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59 Na Idade Média, sob a forte influência religiosa, o corpo era associado ao pecado. A beleza passou a ser pautada nas virtudes morais e no pudor em relação ao corpo. O corpo era escondi- do e seu culto considerado inadequado. Na Modernidade, o movimento renascentista e o avanço dos conhecimentos das ciências da natureza e da medicina, acerca do funcionamento corporal, trouxeram status científico para o estudo das práticas corporais. O corpo passou a ser comparado a uma máquina a ser treinada. O desenvolvimento gradativo do capitalismo levou a burguesia, classe social emergente, a desenvolver métodos para garantir a eficiência do corpo do trabalhador. Nessa época, foram cria- dos os primeiros métodos ginásticos europeus, práticas corporais marcadas pelo controle e efici- ência dos movimentos e que prometiam saúde e embelezamento corporal por meio da disciplina. Posteriormente, o desejo de beleza do corpo começou a ser visto como grande fonte de consu- mo de produtos, consolidando aos poucos o que hoje conhecemos como indústria da beleza. Ao longo do século XX, com o avanço global da industrialização e o crescimento das ferra- mentas de comunicação e mídia, a prática de atividades físicas voltadas para a estética corporal ganhou projeção. Revistas e programas de TV especializados passaram a conter seções voltadas ao tema. As academias de ginástica se espalharam nas grandes cidades, oferecendo, a cada ano, novas modalidades, com novas promessas de eficiência para transformar o corpo a partir de exer- cícios ginásticos. Nasce neste processo o movimento global conhecido pela palavra de língua inglesa fitness, simplificação do conceito physical fitness (aptidão física). Neste rápido resgate histórico, você pôde perceber que a beleza e sua associação às práticas corporais é uma construção cultural, social e histórica que reflete valores, interesses econômicos e relações sociais. A noção de beleza corporal, bem como as estratégias para conquistá-la, se transformam ao longo do tempo e entre as culturas, e afetam diferentemente as pessoas, depen- dendo do lugar social que ocupam. Para que você possa se posicionar frente a tal problemática e ampliar suas possibilidades de usufruir de práticas ginásticas e esportivas, sem se preocupar com padrões exteriores e de forma que faça sentido no seu projeto de vida, vamos aprofundar a discussão, buscando uma participa- ção na sociedade de forma ética e que respeite a diversidade dos sujeitos. Como o conceito de beleza se transformou ao longo dos séculos?, de Laís Semis, publicado em Revista Nova Escola. Disponível em: https:// novaescola.org.br/ conteudo/3414/ como-o-conceito- de-beleza-se- transformou-ao- longo-dos-seculos. Acesso em: 23 jul. 2020. Para saber mais sobre os conceitos de beleza em diferentes tempos e sociedades, leia a matéria indicada. FICA A DICA EXPERIMENTAÇÃO NOSSOS PADRÕES DE BELEZA O objetivo desta atividade é debater como você e os colegas definem padrões de beleza. 1 Busque revistas impressas, atuais ou antigas, de grande circulação, se possível publicações que divulgam estratégias para “conquistar o corpo ideal”. 2 A turma deve se organizar em grupos de quatro a seis integrantes. 3 Os grupos vão analisar as imagens das revistas coletadas. Cada participante do grupo deve escolher e recortar da revista a imagem de uma pessoa que considere bonita. 4 O grupo deve compor um cartaz com todas as imagens selecionadas e afixá-lo em um local visível para os demais grupos. 5 Quando todos os grupos terminarem, observem os cartazes. Depois, organizem uma roda de conversa e debatam as seguintes questões com o professor e os colegas: Há características em comum nas imagens selecionadas? Que critérios foram adotados por cada publicação para definir as pessoas bonitas? Em geral, o que determina os padrões de beleza na sua turma? 6 Registre no diário de bordo as ideias levantadas pela turma. Resposta pessoal. Resposta pessoal. Resposta pessoal. ATENÇÃO V4_LINGUAGENS_Faraco_g21Sa_Cap2_054a085_LA.indd 59V4_LINGUAGENS_Faraco_g21Sa_Cap2_054a085_LA.indd 59 16/09/2020 17:2316/09/2020 17:23 60 Padrões de beleza e desigualdades entre homens e mulheres Você sabia que o esporte já foi visto como uma prática inadequada para o corpo feminino? Em 2019, o Museu do Futebol, em São Paulo, organizou a exposição Contra-ataque: as mulheres no futebol. Nessa exposição foi reunida, em um grande painel, uma série de manchetes de jornais de grande circula- ção no país durante a década de 1940. Observe uma dessas manchetes, que foi publicada em 1941. Em 1941, o então presidente Getúlio Vargas (1882-1954) publicou o decreto nº 3 199, regulamentando as atividades esportivas no país. O ar- tigo 54 da lei, que vigorou até 1979, afirmava que não era permitido às mulheres praticar esportes “incompatíveis com sua natureza”. Às mulhe- res era incentivada a prática da ginástica e da dança, moda lidades tidas como mais condizentes com o ideal de corpo feminino “delicado”. Detalhe de página do jornal O Imparcial com destaque para a manchete “Pé de mulher não foi feito pra se meter em chuteiras”. Rio de Janeiro (RJ), 15 jan. 1941. R e p ro d u ç ã o /M u s e u d o F u te b o l, S ã o P a u lo , S P. Os discursos filosófico, médico e religioso que ao longo da história defenderam que as mulheres eram biologicamente ou naturalmente mais frágeis do que os homens, foram por muito tempo utilizados como modo de manter o controle social sobre o corpo feminino. Por isso, até hoje, as mulheres são menos reconhecidas no esporte e seus corpos mais fortemente oprimidos por “padrões ideais de beleza”. Isso vem mu- dando gradativamente por meio de organizações feministas e da socie- dade civil em geral que luta pela igualdade, como vimos na imagem do início da trilha. NÃO ESCREVA NESTE LIVRO. V4_LINGUAGENS_Faraco_g21Sa_Cap2_054a085_LA.indd 60V4_LINGUAGENS_Faraco_g21Sa_Cap2_054a085_LA.indd 60 16/09/2020 17:2316/09/2020 17:23