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O culto público e solene a Deus é a atividade mais importante e magnífica que realizamos em nossas vidas, é o maior privilégio que temos. Por isso, desrespeitá-lo, esquecê-lo, ou negligenciá-lo é um dos maiores pecados que podemos cometer. Portanto, este livro, do Orlando III, é extremamente necessário para que resgatemos uma visão sublime do culto a Deus e a centralidade da Palavra nele, que deve ser a nossa única regra de fé e prática em todos os assuntos, principalmente do culto a Deus. Somos convocados a adorar a Deus como Ele quer ser adorado, não de acordo com as invenções dos homens, ou como nós achamos melhor ou nos agrada. E no culto que Deus nos ordena em sua Palavra, a pregação da mesma se constitui o seu ápice. Assim podemos nos perguntar: Como ouvi-la corretamente? Como aproveitar o máximo dela? Como me preparar para ela? Como aplicar ela a minha vida após ouvi-la? Como ela afeta o resto dos meus dias da semana? Essas e muitas outras perguntas são sabia e biblicamente respondidas neste livro. Se você deseja adorar e glorificar a Deus como Ele requer de nós, e assim crescer espiritualmente e desfrutar de uma fé viva no Senhor; se você deseja usufruir da pregação da Palavra da melhor maneira possível, mesmo que seja uma pregação ruim; se você, como um pregador, deseja oferecer uma pregação mais bíblica e nutritiva para seu povo; este livro é indispensável para você. Ele é prazeroso de se ler, simples e direto, fácil de entender e o mais importante, fundamentado na Bíblia, a Palavra de Deus. Que Deus, por Sua graça e para Sua própria Glória, use este livro para conceder a nós, e às nossas igrejas, uma adoração verdadeira a Ele, e assim nos deleitemos e sejamos continuamente edificados pela pregação da Palavra. SDG Átila Barros de Sousa Aspirante ao episcopado e grande irmão na fé Algo que assola a Igreja evangélica brasileira é a sua ignorância quanto ao culto a Deus. Em nosso tempo, vemos cultos que vão ao encontro do cliente, porque Igrejas se tornaram empresas e seus membros consumidores. Um culto segundo o padrão de Deus, que é revelado nas Escrituras, é distinto em muitos lugares. Os cultos que não honram a Palavra de Deus, tem a tendência a se tornarem bizarros. O que precisamos para reverter tudo isso? Uma volta as Escrituras! Esse livro do Orlando III vai te ensinar a fazer isso. Essa obra vai abordar a necessidade e urgência das Escrituras serem o centro do culto. Um culto que glorifica a Deus é um culto segundo as Escrituras. O Reverendo Brian Schwetley acerta quando diz: “Crentes reformados de hoje precisam entender a relação que existe entre a ideia teológica sola Scriptura e o princípio regulador do culto. As razões que tal entendimento é necessário são múltiplas. Primeiro, o princípio regulador do culto está diretamente relacionado às doutrinas sola Scriptura, como a infalibilidade, autoridade absoluta, suficiência e perfeição das Escrituras. Os reformadores calvinistas e as confissões Reformadas muitas vezes usavam referidas passagens sola Scriptura (por exemplo, Dt. 4:2, Pv. 30:6), como textos de prova para o princípio regulador do culto. Quando sola Scriptura é aplicada consistentemente para adorar, o resultado é santidade e adoração reformada.” (Copyright © Brian Schwertley, Lansing MI, 2000) O culto a Deus, nunca deve se basear em nossos sentidos ou em nossas experiências, quanto ao que achamos melhor ou pior no culto, ou como vamos agradar os visitantes. Não, não pode ser assim, o culto deve ser pautado pelas Escrituras, a revelação proposicional de Deus aos homens. O Sola Scriptura é um princípio epistemológico. Sobre esse lema, alguns dizem que podemos ter como base epistemológica a confiança nas experiências sensoriais e que o Sola Scriptura ensina isso. Com base nisso, alegam ainda que Deus não fala mais por visão, sonhos ou profecias fora das Escrituras, caso isso acontecesse, violaria o princípio epistemológico do Sola Scriptura. Entendendo esse ponto, podemos afirmar que as experiências sensoriais que alegam ter não violariam o princípio Sola Scriptura? Podemos adquirir algum tipo de conhecimento proposicional fora das Escrituras? Existe um algum número de proposições fora das Escrituras? Se existe, isso não afeta o princípio Sola Scriptura? Com essas alegações, perguntamos: É melhor confiar em Deus que conhece toda a Verdade, o que Ele fala nas Escrituras e também fora delas ou confiar nas experiências humanas sensoriais? Note que isso exige um princípio de autoridade. Deus falar fora das Escrituras não afeta o princípio Sola Scriptura, porque Ele ensina isso nesse princípio. Mesmo que subordinado a ele, mas ensina. Em quem vamos confiar: Em Deus ou em nossas experiências sensoriais? E note outra coisa, para alegarmos o princípio epistemológico do Sola Scriptura, é necessário pressupor o princípio Sola Scriptura. Ou seja, um pré-conhecimento antes por uma revelação, causação ou iluminação de Deus, seja como você queira definir. Na verdade, o princípio está em Deus. Por fim, recomendo, sem sombra de dúvidas, essa obra do meu amigo e irmão em Cristo, o pastor Orlando III. O livro tem uma leitura fascinante de fácil compreensão, com muito conteúdo bíblico e teológico. Além disso, ele pode ser usado em estudos de pequenos grupos familiares ou escolas bíblicas dominicais, pois vem com alguns questionários onde o leitor pode responder sobre o que tem lido e aprendido. Prof. Edu Marques Reitor e Docente no IBETEC – Educação Teológica e Missionário Presbiteriano e um professor querido O Orlando tem sido uma pessoa muito interessada e muito fiel na divulgação da Verdade da Escritura, eu espero que seus escritos sirvam de influência a muitas vidas e que as pessoas tenham mais desejo de estudarem a Palavra de Deus, que esses escritos sejam um meio que Deus use para Glorificar a Si mesmo e iluminar pessoas na escuridão intelectual. Desejo a todos uma boa leitura. Yuri Schein Escritor dos livros “Ocasionalismo: Epistemologia e Metafísica Bíblica” e “Espada do Espírito: O Poder e Autoridade da Escritura Sagrada”, além de amigo de grande conhecimento Informações Título: O Culto e a Palavra Subtítulo: Como cultuar e glorificar a Deus com a pregação Autor: Orlando III Revisão: Leonardo Barros de Sousa Edição e Diagramação: Orlando III Capa: Orlando III Ano: 2022 Local: Ubatuba – SP 1ª edição, 2022 TODOS OS DIREITOS DISPONIBILIZADOS, MAS RESTRITOS À CITAÇÃO, POR ORLANDO RIBEIRO LEITE NETO. NÃO ACREDITAMOS EM PROPRIEDADE INTELECTUAL, MAS É NECESSÁRIO EXISTIR RECONHECIMENTO AUTORAL. Dados para citação ORLANDO III, O Culto e a Palavra: Como cultuar e glorificar a Deus com a pregação, Ubatuba, SP: publicação independente. 1ª Edição, 2022. Todas as citações bíblicas foram retiradas da versão Almeida Revista e Atualizada, salvo indicação em contrário. Agradecimentos Dedico minha obra, primeiramente ao meu Senhor Jesus Cristo, que me levou ao Pai e tornou meu conhecimento cativo a verdade revelada desse Deus Triuno. Sou grato ao Espírito que me incomodou de tal modo que esse livreto viesse à existência, partindo de discussões com irmãos na fé e ideias suscitadas em meio a tantas provações. Sou grato também aos meus pais que em momento nenhum desistiram de mim, mas foram faróis usados por Deus para que eu encontrasse a Verdade e a amasse de todo o meu coração. Por fim, sou grato a Comunidade Cristã Reformada que me permitiu ver como pode existir uma igreja bíblica em meio a esse caos que o mundo evangélico vive. Nesses irmãos tão queridos tive a oportunidade de compreender e preencher com amor e vitalidade tudo que falo aqui. (Obrigado meu querido revisor que suportou as minhas doideiras linguísticas, com as quais você teve que se adaptar, por conta da minha personalidade de escritor). Prefácio O que o leitor encontrará nesse livro é um resumo didático que fiz de parte do que estudei sobre o culto a Deus. Eu tive oportunidade de ver muitas heresias e, também, bons testemunhos do evangelho, durante todos esses anos como cristão; assim, percebia necessidade de aprender mais sobre o tema e como eu poderia auxiliar a igreja. Passei várias noites em conversas regadas pela Bíblia, discutindo os problemas que eu e alguns irmãos víamos nas igrejas; formulei muitos insights, motivos de oração e de consolo também. O que entrego a você, querido leitor, é um pouco do que sei sobre o tema, com o fim de te ajudar ou, até mesmo, de te munir com fundamento sólido para lutar pela verdade e trazer vários irmãos para o caminho do Senhor. Ao Senhor pertence a salvação, o poder, a honra, a glória e tudo o mais. Ele é rei. Ele merece honra e glória com essa obra. Introdução A pregação é o alimento da fé cristã evangélica, é a genuína formação do indivíduo cristão e a aproximação do Trono de Deus pela própria Palavra, a qual é viva e eficaz sob o crente, o fazendo cada vez mais ser separado do mal e do passageiro e o colocando, por consequência, cada vez mais próximo do bom, belo, verdadeiro e eterno que é e está em Deus, ou podemos dizer, a pregação é usada como (1) transformação, tanto do não-convertido que se converte, como do cristão verdadeiro que é santificado e fortalecido; (2) ela eleva a mente para algo maior e melhor, nos fazendo perceber o todo a nossa volta com um olhar muito mais contemplativo e transcendente; e (3) a pregação nos faz adorar objetivamente a Deus, sendo um sacrifício de louvor conjunto da congregação no ápice do seu culto ao Senhor, que é a leitura, explicação, aplicação e vivência da Revelação em cada coração cristão. Deus nos instituiu um único sacrifício cerimonial no Novo Testamento, que está envolvido com todas as ordenanças que Cristo e os apóstolos nos deram, que é o sacrifício de louvor (Hb 13:15). Glorificar a Deus é a nossa necessidade maior, é o porquê fomos criados, conforme o Breve Catecismo de Westminster nos diz na resposta da sua primeira pergunta “o fim principal do homem é glorificar a Deus...”1, e o glorificar é viver conforme o seu querer, em concordância com o que é Revelado na Palavra do Senhor. Se vivemos o que nos é ordenado, começamos a viver o que é dito no resto da resposta da primeira pergunta do BCW: “... [ao] deleitar-se nele para sempre”; pois vamos nos tornando cada vez mais íntimos do Senhor, seremos tocados e abraçados por sua Palavra, que é o próprio Cristo. E a intimidade com o Senhor é a maior proteção que temos contra Satanás, o mundo e nossa carne. Como é bem estabelecido na Bíblia, principalmente no Novo Testamento, a forma de culto a Deus tem que ser envolvida na sua Palavra, tem que ter como núcleo e fundamento sua Lei e Ordenanças, seu sopro oracular. É em Deus que temos sentido e sucesso em nosso culto, porque Ele é o motivo e o desejo de culto, e Ele mesmo definiu como se revelaria e o que essa Revelação seria para nós. A Revelação é a ferramenta de vida do cristão, o meio usado por Deus, com teu Espírito, para nos ensinar e nos fazer crescer, para amadurecermos e o adorarmos. Assim, não podemos tornar nosso culto uma experiência do interior do nosso coração, se o nosso coração não estiver preenchido do Espírito com a consciência da Palavra, pois senão seremos apenas pessoas balbuciando qualquer coisa a um deus morto, um senhor fraco, um fruto da nossa porca imaginação. Infelizmente, em nosso tempo, o culto tem sido fruto dessa imaginação infame que destrata a Palavra de Deus, colocando o desejo humano como prioridade. E eis o grande problema, pois segundo a Escritura, o homem é mal (Gênesis. 6:5), desejoso em se satisfazer num apetite desordenado (Colossenses 3:5) e profanador do culto a Deus (Ezequiel 22:26). Assim, podemos perguntar, não há solução ao homem? Claro que há, pois em Deus recebemos a reconciliação (2 Coríntios 5:19) e a nós que por graça fomos salvos, é dada a missão de levar a Palavra da salvação, o meio da reconciliação do homem com Deus. Nossa missão só pode ser cumprida se, por meio do Espírito, nós vivemos e anunciamos a Palavra de Deus, não uma palavra humana vinda de nossas mentes, mas sim a Palavra do Senhor por seu Espírito poderoso (1 Tessalonicenses 1:5). Como a igreja em Atos fazia, nós somos compelidos e animados a levarmos, com toda intrepidez no Espírito, a palavra de poder que é de Deus (Atos 4:31), palavra essa que não tem a característica de persuasão e argumentação humana, mas provém do próprio Espírito de Deus (1 Coríntios 2:4). O culto a Deus é regido por sua Revelação Especial, essa palavra de Poder que provém do Espírito e é suficiente a todos os homens. Como Cheung diz “A Bíblia é suficiente para todos — para ensinar crianças, para equipar ministros e para confrontar apóstatas endurecidos e detratores hostis.”2 E essa mesma é perfeitamente suficiente, justamente por vir direto do próprio Deus, como é dito pelo apóstolo Paulo “A Escritura é inspirada por Deus” (2 Timóteo 3:16). A suficiência da Escritura é um ponto, já citado, mas extremamente necessário para nosso pensamento aqui. Essa doutrina nos ensina que é da Palavra de Deus que vem os conhecimentos necessários “para a glória dele [de Deus] e para a salvação, fé e vida do homem” (CFW I:VI). A Bíblia é nosso manual de vida, dela tiramos a proposições para viver nesse mundo, para entender esse mundo e, principalmente, para glorificarmos a Deus nesse mundo. Sua suficiência está em ser completa no que ela propõe; pois sendo a Revelação de Deus, ela está nos revelando verdades inegáveis, verdades substâncias, pois a própria Verdade a deu a nós (Jo 14:6 e Jo 17:17) Se a Escritura tem a sua suficiência em ser nosso manual de vida para glorificarmos a Deus, fica implícito que ela é o manual de culto a Deus, pois trata também da verdade sobre o culto, do verdadeiro culto ao Senhor. O nosso culto a Deus deve ser conforme a Bíblia ordena, afinal isso significa ser conforme Deus ordena3. O culto não deve conter o que os homens acham, nem suas tradições e filosofia (Cl 2:8), mas sim tudo que o santo Deus Triuno nos ensina e obriga. Se feito dessa forma, o nosso culto vai glorificar a Deus, e por implicação lógica, nos ensinar mais e mais. Claro que, quando analisando o culto a Deus, entendemos que todos os participantes devem ser ativos, mesmo que tendo pessoas chamadas para uma função específica (no caso o pastor conduzindo a liturgia e a pregação), mas não pode haver inatividade por parte dos que ouvem. Antes, desde o coração até as “mãos”4, devem estar em atitude reverente ao Senhor. Nós devemos em toda a liturgia que segue o culto estarmos totalmente atentos, com os ouvidos “abertos” a ouvir e com a mente ativa para a elevarmos a Deus, de forma que cada cântico, cada verso lido e cada explicação seja um motivador de glorificarmos ao Senhor, fazendo nossos pensamentos chegarem até Deus como aroma suave que o alegrará (Gn 8:21). Dito isso, eu sinceramente espero que esse livro glorifique a Deus e o ajude, querido irmão ou querida irmã, a fazer o mesmo. Nosso culto precisa ser reformado, nossas vidas precisam ser inundadas pelo Espírito Santo; e que comecemos com a forma como fazemos nosso culto, em especial no ápice dele que é a pregação da sua Palavra. Que você consiga, após ter lido esse livro, aproveitar mais as pregações, os devocionais e EBDs que venha participar, pois esse é o meu objetivo com tal manuscrito. Deus me guiou a perceber, por meio de várias experiências pregando e ouvindo pregações, que nos falta sermos mais atentos a esse excelente ofício que Deus deu a igreja, pois sendo um dos órgãos vitais da igreja (Ef 4:11-16), a pregação, principalmente o sermão dominical, deve ser aproveitado ao máximo para o nosso benefício e glorificação de Deus. Assim sendo, peço perdão desde já pelos meus erros e espero que o Santo Espírito de Deus te ilumine e eleve sua alma para compreender mais o mistério de Deus e suas ordenanças. A Ele toda honra e glória eternamente. Capítulo 1 – A Escritura Sagrada A única fonte da nossa fé e prática é a Escritura Sagrada, a Bíblia. Conforme o Breve Catecismo de Westminster nos diz em sua segunda pergunta “Que regra Deus nos deu para nosdirigir na maneira de o glorificar e de nos alegrarmos nele? Resposta: A Palavra de Deus, que se acha nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos, é a única regra para nos dirigir na maneira de o glorificar e de nos alegrarmos nele.”5 Os teólogos de Westminster, partindo da primeira pergunta do BCW, que já citamos, constrói essa questão supracitada para dar a direção de como glorificamos a Deus e como temos prazer nEle. Ao tratarmos de qualquer questão da vida humana, se somos de fato cristãos, começaremos pelo que a Escritura tem a dizer sobre; desse modo, eu gostaria de usar a própria Escritura para nos fundamentarmos no que realmente ela é. A Escritura tem atributos próprios, sendo a Palavra de Deus dada aos homens, ela se compõe de duas características que, se bem entendidas e aplicadas em nossas vidas, farão transbordar muito mais o amor a Deus e a sua vontade. Tais características são: a Bíblia é infalível e suficiente. Teríamos outras características a declarar e expor sobre a Escritura, mas vejo que essas duas darão conta do que pretendo com esse capítulo. I. A Escritura é infalível De início, existe uma declaração dada por Paulo que sempre é usada para fundamentar toda discussão sobre a infalibilidade da Bíblia. Paulo na sua segunda carta a Timóteo, no capítulo 3, verso 16 e 17 nos diz que “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” O começo do verso citado diz que a Escritura foi inspirada por Deus, porém essa é uma tradução que pode levar a entendimentos errôneos, pois pode parecer nos dar a ideia de uma pessoa que nos inspira para algo, como uma motivação. Na realidade, o termo seria algo como soprada, pois Deus deu a Escritura ao homem, Ele a soprou aos homens que escolheu para que a escrevessem. “Se por inspiração queremos nos referir ao sopro de Deus, então um texto é inspirado ou não, e textos inspirados são a mesma coisa que o sopro de Deus.”6 Sendo assim, Paulo está nos informando que Deus deu a Escritura, nada menos incisivo devemos pensar sobre essa doutrina, senão que o próprio Deus, não sendo homem para mentir (Nm 23:19), nos dá pela Palavra verdades inegáveis e inerrantes, pois o termo enfatiza a natureza da Escritura — dada por Deus —, e que ela é diretamente dada por esse em termos de conteúdo. Deus escreveu sobre as tábuas de pedra quando deu os Dez Mandamentos, contudo, o restante da Bíblia veio dele tanto quanto aqueles, de sorte que não haveria nenhuma diferença essencial se Deus tomasse uma caneta e escrevesse toda a Escritura sem usar escritores humanos. A palavra “sopro de Deus” nos proíbe de tirar uma conclusão menos enfática.7 Só com esse verso de Paulo, a clareza da infalibilidade da Escritura já é mais que suficiente. Porém, a título de demonstrar mais ainda o poder do Senhor em nos dar sua Palavra, vamos continuar. Pedro nos narra que a Palavra não veio, em momento algum, da vontade ou manipulação dos homens, “nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.” (2 Pe 1:20-21), assim, o Espírito Santo, sendo a terceira pessoa da Trindade, foi quem levou o sopro e inspiração que fizeram os homens santos escreverem a Bíblia. Foi Deus quem falou, não os homens — ele falou por meio de homens. A implicação é clara — as palavras da Escritura são tão “da parte de Deus” que é como se elas tivessem vindo diretamente “da boca do Senhor”, e, na realidade, elas vieram. Portanto, não devemos fazer nenhuma distinção entre as palavras da Escritura e as palavras de Deus.8 A Palavra é, com toda certeza, infalível porque veio de Deus, o próprio Senhor e Criador de tudo, que desejando salvar alguns, escolheu reservar o seu conhecimento revelado aos homens em palavras que formam os 66 livros da Escritura, como é dito na CFW “foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda.”(Cap. 1, Seção I) Isso tudo acima citado, só é possível porque o Deus que nós servimos é Senhor de tudo (Sl 119:91), onipotente (Is 43:13), onisciente (Hb 4:13), onipresente (Sl 13:1-2, 7), majestoso (Sl 8:1), justo (Dt 32:4), santo (Is 6:3), bondoso (Êx 34:6), misericordioso (Sl 145:8) e amoroso (1 Jo 4:7-8). Conforme Rushdoony diz, acerca de Deus ser quem é, e por consequência, o que podemos esperar da sua Palavra: “Deus, que não pode mentir, é, dessa forma, verdade para sempre, e tudo o que ele é e faz é verdade. Assim, a palavra proferida por Deus é obrigatoriamente infalível.” Desse modo, se Ele em sua grandíssima misericórdia não desejasse manifestar o seu ser por meio da sua Palavra, se Ele não quisesse mudar nossa história, a Bíblia nunca teria vindo até nós. E podemos dizer o oposto, por questão didática e de devoção que, justamente porque Ele é amoroso e bondoso para conosco, é que recebemos sua revelação, que se encontra registrada na Bíblia Sagrada. O que me faz pensar em alguns questionamentos sobre nossas atitudes com a Palavra de Deus... Como podemos pensar em ser negligentes com tamanha riqueza de conhecimento? Como podemos ser tão irreverentes com a Escritura? E como podemos adorar e agradecer ao Senhor pela salvação, se não ouvimos a sua Voz e não pegamos em teu livro para nos deleitarmos? Por fim, sendo a Revelação infalível e tratando de um Deus tão perfeito e real, só podemos concluir que o fim que a Palavra nos leva é a glorificar o Senhor e vivermos felizes. E, para o conforto nessa vida, nas Sagradas Letras recebemos o devido conhecimento para viver e agir nessa terra, pois ela, a Revelação, é suficiente para nosso entendimento de nós mesmos, do mundo e, principalmente, de Deus. II. A Escritura é suficiente A Escritura é infalível, isso já ficou mais que claro para nós. Sendo infalível e inerrante, ela traz consigo, naturalmente, o aspecto da suficiência, ou seja, acompanhando novamente o que Paulo diz (grifo próprio) “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” Conforme bem explica Cheung, em sua Teologia Sistemática: A doutrina [da suficiência] afirma que a Bíblia contém informação suficiente para alguém, não somente para encontrar a salvação em Cristo, mas para, subsequentemente, receber instrução e direção em todo aspecto da vida e pensamento, seja por declarações explícitas da Escritura, ou por inferências dela necessariamente retiradas. A Bíblia contém tudo que é necessário para construir uma cosmovisão cristã compreensiva que nos capacite a ter uma verdadeira visão da realidade. A Escritura nos transmite, não somente a vontade de Deus em assuntos gerais da fé e conduta cristãs, mas, ao aplicar preceitos bíblicos, podemos também conhecer sua vontade em nossas decisões específicas e pessoais. Tudo que precisamos saber como cristãos é encontrado na Bíblia, seja no âmbito familiar, do trabalho ou da igreja.9 Ou seja, a Escritura como sopro de Deus tem uma utilidade, uma finalidade para a qual nos foi dada. Sei que em alguma medida já tratamos desse assunto com a segunda pergunta do BCW que citamos, mas precisamos destrinchar um pouco mais desse assunto e a exposição objetiva desses versículos supracitados nos ajudará (exposição objetiva significa que não exaurirei o máximo do conteúdo que pode se extrair desse texto, mas sim expor de uma forma aplicável objetivamente, sem rodeios que, para o momento não nos cabem, mas muitas vezes são necessários)10. Uma nota é necessária, quando tratamosda utilidade da Palavra, estamos aplicando a sua suficiência, pois fica claro que ela é suficiente em fazer tais coisas descritas no texto, no caso ensinar, repreender, corrigir e educar para a justiça. Isso tudo, seguindo o texto, se refere a uma suficiência e utilidade ao homem de Deus, o qual se tornará aperfeiçoado e preparado para toda boa obra. A utilidade da Bíblia é descrita por Paulo, primeiramente, como sendo “útil ao ensino”: começaremos por definir melhor esse termo, aqui Paulo pretende usar um termo que pode ser mais bem traduzido por “útil a doutrina”, o que já nos destaca a importância primária da Escritura. Ela é a autoridade suficiente e útil para a nossa doutrina, não precisamos de nada além dela para nos expor e ensinar a doutrina de Deus. A Escritura é útil e suficiente para o ensino porque, se a Bíblia afirma algo, ela é a palavra de Deus sobre o assunto, e isso dirime a questão. Nenhuma confirmação adicional é requerida e qualquer evidência extrabíblica citada como suporte possuiria, de fato, uma autoridade infinitamente inferior, de forma que seu valor racional seria ínfimo.11 O texto continua, útil “para a repreensão”: aqui nesse termo Paulo deseja que Timóteo entenda que a Palavra de Deus é útil para debater e refutar toda e qualquer falsa doutrina. A ideia de Paulo é que seu discípulo entenda que a Escritura, além de nos dar um sistema perfeito de conclusões doutrinais, ela nos fundamenta o suficiente para derrubarmos todas as outras ideias que não correspondem a verdade bíblica. A Bíblia é uma espada de ataque e defesa, ou seja, ela pode manifestar a verdade de forma irrefutável (Hb 4:12) e, também, pode nos fazer sobrepujar os ataques do inimigo (Ef 6:17). Toda a Escritura é útil “para a correção”: nessa parte a questão moral está em pauta, ela nos doutrina e nos ajuda a refutar o erro, mas mais ainda, sendo o sopro de Deus, a Bíblia traz a autoridade divina para a questão, assim sendo, ela nos mostra o que Deus requer do homem, como Ele define o que é bom para o homem fazer e o que é mal para o homem evitar. O termo “correção” significa que há um delito a ser resolvido, e como sabemos, o homem sendo mal é tendencioso a seguir o seu coração e não a Deus, assim a Palavra serve como fundamento ético, as ações que o homem deve tomar na vida, e as que ele deve evitar, estão claras ou logicamente expostas na Escritura. Por fim, Paulo diz que a Escritura é útil “para a educação na justiça”: nesse sentido, o termo educação vem de paideia, que é um termo grego que remetia para eles toda a ideia de um treinamento completo do corpo e da mente, uma educação toda estruturada e bem estabelecida, formada por disciplina e conteúdo de altíssima qualidade. Ou seja, Paulo quer dizer à Timóteo que a Escritura ensina de forma completa na justiça, ou seja, além de nos corrigir no nosso delito, ela nos dá um treinamento intenso e vivo na justiça, na forma que um justo deve viver, segundo Deus. E o encerramento feito no versículo 17 define muito bem o objetivo, que é comentado por Cheung: a Bíblia contém informação suficiente para que o homem de Deus possa estar plenamente equipado para toda boa obra. Em outras palavras, a Bíblia contém um completo sistema moral. Ela é suficiente e proveitosa para fornecer instrução e orientação moral e para definir o bem e o mal. Ela é a palavra primeira e última em todas as considerações morais e deve ser a corte de apelação primeira e última para todos os debates e discussões morais.12 III. A Escritura é nosso fundamento da verdade, ou nosso axioma epistemológico Todo ser humano tem um conceito de como a verdade é alcançada, ou seja, qual é o fundamento de onde vem o conhecimento. Todo sistema filosófico e cosmovisão tem isso definido, ou ao menos vivem sem declaração oficial uma epistemologia, termo esse que significa uma teoria do conhecimento, que é um conceito e ideia de como podemos conhecer. R. J. Rushdoony, analisando a infalibilidade da Palavra e a nossa teoria cristã do conhecimento, ele diz: Várias filosofias trazem implícita certa forma camuflada de infalibilidade, i.e., a razão, o método científico, a experiência, e assim por diante. Todo sistema de pensamento tem implicitamente a sua doutrina da verdade; embora disfarçadas com negações modestas, cada uma delas assenta-se num fundamento de pressuposições que definem e identificam a verdade.13 O cristão tem sua epistemologia como a Palavra de Deus (Sl 119:66), até aqui isso já deve estar explícito, porém somos falhos em concluir o óbvio muitas vezes. Para nós, povo de Deus, a Escritura nos informa de modo fundacional o conhecimento verdadeiro, pois sendo Palavra de Deus, ela traz a verdade por si mesma, e quando a analisamos buscando bases para a explicação das coisas e das ideias, ela nos fundamenta infalível e suficientemente em tudo quanto é necessário. Nós precisamos ter essa realidade em nossas vidas, a Palavra de Deus é por nós recebida como fonte principal, axiomática do conhecimento. Axioma significa um princípio indemonstrável, ou seja, um fundamento do conhecimento que só pode ser demonstrado verdadeiro se as proposições retiradas dele forem verdadeiras, aplicáveis, demonstráveis ou praticáveis14, claro que estou sendo, com motivo, muito reducionista na explicação, assim em resumo, o axioma é a base do conhecimento e ele se prova verdadeiro se o que fundamenta é real. W. Gary Crampton, ao analisar a filosofia e teologia de Gordon Clark, expõe um pouco sobre o tema: Gordon Clark afirmou que a Palavra de Deus não é tinta preta sobre papel branco. A Palavra de Deus é eterna; as páginas impressas da Bíblia não o são. As letras ou palavras sobre as páginas impressas são sinais ou símbolos que significam a verdade eterna — a mente de Deus—, comunicada por Deus de forma direta e imediata à mente humana. O dr. Clark, com certeza, não rebaixou o aspecto físico da humanidade. Ele reconheceu ter Deus criado a mente do homem e seu corpo, incluindo-se os sentidos. Mas nem a mente nem os sentidos são fontes de conhecimento. Como Paulo escreveu: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam (1 Co 2.9). Ou como Jesus disse; “Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus” (Mt 16.17). [...] a mesma verdade existente na mente do homem existe em primeiro lugar na mente de Deus. [...] O conhecimento, então, que o homem tem de Deus e da criação não é derivado de meios empíricos nem racionais. Nem ele é em algum sentido um conhecimento mediado. Antes, de acordo com o dr. Clark, todo o conhecimento é imediato, revelacional e proposicional. É o “professor interno", Jesus Cristo, o Logos divino, que ensina o homem, e não os sentidos na interação com a criação. Isso é verdade mesmo quando diz respeito às páginas impressas da Bíblia. Todo discurso ou comunicação é uma questão de palavras e palavras (mesmo as encontradas na sagrada Escritura) são sinais com significado. Quando sinais são usados, o recipiente, para entender, deve já conhecer interiormente o que é significado. A parte desse conhecimento interior, ensinou o dr. Clark, os sinais não teriam sentido." [...] “Se o homem conhece algo, ele deve conhecer uma verdade que Deus conhece, pois Deus conhece todas as verdades” [citando o próprio Clark]15 Por que toda essa explicação, afinal? Bom, a finalidade é que possamos entender com a maior precisão possível o que a Escritura deve ser para nós, como cristãos que confessamos ser. É nosso dever, para a glória de Deus e avanço do Teu reino, estarmos preparados e capacitados para respondermos aos nossos detratores (1 Pe 3:15) e, na nossa vida cotidiana, conseguirmos cumprir todo o conselho de Deus (At 20:27). Se a nossa vida é fundamentada pela Bíblia, devemos ter toda a reverência por ela, sendo Palavra de Deus, e todo o desejo de cumprir as suas verdades reveladas que são inabaláveis, irrefutáveis e inegáveis. Conclusão Entendemos agora,com mais clareza, que a Escritura é (1) infalível, pois foi dada por um Deus Todo-Poderoso, o qual é perfeito e eterno em seu ser, sendo sábio e todo conhecedor, logo em nada falha, assim sua revelação também não falha. A Escritura também é (2) suficiente, pois sendo infalível, seu objetivo não pode ser frustrado, mas pelo contrário, é facilmente cumprido; e (3) o objetivo da Bíblia é nos ensinar para vivermos nesse mundo glorificando a Deus e tendo plena alegria nEle. Todas essas coisas, sendo fatos inegáveis, fazem da Palavra de Deus a nossa fonte da verdade, o nosso axioma e base da nossa epistemologia, como foi explicado acima. Assim sendo, se levamos essas verdades a nossa mente e a nossa vida, não poderemos ser fracassados, inertes ou infrutíferos em nosso culto ao Senhor Eterno que nos deu a salvação. Ao contrário, seremos os mais felizes dentre os homens, teremos prazer em um culto bíblico e uma devoção que busca ser preenchida pela verdade de Deus, por meio do Santo Espírito. Que nossas mentes sejam renovadas por meio de tudo que aprendemos nesse capítulo, que vocês, meus irmãos e irmãs, possam tornar cada vez mais sua vida, uma vida que segue toda a Lei do Senhor, meditando de dia e de noite nela (Sl 1:2) e buscando, em cada culto, ser mais preparado para cumprir o bom louvor ao Senhor (Is 42:10). Perguntas para a revisão 1 – Qual foi o meio que Deus nos deu para aprendermos a glorificar a Ele e, com isso, nos alegrarmos eternamente? 2 – Quais as características da Escritura que trabalhos nesse capítulo? 3 – O que significa dizer que a Escritura é infalível? 4 – O que significa dizer que a Escritura é suficiente? 5 – O que é epistemologia? 6 – O que é um axioma? 7 – Qual é a nossa epistemologia e o nosso axioma? Leituras sugeridas: A inspiração divina da Bíblia – A. W. Pink Como estudar a Bíblia – John MacArthur Infalibilidade e interpretação – R. J. Rushdoony & P. Andrew Sandlin Introdução a Teologia Sistemática – Vincent Cheung Lendo a Bíblia – J. C. Ryle O Ministério da Palavra – Vincent Cheung Os Símbolos de Fé de Westminster Capítulo 2 – O Culto Cristão No culto público, no Dia do Senhor, os crentes glorificam a Deus e dele desfrutam de forma apenas comparável ao culto em que todos os santos tomarão parte no final dos tempos, no novo céu e na nova terra. Porque, no Dia do Senhor, quando os crentes se reúnem com os demais membros da sua congregação na presença de Deus, eles também se ajuntam às hostes invisíveis de anjos e santos, antecipando, assim, o culto que caracterizará a vida deles na Jerusalém celestial16 Jon Payne O cristão verdadeiro é, acima de tudo, um pecador redimido que vive para adorar a Deus, que entendeu sua miserabilidade e podridão, isto é, que esse Senhor bondoso lhe salvou de si mesmo, num estado de serventia ao mal, e o colocou na melhor posição possível, que é a de filho desse Deus Triuno, pessoal e amoroso. Nessas condições só podemos pensar em adorar a esse Deus, e mais, só podemos ter desejo e disposição de assim fazê-lo. Mas infelizmente, dentre tantas coisas que não são como deveriam, porém, nada fugindo do controle de Deus, o culto a Ele tem sido extremamente desrespeitado por muitos, e também esquecido por alguns, e negligenciado por outros tantos. Pois, (1) alguns se achando senhores de si e do culto, tem o feito como lhes apraz, segundo o desejo do seu coração; (2) outros simplesmente pela fraqueza de doutrina e maturidade cristã, têm esquecido como deve ser o culto a Deus e permitem que os detratores o mudem; e (3) outros que são conhecedores e maturados nesse entendimento, por preferência ou simples falta de sensibilidade espiritual para discernir o mal, permitem que o culto seja feito de qualquer forma, mesmo que com a estrutura certa, mas sem o conteúdo e o coração disposto, de fato. Esses são os maus que assolam nosso culto hoje, desde as igrejas mais tradicionais até as mais contemporâneas17. E pior, as Igrejas Reformadas, que deveriam ser o pilar da boa doutrina, culto e prática piedosa, são as que mais sofrem disso, pois quando você chega a um nível tão alto, descer depois é um retrocesso muito maior se comparado com quem já estava baixo. Com isso quero dizer que nós, sendo de uma tradição bíblica que expandiu, explicou e aplicou o melhor culto a Deus, nos tornamos tão podres, tão fracos e inúteis em nosso culto. Nos vendemos ao modernismo, secularismo e tutti quanti, que empregam todas suas forças em parar a Igreja de Deus. Sabemos, claro, que nada nem ninguém pode parar o corpo de Cristo, justamente por causa do poder do cabeça, do noivo da Igreja. Mas podemos, muitas vezes, sermos iludidos e enganados pelos lobos (At 20:29). Assim sendo, quero tratar um pouco do falso e verdadeiro culto a Deus nesse capítulo. I. O culto que não agrada a Deus Quando analisamos a Escritura, várias histórias em várias épocas se destacam para nós no que se refere ao culto que não agrada a Deus. Temos Caim, o acontecido com o Bezerro de Ouro, Nadabe e Abiú, Uzá, Ananias e Safira e muitas outras histórias e momentos em que são manifestos atos impuros, práticas malignas sem arrependimento, atos cerimoniais feitos só por obrigação, e a lista é infindável. Nesse sentido, partindo do que falamos no capítulo 1, com o entendimento que a Escritura é o nosso manual, vamos dar uma pincelada em algumas histórias, a fim de encontrar o que possa nos doutrinar, nos corrigir, nos repreender e nos educar na maneira de fazer e viver o culto a Deus. Caim A primeira história que traz à tona um culto que Deus não se agrada está em Gênesis 4, na história do primeiro homicídio, que é um fratricídio18. Caim e Abel, filhos de Adão e Eva, segundo nos relata a Palavra, entregaram a Deus ofertas, sendo a de Caim frutos, pois era agricultor; e a de Abel foram as primícias dos seus animais, pois era pastor de rebanhos. A Escritura narra que o Senhor se agradou da oferta de Abel, mas da oferta de Caim não, o que levou o mesmo a ficar irado, o que levou a inveja contra o seu irmão, o qual ele matou. O que se percebe nesse texto, na questão do culto, é que Abel ofereceu o melhor que tinha, enquanto Caim só ofereceu algo que achou que estava bom, uma coisa qualquer. Em nenhum momento o problema está no que eles ofereceram em si, como se um cordeiro fosse melhor que os frutos; não é essa a questão, mas sim como o coração deles estava, se eles tinham realmente vontade de adorar a Deus. Assim, no caso de Abel, era verdadeira sua adoração e, por isso, ele escolhe dar o melhor do seu rebanho, enquanto em Caim havia maldade, pois era do Maligno (1 João 3:12). Ou seja, se somos, de fato, cristãos verdadeiros, oferecer o nosso melhor a Deus não será pesado, cansativo ou tedioso; mas, sem sombra de dúvidas, será animador, de um regozijo sem fim, de uma vontade ativa e sincera perante o Senhor. Pois nossas ofertas serão uma busca por adorar o Deus da nossa salvação, que nos permitiu ter vida e, mais, vida em abundância em Cristo Jesus. O culto a Deus tem de ser sincero, de todo o coração, e ofertando o seu melhor. O Bezerro de Ouro Em Êxodo 32 temos outra história que narra a nós um culto que não agrada ao Senhor. No texto diz que enquanto Moisés se encontrava no Monte Sinai, diante do Senhor, o povo de Israel, achando que ele estava demorando para retornar, pede a Arão que faça deuses para eles servirem e os proteger. Arão pega todo o ouro deles, o derrete e faz um bezerro de ouro dizendo que esse era o deus que os havia tirado do Egito. Deus, no monte com Moisés, fala para ele toda a situação que estava ocorrendo, assim o Senhor se enfurece com seu povo, mas Moisés pede calma a Deus para que ele fosse ao povo resolver. Porém, o próprio Moisés se ira ao descer e ver o que eles faziam. Então, por meio dos levitas e em seguida de um Anjo, a ira cai sob o povo e eles sofrem com o seu falso culto. O que aprendemos nessa história é que não devemos trocar Deus por nada, e que devemos ser gratos a Ele somente, por tudo que fez por nós. Eles erraram ao se esquecerem da aliançado Senhor, eles trocaram o Senhor e seu poder por nada e eles desejaram, com tudo isso, fazer as coisas do seu jeito e no seu tempo. O culto a Deus tem que ser para o Senhor, pois só Ele é o nosso salvador e Deus, verdadeiramente. Nadabe e Abiú Em Levítico 9 vemos um culto a Deus, guiado por Moisés, Arão e seus filhos, segundo o rito dado por Deus (Lv 9:16). Culto feito com holocaustos e ofertas, tendo participação da congregação, conforme Deus havia ordenado. Entretanto, no capítulo 10, na continuação da narrativa, dois filhos de Arão – chamados Nadabe e Abiú – descumpriram a ordem de Deus por trazerem, conforme alguns comentaristas dizem, fogo de um lugar não autorizado pelo Senhor, queimando os incensos com “fogo estranho”, que era abominável a Deus.19 Os sacerdotes no Velho Testamento tinham o santo ofício de levarem os pecados do povo ao Senhor e os expiar, para o povo ser purificado e santificado. Mas para que isso ocorresse corretamente, incluía-se uma vida de extrema santidade e alto respeito pelas ordenanças do Senhor, “segundo o rito” que ele ordenara. Não podia haver, de nenhuma forma, rituais e ações que fossem criadas por homens, mas tudo conforme foram ensinados, pois como é dito da parte do Senhor para Arão sobre a santidade dos sacerdotes: “para fazerdes diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo e para ensinardes aos filhos de Israel todos os estatutos que o SENHOR lhes tem falado por intermédio de Moisés.” (Lv 10:10-11). Conforme observado, Nadabe e Abiú se preocuparam apenas em cumprir um ritual, sem pensar, com excelência e cuidado, na glória de Deus, mas apenas pensando em fazer o que parecia agradável, fácil ou bom, segundo eles. E isso voltou para eles como ira de Deus, pois ao contrário do culto ser recebido com fogo santo (Lv 9:24), o culto deles se tornou em manifestação da ira de Deus, que os queimou e consumiu (Lv 10:2). Pode ser por nós entendido com essa passagem que, Deus sendo santo e poderoso, não pode ser cultuado conforme nossos desejos, segundo nossos pensamentos, mas conforme suas prescrições e ordenanças. Nós não temos direito de retirar, um pouco que seja, a autoridade de Deus para mudarmos qualquer lei dele, por mais ínfimo e insignificante que possa parecer a nós. O culto a Deus deve ser feito conforme a sua Lei, e não temos direito de fazer qualquer mudança nela. Antes, somos compelidos para com temor e tremor nos apresentarmos diante de Deus, em alta reverência. Uzá A frase clássica “de boas intenções o inferno está cheio” é muito apropriada a história de Uzá. Em 2 Samuel, capítulo 6, é narrado o resultado da vitória de Davi sobre os filisteus (o confronto é narrado no capítulo 5). Davi havia conseguido recuperar a arca da aliança da mão dos seus inimigos e estava a levando para a casa, quando um homem chamado Uzá, filho de Abinadabe (Vs. 3), que era um dos responsáveis pelo transporte, tentando segurar a arca da aliança, porque os bois a deixavam pender, é ferido por Deus. Por que isso ocorre? Porque Uzá cometeu sacrilégio contra a santidade de Deus, a arca da aliança era o símbolo e o meio pelo qual Deus manifestava-se ao seu povo, logo deveria ser puro, não deveria ter toque de ninguém, tanto que dispunha de anéis e varas para a levar (apesar de não usarem nesse transporte narrado, manifestando já a boa intenção sem o devido cuidado e reverência por parte dos envolvidos no transporte da arca, ou como diz Paulo em romanos 10, verso 2, havia “zelo sem entendimento”). Assim, fica evidente que um culto verdadeiro a Deus, envolve usar de todas as ferramentas que Ele nos dispõe, e não criarmos as nossas próprias, pensando que o culto é uma questão de bom gosto, de opção, e que Deus ficará feliz com isso. Uzá desrespeitou a forma prescrita de respeito a Deus e, por isso, foi ferido pelo Senhor, apesar da sua boa vontade. Conforme é dito por Emílio Garofalo, no Prefácio da obra de Terry L. Johnson20: “Por causa da distância entre nós, criaturas, e o nosso Criador, somos incapazes de alcançar seus pensamentos e o que lhe é agradável, sem que ele mesmo nos diga. Uma visão reformada afirma que culto é questão de gosto; mas do gosto de um Deus soberano, não de humanos caídos.” O culto a Deus não deve ser feito com uma boa intenção que não tem fundamento na Palavra de Deus, mas, pelo contrário, segundo todo o conselho do Senhor na forma como Ele requer a adoração, devemos diligentemente dar o nosso melhor no culto prescrito por Deus. Ananias e Safira A última história que eu desejo contar aqui ocorre em Atos dos Apóstolos, em seu quinto capítulo. No contexto, a Igreja estava crescendo e se expandindo, e o amor deles era tanto que vendiam suas propriedades e bens para compartilhar entre os irmãos; assim começa nossa narrativa, onde é apresentado a nós um casal cujo nome do homem era Ananias e da mulher Safira; eles haviam se comprometido com Deus para entregar todo o valor da venda de uma propriedade que lhes pertencia, como oferta. Porém, os dois, querendo reter parte do valor para si, imaginaram que poderiam enganar o Senhor descumprindo o que eles haviam falado, no entanto, eles sofreram a dura pena da morte, pois quando vieram entregar a Pedro o valor, o Espírito lhe comunicou a mentira e eles foram, na hora, mortos pelo Senhor. Somos levados a imaginar quão sério é cumprir o culto a Deus, o quão importante é manter nosso compromisso com o Senhor. Não devemos prometer nada além do que nos convêm e o nosso melhor deve ser entregue a Deus, pelo nosso culto. O culto ao Senhor, inclusive feito com ofertas ao trabalho da Igreja, deve ser feito com todo cuidado e sinceridade. Toda mentira deve ser largada, pois o Senhor abomina o mentiroso (Ap 21:8) II. Características do culto que agrada a Deus21 O culto que agrada a Deus é o culto que Ele pede de nós, culto este que é condizente com suas ordenanças, centrado em Deus, que fala com Ele, sendo feito de forma simples e objetiva para, com alegria, O glorificar. O culto é pactual e evangélico, sendo reverente por sua forma litúrgica, fazendo assim a Trindade ser manifesta, e a Pessoa e Obra de Cristo receber toda a glória que lhe é devida. O culto é bíblico Nós já demandamos um bom tempo tratando dessa questão no primeiro capítulo, mas é extremamente importante aplicarmos, novamente, essa questão. O culto que agrada a Deus é um culto que segue o que foi ordenado por Deus, e essas ordenanças estão reveladas na Palavra dEle; assim sendo, o culto tem de ser bíblico. Essa forma de pensar foi definida pelos reformados como Princípio Regulador do Culto: O Princípio Regulador declara que, no culto, os crentes nada devem fazer exceto aquilo que foi prescrito ou ordenado na Escritura. Esse princípio não somente salienta o fato de que Deus revelou na sua Palavra o modo como deseja ser adorado, mas também, de modo maravilhoso, resguarda o culto das inovações da humanidade pecaminosa. Certa vez, Calvino comentou que a nossa mente é uma fábrica de ídolos, sempre inventando novos objetos de culto e imaginando novas maneiras como adorar. O Princípio Regulador considera com muita seriedade tanto a veracidade da Palavra de Deus como a falsidade do coração dos homens.22 O culto é centrado em Deus Obviamente uma característica segue da outra aqui, pois é evidente que, se a Palavra de fato é o nosso Princípio Regulador, o seu autor vai ser enfatizado e adorado, afinal é isso que Ele exige na Escritura. O culto tem de ser centrado em Deus porque Ele é o único merecedor de culto, conforme vimos anteriormente, afinal os cultos que deram errado por não agradarem a Deus, estavam totalmente dissonantes com o Senhor, não focavam nEle, mas nos desejos e pensamos do homem. Mas o que é o homem senão um miserável (Jó 7:17) que mal pode discernir seu caminho? (Pv 20:24). Sendo desse modo, só Deus que é majestoso e poderoso é quem merece toda a honra e toda a glória eternamente (Ap 4:9-11). Já diria o Breve Catecismo de Westminster na resposta da pergunta 50: “O segundo mandamento exige que recebamos,observemos e guardemos puros e íntegros todo o culto e ordenanças religiosas que Deus instituiu em sua Palavra.”23 O culto é comunicativo Quando lemos sobre o culto no Antigo Testamento, vários símbolos são óbvias referências a Jesus, a começar pelo cordeiro pascal. Deus, em toda a sua sabedoria, já estava naquela época, como em todas Ele faz, comunicando conhecimentos por meio do culto. Ele usava os símbolos para referenciar a esperança futura que era o Cristo que viria e a sua Obra. No caso do culto hoje, tudo tem referência na Pessoa e Obra de Cristo já manifestos, a começar com a oração, passando pelo cerne do culto que é a Palavra, e chegando até os sacramentos que são símbolos importantíssimos da redenção. Além disso, o culto a Deus sempre envolveu o seu povo, pelos meios que Ele ordenava, para se comunicarem com Ele, pedindo perdão, agradecendo e sempre o glorificando. Hoje não é diferente, nós louvamos a Deus, oramos a Ele pedindo perdão e ouvimos suas instruções por meio do ministro da Palavra (Ef 5:19-21). Em tudo isso glorificamos a Ele e temos prazer nEle. O Catecismo Maior nos ensina que os meios exteriores pelos quais Cristo nos comunica os benefícios da sua mediação são “todas as suas ordenanças, especialmente a Palavra, os Sacramentos e a Oração; todas essas ordenanças se tornam eficazes aos eleitos em sua salvação.” O culto é alegre “A vida cristã não se resume a recebermos o amor de Deus, mas a também respondermos ao seu amor com louvor, confissão, gratidão e obediência cheias de fé.”24 Nós amamos a Deus pelo que Ele fez por nós, e isso é um fato. Assim, transformamos esse amor em sacrifícios de louvor, atos de adoração e confissão a Deus, que simbolizam e manifestam a nossa obediência a Ele, pois somos filhos que amam o Pai que deu tudo para nós (Ef 1:22-23). Deus merece ser louvado, Ele tem esse direito. Porém, mais ainda, o Senhor deseja transmitir alegria aos que o louvam, pois são bem-aventurados nEle, são pessoas que passam por tribulação, mas não são desamparadas ou destruídas (2 Co 4:9). Pelo contrário, em Deus temos alegria eterna (Fp 4:4), o que faz nosso culto ser prazeroso, ter regozijo em Deus (Sl 97:8), afinal, o Senhor em sua alegria, é quem nos dá força (Ne 8:10). Assim sendo, o que nos é prazeroso é vivermos como o salmista diz: Celebrai com júbilo ao SENHOR, todas as terras. Servi ao SENHOR com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico. Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio. Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de louvor; rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome. Porque o SENHOR é bom, a sua misericórdia dura para sempre, e, de geração em geração, a sua fidelidade. (Sl 100:1-5) O culto é pactual O culto é o momento que a Igreja se reúne como povo de Deus em comunidade para o cultuar por seu pacto conosco. Pois em Cristo fomos tornados Seu povo da aliança (Ef 2:11-22), agora sacerdotes reais e nação santa, receptores da misericórdia do Senhor (1 Pe 2:9-10). Assim sendo, estamos em pacto com Deus, ou seja, Deus em sua graça manifestou a salvação a nós e nos tornou seu povo, por meio do cabeça da Igreja, que é Cristo (Gl 3:16). Há muito a se discorrer sobre isso, pois desde a queda de Adão o Senhor escolhe meios de administrar seu pacto de graça ao povo (CMW 33-35), porém não temos o devido tempo para explanarmos o aspecto pactual da Escritura e da forma como Deus age com seu povo. Mas o que precisamos saber é que a importância do culto que prioriza o aspecto de pacto é que suas crianças serão abençoadas com o batismo, os adultos que professarem a fé entenderão onde estão sendo inseridos, a ceia do Senhor fará sentido como sacramento, a pregação terá um aspecto contínuo e atual, entre outras coisas. Como esse pacto é administrado a nós da Nova Aliança? O CMW nos responde na pergunta 35: No Novo Testamento, quando Cristo, a substância, foi manifestado, o mesmo pacto da graça foi e continua a ser administrado na pregação da palavra na celebração dos sacramentos do batismo e da Ceia do Senhor; e assim a graça e a salvação são manifestadas em maior plenitude, evidência e eficácia a todas as nações.25 O culto é evangélico Eu imagino que a maioria dos meus leitores seja de cristãos que se dizem evangélicos, mas, infelizmente, muitos só dizem ser, não vivem isso de fato. Essa característica do culto a Deus é de extrema importância, pois o culto deve ser feito com uma manifestação de genuína fé evangélica, que não se prende a ritos e tradições (Mc 7:1-13), a lei (Gl 3:23-29) ou a qualquer vento de doutrina (Ef 4:14). Pelo contrário, agora em Cristo, somos livres (Jo 8:36), e com essa liberdade servimos a Deus (1 Pe 2:16) com plena confiança (Ef 3:12), cultuando a Deus com sacrifício vivo, santo e agradável (Rm 12:1-2) e não nos conformando com o mundo, mas vivendo o que Deus requer de nós, com toda sabedoria e entendimento espiritual (Cl 1:9). Afinal, essa é a verdadeira fé evangélica (Fp 1:27). O culto é trinitário Se nós somos cristãos verdadeiros, nós somos cristãos trinitários e bradamos o credo apostólico sem qualquer problema. Podemos confessar juntos com o CMW26 na sua pergunta 10: 10. Quais são as propriedades pessoais das três pessoas da Divindade? R: O Pai gerou o Filho, o Filho foi gerado pelo Pai, e o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, desde toda à eternidade. Nosso culto é para a Trindade, dirigimos nosso culto a Deus Pai, por intermédio do Deus Filho, no poder e orientação do Deus Espírito Santo. Essa é a nossa devoção, dar glória a Deus, em sua tríplice pessoalidade, da forma que lhe é devida; pois nada somos para discordar de Deus ou acharmos que temos poder para entender qual deve ser o culto a Ele. Os modernos, com seu culto antibíblico, fazem diversas proezas em busca do Espírito Santo e, além de errarem em como o buscar, esquecem as outras pessoas da Trindade ou tornam elas menos Deus. O mesmo erro se dá no entendimento da pessoa de Deus Pai por alguns tradicionais que trocam sua glória que está na tripartição de forma justa, para dar mais atenção ao Pai apenas. E há aqueles que se dizem os certos por seguirem Cristo, mas se esquecem de Deus Pai e de Deus Espírito Santo, se esquecem da obra destes em detrimento de quererem parecer cristocêntricos, o que, de fato não são, agindo assim. O culto é cristocêntrico “Jesus é o centro de tudo que há” é estrofe de uma música que ouvi a alguns anos. E de fato ela está certa, pois Jesus é o caminho por onde somos salvos, é a revelação da verdade que nos liberta e é por Ele que temos a vida, afinal ninguém vai ao Pai a não ser por Ele (Jo 14:6). Ele é a imagem do Deus invisível (Cl 1:15), nEle foram criadas todas as coisas, tanto no céu como na terra (Cl 1:16) e Ele é o sustentador de todas essas coisas criadas (Hb 1:3). Sem Jesus Cristo não haveria salvação (At 4:11-12), mas pelo contrário, em Cristo temos vida (Ef 2:5) e somos aproximados a Deus pelo seu sangue (Ef 2:13) para glorificarmos a Deus, por meio dEle, com sacrifícios de louvor (Hb 13:5). Nós somos dependentes de Cristo, Ele é o nosso Senhor, devemos louvar e adorar a Deus por meio dEle, pois sem Ele nada do que foi feito se faria (Jo 1:3). Sua obra é perfeita, cumpre todos os requisitos de Deus e, por isso, Ele recebe do próprio Pai todo o domínio sobre o universo. Esse é o nosso Senhor, o qual sendo Todo-Poderoso, entrega a nós o domínio sobre todas as coisas (Ef 1:22-23). Devemos louvar a Ele conforme é dito em Apocalipse 5:12 “proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor.” O culto é litúrgico Eu quis colocar essa característica por último, pois acredito ser uma das mais negligenciadas pela modernidade. De fato, não é a única esquecida ou considerada ruim, mas com certeza é a mais considerada retrógrada e inútil pelos ignorantes da Palavra e hereges no geral. Assim sendo, quero encerrar com ela,a fim de deixar como última impressão essa chave de ouro para um bom culto cristão. Primeiramente, liturgia se remete a uma palavra grega que significa culto, um exemplo do uso é Hebreus 9:12 onde, ao fim do versículo, vem traduzido “serviço sagrado”. E assim, de início, já entendemos que a liturgia é o serviço religioso, o que para nós pode-se entender como a organização e prática do culto. O Catecismo de Heildelberg define muito bem, na pergunta 10327, o que é a liturgia bíblica: é uma ordem de culto onde vamos a igreja para ouvir a Palavra de Deus, participar dos sacramentos, adorar ao Senhor e praticar a caridade cristã para com os necessitados. Também uma definição muito próxima é dada por Daniel Hyde: Atos 2.42 nos dá um esboço descritivo do culto nas primeiras congregações cristãs. Aqui lemos que os cristãos primitivos devotavam-se à “comunhão”, que é o vínculo de amor que existe entre os membros da igreja, como expresso no dar esmolas. Como uma comunhão de crentes, eles também se devotavam ao ensino dos apóstolos (a Palavra), ao partir do pão (a Ceia do Senhor, como o texto grego diz “o pão”), e às orações. As categorias gerais de um culto aceitável são a Palavra, os sacramentos, a oração e as ofertas.28 Ou seja, podemos deduzir, de uma forma sistemática, o que a liturgia deve conter e o seu escopo: Deve conter: A Palavra de Deus Os Sacramentos A oração As ofertas E o escopo que podemos muito bem deduzir pode ser algo como: Adoração e gratidão: início do culto em que agradecemos a Deus por tudo que Ele é, fez e faz por nós. Perdão de pecados: momento em que a congregação se coloca em unidade pedindo perdão pelos pecados cometidos. Sermão: ápice do culto, quando o pastor leva a porção da Palavra de Deus a congregação, expondo o texto bíblico da melhor forma possível. Ceia do Senhor e Batismo: momento em que são dados os sinais da aliança para aqueles que desejam adentrar o pacto e onde é ministrada a Ceia do Senhor. Ofertas: momento em que são disponíveis os meios para a congregação investir financeiramente no Reino de Deus. Com essa organização, fazemos com que nosso Deus seja adorado, louvado e honrado como Ele merece, com ordem e decência, com amor e verdade e com todo o conselho dEle para nós. III. Em espírito e em verdade Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. João 4:21-24 Jesus diz a mulher samaritana que vem um momento em que em nenhum local conhecido, pela religião da época, Deus será adorado. Os samaritanos adoravam em um local que não tinha base alguma, e os judeus seguiam os ritos veterotestamentários, porém Cristo manifesta que já está chegando o momento que todos esses locais serão ineficazes, não por deixar de ser possível adorar neles, mas porque em qualquer local Deus poderá ser adorado, dentro das circunstâncias que comentamos aqui, as quais são bíblicas. Deus, em Cristo, tira o limite da adoração de ser feita apenas em um local, e faz com que a liberdade cristã perdure sobre a Igreja: “O culto é necessário, mas o lugar onde ele ocorre é indiferente, indeterminado; é deixado à prudência humana escolher o lugar que seja mais conveniente. Não encontramos nenhuma regra obrigatória, mas, em geral, “que todas as coisas sejam feitas com decência e ordem”. As consagrações dos homens não podem tornar santo o que a instituição de Deus não santifica.”29 Cristo repete a questão do momento, diz que está chegando a hora que os verdadeiros adoradores adorarão o Senhor em espírito e em verdade, porque Deus procura esses para o adorar. A verdadeira adoração é aquela que é feita “em espírito”, ou seja, estando vivos ao nascer do Espírito, nos tornamos espírito, e assim podemos adorar a Deus na beleza da sua santidade, sem qualquer muleta cerimonial ou mediador, pois em Cristo temos o Sumo Sacerdote e Supremo Mediador que nos torna Sacerdócio Real, nos permitindo adorarmos diretamente a Deus. E a “verdade” é essa, que em Cristo podemos estar face a face com Deus, adorarmos diretamente o Senhor de tudo e, por meio do Espírito, desfrutamos sua presença de forma íntima e profunda. “Deus é espírito”, essa é a natureza de Deus, um dos seus atributos, assim sendo, importa que nós como adoradores, o adoremos no que Ele é, como Ele quer. Importa, então, que o adoremos como verdadeiros adoradores, no espírito e não nos símbolos e, na verdade e não em ritos mortos. Conclusão Somos um povo chamado para adorar a Deus como Ele quer ser adorado, não podemos pensar que temos algum direito sobre o Senhor, mas é Ele que nos transforma, Ele quem em nós habita, Ele quem conduz a salvação e é Ele para quem tudo foi feito e tudo O glorifica. Sejamos sensatos e piedosos, cheguemos a Deus como Ele requer de nós, é o nosso dever O adorar como convém a Ele. Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória (Sl 115:1). Perguntas para a revisão 1 – O cristão verdadeiro é, acima de tudo, o quê? 2 – Quais são os cultos que não agradaram a Deus? 3 – Quais as características ruins aprendemos com os cultos que não agradam a Deus? 4 – Quais as características que aprendemos do culto que agrada a Deus? 5 – O que é adorar em espírito e em verdade? Leituras sugeridas: Adoração – A. W. Pink Adoração Evangélica – Jeremiah Burroughs Adoração Reformada: adoração segundo as escrituras – Terry L. Johnson No Esplendor da Santidade: Redescobrindo a Beleza da Adoração Reformada para o Século XXI – Jon Payne O Culto Público: Uma breve teologia e por que deve ser preferido ao privado – David Clarkson O Que é um Culto Reformado: Por que em uma igreja Reformada o culto é tão diferente da maioria das outras igrejas? – Daniel R. Hyde Capítulo 3 – A igreja, o sermão e a vida Quando eu planejei escrever esse pequeno livro, a minha ideia sobre o que seria exposto aqui era justamente sobre ouvir um sermão e o entender corretamente, sobre saber aproveitar o momento de culto solene para a glória de Deus. Creio que, na medida do possível e no meu limite, consegui expor o necessário para esse momento em que trataremos do pré-culto e suas implicações necessárias, do culto e o seu valor indescritível e do pós-culto e sua ação pertinente. Que Deus seja louvado e a sua Verdade exposta claramente aqui. I. Pré-culto Eu quero nos fazer pensar de forma bem elementar antes de adentrarmos questões como oração e cuidado estético para o culto, mas o que tratarei, em alguma medida, está relacionado com todo tipo de matéria ética e, principalmente, de cunho espiritual. Pois, conforme vimos anteriormente, é necessário ao cristão, e muito prazeroso também, viver conforme a Escritura, que é a Palavra de Deus. Além de que, um culto cristão tem características próprias que só são encontradas em um grupo de cristãos que mantêm a Revelação divina como seu fundamento. A nossa crítica a igreja moderna está, conforme os capítulos passam, se acentuando e formando em nós uma unidade de pensamento sobre o culto e a nossa vida com Deus. Assim, desejo que, com princípios objetivamente estabelecidos, possamos glorificar mais e mais a Deus em nossa vida, fazendo nosso louvor, nosso clamor e afins, serem sinceros e profundos no Espírito. A igreja local Para que haja um culto bíblico, a primeira coisa que é claramente necessária, é congregar em uma igreja local que seja bíblica. O que podemos definir como uma igreja bíblica? Bom, eu gosto de elucidar, como início de discussão, a confissão de Pedro: Indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem? E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas. Mas vós,continuou ele, quem dizeis que eu sou? Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mt 16:13-18) Temos esse texto por base, porque a fala de Pedro, segundo o próprio Cristo, é feliz e certeira em definir quem, de fato, Cristo é. Pedro receberia a bênção de ser o líder da igreja primitiva30 e ele só o poderia ser se, com toda a certeza, tivesse uma confissão coerente com a verdade de Deus (não vamos considerar a discussão do texto ou a questão de Pedro ainda não ter entendido toda a obra de Cristo nesse momento). Jesus é O Cristo, aquele que foi profetizado desde Gênesis 3:15, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e aquele que reina sobre todos. Ele é o salvador prometido e só uma igreja bíblica pode o reconhecer nesses termos, entendendo ser Ele o filho de Deus e, ao mesmo tempo, o Cristo, ou seja, entendendo a união hipostática de Jesus Cristo, sendo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Também só pode ser uma igreja bíblica aquela que entende que o Pai é quem revela a verdade, de modo que a confissão de Pedro só faz sentido sobre a iluminação sobrenatural, inclusive, nesses termos já podemos conectar a continuação do texto: “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus.” (Mt 16:19). Essa continuação só faz sentido quando lemos Atos 2 e percebemos que o Espírito Santo é que legitima a igreja bíblica, logo a confissão verdadeira também inclui a Trindade. Eu não quis expor o texto de forma detalhada, pois não é a finalidade desse livro, mas inclui os pontos que formam uma confissão bíblica que só uma igreja bíblica seguiria. Assim, sobre essas afirmações de fé, resistimos contra todos que trocam Cristo por um papa, um pastor, um profeta ou apóstolo, entre outras coisas. Afinal, se trocamos Cristo, nossa confissão não é mais cristã. Outra questão que envolve uma igreja local bíblica são os seus ministros, pois uma igreja só é uma igreja bíblica se os seus líderes a guiam para a Palavra de Deus e, consequentemente, para Deus. Efésios 4 ilustra isso muito bem para nós: E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor. (Ef 4:11-16) Cristo concedeu a igreja os dons de ensino para que ela seja aperfeiçoada, para que o seu desempenho na santidade seja cada vez maior por meio do ensino e exposição da Palavra. Um ministro verdadeiramente chamado, leva o povo de Deus ao amadurecimento e entendimento da fé e da doutrina, a fim de evitar que o próprio povo caia em ventos de doutrina, mas que também desenvolvam sua salvação no Senhor. Sem uma exposição bíblica contínua, sem um líder para caminhar junto e ensinar a viver conforme Cristo, a igreja desfalece e se vende ao mundo. É, infelizmente, o que mais vemos hoje em dia, pois muitos que deveriam pastorear e ensinar estão preferindo fazer shows, criar movimentos de muita emoção e pouca verdade, desenvolver métodos de evangelismo que são pecaminosos e diabólicos, entre outras coisas que só o fazer menção já é horrível. Partindo desse entendimento, fica mais claro que, para o benefício do cristão, é necessário que o mesmo busque uma igreja edificante na doutrina e teologia, conforme o primeiro capítulo desse livro. Seguindo a análise, outra questão de extrema importância para definir uma igreja bíblica é se ela crê e entende corretamente os sacramentos; lembre-se da igreja católica com aquele entendimento demoníaco da transubstanciação31, entendimento esse que foi destroçado pelos reformadores com poucos textos bíblicos certeiros. Aí está o exemplo e o porquê devemos nos preocupar com essa questão, apesar de ser comumente correto o entendimento no meio evangélico, é necessário prevenir-se de heresias possíveis. Eu passei algum tempo, quando ainda ignorante de doutrinas bíblicas, em uma igreja onde era permitido ao visitante tomar a Ceia do Senhor sem qualquer crença. Isso é um absurdo sem medida. Infelizmente, pode ocorrer do entendimento bíblico ser trocado pelo pragmatismo ou o que for mais fácil, pois se tornou claro para mim que eles permitiam que o visitante tomasse a Ceia para que não ficasse estranho ou aparentemente “separatista” na visão da pessoa que visita. Porém, estava errado. Por fim, imaginando que os princípios supracitados são cumpridos, nós naturalmente teremos uma igreja com comunhão verdadeira, que busca fazer da fé de cada parte do corpo, um todo coerente e vivo. Claro que, infelizmente, existem igrejas que aparentemente cumprem os requisitos acima, mas são cheias de pessoas que não buscam acolher, que não amam uns aos outros no corpo. E isso é resultante do fato que algum dos princípios acima estarem sendo quebrados. Entretanto, a igreja bíblica terá sim uma comunhão boa e agradável, que traz o reino de Deus para perto do povo de Deus. Uma igreja para chamar de lar, para amar e para lutar, em unidade, pela verdade de Deus. Confissão de fé bíblica Toda igreja deveria ter uma confissão de fé. Essa afirmação pode trazer algumas dúvidas, entre elas está a mais clássica: “Mas a Bíblia não é nossa confissão de fé?”. De fato, a Palavra de Deus é o nosso fundamento, mas por alguns motivos nós usamos confissões de fé, entre os motivos temos, talvez, o mais importante que é a questão didática. Uma confissão de fé é um texto construído de forma didática, para que o povo de Deus possa entender e expressar em termos objetivos o que crê e o que entende como ações bíblicas. Joel Beeke introduz muito bem essa questão: “A autoridade das confissões é derivada da Palavra de Deus e sempre tem de ser subordinada a ela, que possui autoridade intrínseca. No entanto, eles [os primeiros calvinistas] reconheciam que as confissões prestam valiosa contribuição às tarefas primárias da igreja: a adoração (a tarefa doxológica), o testemunho (a tarefa proclamadora), o ensino (a tarefa didática) e a defesa da fé (a tarefa disciplinadora). As confissões reformadas têm sido particularmente eficientes em ajudar a igreja a declarar de modo unânime o que ela crê, o que ela deve ser e como ela deve ser um testemunho evangélico para aqueles que estão fora de sua comunhão.”32 Tendo em vista o que Beeke cita, temos bons motivos para termos uma confissão de fé, mesmo que não seja histórica, ela deve ser necessariamente bíblica. E devemos saber qual a confessionalidade da igreja que estamos para analisarmos se entramos de acordo com a sua confissão. Vida com Deus Não adianta em nada termos uma igreja com confissão bíblica e estrutura minimamente espiritual se nós mesmos não formos pessoas assim. Precisamos ser confessionais na prática, em nossas vidas e, logicamente, espirituais. Os cristãos de hoje estão em estado catatônico, em um processo paralisante espiritualmente que deveria nos assustar e muito, mas isso não ocorre, justamente porque já aceitamos essa situação mórbida e fria. Estamos morrendo aos poucos e nem percebemos. Me diga, quantos irmãos sentados no mesmobanco que você, são pessoas ativas na igreja ou com projetos cristãos externos a igreja? Você mesmo faz algo ou simplesmente vive no banco? Não quero dizer que trabalhar na igreja ou ter projetos torna, necessariamente, alguém mais espiritual (Fp 1:15), mas uma pessoa espiritual fará e não conseguirá se conter em inércia, ou seja, um cristão espiritualmente maduro e estabilizado, terá desejo por desenvolver trabalhos e ações para o reino de Deus expandir e o Senhor ser glorificado (Ef 2:10). E, atualmente, quantos cristãos tem essa disposição pelo Reino? Poucos, infelizmente, muitos poucos. Isso já é resultado da falta de vida com Deus, pois nossos bancos são lotados de pessoas vazias. Sendo positivo, cristãos fracos na fé, sendo negativo, falsos cristãos que não passaram por genuína conversão. E o culto que agrada a Deus é feito por pessoas sinceras e desejosas de amadurecer e prosperar na fé (Jo 4:23-24), de nada adianta possuirmos vários membros, várias igrejas cheias, vários pregadores bons e escolas dominicais com conteúdo, se a alma de cada indivíduo que participa disso tudo não está ligada espiritualmente a Deus, não é saudável na fé verdadeira. Obviamente isso se aplica a pastores, líderes e membros, pois ninguém pode fugir desse problema que está profundamente enraizado em nosso meio. Desse modo, eu intento ensinar algumas mudanças eficazes que dão resultado na vida espiritual e que nos tornam cristãos mais amadurecidos. Eu creio que, por mais óbvio que possa ser, é necessário tratarmos da vida íntima em três grandes pontos: a leitura bíblica, a meditação e a oração. O primeiro ponto é fundamental, pois o conhecimento de Deus na sua revelação, como já vimos, é o fundamento que nos dá base para entender e viver de acordo com a Verdade. Sem a palavra de Deus, simplesmente não somos cristãos, somos qualquer outra coisa menos a nossa real identidade, afinal o eixo que coordena espiritualmente o cristão evangélico é e sempre deve ser a Palavra de Deus, conhecida como Bíblia Sagrada. Nesse ínterim é evidente que não há vida espiritual sem intimidade com a Revelação do Senhor, a qual é a nossa guia nessa jornada33. O segundo ponto é a meditação, nela se inclui um aspecto disciplinar pouco analisado hoje em dia, sendo tomado pelo esquecimento, o que deveria nos assustar porque os antigos cristãos nunca esqueceram de usar essa ferramenta para o desenvolvimento da fé. Meditar funciona por dois métodos, segundo o pastor Paulo Junior34, a (1) meditação ocasional, que é durante o recorrer do dia, quando situações e coisas nos lembram princípios bíblicos e o que faz ela ser praticada cada vez mais é a nossa disposição de sempre tentar nos recordar sobre ela, tornar isso uma obrigação que, naturalmente, será embutida em nossa rotina. E a (2) meditação proposital que é um momento em que separamos para realmente pensarmos sobre as coisas celestiais, para meditarmos, ponderarmos e refletirmos sobre a vida espiritual e o conhecimento de Deus e sobre Deus. Ambas as meditações são importantíssimas para a nossa vida espiritual e nos amadurecem muito quanto ao que devemos fazer e a esperança que nós recebemos do Pai. O terceiro ponto é a oração, ela que é o nosso meio de se comunicar com Deus, o caminho permitido pelo Senhor por meio do nosso Sumo Sacerdote Jesus Cristo (Hb 9:23-28). Conforme Calvino expõe: “Ora, que esta seja a primeira norma da oração correta: que abandonemos todo pensamento de nossa glória pessoal; que nos desvencilhemos de toda noção de nossa dignidade pessoal; que expulsemos toda a nossa autossegurança; que rendamos glória ao Senhor em nosso abjeto estado e em nossa profunda humildade; que nos deixemos admoestar pelo ensino profético: “não lançamos nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias. Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age; não te retardes, por amor de ti mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo teu nome” (Daniel 9.18–19).”35 Que assim seja, a nossa oração precisa estar pautada nesses princípios de abandono do eu para a dependência do Senhor. Não há outra forma, pois é na oração que colocamos nossos intentos, desejos, gratidão, pedidos de perdão e glorificamos ao nosso Deus. Quanto tempo dedicados em oração ao Senhor? Buscamos Ele somente para pedir ou para agradecer também? Somos dedicamos em nossa intimidade com Ele? Essas e outras perguntas devem nos fazer refletir sobre a nossa disposição espiritual, principalmente na oração. Dia do Senhor O dia da ressurreição é o dia do Senhor para os cristãos, o domingo tem o símbolo de nossa gênese espiritual, a celebração do culto no dia que o nosso Senhor venceu a morte significa muito para nós, apesar do que alguns fracos na fé dizem. Muitos não entendem o significado por trás de tudo isso e como é bíblico o sábado cristão ser no domingo. A questão do sábado é simples: é o dia que o Senhor descansou no livro de Gênesis, mas por que transferir para o domingo? Porque o nosso descanso é em Cristo e na sua obra perfeita. Jesus Cristo está vivo! E nós celebramos a Deus, em comunhão, dominicalmente por seu grande feito em ter nos tirado do império das trevas e colocado no reino do seu Filho (Cl 1:13). Deus seja louvado. Infelizmente, aponta Jon Payne: Nas tradições reformada e pactual, onde o Dia do Senhor tem sido historicamente entendido como um dia inteiro santificado a Deus para descanso e adoração, o domingo agora é quase sempre ingenuamente visto como outro mero dia da semana — um dia em que “por acaso” os cristãos se reúnem numa cerimônia matinal. De fato, evidências dessa diluição do Dia do Senhor são vistas num crescente número de igrejas que proporcionam cultos no sábado à noite.36 Ou seja, a Igreja esqueceu essa doutrina singular e importante, preferindo cair em uma irreverência modernista e pagã. Um absurdo que é mais comum do que, muitas vezes, imaginamos. O povo de Deus tem a muito tempo se vendido a esses tipos de pensamento mais, aparentemente, livre, porém preso ao pecado e a mentira. A Igreja, ao se vender a essas ideias, permite que imbecilidades de todo o tipo comecem a adentrar a mesma. Ela, ao conduzir-se sem doutrinas claras e já qualificadas pela Escritura, começa a desenvolver substitutos fracos e carnais que, junto aos nossos inimigos37, atacarão cada vez mais os fundamentos cristãos e esses serão desmoronados por falta de bons servos de Deus que entendam coerentemente a doutrina para a defender. Eu termino esse ponto com a conclusão bem estabelecida pela Confissão de Fé de Westminster: Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção do tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também em sua palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens em todos os séculos, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por Ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão. (Capítulo XXI – Seção VII)38 II. O culto Chegamos ao ápice do capítulo, não desdenhando todo o conteúdo, mas era até aqui, em alguma medida, que eu planejei o caminho. Eu tentei, no meu máximo, buscar trazer à tona todas as verdades concernentes a questão de culto e vida que, indireta e diretamente, influenciam a nossa forma de cultuar a Deus, e desse modo busquei que nossa meditação sobre os erros e acertos nos fizessem ser mais conscientes de nossa fraqueza espiritual. Eu espero, de fato, que o leitor esteja congregando em uma igreja bíblica que se preocupa com tudo que já falei e vou falar, desse modo, se você observar algo que está fora do padrão, busque diligentemente reformar a sua igreja ou sair dela. Isso mesmo, eu sei que é doloroso ler isso e, para mim, é angustiante dar essa notícia e ensino,mas é necessário que os cristãos patrocinem com o seu tempo, dízimo, ofertas e trabalho, igrejas que são bíblicas e condizem com as verdades fundamentais, senão de nada valerá todo esse empenho e energia. Espero, no futuro, desenvolver um trabalho mais profundo sobre essa questão, por agora, a própria Verdade há de o ajudar com a sua decisão. Liturgia É perceptível que, muitas das características que formam o culto bíblico já foram citadas no capítulo anterior, mas em uma tentativa de explicação mais prática e ligada a ação, eu venho repetir esses aspectos. Reitero o que disse anteriormente sobre essa ser uma das características mais negligenciadas na modernidade, pelo menos dentro da experiência que tive com várias igrejas e denominações, ela tem sido ocultada dos cristãos, e isso é nojento, pois uma igreja deve enfatizar a sua organização espiritual, principalmente no que condiz ao culto. Conforme já ficou claro, a liturgia deve conter: A Palavra de Deus Os Sacramentos A oração As ofertas Porque foi desse modo que sempre se construiu o culto a Deus, pelos cristãos, a começar na Bíblia. Pode haver alguma mudança? Não deveria, a não ser em um aspecto que mantenha a identidade e o fundamento, a título de exemplo, ocorre uma vez por mês, em muitas igrejas, a Ceia do Senhor. Há algum problema nisso? Não, mas em 3 de 4 cultos mensais, pode não ocorrer um ato sacramental. Porém, no geral isso não altera o padrão, só muda a agenda da igreja. Agora, um conselho que dei e enfatizarei no seu aspecto prático é a necessidade de seguir o escopo que, como vimos, é intrinsecamente bíblico. A Igreja precisa ter um momento litúrgico onde Adora e Agrade a Deus por tudo que Ele é, fez e faz por nós. Momento regado pela Palavra, oração e hino que nos atente para o louvor de gratidão a Deus. Também é basilar que o pecado seja tratado, tanto por meio de pregações bíblicas, quanto pela liturgia. E esse momento pode ser como o anterior, onde lemos a Escritura, oramos e cantamos sobre o tema do perdão de pecados que recebemos de Deus. Em particular, vejo que é extremamente proveitosa a oração silenciosa que deve ocorrer antes da oração de confissão de pecados, pois ela coloca toda a igreja diante de Deus para meditar e ponderar os seus erros, e pedir perdão pelos mesmos. Na continuação, vamos ao ápice do culto, que é o sermão ou a pregação, onde o povo de Deus é alimentado por uma exposição bíblica coerente e concisa. Nessa etapa é interessante que, como o todo, mas de forma mais especial, seja conduzida por um pastor, o qual é experimentado e desenvolvido tanto pelo dom, como pelo aprimoramento do dom feito pelo estudo, vida com Deus, em suma, piedade; o qual leva a Palavra de Deus lapidada aos ouvidos da Igreja. Eis a função pastoral mais importante: ser um bom entendedor e pregador da Escritura. É necessário que entendamos isso, porque parte do que nos faz buscar uma igreja e dedicar aquele local a nossa devoção em comunidade, é formada pelo pastoreio que é oferecido ali. Não há como existir uma igreja bíblica com um pastor herético ou uma igreja herética com um pastor bíblico, em pouco tempo o erro sairá ou expulsará o certo e se tornará, de forma completa, uma sinagoga de Satanás. Veremos com mais detalhes a questão da pregação, por agora é suficiente saber isso: é importante para a vida da Igreja pastores bíblicos e engajados em maturidade e profundidade. Outro momento que é imprescindível para a igreja em sua liturgia são as ofertas, onde o povo com amor contribui para a Obra, afinal ainda vivemos nesse mundo e temos necessidades físicas, inclusive a igreja. E, outra questão inegociável, é que a igreja deve ajudar seus membros necessitados, se assim puder, e os recursos para tal ação benevolente são as ofertas. Por fim, temos momentos em que a liturgia adiciona os sacramentos, que são a Ceia do Senhor e o Batismo. A Ceia pode ser semanal, mas também há quem o faz mensalmente, de modo que ela não estará sempre na liturgia; do mesmo modo o Batismo, ele será adicionado sempre que houver membros ou filhos de membros prontos a receber o sacramento. É interessante pontuar que na Ceia do Senhor só deve participar a pessoa batizada e participante da membresia da igreja, ou um visitante que já foi batizado e confirme sua profissão de fé sendo bíblica. E o Batismo deve ser recebido por pessoas conscientes ou membros infantes que tenham seus guardadores ou pais participantes da membresia local. Lembrem-se que nosso Deus não é um Deus de desordem e Ele deseja para a sua Igreja o mesmo. Sermão ou Pregação O centro do culto é o sermão ou o momento da pregação, porque ali se encontra, como já falamos um pouco, o cerne do culto bíblico e, mais especificamente, neotestamentário. Os apóstolos em seus sermões sempre usaram o artifício da exposição ou temática, onde um texto é explicado em suas minúcias ou um conjunto deles é intercalado e interconectado para uma aplicação coerente da Palavra de Deus. Não quero entrar no mérito da discussão de qual tipo de pregação é mais eficaz, mesmo tendo meu ponto de visto aqui estabelecido, porém darei uma pincela ao expor as três possibilidades mais comuns de pregação hoje em dia, pois essa parte indica muito do que o ouvinte deve fazer ao se perceber recebendo um desses tipos de mensagem. a. Tipos de sermão Tentarei ser sucinto porque esse livro não tem a finalidade de ser uma exposição de como pregar, mas sim como ouvir o sermão e ser bem-sucedido espiritualmente com os benefícios que ele traz para a igreja. O primeiro tipo que gostaria de tratar é o sermão temático, ele tem como objetivo tratar de um tema independente de algum texto bíblico direto, senão um tópico biblicamente válido, de modo que o pregador vai organizar os textos que falem de um mesmo tema, encadeando-os para que não fujam do seu contexto e do assunto proposto, mas ao contrário, sejam todos os textos bem aplicáveis. É como se ele estivesse contando uma história conforme organiza os textos bíblicos em uma ordem lógica, ou, por exemplo, pode ser como uma pesquisa que você reúne um número de fontes aceitáveis que corroborem seu argumento. “Sermão temático é aquele cujas divisões principais derivam do tema, independentemente do texto [...] Entretanto, para termos a certeza de que o conteúdo da mensagem será totalmente bíblico, devemos principiar com um assunto ou tópico tirado da Bíblia. As principais divisões do esboço do sermão devem basear-se nesse tópico, e cada divisão principal deve apoiar-se numa referência bíblica. Os versículos nos quais se fundamentam as divisões principais devem ser, em geral, extraídos de porções bíblicas mais ou menos distantes umas das outras.”39 O segundo tipo de sermão é o sermão textual, o qual apresenta aos ouvintes um texto bíblico, dele se retira um tema ou sugestão evidente e se formula o sermão inteiro sobre isso. Desse ínterim, explica-se a passagem e a aplica, conforme o texto, o tema dela mesma; às vezes até endossando a sua explicação com outras passagens, mas tendo um ponto principal e inicial que descende de um texto bíblico em si. Diferente do sermão temático que parte de um tema para o texto, aqui o pregador parte do texto para a exposição do tema proposto. “Sermão textual é aquele em que as divisões principais são derivadas de um texto constituído de uma breve porção da Bíblia. Cada uma dessas divisões é usada como uma linha de sugestão, e o texto fornece o tema do sermão.”40 O terceiro e último tipo de sermão é o sermão expositivo, em que a pregação é fundamentada, como o nome diz, em uma exposição rigorosa da passagem bíblica selecionada pelo pregador. Nesse método, a análise detalhada das palavras, das frases onde estão as palavras e dos parágrafos e passagens onde estão as frases, é extremamente útil e precisa ser coerente ao texto no seu sentido literário e literal, de modo que poemas serão interpretados como poemas (no caso dos salmos), histórias narradas como histórias narradas (por exemplo, evangelhos), etc. Nada pode ou deve fugir do seucontexto, mas o pregador tem a função de aproximar, como uma lupa, a visão do leitor sobre as nuances da passagem e o que, de fato, a mesma quer dizer. “O sermão expositivo é o modo mais eficaz de pregação, porque, mais do que os outros tipos de mensagens, ele, com o tempo, produz uma congregação cujo ensino é fundamentado na Bíblia”41, ou seja, com a pregação expositiva obtemos uma interpretação verídica e profunda das Escrituras, sob a qual temos o máximo de aproveitamento espiritual e intelectual. Eu mesmo prefiro usar desse recurso a qualquer outro método de pregação, afinal o que desejamos como pastores senão a edificação e o crescimento espiritual do rebanho? À vista disso, fica evidente a boa preferência pelo sermão expositivo. “Sermão expositivo é aquele em que uma porção mais ou menos extensa da Escritura é interpretada em relação a um tema ou assunto. A maior parte do material deste tipo de sermão provém diretamente da passagem, e o esboço consiste em uma série de idéias progressivas que giram em torno de uma idéia principal.”42 Até aqui já temos organizadas as possibilidades dos métodos de pregação, sendo assim, espero que os leitores estejam atentos e tenham apreendido os tipos de sermão que, muito provavelmente, vão se deparar durante sua jornada dominical. É importante que observem bem o que ouvem, para saberem usar as formas e os seus benefícios para o enriquecimento espiritual. b. Comportamento É exigido de nós todos reverência perante Deus, e isso no culto é muito claro, desde as escolhas que fazemos sobre igreja e líderes, até o modo como fazemos nossa liturgia, ou seja, como guiamos o culto. Tudo isso revela a necessidade e a vontade pela reverência a Deus. E algumas questões, por mais básicas que são, podem revelar a nossa verdadeira intenção no culto; infelizmente, em outros tempos, não haveria necessidade de incluir algo como essa parte, mas como estou tratando com cristãos que, em sua maioria, são bebês na fé, fica difícil não recorrer a tal assunto. Irei narrar a vocês uma situação muito comum de um cristão indo ao culto: ele acorda no domingo, muitas vezes tarde, almoça com preguiça e volta a dormir à tarde. Se levanta quase no horário de culto e se arruma, normalmente coloca uma calça, camisa e sapatos, alguns se permitem usar bermudas e outros vão mais longe, usando roupas casuais e chinelo. Ele chega na igreja, se for minimamente descente, antes do culto começar, outros chegam na hora ou o culto já iniciado. Se acomoda no banco e acompanha a liturgia, se distrai vez ou outra com algo que acontece no entorno, ou problemas diários. Algumas vezes sente sono porque dormiu demais e isso faz o processo adverso do descanso e passa para uma enorme preguiça; outras vezes ele percebe que o almoço foi pesado e que agora algo físico o incomoda. Ele se levanta algumas vezes, toma água ou vai ao banheiro, ou até mesmo vai ver o que os filhos, que ele largou, estão fazendo, quando se é um pai ou mãe. Volta para o banco algumas vezes, e até demora para retornar quando encontra alguém no corredor e começa a conversar. Acaba o culto, a primeira coisa que faz é se preparar para partir ou ir adiante de um amigo para conversar. Você imagina que o assunto é sobre o culto ou questões da igreja, certo? Pois está errado, foi falar com o amigo mecânico sobre um barulho no motor ou perguntar sobre a esposa e filhos do amigo que não compareceram ao culto. Às vezes até pergunta sobre alguma programação da igreja local ou coisa assim. Encerra a noite com essas conversas banais e vai embora. Chega em casa e completa alguns afazeres, come algo e dorme. Outra semana comum se inicia e a pregação nem participa da vida dele. Esse tipo de situação, que é muito comum no meio evangélico hoje, é a prova viva de que perdemos algumas coisas no meio do caminho da fé, e uma que quero destacar é o comportamento de reverência, educação e bom ânimo para com o culto. Hoje nós não nos preocupamos com a reverência no culto, somos distraídos, desleixados e preguiçosos com isso. Desde o dia do Senhor em sua inteireza, até o momento específico do culto. Nossa educação, bons costumes e humildade foram jogados no lixo, quando nos preocupamos em ir tomar uma água ao invés de prestarmos atenção no culto, ou pior, paramos para conversar com alguém, é a falta de respeito em si mesma que nos dominou. Eu mesmo, conversando com um amigo e fiel da minha igreja, percebi que criamos um sistema anti- distração com a água estando perto do púlpito, porque é necessária uma coragem para manifestar desconcentração nos outros e no pregador ao tomar a água. Isso fez só quem realmente precisava se dispor a tal ato. O mesmo ocorre com as vestimentas, não que elas sejam pecado, como tomar água também não é, mas deveríamos refletir porque nos importar com isso, e a resposta para essa questão é que, em nossa vestimenta, também reflete o estado de reverência e educação que temos para com o Senhor. E os efeitos psicológicos de usarmos, por exemplo, uma roupa formal, é entendermos que estamos em um ambiente formal diante de um rei. Esse rei é amoroso, compassivo e entende as nossas necessidades? Sim, mas se podemos dar o nosso melhor, por que não o fazer? Precisamos mudar nosso comportamento, devemos ter ânimo para o culto e, também, para o dia do Senhor. Se Deus nos deu tamanha benção, por que não a aproveitar? O dia do Senhor deve ser vivido com felicidade, prazer e contentamento no Senhor. Se não entendermos essas questões todas, faremos do nosso ambiente de culto, que começa em casa, uma grande palhaçada. c. O texto bíblico “A Palavra de Deus deve envolver tanto o ministro quanto o ouvinte. O crescimento não pode ter lugar se o ouvinte não aproveitar da Palavra.”43 “Pergunta 157: Como a Palavra de Deus deve ser lida? Resposta: As Santas Escrituras devem ser lidas com uma alta e reverente estima; com a firme persuasão de serem elas a própria Palavra de Deus e de que somente ele pode habilitar-nos a entendê-las; com desejo de conhecer, crer e obedecer a vontade de Deus nelas revelada; com a diligência e atenção ao seu conteúdo e propósito; com meditação, aplicação, abnegação própria e oração.”44 A Palavra de Deus, como já ficou mais que claro até aqui, é a nossa fonte de conhecimento e, consequentemente, de culto a Deus. O que ocorre na pregação é simples e claramente o uso dela para a edificação da Igreja, por homens chamados por Deus para esse preparo, trato e cuidado com o modo e a forma desse sacrifício de louvor que atinge as mentes para a glória de Deus. O pastor tem a função de abrir a Bíblia e usá-la para a transformação das pessoas, não pode somente abri-la e nem tão somente tentar transformar pessoas pela sua força. É mais que necessário que ele faça isso de forma completa, de modo que o Espírito pelas suas explicações e com a Palavra fale a cada indivíduo que está ouvindo o sermão. Não há outro modo. O ouvinte que está lendo esse livro tem a obrigação de prestar atenção no texto lido pelo pastor, você precisa perceber cada aspecto do que ele está lendo, ou pelo menos, tentar se esforçar ao máximo nisso. É a sua função bereiana (At 17:11), o seu intento deve ser tal como esses irmãos do passado que a Bíblia elogia. Observe o texto e o que o pastor fala. O texto que o pastor leu pode o acusar de alguma mentira ou erro, o próprio texto bíblico pelo Espírito irá te falar e te mostrar o que está certo e errado. Claro que, para isso, é necessária uma vida espiritual com Deus que seja intensa e real, não há como você querer arriscar comer um alimento que pode estar envenenado sem ter o antídoto ou como buscar o mesmo em algum lugar. E a prevenção e prudência, que são aspectos do caráter cristão, devem sempre andar com você, inclusive no momento de cultuar a Deus. Desse ínterim, é imprescindível a vida devocional e íntima com o Senhor, pois é Ele que vai te ajudar e te alertar. A vida com o Espírito, em intimidade, permite uma apuração intelectual e sensível dos erros e heresias que podem aparecer por aí, principalmenteem pregações e estudos. Você precisa de algumas ferramentas que já falamos e outras como: ter estudado a Bíblia toda, se for possível saber o contexto de cada livro bíblico, entender de forma mais panorâmica a história bíblica como um todo, também conhecer, e muito, as doutrinas bíblicas de modo sistemático. Desse modo, nenhum texto vai ser desconhecido ou estranho a você, de modo que alguém pregue outra doutrina e passe despercebida pela sua percepção. Não podemos esquecer esse ensino: “cada pessoa deve afirmar o que a Palavra de Deus diz, e qualquer um que ignore a Palavra de Deus deve ser ignorado (1 Coríntios 14.38).”45 d. A ilustração Não há muitas coisas sobre o que dizer da ilustração, senão aspectos técnicos que somente os pastores iriam ter alto benefício. Mas pequenas colocações são necessárias para permitir uma melhor imaginação e entendimento dessa função do sermão, além de que algumas críticas são mais que necessárias, pois eu, como muitos, já vimos a ilustração se tornar o sermão e, por conseguinte, a Bíblia ser substituída pela experiência dita divina. A ilustração nada mais é que o caminho comum seguido pelos pastores na hora de pregar um sermão; eles leem o texto e começam trazendo uma história ou acontecimento que ilustre contemporaneamente o texto bíblico, de maneira que a clareza para a passagem seja maior. Eu costumo usar a abordagem contextual e explicativa, em que coloco o contexto dos irmãos daquela época e comparo com o nosso entendimento atual. Assim sendo, o ouvinte entende do que estamos falando e para onde vamos, até porque é nessa parte da estrutura do sermão que será exposto o seu tema ou o seu objetivo, a não ser em um sermão temático. Infelizmente, em muitas igrejas, esse momento é usado para, após uma leitura bíblica, a pessoa tentar emendar alguma experiência pessoal ou história mirabolante que leva o tempo do sermão todo para ser contada e que manifesta, primeiramente, um sensacionalismo em cima do místico como se fosse espiritual e, segundamente, uma estrutura de aprendizado que tem o foco na pessoa que está falando e não no seu conteúdo ou fonte. Eis uma heresia montada. Eu vi isso com meus próprios olhos muitas vezes, inclusive preguei em uma igreja (primeira e última vez) onde a falta desse método em minha pregação causou tanto impacto que eles se escandalizaram. Por isso a importância de buscar uma igreja bíblica, pois senão você sofrerá as consequências de tornar seu ouvido um pinico e não uma ferramenta que te permitirá ouvir palavras vivas que te fortalecerão durante a semana. e. O tema Consideremos que estamos diante de uma igreja bíblica, pois todos os antídotos espirituais para se evitar uma péssima igreja, já foram anunciados nesse livro. Então, diante desse tipo raro de igreja: a bíblica, estamos ouvindo um sermão coerente, o pastor já leu o texto bíblico, orou, ilustrou e agora estamos diante de um tema exposto ou, pelo menos, intuitivamente claro. Mas como sabemos que está claro? Considerando que o pastor não falou em alto e bom som “esse é o tema”, analisamos os seguintes fatores. Primeiramente, e acima de tudo, o texto bíblico foi lido, nele já se contém um ou mais temas que são evidentes ou, se você estuda a Bíblia como falamos, para você ficaram evidentes. Eis a primeira ferramenta, conhecer o texto ou fazer a primeira leitura com o máximo de atenção, buscando entender coerentemente. Mas vamos considerar que ainda assim está difícil entender o tema, nesse caso partimos para a ilustração, ela tem um motivo para ser feita, que é evidenciar alguma ideia e essa mesma é ou tem relação com o tema. Se nada funcionar, espere a exposição e siga o caminho do sermão com o pregador. Agora, se o tema estiver exposto, partimos para uma análise própria do que entendemos daquele tema e, também, o que retemos daquela passagem lida sobre o tema. É importante ter essa observação enquanto o sermão ocorre para que haja o máximo de concentração e interesse na pregação, como também o máximo de aproveitamento do que iremos aprender e apreender46. f. A exposição Existe o ápice do culto que é o sermão e dentro, igualmente, existe um ápice, que é a exposição, principalmente quando tratamos de um sermão expositivo. Inclusive, me permitirei a liberdade de tratar diretamente desse tipo de pregação, mas não será difícil ao leitor conseguir aplicar os princípios aqui expostos a todos os tipos já citados. Na exposição temos a Bíblia tomando sua forma viva diretamente aos ouvintes, é aqui que ocorre o corpo e desenvolvimento da pregação e é aqui que construiremos os argumentos e recursos para a boa aplicação. O pastor em seu intuito honesto de alimentar o rebanho deve cumprir a melhor formulação na exposição, pois uma ilustração malfeita, uma aplicação meia boca não interferirão tanto no entendimento quanto uma exposição inacabada, inadequada ou mesmo incoerente. O ouvinte deve prestar atenção em como os tópicos são desenvolvidos, analisando o caminho do pregador pelo tema/texto, etc. É crucial caminhar conforme o sermão se esmiúça na sua frente, abrindo as novas informações da passagem como uma boneca russa47 que vai desvendo mais e mais daquilo que, ao primeiro olhar, não parecia existir. Tente reparar nas palavras repetidas, tente perceber as nuances e os detalhes primordiais do texto; anote se for necessário para a sua memorização das informações faladas, e tente ver mais e mais Deus no texto. Observe como Cristo se apresenta naquela passagem, se há alguma referência indireta ou ação de Cristo que seja evidente. Não perca nenhum dado daquela exposição, mas tente ao máximo prestar atenção e introjetar dentro de sua alma cada aprendizado exposto lá. Preste atenção também em como o pastor movimenta as mãos, os sinais que ele revela de forma não audível e quais palavras ou expressões são dadas ênfase. Um bom pregador sabe como desenvolver sua retórica para o benefício de quem o ouve, então tente aprender ao máximo todas essas linguagens não verbais, mas de extrema importância. Repita para si mesmo os tópicos sempre que forem falados e busque conectar todos eles e se conectar a eles. Conforme é feito o processo de encontro entre os tópicos, deve haver a aproximação deles à sua vida; ou seja, você deve tentar conectar o que está aprendendo com sua vida, a começar pela mente, pois deve haver um espanto por aquele conhecimento que te faça contemplar mais a Deus e desejar meditar sobre tais ensinos, outra questão é a experiência de vida com o Senhor no momento devocional ou dia a dia e o que está sendo falado. Sempre tente conectar e desenvolver para você mesmo essas questões. Em resumo, preste atenção na exposição, a entenda, a desenvolva mentalmente, siga seu caminho, aproveite a linguagem corporal e audível do pregador e introjete em você como um combustível necessário. E devemos sempre lembrar das palavras de Joel Beeke: “Ouvir com uma consciência compreensiva e sensível. A parábola do semeador (Mt. 13:3-23; Mc. 4:1-20; Lc. 8:4-15) nos apresenta quatro tipos de ouvintes, os quais, todos ouvem a mesma palavra: O ouvinte superficial, de coração empedernido. Este ouvinte é como um caminho endurecido. A semente do semeador, ou a Palavra de Deus, causa pouca impressão neste coração empedernido. O evangelho não penetra neste ouvinte, e a lei não o assusta. Um ministro poderia pregar através de todos os dez mandamentos, dirigindo-se às necessidades e aos pecados das pessoas, mas o ouvinte empedernido dá de ombros. Se um pastor se dirige à consciência desta pessoa, este coração empedernido transfere a censura para outros. Ele raramente muda sua vida pela convicção da Palavra de Deus. Ele não aplica a pregação ao coração. O ouvinte que se impressiona facilmente, mas é resistente. Algumas sementes caem em solo rochoso. Uma planta começa a brotar desta semente, mas logo fenece e morre porque falta–lhe nutrientes suficientes. A planta não pode sobreviver porque não pode enraizar entre as pedras. Jesus apresenta aqui um ouvinte que, inicialmente, parece ouvir bema Palavra. Este ouvinte gostaria de acrescentar religião à sua vida, mas não quer ouvir sobre um tipo de discipulado radical que envolve autonegação, tomar a sua cruz e seguir a Cristo. Assim, quando vem a perseguição, este ouvinte falha em viver o evangelho na prática. Ele quer ser amigo da Palavra, da Igreja e de Deus. Como Israel, este ouvinte não responde à Palavra de Deus quando desafiado a escolher: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, seguí-o; se é Baal, seguí-o. Porém o povo nada lhe respondeu” (1 Reis 18:21). Como ouvintes, nós não podemos ter Deus e o mundo; amizade com o mundo é inimizade contra Deus. Devemos fazer uma escolha. O ouvinte distraído, indiferente. Algumas das sementes da Palavra de Deus caem em solo cheio de espinhos. Como diz Lucas 8:14 “A que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus frutos não chegam a amadurecer”. Este tipo de ouvinte tenta absorver a Palavra de Deus com o ouvido, enquanto com o outro pensa sobre negócios, taxas de juros, fundos de pensão e inflação. Ele serve a Deus apenas parcialmente. A Palavra de Deus é rapidamente sufocada pelos espinhos. O ouvinte que compreende, que dá frutos. Algumas das sementes de Deus, caem em solo rico, fértil. Jesus diz que este ouvinte ouve e compreende a Palavra de Deus (Mt 13:23). Exatamente como uma semente rapidamente enraíza no solo fértil, assim a Palavra de Deus implanta-se no coração sedento deste ouvinte. Como uma planta brota, lançando raízes profundas e mostrando folhas sadias, a Palavra de Deus é integrada profundamente na vida deste ouvinte, na família, nos negócios, relacionamentos e na conduta. Com a ajuda do Espírito Santo, este ouvinte aplica o ensino do evangelho, que ele ouve no domingo, à sua vida no decorrer da semana. Ele crê em seu o coração que, se Jesus sacrificou tudo por ele, nada é muito difícil de renunciar em grata obediência a Cristo. Antes de tudo mais, ele busca o reino de Deus (Mt. 6:33). A graça reina em seu coração. Ele frutifica e produz “a cem, a sessenta e a trinta” (Mt. 13:23).”48 g. A aplicação A conclusão do sermão é a sua aplicação, onde o pastor deve inferir na mente dos cristãos ferramentas para eles usarem o que foi pregado em sua vida. Muitas vezes essa aplicação já se inicia na exposição e, aos poucos, vai sendo aprimorada, mostrando suas possibilidades conforme é desenvolvido o sermão. É valoroso ao ouvinte ouvir e entender, junto com a exposição, o que esse texto tem para você. Guarde essas palavras finais e torne elas parte de você, tente aplicar as mesmas em sua mente, antes de tudo, e entendendo aquela verdade, faça como um amigo uma vez me disse: “eu entendi intelectualmente, agora preciso assentir em minhas afeições”. É essa formulação que trará vida para você que ouve. Em síntese, essas são as partes que envolvem um sermão e as ferramentas para o entender. Agora, vamos para uma ampliação da aplicação, pois há algo a mais a ser dito sobre isso, na verdade, há algo a dizer sobre todo o culto em sua aplicação pós-dominical. III. Pós-culto “Pergunta 160: O que é exigido dos que ouvem a Palavra pregada? Resposta: Exige-se dos que ouvem a Palavra pregada que atendam a ela com diligência, preparação e oração; que comparem com as Escrituras aquilo que ouvem; que recebam a verdade com fé, amor, mansidão e prontidão de espírito, como a Palavra de Deus; que meditem nela e conversem a seu respeito uns com os outros; que a escondam no coração e produzam os frutos devidos no seu procedimento.”49 Você ouviu o sermão, participou do resto da liturgia e, talvez, tenha contemplado um batismo ou recebido a Ceia do Senhor. Termina o culto com a recepção da benção apostólica, conversa algumas coisas com alguns irmãos na fé e vai embora. Logo se inicia a sua semana e o que acontece com tudo que viveu no domingo? O que você fará com o que ouviu da pregação? Como vai aplicar o que aprendeu? É disso que iremos tratar agora. Imagine que você ouviu uma pregação em Efésios 2:1-10, segue o texto: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” O pastor expôs esse texto, explicando que nosso estado era de morte espiritual, mas o Senhor Deus foi misericordioso e deu Seu Filho para nos salvar do pecado e da morte, e em conseguinte nos deu a fé para crermos. Ou seja, o sermão se resume a mostrar as ações graciosas da parte de Deus para nos salvar e como Ele é o Senhor da Salvação, inclusive as suas obras são decretos dEle. Agora, vamos pensar como injetar isso na vida. O que pensar? Nossa vida com Deus, na sua forma diária, auxilia e muito a usarmos a pregação para o nosso benefício, pois é diante de Deus, ao começar o dia, que vem a primeira aplicação, pois seu pensamento deve terminar com o sermão e, ao acordar e começar o processo de oração e devocional, intensificar essas ideias que foram recebidas em sua mente, de forma mais que intencional. Seus pensamentos devem estar afundados, pegando o exemplo que citei, na graça de Deus, em como você era miserável e como o Senhor transforma e guia seus passos. Você deve tentar levar, durante o dia, os seus pensamentos a Deus e às coisas divinas, e isso inclui claramente a pregação do domingo. Sua mente precisa naturalizar esses pensamentos e tornar eles prazerosos a ti, por meio do Espírito, assim acintosamente você deseja cumprir ordenanças aprendidas, adorar a Deus com suas palavras e ações e contemplar mais dEle em sua imaginação. Por exemplo, ao se deparar pensando algo que é pecado, você deve lembrar o que ouviu na pregação e, com isso, tentar movimentar o que está pensando para Deus e seu amor. Agora você tem uma nova identidade em Cristo, você é o salvo pela graça, o eleito de Deus, aquele que nada fez para ser dada tamanha misericórdia, mas que muito deve a Deus e, não por dívida, mas gratidão e amor, mudará os pensamentos e lutará contra o que de mal tentar se estabelecer em sua mente. John Owen apresenta críticas fenomenais a situação espiritual que muitas vezes nos colocamos, onde não amadurecemos, mas nos tornamos inúteis na vida de fé: As vezes pode parecer que o nosso progresso rumo à mentalidade espiritual é muito vagaroso. O nosso amor pelas coisas espirituais é como um arbusto do deserto que mal parece crescer. Isso porque nos contentamos com a nossa espiritualidade presente. Cremos que nascemos de novo (e bem pode ser verdade isso), mas não nos esforçamos para crescer mais, para sermos mais santos, mais semelhantes a Cristo. Aceitamos o perdão, mas não nos comprometemos com mais nada! Não seria tal atitude uma desonra para o evangelho? Não faria com que o mundo olhe para os cristãos com escárnio? [...] a dificuldade está em nós mesmos, não na espiritualidade. Não queremos pôr de lado todos os empecilhos (Hebreus 12:1). Ou talvez a dificuldade surja do fato de que pensamos constantemente no início da nossa experiência espiritual, e não nos esforçamos para chegar a novas experiências (Hebreus 5:12-14).50O que fazer? Nossas ações devem refletir a ética bíblica, devem se pautar nela, afinal não há como se dizer cristão e viver como um ímpio vive, exprimindo suas ações como um pagão. Isso é inviável, só mostra que você não é convertido ou é um fraco na fé, como já citamos. Assim, se evidencia que a Palavra ouvida no púlpito deve transferir-se às nossas mentes e, por meio das mentes, aos nossos pés e mãos. Você entendeu, com o exemplo que dei, que sua vida só faz sentido porque Deus foi gracioso em te salvar, logo é seu dever pensar em como agir para o glorificar, refletir como você já age e o que pode melhorar. Será que trato as pessoas a minha volta com misericórdia, sendo que o próprio Deus agiu assim comigo? Será que eu tomo decisões na minha vida que glorificam a Deus? Quando aquela tentação que mais atrai a sua carne se apresenta, você lembra de Deus? Será que você realmente saiu do império das trevas? E se tem tanta certeza, por que ainda comete erros tão bobos? Essas reflexões, e tantas outras, devem fazer parte da nossa meditação e as respostas devem ter ações coerentes da nossa parte, pois se eu percebo que sou egoísta, devo começar a me policiar e a forçar a solidariedade. Que meu ego se exploda, o importante é o meu crescimento na fé e a glória de Deus. É assim que devemos pensar e agir. A fé constitui o meio pelo qual as pessoas entendem e amam as verdades espirituais nas quais a mera razão humana não vê nenhuma atração real (Efésios 1:17-19). Segue-se que, quanto mais entendimento tivermos pela fé, mais crescerão o nosso amor e a nossa dedicação às verdades espirituais. Vamos nos tornando cada vez mais espirituais (2 Coríntios 3:18).51 Como viver? A resposta para essa pergunta é viver para a glória de Deus. Esse deve ser o nosso objetivo, o nosso motivo de vida, a nossa dedicação primordial, o nosso prazer e acalento. Se não vivemos com essa meta, não entendemos nada do evangelho e nem fomos convertidos. Cada pregação deve te levar a pensamentos onerosos à carne, mas que glorificam a Deus. Cada sermão deve te fazer refletir sobre suas ações e as mudar, de fato. Cada palavra dita em um púlpito que ama o Senhor, deve nos fazer amar mais a esse Senhor e desejar com todas as nossas forças cumprir o que Ele nos pede. Em cada domingo, temos um entendimento mais claro da nossa vocação espiritual, temos um renovo no chamado individual e coletivo de levar o reino de Deus e trazer a sua glória aos perdidos; é como se a cada semana recebêssemos, de novo e de novo, o chamado salvífico mais profundo. Você ouviu que foi salvo pela graça e que é livre da prisão do pecado e da servidão a Satanás, desse modo suas ações são pautadas na vontade de servir a Deus em todos os lugares. Ao conversar com um amigo ímpio, você se preocupa com ele, diferente das outras pessoas. Você tenta mostrar o evangelho, mesmo que não seja em palavras, mas também com elas. Conforme vive com cada pessoa do seu meio, por pior que seja o trato relacional, você busca tornar a relação mais graciosa, pelo menos ao que condiz com a sua parte. Estudar ou praticar um esporte, são ações que você fará com desejo de refletir Deus, seja pelo que está fazendo em si, ou mesmo pela ética que você dispõe nessa ação. Não importa onde você está, mas que Deus seja engrandecido e você exerça o que aprendeu no domingo. E, o que eu disse atrás, de levar ao ímpio uma palavra de conforto, usar as brechas para evangelizar, é mister que a ação consciente de mostrar o evangelho ocorra, de fato. Afinal, você viu que a salvação é pela graça e é algo melhor que o estado humano presente, por que não influenciar as pessoas que você considera e ama para buscarem essa liberdade e graça? É uma imbecilidade sem tamanho e um egoísmo maior ainda não relatar a elas o seu estado presente e a sua necessidade intrínseca e transcendente. Que Deus nos ajude com as nossas falhas tão terríveis, egoístas e maldosas. Espero que o Senhor nos leve a fazer mais do que pensamos e movimentamos em nosso dia a dia, pois é vergonhosa a nossa atitude como cristãos. Recebemos tanta graça de Deus, inclusive ao podermos cultuar e receber uma Palavra de Vida, então que as nossas mentes e mãos comecem a levar as pessoas o pão que estamos comendo. Novamente cito Owen: “O nosso amor a Deus é que nos motiva a anelar que a Sua glória seja vista.”52 IV. O sermão ruim Em toda a minha vida cristã, que tem sua gênese em novembro de 2013, eu nunca passei mais que 2 anos seguidos recebendo uma boa pregação. Apenas em 2017 e 2018 tive um grande pastor que me ensinou com sua vida e sermões sobre a fé cristã, foi dele que aprendi muito sobre o que é um ótimo sermão e como fazê-lo; foi graças a esse líder carinhoso, fiel ao Pai e consistente que aprendi muito da fé reformada e da vida, de fato, cristã. Quando fui convertido por Deus, comecei a ler a Palavra de Deus no outro dia e, em pouco tempo, já estava colocando em xeque tudo que me ensinaram. Não havia dúvida que a Bíblia e o que era pregado tinham, muitas vezes, divergências assustadoras, e eu nunca tive uma personalidade passiva, mas uma índole afrontadora e antissistêmica que, com o Espírito Santo, se voltou a inquirir os superiores da igreja sobre o que estavam falando. Sofri represarias, comecei a atrair pessoas e ser rejeitado por tantas outras, de modo que Deus já estava trabalhando a minha vocação pastoral, discipulado e coragem bíblica; afinal um cristão verdadeiro é antissistêmico por natureza. Destarte, não demorou muito para eu ser considerado descartável do sistema vigente da igreja que congregava desde que nasci, sim, nasci na igreja, mas não era convertido até a data que citei. Em novembro de 2016 fui convidado a sair e, com muita luta externa, consegui minha carta de alforria; não tive muita dificuldade para saber em qual igreja eu ia congregar, já havia alguns meses que desejava ir para a única igreja histórica e calvinista da cidade. Entrei na igreja e, já logo me envolvi com a liderança de jovens, começando trabalhos de crescimento e desenvolvimento na fé. Conheci o pastor principal e em pouco tempo já era seu discípulo; buscava sempre o visitar, pegar referências bibliográficas com ele, observar como o mesmo agia com os fiéis, etc. Foi um tempo de grande aprendizado, na primeira pregação que vi dele, chorei e me encantei com a forma de exposição bíblica tão desconhecida para mim. Eu tinha desejo de ir aos cultos de domingo, era maravilhoso ouvir um sermão expositivo de tamanha classe e espiritualidade, jamais havia ouvido algo assim, mesmo na internet eu achava bom, mas não era a mesma coisa que presencialmente. Foram dois anos assim, mas por questões políticas e mundanas os presbíteros daquela igreja decidiram retirar esse pastor tão querido; eu fiz o que pude, usei a Bíblia em todo o momento para os fazer perceber a idiotice de suas ações como líderes da igreja, porém não adiantou. Em 2019 houve a mudança de pastor, e eu presenciei uma igreja que tinha o potencial para crescer, começar a definhar. Eu havia passado de um líder de jovens para um pregador consciente que tentava, ao máximo, amenizar a falta de alimento nos domingos, com um material expositivo profundo. Foi quase como criar um culto marginal ao culto dominical, onde, pelo menos, os jovens eram alimentados. Mas mesmo assim, com toda essa minha disposição, fui frustrado pelo cansaço daquele sistema que oprimia a fé em detrimento de burocracias, politicagens e afins. Desse ínterim, ficou claro que eu não era mais útil a eles, então começou a haver os boicotes, as patifarias e idolatrias a líderes que mal sabiam fazer uma retórica aceitável. Eu suportei até 2021, quando ao fim desse ano fui chamado a iniciar a plantação da igreja Comunidade Cristã Reformada. E por que eu estou te contando tudo isso, leitor? Simplesmente porque eu presenciei, na maior parte do tempo, pregações inúteis, destoantes com o texto bíblico, egocêntricas ou, no mínimo, repugnantes à fé cristã. Ficando evidente que tive de aprender como aproveitar sermões ruins,eu gostaria de trazer um pouco sobre essa questão e ferramentas que criei para desenvolver minha fé, mesmo que o sistema ou a igreja onde eu esteja não queira isso. Métodos e notas para sobreviver ao sermão ruim Eu deixei claro a necessidade do texto te levar a pensar e desenvolver em você alguma de suas afeições, de modo que já na leitura bíblica antes da exposição, você esteja sendo edificado. Lembre-se que nossa regra de fé e prática, nossa epistemologia e nosso fundamento epistêmico é a Palavra de Deus, desse ínterim se retira o ensino que dela já obtemos muito. a. Peça ajuda a Deus e seja humilde Não posso te garantir que é algo fácil de fazer, você ter de arrumar e entender para si o sermão, mas é ímpar que isso ocorra para uma garantia de crescimento, independentemente de onde você está. Eu precisei ouvir pregações inteiras malfeitas em que o aproveitamento estava na crítica da explicação que eu mesmo tinha de tecer, para não cair em erros. Em uma nota de um desses cultos eu digo: “Pai, perdoa-me se estou sendo raivoso, irado, desejando e/ou pensando o mal de outro. Peço que me guie pela Tua Palavra para eu me encontrar pautado na Verdade e não no achismo. Senhor, me é visível uma situação que é prejudicial à igreja que congrego, haverá como resolvermos isso? Peço que, conforme Tua vontade, me responda. Pai, sou um pecador miserável que foi alcançado e transformado em seu servo, então peço que me use como Teu instrumento para ajudar minha igreja, se assim for permitido por Ti. Sabemos que nenhum desejo de atuar no Reino nos é colocado que não seja vindo de Ti; porque nossa natureza tem o desejo de fugir de cumprir Teu querer, afinal a Tua Palavra nos declara isso. Mas em Ti, pelo Teu Espírito Santo, somos renovados inteiramente ao ponto de termos, vindo de Ti, o desejo de amar a Tua obra. Então, com isso, Pai, concluo que Preciso de Ti para sobreviver a tudo isso, e tenho um desejo que só em Ti e por Ti se cumprirá tal necessidade. Que a Tua Glória seja manifesta em meio a tudo isso.”53 Perceba que as minhas palavras tentam sempre manter a humildade, pois não era eu que estava certo como fonte do saber, mas a Palavra de Deus me revelava informações e situações que não eram para estar ocorrendo no púlpito. Desse modo, eu escrevo uma oração sincera e, em boa medida, desesperada por socorro divino. Deus, depois dessa oração, amplia mais minha visão e eu começo a perceber mais coisas ruins a minha volta e no púlpito; então esse era o desejo de Deus. Aqui entendemos a primeira lição: orar a Deus pedindo entendimento e humildade para saber entender o que está certo e errado e, com isso, conseguir criticar coerentemente o erro. b. Usando o erro para o seu benefício “No começo do estudo, ele disse que não existem crentes carnais, mas na realidade existe sim e até Calvino defende tal tese. Ele fez todo um resumo sobre leite e carne desnecessário, como que falando com qualquer idiota que não conhece a Escritura. Sendo que é óbvio isso. A questão claramente é sobre profundidade. Tanto o é, que o ensino bíblico de conhecer mais de Deus tem a ver com isso, dentro do que sabemos dEle, iremos aprofundar-nos.”54 Existe uma música que eu gosto muito, ela é do estilo rap, mas trata de questões muito reais para a igreja, e principalmente para nós nesse estudo. As linhas que quero destacar dizem: Perdi a fé na fé que eu tinha Era só o que me faltava Para poder abrir minha boca E dizer tudo que eu pensava Esses dias eu fui ao culto Precisava ouvir uma palavra Cheguei lá cabisbaixo Saí de lá pior que eu tava Eu to cansado de ouvir Duas horas de pregação E no final das duas horas Só me toca a ilustração55 Nessa letra fica evidente que ele estava ouvindo pregações tão ruins que a parte da contextualização e imaginário eram as únicas coisas que tocavam, de fato. No caso da nota que coloquei acima, eu não consegui aproveitar nem mesmo a ilustração, pois era fraca e repetitiva; pois o pastor só repetia a Bíblia com palavras mais feias e ignorantes, ou seja, melhor seria só ter lido a Palavra e ficado quieto. O que eu estou tentando ensinar é que você vai ter que pregar para si mesmo, por meio do Espírito Santo, e o escopo e fundamento de sua “auto-pregação” é o erro e a inutilidade do pregador. Infelizmente tem de ser feito isso, para que você ouvinte consiga ter algum alimento; mas de modo nenhum eu quero defender que esse é o método certo de ouvir pregação, aqui estamos tratando de uma gambiarra intelectual para que você consiga ter alguma água nesse deserto que é a igreja onde você congrega. c. Conhecimento e cosmovisão “Fico analisando como nós cristãos protestantes tentamos adaptar todas as teses filosóficas e teologicamente liberais no nosso meio. O maior erro dos nossos teólogos, que não se limita a fé reformada, foi o erro de, em todas as épocas pré e pós-reforma, permitir a entrada dessas doutrinas não-bíblicas e incompatíveis com a cosmovisão cristã. Eles sempre tentaram adaptar as teses de forma que elas fossem preenchidas de Bíblia. As teses são como uma forma e nós as preenchemos de Bíblia, ou seja, a Bíblia e a fé cristã se tornam adaptadas as teses demoníacas dos séculos. Uma dessas teses é a ideia de que temos uma divisão teoria x prática que podem ser feitas das formas: conhecimento x vida, ideia x ação, ideal x realidade. Concomitantemente há idolatria ao empirismo, a ação por si mesma, ou podemos chamar ‘praxeologia’, tese essa que Karl Marx amava, ao dizer ‘os filósofos antigos tentaram entender a realidade, nós viemos transformá-la’. O disfarce de que conhecimento sem prática não funciona, é o melhor meio de você simplesmente ignorar o conhecimento, apesar de idealmente o citar.”56 Nessa pequena nota fica evidente o destaque de uma busca por entender coerentemente e, de forma anamnética, o que está influenciando a igreja, em particular, eu buscava entender por que aquele culto de ensino estava preenchido de jargões e interpretações modernistas e mundanistas, as quais deveriam ser motivo de ataques nossos e não da piedosa aceitação, abraçando as teses dos demônios como se fossem de anjos. Não tenho a pretensão de debater se a minha nota teve total coerência ou um embasamento ímpar, mas a tentativa de compreender, mesmo que errando, só pode ocorrer graças a minha obstinação de estudar e buscar sempre entender mais e mais da cosmovisão cristã e do que isso, com efeito, representava para nós. Ou seja, eu queria compreender a realidade com o prisma bíblico, independentemente de quem falava que isso era bom o ruim, mas simples e objetivamente porque o Espírito Santo me incomodava e indicava que era bom. É bom você entender como pensar biblicamente. É bom você desenvolver uma intelectualidade cristã. É bom você se libertar das amarras do pecado e buscar ser mais parecido com Cristo. É bom entender que ser mais parecido com Cristo significa destruir fariseus em discussões e, no âmbito espiritual, derrubar muralhas demoníacas que oprimem a Igreja. Não há como ser cristão e burro, é inadmissível para a fé cristã, biblicamente falando. Afinal, “O princípio da sabedoria é: Adquire a sabedoria; sim, com tudo o que possuis, adquire o entendimento.” (Provérbios 4:7) d. Teologia é vida “Gênesis 2:15-17 é o estabelecimento de uma aliança com Adão, o representante da humanidade naquele momento. Morte: separação total de Deus. Ele disse que sempre seremos o ato que falha da aliança. Porém, se a aliança da redenção é feita de Cristo (segundo Adão) para com Deus, selado pelo Espírito; não precisamos entender assim, mas como justificados e amados em Deus, no qual somos guiados ao arrependimento, mas nunca como que dependendo de nós, então a falha é limitada a nada diante de Deus porque o pacto está em Cristo e no Espírito, na atuação e mediação dos mesmos. Tudo bem que obediência é o que nos compete, mas quer dizer que ao errarmos quebramos a aliança? Seria o poder de Cristo fraco? Ou Ele não é o segundo Adão, nosso substituto?”57 As minhas notas são de anos atrás,eu obtive muito mais informação e estudei mais questões, as quais na época das notas eram rabiscos menores em minha mente. A título de exemplo, essa nota que citei, ela trata de uma análise simplista, mas com uma dúvida real sobre o que estavam me passando; pois eu não havia entendido onde aquilo se encaixava. A questão que quero desenvolver aqui é a necessidade de obter e crescer em conhecimento teológico, pois ela é a estrutura do conhecimento que salva. A teologia é o estudo sobre Deus, as doutrinas que Ele revelou e o que Ele fez e faz; desse modo, não há como um cristão escapar dessa matéria, porque ela ou está inserida em sua alma, ou a sua alma precisa nascer de novo para ter a teologia injetada nela. “A teologia é inevitável para todo cristão. É nossa tentativa para entendermos a verdade que Deus nos revelou – algo que todo cristão faz. Portanto, a questão não é se vamos nos engajar em teologia, mas se a nossa teologia é correta ou incorreta. É importante estudarmos e aprendermos porque Deus fez grande esforço para se revelar ao seu povo. Ele nos deu um Livro, que não deve ficar quieto numa prateleira exercendo pressão sobre flores secas, mas deve ser lido, examinado, meditado, estudado e, principalmente, entendido.”58 Ou seja, não há escapatória, precisamos estudar e fazer teologia, e, por assim dizer, quero que fique entendido ao leitor que a busca do cristão por isso tem duas necessidades as quais eu preciso enfatizar. (1) A teologia torna o cristão mais próximo de Deus, se bem-feita, e com fazer bem me refiro a estudar com autores bíblicos e ter sempre em mente que a Palavra Inicial e Final é da Bíblia e não do homem. (2) Outro benefício, mais específico, é que a teologia faz você raciocinar e desenvolver conhecimento suficiente para observar um estudo ou sermão com um olhar mais bíblico, com menos achismo e, assim, conseguir articular melhor os bons conhecimentos e desconstruir e reorganizar as péssimas informações nesse meio da igreja. De modo que você não será refém de um péssimo pastor e ajudará os irmãos à sua volta da mesma forma. E caso haja um pastor coerente em seu meio, você se enriquecerá mais e não será um estorvo para o humilde servo de Deus, porque crente sem teologia é um ser perigosamente ignorante. V. Voltando ao início Por fim, quero trazer à tona que tudo o que foi dito aqui deve ser muito bem analisado, não sou dono da Verdade, somente servo dela; e sinceramente, espero ter sido um servo fiel. Creio que essa última parte que relatei e transmiti a vocês sobre o sermão ruim, seja um indício de como analisar qualquer sermão com olhar mais sério, mas também desejo, no fundo do meu coração, que essa parte transmita a necessidade de retornar aos pontos do pré-culto, porque é de extrema urgência pensar por que você está em uma igreja ruim, se realmente estiver, e mais profundamente, por que você continua aí. São dúvidas válidas e de necessária resposta, para o seu bem espiritual e, se houver, da sua família que te acompanha até aquele meio. Eu termino todos os ensinos desse capítulo crendo que eles te ajudarão a ser um cristão mais ativo e consciente da sua missão e como ajudar a sua comunidade evangélica local. Não espero fazer milagres, de modo algum, deixo eles para quem realmente faz: nosso Senhor. Mas tenho em meu coração que esses ensinos são a exteriorização de uma necessidade que, por muito tempo, foi minha. Eu vivi esses problemas e essas discussões, e eis que a necessidade fez o escritor, e esse escritor espera ter te ajudado. Perguntas para a revisão 1 – A igreja local tem de ter quais fundamentos? 2 – Quais os elementos de uma confissão de fé bíblica? 3 – O que compõe uma vida com Deus? 4 – Qual a função do Dia do Senhor e por que é o domingo? 5 – Qual a liturgia bíblica? 6 – Quais os tipos de sermão citados nesse capítulo? 7 – Como aproveitar o texto bíblico? 8 – Como aproveitar o tema? 9 – Como aproveitar a exposição? 10 – Como aproveitar a aplicação? 11 – Como agir mediante o sermão ruim? 12 – Como usar o erro no sermão para o amadurecimento cristão? 13 – Qual a necessidade da teologia para ouvir um sermão ruim? Leituras sugeridas: A Família na Igreja: ouvindo sermões e participando das reuniões de oração – Joel Beeke O Culto Público: Uma breve teologia e por que deve ser preferido ao privado – David Clarkson As Obras de João Calvino - Volume 1 (texto: A Necessidade da Reforma) – João Calvino Renovando a Mente – Vincent Cheung A Prática da Piedade – Lewis Bayly Capítulo 4 – Conclusão Eu, sinceramente, espero que esse livro traga conhecimento para aqueles que o leram, de modo que fique mais claro o que é o nosso fundamento da vida, inclusive do culto, que é a Palavra; também as características desse culto e como aproveitar ao máximo esse meio da graça de Deus se manifestar à comunidade cristã (Ed 9:8). Espero também, de modo humilde, que a igreja local do leitor seja abençoada com um cristão mais cônscio de suas responsabilidades e disposto a atividades que envolvam o crescimento espiritual, pois o que eu trago como crítica no livro, não é nada mais do que vemos na Palavra, com aspecto profético e, até mesmo, apocalíptico, e em adição, situações e colocações totalmente desvinculadas do que o Senhor deseja para o seu povo (2 Tm 4:3-4). Somos dEle, e para Ele vivemos, nos movemos e existimos (At 17:28). Que nossa devoção a Deus seja o princípio regulador de nossas vidas, e essa devoção se inicia com a busca pelo conhecimento bíblico e uma renovação de nossas mentes (Rm 12:1-2), desejosos de fazer nossos corpos serem sacrifícios vivos, santos e agradáveis ao Nosso Senhor. A Deus seja toda a honra e toda a glória, Ele que é excelso e sublime. Eu oro ao Pai que todos os irmãos sejam abençoados grandemente e que nós todos venhamos a crescer mais e mais em graça até o dia de nossa partida ou da segunda vinda de Cristo. Louvado Seja Deus, reitero, Louvado Seja! SDG Notas [←1] Pergunta 1 – Qual é o fim principal do homem? R: o fim principal do homem é glorificar a Deus, e alegrar-se nele para sempre. (O breve catecismo de Westminster / Assembleia de Westminster. – São Paulo: Cultura Cristã, 2021.) Eu troquei o “e” por “ao” baseado na adaptação do pastor John Piper. [←2] Vincent Cheung, O Ministério da Palavra. Editora Monergismo, 1ª ed. 2010. [←3] Se Deus deu a Bíblia, ela é sua palavra, logo é dele que vem as informações sobre o verdadeiro culto que o glorifica. [←4] Referência ao agir, não que literalmente as mãos estarão sendo usadas, mas quero dizer que nossas ações devem ser, conforme a Escritura, de atitude reverente a Deus, porque isso se inclui num culto ativo. [←5] O breve catecismo de Westminster / Assembleia de Westminster. – São Paulo: Cultura Cristã, 2021. [←6] Vincent Cheung, O Ministério da Palavra. Editora Monergismo, 1ª ed. 2010. [←7] Ibid. [←8] Ibid. [←9] Vincent Cheung, Introdução à TEOLOGIA SISTEMÁTICA, Editora Monergismo. [←10] Não quero, com isso, dizer que uma exposição completa é um rodeio no sentido de inútil, mas pelo contrário, nosso objetivo é ser sucinto e nosso tempo aqui é pequeno, o que torna esse tipo de exposição que pretendo mais útil ao momento. [←11] Vincent Cheung, O Ministério da Palavra. Editora Monergismo, 1ª ed. 2010. [←12] Ibid. [←13] R.J. Rushdoony & P. Andrew Sandlin, Infalibilidade e Interpretação, Editora Monergismo, 1ª ed. 2009. [←14] Para um entendimento mais apurado, filosófico e denso, cf. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais do filósofo Mário Ferreira dos Santos. [←15] W. Gary Crampton, O Escrituralismo de Gordon Clark, Ed. Monergismo. [←16] Jon Payne, No Esplendor da Santidade: Redescobrindo a Beleza da Adoração Reformada para o Século XXI, Editora Os Puritanos, 1ª ed. 2015. [←17] Uma divisão muito rude e fraca, mas de fácil entendimento, pois meu objetivo é simplesmente citar as igrejas que passam pelo problema. [←18] Fratricídio é a morte de um irmão pela mão de outro irmão. [←19] A título de exemplo, cf. KennethMatthews, Estudos bíblicos expositivos em Levítico, Editora Cultura Cristã, 2018. [←20] Terry L. Johnson, Adoração reformada: adorando segundo as Escrituras, Editora Monergismo, 1ª ed. 2014. [←21] Jon Payne, No Esplendor da Santidade: Redescobrindo a Beleza da Adoração Reformada para o Século XXI, Editora Os Puritanos/Clire, 1ª ed. 2015 e Daniel R. Hyde, O que é um culto reformado? Editora Os Puritanos/Clire, 1ª ed. 2014. [←22] Terry L. Johnson, Adoração reformada: adorando segundo as Escrituras, Editora Monergismo, 1ª ed. 2014. [←23] O breve catecismo de Westminster / Assembleia de Westminster. Editora Cultura Cristã, 2021. [←24] Jon Payne, No Esplendor da Santidade: Redescobrindo a Beleza da Adoração Reformada para o Século XXI, Editora Os Puritanos/Clire, 1ª ed. 2015. [←25] O catecismo maior de Westminster / Assembleia de Westminster. Editora Cultura Cristã, 2021. [←26] Ibid. [←27] P.103. O que exige Deus no quarto mandamento? R. Primeiro, que o ministério do evangelho e as escolas cristãs sejam mantidas1 e que eu, especialmente no dia de descanso, seja diligente em ir à igreja de Deus2 para ouvir à Palavra de Deus,3 participar dos sacramentos,4 para invocar publicamente ao Senhor 5 e para praticar a caridade cristã para com os necessitados. 6 Segundo, para que em todos os dias da minha vida eu cesse as minhas más obras, deixe o Senhor operar em mim por Seu Espírito Santo, e assim começar nesta vida o descanso eterno.7 1. Dt 6.4-9; 20-25; 1Co 9.13, 14; 2Tm 2.2; 3.13-17; Tt 1.5. 2. Dt 12.5-12; Sl 40.9, 10; 68.26; At 2.42-47; Hb 10.23-25. 3. Rm 10.14-17; 1Co 14.26-33; 1Tm 4.13. 4. 1Co 11.23, 24. 5. Cl 3.16; 1Tm 2.1. 6. Sl 50.14; 1Co 16.2; 2Co 8; 9. 7. Is 66.23; Hb 4.9-11. Fonte: As Três Formas de Unidade das Igrejas Reformadas, Editora Clire – Centro de Literatura Reformada, 3ª ed. 2016. [←28] Daniel R. Hyde, O que é um culto reformado? Editora Os Puritanos/Clire, 1ª ed. 2014. [←29] David Clarkson, O Culto Público: Uma breve teologia e por que deve ser preferido ao privado, Editora Nadere Reformatie Publicações, 2020. [←30] Sim, a Pedra é uma referência a Pedro, mas não nos termos católicos e sim nos termos bíblicos do que a confissão de Pedro define. Pois só pessoas que concordam em fé com a confissão de Pedro é que são cristãos verdadeiros, e isso nada tem a ver com uma sucessão apostólica que, em nenhum lugar na Palavra, é defendida. [←31] Crença que os elementos da Ceia se tornam o corpo de Cristo no momento que são abençoados. [←32] Joel R. Beeke, Vivendo para a glória de Deus. Editora Fiel, 1ª ed. 2010, p. 35. [←33] Já sabemos e reiteramos, a Palavra de Deus só é eficaz se o Espírito internamente nos movimentar, é Ele que nos dá o entendimento dela. [←34] Paulo Junior, Como passar o dia com Deus: um manual prático para a piedade cristã. Defesa do Evangelho, 1ª ed. 2020, p. 82-83. [←35] João Calvino, Institutas da Religião Cristã, Editora Fiel, 1ª ed. 2018. [←36] Jon Payne, No Esplendor da Santidade: Redescobrindo a Beleza da Adoração Reformada para o Século XXI, Editora Os Puritanos, 1ª Ed. 2015. [←37] Os nossos inimigos são Satanás, o Mundo e a Carne. [←38] O catecismo maior de Westminster / Assembleia de Westminster. Editora Cultura Cristã, 2021. [←39] James Braga, Como Preparar Mensagens Bíblicas, Editora Vida, 8ª Ed. 1994, pg. 17-18. [←40] Ibid., pg. 30. [←41] Ibid., pg. 47. [←42] Ibid. [←43] Joel R. Beeke, A Família na Igreja: ouvindo sermões e participando das reuniões de oração. Editora Os Puritanos/Clire, 1ª ed. 2013. [←44] O catecismo Maior de Westminster / Assembleia de Westminster. Editora Cultura Cristã, 2021. [←45] Vincent Cheung, O Ministério da Palavra. Editora Monergismo, 1ª ed. 2010. [←46] “Aprender” usado aqui como adquirir conhecimento e “apreender” usado aqui como assimilar e introjetar esse conhecimento para a vida. [←47] Boneca Russa ou Matrioska é uma série de bonecas com tamanhos variados que se encaixam uma dentro da outra, de modo que a última aparenta ser apenas uma, mas conforme vão sendo abertas, uma a uma vai revelando outra boneca menor dentro. [←48] Joel R. Beeke, A Família na Igreja: ouvindo sermões e participando das reuniões de oração. Editora Os Puritanos/Clire, 1ª ed. 2013. [←49] O catecismo Maior de Westminster / Assembleia de Westminster. Editora Cultura Cristã, 2021. [←50] John Owen, Pensando Espiritualmente. Editora PES, 1ª ed. 2005. [←51] Ibid. [←52] Ibid. [←53] Minha nota pessoal. [←54] Ibid. [←55] https://www.youtube.com/watch?v=rScOqjvRiGs https://www.youtube.com/watch?v=rScOqjvRiGs [←56] Minha nota pessoal. [←57] Ibid. [←58] R. C. Sproul, Somos Todos Teólogos: Uma introdução à Teologia Sistemática. Editora Fiel, 1ª ed. 2017. Endossos Informações Agradecimentos Prefácio Introdução Capítulo 1 – A Escritura Sagrada Capítulo 2 – O Culto Cristão Capítulo 3 – A igreja, o sermão e a vida Capítulo 4 – Conclusão