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AFINAL, O QUE É VIRALIZAR? O termo viralizar foi criado a partir da palavra viral e faz referência à rapidez com que os vírus biológicos se espalham: o mesmo ocorre com o conteúdo que se espalha na rede, podendo atingir milhões de pessoas em poucos minutos. A viralização de conteúdos digitais pode dizer respeito a algo bom ou ruim, dependendo do que exatamente está sendo transmitido. Por vezes, um vídeo engraçado ou um meme viraliza devido ao seu potencial de humor ou à perspicácia de quem o criou. Outras vezes, notícias falsas ou boatos sobre tragédias também viralizam – nesse caso, pela desinformação ou pela curiosidade das pessoas. É sempre importante que você reflita sobre aquilo que está viralizando, tome posição e decida criticamente se vale a pena ou não participar desse processo. E você? Que uso faz da internet e das redes sociais? Costuma pensar sobre o conteúdo que recebe e compartilha? Faz um uso ético da tecnologia? Con- sidera importante cuidar de sua privacidade e respeitar a dos demais? Ao longo deste projeto e das atividades propostas, você vai poder refletir sobre a mídia ao longo do tempo e sobre o uso que você faz dela. aqui, pois a intenção era que todas as informações chegassem ao Brasil por meio dos jornais portugueses, o que favorecia o domínio da metrópole sobre a colônia. Ou seja, os meios de comunicação sempre estiveram, em todos os tempos, vinculados à ideia de poder. Nos anos de 1920, com a invenção do rádio, acreditou-se que os jornais im- pressos perderiam seu espaço. No entanto, cada veículo tinha características diferentes e um não tirou a relevância do outro. Os programas informativos de rádio traziam a emoção da voz e permitiam que a notícia fosse não mais lida, mas ouvida, o que liberava o ouvinte para realizar outra tarefa enquanto se in- formava. Já os jornais impressos continham textos mais longos e reportagens com coberturas mais aprofundadas. Na década de 1940, muitos acharam que os jornais impressos e o rádio seriam prejudicados pelo surgimento de um meio que parecia ainda mais atraente, por misturar imagem e som: a televisão. Novamente, cada veículo se prestou a um papel sem que isso causasse o desaparecimento do outro. Jornal, rádio e TV mantiveram, cada um deles, seu público e sua identidade. Ainda que hou- vesse quem preferisse um ao outro, muitas pessoas faziam uso de mais de um meio para se manter informadas. No final do século XX e início do XXI, com o surgimento e a evolução das mí- dias digitais, um novo impacto midiático aconteceu. As notícias transmitidas e atualizadas em “tempo real”, via internet, foram gradativamente ganhando mais espaço. Porém, isso não levou ao desaparecimento completo nem dos jornais impressos, nem dos programas informativos em rádio e televisão. Hoje, uma das formas mais utilizadas para fazer a informação chegar a um grande público é a utilização das redes sociais e dos aplicativos de mensa- gem instantânea em celulares. Essas tecnologias tornaram possível que a maioria da população mundial produza informação e a compartilhe com um grande público, especialmente quando “viralizam”. 79 PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 79PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 79 2/27/20 3:42 PM2/27/20 3:42 PM Você lerá a seguir uma mesma notícia publicada em um jornal impresso e em um jornal on-line. ATIVIDADE 1 ATHAS, Fernanda. Incêndio no Pantanal já atingiu área similar à da cidade do Rio. Folha de S. Paulo, São Paulo, caderno Ambiente, página B5, 5 nov. 2019. F o lh a p re s s /F o lh a p re s s Não escreva no livro 80 PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 80PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 80 2/27/20 3:42 PM2/27/20 3:42 PM ATHAS, Fernanda. Incêndio no Pantanal já atingiu área igual à da cidade do Rio de Janeiro. Folha de S.Paulo, on-line, 4 nov. 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/11/ incendio-no-pantanal-ja-atingiu-area-igual-a-da-cidade-do-rio-de-janeiro.shtml. Acesso em: 11 fev. 2020. F o lh a d e S .P a u lo /F o lh a p re s s 81 PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 81PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 81 2/27/20 3:42 PM2/27/20 3:42 PM https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/11/incendio-no-pantanal-ja-atingiu-area-igual-a-da-cidade-do-rio-de-janeiro.shtml https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/11/incendio-no-pantanal-ja-atingiu-area-igual-a-da-cidade-do-rio-de-janeiro.shtml O jornalismo esportivo também teve de se adaptar aos novos suportes e tecnologias do século XXI. A trajetória do jornalista Juca Kfouri exemplifica bem essas transformações. ATIVIDADE 2 O paulista Juca Kfouri (1950-) é um jornalista esportivo que atua em diversas mídias. Formado em Ciências Sociais, é autor de inúmeras obras sobre futebol e sobre o Corinthians, seu time de coração, além de atuar como apresentador de programas na televisão e em canais da internet. Ao longo de seus mais de quarenta anos de profissão, Juca já escreveu para jornais e revistas e participou de programas de TV como comentarista de fu- tebol e apresentador. Além disso, mantém colunas esportivas em programas de rádio, sites e em canais na internet, tem um blog e contas nas principais redes sociais. As novas experiências tecnológicas são responsáveis por novos hábitos e costumes entre as pessoas, devido à interatividade própria dessas novas mídias. Esse contexto propõe desafios aos jornalistas esportivos pois, além de redigir suas notícias, eles também têm que lidar com haters que postam ofensas nas mídias sociais ou em blogs, por exemplo. Além disso, os jornalis- tas precisam adaptar seu trabalho a novas demandas. Copie o quadro a seguir no caderno ou em uma folha à parte e, com um colega, converse sobre ele e o preencha considerando estes exemplos de critérios de análise: grau de informatividade do local em que ocorre o jogo (tais como tempo, condições do gramado, gritos da torcida, reações dos jogadores e técnicos, possibilidade de observar o campo todo, a disposição dos jogadores em campo, etc.); possibilidade de assistir a replays de jogadas importantes; oportunidade de pesquisar sobre dados estatísticos via inter- net; ocasião para conhecer a opinião de vários comentaristas antes de publi- car seu texto; etc. F a b io G u in a lz /F o to a re n a a) Converse com um colega e, juntos, identifiquem diferenças e semelhanças en- tre as duas versões da notícia. b) Por que, na opinião de vocês, há mais dados e fotos na versão on-line? c) As notícias on-line têm mais longevidade, ou seja, o leitor pode fazer uma bus- ca por elas muito tempo depois de elas terem sido publicadas. Debatam sobre que atualizações poderiam ser feitas a partir dessa notícia e sobre o impacto do chamado “tempo real” na publicação de notícias como essa. d) Antes do advento da internet, os jornais impressos costumavam ter muito mais páginas. Converse com o colega e apresentem algumas razões para essa mudança. e) Repare que a mesma jornalista assina as duas notícias. Você acredita que a internet demandou novos conhecimentos por parte dos profissionais que tra- balhavam apenas com mídia impressa? Por quê? Não escreva no livro 82 PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 82PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 82 2/27/20 3:42 PM2/27/20 3:42 PM Leia o trecho de uma notícia reproduzido a seguir para refletir sobre a circu- lação e a checagem de notícias nas mídias digitais. ATIVIDADE 3 a) A notícia acima foi publicada na página de ciência do jornal El País. Conside- rando critérios como clareza, precisão e relevância social é possível afirmar que ela é uma notícia significativa? Por quê? b) Releia o primeiro parágrafo da notícia. Por que algumas palavras dessa par- te do texto estão escritas em azul? E l P a is /P ri s a N o t’ c ia s Mídia para cobertura de um jogo de futebol Onde o jornalistaprecisa estar Vantagens dessa mídia Desvantagens dessa mídia Transmissão do jogo por uma emissora de rádio Notícia sobre o jogo em um jornal impresso Comentário do jogo no estúdio de uma rede de televisão Opinião sobre o jogo em um blog ANSEDE, Manuel. “Seria melhor que meu remédio contra o câncer fosse mais barato”. El País, 10 nov. 2019. Disponível em: brasil.elpais.com/brasil/2019/10/29/ ciencia/1572372578_028650.html. Acesso em: 17 fev. 2020. Não escreva no livro 83 PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 83PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 83 2/27/20 3:42 PM2/27/20 3:42 PM http://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/29/ciencia/1572372578_028650.html c) O tema da notícia, o câncer e a busca por sua cura, levanta muito interesse na rede e, por isso, muitas fake news são criadas sobre ele. Se você pesqui- sar o tema, por exemplo, sua ação pode levar à criação de um algoritmo que associe sua busca a esse tema e é possível que, tempos depois, você acabe recebendo informes publicitários sobre remédios que prometem curar mila- grosamente essa doença. Você conhece meios para se prevenir dessa ação dos algoritmos? Indique, a partir da lista a seguir, quais deles conhece e/ou já usou e converse com os colegas sobre esses recursos. Navegação anônima: possibilidade de navegar sem identifi cação utilizan- do o atalho CTRL + Shift + n. Nesse caso, nossos interesses de busca são desconsiderados durante a navegação, pois não somos identifi cados pelos algoritmos. Extrapolação do viés de confi rmação: o viés de confi rmação é a tendência a procurar apenas notícias e fatos que confi rmam o que pensamos sobre algo. O ideal é realizarmos buscas de forma ampla, extrapolando o que estamos habituados a ler sobre determinado tema e pesquisando de modo crítico. Conferência de fonte: checar a fonte da notícia e o modo como o texto foi escrito (verifi car se a linguagem está condizente com o suporte em que a notícia foi publicada, se os ícones que identifi cam a empresa estão presen- tes, por exemplo) é muito importante. OS ALGORITMOS NO CONTROLE Algoritmo é o nome genérico de um conjunto de instruções, isto é, de uma sequência de passos com o objetivo de atingir determinado resultado. Nesse sentido, uma receita culinária pode ser considerada um algoritmo: há uma série de instruções (desde a seleção de ingredientes até o modo de preparo) com o objetivo de fazer determinado prato. Portanto, a noção de algoritmo é bem anterior ao surgimento e à popularização da internet. E o que algoritmos têm a ver com a internet? Todos os programas de computador precisam de instruções para funcionar. Eles são capazes de fazer coisas automaticamente, mas é preciso que os passos a serem dados sejam definidos anteriormente, para que as tarefas sejam realizadas a contento. Essas instruções são chamadas de “código” ou “programação” e são receitas de como tais programas devem funcionar. Quando fazemos uma busca na rede, como ela determina o que pode ser mais ou menos relevante para cada um de nós? Engenheiros das empresas de sites de busca trabalham para criar as programações que indicam quais devem ser as instruções seguidas pelo buscador quando digitamos algo para pesquisar. Esse conjunto de instruções é o algoritmo desse mecanismo de busca. Os algoritmos são tão relevantes hoje que chegaram a fazer parte do tema de produção textual do Enem em 2018, que problematizou as bolhas em que acabamos vivendo devido à prática do uso de algoritmos pelas empresas de busca. É importante lembrar que quanto mais soubermos sobre o assunto, menos seremos manipulados nas redes. SORJ, Bernardo et al. Sobrevivendo nas redes: guia do cidadão. Disponível em: http://www.plataformademocratica.org/Arquivos/Sobrevivendo_nas_redes.pdf. Acesso em: 12 fev. 2020. A rtis td e s ig n 2 9 /S h u tte rs to ck 84 PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 84PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 84 2/27/20 3:42 PM2/27/20 3:42 PM Checadores de fake news: há vários sites especializados em indicar se o que foi escrito e publicado tem procedência ou se se trata de uma notícia falsa. Nesse caso, é importante utilizar sites desvinculados de interesses comerciais e gerenciados por órgãos públicos ou organizações não gover- namentais. d) O tema da saúde é um dos que apresenta grande número de notícias falsas. Você já usou um checador de fake news? Observe os passos a seguir para fazer uma checagem sobre um tema relacionado à saúde. e) Em algumas notícias, ícones de compartilhamento aparecem logo abaixo da manchete. Que tipo de atitude essa posição dos ícones pode favorecer? Como podemos utilizá-los de modo mais responsável? Respostas pessoais. COMO UTILIZAR UM CHECADOR DE FAKE NEWS SOBRE SAòDE 1. Use um computador ou celular com acesso à internet. Acesse o site http:// portalms.saude.gov.br/fakenews (acesso em: 15 jan. 2020). 2. Role a barra do cursor até a parte de baixo da página. Você verá duas imagens, uma indicando “Isto é fake news!” e a outra indicando “Esta notícia é verdadeira”. 3. Logo na sequência das imagens, há um espaço para digitar o tema e buscar notícias sobre ele. É possível também limitar o período de busca, estabelecendo uma data para início e outra para o fim, no caso de você estar buscando alguma notícia ou artigo que tenha sido publicado em uma data específica. 4. Digite um tema para sua busca. Câncer ou vacinas, por exemplo, e clique em “buscar”. O site listará uma série de notícias, vídeos e artigos que estarão classificados com os selos “Isto é fake news!” ou “Esta notícia é verdadeira”. 5. Trata-se de um processo rápido e muito eficaz de checagem. Compartilhe em suas redes sociais esse e outros checadores de fake news para ajudar a combater as notícias falsas e a repassar adiante apenas o que for realmente confiável. R e p ro d u ç ã o /M in is té ri o d a S a ú d e / G o v e rn o F e d e ra l Criado em 2019, o canal Saúde sem Fake News é um serviço do Ministério da Saúde que esclarece boatos e notícias falsas da internet relacionados ao tema. R ep ro d u ç ã o /M in is té ri o d a S aú de /G ove rno Federal R ep ro d u ç ã o /M in is té ri o d a S aú de /G ove rno Federal A ideia aqui é verifi car critérios que os estudantes conhecem e já tenham utilizado para se prevenir nas redes. Se eles conhecerem outros mecanismos, incentive a troca e o compartilhamento de práticas. 85 PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 85PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 85 2/27/20 3:42 PM2/27/20 3:42 PM Devido ao avanço das redes sociais, a disseminação de notícias e informações distorcidas ou falsas vem crescendo. As fake news têm causado desinformação e problemas de toda ordem. A charge e a matéria a seguir, publicada em um jornal on-line, abordam esse tema. ATIVIDADE 4 Muitas vezes, uma notícia falsa pode atrair mais a nossa atenção do que as verdadeiras. Compartilhar algo em que se quer acreditar, por exemplo, pode trazer mais satisfação ao usuário digital do que investigar uma verdade que se contrapõe ao que ele pensa. Na charge, uma falsa banca de jornal atraiu a atenção do personagem Ziggy. Como nos tornamos viciados em repassar notícias sem ler Ânsia por recompensa, falta de atenção e outros maus hábitos contemporâneos fazem qualquer informação ser compartilhada sem critério RIO — A notícia cai no seu colo, e é tão espantosa, atraente ou revoltante que não dá para �car indiferente. Se a história chega por alguém “con�ável”, aí não tem jeito mesmo. Curtir e com- partilhar, é só começar. Tente imaginar, porém, que aquilo pode ser mentira. Fake News, fofoca, futrica, manipulação, equívoco. No trânsito livre da internet, ninguém mais duvida do perigo que isso representa. A mentira — é preciso reconhecer — agora tem perna longa. E você pode ser um dos responsáveispor aumentar ou reduzir o alcance dela. Ano passado, numa pequena cidade mexicana, histórias sobre crianças sequestradas começaram a se espalhar rapidamente por [aplicativo de mensagem instantânea]. Quem lia passava adiante. Indignada, uma multidão saiu em busca dos culpados. Dois homens inocentes acabaram queimados vivos. A informação era fácil de checar — não havia queixas formais contra eles nem registros de crianças sequestradas. Ainda assim, os linchadores não se deram ao trabalho de buscar a verdade. O exemplo acima é extremo, claro. Nem toda mentira que se ajuda a espalhar com um simples clique vai resultar na morte de alguém. Algumas podem “apenas” revelar intimidades que os envol- vidos queriam preservar. Ou queimar o �lme de empresas e pessoas acusando-as de erros que elas não cometeram e intenções que não tiveram. [...] De onde vem isso, a�nal? Graças a um coquetel de maus hábitos, que vão de falta de foco a carência crônica, passar conteúdo adiante sem critérios tornou-se comum. Tão comum que virou objeto de estudo de comunicação, psicologia e neurociência. © 2 0 1 7 T o m W ils o n /Z ig g y a n d F ri e n d s , In c . / D is t. b y A n d re w s M c M e e l S y n d ic a ti o n WILSON, Tom. Ziggy… Disponível em: https://www.gocomics.com/ ziggy/2017/02/05. Acesso em: 17 fev. 2020. Não escreva no livro 86 PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 86PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 86 2/27/20 3:42 PM2/27/20 3:42 PM https://www.gocomics.com/ziggy/2017/02/05 https://www.gocomics.com/ziggy/2017/02/05 Para o coordenador do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio, Arthur Ituassu, a polarização dos tempos atuais intensi�ca essa afobação. Para o pesquisador, um tipo de compartilhamento bastante comum hoje em dia é o que ele chama de “compartilhamento político”. Para Ituassu, no plano da ação (e não da discussão) política, não importa o quanto a informação é falsa ou verdadeira, mas sim o quanto ela reforça “minha” posição. É um comportamento que nos anos 1960 pesquisadores americanos batizaram de “con�rmation bias”, o chamado “viés de con�rmação”. “Para compartilhar, preciso que a informação esteja em concordância com minha posição política. Canso de avisar pessoas que estão compartilhando algo que não é verdadeiro, mas isso não faz di- ferença. Elas continuam compartilhando informações falsas.” Segundo o pesquisador, quanto mais aguerridos somos em uma posição política, maior a chance de compartilharmos notícias falsas. Dessa forma, torna-se cada vez mais importante pensar em medidas de educação em mídias digitais: — Isso aumenta a possibilidade de se conter a disseminação de notícias falsas, mas também de termos cidadãos melhores. Outra explicação para a ânsia de compartilhar está na própria dinâmica do universo digital. Se- gundo o psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da USP, Christian Dunker, nas redes há um valor pressuposto de participação. Estar on-line é uma experiência em que qualquer gesto, seja curtir, opinar ou encaminhar, adquire uma dimensão valorativa. — Há uma grati�cação narcísica quando recebemos de volta uma con�rmação da identidade que almejamos reproduzir, em gosto musical, culinário, político, ético. As redes aumentam nosso “eu”. Isso leva a outro fator decisivo para entender nosso comportamento nas redes: desde Freud, anali- sa-se a psicologia das massas. A diferença é que agora se analisa uma massa digital. Ao compartilhar, nos tornamos mais impulsivos porque o conteúdo perde a importância. Não inte- ressa produzir uma re�exão, mas aumentar a coesão do “nós” — uma certa identidade coletiva da qual fazemos parte. — Isso gera uma degradação da comunicação, favorável à veiculação de preconceitos. Vou sempre procurar con�rmar o que sinto e penso — diz Dunker, citando o tal viés de con�rmação. — O que nunca diria solitariamente, mas no estado de massa digital me autorizo. Fico valente. [...] Ano passado, uma pesquisa da BBC chamada “Beyond fake News” apontou traços por trás do ato de encaminhar notícias. Segundo o estudo, muita gente superestima sua capacidade de �ltrar papo furado. Ler é difícil, repassar é fácil: além do incentivo para ser o primeiro a enviar (qualquer) in- formação, se a notícia for tocante, a emoção supera a razão e lá vem mensagem. No Departamento de Cérebro e Ciências Cognitivas do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Earl Miller também estuda o popular “dedo nervoso” — e culpa as redes sociais. Segundo o neuro- cientista, elas nos deixam viciados em recompensas, reduzem nossa capacidade de atenção e ativam nosso instinto de manada — o efeito “maria vai com as outras”. — Some tudo isso e você tem 2,5 bilhões de encaminhadores crônicos em potencial — resume Miller. Atualizando a antiga placa de trânsito, �ca a dica: na dúvida, não repasse. URBIM, Emiliano, NIKLAS, Jan. Como nos tornamos viciados em repassar notícias sem ler. O Globo, 6 abr. 2019. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/como-nos-tornamos-viciados-em-repassar-noticias-sem-ler-23578257. Acesso em: 3 nov. 2019. 87 PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 87PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 87 2/27/20 3:42 PM2/27/20 3:42 PM a) Por que, segundo o texto, a tentação de compartilhar seria tão grande que não conseguiria ser detida mesmo em meio a desconfianças a respeito da veracidade do fato? b) Por que, segundo o texto, a mentira agora teria “perna longa”? c) Em que consistiria o “compartilhamento político”, segundo o pesquisador Arthur Ituassu? Converse com os colegas: Vocês já fizeram esse tipo de compartilhamento? Já pensaram nas consequências que ele pode ter? d) Converse com os colegas: A quem interessa o compartilhamento de notícias falsas? Registre no cader- no algumas das ideias que surgirem. e) Por que medidas educativas seriam necessárias para refrear o compartilhamento de notícias falsas? Converse com um colega. f) Você conhece algumas atitudes que pode ter para combater as chamadas fake news? Leia um pouco sobre elas na sequência e, depois, escolha uma dessas ações para pesquisar. O resultado de sua pes- quisa pode ser utilizado no debate que vai acontecer na Atividade 5. COMO SE PREVENIR DE ACREDITAR EM UMA FAKE NEWS 1. Uma medida educativa importante é a busca pela informação. Se uma informação é importante, relevante e fundamentada, em poucos minutos ela estará sendo discutida em vários veículos. Em tempos de informação mundializada, nada de tão bombástico acontece e somente você ou um pequeno grupo privilegiado de pessoas fica sabendo. Ou seja, se a notícia não estiver em outras mídias, desconfie. 2. Na hora de se informar, é importante que você seja crítico. Um procedimento importante é conferir datas. Às vezes, notícias antigas voltam a circular como se fossem novas, só que em um novo contexto. 3. Outro ponto fundamental é ficar atento às manchetes das notícias. As fake news costumam ter manchetes sensacionalistas, justamente para atrair um grande número de leitores. Quando você lê a notícia, no entanto, não há relação alguma com a manchete. Isso também acontece com informes publicitários postados em diferentes sites. São usadas imagens de artistas famosos, por exemplo, com alguma frase apelativa; quando você lê o texto, o artista nem é citado e um produto de procedência duvidosa é divulgado. AS NOTÍCIAS FALSAS NO TEMPO Segundo o historiador estadunidense Robert Darnton (1939-), as notícias falsas não são uma invenção contemporânea. De acordo com ele, no século VI, por exemplo, o historiador bizantino Procópio (c. 500-565) foi responsável por difamar a reputação do imperador Justiniano (482-565). Na Londres de 1770, os chamados “homens-parágrafos” recolhiam fofocas que eram adaptadas, escritas em um único parágrafo e vendidas pela cidade. A diferença é que hoje, com a rapidez e alcanceda internet, a facilidade de acesso e a popularização das mensagens instantâneas via internet, essas notícias se espalham muito rapidamente e alcançam um público em escalas, muitas vezes, mundiais. Adaptado de: VICTOR, Fabio. Notícias falsas existem desde o século 6, afirma historiador Robert Darnton. Folha de S.Paulo, 19 fev. 2017. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/02/1859726-noticias-falsas-existem-desde-o- seculo-6-afirma-historiador-robert-darnton.shtml. Acesso em: 3 nov. 2019. G e o rg e jm c lit tl e /S h u tt e rs to ck Para acabar com as fake news, é fundamental evitar que elas sejam compartilhadas. 88 PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 88PI_L_Roberta_g21At_Projeto3_074a107_LA.indd 88 2/27/20 3:42 PM2/27/20 3:42 PM https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/02/1859726-noticias-falsas-existem-desde-o-seculo-6-afirma-historiador-robert-darnton.shtml https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/02/1859726-noticias-falsas-existem-desde-o-seculo-6-afirma-historiador-robert-darnton.shtml