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O fura-fila indireto me irritou não só porque demorou mais para me atenderem, mas também porque o segundo ato estava prestes a co- meçar. Qual é a diferença deles para os motoristas que me ultrapas- sam pelo acostamento nas estradas e depois furam a fila, atrasando minha viagem? E que dizer daqueles motoristas que costuram atrás das ambulâncias? 4 [...] 5 Por exemplo, que dano social pode ser causado pelo roubo de “lembrancinhas” — de toalhas e cinzeiros de hotel a cobertores de companhias aéreas? Bem, os hotéis e companhias aéreas compen- sam os custos de substituir esses objetos aumentando levemente o preço. Os varejistas fazem o mesmo para compensar as perdas com pequenos furtos. 6 Outros pequenos delitos são mais fáceis de classificar, mas igual- mente tentadores de cometer. Veja o caso da pessoa que não diz ao caixa que recebeu por engano uma nota de R$ 50 em vez da correta nota de R$ 10. Ou do garoto que obedece ao trocador, passa por baixo da roleta e lhe passa uma nota de R$ 1 em vez de pagar à empresa de ônibus R$ 1,60. Esse suborno não é igual a pagar à polícia uma propi- na para se safar? Essas caixinhas não seriam também crias do famoso caixa dois, que já virou uma instituição? 7 Um dos meus vizinhos disse que alguns desses pequenos delitos, como vários tipos de caixa dois, são fruto da necessidade. Ele escre- ve, embora não assine, monografias para que universitários pregui- çosos/ocupados terminem seus cursos. É assim que põe comida na mesa. [...] 8 Outro vizinho vendeu sua cobertura no Rio com uma vista espe- tacular da floresta da Tijuca porque descobriu que, no prazo de um ano, um arranha-céu seria construído, acabando com a vista e des- valorizando o imóvel em R$ 50 mil. Ele disse isso aos compradores? Não. E eu também não considero esse delito tão pequeno diante do valor do prejuízo. 9 Apesar de os delitos pequenos estarem institucionalizados de- mais para notar ou serem tentadores demais para resistir, dizer “não” a eles beneficia a sociedade como um todo. E um “não” vigoroso o bastante pode alertar os distraídos e os fracos de espírito para que, em uma sociedade que se guia pela “lei de Gerson”, nossa bússola moral possa nos apontar o caminho. KEPP, Michael. Folha de S.Paulo, São Paulo, 26 ago. 2004. Folha Equilíbrio, p. 9. NÃO ESCREVA NO LIVRO. varejista: aquele que faz a venda diretamente ao comprador final. suborno: corrupção, ato de dar dinheiro a alguém a fim de conseguir alguma coisa ilegalmente. propina: gratificação por algo indevido. caixa dois: contabilidade não declarada para não pagar tributo. monografia: trabalho escrito conforme determinadas normas. “lei de Gerson”: referência à frase de uma propaganda em que o ex-jogador de futebol Gerson dizia: “É preciso levar vantagem em tudo!”. bússola: instrumento que serve para guiar, determinar a posição de um lugar ou de algo. moral: que está de acordo com os princípios da moralidade; ético. Michael Kepp nasceu em 1950, na cidade de St. Louis, em Missouri (Estados Unidos). Jornalista radicado no Brasil desde 1983, é autor dos livros de crônicas Sonhando com sotaque — confissões e desabafos de um gringo brasileiro e Tropeços nos trópicos — crônicas de um gringo brasileiro, publicados pela editora Record. C a rl o s B a rr e tt a /F o lh a p re s s 247 247 Reprodução do Livro do Estudante em tamanho reduzido. 5º- parágrafo: Se considerar proce- dente, comentar com os estudantes que R$ 1,60 era o preço da passagem de ônibus na capital fluminense quan- do da publicação do artigo (2004). 244-281_Telaris7_LP_MPU_U08_PNLD24.indd 247244-281_Telaris7_LP_MPU_U08_PNLD24.indd 247 8/5/22 1:51 PM8/5/22 1:51 PM Interpretação do texto Compreensão inicial O texto que você leu é um artigo de opinião. Leiam juntos o que caracteriza esse gênero textual. Artigo de opinião é um texto que traz o posicionamento do autor sobre determinado fato. Pode ter foco na política, na ciência, em um evento cultural, em um fato acontecido no dia a dia. É um texto assi- nado pelo autor, que deve se responsabilizar pela opinião expressa. Artigos de opinião são geralmente publicados na mídia tanto impressa (jornais, revistas, periódicos) quanto eletrônica. 1 Quem assina o artigo de opinião lido? Michael Kepp. 2 No quadro a seguir, os delitos estão divididos em quatro grupos. Localize no artigo e transcreva no caderno dois exemplos de cada grupo de delito. Delitos Grupo A que prejudicam a qualidade de vida de outras pessoas e impedem sua liberdade. Grupo B que perturbam as relações sociais e causam danos à sociedade toda. Grupo C que são tentadores. Grupo D que são justificados como fruto de necessidade. 3 Releia este trecho do texto: Pequenos delitos são transgressões leves que passam impunes e, no Brasil, estão tão institucionalizados que os transgressores nem têm ideia de que estão fazendo algo errado. Releia, no início da seção Leitura, o significado dos termos destacados. ⓿ Agora, reescreva no caderno o trecho do texto substituindo os termos em destaque por expressões equivalentes e fazendo as adequações necessárias. 4 Explique a frase: “Esses maus exemplos são também contagiosos”. 5 Releia este trecho do texto e responda: Que “poderosa maré” é essa? […] ser um cidadão-modelo exige que se reme contra uma poderosa maré ou que se beire a santidade. 6 Esse artigo de opinião foi publicado em um jornal de circulação nacional. a) Além do artigo de opinião, que outros gêneros opinativos você conhece que circulam em jornais e revistas? b) Observe a data da publicação do artigo de Michael Kepp. Na sua opi- nião, ele ainda faria sentido se fosse publicado hoje? Explique. Sugestões: A: fazer barulho em casa, jogar lixo nas calçadas, não recolher da calçada o cocô do cachorro, furar fila, ultrapassar pelo acostamento, “costurar” atrás de ambulâncias. B: roubar “lembrancinhas” de hotel ou de companhia aérea. C: não revelar engano de troco, dividir o “roubo” do dinheiro da passagem com o trocador, pagar propina para escapar da punição por delito cometido. D: fazer monografias no lugar de universitários (que pagam por elas), esconder do comprador o defeito do que está sendo vendido. Sugestão: Pequenas infrações são desrespeitos leves que passam sem punição e, no Brasil, são tão aceitas pela maioria das pessoas que os transgressores nem têm ideia de que estão fazendo algo errado. 4. Sugestão: Muitas vezes, os delitos cometidos por alguns podem ser imitados e multiplicados, ou seja, praticados por mais e mais pessoas.A maré dos maus exemplos: um grande número de pessoas que cometem esses delitos. Resposta pessoal. Sugestão: editorial, resenha crítica e carta do leitor. Resposta pessoal. J e a n G a lv ã o /A rq u iv o d a e d it o ra NÃO ESCREVA NO LIVRO. 248 248 Reprodução do Livro do Estudante em tamanho reduzido. Interpretação do texto Compreensão inicial Habilidades da BNCC: EF67LP07, EF67LP38 Atividades 1 e 2 Essas atividades enfatizam a locali- zação de dados explícitos no texto. Os estudantes devem ser orientados so- bre o fato de que a localização de da- dos deve ser feita com precisão. Isso é importante para os momentos de ava- liação de leitura, pois as questões de localização de dados ou informações seguem critérios específicos de preci- são e delimitação da informação a ser localizada. Atividade 3 Essa atividade enfoca a dedução de sentidos de palavras e expressões do texto. Sugere-se que, inicialmente, os estudantes procurem deduzir o que é pedido sem consultar o glossário ou um dicionário, mas a partir de sentidos compreendidos pelo contexto. É importante orientá-los para o fato de que não existem sinônimos perfeitos ou equivalência precisa entre palavras; por isso, é o contexto que deverá diri- gir a escolha de palavras ou expressões para substituição. Orientá-los também para o fato deo glossário apresentar apenas uma síntese, e, se acharem ne- cessário, eles poderão ampliar ou até mesmo substituir as definições lá colo- cadas (EF67LP07). Atividade 4 A explicação a ser dada pode se constituir em uma pequena paráfrase, pois o estudante deverá “traduzir” em linguagem própria o que está no tex- to. Parafrasear é um importante meca- nismo não apenas de compreensão de sentidos, mas também de apropriação de conhecimentos: ao “traduzir”, o estu- dante apropria-se melhor do conteúdo. Atividade 5 Essa também é uma atividade de dedução de sentidos. Relembrar os es- tudantes de que a expressão “podero- sa maré” é uma metáfora para indicar a intensidade da resistência que enfren- tarão as pessoas que quiserem evitar “os pequenos delitos”. A atividade de- senvolve a habilidade EF67LP38. 244-281_Telaris7_LP_MPU_U08_PNLD24.indd 248244-281_Telaris7_LP_MPU_U08_PNLD24.indd 248 8/5/22 1:51 PM8/5/22 1:51 PM