Prévia do material em texto
Inauguração do Monumento a Robespierre, de Beatrice Yuryevna Sandomierz, em Moscou (Rússia), 1918. A estátua era a primeira de uma série que homenagearia revolucionários considerados precursores do bolchevismo. Foi destruída dias depois por inimigos da revolução. DEMOCRAC IA EM REG IMES AUTOR I TÁR IOS Falar em democracia em regimes autoritários pode causar espanto, pois, em princípio, a democracia pressupõe o direito à liberdade individual. Mas houve e ainda há regimes autoritários que se autodenominam democráticos. Alguns deles apenas mantêm o nome e as instituições de aparência, com restrições práticas à democracia de fato – é o caso de ditaduras como a que o Brasil viveu entre os anos 1960 e 1980. Outros regimes que se autodenominam democráticos, porém, adotam um modelo diferente do modelo da democracia liberal: a democracia social. DO DESPOTISMO DA LIBERDADE À DEMOCRACIA SOCIALISTA O modelo das democracias autoritárias surgiu na fase radical da Revolução Francesa. Como vimos, o terror era pensado como elemento essencial para que se alcançasse a liberdade. Sabemos, porém, que o despotismo da liberdade da fac- ção liderada por Robespierre significava dar mais valor à igualdade que à liberdade, tanto em termos políticos como sociais. O líder revolucionário admirava as ideias de virtude e bem comum de Rousseau e sua oposição à desigualdade. No entanto, esse filósofo jamais pregou a violência como instrumento político legítimo, muito menos a eliminação do adversário como caminho para o bem comum. Essa defesa da força como caminho para a democracia vai reaparecer no chamado socialismo científico, posteriormente conhecido como marxis- mo. No Manifesto Comunista (1848), elaborado por Marx e Engels, “o adven- to do proletariado como classe dominante” na primeira fase da revolução socialista é definido como a conquista da democracia. A democracia libe- ral era condenada como um regime que garantia a exploração da classe operária pela minoria burguesa. A violação do direito de propriedade dos meios de produção permitiria passar da dominação política e econômica pela minoria para um governo da maioria trabalhadora. Marx e Engels, em textos posteriores, afirmaram que essa primeira fase da revolução socialista seria uma ditadura do proletariado, uma forma transitória para se chegar ao comunismo. Na etapa final da revo- lução, não haveria mais diferenças de classe na sociedade, e a igualdade seria atingida. Vladimir Lenin, líder da Revolução Bolchevique na Rússia, recorreu a esse conceito para justificar a truculência do regime que aju- dou a implantar, em 1917, sobretudo durante a guerra civil, quando houve forte resistência contrarrevolucionária e ataques de outros países. Entende-se, assim, por que regimes do século XX, como o da antiga República Democrática Alemã (Alemanha Oriental), adotavam esse nome apesar de serem comandados por um partido único e dotados de violentos órgãos de segurança e inteligência. 1 Em grupo, elaborem um quadro comparativo das características da democracia liberal e da democra- cia social. 2 Pesquisem o significado de social-democracia ou socialismo democrático. Em seguida, escrevam um texto a respeito disso, à luz do debate entre democracia liberal e democracia social. 3 Com base no texto elaborado pelo grupo na questão anterior, debatam, com toda a turma, o conceito de democracia que vocês consideram mais válido. Justifiquem a escolha. ANALISAR E REFLETIR meios de produção conjunto dos recursos necessários para a produção de bens. Segundo a teoria marxista, inclui as matérias-primas, as ferramentas, as estruturas de produção (fábricas, infraestrutura, etc.), que no capitalismo são consideradas propriedade privada. Fine Art Images/Heritage Images/Getty Images 35 P4_V5_CIE_HUM_Vainfas_g21Sa_Cap1_018a039_LA.indd 35P4_V5_CIE_HUM_Vainfas_g21Sa_Cap1_018a039_LA.indd 35 8/31/20 9:58 AM8/31/20 9:58 AM CRISES DA DEMOCRACIA L IBERAL No século XX, a democracia liberal foi desafiada e chegou a ser destruída, em alguns países, por regimes totalitários. Nos anos 1920, despontou o fascismo, na Itália, condenando tanto o comunismo como a democracia liberal, considerada decadente e incapaz de gerir os conflitos sociais. Nos anos 1930, o nazismo che- gou ao poder, somando ao totalitarismo fascista a perseguição racial. Em vários países europeus da época surgiram regimes ou movimentos simpáticos a tais regimes totalitários anticomunistas e antidemocráticos. A vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, em 1945, foi celebrada no mundo ocidental como vitória da democracia contra os regimes autoritários, em- bora o esforço de guerra da União Soviética tenha sido essencial para a derrota do nazismo. No entanto, as décadas seguintes revelaram um cenário distinto. DEMOCRACIA E DITADURA NA GUERRA FRIA O fim da Segunda Guerra Mundial deu início à chamada Guerra Fria, um conflito entre o mundo ocidental capitalista e o mundo socialista. Este último bloco se formou devido à influência da União Soviética sobre os países da Euro- pa oriental no pós-guerra. Também no Extremo Oriente o socialismo avançou com a Revolução Chinesa (1949) e a divisão da Coreia (1953) em duas partes: uma capitalista e uma socialista. Esse tema é explorado no Capítulo 2 deste volume. Direita e esquerda são ideias muito presentes no debate político, mas sua definição não é consenso. Em geral, partidos de esquerda defendem transformações voltadas à igualdade social e econômica, enquanto os de direita privilegiam a manutenção da ordem. A origem dos termos está nos primeiros anos da Revolução Francesa, quando os partidários das mudanças se sentavam à esquerda na Assembleia e os do Antigo Regime, à direita. OBSERVE QUE . . . Adeus, L•nin Direção de Wolfgang Becker. Alemanha, 2003. Duração: 121 min. Às vésperas da queda do Muro de Berlim, uma fervorosa apoiadora do regime na Alemanha Oriental, entra em coma. Quando recupera a consciência, seu filho faz de tudo para esconder dela as mudanças na sociedade, enquanto tenta se adaptar a elas. F I C A A D I C A Entre o fim dos anos 1940 e o fim dos anos 1980, o mundo esteve dividido entre regimes liberais capitalistas e regimes comunistas, incluindo “guerras quentes” locais, ou seja, guerras efetivas que resultaram em milhares de mortes, entre mili- tares e civis. As lutas pelo fim do colonialismo na Ásia e na África entre as décadas de 1940 e 1970 também levaram as potências opostas a interferir. As democracias liberais, contrariando o próprio regime que adotavam, estimularam a instalação de ditaduras capitalistas nos Estados recém-formados; os Estados socialistas tam- bém apoiaram a formação de ditaduras socialistas. Muitos países acabaram de- vastados por guerras civis. EUROPA: GUERRA FR IA (1945-1989) Mar da Noruega Mar do Norte Mar Negro Mar Bál tic o M ar Cáspio Mar Mediterrâneo OCEANO ATLÂNTICO OCEANO GLACIAL ÁRTICO M er id ia n o d e G re en w ic h Círculo Polar Ártico ÁSIAÁFRICA 0° ISLÂNDIA IRLANDA REINO UNIDO PORTUGAL ESPANHA FRANÇA PAÍSES BAIXOS BÉLGICA RFA RDA POLÔNIA SUÍÇA ÁUSTRIA ITÁLIA ROMÊNIA BULGÁRIA ALBÂNIA HUNGRIA GRÉCIA MALTA CHIPRE TURQUIA LUXEMBURGO DINAMARCA NORUEGA FINLÂNDIA SUÉCIA TCHECOSLOVÁQUIA IUGOSLÁVIA UNIÃO SOVIÉTICA Creta Córsega Sardenha Sicília 0 480 km Cortina de ferro (1955) Estados-membros do Pacto de Varsóvia* (1955) Estado sob regime socialista autônomo Estados-membros da Otan** (1955) Outros Estados pró-capitalistas Democracia ocidental ligada à URSS por tratado de aliança Estados neutros * Aliança militar do bloco socialista ** Aliança militar de democracias liberais Fonte: elaborado com base em VICENTINO, Claudio. Atlas hist—rico. São Paulo: Scipione, 2011. p. 149. B a n c o d e i m a g e n s /A rq u iv o d a e d it o ra 36 P4_V5_CIE_HUM_Vainfas_g21Sa_Cap1_018a039_LA.indd 36P4_V5_CIE_HUM_Vainfas_g21Sa_Cap1_018a039_LA.indd36 8/31/20 9:58 AM8/31/20 9:58 AM