­
monizar a Soberania e Bondade de Deus com o sofrimento 
humano. A mensagem do livro, do primeiro ao último capí­
tulo, será: “Confie em Deus”. O autor insistirá em que nós não 
precisamos entender os motivos pelos quais Deus permite o 
sofrimento, mas sim, confiar nEle.
É um livro estimulante e que nos encoraja a uma devoção 
ainda mais aperfeiçoada a um Deus que nunca perdeu o con­
trole da História como um todo nem da nossa história pessoal. 
Deus é o Soberano, o Deus que “faz todas as cousas conform e 
o conselho da sua vontade” (Ef 1.11), e que ao mesmo tempo 
nos ama e cuida amorosamente de nós (1 Pe 5.7). O profeta 
Jeremias ao escrever seu lamento sobre a destruição de Jeru­
salém exaltou o amor leal de Deus quando afirmou:
Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumi­
dos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se 
cada manhã; grande é a sua fidelidade! (Lm 3.22,23 NVI).
Nosso desejo é que este livro fortaleça ainda mais a sua con­
fiança no Deus que é ao mesmo tempo Soberano e Bondoso.
Nosso desejo também é que, em sua caminhada, mesmo quan­
do os dias maus chegarem, confiar em Deus seja não somente 
uma exigência ensinada, mas uma realidade em sua vida, uma 
escolha pessoal deliberada.
J a y r o M . C á c e r e s
Pastor da Igreja Batista Pedras Vivas 
Coordenador do NUTRA - Núcleo de Treinamento, 
Recursos e Aconselhamento Bíblico
PREFÁCIO
[1 uando eu tinha catorze anos de idade, minha mãe faleceu 
subitamente, sem qualquer aviso. Eu estava no quarto ao 
lado e corri a tempo de ver seu último suspiro. Fiquei deso­
rientado e me senti arrasado. Meu irmão mais velho estava 
estudando fora e meu pai também estava muito abatido para 
poder me ajudar. O pior de tudo, eu não sabia como me voltar 
para Deus nos momentos de crise. Eu me encontrava sozinho 
em minha adversidade.
Essa não foi a primeira vez que a adversidade havia atin­
gido minha vida e certamente não seria a última. Conforme 
diz a Bíblia: “Mas o homem nasce para o enfado, como as 
faíscas das brasas voam para cima” (Jó 5.7). Todos nós expe­
rimentamos a adversidade em momentos e graus diferentes 
ao longo da vida.
Aprender a confiar em Deus no momento da adversidade 
tem sido um processo longo e difícil para mim. Trata-se de um 
processo ainda em andamento. Há alguns anos, contudo, num 
esforço para fortalecer minha própria confiança em Deus, co­
mecei um extenso estudo bíblico sobre o assunto da soberania 
de Deus no tocante a Seu povo. Esse estudo me ajudou imen­
samente e o fruto dele é o que agora compartilho com você.
I)urante meu tempo de estudo, que cobriu um período de 
aproximadamente quatro anos, encontrei diversos cristãos
que lutavam com as mesmas questões que eu: Será que Deus 
controla as circunstâncias da nossa vida, ou será que coisas 
“ruins” acontecem simplesmente porque vivemos num mundo 
amaldiçoado pelo pecado? Se Deus realmente controla as cir­
cunstâncias da nossa vida, por que Ele permitiu que meu ami­
go tivesse câncer? Seráque posso realmente confiar em Deus 
quando as coisas pioram em diferentes áreas de minha vida?
Sendo assim, este livro nasceu do resultado de tratar das 
necessidades existentes em minha própria vida e de perceber 
que muitos outros cristãos possuem perguntas e dúvidas se­
melhantes. Ele foi escrito a partir da perspectiva de um irmão 
e companheiro para todo aquele que já se sentiu tentado a 
perguntar: “Posso realmente confiar em Deus?”
Confiando em Deus foi um livro difícil de escrever. Por 
um lado, tornei-me bem mais ciente da ampla ocorrência de 
adversidades ao meu redor. Eu não havia percebido de modo 
tão preciso quanto faço hoje a ampla natureza do sofrimen­
to e da dor, especialmente entre os cristãos. Como resultado 
dessa percepção mais ampliada do sofrimento ao meu redor, 
eu me surpreendi perguntando com frequência: “Será que eu 
realmente acredito naquilo que estou escrevendo?”.
Outra dificuldade para mim foi a percepção de que muitos 
dos meus amigos experimentaram adversidades bem maiores 
que as minhas. Quem sou eu para procurar escrever ensina­
mentos de instrução e encorajamento a outros que passaram 
por situações muito mais difíceis do que as que eu passei? Mi­
nha resposta a essa pergunta é a percepção de que a verdade 
da Palavra de Deus e o encorajamento que ela é capaz de dar 
não dependem da minha experiência. Não escrevi este livro 
sobre as minhas experiências, que não são nada incomuns. 
Escrevi este livro como um estudo bíblico sobre Deus e Sua 
soberania, sabedoria e amor, e como esses três elementos afe­
tam toda adversidade que enfrentamos.
Confiando em Deus foi escrito para o cristão comum que 
não experimentou, necessariamente, alguma grande catástrofe, 
mas que passa frequentemente por adversidades e tristezas co­
muns da vida: um aborto espontâneo, a perda de um emprego, 
um acidente automobilístico, um filho ou uma filha rebelde ou 
um professor injusto na faculdade. Tais eventos não se tornam 
“a primeira página” da nossa vida; aliás, eles se encontram nor­
malmente enterrados dentro de um coração ferido e confuso. 
Por serem mais comuns, normalmente redundam em pouco 
apoio de oração de nossos amigos cristãos.
Espero de coração que nenhuma das afirmações que faço 
nos capítulos a seguir possam parecer respostas superficiais e 
fáceis para os difíceis problemas da adversidade e do sofrimen­
to. Não existe resposta fácil. A adversidade é difícil até mesmo 
quando sabemos que Deus está no controle das circunstâncias 
da nossa vida. Na realidade, por vezes essa consciência acaba 
até agravando a dor. Perguntamos: “Se Deus está no controle, 
por que Ele permitiu que isso acontecesse?”
O propósito deste livro, portanto, é duplo: Em primeiro 
lugar, desejo glorificar a Deus reconhecendo Sua soberania e 
Sua bondade. Em segundo lugar, desejo encorajar o povo de 
Deus ao demonstrar, a partir das Escrituras, que Deus está 
no controle da nossa vida, que Ele realmente nos ama e que 
Ele opera em toda circunstância da nossa vida para o nosso 
supremo bem.
O leitor perceberá uma variedade de citações de outros 
escritores. Este livro, a despeito1 disso, não é meramente a 
síntese do ponto de vista de terceiros. As convicções básicas 
declaradas nestes capítulos são o resultado do meu estudo bí­
blico pessoal, feito ao longo de anos. Entretanto, devo creditar 
aos escritores citados a minha dívida de gratidão pela palavra 
de ânimo e, em alguns casos, pelo esclarecimento da minha 
compreensão acerca de algumas dessas verdades.
Desejo expressar minha apreciação a uma série de pes­
soas que contribuíram para a composição desta obra. A Don 
Simpson, meu amigo e editor, que me encorajou, me ajudou, e 
por vezes questionou minhas conclusões à medida que traba­
lhávamos juntos nestes capítulos. Ao D r.}. I. Packer que con­
cordou graciosamente em revisar alguns dos capítulos-chave 
para verificar a precisão teológica; embora ele não deva ser 
responsabilizado pelo resultado final. A Jessie Halsell, que fi­
cou responsável pela importante e necessária tarefa de trans­
formar meus manuscritos em texto digitado. Quero agradecer 
em especial a Grace Peterson, uma “santa senhora”, por sua 
colaboração em oração. Embora uma série de amigos tenha 
orado por mim durante os onze meses de composição, Grace 
esteve sempre disponível quando sentia a necessidade de uma 
força extra em oração por causa de um obstáculo difícil. Por 
fim, gostaria de prestar uma homenagem à minha primeira 
esposa, Eleanor, que se encontra agora com o Senhor, que ex­
perimentou uma imensa adversidade, enquanto eu escrevia 
este livro, por seu amor e pelos sacrifícios que ela fez para me 
permitir tempo para estudar e para escrever.
C A P Í T U L O UM
POSSO CONFIAR EM DEUS?
lnvoca-mt no dia da angústia; 
eu te livrarei, e tu meglorijicarás. 
Sl 50.15
A carta não trouxe notícias boas. Uma parente próxima, muito 
querida para mim, havia acabado de descobrir que estava 
com câncer nos ossos. Células malignas de uma luta com um 
câncer anterior haviam ficado inativas durante oito anos antes 
de invadirem a parte óssea de seu corpo. Um quadril já estava 
praticamente destruído; o médico estava impressionado com 
o fato de ela ainda conseguir andar. Incidentes assim são mui­
to comuns nos dias de hoje. Na realidade, enquanto escrevia 
este capítulo, tive sete amigos, todos com câncer, adicionados 
à minha lista de “oração urgente”.
Porém o câncer e outras enfermidades físicas não são, ob­
viamente, nossa única fonte de ansiedade. Durante um almoço, 
algumas semanas atrás, um amigo empresário confidenciou 
que sua empresa está à beira da falência; outro amigo tem 
sofrido por causa de um adolescente espiritualmente rebelde. 
A verdade é que todos nós experimentamos a adversidade em 
suas mais variadas formas e em momentos diferentes. Um livro
que se tornou best-seller, escrito por um psiquiatra secular, co­
meça de forma muito apropriada: “A vida é difícil”.
A adversidade e a dor emocional que lhe acompanha apa­
recem de inúmeras maneiras. Pode ser a angústia de um casa­
mento infeliz, o desapontamento de um aborto espontâneo ou 
a tristeza gerada por um filho espiritualmente indiferente ou 
rebelde. Há a ansiedade do provedor do lar que acaba de per­
der seu emprego e o desespero de uma jovem mãe que acaba 
de descobrir que está com uma doença terminal.
Outros experimentam a dor de esperanças frustradas ou de 
sonhos que não se realizaram: um negócio que deu errado ou 
uma carreira que jamais decolou. Outros ainda experimentam 
o ferroada da injustiça, o prolongado e inexplicável sofrer da 
solidão, a dor aguda de uma dificuldade inesperada. Existe a hu­
milhação da rejeição por parte dos outros, de um rebaixamento 
de posto no trabalho e, a pior de todas, a do fracasso por culpa 
própria. Por fim, há o desespero de perceber que algumas cir­
cunstâncias difíceis, como a doença física de alguém próximo ou 
até a incapacitação física severa de um filho, jamais mudarão.
Todas essas circunstâncias e outras tantas acentuam ainda 
mais a ansiedade e a dor emocional que enfrentamos em várias 
situações e em diferentes níveis. Algumas dores são repentinas, 
traumáticas e devastadoras. Outras são crônicas, persistentes 
e aparentemente projetadas para exaurir nosso espírito com 
o passar do tempo.
Além de nossas próprias dores emocionais, somos normal­
mente chamados para ajudar a carregar a dor dos outros, quer 
sejam amigos ou parentes. Nenhuma das ilustrações que usei 
nos parágrafos anteriores é imaginária. Eu poderia acrescen­
tar os nomes ao lado de cada uma delas. A maioria está na 
minha lista de oração pessoal. Quando amigos e pessoas que 
amamos sofrem, nós sofremos.
Numa proporção maior, lemos diariamente nos jornais ou
assistimos nos telejornais exemplos de dor e de sofrimento em 
grande escala. Guerra, terrorismo, terremotos, fome, injusti­
ça racial, assassinato e exploração acontecem diariamente no 
mundo inteiro. A ameaça de um holocausto nuclear que paira 
sobre nossas cabeçastem feito este momento da história ser 
conhecido como a era da ansiedade. Em dias assim, em que 
grandes crises aparecem diariamente na tela de nossa televisão, 
até mesmo o cristão é tentado a perguntar: “Onde está Deus? 
Será que Ele não Se preocupa com os milhares de famintos na 
África ou com os civis inocentes que estão sendo brutalmen­
te assassinados nos vários conflitos de países destroçados por 
guerras ao redor do mundo?”.
Numa proporção muito menor, aqueles cujas vidas estão 
livres das dores mais intensas ainda participam dos eventos 
frequentemente frustrantes ou geradores de ansiedade de nos­
so cotidiano, eventos que momentaneamente prendem nos­
sa atenção e roubam nossa paz de espírito. Uma tão sonha­
da viagem de férias é cancelada por causa de uma doença, a 
máquina de lavar roupa quebra bem no dia que você recebe 
hóspedes, suas anotações da faculdade somem um dia antes 
da prova final, você rasga seu vestido favorito a caminho da 
igreja e assim por diante. Os exemplos dessa magnitude são 
muitos. A vida está repleta deles.
É verdade que tais eventos corriqueiros são apenas tempo­
rários e perdem sua cor e revelam sua insignificância quando 
contrastados aos eventos verdadeiramente trágicos da vida. 
Ainda assim, para a maioria, a vida é cheia de eventos desse 
tipo, pequenas frustrações, pequenas ansiedades, pequenos 
desapontamentos que nos tentam a expressar o nosso descon­
tentamento, ira e preocupação. No livro devocional chamado 
Se Deus Me Ama, Por Que Não Consigo Abrir Meu Armário?',
1. N.T.: refere-se ao armário de cada aluno na escola, onde os alunos norte-americanos
guardam seus pertences.
certo autor captou precisamente a forma como essas peque­
nas frustrações são capazes de nos fazer duvidar de Deus. Po­
demos até sorrir ao pensarmos na cena que o título nos faz 
imaginar, mas o fato é que esse é o nível de adversidade no 
qual muitos de nós vivemos diariamente. É na provação desse 
nível menor de adversidade que somos tentados a perguntar: 
“Posso confiar em Deus?”.
Mesmo quando a vida parece estar caminhando na direção 
certa e nosso rumo parece agradável e tranqüilo, não sabemos 
o que o futuro nos reserva. Conforme disse Salomão: “não 
sabes o que trará à luz [o dia de amanhã]” (Pv 27.1). Certa 
pessoa descreveu a vida como se tivesse uma cortina espessa 
em seu caminho, cortina que recua à medida que avançamos, 
mas apenas um passo de cada vez. Nenhum de nós é capaz de 
dizer o que existe atrás da cortina; nenhum de nós é capaz de 
dizer que eventos um único dia ou hora pode trazer à nossa 
vida. Por vezes, essa cortina revela eventos que já esperávamos; 
na maioria das vezes, apresenta-nos eventos inesperados e in- 
desejados. Esses eventos se desenrolam contrariando nossos 
desejos e expectativas, quase sempre enchem nosso coração 
de ansiedade, frustração, tristeza e dor.
O povo de Deus não está imune a esse tipo de dor. Aliás, 
parece que a dor do cristão muitas vezes é mais severa, mais 
freqüente, mais inexplicável £ mais profundamente sentida 
que a do incrédulo. O problema da dor é tão antigo e univer­
sal quanto a história humana. Paulo nos diz que até mesmo 
a criação está sujeita à frustração e geme com dores de parto 
(Rm 8.20-22).
Por isso, a pergunta surge naturalmente: “Onde está Deus 
em tudo isso?” Podemos realmente confiar em Deus quan­
do a adversidade nos atinge e preenche nossa vida com dor? 
Será que Ele realmente vem resgatar aquele que O busca? Será 
que Ele, conforme o Salmo no início do capítulo afirma, livra
aquele que O invoca no dia da angústia? Será que o amor in­
falível do Senhor cerca a pessoa que nEle confia (Sl 32.10)?
Posso confiar em Deus? Antes de tentar responder, repare 
que a pergunta possui dois possíveis significados. Primeiro, eu 
posso confiar em Deus? Em outras palavras, Ele é confiável 
no momento da adversidade? Porém o segundo significado 
também é crucial: Eu posso confiar em Deus? Será que eu 
possuo um relacionamento tal com Deus e tal confiança nEle 
a ponto de crer que Ele está comigo em minha adversidade, 
embora eu não enxergue qualquer evidência da Sua presença 
e de Seu poder?
Não é fácil confiar em Deus nos momentos de adversidade. 
Ninguém gosta de dor, e quando ela surge, queremos nos ver 
livres dela o quanto antes. Até mesmo o apóstolo Paulo supli­
cou a Deus três vezes para que removesse o espinho em sua 
carne antes de finalmente descobrir que a graça de Deus lhe 
era suficiente. José implorou ao copeiro do Faraó “me faças 
sair desta casa” (Gn 40.14). O escritor de Hebreus afirma com 
toda transparência: “Toda disciplina, com efeito, no momento 
não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza” (Hb 12.11).
Enquanto escrevia este capítulo experimentei um momento 
de adversidade em que tive dificuldade de confiar em Deus. 
No meu caso foi uma doença física que agravou uma enfermi­
dade crônica. Surgiu num momento bastante inconveniente 
e durante várias semanas não respondeu adequadamente ao 
tratamento médico que tentamos.
Ao longo daquelas semanas, enquanto orava continuamente 
a Deus pedindo alívio, fui lembrado das palavras de Salomão:
Atenta para as obras de Deus, 
pois quem poderá endireitar 
o que ele torceu?
(Ec 7.13)
Deus trouxe um evento “torcido” à minha vida, e fiquei 
completamente consciente de que só Ele seria capaz de endi­
reitá-lo. Poderia eu confiar em Deus quer Ele endireitasse ou 
não aquilo que estava “torcido” e aliviasse meu sofrimento? 
Eu realmente cria num Deus que me amava, sabia o que era 
melhor para mim e que estava no controle da minha situação? 
Será que eu poderia confiar nEle mesmo sem entender?
Além do mais, eu poderia encorajar os outros a confiar 
nEle quando estivessem nas dores de parto de seu sofrimen­
to emocional? Será que toda a ideia de confiar em Deus em 
meio à adversidade é meramente um jargão cristão que não 
consegue resistir aos eventos difíceis da vida? Posso realmente 
confiar em Deus?
Eu me identifico com aqueles que têm dificuldade de con­
fiar em Deus em meio à adversidade. Já passei por isso o su­
ficiente para conhecer um pouco da dor, do desespero e das 
trevas que enchem nossa alma quando nos perguntamos se 
Deus realmente Se importa com o nosso problema. Inves­
ti boa parte da minha vida adulta encorajando as pessoas a 
buscarem a santidade e a obedecerem a Deus. Ainda assim, 
reconheço que normalmente parece ser mais difícil confiar em 
Deus do que obedecer a Ele. A vontade moral de Deus apre­
sentada na Bíblia é racional e razoável. As circunstâncias nas 
quais precisamos confiar em Deus normalmente aparentam 
ser irracionais e inexplicáveis. Reconhecemos prontamente 
que a lei de Deus é algo bom ]5ara nós, mesmo quando não 
desejamos obedecê-la. As circunstâncias de nossa vida, com 
frequência, parecem ser assustadoras e duras, ou até mesmo 
calamitosas e trágicas. A obediência a Deus acontece den­
tro de limites muito bem definidos da vontade revelada de 
Deus. A confiança em Deus transcorre numa arena que não 
conhece limites. Desconhecemos o tamanho, a duração ou a 
frequência das circunstâncias dolorosas e adversas nas quais
precisamos repetidamente confiar em Deus. Estamos sempre 
lidando com o desconhecido.
Todavia, é tão importante confiar em Deus quanto obedecer 
a Ele. Quando desobedecemos a Deus, desafiamos Sua auto­
ridade e desprezamos Sua santidade. Porém quando não con­
fiamos em Deus, duvidamos de Sua soberania e questionamos 
Sua bondade. Em ambos os casos, lançamos dúvidas sobre a 
majestade e o caráter de Deus. Deus enxerga nossa descon­
fiança com a mesma seriedade com que olha para a nossa de­
sobediência. Quando o povo de Israel estava faminto “Falaram 
contra Deus, dizendo: Pode, acaso, Deus preparar-nos mesa 
no deserto?... Pode ele dar-nos pão também? Ou fornecer car­
ne para o seu povo?” Os dois versículos seguintes nos dizem: 
“Ouvindo isto, o S e n h o r ficou indignado... porque não creram 
em Deus, nem confiaram na sua salvação” (Sl 78.19-22).
Para confiarmos em Deus, precisamossempre enxergar 
nossas circunstâncias adversas por meio da lente da fé, e não 
do que sentimos. Assim como a fé para a salvação vem atra­
vés do ouvir a mensagem do evangelho (Rm 10.17), a fé para 
confiar em Deus na adversidade vem somente através da Pa­
lavra de Deus. É apenas nas Escrituras que encontramos uma 
visão adequada do relacionamento de Deus com e o Seu en­
volvimento em nossas circunstâncias dolorosas. É apenas a 
partir da Bíblia, aplicada ao nosso coração pelo Espírito San­
to, que recebemos a graça para confiar em Deus durante a 
adversidade.
Na arena da adversidade, as Escrituras nos ensinam três 
verdades essenciais sobre Deus; verdades que precisamos crer 
se desejamos confiar nEle em meio à adversidade. São elas:
• Deus é completamente soberano.
• Deus é infinito em sabedoria.
• Deus é perfeito em amor.
Certa pessoa expressou essas três verdades e como elas se 
relacionam conosco da seguinte maneira: “Deus, em Seu amor, 
sempre deseja o que é melhor para nós. Em Sua sabedoria, 
Ele sempre sabe o que é melhor, e em Sua soberania Ele tem 
o poder de fazer isso acontecer”.
A soberania de Deus é declarada, explícita ou implicitamen­
te, em praticamente todas as páginas da Bíblia. Enquanto fazia 
meu estudo bíblico me preparando para escrever este livro, 
jamais senti ter concluído plenamente a compilação dos versí­
culos que tratam da soberania de Deus. Novas referências a ela 
continuavam aparecendo praticamente toda vez que eu abria 
a minha Bíblia. Examinaremos muitas dessas passagens nos 
próximos capítulos, mas por agora, considere apenas esta:
Quem é aquele que diz, e assim acontece, 
quando o Senhor o não mande?
Acaso, não procede do Altíssimo 
tanto o mal como o bem ?
(Lm 3.37,38)
Essa passagem bíblica choca muita gente. Elas acham difícil 
aceitar que tanto o mal quanto o bem vêm de Deus. É comum 
as pessoas perguntarem: “Se Deus é um Deus de amor, como 
Ele pode permitir uma calamidade?” Porém o próprio Senhor 
Jesus afirmou a soberania de Deus na calamidade quando Pi- 
latos perguntou a Ele: “Não sabes que tenho autoridade para 
te soltar e autoridade para te cri*cificar?” Respondeu Jesus: 
“Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse 
dada” (Jo 19.10,11). Jesus reconheceu o controle soberano de 
Deus sobre Sua vida.
Pelo fato do sacrifício do Filho de Deus por nossos pecados 
ser um ato de amor tão surpreendente para conosco, temos 
a tendência de ignorar que o sacrifício foi, para Jesus, uma
experiência excruciante bem além do que somos capazes de 
imaginar. Para Cristo, em Sua humanidade, foi uma calami­
dade tão grande que Ele orou: “Meu Pai, se possível, passe de 
mim este cálice” (Mt 26.39), mas Ele não hesitou em Sua afir­
mação acerca do controle soberano de Deus.
Em vez de ficar chocado com a afirmação bíblica da sobera­
nia de Deus ser tanto para o bem quanto para a calamidade, o 
cristão deveria ser consolado por ela. Qualquer que seja nossa 
calamidade ou adversidade particular, podemos ter a certeza 
de que nosso Pai possui um propósito amoroso nela. Como 
disse o rei Ezequias: “Eis que foi para minha paz que tive eu 
grande amargura” (Is 38.17). Deus não exercita Sua soberania 
de maneira caprichosa, mas apenas de uma maneira que Seu 
amor infinito julga ser melhor para nós. Jeremias escreveu:
Pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão 
segundo a grandeza das suas misericórdias; 
porque não aflige, nem entristece de bom grado 
os filhos dos homens.
(Lm 3.32,33)
A soberania de Deus também é exercida em infinita sabe­
doria, muito além da nossa capacidade de compreensão. Após 
Paulo avaliar o lidar soberano, mas inescrutável de Deus com
o Seu próprio povo, os judeus, o apóstolo se prostra diante do 
mistério das ações de Deus com as seguintes palavras:
Ó profundidade da riqueza,
tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos, 
e quão inescrutáveis, os seus caminhos!
(Rm 11.33)
Paulo reconheceu o que nós precisamos reconhecer se 
quisermos confiar em Deus. O plano de Deus e Sua manei­
ra de executar Seu plano estão normalmente além da nossa 
capacidade de compreensão e entendimento. Precisamos 
aprender a confiar quando não entendemos.
Nos capítulos seguintes, exploraremos mais a fundo estas 
três verdades: a soberania, o amor e a sabedoria de Deus. Po­
rém o propósito primeiro deste livro não é explorar essas ver­
dades maravilhosas. O propósito principal é nos tornarmos 
tão convictos dessas verdades que nos apropriaremos delas 
em nossas situações diárias, de forma que aprenderemos a 
confiar em Deus em meio ao nosso sofrimento, seja ele qual 
for. Não faz diferença se nossa dor é corriqueira ou traumá­
tica, temporária ou interminável. Independente da natureza 
de nossas circunstâncias, precisamos aprender a confiar em 
Deus se desejamos glorificá-Lo através delas.
Eis um pensamento final antes de começarmos nossos 
estudos a respeito da soberania, do amor e da sabedoria de 
Deus. Para que confiemos em Deus, precisamos conhecê-Lo 
de maneira íntim í e pessoal. Davi disse no Sl 9.10: “Em ti, pois, 
confiam os que conhecem o teu nome, porque tu, S e n h o r , 
não desamparas os que te buscam”. Conhecer o nome de Deus 
é conhecê-Lo de maneira íntima e pessoal. É mais do que sim­
plesmente conhecer fatos a respeito de Deus. É envolver-se 
em um relacionamento pessoal mais profundo com Ele, como 
resultado de buscá-Lo em meio ao sofrimento pessoal e desco­
brir que Ele é digno de confiança. Somente quando conhecer­
mos a Deus dessa maneira pessoal é que seremos capazes de 
confiar nEle. Enquanto você lê, estuda os capítulos seguintes 
e relaciona aquilo que aprende sobre Deus às suas próprias 
situações, ore pedindo ao Espírito Santo que capacite você a 
ir além dos fatos sobre Deus, para assim conhecê-Lo melhor, 
e então ser capaz de confiar nEle de maneira mais completa.
C A P Í T U L O 0015
SERÁ QUE DEUS ESTÁ NO CONTROLE?
[Deus]... bendito e único Soberano, o Rei dos reis 
e Senhor dos senhores.
1 Tm 6.15
E m 1981, um best-seller amplamente aclamado empolgou 
a nação norte-americana. Nas críticas literárias o livro do 
Rabino Harold Kushner, Quando Coisas Ruins Acontecem às 
Pessoas Boas, foi descrito como tocante, reconfortante, sábio 
e compassivo, um livro que a humanidade inteira precisa ler. 
No livro, que se constituiu uma tentativa de obter sentido para 
uma tragédia em sua própria família, o Rabino Kushner con­
clui que o autor do livro de Jó é “forçado a escolher entre um 
Deus bom que não é de todo onipotente ou um Deus podero­
so que não é totalmente bom, o autor do livro de Jó opta por 
acreditar na bondade de Deus”1. Na visão do Rabino Kushner 
do ensinamento de Jó, “Deus deseja que os justos vivam vidas 
tranqüilas e felizes, porém às vezes nem Ele mesmo consegue 
que isto se realize. Ê muito difícil até para Deus evitar que a 
crueldade e o caos recaiam sobre vítimas inocentes”2.
1. Kushner, Harold S., Quando Coisas Ruins Acontecem às Pessoas Boas. Edilora 
Nobel. São Paulo, SP, 1988, p. 47,48.
2. Kushner, Harold S., ibid., p. 48.
É claro que o Rabino Kushner não está sozinho em sua ne­
gação do controle soberano de Deus sobre os eventos de nossa 
vida. O cristão, assim como o não cristão, fala do infortúnio, 
dos acidentes, das circunstâncias que estão além do nosso con­
trole (e supostamente do controle de Deus), das coisas simples­
mente acontecendo por acaso. Ao longo dos séculos, doença, 
sofrimento e dor sempre levantaram questionamentos sobre o 
controle de Deus e o Seu cuidado com a Sua criação.
A hipótese implícita na mente de muitos é: Se Deus é tanto 
poderoso quanto bom, por que existe tanto sofrimento, tanta 
dor e tanto pesar no mundo? Ou Deus é bom, mas não é to­
talmente poderoso, ou Ele é poderoso, mas não é totalmente 
bom. É impossível ter as duas coisas juntas.
A PROVIDÊNCIA DE DEUS
A Bíblia nos ensina que as duas coisas caminham juntas, sim. 
Deus é soberano (todo-poderoso), e Ele é bom. O ensinamen­
to bíblicosobre o assunto está na categoria que os teólogos 
chamam de providência de Deus. A providência de Deus é 
um termo que normalmente usamos no debate cristão para 
reconhecer a aparente intervenção divina em nossos assuntos. 
Por exemplo, ao dar meu testemunho pessoal, normalmente 
digo algo assim: “Quando entendi que não poderia viver a 
vida cristã na Marinha sozinho, Deus, em Sua providência, 
me colocou em contato com Os Navegadores3”. Ao fazer tal 
afirmação, eu quis dizer que Deus tanto controlou quanto ar­
quitetou certas circunstâncias da minha vida que um resulta­
do específico estava fadado a acontecer, neste caso, entrar em 
contato com Os Navegadores.
3. N.R.: Os Navegadores é um ministério internacional e interdenominacional, que tra­
balha com discipulado. Foi fundado nos Estados Unidos em 1933.
Entretanto, há duas coisas erradas com essa forma de se 
referir à providência de Deus. Por um lado, sempre usamos a 
expressão “providência de Deus” conectada a eventos aparen­
temente “bons”. Entrar em contato com Os Navegadores foi 
um evento bom para mim, de forma que tenho muita alegria 
em atribuir esse evento à providência de Deus. Porém difi­
cilmente ouviremos alguém dizendo: “Pela providência de 
Deus, sofri um acidente e fiquei paraplégico”. Assim como o 
Rabino Kushner, relutamos em atribuir coisas “ruins” à mão 
interventora de Deus.
O segundo problema com o uso popular da expressão 
“providência de Deus” é que, ou de maneira inconsciente ou 
deliberada, concluímos que Deus intervém em momentos 
específicos de nossas vidas, mas que na maior parte do tem­
po permanece quase como um mero espectador interessado. 
Quando pensamos assim, mesmo que de maneira inconscien­
te, reduzimos o controle de Deus sobre nossas vidas a uma 
proposta de soberania que se restringe a uma intervenção oca­
sional e fugaz. Nossa atitude inconsciente é que, no restante 
do tempo, somos “mestres de nosso destino”, ou ao contrário 
somos vítimas de circunstâncias infelizes, ou de pessoas más 
que cruzam o nosso caminho.
Historicamente, entretanto, a igreja sempre entendeu a pro­
vidência de Deus como referência ao Seu cuidado e domínio 
sobre toda a Sua criação o tempo todo. O conhecido teólogo 
J. I. Packer define providência da seguinte forma: “Atividade 
incessante do Criador por meio da qual, através de extre­
ma generosidade e boa vontade, Ele sustenta Suas criaturas 
numa existência ordenada, guia e governa todos os eventos, 
circunstâncias e atos livres dos anjos e dos homens, e dire­
ciona tudo para seu alvo designado, para Sua própria glória”4.
4. Packer,). I., “Providence”, The New Bible Dictionarv. Londres, InterVarsity, 1962, pp.
1050-1051.
Observe os termos absolutos usados por Packer: “atividade 
incessante”, “todos os eventos... [todos] os atos”, “direciona 
tudo”. Claramente aqui não existe o conceito de um domínio 
parcial ou ocasional por parte de Deus nessa definição.
A definição de Packer sobre a providência de Deus é muito 
completa e, creio eu, bastante precisa de acordo com a Bíblia. 
Para o meu próprio bem desenvolvi uma definição levemente 
mais curta, que sou capaz de memorizar: Providência de Deus 
é o Seu cuidado constante e Seu domínio absoluto sobre toda 
a Sua criação, para a Sua própria glória e o bem do Seu povo. 
Novamente, observe os termos absolutos: cuidado constante, 
domínio absoluto, toda a criação. Nada, nem mesmo o menor 
dos vírus, foge ao cuidado e ao controle de Deus.
Entretanto, observe também o objetivo duplo da providên­
cia de Deus: Sua própria glória e o bem do Seu povo. Esses 
dois objetivos jamais são contrários; eles estão sempre em har­
monia entre si. Deus jamais busca a Sua glória à custa do bem 
do Seu povo, nem busca o nosso bem à custa de Sua glória. 
Ele projetou Seu propósito eterno de forma que a Sua glória 
e o nosso bem estejam inseparavelmente unidos. Que grande 
consolo e encorajamento isso deve trazer a nós. Se nós vamos 
aprender a confiar em Deus na adversidade, precisamos crer 
que assim como a vontade de Deus jamais permitirá que algo 
subverta Sua glória, Ele também jamais permitirá que algo ar­
ruine o bem que Ele está realizando em nós e para nós.
No primeiro capítulo fiz a seguinte pergunta: “Posso con­
fiar em Deus?” e observei que o primeiro significado da per­
gunta é: “Será que Deus é digno de confiança?” Deus sempre 
é capaz de cuidar de nós (Ele é soberano), e sempre cuida de 
nós (Ele é bom)? A doutrina da providência de Deus afirma 
claramente que podemos confiar em Deus. Ele sempre cuida 
de nós e controla continuamente, não apenas de forma oca­
sional, todas as questões da nossa vida.
Para compreendermos melhor e nos beneficiarmos do en­
sinamento bíblico sobre a providência de Deus, precisamos 
considerar também outro aspecto da providência: a ação sus- 
tentadora de Deus ao manter e preservar a Sua criação.
DEUS SUSTENTA
A Bíblia ensina que Deus não somente criou o universo, mas 
que Ele o sustenta e preserva diariamente, a cada momento. 
A Bíblia diz: “Sustentando todas as coisas pela palavra do seu 
poder” (Hb 1.3), e “nEle, tudo subsiste” (Cl 1.17). Conforme 
disse o teólogo A. H. Strong:
Cristo é o originador e sustentador do universo... nEle 
tudo mantém a existência, permanece coeso, o tempo todo. 
A vontade constante de Cristo constitui a lei do universo 
e faz dele um cosmos em lugar de um caos, tal qual a Sua 
vontade trouxe tudo à existência no princípio5.
Todas as coisas devem sua existência à ação sustentado- 
ra contínua de Deus, exercida por meio de Seu Filho. Nada 
existe por causa de seu próprio e inerente poder de ser. Nada, 
em toda a criação, permanece ou age independentemente da 
vontade do Senhor. As chamadas leis da natureza nada mais 
são que a expressão física da vontade constante de Cristo. A lei 
da gravidade funciona com certeza incessante porque Cristo 
assim deseja que ela funcione. A cadeira na qual estou senta­
do enquanto escrevo estas palavras se mantém firme porque 
os átomos e moléculas na madeira se mantêm juntos pela 
vontade ativa dEle.
5. Strong, A . H„ c ita d o p o r Dallas Willard, In Search ofGuidance. Regai B o o k s , Ventura, 
C A , 1 9 8 4 , p. 91.
As estrelas continuam em sua trajetória porque Ele as man­
tém ali. A Bíblia diz que Deus:
Aquele que fa z sair o seu exército 
de estrelas,... as quais ele chama pelo nome; 
por ser ele grande em força e forte em poder, 
nem uma só vem a faltar.
(Is 40.26)
A ação sustentadora de Deus por meio de Cristo vai além 
da criação inanimada. A Bíblia diz que Ele dá vida a todas as 
coisas (Ne 9.6):
prepara a chuva para a terra, 
fa z brotar nos montes a erva 
e d á o alimento aos animais 
e aos filhos dos corvos, quando clamam.
(Sl 147.8,9)
Deus não cria simplesmente e então vai embora. Ele sus­
tenta constantemente essa criação que criou.
Mais adiante, a Bíblia ensina que Deus sustenta a você e a 
mim: “... pois ele mesmo* é quem a todos dá vida, respiração 
e tudo mais... pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos” 
(At 17.25,28). Ele fornece nosso alimento diário (2 Co 9.10). 
Os nossos dias estão em Suas mãos (Sl 31.15). Todo ar que 
respiramos é um dom de Deus, cada porção de comida que 
comemos nos é dada por Sua mão, todo dia que vivemos é 
determinado por Ele. Ele não nos deixou à mercê de nossos 
próprios recursos ou entregues aos caprichos da natureza ou 
aos atos malévolos dos outros. Não! Ele sustenta, provê e cuida 
de nós constantemente, em cada momento do nosso dia. Seu 
carro quebrou quando você menos poderia pagar o conserto?
Você perdeu uma reunião importante porque o avião no qual 
você deveria voar estava com problemas mecânicos? O Deus 
que controla as estrelas em suas trajetórias também contro­
la os detalhes práticos e tudo relacionado ao seu carro ou ao 
avião no qual você deveria voar.
Tive um caso complicado de sarampo quando criança. O 
vírus aparentemente permaneceu em meus olhos e em meu 
ouvido direito, deixando-me com a visão monocular e surdo 
de um ouvido. Deus estavano controle daquele vírus, ou eu 
simplesmente fui vítima de uma doença infantil ocasional? O 
constante sustentar de Seu universo e tudo que nele contém 
não me deixa outra opção senão aceitar que o vírus estava, 
de fato, sob Sua mão controladora. Deus não estava olhan­
do para o outro lado quando o vírus entrou nas terminações 
nervosas do meu ouvido e nos músculos dos meus olhos. Se 
nós vamos confiar em Deus, precisamos aprender a enxergar 
que Ele está trabalhando continuamente em todo aspecto e 
em cada momento de nossa vida.
DEUS GOVERNA
A Bíblia também ensina que Deus governa o universo, não 
apenas a criação inanimada, mas também as ações de todas as 
criaturas, tanto do homem quanto dos animais. Ele é chamado 
de Aquele que “domina sobre tudo” (1 Cr 29.12), o “bendito 
e único Soberano” (1 Tm 6.15), Aquele cuja vontade impe­
de que o pardal caia no chão (Mt 10.29). Jeremias pergunta: 
“Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o 
não mande?” (Lm 3.37). O livro de Daniel diz: “o Altíssimo 
tem domínio sobre o reino dos homens; e o dá a quem quer” 
(Dn 4.17) e:
...segundo a sua vontade,
ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; 
não há quem lhe possa deter a mão, 
nem lhe dizer: Que fazes?
(Dn 4.35)
Ninguém é capaz de agir fora da vontade soberana de Deus 
ou contra ela. Séculos atrás, Agostinho disse: “Portanto, nada 
acontece a menos que o desejo do Onipotente permita: ou Ele 
permite que aconteça, ou Ele mesmo faz acontecer”6. Philip 
Hughes disse: “Entretanto, sob Deus todas as coisas estão, sem 
exceção, completamente controladas; mesmo que pareça o 
contrário”7. Nada é grande ou pequeno demais para fugir à 
mão governante de Deus. A aranha construindo sua teia no 
canto da parede e Napoleão marchando com seu exército pela 
Europa estão ambos sob o controle de Deus.
Assim como o governo de Deus é invencível, ele também 
é incompreensível. Seus caminhos são mais altos que os nos­
sos (Is 55.9). Seus juízos são insondáveis, e Seus caminhos são 
inescrutáveis (Rm 11.33). A soberania de Deus é normalmente 
questionada porque o homem não entende o que Deus está 
fazendo. Uma vez que Deus não age como achamos que Ele 
deveria agir, concluímos que Ele é incapaz de agir como acha­
mos que Ele deveria agir. «
DEUS OU 0 ACASO?
Portanto, essa é a providência divina: Deus sustentando e go­
vernando Seu universo, conduzindo todos os eventos para um
6. Agostinho citado em John Blanchard, Gathered Gnld. Evangelical Press, Welwyn, 
Inglaterra, 1984, p. 332.
7. Hughes, Philip E., Hope for a Despairing World■ Baker, Grand Rapids, MI, 1977, pp. 40-41.
fim designado. Essa doutrina, entretanto, raramente é aceita 
pelas pessoas de hoje. O não cristão, em sua maioria, excluiu 
tanto o ato criador de Deus quanto a Sua providência. Para 
ele, todos os eventos se encontram nas mãos do destino ou 
do acaso.
Essa visão surge com naturalidade, mesmo que casualmen­
te, num livro sobre como lidar com crises. O autor diz: “Você 
deveria considerar e planejar para a inevitabilidade de uma 
crise... motivado pela força que vem do fato de saber que está 
preparado para encarar a vida e para jogar com as cartas que 
o destino lhe entregar... O destino me presenteou com cartas 
interessantes no começo de 1979”8.
No livro do Rabino Kushner, Quando Coisas Ruins Acon­
tecem às Pessoas Boas, o autor pergunta: “Será que somos 
capazes de aceitar a ideia de que há fatos que surgem sem 
qualquer razão, de que no universo existem circunstâncias 
fortuitas?” Falando sobre a direção que uma queimada toma 
numa floresta, ele pergunta: “Mas qual a explicação racional 
para a combinação entre o vento e o tempo, em determinado 
dia, no sentido de dirigir o fogo da mata contra certas casas 
em vez de outras, encurralando uns e poupando outros mo­
radores? Ou é apenas uma questão de pura sorte?”9
Em outro ponto, o Rabino Kushner nos lembra de que as 
companhias de seguro classificam terremotos, furacões, tor­
nados e outros desastres naturais como “atos de Deus”. Então 
ele diz: “Eu acho que este é um dos casos em que se usa o 
nome de Deus em vão. Não acredito que um terremoto que, 
sem razão, faz milhares de vítimas inocentes seja um ato de 
Deus. É um ato da natureza. A natureza é moralmente cega, 
sem valores. Ela vai em frente, seguindo suas próprias leis,
8. Fink, Steven, Crisis Management: Platinitt? for the Inevitable, American
Management Association, New York, 1986, pp. 1-2.
9. Kushner, Harold S., opus cit., p. 52.
pouco se importando com quem ou com o quê encontra no 
seu caminho”10.
Aleatoriedade, sorte, acaso, destino. Eis a resposta do ho­
mem moderno para a pergunta antiga: “Por quê?” É claro 
que se o conceito de Deus é descartado, como muitos fazem, 
então não existe qualquer alternativa. Muitos, enquanto não 
eliminam o conceito de Deus, fabricaram um “Deus” a partir 
de sua própria especulação. O deísmo do século 17 construiu 
um Deus que criou o universo e o deixou funcionando de 
acordo com suas leis naturais e artifícios humanos. Muitas 
pessoas hoje são deístas na prática.
Até mesmo os cristãos de hoje pensam como deístas. Mui­
tos aceitam o conceito de que Deus é soberano, mas acredi­
tam que Ele escolheu não exercer Sua soberania nas questões 
diárias de nossa vida. Conforme escreveu certa autora: “Sa­
bemos que Deus é soberano, mas também sabemos que, em 
Sua soberania, Deus nos colocou num mundo de pecado e 
sofrimento do qual não temos qualquer imunidade”, e no­
vamente, “O amor de Deus... por nós, não nos coloca numa 
posição protegida”11. Apesar de concordar com a tese básica 
do artigo dela, de que não deveríamos perguntar por quê, fico 
incomodado com o que compreendo ela parece estar dizendo 
sobre o exercício que Deus faz de Sua soberania e acerca de 
Seu cuidado para com o Seu povo.
Em sua afirmação bastante conhecida sobre os pardais, 
Jesus disse: “Não se vendem dois pardais por um asse? E ne­
nhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai... 
Não temais, pois! Bem mais vaieis vós do que muitos pardais” 
(Mt 10.29,31). De acordo com Jesus, Deus exerce Sua sobera­
nia a todo o momento, até mesmo sobre a vida e a morte de
10. Kushner, Harold S., ibid., p. 64.
11. Mickelson, Alvera, "Whv Did God Let It H appení”. Christianity Today, Março, 1984, 
pp. 22-24.
um pardal quase sem valor. O que Jesus queria comunicar era: 
Se Deus exerce Sua soberania com relação aos pardais, Ele 
certamente a exercerá com relação aos Seus filhos. Embora 
seja certo que o amor de Deus não nos protege da dor e do 
sofrimento, também é verdade que todas as ocasiões de dor 
e sofrimento estão debaixo do controle absoluto de Deus. Se 
Deus controla as circunstâncias do pardal, quanto mais Ele 
controla as situações que nos afetam? Deus não sai de cena 
nos deixando à mercê de eventos aleatórios descontrolados 
ou do acaso.
Um marido cristão voou num avião particular para outra 
cidade a fim de dar seu testemunho em um encontro evan- 
gelístico, levando seu filho com ele. Na volta para casa, eles 
atravessaram uma tempestade elétrica que fez com que o 
avião caísse. Pai e filho morreram. Um amigo cristão, na ten­
tativa de confortar a esposa e mãe enlutada disse: “De uma 
coisa você pode ter certeza: Deus não teve nada a ver com o 
acidente”. De acordo com esse amigo, Deus aparentemente 
estava olhando em outra direção quando o piloto entrou em 
apuros. Um pardal é incapaz de cair no chão sem o consen­
timento do Pai, mas, aparentemente, um avião com cristãos 
dentro é capaz.
Li uma afirmação blasfema de certa pessoa que disse: “Aca­
so é o pseudônimo que Deus usa quando Ele prefere não assi­
nar Seu nome”. Muitos cristãos estão agindo assim com Deus 
hoje. Normalmente não dispostos a aceitar o fato de que Deus 
está operando por não entenderem como Ele está operando, 
optam por substituir a doutrina da providência divina pela 
doutrina do acaso.
BOM , M AS NÃO SOBERANO
Juntamente com a doutrina do acaso, muitos cristãos estão 
crendo também na filosofiaexposta pelo Rabino Kushner de 
que Deus é bom, mas não é soberano. Por exemplo, uma es­
critora cristã fala de sua dor como sendo algo completamente 
frustrante para Deus e agradece a Ele por ser o seu Pai celestial 
devoto, cuidadoso e frustrado. Diante do dilema de como um 
Pai soberano e amoroso poderia permitir que ela experimen­
tasse uma dor agonizante como aquela, ela encontrou alívio 
ao crer que Deus realmente Se frustrava com a dor dela, der­
ramando lágrimas com ela, assim como uma mãe chora pelo 
sofrimento de um filho.
Procurando ser justo com tal escritora, ela sofreu dores ex- 
cruciantes durante meses. Como alguém que sofreu dores me­
nos severas, durante apenas algumas vezes, percebo que não 
passei pelo que ela passou, não precisei lutar no nível que ela 
lutou com o amor de Deus em meio à dor insuportável. Porém, 
conforme tem sido reiteradamente observado, precisamos fir­
mar nossas crenças na Bíblia, e não em nossas experiências. A 
Bíblia nos deixa sem qualquer dúvida: Deus jamais é frustra­
do. “Não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: ‘Que 
fazes?’” (Dn 4.35). É verdade que Deus está envolvido numa 
batalha invisível com Satanás e que as vidas dos filhos de Deus 
normalmente são os campos de batalha, conforme a vida de 
Jó exemplifica bem. Porém até mesmo Satanás precisa de per­
missão para tocar no povo de Deus (Jó 1.12; 2.6; Lc 22.31,32). 
Mesmo nessa batalha invisível, Deus continua soberano.
A autora Margaret Clarkson, alguém que sofreu durante 
toda a sua vida, disse: “Que Deus é, de fato, tanto bom quanto 
poderoso é um dos princípios básicos da crença cristã”12. Nor­
12. Clarkson, Margaret, Destined for Glorv. Eerdmans, Grand Rapids, MI, 1983, p. 6.
malmente admitimos ser incapazes de conciliar a soberania 
e a bondade de Deus diante de uma tragédia comum ou de 
uma adversidade pessoal, mas cremos que, embora geralmen­
te não entendamos os caminhos de Deus, Ele está operando 
soberanamente em todas as circunstâncias.
Não é fácil crer na doutrina da providência de Deus, es­
pecialmente naqueles dias quando parece que a doutrina se 
depara com momentos difíceis. Conforme disse o professor 
G. C. Berkouwer em seu livro The Providence o f God (A Pro­
vidência de Deus):
A dura realidade ataca esta confissão confortadora e otimis­
ta. Será que os terrores catastróficos do nosso século, junta­
mente com os sofrimentos desproporcionais que infligem 
aos indivíduos, famílias e pessoas, poderiam ser um reflexo 
da orientação de Deus? Será que a honestidade pura não 
nos força a parar de buscar fugas num mundo escondido, 
harmonioso e hipersensível? Será que a honestidade nos 
diz para nos limitarmos realisticamente ao que está dian­
te de nossos olhos e, sem qualquer ilusão, encararmos os 
problemas daquele dia?13
Todas as pessoas, tanto crentes como descrentes, passam por 
ansiedade, frustração, tristeza e desapontamento. Alguns so­
frem dores físicas intensas e tragédias catastróficas. Porém aqui­
lo que deve distinguir o sofrimento dos crentes do sofrimento 
dos descrentes é a confiança de que nosso sofrimento está sob 
o controle de um Deus todo-poderoso e totalmente amoroso; 
nosso sofrimento tem significado e propósito no plano eter­
no de Deus, e Ele traz ou permite que aconteça em nossa vida 
apenas aquilo que é para a Sua glória e para o nosso bem.
13. Berkouwer, G. C., The Providence o f God, Eerdmans, Grand Rapids, MI, 1983, p. 23.
C A P Í T U L O T R Ê S
A SOBERANIA DE DEUS
O S e n h o r frustra os desígnios das nações 
e anula os íntentos dos povos.
O conselho do S e n h o r dura para sempre; 
os desígnios do seu coração, por todas as gerações. 
Sl 33.10,11
na
00:
N o ano de 1902, um garoto inglês chegou para o café da ma­
nhã e encontrou seu pai lendo o jornal, que trazia as notícias 
sobre os preparativos para a primeira coroação na Inglaterra 
em sessenta e quatro anos. No meio do café o marido se virou 
para a esposa e disse: “Que pena que isso tenha sido escrito 
desta maneira”. Ela respondeu: “O que foi?” e ele respondeu: 
“é pena porque eis aqui uma proclamação que, numa data es­
pecífica, o Príncipe Edward será coroado rei em Westminster 
e não há um Deo volente, um se Deus permitir”. As palavras 
atingiram em cheio a mente do garoto, pois a verdadeira razão 
para marcar aquela data era que o futuro Edward VII estava 
doente, com apendicite, e a coroação teve de ser adiada1.
Nessa época, ao final do reinado da Rainha Vitória, os 
poderes político, econômico e militar do Império Britânico
1. Murray, I. H .77ie Life ofArthur W. Pink. Banner of Truth, Edinburgh, 1981, p. 4.
estavam em seu apogeu. Ainda assim, apesar de todo seu po­
derio, a Grã-Bretanha não pôde realizar a coroação planejada 
na data designada.
Será que a omissão do “se Deus permitir” da proclamação 
e o adiamento subsequente da coroação foram meramente 
uma coincidência, ou os dois eventos não tiveram qualquer 
relação entre si? Ou será que Deus fez com que o Príncipe 
Edward tivesse apendicite para demonstrar que Ele estava “no 
controle”? Não sabemos por que a situação ocorreu daquela 
maneira. Entretanto, sabemos de uma coisa: quer reconhe­
çamos com um Deo volente ou não, nós somos incapazes de 
executar qualquer plano senão pela vontade de Deus. A Bíblia 
não deixa qualquer dúvida sobre essa questão. Tiago diz isso 
claramente na passagem a seguir:
Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para 
a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e te­
remos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que 
é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por 
instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o 
Senhor quiser, não só viveremos, como também farem os isto 
ou aquilo (Tg 4.13-15, ênfase acrescentada).
0 CONTROLE ABSOLUTO DE DEUS
%
Deus está no controle; Ele é soberano. Ele faz o que quiser e 
determina se podemos fazer conforme planejamos. Essa é a 
essência da soberania de Deus: Sua completa independên­
cia para fazer o que quiser e Seu controle absoluto sobre as 
ações de todas as Suas criaturas. Nenhuma criatura, pessoa 
ou império é capaz de atrapalhar Sua vontade ou agir fora 
dos limites dela.
No capítulo 1 afirmei que, para que confiemos em Deus 
em meio à adversidade, precisamos crer na soberania, no 
amor e na sabedoria dEle. Dessas três verdades, a soberania 
de Deus parece ser a que é questionada com maior frequência 
e de maneira mais dura. Parece que permitiremos que Deus 
esteja em qualquer lugar exceto em Seu trono, governando 
Seu universo, conforme Lhe agrada e de acordo com a Sua 
vontade soberana.
Até mesmo escritores cristãos piedosos cujos livros são 
úteis para muitas pessoas são capazes, em seus escritos, de 
remover Deus do Seu trono. Uma das afirmações mais co­
muns é que Deus Se limitou voluntariamente às ações do ho­
mem para dar a ele liberdade. Por exemplo, Andrew Murray 
escreveu: “Ao criar o homem com um livre arbítrio e torná-lo 
companheiro no governo da terra, Deus Se limitou. Ele Se 
fez dependente do que o homem faria. O homem, através da 
sua oração, direcionaria o que Deus poderia fazer para lhe 
abençoar”2 (ênfase acrescentada).
Outros escritores cristãos fracassam em reconhecer a mão 
controladora de Deus em todos os eventos da nossa vida, seja 
conduzindo ou permitindo. Por exemplo: um escritor fala 
do sofrimento que sobrevêm por causa de um azar ou de um 
acidente, das coisas “simplesmente acontecendo” e a dor vin­
do em nossa direção, “por causa de circunstâncias que estão 
além do nosso controle”.
Nossa resposta para afirmações como essas são mais que 
um simples debate teológico. A confiança na soberania de 
Deus em tudo que nos afeta é crucial para confiarmos nEle. 
Se existe um único evento em todo o universo que é capaz de 
acontecer fora do controle soberano de Deus, então não podemos 
confiar nEle. Seu amor pode até ser infinito, mas se Seu poder
2. Murray, Andrew, F.verv-Dav with Andrew Murray. citado em Christianity Today,
06/03/1987,p. 41.
é limitado e Seu propósito pode ser frustrado, não podemos 
confiar nEle. Você pode confiar a mim seus bens mais pre­
ciosos. Posso amar você e meu alvo de honrar sua confiança 
pode ser sincero, mas se eu não tiver o poder ou habilidade de 
proteger seus pertences, você não pode confiá-los a mim.
Entretanto, Paulo disse que podemos confiar nossos mais 
valiosos bens ao Senhor. Em 2 Tm 1.12, ele declarou: “E, por 
isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, 
porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é po­
deroso para guardar o meu depósito até aquele Dia” (ênfase 
acrescentada). Alguém diz: “Mas Paulo está se referindo à vida 
eterna. Sem dúvida, podemos confiar nosso destino eterno a 
Deus, mas e quanto aos nossos problemas nesta vida? Eles me 
fazem considerar sobre a soberania de Deus”.
Porém, para nós deveria estar evidente que a soberania de 
Deus não começa no momento da morte. Conforme veremos 
num capítulo adiante, Seu direcionamento soberano em nos­
sa vida acontece até mesmo antes do nosso nascimento. Deus 
com certeza governa tanto na terra quanto no céu. Ele permi­
te, por razões conhecidas apenas por Ele, que as pessoas ajam 
contra e desafiando a Sua vontade revelada. Contudo Ele ja ­
mais permite que elas ajam contra a Sua vontade soberana.
Reforçando o que acabo de dizer, que Deus jamais permite 
que as pessoas ajam contra a Sua vontade soberana, considere 
as seguintes passagens das Escrituras:
O coração do homem traça o seu caminho;
mas o Senhor lhe dirige os passos.
(Pv 16.9)
Muitos propósitos há no coração do homem;
mas o desígnio do Senhor permanecerá.
(Pv 19.21)
Não há sabedoria, nem inteligência, 
nem mesmo conselho contra o Sen h o r .
(Pv 21.30)
Atenta para as obras de Deus,
pois quem poderá endireitar o que ele torceu?
(Ec 7.13)
Quem é aquele que diz, e assim acontece, 
quando o Senhor o não m ande?
(Lm 3.37)
Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, 
não só viveremos, 
como também farem os isto ou aquilo.
(Tg 4.15)
Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve:
Estas coisas diz o santo, o verdadeiro, 
aquele que tem a chave de Davi, 
que abre, e ninguém fechará, 
e que fecha, e ninguém abrirá.
(Ap 3.7)
Nós fazemos planos, mas esses planos só poderão acontecer 
quando forem compatíveis com o propósito de Deus. Nenhum 
plano é capaz de prevalecer contra Ele. Ninguém é capaz de 
endireitar aquilo que Ele fez torto ou entortar aquilo que Ele 
fez reto. Nenhum imperador, rei, supervisor, professor ou téc­
nico é capaz de falar e fazer acontecer se o Senhor não tiver 
primeiro decretado, fazendo isso acontecer ou permitido que 
aconteça. Ninguém pode dizer: “Farei isto ou aquilo”, e ser bem 
sucedido nisso se não for da vontade soberana de Deus.
Que tremendo encorajamento, que grande incentivo para 
confiarmos em Deus esse aspecto da soberania de Deus deve 
ser para nós. Existe alguém “querendo pegar você”? Tal pessoa 
é totalmente incapaz de executar seu plano malévolo a me­
nos que Deus o tenha decretado. Conversei com um capelão 
militar que teve um confronto com um capelão mais velho 
a respeito de um ato ilegal que este se propôs a fazer. Como 
resultado, o capelão mais velho escreveu uma carta bastante 
ácida ao supervisor de capelania que comprometeu seriamente 
a carreira do meu amigo. O meu amigo foi meramente vítima 
de um ataque cruel de vingança? Não de acordo com o que a 
Bíblia diz. O capelão ímpio pode escrever centenas de cartas, 
mas ele é completamente incapaz de por fim à carreira militar 
do meu amigo a menos que Deus permita. Se Deus permitir, 
é porque a ação ímpia faz parte do plano de Deus para ele. 
Ninguém é capaz de falar ou fazer acontecer se o Senhor não 
o tiver decretado (Lm 3.37).
A experiência do meu amigo não é rara. Milhares de cris­
tãos experimentaram injustiças semelhantes nas mãos de pro­
fessores, técnicos esportivos, colegas de trabalho e supervi­
sores. Talvez você também seja uma dessas pessoas. Quando 
esses eventos acontecem, sempre machucam. Não podemos 
dispensá-los com uma expressão superficial: “Deus está no 
controle”. Deus está no controle, mas em Seu controle Ele 
nos permite experimentar a dor. A dor é bem real. Nós fica­
mos machucados, sofremos. Porém, em meio ao nosso sofri­
mento, precisamos crer que Deus está no controle e que Ele 
é soberano.
Novamente conforme disse a autora Margaret Clarkson de 
maneira tão bela:
A soberania de Deus é a rocha inabalável na qual o cora­
ção humano sofrido precisa se agarrar. As circunstâncias
que nos rodeiam não são acidentes: elas podem ser obras 
malignas, mas elas estão firmemente dentro da poderosa 
mão do nosso Deus soberano... Todo mal está sujeito a Ele, 
e o mal é incapaz de tocar os Seus filhos a menos que Ele 
permita. Deus é o Senhor da história humana e da história 
pessoal de cada membro de Sua família redimida3.
Da mesma maneira que os atos perversos deliberados de 
outros estão sob o controle soberano de Deus, assim estão 
também os erros e falhas de outras pessoas. Um motorista 
passou no sinal vermelho, acertou o seu carro e fez você ir 
parar no hospital com fraturas múltiplas? Um médico falhou 
em detectar seu câncer nos estágios iniciais, quando ele ainda 
seria tratável? Você acabou pegando um professor incompe­
tente numa matéria extremamente importante na faculdade, 
ou um supervisor incapaz que atrapalhou sua carreira profis­
sional? Todas essas circunstâncias estão sob a mão controla­
dora do nosso Deus soberano, que está operando-as em nossa 
vida para o nosso bem.
Nem as ações perversas intencionais nem os erros não 
intencionais das pessoas conseguem atrapalhar o propósito 
de Deus para nós. “Não há sabedoria, nem inteligência, nem 
mesmo conselho contra o S e n h o r ” (P v 21.30). O governador 
romano Félix deixou Paulo na prisão por mais de dois anos. 
Félix cometeu um ato completamente injusto, porque deseja­
va favorecer os judeus (At 24.27). José foi deixado na prisão 
durante dois anos, pois o copeiro do Faraó se esqueceu dele 
(Gn 40.14, 23; 41.1). Esses dois homens piedosos foram deixa­
dos na prisão definhando, um por uma injustiça deliberada 
e o outro por um esquecimento indesculpável, mas ambas as
3. Clarkson, Margaret, Grace Grows Best iti Wititer, Eerdmans, Grand Rapids, MI, 
1984, pp. 40,41.
situações de aflição estavam sob o controle soberano de um 
Deus infinitamente sábio e amoroso.
Nada é pequeno ou trivial demais para escapar da atenção 
do controle soberano de Deus; nada é grande demais para es­
tar além de Seu poder divino de controlá-lo. O pardal insig­
nificante é incapaz de cair no chão sem que Deus o permita; 
o poderoso império romano seria incapaz de crucificar a Je­
sus Cristo a menos que fosse dado por Deus poder para isso 
(Mt 10.29; Jo 19.10,11). Aquilo que é verdade em relação ao par­
dal e a Jesus, é verdade em relação a você e a mim. Nenhum 
detalhe da sua vida é insignificante demais para a atenção do 
Pai celestial; nenhuma circunstância é grande demais a ponto 
dEle não ser capaz de controlá-la.
Num espaço de dois dias recebi notícias de situações trági­
cas na vida de dois amigos meus. A esposa de um deles morreu 
instantaneamente quando seu carro aparentemente apagou so­
bre os trilhos do trem numa passagem de nível quando o trem 
estava vindo em sua direção. Meu outro amigo é motorista de 
caminhão autônomo, lutando para sobreviver em seu negócio. 
Numa viagem recente, seu caminhão quebrou e precisou de 
consertos caros. O custo do reparo eliminou completamente 
o lucro que ganharia com aquela entrega.
Obviamente, as conseqüências desses dois eventos não po­
dem ser comparadas. O batalhador motorista de caminhão 
concordaria que nenhuma quantia de dinheiro perdida se 
compararia à perda de uma esposa preciosa. Contudo o que 
dizer a esses homens, cada qual lutando com seu conjunto 
singular de circunstâncias, sobre a soberania de Deus? Pode­
mos simplesmente dizer para um deles que foi um “trágico 
acidente” e para o outro que foi “faltade sorte”?
Será que somos realmente deixados à mercê de carros que 
apagam, de caminhões que quebram, de pessoas que estão em 
posição para nos ferir e que tem a intenção de fazê-lo? Não!
Mil vezes não! Nós estamos nas mãos de um Deus soberano 
que controla cada circunstância da nossa vida e que Se alegra 
em nos fazer o bem (Jr 32.41).
A SOBERANIA DE DEUS NEM SEMPRE É EVIDENTE
Um dos nossos problemas com a soberania de Deus é que 
frequentemente não parece que Deus está no controle das 
circunstâncias de nossas vidas. Vemos pessoas injustas, não 
amorosas ou até claramente perversas fazendo coisas que nos 
atingem diretamente. Experimentamos as conseqüências dos 
erros e falhas dos outros. Nós mesmos fazemos coisas tolas e 
pecaminosas e sofremos com frequência as amargas conse­
qüências de nossas ações. É difícil enxergar Deus trabalhando 
por meio de causas secundárias e seres humanos frágeis e pe­
caminosos. Porém, é exatamente a capacidade divina de orga­
nizar as inúmeras ações humanas para cumprir Seu propósito 
que torna a soberania de Deus maravilhosa e misteriosa. Ne­
nhum cristão que acredita na Bíblia tem qualquer dificuldade 
em crer que Deus pode fazer e fez milagres, exemplos de Sua 
intervenção soberana, mas direta nas questões referentes aos 
Seus filhos. Seja qual for a nossa posição teológica em relação 
aos milagres que ocorrem hoje, todos nós aceitamos sem ques­
tionar a validade dos milagres registrados na Bíblia. Todavia, 
crer na soberania de Deus quando não enxergamos Sua inter­
venção direta, quando Deus está, por assim dizer, trabalhando 
completamente nos bastidores através de circunstâncias co­
muns e de ações normais das pessoas, é ainda mais importante 
porque essa é forma mais comum de Deus operar.
Alexander Carson, um escritor do século xix, em seu li­
vro Confidence in God in Times o f Danger, declara: “A sabe­
doria do homem é incapaz de enxergar como a providência
de Deus é capaz de ordenar as ações humanas de maneira a 
cumprir Seu propósito sem qualquer milagre”4. Por exemplo: 
certa escritora, comentando sobre um acidente no qual seu 
carro foi atingido por outro que havia passado o sinal ver­
melho supôs que para Deus protegê-la, Ele deveria ter feito 
com que o carro que passou o sinal subitamente criasse asas 
para assim voar por cima do carro dela sem atingi-la. O que 
está implícito nessa afirmação é que Deus é repentinamente 
confrontado com uma crise na vida de um de Seus filhos e 
não possui qualquer recurso a não ser realizar um milagre ou 
deixar que aquela crise aconteça.
Deus permitiu que aquela crise acontecesse na vida dela, 
mas não porque era incapaz de evitá-la. Em Sua soberania, Ele 
poderia ter alterado o momento da chegada do outro moto­
rista naquele cruzamento, ou mesmo desviado um deles por 
outro caminho se Ele assim quisesse. Nenhum de nós percebe 
tais eventos em nossas próprias vidas (quem sabe centenas de­
les) nos quais fomos, sem nem ao menos saber, poupados da 
adversidade ou da tragédia através da invisível mão soberana 
de Deus. Conforme disse o salmista:
Ele não permitirá que os teus pés vacilem; 
não dormitará aquele que te guarda.
É certo que não dormita, 
nem dorme o guarda de Israel.
{Sl 121.3-4)
Sem sombra de dúvida, um dos motivos pelos quais o li­
vro de Ester é incluído no cânon bíblico é para nos ajudar a 
enxergar a mão soberana de Deus operando nos bastidores, 
cuidando do Seu povo. Uma das coisas mais espantosas sobre
4. Carson, Alexander, Cnnfidence in Gnd in Times ofDan^er Reiner, Swengel, PA, 1975, 
p. 25.
o livro é que o nome de Deus sequer é mencionado. Todavia, 
o leitor observador enxerga a mão de Deus em cada circuns­
tância, trazendo livramento para Seu povo, da mesma maneira 
que Ele, séculos antes, livrou o Seu povo do Egito, por meio de 
poderosos milagres. Deus estava agindo soberanamente atra­
vés de circunstâncias comuns na época de Ester, assim como 
Ele operou por meio de milagres na época de Moisés.
O clímax do livro de Ester é o capítulo 6. Antes dos even­
tos daquela noite registrados nesse capítulo, a vida de todos 
os judeus, em todo o Império Persa do rei Assuero, corria 
perigo devido a um plano diabólico de um homem perverso, 
Hamã, que havia sido recentemente elevado a uma posição 
de destaque entre os nobres no reino. Porém, no capítulo 6, 
os eventos começam a mudar, chegando, por fim, à queda 
e morte do perverso Hamã, à salvação física dos judeus e à 
promoção de Mordecai (o herói da história) para a segunda 
posição mais elevada no reino.
Uma vez que a série de eventos registrados em Ester capí­
tulo 6 revela a maneira notável como Deus usa soberanamen­
te as circunstâncias mais comuns para realizar Seu propósito, 
olharemos para tais circunstâncias mais detalhadamente.
Naquela noite fatídica, o rei Assuero não conseguia dor­
mir, então ele ordenou que o livro das crônicas do seu reinado 
fosse trazido e lido para ele. Durante a leitura, ele descobriu 
que Mordecai, que corria o risco de ser enforcado na manhã 
seguinte, havia numa ocasião anterior delatado uma conspi­
ração para assassinar o rei. O rei perguntou que recompensa 
havia sido dada a Mordecai e descobriu que nada havia sido 
feito. Então, naquele mesmo instante, o rei resolveu honrar 
Mordecai e, acabou que o próprio homem que estava determi­
nado a enforcá-lo, acabou executando a ordem real de honrar 
publicamente a Mordecai.
Considere o que precisou acontecer para salvar Mordecai
da forca. Por que o rei não conseguiu dormir naquela noite 
fatídica? Por que, então, ele escolheu a leitura tediosa dos fa­
tos, em lugar de uma música suave que lhe ajudasse a dormir? 
Quando o livro das crônicas de seu reino foi lido, por que o 
leitor leu exatamente o trecho específico onde estavam re­
gistradas as ações de Mordecai? Qual era a probabilidade do 
leitor ter escolhido outra porção dos anais do império Persa 
para ler?
O rei ouviu sobre os serviços prestados por Mordecai e 
perguntou como ele havia sido recompensado. Por que o rei 
não recompensou Mordecai no momento em que ele salvou 
a vida do rei? Por que resolveu fazer algo a respeito repenti­
namente? Por que o perverso Hamã apareceu naquele mo­
mento para pedir permissão ao rei para enforcar Mordecai? 
Por qual motivo Assuero perguntou a Hamã o que deveria 
ser feito para honrar o homem de forma a ocultar o objeto 
de seu favor, fazendo Hamã pensar que ele era a pessoa que 
seria honrada?5
A resposta para todas essas perguntas é que Deus estava 
orquestrando soberanamente os eventos daquela noite para 
salvar o Seu povo. Entretanto, a pergunta natural surge: “Será 
que Deus sempre orquestra os eventos da minha vida para o 
meu bem?” Se considerarmos que o desdobramento inco- 
mum dos eventos em Ester se deve à mão soberana de Deus, 
podemos logicamente concluir que Deus sempre orquestra os 
eventos da nossa vida para cumprir Seu propósito? De acordo 
com Rm 8.28, a resposta é um “sim” convicto. O versículo diz: 
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles 
que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu 
propósito” (ênfase acrescentada). Esta é a segurança de que 
Deus trabalha em todos os eventos da nossa vida que fornece
5. Reconheço minha dívida a Alexander Carson e seu livro Confidence in God in Time
ofD anper por algumas ideias nesta análise do capítulo 6 de Ester.
sentido à exortação de Paulo: “Em tudo, dai graças” (1 Ts 5.18, 
ênfase acrescentada). Como poderíamos dar graças a Deus 
por todas as circunstâncias de nossas vidas se Ele não estivesse 
operando nelas para o nosso bem?
DEUS AGE CONFORM E LHE AGRADA
Sendo assim, ninguém é capaz de agir e nenhuma circunstân­
cia pode acontecer fora dos limites da vontade soberana de 
Deus. Porém, esse é apenas um lado da Sua soberania. O outro 
lado, que é tão importante quanto o nosso confiar nEle, é que 
nenhum plano de Deus pode ser frustrado. Deus age conforme 
Lhe agrada, somente coforme Lhe agrada e ninguém é capaz 
de frustrar Seus planos ou atrapalhar Seuspropósitos.
Novamente, visto que esse conceito é difícil de aceitar e 
normalmente é questionado, será útil considerar uma série 
de passagens da Bíblia sobre o assunto.
Bem sei que tudo podes, 
e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.
(Jó 42.2)
No céu está o nosso Deus 
e tudo fa z como lhe agrada.
(Sl 115.3)
Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; 
quem, pois, o invalidará?
A sua mão está estendida; 
quem, pois, a fa rá voltar atrás?
(Is 14.27)
Ainda antes que houvesse dia, eu era; 
e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; 
agindo eu, quem o impedirá?
(Is 43.13)
[Eu sou Deus] que desde o princípio anuncio 
o que há de acontecer 
e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; 
que digo: “o meu conselho permanecerá de pé, 
farei toda a minha vontade".
(Is 46.10)
Todos os moradores da terra
são por ele reputados em nada;
e, segundo a sua vontade,
ele opera com o exército do céu
e os moradores da terra;
não há quem lhe possa deter a mão,
nem lhe dizer: “Que fazes?"
(Dn 4.35)
nEle, digo, no qual fom os também feitos herança, 
predestinados segundo o propósito daquele que fa z todas 
as coisas conforme o conselho da sua vontade.
(E fl.l l)
Nenhum plano de Deus pode ser frustrado; quando Ele 
age, ninguém é capaz de impedir; ninguém é capaz de segu­
rar a Sua mão e fazer com que Ele preste conta por Suas ações. 
Deus age conforme Lhe agrada, somente conforme Lhe agra­
da, e opera em todos os eventos para realizar a Sua vontade. 
Uma afirmação tão desprovida de explicações e tão limitada 
como essa da soberania de Deus certamente nos assustaria
se fosse somente isso que soubéssemos a Seu respeito. No 
entanto, Deus não é apenas soberano, Ele é perfeito em amor 
e infinito em sabedoria.
Conforme vimos no capítulo anterior, o Rabino Kushner 
relacionou um tipo de soberania limitada à natureza. Ele disse: 
“A natureza é moralmente cega, sem valores. Ela vai em frente, 
seguindo suas próprias leis, pouco se importando com quem 
ou com o quê encontra no seu caminho”. Entretanto, Deus Se 
importa. Deus exerce Sua soberania para a Sua glória e para 
o bem do Seu povo.
Contudo, como esse aspecto da soberania de Deus (especi­
ficamente, Deus age conforme Lhe agrada) está relacionado à 
nossa confiança nEle? Por que essa afirmação é mais que algo 
meramente abstrato sobre Deus a ser discutido pelos teólo­
gos, mais que uma afirmação que tem pouca relevância para 
a nossa vida cotidiana?
A resposta é que Deus tem um propósito e um plano para 
você, e Deus tem o poder para executar esse plano. Uma coisa 
é saber que nenhuma pessoa ou circunstância foge do con­
trole soberano de Deus; outra coisa é perceber que nenhuma 
pessoa ou circunstância é capaz de frustrar o plano de Deus 
para a nossa vida.
Deus possui um plano abrangente para todo crente: nos 
conformar à imagem de Seu Filho, Jesus Cristo (Rm 8.29). Ele 
também possui um propósito específico para cada um de nós 
que é o Seu plano específico, feito sob medida para a nossa 
vida pessoal (Ef 2.10). Deus cumprirá esse propósito. Como 
diz o Sl 138.8: “O que a mim me concerne o S e n h o r levará a 
bom termo”. Por sabermos que Deus direciona nossa vida para 
um fim específico e porque sabemos que Ele é soberanamente 
capaz de orquestrar os eventos de nossa vida de acordo com 
esse fim, podemos confiar nEle. Podemos entregar a Ele não 
apenas o resultado final de nossa vida, mas também todos
os eventos e circunstâncias intermediários que nos levarão 
àquele resultado.
Mais uma vez afirmo que é difícil apreciarmos a realida­
de de Deus agindo soberanamente conforme Lhe agrada na 
nossa vida, pois não enxergamos Deus fazendo coisa alguma. 
Pelo contrário, vemos a nós mesmos e outros agindo e os 
eventos acontecendo, e avaliamos nossas ações e eventos de 
acordo com nossas preferências e nossos planos. Nós nos ve­
mos influenciando ou quem sabe até controlando, ou sendo 
controlados pelas ações dos outros, mas não enxergamos Deus 
agindo. Acima de todas as ações e eventos de nossa vida, Deus 
está no controle agindo conforme Lhe agrada - não distante 
dos eventos, ou apesar deles, mas através deles. Os irmãos de 
José o venderam como escravo, um ato perverso em si, mas 
no tempo devido, José reconheceu que Deus estava agindo 
através das ações de seus irmãos. Ele pôde dizer aos irmãos: 
“Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus” 
(Gn 45.8). José reconheceu a mão de Deus em sua vida diri­
gindo soberanamente todos os eventos para promover o plano 
de Deus em sua vida.
Pode ser que jamais tenhamos o privilégio em vida de ver 
o desfecho óbvio do plano de Deus para nós, como José teve. 
Apesar disso, o plano de Deus para a nossa vida não é menos 
firme e o desfecho não é menos preciso que o plano de Deus 
para José foi. Deus não nos forneceu a história de José simples­
mente para nos informar, mas sim para nos encorajar. “Pois 
tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, 
a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, 
tenhamos esperança” (Rm 15.4, ênfase acrescentada). O que 
Deus fez com José, fará conosco. Para conseguirmos extrair 
consolo e novas forças dessa verdade fornecida por Deus, pre­
cisamos aprender a confiar nEle. Precisamos aprender a viver, 
como disse Paulo: “por fé, e não pelo que vemos” (2 Co 5.7).
A passagem bíblica de Jr 29.11 tem sido ao longo dos anos 
uma das mais significativas para mim: “Eu é que sei que pen­
samentos tenho a vosso respeito, diz o S e n h o r ; pensamentos 
de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais”’. Embo­
ra essas palavras tenham sido direcionadas à nação de Judá 
em seu cativeiro, elas expressam um princípio sobre Deus, 
princípio reiterado ao longo de toda a Bíblia: Deus possui 
um plano para você. Pelo fato de Ele ter um plano para você, 
e porque ninguém é capaz de frustrar esse plano dEle, você 
também pode ter esperança e coragem. Você, também, pode 
confiar em Deus.
A partir do nosso ponto de vista limitado, nossa vida é 
marcada por uma série interminável de contingências. Nor­
malmente nos pegamos, em vez de agir conforme planejamos, 
reagindo a uma mudança inesperada de eventos. Fazemos 
planos, mas normalmente somos forçados a alterá-los. No 
entanto, para Deus não há contingências. Nossa mudança 
de planos inesperada e forçada é parte do plano de Deus. Ele 
jamais é surpreendido; jamais é pego desprevenido; jamais é 
frustrado por desdobramentos inesperados. Deus age confor­
me Lhe agrada, e aquilo que Lhe agrada sempre existe para a 
Sua glória e para o nosso bem.
Nossa vida também está misturada com uma série de “se 
ao menos”. “Se ao menos eu tivesse feito isso”, ou “se ao menos 
aquilo não tivesse acontecido”. Mais uma vez, para Deus não 
há “se ao menos”. Deus jamais erra; Deus não Se arrepende. 
“O caminho de Deus é perfeito” (SI 18.30). Nós podem os con­
fiar em Deus. Ele é digno de confiança.
Assim como o livro de Ester nos mostrou o cuidado sobe­
rano de Deus para com o Seu povo, o breve livro de Rute nos 
mostra Deus operando para cumprir Seu plano na vida de um 
de Seus filhos. Em certo sentido, o livro de Rute é mais instru­
tivo do que o de Ester porque ele nos fornece uma percepção
da soberania de Deus em ação em circunstâncias mais comuns 
do que aquelas descritas no livro de Ester.
Você se recorda de que Rute era a nora enlutada de Noe­
mi, que proferiu as palavras conhecidas: “porque, aonde quer 
que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; 
o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt 1.16). 
Para entendermos melhor Deus trabalhando na vida de Rute, 
precisamos ler Rt 2.1-10:
Tinha Noemi um parente de seu marido, senhor de muitos 
bens, da fam ília de Elimeleque, o qual se chamava Boaz.
Rute, a moabita, disse a Noemi: Deixa-me ir ao 
campo, e apanharei espigas atrás daquele que mo 
favorecer. Ela lhe disse: Vai, minha filha!
Ela se foi, chegou ao campo e apanhava após os 
segadores; por casualidade entrou na parte que pertenciaa Boaz, o qual era da fam ília de Elimeleque.
Eis que Boaz veio de Belém e disse aos segadores:
O Senhor seja convosco!...
Depois, perguntou Boaz ao servo encarregado dos 
segadores: De quem é esta moça?
Respondeu-lhe o servo: Esta é a moça moabita que veio 
com Noemi da terra de Moabe.
Disse-me ela: Deixa-me rebuscar espigas e ajuntá-las 
entre as gavelas após os segadores. Assim, ela veio; desde 
pela manhã até agora está aqui, menos um pouco que 
esteve na choça.
Então, disse Boaz a Rute: Ouve, filha minha, não vás 
colher em outro campo, nem tampouco passes daqui; 
porém, aqui fc a rá s com as minhas servas.
Estarás atenta ao campo que segarem e irás após elas. 
Não dei ordem aos servos, que te não toquem? Quando 
tiveres sede, vai às vasilhas e bebe do que os servos tiraram.
Então, ela, inclinando-se, rosto em terra, lhe disse:
Como é que me favoreces e fazes caso de mim, sendo eu 
estrangeira?
Concluindo rapidamente a história, Rute se casa com Boaz 
e se torna a bisavó do rei Davi e uma das quatro mulheres 
relacionadas no registro genealógico de Mateus a respeito de 
Jesus (Mt 1.1-16).
Observe na passagem citada, quatro eventos-chave que 
aconteceram para que Rute começasse o processo de se tornar 
esposa de Boaz. Quando Rute foi ao campo para colher, ela 
poderia ter ido para outro campo. O versículo 3 diz: “por ca­
sualidade entrou na parte que pertencia a Boaz”. Deus a guiou 
para o campo correto. Porém, ela ainda precisava se encontrar 
com Boaz, então o versículo 4 diz: “Eis que Boaz veio de Be­
lém”. Deus que controlava o caminho de Rute de forma que 
ela fosse ao campo de Boaz, controlou a agenda de Boaz de 
forma que ele foi verificar sua colheita no mesmo momento 
em que Rute ali estava.
No entanto Rute ainda precisava obter a atenção de Boaz. 
Sem sombra de dúvida, muitos pobres se ajuntavam no 
campo de Boaz uma vez que deixar as espigas que caíam para 
trás fazia parte da lei Mosaica (Lv 19.9,10), portanto um even­
to comum na vida de Israel. Supomos que um dono de terras 
como Boaz geralmente não notaria uma pobre mulher co­
lhendo os restos da colheita. Porém, Boaz repara em Rute; 
versículo 5: “Depois, perguntou Boaz ao servo encarregado 
dos segadores: De quem é esta moça?” Nos versículos 8-10, 
finalmente vemos Boaz respondendo favoravelmente a Rute.
O local correto, o momento exato, ser notada e obter o favor 
de Boaz eram todos elementos-chave na cadeia de eventos que 
resultaram no casamento de Rute com Boaz. Nenhum desses 
eventos era extraordinário e todos pareciam ter “simplesmente
acontecido”, nada mais do que uma simples coincidência numa 
história romântica. No entanto, o leitor atento das Escrituras 
não pode deixar de ver a mão soberana de Deus ordenando 
tais circunstâncias comuns para realizar o Seu propósito. A 
própria Noemi, embora não ciente naquele momento do pla­
no futuro de Deus para Rute e Boaz, atribui os eventos à mão 
de Deus (Rt 2.20).
As histórias de Ester e Mordecai e de Rute e Boaz termi­
nam bem. Somos capazes de enxergar a mão de Deus atuan­
do naqueles eventos. Entretanto, o que dizer das histórias que 
não terminam bem? Deus também é soberano em momen­
tos assim? Essa pergunta é crucial. É fácil confiar em Deus 
quando uma série de eventos termina conforme desejado, 
mesmo que nossa fé falhe durante o processo até conhecer­
mos o desfecho.
Considere, por exemplo, as histórias de dois apóstolos, Tia­
go e Pedro, conforme registrado em At 12. O relacionamento 
próximo deles antecedia seu apostolado, pois eram sócios no 
empreendimento de pesca (Lc 5.10). Eles foram chamados por 
Jesus para deixar seus negócios e segui-Lo ao mesmo tempo 
(Mt 4.18-22). Ambos faziam parte do círculo mais íntimo de 
Jesus; Pedro, Tiago e João. Porém, em At 12, eventos radical­
mente diferentes acontecem com eles. Tiago é morto e Pedro 
é miraculosamente salvo do mesmo fim.
Coloque-se no lugar das esposas de Tiago e de Pedro. Uma 
delas está lamentando o assassinato do marido; a outra se 
regozija por causa do livramento miraculoso do marido. A 
esposa de Pedro se regozija na soberania de Deus, mas e a es­
posa de Tiago? Será que Deus foi um pouco menos soberano 
na morte de Tiago do que no livramento de Pedro? Será que 
Deus é soberano apenas nas circunstâncias “boas” da nossa 
vida? Ele também não é soberano nos momentos difíceis, nos 
momentos quando nosso coração sofre com a dor?
A Bíblia nos ensina que Deus é soberano tanto no “bom” 
quanto no “ruim”. Considere as seguintes passagens bíblicas:
No dia da prosperidade, goza do bem;
mas, no dia da adversidade,
considera em que Deus fe z tanto este como aquele,
para que o homem nada descubra
do que há de vir depois dele.
(.Ec 7.14)
Eu form o a luz e crio as trevas;
faço a paz e crio o mal;
eu, o Senhor , faço todas estas coisas.
(Is 45.7)
Acaso, não procede do Altíssimo tanto o mal como o bem ? 
(Lm 3.38)
Essas três passagens afirmam claramente o que é ensinado 
como princípio em toda a Bíblia. Deus controla tanto o bem 
quanto o mal. Deus não está olhando em outra direção ou é 
pego de surpresa quando a adversidade nos atinge. Ele está 
no controle daquela adversidade, dirigindo-a para a Sua gló­
ria e para o nosso bem.
Voltemos, então, para a esposa de Tiago. Ela, também, pre­
cisa confiar em Deus e em Seu controle soberano quanto à 
vida e a morte de seu marido. Confiar em Deus não significa 
que ela não sofra tristeza, que seu coração não doa. Significa 
que, em meio à dor e ao sofrimento, ela seja capaz de dizer 
algo como: “Senhor, sei que o Senhor estava no controle deste 
evento terrível. Não compreendo porque o Senhor permitiu 
que isso acontecesse, mas confio no Senhor”.
Admito mais uma vez que é difícil crer que Deus está no
controle quando estamos no meio da ansiedade, da tristeza 
ou da dor. Eu mesmo já lutei com isso muitas vezes. Por causa 
dos meus horários, a maior parte do tempo que tenho para 
escrever se dá de modo intermitente, “um pouco aqui, um 
pouco ali”. Por causa disso, este capítulo em particular foi es­
crito e reescrito ao longo de seis semanas ou mais. Durante 
esse tempo eu mesmo precisei refletir sobre a soberania de 
Deus em duas ocasiões específicas. Em cada uma delas percebi 
que conhecia a verdade sobre a soberania de Deus. O que eu 
tinha de fazer era decidir se iria confiar nEle, mesmo quando 
o meu coração agonizava.
Percebi por uma nova perspectiva que, assim como deve­
mos aprender a obedecer a Deus a cada escolha que fazemos, 
devemos também aprender a confiar em Deus em cada cir­
cunstância. Confiar em Deus não é uma questão dos meus 
sentimentos, mas da minha vontade. Nunca senti vontade de 
confiar em Deus quando a adversidade me atacava, mas posso 
escolher fazer isso mesmo quando não sinto vontade. Esse ato 
da vontade, entretanto, precisa se basear no crer e esse crer se 
baseia na verdade.
A verdade em que precisamos crer é que Deus é sobera­
no. Ele executa Seus próprios bons propósitos sem jamais ser 
frustrado, Ele direciona e controla todos os eventos e todas 
as ações de Suas criaturas de forma que nunca agem fora da 
Sua vontade soberana. Precisamos crer nisso e nos agarrar­
mos a isso diante da adversidade e da tragédia, se quisermos 
glorificar a Deus, confiando nEle.
Farei a próxima afirmação da maneira mais gentil e com­
passiva que posso. Nossa primeira prioridade nos momentos 
de adversidade é honrar e glorificar a Deus, confiando nEle. 
Temos a tendência de tornar nossa primeira prioridade o obter 
alívio dos nossos sentimentos de dor, de desapontamento ou 
de frustração. Esse é um desejo natural, Deus prometeu nos
conferir graça suficiente para nossas provações e para a nos­
sa ansiedade (2 Co 12.9; Fp 4.6-7). Entretanto, assim como a 
vontade de Deus deve ter precedência sobre a nossa vontade 
(em Mt 26.39, Jesus mesmo disse: “Todavia, não seja como 
eu quero, e sim como tu queres”), da mesma forma a honra 
de Deus deve ter precedência sobre nossos sentimentos. Nós 
honramos a Deus escolhendo confiar nElequando não com­
preendemos o que Ele está fazendo ou porque Ele permitiu 
que alguma circunstância adversa acontecesse. À medida que 
buscamos a glória de Deus, podemos estar certos de que Ele 
tem em mente o nosso bem e que não será frustrado no cum­
primento desse propósito.
UMA PALAVRA DE CAUTELA
O conteúdo deste capítulo é “difícil”. Ele deve ser lido, estuda­
do e deveríamos orar a respeito deste assunto mesmo quando 
a vida segue a sua rotina. Ele deve ser guardado e protegido 
em nosso coração (SI 119.11) para o momento de adversidade, 
quando precisarmos recorrer à essa verdade.
Acima de tudo, precisamos ser muito sensíveis ao instruir 
alguém sobre a soberania de Deus e encorajar tal pessoa a 
confiar em Deus quando estiver no meio da adversidade ou da 
dor. É muito mais fácil confiar na soberania de Deus quando a 
outra pessoa é quem está sofrendo. Precisamos ser como Jesus, 
de Quem foi dito: “Não esmagará a cana quebrada” (Mt 12.20). 
Não sejamos culpados de esmagar a cana quebrada (um cora­
ção pesado) por meio de um tratamento insensível da densa 
doutrina da soberania de Deus.
C A P Í T U L O Q U A T R O
A SOBERANIA DE DEUS 
SOBRE AS PESSOAS
Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei 
na mão do Se n h o r ; este, segundo o seu querer, o inclina.
P v ll.l
T ente se imaginar na seguinte situação: você trabalhou para 
uma mesma pessoa durante toda a sua vida; esse chefe tem 
sido extremamente cruel com você, os salários pagos mal da­
vam para sobreviver, e você se sente muito humilhado e opri­
mido. Em suma, na realidade você não passa de um escravo. 
De repente, você é liberto dessa situação quase insuportável. 
Você está livre para ir embora e começar uma vida nova. Exis­
te apenas um problema, você não possui recursos financeiros, 
nenhuma condição de viajar, nenhuma reserva para começar 
algo novo em outro lugar, nenhuma maneira de se beneficiar 
dessa oportunidade incrível.
Então, você volta ao seu patrão, pede a ele recursos para a 
viagem e para começar algo assim que você chegar num outro 
local. E, por mais incrível e improvável que pareça, seu pa­
trão lhe dá o dinheiro. Ele não dá só um pouco. Ele dá muito! 
É tanto dinheiro que ele acaba ficando pobre.
Parece algo inacreditável, não é? Parece uma história infantil 
com um final “e viveram felizes para sempre”, do tipo que jamais 
acontece na vida real. Só que essa aconteceu; não com os detalhes 
exatos que usei, mas em princípio sim. Essa história realmente 
aconteceu e foi registrada para nós na Bíblia, no livro de Êxodo. 
Você conhece a história: os israelitas eram um povo cruelmente 
oprimido, forçado a “fazer tijolos sem palha” De repente, Deus 
intervém na vida deles e o Faraó diz: “saiam!” Porém os israelitas 
não tinham recursos para a viagem, para começar do zero; eles 
eram muito pobres. Entretanto, Deus havia antevisto o problema 
e fez planos para superá-los. Ele havia dito a Moisés:
Eu darei mercê a este povo aos olhos dos egípcios; e, quan­
do sairdes, não será de mãos vazias. Cada mulher pedirá à 
sua vizinha e à sua hóspeda jó ias de prata, e jó ias de ouro, e 
vestimentas; as quais poreis sobre vossos filhos e sobre vossas 
filhas; e despojareis os egípcios (Êx 3.21,22).
E o que Deus prometeu veio mesmo a acontecer. Êxodo 
12.35,36 diz:
Fizeram, pois, os filhos de Israel conforme a palavra de Moi­
sés e pediram aos egípcios objetos de prata, e objetos de ouro, 
e roupas. E o Senhor fez que seu povo encontrasse favor da 
parte dos egípcios, de maneira que estes lhes davam o que 
pediam. E despojaram os egípcios.
DEUS IMPELE AS PESSOAS
Os egípcios fizeram algo completamente contrário ao compor­
tamento humano normal. Eles deram, de forma voluntária e li­
vre, aos escravos oprimidos aquilo que haviam pedido, a ponto
de o registro bíblico dizer que eles “despojaram” os egípcios. O 
significado comum de despojar é roubar, confiscar ou tomar à 
força; todavia, os egípcios se autodespojaram. Eles assim pro­
cederam porque Deus os fez favoráveis aos israelitas.
Como Deus fez isso? Não sabemos. Sabemos apenas o que 
o texto nos diz. É claro que os egípcios agiram de maneira livre 
e voluntária, por vontade própria. Todavia, eles agiram assim 
porque, conforme nos diz o texto: “O Senhor fez que seu povo 
[os israelitas] encontrasse favor da parte dos egípcios”. Deus, 
de maneira misteriosa, moveu o coração dos egípcios de for­
ma que, por livre escolha, eles fizeram exatamente aquilo que 
Deus havia planejado que fizessem. Deus interveio sobrena­
turalmente no coração dos egípcios, no desejo e na vontade, 
para cumprir Seu propósito para os israelitas.
Por vezes, todos nós temos a sensação de que o nosso fu­
turo está nas mãos de outra pessoa. A decisão e ação dessa 
pessoa determinarão se obterei uma nota boa ou ruim, se serei 
promovido ou despedido, se minha carreira irá crescer ou su­
cumbir. Não estou ignorando nossa própria responsabilidade 
nessas situações, mas sabemos que mesmo quando demos o 
melhor de nós mesmos, por assim dizer, ainda dependemos 
da aprovação ou da desaprovação do professor, do patrão ou 
superior. Do ponto de vista humano, estamos à mercê do pró­
ximo e de suas ações e decisões.
Em algumas situações, tais ações ou decisões são bene­
volentes e boas; por vezes, são perversas ou indiferentes. Em 
ambos os casos, elas exercem influência sobre nós, e, via de 
regra, de forma significativa. Como devemos reagir quando 
aparentemente nos encontramos nas mãos de outra pessoa, 
quando precisamos urgentemente de uma decisão ou ação 
favorável dela? Podemos confiar que Deus é capaz e efeti­
vamente trabalhará no coração da pessoa de forma que Seu 
plano para a nossa vida seja realizado?
Ou considere o caso de quando alguém quer nos ferir, ar­
ruinar nossa reputação, ou colocar em risco a nossa carrei­
ra. Podemos confiar que Deus intervirá no coração daquela 
pessoa de forma que ela não coloque em prática seu plano 
perverso? De acordo com a Bíblia, para as duas perguntas a 
resposta é afirmativa. Podemos confiar em Deus. Ele inter­
vém soberanamente no coração das pessoas de forma que elas 
tomem decisões e ajam de maneira a cumprir Seu propósito 
para a nossa vida. Deus, todavia, faz isso de maneira que tais 
pessoas tomem decisões e executem seus planos por escolha 
livre e voluntária.
Reconheço que uma afirmação assim ousada acerca da so­
berania de Deus me coloca na mente das pessoas numa areia 
movediça teológica. Muitos estão prontos para conceber a 
soberania de Deus sobre a natureza e sobre circunstâncias im­
pessoais, tais como uma falha mecânica de um avião. Afinal 
de contas, a natureza não possui vontade própria. Deus está 
livre para agir através de Suas leis físicas, conforme Lhe agra­
da. Porém, hesitamos em aceitar a soberania de Deus sobre 
as decisões e ações das pessoas. Para muitos, esse conceito da 
soberania de Deus parece destruir o livre arbítrio do homem, 
transformando-o apenas numa marionete no palco de Deus.
Cristãos debatem e discutem esse assunto ao longo da his­
tória. Não me iludo pensando poder acrescentar algo novo ou 
uma percepção nova à questão, mas não podemos ignorá-la. 
O assunto da influência controladora dos outros sobre nossa 
vida é tão universal que não pode ser ignorado num livro sobre 
confiança em Deus. Se Deus não é soberano sobre as decisões 
e ações dos outros na medida em que exercem influência so­
bre nós, então existe uma tremenda porção de nossa vida em 
que não podemos confiar em Deus; onde ficamos, por assim 
dizer, entregues à nossa própria sorte.
Sendo assim, deixemos o problema teológico de lado por
um instante e examinemos a Bíblia. As Escrituras nos garan­
tem que podemos crer que Deus intervém soberanamente 
na mente das pessoas de maneira que elas decidam e ajam 
de forma a cumprir o plano dEle para a nossa vida? Será que 
Deus faz com que as pessoas tomem decisões que nos favo­
reçam, e será que Ele impede que as pessoas tomem decisões 
que nos prejudiquem?
A afirmação mais clara de queDeus influencia sobera­
namente as decisões das pessoas provavelmente se encon­
tra em Pv 21.1: “Como ribeiros de águas assim é o cora­
ção do rei na mão do S e n h o r ; este, segundo o seu querer, o 
inclina”. Charles Bridges, em sua exposição de Provérbios, afir­
ma: “A verdade geral [da soberania de Deus sobre o coração 
de todas as pessoas] é ensinada por meio da ilustração mais 
forte possível - seu domínio irresistível sobre a mais absoluta 
de todas as vontades - o coração do rei”1.
Em nossos dias de monarquias limitadas, nas quais reis e 
rainhas são apenas pessoas representativas, talvez seja difícil 
percebermos completamente a força do que Charles Bridges 
está dizendo quando afirma que a vontade do rei é a mais ab­
soluta de todas as vontades. Entretanto, na época de Salomão, 
o rei era um monarca absoluto. Não havia um corpo legisla­
tivo separado para compor leis que ele não gostasse ou uma 
Suprema Corte para restringir sua vontade. A palavra do rei 
era a lei. Sua autoridade sobre seu reinado era incondicional 
e irrestrita.
Ainda assim, Deus controla o coração do rei. A vontade tei­
mosa do mais poderoso dos monarcas sobre a terra é tão facil­
mente direcionada por Deus quanto um fazendeiro direciona 
o curso da água por meio de seus canais de irrigação. Então, 
o argumento é do maior para o menor - se Deus controla o
1. Bridges, Charles, An Exposition o f lhe B ook ofProverbs. The Sovereign Grace Book
Club, Evansville, IN, 1959, p. 364.
coração do rei, Ele certamente controla o coração de qualquer 
outra pessoa. Tudo caminha, necessariamente, conforme Sua 
influência soberana.
Já vimos isso por meio das ações dos egípcios para com 
os israelitas. Também vemos a mesma situação no relato de 
Ciro, rei da Pérsia, quando fez redigir uma proclamação per­
mitindo que os judeus voltassem a Jerusalém para reconstruir 
o Templo. Esdras 1.1 diz:
No primeiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, a fim de 
que se cumprisse a palavra do Senhor fa lada por Jeremias, 
o S e n h o r despertou o coração d e Ciro, rei da Pérsia, para 
redigir uma proclamação e divulgá-la em todo o seu reino, 
nestes termos: (NVI - ênfase acrescentada).
O texto diz claramente que o rei Ciro emitiu a proclamação 
porque Deus moveu o seu coração. Humanamente falando, o 
destino do povo de Deus estava nas mãos do monarca mais po­
deroso da época. Entretanto, na realidade o destino deles estava 
completamente nas mãos de Deus, pois Ele tinha a capacidade 
de controlar soberanamente as decisões daquele monarca.
Falando por meio do profeta Isaías, Deus nos fornece outra 
perspectiva sobre Sua obra no coração de Ciro:
Por am or do meu servo Jacó e de Israel, meu escolhido, 
eu te chamei pelo teu nome e te pus o sobrenome, 
ainda que não m e conheces
eu te cingirei, ainda que não m e conheces 
(Is 45.4,5 - ênfase acrescentada)
Não é necessário que a pessoa reconheça o controle sobe­
rano de Deus sobre seu coração ou a existência de Deus. Nem
os egípcios nem Ciro planejavam obedecer qualquer vonta­
de revelada de Deus. Eles simplesmente agiram conforme o 
coração deles pedia, mas fato é que seus corações foram im­
pelidos por Deus.
Enquanto olhamos para Ciro, encontramos outro exem­
plo de Deus impelindo o coração das pessoas em resposta à 
proclamação de Ciro em favor dos judeus. Esdras 1.5 declara: 
“Então, se levantaram os cabeças de famílias de Judá e de Ben­
jamim, e os sacerdotes, e os levitas, com todos aqueles cujo 
espírito Deus despertou, para subirem a edificar a casa do 
S e n h o r , a qual está em Jerusalém”. Ciro poderia redigir uma 
proclamação, mas uma resposta dos judeus ainda se fazia ne­
cessária. Alguns deles precisariam optar por abandonar o con­
forto de suas vidas bem estabelecidas - eles estavam ali havia 
setenta anos, cerca de duas gerações - passariam pela jornada 
árdua e perigosa de volta a Jerusalém e começariam a difícil 
tarefa de reconstrução do Templo. Como Deus garantiria que 
isso viesse a acontecer? Ele despertou o coração de algumas 
pessoas. Anos mais tarde, encontramos essas pessoas se rego­
zijando, pois Deus havia mudado “o coração do rei da Assíria 
a favor deles, para lhes fortalecer as mãos na obra da casa de 
Deus” (Ed 6.22). Este era um rei posterior, o rei Dario. Sendo 
assim, Deus despertou o coração de dois reis, um para começar 
o projeto e outro para continuá-lo e Ele despertou o coração 
de alguns judeus para executá-lo. Deus impele o coração das 
pessoas para realizar o Seu propósito.
Ainda outra ilustração da influência divina no coração de 
um oficial pagão encontra-se na história de Daniel. Quando 
Daniel resolveu não se contaminar com a comida da mesa 
do rei - comida espiritualmente contaminada que havia sido 
primeiramente oferecida a ídolos, e quem sabe até prepara­
da a partir de animais que os judeus não comiam - ele pe­
diu ao oficial permissão para não se contaminar com aquele
alimento. A Bíblia, a respeito disso, comenta: “Ora, Deus con­
cedeu a Daniel misericórdia e compreensão da parte do chefe 
dos eunucos” (Dn 1.9).
O pedido de Daniel ao chefe dos eunucos era algo difícil, 
tão difícil a ponto de o chefe dos eunucos temer primeiramen­
te por sua própria vida, caso fosse favorável a Daniel (Dn 1.10). 
Ainda assim, ele concedeu o pedido de Daniel. Ele assim o fez 
porque Deus impeliu seu coração para que mostrasse favor e 
simpatia a Daniel. Ele concedeu o desejo de Daniel porque seu 
coração estava realmente nas mãos de Deus, que direcionou 
a situação conforme O agradava.
Um exemplo final da Bíblia será suficiente para mostrar que 
Deus age soberanam ente na vida tanto do cristão quanto do 
incrédulo. Paulo disse acerca de seu colaborador Tito: “Mas 
graças a Deus, que pôs no coração de Tito a mesma solicitude 
por amor de vós; porque atendeu ao nosso apelo e, mostran­
do-se mais cuidadoso, partiu voluntariamente para vós outros” 
(2 Co 8.16,17). Paulo atribuiu as duas as ações de Tito a Deus, 
tanto que colocou um interesse pelos coríntios no coração de 
Tito, quanto ao próprio Tito, que agiu com entusiasmo e por 
vontade própria. Tito agiu livremente, todavia, sob o impulso 
soberano e misterioso de Deus.
DEUS REFREIA AS PESSOAS
Já vimos que Deus é capaz e que impele o coração das pessoas 
para mostrar favor a nós quando esse favor contribuir para 
o cumprimento do Seu propósito. Entretanto existe outra di­
mensão importante para soberania de Deus no coração das 
pessoas; sempre que necessário Deus refreia as ações e deci­
sões das pessoas que nos ferem. Uma ocorrência na vida de 
Abraão ilustra isso.
Temendo por sua própria vida, Abraão mentiu sobre sua 
esposa, Sara, dizendo que ela era sua irmã. Como resultado, 
Abimeleque tomou as providências para tomar Sara por es­
posa. Deus, entretanto, impediu que Abimeleque executasse 
seu plano. Ele disse a Abimeleque:"... daí o ter impedido eu de 
pecares contra mim e não te permiti que a tocasses” (Gn 20.6). 
Deus não refreou Abimeleque física ou circunstancialmente. 
Ele o refreou através de sua mente. Por algum motivo, que 
provavelmente nem o próprio Abimeleque entendeu, ele sim­
plesmente não prosseguiu no intento de consumar a relação 
física com Sara. Deus interveio soberanamente e protegeu a 
pureza moral de Sara, que viria a ser a mãe do filho prometido 
de Abraão. Deus poderia ter intervindo circunstancialmente 
para preservar a pureza de Sara, mas Ele escolheu fazê-lo atu­
ando de alguma forma na mente de Abimeleque. Ele refreou 
Abimeleque atuando em sua vontade.
Será que Abimeleque estava consciente de que Deus o es­
tava refreando? Não, a Bíblia simplesmente declara que ele 
não se aproximou dela (Gn 20.4). Abimeleque escolheu por 
sua própria e livre vontade não estar com Sara, mas a esco­
lha dele estava debaixo do controle soberano de Deus. Esse 
incidente é ainda mais surpreendente ao considerarmos que 
Abraão colocou Sara nessa situação difícil por causa de sua 
própria incredulidade e pecado. Deus não desculpou o peca­
do de Abraão, mas Elenão permitiu que isso O impedisse de 
intervir na mente de Abimeleque, evitando assim as sérias 
conseqüências do pecado.
Em outra situação, o neto de Abraão, Jacó, partiu com sua 
família de Siquém para Betei. Dois dos filhos de Jacó haviam 
acabado de agir de forma cruel contra o povo daquela terra, 
e era esperado que aquele povo procurasse se vingar. Porém, 
Gn 35.5 diz: “E, tendo eles partido, o terror de Deus invadiu
as cidades que lhes eram circunvizinhas, e não perseguiram 
aos filhos de Jacó”.
Terror ou medo é um estado de espírito normalmente in­
duzido por circunstâncias externas. Nesse caso não parece ter 
havido qualquer circunstância externa que gerasse tal terror. 
Na realidade, aconteceu exatamente o contrário. Alguns ver­
sículos antes de Gn 35.5, o próprio Jacó havia dito: “sendo nós 
pouca gente, reunir-se-ão contra mim, e serei destruído, eu 
e minha casa” (Gn 34.30). Não havia razão para os cananeus 
não destruírem Jacó e sua família a fim de vingar o crime co­
metido pelos filhos de Jacó, exceto pelo fato de que Deus os 
refreou por meio de um temor que não havia como ser expli­
cado racionalmente.
Voltando aos reconstrutores para quem olhamos no livro 
de Esdras, encontramos outro exemplo da mão refreadora de 
Deus. Antes de o rei Dario promulgar seu decreto de que a re­
construção do templo não deveria ser interrompida, mas que 
deveria inclusive ser assistida pelo tesouro real (Ed 6.6-10), o 
governador territorial e outros oficiais questionaram a auto­
ridade dos judeus para reconstruir o templo. Eles poderiam 
ter impedido a continuidade da reconstrução até receberem 
a ordem do rei, mas não o fizeram. Por quê? A Bíblia diz: 
“Porém os olhos de Deus estavam sobre os anciãos dos ju ­
deus, de maneira que não foram obrigados a parar, até que 
o assunto chegasse a Dario, e viesse resposta por carta sobre 
isso” (Ed 5.5).
Uma das ilustrações mais fortes de Deus refrear pessoas 
nos é fornecida num comentário passageiro em Êx 34.23-24. 
Diz o texto:
Três vezes no ano, todo hom em entre ti aparecerá peran­
te o Senhor Deus, Deus de Israel. Porque lançarei fo ra as 
nações de diante de ti e alargarei o teu território; ninguém
cobiçará a tua terra quando subires para comparecer na 
presença do Senho r , teu Deus, três vezes no ano (ênfase 
acrescentada).
Deus ordenou que todos os homens parassem suas ativi­
dades normais três vezes ao ano para comparecer diante dEle. 
Para entendermos corretamente a importância dessa ordem, o 
equivalente hoje seria como o país inteiro fechar o comércio, 
as atividades educacionais, mas acima de tudo, conceder uma 
licença a todos os militares simultaneamente, reunindo todos 
aqueles homens numa gigantesca assembleia três vezes ao ano. 
É fácil percebermos quão vulnerável e indefeso nosso país es­
taria diante dos poderes hostis nessas três ocasiões do ano.
Todavia, foi o que Deus ordenou que Israel fizesse. Porém, 
juntamente com a ordem Ele prometeu que ninguém cobiça­
ria a terra deles durante aqueles instantes enquanto estavam 
indefesos. Não apenas nenhuma nação os atacaria, elas nem 
sequer desejariam fazê-lo. A cobiça, o desejo maligno de pos­
suir algo que pertence à outra pessoa, é uma das emoções mais 
profundamente enraizadas no coração humano. O apóstolo 
Paulo, que como fariseu poderia falar de sua observância ex­
terna perfeita da Lei de Deus (Fp 3.6), acabou exposto como 
pecador pelo mandamento-. “Não cobiçarás” (Rm 7.7,8). Ele 
poderia se abster do roubo, mas era incapaz de abster-se da 
cobiça.
Apesar disso Deus disse que nenhuma nação cobiçaria a 
terra dos israelitas, mesmo durante seus momentos indefesos 
e vulneráveis. Deus é capaz de refrear não apenas as ações das 
pessoas, mas até mesmo seus desejos mais profundamente en­
raizados. Nenhuma parte do coração humano é impenetrável 
ao controle soberano, porém, misterioso de Deus.
Usei várias ilustrações bíblicas para documentar que Deus 
age no coração das pessoas; quer positivamente para que façam
a Sua vontade, quer negativamente refreando-as de fazer o que 
é contrário à Sua vontade. Entretanto, com frequência temos 
a tendência de ler esses relatos meramente como histórias 
bíblicas, sem relacioná-los à nossa vida e às nossas situações. 
Porém, conforme vimos, Paulo disse: “Pois tudo quanto, ou- 
trora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, 
pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos es­
perança” (Rm 15.4). As histórias de Deus induzindo os egíp­
cios para que fornecessem recursos aos israelitas e refreando 
as nações vizinhas de invadirem Israel visam nos ensinar e nos 
encorajar. Tais histórias têm o propósito de nos ensinar que 
Deus é soberano sobre as pessoas e nos encorajar a reconhecer 
que Deus exerce Sua soberania para o nosso bem.
DEUS PERMITE 0 MAL?
Obviamente, Deus nem sempre refreia as ações perversas e 
nocivas dos outros contra Seus filhos. Vemos isso até mesmo 
no relato da reconstrução do templo. Houve um período de 
aproximadamente dez anos em que o projeto ficou parado 
devido à oposição dos inimigos dos judeus (Ed 4.6-24). Não 
sabemos por que Deus permitiu que os inimigos do Seu povo 
prevalecessem num momento e os refreou em outro. Já é su­
ficiente saber que Deus é capaz e refreia os atos nocivos dos 
outros contra nós quando essa é a Sua vontade soberana. Além 
disso, Deus, em Sua infinita bondade e amor, em última aná­
lise, planeja o bem a partir daqueles atos nocivos.
A ilustração clássica e muito conhecida é a da história de 
José. Quando os irmãos de José decidiram vendê-lo como 
escravo, Deus não os refreou. Da mesma maneira, Ele não 
refreou a esposa de Potifar quando ela o acusou de maneira 
maliciosa e injusta. Porém, no tempo dEle, Deus transformou
completamente tais circunstâncias. Deus estava orquestrando 
os atos perversos das pessoas exatamente conforme planejou 
para cumprir o Seu propósito através de José. Ao final, José 
pôde olhar para todos aqueles eventos difíceis e dizer aos ir­
mãos: “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém 
Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se 
conserve muita gente em vida” (Gn 50.20).
Comentando sobre a história de José, o professor Berkou- 
wer disse:
Os irmãos de José planejaram e executaram seus planos; 
incitados pela inveja eles se comprometeram de maneira 
gradual e irrevogável de acordo com o curso escolhido... 
O plano perverso deles obteve realização histórica, mas os 
eventos históricos são produto da atividade divina. As boas 
intenções de Deus seguem o caminho maligno dos irmãos 
ou, pelo contrário, os irmãos seguem inadvertidamente o 
caminho traçado por Deus. Eles trabalharam a serviço de 
Deus. O propósito de Deus ilumina o horizonte da ativi­
dade perversa, invejosa e maliciosa2.
Comentando sobre os mesmos eventos, Alexander Car- 
son disse:
A partir da história de José é possível vermos que a mesma 
coisa pode vir do homem, por um ponto de vista, e de Deus, 
por outro ponto de vista; aquilo que o homem pode fazer 
pecaminosamente para ferir o povo de Deus, o próprio 
Deus pode usar para o bem do Seu povo. O agir do homem, 
todavia, de outro ponto de vista, é o agir de Deus3.
2. Berkouwer, G. C., opus cit., pp. 90,91.
3. Carson, Alexander, The Historv ofPrnvidence. Baker, Grand Rapids, MI, s.d., pp. 96,97.
De acordo com a Bíblia, em certas situações Deus até mes­
mo opera no coração de algumas pessoas para que ajam em 
obstinação. “Mas Seom, rei de Hesbom, não nos quis deixar 
passar por sua terra, porquanto o S e n h o r , teu Deus, endu­
recera o seu espírito e fizera obstinado o seu coração, para 
to dar nas mãos, como hoje se vê” (Dt 2.30). E, novamente, 
“Porquanto do S e n h o r vinha o endurecimento do seu cora­
ção para saírem à guerra contra Israel, a fim de que fossem 
totalmente destruídos e não lograssem piedade alguma; antes, 
fossem de todo destruídos, como o S e n h o r tinha ordenado 
a Moisés” (Js 11.20).
Certamente existem coisas de difícil compreensão em am­
basas passagens. Meu propósito não é tentar explicar, mas sim 
mostrar novamente o ensino bíblico coerente de que Deus é 
capaz e age sobre o coração e a mente das pessoas para cum­
prir Seus propósitos. Todavia, parece igualmente claro a par­
tir dessas passagens que Deus faz isso sem violar ou coagir a 
vontade das pessoas. Ele opera de forma misteriosa através 
da vontade das pessoas para atingir Seus propósitos. Não há 
dúvida de que Seom e os reis cananeus queriam fazer exata­
mente o que a Bíblia diz que Deus os fez fazer.
Deus nunca está em desvantagem por não encontrar al­
guém que coopere com Ele para a execução do Seu plano. Ele, 
então, age no coração das pessoas - cristãos ou incrédulos, não 
faz qualquer diferença - para que deliberadamente, de sua 
própria vontade executem o Seu plano. Você precisa contar 
com o favor de um professor para obter uma recomendação 
para um emprego? Se aquele emprego é o plano de Deus para 
você, Deus é capaz e agirá no coração daquele professor para 
lhe conceder tal recomendação.
Você depende de seu patrão (ou seu superior) para crescer 
profissionalmente? Deus moverá o coração de seu patrão ou
superior, de uma forma ou de outra, de acordo com o plano 
dEle para a sua vida.
Porque não é do Oriente, não é do Ocidente, 
nem do deserto que vem o auxílio.
Deus é o juiz; 
a um abate, a outro exalta.
{Sl 75.6,7)
Sua promoção, ou a não promoção, encontra-se nas mãos 
de Deus. Seus superiores são simples agentes dEle que exe­
cutarão a Sua vontade. Eles não sabem que estão fazendo a 
vontade de Deus e jamais pretenderam fazê-la (a menos, ob­
viamente, que sejam cristãos que desejam fervorosamente 
fazer a vontade de Deus), mas isso não altera o resultado em 
sua vida. Você pode confiar em Deus em relação a todas as 
áreas de sua vida em que dependa do favor ou da indiferença 
de outra pessoa. Deus agirá no coração daquela pessoa para 
que ela execute a vontade dEle em seu favor.
0 PROBLEMA DA SOBERANIA DE DEUS
No início do capítulo pedi que você colocasse de lado, por um 
instante, o problema levantado pela afirmação da soberania 
de Deus sobre as pessoas. Queremos agora olhar para essa 
questão brevemente. À medida que formos fazendo, seria 
útil ter em mente que os escritores bíblicos jamais pareciam 
estar cientes do problema, exceto pela afirmação de Paulo 
em Rm 9.19-21. A afirmação de Paulo parece levantar mais 
problemas do que resolvê-los. Sendo assim, enquanto a Bí­
blia afirma tanto a soberania de Deus quanto a liberdade e 
a responsabilidade humana, as Escrituras jamais procuram
explicar a relação entre elas. À medida que examinamos essa 
questão, precisamos considerar três verdades.
A primeira é que Deus é tão infinito em Seus caminhos 
quanto o é em Seu ser. Uma mente finita não consegue com­
preender um Ser infinito, além daquilo que Ele mesmo reve­
lou para nós. Por essa razão, certas coisas a respeito de Deus 
serão para sempre mistérios para nós. A relação entre a von­
tade soberana de Deus e a liberdade e responsabilidade moral 
do homem é um desses mistérios.
Basil Manly, um dos fundadores da Southern Baptist Con- 
vention (Convenção Batista do Sul), ao comentar sobre esse 
assunto difícil em um de seus sermões, disse: “A Bíblia não 
promete explicar mistérios. Ela os deixa sem explicação. Há 
uma diferença entre dificuldades e mistérios: as dificuldades 
podem ser removidas; os mistérios não, sem uma nova reve­
lação, ou a concessão de uma inteligência superior”4.
Creio que um dos problemas ao lidarmos com esse assunto 
é que temos a tendência de enxergar a interação entre Deus 
e o homem no mesmo nível da interação do homem com o 
homem. No Sl 50.21, Deus diz: “pensavas que eu era teu igual”. 
Embora o contexto dessas palavras seja completamente dife­
rente do nosso assunto, a afirmação nos é pertinente. Nossa 
tendência é pensarmos em Deus como sendo semelhante a 
nós. Nossa tendência é acharmos que Deus pode agir sobre 
a mente humana apenas da mesma maneira que nós conse­
guimos. Podemos argumentar, persuadir e até mesmo coagir, 
mas somos incapazes de induzir a vontade de alguém. Ainda 
assim, a Bíblia nos ensina que Deus age na vontade da pessoa, 
de tal modo que ela atue de maneira livre e voluntária. Além
4. Manly, Basil Sr., Southern Baptist Sermons on Sovereifntv and Respansibilitv. 
Sprinkle Publications, Harrisonburg, VA, 1984, pp. 15,16. Manly foi tanto pas­
tor quanto educador. Ele foi presidente da Alabama University (Universidade do 
Alabama) de 1838 a 1855, e foi também um dos fundadores da Southern Baptist 
Convention (Convenção Batista do Sul).
disso, a soberania no plano humano sugere força e coerção; 
pessoas fazendo coisas contra a sua vontade e em sujeição aos 
seus senhores como se escravos fossem, mas a Bíblia jamais 
retrata a soberania de Deus dessa maneira.
A segunda verdade que precisamos ter em mente é que 
Deus jamais é o autor do pecado. Embora as intenções e ações 
pecaminosas das pessoas sirvam ao propósito soberano de 
Deus, jamais devemos concluir que Deus induziu quem quer 
que seja a pecar. “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado 
por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele 
mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela 
sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz” (Tg 1.13-14). 
Com frequência a Bíblia afirma que Deus usa as ações pecami­
nosas do homem para cumprir Seus propósitos (e.g. Gn 50.20; 
At 4.27,28; Ap 17.17). No entanto, o fato de as intenções e os 
atos pecaminosos das pessoas servirem ao propósito de Deus, 
não O torna o autor dos pecados dessas pessoas, nem as torna 
menos culpadas por suas ações. Deus julga as pessoas pelos 
mesmos pecados que Ele usa para executar Seus propósitos. 
Essa verdade é ensinada em textos como Is 10.5-16 (nós ana­
lisaremos essa passagem em outro capítulo).
A terceira verdade que precisamos ter em mente é que a Bí­
blia constantemente descreve o homem fazendo escolhas reais 
por sua própria vontade. Não há qualquer indicação nas Es­
crituras do homem ser uma marionete, desprovida de opinião, 
manipulada por cordas divinas. Além disso, as escolhas que a 
pessoa faz são escolhas morais; isto é, a pessoa é responsável 
diante de Deus pelas escolhas que faz. As ações de Judas, Hero- 
des e Pilatos foram ímpias embora praticadas sob a designação 
soberana de Deus. A venda de José como escravo, praticada 
por seus irmãos, foi um ato maligno e ímpio, embora tal ato 
tenha cumprido o propósito soberano de Deus.
A Bíblia ensina a soberania de Deus e a livre escolha moral
do homem com igual ênfase. Richard Fuller, o terceiro presi­
dente da Southern Baptist Convention, disse: “É impossível re­
jeitarmos qualquer uma dessas duas grandes verdades bíblicas, 
e é igualmente impossível nossa mente conciliá-las”5.
Porém, assim como não devemos interpretar mal a sobera­
nia de Deus como se ela nos tornasse meras marionetes, não 
podemos exaltar a liberdade do homem ao ponto de limitar 
a soberania de Deus. O professor Berkouwer nos ajuda no­
vamente quando diz:
Aquele que comete injustiça com esta liberdade [da cria­
tura], comete injustiça com a Palavra de Deus, que já no 
paraíso coloca o homem numa encruzilhada e lhe dá a li­
berdade de escolher que caminho deseja seguir. Porém, à 
luz das Escrituras, é decisivo que esta liberdade da criatura 
não imponha qualquer ameaça ou limitação à iniciativa Di­
vina soberana e onipotente... Somos forçados a nos dirigir 
à revelação Divina que nos revela a atividade onipotente 
de Deus e, ao mesmo tempo, ensina a responsabilidade hu­
mana... Qualquer um que não levar a sério tanto o governo 
Divino quanto a responsabilidade humana jamais poderá 
compreender corretamente a história6.
NOSSA RESPOSTA
Como devemos reagir ao fato de que Deus é capaz e, de fato, 
opera na mente e no coração das pessoas para cumprir Sua 
vontade? Nossa primeira resposta deveria ser confiar. Nossa 
carreira e nosso destino estão nas mãos dEle e não nas mãos
5. Fuller, Richard, Southern BaptistSermons on Snvereipntv and Responsibilitv. p. 
112.
6. Berkouwer, G.C., opus cit., pp. 140,141.
de patrões, superiores, professores, técnicos esportivos e to­
das as outras pessoas que, humanamente falando, estão em 
uma posição de influenciar nosso futuro. Ninguérm é capaz 
de feri-lo ou colocar em risco o seu futuro fora da vontade 
soberana de Deus. Além disso, Deus é capaz e concederá favor 
aos olhos das pessoas que estão em uma posição de lhe fazer 
o bem. Você pode confiar seu futuro a Deus.
Devemos então, em atitude de oração, confiar em Deus 
em relação a todas aquelas situações nas quais aspectos do 
nosso futuro repousam nas mãos de outras pessoas. Confor­
me disse Alexander Carson: “Se você precisa de proteção do 
homem, peçamos isso primeiramente a Deus. Se triunfarmos 
com Ele, o poder do mais poderoso e do mais perverso devem 
ministrar para nosso alívio”7. Quando a rainha Ester buscou 
a presença do rei Assuero sem ter sido convidada - ato que 
normalmente teria resultado em sua morte - ela pediu que 
Mordecai reunisse todos os judeus para jejuar (e tudo indica 
orar) para que o rei fosse favorável a ela. Ester não pressupôs 
conhecer a vontade de Deus, pois ela disse: “Se perecer, pere­
ci” (Et 4.16), mas ela certamente sabia que Deus controlava o 
coração do rei. É claro que nem sempre sabemos como Deus 
responderá à nossa oração, ou se Ele agirá no coração de ou­
tra pessoa, mas é suficiente sabermos que nosso destino se 
encontra nas mãos dEle, e não das pessoas.
A confiança na soberania de Deus na vida das pessoas tam­
bém deveria nos impedir de ficarmos revoltados ou amargos 
quando outros nos tratam de maneira injusta ou perversa. A 
amargura normalmente não deriva tanto das ações do próxi­
mo como do efeito de tais ações em nossa vida. Considere o 
seguinte cenário em sua vida.
Você acaba de ser demitido injustamente de seu emprego
7. Carson, Alexander, Cnnfide.nce in God in Times nfDanyer Reiner, Swengel, PA, 1975,
p. 55.
por algum motivo completamente não relacionado ao seu 
desempenho profissional. Depois de dois meses procurando 
emprego sem sucesso, você se encontra uma fila de desem­
pregados. À medida que você ali está, começa a remoer a in­
justiça praticada pelo seu antigo chefe. Você fica revoltado e 
amargurado.
Suponhamos agora que certo dia você seja demitido injus­
tamente e no momento em que está saindo da empresa, você 
encontra um homem que está procurando por alguém com 
a sua experiência e lhe oferece um emprego melhor com um 
salário duas vezes maior que o seu. Eis uma qualificação adi­
cional: Você precisa ter a experiência de ter sido injustamen­
te demitido. Você aceita alegremente o emprego e desfruta 
completamente de sua nova posição. Você ficou amargurado 
em algum momento? Não. Você certamente pensa em algo 
assim: “Que bom que meu ex-chefe me demitiu. Se isso não 
tivesse acontecido eu jamais teria conseguido este emprego”. 
Perceba, são os efeitos de ter sido demitido, não o ato em si 
que determina se você é tentado a ficar amargurado.
Por vezes, entretanto, Deus permite que as pessoas nos tra­
tem de forma injusta. Às vezes Ele até permite que as ações dos 
outros influenciem seriamente nossa carreira ou nosso futuro 
do ponto de vista humano. Porém, Deus jamais permitirá que 
as pessoas tomem decisões a nosso respeito que atrapalhem 
o plano dEle para nós. Deus é por nós, somos Seus filhos, Ele 
se deleita em nós (Sf 3.17). É como a Bíblia declara: “Se Deus 
é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8.31). Podemos ter a 
certeza absoluta da seguinte verdade: Deus jamais permitirá 
qualquer ação contra nós que não esteja de acordo com a Sua 
vontade para nós. A vontade dEle está sempre direcionada 
para o nosso bem.
Por que, então, sofremos tamanho desapontamento quando 
o favor esperado que precisamos do próximo não se concretiza?
Por que lutamos com o ressentimento e a amargura quando 
a decisão ou ação de outra pessoa nos atinge negativamente? 
Não seria porque nossos planos foram frustrados, ou porque 
o nosso orgulho foi ferido?
Certa vez eu participei de um seminário sobre o cristão e 
o estresse. Um dos pontos principais do palestrante foi que 
se desejamos viver uma vida menos estressante, precisamos 
aprender a viver com uma única pauta: A pauta de Deus. Ele 
chamou atenção para o fato de termos a tendência de viver 
com duas pautas, a nossa e a de Deus, e que a tensão entre 
elas é o que gera o estresse.
Creio que a expressão usada por ele - uma única pauta - se 
aplica corretamente à nossa discussão sobre a confiança em 
Deus no campo das decisões dos outros a respeito da nossa 
vida. Deus é soberano sobre as pessoas. Ele trabalhará o co­
ração delas para que façam a Sua vontade, ou Ele as refreará 
de fazer qualquer coisa contrária à Sua vontade. Porém, é a 
vontade dEle, a pauta dEle para a nossa vida que Ele guardará, 
protegerá e executará. Precisamos aprender a viver pela pauta 
de Deus, se quisermos confiar nEle.
PALAVRAS DE CAUTELA
Antes de encerrar esse assunto, há algumas palavras de cautela 
que precisamos considerar a fim de que não façamos uso er­
rôneo da doutrina da soberania de Deus sobre as pessoas.
Em primeiro lugar, jamais deveríamos usar a doutrina 
como desculpa para nossos próprios defeitos. Se você não 
conseguiu a promoção que desejava, ou pior ainda, se você 
foi demitido ou foi reprovado numa prova de grande impor­
tância, você precisa primeiro examinar a si mesmo para ava­
liar se, por acaso, o motivo não é o seu próprio desempenho.
Embora Deus tenha resgatado Abraão e Sara da tolice do pe­
cado de Abraão, Ele não estava obrigado a fazê-lo. Deus não 
prometeu operar no coração de outra pessoa para compensar 
nossas falhas.
Em segundo lugar, não devemos permitir que a doutrina 
da soberania de Deus nos leve a responder passivamente às 
ações dos outros que nos atingem. Devemos dar todos os pas­
sos cabíveis dentro da vontade de Deus para proteger e resol­
ver nossa situação. Digo dentro da vontade de Deus porque 
pode haver outros motivos, por causa do reino de Deus, pelos 
quais você não deveria dar os passos. Porém, a doutrina da 
soberania de Deus, considerada isoladamente, não deveria ser 
usada para promover passividade.
Em terceiro lugar, jamais devemos usar a doutrina da sobe­
rania de Deus para desculpar nossas próprias ações ou deci­
sões pecaminosas que machucam o próximo. Jamais devemos 
dizer: “Bem, eu errei, mas tudo bem porque Deus é soberano”. 
Deus é, de fato, soberano sobre a vida da outra pessoa, e Ele 
pode escolher usar nossas ações pecaminosas para realizar a 
Sua vontade. Contudo, Ele ainda nos tem por responsáveis 
por nossas decisões nocivas e ações pecaminosas.
Uma passagem bíblica que pode nos ajudar a manter a dou­
trina da soberania de Deus na perspectiva correta é Dt 29.29: 
“As coisas encobertas pertencem ao S e n h o r , nosso Deus, po­
rém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para 
sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”. Não 
sabemos qual é a vontade soberana de Deus. Não sabemos 
como Ele operará no coração da outra pessoa, quer favorá­
vel, quer desfavoravelmente, do nosso ponto de vista. Isso 
se encontra na esfera das “coisas encobertas” que não foram 
reveladas a nós. Sabemos que Ele operará para realizar o Seu 
propósito que, em última análise, é para o nosso bem.
Nossa obrigação, então, é obedecer as “coisas reveladas”,
isto é, a vontade de Deus conforme revelada na Bíblia em cada 
área da nossa vida. As Escrituras nos ensinam a sermos pru­
dentes, cuidadosos e responsáveis, e a darmos o nosso melhor 
no emprego ou nos estudos. Se descobrirmos que, a despei­
to do nosso esforço, um superior ou um professor nos julga 
de forma desfavorável, precisamos confiar em Deus para os 
possíveis resultados daquele relacionamento. Por vezes, Deus 
irá mudar a atitude daquela pessoa para conosco. Em outras 
situações, Ele pode até permitir que as situações piorem. Seja 
qual for o caso, o coração da pessoa está nasmãos de Deus. 
Ele o moverá de acordo com o Seu propósito soberano, para 
a Sua glória e para o nosso bem.
C A P Í T U L O C I N C O
O GOVERNO DE DEUS SOBRE AS NAQÕES
Ah! Se n h o r , Deus de nossos país, porventura, 
não és tu Deus nos céus? Não és tu que dominas sobre todos os reinos 
dos povos? Na tua mão, está aforça e o poder, 
e não há quem te possa resistir.
2 Cr 20.6
C . H. Spurgeon em um sermão intitulado Gods Providence 
disse:
Napoleão ouviu uma vez que o homem planeja e Deus de­
fine. Napoleão disse: “Ah, mas eu também planejo e defino”. 
Como você acha que ele planejou e definiu? Ele planejou 
tomar a Rússia; ele planejou tomar toda a Europa. Ele pla­
nejou destruir aquele poderio e o que foi mesmo que acon­
teceu? Como ele definiu? Ele voltou isolado e sozinho, seu 
poderoso exército foi eliminado, simplesmente extermina­
do, seus homens praticamente devoraram uns aos outros 
por causa da fome. O homem planeja e Deus define1.
1. Spurgeon, C. H„ God’s Providence. Gospel Mission, Choteau, MT, s.d., p. 18.
À medida que estudamos a soberania de Deus ao longo da 
Bíblia, uma das referências mais freqüentes a esse assunto diz 
respeito à Sua soberania sobre as nações e governos. Alistei 
quase quarenta referências do governo de Deus sobre as na­
ções sem tentar compilar uma lista exaustiva. Deus é Senhor 
sobre toda a história humana, e Ele trabalha todos os detalhes 
dessa história, conforme disse Paulo em Ef 1.11, “conforme o 
conselho da sua vontade”. Isto é, Deus a todos os eventos da 
história; todas as decisões dos governantes, reis e parlamen­
tares; e todas as ações dos seus governos, exércitos e frotas de 
guerra servem à Sua vontade.
UMA QUESTÃO RELEVANTE
Em termos da nossa confiança em Deus, a soberania de Deus 
sobre as nações pode, à primeira vista, parecer teórica e dis­
tante de nossa vida cotidiana. No ocidente, em especial, nem 
sempre sentimos de maneira consciente as ações do governo 
influenciando nossa vida diária. As leis do país, em sua maio­
ria, nos são razoáveis e favoráveis, e no dia a dia vivemos in­
conscientes da imensidão de leis e decisões governamentais 
que nos afetam.
Para a maior parte do mundo, entretanto, a soberania de 
Deus sobre os governos é uma questão crucial. Afirma-se que 
mais cristãos foram martirizados por sua fé durante o século 
xx que durante todo o restante da história da igreja. Hoje em 
dia os cristãos são vistos de modo desfavorável em grande 
parte do mundo e em vários países sofrem perseguição dire­
ta de governos hostis. A liberdade de viver o cristianismo bí­
blico de forma pública, não valorizada nos países ocidentais, 
não é uma opção para mais da metade da população mundial. 
Para o cristão que vive nesses países, a certeza de que Deus
governa sobre os governantes que sobre eles exercem autori­
dade, deveria lhes dar coragem e confiança nos momentos de 
perturbação ou perseguição.
Aqueles que vivem em países onde a liberdade religiosa é 
praticada deveriam agradecer regularmente a Deus por tê-la. 
Ela não é um acidente da história, nem se deve meramente à 
visão dos fundadores de nossas nações, mas sim à mão sobera­
na de Deus trabalhando em nossos governantes e através deles. 
Não podemos menosprezar tal liberdade. Alexander Carson 
expressou isso bem, ao afirmar: “Assim como Deus é capaz 
de proteger Seu povo sob a maior tirania, da mesma forma a 
mais intensa liberdade civil não se constitui segurança para 
eles sem a proteção imediata do braço todo-poderoso de Deus. 
Temo que os cristãos deste país [Estados Unidos da América] 
coloquem confiança demasiada nas instituições políticas... [ao 
invés] de colocarem-na no governo de Deus”2.
Não estamos meramente preocupados com a liberdade re­
ligiosa. Nossa vida é diariamente afetada pelas decisões dos 
poderes legislativos e pelos governantes. Em todos os níveis 
os poderes legislativos estão progressivamente nos dizendo o 
que devemos ou não fazer. Por vezes, tais decisões são percep­
tíveis; outras vezes não temos ciência delas. Por vezes, são boas 
decisões, pelo menos do nosso ponto de vista; por vezes são 
decisões prejudiciais. Em todos os momentos, tais decisões, 
perceptíveis ou não, boas ou prejudiciais, estão sob o controle 
do nosso Deus soberano. Deveríamos colocar nossa confiança 
em Deus, e não no poder de tomada de decisões dos políticos, 
governantes e até mesmo das Supremas Cortes.
Certo cristão iraniano escreveu de um determinado mo­
mento, anos atrás, quando o governo iraniano emitiu um de­
creto fechando todas as escolas primárias estrangeiras, uma
2. Carson, Alexander, Confidence in God in Times ofDan^er, Reiner, Swengel, PA, 1975,
p. 41.
decisão que afetou a escola cristã na qual ele estava matricu­
lado. O diretor da escola dirigiu-se ao governo e obteve per­
missão para que a escola permanecesse parcialmente aberta 
para que alunos da quinta e sexta séries pudessem concluir o 
ensino fundamental naquela escola. Para nós isso não é um 
evento particularmente impressionante, mas um país muçul­
mano permitir que uma escola cristã permaneça funcionando 
enquanto outras escolas foram fechadas é, sem dúvida, algo 
incomum. Por que tal permissão foi concedida?
Esse homem escreveu: “Creio que foi plano de Deus para 
a minha vida que tal permissão fosse dada, de forma que eu 
pudesse concluir minha instrução fundamental numa escola 
cristã. Não é essa a maneira correta de um cristão enxergar a 
história, percebendo a mão de Deus em todos os eventos, te­
cendo o caminho das nações e das pessoas?”3.
Nosso irmão iraniano tinha uma percepção correta da so­
berania de Deus nos decretos e decisões do governo. Ele en­
xergou a mão de Deus dominando as questões governamen­
tais e por meio de tais governos as questões de cada pessoa. 
Conforme vimos no Capítulo 4, Deus é soberano no coração 
da pessoa, cujas decisões e ações nos afetam, e Deus também 
é soberano nas decisões e ações do governo, na medida em 
que nos afetam. Conforme escreveu Margaret Clarkson: “Deus 
é o Senhor da história humana e da história pessoal de cada 
membro da Sua família de redimidos”4. Não podemos separar 
a história de uma nação da história do povo daquela nação.
3. DehqaniTafti, H. B., Desiftt o f Mv World. Seabury Press, New York, 1982, p. 30.
4. Clarkson, Margaret, Grace Grows Best in Winter. Ecrdmans, Grand Rapids, MI, 
1984, p. 41.
SOBERANIA NEM SEMPRE APARENTE
O fato de Deus ser soberano sobre nossos governantes nem 
sempre é evidente para nós, uma vez que enxergamos as de­
cisões e ações deles a partir de uma perspectiva humana. Em 
geral, os governantes e os poderes legislativos realizam seu 
trabalho um tanto quanto distantes de qualquer intenção de 
fazer a vontade de Deus. Vemos isso claramente demonstrado 
na vida e na morte do Senhor Jesus Cristo.
César Augusto emitiu um decreto para que um censo fos­
se feito. Foi necessário que José e Maria fossem a Belém para 
se alistarem na mesma época do nascimento do Messias em 
Belém, em cumprimento à profecia de Miquéias (Mq 5.2). Cé­
sar certamente não pretendia ser instrumento para cumprir 
qualquer profecia judaica, mas mesmo assim foi exatamente 
o que ele fez.
Mateus registra várias ocasiões no começo da vida de Jesus 
em que a ação governamental afetou diretamente a Jesus, e em 
cada ocasião faz a observação de que por intermédio de tais 
ações algumas profecias foram cumpridas (Mt 2.14-15,17-18, 
21-23). Em cada um dos casos, as pessoas envolvidas agiram 
livremente, fazendo o que pretendiam fazer. Todavia, em cada 
ocasião elas fizeram exatamente o que Deus havia planejado 
que fizessem.
Na oração dos apóstolos, em At 4, eles disseram o seguinte 
a respeito da morte de Jesus:
Porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o 
teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pila- 
tos, com gentios e gente de Israel, p a ra fazerem tudo o que 
a tua m ão e o teu propósito predeterm inaram ; (At 4.27,28, 
ênfase acrescentada).
Obviamente, Herodes, Pilatos e os líderesjudeus fizeram 
exatamente o que desejavam fazer, entretanto eles agiram exa­
tamente como Deus havia planejado. O que Salomão disse sobre 
as pessoas em Pv 16.9: “O coração do homem traça o seu ca­
minho, mas o S e n h o r lhe dirige os passos”, se aplica não apenas 
quando o homem age por sua própria capacidade, mas também 
quando age como oficial ou governante de uma nação.
John Newton (1725-1807), um traficante de escravos con­
vertido, ministro anglicano e autor do conhecido hino “Ama- 
zing Grace \ escreveu:
Os reis da terra estão constantemente inquietando o mun­
do com suas maquinações ambiciosas. Eles esperam exe­
cutar seus planos e raramente têm algo maior em mente, 
exceto a satisfação de suas próprias paixões. Porém, em 
tudo que fazem não passam de servos do grande Rei e 
Senhor, e cumprem Seus propósitos, como instrumentos 
que Ele usa para impor a punição prescrita aos que contra 
Ele transgridem, ou para abrir uma porta para espalhar do 
Seu evangelho... Eles tinham uma coisa em mente, Deus 
tinha outra5.
Embora nem sempre consigamos perceber a mão de Deus 
nos negócios das nações conforme as vemos hoje, Seu gover­
no não é menos soberano hoje do que foi na época dos profe­
tas e dos apóstolos. Mais uma vez, a observação do professor 
Berkouwer é de grande ajuda:
Isso não significa que a obra de Deus é sempre evidente na 
intrincada união da atividade divina e humana... Ainda as­
sim, é impressionante observar quantas vezes o propósito
5. Newton, John, The Works n f John Newton. Banner of Truth, Edinburgh, 1985, 4:429.
de Deus é alcançado sem qualquer intervenção radical. 
Na superfície talvez não haja nada para ver, exceto a ati­
vidade humana criando e definindo a história num nível 
horizontal6.
É apenas na revelação bíblica que enxergamos a mão de 
Deus governando e norteando as atividades das nações e os 
efeitos de tais atividades sobre o Seu povo. Os eventos registra­
dos por Mateus, como cumprimento das profecias do Antigo 
Testamento, aconteceram como resultado de decisões huma­
nas e foram executados no curso das circunstâncias humanas 
comuns. Não fosse pelo comentário inspirado de Mateus, não 
teríamos razão para enxergar a mão soberana de Deus nelas 
mais do que na maioria das ocorrências comuns relatadas em 
nosso jornal diário.
Isso posto, da mesma forma, deveríamos enxergar nos as­
suntos registrados em nosso jornal diário a mão soberana de 
Deus, tal como a enxergamos na Bíblia. É óbvio que não temos 
para os eventos de hoje a vantagem da explicação divinamente 
revelada, como a temos nos eventos registrados na Bíblia, mas 
isso não torna o governo soberano de Deus hoje algo menos 
certo. Deus registrou em Sua Palavra exemplos específicos 
de Seu governo soberano sobre a história para que pudésse­
mos confiar nEle quanto às questões da história que hoje são 
reveladas diante de nossos olhos. Deveríamos lembrar que, 
para aqueles que experimentaram os eventos registrados nas 
narrativas bíblicas, a mão de Deus não estava mais aparente 
para eles naqueles eventos do que Sua mão está aparente para 
nós nos eventos de hoje.
6. Berkouwer, G. C, opus cit., pp. 91-92.
DEUS ESTABELECE GOVERNANTES
À medida que olhamos para as Escrituras visando determinar 
seu ensino sobre a soberania de Deus sobre as nações, há inú­
meras verdades específicas que se destacam. Primeira, Deus 
em Sua soberania estabeleceu o governo para o bem de todas as 
pessoas; do cristão bem como do não cristão. Paulo disse: “Não 
há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que 
existem foram por ele instituídas... visto que a autoridade é mi­
nistro de Deus para teu bem” (Rm 13.1,4). Reconhecidamente 
a afirmação: “a autoridade é ministro de Deus para teu bem”, 
parece ser difícil de aceitar quando vemos alguns de nossos 
irmãos em Cristo sendo perseguidos, e até mortos, por causa 
de seu compromisso com Cristo. Mais uma vez precisamos 
lembrar que Deus, em Sua sabedoria e soberania infinitas, e 
por motivos conhecidos apenas por Ele, permite que gover­
nantes ajam de forma contrária à Sua vontade revelada. Porém, 
as ações perversas de tais governantes jamais ultrapassam os 
limites da vontade soberana de Deus. É preciso lembrar que 
Deus opera na história a partir de uma perspectiva eterna, ao 
passo que nossa tendência é enxergar o desdobrar da história 
por uma perspectiva temporal.
Uma vez que Deus estabelece governantes para o nosso 
bem, e porque Ele governa soberanamente sobre as suas ações, 
deveríamos orar pedindo que eles governem para o nosso 
bem. Paulo exorta os cristãos a que orem “em favor dos reis e 
de todos os que se acham investidos de autoridade, para que 
vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito” 
(1 Tm 2.2). A oração é a expressão mais palpável da nossa con­
fiança em Deus. Se nosso desejo é confiar em Deus em relação 
à perseguição de nossos irmãos em outros países, precisamos 
ser zelosos em orar pelas autoridades que os governam. Se qui­
sermos confiar em Deus quando as decisões do governo em
nosso próprio país vão contra nosso interesse, precisamos orar 
para que Deus trabalhe no coração dos governantes e legisla­
dores que tomam as decisões. A realidade de que o coração 
do rei está na mão do Senhor destina-se a ser um estímulo à 
oração, e não um estímulo para uma atitude fatalista.
Logo a seguir, além de estabelecer governos, vemos que 
Deus determina quem governa em tais governos. “O Altíssi­
mo tem domínio sobre o reino dos homens; e o dá a quem 
quer e até ao mais humilde dos homens constitui sobre eles” 
(Dn 4.17, veja também o versículo 32). Quando consideramos 
os tiranos e ditadores perversos que reinaram, bem como os 
homens fracos e tolos que receberam posições elevadas, até 
mesmo no presente século, ficamos surpresos ao aprender que 
eles governaram dentro da vontade soberana de Deus. Isso, 
porém, é o que a Bíblia diz.
Mais uma vez, precisamos ter essa verdade em mente a 
partir da perspectiva eterna de Deus. No SI 76.10, a tradução 
Almeida Corrigida Fiel diz: “Certamente a cólera do homem 
redundará em teu louvor; o restante da cólera tu o restringirás”. 
Enquanto traduções mais recentes variam em relação a essa 
versão, trata-se de uma verdade corroborada pelo teor de toda 
a Escritura. Deus permitirá que as pessoas, quer sejam tiranos 
obstinados ou políticos sem caráter, façam apenas aquilo que 
resultará em última análise na Sua glória. Como o pecado e o 
mal contribuem para a glória de Deus no final é para nós um 
mistério, mas é uma verdade confirmada por toda a Bíblia.
Assim como Deus determina quem governa nas nações, 
Ele também determina a duração desse governo. Isaías 40.23,24 
diz:
É ele quem reduz a nada os príncipes
e torna em nulidade os juizes da terra.
Mal foram plantados e semeados,
mal se arraigou na terra o seu tronco,
já se secam, quando um sopro passa por eles,
e uma tempestade os leva como palha.
Vemos isso ilustrado de maneira clara na vida do podero­
so monarca da Babilônia, Nabucodonosor. No apogeu de seu 
poder, a sanidade mental de Nabucodonosor lhe foi tirada e 
ele foi afastado de seu povo, indo se alimentar de grama como 
gado. Passados sete anos, a razão lhe foi restituída, seus conse­
lheiros e nobres lhe procuraram e ele foi restabelecido ao trono, 
tendo se tornado ainda maior do que era antes (Dn 4.33-36). 
Do maior monarca de sua época a um louco que vivia como 
um animal, voltando a ser um monarca ainda mais podero­
so, tudo num curto espaço de sete anos - isso é uma série de 
mudanças extremas que só poderia ser orquestrada por um 
Deus soberano. E o Deus que governou absolutamente na 
vida e no destino do monarca mais poderoso daquela época 
é o mesmo que governa a vida e o destino dos governantes de 
hoje. Nenhum governante ou ditador é poderoso a ponto de 
estar além da influência do governo soberano de Deus sobre 
todas as nações da terra.
DEUS CONTROLA AS DECISÕES
Deus não apenas determina quem governa, Ele também gover­
na sobre as decisões tomadas.Provérbios 16.33 diz: “A sorte se 
lança no regaço, mas do S e n h o r procede toda decisão”. A prá­
tica de lançar sortes era comum para decidir questões impor­
tantes de estado. Por meio dessa prática os governantes eram 
escolhidos, as tarefas eram determinadas, as datas escolhidas e 
as disputas resolvidas (1 Cr 24.5; Et 3.7; Pv 18.18; Lc 1.9). O rei 
da Babilônia estabeleceu a estratégia militar lançando sortes
(Ez 21.18-22). Salomão nos diz que toda decisão que proce­
de do lançar de sortes vem de Deus, isto é, Deus controlou 
as decisões que reis e autoridades governamentais tomaram 
através desse método.
Nem todas as decisões dos tempos bíblicos foram tomadas 
por meio do lançar sortes. Algumas eram feitas, como ainda 
acontece hoje, após se procurar o conselho de outras pessoas. 
Nesses casos, Deus é soberano sobre o conselho dado e sobre 
quanto tal conselho é ouvido e seguido, de forma que Sua von­
tade soberana sempre se cumpre. Dois exemplos registrados 
no Antigo Testamento demonstram isso.
Absalão, filho de Davi, iniciou uma rebelião contra seu pai 
que resultou na fuga de Davi e de alguns fiéis seguidores de 
Jerusalém. Um dos conselheiros de confiança de Davi, Aitofel, 
havia conspirado junto com Absalão. Procurando consolidar 
seu sucesso inicial, Absalão procurou primeiro o conselho de 
Aitofel e depois de outro conselheiro, Husai, que secretamente 
ainda se mantinha leal a Davi.
Após ouvirem os conselhos contraditórios de Aitofel e Hu­
sai, Absalão e seus homens escolheram o conselho de Husai, 
que secretamente favorecia Davi. O relato bíblico desse inci­
dente nos conta que “o conselho que Aitofel dava, naqueles 
dias, era como resposta de Deus a uma consulta” (2 Sm 16.23). 
Ainda assim, Absalão escolheu seguir o conselho de Husai em 
vez do conselho de Aitofel. Por quê? A Bíblia diz: “Pois orde­
nara o S e n h o r que fosse dissipado o bom conselho de Aitofel, 
para que o mal sobreviesse contra Absalão” (2 Sm 17.14). Ve­
mos, portanto, que o conselho que Aitofel deu naquela oca­
sião era bom, todavia Absalão escolheu desconsiderá-lo, pois 
Deus fez com que ele assim agisse.
Um evento parecido aconteceu na vida do neto de Davi, 
Roboão. Ao subir ao trono, os homens de Israel pediram que 
ele aliviasse a carga de trabalho e o jugo pesado que Salomão,
seu pai, havia colocado sobre eles. Roboão consultou primeiro 
os anciãos que haviam servido a seu pai. Eles o aconselharam a 
ser favorável ao povo. Roboão, porém, rejeitou o conselho dos 
anciãos e consultou jovens que haviam crescido com ele. Eles 
o aconselharam a ser ainda mais severo com o povo. Como 
resultado, dez tribos de Israel se rebelaram contra Roboão, 
dividindo o reino.
Por que Roboão tomou uma decisão tão tola? A Bíblia 
diz: “O rei, pois, não deu ouvidos ao povo; porque este acon­
tecimento vinha do S e n h o r , para confirmar a palavra que 
o S e n h o r tinha dito” (1 Rs 12.15). Duas decisões tolas foram 
tomadas, em duas ocasiões bons conselhos foram rejeitados e 
conselhos nocivos ou tolos foram seguidos. Os dois casos são 
atribuídos ao operar soberano de Deus, norteando a mente 
dos reis para realizarem a Sua vontade.
Que observações podemos fazer a partir desses eventos re­
gistrados nas Escrituras? Primeiro Deus é capaz e de fato opera 
no coração e na mente de governantes e autoridades gover­
namentais para executar Seu propósito soberano. O coração 
e a mente deles estão sob o controle de Deus tanto quanto as 
leis impessoais da natureza. Ainda assim, cada decisão deles 
é tomada de maneira livre, quase sempre sem imaginarem ou 
mesmo considerarem a vontade de Deus.
A segunda observação que podemos fazer é que algumas 
vezes Deus move líderes ou autoridades governamentais a to­
marem decisões insensatas para trazer juízo sobre uma nação. 
Alexander Carson disse:
Por que a estupidez quase sempre prevalece sobre a sabedo­
ria nos conselhos de príncipes e nas câmaras de legislado­
res? Deus designou a rejeição do conselho sábio para trazer 
sobre as nações a vingança que seus crimes cobram do céu. 
Deus governa o mundo por meio da Providência, e não por
meio de milagres. Pense naquele distinto senador. Ele se le­
vanta e emana sabedoria. Contudo se Deus está determina­
do a punir a nação, algum especulador tagarela conseguirá 
impor seus sofismas à assembleia mais sagaz7.
Enquanto escrevo estas palavras, o governo norte-ame- 
ricano acaba de tomar uma série de decisões incrivelmente 
insensatas e ingênuas no âmbito das relações exteriores. Sob 
a influência da decadência moral exponencial da sociedade 
norte-americana, é impossível não se perguntar se isso não é 
evidência da mão julgadora de Deus sobre esse país. Se assim 
for, cristãos assim como não cristãos sofrerão as conseqüên­
cias de tais decisões. Historicamente, Deus não poupou o justo 
quando julgou uma nação (embora Ele seja capaz de fazê-lo 
se assim quiser; Êx 9.5-7).
Se tais decisões aparentemente tolas seguirem seu curso 
natural e os crentes forem pegos nas conseqüências desastro­
sas dessas decisões, devemos continuar confiando em Deus 
até mesmo nos momentos mais difíceis. Precisamos crer tan­
to que Deus é soberano sobre tais eventos quanto que o cui­
dado e o bem estar de Seus filhos não foram esquecidos nos 
mesmos eventos.
Em terceiro lugar, conforme já observado neste capítulo, 
devemos levar mais a sério nossa responsabilidade de orar 
pelos líderes governamentais para que tomem decisões sábias. 
Embora suspeitemos que algumas das decisões mais desas­
trosas sejam evidências do juízo divino, não temos segurança 
disso. Sabemos que Deus nos instruiu a interceder por nossos 
líderes. Por isso, nosso dever é orar por decisões sábias, mas 
confiar quando decisões insensatas ou nocivas são tomadas.
7. Carson, Alexander, The Historv ofProvidence. Baker, Grand Rapids, Ml, s.d., p. 154.
DEUS DETERM INA VITÓRIAS MILITARES
Além de governar as decisões dos governantes, Deus também 
governa nas vitórias e derrotas entre nações no campo de ba­
talha. A verdade afirmada em Pv 21.31, “O cavalo prepara-se 
para o dia da batalha, mas a vitória vem do S e n h o r ” é uma das 
verdades mais frequentemente declaradas acerca da soberania 
de Deus em todo o Antigo Testamento. Considere os seguintes 
textos dentre os muitos que poderiam ter sido selecionados 
(ênfase acrescentada em cada uma das citações):
Disse o Senhor a Gideão: É demais o povo que está conti­
go, para eu entregar os midianitas nas suas mãos; Israel 
poderia se gloriar contra mim, dizendo: A minha própria 
mão me livrou. Apregoa, pois, aos ouvidos do povo, dizen­
do: Quem fo r tímido e medroso, volte e retire-se da região 
montanhosa de Gileade...
Ao soar das trezentas trombetas, o S e n h o r tornou a 
espada de um contra o outro, e isto em todo o arraial, 
que fugiu rumo de Zererá, até Bete-Sita, até ao limite de 
Abel-Meolá, acima de Tabate (Jz 7.2,3,22).
Disse, pois, Jônatas ao seu escudeiro: Vem, passemos à guar­
nição destes incircuncisos; porventura, o Senhor nos aju­
dará nisto, porq u e para o S e n h o r nenhum im pedim ento 
há de livrar com muitos ou com poucos.
Houve grande espanto no arraial, no campo e em todo 
o povo; também a mesma guarnição e os saqueadores tre­
meram, e até a terra se estremeceu; e tudo passou a ser um 
terror de Deus.
Então, Saul e todo o povo que estava com ele se ajunta- 
ram e vieram à peleja; e a espada de um era contra o outro, 
e houve mui grande tumulto (1 Sm 14.6,15,20).
Chegou um homem de Deus, e fa lou ao rei de Israel, e disse: 
Assim diz o Senhor : Porquanto os siros disseram: “O Senhor 
é deus dos montes e não dos vales, toda esta grande multi­
dão entregarei nas tuas mãos, e assim sabereis que eu sou 
o Se n h o r ”.
Sete dias estiveram acampados uns defronte dos outros. Ao 
sétimo dia, travou-se a batalha, e os filhos de Israel, num só 
dia, feriram dos siros cem mil homens de pé (1 Rs 20.28,29).
Naamã, comandante do exército do rei da Síria, era grande 
homem diante do seu senhore de muito conceito, porque por 
ele o S e n h o r dera vitória à Síria; era ele herói da guerra, 
porém leproso (2 Rs 5.1).
Olhou Judá e viu que a peleja estava por diante e por detrás; 
então, clamaram ao Sen h o r , e os sacerdotes tocaram as 
trombetas. Os homens de Judá gritaram; quando gritavam, 
feriu Deus a Jeroboão e a todo o Israel diante de Abias e 
de Judá. Os filhos de Israel fugiram de diante de Judá, pois 
Deus os entregará nas suas mãos (2 Cr 13.14,16).
Por causa dessas claras afirmações da soberania de Deus na 
guerra, nós como cristãos deveríamos colocar nossa confiança 
em Deus, e não no poder bélico de nossa nação. Conforme 
diz o SI 20.7: “Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós, 
porém, nos gloriaremos em o nome do S e n h o r , nosso Deus”. 
Ou, conforme outro salmista diz:
Não há rei que se salve com o poder dos seus exércitos; 
nem por sua muita força se livra o valente.
O cavalo não garante vitória;
a despeito de sua grande força, a ninguém pode livrar.
(,Sl 33.16,17)
Para reafirmar as verdades expressas nos Salmos numa 
linguagem moderna poderíamos dizer: “Alguns confiam em 
ogivas nucleares e em grandes exércitos, mas nós confiamos 
em Deus, pois nenhum país é salvo pelo tamanho de suas for­
ças militares ou pelo poderio do seu armamento militar. Ao 
contrário, a vitória vem de Deus”.
O debate político norte-americano acerca do tamanho de 
seu arsenal nuclear, o número de porta-aviões e submarinos 
necessários à marinha é, em certo sentido, um debate vão. 
Ambos os lados estão confiando, em última análise, na “mus­
culatura nuclear”; a única coisa que difere é a quantidade de ar­
mamento necessário. Entretanto, o cristão precisa confiar em 
Deus, e não no poderio militar, seja qual for o seu tamanho.
Isso não significa que os norte-americanos devam liberar 
todo o contingente militar e aposentar todos os porta-aviões 
e tanques de guerra. Significa que, nem os norte-americanos 
e nem nós, devemos colocar nossa confiança neles. O salmista 
disse: “Não confio no meu arco, e não é a minha espada que 
me salva” (SI 44.6). Ele não confiava em seu arco ou em sua 
espada, mas nem por isso os descartou. Ele reconheceu que 
um exército precisa lutar, mas que Deus concede a vitória na 
batalha a quem Ele quiser.
Em Is 5, ao final de uma série de “ais” pronunciados con­
tra a perversa Judá, o profeta prediz uma invasão iminente 
do exército assírio, em resposta ao “assobio” de convocação 
de Deus (versículo 26). Isaías descreve a condição de preparo 
desse exército com as seguintes palavras:
E vêm apressadamente.
Não há entre elas cansado, nem quem tropece;
ninguém tosqueneja, nem dorme.
{versículos 26,27)
Ele então acrescenta a afirmação surpreendente: “nem se 
lhe rompe das sandálias a correia” (versículo 27). Na lingua­
gem moderna isso seria o equivalente a dizer: “Nem mesmo 
o laço do cadarço [de qualquer soldado] se desfará”.
Vemos nessa declaração não apenas uma afirmação da so­
berania absoluta de Deus, mas também a perfeição com a qual 
Sua soberania penetra até os mínimos detalhes. Nada fica à 
mercê do acaso, nem mesmo a correia de uma sandália ou o 
cadarço de um coturno. Todos já ouvimos a velha afirmação: 
“Pela falta de um prego, perdeu-se a ferradura; pela falta da 
ferradura, perdeu-se o cavalo; pela falta do cavalo, perdeu-se 
o cavaleiro; pela falta do cavaleiro, perdeu-se a batalha”8. Os 
detalhes são importantes, e Deus é tão soberano sobre os de­
talhes quanto é sobre o que chamamos de “panorama geral”. 
Em Is 5, o profeta nos garante que, na soberania de Deus so­
bre o campo de batalha, aquele prego que falta e que conduz 
à derrota jamais será perdido. A vitória pertence ao Senhor e 
à nação que Ele escolhe.
Por causa da soberania de Deus na batalha, podemos tam­
bém ficar firmes diante da ameaça de um holocausto nuclear. 
Um desastre desse porte não pode acontecer fora da vontade 
soberana de Deus. Obviamente, nenhum de nós sabe qual é a 
vontade soberana de Deus quanto a esse assunto, de forma que 
não podemos descartar a possibilidade de uma ampla destrui­
ção nuclear. O que podemos, sim, é eliminar a possibilidade de 
isso acontecer puramente por meio da mão descontrolada de al­
gum louco ou de algum oficial militar descuidado. Deus contro­
la tanto a mão do tirano louco quanto do oficial descuidado.
Como cristãos, não devemos nos tornar vítimas da ansie­
dade nuclear de nossos dias. Em vez disso, devemos confiar
8. “Pela Falta de um Prego” é uma canção de ninar antiga originada na Inglaterra que, 
com o passar do tempo, foi adaptada para o formato de provérbio rimado e mostra 
que o desprezo de pequenos detalhes pode trazer enormes conseqüências.
no controle soberano de Deus e orar a Ele pedindo proteção 
de um possível holocausto.
Toda essa questão a respeito da soberania de Deus no cam­
po de batalha é delicada, pois temos uma tendência inata de 
achar que nosso país está sempre certo. Pressupomos que Deus 
abençoará o nosso lado com a vitória. A Bíblia não fornece 
qualquer apoio a essa visão. Na realidade, de acordo com a 
história bíblica, às vezes Deus usa uma nação ímpia para pu­
nir outra; depois Ele se volta contra a primeira nação e a pune 
por seu pecado.
Deus usou o exército assírio para punir Judá, chamando a 
Assíria de “cetro da minha ira! A vara em sua mão é o instru­
mento do meu furor”, e dizendo: “Envio-a contra uma nação 
ímpia e contra o povo da minha indignação lhe dou ordens” 
(Is 10.5,6). Deus afirma claramente que Ele está enviando a As­
síria contra Judá; uma nação ímpia contra outra. Além disso, 
a Bíblia é muito clara quanto ao fato de que o rei da Assíria 
não se considerava um agente divino de punição:
Ela [a mente do rei], porém, assim [de acordo com 
a vontade de Deus] não pensa, 
o seu coração não entende assim; antes, 
intenta consigo mesma destruir e 
desarraigar não poucas nações.
(versículo 7)
Portanto, disse Deus: “Por isso, acontecerá que, havendo o 
Senhor acabado toda a sua obra no monte Sião e em Jerusa­
lém, então, castigará a arrogância do coração do rei da Assíria 
e a desmedida altivez dos seus olhos; porquanto o rei disse: 
Com o poder da minha mão, fiz isto, e com a minha sabedo­
ria, porque sou inteligente” (versículos 12,13).
As chamadas nações soberanas do mundo não são
verdadeiramente soberanas. Elas não são nada além de ins­
trumentos nas mãos de Deus para realizar a Sua vontade: por 
vezes para proteger Seu povo, por vezes para abrir as portas 
para o avanço do evangelho e por vezes para ser Seu instru­
mento de juízo contra o ímpio. À medida que Deus olha para 
as nações que realizam Seu propósito, mesmo quando se re­
belam contra Ele, Deus as vê como nada além de Seus instru­
mentos. Ele diz:
Porventura, gloriar-se-á o machado contra 
o que corta com ele?
Ou presumirá a serra contra o que a maneja?
Seria isso como se a vara brandisse os que a levantam
ou o bastão levantasse a quem não é pau!
(Is 10.15)
Essas nações poderosas, até mesmo as do nosso tempo, 
nada mais são do que um machado ou uma serra na mão de 
Deus. Elas podem até se gabar de sua força e de seu poder, mas 
tal poder é eficaz apenas à medida que Deus assim determina 
soberanamente.
Vemos que Deus está firmemente no controle da história, 
das nações e governantes que, de nossa perspectiva humana, 
determinam a história. Deus estabelece governos, determina 
quem irá governar e por quanto tempo, é soberano sobre os 
conselhos de estado, move governantes para que tomem tan­
to decisões sábias quanto tolas, concede vitória ou derrota na 
guerra e usa nações ímpias para executar a Sua vontade.
Conforme sugerido pelo nosso irmão iraniano, a história 
é como uma tapeçaria gigantesca com desenhos muito intri­
cados e complexos. Durante nosso limitado tempo de vida 
enxergamos apenas uma pequena fração do desenho. Além 
disso, conforme observado por outros, enxergamos a tapeçaria
pelo avesso. O avesso de uma tapeçaria normalmente não faz 
sentido. Até mesmo o lado visível da tapeçaria não fazmuito 
sentido se observamos apenas um pedacinho dela. Apenas 
Deus enxerga o lado visível, e apenas Ele enxerga a tapeça­
ria com seu desenho completo. Portanto, precisamos confiar 
nEle para que trabalhe todos os detalhes da história para a 
Sua glória, sabendo que a glória dEle e o nosso bem estão di­
vinamente atrelados.
AM PLIANDO NOSSO HORIZONTE
A maioria dos cristãos tem a tendência de pensar na soberania 
de Deus apenas em termos de seu efeito imediato sobre nós, 
nossa família e nossos amigos. Não estamos muito interessa­
dos na soberania de Deus sobre as nações e sobre a história 
a menos que estejamos sendo, consciente ou inconsciente­
mente, afetados por tal história. Estamos vagamente interes­
sados nos problemas políticos e guerras de países distantes a 
menos, por exemplo, que um amigo missionário nosso esteja 
sendo incapaz de conseguir seu visto de entrada em seu país 
de ministério.
É preciso lembrar, porém, que Deus prometeu a Abraão e à 
sua descendência que todas as nações seriam abençoadas por 
meio de Cristo (Gn 12.3; 22.18; G1 3.8). Algum dia tal promes­
sa será cumprida, pois, conforme está registrado em Ap 7.9, 
João viu “grande multidão que ninguém podia enumerar, de 
todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do tro­
no e diante do Cordeiro”. Deus possui um plano para redimir 
pessoas de todas as nações e abençoar todas as nações por 
meio de Cristo.
Entretanto, à medida que olhamos para o mundo ao nos­
so redor o que vemos? Vemos metade da população mundial
vivendo em países cujos governantes são hostis ao evangelho, 
onde missionários não podem entrar e onde cristãos do pró­
prio país são severamente prejudicados em termos de pro­
clamar a Cristo. Como é que confiamos em Deus quanto ao 
cumprimento de Suas promessas quando os eventos e as con­
dições atuais parecem tão diretamente contrários ao cumpri­
mento delas?
Podemos extrair uma lição do exemplo de Daniel. Ele com­
preendeu a partir das Escrituras, na profecia de Jeremias, que 
a desolação de Jerusalém duraria setenta anos, e ao perceber 
que os setenta anos estavam quase completos, Daniel se pôs a 
orar (Dn 9). Daniel reconheceu que seu povo estava no exílio 
por causa de seus pecados e reconheceu que um Deus sobera­
no, e apenas um Deus soberano, seria capaz de retirá-los do 
exílio. Ele confiou na soberania e na fidelidade de Deus, por 
isso ele orou. Poderíamos dizer que ele clamou a Deus por Sua 
promessa feita a Jeremias. Nem a soberania de Deus, nem Sua 
promessa de restaurar os exilados, fez com que Daniel esmo­
recesse numa atitude fatalista e passiva.
Daniel percebeu que a soberania de Deus e a promessa 
dEle tencionavam estimulá-lo à oração. Porque que Deus é 
soberano, Ele é capaz de responder. Porque Deus é fiel às Suas 
promessas, Ele responderá. Daniel orou e Deus respondeu. 
Conforme vimos no Capítulo 4, Deus moveu o coração do 
rei persa para que permitisse e até mesmo encorajasse, todos 
os exilados que quisessem, para voltar a Jerusalém para re­
construir o templo.
Ao contemplarmos a condição do mundo hoje, tão comple­
tamente hostil ao evangelho, precisamos também contemplar 
a soberania de Deus e Suas promessas. Ele prometeu redi­
mir pessoas de todas as nações e Ele ordenou que fizéssemos 
discípulos de todas as nações. Portanto, precisamos confiar 
em Deus através da oração. Alguns irão a outras nações à
medida que Deus abre as portas, mas todos nós precisamos 
orar. Precisamos aprender a confiar em Deus, não apenas nas 
circunstancias desfavoráveis individuais de nossas vidas, mas 
também nas circunstancias desfavoráveis da igreja como um 
todo. Precisamos aprender a confiar em Deus quanto ao es­
palhar do evangelho, até mesmo em regiões onde ele é seve­
ramente restrito.
Deus é soberano sobre as nações. Ele é soberano sobre os 
líderes do nosso próprio governo, em todas as suas ações que 
nos afetam, direta ou indiretamente. Ele é soberano sobre as 
autoridades governamentais nos países onde nossos irmãos 
em Cristo sofrem por sua fé nEle. Ele é soberano sobre as na­
ções onde todas as tentativas são feitas para eliminar o cris­
tianismo. Em todas essas áreas, podemos e devemos confiar 
em Deus.
C A P Í T U L O SE I S
O PODER DE DEUS SOBRE A NATUREZA
Acaso, haverá entre os ídolos dos gentios 
algum que faça chover?
Ou podem os céus de si mesmos dar chuvas?
Não és tu somente, ó Se n h o r , nosso Deus, o quefazes isto? 
Portanto, em ti esperamos, 
pois tu fazes todas estas coisas.
J r 14.22
E m setembro de 1985, um terremoto sacudiu a Cidade do Mé­
xico, matando cerca de 6.000 pessoas e deixando mais de 
100.000 desabrigados. Um amigo meu quis usar esse evento 
para ensinar seus filhinhos uma simples lição científica, en­
tão lhes perguntou:
“Vocês sabem o que causa o terremoto?” Ele planejava res­
ponder a pergunta com uma explicação simples das falhas 
geológicas e das rochas em movimento na crosta terrestre.
Entretanto, sua aula de sismologia rapidamente se transfor­
mou numa discussão teológica, quando sua filha de oito anos 
respondeu: “Eu sei por quê. Deus estava exercendo juízo sobre 
aquelas pessoas”. Embora a filha do meu amigo tenha chegado 
a uma conclusão não comprovada sobre o juízo de Deus, ela 
estava, em certo sentido, teologicamente correta. Deus estava
no controle daquele terremoto. Por qual razâo Ele permitiu o 
ocorrido é uma pergunta que não somos capazes de respon­
der (e nem deveríamos tentar), mas podemos dizer, de acordo 
com o testemunho bíblico, que Deus de fato permitiu aquele 
terremoto ou fez com que ele acontecesse.
DEUS CONTROLA 0 TEM PO1
Todos nós somos afetados pelo tempo e pelas forças da natu­
reza em vários momentos de uma forma ou outra. Geralmente 
somos apenas incomodados pelo tempo - um voo atrasado, 
um passeio cancelado ou algo do gênero. Frequentemente 
algumas pessoas em algum lugar são drasticamente afetadas 
pelo tempo ou por forças mais violentas da natureza. Uma 
seca prolongada faz murchar a colheita de um fazendeiro ou 
uma tempestade de granizo acaba com ela em questão de ho­
ras. Um tornado no estado do Texas deixa centenas de pessoas 
desabrigadas, e um ciclone em Bangladesh destrói milhares 
de alqueires de plantações.
Sempre que somos afetados pelo tempo, seja isso uma mera 
inconveniência ou um desastre gigantesco, temos a tendência 
de considerá-lo como nada além de uma expressão impessoal 
de algumas leis meteorológicas ou geológicas fixas. Um siste­
ma de baixa pressão para sobre a minha cidade natal, trazendo 
uma imensa tempestade de neve, e fecha o aeroporto no dia 
em que estou de viagem para um compromisso do ministério. 
As forças dentro da terra pressionam a crosta até que um dia 
ela se rompe, causando um grande terremoto. Quer seja algo 
trivial ou traumático, tendemos a pensar sobre as expressões 
da natureza como algo que “simplesmente acontece” e nos
1. N.R.: Quando o autor fizer menção da palavra “tempo" a usará com o significado de
clima.
consideramos vítimas “sem sorte” daquilo que a natureza pro­
porcionar. Na prática, até mesmo o cristão tem a tendência 
de pensar como o deísta que mencionei num capítulo ante­
rior, que considera Deus como Aquele que criou o universo 
e então o deixou funcionando de acordo com suas próprias 
leis naturais.
Entretanto, Deus não abandonou o controle diário de Sua 
criação. Ele certamente estabeleceu leis físicas pelas quais Ele 
governa as forças da natureza, mas tais leis funcionam conti­
nuamente de acordo com a Sua vontade soberana. Um mete­
orologista de t v cristão concluiu que existem mais de 1.400 
referências relativas à terminologia do tempo na Bíblia2. Mui­
tas dessas referências atribuem o funcionamento do tempo 
diretamente à mão de Deus. A maioria dessas passagens fala 
do controle de Deus sobre todo o tempo, e não apenas de Sua 
intervenção divina em ocasiões específicas.
Considere as seguintes passagens bíblicas:
Ele o solta por debaixo de todos os céus, 
e o seu relâmpago, até aos confins da terra.
Porque elediz à neve: Cai sobre a terra; 
e à chuva e ao aguaceiro: Sede fortes.
Pelo sopro de Deus se dá a geada, 
e as largas águas se congelam.
Também de umidade carrega as densas nuvens, 
nuvens que espargem os relâmpagos.
Então, elas, segundo o rumo que ele dá, 
se espalham para uma e outra direção, 
para fazerem tudo o que lhes ordena
2 . Nichols, Mike, “How’s the W eatherí”. Christian Herald, Julho/Agosto, 1984, p. 33.
sobre a redondeza da terra.
E tudo isso fa z ele vir para disciplina,
se convém à terra,
ou para exercer a sua misericórdia.
(Jó 37.3,6,10-13)
[Ele] que cobre de nuvens os céus, 
prepara a chuva para a terra, 
fa z brotar nos montes a erva.
[Ele] dá a neve como lã 
e espalha a geada como cinza.
Ele arroja o seu gelo em migalhas; 
quem resiste ao seu frio?
Manda a sua palavra e o derrete; 
fa z soprar o vento, e as águas correm.
(Sl 147.8,16-18)
Fazendo ele ribombar o trovão, 
logo há tumulto de águas no céu, 
e sobem os vapores das extremidades da terra; 
ele cria os relâmpagos para a chuva 
e dos seus depósitos fa z sair o vento.
(Jr 10.13)
Além disso, retive de vós a chuva,
três meses ainda antes da ceifa;
e f z chover sobre uma cidade
e sobre a outra, não;
um campo teve chuva,
mas o outro, que ficou sem chuva, se secou.
(Am 4.7)
Observe como todos esses textos atribuem todas as expres­
sões relativas ao tempo - boas ou ruins - diretamente à mão 
controladora de Deus. As companhias de seguro fazem refe­
rência aos desastres naturais como “atos de Deus”3. A verdade 
é que todas as expressões da natureza, todos os acontecimen­
tos relativos ao tempo, quer seja um tornado devastador ou 
uma garoa num dia da primavera, são atos de Deus. A Bíblia 
ensina que Deus controla todas as forças da natureza, tanto as 
destrutivas quanto as produtivas, de maneira contínua.
Quer o tempo esteja bom ou ruim, jamais somos vítimas 
ou mesmo os beneficiários das forças impessoais da natureza. 
Deus, que é o Pai celestial amoroso de todo cristão verdadeiro, 
é soberano sobre o tempo e exerce tal soberania a todo ins­
tante. Conforme afirmou G. B. Berkouwer: “O cristão jamais 
é vítima dos poderes da natureza ou do destino. O acaso é 
eliminado”4.
RECLAMAR OU AGRADECER
Reclamar sobre o tempo parece ser um passatempo favorito 
dos norte-americanos. Infelizmente, nós os cristãos nos fla­
gramos praticando esse ato ímpio da nossa sociedade. Porém, 
quando reclamamos do tempo, estamos na verdade reclaman­
do de Deus que nos enviou tal condição de tempo. Estamos, 
na realidade, pecando contra Deus (Nm 11.1).
Não pecamos apenas contra Deus quando reclamamos do 
tempo, mas também nos privamos da paz que vem do reco- 
nhecimendo de que nosso Pai celeste está no controle dele. 
Alexander Carson disse: "A Bíblia nos mostra que todas as leis
3. N.R.: No Brasil os desastres naturais não são classificados da mesma forma que nos 
Estados Unidos, inclusive há possibilidade de cobertura para esse tipo de sinistro.
4. Berkouwer, G. C., opus cit., p. 85.
físicas têm seu efeito a partir da ação imediata do Todo-Pode- 
roso... os próprios cristãos, embora reconheçam a doutrina [da 
providência de Deus], são propensos a ignorá-la na prática, e 
consequentemente são privados, em grande medida, da vanta­
gem que uma impressão constante e profunda dessa verdade 
pode fornecer”5. Quer o tempo simplesmente atrapalhe meu 
dia ou destrua a minha casa, preciso aprender a enxergar a 
soberania de Deus e a Sua mão amorosa controlando-o.
Fato é que, para a maioria de nós, o tempo e os efeitos da 
natureza são normalmente favoráveis. O tornado, a seca, até 
mesmo as tempestades de neve que atrasam voos são a ex­
ceção e não a regra. Temos a tendência de lembrar o tempo 
“ruim” e ignorar o tempo bom. Entretanto, Jesus falou sobre 
o tempo, e falou sobre a bondade de Deus: “Ele faz nascer o 
seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” 
(Mt 5.45).
Embora Deus às vezes use o tempo e outras expressões da 
natureza como instrumentos de juízo (Am 4.7-9), Ele nor­
malmente usa o tempo como uma expressão da Sua provisão 
graciosa para a Sua criação. Tanto o santo como o pecador se 
beneficiam igualmente da provisão graciosa de Deus do tempo. 
De acordo com Jesus, tal provisão não é meramente resultante 
da certas leis físicas fixas e inexoráveis. Deus controla tais leis. 
Ele/az o sol nascer, Ele envia a chuva.
Deus certamente estabeleceu algumas leis físicas para a 
operação do Seu universo; todavia, tais leis sempre funcionam 
de acordo com a Sua vontade direta. Novamente, Alexander 
Carson explicou isso muito bem quando disse: “O sol e a chu­
va ministram a nutrição e o conforto igualmente para o justo 
e para o ímpio, não a partir da precisão das leis gerais, mas a
5. Carson, Alexander, The Historv o f Providettce, Baker, Grand Rapids, MI, s.d.
partir da providência imediata dAquele que, no governo do 
mundo, quer tal resultado”6.
Como cristãos, precisamos parar de reclamar do tempo 
e aprender a agradecer por ele. Deus, nosso Pai celeste, en­
via-nos diariamente aquilo que Ele julga ser melhor para a 
Sua criação.
DESASTRES NATURAIS
E o que dizer dos desastres naturais que acontecem com frequên­
cia em várias partes do mundo? Muitos cristãos suscetíveis têm 
sérias dificuldades relativas à vasta gama de desastres naturais 
em grande escala que acontecem ao redor do mundo - um ter­
remoto num lugar, a fome em outro, tufões e enchentes em outro 
lugar. Milhares de pessoas morrem imediatamente, outras mor­
rem lentamente de fome. Regiões inteiras são devastadas, plan­
tações são arruinadas, lares são destruídos. Podemos perguntar: 
“Por que Deus permite tais coisas?” ou “Por que Deus permite 
que todas aquelas crianças inocentes morram de fome?”.
Não é errado lutar com tais questões, contanto que faça­
mos isso com uma atitude reverente e submissa a Deus. Na 
verdade, deixar de lutar com a questão da tragédia em gran­
de escala pode até mesmo indicar uma falta de compaixão 
da nossa parte para com os outros. Entretanto, precisamos 
cuidar para, em nossa mente, não tirar Deus de Seu trono da 
soberania absoluta ou colocá-lo no banco dos réus e levá-lo 
para o nosso tribunal a fim de julgá-Lo.
Enquanto escrevia este capítulo, assisti ao noticiário da 
t v certa noite. Uma das matérias principais foi de uma série 
de grandes tornados que varreu a parte central do estado de
6. Carson, Alexander, Conüdence in God in Times ofD anfer. Reincr, Swengel, PA, 1975,
pp. 4,5.
Mississippi, matando 7 pessoas, ferindo pelo menos outras 
145 e deixando aproximadamente 500 famílias desabrigadas. 
Enquanto eu assistia às imagens das pessoas mexendo nos es­
combros daquilo que fora seus lares, meu coração se compa­
deceu delas. Pensei comigo mesmo: “Algumas dessas pessoas 
certamente são cristãs. O que eu diria a elas a respeito da so­
berania de Deus sobre a natureza? Será que eu mesmo creio 
nisso em momentos assim? Não seria mais fácil simplesmente 
aceitar a afirmação do Rabino Kushner de que isso é apenas 
um ato da natureza - uma natureza moralmente cega que se 
agita de acordo com suas próprias leis? Por que trazer Deus 
para dentro de tal caos e sofrimento?”.
Mas o próprio Deus é quem faz tais eventos acontecerem. 
Ele disse em Is 45.7:
Eu form o a luz e crio as trevas;
faço a paz e crio o mal;
eu, o Senhor , faço todas estas coisas.
O próprio Deus aceita a responsabilidade dos desastres, por 
assim dizer. Na realidade, Ele vai além de aceitar a responsa­
bilidade; Ele de fato reivindica a responsabilidade. No fundo, 
Deus diz: “Eu, e Eu apenas, tenho o poder e a autoridade de 
trazer à existência tanto a prosperidade quanto o desastre, tan­
to a felicidade quanto o pesar, tanto o bem quanto o mal”.
E uma verdade difícil de aceitar quando você assiste pes­
soas olhando cuidadosamente no meio do escombro de seus 
lares ou - mais forte ainda - se você está remexendo no meio 
dos escombros da sua casa. Porém, conforme comentou o Dr. 
Edward J. Young sobre Is 45.7: “Nós nada ganhamosprocu­
rando minimizar a força do presente versículo”7. Precisamos
7. Young, Edward J., The Book o fh a ia h , Eerdmand, Grand Rapids, MI, 1984, 3:201.
deixar que a Bíblia diga o que diz, e não o que achamos que 
ela deveria dizer.
Obviamente não compreendemos por que Deus cria de­
sastres, ou por que Ele os provoca em uma cidade específica 
e não em outra. Reconhecemos, também, que assim como 
Deus envia o Seu sol e a Sua chuva tanto para o justo quan­
to para o injusto, Ele também envia o tornado, o furacão ou 
o terremoto sobre ambos. Tenho amigos, colegas da missão 
Os Navegadores, que estavam no meio do terremoto de 1985, 
na Cidade do México. A soberania de Deus sobre a natureza 
não significa que cristãos jamais enfrentarão as tragédias de 
desastres naturais. A experiência e a observação claramente 
ensinam o contrário.
A soberania de Deus sobre a natureza significa de fato que, 
qualquer coisa que experimentemos seja por causa do tempo 
ou de outras forças da natureza (assim como pragas ou invasão 
de insetos em nossa plantação), todas as situações estão debai­
xo do olhar atento e do controle soberano do nosso Deus.
AFLIÇÕES FÍSICAS
A doença e a atribulação física constituem outra área na qual 
lutamos para confiar em Deus. Bebês vêm ao mundo com de­
formidades sérias de nascença. O câncer atinge pessoas que, 
aparentemente, fizeram todo o possível para evitá-lo. Outras 
experimentam dores contínuas anos a fio sem qualquer alívio 
da medicina. Até mesmo aqueles que gozam de boa saúde e 
são habitualmente fortes experimentam doenças nos momen­
tos mais inoportunos. Deus é soberano sobre esse aspecto da 
natureza? Ele está no controle das doenças e enfermidades 
físicas que nos atingem?
Quando Deus chamou Moisés para liderar os israelitas para
fora do Egito, Moisés declarou sua incapacidade, incluindo 
o fato de ser pesado de língua. A resposta de Deus a Moisés 
é muito instrutiva na área de aflição física, pois Deus disse: 
“Respondeu-lhe o S e n h o r : Quem fez a boca do homem? Ou 
quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou 
eu, o S e n h o r ? ” ( Ê x 4.11). Aqui Deus atribui especificamente 
à Sua própria obra as aflições físicas da surdez, da mudez e 
da cegueira. Tais aflições físicas não são meramente produto 
de genes defeituosos ou de acidentes no nascimento. Essas 
coisas podem de fato ser a causa imediata, mas por trás delas 
encontra-se o propósito soberano de Deus. O doutor Donald 
Grey Bernhouse, um dos grandes professores de Bíblia dos 
meados do século 20, disse certa vez: “Nenhuma pessoa no 
mundo ficou cega sem que Deus houvesse planejado a sua ce­
gueira; nenhuma pessoa ficou surda sem que Deus houvesse 
planejado sua surdez... Se você não acredita nisso, você pos­
sui um Deus estranho que possui um universo que saiu do 
compasso e que é incapaz de controlá-lo”8.
Quando Jesus encontrou um homem cego de nascimento, 
Seus discípulos perguntaram a Ele: “Mestre, quem pecou, este 
ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9.2). Jesus respon­
deu: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se mani­
festem nele as obras de Deus” (versículo 3). Jesus não respon­
deu dizendo que não foi meramente um defeito de nascença 
que provocou a cegueira do homem. Em vez disso, a cegueira 
aconteceu no plano de Deus para que Deus pudesse ser glori- 
ficado. Deus estava no controle da cegueira daquele homem.
Esse Deus que é o Deus da surdez, da mudez e da cegueira, 
também é o Deus do câncer, da artrite, da síndrome de Down, 
e de todas as aflições que nos atingem e àqueles a quem ama­
mos. Nenhuma dessas aflições “simplesmente acontece”. Elas
8. Citado a partir de uma cópia impressa de um sermão, “The Sovereigntv o f God”. pre­
gado pelo Dr. Donald G. Barnhouse, s.d., p. 2.
se encontram dentro da vontade soberana de Deus. Tal afir­
mação nos remete imediatamente ao problema da dor e do 
sofrimento. Por que um Deus soberano que nos ama permite 
tanta dor e sofrimento?
A resposta para essa pergunta encontra-se além do escopo 
deste livro. Resumidamente, sabemos que toda criação foi su­
jeita à frustração por causa do pecado de Adão (conf. Rm 8.20). 
Sendo assim, podemos dizer que a causa fundamental de toda 
dor e sofrimento pode ser rastreada até a Queda. O bem ou 
mal de Deus não é arbitrário ou caprichoso, mas Sua resposta 
detèrminada ao pecado do homem. O Deus soberano que su­
jeitou a criação à frustração ainda a governa, com dor e tudo 
mais. As leis da genética e as doenças estão tão sob o contro­
le dEle tanto quanto as leis da meteorologia. Meu propósito 
não é lidar teologicamente com o problema da dor, mas nos 
ajudar a lidar com ele no nível da fé, da confiança em Deus. 
A primeira coisa que devemos fazer para que confiemos em 
Deus é determinar se Ele está no controle, se Ele é soberano 
sobre a área física da nossa vida. Se Ele não for; se as doenças 
e aflições “simplesmente acontecem”, obviamente então não 
há qualquer fundamento para se confiar em Deus. Porém, 
se Deus é soberano nessa área, então podemos confiar nEle 
sem compreender todas as questões teológicas envolvidas no 
problema da dor.
AUSÊNCIA DE FILHOS
Outro campo de batalha na confiança em Deus é a questão 
da ausência de filhos. Vários casais oram durante anos sem 
quaisquer resultados quanto ao nascimento de seus filhos. En­
tretanto, aqui também a Bíblia afirma de maneira consisten­
te que Deus está no controle. A respeito de Ana, a Bíblia diz
que “ainda mesmo que o S e n h o r a houvesse deixado estéril” 
(1 Sm 1.5), enquanto Ele abriu a madre de Lia (conf. Gn 29.31). 
Sara, esposa de Abraão, disse: “Eis que o S e n h o r me tem im­
pedido de dar à luz filhos” (Gn 16.2). O anjo do Senhor disse 
à mãe de Sansão antes do nascimento dele: “Eis que és estéril 
e nunca tiveste filho; porém conceberás e darás à luz um filho” 
(Jz 13.3) O anjo do Senhor disse a Zacarias: “a tua oração foi 
ouvida; e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho” (Lc 1.13).
Todas essas passagens bíblicas nos ensinam que Deus con­
trola a concepção de filhos. Na realidade o Salmo 139.13 vai 
um passo além e declara: “Pois tu formaste o meu interior, tu 
me teceste no seio de minha mãe”. Deus não apenas controla 
a concepção, Ele até mesmo supervisiona a formação daquele 
pequeno bebê no ventre de sua mãe. Deus certamente exerce 
um controle soberano e amoroso sobre todas as obras da Sua 
criação, incluindo aquilo que acontece ao nosso corpo físico.
Então, como podemos confiar nEle no meio da aflição ou 
da doença, na tristeza da ausência de filhos ou de uma criança 
que nasce com um defeito grave de nascença? Se Deus está no 
controle, por que Ele permite que tais coisas aconteçam? No 
capítulo 1, eu disse que para confiarmos em Deus em meio à 
adversidade, precisamos crer que Deus é completamente so­
berano, perfeito em amor e infinito em sabedoria. Ainda não 
estudamos o amor e a sabedoria de Deus, mas por enquanto 
considere apenas uma passagem da Bíblia:
O Senhor não rejeitará para sempre; 
pois, ainda que entristeça a alguém, 
usará de compaixão
segundo a grandeza das suas misericórdias; 
porque não aflige, nem entristece de bom grado 
os filhos dos homens.
(Lm 3.31-33)
Deus não traz de bom grado aflições ou tristeza a nós. Ele 
não se agrada em nos fazer passar por dor e sofrimento. Ele 
sempre possui um propósito para a dor que traz ou que per­
mite a nós aconteça. Na maioria das vezes desconhecemos tal 
propósito, mas basta saber que Sua sabedoria infinita e seu 
amor perfeito determinaram que aquela dor é o melhor para 
nós. Deus jamais desperdiça dor. Ele sempre a usa para reali­
zar Seu propósito. E o seu propósito visa a Sua glória e o nos­
so bem. Portanto, podemos confiar em Deus quando o nosso 
coração está ansioso e o nosso corpo é fustigado pela dor.
Confiar em Deus em meio à dor e a tristeza significa aceitar 
que isso vem dEle. Há uma grande diferença entre aceitação 
e qualquer resignação ou submissão. Podemos nos resignar a 
uma situação difícil, simplesmenteporque não vemos alter­
nativa. Muitos fazem isso boa parte do tempo. Ou podemos 
nos submeter à soberania de Deus em nossas circunstâncias 
com certa quantidade de relutância. Porém, aceitar verdadei­
ramente a nossa dor e tristeza tem uma conotação de volunta- 
riedade. Uma atitude de aceitação diz que confiamos em Deus, 
que Ele nos ama e sabe o que é melhor para nós.
A aceitação não significa que não oramos pedindo cura fí­
sica, ou pela concepção de um filho em nosso casamento. De­
vemos de fato orar por tais coisas, mas devemos orar de forma 
confiante. Devemos perceber que, embora Deus possa fazer 
todas as coisas, por razões infinitamente sábias e amorosas, 
Ele pode não fazer aquilo que pedimos em oração. Como sa­
bemos por quanto tempo devemos orar? Enquanto pudermos 
orar de maneira confiante, com uma atitude de aceitação da 
Sua vontade, devemos orar enquanto o desejo existir.
Enquanto escrevia este capítulo, percebi muito bem que 
eu jamais experimentei as tragédias sobre as quais estou es­
crevendo. Jamais estive na pele de um fazendeiro assistindo 
a uma tempestade de granizo destruir minha plantação, nem
precisei remexer nos escombros de minha casa destruída por 
um tornado. Jamais experimentei uma dor física prolongada, 
nem passei pela dor de ter uma criança que nasceu com um 
defeito de nascença incurável. As enfermidades físicas que 
tenho, como minha audição parcial e meu problema de visão, 
são pequenos se comparados às enfermidades dos outros. En­
tão, eu admito que estou escrevendo sobre algo que está além 
da minha experiência.
Entretanto, eu sei que Deus não precisa da minha experiên­
cia para validar a veracidade da Sua Palavra. Fato é que Seu 
controle soberano sobre a natureza foi atestado em Sua Palavra 
muito antes de eu entrar em cena e ainda permanecerá firme 
depois de eu partir deste mundo. Nossa confiança em Deus 
não deve se basear na experiência de alguém, mas naquilo que 
Deus nos falou a respeito de Si mesmo em Sua Palavra.
Muitas centenas de anos atrás, o profeta Habacuque lutou 
com a questão “Onde está Deus?” em todo o mal que ele via 
a sua volta. Ele finalmente chegou à conclusão de que, em­
bora ele não compreendesse o que Deus estava fazendo, ele 
confiaria em Deus. Sua afirmação de confiança, formulada 
na linguagem de um mundo caótico ao seu redor, seria um 
exemplo adequado para seguirmos à medida que lutamos com 
a soberania de Deus sobre a natureza. Habacuque disse:
Ainda que a figueira não floresça, 
nem haja fruto na vide; 
o produto da oliveira minta, 
e 05 campos não produzam mantimento; 
as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, 
e nos currais não haja gado, 
todavia, eu me alegro no Senhor , 
exulto no Deus da minha salvação.
(Hc 3.17-18)
C A P Í T U L O S E T E
A SOBERANIA DE DEUS E A 
NOSSA RESPONSABILIDADE
Porém nós oramos ao nosso Deus e, como proteção, 
pusemos guarda contra eles, de dia e de noite.
Ne 4.9
\
A medida que examinamos as Escrituras para ver o que nos 
ensinam acerca da soberania de Deus, eu ocasionalmente 
introduzi uma palavra de cautela sobre os perigos do mau uso 
ou do abuso do ensino da soberania de Deus. Neste capítulo, 
queremos abordar esse problema de maneira mais detalha­
da para que não comecemos a achar inconscientemente que 
a soberania de Deus anula qualquer responsabilidade nossa 
quanto a viver uma vida responsável e prudente.
Conta-se a história de um homem que levava a doutrina da 
soberania de Deus a tal extremo que ele acabou caindo numa 
espécie de fatalismo divino. Certo dia, ao descer um lance de 
escadas, descuidou-se, tropeçou e caiu de cabeça no chão. Ao 
se levantar, ele avaliou cuidadosamente seus machucados e 
disse para si mesmo: “Ufa! Sou grato por ter terminado. Ain­
da bem que esta terminou”.
Se nós não formos cuidadosos, poderemos adotar, tal qual
o homem insensato da história, uma atitude fatalista em rela­
ção à soberania de Deus. Um aluno que vai mal numa prova 
importante tenta se justificar dizendo: “Bom, Deus é soberano, 
e Ele determinou que eu fosse mal nesta prova”. Um moto­
rista pode causar um acidente e, interiormente, fugir de sua 
falta de cuidado, atribuindo o acidente à soberania de Deus. 
É claro que tais atitudes não se coadunam com o que ensina 
a Bíblia, portanto, são tolas; entretanto, não é difícil agirmos 
dessa maneira.
SOBERANIA E ORACÃO
No capítulo anterior, tratamos do controle soberano de Deus 
sobre o tempo1 e outras forças da natureza. Como viajo de 
avião com frequência, fui prejudicado várias vezes pelas con­
dições inadequadas do tempo para voar. Certa tarde, dirigindo 
rumo à minha casa em meio a uma tempestade de neve, refle­
tia sobre o fato de o aeroporto estar fechado devido à tempes­
tade e que eu tinha voo marcado para a manhã seguinte para 
pregar numa conferência. No entanto disse a mim mesmo e 
a Deus: “Deus, sei que o Senhor controla essa tempestade, e 
também está no controle da conferência em que irei pregar. 
Se o Senhor desejar que eu esteja nessa conferência amanhã 
à noite, o Senhor desviará a tempestade para que o aeroporto 
possa reabrir amanhã cedo. Não vou ficar ansioso”.
Nessas circunstancias, preciso admitir que essa atitude de 
me recusar a ficar ansioso foi um progresso para mim ao me 
deparar com um clima desfavorável para voar. Depois de che­
gar em casa, contei à minha esposa minha decisão de não ficar 
ansioso sobre poder ou não sair no horário na manhã seguinte.
1. N.R.: Da mesma forma que no capítulo anterior, a palavra “tempo” ao clima.
Ela me olhou com um sorriso e disse: “Não fique ansioso, mas 
ore a respeito”.
Pensei comigo mesmo, como fu i tolo. Eu havia focado tão 
fortemente na soberania de Deus acerca do clima que acabei 
negligenciando completamente Sua ordem expressa para orar­
mos. Ele de fato diz para nós: “Não andeis ansiosos de coisa 
alguma”, mas logo o texto continua com “em tudo, porém, se­
jam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração 
e pela súplica, com ações de graças” (Fp 4.6).
Deus certamente estava no controle soberano daquela tem­
pestade de neve que havia fechado nosso aeroporto. Porém, o 
conhecimento de que Deus é soberano tem o propósito de ser 
um encorajamento para orarmos, e não uma desculpa para 
cairmos num fatalismo piedoso.
O quarto capítulo de Atos nos fala sobre Pedro e João sendo 
ameaçados pelo Sinédrio judaico e recebendo a ordem de não 
falar ou ensinar qualquer coisa em nome de Jesus. Quando 
Pedro e João relataram isso aos outros cristãos, eles levanta­
ram suas vozes em uníssono ao Senhor em oração:
Tu, Soberano Senhor, que fizeste o céu, a terra, o m ar e tudo 
o que neles há;... para fazerem [Herodes, Pôncio Pilatos, os 
gentios, os judeus] tudo o que a tua mão e o teu propósito 
predeterminaram; agora, Senhor, olha para as suas ameaças 
e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepi­
dez a tua palavra (At 4.24,28,29).
Os discípulos criam na soberania de Deus. Todavia, a so­
berania de Deus era para eles um motivo e um encorajamen­
to para orar. Eles criam que, pelo fato de Deus ser soberano, 
Ele era capaz de responder à oração deles. Eles reconhece­
ram o propósito soberano de Deus nos eventos passados (por 
exemplo: na crucificação), mas jamais presumiram conhecer
o decreto divino para os eventos futuros. Sabiam apenas que 
Cristo havia ordenado que fossem Suas testemunhas em Je­
rusalém, em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra. 
Assim eles oraram, confiantes que o Deus soberano, o qual ha­
via ordenado que fossem testerpunhas, era capaz de eliminar 
os obstáculos à obediência deles.
A oração pressupõe a soberania de Deus. Se Deus não é 
soberano, não temos segurança de que Ele é capaz de respon­
der à nossa oração. Ela não passaria de meros desejos. Porém, 
enquanto a soberania de Deus, juntamente com Sua sabedo­
ria e amor, se constituem no fundamento da nossa confiança 
nEle, a oração é a expressão dessa confiança.
O pregador puritano Thomas Lye, num sermão intitulado 
“How are We to Liveby Faith on Divine Providence?”, disse: 
“Assim como a oração sem fé é um esforço inútil, a confiança 
sem a oração [é] apenas uma vangloria presunçosa. Aquele 
que promete dar, e nos ordena a confiar em Suas promessas, 
também ordena que oremos, e espera que obedeçamos à Sua 
ordem. Ele nos dará, mas não sem que peçamos”2.
Enquanto preso em Roma, o apóstolo Paulo escreveu ao 
seu amigo Filemom: “Além disso, prepare-me um aposento, 
porque, graças às suas orações, espero poder ser restituído 
a vocês” (Fm 22 - NVI). Paulo não supôs conhecer a vonta­
de secreta de Deus. Ele esperava ser restituído. Ele não disse 
simplesmente: “Serei restituído”. Mas ele sabia que Deus em 
Sua soberania era completamente capaz de soltá-lo, então ele 
pediu que Filemom orasse por isso. A oração era a expressão 
da confiança de Paulo na soberania de Deus.
John Flavel foi outro pregador puritano e um escritor
2. Lye, Thomas, "How Are We to Live bv Faith on Divine Providence?” Puritan 
Sermons 1659-1689. Richard Owen Roberts, Publisher, Wheaton, IL: 1981,1:374. Esta 
é uma coleção de sermões de setenta e cinco pregadores puritanos, originalmente pu­
blicada com intervalos irregulares entre 1660 e 1691, em Londres.
prolífico (seis volumes de obras selecionadas). Ele escreveu 
um tratado clássico intitulado The Mystery o f Providence, pu­
blicado pela primeira vez em 16783. É instrutivo observar que 
Flavel começa seu tratado sobre a providência soberana de 
Deus com uma homilia no SI 57.2: “Clamarei ao Deus Altís­
simo, ao Deus que por mim tudo executa”. Resumindo, Fla­
vel nos diz que pelo fato de Deus ser soberano, deveríamos 
orar. A soberania de Deus não anula nossa responsabilidade 
de orar; mas ao contrário torna possível a oração feita com 
confiança.
SOBERANIA E PRUDÊNCIA
Assim como a soberania de Deus não coloca de lado nossa 
responsabilidade de orar, ela também não anula nossa respon­
sabilidade de agir com prudência. Nesse contexto, agir com 
prudência significa fazer uso de todos os meios legítimos e 
bíblicos à nossa disposição para evitar prejudicar a nós mes­
mos e aos outros, para realizar aquilo que entendemos ser o 
curso correto dos eventos.
Encontramos uma ilustração do uso dos meios adequa­
dos para evitar os problemas na vida de Davi, enquanto ele 
fugia do Rei Saul, na época em que o Rei estava determinado 
a matá-lo. Davi já havia sido ungido como sucessor de Saul 
no trono (1 Sm 16.13). Conforme acabamos de ver no SI 57.2, 
Davi confiava que Deus cumpriria Seu propósito para ele. 
Todavia, Davi tomou todas as precauções possíveis para evi­
tar ser morto por Saul. Ele não abusou da soberania de Deus, 
mas ao contrário agiu de maneira prudente na dependência 
da bênção divina sobre seu empenho.
3. Flavel, John, The Works o flohn Flavel. Banner of Truth, Edinburgo, 1982, 4:336-497.
Vemos na vida de Paulo uma ilustração de um agir com 
prudência que resulta no curso correto dos eventos. A história 
envolve a viagem de Paulo a Roma e o naufrágio que ocorreu 
na ilha de Malta, registrado em At 27. Depois de vários dias 
sendo golpeados por uma tempestade violenta, quando to­
dos haviam perdido toda a esperança de serem salvos, Paulo 
colocou-se diante deles e disse:
Mas, já agora, vos aconselho bom ânimo, porque nenhuma 
vida se perderá de entre vós, mas somente o navio. Porque, 
esta mesma noite, um anjo de Deus, de quem eu sou e a quem 
sirvo, esteve comigo, dizendo: Paulo, não temas! É preciso 
que compareças perante César, e eis que Deus, por sua graça, 
te deu todos quantos navegam contigo. Portanto, senhores, 
tende bom ânimo! Pois eu confio em Deus que sucederá do 
modo por que m efoi dito. Porém é necessário que vamos dar 
a uma ilha (At 27.22-26).
Paulo não apenas confiou na soberania de Deus, ele teve 
uma revelação expressa do céu de que nenhuma vida seria per­
dida naquele naufrágio. Todavia, algum tempo depois, quando 
ele viu os marinheiros tentando escapar do navio em botes 
salva-vidas, ele disse ao centurião romano: “Se estes não per­
manecerem a bordo, vós não podereis salvar-vos” (At 27.31). 
Paulo aparentemente percebeu que a presença de marinheiros 
habilidosos era necessária para a segurança dos passageiros, 
até naquele momento. Portanto, ele agiu de maneira pruden­
te para que acontecesse aquilo que Deus, por meio de uma 
revelação divina, já havia prometido. Ele não confundiu so­
berania de Deus com a responsabilidade que tinha de agir de 
forma prudente.
Paulo não considerou o propósito soberano de Deus como 
motivo para negligenciar o seu dever ainda que, naquela
situação, o propósito de Deus tenha sido a ele revelado por 
um anjo do céu. Em nossas circunstâncias hoje, não sabemos 
qual é o propósito soberano de Deus numa situação específica. 
Deveríamos estar ainda mais conscientes para não usarmos a 
soberania de Deus como desculpa para fugir dos deveres que 
Ele ordenou na Bíblia. Deus normalmente trabalha através 
dos recursos, e Ele propõe que usemos os recursos que Ele 
colocou à nossa disposição.
Quando Neemias estava reconstruindo o muro ao redor de 
Jerusalém, ele e seu povo enfrentaram a ameaça de um ataque 
armado de seus inimigos (Ne 4.7,8). A resposta de Neemias 
foi orar e colocar guarda - oração e prudência (versículo 9). 
Além disso, o texto diz: “Daquele dia em diante, metade dos 
meus moços trabalhava na obra, e a outra metade empunha­
va lanças, escudos, arcos e couraças”. E não apenas isso: “Os 
carregadores, que por si mesmos tomavam as cargas, cada 
um com uma das mãos fazia a obra e com a outra segurava a 
arma. Os edificadores, cada um trazia a sua espada à cinta, e 
assim edificavam” (versículos 16-18).
Neemias confiou na soberania de Deus. Ele disse: “nos­
so Deus pelejará por nós” (versículo 20). Contudo, ele também 
fez uso dos meios à sua disposição, crendo que Deus em Sua 
soberania abençoaria aqueles recursos.
Um dos recursos mais básicos de prudência que Deus nos 
deu é a oração. Não devemos apenas orar pela intervenção da 
providência de Deus Sua providência dominante em nossa 
vida como fez Davi (Sl 57.2), mas precisamos orar também 
por sabedoria para que compreendamos corretamente nossas 
circunstâncias e usemos os recursos que Ele nos dá. Quan­
do os Gibeonitas procuraram enganar Josué e os homens de 
Israel, eles vieram com roupas gastas e com pães secos e bo­
lorentos, fingindo ter vindo de longe. A Bíblia diz: “Então, 
os israelitas tomaram da provisão e não pediram conselho
ao S e n h o r ” ( J s 9.14). Como resultado, eles foram engana­
dos pelos Gibeonitas e fizeram um acordo com eles, quan­
do deveriam destruí-los. Eles não foram prudentes, pois não 
oraram pedindo ao Senhor sabedoria e discernimento para 
compreender a situação.
Outro recurso de prudência que Deus nos deu é a oportu­
nidade de buscar o conselho sábio e piedoso. Provérbios 15.22 
diz: “Onde não há conselho fracassam os projetos, mas com 
os muitos conselheiros há bom êxito”. Entretanto, Pv 16.9 nos 
diz que os planos de uma pessoa têm êxito apenas dentro da 
vontade soberana de Deus. Todo o conselho sábio no mundo 
é incapaz de fazer com que os planos sejam bem sucedidos 
contra a vontade soberana de Deus. No entanto, Deus usa o 
conselho sábio dos outros para alinhar nossos planos com 
Sua vontade soberana. Novamente, não podemos confundir 
nossos deveres; neste caso, buscar o conselho sábio, com a 
vontade soberana de Deus.
ORACÀO E PRUDÊNCIA
Anteiormente fiz uma breve menção do uso que Neemias fez 
da oração e da prudência: “Porém nós oramos ao nosso Deus 
e, como proteção, pusemos guarda contra eles, de dia e de 
noite” (Ne 4.9). A oração é o reconhecimento da soberania 
de Deus e de nossa dependência dEle agir em nosso favor. A 
prudência é o reconhecimento da nossa responsabilidade de 
usar todos os recursos legítimos. Não devemos separar essas 
duas coisas. Vemos isso muito bem ilustrado na seguinte pas­
sagem bíblica:
Dos filhos de Rúben, dos gaditas e da meia tribo de Manassés,
homens valentes, que traziam escudo e espada,entesavam
o arco e eram destros na guerra, houve quarenta e quatro 
mil setecentos e sessenta, capazes de sair a combate. Fize­
ram guerra aos hagarenos, como a Jetur, a Nafis e a Nodabe. 
Foram ajudados contra eles, e os hagarenos e todos quantos 
estavam com eles foram entregues nas suas mãos; porque, na 
peleja, clamaram a Deus, que lhes deu ouvidos, porquanto 
confiaram nele (1 Cr 5.18-20).
Os guerreiros descritos nessa passagem eram fisicamente 
capacitados e bem treinados. Eles foram prudentes; haviam to­
mado todas as precauções para serem capazes de lutar quando 
fosse necessário. Porém, eles não confiaram em suas habilidades 
e treinamento. Eles clamaram a Deus, e Ele respondeu a oração, 
pois haviam confiado nEle. Deus interveio soberanamente. En­
tregou todos os inimigos nas mãos deles, pois eles oraram.
Todos os nossos planos, todos os nossos esforços, toda a 
nossa prudência serão em vão a menos que Deus faça com 
que os recursos prosperem. O SI 127.1 diz:
Se o Senhor não edificar a casa, 
em vão trabalham os que a edificam; 
se o Senhor não guardar a cidade, 
em vão vigia a sentinela.
Nessa passagem encontra-se o conceito tanto do empenho 
ofensivo quanto do empenho defensivo; tanto da construção 
para o progresso, quanto do vigiar contra a destruição. Em 
certo sentido, o versículo resume bem toda a nossa responsa­
bilidade na vida. Quer seja na área física, mental ou espiritual, 
devemos sempre construir e vigiar. O SI 127.1 fala que nenhum 
desses esforços prosperararão se Deus não intervier neles.
Observe quão fortemente o salmista descreve a necessidade 
da intervenção de Deus em nossos esforços. O texto não diz:
“Se o Senhor não abençoar ou ajudar o construtor e o vigia, 
seus esforços serão em vão”. Pelo contrário, ele fala em ter­
mos do próprio Deus construindo a casa e vigiando a cidade. 
Ao mesmo tempo, não há qualquer sugestão no texto de que 
Deus substitui os construtores e os vigias. O significado óbvio 
é que em todas as áreas, somos dependentes de Deus para nos 
capacitar e fazer prosperar todo nosso empenho.
Precisamos depender de Deus para fazer por nós naquilo 
que somos incapazes de fazer por nós mesmos. Precisamos, 
na mesma intensidade, depender dEle para que nos capacite 
a fazer o que devemos fazer por nós mesmos. O fazendeiro 
precisa fazer uso de toda sua habilidade, experiência e recur­
sos para cultivar uma colheita. Todavia, ele é completamente 
dependente de forças externas a ele. Tais forças da natureza 
(umidade, insetos, sol) estão, conforme vimos, sob o controle 
soberano direto de Deus. O fazendeiro depende do controle 
de Deus sobre natureza para que sua plantação cresça. Porém, 
ele é igualmente dependente de Deus para conseguir arar, 
plantar, fertilizar e cultivar a plantação da maneira apropriada. 
De onde ele obteve sua destreza, a capacidade de aprender a 
partir de sua experiência, os recursos financeiros para com­
prar o equipamento e os fretilizantes que usa? De onde vem 
até mesmo sua força física para executar suas tarefas? Todas 
essas coisas não vêm da mão de Deus que “a todos dá vida, 
respiração e tudo mais” (At 17.25)? Em cada um dos aspectos, 
somos completamente dependentes de Deus.
Há momentos em que não podemos fazer nada e há mo­
mentos em que precisamos agir. Em ambos os casos, somos 
igualmente dependentes de Deus. Quando os israelitas esta- 
vam no deserto, eles tinham consciência de dependerem de 
Deus tanto para o alimento quanto para a água. Moisés disse a 
eles: “Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com 
o maná... para te dar a entender que não só de pão viverá o
homem, mas de tudo o que procede da boca do S e n h o r viverá 
o homem” (Dt 8.3). Os israelitas precisavam aprender que não 
podiam simplesmente mergulhar no suprimento de alimen­
to que tinham sempre que quisessem. Deus os colocou numa 
posição de dependência consciente de Sua provisão diária.
Entretanto, chegaria o momento quando estariam numa 
“terra em que comerás o pão sem escassez, e nada te faltará nela” 
(Dt 8.9). Então, Moisés os alertou para que não confiassem em 
sua própria capacidade como agricultores, dizendo a si mes­
mos: “A minha força e o poder do meu braço me adquiriram 
estas riquezas”. Ao contrário disso, ele disse: “Te lembrarás do 
S e n h o r , teu Deus, porque é ele o que te dá força para adqui­
rires riquezas” (Dt 8.17,18).
Por vezes, Deus nos reduz a uma dependência consciente e 
completa dEle. Alguém que amamos está muito doente, além 
da capacidade médica de tratamento. O desemprego chegou 
ao ponto de deixar pratos vazios e não há qualquer perspectiva 
de um emprego. Em alguns momentos estamos prontos para 
reconhecer nossa dependência e clamar a Deus por Sua inter­
venção. No entanto somos tão dependentes nesses momen­
tos quanto somos quando o médico diagnostica uma doença 
comum e prescreve o medicamento apropriado. O mesmo 
vale para o dia de pagamento, quando nossas necessidades 
materiais são satisfeitas.
Ao mesmo tempo nós somos responsáveis. A Bíblia jamais 
nos permite usar nossa completa dependência em Deus como 
desculpa para a indolência. Eclesiastes 10.18 diz: “Pela mui­
ta preguiça desaba o teto, e pela frouxidão das mãos goteja a 
casa”. E novamente: “O preguiçoso não lavra por causa do in­
verno, pelo que, na sega, procura e nada encontra” (Pv 20.4). 
Nós somos absolutamente dependentes de Deus, mas, ao mes­
mo tempo, somos responsáveis por usar diligentemente quais­
quer meios apropriados para a ocasião.
O homem da história relatada no início do Capítulo deve­
ria ter sido mais cuidadoso ao descer as escadas. Ele poderia 
ter prestado atenção ao aviso que dizia: “Favor usar o corri­
mão”. Ele não pode atribuir sua queda ao fatalismo divino. 
Nem o aluno que não passa em sua prova, nem o trabalhador 
que perde seu emprego por falta de diligência, nem a pessoa 
que adoece por causa de maus hábitos de vida. Nosso dever 
encontra-se na vontade revelada de Deus na Bíblia. Nossa con­
fiança precisa repousar sobre a vontade soberana de Deus, à 
medida que Ele trabalha nas circunstâncias comuns do nosso 
dia-a-dia, para o nosso bem e para a Sua glória.
Não existe conflito entre confiar em Deus e aceitar nossa 
responsabilidade. Thomas Lye, o pastor puritano já anterior­
mente citado neste capítulo, disse: “A confiança... [usa] os 
meios prescritos por Deus para realizar o fim por Ele desig­
nado... os meios providos por Deus devem ser usados, assim 
como a bênção vinda de Deus deve ser esperada”4.
Alexander Carson faz uma observação parecida quando 
diz: “Aprendamos... que assim como Deus prometeu nos pro­
teger e prover para nós, é através dos meios da Sua designa­
ção, vigilância, prudência e aplicação, que devemos aguardar 
as bênçãos”s.
NOSSO FRACASSO E A SOBERANIA DE DEUS
Já vimos que a soberania de Deus não suprime nosso dever de 
agir com responsabilidade e prudência em toda ocasião. E o 
outro lado da questão? Será que a falha da nossa parte em agir 
prudentemente frustra o plano soberano de Deus? A Bíblia 
jamais indica que Deus é frustrado na intensidade que for pela
4. Lye, Thomas, opus cit., 1:374.
5. Carson, Alexander, Conãdence in God in Times ofD anfer Reiner, Swengel, PA, 1975, p. s/n.
nossa falha em agir conforme deveríamos. Em Sua sabedoria 
infinita, o plano soberano de Deus inclui nossas falhas e até 
mesmo nossos pecados.
Quando Mordecai pediu à rainha Ester para que interce­
desse junto ao rei Assuero em prol dos judeus, ela replicou 
com a explicação de que se entrasse na presença do rei sem ser 
convidada, correria o risco de ser morta (Et 4.10,11). Entretan­
to, Mordecai respondeu a ela: “Porque, se de todo te calares 
agora, de outra parte se levantará para os judeus socorro e li­
vramento, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe 
se pára conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?” 
(Et 4.14). A frase-chave na resposta de Mordecai é “de outra 
parte se levantará para os judeus socorro e livramento”.
Deus, em Sua sabedoriae recursos infinitos, não estava 
limitado à resposta de Ester. As opções que Deus tinha para 
fornecer livramento aos judeus eram tão infinitas quanto Sua 
sabedoria e Seu poder. Ele literalmente não precisava da co­
operação de Ester. No entanto, nesta situação, Ele escolheu 
usá-la. O argumento final de Mordecai para Ester, “e quem 
sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rai­
nha?” supõe que Deus usa pessoas e meios para realizar Seu 
propósito soberano.
Conforme os eventos comprovaram, Deus de fato levantou 
Ester para efetuar o Seu propósito. Porém, Ele poderia facil­
mente levantar outra pessoa ou usar de outros meios para isso. 
Deus geralmente opera por meio de eventos comuns (em con­
traste com milagres) e da ação voluntária das pessoas, mas Ele 
sempre fornece os meios necessários e as orienta através de 
Sua mão invisível. Deus é soberano e não pode ser frustrado 
pelo nosso fracasso em agir ou por nossas ações, que em si 
mesmas são pecaminosas. Entretanto, precisamos nos lembrar 
sempre que Deus ainda nos responsabiliza por nossos próprios 
pecados, os quais Ele usa para cumprir o Seu propósito.
Enquanto concluímos estes estudos sobre a soberania de 
Deus e voltamos nossa atenção para a Sua sabedoria e o Seu 
amor, precisamos perceber novamente que não existe conflito 
na Bíblia entre a soberania de Deus e a nossa responsabilidade. 
Os dois conceitos são ensinados com a mesma ênfase e sem 
qualquer tentativa de “conciliá-los”. Consideremos os dois 
com a mesma importância, cumprindo nosso dever conforme 
revelado a nós nas Escrituras e confiando que Deus executará 
soberanamente Seu propósito em nós e através de nós.
C A P Í T U L O 0110
A SABEDORIA DE DEUS
Ó profundidade da riqueza, 
tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos, 
e quão inescrutáveis, os seus caminhos!
Rmll .33
\
A s 9hl5, pouco tempo após as crianças se prepararem para 
a primeira aula na manhã do dia 21 de outubro de 1966, 
o pico de um monte de uma mina de carvão do Sul de Gales 
deslizou sobre parte da tranqüila comunidade de mineiros 
de Aberfan. Dentre todas as tragédias incontáveis daquele 
dia, nenhuma foi pior do que o destino da escola de ensino 
fundamental. O lodo preto deslizou da montanha criada pelo 
homem e escorreu até as salas de aula, soterrando cinco pro­
fessores e 109 alunos que não tiveram tempo de fugir.
Um clérigo que foi entrevistado por um repórter da BBC 
no momento da [tragédia], disse [em resposta]... ao questio­
namento inevitável sobre Deus: ‘Bem...creio que temos de 
admitir que estamos diante de uma ocasião na qual o Todo- 
- Poderoso cometeu um erro”’1.
1. Edwards, Brian H., Nat bv Chance. Evangelical Press, Welwyn, England, 1982, p. 14.
O cristão verdadeiro ficaria horrorizado com a afirmação 
leviana e blasfema do clérigo acerca de Deus. Mas será que, 
por vezes, não nos perguntamos, naquele momento em que 
algum tipo de calamidade nos atinge, se Deus não cometeu um 
erro em nossa vida? Penso a respeito de outra afirmação - não 
leviana, mas franca - feita por um cristão sincero que obser­
vava a luta de uma criança contra o câncer: “Espero que Deus 
saiba o que está fazendo nesta situação”. Qualquer pessoa que 
já lidou profundamente com a adversidade possivelmente se 
identifica com a dúvida que esta pessoa manifestou.
Quando paramos para pensar no assunto, sabemos no mais 
íntimo do nosso ser que Deus não comete um único erro em 
nossa vida, nem em um vilarejo do Sul de Gales ou em qual­
quer outro lugar. Deus sabe o que está fazendo. A sabedoria 
de Deus é infinita. Ele sabe sempre o que é melhor para nós e 
qual a melhor maneira de obter o resultado desejado.
Sabedoria é comumente definida como sendo um discer­
nimento adequado ou a capacidade de desenvolver o melhor 
curso de ação ou a melhor resposta a uma situação específica. 
Podemos afirmar com convicção que a sabedoria humana é, 
na melhor das hipóteses, falha. O ser humano mais sábio não 
possui todos os fatos de uma situação específica, nem é capaz 
de prever com certeza os resultados de um dado curso de ação. 
Todos nós de vez em quando sofremos com algumas decisões 
importantes, tentando determinar o melhor curso de ação.
No entanto, Deus jamais se angustia para tomar uma de­
cisão. Ele não precisa nem mesmo refletir com vagar ou con­
sultar outros além de Si mesmo. Sua sabedoria é própria de 
Deus, infinita e infalível: “O Seu entendimento não se pode 
medir” (Sl 147.5).
O teólogo do século xix J. L. Dagg descreveu a sabedoria 
como “a escolha do melhor fim de ação, e a adoção dos me­
lhores meios para se alcançar esse fim”. Depois ele acrescentou:
“Deus é infinitamente sábio, porque Ele escolhe a melhor linha 
de ação... [e] porque adota os melhores meios possíveis para 
a realização do objetivo que tem em mente”2.
O melhor fim possível de todas as ações de Deus é a Sua 
glória. Isto é, tudo que Deus faz ou permite em toda a Sua 
criação servirá para a Sua glória. Conforme diz John Piper em 
seu livro Desiring God: “O propósito final do Homem é glori­
ficar a Deus e deleitar-se nEle eternamente”3. Basta folhear o 
Novo Testamento procurando a palavra glória para concordar 
com John Piper que o propósito final de Deus é a Sua própria 
glória (Para começar, confira Jo 15.8; Rm 1.21; 11.36; 1 Co 10.31; 
Ef 1.12,14; Ap 4.11; 5.13; 15.4).
Tudo que abrange o conceito de glória de Deus é um mis­
tério que somos incapazes de compreender completamente, 
mas sabemos que isso envolve a manifestação de toda Sua 
grandeza e Suas maravilhosas perfeições, incluindo a perfei­
ção de Sua sabedoria.
BELEZA qUE BROTA DAS CINZAS
Enquanto assistimos ao desdobramento de eventos trágicos, 
ou de modo mais pessoal, quando nós mesmos experimen­
tamos a adversidade, temos a tendência de perguntar a Deus 
“por quê?”. O motivo de fazermos tal pergunta vem de não 
enxergarmos que qualquer bem possível para nós ou para a 
glória de Deus pode se originar de circunstâncias adversas 
específicas as quais tenham surpreendido a nós ou àqueles 
que amamos. Contudo, não é a sabedoria de Deus - conse­
quentemente a glória de Deus - mais claramente evidenciada
2. Dagg, J. L., Manual o f Thenlnpv. Southern Baptist Publication Society, 1857; reim- 
presso por Gano Books, Harrisonburg, VA, 1982, pp 86-87.
3. Piper, John, Desirinp God. Multnomah, Portland, OR, 1986, p. 23.
quando produz o bem a partir da calamidade do que de situ­
ações favoráveis?
A sabedoria de um jogador de xadrez é mais visível quan­
do ele derrota um oponente de peso, e não quando ele ga­
nha de um novato inexperiente. A sabedoria de um general é 
mais demonstrada quando ele derrota um exército superior 
do que quando subjuga um inferior. Muito mais que isso, a 
sabedoria de Deus é mais evidente quando Ele, do meio da 
calamidade e do tumulto, promove o nosso bem e glorifica 
Seu próprio nome.
Não há dúvidas de que o povo de Deus vive num mundo 
hostil. Temos um inimigo, o Diabo, [que] “anda em derre- 
dor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” 
(1 Pe 5.8). Ele deseja nos peneirar como trigo como fez com 
Pedro (Lc 22.31), ou nos faz amaldiçoar a Deus como tentou 
fazer com Jó. Deus não nos poupa das seqüelas causadas por 
doenças, dores e desapontamentos deste mundo amaldiçoa­
do pelo pecado. Deus, porém, é capaz de tomar todos esses 
elementos, tanto o mal como o bom, e fazer uso completo de 
cada um deles.
Conforme disse alguém há alguns anos: “Uma sabedoria 
inferior à divina se sentiria impelida a proibir, a evitar ou a 
resistir às obras desses planos diabólicos. É fato que os filhos 
de Deus normalmente tentam fazer isso, ou clamam sem ces­
sar para que o Senhor o faça. É por esse motivo que com fre­
quência parece que as orações permanecem sem resposta. Isso 
acontece porque estamos sendo direcionados por uma sabe­
doria que é perfeita, uma sabedoria capaz de conseguir aquilo 
que deseja controlando as coisas e as pessoas que tencionam 
o mal fazendo-as cooperarempara o bem”4.
A sabedoria infinita de Deus é então evidenciada ao pro­
4. Citado a partir de um artigo muito antigo, sem data e sem autoria no arquivo do au­
tor de uma editora britânica, A Witness and a Testimonv.
duzir o bem a partir do mal, beleza que brota das cinzas. Ela 
se revela ao transformar todas as forças do mal que lutam 
contra Seus filhos em bem a favor deles. No entanto, o bem 
que Deus produz é, normalmente, diferente do bem que nós 
idealizamos.
SANTIDADE QUE BROTA DA ADVERSIDADE
Um versículo frequentemente citado é Rm 8.28: “Sabemos que 
todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a 
Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. 
Porém, falhamos geralmente em observar que o versículo se­
guinte nos ajuda a compreender o “bem” do versículo 28. O 
versículo 29 começa com o termo porquanto, indicando ser 
a continuação e uma ampliação do pensamento do versículo 
anterior. Ele diz: “Porquanto aos que de antemão conheceu, 
também os predestinou para serem conformes à imagem de 
seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos 
irmãos”.
O bem que Deus trabalha em nosso favor é a conformidade 
à semelhança de Seu Filho. Isso não implica, necessariamen­
te, em conforto ou alegria, mas conformidade a Cristo numa 
medida sempre crescente nesta vida e plena na eternidade.
Vemos o mesmo pensamento em Hb 12.10: “Pois eles nos 
corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; 
Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de 
sermos participantes da sua santidade”. Participar da santidade 
de Deus é uma expressão equivalente a sermos conformados 
à imagem de Cristo. Deus sabe exatamente o que deseja que 
nos tornemos e quais circunstâncias, tanto boas quanto ruins, 
são necessárias para produzir esse resultado em nossa vida.
Observe o contraste que o autor de Hebreus traça entre a
sabedoria finita e falha dos pais humanos e a sabedoria infinita 
e infalível de Deus. Ele diz: “Pois eles nos corrigiam por pouco 
tempo, segundo melhor lhes parecia”. Como pai, consigo me 
identificar imediatamente com a frase: “segundo melhor lhes 
parecia”. Por vezes, no processo de criação de nossos filhos 
ficamos agoniados a respeito da disciplina apropriada, quer 
seja o tipo quer seja a quantidade. Mesmo quando achamos ter 
feito o melhor, houve muitos momentos em que erramos.
Deus, porém, nos disciplina para o nosso bem, diz o escri­
tor sem qualquer qualificação. Deus não fica agoniado, Deus 
não espera ter tomado a melhor decisão, Deus não fica imagi­
nando o que é realmente melhor para nós. Deus não comete 
erros. Ele sabe infalivelmente, por meio de sua sabedoria infi­
nita, qual a melhor combinação de circunstâncias boas e ruins 
que trará à nossa vida, para que cada vez mais partilhemos de 
Sua santidade. Na receita de nossa vida Ele jamais exagera no 
tempero das adversidades. A mistura de adversidade e bênção 
é sempre exatamente o que precisamos.
O autor de Hebreus admite prontamente que a disciplina é 
dolorosa (versículo 11), mas ele também nos assegura de que 
ela é proveitosa. Ela produz “fruto pacífico” e “fruto de justiça”. 
O propósito da disciplina de Deus não é nos punir, mas nos 
transformar. Ele já satisfez a punição pelo nosso pecado na 
pessoa de Jesus, na Cruz: “o castigo que nos traz a paz estava 
sobre ele” (Is 53.5). No entanto, precisamos ser cada vez mais 
transformados à semelhança de Cristo. Esse é o propósito da 
disciplina.
O salmista disse: “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, 
para que aprendesse os teus decretos” (SI 119.71). Ele está fa­
lando do aprendizado pela experiência. Podemos aprender a 
vontade de Deus para a nossa integridade intelectualmente, 
por meio da leitura e do estudo da Bíblia - e devemos fazer isso. 
É ali que a mudança começa, à medida que a nossa mente é
renovada. Porém, a mudança real - no mais profundo da nossa 
alma - acontece à medida que os princípios das Escrituras são 
trabalhados na vida real. Isso geralmente envolve adversidade. 
Podemos admirar e até mesmo desejar o traço de caráter da 
paciência, mas jamais aprenderemos a paciência até que tenha­
mos sofrido alguma injustiça e tenhamos aprendido por meio 
da experiência a “suportar com resignação” (o significado de 
paciência) aquele que nos trata de maneira injusta.
Se você parar e pensar sobre o assunto, perceberá que a 
maior parte das características piedosas só podem ser de­
senvolvidas por meio da adversidade. O tipo de amor que 
dá abertamente de si com alto preço só pode ser aprendido 
quando somos confrontados com situações que exigem um 
amor sacrificial. O fruto do Espírito chamado de alegria não 
pode ser aprendido em meio a circunstâncias que produzem 
a mera felicidade “natural”.
Deus, em Sua sabedoria infinita, sabe exatamente de qual 
adversidade precisamos para crescer mais e mais à semelhan­
ça do Seu Filho. Ele não apenas sabe do que precisamos, mas 
também quando precisamos e como fazer com que isso acon­
teça da melhor forma possível em nossa vida. Ele é o mes­
tre, o personal trainer perfeito. A matéria ensinada por ele é 
sempre exatamente adequada para a nossa necessidade. Ele 
jamais exagera “nos treinos”, permitindo adversidade em ex­
cesso na nossa vida.
DEUS JAMAIS EXPLICA
Normalmente quando estamos sendo treinados por alguém 
em alguma habilidade, como em um esporte ou música, nosso 
professor ou treinador explicará o propósito daquele exercício 
específico que nos passou. Embora tais exercícios possam ser
cansativos e até mesmo dolorosos, conseguimos aguentá-los, 
pois conhecemos o propósito deles e o resultado pretendido.
Contudo, Deus jamais nos explica o que Ele está fazendo, 
ou por quê. Não existe qualquer indicação de que Deus expli­
cou em algum momento a Jó os motivos para o seu sofrimen­
to extremo. Como leitores, somos conduzidos aos bastidores 
para observar a batalha espiritual entre Deus e Satanás, mas 
pelas indicações fornecidas pela Bíblia, Deus jamais informou 
a Jó sobre a situação.
Na realidade, Deus não nos contou, até mesmo na Bíblia, 
por que Ele permitiu que Satanás afligisse a Jó como fez. Com 
base na verdade de Rm 8.28 (que era tão válida para Jó como é 
para nós), precisamos concluir que Deus tinha um propósito 
muito maior ao permitir o ataque violento de Satanás contra 
Jó do que meramente usar Jó como um peão numa “aposta” 
entre o próprio Deus e Satanás. O papel do Diabo na história 
parece ter caído no esquecimento. Ele não é mais mencionado 
após seus dois desafios a Deus nos dois primeiros capítulos do 
livro. A história não se encerra com uma conversa entre Deus 
e Satanás na qual Deus reivindica a “vitória” sobre Satanás.
Pelo contrário, a história conclui com uma conversa entre 
Deus e Jó na qual Jó reconhece que através de suas provações 
ele chegou a um relacionamento novo e mais profundo com 
Deus. Ele disse: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus 
olhos te veem” (Jó 42.5). Podemos concluir que esse relaciona­
mento mais profundo foi um (embora não a totalidade) dos 
resultados que Deus tinha em mente ao longo do processo.
Por vezes depois de algum tempo, conseguimos enxergar 
alguns resultados benéficos da adversidade na nossa vida, mas 
raramente enxergamos isso durante a adversidade. José conse­
guiu ver claramente depois de ter se tornado primeiro ministro 
do Egito alguns dos resultados da aflição que Deus permitiu 
em sua vida, mas ele certamente não conseguia enxergar isso
ao longo do processo. Para ele todo esse processo doloro­
so parecia ser desprovido de qualquer significado e bastante 
oposto a suas expectativas para o futuro, de acordo com seus 
sonhos.
Todavia, quer consigamos enxergar os resultados benéfi­
cos nesta vida ou não, ainda somos convocados a confiar que 
em Seu amor Ele deseja o que é melhor para nós, e em Sua 
sabedoria Ele sabe como executar esse plano. Lembro-me de 
uma amiga querida que, por mais de trinta anos, passou por 
uma série de adversidades; grandes problemas físicos na fa­
mília,muita dificuldade financeira e aflições familiares. Até 
onde posso afirmar nenhum “bem” aparente surgiu a partir 
dessas adversidades. Não houve qualquer final feliz como no 
caso de José ou de Jó. Entretanto, enquanto escrevia este ca­
pítulo recebi uma carta dela que dizia: “Eu sei que Deus não 
comete erros: ‘O caminho de Deus é perfeito’”.
Sendo assim, jamais deveríamos perguntar por que no sen­
tido de exigir que Deus explique, justifique Suas ações ou 
o que Ele permite em nossa vida. Margaret Clarkson disse: 
“Talvez seja melhor não exigirmos de um Criador soberano 
que Ele dê explicações às Suas criaturas... Deus possui boas 
e suficientes razões para agir como age; devemos confiar em 
Sua sabedoria e amor soberanos”5.
Quando digo que jamais devemos perguntar por que, não 
estou falando sobre o clamor reativo e espontâneo de angústia 
quando a calamidade nos atinge ou atinge alguém que ama­
mos. Estou me referindo àquele desejo persistente e exigente 
de saber por que, desejo que tem um tom acusatório contra 
Deus. A primeira reação é natural ao homem; a segunda é uma 
reação pecaminosa. Três dos Salmos iniciam com a pergunta 
por que: “Por que, S e n h o r , te conservas longe?”, “Deus meu,
5. Clarkson, Margaret, Destined for Glory. Eerdmans, Grand Rapids, MI, 1983, p. 19.
Deus meu, por que me desamparaste?” “Por que nos rejeitas, 
ó Deus, para sempre?” (SI 10; 22; 74). No entanto cada um 
destes salmos termina com uma nota de confiança em Deus. 
Os escritores dos Salmos não permitiram que os por ques du­
rassem muito tempo. Não permitiram que criassem raízes e 
crescessem tornando-se acusações contra Deus. Seus por quês 
eram clamores reais de angústia, uma reação natural à dor.
Em contrapartida, temos dezesseis por ques no livro de Jó, 
de acordo com o autor Don Baker6. Em dezesseis ocasiões Jó 
perguntou por que a Deus. Jó é persistente e petulante. Ele 
acusa a Deus. Conforme observado por várias pessoas, Deus 
jamais respondeu ao por que, em vez disso Ele respondeu 
quem.
Em seu livro, o pastor Baker diz: “Demorei muito para 
abandonar a busca pela resposta à pergunta [por quê?] em 
minha própria vida... Deus não me deve qualquer explicação. 
Ele tem o direito de fazer o que quiser, quando quiser e como 
quiser. Por quê? Porque Ele é Deus... Jó não precisava saber por 
que as coisas aconteceram como aconteceram - ele precisava 
apenas saber Quem era o responsável e Quem estava no con­
trole de tudo. Ele precisava apenas conhecer a Deus”7.
Minha intenção não é denegrir Jó ao usá-lo como exemplo 
de perguntar por que num sentido pecaminoso ou ruim. Estou 
ciente de que já fiz essa pergunta inúmeras vezes sob circuns­
tâncias muito menos desafiadoras do que as calamidades que 
atingiram a Jó. O próprio Deus elogiou a justiça de Jó a nós, 
mas Deus não estava lidando apenas com Jó; Ele registrou 
Sua conduta com Jó para que aprendêssemos com ela. Pare­
ce claro que uma das lições que Deus quer que aprendamos 
a partir da experiência de Jó é a lição aprendida pelo pastor 
Baker: parar de perguntar por quê.
6. Baker, Don, Pairis Hiddett Purpose. Multnomah, Portland, OR, 1984, p. 103.
7. Baker, Don, ibid., p. 103.
Assim como Deus usou a oração de confissão e arrependi­
mento de Davi a respeito de seu adultério no Sl 51 para falar 
ao Seu povo ao longo dos séculos, Deus também usou as lu­
tas de Jó com dúvida sobre a bondade de Deus para ministrar 
ao Seu povo. Ainda me lembro de minha primeira luta cons­
ciente com a bondade de Deus cerca de trinta e quatro anos 
antes de escrever este livro. Foi uma passagem do livro de Jó, 
na qual Deus confronta Jó através de Eliú por sua audácia, 
que atingiu meu coração, fazendo com que eu percebesse e 
me arrependesse das minhas próprias acusações contra Deus. 
Embora não queiramos ser críticos com Jó, queremos aprender 
a partir de sua vida sobre a pecaminosidade de se perguntar 
exigindo um por quê a Deus.
Entretanto, embora não devamos perguntar por que de uma 
maneira exigente, podemos e devemos pedir a Deus que nos 
capacite a compreender o que Ele pode estar nos ensinando 
através de uma experiência específica. Porém, até nisso pre­
cisamos cuidar para que não estejamos procurando satisfazer 
nossa alma encontrando algum “bem” espiritual na adversida­
de. Em vez disso, precisamos confiar que Deus está trabalhan­
do naquela situação para o nosso bem, mesmo quando não 
enxergamos resultados benéficos nela. Precisamos aprender 
a confiar em Deus quando Ele não nos diz o porquê, quando 
não compreendemos o que Ele está fazendo.
OS CAM IN H O S DE DEUS SÃO INCOMPREENSÍVEIS
Por vezes, chegamos num momento quando não exigimos que 
Deus Se explique, mas procuramos determinar ou compreen­
der por conta própria o que Ele está fazendo. Não estamos dis­
postos a viver sem explicações racionais para o que acontece 
conosco e na vida daqueles que amamos. Somos praticamente
insaciáveis em nossa busca pelo por quê da adversidade que 
nos acometeu, mas esta é uma tarefa fútil bem como de des­
confiança. Uma vez que os caminhos de Deus são caminhos 
de infinita sabedoria, simplesmente não têm como serem com­
preendidos por nossa mente finita.
O próprio Deus disse a Isaías:
Porque os meus pensamentos não são 
os vossos pensamentos, 
nem os vossos caminhos, os meus caminhos, 
diz o Senho r ,
porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, 
assim são os meus caminhos mais altos do que 
os vossos caminhos, 
e os meus pensamentos, mais altos do que 
os vossos pensamentos.
(Is 55.8,9)
Em seu comentário no livro de Isaías, Edward J. Young 
disse o seguinte a respeito dessa passagem: “A implicação é 
que assim como o céu está muito acima da terra de forma que 
pelos padrões humanos sua altura não pode ser medida, assim 
os caminhos e os pensamentos de Deus estão tão acima dos 
do homem, que não podem ser compreendidos pelo homem 
em sua plenitude. Em outras palavras, os caminhos e os pen­
samentos de Deus são incompreensíveis ao homem”8.
O apóstolo Paulo afirma a mesma verdade em sua doxolo- 
gia ao final de Rm 11, quando exclama em perplexidade:
Ó profundidade da riqueza,
tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!
8. Young, Edward J„ opus cit., 3:383.
Quão insondáveis são os seus juízos, 
e quão inescrutáveis, os seus caminhos!
(v. 33)
A tradução norte-americana de Williams do Novo Testa­
mento nos leva à uma compreensão ainda mais profunda dessa 
passagem. Ela diz o seguinte nos versículos 33 e 34:
Quão insondáveis são as profundezas dos recursos, da sabe­
doria e do conhecimento de Deus! Quão inescrutáveis são 
Suas decisões e misteriosos [nota: literalmente, que não se 
pode encontrar traço] são os Seus métodos! Pois quem ja ­
mais compreendeu os pensamentos do Senhor, ou já fo i seu 
conselheiro?9
A sabedoria de Deus é incompreensível, Suas decisões são 
inescrutáveis, Seus métodos são misteriosos e deles não se 
encontra traço. Ninguém jamais compreendeu a Sua mente, 
quanto mais O aconselhou sobre a maneira correta de agir. 
Como seria fútil e até mesmo arrogante da nossa parte procu­
rar determinar o que Deus está fazendo numa certa situação. 
Somos simplesmente incapazes de encontrar as razões por 
trás das decisões do Senhor ou mesmo de rastrear as maneiras 
pelas quais Ele faz com que as decisões aconteçam.
Se quisermos experimentar paz de espírito nos momentos 
de adversidade, precisamos chegar ao ponto de confiar ver­
dadeiramente que os caminhos de Deus estão simplesmente 
além de nós, parar de perguntar a Ele por que ou até mesmo 
de tentar determinar o porquê por nós mesmos. Isso pode 
parecer uma “fuga” intelectual, uma recusa em lidar com as 
questões realmente difíceis da vida. Na realidade, é exatamente
9. Williams, Charles B„ The New Testament in the Lanpuape o f the People. Holman 
Bible Publishers, Nashville, 1986, p. 351.
o oposto. Estamos falando de uma rendição à verdade acerca 
de Deus e acerca de nossas circunstâncias conforme o próprio 
Deus nos revelou em Sua Palavra inspirada.Novamente em seu sermão a respeito da providência divi­
na, C. H. Spurgeon disse: “A providência é maravilhosamente 
complexa. Ah! você sempre deseja ver através da providência, 
não é? Mas eu lhe garanto que isso jamais acontecerá. Sua vi­
são não é boa o suficiente. Você deseja ver qual bem aquela 
aflição trouxe a você; você precisa crer. Você deseja enxergar 
como a situação trará bem para a sua alma; é possível que 
consiga daqui a algum tempo; mas você não verá isso agora; 
você precisa crer. Honre a Deus confiando nEle”10.
Na resposta final de Jó a Deus, ele reconhece de maneira 
humilde os caminhos insondáveis do Senhor. Ele diz:
Quem é aquele, como disseste,
que sem conhecimento encobre o conselho?
Na verdade, fa lei do que não entendia; 
coisas maravilhosas demais para mim, 
coisas que eu não conhecia.
(Jó 42.3)
Jó disse que os caminhos de Deus eram maravilhosos de­
mais para que ele os conhecesse ou compreendesse. Quando 
ele viu a Deus em Sua grande majestade e soberania, ele se 
arrependeu de seu questionamento arrogante “no pó e nas 
cinzas”. Jó parou de perguntar e simplesmente confiou.
De maneira parecida, Davi se prostrou aos propósitos so­
beranos e a sabedoria infinita de Deus. Ele disse:
10. Spurgeon, C. H., opus cit., p. 19.
Senho r , não é soberbo o meu coração,
nem altivo o meu olhar;
não ando à procura de grandes coisas,
nem de coisas maravilhosas demais para mim.
(Sl 131.1)
As coisas grandes a maravilhosas mencionadas são os pro­
pósitos secretos de Deus e Seus meios infinitos para realizá-las. 
Davi não exercitou seu coração na busca por compreendê-los. 
Pelo contrário, ele se aquietou e silenciou a sua alma em sub­
missão e confiança em Deus. Se quisermos honrar a Deus con­
fiando nEle, e se quisermos encontrar paz, precisamos chegar 
ao ponto de dizer honestamente: “Deus, eu não compreendo. 
Irei simplesmente confiar em Ti”.
NÃO INTERPRETE, PROCURE APRENDER!
Considerando que a sabedoria de Deus é infinita e Seus ca­
minhos são inescrutáveis para nós, deveríamos também tomar 
muito cuidado ao procurar interpretar os caminhos de Deus 
em Sua providência, especialmente em situações particulares. 
Além disso, precisamos estar atentos àqueles que se oferecem 
como intérpretes dos porquês das situações ao seu redor. Seja 
cauteloso com a pessoa que diz: “Deus permitiu que isso acon­
tecesse para que você aprenda esta e esta lição”. A realidade 
é que não sabemos o que Deus está fazendo por meio de um 
conjunto específico de circunstâncias ou eventos.
Isso não significa que não devemos buscar aprender a partir 
da providência de Deus bem como de Sua vontade revelada 
na Bíblia. É exatamente o contrário. Conforme observamos 
neste capítulo, o salmista aprendeu os decretos do Senhor de 
modo prático por meio da aflição (Sl 119.71). O povo de Israel
também aprendeu por meio da providência adversa em suas 
vidas. Deuteronômio 8.3 diz:
Ele te humilhou, e te deixou ter fom e, e te sustentou com o 
maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para 
te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de 
tudo o que procede da boca do Senhor viverá o homem.
Deus ensinou a nação por meio de Sua providência divina - 
ao colocá-la numa situação em que simplesmente não podiam 
ir à despensa e pegar pão para se alimentar - a ponto de preci­
sarem depender completamente dEle. Deus estava conduzindo 
a nação para uma terra onde a provisão material seria “natural­
mente” suficiente (Dt 8.7-9). O Senhor sabia que os israelitas 
seriam tentados pelo orgulho de seu próprio coração a dizer: 
“A minha força e o poder do meu braço me adquiriram estas 
riquezas” (versículo 17). Sendo assim, antes que o povo entras­
se na terra, Deus ensinou a Israel acerca da dependência que 
deveriam ter dEle, por meio da providência divina.
Alguns meses antes de escrever este capítulo, fui convidado 
a falar num encontro cristão com um tema específico. Certo 
dia, ao ler 2 Timóteo, o Espírito Santo mostrou claramente 
uma passagem que abordava maravilhosamente o tema daque­
le encontro. Joguei fora o estudo preliminar que já havia feito, 
me sentei e comecei rapidamente a preparar três mensagens, 
algo que me empolgou bastante. Porém, acabei me orgulhando 
demais delas. Comecei a considerar pensamentos pecamino­
sos e orgulhosos sobre quão bom eu seria como palestrante 
por causa daquelas mensagens. Comecei a tentar usurpar um 
pouco da glória de Deus para mim mesmo.
Pouco depois do início do encontro, fui acometido por um 
vírus que nunca pegara antes. Eu mal conseguia falar. Acabei 
não apreciando nem um pouco o encontro. Embora tenha
pregado, não tive qualquer ideia se alguém foi beneficiado com 
elas. Através daquelas circunstâncias, aprendi pela experiência 
o que Deus diz: “a minha glória, pois, não a darei a outrem” 
(Is 42.8). Eu havia memorizado esse versículo anos atrás e co­
nhecia sua verdade intelectualmente. Porém, através daquela 
adversidade eu aprendi de maneira prática. Pude, então, me 
juntar ao salmista e dizer: “Foi-me bom ter eu passado pela 
aflição, para que aprendesse os teus decretos” (SI 119.71).
A SABEDORIA DE DEUS É SUPERIOR À DOS NOSSOS ADVERSÁRIOS
A sabedoria de Deus não está apenas acima da nossa assim 
como os céus estão acima da terra; ela também está acima da 
sabedoria e da astúcia de nossos adversários. Isso deveria ser 
tremendamente confortador para nós. Falando por mim, con­
sidero a adversidade proveniente das circunstâncias contrárias 
algo mais fácil de lidar do que a adversidade proveniente de 
outras pessoas. O rei Davi aparentemente pensava da mesma 
forma. Em 2 Sm 24.14, ele disse: “Estou em grande angústia; 
porém caiamos nas mãos do S e n h o r , porque muitas são as 
suas misericórdias; mas, nas mãos dos homens, não caia eu”.
Por inúmeras razões, pessoas são capazes de planejar e tra­
mar formas de nos tratar de modo injusto, de tirar proveito de 
nós ou de nos “usar” para seu próprio bem. Contudo, Pv 21.30 
diz; “Não há sabedoria, nem inteligência, nem mesmo conse­
lho contra o S e n h o r ”. Portanto, podemos dizer nas palavras 
de Paulo: “Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus 
é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8.31). Até mesmo os 
planos mais abomináveis de nossos adversários podem apenas 
realizar aquilo que Deus ordenou soberanamente para nós e 
em Sua sabedoria infinita permite habilmente que aconteça.
Os irmãos de José achavam que estavam se livrando do
irmão que tanto invejavam. Todavia, Deus planejou usar a ma­
quinação deles para enviar José adiante deles para ser o prove­
dor da família durante os sete anos de fome. Eles planejaram 
o mal, mas Deus planejou aquela situação para o bem.
Saul tentou matar Davi, pois Davi recebia mais louvor por 
suas conquistas militares do que o rei. No entanto, Deus usou 
aqueles meses e anos, quando Davi se escondia de Saul, para 
esculpir em Davi o caráter que fez dele um grande rei e um ho­
mem segundo o coração de Deus. A maioria dos salmos mais 
significativos foi aparentemente escrita nessa época da vida de 
Davi. O Sl 34, um dos meus favoritos, foi escrito durante uma 
época em que Davi precisou se passar por louco por medo 
de um rei pagão. Todavia, este é o salmo para o qual me volto 
com maior frequência quando luto com o desânimo. Aquilo 
que Saul intentou para o mal, Deus intentou para o bem.
Satanás achou que ao conseguir a permissão de Deus para 
afligir a Jó ele conseguiria que Jó amaldiçoasse a Deus. Porém, 
o único êxito de Satanás foi ser um instrumento que conduziu 
Jó a um relacionamento ainda mais profundo com o Senhor.
Satanás recebeu permissão para afligir Paulo com um espi­
nho na carne que o atormentava. Talvez Satanás achasse que 
dessa maneira seria capaz de anular a eficácia do ministério de 
Paulo. Ao contrário, tudo que ele conseguiu foi colocar Paulo 
numa circunstância na qual ele aprendeu na prática a suficiência 
da graça de Deus e que Sua força se aperfeiçoa em nossa fra­
queza (2 Co 12.9). Pense nos milhares de cristãosao longo dos 
séculos que descobriram que a graça de Deus é suficiente me­
ditando nas palavras de Deus ditas a Paulo naquela situação.
Por isso, a sabedoria divina é superior à de qualquer adver­
sário que tenhamos, quer seja uma pessoa comum, quer seja 
o próprio Diabo. Portanto, não devemos temer o que buscam 
fazer, ou mesmo o que conseguirem fazer conosco. Deus está 
trabalhando tanto nessas “coisas” quanto nas adversidades
provenientes de doenças, morte, problemas financeiros ou 
manifestações da natureza.
A SABEDORIA DIVINA NAS QUESTÕES M UNDIAIS
Indo além de nossas circunstâncias pessoais, podemos também 
dizer que a sabedoria infinita de Deus, que dirige Seu poder so­
berano, governa o mundo. Olhando ao nosso redor, podemos 
ter a impressão de que muito do que acontece no mundo está 
fora do controle de Deus e não faz qualquer sentido. Por que 109 
crianças deveriam morrer soterradas no sul do País de Gales, 
ou milhares morrer de fome no leste da África? Por que as na­
ções aparentemente mais “perversas” prosperam tanto no cam­
po das questões mundiais? Por que os ricos ficam mais ricos e 
os pobres mais pobres? Admitindo que vivemos num mundo 
amaldiçoado pelo pecado, todas essas coisas poderiam ser sim­
plesmente atribuídas à pecaminosidade da humanidade.
Porém, se aceitamos que Deus é soberano, conforme vimos 
até aqui, precisamos então concluir que Deus está no contro­
le de todas essas circunstâncias tristes e as norteia com Sua 
sabedoria infinita na direção do propósito desejado por Ele. 
Não se trata de um amontoado de eventos descontrolados e 
sem conexão. Ao contrário, as circunstâncias fazem parte do 
padrão e do plano perfeitos de Deus, que um dia trarão gló­
rias a Deus e o bem para a Sua igreja. O professor Berkouwer 
mais uma vez nos ajuda ao escrever:
Todas as facetas da vida estão contempladas no governo de 
Deus. A pluralidade da vida é conduzida sob uma única 
perspectiva. Não é que exista uma confusão de inúmeros 
eventos atomísticos nos quais a atividade divina é manifes­
tada. Existe um pivô, um centro que unifica a diversidade
de Sua atividade. A unidade inclui o progresso de eventos 
de Sua promessa no momento da Queda até a formação 
completa de Seu povo santo11.
Assim como devemos parar de perguntar por que, ou bus­
car por explicações racionais, ou procurar descobrir qual o 
“bem” existente em nossa adversidade, precisamos aprender 
também a aquietar nosso coração em relação ao governo de 
Deus do universo. Precisamos chegar ao ponto de dizer, nas 
palavras de Davi, “fiz calar e sossegar a minha alma” (SI 131.2) 
quanto a todas as tragédias que surgem sobre a humanidade 
ao redor do globo.
O puritano John Flavel escreveu:
Creia firmemente que o gerenciamento de todas as ques­
tões deste mundo, quer pública ou particular, encontra-se 
nas mãos do Deus onisciente... Entreguem-se à sabedoria 
de Deus, e não dependam do seu próprio entendimen­
to... Quando Melâncton foi oprimido com os cuidados e 
dúvidas sobre as questões perturbadoras da igreja em sua 
época, Lutero o admoestou quanto ao seu desânimo... não 
pressuponha você ser o governador do mundo, mas deixe 
as questões desse governo nas mãos Daquele que o criou, 
e que sabe bem governá-las12.
Isso não significa que devemos nos tornar indiferentes e 
insensíveis à grande quantidade de sofrimento que acontece 
no mundo. Devemos orar pelas vítimas das tragédias e, sempre 
que tivermos oportunidade, responder de maneira adequada 
visando minimizar seu sofrimento. Podemos ser compassivos 
sem questionar a Deus acerca de Seu governo do mundo.
11. Berkouwer, G. C., opus cit., p. 88.
12. Flavel, John, opus cit., 3:361.
Questionar a sabedoria de Deus não é apenas um ato de 
irreverência, mas é também algo espiritualmente debilitante. 
Nós não apenas manchamos a glória de Deus, mas também 
nos privamos do conforto e da paz que são fruto de simples­
mente confiarmos nEle sem exigir uma explicação. Uma con­
fiança sem reservas em Deus, quando não entendemos o que 
está acontecendo nem o porquê, é o único caminho para a 
paz, o conforto e a alegria. Deus deseja que honremos a Ele 
confiando nEle, mas Ele também deseja que experimentemos 
a paz e a alegria que são fruto dessa confiança.
Ao pesquisar o assunto da sabedoria de Deus entre os mes­
tres ao longo da história, cheguei ao seguinte parágrafo, que 
resume de maneira tão bela tudo que procurei dizer sobre o 
assunto. Vou anexá-lo sem nenhum outro comentário, na es­
perança de que lhe sirva de encorajamento, como fez comigo; 
confiar em Deus em toda circunstância, quer em particular 
ou em público, e a crer que Ele está trabalhando em todas as 
coisas para o nosso bem e para a Sua glória.
O fato de que a sabedoria infinita dirige o mundo deveria 
nos encher de alegria. Vários de seus eventos estão cober­
tos de trevas e mistério, e uma confusão complexa parece 
reinar. Com frequência a perversidade prevalece, e Deus 
parece ter Se esquecido das criaturas que Ele mesmo criou. 
Nosso próprio trilhar da vida é escuro e tortuoso, cerca­
do de dificuldades e perigos. Como é cheia de consolo a 
doutrina de que a sabedoria divina dirige todos os eventos, 
promove ordem a partir da confusão, luz a partir das trevas 
e, para aquele que ama a Deus, faz com que todas as coi­
sas, quer em seu aspecto presente ou propensões aparentes, 
operem para o seu bem13.
13. Dagg, J. L„ opus cit., p. 91.
C A P Í T U L O N O V E
CONHECENDO O AMOR DE DEUS
Quem nos separará do amor de Cristo?
Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, 
ou perigo, ou espadai’... Em todas estas coisas, porém, somos mais que 
vencedores,por meio daquele que nos amou.
Rm 8.35,37
U m amigo meu, que passa boa parte do seu tempo encora­
jando outras pessoas, percebeu-se emocionalmente agitado 
por causa de lutas espirituais com um de seus filhos. Em de­
sespero ele clamou: “Deus, creio que estou desempenhando 
um trabalho melhor cuidando dos Teus filhos do que o Senhor 
cuidando dos meus”. Ele me contou: “Assim que disse isso, me 
arrependi”. A experiência frustrante dele, porém, ilustra uma 
questão. A maioria de nós é tentada, em determinados mo­
mentos, a questionar o amor de Deus por nós.
Eu me identifico bastante com esse amigo meu. Certa vez, 
quando um de nossos filhos estava passando por uma série de 
experiências difíceis, eu disse: “Deus, eu não trataria a minha 
filha da forma que o Senhor está tratando dela”. Eu também 
precisei me arrepender de minhas palavras atrevidas e apren­
der sobre a segurança dada nas Escrituras de que o amor de
Deus é tão real nos momentos difíceis quanto é em épocas 
abençoadas.
Parece que quanto mais cremos e aceitamos a soberania de 
Deus em cada evento de nossa vida, mais somos tentados a 
questionar o Seu amor. Pensamos: “Se Deus está no controle 
desta adversidade e é capaz de fazer algo, por que Ele não faz 
nada?” O rabino Kushner escolheu crer num Deus que é bom, 
mas que não é soberano. Por vezes somos tentados, mesmo 
que só momentaneamente, a crer num Deus que é soberano, 
mas que não é bom. Satanás, cujo primeiro ato para com o 
homem foi questionar a bondade de Deus, plantará o pen­
samento em nossa mente de que Deus Se encontra no céu, 
zombando de nós em meio à nossa dificuldade.
Contudo, não somos forçados a escolher entre a soberania 
e a bondade de Deus. A Bíblia afirma a Sua soberania e a Sua 
bondade, as duas coisas com a mesma ênfase. As referências 
à Sua bondade e benevolência, assim como à Sua soberania, 
aparecem em quase todas as páginas das Escrituras. Em nossa 
luta contra a adversidade, não ousamos difamar a bondade de 
Deus. Conforme disse Philip Hughes: “Pensar que Ele não Se 
importa é tão inconcebível quanto pensar que Ele é incapaz 
de Se importar”\
O apóstolo João disse: “Deus é amor” (1 Jo 4.8). Essa bre­
ve afirmação, juntamente com sua citação paralela, “Deus é 
luz” (1 Jo 1.5, isto é, Deus é santo) resume o caráter essencial 
de Deus, conforme relevado a nós pela Bíblia. Assimcomo é 
impossível, na própria natureza de Deus, que Ele seja qualquer 
coisa exceto perfeitamente santo, também é impossível Ele ser 
qualquer coisa exceto perfeitamente bom2.
1. Hughes, Philip E., H opefor a Despairing World. Baker, Grand Rapids, MI, 1977, p.
14.
2. Quando os teólogos falam acerca da bondade de Deus, normalmente distinguem en­
tre Sua bondade de excelência (como em: “Ele é um bom engenheiro”), e Sua bon­
dade de benevolência (como em: “Ele é bom para com Seus filhos”). Neste capítulo e
Pelo fato de Deus ser amor, é parte essencial de Sua na­
tureza fazer o bem e demonstrar misericórdia às Suas cria­
turas. O Sl. 145 fala da Sua “muita bondade”, da Sua “grande 
demência”, de ser “bom para todos”, e “benigno em todas as 
suas obras” (vs. 7-9,17). Até mesmo em Seu papel de Juiz do 
homem rebelde, Ele declara: “não tenho prazer na morte do 
perverso” (Ez 33.11).
Quando estamos em meio à adversidade, como parece 
acontecer com frequência, quando calamidade atrás de ca­
lamidade parece amontoar-se sobre nós, seremos tentados 
a duvidar do amor de Deus. Nós não apenas lutamos com 
nossas próprias dúvidas, mas Satanás tira proveito da ocasião 
para sussurrar acusações contra Deus, tais como: “Se Ele te 
amasse, não teria permitido que isso acontecesse”. A minha 
própria experiência sugere que Satanás nos ataca muito mais 
na área do amor de Deus do que nas áreas da Sua soberania 
ou Sua sabedoria.
Não podemos evitar ser tentados, mas se quisermos honrar 
a Deus confiando nEle, não podemos permitir que tais pensa­
mentos se alojem em nossa mente. Como Philip Hughes diz: 
“Questionar a bondade de Deus é, em essência, dizer que o ho­
mem está mais preocupado com a bondade do que o próprio 
Deus... Sugerir que o homem é mais bondoso do que Deus é 
subverter a própria natureza de dEle... Isso eqüivale a negar a 
Deus; e essa é precisamente a essência da tentação para ques­
tionar a bondade de Deus”3.
Voltemos para os dois incidentes do início do capítulo. Nos 
dois exemplos, meu amigo e eu questionamos a bondade de 
Deus. Fizemos exatamente o que Philip Hughes nos alertou 
para não fazermos. Mesmo que momentaneamente, disse­
no capítulo seguinte uso a bondade de Deus como Sua benevolência para com o Seu 
povo e a uso de maneira alternada com Seu amor.
3. Hughes, Philip E., opus cit., p. 18.
mos a Deus que estávamos mais preocupados com a bonda­
de para com os nossos filhos do que Ele estava; que éramos 
mais benignos do que Ele. Em nossos momentos permeados 
por maior racionalidade, pensamentos assim são inconcebí­
veis, mas em momentos de adversidade prolongada, somos 
capazes de começar a cogitá-los.
Até mesmo o justo Jó que, no início de seu sofrimento foi ca­
paz de dizer: “o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja 
o nome do Senhor!” (Jó 1.21), chegou ao ponto em que igual­
mente questionou a bondade de Deus. Ele disse: “Deus me nega 
justiça” e “Não dá lucro agradar a Deus” (Jó 34.5,9 NVI).
Se Deus é perfeito em Seu amor e abundante em Sua bon­
dade, como podemos nos opor às nossas próprias dúvidas e 
às tentações de Satanás que visam questionar a bondade di­
vina? Quais verdades a respeito de Deus precisamos guardar 
em nosso coração para usar como armas contra a tentação de 
duvidar de Seu amor?
0 AMOR DE DEUS NO CALVÁRIO
Sem sombra de dúvida, a prova mais convincente do amor de 
Deus em toda a Bíblia é o fato de Ele ter dado Seu Filho para 
morrer por nossos pecados.
Nisto se manifestou o am or de Deus em nós: em haver Deus 
enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por 
meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos 
amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho 
como propiciação pelos nossos pecados. (1 Jo 4.9,10)
João disse que Deus é amor, e foi assim que Ele demons­
trou o Seu amor, enviando o Seu Filho para morrer por nós.
Ficar livre das adversidades não é a nossa maior necessidade. 
Qualquer calamidade que possa nos atingir em vida não pode 
chegar perto de ser comparada com a calamidade absoluta 
da separação eterna de Deus. Jesus disse que nenhuma ale­
gria terrena pode ser comparada com a alegria eterna de ter 
o nosso nome escrito nos céus (Lc 10.20). Semelhantemente, 
nenhuma adversidade terrena pode ser comparada à terrível 
calamidade do juízo eterno de Deus no inferno.
Sendo assim, quando João fala que Deus demonstrou Seu 
amor enviando Seu Filho, ele está dizendo que Deus demons­
trou Seu amor satisfazendo nossa maior necessidade; uma ne­
cessidade sem qualquer possibilidade de comparação. Caso 
desejemos uma prova do amor de Deus para conosco, preci­
samos olhar primeiro para a Cruz onde Deus ofereceu Seu Fi­
lho como sacrifício por nossos pecados. O calvário é a prova 
objetiva, absoluta e irrefutável do amor de Deus por nós.
A extensão do amor de Deus no Calvário é vista tanto no 
custo infinito de doar Seu único Filho, quanto na condição 
miserável e desprezível daqueles que foram amados por Ele. 
Deus não poderia remover o nosso pecado sem um custo in­
finito tanto para Ele quanto para o Seu Filho. Por causa do 
grande amor deles por nós, ambos estavam dispostos - mais 
do que dispostos na verdade - a pagar esse preço enorme, o 
Pai doando Seu único Filho e o Filho dando Sua vida por nós. 
Uma das características essenciais do amor é o elemento do 
autossacrifício, e isso foi demonstrado em nosso favor ao má­
ximo por meio do amor de Deus no Calvário.
Levemos em consideração, igualmente, a condição despre­
zível e miserável daqueles amados por Deus. Paulo disse: “Mas 
Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter 
Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). 
É possível que, aqueles que cresceram em lares cristãos ou mo­
ralmente corretos, tenham dificuldade de compreender a força
da afirmação paulina “sendo nós ainda pecadores”. Pelo fato 
de sermos pessoas corretas e moralmente dignas aos olhos da 
sociedade ao nosso redor e aos nossos próprios olhos, temos 
dificuldade de nos vermos como Deus nos vê, como pecado­
res desprezíveis, miseráveis e rebeldes.
Paulo nos descreve como estando espiritualmente mortos 
em nossas transgressões e pecados (Ef 2.1). A visão de Eze- 
quiel de Israel como um vale de ossos secos (Ez 37) seria uma 
descrição adequada para nós antes da salvação. Certo dia, um 
amigo e eu ficamos maravilhados com a conversão de um dos 
criminosos do colarinho-branco mais conhecidos de nossa 
época. Perguntei ao meu amigo: “Quão morto é morto? Não 
estávamos nós tão mortos espiritualmente antes da nossa sal­
vação quanto ele estava?” Independente de quão moralmente 
justos tenhamos sido em nosso estado antes da salvação, ainda 
assim pareceríamos aos olhos de Deus como a casa de Israel, 
nada além de uma pilha de ossos e ossos muito secos.
Paulo continua descrevendo nossa condição miserável em 
Ef 2. Ele diz que nós seguíamos o curso deste mundo (vs 2), 
isto é, da sociedade perversa ao nosso redor. Nós não seguí­
amos apenas o curso da sociedade perversa, mas seguíamos 
até o Diabo, a quem Paulo chama de príncipe da potestade do 
ar. Talvez não tenhamos escolhido seguir o Diabo de forma 
deliberada ou consciente, mas o fizemos porque estávamos 
sob seu poder e seu domínio (At 26.18; Cl 1.13). Na realidade, 
éramos servos do arqui-inimigo de Deus. Além disso, Paulo 
diz que gastamos nossa vida gratificando os desejos da nossa 
natureza pecaminosa, seguindo suas vontades e seus pensa­
mentos (Ef 2.3). Vivíamos para nós mesmos, nossas ambições, 
nossos desejos, nossos prazeres. Então, à medida que Paulo 
continua nos descrevendo em nosso estado não regenerado, 
ele conclui afirmando que éramos por natureza objetos da ira 
de Deus. Não podemos jamais perder de vista o fato de que
a ira de Deus é muito real e muito justa. Todos nós pecamos 
incessantemente contra um Deus santo e justo. Rebelamos-nos 
deliberadamente contra Seus mandamentos, desafiamos Sua 
lei moral e agimos em completa afronta à Sua vontade conhe­
cida para a nossa vida. Porcausa de tais ações, éramos justa­
mente objetos da Sua ira.
É possível que você esteja se perguntando o motivo de eu 
ter aparentemente divagado tanto, num capítulo que fala do 
amor de Deus na adversidade, a respeito da nossa condição 
pecaminosa. Fiz isso por dois motivos: Primeiro, para que 
enxerguemos a profundidade do amor de Deus, não apenas 
ao enviar Seu único Filho para pessoas como nós, conforme 
descrito por Paulo.
Porém, eu o fiz também por outro motivo. Quando co­
meçamos a questionar o amor de Deus, precisamos lembrar 
quem somos. Não temos qualquer direito de reivindicar o 
amor de Deus. Não merecemos uma centelha da bondade de 
Deus a nós. Certa vez ouvi um palestrante dizer: “Qualquer 
coisa que não o inferno é graça pura”. Não conheço declara­
ção mais eficiente que essa para cortar rapidamente o nervo 
da petulante atitude contida num “Por que isso aconteceu co­
migo?” quando a percepção de quem somos diante de Deus, 
em nossa condição sem Cristo, se apodera de nós.
Então, percebemos que Deus nos amou quando éramos 
completamente indignos, quando não havia nada dentro de 
nós que atraísse o amor de Deus.
Sempre que nos sentirmos tentados a duvidar do amor de 
Deus por nós, devemos nos voltar para a Cruz. Deveríamos 
raciocinar mais ou menos assim: Se Deus me amou de tal 
maneira que deu Seu Filho para morrer por mim quando eu 
era Seu inimigo, Ele certamente ama o suficiente para cuidar 
de mim agora que sou Seu filho. Por me amar ao máximo na 
Cruz, Ele certamente não falhará em Seu amor por mim no
momento da adversidade. Considerando que Ele deu um pre­
sente inestimável na pessoa de Seu Filho, Ele certamente dará 
tudo que é consistente com a Sua glória e com o meu bem.
Observe que eu falei que deveríamos raciocinar. Se qui­
sermos confiar em Deus em meio à adversidade, precisamos 
usar a nossa mente nesses momentos para pensar acerca das 
grandes verdades da soberania, sabedoria e amor de Deus, 
conforme reveladas nas Escrituras. Não podemos permitir que 
as nossas emoções dominem sobre nossa mente. Mais exata­
mente, precisamos procurar permitir que a verdade de Deus 
a norteie. Nossas emoções precisam se tornar subservientes à 
verdade. Isso não significa que não sentimos a dor e a angústia 
da adversidade. Nós a sentimos profundamente. Também não 
significa que devemos enterrar nossa dor emocional numa 
atitude estoica. Fomos projetados para sentir a dor da adver­
sidade, mas precisamos resistir à ideia de permitir que a dor 
nos afunde em pensamentos vis a respeito de Deus.
Pode parecer frio ou até mesmo pouco espiritual procurar 
meditar nas verdades do amor de Deus nos momentos de an­
gústia, dor e desapontamento. Contudo, não é nem frio nem 
mesmo pouco espiritual. O próprio Paulo, numa das passagens 
mais arrebatadoras da Bíblia, fez uso de uma forma de raciocí­
nio - um argumento que vai do maior para o menor - quando 
disse: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por 
todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamen­
te com ele todas as coisas?” (Rm 8.32). Paulo raciocinou que, 
se Deus nos amou a ponto de dar o maior presente possível, 
então Ele certamente não reterá bênçãos menores. Ou então, 
colocando tal afirmação de uma maneira mais aplicável à nos­
sa realidade: Se o amor de Deus foi suficiente para a minha 
maior necessidade, minha salvação eterna, com certeza é su­
ficiente para minhas necessidades menores, as adversidades 
que enfrento nesta vida. Se desejarmos ter a mesma convicção
que Paulo teve, de que nenhuma adversidade é capaz de nos 
separar do amor de Deus, precisamos usar a nossa mente para 
pensar nas grandes verdades da Bíblia como Paulo fez.
0 AMOR FAMILIAR DE DEUS
Uma vez que, pela graça de Deus, colocamos nossa confiança 
em Cristo como nosso Salvador, somos recebidos na própria 
família de Deus. Ele fez uma aliança para ser o nosso Deus, e 
nós somos Seu povo (Hb 8.10). Por meio de Cristo, Deus nos 
adotou para sermos Seus filhos e enviou Seu Espírito Santo 
para viver dentro de nós e para testificar junto ao nosso es­
pírito que somos Seus filhos. O Espírito Santo testemunha 
dentro de nós acerca dessa relação de filhos que temos com 
Deus quando Ele faz com que clamemos em nosso coração: 
“Aba, Pai” (Rm 8.15,16). Sabe-se que nas famílias judaicas, os 
escravos não tinham permissão para usar o termo “Aba” quan­
do se dirigiam ao chefe da casa. Era um termo reservado aos 
filhos. Consequentemente, o uso paulino da palavra visa nos 
transmitir quão profundamente o Espírito nos assegura que 
somos, de fato, filhos do Deus Altíssimo, que agora é nosso 
Pai celestial.
Como nosso Pai celestial, Ele nos ama como Seus filhos, 
com um amor muito especial, o amor de pai. Ele nos chama 
de “eleitos de Deus, santos e am ados” (Cl 3.12, ênfase acres­
centada). Por mais incrível que possa parecer, “Ele Se deleitará 
em ti com alegria... regozijar-se-á em ti com júbilo” (Sf 3.17). 
Ele Se deleita em nós como um pai se deleita em seus filhos. 
Conforme o comentário de Matthew Henry na passagem de 
Sf 3.17: “O Deus grandioso não apenas ama os santos, mas 
Ele ama amar os santos”. Deus Se deleita em nos amar, pois 
somos dEle.
No SI 103.11, Davi fala sobre o amor paterno de Deus da 
seguinte maneira: “Pois quanto o céu se alteia acima da terra, 
assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem”. 
No capítulo anterior, vimos que os caminhos de Deus são 
mais altos que os nossos, assim como os céus estão acima 
da terra. Vemos aqui que o amor de Deus por Seus filhos é 
tão elevado quanto os céus distam da terra. Assim como a 
sabedoria de Deus, tal como a altura dos céus, não pode ser 
medida, assim o am or de Deus por nós não pode ser medi­
do. Ele não é apenas perfeito em seu efeito, ele é infinito em 
sua extensão. Por maior que possa ser, nenhuma calamida­
de que nos atinge é capaz de nos afastar do amor paterno 
de Deus por nós.
0 AMOR DE DEUS EM CRISTO
O amor infinito e imensurável de Deus é derramado sobre 
nós, não por quem somos ou pelo que somos, mas porque 
estamos em Cristo Jesus. Observe que em Rm 8.39, Paulo 
diz que nada “poderá separar-nos do amor de Deus, que 
está em Cristo Jesus, nosso Senhor”. O amor de Deus flui 
até nós completamente por meio de, ou em, Jesus Cristo. O 
termo em Cristo é usado frequentemente por Paulo quan­
do ele faz referência à nossa união espiritualmente orgânica 
com Jesus Cristo. Jesus fala sobre essa mesma união em Sua 
metáfora da Videira e dos ramos em Jo 15. Assim como os 
ramos estão organicamente ligados à videira numa união 
que fornece vida, da mesma forma num sentido espiritual, 
os cristão estão organicamente unidos com Cristo. Assim 
como os membros do corpo estão organicamente unidos à 
sua cabeça, nós estamos espiritualmente ligados a Cristo da 
mesma maneira.
É muito importante que entendamos esse conceito vital 
de que o amor de Deus por nós está em Cristo. Assim como 
o amor de Deus pelo Seu Filho não pode mudar, assim o 
Seu amor por nós não pode mudar, pois estamos unidos 
com Aquele a Quem Ele ama. O amor de Deus por nós é tão 
imutável quanto o amor de Deus por Cristo.
Somos constantemente tentados a olhar para nós mes­
mos procurando encontrar algum motivo para que Deus 
nos ame. Obviamente, tal busca normalmente nos frustra. O 
que normalmente encontramos dentro de nós são motivos 
pelos quais Deus não deveria nos amar. Tal busca também 
não é bíblica. A Bíblia é bastante clara em dizer que Deus 
não olha dentro de nós à procura de um motivo para nos 
amar. Ele nos ama porque estamos em Cristo Jesus. Quan­
do Deus olha para nós, Ele não nos enxerga como cristãos 
“que operam independentemente”, resplandecentes em nossas 
próprias boas obras, até mesmo em nossas boas obras como 
cristãos. Mais exatamente, conforme Ele olha para nós, Ele 
nos contempla unidos com Seu Filho amado, trajados com 
a justiça de Jesus. Ele nos ama, não porque somos em nós 
mesmos amáveis, mas porque estamos em Cristo.
Eis aqui outra arma da verdade quedeveríamos guar­
dar em nosso coração para usarmos contra nossas dúvidas 
e contra a tentação de questionarmos o amor de Deus por 
nós: O am or de Deus por nós não pode fa lhar assim como o 
Seu am or por Cristo não pode falhar. Precisamos aprender a 
enxergar nossas adversidades em relação à nossa união com 
Cristo. Deus não lida conosco, podemos dizer, como indi­
víduos “autônomos”. Ele lida conosco de forma individual, 
mas como indivíduos unidos a Cristo.
0 AMOR SOBERANO DE DEUS
Nos capítulos anteriores olhamos amplamente para a sobera­
nia de Deus sobre todo o universo. Essa soberania é exercitada 
primeiramente para a Sua glória. Porém, pelo fato de estar­
mos em Cristo Jesus, a Sua glória e o nosso bem estão ligados. 
Porque estamos unidos com Cristo, tudo que acontece para a 
glória de Deus também acontece para o nosso bem. Tudo que 
for para o nosso bem será para a glória de Deus.
Podemos então dizer, com respaldo bíblico, que Deus exerce 
Sua soberania em nosso favor. Paulo diz em Ef 1.22,23: “E pôs 
todas as coisas debaixo dos pés e, para ser [Cristo] o cabeça 
sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a 
plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas”. Isso 
quer dizer que Cristo reina sobre todo o universo para o be­
nefício do Seu corpo, a Igreja. Já vimos que a soberania divina 
é absoluta sobre os gigantescos poderes terrenos ou espiritu­
ais e permeia os mínimos detalhes da vida. Vemos agora em 
Ef 1.22,23 que este poder é exercitado por Cristo em favor da 
Igreja, que é o Seu corpo.
É pelo fato da igreja ser o Seu corpo que Ele exercita Sua 
soberania em favor dela. Nas palavras do comentarista do 
Novo Testamento William Hendriksen, isso eqüivale a dizer 
que, “uma vez que Ele está íntima e indissoluvelmente unido 
[com a Igreja] e a ama com um amor profundo, ilimitado e 
constante”, o poder de Cristo está sendo usado para governar 
o universo. Hendriksen continua:
A ênfase do simbolismo cabeça-corpo é a proximidade de 
ligação e o caráter insondável do amor entre Cristo e Sua 
Igreja.... Uma vez que a Igreja é o corpo de Cristo, com a 
qual Ele está organicamente unido, Ele a ama tanto que em 
seu interesse Ele exercita Seu poder infinito fazendo com
que o universo e tudo que nele está contido coopere com 
Ele, de maneira voluntária ou não voluntária4
Podemos ver que é a nossa união com Cristo que garante que 
o poder soberano de Deus seja exercido em nosso favor. Ob­
viamente isso não significa que, por causa da nossa união com 
Cristo, devemos esperar não passar por quaisquer adversidades. 
A Bíblia ensina claramente o oposto. Significa na verdade que as 
adversidades são controladas por Deus e usadas por Ele apenas 
nos caminhos que Sua sabedoria e Seu amor ordenam.
Esse conceito que une a soberania de Deus com o Seu amor 
para o benefício do Seu povo é expressa por outro símbolo - 
o pastor e suas ovelhas - em Is 40. Nos versículos 10,11, o pro­
feta diz:
Eis que o Senhor Deus virá com poder, 
e o seu braço dominará.
Como pastor, apascentará o seu rebanho; 
entre os seus braços recolherá os cordeirinhos 
e os levará no seio; 
as que amamentam ele guiará mansamente.
É impressionante pensarmos na justaposição existente nes­
sa passagem, em termos do poder soberano de Deus e de Seu 
cuidado maravilhoso para com Suas ovelhas. Na Bíblia o braço 
do Senhor é sempre um símbolo de Seu poder e de Sua força 
absolutos; e o título pastor, quando usado em relação a Deus, 
indica sempre Seu cuidado terno e Sua vigilância constante.
Na passagem mencionada, o poder soberano e o cuida­
do terno de Deus estão unidos para o benefício de Seu povo.
4. Hendricksen, William, New Testament Cammentarv: Exposition o f Ephesians.
Baker, Grand Rapids, MI, 1967, pp. 102,103.
O mesmo braço usado poderosamente sobre todo o universo é 
usado para ajuntar Suas ovelhas e mantê-las perto de Seu cora­
ção. Esse é o símbolo mais pitoresco do amor de Deus por nós: 
um Pastor fiel e terno carregando Suas ovelhas perto de Seu 
coração. Somos carregados nos braços de poder soberano. 
Alexander Carson disse:
A soberania de Deus é sempre demonstrada para com o 
Seu povo em sabedoria e amor. Eis a diferença entre a so­
berania de Deus e a soberania do homem. Tememos a so­
berania do homem, pois não temos a segurança de que ela 
será exercida com misericórdia, ou mesmo com justiça; nos 
alegramos na soberania de Deus, pois temos a certeza de 
que ela é sempre exercida para o bem do Seu povo.5
O professor Berkouwer disse: “A providência divina não é 
apenas uma questão de invencibilidade e poder divinos, mas da 
invencibilidade e do poder do Seu amor”. Ele também disse:
Eis o consolo, estamos à disposição de um Pai celestial 
misericordioso nas mãos de Quem podemos nos entregar 
confiadamente.... Ele faz uma aliança eterna de graça co­
nosco, nos adota como Seus filhos e herdeiros e, portanto, 
proverá todo o bem e desviará todo o mal ou usará este 
mal para o nosso benefício.6
O Salmista disse: “Guardo no coração as tuas palavras, 
para não pecar contra ti” (SI 119.11). Murmurar contra Deus 
e questionar Sua bondade são ambos, de fato, pecados. De­
vemos batalhar diligentemente por nossa confiança no amor 
de Deus assim como fazemos em relação à obediência aos
5. Carson, Alexander, The Historv ofProvidence. Baker, Grand Rapids, MI, s.d., pp. 313,314.
6. Berkouwer, G. C., opus cit., pp. 47,180.
Seus mandamentos. Se quisermos confiar no amor de Deus, 
precisamos armazenar em nosso coração as grandes verdades 
que lemos neste capítulo - o amor de Deus no calvário, nos­
sa união com Cristo e a soberania do amor de Deus exercida 
em nosso favor.
O amor de Deus é uma verdade objetiva que não pode ser 
contrariada. Porém, é uma verdade que precisa ser cultivada 
em nossa mente e coração. Então, poderemos usá-la em meio 
à adversidade para lidar com as nossas dúvidas, combater as 
acusações de Satanás e glorificar a Deus confiando nEle.
C A P Í T U L O DEZ
EXPERIMENTANDO O AMOR DE DEUS
Porque eu estou bem certo de que 
nem a morte, nem a vida, nem os anjos, 
nem os principados, nem as coisas do presente, 
nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, 
nem a profundidade, nem qualquer outra 
criatura poderá separar-nos do amor de Deus, 
que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Rm 8.35-39
V imos no capítulo anterior que o amor de Deus é soberano; 
que Seu braço poderoso também é o Seu braço de cuidado 
terno. No entanto, parece que com frequência, não enxerga­
mos nem sentimos o amor soberano de Deus sendo exercido a 
nosso favor. Ao contrário, nos vemos cercados por todo tipo 
de calamidade que vêm sobre nós. Nos vemos como vítimas do 
“destino cruel da natureza”, das injustiças de outras pessoas e 
das adversidades que ocorrem sem qualquer motivo racional.
É em momentos assim que precisamos nos manter firmes 
na fé com base na segurança do amor de Deus dada a nós nas 
Escrituras. Não podemos nos esquivar de um dos princípios 
básicos da vida cristã: “Andamos por fé e não pelo que vemos” 
(2 Co 5.7). É evidente que a nossa fé vacila com frequência e,
assim como poderemos momentaneamente questionar a sabe­
doria de Deus, questionaremos momentaneamente a bondade 
e o amor dEle. Agiremos como Davi, quando disse: “Eu disse 
na minha pressa: estou excluído da tua presença” (Sl 31.22). 
Normalmente, esta é a nossa primeira reação quando a ad­
versidade nos atinge. Nos sentimos excluídos da presença do 
Senhor, de Seu amor e Seu terno cuidado.
Contudo, precisamos igualmente aprender com Davi a di­
zer: “Não obstante, ouviste a minha súplice voz, quando clamei 
por teu socorro” (Sl 31.22). Deus é incapaz de nos abandonar, 
pois somos Seus filhos, em bendita união com Seu Filho. Não 
podemos ser excluídos da presença de Deus. Porém, podemos 
nos sentir excluídos da segurança do Seu amor quando per­
mitimos que a dúvida e a falta de fé conquistem algum lugar 
em nosso coração.
Isaías fala do povo de Deus (chamado de Sião) como quem 
questionou o amor de Deus:“Mas Sião diz: O S e n h o r me 
desamparou” (Is 49.14). Porém, a resposta de Deus à dúvida 
do povo é enérgica:
Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho 
que ainda mama, 
de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre?
Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, 
eu, todavia, não me esquecerei de ti.
(Is 49.15)
Deus usa o laço humano mais próximo possível, um bebê 
sendo amamentado por sua mãe, para ilustrar o Seu amor por 
nós. Contudo, mesmo a melhor ilustração do amor humano 
é insuficiente para demonstrar o amor de Deus por Seus fi­
lhos, visto que é tragicamente possível uma mãe negligenciar 
o cuidado de seu filho. Mães são pecadoras e por vezes o seu
amor natural pode ser sobrepujado por seus próprios interes­
ses pessoais. O maior amor humano pode falhar às vezes.
No entanto, o amor de Deus não pode falhar. Edward J. 
Young diz o seguinte a respeito desse texto: “Não é que Deus 
simplesmente não esquecerá. Ele é incapaz de esquecer. Eis 
uma das mais fortes, senão a mais forte expressão do amor de 
Deus no Antigo Testamento”. Young, a seguir, cita João Cal- 
vino: “Em resumo, o profeta descreve o cuidado inimaginá­
vel com que Deus cuida incessantemente da nossa salvação, 
para que possamos estar completamente convictos de que Ele 
jamais nos abandonará, embora possamos ser afligidos por 
inúmeras e grandiosas calamidades”1.
Em Lm 3, o autor, tradicionalmente aceito como sendo o pro­
feta Jeremias, personifica a nação de Judá depois de sua destrui­
ção através do exército babilônico. Se existiu alguém que poderia 
se sentir excluído da face de Deus, foi essa nação, e com justiça, 
devido à sua vilania e idolatria. Entretanto, o autor vai além da 
personificação da nação. Tem-se a impressão de que ele sente 
pessoalmente a aparente alienação de Deus. É difícil saber com 
certeza se ele está simplesmente se valendo de um recurso lite­
rário ou se está permitindo que seus próprios sentimentos pes­
soais sejam revelados. Qualquer pessoa que já se sentiu excluída 
da face de Deus ou abandonada por Ele pode refletir no grande 
sentimento de tormento descrito pelo autor em Lm 3.1-20. A 
porção do texto termina com a seguinte afirmação:
Lembra-te da minha aflição e do meu pranto, 
do absinto e do veneno.
Minha alma, continuamente, 
os recorda e se abate dentro de mim.
{Lm 3.19,20)
]. Young, Edward J., opus cit., 3:285.
O autor chegou ao fundo do poço, emocional e espiritual­
mente. Porém, de repente o estado de espírito muda comple­
tamente, quando o autor escreve: “Quero trazer à memória o 
que me pode dar esperança” (Lm 3.21). A seguir temos uma 
das passagens mais belas de toda a Bíblia - uma passagem 
que trouxe esperança e encorajamento a inúmeros cristãos 
ao longo da história:
As misericórdias do Senhor 
são a causa de não sermos consumidos, 
porque as suas misericórdias não têm fim ; 
renovam-se cada manhã.
Grande é a tua fidelidade.
{Lm 3.22,23)
O que provocou tamanha mudança de perspectiva no cora­
ção do escritor? Ele se volta das circunstâncias imediatas para 
o Senhor. Ele não foi excluído da face de Deus. Até mesmo a 
nação em seu pecado profundo não foi excluída do amor de 
Deus. O Senhor disciplinou a nação de forma severa, mas Ele 
jamais deixou de amá-la. Da mesma forma, se formos falar 
da grande fidelidade do Senhor, devemos nos voltar de nos­
sas circunstâncias para o Senhor. Precisamos enxergar nos­
sas situações através do amor de Deus, em lugar de enxergar 
o amor de Deus pelo filtro das circunstâncias, como somos 
propensos a fazer.
Como foi que o escritor se voltou para o Senhor? Ele refletiu 
sobre o amor, a compaixão e a fidelidade de Deus. Nós deve­
mos fazer o mesmo. É por esse motivo que devemos guardar 
em nosso coração alguns desses textos bíblicos maravilhosos 
acerca do amor divino. Precisamos tê-los prontos para usar 
quando a adversidade atacar e quando surgirem em nosso co­
ração as dúvidas e as tentações para que não creiamos.
0 AMOR DE DEUS NA DISCIPLINA
A segurança fornecida pela Bíblia acerca da soberania e da 
constância do amor divino não significa que não devemos 
esperar adversidades. Pelo contrário, o autor de Hebreus nos 
garante que a disciplina, na forma da adversidade, é prova do 
amor de Deus:
Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, 
nem desmaies quando por ele és reprovado; 
porque o Senhor corrige a quem ama 
e açoita a todo filho a quem recebe.
(.Hb 12.5,6)
Procuramos, erroneamente, por sinais do amor de Deus 
na alegria. Em lugar disso, deveríamos procurar tais sinais no 
operar fiel e persistente de Deus em nos conformar a Cris­
to. Conforme observou Philip Hughes: “A disciplina não é a 
marca de um pai duro e sem coração, mas de um pai que se 
encontra profunda e amorosamente interessado no bem estar 
de seu filho”2.
O autor de Hebreus reconhece que a disciplina divina é 
dolorosa. Essa é a intenção. Ela não atingiria seu propósito 
se não fosse dolorosa. Porém, em Sua sabedoria infinita e em 
Seu amor perfeito, Deus jamais nos disciplinará além do que 
precisamos; Ele jamais permitirá qualquer adversidade em 
nossa vida que não seja essencialmente para o nosso bem. Po­
demos estar certos de que jamais sofremos sem um propósito. 
Conforme declara Lm 3.33, “porque não aflige, nem entristece 
de bom grado os filhos dos homens”.
Deus nos disciplina com relutância, embora o faça com
2. Hughes, Philip E., A Commetitarv on the Epistle to the Hebrews. Eerdmans, Grand 
Rapids, MI, 1977, p. 528.
lealdade. Ele não Se deleita em nossas adversidades, mas Ele 
não nos poupará daquilo que precisamos para crescer mais 
e mais à semelhança de Cristo. É a nossa condição espiritual 
imperfeita que torna a disciplina necessária.
Isso não quer dizer que cada adversidade que acontece em 
nossa vida está relacionada com algum pecado específico que 
cometemos. O motivo pelo qual Deus lida com nossas vidas 
não é tanto pelo que fazem os, mas pelo que somos. Todos nós 
temos a tendência de subestimar a pecaminosidade residual 
em nosso coração. Deus enxerga, mas nós falhamos ao enxer­
gar o tamanho do orgulho, da autoconfiança carnal, das ambi­
ções egoístas, da teimosia, da autojustificação, da falta de amor 
e da falta de confiança em Deus. Somente a adversidade traz 
tais disposições pecaminosas à tona, tal qual o fogo refinador 
traz à superfície as impurezas do ouro derretido.
Nem sempre conseguimos discernir o bem espiritual espe­
cífico que está sendo gerado em nossa vida por meio de uma 
adversidade específica. É claro que, frequentemente, conse­
guimos enxergar Deus lidando com uma necessidade nossa 
óbvia de caráter, mas não conseguimos enxergar tudo o que 
Deus está operando em nós. Deus age por meio das nossas 
adversidades, operando em nós aquilo que é agradável a Ele 
(Hb 13.21).
Mencionei brevemente Rm 8.28 num capítulo anterior e 
destaquei que o “bem” do qual Paulo fala encontra-se definido 
no versículo 29 como sendo a conformidade com a imagem 
do Filho de Deus. Olhemos agora de maneira mais detalha­
da para Rm 8.28. Diz o texto: “Sabemos que todas as coisas 
cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles 
que são chamados segundo o seu propósito”. Várias das “coi­
sas” que Paulo tem em mente são ruins em si mesmas. Não há 
nada essencialmente bom em defeitos de nascença, desastres 
naturais e uma série de outras adversidades que possamos
enfrentar. Quando o mal é praticado pelo próximo contra nós, 
certamente não existe qualquer bem essencial nele. Porém, na 
sabedoria e amor infinitos de Deus, Ele toma todos os even­
tos da nossa vida, tanto bons quanto ruins, e os harmoniza 
de forma que possam contribuir juntos para o nosso bem, o 
bem que Deus planeja para nós.
Na época em que crescia no Texas, eu gostava muito dos 
biscoitos amanteigados feitos diariamente por minha mãe no 
café da manhã. Entretanto, não havia nenhum ingrediente 
que eu gostasse por si só. Até mesmo depois de misturados, 
a massa crua do biscoito não me atraia. Somente depois que 
os ingredienteseram misturados nas porções corretas pelas 
mãos habilidosas de mamãe e então expostos ao calor do 
forno, é que eles estavam prontos para serem saboreados no 
café da manhã.
As “coisas” mencionadas em Rm 8.28 são como os ingre­
dientes da massa de biscoito. Por si só, elas não são saboro­
sas. Nós as evitamos. Com certeza, evitamos também o calor 
do forno. Contudo, quando Deus em Sua habilidade infinita, 
mistura tudo e assa no forno da adversidade, então, diremos 
um dia que é bom.
Ao considerarmos a disciplina através da adversidade, pre­
cisamos tomar cuidado para não equiparar certa quantidade 
de adversidade a certo nível de pecaminosidade em nossa vida 
ou na vida do próximo. Algumas das pessoas mais parecidas 
com Cristo que já conheci passaram por adversidades imensas. 
Temos apenas que olhar para o livro de Jó para ver essa ver­
dade na Bíblia. O próprio Deus disse a Jó: “Porque ninguém 
há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente 
a Deus e que se desvia do mal” (Jó 1.8). Todavia, não conheço 
ninguém, exceto o Senhor Jesus Cristo, que tenha experimen­
tado a calamidade total que Jó experimentou.
Um amigo meu descreveu o tema do livro de Jó como sendo
“Deus tornando um homem bom ainda melhor”. Sendo assim, 
se você acha que experimenta mais do que sua “quantia justa” 
de adversidade, não permita que uma suposta ligação entre 
adversidade e pecado o desanime. É possível que Deus te­
nha outras coisas em mente além da disciplina corretiva. Por 
exemplo: parece haver pouca dúvida de que os irmãos de José 
precisavam muito mais de disciplina corretiva do que José. 
Entretanto, nenhum dos irmãos sofreu como José.
A MISERICÓRDIA DE DEUS
Uma expressão bastante comum no livro dos Salmos é a mi­
sericórdia de Deus. Por exemplo: O SI 32.10 diz: “O que confia 
no S e n h o r , a misericórdia o assistirá”. Reflita sobre o signifi­
cado disso. O amor divino não pode falhar. O amor de Deus 
é inalterável, constante e fixo. Em todas as adversidades que 
passamos o am or de Deus não falha. Assim nos diz o Senhor 
em Is 54.10:
Porque os montes se retirarão, e os outeiros 
serão removidos; 
mas a minha misericórdia não se apartará de ti, 
e a aliança da minha paz não será removida, 
diz o Senho r , que se compadece de ti.
Porque o amor de Deus não pode falhar, Ele permitirá em 
nossa vida apenas a dor e a aflição que seja para o nosso su­
premo bem.
Até mesmo a dor que Ele mesmo traz à nossa vida é tem­
perada com Sua compaixão. “Pois, ainda que entristeça a al­
guém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas mi­
sericórdias” (Lm 3.32). A segurança é que Deus demonstrará
compaixão. Não é o bastante dizer que Ele é compassivo, mas 
que Ele demonstrará compaixão. Isso significa que até mesmo 
o fogo da aflição será temperado com Sua compaixão, que 
brota de Seu amor infalível. Nossa aflição está sempre acom­
panhada da compaixão e do consolo de Deus.
Paulo experimentou a compaixão divina em meio a seu 
sofrimento. Para prevenir o orgulho em sua vida, o Senhor 
deu a Paulo um espinho na carne. Não sabemos o que era esse 
espinho, mas sabemos que ele foi uma forte aflição para Paulo. 
Em três momentos, Paulo suplicou que o Senhor removesse 
esse espinho, mas Deus respondeu negativamente. Em lugar 
disso, Deus disse: “A minha graça te basta” (2 Co 12.9). Deus 
trouxe aflição para a vida de Paulo para o seu bem, mas Ele 
também demonstrou compaixão. Ele concedeu graça, neste 
caso concedeu força divina, para suportar tal aflição. Ele não 
deixou que Paulo suportasse o espinho na carne sozinho. Em 
compaixão, Deus forneceu os recursos divinos necessários 
para a provação. Com o tempo Paulo pode se alegrar em sua 
aflição, pois através dela ele experimentou o poder vencedor 
de Deus.
Paulo recebeu graça quando precisou dela. Deus não nos 
concede toda a força divina de que precisamos para a vida 
cristã no dia em que colocamos a nossa confiança em Cristo. 
Pelo contrário, Davi fala sobre a bondade do Senhor que se 
encontra reservada para aqueles que O temem (SI 31.19). Assim 
como devemos guardar (o significado de “escondi” no SI 119.11) 
a Palavra de Deus em nosso coração contra os momentos de 
tentação, assim Deus reserva bondade ou graça para os nossos 
momentos de adversidade. Nada recebemos antes de precisar­
mos, mas também nada recebemos tarde demais.
Penso num médico cujo filho nasceu com uma deficiência 
de nascença incurável, deixando-o aleijado por toda a vida. 
Perguntei a ele como se sentia quando ele, que dedicou sua
vida toda para tratar das doenças dos outros, se deparou com 
a condição incurável de seu próprio filho. Ele me disse que seu 
maior problema era a tendência de resumir os próximos vin­
te anos da vida de seu filho naquele momento inicial quando 
descobriu a respeito da condição dele. Olhando desse ponto 
de vista, a adversidade dele era gigantesca. Deus não concede 
hoje vinte anos de graça. Ao contrário, Ele fornece a graça dia 
a dia. Conforme diz a música: “Dia a dia, passam-se os ins­
tantes, e o meu Deus me ampara em meu viver; pondo nele a 
minha fé constante, nada temo, nada vou temer”3.
A PRESENÇA DE DEUS CONOSCO
O amor de Deus não falha, Sua graça é sempre suficiente. Mas, 
as boas notícias não param por aí. Ele está conosco em nossas 
dificuldades. Ele não se limita a enviar graça do céu para que 
suportemos as dificuldades. Ele mesmo vem em nosso auxílio. 
Ele nos diz: “Não temas... eu te ajudo” (Is 41.14).
Em Is 43.2, Deus diz:
Quando passares pelas águas, eu serei contigo; 
quando, pelos rios, eles não te submergirão; 
quando passares pelo fogo, não te queimarás, 
nem a chama arderá em ti.
Deus promete especificamente estar conosco em nossa dor 
e aflição. Ele não nos poupará das águas de sofrimento e do 
fogo da adversidade, mas Ele os atravessará conosco.
Até mesmo quando as águas e o fogo são aquilo que o pró­
prio Deus traz à nossa vida, Ele ainda assim passará por eles
3. Berg, Lina Sandell, (1865), D ia a Dia. Trad. Joan L. Sutton, 1975, Rio de Janeiro, RJ, 
JUERP, Hinário para o Culto Cristão, n° 182.
conosco. A maioria das promessas graciosas de que Deus está 
conosco, foi dada primeiramente à nação de Judá durante 
uma época de decadência espiritual nacional. Através de Seus 
profetas, Deus alertou continuamente o povo acerca do juízo 
iminente; todavia, em meio a essas advertências, encontramos 
promessas incríveis de que Ele estaria com o povo. Deus jul­
gou o Seu povo, mas Ele não o abandonou. Mesmo em meio 
ao juízo trazido, Deus esteve com eles. Conforme disse Isaías: 
“Em toda a angústia deles, foi ele angustiado” (Is 63.9).
Por isso, independentemente de qual seja a natureza ou a 
causa da nossa adversidade, Deus passa por ela conosco. Ele 
diz: “Eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha 
destra fiel” (Is 41.10). Normalmente, é exatamente no meio 
da nossa adversidade que experimentamos as manifestações 
mais agradáveis do Seu amor. Conforme declarou Paulo em 
2 Co 1.5, “porque, assim como os sofrimentos de Cristo se 
manifestam em grande medida a nosso favor, assim também 
a nossa consolação transborda por meio de Cristo”.
Cristo Se identifica conosco em nosso sofrimento. Quando 
Cristo confrontou Saulo na estrada para Damasco, Ele disse: 
“Saulo, Saulo, por que me persegues?” “Quem és tu, Senhor?”. 
Em resposta à pergunta de Saulo Cristo respondeu: “Eu sou 
Jesus, a quem tu persegues” (Atos 9.4,5). Uma vez que Seu 
povo estava unido com Cristo, perseguir ao povo significava 
perseguir a Ele. Essa verdade não é diferente hoje. Você está 
unido com Cristo, assim como os discípulos estavam na épo­
ca do livro de Atos. E, pelo fato de você estar unido a Cristo, 
Ele partilha da sua adversidade.
Não importa a maneira como enxergamos nossa adversi­
dade, logo descobrimos que a graça de Deus é suficiente, que 
o Seu amor é adequado. Nada pode nos separar do Seu amor. 
Nas palavras de Paulo: “nem a altura, nem a profundidade,
nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor deDeus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.39).
O amor infalível de Deus por nós é um fato confirmado 
repetidas vezes na Bíblia. Tal fato é verdadeiro, quer acredi­
temos nele ou não. Nossas dúvidas não destroem o amor de 
Deus, assim como nossa fé é incapaz de cria-lo. Ele se origina 
da própria natureza de Deus, que é amor, e flui até nós por 
meio de nossa união com Seu Filho amado.
Mas o experimentar desse amor e consolo que Ele tencio- 
na nos oferecer depende de crermos na verdade a respeito 
do amor de Deus conforme revelada nas Escrituras. Quando 
permitimos que dúvidas a respeito do amor de Deus sejam 
guardadas em nosso coração, seremos certamente privados 
do consolo do Seu amor. O comentarista escocês do século 
dezenove, John Brown, escreveu um comentário esclarecedor 
sobre o assunto. Ele disse:
“A única maneira que os ‘sofrimentos da era presente’ po­
dem se interpor entre o cristão e o amor de Deus e de Cristo, 
é quando o cristão cai diante deles como se fossem uma 
tentação, ou se a falta de fé os afundar nos sofrimentos da 
era presente’. Então, uma nuvem aparece entre esse cris­
tão e a luz do semblante do Pai. Porém, essa nuvem não é 
a aflição, mas sim o pecado; e isso é uma solução miseri­
cordiosa que Deus arquitetou. A necessidade de consolo 
comunica ao cristão que algo está errado”4
É verdade que dependemos do Espírito Santo tanto para 
nos capacitar a confiarmos no amor de Deus quanto para de­
pendermos dEle para nos capacitar a obedecer às ordens dEle. 
Porém, assim como somos responsáveis por obedecer confian­
4. Brown, John, Analvtical F.xposition o f the Epistle ofPaul the Apostle to the Romans,
1857; reimpresso por Baker, Grand Rapids, MI, 1981, p. 269.
do que Ele está operando em nós, somos também responsá­
veis por confiar nEle com a mesma atitude de dependência 
e confiança. Em inúmeras situações de aflição possivelmen­
te teremos que fazer como certo homem fez diante de Jesus 
quando “exclamou [com lágrimas]: Eu creio! Ajuda-me na 
minha falta de fé!” (Mc 9.24).
Quase sempre lutaremos com dúvidas acerca do amor de 
Deus durante os momentos de adversidade. Se nunca tivés­
semos que lutar, nossa fé não cresceria. Porém, devemos nos 
empenhar nas lutas com nossas dúvidas; não podemos deixar 
que elas nos vençam. É possível que nos sintamos como Davi, 
em meio a situações aparentemente intoleráveis, que disse o 
seguinte num momento de grande angústia:
Até quando, Sen h o r?
Esquecer-te-ás de mim para sempre?
Até quando ocultarás de mim o rosto?
(Sl 13.1)
Davi tinha suas dúvidas; ele lutou com elas. Na realidade, 
no versículo seguinte ele continua sua luta quando pergunta: 
“Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma?” Ele 
sentiu como se Deus tivesse, mesmo que por um breve mo­
mento, Se esquecido dele. No entanto, por meio da capacita­
ção do poder de Deus, Davi venceu sua batalha. Ele superou 
suas dúvidas. Ele então foi capaz de dizer:
No tocante a mim, confio na tua graça;
regozije-se o meu coração na tua salvação.
Cantarei ao Senho r ,
porquanto me tem feito muito bem.
(Sl 13.5,6)
Assim como Davi, você e eu devemos lutar com nossos pen­
samentos. Com a ajuda de Deus, poderemos chegar também 
ao ponto de dizer, mesmo em meio à adversidade: “Confio na 
tua misericórdia, no teu amor infalível”.
C A P Í T U L O O N Z E
CONFIANDO EM DEUS QUANTO 
A QUEM SOO
Pois tuformaste o meu interior, 
tu me teceste no seio de minha mãe.
No teu livro foram escritos todos os meus dias, 
cada um deles escrito e determinado, 
quando nem um deles havia ainda.
Sl 139.13,16
A inda consigo lembrar quando tentava jogar beisebol no 
ensino fundamental. Eu não conseguia nem rebater nem 
pegar a bola, pois era incapaz de dizer exatamente onde a 
bola estava ou de julgar qual era a sua velocidade em minha 
direção. Somente mais tarde fui descobrir que minha incapa­
cidade para jogar beisebol se devia à minha visão monocular 
(a capacidade de focar apenas um olho por vez). A percepção 
de profundidade depende da visão binocular, a capacidade de 
focar os dois olhos para, juntos, gerarem um efeito estereos­
cópico ou tridimensional.
Esse problema me acompanha pela vida inteira, ou pelo 
menos, desde minha infância. Até hoje passo por momentos
de apreensão cada vez que vou renovar minha carteira de ha­
bilitação. Pergunto-me sempre se o examinador não irá me 
reprovar por minha incapacidade na percepção de profundi­
dade em meu exame da vista. Não consigo jogar tênis, e nem 
ouso entrar numa quadra de handebol ou de squash, com 
medo de levar uma bolada no rosto.
Porém, quando era criança eu simplesmente não conseguia 
entender por que era incapaz de jogar beisebol com meus co­
legas. Sabia apenas que me sentia envergonhado e rejeitado 
por não ser como eles. É claro que muitas outras pessoas pos­
suem deficiências físicas ou mentais que são bem piores que a 
minha. Quer sejam maiores ou menores, essas incapacidades 
normalmente geram sofrimento na infância e então, mais tar­
de, uma dificuldade para aceitar-se como adulto. Quando nos 
tornamos cristãos, podemos começar a lutar com Deus por 
causa das deficiências e das limitações que temos.
Outras pessoas que não possuem deficiências lutam com 
problemas de aparência física. As orelhas são grandes demais, 
ou o nariz é muito comprido, ou o corpo de alguma forma 
não é devidamente proporcional. Há ainda aqueles que têm 
dificuldade com seu jeitão de ser ou com suas características 
emocionais. Outros lutam com fatores hereditários e ambien­
tais inevitáveis sobre os quais não têm qualquer controle.
Seja qual for o problema, muitas pessoas lutam para acei­
tarem a si mesmas como são. Para elas, a vida é apenas uma 
adversidade contínua, não por causa de circunstâncias exter­
nas, mas por quem elas são. Sua maior necessidade de confiar 
em Deus talvez seja “confiar em Deus por quem sou”. Para 
pessoas assim, o SI 139.13-16 possui coisas muito importantes 
e úteis a dizer.
QUEM EU SOU FOI DEUS QUEM FEZ
O Sl 139.13-16 nos ensina que somos quem somos porque o 
próprio Deus nos criou assim, não por causa de um proces­
so biológico impessoal. Observe o que Davi diz a Deus no 
vs 13: “Tu me teceste no seio de minha mãe”. Davi retrata Deus 
como um tecelão absoluto trabalhando no ventre materno, 
nos criando de forma direta assim como criou Adão a partir 
do pó da terra.
Davi certamente tinha ciência do processo biológico que 
Deus usou para trazê-lo ao mundo. Ele não nega isso. Ao 
contrário, ele nos ensina que Deus supervisiona de tal forma 
o processo biológico que Ele está diretamente envolvido na 
formação de cada um de nós, para que sejamos a pessoa que 
Ele deseja que sejamos.
A parte inicial do vs 13 diz: “Tu formaste o meu interior”. 
O termo hebraico traduzido como “interior” significa literal­
mente rins, termo usado pelos judeus para expressar o lugar 
de residência dos anseios e desejos pessoais. A Bíblia de Estudo 
da Nova Versão Internacional diz que o termo era usado no he­
braico para “o âmago das emoções e sensibilidade moral”. Davi, 
então, está dizendo: “O Senhor criou a minha personalidade”. 
Deus não criou apenas o corpo físico de Davi, Ele também 
criou a sua personalidade. Davi era quem era porque Deus o 
criou daquela maneira física, mental e emocionalmente. As­
sim como Deus esteve pessoalmente envolvido na criação de 
Davi, Ele esteve diretamente envolvido na nossa criação. O Rev. 
James Hufstetler disse com precisão:
Você é o resultado da obra atenta, cuidadosa, elaborada, ín­
tima, detalhada e criativa de Deus. Sua personalidade, seu 
gênero, sua altura, suas características, são o que são por­
que Deus as fez precisamente dessa maneira. Ele fez você
como fez porque é assim que Ele quer que você seja... Se 
Deus quisesse que você fosse básica e criativamente dife­
rente, Ele o teria feito diferente. Seus genes, cromossomos 
e características distintas, até mesmo o formato do nariz e 
das orelhas, são o que são por propósito divino1.
O SI 139.13 não é a únicapassagem bíblica que fala direta­
mente de Deus nos criando. Jó disse:
As tuas mãos me plasmaram e me aperfeiçoaram. 
Lembra-te de que m eform aste como em barro.
De pele e carne me vestiste e de ossos e 
tendões me entreteceste.
(Jó 10.8-11)
O escritor do SI 119 disse: “As tuas mãos me fizeram e me 
afeiçoaram” (vs 73). E Deus disse a Jeremias: “Antes que eu te 
formasse no ventre materno, eu te conheci” (Jr 1.5).
A aplicação dessa verdade deveria estar clara para nós. Se 
eu tiver dificuldade em me aceitar como Deus me fez, então 
tenho uma controvérsia com Deus. E claro que você e eu pre­
cisamos mudar na medida em que nossa natureza pecaminosa 
distorce aquilo que Deus fez. Portanto, não digo que precisa­
mos nos aceitar como somos, mas sim, como Deus nos fez em 
nossa constituição básica física, mental e emocional.
Davi, em vez de irritar-se sobre como Deus o fez, disse: “Gra­
ças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso 
me formaste” (Sl 139.14). Davi era um homem “de belos olhos 
e boa aparência” (1 Sm 16.12). Então poderíamos dizer: “E fácil 
Davi louvar a Deus, pois ele era bonito, atlético, habilidoso na 
guerra e um músico bem dotado, mas olhe só para mim. Sou
1. Hufstetler, James, “On Knowinp Oneseíf ”, The Banner of Truth, Edição 280, Janeiro 
de 1987, p. 13.
uma pessoa muito comum física e mentalmente”. Na realidade, 
algumas pessoas acham que nem atingem o nível do comum.
Eu entendo quem se sente assim. Além das minhas inca- 
pacidades de visão e de audição, jamais me empolguei com 
a minha aparência física. Deus não deu ao Seu próprio Filho 
características atraentes em Seu corpo humano. Isaías disse 
a respeito de Jesus: “Não tinha aparência nem formosura; 
olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse” 
(Is 53.2). O retrato de Jesus bonito, de barba, que normalmen­
te encontramos não tem qualquer base bíblica. Na melhor 
das hipóteses, Jesus era, ao que tudo indica, genérico em Sua 
aparência física, e isso jamais O incomodou nem interferiu de 
qualquer forma no cumprimento da vontade de Seu Pai.
Davi não louvou a Deus porque era bonito, mas porque 
Deus o fez. Precisamos enfatizar isso. O Deus eterno, que é 
infinito em Sua sabedoria e perfeito em Seu amor, fez você e 
eu pessoalmente. Ele lhe deu o corpo, as capacidades mentais 
e a personalidade básica que você tem, pois foi assim que ele 
quis que você fosse. Ele quis você exatamente desse jeito por­
que te ama e deseja ser glorificado através você.
Esse é o alicerce cristão para a autoaceitação. Eu sou quem 
sou e você é quem é porque Deus nos criou soberana e dire­
tamente para sermos quem somos. A autoaceitação é basica­
mente confiar em Deus quanto a quem sou com deficiências 
ou imperfeições físicas e tudo. Precisamos aprender a pensar 
como George MacDonald, que disse: “Prefiro ser o que Deus 
escolheu que eu fosse a ser a criatura mais gloriosa que a mi­
nha mente pudesse conceber; pois o ser concebido por Deus, 
nascer no pensamento divino e ter sido feito pelas mãos de 
Deus, é a coisa mais querida, grandiosa e preciosa que pode­
mos imaginar”2.
2. MacDonald, George citado em Miller, J.R., “tindinv One's Mission". Reiner
Publications, Swengel, PA, s.d., p. 2.
Se temos deficiências ou limitações físicas ou mentais, é 
porque Deus em Sua sabedoria e amor nos criou dessa ma­
neira. É possível que não entendamos por que Deus assim 
escolheu, mas é exatamente aí que nossa confiança nEle deve 
começar. Num capítulo anterior, vimos que Deus atribui a Si 
mesmo a responsabilidade por deficiências físicas. Ele disse a 
Moisés: “Quem fez a boca do homem? Ou quem faz o mudo, 
ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o S e n h o r ?” 
(Êx 4.11).
Trata-se de uma verdade reconhecidamente difícil de acei­
tar, especialmente se você ou uma das pessoas a quem você 
ama é alvo dessa deficiência. Jesus também afirmou que a mão 
de Deus controla as deficiências. Quando os discípulos per­
guntaram a Jesus por que certo homem havido nascido cego, 
Jesus respondeu: “Foi para que se manifestem nele as obras 
de Deus” (Jo 9.3). Medite um pouco acerca do que Jesus dis­
se. Um homem nasceu cego e permaneceu assim até sua vida 
adulta, para que a obra de Deus pudesse ser manifesta na vida 
dele. Isso não soa nem um pouco justo, não é mesmo? Por 
que aquele homem deveria sofrer com a cegueira por tanto 
tempo simplesmente para estar disponível para manifestar a 
obra de Deus num dia específico? Será que a glória de Deus 
vale a cegueira de nascença de uma pessoa?
Perguntas assim quando apresentadas a respeito de um 
personagem bíblico que viveu há mais de 2.000 anos soam 
rudes e irreverentes. Nós todos provavelmente concordamos 
que a glória de Deus vale um homem nascer cego, mas o que 
podemos dizer sobre nossas próprias deficiências e limitações? 
Será que a glória de Deus vale isso também? Será que estamos 
dispostos a levar nossas próprias limitações físicas, nossa li­
mitações de aprendizado e até mesmo nossos problemas de 
aparência a Deus e dizer: “Pai, o Senhor é digno desta fraque­
za em minha vida. Creio que Tu me criaste como sou porque
me amas e queres ser gloriíicado através de mim. Confiarei 
em ti por quem sou”.
Aprender a confiar em Deus por quem eu sou é o caminho 
para a autoaceitação. Entretanto, para fazer isso precisamos 
ter sempre em mente que o Deus que nos criou da maneira 
que somos é sábio o suficiente para saber o que é melhor para 
nós e amoroso o suficiente para produzir nossa autoaceitação. 
Certamente teremos nossas dificuldades em alguns momen­
tos com quem somos. Diferente da adversidade de incidentes 
específicos, nossas deficiências e limitações estão sempre co­
nosco. Sendo assim, precisamos aprender a confiar em Deus 
nessa área continuamente. Para fazermos isso, precisamos 
aprender a dizer com Davi: “Pois tu formaste o meu interior, 
tu me teceste no seio de minha mãe”.
Podemos nos beneficiar novamente do que James Hufste- 
tler tem a dizer: “Até que você agradeça a Deus por ter feito 
você como Ele fez, você jamais se deleitará realmente nas ou­
tras pessoas, jamais terá emoções estáveis, jamais viverá uma 
vida de contentamento piedoso, jamais vencerá a inveja e nem 
amará os outros como deve”3.
À medida que agradecemos a Deus por quem somos, deve­
mos agradecê-lo também pelas capacidades e traços chama­
dos positivos que temos. Todas as capacidades - física, mental, 
personalidade, talentos e assim por diante - que possuímos, 
nos foram presenteadas por Deus. As palavras de Paulo aos 
coríntios se aplicam a todos nós. “Pois quem é que te faz so­
bressair? E que tens tu que não tenhas recebido?” (1 Co 4.7). 
Tudo que temos, quer capacidades, aprendizado, riquezas, es­
tabilidade na vida, posição profissional ou influência, nos foi 
dado por Deus para a Sua glória. Quer seja uma capacidade
3. Hufstetler, opas cit., p. 14.
ou uma deficiência, aprendamos a recebê-la do Senhor, a dar 
graças a Ele e a buscarmos usá-la para a Sua glória.
CONFIANDO EM DEUS PELO 0 QUE EU SOU
Fomos criados por Deus no ventre materno exatamente como 
Deus queria, para que possamos cumprir Seu plano traçado 
para nós. Deus não age por capricho ou por impulso, mas de 
acordo com Seu propósito eterno. Ele tinha um motivo para 
criar cada um de nós como fez. O Salmo 139.16 precisa ser leva­
do em consideração juntamente com os vs 13-15. Diz assim:
No teu livro foram escritos todos os meus dias, 
cada um deles escrito e determinado, 
quando nem um deles havia ainda.
Há dois significados possíveis que podem ser atribuídos a 
esse versículo. O primeiro é que a duração da vida de Davi, em 
outras palavras, o número de dias que ele viveria, foi divina­
mente ordenado por Deus. Com certeza essa é uma verdade 
expressa em outra parte da Bíblia. No Sl 31.15, Davi disse: “Nas 
tuas mãos, estão os meus dias”. Jó disse:
Visto que os seus dias estão contados, 
contigo está o número dos seus meses; tu ao 
homem puseste limites além dos quais não passará.
(.Jó 14.5)
O apóstoloPaulo disse: “de um só fez toda a raça humana... 
havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os li­
mites da sua habitação” (At 17.26). Deus não apenas nos criou 
conforme planejou, Ele também determina soberanamente
quanto tempo vivemos. Em si mesma essa é uma verdade 
gloriosa. Assim como Davi, a duração de nossa vida está em 
Suas mãos. Conforme diz um cântico: “Até que Ele chame, 
não tenho como morrer”.
Porém, é possível que Davi tivesse o outro significado em 
mente nessa passagem, que todas as experiências de sua vida, 
dia a dia, foram escritas no livro de Deus antes que ele nas­
cesse. Isso diz respeito não apenas ao conhecimento prévio de 
Deus do que acontecerá em nossa vida, mas também ao Seu 
plano para a nossa vida. Esse significado é mais adequado à 
linha de pensamento dos vs 13-15. Deus criou cada um de nós 
de maneira singular para cumprir o plano que Ele estabeleceu 
para nós. Tanto as nossas limitações quanto as nossas capa­
cidades se encaixam em Seu plano. Ele criou você com uma 
deficiência incurável na fala? Ele assim fez, pois tal deficiência 
específica o torna singularmente adequado para a vida que Ele 
planejou para você. O plano de Deus para você e a maneira 
singular como Ele te criou são compatíveis. Ele equipou você 
para cumprir o propósito dEle para a sua vida.
Alguém sabiamente disse que uma das verdades mais ins- 
piradoras é que Deus possui um plano distinto para cada um 
de nós ao nos enviar para este mundo. Esse plano abrange não 
apenas Sua criação original de cada um de nós, mas também 
a estrutura familiar e social na qual nascemos. Inclui todas 
as instabilidades da vida, todos os acontecimentos aparente­
mente casuais ou aleatórios e todas as mudanças repentinas 
e inesperadas dos eventos, tanto “boas” quanto “ruins”, que 
acontecem em nossa vida. Embora possam parecer apenas 
mero acaso, todas essas situações e circunstâncias foram es­
critas no livro de Deus antes que viessem a acontecer.
O plano de Deus para nós, entretanto, abrange mais do que 
meramente os eventos ou circunstâncias que acontecem co­
nosco. Também inclui aquilo que Deus deseja que sejamos ou
façam os. A Bíblia nos ensina que Deus coloca cada cristão no 
corpo de Cristo conforme Lhe agrada. Ele determina sobera­
namente nossas respectivas funções no corpo e nos presenteia 
com os dons espirituais com os quais realizaremos tais funções 
(Rm 12.4-6; 1 Co 12.7-11). Além disso, nossos dons espirituais 
geralmente são compatíveis com as capacidades físicas e men­
tais, bem como o jeito de ser com o qual Deus nos criou.
Deus não olha para nós no dia em que entregamos nossa 
vida a Cristo e diz: “Vejamos, qual dom espiritual vou dar a 
ela?” Não, Deus planejou nossos dias antes que o primeiro 
deles ocorresse. Ele disse a Jeremias: “Antes que eu te formas­
se no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da 
madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações” (Jr 1.5). 
Paulo se refere ao seu chamado apostólico com as seguinte» 
palavras: “Quando, porém, ao que me separou antes de eu 
nascer [literalmente, desde o ventre] e me chamou pela sua 
graça, aprouve...” (Gl 1.15).
O Sl 139.13-16 precisa ser visto como uma unidade. Deus 
criou nosso ser interior e nos moldou no ventre materno para 
que pudéssemos ser equipados para cumprir o plano que Ele 
estipulou para nós antes mesmo de nascermos. Quem você 
é não se constitui num acidente biológico. O que você é não 
pode ser visto como um acidente circunstancial. Tudo isso foi 
planejado por Deus para você.
Assim como devemos confiar em Deus quanto a quem so­
mos, precisamos também confiar nEle quanto ao para que so­
mos - seja um engenheiro ou um missionário, uma dona de 
casa ou uma enfermeira. Se existe uma área da vida na qual 
o ditado “a grama é sempre mais verde do outro lado da cer­
ca” se aplica, com certeza é na área do chamado vocacional 
e a posição social que ocupa na vida. Alguém estimou que 
cerca de oitenta por cento dos trabalhadores encontram-se 
insatisfeitos com o trabalho que tem. Para muitos, é possível
que isso se deva à relutância de sermos o que Deus planejou 
que sejamos.
Embora eu tenha cursado engenharia na faculdade, logo 
abandonei tal vocação porque entendi que Deus me queria 
como missionário no exterior. Entretanto, Deus jamais per­
mitiu que eu me torna-se um missionário no exterior. Ao 
contrário, acabei me tornando um administrador de uma or­
ganização missionária. A princípio, achei que a administra­
ção seria apenas um interlúdio rumo ao campo missionário. 
Então, um dia tive que encarar o fato de que Deus havia me 
capacitado tanto com o talento quanto com a índole para a 
administração, isso seria provavelmente o que Ele me chamou 
para fazer. Por um tempo me vi como um administrador re­
lutante, como alguém que preferiria estar fora no chamado 
“ministério”. Porém, acabei percebendo que tal pensamento 
era dizer que eu estava relutante em aceitar o plano de Deus 
para mim. Precisei compreender que Ele me criou de certa 
maneira para poder cumprir o plano que Ele havia determi­
nado para mim antes que eu nascesse.
Deus me chamou para ser o administrador de uma missão 
em vez de ser um missionário. A maioria das pessoas também 
não deveria ser. Deus é o Deus da sociedade assim como da 
igreja e Ele determina o curso da nossa vida na esfera natural, 
assim como na igreja. Ele determinou os dias do encanador 
assim como o fez para o pastor.
Tal pensamento deveria dar significado até para a mais en­
fadonha das vocações. Na realidade, nenhuma vocação deve­
ria ser considerada monótona se ela foi ordenada por Deus. 
Nas palavras de J. R. Miller: “Não há espaço para o grande 
ou o pequeno aqui. Ter sido pensado por Deus, e depois ser 
formado pelas mãos de Deus para ocupar o lugar que for, é 
glória suficiente para a maior e mais almejada vida. O lugar
mais alto que podemos alcançar na vida é aquele para o qual 
fomos projetados e feitos”4.
Essa postura não ignora o fato de que o trabalho, junta­
mente com todos os outros aspectos da criação, encontra-se 
sob a maldição do pecado. As palavras de Deus para Adão: 
“No suor do rosto comerás o teu pão” (Gn 3.19), deveriam ser 
consideradas em seu sentido mais amplo indicando o esforço e 
a freqüente futilidade que normalmente acompanha qualquer 
trabalho. Tornar-se um cristão não removerá tal maldição de 
nossos respectivos trabalhos, mas deveria nos dar uma nova 
perspectiva acerca daquele trabalho. Não devemos enxergá-lo 
como um mal necessário por meio do qual obtemos nosso pão, 
mas devemos começar a enxergá-lo como o lugar onde Deus 
nos colocou para servi-Lo por meio do serviço à sociedade.
Paulo escreveu o seguinte aos escravos da igreja em Colos­
sos: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como 
para o Senhor e não para homens” (Cl 3.23). Vários daqueles 
escravos eram, sem dúvida, designados para tarefas cansati­
vas e tediosas. Alguns provavelmente trabalhavam com coi­
sas muito abaixo de suas capacidades ou instrução. Contudo, 
qualquer tarefa que tivessem, deveria ser desempenhada com 
entusiasmo, pois estavam trabalhando para o Senhor. De­
sempenhavam tarefas que haviam sido a eles ordenadas antes 
mesmo que nascessem.
O fato de Deus ter determinado todos os dias da nossa vida 
deveria, igualmente, dar significado a todos os dias, e não ape­
nas para dias empolgantes ou especiais na nossa vida. Cada 
dia é importante para nós porque foi determinado por Deus. 
Se nos encontramos entediados com a vida, há algo errado 
com o nosso conceito de Deus e acerca de Seu envolvimento 
em nossa vida diária. Até mesmo os dias mais enfadonhos e
4. Miller, opus cit., p. 2.
entediantes da nossa vida são determinados por Deus e devem 
ser por nós vividos para glorificá-Lo.
A percepção de que Deus planejou nossos dias não deve­
ria, entretanto, nos conduzir a uma aceitação fatalista do sta- 
tus quo. Se tivermos uma oportunidade de melhorar nossa 
situação de uma maneira que honrará a Deus, deveríamosfazê-lo. Até mesmo para os escravos cristãos Paulo escreveu: 
“mas, se ainda podes tornar-te livre, aproveita a oportunida­
de” (1 Co 7.21). Porém, imediatamente antes dessa afirmação 
Paulo havia escrito: “Foste chamado, sendo escravo? Não te 
preocupes com isso”. Nossa vida deve ser sempre marcada por 
um equilíbrio entre os esforços piedosos para melhorar nossa 
situação e a aceitação piedosa das situações que não podem 
ser alteradas por nós.
Para muitos, existem vários detalhes aparentemente adver­
sos de nossa vida que jamais serão alterados, independente­
mente dos nossos esforços ou das nossas orações. Eles simples­
mente fazem parte do plano de Deus para nós. Em situações 
assim, precisamos buscar o consolo nas palavras de Deus aos 
judeus cativos na Babilônia, quando Ele disse em Jr 29.11:
Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o 
Senho r ; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o 
fim que desejais.
Embora tais palavras tenham sido proferidas por Deus a 
um grupo específico de pessoas, os judeus cativos, elas reve­
lam o coração de Deus para com todos os Seus filhos. Assim 
como Ele planejou somente o bem para os cativos, Ele assim 
planejou somente o bem para você e para mim. O plano de 
Deus determinado e escrito em Seu livro para você antes de 
seu nascimento é um plano bom. E um plano para fazê-lo 
crescer e aperfeiçoá-lo e não para causar dano. Reconheço
prontamente que existem vários aspectos do plano de Deus 
para cada um de nós que realmente parecem nocivos, que 
parecem ter sido calculados para tirar nossa esperança. En­
tretanto, é em momentos assim que somos convocados a ca­
minhar pela fé, a confiar em Deus diante dessas adversidades 
que insistem em não ir embora.
CONFIANDO EM DEUS QUANTO À ORIENTAÇÃO
A percepção de que Deus determinou nossos dias logicamen­
te nos conduz a pensar: “Será que posso confiar que Deus 
me guiará em meio a esse plano? E se eu cometer um erro 
e perder o rumo?” Para responder tais perguntas, creio ser 
importante fazer a distinção entre a orientação de Deus e 
aquilo que hoje costumeiramente é chamado de “descobrir a 
vontade de Deus”.
Davi disse o seguinte a respeito de Deus: “Leva-me para 
junto das águas de descanso... Guia-me pelas veredas da jus­
tiça por amor do seu nome” (Sl 23.2,3, ênfase acrescentada). 
A figura aqui é a de um pastor conduzindo seu rebanho. A 
iniciativa encontra-se no pastor. É ele quem determina os 
locais onde o rebanho irá beber, e guia o rebanho como acha 
melhor. Como nosso Pastor, Deus comprometeu-Se a nos 
guiar pelos caminhos que Ele sabe serem os melhores para 
nós. Deus dirige a nossa vida de forma soberana para que 
realmente vivamos, em nossas experiências diárias, todos os 
dias por Ele determinados.
O assunto do descobrir a vontade de Deus numa questão 
específica (ou, conforme alguns preferem expressar, tomar a 
decisão correta) é outra questão, embora seja um assunto rela­
cionado. Descobrir a vontade de Deus geralmente diz respeito 
a decisões do tipo “encruzilhada”. Muito já foi escrito sobre o
assunto, e existem posturas bastante divergentes quanto a isso. 
Meu propósito não é entrar nesse debate aqui.
O que desejo fazer é voltar nossa atenção para a iniciativa 
e a fidelidade de Deus em nos guiar, de forma que cumpra­
mos o plano que Ele determinou para nós. Pensamos muito 
acerca de nossa responsabilidade de descobrir a vontade de 
Deus numa situação ou de tomar decisões sábias diante das 
escolhas da vida, mas a ênfase bíblica parece estar em Deus 
nos dirigindo.
Consideremos o livro de Atos. A única referência aos dis­
cípulos procurando determinar a vontade de Deus ocorre na 
escolha de Matias como sucessor de Judas. Daquele momen­
to em diante, o livro é um registro de Deus orientando o Seu 
povo. Por exemplo: em At 16, Paulo e seus companheiros es- 
tavam seguindo em sua viagem missionária, numa progressão 
lógica. Entretanto, por duas vezes eles foram impedidos pelo 
Espírito Santo e então, como resultado da visão de Paulo, con­
cluíram que Deus os estava chamando para a Macedônia. À 
medida que avançavam, o Espírito os direcionava, fazendo-os 
parar em dois lugares e chamando-os para outro. O relato não 
nos diz como o Espírito os direcionou; simplesmente relata 
que o Espírito o fez.
O plano que Deus tinha para Paulo e para os seus compa­
nheiros era mais específico do que a Grande Comissão de fazer 
discípulos de todas as nações. As províncias da Ásia e da Bitínia, 
nas quais Paulo foi impedido de entrar, eram tão necessitadas 
quanto a Macedônia. Porém, o plano de Deus para Paulo era 
que ele levasse o evangelho para a Macedônia, e então, a partir 
daí para toda a península grega. Deus não deixou Paulo ter que 
sair à busca de Sua vontade. Ao contrário, à medida que Paulo 
caminhava, Deus tomava a iniciativa de direcioná-lo.
Deus tem um plano para cada um de nós. Ele nos conce­
deu dons, capacidades e índoles diferentes, e de acordo com
a Sua vontade colocou a cada um de nós no Corpo de Cristo. 
Inserir-nos no Corpo indica algo bem mais determinado do 
que deixar a escolha conosco. Significa, na realidade, o ato de 
nos colocar nesse Corpo. Inclui todas as circunstâncias provi­
denciais que foram trazidas sobre nós para assegurar que en­
contrássemos nosso lugar adequado no Corpo, e para que de­
sempenhássemos as funções que Ele nos deu para cumprir.
Nós temos a responsabilidade de tomar decisões sábias 
ou de descobrir a vontade de Deus, seja qual for o termo que 
você prefere usar. No entanto, o plano de Deus não depende 
de nossas decisões. O plano divino não depende de nada. O 
plano de Deus é soberano. Ele engloba tanto as nossas deci­
sões tolas quanto as nossas decisões sábias.
Para a maioria de nós, muitas das decisões mais importan­
tes da vida são tomadas antes de termos a sabedoria espiritual 
necessária para tomar decisões sensatas. No último ano da 
faculdade, fui entrevistado para um emprego e recebi a pro­
posta que seria efetivada tão logo eu concluísse meu serviço 
militar obrigatório. Naquele momento eu nada sabia a respeito 
da vontade de Deus ou a respeito de tomar decisões espiritu­
ais sábias. Porém, por algum motivo, eu recusei o emprego. 
Olhando para trás hoje, consigo ver que Deus estava me dire­
cionando, mantendo-me disponível para o Seu chamado mais 
tarde para o ministério conhecido como Os Navegadores.
Os meios que Deus usa para nos guiar são infinitos. Con­
siderando meus trinta e nove anos de vida cristã, fico mara­
vilhado com as várias e diversas maneiras por meio das quais 
Deus me guiou. A minha tendência é dizer como Davi: “Que 
preciosos para mim, ó Deus, são os teus pensamentos! E como 
é grande a soma deles!” (SI 139.17). Deus se encontra em plena 
atividade, norteando todos os detalhes da minha vida.
Como a maioria dos cristãos, eu lutei para fazer a escolha 
certa em algumas “encruzilhadas” que encontrei de vez em
quando. Posso ter tomado algumas decisões erradas, não sei 
ao certo. Contudo, Deus em Sua soberania me orientou fiel­
mente em Seus caminhos através de decisões certas e erradas 
que tomei. Estou onde estou hoje não porque sempre tomei 
decisões corretas, ou porque descobri corretamente a vontade 
de Deus em momentos específicos ao longo da jornada, mas 
porque Deus me conduziu fielmente e me guiou ao longo do 
caminho da Sua vontade para a minha vida.
A orientação divina quase sempre é passo a passo; Ele não 
nos mostra todo o plano dEle para a nossa vida de uma vez. 
Por vezes, a nossa ansiedade em descobrir a vontade de Deus 
vem de um desejo de “bisbilhotar por cima dos ombros de 
Deus” para saber qual é o Seu plano. O que precisamos fazer 
é aprender a confiar que Ele nos direcionará.
Obviamente, isso não significa que colocamos nossa mente 
em ponto morto e esperamos que Deus nos guie de maneiras 
misteriosas, sem um pensar sólido e piedoso de nossa parte. 
Na realidade, conforme disse o Dr. James Packer: “Deus nos 
fez seres pensantes, e Ele guia a nossa mente à medida querefletimos em Sua presença”5.
Creio que o Dr. Packer expressou isso de maneira muito sá­
bia: Deus guia a nossa mente à medida que pensamos. Porém, 
o importante para este estudo é que Deus nos guia. Ele não pro­
cura esconder de nós a verdade. Ele não olha do céu para nossa 
luta para descobrir a Sua vontade e diz: “Espero que você tome 
a decisão correta”. Em lugar disso, em Seu tempo e da Sua ma­
neira, Ele nos orienta pelo caminho que Ele tem para nós.
Há vários anos, Fanny J. Crosby escreveu estas palavras 
tão apropriadas para este tópico de confiarmos que Deus irá 
nos guiar:
5. Packer, ]. I., Your Father Loves You. Harold Shaw Publishers, Wheaton, IL, 1986, lei­
tura devocional para 13 de Outubro.
Meu Jesus me guia sempre:
Que mais posso desejar?
Duvidar de Suas ternas misericórdias,
Que a vida inteira vivem a me nortear?
Tenho paz celeste, gozo de divina proteção,
Pois sei que não importa o que me ocorrer,
Jesus por mim tudo faz com perfeição.
Meu Jesus me guia sempre,
Com Seu amor é fiel!
Perfeito descanso a mim Ele promete 
Quando chegar à casa de meu Pai, no céu.
Quando meu espírito alçar voo rumo ao lar 
Meu cântico, por toda eternidade, será:
Jesus me guiou em todo meu caminhar6.
Nós podemos confiar que Deus nos guiará. Ele irá nos guiar 
por todo o caminho. Quando estivermos diante do Seu trono 
não cantaremos sobre termos descoberto com sucesso a von­
tade de Deus. Ao contrário, juntamente com Fanny Crosby, 
cantaremos: “Jesus me guiou em todo meu caminhar”.
6. Crosby, Fanny J., Ali the Wav Mv Savior Leads Me. Tradução livre.
C A P Í T U L O OOZE
CRESCENDO ATRAVÉS DA ADVERSIDADE
Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria 
o passardes por várias provações, sabendo que a provação 
da vossafé, uma vez confirmada, produz perseverança.
Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que 
sejaísperfeitos e íntegros,em nada deficientes.
Tgl.2'4
U m dos eventos mais fascinantes da natureza acontece quan­
do a mariposa Cecropia sai do seu casulo - evento que acon­
tece apenas com muito sacrifício por parte da mariposa para 
livrar-se do casulo. Com frequência a história é contada pelo 
prisma de alguém que observou a luta da mariposa. Numa 
tentativa de ajudar, sem perceber a necessidade do esforço 
dela, o observador abriu o casulo. Ela logo saiu com suas asas 
amassadas e enrugadas. Porém, enquanto a pessoa observa­
va, as asas permaneceram fracas. A mariposa, que em pouco 
tempo teria aberto as asas para voar, estava condenada a viver 
sua breve vida se arrastando, frustrada por jamais vir a ser a 
bela criatura que Deus a criou para ser.
A pessoa da história não percebeu que a luta para sair do 
casulo era parte essencial do desenvolvimento do sistema 
muscular do corpo da mariposa e da produção dos fluidos
corporais dentro das asas para expandi-las. Ao buscar, sem 
sabedoria, encurtar a luta da mariposa, o observador acabou 
por aleijá-la e condenou sua existência.
As adversidades da vida se parecem muito com o casulo da 
mariposa Cecropia. Deus as usa para desenvolver o “sistema 
muscular” espiritual de nossa vida. Conforme diz Tiago no 
texto inicial deste capitulo, “a provação da vossa fé [através 
das mais variadas adversidades]... produz perseverança”, e a 
perseverança conduz ao amadurecimento do nosso caráter.
Podemos estar certos de que o desenvolvimento de um 
belo caráter semelhante ao de Cristo não ocorrerá em nossa 
vida sem adversidade. Pense naquelas maravilhosas virtudes 
que Paulo chamou de fruto do Espírito em G15.22,23. As pri­
meiras quatro características que ele menciona - amor, ale­
gria, paz e longanimidade - só se desenvolverão no casulo da 
adversidade.
Podemos achar que possuímos amor cristão verdadeiro até 
que alguém nos ofenda ou nos trate de maneira injusta. Nes­
se momento nós percebemos a ira e o ressentimento brotar 
dentro de nós. Podemos concluir que já aprendemos sobre 
a alegria cristã genuína até que nossa vida seja atingida por 
uma calamidade inesperada ou por uma dolorosa decepção. 
As adversidades roubam a nossa paz e submetem nossa pa­
ciência a uma prova severa. Deus usa tais dificuldades para 
revelar nossa necessidade de crescimento, de forma que nos 
voltemos a Ele para que nos transforme mais e mais à ima­
gem do Seu Filho.
Entretanto, nos encolhemos procurando evitar a adversida­
de e, usando os termos da ilustração da mariposa, queremos 
que Deus abra o casulo da adversidade onde nos encontra­
mos e nos liberte dele. Porém, assim como Deus possui mais 
sabedoria e mais amor pela mariposa do que o observador 
possuía, Ele também é mais sábio e mais amoroso do que nós.
Ele não eliminará a adversidade até que tenhamos nos benefi­
ciado dela e desenvolvido aquilo que Ele planejou ao trazê-la 
ou permiti-la em nossa vida.
Tanto Paulo, quanto Tiago, falam de nos regozijarmos em 
nosso sofrimento (Rm 5.3,4; Tg 1.2-4). Se formos honestos, 
a maioria de nós tem dificuldade com essa ideia. Suportar a 
adversidade, talvez, mas me alegrar com ela? Isso geralmente 
parece ser uma expectativa irracional. Não somos masoquis­
tas; não gostamos de dor.
Contudo, tanto Paulo quanto Tiago falam que devemos 
nos alegrar em nossa adversidade por causa dos resultados 
benéficos que ela nos traz. A base da nossa alegria não é a 
adversidade em si. Pelo contrário, é a expectativa dos resul­
tados, o desenvolvimento do nosso caráter que deveria fa­
zer com que nos alegrássemos em meio à adversidade. Deus 
não pede que nos alegremos por perdermos nosso emprego, 
por um parente próximo descobrir que está com câncer ou 
porque um filho nasceu com um problema incurável. Deus 
nos orienta a nos alegrarmos por sabermos que Ele está no 
controle daquelas circunstâncias e vai trabalhar através delas 
para o nosso bem.
A vida cristã foi planejada para ser de crescimento contínuo. 
Todos nós desejamos crescer, mas geralmente resistimos ao 
processo. Isso acontece, pois temos a tendência de focar aten­
ção na própria adversidade, em vez de olhar com os olhos da fé 
além dos eventos que Deus está operando em nós. O escritor 
de Hebreus disse o seguinte a respeito de Jesus: “Em troca da 
alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazen­
do caso da ignomínia” (Hb 12.2). Considerando Sua intensa 
agonia física e o sofrimento espiritual infinito por suportar a 
ira de Deus por nossos pecados, a morte de Cristo na cruz foi 
a maior calamidade que já aconteceu a qualquer ser humano. 
Todavia, Jesus Cristo foi capaz de olhar além do sofrimento
para a alegria que Lhe estava proposta. O escritor de Hebreus 
continua dizendo que devemos olhar firmemente para Cristo e 
seguir Seu exemplo. Devemos olhar além de adversidade para 
o que Deus está fazendo na nossa vida e nos alegrarmos, certos 
de que Ele está operando em nós para nos fazer crescer.
DEUS OPERA POR MEIO DA ADVERSIDADE
Felizmente, Deus não nos pergunta como ou quando deseja­
mos crescer. Ele é o Mestre, treina Seus pupilos quando e como 
julgar melhor. Nas palavras de Cristo, Ele é o Vinicultor que 
poda os ramos de Sua vinha. A vinha saudável requer tanto 
nutrição quanto poda. Somos nutridos por meio da Palavra de 
Deus (SI 1.2,3), mas somos podados por meio da adversidade. 
Tanto a língua hebraica quanto a língua grega expressam os 
conceitos de “disciplina” e “ensino” usando um único termo. 
Deus planeja que cresçamos tanto através das disciplinas da 
adversidade quanto por meio da instrução da Sua Palavra. O 
salmista coloca a adversidade e a instrução juntas no pro­
cesso de treinamento a que Deus nos submete, quando diz: 
“Bem-aventurado o homem, S e n h o r , a quem tu repreendes, 
a quem ensinas a tua lei” (Sl 94.12).
Deus está trabalhando na vida de cada um de Seus filhos, 
sem levar em consideração o quanto estamos cientes disso. 
Uma das passagens mais encorajadoras na Bíblia está em 
Fp 1.6: “Estou plenamente certo de que aquele que começou 
boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus”. 
Deus está trabalhando em nós e não falhará emcontinuar até 
a concretização da obra que começou. Ele estará “operando 
em vós o que é agradável diante dele” (Hb 13.21).
O pastor escocês do Século 19, Horatius Bonar, escreveu:
Ele que conduz esse processo não pode ficar confuso ou ser 
forçado a desistir de Seu projeto. Ele é capaz de executar 
o plano através das mais improváveis maneiras e contra a 
maior das resistências. Tudo que existe tem que ceder à Sua 
vontade. Confesso que esse pensamento é, para mim, um 
dos mais consoladores ligados à disciplina. Não tem como 
fracassar! Se Deus fosse capaz de ser frustrado em Seus pla­
nos depois de termos sofrido tanto, seria terrível!1
Mas Deus não pode ser frustrado. Ele concluirá a obra que 
começou. Conforme escreveu Bonar: “O tratamento escolhido 
por Deus tem que ser bem sucedido. Ele não pode falhar ou 
ser frustrado até mesmo pelos maiores esforços, até mesmo 
em relação aos mínimos detalhes. É o imenso poder de Deus 
que opera em nós e sobre nós, e esse é o nosso consolo... Tudo 
é amor, tudo é sabedoria e tudo é fidelidade. Todavia, tudo 
também é poder”2.
Para mim é um grande encorajamento o fato de que Deus 
não pode falhar em Seu propósito para a adversidade em nossa 
vida e que Ele realizará a obra que planeja. Por vezes eu cer­
tamente falho quando reajo às dificuldades de uma maneira 
que não honra ao Senhor. Porém, a minha falha não significa 
que Deus falhou. Até mesmo a minha compreensão mais do­
lorosamente aguda de que fracassei pode ser usada por Deus, 
por exemplo, para me ajudar a crescer em humildade. Quem 
sabe, esta tenha sido a intenção do Senhor desde o princípio.
Deus sabe o que está fazendo. Novamente, nas palavras de 
Bonar: “Ele sabe exatamente o que precisamos e como prover 
isso... O treinamento ao qual Ele nos submete não é algo alea­
1. Bonar, Horatius, When Gnd's Children Suffer. Keats Publishing, Inc., New Canaan, 
CT, 1981, publicado originalmente como Nieht o f Weepinp. p. 30.
2. Bonar, Horatius, ibid, p. 31.
tório. Ele é executado com uma habilidade impressionante”3. 
Deus nos conhece melhor do que nós mesmos nos conhece­
mos. Aquilo que para nós parece ser nossa maior necessida­
de pode ser algo desnecessário. No entanto, Deus sabe, sem 
qualquer possibilidade de erro, onde precisamos crescer. Ele 
executa Seu plano com uma precisão que excede muito a de 
qualquer médico cirurgião. Ele faz o diagnóstico correto de 
nossa necessidade e aplica o melhor remédio.
Toda adversidade que cruza o nosso caminho, quer peque­
na ou grande, tem o objetivo de nos ajudar a crescer de algu­
ma maneira. Se não fosse benéfica, Deus não a permitiria ou 
enviaria “porque não aflige, nem entristece de bom grado os 
filhos dos homens” (Lm 3.33). Deus não Se alegra com o nosso 
sofrimento. Ele permite apenas aquilo que é necessário, mas 
Ele não nos privará daquilo que nos ajudará a crescer.
APRENDEMOS COM A ADVERSIDADE
Precisamos aprender a reagir ao que Deus está fazendo porque 
Ele trabalha na nossa vida através da adversidade. Conforme já 
vimos, a obra soberana de Deus jamais anula a nossa responsa­
bilidade. Assim como Deus nos ensina através da adversidade, 
precisamos também procurar aprender com ela.
Há uma série de coisas que podemos fazer para aprender 
com a adversidade e receber os efeitos benéficos que Deus 
planeja. Inicialmente, podemos nos submeter a ela - não da 
maneira relutante como um general derrotado se submete 
ao vencedor, mas de maneira voluntária tal como o paciente 
que está sendo operado se submete às mãos habilidosas do 
cirurgião à medida que usa seu bisturi. Não tente frustrar o
3. Bonar, Horatius, ibid, pp. 28,29.
propósito gracioso de Deus resistindo à Sua providência em 
sua vida. Ao contrário disso, independentemente de você con­
seguir enxergar o que Deus está fazendo, faça do propósito 
dEle o seu propósito.
Isso não significa que não devemos usar todos os meios 
legítimos à nossa disposição para minimizar os efeitos da ad­
versidade. Significa que devemos aceitar da mão do Senhor, 
em todas as oportunidades, o sucesso ou o fracasso de tais 
meios conforme a vontade dEle, e buscar aprender tudo que 
Ele pode nos ensinar.
Por vezes perceberemos claramente o que Deus está fazen­
do, e nestas situações precisamos corresponder ao ensino do 
Senhor com uma obediência humilde. Em outras situações, 
parece que não somos capazes de perceber nada daquilo que 
Ele está fazendo em nossa vida. Em momentos assim, deve­
mos reagir com uma fé humilde, confiando que Deus opera 
em nossa vida exatamente aquilo que precisamos aprender. 
Ambas as atitudes são importantes, Deus vai querer uma delas 
num dado momento e outra em outro momento.
Em segundo lugar, para tirarmos proveito máximo da ad­
versidade, precisamos aplicar a Palavra de Deus à situação. 
Devemos pedir a Deus que direcione nossa atenção para pas­
sagens pertinentes da Bíblia e assim, dependendo dEle para 
isso, nós as consideremos. A minha primeira grande lição a 
respeito da soberania de Deus continua indelevelmente im­
pressa em minha mente depois de muitos anos. Isso aconteceu 
numa época em que eu estava procurando desesperadamente 
na Bíblia por algum tipo de resposta para um momento de 
provação bastante difícil.
À medida que procurarmos relacionar as passagens bíblicas 
às nossas adversidades, descobriremos que não apenas sere­
mos beneficiados por elas, mas que obteremos nova perspecti­
va das Escrituras. Segundo consta, Martinho Lutero teria dito
o seguinte: “Não fosse pelas tribulações eu não compreenderia 
as Escrituras”. Embora estejamos correndo para a Bíblia para 
aprender a reagir às adversidades, descobriremos que, por sua 
vez, as adversidades nos ajudarão a compreender as Escritu­
ras. Não estou dizendo com isso que aprenderemos com as 
adversidades algo diferente do que somos capazes de aprender 
da Bíblia. Em vez disso, a adversidade acentua o ensinamento 
da Palavra de Deus e a torna mais proveitosa para nós. Em al­
gumas situações a adversidade abre o nosso entendimento ou 
faz com que enxerguemos verdades que não vimos antes. Em 
outros momentos, ela transformará “conhecimento intelectual” 
em “conhecimento prático”, à medida que a teoria teológica 
se torna uma realidade para nós.
O puritano Daniel Dyke disse:
A Palavra, então, é o armazém de toda instrução. Não ache 
que a adversidade lhe ensinará uma nova doutrina qual­
quer, que não se encontra na Palavra. Pois, na realidade, 
encontra-se aqui o ensinamento proveniente da aflição, 
que nos conforma e nos prepara para a Palavra, quebrando 
e fragmentando a teimosia do nosso coração, tornando-o 
flexível, capaz de ser impressionado pela Palavra4.
Desta forma, podemos dizer que a Palavra de Deus e a 
adversidade possuem um efeito de cooperação à medida que 
ambas são usadas por Deus para provocar um crescimento 
em nossa vida que nem a Palavra, nem a adversidade, provo­
cariam por si só.
Em terceiro lugar, para nos beneficiarmos da adversidade, 
precisamos nos lembrar delas e das lições que aprendemos 
com elas. Deus deseja que façamos mais do que simplesmente
4. Dyke, Daniel, cílado em Spurgeon, C. H., The Treasurv o f David Baker, Grand 
Rapids, MI, 1984, 4:306.
suportar nossas provações, e até mais do que encontrar mero 
consolo por meio delas. Deus deseja que nos lembremos de­
las, não simplesmente como provações ou dores que sofremos, 
mas como Sua disciplina - meio pelo qual Ele escolheu nos 
fazer crescer em nossa vida. O Senhor disse aos israelitas:
Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o Senho r , teu 
Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humi­
lhar, para te provar... Ele te humilhou, e te deixou ter fom e, 
e te sustentou com o maná... para te dar a entender que não 
só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da 
boca do Senhor viverá o homem (Dt 8.2,3).
A palavra “que procede da boca do S e n h o r ” nessa passa­
gem não é a Palavra das Escrituras, mas a palavra da providên­
cia de Deus (Sl 33.6,9 e Sl 148.5 fazem um uso similar).Deus 
queria ensinar os israelitas que eles dependiam dEle para o 
pão de cada dia. Ele fez isso - não incorporando esta verdade 
à lei de Moisés - mas trazendo adversidade na forma de fome 
para os israelitas. Porém, para que eles tirassem proveito des­
sa lição precisavam se lembrar dela. De modo semelhante, se 
desejamos nos beneficiar das dolorosas lições que Deus nos 
ensina, precisamos nos lembrar delas.
Fiz referência num capítulo anterior a uma lição dolorosa 
que aprendi quando tentei usurpar subitamente um pouco da 
glória de Deus para a minha própria reputação. Tenho a res­
ponsabilidade de lembrar-me dessa lição diante de Deus. Toda 
vez que leio Is 42.8, “a minha glória, pois, não darei a outrem”, 
seja no meu tempo devocional ou mesmo quando recordo a 
passagem, devo lembrar-me daquela circunstância dolorosa 
e deixar que aquela lição crie raízes ainda mais profundas em 
meu coração. Toda vez que vou ensinar a Palavra de Deus, eu 
devo me lembrar daquela lição e eliminar do meu coração
qualquer desejo de melhorar minha própria reputação. É desta 
maneira que a adversidade se torna proveitosa para nós5.
Até aqui consideramos o benefício da adversidade de uma 
maneira geral, olhando primeiro para o trabalho de Deus em 
nossa vida por meio da provação e então sobre como devemos 
reagir a ela. Creio que agora seria proveitoso considerar al­
guns fins específicos que Deus tem em mente quando permite 
a adversidade em nossa vida. É claro que somos incapazes de 
cobrir todas as lições que Deus planeja nos ensinar através 
da adversidade, mas algumas das lições a seguir são especi­
ficamente mencionadas ou mesmo sugeridas pela Bíblia. Por 
meio do estudo destes objetivos específicos, devemos ser en­
corajados a crer que Deus sempre tem um motivo para trazer 
ou permitir dificuldades especiais em nossa vida, até mesmo 
quando somos incapazes de discernir qual é o Seu motivo.
PODA
Jesus disse que “todo o que dá fruto [Deus] limpa, para que 
produza mais fruto ainda” (Jo 15.2). No mundo natural, a poda 
é importante para a produção do fruto. Uma vinha não poda­
da terá um crescimento improdutivo com pouco fruto. Podar 
aquilo que representa um crescimento indesejado e sem utili­
dade, força a planta a usar sua vida para produzir fruto.
No mundo espiritual, Deus precisa nos podar. Pois mesmo 
sendo cristãos possuímos uma natureza pecaminosa, tende­
mos a gastar nossa energia espiritual naquilo que não é fruto 
verdadeiro. Buscamos posição, sucesso e reputação até mesmo 
dentro do corpo de Cristo. Temos a tendência de depender 
de talentos naturais e de sabedoria humana. Portanto, somos
5. Um método capaz de nos ajudar a lembrar das lições ensinadas por Deus através da
adversidade é manter um registro delas e revê-las periodicamente.
facilmente distraídos e desviados pelas coisas do mundo - seus 
prazeres e posses.
Deus usa a adversidade para afrouxar nosso apego a essas 
coisas que não são fruto verdadeiro. Uma doença séria ou a 
morte de alguém querido, a perda de bens materiais ou uma 
mancha em nossa reputação, amigos que nos voltam as costas 
ou sonhos que são completamente desfeitos, fazem com que 
avaliemos o que realmente é importante na vida. A posição, os 
bens materiais ou até mesmo a reputação não parecem mais 
tão importantes. Começamos então a renunciar nossos dese­
jos e expectativas, até mesmo aqueles que são bons, em favor 
da vontade soberana de Deus. Dependemos cada vez mais de 
Deus e desejamos apenas aquilo que tem valor eterno. Deus 
nos poda para que sejamos mais frutíferos.
SANTIDADE
Em um capítulo anterior, vimos que outro resultado propos­
to para a adversidade é que cresçamos em santidade: “Deus, 
porém, nos disciplina [através da adversidade] para apro­
veitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade” 
(Hb 12.10). No entanto, qual é a relação entre adversidade e 
santidade?
Por um lado, a adversidade revela a corrupção da nossa 
natureza pecaminosa. Não conhecemos a nós mesmos ou a 
profundidade do pecado que habita em nós. Concordamos 
com o ensino bíblico e pressupomos que concordar significa 
obedecer. Pelo menos pretendemos obedecer. Quem de nós 
não lê a lista de virtudes cristãs chamadas de fruto do Espíri­
to - amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bonda­
de, fidelidade, mansidão e domínio próprio (G1 5.22,23) - e 
não concorda que todos nós desejamos essas características
em nossa própria vida? Chegamos a achar que estamos pro­
gredindo nelas.
Porém, a adversidade aparece. Descobrimos, então, que 
somos incapazes de amar, do fundo de nosso coração, aque­
la pessoa que é o instrumento da adversidade. Descobrimos 
que não queremos perdoar tal pessoa. Percebemos que não 
estamos dispostos a confiar em Deus. A falta de fé e o ressen­
timento crescem dentro de nós. Ficamos desanimados diante 
da situação. O crescimento no caráter cristão que achávamos 
que tinha ocorrido parece sumir como um vapor. Sentimos 
como se tivéssemos voltado ao jardim de infância espiritual. 
Todavia, por meio dessa experiência, Deus revelou a nós um 
tanto da corrupção que ainda existe dentro de nós.
Jesus disse: “Bem-aventurados os humildes de espírito... 
Bem-aventurados os que choram... Bem-aventurados os que 
têm fome e sede de justiça” (Mt 5.3,4,6). Todas estas descri­
ções referem-se ao crente que foi humilhado por sua pecami- 
nosidade, que chora por causa disso e luta de todo o coração 
para que Deus o transforme. Entretanto, ninguém adota tal 
atitude sem ser exposto ao mal e à corrupção do seu próprio 
coração. Deus usa a adversidade para esse fim.
No processo de nos tornar santos, Deus vai além dos peca­
dos específicos que possivelmente conhecemos. Ele deseja que 
cheguemos à raiz do problema: a corrupção da nossa nature­
za pecaminosa manifestada na rebelião da nossa vontade, na 
perversidade das nossas inclinações e na ignorância espiritual 
da nossa mente. Deus usa a adversidade para iluminar nossa 
mente acerca de nossas próprias necessidades bem como dos 
ensinamentos das Escrituras. Ele usa a adversidade para re­
frear nossa inclinação que foi atraída por desejos perversos e 
para subjugar nossa vontade teimosa e rebelde.
Porém, nós normalmente resistimos à obra de Deus em nos­
sa vida. Nós evitamos a vara da disciplina de Deus em vez de
nos beneficiarmos dela. Desejamos mais o alívio da adversida­
de do que de seu benefício para a santidade, mas à medida que 
confiamos que Deus usará a Sua disciplina em nossa vida, po­
demos ter a certeza de que no devido tempo ela produzirá “fru­
to pacífico aos que têm sido por ela exercitados” (Hb 12.11).
DEPENDÊNCIA
Outra área de nossa vida na qual Deus precisa trabalhar con­
tinuamente é a nossa tendência de confiarmos em nós mes­
mos em lugar de confiarmos nEle. Jesus disse: “Sem mim nada 
podeis fazer” (Jo 15.5). Sem a nossa união com Cristo e uma 
dependência total dEle, somos incapazes de fazer qualquer 
coisa que glorifique a Deus. Vivemos num mundo que vene­
ra a independência e a autoconfiança. O slogan da sociedade 
ao nosso redor é: “Eu sou o Senhor do meu destino; Sou o 
capitão da minha alma”. Por causa de nossa própria natureza 
pecaminosa, somos capazes de cair facilmente nessa maneira 
mundana de pensar. Temos a tendência de confiar em nosso 
próprio conhecimento das Escrituras, em nossa perspicácia 
profissional, em nossa experiência ministerial e até mesmo 
em nossa bondade e moralidade.
Através da adversidade, Deus nos ensina a confiarmos nEle 
e não em nós mesmos. Até o mesmo o apóstolo Paulo des­
creveu suas dificuldades como “acima das nossas forças”, que 
ocorreram “para que não confiemos em nós e sim no Deus que 
ressuscita os mortos” (2 Co 1.8,9). Deus permitiu que Paulo e 
seus companheiros de viagem fossem levados a uma situação 
tão perigosa que perderam a esperança da própria vida. Eles 
não tinham para quem se voltar senão para Deus.
Paulo teve que aprender sobre dependência de Deus tanto 
no aspecto espiritual bem como no aspecto físico. Qualquerque tenha sido seu espinho na carne, ele foi uma adversidade 
da qual Paulo queria desesperadamente se livrar. Porém, Deus 
permitiu que ela permanecesse, não apenas para conter qual­
quer tendência de orgulho no coração de Paulo, mas também 
para ensiná-lo a confiar na força do Senhor. Paulo teve que 
aprender que ele não deveria depender de sua própria força, 
mas da graça de Deus - o poder capacitador de Deus.
Paulo foi um dos homens mais brilhantes da história. Ouvi 
pelo menos um teólogo dizer que se Paulo não tivesse se tor­
nado cristão e, em vez disso, tivesse enveredado para a filosofia 
ele teria superado Platão. Deus deu a Paulo um intelecto natu­
ral privilegiado, deu a ele revelações divinas, algumas que eram 
tão gloriosas que Paulo foi impedido por Deus de revelá-las. 
Entretanto, Deus jamais permitiu que Paulo dependesse de 
seu intelecto ou das revelações que recebeu. Paulo precisou 
depender da graça de Deus assim com você e eu. O aprendi­
zado dele ocorreu através de pesadas adversidades.
Sou um homem de muitas fraquezas e de pouco vigor natu­
ral. Embora invisíveis para a maioria das pessoas, minhas limi­
tações físicas me impediram de me relacionar com outras pes­
soas por meio do golfe, do tênis e de outros esportes recreativos. 
Senti isso profundamente e por alguns anos lutei com Deus a 
esse respeito. No entanto, acabei por entender que as minhas 
fraquezas são na verdade canais para a força dEle. Depois de 
muito tempo, creio que cheguei ao ponto de dizer juntamen­
te com Paulo: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas... Porque, 
quando sou fraco, então, é que sou forte” (2 Co 12.10).
Não importa se você é predominantemente uma pessoa de 
vigor ou de fraquezas no nível humano. Você pode ser a pessoa 
mais competente que existe em sua área, mas tenha certeza de 
que se Deus for usá-lo, Ele fará com que você sinta de maneira 
profunda sua dependência dEle. Não raro Deus fará deterio­
rar aquilo em que tanto confiamos, para que aprendamos a
confiar nEle e não em nós mesmos. Nas palavras de Estevão: 
“E Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios e era po­
deroso em palavras e obras” (At 7.22). Além disso, “cuidava 
que seus irmãos entenderiam que Deus os queria salvar por 
intermédio dele” (vs 25). Porém, quando Moisés tentou reali­
zar tudo com esforço próprio, Deus frustrou seus esforços de 
forma que Moisés precisou fugir para salvar sua própria vida. 
Quarenta anos depois Moisés já não tinha confiança em suas 
próprias capacidades e tinha dificuldade em crer até de que 
poderia ser usado por Deus.
Paulo experimentou um espinho na carne. Moisés viu seus 
esforços para fazer algo por Deus serem completamente frus­
trados e se tornou uma catástrofe. Cada um desses homens de 
Deus experimentou adversidade que fez com que percebes­
sem sua própria fraqueza e sua dependência de Deus. Cada 
adversidade foi diferente, mas cada uma teve o alvo comum 
de levar tais homens ao ponto de maior dependência de Deus. 
Se Deus for usar você e a mim, Ele trará adversidade à nossa 
vida de forma que, da mesma maneira, aprendamos pela ex­
periência a depender dEle.
PERSEVERANÇA
Os destinatários da carta aos Hebreus estavam experimentan­
do adversidade em alto grau. O escritor da carta reconheceu 
que eles estavam diante de grande sofrimento, que algumas 
vezes eram publicamente expostos ao insulto e à perseguição 
e que eles aceitaram com alegria o confisco de suas proprie­
dades, pois sabiam que possuíam bens melhores e duradou­
ros (Hb 10.32-34).
Para tais pessoas, que estavam passando por perseguição 
e por dificuldades por causa de sua fé em Cristo, o escritor
disse: “Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para 
que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa” 
(Hb 10.36). E “corramos, com perseverança, a carreira que nos 
está proposta” (Hb 12.1).
Perseverança é a qualidade de caráter que nos capacita a 
perseguir um alvo a despeito dos obstáculos e dificuldades. 
Uma coisa é suportar a adversidade simplesmente. Isso é, em 
si mesmo, louvável. Porém, Deus nos chama para algo mais 
que o suportar o fardo da adversidade. Ele nos chama a perse- 
verar (continuarmos firmes) diante da adversidade. Observe 
como o escritor de Hebreus concentra-se em alcançar o alvo: 
“Havendo feito a vontade de Deus” e “corramos... a carreira 
que nos está proposta”. A vida do cristão é uma vida ativa e 
não passiva. O cristão é chamado a buscar com diligência a 
vontade de Deus. Fazer isso requer perseverança.
Vimos no capítulo um o comentário de um escritor de que a 
vida não é fácil. Ela é constituída por uma série de dificuldades 
dos mais diversos tipos e graus, normalmente existentes por 
um período de muitos anos. Alguém já disse que vida cristã 
não é uma corrida de velocidade, mas sim uma maratona. No 
entanto, até mesmo tais metáforas não expressam adequada­
mente a realidade. A vida cristã poderia ser descrita melhor 
como sendo uma corrida com obstáculos com a distância 
de uma maratona. Pense numa corrida com obstáculos com 
mais de quarenta e dois quilômetros. Acrescente a isso mu­
ros de escalada, rios a ultrapassar, barreiras a transpor e uma 
quantidade infinita de obstáculos inesperados. Assim é a vida 
cristã. Não é de se admirar que alguém tenha observado que 
“poucos cristãos terminam bem”.
Porém, Deus deseja que todo cristão termine bem. Ele dese­
ja que corramos com perseverança. Ele deseja que persistamos 
em fazer a Sua vontade, independentemente dos obstáculos. 
O chamado pai das missões modernas, William Carey, é um
exemplo famoso de alguém que perseverou. Apesar de uma 
sucessão de obstáculos inacreditáveis (incluindo uma esposa 
emocionalmente distante, que acabou ficando louca), ele tra­
duziu a Bíblia inteira ou partes dela para quarenta idiomas e 
dialetos da índia. A irmã dele é igualmente um exemplo de al­
guém que perseverou. Quase totalmente paralisada e acamada, 
ela permanecia deitada em sua cama em Londres orando por 
todos os detalhes e lutas do trabalho de seu irmão na Índia.
Poucos conseguem se identificar com a perseverança de 
William Carey, quer nos obstáculos incríveis que enfrentou 
ou nas obras maravilhosas que realizou, mas deveríamos nos 
identificar com a perseverança da irmã de Carey. Ela perse­
verou fazendo a vontade de Deus em seu estado de inválida. 
Ela poderia não fazer muito (pelo menos é o que nós acha­
mos que poderia não ser muito), mas ela perseverou no que 
podia fazer, realizando a vontade de Deus para ela. Porque ela 
perseverou em oração, seu irmão foi fortalecido e capacitado 
a perseverar em seu trabalho missionário na índia. A irmã 
de Carey fez mais do que perseverar alegremente em sua pa­
ralisia; ela perseverou fazendo a vontade de Deus apesar de 
sua paralisia.
Você e eu somos convocados a perseverar. Cada um de nós 
possui uma corrida a correr, uma vontade de Deus a cumprir. 
Todos encontraram inúmeros obstáculos e situações que po­
dem desanimar. Para conseguirmos correr a corrida e termi­
narmos bem, precisamos desenvolver a perseverança. Como 
podemos fazer isso?
Tanto Paulo quanto Tiago nos dão a mesma resposta. Pau­
lo disse que “sabendo que a tribulação produz perseverança”, 
e Tiago disse: “a provação da vossa fé, uma vez confirmada, 
produz perseverança” (Rm 5.3; Tg 1.3). É possível vermos 
aqui um efeito mutuamente intensificador. A adversidade pro­
duz perseverança e a perseverança nos capacita a enfrentar a
adversidade. Encontramos uma boa analogia no treinamento 
de levantamento de peso. Levantar peso desenvolve os mús­
culos, e quanto mais os músculos forem desenvolvidos, mais 
peso uma pessoa consegue levantar.
Embora a perseverança seja desenvolvida na difícil prova 
da adversidade, ela é energizada pela fé. Considere novamente 
a analogia do levantamento de peso. Embora os pesos na barra 
de ferro forneçam a resistência necessária para desenvolver o 
músculo, eles não fornecem a energia necessária. A energia 
deve vir de dentro do corpo do atleta. No caso da adversida­de, a energia precisa vir de Deus por meio da fé. É a força de 
Deus, e não a nossa, que nos capacita a perseverar. No entanto, 
devemos nos apropriar da força do Senhor por meio da fé.
Já observamos o chamado do escritor para perseverar em 
Hb 10.36 e 12.1. Entre esses dois chamados à perseverança está 
o famoso capítulo da fé, Hb 11. O escritor, na verdade, nos 
convoca a perseverar pela fé. O capítulo onze é um capítulo 
motivacional, à medida que ele fornece exemplos de pessoas 
que perseveraram na vontade de Deus pela fé.
Colocar na seqüência a dependência antes da perseverança 
neste capítulo foi uma escolha deliberada. Não podemos cres­
cer em perseverança até que tenhamos aprendido a lição da 
dependência. Por exemplo: você é capaz de dirigir um trenó 
puxado por cães até o Polo Norte por pura empolgação, mas 
é incapaz de correr a corrida cristã dessa maneira. Se você for 
correr a corrida de Deus, fazendo a vontade de Deus, então 
você terá de correr na força de Deus. Jesus disse: “Sem mim 
nada podeis fazer”, e Paulo disse “tudo posso naquele que me 
fortalece” (Jo 15.5; Fp 4.13). Jesus e Paulo afirmaram os dois 
lados da mesma verdade: Sem a força de Deus nada podemos 
fazer, mas com ela somos capazes de fazer tudo que precisamos. 
Fomos chamados a perseverar, a fazer a vontade de Deus ape­
sar dos obstáculos e desalentos, mas somente na força dEle.
SERVIÇO
Deus também traz a adversidade para a nossa vida visando nos 
equipar para um serviço mais eficaz. Tudo que consideramos 
até aqui - poda, santidade, dependência e perseverança - con­
tribui para nos tornar instrumentos mais úteis no serviço do 
Senhor. Deus poderia ter conduzido José diretamente para o 
palácio do Faraó sem leva-lo à prisão. Ele certamente não pre­
cisava deixar José penando na prisão por dois anos depois que 
interpretou o sonho do copeiro. As situações difíceis de José 
não eram necessárias apenas para que ele estivesse no lugar 
certo, na hora certa. Elas eram necessárias para torná-lo o tipo 
certo de pessoa para as responsabilidades que Deus lhe daria.
O apóstolo Paulo escreveu que “[Deus] nos conforta em 
toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que esti­
verem em qualquer angústia, com a consolação com que nós 
mesmos somos contemplados por Deus” (2 Co 1.4). Toda pes­
soa enfrenta momentos de adversidade e toda pessoa precisa 
de um amigo compassivo para lhe confortar e encorajar nes­
ses momentos. À medida que experimentamos o consolo e o 
encorajamento provenientes de Deus em nossas adversidades, 
somos equipados para sermos Seus instrumentos de conso­
lo e de encorajamento para os outros. Passamos para outras 
pessoas o que nós mesmos recebemos do Senhor. À medida 
que formos capazes de nos apropriar das grandes verdades da 
soberania, da sabedoria, do amor de Deus e encontrar nelas 
consolo e encorajamento para as nossas adversidades, seremos 
capazes de ministrar aos outros em momentos de aflição.
Ao comentar sobre o ministério de consolo de Paulo, usei 
de forma deliberada a expressão “consolo e encorajamento”. 
O termo grego traduzido por consolo em nossas bíblias pode 
significar admoestação, encorajamento ou conforto, depen­
dendo do contexto. O fato de Deus o Pai ser chamado aqui de
“o Pai de misericórdia e Deus de toda consolação”, faz parecer 
que os tradutores escolheram bem o termo consolação para 
expressar a compaixão divina. Se quisermos ministrar aos 
outros em seus momentos de adversidades, precisamos pri­
meiramente demonstrar compaixão, o sentimento profundo 
de compartilhar no sofrimento de outra pessoa e o desejo de 
aliviar aquele sofrimento.
Se realmente quisermos ajudar outra pessoa em seu mo­
mento de adversidade, precisamos também encorajá-la. En­
corajar significa fortificar o próximo com a força espiritual 
e emocional para perseverar nos momentos de adversidade. 
Fazemos isso apontando para a confiabilidade de Deus confor­
me revelada na Bíblia. Somente seremos capazes de consolar 
e encorajar os outros à medida que formos consolados e en­
corajados pelo Espírito Santo através de Sua Palavra. Quando 
reagimos corretamente à adversidade em nossa vida, a própria 
adversidade nos capacita a sermos instrumentos de consolo 
e de encorajamento para outros.
A COM UNHÃO DO SOFRIMENTO
Ao escrever para os crentes perseguidos das sete igrejas da Ásia, 
João se identificou como “irmão vosso e companheiro na tri­
bulação... em Jesus” (Ap 1.9). A palavra grega traduzida como 
companheiro significa “alguém que partilha”. É uma forma da 
palavra koinonia da qual extraímos nosso termo comunhão.
João se identificou como aquele que partilhava com seus 
leitores os sofrimentos pelos quais eles estavam passando. Ele 
era capaz de compreender as aflições deles uma vez que na­
quele momento ele também estava sofrendo por causa de Jesus. 
João era coparticipante com eles em seu sofrimento, e foi im­
portante para a comunicação efetiva de sua mensagem a eles
que compreendessem aquele fato. Nesse versículo, portanto, 
João apresenta-nos ainda outra forma de nos beneficiamos 
da adversidade: o privilégio de entrarmos numa comunhão 
especial com outros crentes que também se encontram nas 
dores intensas da adversidade.
As provações e as aflições possuem um efeito nivelador en­
tre os cristãos. Normalmente se diz que “o chão é nivelado ao 
pé da cruz”. Isto é, independentemente de sua riqueza, poder 
ou situação de vida, tomos somos iguais em nossa necessidade 
de um Salvador. Da mesma maneira, todos estão igualmente 
sujeitos à adversidade. Ela atinge tanto o rico quanto o pobre, 
tanto o poderoso quanto o fraco, tanto a autoridade quanto o 
subordinado, sem qualquer distinção. Nos momentos de ad­
versidade temos a tendência de deixar de lado as noções de 
relacionamentos “hierárquicos” e nos relacionamos horizon­
talmente como irmãos e coparticipantes do sofrimento. João 
poderia ter se identificado corretamente como um apóstolo de 
Jesus Cristo, alguém em posição de autoridade espiritual sobre 
os crentes sofredores da Ásia. Em vez disso, ele escolheu se 
identificar como irmão e companheiro no sofrimento deles.
As provações e as aflições também possuem um efeito apro- 
ximador entre os crentes. Elas acabam derrubando quaisquer 
barreiras e acabam com qualquer aparência de autossufici- 
ência que possamos ter. Sentimos nosso coração aquecido e 
próximo dos irmãos. Por vezes adoramos junto com outras 
pessoas, oramos juntos e servimos juntos no ministério sem 
desfrutarmos verdadeiramente de laços de comunhão. Mas 
então, de uma forma estranha, a adversidade atinge a ambos. 
Imediatamente sentimos um novo laço de comunhão em Cris­
to, a comunhão do sofrimento.
Há vários elementos que compõem o conceito completo 
de comunhão, conforme descrito no Novo Testamento, mas 
a coparticipação no sofrimento é um dos mais proveitosos.
Ela provavelmente une nossos corações em Cristo mais do 
que qualquer outro aspecto da comunhão. Lembro-me de um 
cristão de quem sou amigo faz tempo, mas que jamais fomos 
muito próximos. Então a adversidade nos atingiu. Nossas 
circunstâncias foram diferentes e a adversidade dele foi mais 
intensa que a minha, mas em nosso esforço em cuidar um do 
outro, nossos corações foram aproximados de uma maneira 
nova e mais profunda.
Este capítulo tratou das inúmeras maneiras pelas quais nos 
beneficiamos com a adversidade. Antes dessa etapa, conside­
ramos maneiras pelas quais nos beneficiamos como cristãos 
individualmente, mas na comunhão do sofrimento estamos 
olhando para uma forma na qual nos beneficiamos como 
membros do corpo de Cristo. A vida cristã não foi projetada 
para ser vivida em isolamento de outros crentes. Deus deseja 
usar nossos momentos de adversidade para aprofundar nosso 
relacionamento com outros membros do corpo; para criar um 
senso de coparticipação da vida que temos em Cristo.
RELACIONAMENTO COM DEUS
Talvez a maneira mais valiosa de nos beneficiarmos da adver­
sidade esteja no aprofundamento do nosso relacionamento 
com Deus.Por meio da adversidade aprendemos a nos curvar 
diante de Sua soberania, a confiar em Sua sabedoria e a expe­
rimentar as consolações do Seu amor, até que cheguemos ao 
ponto de poder dizer como Jó: “Eu te conhecia só de ouvir, 
mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42.5). Começamos a 
passar de um conhecer sobre Deus para conhecer o próprio 
Deus, de uma maneira pessoal e íntima.
Acabamos de considerar a comunhão do sofrimento entre 
cristãos. Em Fp 3.10, Paulo fala sobre a coparticipação nos
sofrimentos de Jesus Cristo, isto é, de crentes partilhando 
com o nosso Senhor em Seus sofrimentos. A passagem diz 
o seguinte:
Para o conhecer [a Cristo], e o poder da sua ressurreição, e
a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com
ele na sua morte.
Esse versículo tem expressado o clamor mais profundo dos 
cristãos ao longo da história: o desejo de conhecer a Cristo de 
uma maneira íntima, pessoal e sempre crescente. Recordo-me 
de ser desafiado logo que conheci a Cristo a “conhecê-Lo e 
torná-Lo conhecido”, e consigo me lembrar de orar, por cau­
sa de Fp 3.10, pedindo que Deus me capacitasse a conhecer a 
Cristo cada vez mais.
Entretanto, preciso confessar que lá no fundo sempre fi­
quei incomodado com o fato de que Paulo não apenas queria 
conhecer o próprio Cristo, como também queria ser coparti­
cipante de Seus sofrimentos. Conhecer a Cristo de uma ma­
neira mais íntima e experimentar o poder de Sua ressurreição 
em minha vida foi algo que me atraiu, mas não o sofrimento. 
Eu evitei isso.
Comecei, no entanto, a entender que a mensagem de 
Fp 3.10 é um “pacote”. Parte de se conhecer a Cristo de ma­
neira mais íntima acontece por meio da coparticipação em 
Seus sofrimentos. Se quisermos realmente crescer em nosso 
conhecimento de Cristo, podemos estar certos de que expe­
rimentaremos em algum grau os Seus sofrimentos. Se qui­
sermos experimentar o poder de Sua ressurreição, podemos 
também estar certos de que seremos coparticipantes de Seus 
sofrimentos.
Seria de grande ajuda para apreciarmos a verdade que Pau­
lo está ensinando em Fp 3.10, se compreendêssemos que o
sofrimento que Paulo antevê não se limita à perseguição por 
causa do evangelho. Ele abrange toda adversidade que atinge 
o cristão e que possui como alvo final ser mais parecido com 
Cristo, descrito aqui por Paulo como “conformando-me com 
Ele em sua morte”.
Vemos inúmeras vezes na Bíblia homens e mulheres de 
Deus sendo conduzidos a um relacionamento mais próximo 
com Ele por meio da adversidade. Não há dúvida de que todas 
as circunstâncias desde a grande demora do nascimento de 
Isaque e, depois, a experiência de levar seu filho único para o 
monte para oferecê-lo como sacrifício, levaram Abraão a um 
relacionamento muito mais profundo com Deus. O livro de 
Salmos está repleto de expressões de um conhecimento mais 
profundo de Deus à medida que o salmista O busca nos mo­
mentos de adversidade (Sl 23; 42; 61; 62).
É claro que você e eu não procuramos a adversidade sim­
plesmente para desenvolver um relacionamento mais profundo 
com Deus. Em vez disso Deus, através da adversidade, é quem 
nos procura. É Deus que nos aproxima de um relacionamento 
mais profundo com Ele. Se nós O buscamos, é porque Ele está 
buscando a nós. Um dos vínculos mais fortes que Ele usa para 
nos atrair a um relacionamento mais íntimo e pessoal com 
Ele é a adversidade. Se, em vez de lutarmos contra Deus ou 
duvidarmos dEle nos momentos de adversidade, buscarmos 
cooperar com Ele, descobriremos que seremos conduzidos a 
um relacionamento mais profundo com o Senhor. Nós conhe­
ceremos a Deus como Abraão, Jó, Davi e Paulo conheceram.
Vimos algumas formas de nos beneficiarmos da adversi­
dade. Certamente não cobrimos todos os usos que Deus faz 
da adversidade em nossa vida, nem fomos além da superfície 
nas áreas que consideramos. Em alguns momentos seremos 
capazes de perceber como estamos nos beneficiando, em ou­
tros nos perguntaremos o que Deus está fazendo. Entretanto,
podemos estar certos de uma coisa: para o crente toda dor 
possui significado; toda adversidade é proveitosa.
Não há dúvida de que a adversidade é difícil. Ela geralmen­
te nos pega de surpresa e parece nos atingir justamente onde 
somos mais vulneráveis. Não raro para nós ela parece ser com­
pletamente sem sentido e irracional, mas para Deus nada dis­
so é sem sentido ou irracional. Ele possui um propósito para 
cada dor que traz ou permite em nossa vida. Podemos estar 
certos de que, de alguma maneira, Ele a planeja para nosso 
proveito e para que nome dEle seja glorificado.
C A P Í T U L O T R E Z E
OPTANDO POR CONFIAR EM DEUS
Em me vindo o temor, hei de confiar em ti.
Em Deus, cuja palavra eu exalto, 
neste Deus ponho a minha confiança e nada temerei.
Que me pode fazer um mortal?
Sl 56.3,4
E nquanto escrevia este livro, minha primeira esposa, que hoje 
está com o Senhor, descobriu estar com um grande tumor 
maligno na cavidade abdominal. Após oito semanas de radio­
terapia e outro mês de espera, o médico pediu uma tomografia 
computadorizada para determinar se o tumor havia regredido 
completamente. No dia anterior ao resultado da tomografia, 
minha esposa estava apreensiva e ansiosa com as notícias que 
ouviria no dia seguinte.
Durante alguns dias ela se voltou para o Sl 42.11 em busca de 
segurança naquele momento de dificuldade. O versículo diz:
Por que estás abatida, ó minha alma?
Por que te perturbas dentro de mim?
Espera em Deus, pois ainda o louvarei, 
a ele, meu auxílio e Deus meu.
Lendo o SI 42.11 naquele dia, ela disse: “Senhor, eu escolho 
não ficar abatida, escolho não ficar perturbada, escolho colo­
car minha confiança em Ti”. Depois ela me relatou que seus 
sentimentos não mudaram imediatamente, mas acabaram mu­
dando com o passar do tempo. O coração dela foi acalmado e 
ela escolheu deliberadamente confiar no Senhor.
Em seus momentos de angústia, Davi também optou por 
confiar em Deus. No SI 65.3,4, o texto com o qual iniciei este 
capítulo, Davi reconheceu estar com medo. Ele não foi petu­
lante nem arrogante. Apesar do fato de ser um guerreiro muito 
habilidoso e corajoso, em alguns momentos sentiu medo. O 
cabeçalho do SI 56 indica a ocasião em que o salmo foi escrito: 
“Quando os filisteus o prenderam em Gate”. A narrativa his­
tórica do incidente diz que Davi “teve muito medo de Aquis, 
rei de Gate” (1 Sm 21.12).
Porém, apesar do temor de Davi, ele disse a Deus: “Hei de 
confiar em ti... e nada temerei”. Inúmeras vezes, encontramos nos 
Salmos essa determinação de confiar em Deus - optar por con­
fiar no Senhor apesar das circunstâncias. A declaração de Davi 
no SI 23.4» <<não temerei mal nenhum”, é equivalente à declaração 
“Confiarei no Senhor diante do mal”. No SI 16.8, Davi diz:
O Senhor , tenho-o sempre à minha presença; 
estando ele à minha direita, 
não serei abalado.
Ter o Senhor à minha presença significa reconhecer Sua 
presença e Sua ajuda constante, mas isso é algo que precisa­
mos escolher fazer.
Deus está sempre conosco. Ele disse: “De maneira alguma 
te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13.5). Ninguém 
questiona a presença de Deus conosco. Porém, precisamos 
reconhecer a Sua presença; precisamos tê-Lo sempre diante
de nós. Precisamos escolher se creremos ou não em Suas pro­
messas de proteção e cuidado constantes.
Ao falar sobre como podemos chegar à aceitação da adver­
sidade em nossa vida, Margaret Clarkson disse:
Isso sempre se inicia com um ato deliberado da nossa parte; 
nós decidimos crer na imensa bondade, providência e sobe­
rania de Deus, e, nos recusamos a desistir, não importando 
o que possa vir ou como possamos nos sentir1.
Durante muito tempo em minha longa peregrinação procu­
rando confiar em Deus constantemente - ainda estou distante 
do final dessa jornada - fui prisioneiro de meus sentimentos. 
Eu erroneamente achei que não poderia confiar em Deus a 
menos que sentisse algo ao confiar nEle (o que dificilmente 
acontece nos momentos de adversidade). Hoje aprendi que 
confiarem Deus é primeiramente uma questão de vontade 
que não depende dos meus sentimentos. Eu resolvo confiar 
em Deus e meus sentimentos acabam me seguindo.
Tendo dito que confiar em Deus é primordialmente uma 
questão da vontade, permita-me qualificar essa afirmação 
dizendo que, em primeiro lugar, ela é uma questão de conhe­
cimento. Precisamos conhecer o fato de que Deus é soberano, 
sábio e amoroso - em todas as formas que estudamos o sig­
nificado de tais termos nos capítulos anteriores. No entanto, 
uma vez expostos ao conhecimento da verdade, precisamos 
então resolver se cremos na verdade a respeito de Deus, a qual 
Ele nos revelou, ou se nos deixaremos levar por nossos sen­
timentos. Se quisermos confiar em Deus, precisamos fazer a 
escolha de crer na Sua verdade. Precisamos dizer: “Confiarei 
em Ti mesmo que não sinta vontade de fazê-lo”.
1. Clarkson, Margaret, Grace Grows Best in Winter. Eerdmans, Grand Rapids, MI, 
1984, p. 21.
TENHA A DISPOSIÇÃO DE CRER
Confiar em Deus nos momentos de adversidade é claramente 
algo difícil de fazer. Não quis dizer, ao enfatizar que confiar 
em Deus é uma escolha, que isso é uma escolha fácil como ir 
ou não ao supermercado, ou até realizar ou não um ato sacri- 
ficial. A confiança em Deus é uma questão de fé e a fé é um 
fruto do Espírito (G1 5.22). Somente o Espírito Santo é capaz 
de tornar Sua Palavra viva em nosso coração e criar a fé. En­
tretanto, somos nós que escolhemos pedir que Ele o faça ou 
podemos escolher ser governados por nossos sentimentos de 
ansiedade, de ressentimento ou de pesar.
John Newton, o autor do hino “Graça Sublime”, viu o câncer 
consumir sua esposa lenta e dolorosamente, num período de 
alguns meses. Ao falar sobre aquela época, John disse:
Penso que uns dois ou três meses antes da morte dela, quan­
do caminhava de um lado para o outro do quarto, fazendo 
orações desconexas fruto de um coração despedaçado pela 
dor, fui repentinamente atingido por um pensamento, com 
força incomum, que comunicou o seguinte: As promessas 
de Deus só podem ser verdadeiras; certamente o Senhor 
me ajudará, se eu tão somente tiver a disposição de ser aju­
dado!’. Ocorreu-me que normalmente somos levados a... 
[a partir de um respeito descabido por nossos sentimen­
tos] ceder ao pesar improdutivo que reclama tanto a nos­
sa submissão quanto a nossa paz até ao máximo de nossas 
forças. Na mesma hora eu disse em voz alta: “Senhor, eu 
certamente nada posso sozinho, mas estou disposto, sem 
qualquer reserva, a ser ajudado por Ti”2.
2. Newton, John, opus cit., 5:621,622.
John Newton foi ajudado de uma maneira extraordinária. 
Durante aqueles meses finais ele permaneceu com suas ativi­
dades normais como ministro anglicano e foi capaz de dizer:
Durante toda aquela dolorosa provação, cumpri como de 
costume, com todos os meus deveres normais e ocasionais; 
e uma pessoa que não me conhecesse dificilmente seria 
capaz de dizer, quer por minhas palavras, quer por minha 
aparência, que eu estava passando por momentos difíceis. 
[A aflição prolongada] não me impediu de pregar um ser­
mão sequer, e preguei no dia da morte dela... Na realidade, 
eu preguei três vezes enquanto ela estava morta em casa... 
e depois que ela foi colocada no caixão, eu preguei o ser­
mão em seu funeral3.
Como é que John Newton foi ajudado? Em primeiro lugar, 
ele optou por ser ajudado. Ele percebeu que seu dever era re­
sistir “ao máximo de suas forças” à quantidade incomum de 
pesar e distração. Percebeu ser pecado chafurdar na autocomi- 
seração. Então, se voltou para o Senhor, sem fazer uma única 
pergunta, senão tão somente sinalizar sua disposição de ser 
ajudado. Então, ele disse: “Não fui ajudado por consolações 
claramente oriundas de sentimentos, mas por ser capacitado 
a perceber em minha mente algumas das grandes e principais 
verdades da Palavra de Deus”4. O Espírito de Deus ajudou 
Newton fazendo com que algumas das verdades necessárias 
da Palavra de Deus se tornassem vivas para ele. Ele escolheu 
confiar em Deus, se voltou para Deus numa atitude de de­
pendência, e foi capacitado a discernir algumas das grandes 
verdades da Escritura. Escolha pessoal, oração e a Palavra de
3. Newton, John, ibid., pp. 622,623.
4. Newton, John, ibid., pp. 623,624.
Deus foram os elementos cruciais para que ele fosse ajudado 
a confiar em Deus.
O mesmo Davi que no Sl 56.4 disse: “neste Deus ponho a 
minha confiança e nada temerei”, disse no Sl 34.4 “Busquei o 
Senhor, e ele me acolheu; livrou-me de todos os meus temores”. 
Não há qualquer conflito entre dizermos “nada temerei” e pedir 
que Deus nos livre de nossos temores. Davi reconheceu que era 
sua responsabilidade escolher confiar em Deus, mas também 
que ele dependia do Senhor para ter a capacidade de fazê-lo.
Quando ensino sobre o tema “santidade pessoal”, sempre 
enfatizo que somos responsáveis por obedecer a vontade de 
Deus, mas que dependemos da capacitação do Espírito Santo 
para a obediência. O mesmo princípio se aplica na esfera da 
confiança em Deus. Somos responsáveis por confiar nEle nos 
momentos de adversidade, mas dependemos da capacitação 
do Espírito Santo para que isso se concretize.
Permita-me enfatizar uma vez mais que confiar em Deus 
não significa que não experimentaremos dor. Significa que 
cremos que Deus está operando por meio da dor para o nosso 
supremo bem. Significa que voltamos a trabalhar toda a Bíblia, 
lendo a respeito de Sua soberania, sabedoria e bondade, pe­
dindo a Deus que use os textos lidos para trazer paz e consolo 
ao nosso coração. Acima de tudo significa que não pecamos 
contra Deus permitindo que pensamentos de desconfiança 
sobre Ele pairem sobre a nossa mente. Confiar normalmente 
significará que seremos apenas capazes de dizer: “Deus, eu 
não compreendo, mas confio em Ti”.
DEUS É DIGNO DE CONFIANÇA
Todo o conceito de confiança em Deus baseia-se, logicamente, 
no fato de Deus ser absolutamente digno de confiança. É por
esse motivo que investi doze capítulos deste livro estudando 
a soberania, a sabedoria e o amor de Deus. Precisamos estar 
completamente alicerçados nessas verdades bíblicas se qui­
sermos confiar nEle.
Precisamos, igualmente, nos agarrar firmemente a algumas 
promessas de Seu cuidado constante por nós. Uma dessas pro­
messas que fará muito bem se for guardada em nosso cora­
ção encontra-se em Hb 13:5: “De maneira alguma, te deixarei, 
nunca jamais te abandonarei”. O pregador puritano Thomas 
Lye destacou que nessa passagem o grego possui cinco negati­
vas e poderia, consequentemente, ser lido da seguinte manei­
ra: “Eu nunca, nunca te deixarei; eu nunca jamais, jamais te 
abandonarei”5. Cinco vezes Deus enfatiza que não nos aban­
donará. Ele deseja que nos apeguemos firmemente à verdade 
de que, não importa o que as circunstâncias possam indicar, 
precisamos crer, com base em Suas promessas, que Ele não 
nos abandonou ou nos deixou à mercê das circunstâncias.
É possível que algumas vezes deixemos de sentir a presença e 
a ajuda de Deus, mas jamais as perdemos. Durante sua aflição, 
Jó não conseguia encontrar a Deus. Ele disse:
Eis que, se me adianto, ali não está; se torno para trás, 
não o percebo.
Se opera à esquerda, não o vejo; esconde-se à direita, 
e não o diviso.
Mas ele sabe o meu caminho; se ele me provasse, 
sairia eu como o ouro.
(Jó 23.8-10)
Nos capítulos anteriores, analisamos lições conside­
rando algumas das lutas de Jó quanto ao confiar em Deus.
5. Lye, Thomas, opus cit., 1:378.
Jó aparentemente vacilou como nós vacilamos, entre o confiar 
e o duvidar. Porém, temos aqui uma afirmação muito forte de 
confiança. Ele não conseguia encontrar a Deus em nenhum 
lugar. Deus havia retirado completamente de Jó o sentimento 
do conforto de Sua presença. Mesmo assim Jó creu que Deus 
estava cuidando dele e que faria com que ele passasse pela 
prova como ouro purificado, embora ele não pudesse vê-Lo.
Não raro você e eu experimentamos a mesma coisa que Jó - 
talvez não a mesma forma ou intensidade de sofrimentos - 
mas na aparenteincapacidade de encontrar Deus em qualquer 
lugar. Parecerá até que Deus Se escondeu de nós. Até mesmo o 
profeta Isaías disse ao Senhor certa ocasião: “Verdadeiramente 
tu és um Deus que te escondes, ó Deus de Israel, o Salvador” 
(Is 45.15 Almeida Séc. 21). Deveríamos aprender com Jó e com 
Isaías para não ficarmos totalmente surpresos e desanimados 
quando formos incapazes de encontrar Deus nos momen­
tos de adversidade. Quando tais momentos se apresentarem, 
precisamos nos apegar firmemente em Sua promessa simples, 
mas inviolável: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais 
te abandonarei”.
O apóstolo Paulo fala do “Deus que não pode mentir” 
(Tt 1.2). Esse é o Deus que prometeu: “De maneira alguma te 
deixarei, nunca jamais te abandonarei”. Podemos até sentir que 
Se escondeu, mas Ele jamais permite que a nossa adversidade 
nos esconda dEle. Poderá até permitir que passemos por águas 
profundas e pelo fogo, mas Ele estará conosco neles (Is 43.2).
Uma vez que Deus jamais te deixará nem te abandonará, 
você é convidado nas palavras de Pedro a lançar “sobre ele toda 
a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1 Pe 5.7). 
Essa passagem bíblica é muito conhecida da maioria, aliás, 
familiar demais. Algumas passagens bíblicas como essa nos 
são tão familiares e, consequentemente, tão elementares, que 
frequentemente passamos direto por elas. É quase como saber
que um mais um são dois. É coisa para alunos de primeira sé­
rie! No entanto, também é uma das verdades mais elementares 
da matemática. Sem ela não haveria álgebra, cálculo e todas 
as formas mais complexas da matemática.
Voltemos então e atentemos para 1 Pe 5.7. Deus cuida de 
você! Ele não apenas não irá abandoná-lo - este é o lado nega­
tivo da promessa - como também cuidará de você. Ele não está 
apenas com você, Ele cuida de você. O cuidado dEle é constan­
te - não é de vez em quando, esporádico. É cuidado completo - 
até mesmo os cabelos da sua cabeça estão contados. É cuidado 
soberano - nada é capaz de tocar em você se Ele não permitir. 
O cuidado dEle é infinitamente sábio e bom de forma que, no­
vamente nas palavras de John Newton: “Se fosse possível que eu 
alterasse qualquer parte do plano dEle, estragaria tudo”6.
Precisamos aprender a lançar nossa ansiedade sobre Ele. 
O Dr. John Brown disse o seguinte a respeito desse versículo: 
“A expressão figurada ‘lançar’, e não colocar, parece indicar que 
a tarefa descrita exige um esforço; e a experiência nos diz que 
não é nada fácil nos desvencilharmos do fardo do cuidado”7. 
Voltamos então para a questão da escolha. Devemos, portanto, 
por um ato da vontade e na dependência do Espírito Santo, 
dizer algo assim: “Senhor, eu escolho lançar esta ansiedade so­
bre o Senhor, mas sou incapaz de fazer isso por conta própria. 
Confiarei no Senhor, pela capacitação do Teu Espírito, que 
tendo lançado esta minha ansiedade sobre Ti, não a pegarei 
de volta para carregá-la sobre meus ombros”.
Confiar não é um estado passivo da mente. Representa um 
ato vigoroso da alma pelo qual escolhemos nos apropriar das 
promessas de Deus e nelas nos agarrar, apesar da adversidade 
que, no momento, parece nos dominar.
6. Newton, John, opus cit., p. 624.
7. Brown, John, Fxpository Discourses on I Peter. reimpresso em 1848, Banner ofTruth,
Edinburgh, 1975, 2:539.
Há vários anos, enfrentei uma série de dificuldades num 
espaço de poucos dias. Nenhuma calamidade maior, mas de 
uma natureza que me trouxe grande angústia. No princípio, 
o Sl 50.15 me veio à mente: “invoca-me no dia da angústia; eu 
te livrarei, e tu me glorificarás”. Comecei a invocar o Senhor 
pedindo que Ele me livrasse, mas parecia que quanto mais eu 
O invocava, mais dificuldades surgiam.
Comecei a me perguntar se as promessas de Deus tinham 
algum significado real. Certo dia, então, disse ao Senhor: “Vou 
crer na Tua Palavra. Creio que no Teu tempo, da Tua manei­
ra, o Senhor me livrará”. As dificuldades não pararam, mas a 
paz de Deus aquietou meus temores e ansiedades. E então, no 
momento certo, Deus me livrou daqueles problemas e o fez de 
maneira que ficou claro que aquilo era realização dEle. As pro­
messas de Deus são verdadeiras. Elas não podem falhar porque 
Ele não pode mentir. No entanto, para percebermos a paz que 
as promessas Deus podem nos dar, precisamos escolher crer 
nelas. Precisamos lançar nossa ansiedade sobre Ele.
ARMADILHAS NO CONFIAR
Por mais que seja difícil confiar em Deus nos momentos de 
adversidade, há situações em que poderá ser ainda mais difícil 
confiar nEle. Estou falando das circunstâncias em que as coisas 
estão indo bem, quando, usando a expressão de Davi, “meu 
quinhão caiu em lugares agradáveis” (Sl 16.6 Almeida Séc. 21). 
Durante os momentos de bênção e prosperidade temporais, te­
mos a tendência de colocar nossa confiança nas bênçãos, ou até 
pior, em nós mesmos como os provedores de tais bênçãos.
Durante momentos de prosperidade e de circunstâncias 
favoráveis, demonstramos nossa confiança nEle reconhecen- 
do-O como o provedor de todas aquelas bênçãos. Já vimos
que o Senhor fez a nação de Israel passar fome no deserto e, 
então, os alimentou com maná vindo do céu para ensiná-los 
“que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que pro­
cede da boca do S e n h o r viverá o homem” (Dt 8.3).
O que dizer de nós com nossas despensas e geladeiras re­
pletas de comida para as refeições de amanhã? Dependemos 
tanto de Deus quanto os israelitas dependiam. Deus fazia cho­
ver o maná diariamente. Em nosso caso, Ele pode prover um 
salário regular e abundância de alimento no supermercado 
para comprarmos. Ele proveu alimento para os israelitas por 
meio um milagre. Ele provê nosso alimento por meio de uma 
cadeia complexa de eventos naturais nos quais a Sua mão é vi­
sível apenas aos olhos da fé, mas ainda assim, é provisão dEle, 
assim como era o maná que vinha dos céus.
Com qual frequência nossa expressão de gratidão nas refei­
ções não passa de um ritual mecânico com pouco sentimento 
genuíno? Com que frequência nós paramos para reconhecer a 
mão provedora de Deus e para agradecer por outras bênçãos 
temporais como a roupa que vestimos, a casa em que moramos, 
o carro que dirigimos e a saúde de que desfrutamos? A quan­
tidade de nossa gratidão a Deus pelas bênçãos que Ele provê é 
um indicador da nossa confiança nEle. Devemos ser tão pron­
tos e freqüentes em nossa oração de gratidão a Deus quando a 
despensa está cheia quanto em nossa oração de súplica quando 
a despensa está vazia. E assim que demonstramos nossa con­
fiança nos momentos de prosperidade e de bênção.
Salomão disse:
No dia da prosperidade, goza do bem; 
mas, no dia da adversidade, 
considera em que Deus fez tanto este 
como aquele.
(.Ec 7.14)
Deus faz os dias de prosperidade bem como faz os dias de 
adversidade. Na adversidade temos a tendência de duvidar do 
cuidado paterno de Deus, mas na prosperidade temos a ten­
dência de nos esquecer desse cuidado. Se quisermos confiar 
em Deus, precisamos reconhecer nossa dependência dEle em 
todo instante, sejam eles bons ou ruins.
Outra armadilha com a qual precisamos tomar cuidado é a 
tendência de confiar nos instrumentos divinos de provisão, em 
lugar de confiar no próprio Deus. No desenrolar dos eventos 
cotidianos de nossa vida, Deus usa meios humanos para suprir 
nossas necessidades, em vez de fazê-lo diretamente. Ele provê 
nossas necessidades financeiras por meio de nosso trabalho 
e disponibiliza médicos para que cuidem de nós quando es­
tamos doentes. Porém, tais instrumentos humanos estão, em 
última análise, sob a mão controladora de Deus. Eles são bem 
sucedidos ou prosperam apenas quando Deus assim permite. 
Precisamos tomar o cuidado de olhar além da instrumentali- 
dade humana e dos meios, para o Deus que delas se utiliza.
Em Pv 18.10,11, encontramos um contraste muito interes­
sante e instrutivo entre o justo e o rico. A passagem diz:
Torre forte é o nome do Senhor , 
à qual o justo se acolhe e está seguro.
Os bens do rico lhe são cidadeforte e, 
segundo imagina, uma alta muralha.
O contraste não é entre o justo e o rico num sentido abso­
luto, à medida que existem pessoas que são tanto justas quanto 
ricas. Em lugar disso, devemos enxergar o contraste entre os 
dois primeiros objetos da confiança humana: Deus e o dinhei­
ro. Aquele que confia no Senhor está seguro; enquanto aquele 
que confia em sua riqueza imagina estar seguro.
Existe um princípio bem mais abrangente para nós nessa
passagem. Todos nós temos a tendência de ter nossas cidades 
fortes. Pode ser uma formação universitária avançada para 
uma garantia de emprego, apólices de seguro, ou mesmo nosso 
investimento para os anos de aposentadoria. Especialmente 
falando da nação norte-americana, a cidade fortificada encon­
tra-se em seu fortalecimento militar. Qualquer coisa diferente 
do próprio Deus na qual colocamos nossa confiança se torna 
a nossa “cidade forte”, com sua alta muralha imaginária.
Isso não significa que devemos desconsiderar os meios co­
muns que Deus usa para prover nossas necessidades. Signifi­
ca que não devemos confiar neles. Já vimos o salmista dizer: 
“Não confio no meu arco” (Sl 44.6), mas ele não disse: “Joguei 
meu arco fora”. Colocar o uso dos meios comuns e a confian­
ça em Deus na devida perspectiva significa olhar confiada- 
mente para Deus, de forma a usar os meios que Ele proveu. 
Enquanto escrevia este capítulo, minha esposa experimentou 
algumas dores físicas, possivelmente um desdobramento de 
sua luta contra o câncer. Enquanto procuramos um diagnósti­
co médico preciso para saber a causa da dor, pedimos a Deus, 
conforme a Sua vontade, que orientasse e desse sabedoria aos 
médicos. Embora respeitemos a habilidade médica, sabemos 
que foi Deus Quem lhes deu tal habilidade e somente Ele 
pode fazer com que tal habilidade prospere na situação que 
for. Por isso, nós respeitamos e admiramos os médicos, mas 
confiamos em Deus.
Podemos depender dos meios humanos e da instrumentali- 
dade, apenas à medida que reconhecemos e honramos a Deus 
por meio deles. Philip Bennett Power, ministro anglicano do 
século dezenove, escreveu: “Não podemos esperar que Deus 
faça qualquer coisa prosperar quando colocamos tal coisa no 
lugar de Deus, e com isso roubamos a honra que Ele merece.... 
[precisamos] tornar Deus o grande objeto da nossa confiança,
embora a instrumentalidade humana comum de ajuda possa 
estar à disposição”8.
Devemos ter em mente, também, que Deus é capaz de 
operar servindo-se ou não de meios humanos. Embora Ele 
frequentemente se utilize deles, Deus não depende dos meios 
humanos. Além disso, Ele frequentemente se utilizará de uma 
série de eventos diferentes do que esperamos. Por vezes, nos­
sa oração pedindo por livramento em momentos de apuros é 
acompanhada de fé na medida em que enxergamos os meios 
previsíveis de livramento. Porém, Deus não depende desses 
meios que conseguimos antever. Na realidade, a experiência 
nos mostra que Deus se deleita em nos surpreender com Seus 
meios de livramento para nos relembrar que nossa confiança 
deve repousar nEle e nEle somente.
Outra armadilha quando nos propomos a confiar em Deus, 
com a qual também temos dificuldade, é nos voltarmos para 
Deus confiando nas experiências de crises maiores da vida 
enquanto procuramos cuidar das dificuldades menores por 
conta própria. A disposição de confiarmos em nós mesmos 
vem de nossa natureza pecaminosa. Por vezes, precisamos de 
uma crise maior, ou mesmo uma mais moderada, para que 
nos voltemos para Deus. Uma marca da maturidade cristã 
é a confiança contínua no Senhor nos mínimos detalhes da 
vida. Se aprendermos a confiar no Senhor nas adversidades 
menores, estaremos mais bem preparados para confiar nEle 
nas maiores.
Citando novamente Philip Bennett Power:
As circunstâncias diárias da vida nos fornecerão oportuni­
dades suficientes para que glorifiquemos a Deus por meio da 
nossa confiança, sem que precisemos esperar por convocações
8. Power, Philip Bennett, The “I Wills" nf The Psalms. reimpresso em 1858, Banner of 
Truth, Edinburgh, 1985, pp. 8,10.
extraordinárias à nossa fé. Lembremos que são poucas as 
circunstâncias extraordinárias da vida; que boa parte da 
vida pode transcorrer sem sua ocorrência; e que se não fo r­
mos fiéis e não confiarmos nas pequenas circunstâncias, nós 
provavelmente não o farem os nas grandes... Permitamos que 
nossa confiança seja cultivada no ambiente humilde de nossa 
própria experiência diária, com suas necessidades, provações 
e dificuldades recorrentes; dessa form a, quando necessário 
for, a confiança se manifestará, realizando as grandes coisas 
dela exigidas9.
Certa vez perguntei a uma querida irmã em Cristo, que 
havia experimentado muita adversidade, se ela tinha acha­
do mais difícil confiar em Deus nas menores dificuldades da 
vida ou nas maiores. Ela respondeu que a maior dificuldade 
é confiar em Deus nas dificuldades menores. Nos momentos 
de maior dificuldade ela reconheceu prontamente sua com­
pleta dependência de Deus e se voltou imediatamente para 
Ele, mas nos momentos das dificuldades mais corriqueiras, 
ela procurava resolver por conta própria. Que aprendamos 
com a experiência dessa irmã e procuremos confiar em Deus 
nas circunstâncias comuns da vida.
Porém, quer a dificuldade seja grande ou pequena, pre­
cisamos optar por confiar em Deus. Precisamos aprender a 
dizer como o salmista: “Em me vindo o temor, hei de confiar 
em ti”.
9. Power, Philip Bennett, ibid., p. 63.
C A P Í T U L O C A T O R Z E
SEMPRE DANDO ORACAS
Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus 
em Cristo Jesus para convosco.
1 Ts5.18
P odemos confiar em Deus já que Ele é soberano, sábio e 
bom. Se quisermos honrá-lo em momentos de adversida­
de, precisamos confiar nEle. Há mais em jogo, em relação à 
nossa confiança em Deus, do que simplesmente experimentar 
paz em meio às dificuldades ou mesmo em ser liberto delas. 
Honrar a Deus deveria ser nossa maior preocupação. Por isso, 
pelo fato de Deus ser digno de confiança nossa resposta deve­
ria ser: “Eu confiarei em Deus”. Existem, entretanto, algumas 
verdades que decorrem do confiar em Deus que também são 
importantes. Elas fornecem evidência tangível de que confia­
mos de fato em Deus.
GRATIDÃO
No versículo inicial do capítulo Paulo disse que devemos “em 
| tudo dar graças”. Devemos ser gratos nos momentos ruins
■ e nos momentos bons, pelas adversidades bem como pelas
i
bênçãos. Toda circunstância, quer favorável ou não ao nosso 
desejo, deve ser uma oportunidade para agradecer.
A gratidão não é uma virtude natural; é um fruto do Espírito, 
dado por Deus. O incrédulo não tem propensão para a gratidão. 
Ele pode aceitar as situações que estão de acordo com a sua von­
tade e reclamar daquelas que não estão de acordo, mas jamais 
lhe ocorre a ideia de agradecer em ambas as circunstâncias. Se 
enxergar a vida como algo além do acaso, ele poderá se parabe­
nizar pelo sucesso obtido e culpar os outros por seus fracassos, 
mas jamais enxergará a mão de Deus em sua vida. Uma das 
afirmações mais acusatórias da Bíblia relativas ao homem na­
tural encontra-se na acusação de Paulo que diz “tendo conheci­
mento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram 
graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, 
obscurecendo-se-lhes o coração insensato” (Rm 1.21).
A gratidão é uma confissão de dependência. Por meio dela, 
reconhecemos que na esfera física, Deus “é quem a todos dá vida, 
respiração e tudo mais” (At 17.25), e que na esfera espiritual, é 
Deus Quem nos vivificou em Cristo Jesus quando estávamos 
mortos em nossos delitos e pecados. Tudo o que somos e te­
mos devemos à generosa graça de Deus. “Pois quem é que te faz 
sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido?” (1 Co 4.7).
Como filhos de Deus, devemos ser gratos em toda cir­
cunstância, tanto na boa quanto na ruim. Lucas relata em seu 
Evangelho a história dos dez leprosos que foram curados pelo 
Senhor (Lc 17.11-19). Todos clamaram pedindo cura, eos dez 
experimentaram o poder curador de Cristo, mas apenas um 
deles voltou para agradecer a Jesus. Como somos inclinados 
a ser como os outros nove; rápidos para pedir pela ajuda de 
Deus, mas esquecidos para agradecê-Lo. Na realidade, nosso 
problema vai bastante além de mero esquecimento. Estamos 
impregnados de um espírito de ingratidão por causa de nossa 
natureza pecaminosa. Precisamos cultivar um novo espírito,
o espírito de gratidão, implantado pelo Espírito Santo em nós 
no momento da nossa salvação.
Agora conseguimos enxergar a lógica no relato dos dez le­
prosos: todos deveriam voltar para agradecer ao Senhor. Po­
demos até reconhecer que muitas vezes temos agido como os 
nove esquecidos, quando deveríamos ter agido como o homem 
grato. Não temos qualquer problema com a teologia da história 
bíblica, nem mesmo quando falhamos em sua aplicação. Nesse 
sentido, não temos qualquer problema em aceitar a orientação 
de Paulo para darmos graças em toda circunstância.
O momento que fica difícil aceitarmos a orientação de Paulo 
de dar graças em toda circunstância é quando a tal circunstância 
é ruim. Vamos supor que uma pessoa é curada de uma doença 
assustadora enquanto outra a contrai. A teologia de Paulo é que 
ambas as pessoas, como cristãs, deveriam agradecer a Deus.
Tudo o que temos aprendido sobre Deus neste livro é para 
fundamentar o dar graças em tempos difíceis: Sua soberania, 
sabedoria e amor, na medida em que são aplicadas sobre todas 
as mudanças inesperadas e repentinas de nossa vida. Em suma, 
é a forte convicção de que Deus trabalha em todas as coisas, 
em toda circunstância, para o nosso bem. É a disposição de 
aceitar essa verdade da Palavra de Deus e dependermos dela 
sem precisarmos entender exatamente como Ele está operan­
do para o nosso bem.
Somos capazes de perceber uma forte relação entre a pro­
messa de Rm 8.28 e a ordem de 1 Ts 5.18, quando entendemos 
que a tradução literal dos termos em todas as circunstâncias é 
“em tudo”. No grego, bem como no português, o termo e o sig­
nificado são extremamente próximos. Devemos ser gratos em 
tudo, pois sabemos que Deus opera em todas as circunstâncias 
para o nosso bem1.
1. Há um debate entre os comentaristas sobre a melhor redação do texto. Na Versão
King James, as palavras são assim colocadas “todas as coisas juntas cooperam para o
Para obtermos o máximo de consolo e de encorajamento em 
Rm 8.28, e consequentemente agradecer em toda circunstância, 
é necessário percebermos que Deus opera de maneira prescien- 
te e não de modo reativo aos fatos. Ou seja, Deus não apenas 
responde à adversidade na nossa vida para fazer o melhor de 
uma situação ruim. Ele sabe, antes de iniciar ou permitir a ad­
versidade, exatamente como a usará para o nosso bem. Deus 
sabia exatamente o que estava fazendo quando permitiu que 
os irmãos de José o vendessem como escravo. José reconheceu 
isso quando disse aos irmãos: “Assim, não fostes vós que me en- 
viastes para cá, e sim Deus... Vós, na verdade, intentastes o mal 
contra mim; porém Deus o tornou em bem” (Gn 45.8; 50.20).
Portanto, Paulo ordena: “Em tudo, dai graças, porque esta é 
a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (ênfase acres­
centada). Em sua primeira carta a igreja de Tessalônica, Paulo 
já havia falado da vontade de Deus. No capítulo 4, no versículo 
3, ele disse: “Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, 
que vos abstenhais da prostituição”. Todos nós reconhecemos 
o imperativo moral nesse versículo. Deus ordena que sejamos 
santos, e a santidade abrange a pureza sexual. O imperativo não 
é menos intenso no capítulo 5, versículo 18. Dar graças em toda 
circunstância faz parte da vontade moral de Deus tanto quanto 
faz parte nos abstermos da imoralidade sexual. Isso não implica 
dizer que deixar de dar graças e me entregar à imoralidade se­
xual são atos igualmente pecaminosos aos olhos de Deus. Quer 
dizer, porém, que dar graças em toda circunstância faz parte da 
vontade moral de Deus para nós e, consequentemente, não é 
uma opção para aquele que busca agradar e honrar a Deus.
bem”, frase em que todas as coisas é o sujeito do verbo cooperam. Já na tradução da 
NVI o sujeito é Deus - “Deus age em todas as coisas” - essa seria a redação preferida. 
Qualquer que seja a nossa redação preferida, o resultado é o mesmo. Se todas as coi­
sas cooperam para o nosso bem é porque Deus fez com que elas assim interagissem. 
Aliás, a New American Standard Bible traduz da seguinte maneira: “Deus faz com que 
todas as coisas cooperem para o bem”.
Sendo assim, dar graças em toda circunstância, quer fa­
vorável ou não, é outra resposta que decorre do fato de que 
Deus é digno de confiança. Se confiamos que Ele atua em toda 
circunstância para o nosso bem, então devemos ser gratos a 
Ele em toda circunstância; não agradecendo pelo mal em si, 
mas pelo bem que Ele trará a partir desse mal, por meio de 
Sua sabedoria e amor soberanos.
ADORAÇÃO
Outra resposta que decorre do fato de que Deus é digno de 
confiança é adorá-Lo no momento da adversidade. Quando 
o desastre inicial atingiu a Jó, a Bíblia diz:
Então, Jó se levantou, rasgou o seu manto, 
rapou a cabeça e lançou-se em terra e adorou; 
e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; 
o Senhor o deu e o Senhor o tomou; 
bendito seja o nome do Sen h o r !
(Jó 1.20,21)
Em lugar de reagir contra Deus no momento de calamida­
de, Jó adorou ao Senhor. Em vez de cerrar seu punho contra 
Deus, Jó se prostrou diante dEle. Em lugar de rebeldia, o que 
se viu foi um reconhecimento humilde da soberania de Deus; 
o Senhor, em Sua soberania havia dado e, em Sua soberania, 
tinha o direito de tomar de volta.
A adoração envolve uma visão bidirecional. Ao olharmos 
para o alto vemos Deus em toda a Sua majestade, poder, gló­
ria e soberania bem como em Sua misericórdia, bondade e 
graça. Ao olharmos para nós mesmos, reconhecemos nossa 
dependência de Deus e nossa pecaminosidade diante dEle.
Vemos Deus como o Criador soberano, digno de ser adorado, 
servido e obedecido, e nos enxergamos como meras criatu­
ras, pecadores indignos que fracassaram em adorar, servir e 
obedecer a Deus como deveríamos.
Tudo que merecemos de Deus é o juízo eterno. Somos 
eternos devedores, não apenas por Sua misericórdia soberana 
ao nos salvar, mas também pelo fôlego de ar que respiramos, 
pelo alimento ingerido. Não temos quaisquer direitos diante 
de Deus. Tudo que recebemos é fruto de Sua graça. Tudo que 
existe no céu e na terra pertence a Ele, e Ele nos fala utilizan­
do as palavras de um proprietário de terras, falando aos seus 
trabalhadores em sua vinha: “Porventura, não me é lícito fazer 
o que quero do que é meu?” (Mt 20.15).
Essa é outra dimensão da soberania de Deus. Já vimos que 
a soberania divina envolve Seu poder absoluto para fazer o que 
lhe agrada e Seu controle absoluto sobre as ações de todas as 
Suas criaturas. A soberania de Deus, contudo, ainda envolve 
Seu direito absoluto de fazer conosco o que lhe agrada. O fato 
de Deus escolher nos redimir e enviar Seu Filho para morrer por 
nós, em vez de nos enviar para o inferno, não se deve a qualquer 
obrigação da parte dEle. Isso se deve exclusivamente à Sua mise­
ricórdia e graça soberanas. Conforme Ele disse a Moisés: “Terei 
misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei 
de quem eu me compadecer” (Êx 33.19). Por meio dessa afirma­
ção, Deus está dizendo: “Não devo nada a quem quer que seja”.
A adoração que vem do coração no momento da adversi­
dade implica em uma atitude de humilde aceitação de nossa 
parte do direito divino de fazer o que Ele quiser com a nossa 
vida. É um reconhecimento franco de que tudo que tivermos 
num momento específico - saúde, posição, riqueza ou qualquer 
outra coisa que gostamos - é um presente da graça soberana 
de Deus e que pode ser retirado quando Deus assim quiser.
Deus, todavia, não age para conosco simplesmente com
base em Sua soberania, exercendo Seu poder de maneira 
opressiva e tirana. Deus

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