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Direito Empresarial III Prof.ª Dra. Carolina Lopes e-mail: carolin.oliveira@live.estacio.br AULA 05 2 ASPECTO 02: limites de defesa do devedor (sacado/cedido): O devedor poderá defender-se, quando executado pelo cessionário, arguindo matérias atinentes a sua relação jurídica com o cedente (CC, art. 294), mas não poderá defender-se, quando executado pelo endossatário, arguindo matérias atinentes a sua relação jurídica com o endossante (princípio da autonomia das obrigações cambiais e subprincípio da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé, referidos no art. 17 da LU e 916 do CC). 4.3.1. Classificação clássica/tradicional: ao portador ou nominativo. 4. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS 4.3. QUANTO À SUA CIRCULAÇÃO (DUAS CLASSIFICAÇÕES) 3 LU Art. 17. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor. 4.3.1. Classificação clássica/tradicional: ao portador ou nominativo. 4. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS 4.3. QUANTO À SUA CIRCULAÇÃO (DUAS CLASSIFICAÇÕES) 4 CC Art. 294. O devedor pode opor ao CESSIONÁRIO as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente. (Cessão de crédito) 4.3.1. Classificação clássica/tradicional: ao portador ou nominativo. 4. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS 4.3. QUANTO À SUA CIRCULAÇÃO (DUAS CLASSIFICAÇÕES) 5 Art. 916. As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé. (Endosso) 4.3.1. Classificação clássica/tradicional: ao portador ou nominativo. 4. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS 4.3. QUANTO À SUA CIRCULAÇÃO (DUAS CLASSIFICAÇÕES) 6 Para transferência de um cheque é suficiente o endosso. ERRADO. É necessária também a tradição. Conclusão: O endosso, tal qual a cessão civil, somente se aperfeiçoam com a TRADIÇÃO. 4.3.1. Classificação clássica/tradicional: ao portador ou nominativo. 4. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS 4.3. QUANTO À SUA CIRCULAÇÃO (DUAS CLASSIFICAÇÕES) 4. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS 7 4.3. QUANTO À SUA CIRCULAÇÃO (DUAS CLASSIFICAÇÕES) 4.3.2. Classificação moderna (CC/2002): ao portador, nominativo e nominal 1) Título ao portador: Não identifica o beneficiário, transferível por tradição (CC, art. 904). Art. 904. A transferência de título AO PORTADOR se faz por simples tradição. 4. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS 8 4.3.2. Classificação moderna (CC/2002): ao portador, nominativo e nominal 2) Título nominativo: Tem acepção diversa da classificação tradicional. É título nominativo o emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente (art. 921 do CC). 4.3. QUANTO À SUA CIRCULAÇÃO (DUAS CLASSIFICAÇÕES) 4. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS 9 4.3. QUANTO À SUA CIRCULAÇÃO (DUAS CLASSIFICAÇÕES) 4.3.2. Classificação moderna (CC/2002): ao portador, nominativo e nominal O nome do credor não está no título (como na classificação acima), mas sim no registro do emitente. Essa regra do Código Civil teria aplicação aos títulos que viessem a surgir após 2002. Na prática, não tem qualquer aplicação. Esse título nominativo pode circular por termo ou endosso. Art. 921. É título NOMINATIVO o emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente. 4. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS 10 4.3. QUANTO À SUA CIRCULAÇÃO (DUAS CLASSIFICAÇÕES) 4.3.2. Classificação moderna (CC/2002): ao portador, nominativo e nominal 3) Nominal (à ordem): É o título nominativo à ordem da classificação tradicional, transferível por meio de endosso. 4. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS 11 4.4.1. ORDEM de pagamento Um sujeito dá uma ordem para que interposta pessoa efetue o pagamento a um terceiro beneficiário. Existem, aqui, TRÊS figuras distintas: 1) O Sujeito que dá a ordem de pagamento, sacador; correntista. 2) O Sujeito que recebe a ordem (destinatário da ordem), sacado; banco. 3) O beneficiário/tomador da ordem. Aquele que vai ao caixa descontar o cheque. Exemplo: duplicata; letra de câmbio; cheque. 4.4. QUANTO À ESTRUTURA: ORDEM DE PAGAMENTO OU PROMESSA DE PAGAMENTO 4. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS 12 4.4. QUANTO À ESTRUTURA: ORDEM DE PAGAMENTO OU PROMESSA DE PAGAMENTO 4.4.2. PROMESSA de pagamento O próprio devedor se compromete a pagar determinado valor ao beneficiário. DUAS figuras: 1) Promitente; (“sacador/sacado”). 2) Tomador/beneficiário (aquele que vai ao caixa descontar). Exemplo: nota promissória. 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 13 5.1 CONCEITO Endosso é o ato jurídico pelo qual o credor de um título crédito nominativo (‘nominal’), com a cláusula à ordem, TRANSMITE o direito ao valor constante no título à outra pessoa, sendo acompanhado da tradição da cártula. 14 5.2 EFEITOS DO ENDOSSO • Transferência da titularidade do crédito do tomador/endossante (Caio) para o endossatário (Daniel). • Tornar o endossante codevedor do título de crédito. Passa a ser corresponsável ao pagamento do título. Se na data do vencimento o endossatário (Daniel) for cobrar do sacado (Renato) e ele não pagar, Daniel pode executar qualquer um dos codevedores (sacado – Renato; sacador – Maria; tomador/endossante - Caio). 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 15 5.2 EFEITOS DO ENDOSSO O endosso é dado no VERSO do título, bastando para tanto uma simples assinatura. No entanto, também é possível a realização do endosso no ANVERSO do título, caso no qual, além da assinatura, é necessária uma expressão identificadora do endosso (exemplo: pague- se a..., endosso a..., transfiro a...). Não confundir com o ACEITE que é dado com assinatura no ANVERSO. Não há qualquer limite para o número de endossos de um título de crédito (no cheque existia limite – ver adiante); ele pode ser endossado diversas vezes, como pode, simplesmente, não ser endossado. 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 16 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 1) Endosso em branco; 2) Endosso em preto; 3) Endosso póstumo; 4) Endosso impróprio: 4.1) Endosso-mandato (por procuração); 4.2) Endosso-caução (pignoratício); 5) Endosso "sem garantia”. 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 17 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.1 ENDOSSO EM BRANCO É aquele em que NÃO está identificado o endossatário. Ocorre aqui a transformação de um título nominativo em um título ao portador. De acordo com André Santa Cruz, o beneficiário do endosso em branco pode tomar três atitudes, quais sejam: 1) Transformá-lo em endosso em preto, completando-o com seu nome ou de terceiros; 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 18 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.1 ENDOSSO EM BRANCO 2) Endossar novamente o título, em branco ou em preto. Aqui, o endossatário, ao realizar o endosso, passa a integrar a cadeia de codevedores, responsabilizando-se pelo adimplemento da obrigação constante no título. 3) Transferir o título sem praticar novo endosso, ou seja, por mera tradição da cártula. Aqui, o endossatário transfere o crédito sem assumir nenhuma responsabilidade pelo seu adimplemento, já que não pratica novo endosso. 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 19 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.2 ENDOSSO EM PRETO É aquele em que está identificado o endossatário Exemplo: Pague-se a fulano. Endosso PARCIAL existe? O endossante pode transferir pelo endosso só uma parte do valor constante no título? NEGATIVO. O endosso parcial é nulo, até porque a transferência do título exige além do endosso a tradição. Não é possível entregar apenas parte da cártula parao endossatário (LU, art. 12; CC, art. 912, parágrafo único). Não confundir com o aceite parcial, que é válido. 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 20 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.2 ENDOSSO EM PRETO CC Art. 912. Considera-se não escrita no endosso qualquer condição a que o subordine o endossante. Parágrafo único. É NULO o endosso parcial. LU Art. 12. O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condição a que ele seja subordinado considera-se como não escrita. O endosso parcial é NULO. O endosso ao portador vale como endosso em branco. Por outro lado, o ENDOSSO CONDICIONAL, em que a transferência do crédito fica subordinada a alguma condição, resolutiva ou suspensiva, não é nulo, mas referida condição será ineficaz, porque a lei a considera não escrita (art. 12). 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 21 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.2 ENDOSSO EM PRETO Por outro lado, o ENDOSSO CONDICIONAL, em que a transferência do crédito fica subordinada a alguma condição, resolutiva ou suspensiva, não é nulo, mas referida condição será ineficaz, porque a lei a considera não escrita (art. 12). 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 22 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.3 ENDOSSO PÓSTUMO É o endosso dado DEPOIS do VENCIMENTO e do PROTESTO do título. Nesse caso, não produz os efeitos de endosso, mas sim da cessão civil de crédito. O endosso póstumo não se confunde com o endosso dado depois do vencimento, mas ANTES do PROTESTO. Este último é um endosso comum, produzindo todos os efeitos a ele inerentes. 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 23 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.3 ENDOSSO PÓSTUMO Como vimos, o endosso tem como efeito atribuir ao endossante a responsabilidade pela existência e solvência do crédito (é uma transmissão pro solvendo), conforme a disposição das leis especiais nesse sentido. ATENÇÃO: O CC, em seu art. 914, prevê efeito diverso para o endosso: responsabilidade apenas pela existência e não pela solvência do crédito (tal como a cessão civil de crédito – pro soluto). Não esquecer: O CC só se aplica no silêncio da lei especial (CC, art. 903). Consequência prática: Esse dispositivo do CC/2002 não tem aplicação. 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 24 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.3 ENDOSSO PÓSTUMO CC Art. 914. Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o endossante pelo cumprimento da prestação constante do título. Esse endosso que vimos até aqui é chamado pela doutrina de ENDOSSO TRANSLATIVO ou PRÓPRIO (para concurso é somente endosso). 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 25 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.3 ENDOSSO PÓSTUMO OBS1: Súmula do 475 STJ STJ Súmula 475: Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por endosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas. 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 26 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.3 ENDOSSO PÓSTUMO Explicando a súmula: “B”, empresa do ramo de vendas, emitiu uma duplicata (título de crédito) por conta de mercadorias que seriam vendidas a “A”. Ocorre que o negócio jurídico acabou não sendo concretizado (não existiu). Mesmo sem ter existido o negócio jurídico, “B” emitiu a duplicata (sem causa) e, além disso, fez o endosso translativo desse título para “C” (banco). 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 27 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.3 ENDOSSO PÓSTUMO Como visto, o endosso translativo (também chamado de endosso próprio), é o ato cambiário por meio do qual o endossante transfere ao endossatário o título de crédito e, em consequência, os direitos nele incorporados. Em outras palavras, “B” transmitiu a “C” seu suposto crédito que teria em relação a “A”. Ocorre que “A” recusou aceite a essa duplicata. 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 28 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.3 ENDOSSO PÓSTUMO Diante disso, “C” apresentou a duplicata para ser protestada pelo tabelionato de protesto, o que foi feito. Assim, “A” foi intimado pelo tabelião de protesto, a pedido de “C” para que pagasse a duplicata. Como “A” não pagou, foi inscrito no SPC e SERASA. “A” quer ajuizar ação de cancelamento de protesto cumulada com reparação por danos morais. Quem deverá ser réu nessa ação? Quem é o responsável por esse protesto indevido, “B” (que emitiu a duplicata) ou “C” (que recebeu a duplicata mediante endosso)? 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 29 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.3 ENDOSSO PÓSTUMO Resposta: “C”. Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário (“C”) que recebe por endosso translativo título de crédito (no caso, uma duplicata) contendo vício formal extrínseco ou intrínseco (no caso, a ausência de compra e venda). Caso o endossatário (“C”), que levou o título a protesto indevidamente, seja condenado a pagar a indenização, terá direito de cobrar esse valor pago (direito de regresso) contra o endossante (no caso, “B”) e eventuais avalistas do título de crédito. 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 30 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.3 ENDOSSO PÓSTUMO O endossatário que recebe, por endosso translativo, título de crédito contendo vício formal, sendo inexistente a causa para conferir lastro à emissão de duplicata, responde pelos danos causados diante de protesto indevido, ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas. 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 31 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.4 ENDOSSO IMPRÓPRIO A doutrina menciona, ainda, uma quarta espécie de endosso: ENDOSSO IMPRÓPRIO. É chamado impróprio, pois não tem como efeito a transferência da titularidade do crédito (o endossante continua credor). O efeito do endosso impróprio é a LEGITIMAÇÃO DA POSSE do terceiro que detém a cártula, permitindo assim o exercício dos direitos representados na cártula. Duas são as modalidades de endosso impróprio: • Endosso-mandato (por procuração); • Endosso-caução (pignoratício). 32 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.4 ENDOSSO IMPRÓPRIO 1) Endosso-mandato (por procuração) É utilizado para transferir poderes e autorizar um TERCEIRO a exercer os direitos inerentes ao título (sem transferir a titularidade). Exemplo: o endossante contrata um banco para efetuar a cobrança do crédito. Para legitimar a posse do banco sobre seu título, bem como a cobrança, é realizado o endosso mandato. Como fazer o endosso mandato? Acrescentar a expressão: ‘para cobrança’ ou ‘por procuração’. Se o sacado realiza o pagamento ao detentor do título, sem a presença do endosso- mandato, não se desobrigará do débito (quem paga mal paga duas vezes). 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 33 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.4 ENDOSSO IMPRÓPRIO O art. 917 do CC disciplina o endosso-mandato. OBS: 476 Súmula do STJ. STJ Súmula 476: O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário. 34 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.4 ENDOSSO IMPRÓPRIO Explicando a súmula: O endossatário recebe o título de crédito apenas para efetuar a cobrança do valor nele mencionado e dar a respectiva quitação; após a cobrança, o endossatário deverá devolver o dinheiro ao endossante, descontada sua remuneração por esse serviço. “B”, empresa do ramo de vendas, emitiu uma duplicata (título de crédito) por conta de mercadorias vendidas a “A”. “B”, após emitir a duplicata, fez o endosso-mandato desse título para “C” (banco), a fim de que este efetuasse a cobrança do valor de “A”. 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 35 5.3 MODALIDADESDO ENDOSSO 5.3.4 ENDOSSO IMPRÓPRIO Ocorre que “A” recusou o pagamento dessa duplicata alegando que já havia pagado. Mesmo assim, “C” apresentou a duplicata para ser protestada pelo tabelionato de protesto, o que foi feito. Assim, “A” foi intimado pelo tabelião de protesto, a pedido de “C” para que pagasse a duplicata. Como “A” não pagou, foi inscrito no SPC e SERASA. “A” quer ajuizar ação de cancelamento de protesto cumulada com reparação por danos morais. Quem deverá ser réu nessa ação? Quem é o responsável por esse protesto indevido (“B” ou “C”)? 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 36 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.4 ENDOSSO IMPRÓPRIO Resposta: como regra, “B” (endossante). “C” (endossatário de endosso- mandato) somente responderá se ficar provado que EXTRAPOLOU os poderes de mandatário. No endosso-mandato, o endossatário não age em nome próprio, mas sim em nome do endossante. Exemplo em que o endossatário responderia: diante da resposta do devedor de que já havia pagado o débito, o endossante solicitou ao endossatário que aguardasse para protestar o título somente após conferir se houve realmente a quitação. O endossatário, descumprindo essa determinação, realizou o protesto imediatamente, mesmo sem aguardar essa conferência. 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 37 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.4 ENDOSSO IMPRÓPRIO 2) Endosso-caução (pignoratício) É o instrumento adequado para a instituição de penhor sobre o título de crédito. Usa-se a expressão: ‘para penhor’ ou ‘para garantia’. É a forma de dar um título de crédito como garantia. No endosso-caução, o crédito não se transfere para o endossatário, que é investido na qualidade de credor pignoratício do endossante. Cumprida a obrigação garantida pelo penhor, deve a letra retornar à posse do endossante. Somente na eventualidade de não cumprimento da obrigação garantida, é que o endossatário por endosso-caução se apropria do crédito representado pela letra. 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 38 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.4 ENDOSSO IMPRÓPRIO 2) Endosso-caução (pignoratício) O endossatário por endosso-caução não pode endossar o título, salvo para praticar o endosso-mandato (LU, art. 19; CC, art. 918). 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 39 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.5 ENDOSSO “SEM GARANTIA” Por fim, há o endosso que não produz o efeito de vincular o endossante ao pagamento do título: trata-se do chamado endosso "sem garantia", previsto no art. 15 da LU. Com esta cláusula, o endossante transfere a titularidade da letra, sem se obrigar ao seu pagamento. A regra, como visto, é a da vinculação do endossante (lembre-se que o art. 914 do CC não se aplica em razão do art. 903 do mesmo Código). O ato do endossante de inserir no endosso a cláusula "sem garantia", porém, afasta a vinculação prevista na lei especial. 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 40 5.3 MODALIDADES DO ENDOSSO 5.3.5 ENDOSSO “SEM GARANTIA” 5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 41 6.1 CONCEITO É a declaração cambiária decorrente de uma manifestação unilateral de vontade pela qual uma pessoa física ou jurídica, assume a obrigação cambiária autônoma e incondicional de garantir no vencimento o pagamento do título nas condições nele estabelecidas. Duas figuras existem no instituto do aval: 1) Avalista: É aquele que garante o pagamento do título de crédito em favor do devedor principal ou de um corresponsável. 2) Avalizado: É devedor ou corresponsável que tem a obrigação de pagar o crédito garantido pelo avalista. 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 42 6.1 CONCEITO Obrigação autônoma: A relação do avalista com o credor do título é autônoma a do avalizado com o credor. Vale dizer, mesmo que o avalizado venha a morrer, falir ou tornar-se incapaz, permanece a obrigação do avalista para com o tomador do título. 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 43 6.1 CONCEITO O avalista que garante antecipadamente a dívida do sacado responde por ela até mesmo se este não vier a dar o ACEITE. Exemplo: Daniel (endossatário), ao receber o título de Caio (tomador ou beneficiário/endossante), exige uma garantia a mais. Então, Caio pede para o Gugu ser seu avalista. Gugu dá o aval. Se o sacado (devedor principal - Renato) não pagar, Daniel pode cobrar de qualquer dos codevedores, dentre eles o avalista do Renato (sacado), Gugu (avalista). 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 44 6.2 COMO É FEITO O AVAL? Como é feito o aval? Tem que lembrar o endosso. Endosso pode ser no VERSO (simples assinatura) ou no ANVERSO (assinatura + expressão identificadora). Lembrando: o aceite é só assinatura no anverso. O AVAL, por sua vez, deve ser dado de forma inversa: no ANVERSO (simples assinatura) ou VERSO (assinatura + expressão identificadora). 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 45 6.3 ESPÉCIES DE AVAL Tal como no endosso, existe o AVAL EM PRETO (identifica o avalizado) e o AVAL EM BRANCO (não identifica o avalizado). Quando o aval é em branco, garante-se aquele que CRIOU o título (e não o devedor principal: sacado - Renato), ou seja, o sacador (Maria), nos termos do art. 31 da LU. Art. 31. [...] O aval deve indicar a pessoa por quem se dá. Na falta de indicação, entender-se-á pelo sacador. 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 46 6.3 ESPÉCIES DE AVAL Há ainda: o AVAL SIMULTÂNEO ocorre quando todos os avalistas garantem o mesmo avalizado; AVAL SUCESSIVO ocorre quando temos avais superpostos, ou seja, um avalista garante outro avalista. Súmula 189 do STF: A existência de avais em branco superpostos implica em garantia simultânea (os obrigados são coavalistas do sacador) e não sucessiva (os obrigados não são avalistas de avalistas). SÚMULA Nº 189 STF: AVAIS EM BRANCO E SUPERPOSTOS CONSIDERAM-SE SIMULTÂNEOS E NÃO SUCESSIVOS. 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 47 6.3 ESPÉCIES DE AVAL É possível também a realização de AVAL PARCIAL, em que somente PARTE do crédito é garantida, nos termos do art. 30 da Lei Uniforme de Genebra - LUG. • Perceber que o endosso parcial não é permitido, entretanto, o aceite parcial é permitido. Lógica: no endosso, o título é passado a diante. Tem como ‘rasgar’ o título para passar somente parte dele? Tendo em vista dentre outras razões, o princípio da Cartularidade, não. Já o aceite pode ser limitativo ou modificativo (quem está aceitando pagar pode querer pagar parte ou de forma diversa). • Então, no aval parcial, o avalista pode garantir parte apenas da obrigação contida no título, afinal ele não fica com esse título, apenas garante. 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 48 6.3 ESPÉCIES DE AVAL 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 49 6.3 ESPÉCIES DE AVAL O aval dado depois de vencimento e do protesto possui os MESMOS EFEITOS do aval dado antes. Não confundir com o endosso póstumo, o qual produzirá os efeitos da cessão civil de crédito. Lógica: no aval o avalista está garantindo a obrigação cambiária contida no título, no endosso, o endossante é quem foi sujeito de uma obrigação e pagou endossando o título de crédito. O avalista deve continuar garantindo a dívida, afinal: é uma obrigação autônoma. No caso do endosso, não pode o criador do título ficar para sempre obrigado à dívida do endosso, por isso, depois de vencido e protestado, terá direito a se defender como se o título tivesse sido repassado por cessão civil. 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 50 6.3 ESPÉCIES DE AVAL DICA: Quem dá aval é amigo. Sendo amigo, assina somente na FRENTE (anverso). Se ele é amigo, é amigo antes, durante ou depois (aval produz efeitos antes, durante e depois do vencimento e protesto). 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 516.4 AUTORIZAÇÃO DO CÔNJUGE O art. 1.647 do CC prevê que o aval precisa de autorização do cônjuge, tal regra aplica-se aos títulos existentes quando a lei especial não tratava do assunto. Assim, a ausência da autorização do cônjuge na prestação do aval, era causa de nulidade. O STJ, em mudança de entendimento, passou a entender que a regra do art. 1.647 do CC aplica-se apenas aos títulos de créditos atípicos/inominados. Os títulos existentes, regulados em leis especiais, não sofrerão a incidência do inciso III do referido artigo. 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 52 6.4 AUTORIZAÇÃO DO CÔNJUGE Vejamos a explicação do Dizer o Direito no Informativo 604 do STJ. O art. 1.647, III, do Código Civil de 2002 previu que uma pessoa casada somente pode prestar aval se houver autorização do seu cônjuge (exceção: se o regime de bens for da separação absoluta). Essa norma exige uma interpretação razoável e restritiva, sob pena de descaracterizar o aval como instituto cambiário. Diante disso, o STJ afirmou que esse art. 1.647, III, do CC somente é aplicado para os títulos de créditos inominados, considerando que eles são regidos pelo Código Civil. Por outro lado, os títulos de créditos nominados (típicos), que são regidos por leis especiais, não precisam obedecer a essa regra do art. 1.647, III, do CC. Em suma, o aval dado aos títulos de créditos nominados (típicos) prescinde de outorga uxória ou marital. Exemplos de títulos de créditos nominados: letra de câmbio, nota promissória, cheque, duplicata, cédulas e notas de crédito. 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 53 6.4 AUTORIZAÇÃO DO CÔNJUGE STJ. 3ª Turma. REsp 1526560-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 16/3/2017 (Info 604). STJ. 4ª Turma. REsp 1633399-SP, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, julgado em 10/11/2016. Conforme já explicado, no que tange aos títulos de crédito nominados, o Código Civil tem uma aplicação apenas subsidiária, respeitando-se as disposições especiais, pois o objetivo básico da regulamentação dos títulos de crédito, no Código Civil, foi apenas o de permitir a criação dos denominados títulos atípicos ou inominados. 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 54 6.4 AUTORIZAÇÃO DO CÔNJUGE Assim, não deve ser aplicado art. 1.647, III, do CC aos títulos nominados porque esta regra é incompatível com as características dos títulos de crédito típicos. A exigência de autorização do cônjuge do avalista enfraquece a garantia dos títulos de crédito, gerando intranquilidade e insegurança. O aval consiste em uma declaração unilateral de vontade inserida no próprio título por meio da qual o avalista declara garantir o pagamento do valor inscrito no título. É, portanto, um instituto comercial muito mais ágil e informal do que a fiança, que é feita por intermédio de contrato. 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 55 6.4 AUTORIZAÇÃO DO CÔNJUGE A outorga uxória ou marital é compatível com o contrato de fiança, mas não com o aval que, como dito, é uma declaração unilateral. O portador do título de crédito, em regra, não tem contato algum com o avalista e, menos ainda, com algum documento de identificação deste por meio do qual possa descobrir seu estado civil. 6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO 56 6.5 AVAL X FIANÇA 57 BIBLIOGRAFIA > CAVALLI, Cássio M. O Direito da Empresa no novo Código Civil. Revista dos Tribunais, vol. 828, p. 43, Out/2004. > CADERNOS SISTEMATIZADOS, Direito Empresarial, 2023. > NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Empresarial - 11ª Edição 2021. Saraiva Jur. Edição Kindle. > PEREIRA, Fábio Q. As origens do Direito Comercial e a sua formação enquanto espaço de exceção. Rev. Fac. Direito UFMG, Belo Horizonte, n. 65, pp. 199 - 217, jul./dez. 2014. > RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial: Volume Único. 10. ed.. Rio de Janeiro: Forense, 2020.