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Prévia do material em texto

Príncipe Cruel
SINDICATO SOMBRIO LIVRO 1
KHARDINE GRAY
FAITH SUMMERS
Contents
Príncipe Cruel
Nota sobre Romance Dark
Prologue
Chapter 1
Chapter 2
Chapter 3
Chapter 4
Chapter 5
Chapter 6
Chapter 7
Chapter 8
Chapter 9
Chapter 10
Chapter 11
Chapter 12
Chapter 13
Chapter 14
Chapter 15
Chapter 16
Chapter 17
Chapter 18
Chapter 19
Chapter 20
Chapter 21
Chapter 22
Chapter 23
Chapter 24
Chapter 25
Chapter 26
Chapter 27
Chapter 28
Chapter 29
Chapter 30
Chapter 31
Chapter 32
Chapter 33
Chapter 34
Chapter 35
Chapter 36
Chapter 37
Chapter 38
Chapter 39
Chapter 40
Chapter 41
Chapter 42
Chapter 43
Chapter 44
Chapter 45
Chapter 46
Chapter 47
Chapter 48
Epilogue
í
Príncipe Cruel
Sindicato Sombrio Livro 1
Autora Bestseller do USA Today
Khardine Gray
sob o pseudônimo
Faith Summers
Copyright Original © 2020 por Khardine Gray
Todos os direitos reservados.
Tradução: Liz Gavin
Revisão: Equipe Elessar Books
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida de qualquer forma ou por qualquer meio
eletrônico ou mecânico, incluindo sistemas de armazenamento e recuperação de
informações, sem permissão por escrito do autor, exceto para o uso de citações breves em
uma resenha de livro.
Nota sobre Romance Dark
AVISO: Este livro é um ROMANCE DARK com uma estória
completa contendo cenas que podem ser gatilhos para alguns
leitores. Deve ser lido apenas por maiores de 18 anos.
Nota da Autora
Faith Summers é o pseudônimo de romances dark da Autora
Bestseller do USA Today Khardine Gray.
Prologue
MASSIMO
17 anos atrás
– Das cinzas às cinzas, do pó ao pó – padre De Lucca murmura e
faz uma pausa por um momento.
Olho para ele de pé na cabeceira da sepultura da minha mãe. A
expressão solene em seu rosto fica mais intensa o que me diz que
ele sente nossa perda também.
Lembro-me dele me contando histórias sobre minha mãe quando
ela era pequena. Foi ele quem deu a primeira comunhão à minha
mãe e celebrou o casamento dos meus pais. Duvido que ele pensou
que a enterraria também.
Ninguém pensou. Não tão cedo, nem tão de repente.
O padre De Lucca respira fundo e olha ao redor para a multidão
de pessoas vestindo luto.
– Na firme certeza da ressurreição para a vida eterna – continua
ele. – Por nosso Senhor Jesus Cristo, que é poderoso e comanda
todas as coisas. Deus recebeu um de seus anjos hoje. Entrego o
corpo de Sariah Abriella D'Agostino de volta à terra de onde veio.
Que Deus cubra sua bela e bondosa alma de bênçãos.
Meu pai encara o padre quando ele diz essas palavras finais. Eu
me pergunto se o padre De Lucca também achou estranho que
minha mãe se mataria.
Pa está a alguns passos dele. Uma lágrima escorre pelo seu
rosto enquanto uma luz brilha em seus olhos, provavelmente por
causa dessa bênção final.
A luz desaparece rapidamente. Ele volta a ser um homem
quebrado. Apesar dos meus doze anos, sei bem como é ser um
homem quebrado porque é como me sinto nesse momento.
Até hoje, nunca havia visto o papai chorar. Nunca. Nem mesmo
anos atrás, quando perdemos tudo e fomos jogados na rua apenas
com as roupas do corpo.
Meu avô dá um aperto suave no meu ombro. Quando olho para
ele, encontro seu olhar tranquilizador. O tipo de olhar que todo
mundo está me dando desde que tudo aconteceu.
Vovô tem uma mão sobre mim e a outra em Dominic, meu irmão
mais novo. Meus outros irmãos, Andreas e Tristan, estão do outro
lado dele.
Dominic não parou de chorar, nem uma vez desde que dissemos
a ele que Ma não voltaria para casa. Ele só tem oito anos. Odeio
que ele tenha que passar por isso. Gostamos de atormentá-lo e
chamá-lo de bebê por viver agarrado à mamãe. Mas, na verdade,
todos nós nos apegamos a ela da mesma forma.
Antes deste, só havia participado do funeral da Nonna. Mas, aos
seis anos, era jovem demais para entender a morte. Naquela época,
não me senti como agora, como se estivesse anestesiado e com
ódio mortal ao mesmo tempo. Essa mistura explosiva ameaça me
despedaçar.
Talvez me sinta assim porque fui eu quem encontrou Ma no rio.
Fui a primeira pessoa a vê-la morta.
Fui a primeira pessoa a confirmar nossos piores medos depois
que ela havia desaparecido.
Eu fui a primeira pessoa a saber que a última vez que nos vimos
foi um adeus.
Nós a procuramos por três dias. Estava andando pela margem
do rio em Stormy Creek quando a vi flutuando na água entre os
juncos. Seus olhos ainda abertos, vidrados. Sua pele pálida. Lábios
azuis. Seu corpo balançava suavemente de um lado para o outro na
água. Nunca vou esquecer essa imagem. Como uma boneca sem
vida com seu cabelo loiro-branco flutuando ao redor dela, suas
feições delicadas ainda parecendo tão perfeitas. Mas, sem vida.
Por dentro, ainda estou gritando.
Eles disseram que ela deve ter pulado do penhasco. Isso é o que
ouvi os adultos dizendo.
Suicídio.
Ma se suicidou.
Não parece real.
Não parece certo.
Sou arrancado dos meus pensamentos quando o padre De
Lucca acena com a cabeça e papai pega um punhado de terra e
joga dentro do túmulo. Quando termina de espalhar a terra, ele se
ajoelha e estende a rosa vermelha que ele carrega desde que
chegamos aqui. Cada um de nós tem uma.
– Ti amo, amore mio – sussurra ele em italiano antes de
continuar. – Vou te amar para todo o sempre.
Meus pais sempre declararam seu amor um pelo outro. Sempre.
Sei que ele sente a mesma culpa que nos angustia. Nós
sentimos culpa por não poder salvá-la. Enquanto papai joga a flor no
túmulo, o padre De Lucca faz uma oração e o vovô leva meus
irmãos até a beira do túmulo para jogarem as flores.
Permaneço onde estou, incapaz de me mover. Ainda não posso
dizer adeus. Não quero dizer adeus nunca.
Sei o que vai acontecer a seguir. Nós vamos embora e eles vão
encher a cova com o resto da terra. Cobrindo Ma para sempre.
Minhas pernas tremem com o pensamento e essa fraqueza toma
conta do meu corpo.
As pessoas começam a jogar suas flores também, uma a uma.
Alguns olham para mim, outros apenas largam suas rosas, lírios ou
dálias; as flores favoritas de mamãe.
Aperto a rosa na minha mão com tanta força que os espinhos
cortaram minha palma. Quase esqueci dela. Olho para as manchas
de sangue no caule e nas folhas. A rica cor carmesim contrasta com
o verde escuro.
Uma mão pesada repousa sobre meu ombro, me assustando.
Quando olho para cima, vejo os olhos azuis pálidos do diabo. O
homem que tirou tudo de nós. Riccardo Balesteri.
Um homem que papai costumava chamar de seu melhor amigo.
Ao menos, pensávamos que fosse antes que tudo mudasse e ele se
tornasse um monstro.
Papai não nos envolvia em seus negócios, mas não havia
ninguém para nos proteger naquele dia, dois anos atrás, quando
Riccardo veio à nossa casa com seus homens e nos chutou para
fora.
Eu não entendia o que estava acontecendo, mas me lembro da
discussão. Lembro-me de papai implorando para ele ser razoável e
mamãe chorando enquanto tentava tirar Dominic e Tristan da cama.
Foi Andreas quem me pegou e me acalmou quando tentei ajudar.
Os homens apenas riram de mim.
Agora, este homem está aqui no funeral da minha mãe com um
sorriso no rosto.
– Meu querido garoto, sinto muito por sua perda – diz ele.
Suas palavras são semelhantes ao que me foi dito durante todo
o dia, começando quando entramos na igreja esta manhã e quando
chegamos ao cemitério. Todos que disseram isso, no entanto,
falavam com sentimento verdadeiro. Eram genuínos. Este homem
não é.
O clique-claque que reconheço como de uma arma sendo
engatilhada rouba minha resposta. Não que soubesse o que dizer.
Não tenho falado muito desde que encontrei Ma no rio.
Olho para cima e vejo Pa segurando duas armas, apontando-as
para Riccardo. Vovô coloca um braço protetor em volta dos meus
irmãos enquanto os outros convidados olham aterrorizados.
A única pessoa que não parece assustada é padre De Lucca.
Seu rosto severo fica ainda mais duro quando Riccardo aperta meu
ombro.
– Tire as mãos do meu filho – Pa exige, inclinando a cabeça para
o lado.
Riccardo ri. O som ondula através de mim. Ele aperta meu
ombro com tanta força que estremeço e meus joelhos se dobram.
–Giacomo, você sempre faz uma cena – responde Riccardo em
uma voz sibilante.
– Eu disse para tirar as mãos do meu filho. Agora – grita papai.
Em resposta, Riccardo aplica mais pressão no meu ombro.
Enterra seus dedos na minha carne, apesar da barreira do tecido do
meu terno.
– Deixe-me ir – rosno, lutando contra seu aperto, mas ele é
muito forte. Não tenho poder para lutar contra ele. Eu não posso
fazer nada.
– Isso é tão desrespeitoso em pleno funeral de sua esposa –
Riccardo provoca. – Eu me pergunto o que Sariah diria se não
estivesse sete palmos embaixo da terra. Talvez a decepção de ter
você por marido a tenha feito pular para a morte. Sim, deve ser isso.
Acho que ela preferiu a morte a estar com você.
Enfurecido, meu pai avança com suas armas, mas Riccardo
revida me puxando para mais perto e colocando o cano de aço de
sua arma na minha têmpora.
Eu grito, deixando cair minha rosa e cerrando os dentes. Isso faz
Pa parar. Seus olhos se arregalam e minha alma estremece de
medo. Este homem é o diabo. Papai sempre me disse para nunca
subestimar Riccardo. Então, não vou fazer isso agora. Não vou
subestimar ou assumir que ele não vai me matar.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto quando ele passa a mão pelo
meu pescoço e me segura com mais força.
– Seu cachorro de merda – grita papai, ainda com suas armas
levantadas. – Como ousa aparecer aqui para se vangloriar? Tire
suas malditas mãos do meu filho.
Riccardo sorri e chega bem perto das armas estendidas de meu
pai. Ele é ousado, como se soubesse que papai não iria matá-lo.
– Olhe para você, pensando que é grande merda. Você não
pode me matar e sabe disso.
– Você quer me testar? – Pa rosna.
– Tolo, se pudesse, já teria feito isso. Mas, você sabe que não
pode. Sabe que na hora que me matar, você também estará morto.
Seus meninos estarão mortos. Seu pai estará morto. Sua família na
Itália estará morta. Todo mundo que você conhece estará morto. A
lei da Irmandade protege a mim e aos meus.
Pa está furioso, mas sua expressão é de derrota. O mesmo olhar
derrotado que carregou nos últimos anos quando uma série de
coisas ruins aconteceram.
– Deixe-nos em paz – responde papai.
– Isso mesmo. Gostei de ver. Sabe que não pode fazer nada
comigo. Você é impotente e inútil, indefeso para caralho – Riccardo
continua a provocar. – Perdeu tudo. Ela era a última coisa boa que
você tinha.
Ele olha para o túmulo. Apesar das minhas lágrimas, noto o
primeiro vislumbre de tristeza em seus olhos duros. Ele me solta, dá
um passo para trás, e abaixa a pistola.
– Deixe-nos, Riccardo. Vá embora. Vá embora – exige meu pai.
– Vim para prestar meu respeito ao anjo que você nunca deveria
ter tido. Isso é tudo – responde Riccardo. – E também para ver sua
cara. Esse olhar que você tem agora que percebe que realmente
perdeu tudo.
Com uma risada grosseira e sardônica, Riccardo se vira e vai
embora.
Pa abaixa suas armas, as coloca de volta em seus coldres, me
pega e me puxa para um abraço.
– Massimo – ele suspira contra o meu ouvido. – Você está
machucado?
Eu engulo em seco.
– Não – respondo.
Ele se afasta para me olhar melhor. Vê a rosa no chão e a pega.
Nós nos encaramos. A tristeza em seus olhos me machuca tanto
que chega a doer.
– Sinto muito, meu garoto. Sinto muito por tudo – diz ele.
– Por que ele nos odeia tanto? – pergunto, meus lábios
tremendo.
O meu pai balança a cabeça.
– Não se preocupe com ele, meu rapaz. O dia de hoje não é
sobre ele – papai se endireita e estende a rosa para mim. –
Massimo, dê a rosa para sua mãe. Está na hora. Hora de dizer
adeus. Nós vamos sair dessa. Vamos, sim. Por favor, nunca pense
que sua mãe não te amava. Ela te amava com todo o seu coração.
Sei que isso é verdade, mas parte de mim quer perguntar a ele
por que mamãe me deixou sem se despedir. Mas, sei a resposta. A
vida ficou muito difícil depois que Riccardo tirou tudo de nós. É por
isso.
– Dê sua rosa à sua mãe, amore mio – repete Pa, empurrando a
rosa para mais perto de mim.
Eu a pego e depois dou aqueles passos que tanto temia. Minhas
pernas ficam mais pesadas a cada um passo. Eu paro bem na
borda da sepultura e solto a flor. Quando ela cai, meu coração se
parte novamente.
Riccardo estava certo. Ma era a última coisa boa que nos
restava. Ela era realmente um anjo.
Olho ao longe e vejo o vago contorno dele andando pelo
caminho que leva de volta ao estacionamento.
Ele chamou meu pai de impotente, inútil, indefeso. Ele culpou
papai por minha mãe querer a morte, mas não é culpa dele. Tudo o
que nos aconteceu é culpa do Riccardo. Tudo isso.
No momento em que o pensamento me atinge, juro vingança.
Enquanto o vejo indo embora, prometo a mim mesmo que vou
consertar isso. Não importa quanto tempo demore. Passarei o resto
da minha vida ajudando meu pai a reconstruir. E farei Riccardo
Balesteri pagar por tudo.
Neste momento, podemos ser impotentes, inúteis, indefesos,
mas não seremos assim para sempre.
Não importa quanto tempo demore.
Ele vai perder tudo também.
Chapter
Um
EMELIA
Nos Dias de Hoje
– Essa vai ser nossa última noite aqui por um tempo – Jacob afirma,
olhando ao redor de nossa pequena mesa na lanchonete.
Frequentamos aqui há tanto tempo que o lugar se tornou uma
segunda casa.
– Eu sei – concordo.
Uma onda de nostalgia toma conta de mim quando penso em
todas as vezes que viemos aqui e nos anos em que somos amigos.
Esta também é a última noite em que o verei por muito tempo.
Brincando, lanço uma bolinha de queijo para ele que a pega com a
boca. Começamos a rir tão alto que as pessoas nas mesas
próximas olham em nossa direção.
– Já terminou de fazer as malas? – Jacob pergunta, colocando o
braço sobre a mesa.
– Eu não sei que tipo de pergunta é essa – gargalho, balançando
minha cabeça.
Ele é meu melhor amigo. Então, não deveria precisar me
perguntar algo assim. Nós terminamos nosso primeiro ano na UCLA
há algumas semanas. Minhas malas estão prontas desde então.
Amanhã de manhã vou para Florença fazer meu segundo ano
por lá, na L'Accademia di Belle Arti. Meu sonho sempre foi ser uma
artista. Estou animada para ir à Florença desde que papai reservou
as passagens. Sempre quis estudar na Itália, assim como minha
mãe.
Se estivesse viva, ela estaria muito orgulhosa de mim. Ir para a
Accademia é a última coisa que farei para seguir seus passos. Vai
ser incrível.
– Que bobagem a minha, desculpe – Jacob ri. Seus grandes
olhos castanhos brilham. – Quis dizer se você está pronta para ir.
Mas, provavelmente já nasceu pronta para isso.
Dou uma gargalhada.
– Nasci mesmo. Vou sentir muito a sua falta, mas confesso que
mal posso esperar para ir embora.
Vai ser emocionante começar minhas aulas por lá porque alguns
dos melhores professores do mundo vão me instruir. Mas, não
posso negar que a chance de escapar de Los Angeles, e da mão
controladora do meu pai, me atrai também.
Apesar de que ainda terei guarda-costas me acompanhando e
ficarei na casa do meu tio, esta é a primeira vez que vou à Itália sem
papai.
– Entendo. Só espero que seu velho não tenha um ataque
cardíaco – ele sorri.
– Eu sei. Continuo achando que ele vai mudar de ideia.
Como ele quase fez sobre eu ir para a faculdade.
Eu sempre quis estudar, mas papai não queria saber disso. Ele
só concordou em deixar eu estudar na UCLA porque era perto de
casa. Ele também não quis saber de me deixar morar no campus da
faculdade. Mas, eu adorava estudar lá por causa dos cursos e da
possibilidade de ver Jacob.
Foi preciso tio Leo garantir que cuidaria de mim, e eu implorar
incansavelmente, para que papai me permitisse ir para Florença.
– Vamos manter os dedos cruzados para que ele não mude de
ideia. Você trabalhou duro para mostrar a ele que vai ficar bem, e
trabalhou duro para conseguir a vaga – Jacob acena com a cabeça,
parecendo orgulhoso de mim.
– Obrigada.
Sei o que significa ser uma Balesteri, ser a filha única de um
chefe da máfia. Meu pai é um homem poderoso. Como tal, tem
inimigos. Experimentei um choque que abriu meus olhos quando
meu primo, Porter, foi morto a tiros na rua alguns anosatrás. Minha
família não é pouca coisa. Nem a de Jacob. Nós dois temos idade e
inteligência suficientes para saber de onde viemos. O pai de Jacob
trabalha para o meu, então estamos bem cientes dos perigos que
podemos enfrentar apenas por sermos quem somos.
Amo muito meu pai e sei que ele só quer me proteger, mas às
vezes sinto que estou vivendo em uma grande gaiola dourada. Ir
para a Itália me dará a chance de ser livre. Sinceramente, espero
que, se tudo correr bem, papai me dê mais liberdade para que
possa viajar sem supervisão constante.
– Sua mãe ficaria feliz e muito orgulhosa de você – Jacob diz.
Eu suspiro, balançando a cabeça lentamente, e ele estende a
mão sobre a mesa para cobrir minhas mãos com as dele. Mamãe se
foi há três anos. Às vezes, não parece real. Às vezes, a dor volta
para me assombrar, e me lembro de como ela sofreu durante os
últimos meses, quando o câncer a venceu.
Eu não tinha certeza do que a matou primeiro — as sessões
rigorosas de quimioterapia ou a própria doença. Ela nem se parecia
com minha mãe no final. A única coisa que restava era seu belo
espírito. Ela estava me observando pintar quando deu seu último
suspiro. Nunca vou esquecer o jeito que ela me olhou. Como se
estivesse orgulhosa de mim. Orgulhosa por compartilhar seu dom
artístico comigo e orgulhosa por eu querer aprimorar o meu dom.
– Isso significa muito para mim, Jacob.
– Sei que sim. Realmente, vou sentir muito a sua falta.
– Mas vai lá me visitar, certo? – pergunto, esperançosa.
Ele solta minhas mãos e me dá um de seus sorrisos arrogantes.
– Toda chance que tiver.
– É bom você ir mesmo.
– Você sabe que eu vou – ele aperta os lábios e eu olho para ele
enquanto um silêncio constrangedor preenche o espaço entre nós.
Em sua última mensagem de texto, ele mencionou querer me
perguntar algo importante. Eu tenho uma boa ideia do que isso pode
ser.
Ele ficou diferente comigo desde que começamos a faculdade.
Diferente de uma maneira que sugere que ele quer que sejamos
mais do que amigos. Finjo não notar, mas percebo. Eu vejo isso
agora enquanto ele olha para mim.
Eu devo ser uma idiota por não querer ele também. Jacob é
bonito e sempre cuidou de mim. Mas, para mim, ele é como um
irmão. Não consigo nos ver sendo mais do que amigos e também
não sinto por ele nada além de amizade.
Além disso, mesmo que ninguém nunca tenha dito isso, sei que
não importa quão próximo Jacob seja, ou quais laços unam nossas
famílias, papai nunca permitiria nada além de amizade entre nós.
Definitivamente, não quando ele me disse que terei um casamento
arranjado algum dia, do jeito que ele e mamãe tiveram para unir os
negócios da família. Essa foi a notícia que papai me deu no meu
aniversário de dezoito anos. Foi a única discussão sobre negócios
que tivemos. E isso me enfureceu porque sou uma romântica
incurável que quer ter um amor verdadeiro. No entanto, como
conheço meu pai, sabia que a discussão era definitiva. Da mesma
forma que não tenho liberdade, não posso dizer com quem vou
acabar. Durante aquela conversa, nem foi preciso dizer que Jacob
nunca seria um homem que papai consideraria para mim. Então,
mesmo que eu retribuísse os sentimentos de Jacob, sei que não
posso desafiar meu pai.
– Eu acho que deveria falar com você sobre isso, certo? – ele
diz, inquieto e tenso.
– Sim, você deveria – quero que ele me diga o que está em sua
mente para que eu possa ser honesta com ele.
– Eu estava pensando em nós e no relacionamento que temos –
ele começa. – Sempre fomos ótimos juntos.
– Sim – respondo, mordendo o interior da minha boca.
– Emelia, você sabe que realmente valorizo você.
Estou prestes a dizer a ele que o valorizo também, como meu
melhor amigo, quando a porta do restaurante se abre e Frankie, um
dos guardas do meu pai, entra.
No momento em que nossos olhos se encontram, sei que algo
está errado. Meus nervos aumentam quando ele marcha até nós
com um baque pesado do salto de seus sapatos ecoando pelo
restaurante.
– Emelia – diz Frankie – você tem que vir comigo agora.
Eu olho para Jacob e depois para Frankie.
– O que?
– Preciso que venha comigo, com urgência.
Urgência? Oh, Deus. Assim que minha mente processa essa
palavra, fico preocupada.
– Por quê? Aconteceu alguma coisa com papai?
Isso está parecendo quando descobri que mamãe tinha câncer.
Estava na aula quando Frankie veio e me disse que ela tinha sofrido
um acidente de carro. Ela desmaiou enquanto dirigia e bateu o
carro. O acidente não foi nada, mas o que se seguiu depois foi uma
jornada que nunca esquecerei. Não sei o que faria se perdesse meu
pai. Eu não poderia suportar. Ele é tudo que me resta.
– Por favor, me diga que ele está bem – gaguejo.
– Está bem e pedindo para te ver. Temos que ir agora.
Eu engulo em seco.
– Frankie, você está me preocupando. Por favor, me diga do que
se trata.
– Emelia, não – ele balança a cabeça com firmeza. – Já disse
que era urgente e isso é tudo que precisa saber. Agora, venha –
exige com os punhos cerrados e um olhar feio que me faz lembrar
que, embora eu seja a princesa Balesteri, há certas coisas que não
fico a par e ele não tem obrigação de me contar nada.
Ele responde ao meu pai, e nós dois sabemos que, quando meu
pai diz que preciso estar em algum lugar, lá é onde tenho que estar.
Sem argumentos, sem perguntas.
Eu me levanto da cadeira. Jacob também. Planejava ficar com
ele por mais algum tempo. Afinal, nem chegamos a terminar nossa
conversa.
– Desculpe, Jacob – digo com um leve encolher de ombros.
– Não, não se desculpe. Espero que esteja tudo bem – Jacob
responde, mas posso ver a decepção à espreita no fundo de seus
olhos. Eu me sinto culpada por isso porque sei que essa é uma
conversa que ele queria ter comigo há um tempo e eu a evitei com
medo de que minha resposta arruinasse nossa amizade. – Vejo
você na Itália.
– É melhor mesmo – respondo, jogando meus braços em volta
do pescoço dele.
– Tem minha palavra – Jacob promete com um sorriso, mas me
dá um olhar aguado cheio de preocupação antes de me desejar
uma boa noite em italiano – Buona sera.
– Buona sera – respondo com um pequeno sorriso.
– Vamos – Frankie insiste.
Quando eu me movo em direção a ele, ele coloca a mão na
parte inferior das minhas costas, me conduzindo para longe.
– E o meu carro? – pergunto, olhando para o estacionamento
enquanto saímos.
– Vou pedir para alguém pegar – responde rispidamente.
Sou levada ao Bentley e vejo Gio, o segundo em comando do
meu pai, sentado ao volante. Frankie abre a porta de trás para eu
entrar. Assim que afivelo o cinto de segurança, ele se junta a Gio no
banco da frente.
Um nó se forma na minha garganta quando o carro avança pela
rua e olho para trás, para a lanchonete. Jacob está observando
enquanto nos afastamos.
Isso é estranho, muito estranho, mesmo para o meu pai. Ele
nunca fez isso antes.
Trinta minutos depois, quando passamos pela estrada que nos
levaria à minha casa em Malibu, meu coração aperta. Papai estava
em casa em seu escritório quando saí mais cedo. Ele nunca
costuma sair quando chega em casa à noite, e definitivamente não
aos sábados.
Meu peito dói e meu coração aperta em desconforto quando
passamos pelo complexo da Balesteri Investimentos e continuamos
pela Pacific Coast Highway.
Quando não fomos para casa, presumi que encontraria papai em
seu escritório de trabalho. Esse é o único outro lugar onde ele
estaria. Agora, não faço ideia para onde estamos indo.
Continuamos pela estrada por mais uma hora, passando pela
marina em Long Beach e depois pegando a saída para Huntington
Beach.
Entramos em uma estrada com lindas e modernas casas de
praia que parecem ter sido tiradas de um sonho. Depois, pegamos
outra estrada onde tudo o que posso ver é o mar e as ondas se
chocando contra a costa. Quando uma grande parede branca
aparece e o carro diminui de velocidade, a tensão dá um nó em
minhas entranhas.
Não tenho ideia de onde diabos estou, ou por que papai estaria
aqui a esta hora. Estive em Huntington Beach poucas vezes e
nenhuma nos últimos anos. Nunca viemos aqui ver alguém queconhecíamos. Era sempre para participar de algum evento para
arrecadar fundos e eu sempre estava com meus pais.
O carro para em frente a um grande portão de metal que se abre
para nós. Quando passamos, vejo dez homens parecidos com
fuzileiros navais guardando a entrada com metralhadoras. Agora sei
que quem mora aqui deve ser alguém de grande importância.
Ou alguém com muitos inimigos.
Chapter
Dois
G
EMELIA
io murmura algo baixinho para Frankie, que balança a cabeça
várias vezes. Não entendi o que ele disse, mas pelo que ouvi
parecia que eles tinham pensamentos semelhantes aos meus.
Papai tem guardas, sim, mas nossa casa não é tão protegida assim.
À medida que continuamos por um longo caminho, mais guardas
aparecem e eu observo meus arredores, notando como a praia se
mistura com os jardins. À distância, há uma doca com um iate e dois
veleiros atracados. Vejo o contorno de outro barco, mas não consigo
enxergar direito daqui.
À nossa frente, surge uma mansão. Contra um céu de veludo
escuro, sua beleza cosmopolita rouba meu fôlego, mesmo em meu
estado de tamanha tensão. Iluminada pela combinação do luar e
das luzes do chão, que cercam a frente da casa, posso ver o design
mediterrâneo deslumbrante que me faz sentir como se estivesse
chegando a uma vila luxuosa na Sicília. Essa sensação faz um
contraste intrigante com a incerteza que sinto se formando em
minha alma. A mansão é facilmente uma daquelas casas de dez
milhões de dólares sobre as quais a gente lê em revistas de
arquitetura, com uma vista panorâmica à beira-mar e hectares de
terra ao seu redor. Imagino que o proprietário deve ser elegante e
gostar de velejar também, pela presença dos barcos na doca.
Quem é ele, porém?
À medida que nos aproximamos, vejo carros estacionados na
entrada e homens armados saindo dos cantos, tirando-me do meu
devaneio e encantamento com a beleza da casa.
– Puta merda – Gio sibila baixinho.
– Sim, que foda de fato. Esse cara é um filho da puta de um
peixe grande – murmura Frankie.
Meu pai detesta quando seus homens xingam perto de mim. Ele
tem medo que isso me contamine. Para mim, é uma tolice ele se
preocupar com essas coisas quando sempre há algo maior com que
se preocupar. Como o que está acontecendo agora.
– De quem é essa casa? – pergunto, mas nem Frankie nem Gio
me respondem. Eles fazem questão de me ignorar, continuando a
olhar para a frente.
Eu cerro os dentes por causa da minha raiva. Eles não precisam
ser tão idiotas. Era uma pergunta simples. Uma que eu tenho
certeza que qualquer um perguntaria. Como não quero me sentir
tola de novo, decido não fazer mais perguntas. É claro que elas não
serão respondidas por esses dois.
Estacionamos e Frankie sai do carro primeiro. Ambos os homens
vêm para o meu lado quando saio, protegendo-me ao mesmo tempo
que seguram meus braços.
Permito que me conduzam. Meus nervos aumentam quando os
guardas armados chegam até nós e apontam a casa, gesticulando
para entrarmos. Quando entramos, a tentação de olhar ao redor
para registrar tudo é grande. Mas, não posso me distrair com a
beleza do lugar. Neste momento, não me importaria se a casa fosse
a mais bonita do mundo, porque a sensação sinistra me picando os
nervos, e o aperto em meus pulmões, são sinais de que o que está
acontecendo não é bom.
– Por aqui – diz um dos guardas à nossa frente, apontando para
uma sala que posso ver que deve ser a sala de estar.
Entramos e, quando vejo papai sentado em um sofá de couro
preto, solto a respiração que estava prendendo até este instante.
Enquanto ele olha para mim, posso dizer pela sua pele pálida e
pelo suor escorrendo pelo lado de seu rosto que algo está muito
errado. A preocupação está gravada em todo o seu corpo, e o olhar
assustado em seus olhos azuis pálidos acaba com sua vibração
habitual.
Papai realmente parece assustado.
A última vez que o vi assim foi quando mamãe adoeceu. Esse
olhar só piorava a cada tratamento que ela fazia e a esperança de
sua sobrevivência se esvaía.
Por que está assim agora?
O que pode ter acontecido?
Quando ele se levanta, eu corro até ele e o abraço. Nós nos
separamos e ele pega minhas duas mãos nas suas, em seguida, dá
um beijo na minha testa.
– Pai, o que está acontecendo? De quem é esta casa?
– Emelia, algo aconteceu – sua voz está trêmula, outra
característica que associo à época em que mamãe estava doente
porque meu pai, geralmente, é uma fortaleza sem igual.
– O que aconteceu?
– Lembra daquela discussão que tivemos, algum tempo atrás,
sobre o que aconteceria se houvesse um pedido de casamento?
Meus lábios se abrem e eu estreito meus olhos, sem entender
onde ele quer chegar com essa conversa.
– Sim, lembro – é óbvio que me lembro muito bem daquela
discussão. Por coincidência, estava pensando nessa estória há
pouco quando estava com Jacob. Na verdade, não é preciso muito
para lembrar como fiquei chateada depois que papai e eu tivemos
essa conversa.
Enquanto olho para ele, prendo minha respiração por causa da
apreensão que toma conta de mim. Afinal, porque ele estaria
trazendo o assunto à tona nesse momento?
Fui trazida a esta casa, um lugar onde nunca estive antes, para
encontrar meu pai, que parece muito assustado.
Desvio meus olhos dos dele para olhar ao redor da sala e travo
meus dentes com força para impedi-los de bater. Quando volto
minha atenção para papai, junto minhas mãos à minha frente em um
pedido mudo.
– De quem é essa casa, pai? – repito minha pergunta anterior.
– Minha – uma voz masculina profunda chega a mim vinda do
canto mais distante da sala.
Eu me viro nessa direção e meu olhar pousa no homem mais
bonito que eu já vi na minha vida. Ele tem uma forte mistura de
masculinidade agressiva e beleza que eu nunca vi antes. Seus
traços são marcantes e ele possui penetrantes olhos azuis como o
céu da meia-noite que capturam e prendem minha atenção.
Ele é alto, com porte majestoso, e a camisa social branca e a
calça preta permitem uma visão completa de seu corpo musculoso.
Seus ombros fortes estão retos e sua presença exala autoridade e
exige obediência. Sinto seu poder como se fosse algo tangível
flutuando no ar.
Fico impressionada com sua aparência e a força de sua
presença, mas é o jeito que ele olha para mim que me fascina. Ele
está olhando para mim como se pudesse ver através de mim, até a
minha alma.
Um homem mais velho, que sem dúvida tem que ser seu pai,
aparece atrás dele e me arranca do transe em que estava. Além de
terem a mesma cor de olhos, eles são muito parecidos para não
serem pai e filho. Sinto o mesmo ar de autoridade no homem mais
velho. Exceto que ele não tem o olhar penetrante do filho. Acredito
que ele tem a mesma idade que meu pai e acho que são homens da
máfia. Eles emanam essa vibe.
O Sr. Bianchi, o advogado da nossa família, aparece em seguida
com alguns documentos nas mãos. Quando vejo isso, lembro-me do
que papai disse e o pânico toma conta de mim.
– A bola está no seu campo, Riccardo – diz o homem mais
jovem, me surpreendendo ao chamar meu pai pelo primeiro nome.
Só os amigos do meu pai o chamam assim e nunca vi esse homem
na minha vida. – Agora que estamos todos aqui, pode terminar o
que estava dizendo a ela.
Não perco o breve olhar de admiração que ele me dá. Em
resposta, inclino a cabeça e tento parecer que não estou
perturbada, embora esteja. Muito. Estou acostumada com os
homens olhando para mim da mesma forma que olhavam para
minha mãe. Ela era muito bonita, e embora eu não afirme possuir o
tipo de beleza que ela tinha, as pessoas me disseram que eu pareço
exatamente com ela.
– Emelia, este é Massimo D'Agostino e seu pai Giacomo – papai
os apresenta, apontando para os homens respectivamente.
À menção do nome D'Agostino, imediatamente me pergunto se a
família tem alguma coisa a ver com uma empresa de petróleo
chamada D'Agostino. Lembro-me porque o nome é incomum e não
é um que estou acostumada a ouvir. É italiano, e eles são italianos,
então talvez eu esteja certa.
Não serei uma idiota completa oferecendo gentilezas e boas
maneiras a esses homens. Estáclaro que não estamos aqui para
uma visita social. Olho de volta para papai e o encaro de frente.
– Pai, o que estamos fazendo na casa do Sr. D'Agostino? – exijo,
sem rodeios.
– Emelia, você vai se casar com Massimo em um mês – ele
responde, e meu queixo cai.
– O que? Não, não pode ser verdade – balanço minha cabeça
furiosamente em descrença. – Como assim? Não vou aceitar.
– Vai se casar, sim – ele confirma naquela voz que mostra a
profundidade de sua seriedade.
Lágrimas brotam dos meus olhos, mas pisco várias vezes para
contê-las, me forçando a não chorar.
– Pai, isso é ultrajante! Não posso me casar com alguém que
não conheço – eu suspiro. – Não imaginei que aconteceria dessa
forma.
Isso é muito diferente do que ele me disse. Ele prometeu que eu
encontraria com o homem com quem iria me casar com bastante
antecedência e que haveria tempo para conhecê-lo bem.
– Pai, você realmente concordou com isso?
– Tive que concordar. Massimo deseja levá-la já esta noite.
No segundo em que ele diz isso, meu coração afunda e eu me
afasto dele. Minha cabeça está tão leve que posso desmaiar. Tudo o
que posso fazer é olhar para ele em choque.
– Esta noite! E a Itália? Estou indo embora amanhã. E quanto à
escola? – sabia que era bom demais para ser verdade, mas nunca
imaginei que algo assim aconteceria.
– Você não poderá ir – ele responde, e meu coração se parte em
milhões de estilhaços.
– Meu curso de arte! Por favor, não tire meus sonhos de mim –
eu imploro. – Por favor, papai.
Papai. A última vez que o chamei assim foi anos atrás, quando
mamãe morreu. Literalmente momentos depois dela expirar, quando
eu desmoronei. Eu me sinto como aquela garota novamente.
– Emelia, me desculpe.
O remorso transborda em seus olhos, mas não é suficiente para
me acalmar. Ele sabia o quanto significava para mim poder ir para a
Itália.
– Eu trabalhei tanto para entrar na Accademia. Papa, é a
Accademia, pelo amor de Deus. Você sabe como é difícil conseguir
entrar. Os candidatos têm que ser excelentes. Eles disseram que eu
tive as melhores notas no teste.
Ele estende a mão e segura meu rosto.
– Filha, me desculpe. Lamento profundamente. Isso tem que
acontecer. Eu não posso fazer nada sobre isso – ele aperta os
lábios e segura meu olhar. – Por favor, não torne isso mais difícil do
que já é.
– Como pode fazer isto comigo? – contra-ataco, e ele deixa cair
as mãos ao lado do corpo.
Papai lança um olhar penetrante para Massimo, o qual ele
retorna com um leve sorriso. É quando tenho a impressão de que há
mais por trás dessa estória.
– Senhor, está pronto para assinar o contrato? – o Sr. Bianchi
pergunta e volto meu foco para ele enquanto ele segura o
documento.
– Contrato? – interrompo antes que papai possa responder.
– Este é um contrato comercial. Como minha herdeira, precisará
assiná-lo – papai explica e de repente tudo parece muito pior. Nunca
houve qualquer conversa sobre eu assinar algo desse tipo antes.
– Como assim? Eu não entendo.
– Estou pronto, Sr. Bianchi – papai diz, me ignorando, e o
advogado coloca o documento na mesa de centro ao nosso lado e
se afasta.
– Senhor D'Agostino, por favor, assine aqui – diz Bianchi, e
Massimo caminha para assinar na seção que ele apontou.
Ele está tão perto de mim que os cabelos da minha nuca se
arrepiam quando nossos olhos se encontram. Quando vejo que não
há nada em seus olhos, nenhuma alma, nada humano, nada que ele
queira dar, me sinto presa nas profundezas de seu olhar azul. É
como se tivesse sido sugada para um buraco negro e tudo o que
existe na sua profundeza é escuridão.
Massimo se endireita e mantém o olhar fixo em mim.
– Senhor Bianchi, por que você não dá à senhorita Balesteri a
honra de ler as partes relevantes do contrato para que ela tenha
clareza do que está assinando?
Há uma ameaça proposital em seu tom que chama minha
atenção. É zombeteiro e acho que é dirigido ao papai.
– Sim, claro – Sr. Bianchi acena com a cabeça e recupera o
documento. Ele me dá um olhar de simpatia antes de começar a ler
e minha pele fica vermelha. Um medo gelado toma conta de mim –
Certifica-se por este instrumento que Massimo D'Agostino se
tornará, a partir deste dia primeiro de julho de dois mil e dezenove o
único proprietário de Emelia Juliette Balesteri. Ela fará parte de
todos os ativos adquiridos de Riccardo Balesteri na tentativa de
recuperar os valores de sua dívida. Ela pertencerá a ele, e o
casamento com ele vinculará todas as futuras aquisições de
negócios e heranças ligadas ao nome dela.
– Pare – grito, impedindo-o de ir mais longe. Minha boca está
aberta, mas como não consigo formar palavras, apenas encaro o Sr.
Bianchi em total descrença.
Bile revira meu estômago antes de subir por minha garganta,
queimando. Meu cérebro se agita e minha pele se arrepia. A
situação é muito pior do que pensava.
Não ir para a Itália perseguir meus sonhos de carreira é ruim. A
ideia de me casar com um homem que não conheço é devastadora.
Mas, isso é pior do que todo o resto junto.
As palavras do contrato giram em minha mente enquanto olho
para os homens ao meu redor e me concentro em cada um.
Giacomo, cujo rosto é severo, sem emoção. Massimo, que me
encara com expectativa. Sr. Bianchi, que desvia o olhar
envergonhado. Ele parece ser a única pessoa aqui que sabe que
isso é errado.
Quando meu olhar volta para papai, tudo vem junto.
Contrato de venda?
Único proprietário?
Uma tentativa de recuperar os valores de sua dívida?
Jesus Cristo.
A razão pela qual isso não é como o que discutimos antes é
porque não é.
Isso é algo completamente diferente. O tipo de coisa que ouvi
falar em sussurros abafados nos círculos em que vivemos.
Isso é um inferno.
– Você está me vendendo! – Minha voz é estridente, subindo
várias oitavas enquanto falo, tremendo enquanto morro por dentro. –
Papai, você está me vendendo?
O rosto dele se contorce e sua mandíbula aperta, mas ele não
responde.
Ele está me vendendo.
É verdade.
Eu sou parte de seus bens.
Uma barganha por sua dívida.
O que diabos aconteceu?
Meu pai é incrivelmente rico, então que merda poderia ter
acontecido?
– Eu, papai? Como pode? Sou sua filha. Papai, sou eu, Emelia.
Você pode olhar para mim como se eu fosse uma coisa e me
vender, sem mais nem menos? Quando prometeu à mamãe que
sempre cuidaria de mim, era isso que queria dizer? – nesse ponto,
estou gritando e não consigo evitar.
Nunca levantei minha voz para ele antes, mas não me importo
em ser a filha respeitosa que ele está acostumado. Toda essa
estória de me trocar por pagamento de dívidas é uma merda
enorme que me roubou o chão. Nem estou preocupada com a
minha herança, pois ela sempre fará parte dos negócios.
– Emelia, preciso da sua assinatura – papai diz.
– Pai, como pôde fazer isso? Você está realmente me vendendo
– resmungo, e as lágrimas vêm com força agora.
Que foda.
Como ele pode pensar que está tudo bem? Como ele pôde me
tratar como se eu fosse propriedade? Um ativo.
A vontade de tentar me manter firme surge com força e me
afasto do meu pai. Mas, trombo com uma parede. Não, não é uma
parede. Braços me seguram, me mantendo no lugar, me impedindo
de fugir. Olho para cima e vejo Frankie. Ele desvia o olhar, porém, e
olha para a frente. Estava certo em pensar que eu fugiria, mas até
onde eu iria?
– Você vai assinar o documento, Emelia – papai olha feio para
mim.
– Não – grito, e quando a palavra sai dos meus lábios, percebo
que é a primeira vez que o desafio.
Papai pega a caneta de Massimo e o contrato do Sr. Bianchi e
corre para mim rápido como um raio. Perco o fôlego quando ele me
puxa para longe de Frankie, agarrando meu braço com tanta força
que temo que tenha deslocado meu ombro.
Como se eu fosse uma criança petulante, ele me leva até a
mesa de centro, abaixa o contrato e pega minha mão para colocar a
caneta entre meus dedos. Papai então aperta minha mão com tanta
força que eu grito de dor.
– Você vai me obedecer – papai se enfurece, apertando mais
forte, me chocando. – Você vai fazer isso, Emelia.
Em todos os meus dezenove anos, ele nunca se comportoudessa maneira. Nunca me bateu. Nunca me maltratou de forma
alguma. Desespero e raiva se misturam em seus olhos. Retiro o que
disse antes. Ele não parecia tão assustado assim quando mamãe
morreu. Na verdade, nunca o vi tão aterrorizado como agora.
– Você não pode me obrigar a fazer isso – tento puxar minha
mão, mas ele é muito forte.
– Assine isso! – grita ele.
Fico chocada quando uma mão pesada pousa em cima da dele,
quase cobrindo nossas duas mãos. De repente, Massimo tem uma
pistola apontada para a cabeça de papai.
Todo o sangue foge do meu corpo enquanto observo o cano de
aço lustroso da Glock pressionando a têmpora de papai. Minha
cabeça gira enquanto meu cérebro tenta processar o que estou
realmente vendo e sinto que estou de pé sobre um gelo fino que
está prestes a rachar a qualquer segundo.
Papai para e seus dedos soltam os meus. Ele engole em seco,
seus olhos ficam tão arregalados quanto os meus.
– Emelia, talvez precise de um incentivo. Vou te dar um, porra –
diz Massimo tão casualmente e sem esforço que poderia estar
falando sobre o tempo.
Oh, meu Deus. Ele está falando sério. Ele vai fazer isso, vai
matar meu pai.
Papai fica rígido, congelado de medo nos braços de Massimo.
Medo que só piora quando o martelo na arma engatilha.
Clique-claque.
O som enche a sala e destaca a gravidade do que estou
enfrentando.
É um som que pulsa em minha alma.
É um som que acho que nunca vou esquecer.
É um som que me lembra a escuridão do meu mundo. O mundo
do qual meu pai passou a vida tentando me proteger.
Está aqui, me encarando nos olhos na forma de um lindo
demônio.
Aquele olhar sem alma de Massimo D'Agostino é tudo que
preciso para entender que ele não hesitaria em puxar o gatilho e
matar meu pai bem na minha frente.
– Não, por favor. Não o machuque – imploro. – Por favor, não o
mate.
– Assine o maldito documento então, principessa, ou não vai
gostar do que acontecerá – responde.
Estou impotente contra sua ameaça. Não adianta dizer mais
nada. Eu tenho exatamente uma escolha e isso não envolve sair
daqui e pegar aquele avião para Florença pela manhã.
Meu olhar cai para o contrato diante de mim descansando na
mesa de centro. Contra a madeira escura e polida, o papel de cor
creme parece se destacar como uma luz acesa.
Com a mão trêmula, seguro a caneta e coloco a ponta na linha
em negrito do contrato acima do meu nome, onde devo assinar.
Alívio toma conta de mim quando Massimo abaixa a arma, mas
lágrimas ardem em meus olhos enquanto abro mão de minha vida e
meus sonhos.
– Leve-a para o quarto dela – Massimo ordena quando eu me
endireito, tremendo.
Alguém segura meu braço. Não sei quem é porque as lágrimas
agora borram minha visão. Eu me movo, sentindo-me entorpecida
por dentro, e não consigo olhar para papai quando saio.
Não sei em que diabos ele nos meteu. Tudo o que sei é que, em
vez de esperar ansiosamente pelos meus sonhos, estou
caminhando para o que parece ser a minha destruição.
E o que mais poderia ser além do meu fim?
Afinal, fui vendida.
Chapter
Três
E
MASSIMO
ncaro Manni, meu guarda-costas, enquanto ele leva Emelia
embora. Se já tivesse acabado aqui, eu mesmo a levaria para o
quarto dela. Não ele.
Sinto meu sangue fervendo ao vê-lo tocá-la. Fazendo o primeiro
toque no que é meu. A princesa Balesteri.
Com seu cabelo negro brilhante, olhos cinzentos e um corpo
como uma pin-up perfeita, Emelia Balesteri foi considerada um
prêmio no submundo desde que seu pai a exibiu no baile de
caridade do Sindicato meses atrás.
Ela é um prêmio que eu agora possuo. Uma princesa que foi
trancada em uma torre a vida toda e governada pela mão
controladora de seu pai. E acabei de mover a princesa de uma torre
para outra. A diferença é que não haverá príncipe para salvá-la.
Ninguém virá para lhe dar liberdade. Ela é o espólio da guerra, um
troféu, e ninguém seria tolo suficiente para me confundir com um
bom homem. Portanto, não vou sentir pena dela.
Sendo tão linda e inocente como é, Emelia é uma peça no
tabuleiro de xadrez e tirá-la de seu pai foi apenas o começo do caos
que pretendo causar em suas vidas. Estou apenas começando com
Riccardo Balesteri, o demônio de olhos azuis claros que arruinou
minha infância.
Meu casamento com Emelia significa que, quando ela fizer vinte
e um anos, recebo de volta tudo que já pertenceu à minha família. A
Balesteri Investimentos era o negócio da minha família. Foi fundada
pelo meu tataravô décadas atrás e se chamava D'Agostino
Investimentos até que Riccardo roubou a empresa do meu pai,
iniciando uma reação em cadeia que nos fez perder tudo.
É isso que queremos fazer com ele. Pegar tudo o que possui e
deixá-lo sem nada. Destruir o filho da puta.
Quando descobrimos a merda que estava fazendo, eu poderia
ter apenas exigido a empresa de volta, mas queria causar mais
danos. É por isso que quero a filha dele. Casar com Emelia também
significa que Riccardo não poderá ganhar o dinheiro que ele
esperava vendendo-a para outra pessoa.
Pobre menina. Ficou claro que ela não tem ideia de quem seu
pai realmente é. Tenho certeza de que ela não teria implorado pela
vida de Riccardo se soubesse.
Desde a noite do baile, sabia que não havia como ela conhecer o
verdadeiro Riccardo Balesteri. Como a maioria dos homens nos
círculos em que transitamos, eu nunca a vira antes daquela festa.
Riccardo a levou como um cordeiro inocente para o matadouro. Ele
a vestiu de preto para declarar a todos nós que ela estava à venda.
Pela excitação em seu rosto, era óbvio que ela nem sabia por que
estava ali.
Esse evento era o que chamamos de Visualização, um sinal para
começar o leilão e os interessados darem lances. Ele a exibiu como
um pedaço de carne à venda, e ela tem sido o assunto do
submundo desde então.
Qualquer compaixão que eu pudesse ter sentido por ela ocorreu
naquele momento, e terminou ali.
Eu me viro para encarar Riccardo e pego o filho da puta me
olhando fixamente em estado de choque. Em circunstâncias
normais, tenho certeza de que qualquer pessoa que apontasse uma
arma para a cabeça dele morreria antes que pudesse piscar. Mas,
eu não preciso me preocupar com isso. E o filho da puta sabe
exatamente por que fiz isso. Quero mais é que ele se foda. O que fiz
não foi nada além de uma doce vingança por tudo que me fez
passar no funeral da minha mãe.
– Está feito – diz o outro filho da puta, o Bianchi, cortando a
espessa névoa de silêncio que se estabeleceu sobre a sala. Ele
aplica o selo da família Balesteri no contrato, fechando o negócio.
– Bom – diz papai, retomando a liderança.
Embora eu possa sentir o olhar quente de Riccardo sobre mim,
observo Bianchi enquanto ele junta o contrato e os outros
documentos com nossa oferta e começa a colocá-los em um grande
envelope pardo.
Ele é o que chamo de vaca de presépio. Um merda irritante e
covarde que faz tudo o que mandam fazer, sem questionar. Um
verme que trabalha para Riccardo há muito tempo.
Encaro o idiota e me pergunto se ele se lembra de mim quando
menino. Tenho certeza que sim. Ele olha para mim como se ele se
lembrasse muito bem.
Naquele tempo, quando ele e sua corja de filhos da puta vieram
arrancar minha família de nossa casa, eu o encarei da mesma forma
que faço agora. Ele riu da minha cara, me chamando de criança
idiota. Eu tinha dez anos. Bianchi não está rindo agora. Está se
cagando de medo, assim como Riccardo.
Agora, com vinte e nove anos, estou prestes a assumir o império
do meu pai. Um império que ele construiu do nada depois que
perdemos tudo.
Com a troca da liderança, o pagamento das dívidas de Riccardo
virá para mim. Ao contrário da criança tola que fui chamado, tracei
um plano cuidadoso que bloqueou Riccardo por todos os lados.
A influência que temos sobre ele garantirá que se ferre, assim
como todos que usam o sobrenome Balesteri, se ele apenas olhar
atravessado para qualquer um de nós.
– Posso ir agora? – Bianchi pergunta e eu quase caio na
gargalhada. Ele parece estar pronto para se cagar.
Riccardo parece ainda pior pelo fato de que seu amado
advogado teve que pedir permissãoa meu pai e a mim para sair.
– Pode – papai responde. – Não precisamos de advogado para o
que acontece a seguir.
É um negócio do Sindicato e, como tal, será tratado entre nós.
Será interessante assistir.
Continuo observando Bianchi, que sai correndo como a porra do
rato que é.
– Deixe-nos – digo aos meus homens, e eles me obedecem. Os
dois guardas que trouxeram Emelia também vão embora, deixando
apenas nós três na sala.
– De volta aos negócios – diz meu pai com um sorriso
presunçoso.
– Que tal voltarmos para o meu escritório? – indago, apontando
com minha arma para a porta pela qual entramos.
Riccardo mostra os dentes antes de começar a andar. Papai e
eu seguimos atrás.
Como havia deixado a porta do meu escritório aberta, entramos
e sentamos. Eu guardo minha arma e dou ao meu pai a cadeira
principal porque esta próxima parte é toda dele.
Esta parte é o que chamam de verdadeira arte da guerra, ou
seja, saber quando levar seu inimigo exatamente onde você quer
que ele esteja e atacar. Não no ponto em que ele está ferido, mas
quando você sabe que ele anda na linha entre a vida e a morte e
apenas um milagre o salvará. É aí que Riccardo está, e o filho da
puta sabe disso.
– Você não pode simplesmente tirar meu direito de voto – diz
Riccardo, tentando manter seu tom sob controle. – É isso que me
liga ao Sindicato. Que tipo de membro seria sem meu direito de
votar nas decisões?
Seu direito de voto é sua maior preocupação agora? Não a
Emelia? Que idiota.
– Isso não é problema meu. Quero seu direito de voto, ou o
acordo está cancelado – Papai responde, e Riccardo apenas o
encara, derrotado.
Meu pai está aqui comigo para garantir a última coisa que esse
idiota possui: seu direito de voto no Sindicato, na Irmandade. Como
Riccardo, meu pai é um dos membros do Sindicato. Direitos de voto
significam poder e controle. Este é o ato final do meu pai como
chefe. Seu último presente para mim antes de me passar o bastão
do império D'Agostino.
Nossa exigência do direito de voto de Riccardo foi o choque que
ele tomou pouco antes de Emelia entrar. Foi por isso que ele se
comportou daquele jeito com ela. Choque e desespero o
consumiram pelo fato de termos descoberto seus segredos. Tudo
graças ao meu irmão, Dominic.
Dominic descobriu que Riccardo estava roubando dinheiro do
Sindicato para fazer negócios com o Cartel Sequina no Equador. O
tolo fez uma aposta e usou o dinheiro deles, junto com quase todo o
dinheiro dele mesmo, para transportar contêineres de heroína para
a Europa. Perdeu milhões quando os federais apreenderam a
mercadoria e teve que pedir ajuda a nós. Nós, seus inimigos.
Ele veio sob o pretexto de que precisava de um empréstimo
comercial. Papai deu a ele o dinheiro e fez Dominic checar o que
estava acontecendo quando Riccardo não conseguiu nos pagar de
volta. Foi então que descobrimos a verdade e percebemos que o
babaca só veio até nós porque sabia que não podia recorrer a mais
ninguém. Talvez pensasse que poderia usar a amizade que ele e
meu pai tiveram muito tempo atrás.
Com a chance de destruí-lo aberta diante de nós, aproveitamos
para fazer uma oferta que ele seria um tolo se recusasse: sua
amada filha, a herança dela e o novo conjunto de apartamentos de
luxo que ele comprou no início do ano, em troca de sua dívida.
Agora, queremos seu direito de voto em troca de não contarmos ao
Sindicato sobre seus crimes contra a Irmandade.
– Você me dará o seu direito ou não hesitarei em informar à
Irmandade sobre seus erros grosseiros. Duvido que queira essa
bomba em suas mãos.
O terror faz gotas de suor se formarem no lábio superior de
Riccardo. Filho da puta. Ele é um idiota por pensar que logo nós,
depois de tudo o que ele nos fez, vamos deixá-lo ganhar essa. Ele é
sortudo. Isso é o que ele é. Sorte que só queremos destruí-lo em
vez de colocar uma bala em sua testa. O filho da puta fez a única
coisa que não deveria fazer em nosso mundo: subestimar. Ele
nunca pensou que alguém descobriria seus segredos.
– Está adorando isso, não está? – Riccardo zomba.
– Sim, estou – Pa responde, curto, doce e sucinto, sabendo que
Riccardo não quer o Sindicato na sua cola. Mordo meu lábio para
esconder meu sorriso enquanto vejo um sorriso de vitória dançar
nos lábios do meu pai. O poder é uma coisa linda. É muito melhor
quando você pode prová-lo e senti-lo correndo em suas veias. Ao
contrário daquele dia no cemitério, Pa e eu estamos longe de ser
impotentes, inúteis ou indefesos.
– Giacomo, vocês levaram minha filha – lembra Riccardo ao meu
pai.
– E com ela recebo de volta o que já foi meu – Pa responde. –
Não vamos repetir isso de novo, Riccardo.
– É um assunto sério.
– Claro, mas um que não está mais em discussão – acrescenta
Pa.
– Não vejo como você acha que é certo fazer isso comigo.
– Não me importo com o que acha que é certo ou errado. É
assim que vai ser. Decida. Não temos a porra da noite toda. Devo
ligar agora para a Irmandade? Ou vai me entregar o que eu quero?
Riccardo olha em volta, fúria e medo transbordando de seus
olhos. O idiota realmente achava que era intocável. Mas, todo
mundo perde, mais cedo ou mais tarde.
Além de nós, a Irmandade do Sindicato é composta por duas
outras poderosas famílias criminosas italianas e duas famílias
Bratva. Eles não ficarão satisfeitos em saber como Riccardo vem se
beneficiando dos investimentos do Sindicato nos últimos dez anos e
o quanto já roubou.
Ele sabe que vão matá-lo. Farão com ele exatamente como ele
nos ameaçou no funeral de Ma. Começaria com ele, depois
matariam sua filha, sua família, depois seus amigos. Todo mundo
que ele conhece aqui e na Itália.
O Sindicato é uma sociedade secreta de famílias criminosas
criada para proteger a riqueza e permitir que seus membros
floresçam criando ainda mais riqueza. Minta e quebre nossa
confiança, e sua sentença será morte para todos que conhece. Não
há escapatória.
Esse filho da puta egoísta, no entanto, está apenas preocupado
consigo mesmo. Eu sei isso. Ele sabe que poderíamos matá-lo, sem
qualquer retaliação, por causa das merdas que ele fez.
No entanto, a morte seria boa demais para ele. Ele fez
exatamente o que queríamos dele. Queríamos ver o idiota
desmoronar. Ver seu rosto enquanto ele perdesse tudo. É
interessante, porém, porque pensei que sua filha seria o seu bem
mais precioso, sua única coisa boa, mas não é. Riccardo Balesteri
valoriza mais seu dinheiro e poder. Ele acha que a única coisa boa
em sua vida é seu direito de voto no Sindicato. O homem me deixa
enojado. Ele está mais magoado por perder isso do que a filha.
– O que vai ser, Riccardo? – Pa pergunta e oferece outro
contrato para ele. Apesar de ter um texto bem semelhante àquele
que Emelia assinou, este precisa ser assinado com sangue.
– Seu bastardo. Vocês tinham que levar tudo? – Riccardo
indaga, olhando de Pa para mim.
Agora é minha vez de falar.
– Agradeça por termos deixado você com um teto sobre sua
cabeça e roupas no corpo – respondo, e ele me lança um olhar
afiado.
Ele não diz nada. Posso notar que ainda está abalado por tudo
que aconteceu antes. Bom. Isso é bom para caralho. Esperei muito
tempo para encontrar uma maneira de pegá-lo. Embora o tenha
visto várias vezes desde o funeral de minha mãe, esperei
pacientemente pela hora certa de atacar.
– Nós não temos a noite toda, Riccardo – repete Pa em uma voz
ameaçadora.
Pego um canivete da gaveta da minha mesa e entrego para
Riccardo.
A contragosto, ele o pega e examina o contrato. Um sorriso
dança em meus lábios quando ele corta a ponta do polegar e o
sangue pinga na linha pontilhada.
– Pronto. Isso é tudo – resmunga olhando para mim. – Você tem
tudo agora.
– Tenho, e você não tem nada – respondo. – Será muito
interessante ver o que acontece a seguir. Mais ainda quando me
casar com sua filha, arruinando seus malditos planos.
Rapaz, esse bastardo já teve seu quinhão de planos para sua
filha. Posso imaginar quantos lances ele deve ter recebido por ela
no baile, e desde então também. No minuto em que a vi, sabia que
o filho da puta queria arranjar um marido paraela e garantir algum
tipo de acordo de negócios com tal casamento.
Tudo fez sentido quando descobrimos o que ele estava
aprontando para cima do Sindicato e o problema que estava
enfrentando como resultado de ter perdido todo aquele dinheiro.
– Você não vai se safar dessa – ele avisa.
Estou surpreso que ele tenha a coragem de dizer isso para mim.
Eu me inclino para frente e seguro seu olhar.
– Acho que já me safei – pego o contrato e entrego a Pa, que o
aceita com prazer.
Quando olho para este demônio diante de mim, penso naquele
dia no cemitério quando jurei vingança. Este é apenas o começo.
Ele está falido, não tem mais a filha para garantir-lhe alguma
forma de acordo comercial, nenhum patrimônio para vender, e a
herança de Emelia virá para mim dentro de alguns anos. Sem seu
direito de voto e com a terrível situação financeira em que se
encontra, ele é inútil para caralho. O que é um jeito rápido e certeiro
de ser expulso do Sindicato.
O Sindicato é um sonho que se espera alcançar. Pelo tamanho
das perdas, Riccardo não será capaz de se reconstruir. Quando ficar
claro que seu negócio está falindo, ele será inútil para a Irmandade.
O que queremos é que eles o chutem da organização.
Esse é nosso objetivo final e Riccardo não é estúpido. Ele sabe
que é para isso que estamos nos preparando. Assim como ele fez
com o papai quando éramos mais jovens. Esse foi o começo de
como perdemos tudo e a vida difícil que se seguiu. Pa não foi
iniciado porque o Sindicato o considerou inútil.
Olho por olho, dente por maldito dente. Uma vez que o Sindicato
chutar o traseiro dele, Riccardo não terá mais nada e não será nada.
Papai limpa a garganta.
– Foi um prazer fazer negócios com você, Riccardo – diz Pa. –
Vou contatar a Irmandade, informá-los que transferiu seu direito de
voto para nós. Pode ir agora.
Riccardo olha para trás sabendo que não tem mais nenhuma
carta para jogar. Ele se levanta e sai.
– Nós deveríamos ter tirado a casa dele também – afirmo, assim
que a porta se fecha.
– Não, temos que deixá-lo com uma base para que possamos
observar seus próximos movimentos – responde meu pai. – Lar é
onde está o coração, mesmo para aqueles com almas sombrias. Ele
planejará seus próximos movimentos lá.
– Sim, imagino que sim – concordo. Mas, queria realmente
deixá-lo na merda, chutá-lo para a beira da estrada, se pudesse.
Ainda assim não seria suficiente.
– Ele vai tentar retaliar. Nós o incapacitamos muito, com certeza.
Mas, não o subestime.
– Não vou fazer isso.
Pa olha para mim e o orgulho cresce em seus olhos. Ver isso em
um homem como ele para mim é uma grande conquista. Meu pai é
o tipo de homem que passou pelo inferno e voltou. Ele comanda
com mão de ferro, mostrando a extensão de seu poder. Eu o vi no
seu ponto mais baixo e no seu mais alto. É onde ele está agora. Um
orgulhoso chefe da máfia; um poderoso líder no mundo dos
negócios e do Sindicato.
Estou honrado em sucedê-lo. O fato de ele ter me escolhido ao
invés de Andreas é uma honra que levarei para o túmulo, por pior
que me sinta por ter sido escolhido para liderar a família ao invés de
meu irmão mais velho.
– Você está pronto para ser chefe. Agiu como um hoje – diz ele.
Abaixo minha cabeça numa reverência profunda às suas
palavras.
– Obrigado, pai.
– Vou terminar de transferir os ativos ainda hoje, já preparando
as coisas para a cerimônia. Depois, teremos a reunião do Sindicato.
Vou iniciar você e passar os próximos meses te treinando.
Tudo ficará resolvido assim e formarei uma nova liderança com
meus irmãos.
– Obrigado.
– Nossa reunião de negócios acabou – Pa descansa a mão no
meu ombro. – Não deixe sua mulher esperando.
– Não, não vou.
Seu rosto endurece, e sei que ele não tem compaixão em
relação à Emelia.
– Certifique-se de que ela saiba quem é o chefe agora.
Certifique-se de que ela saiba a quem ela pertence.
Cruel. É isso que ele quer que eu seja.
Não tenho problema com isso.
Não tenho nenhum problema em mostrar a Emelia Balesteri a
quem ela pertence agora. A porra do meu pau está duro por causa
dela desde que a vi pela primeira vez naquele estúpido baile.
Não terei problemas para inaugurar meu novo brinquedo.
Chapter
Quatro
M
EMELIA
edo em sua forma mais pura me atingiu no minuto em que os
homens me tiraram daquela sala de estar e me levaram por
uma larga escadaria até o primeiro andar, onde seguimos para o
quarto em que estou agora. Eles acenderam as luzes e foram
embora.
Uma senhora trouxe uma bandeja de sanduíches momentos
depois. Embora ela não tenha dito nada para mim, notei que estava
curiosa.
Em vez de comer os sanduíches, como tenho certeza que ela
esperava, encostei contra a parede, afundei até sentar no chão e dei
vazão ao choro.
Isso tudo aconteceu há meia hora atrás, mas parece uma
eternidade. Não sei o que é pior: ficar sozinha com meus
pensamentos ou perto das pessoas desta casa. Acho que ficar
sozinha é bem pior porque agora estou com muito medo.
Aterrorizada mesmo, só esperando para ver o que vai acontecer.
O quarto em que estou é enorme, com piso de madeira, uma
cama de dossel, móveis de mogno e uma parede inteira de vidro
com uma vista deslumbrante para o mar e as rochas na praia. Ao
longe, vejo um veleiro. É enorme e bem diferente dos que vi antes.
Este tem velas brancas, e mesmo daqui, dá para perceber que foi
feito sob encomenda e tem um design grandioso que só uma
pessoa que ama velejar teria. É um símbolo claro de riqueza.
Dinheiro e poder. Dinheiro e poder suficiente para comprar uma
pessoa.
O brilho prateado do luar sobre todas as coisas faz parecer que
estou dentro de um conto de fadas.
Mas isso está longe de ser algo do tipo. Eu me sinto mais como
se estivesse presa em um filme de Tim Burton, um pesadelo do qual
não posso escapar.
Estou aterrorizada e enjoada, como se fosse vomitar tudo o que
comi na vida.
Sempre que ficava com medo, costumava correr para Jacob, ou
pelo menos ligar para ele. Esta noite, não posso fazer nada disso.
Não posso sair deste lugar e não posso pedir ajuda a ninguém.
Minha bolsa foi a primeira coisa que tiraram de mim e meu telefone
estava dentro dela.
A última vez que me senti tão abalada foi quando mamãe estava
doente e sabíamos que não havia nada que pudéssemos fazer por
ela. Sabíamos que ela estava morrendo. Jacob estava lá ao meu
lado. Meu pai lidou com sua dor evitando todos. Inclusive eu. Penso
em Jacob e sei que ficará preocupado. Ele vai me ligar e, quando eu
não responder, vai se preocupar. Aposto, também, que irá até minha
casa de manhã para verificar, só para ter certeza de que estou bem.
Será que papai vai contar a ele o que aconteceu comigo? Eu
duvido. Jacob ficaria louco se soubesse, e não seria bom para ele
se fizesse isso.
Há um lado do meu pai que já vislumbrei no passado, mas não vi
em plena força até esta noite, quando ele apertou minha mão como
se fosse quebrá-la se eu desobedecesse. Eu nunca iria querer que
ele machucasse Jacob, ou pior, que Jacob tentasse me resgatar. Ele
é o tipo de amigo que faria isso.
Horas atrás, meus pensamentos estavam consumidos pela ideia
de ir para Florença. Agora, meu sonho é apenas isso: uma ilusão.
Um desejo do meu coração. Preciso deixar tudo isso de lado para
pensar sobre o que está acontecendo aqui e agora.
A realidade da situação é esta: devo me casar e viver com
Massimo D'Agostino pelo resto da minha vida. E eu deveria aceitar
isso?
Como?
Não acredito que papai faria isso comigo.
E, de verdade, o que acontece agora? Estou neste quarto. Será
que é do Massimo? Deve ser. Por que me levariam para um quarto
de hóspedes se pertenço a ele? Este quarto deve ser dele.
Ninguém falou comigo. Ninguém disse nada, nem para mim,
nem entre eles. Simplesmente me depositaram aqui como o objeto
que me tornei e foram embora.
O que vai acontecer quando ele voltar? Vai tirar minha
virgindade? Ele se importaria com o fato de que sou virgem?
Homens como ele não se importam. Eles pegam. Estou aqui só
para ele fazer sexo. Não serei estúpida e imaginar que Massimo
também será meu. Como meu pai, eleterá suas mulheres.
Papai não faz ideia de que eu sabia sobre seus casos. Também
acho que ele não estava ciente de que mamãe sabia. Pelo menos,
que eu saiba, ele não parecia estar com ninguém enquanto mamãe
ficou doente.
Estou certa de que Massimo tem sua lista de mulheres. Um
homem tão lindo quanto ele definitivamente teria uma fila de
mulheres esperando ansiosas.
Eu nunca quis que minha vida acabasse assim. Sempre esperei
que fosse me casar por amor. A realidade é uma merda completa.
A maçaneta da porta do quarto gira e quase morro do coração. A
porta se abre e lá está ele, parado no vão do batente me encarando.
Minha respiração fica presa na garganta e meu coração acelera
quanto mais ele olha para mim. Aqueles olhos penetrantes parecem
mais brilhantes contra sua pele morena.
Aterrorizada, eu me levanto quando ele entra e fecha a porta
atrás de si.
Quero desviar meus olhos, mas sua aparência marcante me
fascina e prende meu olhar, tornando difícil para mim focar em outra
coisa. Ou até mesmo pensar. Tudo seria mais fácil se ele não fosse
tão absurdamente lindo. Ele é o tipo de homem que atrai olhares
naturalmente.
Estou paralisada sob o peso de seus olhos vigilantes. Mas, ao
mesmo tempo, a incerteza sobre o que ele vai fazer comigo me faz
querer correr. Correr para longe sem nunca olhar para trás.
Ele se aproxima, mas para a alguns passos de distância, seu
rosto paira sobre mim. O cheiro de sua loção pós-barba enche meu
nariz e cerro os dentes.
– Há uma cama para você se deitar. Não precisa sentar no chão
– diz, quebrando o silêncio.
Sem saber o que dizer, decido não responder.
– A menos que você goste do chão – acrescenta. Sua voz se
aprofunda e meus nervos pulam quando ele me olha da cabeça aos
pés, me avaliando.
Comparado comigo, ele parece um gigante. Ele tem cerca de um
metro e noventa, enquanto tenho um e sessenta e dois.
– Isso não está certo – digo com voz embargada, fraca e
cansada, estranha aos meus próprios ouvidos. Não pareço a mulher
forte que minha mãe criou. Não pareço a mulher que era esta
manhã quando acordei e disse a mim mesma que iria conquistar o
mundo e ser a melhor versão de mim mesma.
– O que não está certo? – Os cantos de seus lábios se
transformam em um sorriso suave, revelando dentes brancos
perfeitos.
Claro, seu sorriso também é lindo e desarmante. Talvez seja isso
que ele usa para intimidar as pessoas.
– Você não pode fazer isso, não pode me comprar. Não sou uma
propriedade – respondo, tentando firmar meu coração para que ele
não salte do meu peito.
– O pedaço de papel que assinamos diz diferente, principessa.
Principessa quer dizer princesa em italiano. Ele me chamou
assim antes.
Se ele quer dizer que sou uma pirralha mimada, está muito
enganado. Não sou assim. E nunca fui. Sim, nunca passei apertado
na minha vida, mas isso não significa que me deram tudo só porque
eu queria.
– Você não me conhece – retruco.
– Não preciso conhecer.
– Você está certo, não precisa me conhecer para saber que isso
é errado. Deve haver alguma outra maneira de meu pai te pagar. Me
deixe ir – exijo, com voz mais firme.
Fico muito orgulhosa de mim mesma pelo pequeno discurso,
mas o sentimento desaparece quando uma risada profunda ressoa
dentro de seu peito.
– Sou o credor e escolho como quero ser pago. Escolho o que
quero tomar.
– Você me escolheu? – dou a ele um olhar incrédulo. – Por que
diabos me escolheria?
Assim que as palavras saltam dos meus lábios, me sinto
estúpida. Sou a única herdeira do meu pai. Isso já é resposta
suficiente. Minha parte dos negócios vale vários milhões. Adicione a
isso os ativos que fazem parte dele e realmente valho uma fortuna.
O contrato estipula que Massimo receberá tudo que tenho e que um
dia terei.
– Minha querida principessa, você realmente vive no escuro –
sorri, revelando uma covinha em sua bochecha esquerda.
– Deve haver alguma outra maneira.
– Com certeza, mas fiz exatamente o que queria fazer – ele
responde.
Meu coração aperta. Parece que um tapete foi puxado debaixo
de mim. Este é o homem com quem devo me casar. Apesar de
parecer um príncipe de conto de fadas, ele não é.
Meus lábios se abrem, mas estou sem palavras.
– Então, como você vê, não poderia ser de outra maneira,
Emelia Balesteri. Eu me caso com você e recebo tudo o que possui.
Você pertence a mim e tudo o que tem hoje, ou vai receber no
futuro, pertence a mim também.
– Isso está errado. Você deve saber disso.
– Pare com essa estória – ordena e seu sorriso desaparece.
O comportamento frio e calmo retorna e percebo que esse é seu
lado perigoso.
– Parar com o que? – indago.
– Pare de tentar apelar para meu lado bom. Eu não tenho um.
Tremo sob seu olhar duro que me atravessa. Ele está me
dizendo coisas que eu deveria saber. Está dizendo que não tenho
esperança.
– Você não tem coração? – minha voz volta àquele tom fraco
que desprezo.
– Não – responde – não tenho coração, principessa.
Teimosa, faço uma tentativa final para alcançar algo que
vislumbro nele e que se assemelha a um sentimento humano.
– Não tenho nada a ver com essa estória toda do meu pai. Eu
nem te conheço.
– Massimo D'Agostino, vinte e nove anos, futuro proprietário da
D'Agostino Investimentos. Meu último check-up médico saiu limpo –
sorri, e minha alma estremece. – Nos casaremos em um mês, você
vai morar aqui, e isso é tudo que precisa saber.
– Você acha que é o suficiente – retruco.
– É suficiente porque digo que é. Chega de frescura. Já respondi
suas perguntas. Agora, tire a roupa.
Chapter
Cinco
N
EMELIA
ão consigo controlar o gemido de choque que sai dos meus
lábios.
– Não – engasgo, balançando a cabeça.
– Sim. Quero verificar minha propriedade.
Oh, meu Deus. É isso. Ele vai me estuprar, e não há nada que
possa fazer sobre isso. Meu instinto de sobrevivência entra em ação
e eu tento passar por ele, mas uma grande mão segura meu pulso e
me traz de volta para onde eu estava.
– Por favor, não – imploro.
– Emelia, se quiser se dar bem aqui, me obedecerá ou sua vida
ficará muito difícil.
– Te obedecer? Quem pensa que é?
Devo ter algum desejo de morte ao desafiá-lo deste jeito. Não
estou pensando direito. Quem conseguiria ter clareza num pesadelo
como este?
– Não me faça responder essa pergunta ou repetir minha ordem
– sibila. – Tire suas roupas. Agora.
Meu Deus. Ele está falando sério. Vou ter que fazer isso.
Obedecer. O que vai acontecer comigo se eu não obedecer? O que
seria pior? Deixar que ele faça o que quiser comigo? Ou resistir até
que ele tome violentamente o que quer?
Ao me soltar, Massimo me dá um olhar endurecido que me alerta
para não testá-lo. Se eu o desafiar, não sei o que ele vai fazer
comigo.
Não posso acreditar que estou tendo esses pensamentos. Seus
olhos azuis ficam turbulentos, como um mar tempestuoso, enquanto
seu olhar me percorre com ousadia, como dedos invisíveis cheios
de luxúria.
Engolindo em seco, resolvo que eu mesma vou fazer isso.
Com as mãos trêmulas, desço a alça fina do meu vestido de
verão pelo ombro esquerdo, depois pelo direito. Eu me amaldiçoo
por ter escolhido usar esse vestido estúpido porque me fez parecer
inocente. E também porque é muito fácil de tirar. O vestido
escorrega para os meus pés assim que eu deslizo a segunda alça.
Fico só de sutiã e calcinha, além das minhas sapatilhas. Isso é
tudo que estou vestindo.
Ele me dá um aceno de cabeça, sinalizando para eu tirar isso
também.
– Tudo – afirma, apertando a mandíbula.
Por onde devo começar? Meu sutiã ou minha calcinha?
Enquanto decido, me curvo e tiro meus sapatos, bem lentamente.
Um, depois o outro.
Ninguém nunca me viu nua. Nem mesmo meus médicos.
Eu me endireito e noto o olhar de diversão em seu rosto bonito.
Divertiu-se por causa do jeito que tirei os sapatos e a lentidão com
que o fiz. Minhas mãos tremem quando alcanço o pequeno fecho de
borboleta segurando meu sutiã e me atrapalho para abri-lo. Na
verdade, não é tão difícil. Eu simplesmente não consigo colocar
minhas mãos para trabalhar. Minha respiração fica presa quando o
clipe se abre e estremeço quandoo peso dos meus seios cai.
Não consigo olhar para ele. O rubor quente de humilhação que
me varre me deixa sem fôlego e tonta. Estou assustada e
envergonhada. Estou apavorada e com raiva do que estou sendo
forçada a fazer.
Eu tiro meu sutiã, e ele cai ao chão, juntando-se ao meu vestido.
Meus seios balançam quando me curvo para deslizar minha
calcinha pelas minhas pernas. Quando ela se junta às outras peças,
endireito minha coluna, desejando ser forte.
Mantenho meu olhar fixo à frente, olhando para o branco de sua
camisa, evitando seus olhos.
Ele estende a mão e levanta meu queixo, guiando meu olhar de
volta para o dele. O roçar de seus dedos na minha pele envia um
arrepio através de mim. Um arrepio de calor sexual que eu odeio.
Eu não deveria sentir nada por este homem. Definitivamente, nada
sexual. Nenhuma parte do que ele fizer a seguir será com minha
permissão. Nada. Nada mesmo.
Ele segura meu olhar por um instante antes de me liberar, mas
não antes de passar os dedos pelo meu pescoço. Então, devagar e
com deliberação, ele anda ao meu redor, me circulando como um
predador faria com sua presa. Seus olhos têm uma chama faminta
que fica mais gananciosa a cada segundo que passa.
Seu olhar me toca em todos os lugares. Meu rosto, meu peito,
meu estômago, até o monte liso do meu sexo, onde permanece por
longos segundos, antes de voltar a prender meu olhar.
– Agora entendo o furor que você causou – comenta ele, mas
não sei do que está falando. – Linda – acrescenta, e minha boceta
traidora se aperta de desejo.
Nunca senti o peso do desejo no olhar de um homem do jeito
que ele está me fazendo sentir agora. Mesmo que tivessem me
desejado, eu não notaria porque com certeza teriam escondido isso
com medo do meu pai. Também nunca ouvi um homem me chamar
de linda, pelo mesmo motivo. Nem mesmo Jacob.
– Solte o cabelo para mim – acrescenta.
Eu puxo a faixa do meu rabo de cavalo. Assim que o faço, meus
longos cachos pretos caem pelos meus ombros e se juntam na
parte inferior das minhas costas.
O desejo em seus olhos é um sinal de que ele está pronto para
atacar. O medo passa por mim como um relâmpago.
Ele dá um passo para mais perto e eu recuo, sem pensar. Mais
um passo dele e estou pressionada contra a parede, sem lugar para
fugir.
Ele coloca uma mão no meu ombro, bloqueando-me para que
não possa me mover. Não consigo parar de tremer. O terror vem de
dentro, do fundo da minha alma. Não posso controlá-lo.
Massimo abaixa a cabeça, tirando meu fôlego, e cheira meu
cabelo. Ele estende a mão para tocar um cacho, antes de seus
dedos roçarem meus mamilos, tornando-os duros. O contato faz
uma onda de excitação me atravessar, e minha garganta fica seca.
Permitindo que as pontas do meu cabelo se enrolem em torno de
seu polegar, ele observa, fascinado. Então, quando ele pressiona a
mão na minha barriga, eu sei que é isso. Ele vai atacar. Só não sei
como vou sobreviver.
– Por favor, assim não. Eu nunca... – estremeço, sem conseguir
continuar falando e esperando que ele não ria de mim.
– Nunca? Nunca o quê, principessa? – pergunta, seu hálito
quente faz cócegas no meu nariz.
– Eu nunca estive com um homem.
Depois de minha declaração, um sorriso diabólico ilumina seu
rosto e me assusta. É diferente do que ele me deu antes. Tem um ar
de vitória, como se ele tivesse acabado de ganhar na megasena.
– Puta que pariu! Definitivamente mandei bem – ele suspira e ri.
– Está tomando pílula, principessa? Eu gosto de foder sem
camisinha.
Meus lábios se movem, mas não consigo articular meus
pensamentos. Não estou acostumada com pessoas falando assim
comigo. Sua boca suja me choca. Ao mesmo tempo, o quadro que
suas palavras pintam arranca uma resposta do meu corpo de uma
maneira que eu não gosto.
– Responda-me – ele grunhe.
– Sim – respondo, apressada – tomo a pílula para a minha pele.
Quando meu médico prescreveu, nunca pensei em sexo.
– Boa garota. Certifique-se de tomá-las.
Quando a seriedade volta ao seu rosto, ele solta meu cabelo e
passa o dedo grosso sobre o plano liso do meu estômago, sem tirar
os olhos dos meus. Pressionando-me contra a parede, tento me
segurar para não cair enquanto ele traça uma linha por minha
barriga até o vale profundo do meu decote. Seus dedos tremulam
levemente sobre as protuberâncias dos meus seios, antes de
tomarem meu mamilo esquerdo. Ele fica duro sob seu toque
enquanto umidade se acumula no fundo da minha boceta. Ele sorri
para mim como se soubesse. Então, me ocorre que talvez ele saiba
mesmo.
Ele sabe que seu toque está me excitando. Eu engulo em seco e
luto contra as lágrimas quando ele se aproxima ainda mais e seus
dentes beliscam o lóbulo da minha orelha. Isso me enfraquece. Por
um momento, desisto de lutar e permito que a excitação tome conta
de mim. Minha respiração torna-se elaborada.
Seus dedos retornam ao meu estômago, depois descem,
lentamente. Cada vez mais baixo até que sua mão cobre meu sexo
e seus dedos deslizam sobre o monte sem pelos da minha boceta.
Suspiro quando ele desliza um dedo em minha passagem virgem
e começa a empurrar para dentro e para fora.
Ele retorna ao meu ouvido, mordiscando o lóbulo da minha
orelha.
– Uau, sua boceta é tão apertada – sussurra – nunca fodi uma
virgem antes. Definitivamente vou gostar de você, principessa. Mal
posso esperar para sentir seu corpo apertando meu pau.
Minhas bochechas queimam com suas palavras sujas, que ele
usa para controlar minha excitação e encorajar meu desejo. Minha
garganta se aperta tanto que acho que vou desmaiar pela falta de ar
quando ele olha para baixo, para minha boceta, e começa a
bombear seus dedos para dentro e para fora, cada vez mais rápido.
O sorriso desaparece de seus lábios, seu rosto bonito assume
aquela feição dura novamente, enquanto ele me fode contra a
parede, apenas com seus dedos.
A excitação me atinge, fazendo meu corpo ferver. Eu gemo com
cada passagem dos dedos dele. Apesar de envergonhada que meu
corpo responda a ele dessa maneira, não consigo evitar isso. Até
que uma onda de prazer dispara através de mim e perco o controle.
Minhas mãos voam da parede para agarrar sua camisa.
Ele me dá um sorriso largo, e fico chocada quando ele inclina a
cabeça para chupar meu seio esquerdo. Ele chupa forte e acelera
os movimentos dos dedos dentro da minha boceta. De repente, o
prazer explode em mim. Tento lutar contra ele. Tento abafar os sons
de êxtase escapando meus lábios, mas não consigo.
Explodo de prazer. Muito prazer. Quando gozo, gemo alto. Nem
acredito no som que escapa por entre meus lábios semicerrados. A
umidade jorra da minha boceta para seus dedos e ele para de
bombear meu sexo e chupar meu seio.
Endireitando-se, ele tira os dedos de mim, levantando a mão
para eu ver como está brilhando com a prova da minha excitação.
Fico ainda mais chocada quando ele coloca os dedos na boca e
chupa.
Esqueço de respirar quando ele se agacha, puxa meus quadris e
aninha seu rosto entre minhas coxas, metendo a língua no meu
corpo ainda vibrante. Faíscas de excitação acendem minha boceta
novamente enquanto ele lambe a umidade que ficou entre minhas
pernas.
Intensa vergonha enche meu peito ao observar que o homem
lindo que acabou de me comprar, está de joelhos, me comendo com
o apetite de alguém provando um prato exótico. Fico chocada e
furiosa comigo mesma quando meu coração traidor admite que
gosto do que ele está fazendo comigo.
Quando ele se levanta, limpando a boca com as costas da mão,
uma mecha de seu cabelo preto cai sobre seu olho.
Baixo meu olhar e noto a clara saliência que seu pênis cria ao
pressionar contra a frente de sua calça. Engulo em seco tentando
afastar o medo.
– Isso foi muito interessante – ele provoca. – Espero que tenha
gostado da amostra, principessa. Da próxima vez será ainda melhor.
– Próxima vez? – murmuro, minha voz quase inaudível.
Não sei se devo ficar aliviada porque parece que ele não vai me
estuprar agora. Ou, se devo me preocupar com a próxima vez.
— Sim, na próxima. Não sou esse tipo de monstro, doce e
inocente Emelia. Eu não vou te foderesta noite – diz, levantando
meu queixo e deslizando a mão pela minha garganta. – Não vou
arrancar sua virgindade esta noite. Quando eu fizer isso, você vai
me dar esse presente de bom grado. Vai querer que eu possua
você.
A fúria agarra minhas entranhas, provocada por sua
autoconfiança. Odeio que ele pareça tão seguro de si. Ele não me
conhece.
– Não, não vou. Não vou te dar nada – retruco.
Seus dedos ao redor do meu pescoço me apertam com força.
Ele alarga seu sorriso e acena com a mesma segurança. – Ah, você
vai, sim. E sabe por quê?
Minha curiosidade vence.
– Por quê? – indago.
– Porque você já quer me dar. Posso sentir o cheiro, mesmo
agora. Medo e excitação. Senti antes de fazer você gozar. Você já
me queria no primeiro momento em que me viu – ele me solta e
afundo contra a parede, meus lábios entreabertos. – Está tudo bem.
Eu também quero você – confessa, com uma piscadela.
Depois, se vira para ir embora. Eu o observo enquanto ele sai e
a porta se fecha. Um segundo depois, uma chave chacoalha dentro
do buraco da fechadura. Estou trancada.
Leva um momento até que eu perceba que não estou
respirando. Sacudo a cabeça até que a confusão desaparece da
minha mente.
Isso é loucura. Eu não o desejo. Não posso desejar. Ele é o
inimigo. Meu inimigo. Não posso me permitir ser usada dessa
maneira.
Só há uma coisa que posso fazer.
Escapar.
Tenho que tentar, pelo menos.
Chapter
Seis
N
MASSIMO
ão me lembro da última vez que me masturbei.
Foi há tanto tempo que a memória de quando poderia ter
acontecido é um borrão completo. Mas, tenho certeza de que estava
bêbado.
Assim que deixei Emelia de pé contra a parede, nua e linda,
excitada por mim, sabia que minha saída seria embaixo da água do
chuveiro.
Eu tinha só duas opções: masturbação ou ir até o Renovatio,
meu clube de strip, e pegar uma das mulheres que trabalham ali.
Mas, outra não resolveria meu problema. Já tinha ido longe demais
com minha noiva, a beleza de cabelos negros, para me contentar
com outra. Estou acostumado a conseguir o que quero, e o que
quero é ela. Meu pau está implorando por sua boceta apertada e
molhada.
Deito na cama, com a cabeça na pilha de travesseiros, olhando
para a claraboia. Correndo a língua sobre meus lábios, sorrio. O
gosto dela ainda está na minha boca. É um gosto viciante. Quando
aquele doce néctar fluiu de sua boceta bonita para minha boca, tudo
que eu sabia era que precisava de mais.
Puta que pariu, fiquei fascinado desde que surgiu essa ideia de
me casar com ela. No baile, pensei que ela fosse mais uma princesa
arrogante, mas essa garota está longe disso. Há um fogo dentro
dela que me cativa, que a faz pensar que pode me desafiar, me
dizer não. Nem lembro quando foi a última vez que uma mulher
disse essa palavra para mim. O fato de ter vindo de alguém
impotente e indefesa como ela, em sua nudez perfeita, é pura
excitação.
Posso ver que vou me divertir bastante neste empreendimento
comercial.
Agora, sou um filho da puta mais feliz. Aprisionei a filha do meu
inimigo em minha casa e estou à beira de ver Riccardo perder tudo.
O que a princesa deve estar fazendo agora?
Posso imaginar minha bela e virgem principessa ainda
pressionada contra a parede, mortificada com o que fiz a ela. Aposto
que, do jeito que seu querido papai controla tudo e todos, o que fiz
com ela hoje foi o máximo de sexo que já experimentou.
Vasculhei sua vida antes desta noite e descobri que seu melhor
amigo é um homem. Achei incomum, considerando quem é o pai
dela, mesmo que o pai do rapaz trabalhe para ele. Tudo que
Riccardo faz tem um motivo por trás. Tudo. Aposto qualquer coisa
que aquela pequena viagem à Itália, que ela pensou que faria,
também era parte de algum plano tático. Só não sei qual. Não sabia
da viagem até ontem. Riccardo manteve isso em segredo. E foi a
razão pela qual tivemos que adiantar a assinatura do contrato.
A princesa não sabe disso, mas, a única coisa que separa
nossos quartos é um estrito corredor de ligação. O dela é um dos
quartos de hóspedes. Eu mandei que o preparassem quando Pa e
eu decidimos que iríamos agir. Estávamos esperando por mais
alguns detalhes de Dominic antes de colocarmos em prática nosso
plano.
Meu irmão mais novo consegue achar sujeira sobre qualquer
pessoa. Mesmo quando pensam que não têm sujeira, Dominic
encontra merda que podemos usar contra alguém. Desta vez, ele
acertou em cheio.
Tenho planos para todos os meus irmãos, se eles me apoiarem.
Sei que minha ascensão a líder causará rebuliço. Meus irmãos já
estão sabendo e me pergunto o que pensam disso.
O fato de eu ter comprado Emelia também deve causar agitação.
Estávamos todos naquele baile na noite em que Riccardo a
apresentou ao submundo. Sei que não fui o único que gostou. Mas,
sou o chefe.
Agora, ela está na minha casa e quero transar com ela.
Eu vou esperar, no entanto. Fui sincero. Não sou o tipo de
monstro que estupra. Sou implacável e sem coração, mas nunca
forçaria uma mulher. Adoro foder e tudo o que quero agora é enfiar
meu pau em minha mulher. Mas ela vai ter que me desejar tanto
quanto eu a quero. Mesmo que tenhamos acabado de nos
conhecer, essa conexão tem que existir.
No meu clube, as mulheres estão sempre dispostas a me dar o
que eu quiser. Nem preciso mandar. Não tenho que me esforçar. No
entanto, a beleza ardente no quarto ao lado, só me fez sentir mais
sede por mais dela. Provei seu gosto e quero mais. E vou conseguir.
Mas, ela vai me dar o que eu quero de bom grado. Meu pau
endurece só de pensar em subjugá-la.
Não tenho dúvida da atração que existe em abundância entre
nós. Senti isso no momento em que nossos olhos se encontraram.
O que nunca esperava era ficar tão encantado com a filha do meu
inimigo, como o chamado de uma sereia fazendo um pobre
marinheiro se perder.
Desejo e química explodiram esta noite entre nós.
Ela sentiu isso também. Tenho certeza que sentiu. Gosto que
esteja lutando contra isso. Gosto de um desafio. Quero que ela
aceite de mente, corpo e alma que agora pertence a mim.
Com essa ideia, adormeço.
Q����� ������, resisto à vontade de ir vê-la. Vou pedir às
empregadas para cuidarem dela hoje e permitir que ela se acostume
a estar aqui. Não vou deixá-la sair de seu quarto. Ainda não.
Tomo o café da manhã e envio uma mensagem para meus
irmãos, pedindo que me encontrem no clube em uma hora. Ainda
não está aberto para o público, mas é lá que sempre nos
encontramos e costumamos passar o tempo juntos. Prefiro fazer
reuniões de negócios nos escritórios da D'Agostino, mas há
algumas que faço no clube. Principalmente aquelas que dizem
respeito às ações ilícitas que preciso manter em segredo.
Não vejo todos os meus irmãos juntos desde o início da semana
passada, quando a merda sobre Riccardo começou a bater no
ventilador. Tivemos uma reunião no escritório com Pa, onde ele
anunciou que queria passar o comando para mim o mais rápido
possível. Foi quando percebi a tensão entre meus irmãos. Me
incomoda pensar que eles podem não querer que eu assuma o
comando. Hoje, quando nos encontrarmos, serei o chefe oficial, no
papel.
Quando chego ao clube, Tristan já está lá, jogando sinuca no
salão com um charuto cubano enfiado no canto da boca. Meu ânimo
melhora quando o vejo. Ele coloca o charuto no cinzeiro e um
sorriso se espalha em seu rosto.
Ele me encontra no meio do caminho com uma mão estendida e
um aceno curto de cabeça.
– Bom dia, chefe – diz.
– Olá, irmão – respondo com um sorriso largo.
Aperto sua mão, mas ele me puxa para um abraço. É uma coisa
rara entre nós, feita apenas em ocasiões especiais. Estou feliz que
ele parece estar a bordo. De todos os meus irmãos, sou o mais
próximo dele. Talvez seja porque temos apenas um ano de
diferença. Andreas é dois anos mais velho que eu e Dominic é três
anos mais novo que eu. Também somos muito parecidos, tanto que
poderíamos ser gêmeos.
– Você parece diferente, como um homem no comando –
observa ele. – Ou como um homem que fodeu sua mulher.
A malícia faísca em seus olhos. Eu rio sabendo que ele deve
estar curioso sobre o que aconteceuna noite passada.
– Ainda não – confesso.
Ele muda seu peso de um pé para o outro e me encara.
– Você está brincando. Não mandei mensagem ontem à noite
porque achei que estaria ocupado com seu novo brinquedo. Sei que
eu teria ficado.
– Cuidado, posso pensar que está atrás da minha futura esposa
– brinco.
Ele revira os olhos.
– Seu filho da puta, sabe que todos os homens que a viram
estão atrás dela.
– Melhor que não estejam, porra. Vão se arrepender de olhar
para o que é meu.
Eu sou possessivo, e não me importo com quem eu irrite. O que
é meu é meu.
– Relaxe, estou apenas brincando. Em relação a mim, quero
dizer. Não faria uma merda dessas com você. Mas, falando sério,
não fez nada com ela? – indaga com um olhar incrédulo.
– Não, não fiz merda nenhuma. Ela é virgem.
Agora seu queixo cai.
– Porra, está brincando. Não estou surpreso, mas ainda assim.
– Sim.
– Não vai esperar até a noite de núpcias, vai? – arqueia uma
sobrancelha.
– Claro que não.
– Bom – ele concorda. – Como foi com Riccardo? Fez o bastardo
sofrer?
– Eu diria que sim. Eu definitivamente diria isso.
– Coloquei os nossos soldados em alerta.
Estendo a mão e dou-lhe um tapinha no ombro. É disso que ele
está encarregado. Supervisiona os soldados e associados para
manter as coisas na linha e sob controle.
Olho para a porta quando ela se abre. Dominic entra carregando
uma bandeja de café do Starbucks. Ele também segura um saco de
papel.
Dominic ri quando nos vê.
– Desculpe o atraso, chefe –– afirma ele.
Bom. Ele parece estar a bordo também.
– Sabe que não vou bater na sua bunda por atraso. Ainda –
sorrio.
– Não se preocupe. Pensei em apaziguá-lo com o melhor café
do mundo.
– Seu idiota, você só queria pegar um pouco para si mesmo –
Tristan o repreende.
– Queria mesmo – Dominic confessa com uma risada.
Eu balanço minha cabeça, rindo também. Quando ele chega até
nós, coloca a bandeja de café e o saco de papel na mesinha. Em
vez de me abraçar, ele bate seu punho no meu e tira um recipiente
de plástico do saco, com uma fatia de bolo de cenoura dentro.
Eu pressiono meus lábios em uma linha fina sabendo o que
aquilo significa. Mamãe costumava assar um bolo de cenoura
quando tínhamos algo para comemorar.
– Achei que gostaria disso. Quase tem o gosto do dela – diz
Dominic.
– Obrigado – respondo, aceitando a oferta. – Aprecio o gesto,
irmãozinho.
Agora ele me abraça.
– Que ótimo – Tristan ri e se joga no sofá – parecemos um
bando de senhoras se reunindo para tomar café e bolo.
– Ei, é um dia raro, tá bom? – Dominic franze a testa e se
encosta na beirada da mesa de sinuca.
Olho para a porta em antecipação, esperando que Andreas entre
em seguida. Como ele nunca se atrasa, estou começando a achar
que não virá.
Vendo meu desconforto repentino, Tristan e Dominic trocam
olhares.
– Algum de vocês tem notícias de Andreas? – pergunto.
– Não – Tristan responde, sentando-se para frente e apoiando os
cotovelos nos joelhos.
– Talvez esteja apenas um pouco atrasado – sugere Dominic.
– Ou não vem – Tristan entoa e eu lhe dou um olhar afiado. –
Vamos, cara, quando é que ele se atrasa? Porra, nunca – ele
mesmo responde.
Dominic, visivelmente desconfortável, pega seu café e começa a
beber.
– Bem, acho melhor começar, então – digo, olhando para meus
dois irmãos. – Isso era meio não oficial. Eu só queria me encontrar
com vocês e atualizá-los sobre o que está rolando.
Entro no modo homem de negócios, embora esteja desapontado
por Andreas não estar aqui. Desapontado e chateado também, na
verdade. Oficial ou não, sou o chefe. Se convoquei uma reunião, ele
deveria ter vindo. Acho que realmente estava certo sobre a agitação
e a tensão. Ele não está feliz por eu ser o chefe.
– Vai mudar alguma coisa? – Tristan pergunta, me dando um
olhar curioso e esperançoso ao mesmo tempo.
– Sim, vou. Vou mudar tudo.
Dominic continua a beber seu café, mas parece tão curioso
quanto Tristan.
– Como o quê? – pergunta ele.
– Vou dividir a empresa e os ativos em quatro partes – respondo.
A expressão de Tristan fica pálida e Dominic engasga, mas se
endireita e arregala os olhos.
– O quê? – ele rosna.
Olham para mim com o choque que eu sabia que iria provocar.
Afinal de contas, somos todos mafiosos gananciosos. O único
homem que conheço que divide sua riqueza é um velho amigo meu,
um chefe em Chicago chamado Claudius Morinz. Como resultado,
ele tem um grupo de homens leais a ele até a morte. Eu quero isso
aqui para nós. Acho que L. A. pode aprender uma coisa ou outra
com Chicago. Também acho que deveria funcionar melhor aqui
porque já somos irmãos e somos próximos.
– Jesus, Massimo – a voz de Tristan está rouca. – Sabe o que
está dizendo? Sabe quanto vale o império?
– Claro que sei. Mas, sua lealdade vale mais para mim.
Já se passaram quatro meses desde que papai anunciou que me
escolheu para assumir a liderança. Isso aconteceu depois da morte
de nosso avô. Papai sempre dissera que quando isso acontecesse,
sinalizaria a hora de ele voltar para a Sicília. E o plano dele sempre
foi deixar a nova estrutura organizada antes de ir.
Qualquer um de nós quatro poderia liderar o império, mas o meu
maior competidor era Andreas. Pa me treinou nos últimos meses.
Os próximos meses serão sobre o Sindicato.
Pa levou cinco anos para encontrar um novo nicho de negócios
e, quando o fez, atingiu o sucesso. Ele entrou na indústria de
petróleo e gás. Ele seguiu o caminho legítimo e montou um império
para rivalizar com todos os outros. Não há um homem vivo que não
conheça a marca D'Agostino. A empresa e tudo o que possuímos
valem bilhões.
Tristan e Dominic olham um para o outro e depois para mim.
– Você é um homem melhor do que pensei, Massimo D'Agostino
– diz Tristan. – Você já tinha minha lealdade, irmão.
Eu dou um aceno de cabeça em apreciação.
– E a minha – acrescenta Dominic. – Você não tem que fazer
isso. Fez por merecer sua posição. Ficou claro, desde muito tempo
atrás, que seria a melhor opção para assumir a liderança depois de
Pa. Não quero que pense que tem que nos dar qualquer coisa em
troca do que devemos dar a você naturalmente.
– Agradeço suas palavras. O império pertence a todos nós. É
meu, mas, quero que seja de vocês também. Vou mandar os
advogados redigirem os documentos afirmando exatamente isso.
Tenho a sensação de que essa era a intenção de papai. Essa é
outra razão pela qual ele deu tudo para mim. Ele sabia que eu faria
isso. Todos nós trabalhamos para a empresa da família e cada um
tem seus próprios empreendimentos paralelos. Mas, no final das
contas, legado é legado. É isso que a D'Agostino é.
– Obrigado – diz Tristan.
– Eu também agradeço – acrescenta Dominic.
– Por nada. Acho que isso nos leva à próxima questão de como
ficará a nova estrutura. Papai nunca teve a hierarquia
tradicionalmente estabelecida. Ele era o chefe, vovô era seu
consigliere e ele nos fez capos. Quero algo um pouco diferente.
– Porra, eu nunca vi você tão sério – Dominic ri.
– É hora de ser sério – respondo. – Quero que Tristan e Andreas
sejam os subchefes e quero que você seja meu consigliere.
Olho para os dois que agora estão sorrindo.
– Claro que sim, porra – Tristan pega um charuto do humidor. Ele
o ascende e acena com a cabeça, satisfeito. – Gosto disso.
Definitivamente, estou dentro.
– E eu, confia tanto assim em mim? – Dominic pergunta,
apontando para si mesmo.
Essa é uma pergunta óbvia para mim.
– Você sabe que sim. Não há uma maldita informação que você
não consegue encontrar. Nenhuma maldita coisa que não consiga
fazer. Você não me levaria a fazer nenhuma merda e, nesse
momento, o que mais preciso é de uma mente clara. Quero focar no
Sindicato porque não sei como irão reagir quando descobrirem que
tenho tanto poder.
Eu me preocupo com isso. Eles não acreditam em ter um único
líder. Ninguém está acima de ninguém. Eles não querem cometer
erros como alguns dos outros sindicatos. Somos um sindicato de
seis famílias. Em vez de ter uma pessoa liderando o grupo, cada
família tem um líder para representá-la.
Cinco anos atrás, quando a D'Agostino foi declaradauma
empresa da Fortune 500, Pa foi abordado pelo Sindicato para se
juntar a eles.
Já é ruim o suficiente ser novo no sentido de que nossa família
se afiliou a eles há apenas cinco anos. Mas, não apenas sou novo
no comando da minha família, como também serei o membro mais
jovem do grupo. Ter os direitos de voto de dois líderes fará uma
grande diferença que acho que eles não vão gostar.
– Eles são um bando de velhos fodidos que precisam de uma
boa sacudida. Você não pode se preocupar com eles – Tristan diz.
– Eu não estou preocupado. Não desse jeito, pelo menos. A
situação é o que é e eles terão que lidar com isso. O que quero é
que eles deem um pé na bunda do Riccardo. Quero focar nisso. Por
isso preciso manter as coisas bem encaminhadas nos negócios.
Eu olho para Tristan. Embora eu tenha escolhido Dominic como
meu consigliere, vou precisar de Tristan para esta próxima parte do
plano como músculo adicional. Tradicionalmente, o líder da família
pode escolher um membro acompanhante que participará de todas
as reuniões do Sindicato com ele. Vou escolher Tristan como essa
pessoa e isso fará dele meu segundo em comando.
– Você – aceno para Tristan – estou escolhendo você para se
juntar ao Sindicato comigo.
– Eu? – Tristan parece preocupado.
– Sim. Você. Tem que ser você, Tristan. – Caso algo aconteça
comigo. Eu sempre tenho que estar atento ao perigo. Olho para
Dominic e sei que ele já me entendeu – Dominic, você guarda
nossos segredos e faz as coisas acontecerem. Estamos entrando
em uma nova era. As coisas têm que ser diferentes.
– Captei sua mensagem – Dominic concorda.
– Andreas não vai ficar feliz com isso. Ele vai se perguntar por
que você não o escolheu – Tristan afirma. Ele sabe, também, que
acima de tudo, o Sindicato vem em primeiro lugar. Se alguma merda
acontecer comigo, ele se tornará chefe devido ao seu vínculo com o
Sindicato.
– Tristan, fica quieto – Dominic faz uma careta para ele.
– Vá se foder, o que quer dizer com isso? – Ele dá de ombros. –
Só estou dizendo o que todos estamos pensando. Se eu estivesse
errado, ele estaria aqui.
Alguém limpa a garganta do outro lado da sala, e todos nós
olhamos para Andreas parado na porta, segurando uma garrafa de
vinho.
Eu me endireito e, embora esteja feliz em vê-lo, tenho aquela
sensação de que ele não está exatamente entusiasmado.
– Estou aqui – diz Andreas, caminhando até mim e sorrindo.
Seus olhos são mais parecidos com os de mamãe. São azul
gelo, enquanto o resto de nós tem um tom mais escuro. Para mim,
essa cor torna mais fácil perceber quando algo está errado com ele.
Como agora.
– Desculpe o atraso, chefe – ele me dá um sorriso.
– Tudo bem.
– Por que você está atrasado? – Tristan desafia.
Andreas vira a cabeça e o encara.
– Estava ocupado, fodendo duas garçonetes que peguei no bar
ontem à noite. Quando vi a mensagem já era tarde. Quer mais
detalhes?
– Não, obrigado – Tristan faz uma careta.
– Isto é para você – Andreas me entrega a garrafa que trouxe.
– Obrigado – respondo, pegando o vinho.
Ele estende a mão e eu a aperto.
– Não há de que. Ouvi a parte sobre você escolher Tristan para
se juntar a você no Sindicato. E, sim, estou me perguntando por que
não me escolheu.
– Porque você é meu segundo subchefe – respondo, apertando
minha mandíbula – preciso que você se concentre nos negócios. É
por isso.
É também porque confio mais em Tristan. Andreas é implacável,
sem coração. Ele seria um bom chefe, um grande líder. Ele é
exatamente como eu. Tudo se resume a confiar, e ele sabe disso.
Ele acena com a cabeça, e os cantos de seus lábios se curvam
em um sorriso.
– Entendo e agradeço.
Meu telefone toca e eu enfio a mão no bolso de trás da calça
para atender. É Manni. Eu sempre atendo suas ligações, e
definitivamente vou atender esta porque alguma merda deve ter
acontecido em casa com a princesa.
– Sim? – digo ao telefone.
– Ei, chefe, não vai gostar disso. Encontraram o Pierbo morto
nas docas esta manhã. Disseram que foi suicídio. Ele se enforcou.
Suicídio! Perco a respiração ao ouvir essa palavra como sempre
acontece. E como sempre, penso em minha mãe.
Pierbo era um dos nossos executores e estava rastreando as
atividades de Riccardo. Falei com ele ontem mesmo. Ele deu duro
com Dominic para reunir as informações. Foi ele quem descobriu
que Riccardo estava envolvido com o cartel. Dominic fez o resto.
Sua morte é suspeita para caralho.
– Tem certeza de que foi suicídio? – tenho que perguntar. Em
nosso mundo, as pessoas podem fazer uma merda parecer o que
bem entenderem.
Tenho toda a atenção dos meus irmãos à menção de uma morte.
– Se enforcou. E deixou um bilhete – responde Manni. –
Desculpe, chefe. Te conto mais assim que conseguir descobrir mais
alguma coisa.
– Tudo bem.
Ele desliga e olho para meus irmãos.
Algo não está certo. Algo é suspeito para caralho. Pierbo deveria
me encontrar mais tarde. Ele disse que tinha algo que queria falar
comigo pessoalmente.
– Quem está morto? – pergunta Tristan.
– Pierbo. Era o Manni ao telefone. Ele disse que Pierbo se
matou.
Eles trocam olhares preocupados.
– Sério? – Dominic pergunta.
Eu aceno, mas também não acredito.
Estou tão cansado de ter esse sentimento. Assim como com a
mamãe. Ainda não acredito.
Desta vez, no entanto, vou investigar.
Apesar de ser quase impossível alguém chegar até um de
nossos executores, isso pode ter acontecido. E não vou deixar
Riccardo começar sua vingança mais cedo do que prevíamos.
Filho da puta.
Chapter
Sete
E
EMELIA
u sabia que ia me sentir uma merda assim que o sol nascesse.
Estou sentada no chão novamente. Desta vez, bem perto da
janela, no vão perto da porta do banheiro da suíte. Estou tentando
me distrair com a paisagem, observando as ondas baterem contra a
praia dourada. Essa cena tem sido minha única companhia. Ou eu
olho para fora ou enlouqueço. Ou contemplo a cena da praia ou
permito-me escorregar para o cenário de miséria que minha vida se
tornou.
Ou seja, estou é fodida.
Não há relógio aqui, mas calculo que deve ser final da manhã.
O avião em que deveria estar indo para Florença partiu há muito
tempo.
É curioso. Quando me imaginava indo, sempre me via já na
Accademia. Nunca me via entrando no avião. Não fazia parte da
visão. Estava sempre faltando essa parte. Talvez seja tolice pensar
em coisas assim, mas aconteceu, não é?
Nunca entrei no avião. Fiquei aqui. Ao perceber que o avião
decolou sem mim a bordo, realmente aceitei que esse pesadelo
será meu novo inferno.
Continuo repassando os acontecimentos de ontem à noite e me
perguntando se papai nunca pensou no que estava por vir. Como
chegou a dever tanto dinheiro? O que diabos aconteceu? Como
diabos isso aconteceu?
Depois, houve a estória com Massimo aqui no quarto. Eu não
poderia estar mais envergonhada pela maneira como me comportei
enquanto Massimo me tocava. Eu tive um orgasmo. Gozei em seus
dedos e adorei sua língua lambendo meu clitóris. Embora não tenha
feito sexo com ele, me senti uma vadia. Não posso negar que
gostei. A evidência estava lá em meus gemidos e no líquido que o
diabo lambeu de seus dedos, junto com minha dignidade.
Merda. É tudo uma merda. E o que acontecerá agora?
Ele prometeu que haverá uma próxima vez.
Olhei para a pequena bandeja de comida que estava sobre a
mesa quando acordei. Assumi que ele trouxera. Não toquei nela,
não quero nada. Não posso comer até que tenha um bom plano de
como vou sair deste lugar. A praia fica perto, mas não vou conseguir
fugir daqui. Há uma janela, mas claro que está trancada. E não há
nada pesado o suficiente no quarto que eu possa usar para quebrá-
la. Além disso, o barulho alertaria as pessoas.
Também prefiro não fugir pelo mar, porque não sei nadar muito
bem. Quando tinha dez anos, um menino da minha escola primária
se afogou. Tenho sido cautelosa com a água desde então. Mas, vou
nadar se essa for a única saída.
Só conhecerei bem os meus arredores quando Massimo decidir
me mostrar. Se ele fizer isso. Não sei se pretende me manter
sempre trancada aqui ou o que diabos ele vai fazer comigo.
A chavechacoalha na fechadura e meu coração aperta. Eu me
ponho de pé e me preparo para enfrentá-lo.
Quando a porta se abre, um guarda e duas empregadas
uniformizadas entram, e a tensão em meus ombros desaparece.
Uma está carregando uma sacola da Neiman Marcus e a outra traz
uma bandeja com croissants, alguns outros doces de café da manhã
e potes de geleia.
Ambas as empregadas são italianas. Uma parece ser um pouco
mais velha do que eu, enquanto a outra deve estar na casa dos
cinquenta. Elas entram, mas o guarda fica do lado de fora. Uma
medida de segurança para ter certeza de que se eu tentar fugir, ele
me impedirá. Deus, isso é um pesadelo.
– Bom dia, signorina – diz a mais nova com um sorriso. – Eu sou
Candace e esta é Priscilla – Ela aponta para a senhora mais velha.
– Buongiorno – Priscilla me deseja um bom dia em italiano.
– Oi – respondo.
Elas parecem inofensivas. Ao menos espero que sim.
Candace olha para a comida intocada na outra bandeja.
– Você não estava com fome? – pergunta ela.
– Não – minto. Estou morrendo de fome, mas acho que vou
vomitar e nunca mais parar se comer alguma coisa. – Você trouxe
essa comida para mim?
– Sim – responde ela, com um aceno de cabeça – deveria tentar
comer alguma coisa.
Eu não respondo. Ambas parecem pessoas legais, então não
quero ofender nenhuma delas.
– Você não vai experimentar isso? – Priscila pergunta.
Eu balanço minha cabeça.
– Eu não quero nada.
Elas trocam um olhar. Eu me pergunto o que Massimo disse a
elas. Como cheguei aqui e tudo. Será que lhes contou a verdade,
que me comprou? Ou seria mais apropriado descrever minha
situação como sequestro e cárcere privado? Imagino estar em um
tribunal enquanto o juiz dita as diferentes sentenças. Tenho certeza
de que qualquer corte concordaria com tudo o que foi dito acima. Eu
nunca concordei com nada disso. Tudo o que alguém precisaria
fazer seria abrir uma porta e eu correria para muito, muito longe,
para nunca mais voltar.
– Eu trouxe algumas roupas – Candace diz, estendendo a sacola
para mim. O Sr. D'Agostino queria que você ficasse com isso até
que suas coisas chegassem – seu sorriso desaparece quando eu
não pego sua oferta.
Eu balanço minha cabeça para elas. As amenidades que se
fodam. Quero que tudo vá para o inferno. Elas são comparsas
nessa estória. Não quero nada delas.
– Não quero nada disso. Ele me sequestrou e me trouxe para
morar aqui. Não quero nada. Não preciso de comida. Não preciso
de roupas. Ainda mais quando tenho as minhas próprias. Eu tenho
mais roupas do que preciso. Não quero novas.
As palavras jorram da minha boca enquanto cerro os punhos.
Ambas parecem não saber o que dizer para mim. Não posso culpá-
las, pois eu também não saberia.
Os lábios de Priscilla se abrem como se fosse dizer algo, mas
apenas suspira.
– Que tal deixá-las aqui? – Candace oferece, colocando a sacola
no canto da penteadeira. – Talvez mude de ideia até a hora do
almoço.
– Não quero almoçar ou jantar. Não quero nada. Só quero ir para
casa –estremeço e olho para Priscilla, que parece oferecer mais
simpatia.
– Desculpa, querida. Nos mandaram deixá-la confortável. Não
podemos fazer mais nada – diz ela.
Excelente. Simplesmente ótimo. Perfeito.
Levo minhas mãos à cabeça e me forço a não chorar
novamente. Não tenho mais lágrimas. Não consigo chorar mais. Já
chorei o suficiente.
– Quando minhas coisas chegam aqui? – exijo saber.
– Não sabemos – Candace responde.
– Posso fazer uma ligação? – quero ligar para Jacob. Chamar a
polícia seria a coisa mais razoável a se fazer, mas no meu mundo,
sei que não devo chamar a polícia. Se alguém consegue sair de
uma situação como a minha, deve fugir sem olhar para trás e rezar
para que seu inimigo nunca o encontre. – Preciso falar com meu
amigo.
– Receio que isso não seja possível – responde Priscilla.
– Não posso usar um telefone? – suspiro, a agonia na minha voz
é evidente.
– Vamos falar com o Sr. D'Agostino sobre isso.
Eu tenho aquela sensação de tontura novamente, como se eu
fosse desmaiar.
– Posso ir lá fora, tomar um pouco de ar fresco?
Quando Candace morde o interior do lábio, já sei o que ela vai
dizer.
– Ainda não – diz ela, confirmando minhas suspeitas.
– Onde está Massimo? Onde ele foi?
– Ele tem reuniões de negócios o dia todo.
– Hoje é domingo – aponto, mas logo me sinto uma estúpida.
Talvez o negócio seja um código, como geralmente é. Talvez
seja código para trepar. Ele é rico. Por que estaria em reuniões o dia
todo em um domingo?
– Nós vamos sair e dar-lhe algum tempo. Vou voltar e checar
mais tarde – Candace promete.
As duas saem e a porta se fecha. A chave chacoalha e meu
coração aperta.
Estou trancada novamente.
Caminho até a parede e dou um soco nela, machucando minha
mão. Eu não me importo. Isso me faz sentir algo diferente da
impotência que me assola desde ontem.
Eu me encosto na parede, afundando até o chão, retomando
minha antiga postura patética.
As horas passam. Candace volta como prometera. Ela tenta falar
comigo, mas sou uma concha. Priscila também vem. Dou-lhe o
mesmo tratamento. Também não como. Não consigo nem pensar
em comida.
A noite cai. Fecho os olhos, adormecendo na minha prisão.
Antes, pensava que viver com meu pai era como ser mantida em
uma gaiola dourada. Aquilo não era nada. Estava tudo ótimo
naquela época. Só não entendo por que ele cuidou tão bem de mim
para depois permitir que isso tudo acontecesse. Eu o culpo, mas no
fundo sei que ele foi forçado. Essa é a única explicação. O monstro
D'Agostino forçou sua mão, depois forçou a minha também quando
apontou uma arma para a cabeça do meu pai.
Mas, no final das contas, papai me vendeu. O contrato foi
acertado antes de eu entrar naquela sala. Será que não havia outra
maneira?
Não sei no que acreditar e o que fazer. Tudo me dói
profundamente, e cada vez que penso na Itália, meu coração se
parte um pouco mais.
Em meu sonho, flutuo no ar até que algo queima e faz cócegas
no meu nariz. Eu me mexo. Fumaça. Fumaça de tabaco, do tipo que
vovô costumava fumar. Papai também fuma quando tem companhia,
mas meu avô sempre fumava charuto.
Abro os olhos e vejo a luz do sol brilhante. É de manhã, e uma
brisa suave acaricia minha pele.
Brisa?
Meus olhos se arregalam e me viro em direção à janela, mas
paro no meio do movimento quando o vejo.
Massimo está sentado no parapeito da janela — sem camisa,
fumando um charuto.
Minha respiração falha por dois motivos. O primeiro é a visão
dele sem camisa. O outro é o pavor.
Tenho medo dele. Não vou mentir para mim mesma ou achar
que posso dominá-lo. Não posso.
Ele apaga o charuto e se levanta, me dando uma visão melhor
de seu corpo. Há tatuagens cobrindo todo o lado esquerdo de seu
abdômen e por todo o braço, os dois braços. Há um anjo tatuado em
seu peitoral esquerdo, e então o que parece ser uma escrita em
árabe ao longo do lado direito de seu torso e quadril esquerdo. Não
sei o que nada disso significa, porém, não vou dar a ele o prazer de
ficar olhando por muito tempo. Não quando ele parece chateado. Eu
me levanto quando ele se aproxima e rezo para que meu coração
não bata tão acelerado no meu peito.
E que eu não morra de susto.
Chapter
Oito
– D
EMELIA
isseram-me que você não está comendo e está se recusando
a usar as roupas que comprei para você. Diga-me por que
está fazendo isso — exige Massimo, me encarando.
Meus pulmões se contraem, mas me concentro para que meu
corpo funcione e minha mente bloqueie o medo. Se mostrar meu
medo, ele o usará contra mim para tentar me controlar.
Nada disso é bom, e se eu não me defender, ele vai forçar a
barra até não sobrar nada de mim. Eu não posso deixar isso
acontecer.
– Não quero nada de você – respondo, levantando meu queixo
em desafio.
Um estrondo profundo ressoa em seu peito. Juro que soa como
um rosnado, o som que um urso faria, ou um lobo faminto.
– Você acha que é assim que isso vai funcionar?
– Onde estão minhas coisas? Você me trouxe aqui e esperava
que eu ficasse bem com essa merda.
– Você acha que é assim que isso vai funcionar? – pergunta
novamente, comênfase em cada sílaba, mostrando os dentes.
Estou cutucando a fera, sei que estou, mas tenho que dizer o
que penso.
– Quero dar um telefonema. Prisioneiros geralmente podem
fazer isso, não podem? – mantenho meu olhar fixo nele.
– A única pessoa que precisa saber que está aqui, já sabe. A
próxima vez que falar com seu pai, será na festa beneficente para
arrecadar fundos.
Não sei quando será isso, mas suponho que seja antes deste
casamento que deveríamos ter.
– Quero ligar para um amigo – digo e ele ri.
– Amigo?
– Amigo.
– Quer dizer aquele moleque? É assim que o chama? De amigo?
Seus olhos se estreitam até virarem duas fendas.
Posso estar enganada, mas vislumbro ciúme. E isso me deixa
sem chão. Eu não esperava isso.
– Moleque? Então, o que eu sou? Apenas uma garota? –
desafio.
Ele se aproxima, mas eu mantenho minha posição.
– Não me tente, Emelia. Você não vai gostar de me ver perder a
calma.
De repente, o medo pesa em meu peito. Mas, não consigo ficar
calada.
– O que vai fazer? Me bater? – Deus, e se ele fizer mesmo isso?
Eu não suportaria estar com alguém assim. – É assim que me
trataria?
– Qual é a sua relação com Jacob Lanzoro? – ele me segura
firme. Eu vejo agora o flash de raiva em seus olhos.
– Ele é meu amigo – respondo.
– Você transa com seus amigos? – pergunta.
Meu queixo cai.
– Não! Qual é o seu problema? Eu te disse ontem à noite que
sou virgem.
Minha voz morre quando a memória de como me comportei com
ele na noite passada volta e minhas bochechas queimam.
– As pessoas mentem o tempo todo.
– Não estou mentindo.
– Você não vai ligar para ele ou falar com ele nunca mais.
– Seu idiota – as palavras caem dos meus lábios. – Como pode
ser tão cruel? Ele é meu amigo. Vai ficar preocupado comigo. Virá
me procurar.
Eu sei que Jacob virá. Ele descobrirá de alguma forma o que
aconteceu e virá me procurar.
– Se aquele filho da puta sabe o que é bom para ele, vai ficar
longe. Não gostaria de ter o sangue dele em minhas mãos –
Massimo zomba.
– Seu monstro! – grito.
Quando ele tenta me agarrar, dou um tapa em sua bochecha
com tanta força que fica uma marca.
Ele rosna e estende a mão para me agarrar novamente. Pulo
para fora do seu alcance e tento fugir, mas ele me pega, me levanta
e me joga na cama. Um grito sai da minha garganta quando ele
sobe em cima de mim. Tudo o que posso fazer é revidar, mas ele
agarra minhas mãos e as prende sobre minha cabeça.
– Acha que sou um monstro, Emelia? – ele rosna. – Dê graças a
Deus por ter vindo parar nas minhas mãos.
– Vá se foder – atiro de volta. – Eu estava indo para a Itália. Sou
uma artista. Eu ia viver meu sonho, e você o matou. Como ousa me
dizer que deveria ser grata? Filho da puta.
Fico surpresa quando ele ri.
– Você é mesmo uma tolinha se pensa que sua vida iria
desenrolar assim – ele me prende para que não possa me mover. –
Você é só uma garantia para seu pai.
– Mentiroso – acuso quando ele se abaixa até ficar cara a cara
comigo. – Seu mentiroso. Ele me ama. Você o forçou a fazer isso
comigo. Você apontou uma arma para a cabeça dele e tive que
assinar o contrato ou você o mataria na minha frente. Como ousa
tentar justificar o que fez? Monstro.
– Sim, talvez eu seja um monstro. Mas, não sou ladrão, nem
mentiroso, e não traio meus amigos.
Ele pressiona uma mão sobre o meu estômago.
Estou ciente de que há muitas coisas que não sei sobre meu pai.
Mas, como Massimo só me mostrou crueldade, não há razão para
lhe dar o benefício da dúvida.
– Vocês são todos iguais – digo, incluindo meu pai também.
Estou aqui por causa dele. Não importa o quão desesperado ele
estivesse, nunca vou perdoá-lo por fazer isso comigo. – Todos
farinha do mesmo saco, ruins igual. O que quer que pense que meu
pai é, você é o mesmo.
De todas as coisas que eu disse a ele, isso parece enfurecê-lo
mais. Vejo isso em seus olhos.
– Eu não sou nada igual ao seu pai. Ele é o diabo – rosna.
– Seu cachorro de merda – bato de volta. – O que pensa que é?
Um maldito santo? Vai se foder.
Ele responde arrancando minhas roupas. Arranca o vestido de
mim em um movimento rápido. Depois, meu sutiã sai também. Ele
arranca minha calcinha e, segundos depois, estou nua embaixo
dele. Grito e tento lutar, mas ele me segura.
Massimo me vira de barriga para baixo e, antes que eu possa
respirar, uma mão pesada desce na pele nua da minha bunda,
sacudindo meu corpo inteiro. Outro grito escapa dos meus lábios. E
outro tapa desce com força na minha bunda. E outro. E outro. E
outro.
– Pare com isso – grito. – Você está me machucando.
No reflexo na parede de vidro, noto que estava se preparando
para me espancar novamente, mas ele para quando grito isso.
Quando sua mão toca minha bunda novamente, é uma carícia
suave de seus dedos correndo sobre minha pele.
Por um breve momento, olho para nosso reflexo. Eu nua, presa
na cama com meu cabelo caindo sobre o rosto, e ele seminu. Muito
perto de mim.
Eu continuo imóvel. Fico muito quieta, mas meu pobre coração
não aguenta. Está batendo tão descontroladamente no meu peito
que acho que pode explodir.
Seus dedos flutuam sobre minha bunda, e é só então que
percebo o quanto a pele queima.
Através do reflexo no vidro, o observo inclinar a cabeça. Depois,
sinto seus lábios pressionando contra as manchas ardendo minha
pele. Seis beijos pelas seis vezes que ele me bateu.
Antes que consiga processar o choque que esse gesto me dá,
ele me agarra e me puxa sobre seu colo. Deslizando uma grande
mão atrás da minha cabeça, ele me segura firme, me trazendo para
frente até que nossos lábios quase se tocam.
Estou nua, pressionada contra ele, com nossos olhos e os lábios
tão próximos. Sem palavras, apenas o som da minha respiração
pesada, a tensão é espessa no ar. A miríade de pensamentos que
correm pela minha mente se distorce e se dispersa. Meus pulmões
apertam e o ar se dissipa, deixando-me sem fôlego quanto mais ele
me encara com aqueles olhos tempestuosos.
As únicas coisas das quais estou ciente são minha respiração
trêmula, meu coração acelerado, minha pele tocando a dele, meus
mamilos duros contra a parede de músculos de seu peito. A
umidade acumulada no fundo do meu sexo se agita, crescendo
apenas para ele. Uma excitação selvagem toma conta de mim.
Talvez eu tenha enlouquecido. Essas últimas quarenta e oito
horas me deixaram louca. Afinal, como posso me sentir excitada
depois do que ele acabou de fazer? Ele arrancou minhas roupas e
me espancou. Ninguém nunca colocou a mão em mim.
Como diabos posso ficar excitada por isso?
E agora? Ele vai me beijar? Ele vai roubar meu primeiro beijo
também? Sou tão ingênua e infantil em pensar assim. Uma tolice.
Quando ele se inclina para frente e roça seus lábios sobre os
meus, faíscas de eletricidade explodem dentro de mim e pulsam
através do meu corpo, mas o instinto me faz virar a cabeça. Instinto
de proteger algo que me parece mais significativo do que ele tirar
minha virgindade. Não posso dar-lhe o meu primeiro beijo. Eu não
vou permitir que ele roube isso também.
Ainda.
Essa é a palavra que preciso ter em mente porque não posso
lutar com ele por muito tempo. Eu sou fraca e indefesa contra sua
potência. E contra essa coisa que parece me ferrar toda vez que ele
me toca. Esta é a segunda vez que estou nua em sua presença, e
veja como meu corpo responde a ele.
O que vai acontecer da próxima vez?
– Tão bonita, tão pura, tão inocente. Você nunca foi beijada, não
é? – sussurra e olho para ele.
Tento me afastar, mas ele agarra meu cabelo e me segura no
lugar.
– Responda – exige.
– Acabou de me acusar de foder meu melhor amigo. Por que
está me perguntando sobre algo tão simples quanto um beijo? –
desafio.
Não sei de onde vem minha força, ou coragem, para falar com
ele com tanto desafio. Talvez seja uma versão aprimorada do medo
falando, mas sinto uma pequena vitória quando ele parece
contrariado. A vitória é apenas momentânea, porém, porque ele
pressiona sua bochecha na minha e se aproxima do meu ouvido.
— Responda à pergunta que lhe fiz, Emelia. Nunca foi beijada
antes, não é? –sua voz é grosseira,exigente.
Quando ele puxa meu cabelo, pressiono minha mão em seu
peito. A pele esticada e a crista profunda do músculo apertam sob a
palma da minha mão, e ele passa os dedos pela minha bunda.
Uma mão na minha cabeça, a outra na minha bunda,
certificando-me de que estou trancada, paralisada contra seu
aperto.
– Não, nunca fui – respondo.
– Seus beijos me pertencem agora. Sua excitação é minha, suas
fantasias são minhas, você é minha. Nada mais é seu. Você não
mexe comigo que eu não castigo você.
E assim, ele me tira de cima dele e me coloca de volta na cama.
Quando ele se levanta, meu olhar cai para o volume em suas
calças. Fica mais evidente na calça de ginástica que veste agora do
que naquela que usou no outro dia.
Ele sorri ao notar meu olhar. Sorri ainda mais quando pega os
pedaços do meu vestido do chão. Ele os rasga em pedaços ainda
menores como se fossem papel. Depois, pega minha calcinha e a
enfia no bolso.
– Não quer minhas roupas? Bem, então não vai usar nenhuma –
rosna.
– Seu idiota. Não pode me deixar aqui nua – me arrasto sobre a
cama.
– Vai achando isso – responde, me lembrando que estou prestes
a me casar com um monstro.
Massimo vai até o canto da sala onde Candace deixou a sacola
de roupas e a pega.
– Se quiser usar roupas de novo, vai fazer o que mandei – avisa.
– Vai realmente me manter trancada aqui, nua?
Não posso acreditar.
– Sim. Quando achar que aprendeu sua lição, vou deixar você
saber que pode usar roupas novamente.
– O que diabos está errado com você?
Ele é louco. Ninguém se comporta assim.
– Não me pressione, principessa. A menos que queira outra
surra. Isso foi um castigo, não por prazer.
Minhas bochechas esquentam de vergonha.
– Eu te odeio.
Ele me dá aquele sorriso desarmante e chega mais perto até
pairar sobre mim.
– Não, você não me odeia, mas isso é assunto para outra hora.
Meus lábios se abrem para dizer que está errado, mas minha
voz falha quando o lampejo de algo no fundo de seus olhos prende
minha atenção, arremessando meus pensamentos pela janela.
– Como espera que eu te ame se me trata como merda!
O sorriso selvagem em seu rosto é outro sinal de que não sei o
que digo.
– Não espero seu amor. Não é disso que se trata.
Seu olhar ganha um brilho de pedra. Nas profundezas de seus
olhos penetrantes, vejo que toda essa provação não é apenas sobre
dinheiro. Há mais do que isso.
Ele tem dinheiro. Ele tem poder. O que vejo quando olho para ele
é uma sede de vingança. Vingança contra o papai.
O que meu pai fez para ele? O que papai fez que teria tanta
repercussão em mim?
E, por que diabos tenho que pagar pelos pecados do meu pai?
Quando ele se vira, vejo o enorme dragão tatuado em suas
costas, escuro, preenchendo todo o espaço. Ele vai até a janela,
tranca com a chave e a coloca no mesmo bolso em que guardou
minha calcinha.
Depois, vai embora.
Mais uma vez, me deixa aqui, nua.
Nua e pensando em como diabos vou sair daqui.
Preciso encontrar uma maneira de escapar.
Mas, como?
Massimo faz tudo para garantir que eu não tenha uma chance de
escapar.
Chapter
Nove
E
MASSIMO
la está certa. Eu sou um monstro.
E acabo de agir como um.
Mas, será que é mesmo quem eu sou? O homem que me tornei?
Como foi que a sede de vingança me transformou em algo que
nunca quis ser? Meus anos de espera por uma oportunidade de
destruir Riccardo me tornaram o tipo de homem que atacaria uma
mulher inocente?
Mulher! Porra. Ela é quase uma garota ainda. Tem apenas
dezenove anos e eu vinte e nove. Dez anos de diferença. Eu
deveria saber que meus atos têm consequências. É certo que a
porra do meu pau fica duro feito aço todas as vezes que penso nela.
Também é verdade que quero fodê-la até nós dois não
conseguirmos pensar direito. Mas, a verdade é a verdade. Ela é
virgem em todos os sentidos da palavra. Nunca havia sido beijada e
nunca havia sido tocada, até que eu a profanasse com minhas mãos
sujas de mafioso. Siciliano sujo. Se alguém testemunhasse o que fiz
hoje, me chamaria assim, e estaria com a razão.
Eu concordo. Mas, faria tudo de novo, e sentiria vergonha
depois, só para ter sua bunda exuberante balançando sob as
palmas das minhas mãos.
Tudo isso está errado. Ela é a única inocente nessa bagunça
toda, mas é uma parte necessária do meu plano para destruir
Riccardo. Tomar sua herdeira irá destruí-lo em todos os sentidos.
Ela é minha noiva virgem roubada. Eu peguei a princesa, tirei-a
do aconchego da casa de seu papai e o obriguei a entregá-la para
mim. Fase um do plano foi concluída com êxito.
Mas, a realidade é foda porque ela está me deixando louco. A
mulher está me deixando doido, praticamente insano. E se fosse
sincero, admitiria que morro de ciúme de seu amigo patético.
Estou atraído por ela, como se ela me puxasse para si o tempo
todo. Não contava com a possibilidade de ela sentir-se atraída por
mim também. Mas, ela está. E isso mexe com minha mente porque
não me preparei para esse cenário.
Fico excitado, tanto por causa da luxúria, quanto pelo poder que
tenho sobre ela. Faz apenas dois dias que ela está aqui e mal
consigo me controlar. A luxúria é como uma sede por sangue que
me deixa querendo mais. Quanto mais prazer ela me dá, mais eu
quero tirar dela. E não deveria me sentir assim.
Caminho pelo corredor e passo por Candace enquanto ela lustra
a mesa no segundo andar. Ela me observa colocar a sacola de
roupas no quarto que uso para guardar coisas. Fica a duas portas
do quarto de Emelia.
Normalmente, Candace falaria comigo sobre isso, mas ela não
diz nada. Na verdade, nem me disse bom dia. A maioria dos chefes
do meu calibre consideraria isso uma insolência e a mataria. Aqui,
temos uma relação diferente.
Candace e Priscilla são as únicas da equipe da minha casa que
trato como família. Também são as únicas que não têm medo de
mim. Sabem que não vou matá-las se me contrariarem porque suas
famílias trabalham para a minha há gerações, desde a Sicília.
Candace, em particular, sabe que é especial para mim.
Crescemos juntos e nossas famílias eram tão próximas que sempre
pensei nela como uma irmã mais nova. É por isso que está agindo
desse jeito agora, me dando o tratamento do silêncio. É por causa
do tipo de relacionamento que temos que não suporto quando ela
não fala comigo. Então, paro no final do corredor e olho para ela,
forçando-a a reconhecer que estou aqui.
– O que houve? – exijo.
O rubor em suas bochechas sugere que provavelmente ouviu os
gritos de Emelia. Não estava exatamente preocupado se alguém
nos ouviria. Além disso, o quarto fica no final do corredor. Candace
certamente teria escutado, e teria soado como se eu estivesse
torturando Emelia.
– Nada, chefe. Vejo que está no modo babaca esta manhã e
acho melhor ficar quieta.
Ela passa o espanador sobre a grade e balança a cabeça para
mim em desânimo. Ela trabalha para mim há anos, apesar de que
não precisa se sustentar sozinha. E sempre que perde a paciência e
fala assim comigo, eu dou corda.
– Está coberta de razão – respondo com um sorriso que a irrita
ainda mais. – É melhor mesmo ficar quieta se não quiser me irritar.
Com um olhar duro, ela se vira e se concentra no que estava
fazendo antes.
Sigo pelo corredor e passo por Priscilla, que só olha para mim.
Ela foi minha babá quando eu era criança e é o tipo de mulher
que faz o que mandam sem perguntas ou demonstrações de
emoção. Quando cheguei ontem à noite, com sangue nas mãos, ela
não disse merda nenhuma. Apenas me entregou um pano e uma
tigela de água quente.
Foi Priscilla quem me mandou a mensagem me informando
sobre o que estava acontecendo aqui, que Emelia havia recusado
tudo que ofereci a ela. Mas, percebo que ela também ouviu Emelia
agora e não está feliz com isso.
Talvez seja melhor que não fale comigo hoje também. Eu não
saberia o que dizer e não quero acabar confessando que descontei
minha frustração em Emelia por causa da recente merda que
aconteceu com Pierbo.
Pensei que mandar Candace e Priscilla cuidarem de Emelia
seria uma boa ideia. Candace tem vinte e cinco anos, então não é
muito mais velha que Emelia.Priscilla tem aquela presença
maternal. Agora acho que me enganei.
Na verdade, não quero falar com ninguém, exceto com o cara
esperando por mim no salão. Quando chego à porta, o vejo. Tristan
está parado ao lado da enorme lareira, olhando para minha pintura
favorita que Ma fez.
Emelia é uma artista. Minha mãe também era, mas pintava
apenas para nós.
Quando cada um de nós comprou sua própria casa, Pa separou
algumas de nossas pinturas favoritas para que cada um de nós
ficasse com elas. Acabei ficando com a maioria porque minha casa
é maior do que dos meus irmãos.
Tristan se vira quando me vê e levanta uma sobrancelha.
– Cacete, o que diabos aconteceu contigo? Parece que foi
mordido por lobos – ele sugere, rindo.
Eu corro minha mão sobre minha bochecha e sinto os vergões
onde Emelia me deu um tapa.
– Nem pergunte – resmungo.
– Tá bom, até parece que vou deixar para lá – balança a cabeça.
Depois, sorri. – Você tem que me contar o que aconteceu.
– Ela me deu um tapa – respondo.
– Tá de gozação! Ela tem garras?
– Tristan, por favor. Pode parar. Isso tudo é uma merda. Venha,
vamos lá fora.
Preciso de ar fresco para me acalmar.
Saio pelas portas duplas que levam ao terraço. Estava aqui mais
cedo malhando e deixei minha camiseta pendurada na cadeira do
pátio. Agarro-a, enfio a cabeça na gola e puxo o tecido para baixo
enquanto afundo na cadeira. Tristan se senta à minha frente e tira
um documento do bolso interno de sua jaqueta de couro.
– O que é isso? – pergunto.
– Umas merdas que descobri e que sugere que estamos certos.
Parece que Pierbo não se matou mesmo.
Ele me entrega o documento que examino com atenção. É um
roteiro de viagem para um pacote de férias reservado para um fim
de semana. O próximo final de semana. No topo da página, na
coluna com os detalhes de contato, está o nome de Pierbo junto
com o de uma mulher. Sheila Carmichael.
– Sheila? Quem é ela?
– A mulher que está grávida do filho de Pierbo. Ele planejava
levá-la para viajar no fim de semana. De acordo com os registros
que obtive, ele conversou com ela algumas horas antes de morrer.
Sheila disse que ele ligou para dizer a ela para levar protetor solar –
ele franze a testa e endireita a coluna. – Isso não soa como alguém
que se mataria algumas horas depois, não é, Massimo?
– Que porra – respondo.
O maior problema é que não sei para onde ir agora. Passamos o
dia inteiro ontem tentando encontrar respostas. Enquanto Dominic e
Andreas faziam suas próprias verificações, Tristan e eu saímos para
as ruas. Odiei ter que ir ao necrotério e ver um cara em quem podia
confiar morto sobre a mesa. Sem vida. Odeio ainda mais que há
uma chance enorme de sua morte ter sido causada por Riccardo.
Não temos nenhuma prova, no entanto. Por todo o maldito dia,
corremos de um lado paro outro, interrogando um idiota atrás do
outro. Minhas mãos acabaram sujas de sangue quando tive que
matar um filho da puta que tentou me esfaquear.
– E agora? Chegamos a um beco sem saída – afirma Tristan.
– Não sei – balanço minha cabeça, encolhendo os ombros. –
Temos que nos nortear pelo que está no papel, por enquanto. Só até
que algo prove o contrário. Claramente, Riccardo o matou por
despeito. Mas, é foda, Tristan. Esse era o Pierbo. Como alguém
chega a um cara assim?
– Não sei. E não gosto disso. Nada bate com nada.
Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha.
– Precisamos focar e seguir o plano. Há muita coisa
acontecendo que pode tirar nossa atenção.
Especialmente para mim.
Tenho muitos compromissos importantes nas próximas semanas.
O primeiro é a reunião do Sindicato onde serei iniciado. Depois
disso, haverá um jantar oficial da família, onde meu pai me dará o
anel e declarará à família que sou o novo chefe. Temos familiares
vindo da Itália para isso e outros membros do clã D'Agostino estarão
presentes. É uma ocasião muito importante. Depois, há o maldito
evento para arrecadar fundos, que sinceramente preferiria pular,
mas do qual tenho que participar porque faz bem para a imagem da
empresa. Riccardo estará lá também. Vou levar Emelia. Isso é daqui
a três semanas. Na semana seguinte, é o casamento.
Qualquer coisa pode acontecer nesse longo espaço de tempo.
Então, preciso manter meus olhos abertos e meus ouvidos atentos.
Não duvido que Riccardo esteja planejando algum jeito de levar
Emelia de volta. Sei que está.
– Não podemos perder o foco – diz meu irmão, que parece ler
minha mente, como sempre. – Isso seria um grande erro. Andreas e
eu vamos resolver as coisas para a empresa e ficar de olho em
Riccardo. Dominic vai fazer as coisas dele. Todo mundo sabe o que
deve fazer, então não se preocupe. Trate apenas de ser o chefe.
Que não é um trabalho que dá para ser feito da noite para o dia.
Especialmente, todo o negócio do Sindicato.
Ele está certo. Se fosse apenas aprender a administrar negócios
para a D'Agostino Investimentos, não seria tão ruim. Papai preparou
todos nós para isso. O Sindicato é diferente, e minha iniciação será
apenas o começo. A Irmandade é todo um outro jogo de poder, um
nível totalmente diferente de riqueza inimaginável. Riqueza que
nunca sonhei ter. Com certeza não quando ficamos sem nada.
Esses caras falam em bilhões, nem mesmo milhões. É por isso que
Riccardo está fodido. Não conseguiu nem juntar um milhão de
dólares para nos pagar, que dizer dos vinte e cinco que deve no
total.
– Obrigado. Agradeço suas palavras, irmão – levanto um punho
e bato no dele.
– Beleza. Então, você parece abalado por causa dessa garota. O
que está pegando, Massimo? Onde ela está? – sorri.
– Trancada no quarto dela.
Nua. Mas, essa parte não vou dizer a ele.
– Vai mantê-la trancada para sempre? – arqueia uma
sobrancelha.
– Tristan, não sei o que fazer com ela, e não preciso que me
digam que isso é loucura. Já sei que é.
– Claro que é, mas sinto que gosta dela – me dá um olhar
curioso. – O casamento foi ideia sua.
– Fazia sentido. De que outra forma ficaríamos com a herança
Balesteri?
– Foda-se a herança. Não me venha com essa estória de merda.
Gostou dela no baile.
Ele balança a cabeça e eu inclino a minha para o lado. Isso é o
que acontece quando as pessoas te conhecem muito bem. Tristan
não é apenas meu irmão; ele é meu melhor amigo. Nada passa
batido por ele.
– Eu e a galera toda, lembra? – digo como uma tentativa final.
Do jeito que me lembro, todos os homens descompromissados
naquele baile de caridade estavam olhando para ela. Todos a
queriam.
– Porra, quem se importa com o resto da galera? Massimo,
ninguém o culpará se você tomar alguma atitude baseado no que
ela é ao invés de em quem ela é.
Eu tenho que rir.
– É tudo a mesma merda. Quem e o quê ela é.
– Não, não é – ele balança a cabeça e me dá um sorriso
malicioso. – Ela é filha de Riccardo. Isso é quem ela é. A filha do
nosso inimigo. Mas, ela é uma mulher. Isso é o que ela é. Uma
mulher muito bonita que pertence a você. Não me diga que não
notou essa parte.
Recosto na cadeira.
– Eu notei, sim, senhor.
E meu pau também percebeu. Duas vezes eu a tive nua
pressionada contra mim, e nas duas vezes eu quis devorá-la.
Ambas as vezes, estava bem ciente de que ela é uma deusa com o
corpo feito sob medida para o jeito que gosto de foder.
– Então é isso – Tristan sorri. – Vai se casar com ela e será uma
merda? Ou vai viver no clube de strip? Notei que não foi lá ontem.
Ou talvez tenha molhado seu pau aqui mesmo.
– Tristan, pare com essa estória. A coisa aqui é só negócios.
– E qual negócio é realmente bom sem um pouco de prazer
misturado? Quando alguém tem tanto dinheiro como nós temos, vira
rei. Pode fazer a merda que quiser que não pega nada.
Passos ecoam no cimento, e minhas próximas palavras
desaparecem.
Priscilla caminha em nossa direção com um sorriso rígido
tentando esconder sua desaprovação. Ao lado dela vem a mulher
que, provavelmente, foi aquela que mais próxima chegou de ser
chamada de minha namorada. Gabriella Mineola. Seu cabelo loiro
platinado parece uma auréola no topo de sua cabeça. O sorriso em
seu rosto está cheio da travessura que sempre aprontamos quandonos encontramos.
– Ah, entendi – Tristan sussurra, inclinando-se para mais perto
de mim. – Não sabia que ainda estava molhando seu pau nela – ele
afirma, a voz cheia de desdém.
Ele não a suporta.
– Não estou – respondo pouco antes de Priscilla e Gabriella nos
alcançarem.
Tristan e eu nos levantamos. Priscilla acena rapidamente com a
cabeça e sai. Gabriella olha de mim para Tristan, e seu sorriso se
ilumina, alcançando seus grandes olhos verdes.
– Massimo e Tristan D'Agostino. Faz um bom tempo desde que
vi vocês dois juntos – ela afirma, estendendo a mão para nós
beijarmos seus dedos.
Por educação, Tristan aperta sua mão.
Eu não toco nela.
– Tenho que ir – afirma ele. – Lembre-se do que te disse –
acrescenta, me olhando com seriedade.
Está falando sobre Emelia. Dou-lhe um aceno de cabeça antes
que nos deixe. Volto minha atenção para Gabriella, que tem uma
expressão sedutora.
– Gabriella, não vejo você há um tempo – afirmo.
– Eu estava viajando.
É uma puta mentira. A verdade é que teve um caso com o
senador Braxton, cuja esposa descobriu. Ele chutou Gabriella para
rua, em vez de deixar sua esposa como ela achou que ele faria.
– Viajar é muito bom – comento, fingindo que nasci ontem, já
que ela pensa que sou tão ingênuo assim.
– Como consegue ficar mais sexy cada vez que te vejo?
– Não sei – dou de ombros.
Ela passa o dedo pelo meu peito, mas mantém o olhar fixo no
meu.
– Lembra-se da última vez que nos vimos?
– Claro.
Eu me lembro bem. Ela passou o fim de semana inteiro aqui, e
não saímos da minha cama para nada.
O pai dela é o chefe da família Mineola. Eles são incrivelmente
ricos e tentam investir na D'Agostino Investimentos há muitos anos.
Toda vez que faziam uma oferta, meu pai recusava. Ele é forte
assim. Ele sabe exatamente quando aceitar uma oferta e quando
rejeitar por causa da merda que pode dar. Eu, nem tanto. Nunca
consegui recusar nada a esta mulher. Sempre acabávamos na
cama, ou onde quer que o desejo nos levasse. Ela é quem não
aparece aqui há um ano.
– Eu também lembro bem – sussurra, rindo. – Foi agradável.
Então, ouvi falar sobre sua ascensão à liderança. E seu noivado.
Essa última parte só poderia ter saído ontem. As notícias correm
rápido em nossos círculos. Posso apenas imaginar as conversas.
Eu, o implacável príncipe D'Agostino e a doce princesa Balesteri.
Duas famílias que as pessoas sabem serem antigas inimigas. Duas
famílias que apenas algumas pessoas especiais sabem que
pertencem à Irmandade. Que agitação devemos ter criado.
– Sim, vou me casar – respondo a essa parte apenas.
Ela deve ter ouvido falar sobre a minha promoção a chefe meses
atrás. Isso é notícia velha e nada tem a ver com o motivo de estar
aqui.
Olhando para a praia, ela inclina a cabeça naquela direção.
– Não vai me levar para um passeio? Está um dia tão lindo. Só
quero dar uma última olhada antes que a dona da casa comece seu
reinado.
Ela me dá um sorriso atrevido que eu não retribuo.
Vou andar com ela na praia porque precisamos conversar. Sei
que olhos nos observam. Tenho certeza de que Priscilla está
assistindo de algum lugar, e não quero ser julgado mais ainda hoje.
Faço um gesto com minha mão para ela ir à minha frente e
descemos pelo caminho até a areia.
A praia é o que eu amo mais sobre esta propriedade. Sempre
adorei viver perto da água. Era certo que eu seria o irmão a escolher
a casa de praia por causa do meu amor por velejar em mar aberto.
Não há um barco que eu não possa navegar, e nenhuma água tão
turbulenta que eu não possa comandar.
Apesar de termos crescido perto da água, meus irmãos moram
mais no interior. Tristan, no entanto, ama a floresta. Ele gosta de
ficar longe das pessoas.
Ao darmos o último passo no caminho, estamos na praia
particular que veio com a propriedade. Possuo três quilômetros da
costa antes que se torne Huntington Beach.
O cabelo de Gabriella se levanta com o vento. Parece fios de sol.
Após caminharmos por um tempo, ela se vira para mim.
– Vai me convidar para o casamento?
– Ainda não decidimos quem vamos convidar.
Esta é a versão mais delicada que ela vai conseguir de mim,
mas já dá para saber que a resposta é não.
– Talvez eu receba um convite diferente. Não posso imaginar
você com uma garota inexperiente – ela diz e dá uma volta ao redor
de mim, como uma gata marcando seu território. – Ouvi dizer que
ela é bonita.
– Ela é – concordo.
Eu serei muito direto com ela. Em tempos como estes, ninguém
consegue distinguir amigo de inimigo. Só porque costumávamos
foder como coelhos não significa que ela está aqui tentando voltar
para a minha cama. Ou talvez seja isso que ela queira.
– Faz sentido. Sempre me perguntei como seria a princesa
Balesteri. Riccardo a mantinha longe do mundo. Ninguém nunca
soube quem ela era.
Foi exatamente assim, mas a maioria das famílias criminosas é
assim. É como eu seria se tivesse uma família. Eu os manteria
longe dos negócios. Ao primeiro sinal de merda, seus inimigos vêm
atrás de você através de suas fraquezas. Esposas e filhos. Nessa
ordem.
– Você parece muito interessada – noto, olhando para ela dos
pés à cabeça.
– Relaxe – sorri. – Estou aqui só para saber se ainda poderemos
transar depois de suas núpcias, ou talvez antes – ri e inclina a
cabeça para o lado.
– Gabriella, não vamos mais jogar esse jogo – respondo e seu
sorriso desaparece.
– Ah, por favor, não me diga que se transformou em um marido
amoroso de repente – ri. – Não faz sentido nesse tipo de casamento
arranjado de merda. É tão óbvio que foi arranjado. Só não sei como
rolou.
Eu me inclino mais perto, e ela ri.
– Você sabe demais. Riccardo te mandou aqui para checar como
está a princesa? – pergunto, cravando meu olhar nela.
Seria uma ideia inteligente, já que qualquer outra pessoa teria
sido morta a tiros antes que pudesse chegar à minha porta.
– E se ele mandou?
– Ele mandou? – repito, exigindo saber, meu sangue começa a
ferver.
– Não. É que sei como vocês, homens da máfia, são. No final
das contas, tudo é sempre sobre alguma boceta. Estou apenas te
oferecendo a minha.
Geralmente, sou bom em notar quando as pessoas estão
mentindo. Graças aos acontecimentos dos últimos dias, minhas
emoções estão ferradas. Entre me preocupar com meus irmãos e o
que pensam da minha liderança até meus encontros com Emelia
carregados de tensão sexual.
– Você parou de me oferecer isso muito antes dessa notícia –
respondo, provavelmente mostrando mais emoção do que
pretendia.
No passado, pensei em tornar as coisas mais sérias entre nós. E
ela sabia que eu estava prestes a fazer isso, sabia como eu me
sentia, antes de pular na cama do senador Braxton. Nunca levei
ninguém a sério, mas ela me fez pensar em fazer isso.
Provavelmente, é por isso que Tristan não a suporta. Ele sabia
como eu me sentia. Eu não precisava dizer nada.
O sorriso que levanta os cantos de sua boca fica trêmulo. Ela
levanta a mão e toca minha bochecha, passando levemente o dedo
ao longo do arranhão que Emelia deixou lá.
– Você é um homem tão lindo, mesmo com cicatrizes. Faz você
parecer ainda melhor. Não queria nada sério naquela época,
Massimo. Eu quero agora.
Ela solta meu rosto e passa as mãos pelo meu peito,
continuando mais para baixo até chegar ao cós da minha calça.
Eu as agarro antes que ela possa pegar meu pau e dou-lhe um
sorriso.
Quando ela desvia o olhar do meu e foca em um ponto distante,
por cima do meu ombro, meus nervos tremem. É então que sinto.
Olhos em nós, em mim.
Estou tão acostumado a caminhar sozinho por esse lado da
praia que me esqueci. Que desleixo da minha parte. Estamos a
poucos metros do quarto de Emelia.
Eu me viro sabendo que só poderia ser ela. E é mesmo. Está
parada perto da janela em que eu estava fumando mais cedo.
Enrolada no lençol, com seu cabelo negro despenteado, parece que
passamos a noite juntos. Mesmo daqui posso ver a umidade em sua
pele e aqueles olhos cinzentos enevoados, fazendo um contraste
gritante com a escuridão de seu cabelo.
Bonita não é a palavra que usaria para descrevê-la. Ela é linda.
Ela é beleza pura. E a coisa maisbela sobre Emelia é que ela não
sabe que é linda.
Estamos em sua linha direta de visão. Não sei o que me
impressiona mais: o jeito que ela me encara ou o fato de que não se
moveu. Foi pega me observando com outra mulher na praia e
continua lá, firme. Obviamente, chateada para caralho.
Com ciúmes, posso ver.
Bom.
Da mesma forma que ela me provocou ciúmes quando
perguntou se podia ligar para o amigo.
Meu pau endurece quando meu olhar cai para seus seios
escondidos da minha vista pelo lençol. Lembro-me como seus
mamilos endureceram de excitação contra meu peito. Lembro seu
gosto, na outra noite, quando chupei seus seios e sua boceta pela
primeira vez.
Ela vai me deixar fazer isso de novo. Da próxima vez, vou
certificar-me de dar uma boa chupada e aproveitar bem sua boceta
antes de brigarmos.
Olho de volta para Gabriella e noto a linha dura de sua
mandíbula.
Ela nunca foi mulher de gostar de competição. Também nunca
foi uma mulher para quem as pessoas dizem não. O negócio é
diferente comigo. Eu é quem mando. Se pensou que estava me
usando, não poderia estar mais errada.
– Ela é bonita – afirma.
– Eu sei – respondo e fúria brilha em seus olhos.
– Mas, posso dizer que você ficará entediado rapidamente
também. Ligue-me quando quiser foder uma mulher de verdade e
que sabe como agradá-lo na cama.
Ela se afasta, e eu deixo.
Meu olhar volta para a princesa me observando da janela de seu
quarto. Meu pau está duro, pronto para fodê-la enquanto penso no
que ela é.
Uma mulher que é minha. Uma mulher de quem duvido que vou
me cansar porque estarei muito ocupado ensinando-a a me agradar.
Ela é uma garota que mal posso esperar para transformar em
uma mulher.
Eu olho para ela agora e percebo que quero mais do que sua
obediência.
A faísca de atração que ondula entre nós me diz que ela quer
mais também.
Isso vai ser muito interessante.
Viro de costas para ela e continuo caminhando pela praia,
planejando o que farei mais tarde.
Chapter
Dez
S
EMÍLIA
erá que minha vida vai ser assim agora?
Ele terá suas mulheres enquanto eu ficarei presa do lado de
fora, olhando. Ou melhor, dentro deste quarto. Ficarei presa vendo o
meu marido com outra mulher passando as mãos nele.
Continuo vendo Massimo caminhar pela praia. Eu o observo até
que ele desaparece da minha vista, então eu pisco para segurar as
lágrimas.
Isso não é ciúme. Tudo bem, talvez seja. Mas, não no sentido
convencional do termo. O que está me irritando é ser forçada a me
sentir assim porque estou nessa situação.
Eu não me sentiria assim se houvesse alguma parte de todo
esse fiasco que fosse normal. Porque, se eu tivesse outra
alternativa, não escolheria ficar com um homem que me trai.
A maneira como ela o tocou, embora breve, mostrou claramente
que eles já foram íntimos. Ela parece ser o tipo dele, o tipo de
mulher que sabe o que fazer na cama. Não uma virgem como eu.
Embora eles estivessem longe, notei o jeito que ele estava perto
dela também. Ela é loira e bonita, tem um corpo invejável.
Definitivamente, ela é seu tipo. Com certeza, o tipo de mulher que
ele não trataria do jeito que me trata.
Então, talvez seja isso. Nós nos casaremos, mas ele continuará
com ela e talvez outras mais como ela. Eu não deveria sentir
ciúmes. Na verdade, fui ingênua em esperar casar com alguém que
me amasse.
Eu não posso acreditar no jeito que ele me tratou mais cedo. Ele
me espancou e arrancou minhas roupas. Depois, disse que não
queria meu amor. Mas também que estupidez da minha parte dizer
uma coisa dessas quando ele tinha já marcado encontro com uma
mulher que parecia uma Barbie.
Eu me afasto da janela e enxugo uma lágrima com a palma da
minha mão. Eu quase tropeço na porra do lençol em que tive que
me enrolar. Caminhando até a cama, sento-me na beirada, olhando
ao redor do quarto. Vai ser mais um dia de absolutamente nada.
Mais um dia de merda.
A única diferença entre ontem e hoje é que tenho mais merda na
cabeça.
A mulher na praia com Massimo me irritou, mas o que eu tenho
pensado desde que ele foi embora foi no que ele disse sobre papai.
Massimo falou como se conhecesse meu pai muito bem. Falou com
conhecimento de causa.
Quero saber o que papai fez com ele. Para eles. Os D'Agostinos.
Naquela primeira noite na sala de estar, estavam Massimo e seu
pai. Seu pai não estaria lá se não tivesse algum desejo de vingança
contra meu pai também.
Então, o que foi que ele aprontou?
O que aconteceu?
Quando isso aconteceu?
Massimo chamou meu pai de mentiroso e ladrão. Sobre o que
ele mentiu? O que ele roubou?
E será que papai está falido? Deve estar se tinha uma dívida que
só poderia ser paga trocando-a por mim? Ele tem que estar. Eu sei
que essa coisa toda comigo nunca teria acontecido se ele não
estivesse quebrado. Seu comportamento ao me vender foi o de um
homem desesperado.
Ele sempre fez tudo que podia para me manter fora dos
negócios, então não sei muito de nada. Sei apenas o necessário e
só referente à minha segurança. Também sei o que Jacob me conta.
Mas, isso é tudo.
Ao meu entender, papai deveria ser um multibilionário. Devo
estar enganada e vivendo no escuro. Afinal, tem também o que
Massimo disse sobre minha vida.
Ele disse que minha vida não teria saído do jeito que eu
imaginava. Que eu era a garantia do meu pai. Eu não acredito nisso.
Essa parte não faz sentido para mim porque papai sempre foi tão
protetor comigo. Ele me ama. Você só protege alguém, do jeito que
ele sempre me protegeu, se você os ama.
Ele sempre ficava irritado com caras que eu poderia estar
interessada em namorar. E é por isso que nunca fui beijada. Merda,
minha vida era praticamente igual a viver em um convento. Sem as
freiras. Eu tinha Jacob, mas sempre havia um fluxo constante de
pessoas me observando para ter certeza de que estava segura.
Massimo devia estar mentindo. De jeito nenhum eu vou acreditar
em um monstro ao invés de acreditar nos fatos, na pessoa que sei
que meu pai é. Ele só falou todas aquelas merdas para me irritar.
Se foi tudo besteira, então por que sinto no fundo que há algum
traço de verdade nisso?
O buraco da fechadura chacoalha e eu fico tensa. Como um cão
treinado por Pavlov, meu corpo está condicionado a ficar ansioso
quando ouço esse som.
A porta se abre e relaxo quando Priscilla entra com uma bandeja
de comida. Antes que ela possa dizer bom dia, meu estômago ronca
alto, fazendo-a sorrir.
Eu não estou surpresa ao ouvir meu estômago reclamando. Não
comi nada desde aquela pizza e o milk shake de chocolate que
tomei com Jacob. Isso foi há dois dias. Tomei goles de água e só.
Estou com tanta fome agora que poderia comer um boi.
Priscilla sorri mais quando eu ofereço a ela um sorriso gentil.
– Bom dia, signorina – ela diz.
– Bom dia – respondo.
Ela olha para mim, notando que estou embrulhada no lençol. Eu
me pergunto o que ela deve pensar. Se eu fosse ela, provavelmente
assumiria corretamente que estou nua por baixo do pano. Talvez
pense que passei a noite com Massimo.
– Ontem, dei muito mole para você. Não vou fazer isso hoje – ela
afirma, e seu sotaque italiano se torna mais pronunciado. – Você
precisa comer alguma coisa.
– Tudo bem, eu vou.
Priscilla coloca a bandeja de comida na mesinha ao lado da
cômoda. Eu vejo que ela preparou algumas guloseimas, como ela
fez antes, e adicionou uma pilha de cookies de chocolate.
– Espero que coma mesmo. Não foi muito esperto da sua parte
parar de comer. Isso só piora as coisas – ressalta. — Achei que
gostaria de algo com açúcar. Minha especialidade aqui são os
doces. Gosta de folheados? Não conheço ninguém que não goste.
Ela está tentando ser amigável e me fazer sentir confortável,
então decido que não serei a filha da puta que fui ontem. Na
verdade, preciso de alguém com quem conversar. A pior coisa que
posso fazer na minha situação é criar inimigos dentre os
funcionários da casa.
– Eu gosto de doces – respondo. – Esses parecem ótimos.
Obrigada por fazê-los para mim.
Ela parece satisfeita e aliviada com a minha resposta.
– De nada. Acho que vai gostar dos macaroons. Na verdade,são
uma receita antiga da Sra. D'Agostino, a mãe de Massimo. Ela
adorava adicionar canela.
A mãe dele? Como será que ela é?
– Quando posso conhecê-la? – pergunto.
Melhor fazer perguntas assim a alguém como Priscilla, porque
falar com Massimo é como falar com uma parede.
O olhar de tristeza no rosto de Priscilla sugere que fiz uma
pergunta que não deveria.
– Desculpe, querida. Você não vai conhecê-la porque ela morreu
há muitos anos. Mas, mantemos seu espírito vivo em nossas
memórias e em todas as coisas que ela amava.
Eu pressiono meus lábios numa linha fina enquanto uma
pontada de culpa machuca meu peito.
– Sinto muito. Não sabia. Não sei muito sobre a família
D'Agostino – confesso.
– Tudo bem. Eu trabalho para a família há muito tempo. Conheci
Massimo e seus irmãos quando eram pequenos.
– Ele tem irmãos?
– Três. Tenho certeza de que os conhecerá muito em breve.
Ela fala deles com carinho. Com muito carinho. Se está com a
família há tanto tempo, deve saber detalhes do que eles fazem. Ao
olhar para ela, tento imaginar o que Massimo teria contado a ela em
relação a mim.
– Você sabe por que estou aqui? – pergunto em voz baixa.
Ela meneia a cabeça, inquieta.
– Sim, sei. As notícias já correram sobre seu casamento com
Massimo em algumas semanas. Mas, fui informada sobre isso no
dia de sua chegada.
Minha respiração fica presa quando penso no tipo de notícia que
saiu para todos. Minha família. E Jacob. Ele não teve chance de me
dizer o que sentia por mim e agora descobriu que vou me casar. O
que ele deve pensar de mim?
Ela caminha até mim e descansa a mão no meu ombro.
– Coma. Apenas coma e pense no resto depois. Volto daqui a
pouco com alguns shampoos e acessórios para você usar no
cabelo. Vai ajudá-la a se acostumar com o lugar.
Eu aceno com a cabeça em agradecimento. Não pergunto mais
nada porque sei que não adianta.
Não adianta perguntar se posso ir lá fora. Não adianta perguntar
quando minhas coisas vão chegar aqui. Não adianta perguntar se
posso ligar para Jacob.
Quando ela sai, vou até a comida e, assim que dou uma mordida
em um biscoito, meu apetite surge de uma vez, e me vejo
devorando tudo. Um biscoito após o outro desaparece garganta
abaixo. E todos os doces também.
A bandeja devia ter comida suficiente para três pessoas, mas
devorei tudo. Quando termino, só há migalhas. Estou tão cheia que
tenho que me deitar.
Priscilla volta um pouco mais tarde com uma cesta de esmaltes,
xampus e todos os tipos de coisas que eu compraria na Bath and
Body Works.
Passo o dia me distraindo com o conteúdo da cesta. Lavo meu
cabelo e passo horas na banheira, tratando as marcas deixadas
pela mão implacável de Massimo.
Quando a noite cai, deito-me na cama e me pego pensando nele
assim que minha cabeça encosta no travesseiro. Eu me pergunto
onde ele pode estar. Deve ser tarde da noite agora porque os dias
são mais longos durante os meses de verão. Em L.A., podemos ter
luz do dia até as oito ou nove da noite.
Será que está com aquela mulher?
É assim que vou passar minhas noites? Sozinha, imaginando em
qual cama ele está dormindo?
Talvez ele esteja aqui na casa, em seu quarto. Não sei. Nem sei
onde é o quarto dele.
E se ela estiver lá com ele?
Será que ele vai convidá-la para o casamento? Eu vi o jeito que
ela olhou para mim. Mesmo estando longe, sem poder ver seu rosto
direito, vi o suficiente para notar a carranca e a expressão vingativa
que escureceu seu lindo rosto. Ela viu que eu estava observando os
dois antes mesmo de Massimo virar. Quando ela me viu foi que
começou a acariciá-lo, como se estivesse marcando seu território.
Cadela. Mal sabe ela que eu não me importo nem um pouco com
os dois.
As horas passam e não consigo dormir. Eu continuo pensando
que ele está com ela. Ou com outra mulher. Por que não estaria?
Ele é lindo. O tipo de homem que derrete você com sua beleza
cativante e um rosto que faria os estúdios de Hollywood pagarem
milhões.
Eu não conheço nenhuma mulher que resistiria a ele, ou que não
reagiria a ele do jeito que eu reajo. Todas as garotas que conheço
na UCLA morreriam se um homem assim falasse com elas. E elas
ficariam doidas de inveja de mim se pudessem me ver agora.
Minha mente volta àquela primeira noite que passei aqui. Lembro
como ele me tocou. Minha pele aquece com a memória e minha
boceta aperta com o desejo.
Sou uma idiota por pensar nessa merda, uma besta por não ser
forte o suficiente para resistir. Apesar de ser lindo como é, o homem
é um monstro. Não deveria sentir nada por ele.
Eu deveria era estar pensando em como fugir deste lugar.
A porta se abre e dou um pulo, assustada. Estava tão perdida
em pensamentos que nem ouvi a chave girar na fechadura.
Eu havia reduzido a luz para um brilho âmbar que agora o banha
quando ele entra no quarto e tranca a porta atrás dele.
Seus olhos encontram os meus, e eu me endireito na cama.
Ele está sem camisa novamente, assim como estava hoje de
manhã. Tem uma toalha preta pendurada no pescoço e seu cabelo
parece úmido. Úmido como se tivesse acabado de tomar banho, ou
como se estivesse malhando.
Meu olhar desce para sua cueca boxer e aquelas longas pernas
atléticas, tão musculosas e, como seu abdômen, cobertas de
tatuagens. Percebo que as únicas partes de seu corpo que eu vi que
não estão tatuadas são seu rosto e pescoço. Ele também não tem
nada em seus antebraços. É o suficiente para dar a ilusão de que
ele não tem nenhuma tatuagem quando está vestindo roupa social.
Será que fez isso de propósito?
Minhas preocupações anteriores sobre ele estar com aquela
mulher são substituídas pelo medo gelado que toma conta de mim.
O que ele quer agora? Será que veio para continuar me
torturando? Jesus, estou ficando louca aqui sem saber o que vai
acontecer a seguir. Estou no limite.
– O que você quer? – pergunto, sem delicadeza.
Ele inclina a cabeça para o lado e me olha com aqueles olhos
penetrantes.
– É errado um homem querer passar a noite com sua noiva?
Minha respiração falha, e o calor se espalha pelo meu corpo.
Esta noite? Pode ser que resolve fazer sexo esta noite. Pode ser
agora que ele veio me reivindicar.
E não estou preparada.
Ele coloca a toalha na cadeira ao lado da cama antes de se
aproximar. Seu cheiro, uma mistura de almíscar e sabonete, faz
cócegas no meu nariz, confirmando que ele acabou de tomar banho.
– Gostei de ver que hoje você deitou na cama – afirma ele,
pressionando um joelho no colchão, que afunda sob seu peso.
– O que você quer? – pergunto novamente.
– Relaxe, não vou te foder – responde. Sinto-me tola por parecer
visivelmente aliviada com suas palavras. – Mas, vou dormir aqui
esta noite. Não nos vemos o suficiente durante o dia.
— Achei que você estaria ocupado com outra pessoa.
Quero perguntar sobre aquela mulher, o que ela é dele, mas
desisto.
O canto de sua boca se levanta e um sorriso desliza por seus
lábios.
– Não me espione, Emelia. Você pode nem sempre gostar do
que vai ver.
Meu sangue ferve.
– Não estava espionando. Só estava olhando a paisagem pela
janela quando você apareceu. Com ela.
– Acho que é verdade.
– Ela vem aqui sempre?
Ele sorri, revelando dentes brancos perfeitos.
– Cuidado, principessa. Vou começar a achar que está com
ciúmes.
– Não tenho nenhum motivo para ter ciúmes – respondo, rápido
demais. – Você pode ficar com quem quiser.
– Sério? E você ficaria bem com isso? – Ele estreita os olhos
enquanto sobe de vez na cama, me estudando.
– Eu não me importo com o que você faz. Nosso relacionamento
é uma transação de negócios, e eu faço parte dos ativos, certo?
Ficamos nos encarando por alguns segundos. Então, agarra o
lençol. Quando tenta puxá-lo para baixo, levanto o braço para bater
em suas mãos, mas ele agarra meus punhos.
– Não me toque – grito, estremecendo.
Ele me aperta mais e abaixa a cabeça para pressionar seus
lábios contra meu ouvido.
– Posso tocar em você sempre que quiser, principessa. Você
pertence a mim. Você mesma disse isso. Veio junto com os ativos.
Lembra que assinou o contrato?
Enfurecida, tento puxar minha mão, mas ele apenassegura com
mais força.
– Eu fui forçada. Isso não é a mesma coisa que eu me entregar a
você.
– Interessante escolha de palavras – levantando minha mão, dá
um beijo em meus dedos.
– São apenas palavras – retruco.
– Talvez sim, mas acho que está curiosa.
Eu estremeço novamente e levanto minhas sobrancelhas.
— Sobre o que estou curiosa, Massimo?
Ele passa o dedo sobre as costas da minha mão.
– Para ver como seria se entregar a mim, como seria se não
tivesse roubado você do seu pai. Curiosa para ver como seria estar
comigo, para ceder ao desejo.
– Não – murmuro, engolindo em seco por causa do nó que se
formou na minha garganta enquanto o desejo do qual ele fala
acelera meu pulso.
– Tire o lençol – ele ordena, seu tom neutro.
– Por quê?
– Quero ver você – seu olhar cai para meus seios e todo o meu
corpo cora com a chama selvagem de desejo que dança em seus
olhos.
– Você já me viu.
– Quero ver você de novo.
– E se eu não quiser que você me veja? – desafio.
– Isso não é você quem decide. Você não segue ordens muito
bem, segue, principessa?
– Você é sempre tão besta assim? – rebato.
– Sim.
– Você gosta de me humilhar, não é? – digo em voz baixa.
– Querida, quando um homem pede para você se despir, não é
porque ele quer te humilhar. É porque ele gosta de olhar para o seu
corpo – os cantos de seus lábios se levantam e ele me dá um
sorriso desarmante. Seus olhos nublam, escurecendo por causa
daquela névoa sexual tão selvagem, e me prendem. Sinto uma
agitação, a excitação, girando bem no fundo do meu sexo.
Ele se aproxima, pairando sobre mim com aquele sorriso e
aquele olhar, me prendendo ainda mais.
– Emelia. Quando um homem pede para você se despir, é
porque ele quer você, principessa.
A coisa mais estranha acontece comigo ao ouvir essas palavras.
Eu esqueço. Só por um momento, esqueço tudo. Vergonha e desejo
se misturam, queimando minha garganta, e a força bruta da atração
me mantém à mercê de sua vontade.
Eu baixo minha guarda. Ele percebe o momento em que faço
isso. Desta vez, quando o diabo puxa o lençol, eu permito.
Ele o tira de cima de mim, expondo minha nudez para ele mais
uma vez. Meus mamilos endurecem sob seu olhar faminto e meu
corpo aquece quando ele passa o dedo da ponta do meu queixo até
o vale entre meus seios.
A vontade de dizer a ele para ir embora desaparece, feito
fumaça no ar, quando ele se aproxima.
– Deite-se e abra as pernas para mim – ordena. O suave tom de
barítono de sua voz mistura-se com o calor sexual, soando rouca de
desejo.
Minha respiração acelera. Eu engulo em seco. A pergunta entra
em minha mente novamente através da neblina. O que ele vai fazer
comigo? A pressão crescente do vazio dentro do meu corpo me
apavora porque não sei se conseguirei lutar se ele decidir me
reivindicar.
– O que você vai fazer? – sussurro.
– Brincar com você – diz ele.
– Brincar?
– Sim. Esta noite, nós brincamos. Então, deite-se e desfrute do
que vou fazer.
Meu coração dispara. Ele está me observando daquele jeito
predatório novamente. Olhos focados em cada movimento meu,
cada ação minha. Ele sorri quando obedeço e me deito sobre a pilha
de travesseiros com as pernas abertas para que ele possa explorar
meu corpo.
Ele se posiciona sobre mim, me prendendo numa jaula de
energia sexual incontrolável. Sua respiração faz cócegas e seu
cheiro inunda meu nariz enquanto ele permanece ali diante de mim,
pairando sobre mim, olhando para mim.
– Pare de lutar contra isso – diz ele, como se pudesse ler minha
mente. Quando seus dedos flutuam sobre os lábios da minha
boceta, eu me encolho e tento me afastar, mas ele me puxa de
volta. – Eu não vou fazer nada com você que você não queira.
Eu tremo sob o peso de seu olhar. Eu não quero que ele seja
capaz de ver através de mim. Mas, ele consegue. Aquele sorriso em
seu rosto diz que ele pode.
Ele começa roçando seu nariz no meu. Depois, pressiona seus
lábios na minha bochecha e beija minha pele. Ele evita meus lábios,
mas é como se eu pudesse senti-lo lá também. Seus lábios trilham
um caminho quente até meu pescoço, devagar, sempre tão devagar.
O desejo aquece minhas entranhas.
Um beijo segue outro, e outro, até que meu corpo ganha vida
com o jeito com que ele distribui o calor por toda a minha pele.
Beijando meu pescoço, ele desce até meus enormes seios e beija
meus mamilos, lambendo as pontas e provocando com a ponta da
sua língua.
Agarro o lençol quando ele chupa meu mamilo esquerdo. Minha
boceta aperta com o choque de prazer. Ele para de chupar, e aquele
sorriso diabólico da outra noite retorna ao seu rosto, me assustando.
– Já deixou algum homem chupar seus seios, princesa? – o
diabo pergunta, prendendo meu olhar.
– Não.
– Gosta disso? – sussurra no meu ouvido.
Constrangimento me faz desviar o olhar, mas ele pega meu rosto
e guia meu olhar de volta para o dele.
– Responda. Não tenha medo. Diga-me se gostou – seu aperto
sobre minha mandíbula aumenta.
– Sim – eu me ouço dizendo.
Eu não posso acreditar que confessei isso.
Satisfação intensa ilumina seus olhos fazendo com que pareçam
lava derretida. Ele abaixa a cabeça para chupar novamente.
Sugando forte enquanto sua mão encontra meu seio direito,
capturando o mamilo entre o polegar e o indicador.
Emoções conflitantes torturam minha alma quando começo a
gostar das sensações que ele provoca. Sua boca chupando meu
seio é incrível. Não tenho palavras para descrever o que sinto
quando seus dedos me acariciam. Não consigo controlar o gemido
irracional que escapa dos meus lábios, não mais do que consigo
controlar a forma como arqueio minhas costas quando ele chupa
com mais força. Ele se move de um seio para o outro, chupando e
girando sua língua ao redor do meu mamilo.
O prazer que corre em minhas veias se torna demais para
aguentar. Eu solto um gemido alto quando um orgasmo arrebatador
me leva ao limite. Eu me deixo levar pela sedução do prazer,
enquanto Massimo se aproveita de meu estado de fraqueza e
excitação para descer até minha boceta e lamber a prova do meu
prazer.
Ele abre mais minhas pernas, enterra o rosto entre minhas coxas
e lambe. Ele bebe minha excitação enquanto passa as mãos pela
minha bunda, que ainda arde, e me segura firme no lugar para
poder chupar a protuberância sensível e inchada do meu clitóris.
Meu corpo assume o controle das minhas emoções, jogando o
raciocínio lógico pela janela. Não sei como, minhas mãos se movem
e seguro sua cabeça, encorajando-o a continuar. O que ele faz com
prazer. Mas, não antes de olhar para mim e sorrir diante da minha
derrota.
Eu não consegui resistir a ele antes. E muito menos agora. Ele
me tem exatamente onde quer: implorando para que continue
saboreando meu corpo.
Quando começo a gemer novamente, ele estende a mão pela
minha fronte até agarrar meus seios, massageando-os enquanto me
come, me levando ao auge do prazer novamente.
Um êxtase animal dispara através de mim, fazendo cada parte
do meu corpo ferver e outro orgasmo explode. Gozo forte, mais forte
do que antes, tão forte que perco o fôlego.
Ele bebe meu prazer de novo, lambendo tudo até não sobrar
nada e eu ficar esgotada.
Tão esgotada e ofegante que mal consigo focar quando ele se
levanta e lambe os lábios, levando os últimos vestígios da minha
excitação para sua boca.
Minha mão cai na cama, mole, mas ele a segura. Ele ajoelha no
colchão para que eu possa ver a protuberância enorme de seu pau
pressionando contra sua cueca. Um choque se espalha por mim
quando ele leva minha mão até a saliência e prende meus dedos
sobre seu membro duro. Ele esfrega minha mão para cima e para
baixo em seu pau e segurando-a com força para que eu não solte.
– Isso é o que você faz comigo, principessa – confessa e me
sinto pegar fogo de novo. Tanto que quase não escuto sua pergunta.
– Quer saber um segredo?
Um segredo? Há tantos flutuando ao redor. Até demais.
Conhecer um diminuiria a angústia de não saber nada.
– Sim.
– Estou curioso sobre você também – diz ele, com um sorriso
dançando em seus lábios. – Estou curioso desde a noite em que te
vi pela primeira vez. Você, Emelia Balesteri,a filha do meu inimigo.
Enquanto o observo e absorvo suas palavras, sei que não está
falando sobre sábado aqui na casa dele. Soa como algo mais
antigo, como se tivesse acontecido há muito tempo. Mas, se tivesse
visto esse homem lindo antes, com certeza lembraria. Do que ele
está falando, então?
– Que noite foi isso? – pergunto.
– A noite do baile.
– O baile de caridade?
Será possível que ele estava lá e não o vi?
– Acho que pode chamar aquilo assim. É melhor você chamar
assim, principessa. A verdade iria te machucar demais. Não quero
te machucar desse jeito esta noite – responde, afastando-se de
mim.
A pele das minhas bochechas pega fogo quando percebo que
ainda estou segurando o pau dele. Ignorando meu próprio
constrangimento, olho para ele.
O que ele quis dizer? Por que posso chamar o baile de caridade
assim? Achei que o baile beneficente fosse exatamente isso. O que
mais poderia ser?
Estava tão nervosa, mas muito feliz, naquela noite por finalmente
me juntar ao papai em um de seus eventos. Foi a primeira vez que
ele me levou a algo assim. Aquele baile foi alguns meses antes de
eu completar dezenove anos. Eu me senti tão crescida, como se
fosse uma representante do meu pai e de sua empresa. Ele até me
apresentou a um dos investidores. Foi uma boa noite para mim.
– Se não era um evento de caridade, o que era? – me apoio em
meus cotovelos.
– Não. Não, principessa – diz ele, deitado ao meu lado. Estende
a mão e me puxa para mais perto, cobrindo nossos corpos com o
lençol. – Gosto de você assim. Inocente e imaculada. Sem saber de
nada.
Pensamentos que me rondaram mais cedo retornam enquanto
nos encaramos. Mais uma vez, sei que ele está se referindo ao
papai. Ele continua dizendo coisas para me fazer questionar o que
eu sei ser a verdade. Fazendo-me questionar papai.
Fazendo-me questioná-lo, e a mim mesma, e o que acabamos
de fazer.
Tudo isso junto me deixa maluca.
Se eu ficar aqui, é exatamente isso que vai acontecer comigo.
Vou perder a cabeça. E eu vou me perder também.
Chapter
Onze
A
MASSIMO
caminho da casa de Andreas, voo pela estrada em minha
motocicleta, ultrapassando de longe o limite de velocidade.
Apesar de faltar apenas cerca de dez minutos para chegar à casa
dele, continuo acelerando. Preciso disso, da sensação de perigo
correndo por minhas veias para limpar minha mente.
Nas últimas semanas, andei optando pelo carro em vez da moto.
Sem nenhuma razão específica. Estava apenas curtindo o carro. Da
mesma forma que, hoje, senti vontade de pilotar minha Ninja X2.
Acho que precisava ouvir o rugido do motor dela, e o zumbido do
vento através do capacete, para tirar tudo da minha mente.
Já se passaram quatro dias. Exatamente quatro dias desde que
Emelia está sob meus cuidados. E parece que minha atração por
essa mulher cresce mais a cada dia que passa. Sei bem que não
devo dar informações demais a ela, especialmente coisas que ela
não precisa saber. Mas, parte de mim acha que as informações que
tenho são importantes porque quero que ela odeie o dela da mesma
forma que eu odeio. Quero que ela o veja pelo diabo que ele
realmente é.
Riccardo traiu meu pai. Papai controlava os negócios da nossa
família que eram basicamente só investimentos, assim como os do
Riccardo. Quando meu pai e Riccardo uniram forças, o filho da puta
montou um esquema de inflar e vender, ou seja, inflou o valor das
nossas ações e contratou vários laranjas para vender todas elas,
fazer o preço despencar e arruinar minha família.
Claro que Riccardo só fez isso depois que roubou todos os
clientes que meu pai havia conquistado ao longo dos anos. Isso
deixou o meu pai falido. Todo o seu dinheiro e bens foram
confiscados para pagar dívidas e, como alguns dos membros do
Sindicato e suas famílias eram clientes, foi fácil chutá-lo para longe
do grupo. A estória toda foi cuidadosamente elaborada para destruir.
Às vezes ainda sinto a pressão de sua arma contra minha
têmpora. Minha mente volta para o dia do funeral da minha mãe e
sou aquele garoto de doze anos de novo, sem poder fazer merda
alguma contra Riccardo para me defender. Odeio tanto aquele filho
da puta. Só a ideia de que Emelia pensa que ele é perfeito me deixa
doente.
Ao mesmo tempo, ela é culpada por associação. Afinal, é filha
dele. Isso é suficiente para destruir os dois, querer cortá-los pela
raiz como erva daninha. Acabar tanto com o império dele quanto
com sua preciosa filha.
Isso seria tão mais fácil se eu não a quisesse.
Em apenas quatro dias, veja em que estado ela me colocou.
Ontem à noite, quando mencionei o baile beneficente e vi a
confusão tomar conta de seu lindo rosto, senti pena dela. Lamentei
por ela não saber onde a meteram e fiquei com ainda mais nojo de
Riccardo por apresentá-la em um leilão como aquele. O Sindicato é
um bando formado por homens poderosos que têm um monte de
dinheiro. E quando você tem tanto dinheiro assim, ele traz certos
privilégios. Poderes sombrios e misteriosos aos quais pessoas
normais nunca teriam acesso, ou jamais conceberiam.
Aquela festa foi um exemplo disso. Foi organizada como um
evento para arrecadação de fundos, onde os membros do Sindicato
puderam de fato arrecadar dinheiro para as instituições de caridade
patrocinadas por suas empresas legitimas. Contudo, o evento serviu
para mascarar outras atividades nada lícitas. Coisas que as pessoas
classificam como sombrias e, por isso, chamam o grupo de
Sindicato Sombrio.
Dessas atividades, os leilões de virgens e jovens mulheres são
apenas alguns exemplos. Vestir sua filha de dezenove anos de preto
e levá-la a um evento desses quer dizer que você a está leiloando e
abre espaço para que os membros façam seus lances. Embora o
Sindicato ofereça as condições para essas tratativas mais sombrias,
ele não as monitora. Ou seja, Riccardo pode ter lidado com qualquer
um. Os tipos de homens que compram mulheres nesses leilões
nunca são bons. Um comentário como esse, vindo de um homem
com uma alma tão escura quanto a minha, deve ser suficiente para
se adivinhar os tipos de doentes fodidos com os quais Riccardo
deve ter lidado. Emelia não merecia, nem deveria, ter sido sujeita a
tomar parte disso. Ainda mais sem saber como estava sendo usada.
Acordei esta manhã com ela ainda pressionada contra mim. Nua
e perfeita. Meu pau ainda está duro só com a memória dessa
imagem. Meu coração ainda está aquecido por causa do jeito que
seus dedos vibraram sobre meu peito quando ela se enrolou contra
mim. Seu cabelo se esparramou pelo travesseiro, como se
tivéssemos passado a noite fazendo sexo selvagem.
Estava falando sério quando disse que também estava curioso
sobre ela. Compartilhei um segredo que não deveria ter contado a
ela.
Para que as coisas aconteçam como quero, não posso, em
hipótese alguma, demonstrar emoção. Toda essa merda de situação
é uma guerra entre nossas famílias que começou anos atrás. No
momento em que o pai dela pensou que poderia roubar o meu e
arruinar sua vida.
O problema é que fazer tudo isso não vai mudar o passado. Nem
um pouco. Não vai fazer merda nenhuma acontecer. Não vai trazer
minha mãe de volta. Eu sei, no fundo do meu coração, que a vida do
meu pai foi arruinada no momento em que ele soube que minha
mãe se matou.
Riccardo é o inimigo, e Emelia também, então não posso me
permitir sentir nada por ela.
Estaciono na garagem de Andreas e desço da moto. Estou
devendo essa visita há muito tempo. Já deveria ter feito isso antes.
As coisas não estão bem entre nós. Posso sentir isso, e não posso
permitir que essa merda continue assim se quiser ser o tipo de
chefe que pretendo ser.
Penduro meu capacete no guidão da moto e passo por seu
conversível, que está com a capota aberta. Dentro, sobre o assento,
noto um par de calcinhas.
Ele mora em um condomínio. Sua casa é a menor de todos nós
porque nunca para nela. Quando Andreas não está trabalhando,
está velejando. Compartilhamos ao menos uma coisa: nosso amor
por tudo que se relaciona à água.
Subo a escada até sua porta e percebo que está aberta. São
nove da manhã, porra. Porque caralho eleestá com o carro e a
porta abertos sem nenhum guarda-costas à vista? Andreas não
costuma ser tão desleixado assim.
Dadas as circunstâncias, confirmo que minha arma está no
coldre de trás. Subo até o quarto dele e me arrependo de abrir a
porta no momento em que o faço.
Em sua cama, duas mulheres nuas dormem profundamente
deitadas por cima das cobertas. Em pé, ao lado da cama, Andreas
está recebendo um boquete de uma loira nua.
– Porra! – ele estremece quando me vê.
Eu saio, fechando a porta.
Merda. Eu já estou em maus lençóis com ele. Porra! Sou mestre
em tornar uma situação pior do que era.
Caminho até a cozinha e paro na porta, notando várias garrafas
de vinho e outras bebidas. Algumas vazias, outras pela metade.
Ele chega minutos depois vestindo uma calça de ginástica e uma
de suas velhas camisetas da faculdade.
– Sinto muito – peço desculpas rapidamente.
– Não pega nada – responde ele, olhando para a bagunça na
cozinha. – O que está acontecendo?
– Vim só para ver se você estava bem.
– Estou ótimo, irmão – ele gargalha. – Como você pode ver,
estou vivendo minha melhor vida. Duas mulheres na minha cama e
outra chupando meu pau. O que poderia ser melhor que isso?
É como ver alguém que lutou a vida toda para ser o melhor em
tudo, de repente, deixar a peteca cair.
– Não é sua praia passar a noite com prostitutas.
– Você não tem um clube de strip? – Ele levanta uma
sobrancelha com ironia.
– Isso é diferente – mordo o interior do meu lábio para não dar
uma resposta atravessada.
– Acha mesmo? Diferente como? Massimo, qual é? Putas fazem
parte do pacote. Todos nós as temos. Você as tem em abundância.
E sei que essa merda de casamento não vai te mudar da noite para
o dia. Você não foi feito para isso para vida doméstica. Bom, tirando
esse assunto, tenho certeza de que havia um propósito para sua
visita, chefe – o canto de seus lábios se curva e seus olhos ficam
mais escuros.
– Andreas – começo, mas não sei o que devo dizer a ele.
Desculpe porque papai me escolheu em vez de você? Desculpe
por eu ter escolhido Tristan para fazer parte do Sindicato e não
escolhi você?
Ele deve estar puto para caralho com tudo isso, mas não sei
como remediar.
– O que está pegando, Massimo? Você sabe tão bem quanto eu
que não há nada a dizer. As coisas são o que são. Nem mais nem
menos. O pai escolheu quem ele queria para ser o líder. Você
escolheu quem você queria para apoiá-lo. Simples assim – diz ele,
dando de ombros.
– Você não concorda com isso. Você não está bem com essa
coisa toda – declaro, indo direto ao ponto.
– Irmão, eu tenho que estar bem com isso – responde, rindo.
– Quero você a bordo, Andreas.
Ele estende a mão e segura meu ombro.
– Você é meu irmão. Vou apoiá-lo em tudo o que fizer. Isso é
tudo que precisa saber. Não importa se pareço estar uma merda ou
se ajo como se fosse uma merda. Estou apenas lambendo minhas
feridas. Você faria o mesmo se fosse eu. E eu estaria no seu lugar,
indo até sua casa para resolver as coisas contigo e pegando você
no flagrante.
Ele libera seu aperto sobre mim.
– Só quero ter certeza de que você está bem.
– Estou bem. Acho que, às vezes, fico meio preso nas tradições.
O filho mais velho costuma ser o chefe. Mas, se Pa fosse
tradicional, talvez a pessoa certa nunca seria escolhida – ele me dá
um aceno curto de cabeça.
Não vou dizer nada contra meu pai. Ele é um homem justo. É
meu ídolo, porra. Não me importo se eu parecer um menino mimado
pensando assim por que é verdade. O homem colocou as cartas na
mesa e deu a seus quatro filhos a chance de brilhar. Isso é o que ele
fez. Ganhei a liderança de forma justa.
Só espero que não tenha me custado meu irmão mais velho.
– Eu preciso que você cuide dos negócios na D'Agostino – digo
a ele.
Acabamos não conversando sobre aquilo que eu tinha falado
com os outros na nossa reunião porque ele chegou atrasado.
Depois, saímos às ruas para investigar a morte de Pierbo. O
máximo que consegui dizer a ele foi que estava dividindo o negócio
em quatro partes. Isso foi tudo.
Andreas é como eu — não se importa com dinheiro, só com o
poder.
– Vou cuidar, pode confiar em mim. Estou orgulhoso de você,
garoto.
A luz volta a brilhar em seus olhos.
Fecho minha mão em um punho e bato no dele.
– Obrigado. Isso significa muito para mim.
Ele acena com a cabeça e me dá o primeiro sorriso verdadeiro
desde que Pa anunciou que eu assumiria.
– Ela ficaria orgulhosa também. Mamãe, quero dizer. Sei que ela
ficaria. Você é mais parecido com o pai do que eu. Agora, dê o fora
daqui – ele dá risada. – Preciso voltar para minhas mulheres.
Eu sorrio.
– Tudo bem. Até logo.
Ele inclina a cabeça e eu saio. Eu o entendo e entendo o
raciocínio dele. O único que deu tanto duro quanto eu por essa
posição foi ele. Eu me sentiria uma merda também se não tivesse
conseguido.
Chapter
Doze
Q
MASSIMO
uando voltei para casa do trabalho, duas coisas haviam chegado
para Emelia: o anel que eu havia encomendado e as coisas
dela.
As coisas foram trazidas por um dos lacaios do pai dela. Já o
joalheiro que contratei, em cima da hora, para comprar o anel dela,
estava me esperando na sala de estar.
Ele me mostra um anel lindo, realmente a cara dela. É o tipo de
anel que eu compraria se nosso casamento fosse para valer e ela
fosse minha boneca, minha garota.
Coloco o anel no bolso de trás, dispenso o joalheiro e vou até o
salão onde estão todas as coisas dela. Vou checar tudo
pessoalmente. Vai saber o que aquele velho filho da puta colocou no
meio? Para dizer a verdade, fiquei surpreso quando ele concordou
em enviar tudo.
São as coisas que ela arrumou para sua mudança para
Florença. Já estava tudo embalado. Então, não sei por que aquele
desgraçado demorou quatro dias para enviar já que solicitei no dia
seguinte à reunião.
Há mais de vinte malas grandes e cinco bolsas que ela deveria
carregar no voo, além de quatro caixas grandes que deveriam ser
enviadas por uma transportadora.
Coisa típica de uma princesa – viajar com um monte de
bagagem. Irônico que tenha feito as malas para se mudar para outro
país, mas acabou aqui comigo.
Levo pouco mais de uma hora para checar tudo. Primeiro, olhei
suas roupas. Depois, me perdi em sua arte. Ela empacotou todos os
seus materiais de arte e dez pinturas que, tenho que admitir, são de
tirar o fôlego. Ela é boa. Ela é muito boa mesmo. E está com a
razão quando chama a si mesma de artista.
Afinal, estava indo para a Accademia em Florença. Eu sei que
eles não aceitam qualquer João Ninguém lá. O candidato tem que
ser bom. E dinheiro não consegue comprar um lugar na escola
porque o pessoal da administração é muito rigoroso. A pessoa tem
que fazer por merecer seu lugar.
Ela pinta uma mistura de paisagem e fantasia sombria. Ma
preferia pintar paisagens e retratos. Ela adorava pintar pessoas e
fez muitos quadros da gente.
Quando vasculhei a vida de Emelia, a primeira coisa que me
chamou a atenção nela foi seu talento. Agora que o vejo ao vivo,
estou encantado.
Já passa das sete e o jantar logo será servido. Tenho planos de
mudar um pouco as coisas com Emelia. Agora que tenho o anel,
acho que está na hora. Olho para o elegante vestido preto que ela
usou no baile beneficente que agora repousa no braço do sofá e
aceno com a cabeça concordando comigo mesmo. Ela vai usar isso
esta noite. Só para mim.
Pego o vestido e algumas peças de lingerie. Depois, vou para o
meu quarto tomar banho e me trocar. Visto uma camisa preta de
manga comprida e calças pretas. Aparo minha barba apenas para
limpá-la. Assim que termino, vou até o quarto de Emelia com o
vestidinho e a sacola de roupas íntimas, sabendo que ela vai ficar
puta da vida por eu ter mexido nas coisas dela.
Quando entro no quarto, encontro-a sentada perto da janela
ainda enrolada naquele lençol.
Ela se endireita e me dá aquele olhar que muitas mulheres me
dão e com o qual me acostumei. Vindo dela, porém, o olhar
desperta meu interesse porque o fogo da fúria arde em seus olhos.
Adoro o fato de que ela me enfrenta. Ela acha que isso é ser
corajosa, mas tudo o quefaz é me excitar ainda mais.
– Planeja me deixar trancada aqui, nua, pelo resto da minha
vida? – ataca ela, retornando à sua antiga postura de desafio.
– Você quer ficar trancada nua aqui? Parece confortável sentada
aí. Além do que, talvez eu goste da ideia de ter uma mulher nua me
esperando em casa.
– Encontra uma diferente. A loira com quem você estava no
outro dia parecia bem ansiosa para te agradar – sibila.
Boa resposta. Sei que está com ciúmes de Gabriella. Não
precisaria estar, mas não vou contar isso para ela. Gosto do seu
ciúme. Isso a faz parecer mais bonita, e quando seus lábios formam
um beicinho, como agora, imagino sua boca virgem ao redor do meu
pau, me chupando até eu ver estrelas.
– Venha aqui – digo e ela fica tensa.
– Por quê?
– Porra, venha aqui agora, principessa. Se você me fizer catar
você, não vai gostar.
Pior que talvez a safada goste.
Talvez outra surra seja necessária. Espero que da próxima vez
que eu der umas palmadas nela seja por prazer, não para punir. Eu
penso em como ela se rendeu a mim na noite passada e minha
boca enche de água. Eu a quero de novo, se entregando,
explodindo de prazer. Mas, da próxima vez, quero meu pau dentro
dela.
Sei que ela gosta de mim. Gosta de mim, mas não sabe o que
fazer com a atração que vibra entre nós. Nem eu sei.
Ela se levanta do assento da janela e caminha até mim. Ela
cheira bem, como ontem. Sei que Priscilla trouxe algumas coisas
para ela e estou feliz que ela fez isso. A doçura do perfume acentua
sua fragrância natural.
Quando me alcança, estendo-lhe o vestido. Seus olhos se
arregalam quando percebe que é o dela.
– Meu vestido. Minhas coisas estão aqui? – Seu olhar agarra o
meu e engulo em seco.
– Sim, estão aqui – sussurro, me sentindo um idiota por tê-la
privado de suas coisas.
– Quando vou receber minhas coisas?
– Em breve – sorrio.
– Por quê? – Seus ombros caem. – Por que não posso tê-las
agora? Você sabe quanto isso soa estranho?
– Há algumas coisas que preciso que faça por mim – respondo.
Chegou a hora de estabelecer as regras.
– O que? O que mais preciso fazer além do que já fiz?
– Ah, tem muito mais ainda, principessa. Eu quero sua
obediência – deixo bem claro porque ainda não havia dito nada
desse tipo.
– Obediência? O que diabos pensa que eu sou?
– Que foda! É melhor você me entender e concordar comigo. Se
não fizer isso, ficará trancada aqui nua até o casamento. Se me
bater de novo, ou me atacar de qualquer maneira, vai descobrir o
que significa ser realmente uma prisioneira. Você me entende? –
pergunto, prendendo seu olhar.
– Entendo – murmura ela.
– A única maneira de sair desta propriedade é se eu disser que
pode. Quando te comprar algo, vai vestir. Quando disser para fazer
alguma coisa, você fará.
– Por que não comprou um cachorro? – Joga na minha cara. –
Eles são os melhores amigos do homem porque obedecem
cegamente.
Agarro seu rosto e a puxo para perto. Ela perde o fôlego.
– Essa sua boca atrevida é um problema. Tão linda que quero
beijá-la e tão gostosa que quero fodê-la. Você não deve retrucar.
Bebê, se quisesse uma porra de um cachorro, eu teria um.
Eu a solto e ela respira fundo para recuperar o fôlego. Mordendo
de volta um gemido, ela olha para mim, parecendo desapontada.
– Parece que você tem dupla personalidade, como se fosse duas
pessoas diferentes.
Eu sei o que ela quer dizer, mas tem que ser assim.
– Isto é o que você ganha por não me obedecer. Agora, coloque
o vestido, venha jantar comigo e conversaremos sobre quando
poderá pegar suas coisas.
– Jantar? – pergunta ela.
Eu só dou um sorriso como resposta.
– Você quer que eu jante com você? – ela insiste.
– Quero que você jante comigo.
– E quer que coloque o vestido que usei no baile? – ela observa
e me olha com curiosidade.
Eu mordo com força meus dentes de trás por ter sido pego, mas
sorrio por ela ser tão observadora.
– Quero – respondo. – O que posso dizer? Gostei de você
usando ele.
O vestido representa uma época em que eu não poderia tê-la.
Ela era intocável, assim como seu pai. Eu era aquele menino pobre
de novo, olhando para algo que nunca poderia ter. Eu admito isso.
Se as circunstâncias fossem diferentes, e ela não fosse quem é
e a porra do pai dela não fosse quem é, eu teria feito uma oferta por
ela. Teria dado um lance alto o suficiente para me assegurar de que
a teria.
— Por que não falou comigo no baile? – pergunta ela.
Sua pergunta me deixa completamente desconcertado.
– Não – com uma risada profunda, balanço minha cabeça para
enfatizar minha negativa.
– Está dizendo não para o quê exatamente? – estreita os olhos,
confusa.
– Não sou um homem que lutará por você, Emelia Balesteri. Seu
pai te manteve no escuro da ignorância. Mas, para mim, você é tão
ruim quanto ele. Isso faz de você um nada para mim. Não cometa o
erro de pensar que somos algo mais do que realmente somos –
sacudo o dedo indicador entre nós.
Seus olhos se enchem de lágrimas. Eu me sinto um filho da
puta, mas as coisas têm que ser assim.
– Tire o lençol e coloque o vestido – eu instruo, e pela primeira
vez, ela me ouve e não discute.
Ela deixa o lençol cair ao chão, revelando sua nudez para mim.
Meu pau endurece enquanto eu a olho de cima a baixo. Nunca vi
uma mulher mais perfeita. Tudo nela é perfeito. Tudo. Incluindo sua
alma. Não sei como Riccardo conseguiu gerar uma mulher assim.
Ela deve ter puxado à mãe.
Eu sorrio quando ela olha para mim. Suas bochechas coram.
Seus mamilos ficam duros, e o peso de seus seios salta quando ela
se abaixa para colocar a calcinha.
Ela coloca o sutiã e depois o vestido. Depois os sapatos. Seu
cabelo está preso em um rabo de cavalo. Eu quero ele solto, como
estava no baile.
– Solte o cabelo – eu digo.
Mais uma vez, ela faz o que mando e os cachos escuros e
brilhantes rolam por seus ombros. Ela coloca uma mecha atrás da
orelha e parece ser algo que ela faz por hábito.
Eu estendo minha mão para ela que a segura. Minha mão
engole a dela e ela parece pequena ao meu lado.
Saímos do quarto. Percebo que esta é a primeira vez que
caminhamos juntos pela casa. Manni a trouxe aqui sábado à noite, e
a única interação que tivemos foi no seu quarto.
Apesar do poder que tenho sobre ela, sua tristeza, e a maneira
como manchei o que quer que tenhamos compartilhado ontem à
noite, ela parece encantada com minha casa.
Ela olha para o design e a decoração. Deste lado da casa, tenho
uma varanda que dá para o térreo com o teto todo feito de vidro.
O piso é de mármore na casa toda, mas muda para pedra
quando saímos para o terraço.
Quando saímos para a noite, o ar frio levanta seu cabelo e
acaricia sua pele.
Uma longa mesa de jantar está posta junto à fonte. Tanto
Priscilla quanto Candace estão de prontidão, esperando para nos
servir.
O banquete sobre a mesa parece incrível. São todos os meus
pratos favoritos. Espero que Emelia não me dê nenhum
aborrecimento esta noite.
Priscilla sorri quando nos aproximamos e Emelia responde com
um sorriso também. É a primeira vez que a vejo sorrir. É uma visão
bonita.
– Uau, olhe para você – Priscilla ri. – Está absolutamente
deslumbrante.
Candace concorda com a cabeça.
– Obrigada – responde Emelia.
Ambas parecem querer continuar a conversa com minha futura
esposa. O humor delas muda instantaneamente quando olham para
mim. Elas descobrem a expressão severa no meu rosto e percebem
que não devem continuar o bate-papo.
– Bem, se não precisar de mais nada, nós vamos embora –
Candace diz.
– Não há mais nada que eu precise. Pode ir – eu as dispenso e
elas saem.
Puxo uma cadeira para Emelia. Ela a aceita sem olhar para mim.
– Obrigada – murmura, sua voz quase inaudível.
Sento-me à cabeceira da mesa em frente a ela. É muito longe,
mas funciona. Quero olhá-la bem nos olhos quando falar com ela e
contar o que vai acontecer. Depois, lhe darei o anel.
Ela examina os arredores e olha para o mar. À luz da lua, parece
uma de suas pinturas. Eu me pergunto o que ela vê quando olha
para ele. Ma costumava dizer que um verdadeiro artista vê o mundo
com outros olhos.
– O que foi?– pergunto, assustando-a.
Ela volta seu foco para mim e balança a cabeça.
– Nada. Não é nada.
– Tem certeza? Tive a impressão que você viu alguma coisa.
– Eu vi, só não quero compartilhar com você – responde e se
endireita em sua cadeira.
– Coma.
Ela se serve de comida. Não é muito, mas pelo menos está
comendo.
Quando termina de se servir, larga o garfo e olha para mim. Seus
lábios estão entreabertos e ela está pronta para me fazer uma
pergunta que sei que não vou querer responder.
— O que meu pai fez para você?
Eu tinha razão. Não vou responder essa pergunta.
– Isso é assunto para outra hora.
– Por quê? Você não acha que eu deveria saber por que estou
aqui? Acho que mereço saber por que minha vida foi roubada de
mim e por que estou passando por isso. Você sabe muitas coisas
sobre mim. Sabe quem eu sou, quem são meus amigos. Cacete,
você sabia que eu estava indo para a Itália no domingo passado e
me impediu de ir. Trabalhei tanto para entrar na Accademia. Dei
duro para conseguir aquela vaga. E quando eles me aceitaram foi a
melhor coisa que já me aconteceu. Você tirou tudo isso de mim e
quero saber por quê.
Enquanto as palavras caem de seus lábios, me faço a mesma
pergunta, não pela primeira vez. Quem sou e o que me tornei? Que
tipo de homem me tornei para fazer isso com uma jovem inocente?
Ao olhar para ela e contemplar sua beleza, lembro-me da missão
e do plano. Sua beleza é uma parte fundamental das propriedades
de Riccardo Balesteri. A bela mulher diante de mim é realmente um
ativo precioso.
– O quê ele fez para você? – pergunta novamente, sua voz
exigente.
– Ele tirou tudo de mim, certificou-se de que minha família não
teria nada – respondo, falando palavras que nunca compartilhei com
ninguém.
Quem nos conhece já tem uma boa ideia do que aconteceu,
mesmo que não conheça os detalhes sórdidos.
– E como isso é minha culpa? Por que tenho que sofrer pelo que
ele fez?
– É parte da guerra. Às vezes, coisas acontecem e os bons
sofrem pelos maus.
– Isso é uma grande bobagem. Como se atreve a dizer para mim
que perdeu tudo? Olhe para este lugar. Você tem tanto dinheiro. E
tomou tanta coisa. Agora, me tomou para foder com meu pai. Como
pode ser tão perverso? Já tem muito dinheiro.
– Dinheiro não é tudo, principessa. Não pode trazer os mortos de
volta –respondo e ela engole suas palavras. – Basta. Não vamos
mais falar sobre isso.
Não quero, não com ela. Nem com ninguém.
Eu me levanto, caminho até ela e tiro do bolso a caixa com o
anel de noivado. Ela estremece, mas percebo o jeito que seus olhos
brilham de surpresa quando abro a caixa e ela vê o anel.
É uma beleza. Nem mesmo ela consegue resistir.
– Dê-me sua mão – digo e suas feições endurecem. – Emelia,
não me faça pedir de novo.
Ela estende a mão. Coloco o anel em seu dedo, sentindo o
tremor em sua pele macia.
Ela olha para o anel, fecha os olhos com força e, quando os
abre, lágrimas escorrem pelo seu rosto.
– Eu não entendo por que você compra algo tão lindo para
alguém que acha que não vale nada – afirma ela. Cerro os dentes,
afastando a emoção que ameaça quebrar a muralha que criei ao
redor do meu coração. – Posso voltar para o meu quarto, por favor?
– Você não comeu nada.
– Eu não estou com fome – ela suspira. – Posso ir?
– Pode.
Ela se levanta, pronta para fugir, mas agarro seu pulso e a
seguro no lugar.
– Você vai escolher seu vestido amanhã. A costureira estará aqui
ao meio-dia. Esteja pronta quando ela chegar.
Eu a solto. Ela não responde, apenas se afasta e eu a sigo com
o olhar.
Eu fui firme com ela esta noite de propósito. Agora, me sinto
como um filho da puta implacável e sem coração. Exatamente o
cara que treinei duro para me tornar. Então, deveria estar realizado.
Eu consegui ser o que sempre quis. Deveria estar orgulhoso de mim
mesmo.
Mas, não sinto nada disso porque gosto dela também.
Chapter
Treze
T
MASSIMO
ristan entra no meu escritório com uma cara fechada.
Ele enviou uma mensagem há uma hora solicitando que nos
encontrássemos o mais rápido possível. Tinha uma reunião com
alguns dos nossos principais investidores, mas remarquei porque
sei que quando Tristan pede algo desse jeito, é sério.
Sem perder tempo com gentilezas, ele caminha até a minha
mesa. De dentro de sua jaqueta preta de motoqueiro, ele tira um
envelope branco e o coloca diante de mim.
– Você precisa ver isso– afirma com um aceno firme de cabeça.
Abro o envelope imediatamente e tiro uma foto. Minhas mãos
ficam tensas quando vejo quem está nela.
É um homem chamado Vlad Kuznetsov. Ele é um assassino
Bratva que pertence a um grupo chamado Círculo das Sombras.
Mais do que isso, ele deveria estar morto. Sei disso porque ajudei a
matá-lo. Ou assim pensei.
– Onde conseguiu isso?
Tristan puxa uma cadeira e se senta. Seu ar pálido não me
surpreende. Foi ele quem puxou o gatilho. Uma única bala no
coração que deveria ter matado o filho da puta que assassinou a
esposa de Tristan. Por que estou olhando para uma foto desse
homem? Uma foto que parece recente.
– Dominic encontrou – responde Tristan, passando a mão pela
barba.
A resposta é precisa porque Dominic consegue encontrar coisas
que ninguém imagina que está acontecendo. Como esta.
Tristan suspira e se endireita.
– Nossos caras encontraram as coisas de Pierbo em uma lixeira
perto das docas. Algumas estavam queimadas, outras não. Entre
elas, tinha uma câmera. Estava esmagada e queimada até quase
virar carvão. Dominic conseguiu recuperar o chip. Massimo, veja a
data em que a foto foi tirada.
Eu olho de novo. Meus olhos se arregalam quando me toco de
que foi sábado. A data em que Pierbo supostamente se matou.
– Que foda – rosno, frustrado.
– Sim.
Vlad e seu bando de assassinos são inimigos conhecidos de
qualquer membro da máfia italiana ou mesmo da Bratva que não
fazem parte de seu círculo. Os membros da Bratva que se
relacionam com eles formam um grupo bem pequeno.
– Se ele está aqui, alguém o contratou – aponto.
– Não sei. Porra, Massimo. Isso me derrubou, cara. Achei que
tinha pego esse desgraçado. Eu pensei que tinha matado esse filho
da puta, mas aqui está ele. Eu já me sentia uma merda porque foi
ele quem matou minha Alyssa. Mas, nunca peguei o homem que
ordenou o assassinato dela.
Empatizo com sua dor enquanto ele fala. Embora cinco anos
tenham se passado, o assassinato de sua esposa não é o tipo de
dor que irá embora um dia. Não dá para esquecer. Especialmente,
porque a cabeça dela foi entregue a Tristan dentro de uma caixa.
Mortimer Viggo é o esquivo líder do Círculo das Sombras. Foi ele
quem mandou Vlad matar Alyssa. Nenhum de nós jamais o viu, e
ninguém sabe como encontrá-lo.
Tristan e Alyssa namoravam desde o colegial, mas ela virou
moeda para pagar uma dívida de seu pai com Mortimer quando o
canalha faliu. Mortimer ia entregá-la a Vlad. Quando ela e Tristan se
casaram, isso invalidou o acordo. Mortimer enviou Vlad atrás dela
para puni-la. O demônio esperou até a noite de núpcias.
Ele a sequestrou, matou e enviou sua cabeça em uma caixa
para Tristan, embrulhada para presente. Encontramos o corpo dela
em vários pedaços, espalhados por Los Angeles. Isso não é algo
que você supera.
– Tristan. Procuramos Mortimer em todos os lugares que
poderíamos.
– Eu sei.
Procuramos nos quatro cantos do globo por dois anos e não
encontramos nada. Agora, Vlad está de volta dos mortos, aqui em
Los Angeles. Isso só aconteceria se Mortimer ordenasse.
– Porra, Massimo – Ele fecha os punhos, suas narinas tremem. –
Eu não posso te dizer o quão fodido eu me sinto agora.
Eu me levanto, caminho até ele e descanso minha mão em seu
ombro.
– Nós vamos chegar ao fundo disso. Por favor, não faça nada
até que tenhamos mais informações – pretendia dizer para não
fazer nada estúpido, mas acho melhor assim.
Não posso dizer isso a ele. O que quer que ele escolha fazer
como retaliação não será estúpido. Ou se quiser garantir que os
mortos permaneçam mortos. Ele é um homem como eu. Ele terá
sua vingança quando assim decidir. Mas, odeia se sentir impotente
ou ficar no escuro sobre qualquercoisa.
– Se você estivesse no meu lugar, faria algo sobre isso –
ressalta ele.
– Vou fazer algo a respeito – só não quero perder meu irmão.
Porque isso é exatamente o que aconteceria. Eu o perderia. –
Tristan, esse cara desapareceu nos últimos cinco anos e de repente
ressurge. Claramente, alguma trama de merda está acontecendo.
– Bem debaixo de nossos narizes – ele entoa e pressiono meus
lábios. – Pierbo morreu porque o viu. Vlad não deixaria para lá o fato
de que nosso homem descobriu que ele estava vivo e de volta à
cidade.
– Não, ele não deixaria barato – concordo. – E não posso
permitir que faça o que quer que esteja fazendo.
Já basta que tenha continuado vivo nesses últimos cinco anos.
Não posso dar ainda mais moleza para ele.
– Você vai mexer em vespeiro, Massimo – afirma Tristan, com
preocupação enchendo seus olhos.
– Eu sei. – Mexer na porra do vespeiro vai causar problemas. Eu
sou o chefe agora, mas se Pa ainda fosse diria o mesmo. – Vamos
investigar, colocar nossos melhores homens na rua para encontrá-
lo, não importa onde esteja. Vamos matar esse filho da puta e cortar
a porra da cabeça dele desta vez só por garantia. Por Alyssa.
Ele solta um profundo suspiro e acena com a cabeça.
– Obrigado, irmão. É muito difícil para um homem aceitar que foi
inútil para ajudar a pessoa que mais precisava dele. Vlad e seu
bando de filhos da puta a roubaram de mim, e eu só fiquei sabendo
quando já era tarde demais. Eu não consigo tirar da mente como
tudo aconteceu. Lembro o tempo todo. Eu a levei para o chalé.
Deveríamos partir para nossa lua de mel no dia seguinte. Fui até a
cozinha pegar o champanhe e, quando voltei, ela tinha sumido.
– Tristan, vamos manter o foco e pegar esse cara. Ele declarou
guerra voltando para cá.
A���� �� �� ���� ����, decidi passar de novo pela ponte Vincent
Thomas. Foi aí que Tristan e eu pensamos ter matado Vlad.
Lutamos na ponte. Golpe por golpe, balas voando. Havia quatro de
nós no final. Eu e Tristan. Vlad e Aleksei, seu braço direito.
Eu apunhalei Aleksei bem no olho e acabei com ele. Ao mesmo
tempo, Tristan atirou em Vlad. Eu vi isso acontecer. Eles estavam a
poucos passos de distância. A bala entrou em seu peito, e ele caiu.
Ele passou por cima do parapeito da ponte, atingiu os painéis antes
de cair no mar.
A bala deveria tê-lo matado instantaneamente, mas se isso não
o pegou, a queda deveria tê-lo feito. A queda é de mais de cem
metros. Ele estava fodido de qualquer maneira. No entanto, Vlad
está vivo. Pierbo o viu e foi morto.
Achei que Riccardo tinha matado Pierbo. Agora, faz sentido.
Pierbo era um fenômeno. Apenas um homem como Vlad Kuznetsov
e o Círculo das Sombras poderia derrubar um homem como ele. O
que significa que agora tenho muito mais merda em minhas mãos.
Mais coisas para me foder, e acabar com aqueles próximos a
mim. Tristan tinha razão quando falou que eu estava mexendo num
vespeiro. Estaria fazendo exatamente isso. Balançando um ninho de
vespas. A questão, porém, é que elas não fazem nada até que você
as cutuque. Quando faz isso, todas vêm para cima de você. Vêm
atrás de você, mas exterminam também quem está com você.
Neste momento, temos uma vantagem. Vlad não sabe que
sabemos que está vivo. Deve achar que nos enganou bem matando
Pierbo e destruindo a câmera.
Mas, não tem jeito nenhum de eu conseguir manter o fato de que
sabemos que está vivo em segredo. Para procurá-lo, vou ter que
fazer perguntas, o que significa que ele saberá que estamos atrás
dele.
Esse é o risco que terei que correr.
Volto para casa e entro no quarto de Emelia. Ela está dormindo,
e eu não pretendo acordá-la. As luzes estão apagadas, com apenas
o luar derramando sua luz prateada sobre seu corpo etéreo.
Ela até parece uma princesa em seu sono. Graciosa com seus
cachos escuros espalhados sobre o travesseiro e suas mãos
descansando ao lado do rosto.
O relatório que recebi sobre ela hoje dizia que esteve quieta.
Priscilla disse que mal falou e fez tudo que lhe mandaram.
Experimentou vestidos de noiva e não gostou de nenhum. Eu não
sei se isso significa que ela estava sendo difícil ou se ela realmente
não gostou deles.
A costureira volta amanhã. Eu não quero ser um bastardo e
escolher um vestido para ela. Eu já me sinto mal o suficiente sobre
ter feito isso com o anel.
Ela se mexe, como se pudesse me sentir pensando merda. Eu
me afasto silenciosamente em direção à porta.
Emelia será minha esposa em algumas semanas.
Cinco anos atrás, eu não tinha ninguém assim.
Agora tenho.
Ao balançar o vespeiro para encontrar Vlad vou torná-la um alvo
também.
Chapter
Catorze
M
EMELIA
eu coração aperta quando olho para meu reflexo no espelho
comprido.
Esse vestido de noiva é lindo demais.
Parece que foi tirado de um conto de fadas. Definitivamente
digno de uma princesa. Seu corpete sem mangas abraça meu
corpo, acentuando meus seios e minha cintura fina. O comprimento
infinito de tecido que flui do corpo cria esse efeito mágico, flertando
com minhas pernas enquanto me movo.
Posso imaginar todos os olhos em mim no grande dia.
Experimentei dez vestidos hoje, e este parece o melhor.
Realmente não gostei dos de ontem, mas para ser honesta, não
teria gostado de nada no mal humor que estava. Experimentar
vestidos de noiva para um casamento fadado ao desastre não
poderia ter sido mais deprimente para mim.
Sempre achei que, quando visse o vestido que queria, me
apaixonaria da mesma forma que teria me apaixonado pelo noivo.
Ele seria o único, e o vestido seria único também. Isso, claro, se
minha vida tivesse saído como planejei.
Se fosse um casamento para valer, eu escolheria este vestido.
Esta manhã, pensei em tornar as coisas menos difíceis para mim
mesma fingindo que o casamento era real. Sabia que se mandasse
a costureira embora de novo hoje, Massimo pensaria que eu estava
sendo difícil e me puniria por isso ou algo assim.
O vestido brilha contra a luz do sol que entra pelas longas
janelas francesas do salão. É realmente perfeito. É provavelmente a
coisa mais linda que já vi.
Assim como o anel no meu dedo, no entanto, não parece que
pertence a mim. Parece que não foi feito para mim.
Tanto o anel quanto o vestido me lembram veneno. Do tipo que
pode entrar no corpo em pequenas doses e matar lentamente.
Ambos têm esse efeito em mim. Ambos foram projetados para me
machucar. Ambos são um lembrete venenoso de que sou um objeto
a ser possuído. Pertenço a Massimo D'Agostino e, tal como um dos
seus muitos bens, sou sua propriedade. Isso é tudo que sou para
ele, nada mais.
– Como ficou? – a costureira chama do outro lado das cortinas.
O salão foi preparado para que eu tivesse alguma privacidade
para trocar de roupa.
– Bom, eu gosto deste – respondo, dando outra olhada no
espelho antes de sair detrás das cortinas.
A costureira suspira, junto com Priscilla e Candace, que vieram
me ajudar. Juro que Priscilla parece que vai chorar. Isso me faz
pensar em como eu imaginava que minha mãe reagiria nessa hora.
Eu choro só de pensar.
– Meu Deus – diz Priscilla. Ela caminha até mim e estende as
mãos para pegar as minhas. Eu estendo os braços e ela aperta
minhas mãos suavemente. – Emelia, você está realmente linda.
– Obrigada. Muito obrigada – respondo.
– Minha querida, você é uma das noivas mais lindas que já vi –
afirma a costureira, juntando as mãos na frente de si.
– Também acho – Candace concorda com a cabeça. – Você está
maravilhosa.
– Obrigada a todas. Acho que este é o vencedor, então –
respondo.
– Definitivamente um vencedor – concorda a costureira. – Está
perfeito. Acho que só precisamos entrar um pouco aqui – ela aperta
um pedaço do pano entre os dedos para marcar o lugar que está um
pouco folgado.
– Tudo bem.
– E posso sugerir que prenda o cabelo para mostrar o design
das costas? E coloque uma tiara, a menos que você queira usar um
véu.
– Gosto da ideia do cabelo preso e da tiara – concordo. Quando
vi o vestido pela primeira vez, já pensei que as costas precisavam
ser exibidas. Tem recortes descendo em curva. É tão bonito quanto
a frente.
– Perfeito.Você é uma noiva fácil de se trabalhar – ela sorri,
esfregando as mãos. Seus olhos verdes brilham com prazer e os
pés de galinha nos cantos se enrugam quando ela sorri.
Se tem uma coisa que notei até agora, é que todos que entraram
em contato comigo desde que vim morar aqui foram muito legais.
– Obrigada, fico feliz em ouvir isso.
– Vá se trocar que vou fazer minha mágica. Voltarei em alguns
dias e falaremos sobre sapatos e acessórios.
– Isso parece ótimo.
Estou no modo piloto automático. Como se as palavras
estivessem saindo da minha boca, mas eu não sei o que estou
realmente dizendo.
Candace parece notar. Eu posso dizer pelo olhar simpático que
me oferece.
Eu volto para trás das cortinas e coloco a mão sobre meu
coração quando me olho novamente no espelho. Gostaria de estar
feliz. Gostaria que este momento pudesse ser melhor, que não
estivesse me casando com um homem que tem esse efeito em mim
que não posso explicar. Ele me machucou demais quando disse que
não sou nada. Não posso explicar como me machucou quando ele
disse isso. Parecia pior do que me sentir como um objeto. Agora,
não tenho mais certeza de onde minha mente está. O que eu sou
virou uma incógnita.
Eu coloco de volta meu jeans e blusa de alcinhas. Minhas roupas
de verdade.
Quando acordei esta manhã, duas coisas que eu não tinha
ontem me aguardavam em meu quarto. A montanha de bagagem
que deveria levar para Florença e um pouco de liberdade. A porta
estava aberta. Não estava mais trancada. Eu podia caminhar para
fora do quarto e até abrir a janela.
Massimo certamente estivera no meu quarto ontem à noite
enquanto eu dormia para fazer tudo isso. Eu sabia que tinha sido ele
porque seu cheiro pairava no ar.
O que faltava eram meus materiais de arte e pinturas. Não sei se
papai não os mandou ou se estão aqui e Massimo decidiu não me
dar.
Quando acabei de arrumar minhas coisas, era hora da prova do
meu vestido.
Prendo meu cabelo para trás em um rabo de cavalo novamente
e saio levando o vestido. A costureira o tira de mim e coloca em
uma sacola.
Candace caminha até mim e bate no meu ombro. Ela não está
vestindo seu uniforme hoje. Em vez disso, está usando uma
camiseta de manga comprida e jeans. Seu cabelo está trançado
para o lado e ela usa um par de tênis Converse que a faz parecer
moderna.
– Vou te fazer companhia hoje – diz ela. – Que tal um passeio
pela praia?
– Eu adoraria – respondo, sorrindo
– Voltem a tempo para o almoço – Priscilla diz.
– Pode deixar – responde Candace.
Eu apenas sorrio porque não tenho realmente escolha.
Saímos da sala e seguimos pelo mesmo corredor onde andei
com Massimo ontem à noite. Mas, em vez de subir as escadas que
levam ao terraço, descemos outro lance de escadas. A porta se
abre para um pátio que leva à praia. Quando Candace abre as
portas, o cheiro salgado do mar me inunda e me sinto viva.
É incrível o que deixamos de dar seu devido valor na vida.
Pequenas coisas como sentir o sol quente na minha pele enquanto
a brisa lânguida levanta as pontas do meu cabelo são coisas das
quais senti muita falta nos últimos dias. Sorrio e saboreio as
sensações, saboreio a liberdade.
E como adoro caminhar na praia, tiro os sapatos para sentir a
areia entre os dedos dos pés.
Candace ri. Eu sorrio de volta.
– Você tem certeza que vai fazer isso? – ela pergunta.
– Sim. Sempre tiro meus sapatos na praia.
– Talvez eu esteja mais acostumada – ela responde. – Vamos
por aqui.
Descemos por um caminho perto da piscina revestida de pedra e
nos sentamos na areia onde temos uma vista panorâmica do mar
sem fim. Isso me lembra a Itália. A praia na Toscana onde papai
sempre levava mamãe e eu nas férias.
– Vamos ficar aqui um pouco. Depois, vou te mostrar o resto da
propriedade e talvez te dar um tour pela casa – ela diz.
Acho que ela deve ter recebido permissão para me mostrar mais
do que a praia.
– Obrigada. Essa praia é linda – eu digo. – Eu amo isso.
– Eu também. Me lembra a Sicília.
– Sim, concordo.
Eu adorava caminhar pela praia quando visitava meus parentes
por lá.
– Quando foi pela última vez? – indaga ela.
– Há alguns anos, com minha mãe. Pouco antes de ela morrer.
Ainda acho difícil dizer essas palavras que confirmam sua morte.
– Sinto muito – parece sincera.
– Tudo bem. Foi há alguns anos. Ainda sinto muita falta dela,
mas a morte acontece, não é?
Minhas palavras me fazem soar mais corajosa do que me sinto.
Mascaram a verdade do que sinto no fundo. Eu ainda choro por ela.
Essa tristeza nunca acaba. E se estivesse viva agora, isso não
estaria acontecendo comigo.
– Sim, a morte acontece – ela responde, com tristeza nublando
seus olhos. – Meus pais estão mortos. Foi um acidente.
– Lamento ouvir isso – eu simpatizo.
– Obrigada.
– Minha mãe teve câncer. Nossa viagem à Sicília foi sua última
visita à sua terra natal. Nós pintamos. Isso é o que eu faço. Eu pinto.
– O que você pinta?
– Tudo. Qualquer coisa que minha imaginação evoque.
– Parece legal. Eu escrevo poesia. Fiquei com essa mania
depois que terminei a faculdade.
– Terminou? – Não escondo a surpresa na minha voz.
Achei que ela estava perto da minha idade.
– Sim, tenho vinte e cinco – sorri.
– Você parece muito mais jovem.
– Obrigada. Acho que é o meu espírito jovem – dá uma risada. –
Estudei literatura inglesa. Queria ser professora e espero um dia dar
um jeito na vida. Pode ser difícil começar uma carreira.
– Sim – concordo. Começar minha carreira está cada vez mais
difícil e por uma razão que tenho certeza que a maioria das pessoas
nunca encontra. Na verdade, parece que nunca terei uma carreira. –
Há quanto tempo trabalha aqui?
– Muitos anos. Mas, conheço Massimo minha vida toda – sua
expressão assume aquele olhar carinhoso que vi no rosto de
Priscilla.
Espero que não vá cantar elogios ou algo assim. Não quero ouvir
isso hoje.
– Se concordar, não quero falar sobre ele – peço.
Essa é a melhor maneira que posso me expressar sem soar
muito rude, embora eu provavelmente tenha soado exatamente
assim.
– Não precisa – ela responde. – Não estou aqui para isso. Achei
que talvez você quisesse alguém com quem conversar. Ou apenas
passar as horas. Se quiser falar sobre ele, porém, juro que tudo o
que me disser ficará só entre nós. Prometo.
Olho para ela, me perguntando se posso baixar a guarda e
confiar nela. Ela e Priscilla têm sido legais comigo, mas isso não
significa nada quando se trata de lealdade.
Aprendi isso muito bem lidando com pessoas que trabalhavam
para meu pai. No final das contas, sempre responderiam a ele.
Talvez, porém, possa apenas falar sobre as coisas que estão
pesando na minha mente e que ela já deve estar ciente.
– É difícil, muito difícil para mim estar aqui, fazer o que estou
fazendo. Casar-me com um homem que não conheço – explico.
De repente, sinto que quero abrir meu coração.
– Eu sei, imagino – meneia a cabeça. – Eu podia ver isso
quando experimentava um vestido após o outro. Parece que você
quer ser feliz porque os vestidos e seu anel são tão bonitos, mas a
situação estraga tudo.
Ela acertou na mosca.
– Sim. Todas as minhas esperanças e sonhos foram esmagados
de uma hora para outra. Minha vida foi roubada. Não sei como vou
viver assim. Não há escapatória para mim.
Ela olha para baixo, examinando a areia por um momento.
Depois, seu olhar volta para o meu.
– Emelia – sua voz soa baixa – sinto muito que isso tenha
acontecido com você. Confesso que não concordo. Sou paga para
fazer um trabalho, mas vejo muitas coisas de que não gosto. Seu
pai prejudicou muito a família de Massimo, mas não concordo que
você tenha que sofrer por isso.
Suas palavras despertam meu interesse. Talvez ela pudesse me
dar algumas respostas.
– Não sei o que ele fez. Eu não sei nada. Até a semana
passada, nem sabia que meu pai conhecia os D'Agostino.
– Sim, faz sentido. Mulheres e filhos costumam ser mantidos
longe dos negócios. Eu não tive tanta sorte. Assim como Massimo,
vi o lado feio quando era muito jovem. Isso muda você para sempre.
Enquanto ela fala, tenho a impressão de que há mais em sua
história do que apenas o acidentede seus pais.
– O que aconteceu? – pergunto.
– Eu não posso falar sobre minha história. Ainda não, de
qualquer maneira. Talvez um dia – me dá um sorriso nervoso e
trêmulo. – No caso de Massimo, porém, as coisas mudaram muito
para ele quando sua família perdeu tudo. Minha família serviu os
D'Agostinos por muitas gerações. Sendo filha da empregada, ouvia
muitas coisas. Vi muitas coisas. Eu sei coisas que provavelmente
não deveria.
Meu peito fica apertado.
– Como o quê?
– Você já ouviu falar do Sindicato?
– Não. Nunca – balanço minha cabeça.
– Eles são uma sociedade secreta, embora não mantenham sua
existência em segredo. Tipo, quem sabe que eles existem, sabe e
pronto. O que ninguém de fora sabe é como eles operam e o que
fazem. Mas, não é difícil perceber que são intocáveis. Eles são
formados por seis poderosas famílias criminosas. Dois dos líderes
atuais são o seu pai e o pai de Massimo.
Meus olhos se arregalam.
– Meu pai? Não posso entender como nunca ouvi nada sobre
eles.
– Sim. Não estou surpresa que você não saiba. Os membros são
apenas homens. Talvez seus tios, ou outros parentes masculinos,
façam negócios com eles.
Tio Leo é basicamente o braço direito do papai. Tenho certeza
que ele sabe.
– Entendo – comento em voz alta.
– O membro entra para o Sindicato com base em riqueza ou
recursos. Tudo o que puder trazer para o grupo que seja valioso.
Eles vivem por um contrato que assinam com sangue para se
protegerem até a morte – explica ela, abraçando os joelhos contra o
peito. – Seu pai e Giacomo D'Agostino costumavam ser melhores
amigos. Seu pai roubou o negócio que agora é seu e acabou com
Giacomo. Deixou-o sem nada. E como ele ficou sem nada, foi
chutado para fora do Sindicato. Isso é pior do que não ter nada.
Muitas vezes, pode ser pior do que a morte. Afinal, você tem
informações sobre o Sindicato, seus planos e tramas secretas, que
poderia compartilhar com outras pessoas e o Sindicato não vai
querer isso.
Jesus Cristo. Não posso acreditar no que estou ouvindo.
– O que aconteceu com eles?
– Tudo de ruim. Perderam a casa. Chegaram a morar em um
trailer. Quinze anos atrás, Giacomo começou seu negócio de
petróleo e prosperou. Sua riqueza se espalhou como um incêndio
florestal, mas nunca compensou a maior perda de todas. Eles
perderam tudo o que possuíam durante aquele período terrível, mas
perderam algo pior quando a mãe de Massimo morreu.
– O que aconteceu com ela?
– Ela se matou quando Massimo tinha doze anos. Ele a
encontrou.
– Oh, meu Deus – levo minhas mãos até minhas bochechas.
– Eu sei. Foi tão triste porque ela era como um anjo, um ser
perfeito, sempre tão legal comigo. Dizia que eu era a filha que nunca
teve. Estava sempre com os meninos. Massimo nunca disse isso,
mas acho que ele culpa o seu pai pela morte dela.
Meus olhos se arregalam quando me lembro do que Massimo
disse sobre não ser capaz de trazer os mortos de volta à vida.
– Isso é um pesadelo – sussurro com voz embargada.
Ela sorri sem humor.
– É pior que um pesadelo, Emelia. Esta guerra começou muito
antes de nascermos. Massimo culpa o seu pai pela morte da mãe
dele e pela vida difícil a que eles foram forçados quando ele estava
crescendo. Mas, o pai dele culpa seu pai por muito mais. O
problema de ouvir demais é ter que arcar com a responsabilidade de
saber quando ficar quieta. A razão pela qual seus pais brigaram foi
ela. A mãe de Massimo.
Minha respiração trava no meu peito.
– O que você quer dizer?
– Ambos estavam apaixonados por ela – responde e um peso de
aço cai na boca do meu estômago. – Isso é tudo que sei, mas faz
você se perguntar, não é? Faz você se perguntar o que mais
aconteceu.
Segredos e mentiras, é nisso que meu mundo parece se basear.
Eu a encaro longa e duramente e me pergunto por que ela está me
contando tanta coisa.
– Por quê? Por que está me contando tudo isso, Candace?
Ela encolhe os ombros antes de me responder.
– Talvez me sinta mal por você ter sido arrastada para o meio de
uma guerra que não é sua. Talvez me sinta mal porque sua vida
será roubada de você quando se casar com Massimo. Talvez
porque odiaria ser você. Ou talvez esteja apenas tentando justificar
minhas razões para ajudá-la, quebrando a lealdade a um homem
que considero um irmão.
Meu coração dispara.
— O que está querendo me dizer, Candace?
Será que vai me ajudar? Como?
Ela se inclina para mais perto. Seus olhos ficam vidrados por
causa das lágrimas que os inundam.
– Sou a pessoa em quem ele mais confia. É por isso que posso
sair com você. Eu e Priscila. Mas, ele não é mais o garoto com
quem cresci. Nenhum dos irmãos é. Apesar de que não é culpa
deles.
Não, parece ser do meu pai.
– Candace, você vai me ajudar? – pergunto, cautelosamente.
Nós duas olhamos em volta nervosamente.
Estamos longe dos guardas que estão no terraço e não podem
nos ouvir. Mas, é compreensível, nestas circunstâncias, que medo e
paranoia nos deixem nervosas.
Candace acena com a cabeça quando olho para ela.
– Se ele descobrir que fui desleal, não o culparia se me matasse.
– Então, não. Eu não aguentaria – estremeço, balançando a
cabeça.
– O mal sempre continuará a vencer se pessoas boas ficarem
quietas e assistirem, Emelia. O mal sempre vencerá se as pessoas
boas permitirem que isso aconteça. Eu nunca me perdoaria se não
ajudasse você. Mas, por favor, pense antes de agir – ela prende
meu olhar enquanto considero suas palavras.
Pense antes de agir.
Uma chance de escapar vale ouro para mim agora, mas sei o
que ela quer dizer. Se eu errar, não serei apenas eu quem será
punida.
Ela olha à nossa frente e aponta cuidadosamente para o final da
praia onde os barcos estão ancorados.
– Você vê aquela seção no final das docas?
– Sim – daqui é quase um borrão, mas consigo ver o final da
prancha de madeira. As ondas batem contra as rochas, e a área
parece ser cortada depois desse ponto.
– As câmeras não funcionam lá. Logo depois da área com as
palmeiras. Há uma câmera em um poste de luz. E só. O barco a
remo é o único sem alarme.
Eu não posso acreditar em meus ouvidos. Ela acabou de me dar
a resposta.
– Meu Deus, Candace – suspiro.
– Não tente pegar nenhum dos outros barcos. Massimo mantém
as chaves com ele o tempo todo e, mesmo que consiga fazê-lo
funcionar, ele tem um sistema de segurança que pode controlar de
dentro da casa. Irá alertá-lo no segundo em que o motor do barco
ligar. Então, sua única opção é o barco a remo.
Com lábios trêmulos, eu aceno com a cabeça.
– Vou com o barco a remo, então.
– Emelia, é perigoso – ela afirma. – Esse é o aviso mais
importante que vou te dar. As águas são perigosas. Deste lado,
você estará bem no coração delas, mas há um porto a cerca de oito
quilômetros. Chegar lá em um barco a remo é a parte mais difícil.
Você tem que ter muito cuidado.
Deus. Não sei nada sobre remar um barco, muito menos remar
em águas perigosas, mas seria uma forma de escapar. Uma chance
de liberdade. Uma chance de ter minha vida de volta. Eu seria uma
tola de perder uma chance como essa, mesmo com o risco
envolvido.
– Eu vou ficar bem. Eu tenho que ficar.
– Então, se fizer mesmo isso, por favor, certifique-se de fugir e
nunca mais olhar para trás. Porque se ele te encontrar, saberá que
só poderia ser eu ou a Priscilla quem te disse como escapar. Então,
por favor, pense bem antes de tentar. Ele nos deu permissão para
lhe mostrar o lugar. Cabe a você ganhar a confiança dele para andar
por aí sem supervisão e os guardas em constante vigilância – ela
estende a mão e pega minhas mãos. – Por favor, pense nisso antes
de fazer qualquer coisa. Esse é o meu único pedido.
– Pensarei – prometo a ela.
Olho para frente, vejo a liberdade e quase sinto seu gosto.
Como faço para que Massimo confie em mim?
Obediência.
Fazer o que ele mandar.
Ser dele.
Chapter
Quinze
F
MASSIMO
ico de pé, encaro cada membro do Sindicato de frente e levanto
a lâmina cerimonial.
Todos os olhos estão em mim.
Além de Pa, Riccardo e o irmão dele, nunca vi esses homens
antes. Contando comigo, somos doze homens com muito poder e
incrível riqueza.Todos ao redor da longa mesa retangular na sala de reuniões me
observam. Eu, o membro mais jovem, e mais novo, me preparando
para ser iniciado e assinar o juramento de sangue.
Eles não vão falar comigo até que eu faça o juramento. E temos
muito o que conversar.
Quando corto a ponta do meu dedo indicador, fixo meu olhar no
de Riccardo. Eu o encaro longa e duramente, certificando-me de
que os outros membros do Sindicato possam me observar e notar
que eu tenho um problema com ele.
Eles conhecem a nossa estória, nosso passado. Não me agrada
lembrar que esses homens poderiam ter matado a mim e minha
família se Riccardo assim o pedisse. Mas, esta estória é para a
próxima fase de poder.
Gotas de sangue pingam no contrato. Um semelhante ao
documento que demos para Riccardo assinar.
Este que assino agora estipula que compartilho meus recursos,
poder e vida com os demais membros. Um corpo, um poder, tudo
para buscar mais riqueza.
Meu sangue no contrato é minha assinatura. É uma coisa séria,
porque assinar significa entregar sua vida. A única saída é a morte
ou, como testemunhei com meu próprio pai, ser rejeitado.
Isso não vai acontecer comigo.
Quando coloco a faca de volta na mesa, Phillipe, o presidente,
acena com a cabeça em aprovação. Eu vi o jeito que ele olhou para
mim quando entrei. Ele e os dois líderes da Bratva trocaram olhares
curiosos. Há uma faísca de aprovação em seus olhos agora quando
me observa.
Todos sabem que tenho o direito de voto de Riccardo.
O que não sabem é o que vai acontecer agora. Pegar o direito
de voto em troca de uma dívida é o tipo de coisa que nunca
aconteceu antes. Com certeza, eles farão perguntas que não vamos
responder.
Sento-me novamente. Pa me dá um aceno. Sou um membro,
assim como ele.
É aqui que tudo vai começar. A próxima geração. Quando papai
for embora, estarei aqui com Tristan da mesma forma que outros
líderes estão com seus colegas. Riccardo trouxe Leo, seu irmão.
Ambos olham para mim do outro lado da mesa. Furiosos.
Impotente, inútil, indefeso. Palavras que descrevem como
Riccardo deve se sentir agora. Da mesma forma que me senti
naquele dia fatídico.
Eu deveria estar rindo. Se não fosse pela imagem da filha dele
que não sai da minha mente.
Impotente, inútil, indefesa são palavras que também a
descrevem.
Não a vejo há quatro dias.
Estive muito ocupado com meus homens nas ruas, procurando
por Vlad. Tenho certeza que os informantes dele de merda já lhe
contaram que sei que ele está vivo e que o estou caçando. Afinal,
não há vestígios dele em nenhum lugar. Também admito que tenho
evitado Emelia. Achei que seria melhor, mas não vê-la está me
dando nos nervos.
Phillipe me dá um aceno de cabeça e limpa a garganta. Sua pele
bronzeada parece esticada quando ele sorri. Como se ele tivesse
ficado tempo demais no sol. Isso faz com que seus olhos azuis
claros pareçam mais intensos.
– Excelente – diz ele. – É ótimo ter um homem poderoso como
você em nosso rebanho. Você é igual ao seu pai.
– Tomo isso como o maior elogio.
O que é verdade. Ainda mais porque Pa se tornou um titã sem
ajuda deles.
– Deve mesmo – afirma ele – agora, vamos tratar dos negócios.
– Manda ver – diz meu pai.
– Tirar o direito de voto de um líder o torna impotente em
assuntos sobre os quais precisamos concordar como um grupo.
Esta é a primeira vez que tal coisa acontece. Adoraríamos que você
esclarecesse um pouco o assunto.
Phillipe não é tolo. Tenho certeza de que é tão óbvio para ele
quanto para Riccardo o que pretendemos fazer. Somos demônios
saindo para brincar. Todo mundo tem perguntas. Nós decidiremos
como responderemos.
Pa junta os dedos e se inclina sobre a mesa.
– Ele tinha uma dívida comigo e essa é uma das formas que
escolhi para ser reembolsado. Simples assim.
– Vamos ser realistas, sim? – Phillipe afirma, mudando seu olhar
para Riccardo. – É melhor perder o direito de voto. Também estou
ciente de que a maioria de seus bens agora pertence a Massimo em
sua ascensão como chefe da família D'Agostino. Todos menos a
Balesteri Investimentos, mas se não me engano, sua herdeira
receberá essa parte. A notícia do noivado dela com Massimo se
espalhou rapidamente. O que significa que o negócio é praticamente
dele também. Não é minha função questioná-lo sobre assuntos fora
do Sindicato, mas, farei isso sempre que for pressionado. Minha
pergunta é, e agora?
Eu gosto deste homem. Vai direto ao ponto. Esses homens não
são estúpidos. Eles devem saber que temos uma grande dívida
pairando sobre a cabeça de Riccardo para exigir tanto em troca.
Tenho certeza de que adivinharam que Emelia foi parte do
pagamento. Não é difícil descobrir coisas assim em nosso mundo.
Riccardo fica tenso, assim como seu irmão. Acoado num canto,
exatamente onde o queremos.
– Sei que a situação está uma merda, mas me dê um tempo e
vou resolver tudo – responde Riccardo.
– Acho bom mesmo. Nós lhe daremos oito semanas para
resolver isso. Depois, nos reuniremos novamente para discutir. No
entanto, ainda há a questão do equilíbrio de poder – Phillipe olha
para mim. – Massimo, independentemente do que aconteça com
Riccardo, você terá o direito de voto dele e de seu pai. O que
planeja fazer com eles?
É minha vez de falar. O que disser agora será o guia para o meu
futuro.
– Não pretendo passar por cima de vocês – todos me olham,
curiosos. – O Sindicato só funciona com fraternidade e unidade. O
contrato que nos protege também nos une. Quando alguém abusa
dele, a estrutura desmorona. Então, não vou usar meu voto extra a
menos que alguma situação surja que me obrigue a fazer isso. Se
isso acontecer, tenho certeza de que discutiremos o que será justo e
razoável para o benefício do grupo. Se, e quando, chegar esse
momento.
Phillipe assente e sei que está satisfeito. Mas, ele não é
estúpido. Nenhum deles é. Sabem que parte de nossa vingança era
tornar Riccardo impotente.
– Muito bem, então – diz Phillipe. – Bem-vindo à Irmandade,
Massimo D'Agostino.
Inclino a cabeça com reverência. E passamos a falar sobre
negócios.
A reunião continua por mais uma hora antes de ser encerrada.
Durante todo o tempo, sinto os olhos de Riccardo em mim. Eu me
pergunto o que o preocupa mais. O que estou fazendo com sua
preciosa filha ou o que vou fazer com ele?
Quando a reunião termina, Pa e eu saímos para o
estacionamento, esperava que Riccardo viesse atrás de nós. Então,
não fico surpreso quando chama meu nome. Eu me viro para
encará-lo. Papai para ao meu lado e endireita os ombros.
– É melhor que não esteja machucando minha filha – ele
vocifera.
Tudo o que faço é olhar para ele.
– Seu animal. Seu animal sujo. Vocês dois – acrescenta, olhando
de Pa para mim.
– Você não é muito esperto, é? Nos ofendendo assim quando
mal saímos do prédio da Irmandade — retruco.
– Isto tudo é um ultraje. Uma indignação total. Mas, era isso o
que você queria – olha para o meu pai. – Olho por olho.
– Vá se foder, Riccardo – Pa responde. – Eu não sei por que
você continua cometendo os mesmos erros. Você não entende, não
é? Nós temos a vantagem. Eu posso destruir você com uma
palavra.
Riccardo cerra os punhos e nos encara, seu rosto se
contorcendo de raiva.
– Isso ainda não acabou. Você – aponta para mim. – Lembro
bem como olhou para minha garota no baile. Teve que puxar meu
tapete para me derrubar. Sabia que não haveria nenhuma outra
forma na face da Terra de ficar com ela. Seu pedaço de merda. Ela
nunca vai querer você. Pode fazer o que quiser. Ela não vai querer
você. Você sempre será um nada.
Suas palavras não deveriam me atingir. Não deveriam significar
nada para mim. Porque, então, quero quebrar a cara dele?
– Nada – repete ele.
E é a gota d’água. Perco a cabeça e o agarro pelo pescoço.
Filho da puta. Não sei com quem diabos ele pensa que está
falando. Seguro firme sua garganta e aperto com força. Temos a
mesma altura, mas tenho mais músculos. Sou forte como um tanque
de guerra e ele é um homem velho. Ele grita, tentando soltar minhas
mãos, mas eu o prendo mais.
– Me larga – grita ele.
– Maldito cão de merda – rosno. – Juro queestou por um fio,
tentando me controlar para não acabar com a tua raça, Riccardo
Balesteri. Acredite em mim, estou pronto para te matar agora
mesmo. Quero muito ver você sofrer. Mas, por Deus, te matar agora
talvez fosse melhor.
É a mão de Pa no meu ombro que me tira do meio da névoa de
ódio.
– Deixe-o ir, filho. Ele está abalado porque não pode fazer nada
contra a gente. Suas palavras não valem nada.
A questão é que as palavras dele me atingiram e ele sabe disso.
Foi por isso que ele as disse.
Levantando a cabeça, vejo Phillipe e os líderes da Bratva à
nossa frente, observando com um ar de curiosidade ainda em seus
rostos.
Querem saber o que realmente aconteceu. Querem saber como
é que estou me casando com a filha do meu inimigo e por que tenho
o controle de seu poder. Querem saber como conseguimos
encurralar em um canto um homem que deveria ser intocável.
Eles rasgariam Riccardo em dois se soubessem o que ele fez.
Depois, viriam atrás dela também. Emelia. Eles a matariam sem
hesitar só por compartilhar o mesmo sangue, sem se importar com o
que ela é para mim.
Penso na outra noite quando fui ao quarto dela. Quando lembrei
o que Vlad fez com Alyssa e quis protegê-la. Essa mesma força me
compele a fazer o mesmo agora. O Sindicato não seria diferente de
Vlad. Com exceção do fascínio assustador e desagradável que ele
tem pelas mulheres. Os membros do Sindicato a matariam da forma
mais brutal que conseguissem, se descobrirem que Riccardo estava
roubando deles. Eu receberia mais do que apenas a cabeça dela
em uma caixa.
Meu comportamento está chamando a atenção para minha
família e para ela também. Não posso permitir que meu ódio pelo
pai dela me atinja.
Solto Riccardo e dou um passo para trás. Ele percebe Phillipe e
os líderes da Bratva assistindo e pelo menos tem o bom senso de
conter sua raiva.
– Não se atreva a falar comigo a menos que tenha algum
negócio para tratar – eu exijo. – Vejo você em breve, pai –
acrescento em tom de ameaça e com uma risada grosseira.
O filho da puta odeia que eu o chame de pai.
Papai e eu o deixamos ali, fervendo de raiva.
Aquele canalha. Gostaria de não ter que olhar para a cara dele
nunca mais. Tem o evento para arrecadação de fundos e depois o
casamento. Além das reuniões do Sindicato. Só isso. Fora isso, não
quero nada com ele, e também não o quero perto de Emelia.
– Ei – diz meu pai, tocando meu cotovelo, parando ao lado do
meu carro. – Você está bem?
– Estou.
– Ele te incomodou. Dá para notar.
– Está tudo bem, Pa. Ele sempre me incomoda.
– Como estão as coisas em casa com Emelia?
Uma merda. Tudo isso é uma merda, mas não posso dizer isso a
ele.
– Estou mostrando a ela quem é o chefe – respondo, porque é a
coisa certa a dizer.
– Bom. Essas pessoas merecem o que estão recebendo. Te vejo
pela manhã.
Eu aceno e o observo ir embora.
Tenho que tirar essa garota da minha cabeça. Isso é o que
preciso fazer. Não posso mostrar a ninguém que ela é minha
fraqueza, muito menos alguém como Riccardo.
Eu tenho que manter minha cabeça no lugar e seguir o plano.
Casar-me com ela e pegar sua fortuna. Deveria ser tão simples.
Ela é apenas uma boceta. Os despojos dessa guerra. Uma
mulher para aquecer minha cama e servir a um propósito no grande
esquema das coisas.
Isso é o que tenho que continuar dizendo a mim mesmo.
Não importa o quanto eu esteja apaixonado por ela.
Chapter
Dezesseis
C
MASSIMO
hegar em casa às quatro da tarde durante a semana é algo
extremamente incomum para mim.
Normalmente, estou na D'Agostino Investimentos ou no clube.
Mas, depois do meu encontro com Riccardo, não consegui nem
pensar em ir a nenhum dos dois. No clube, poderia relaxar, mas isso
envolveria foder uma das mulheres de lá. Na D'Agostino, eu teria
que lidar com algum tipo de burocracia. Só que não posso me dar
ao luxo de fazer isso com minha mente desfocada desse jeito.
Então, mandei Andreas no meu lugar.
E vim para casa. No fundo, sei por que vim para cá. Só não
quero aceitar.
Aquele filho da puta do Riccardo. Aquele cachorro sempre sabe
como me irritar. Sempre.
Sempre sabe o que dizer para me tirar do sério, mesmo quando
estou em vantagem. Suas malditas palavras sobre Emelia ficaram
presas na minha cabeça.
Todo o maldito dia, tentei tirar os insultos da minha mente. Mas,
não consegui. Não fazia ideia de que o bastardo tinha me visto
olhando para Emelia no baile. Muito menos que ele prestaria
atenção em mim em um evento como aquele.
Isso foi minha culpa. Meu erro. Baixei a guarda e permiti um
momento de fraqueza, sem atentar ao fato de que meu inimigo
poderia me ver.
Mas, por que isso deveria importar?
Por que eu deveria me importar?
Emelia pertence a mim agora, não importa o quê ele diga ou
pense.
Ela é minha. Nada pode alterar as assinaturas no contrato.
Então, por que me sinto assim? Como se isso importasse.
Como se eu quisesse que ela me desejasse.
Será que quero?
Que foda. Desde quando minto para mim mesmo?
Cartas na mesa. Porra, sei muito bem que quero que ela me
deseje. Quero isso desde aquele maldito baile. É por isso que estou
em casa. Mas, também é por isso que tenho evitado ela.
O casamento foi ideia minha, mas, estava sendo um bastardo
implacável quando pensei nisso.
Eu quero que ela me deseje, mas não deveria. Assim que essa
ideia tiver precedência em minha mente, começarei a me importar
com ela. E se isso acontecer, arriscaria perder a oportunidade de
foder com o pai dela.
Existem duas partes a serem cumpridas neste plano. Casar-me
com Emelia. Depois, fazer o Sindicato chutar a bunda do Riccardo
para fora do grupo.
Eu me jogo na minha cama com exasperação e olho através das
janelas que vão do chão ao teto, para o mar batendo na areia da
praia.
A luz do sol atinge a água, brilhando na superfície como
diamantes espalhados sobre ela. Então, como em uma fantasia,
Emelia emerge da água, me fazendo ficar de pé.
Minha futura esposa se levanta das ondas e caminha até a praia.
Vestindo um biquíni turquesa, aquele corpo gostoso está em
plena exibição, me lembrando quantas coisas sacanas quero fazer
com essa virgem, fodê-la até cansar.
Devo estar a uns bons dez metros de distância, mas posso ver
sua pele dourada brilhando, radiante, sob a luz do sol.
Eu a observo. E eu a quero. Eu quero tocá-la e saboreá-la.
Consumi-la e devorá-la. A luxúria começa a substituir minha
capacidade de pensar direito ou me controlar. Não quero resistir.
Quero ceder e saborear essa atração, essa química que acende
quando estou com ela.
Ficando de pé, afrouxo minha gravata e saio para o terraço, indo
atrás do que eu quero, atrás dela.
Uma fúria cega me consome quando Manni se aproxima dela
segurando uma sacolinha e recebe dela algo que trouxe do mar. A
raiva cresce ainda mais quando ele diz algo que a faz rir. Eu nunca
a ouvi rir antes. Certamente, nunca esperei ouvir esse som causado
por outro homem.
Para adicionar insulto à injúria, os malditos olhos do meu guarda
estão por todo o corpo dela, grudando em sua bunda quando ela se
abaixa para pegar algo que deixou cair. Embora conheça Manni há
quase dez anos, sinto um impulso de acabar com a vida dele
exatamente onde está. Ele deveria saber que não deve ficar
olhando boquiaberto para uma mulher que é minha. Desejando-a.
Que porra ele está fazendo com ela?
Caminho até eles, não me importando que pareço um filho da
puta ciumento pronto para matar alguém. O que odeio mais é que
Emelia parece fascinada por ele. Só quando meus sapatos rangem
contra a areia é que eles se viram e me veem.
Manni parece pronto para se cagar todo enquanto Emelia me dá
um olhar duro. O mesmo que me deu depois que me viu aqui com
Gabriella.
– Chefe – diz Manni, abaixando a cabeça para um aceno
reverente.
— O que está fazendo aqui?
A indignação no meu tom deixa claro que é melhor ele ter uma
boa resposta.
– Estava apenas fazendo companhia à senhorita Emelia. Ela não
sabe nadar bem. Então, achamos melhor eu ficar aqui caso algo
acontecesse – explica ele.
Filho da puta. Está dizendo a verdade, mas deve saber que vi o
jeito que olhou paraela. Sabendo que a única punição que dou é a
morte, seus olhos me imploram para não o matar. O tempo que ele
trabalhou para mim, e o fato de que confio nele mais do que na
maioria das pessoas, não o tornarão imune à minha ira.
– Suma da minha frente. Da próxima vez que a senhorita Emelia
quiser nadar, e precisar de alguém para olhar a bunda dela, eu
mesmo faço isso – respondo, para grande constrangimento de
Emelia.
Manni sabe do que estou falando e que não estou falando da
boca para fora.
– Sim, senhor – responde.
– Dê-me isso – ordeno, acenando para ele me dar a pequena
sacola.
Ele o faz e praticamente sai correndo.
Olhando dentro, vejo que está cheia de conchas. Então, olho
para Emelia e vejo o quanto está chateada. Mas, como ela cruzou
os braços sob os seios, tudo o que consigo enxergar é o volume
maciço de seus seios e a profundidade de seu decote.
– Qual é o seu problema? – ela explode. – Ele não estava
fazendo nada de errado.
– Não questione minhas ações. Você não viu o jeito que ele
olhava para você.
Ela sorri sem humor e leva as mãos até as bochechas.
– Inacreditável. Quem se importa com o jeito que ele olha para
mim?
Meus olhos se arregalam e tenho que apertar com força meus
dentes para conter meu temperamento. Parece que minha ausência
afrouxou um pouco demais as coisas, e as pessoas, inclusive ela.
Todos esqueceram que ela é minha.
– Eu me importo, porra. Aliás, por que está aqui vestida com
isso? Não tem um maiô de uma peça?
Assim que falo, percebo o quão ridículo eu soei.
Ela também.
– Massimo, estou de biquíni. Pessoas os usam o tempo todo.
Mas, já que vamos jogar este jogo, devo perguntar onde esteve nos
últimos quatro dias.
Meus lábios se separam e olho para ela. Descalça, ela parece
muito mais baixa. Eu me elevo sobre ela. A verdade sobre a minha
ausência surge em minha mente, mas eu a afasto.
Ela confunde minha hesitação com outra coisa, e seus olhos
nublam com algo que não reconheço.
— Estava com ela, não estava? – ela pergunta e identifico a
emoção em seus olhos como sendo ciúme.
E mágoa.
Levo um momento antes de perceber que ela está se referindo a
Gabriella. Antes que eu possa responder, porém, ela começa a se
afastar, de volta para casa. Eu pego o braço dela.
– Não – respondo, puxando-a de volta. – Eu não estava com
Gabriella.
– Gabriella – ela repete, pensativa.
Ela não sabia o nome de Gabriella antes. Talvez contar a ela
fosse um erro.
– Estava trabalhando – continuo.
– Eu não me importo. Pode ficar com quem quiser – ela zomba,
desgostosa.
– Está morrendo de ciúmes, não? – provoco.
– Por que diabos teria ciúmes dela? Ela não está presa vinte e
quatro horas, sete dias por semana, sob a tutela de um idiota
condescendente.
Idiota? E ainda por cima, condescendente. Jesus. Esta beleza
certamente tem coragem. Não consigo me lembrar da última pessoa
que falou assim comigo e viveu para contar. Porém, aqui está ela,
batendo o pé na areia e me chamando de idiota.
Uma risada escapa dos meus lábios.
– Você por acaso me chamou de idiota condescendente?
– Chamei.
Eu abaixo minha cabeça brevemente, em seguida, sorrio para
ela. Ela tenta reprimir um sorriso, mas falha e desvia o olhar. Pego
seu rosto e guio seu olhar de volta para mim.
Há uma mudança perceptível em seu humor. Seu olhar suaviza e
seus ombros relaxam.
– Esse é o seu jeito de ser bonzinho comigo? – ela pergunta.
– Eu nunca sou bonzinho.
Ela faz um beiço e meu olhar cai para seus lábios. Os lábios dela
me fazem imaginar como ficarão perfeitos ao redor do meu pau.
Essa boca safada dela vai fazer mais do que me divertir um dia.
Nossos olhares voltam a se encontrar e entro novamente
naquele estado em que não tenho certeza do que devo fazer. Eu
deveria ir embora ou mandá-la para o quarto dela. Mas, o desejo já
começou a se infiltrar em minha mente.
Ela põe as mãos nos quadris, chamando minha atenção para
seu corpo. Tenho a ideia perfeita de como voltar a me familiarizar
com minha futura esposa.
– Venha, vamos nos limpar – digo.
– Limpar? – ela arqueia as sobrancelhas.
– Tomar banho – quase dou risada do olhar de pavor que ela me
dá.
– Eu e você? – suas costas ficam rígidas e todo o seu corpo fica
tenso.
Apreensão enche seus olhos. No entanto, ela não reage como
fez no outro dia, quando estava apavorada pensando que tiraria sua
virgindade. Há algo mais que se esconde no fundo de seu olhar e
que não deixo passar. Luxúria.
Dedos invisíveis de luxúria me buscam e, quando a solto, suas
bochechas ficam coradas.
– Sim, eu e você – confirmo.
– Não – ela diz.
Eu lhe dou um sorriso largo e seus lindos olhos viram fendas
estreitas.
– Principessa, não estava perguntando. Estava dizendo – me
inclino mais perto e esfrego meu nariz ao longo de sua orelha. –
Pare de agir como se não quisesse.
– Não estou fingindo.
– Não? – olho para seus mamilos pressionando o tecido
transparente do biquíni. São duas pontas duras e evidentes que não
existiam antes.
Eu sorrio, estendo a mão e esfrego meu dedo sobre o pico tenso
de seu mamilo esquerdo, para seu choque.
– Seu corpo te trai, Emelia. Venha, você acabou de sair do mar
salgado e eu acabei de chegar do trabalho – tiro a gravata,
enfatizando a palavra trabalho para que saiba que estava falando
sério sobre onde eu estava. – Não brinco com você há quatro dias.
Não quero que você esqueça como é para mim tocar em você.
Seu rosto fica vermelho e o rubor espalha por seu pescoço
elegante.
Colocando minha mão em suas costas, eu a guio para casa e
aproveito o momento para correr meus dedos sobre sua bunda
perfeita.
Eu a conduzo para o quarto dela, decidindo que vou voltar para o
meu depois para trancar a porta. Ela não viu de onde saí antes.
Melhor assim. A noite em que eu decidir mostrar a ela meu quarto
será a noite em que ela vai ficar lá e se mudar para a minha cama.
Eu a acompanho até o banheiro e inalo o aroma doce de
morangos e baunilha. Senti esse perfume outro dia, mas é mais
forte dentro do banheiro.
Fecho a porta assim que entramos. Ela se vira para mim,
hesitante, e seus olhos me observam enquanto percorrem meu
corpo.
Nervosa, ela junta as mãos. Sei que uma questão importante
pesa sobre sua cabeça. Quando vou transar com ela?
Estou surpreso comigo mesmo que ainda não o tenha feito. Não
vou dizer nada. Isso aumenta o mistério, amplia o desejo.
– Tire a roupa – exijo.
Ela me obedece de primeira.
Eu gosto que ela tenha se tornado submissa. Ou talvez não seja
isso. Talvez seja que ela queira. Talvez ela queira isso tanto quanto
eu.
Ela tira o top primeiro. Meus olhos vão direto para seus mamilos
apertados e o volume de seus seios, redondos e perfeitos com as
pequenas pontas rosadas implorando para serem chupadas.
Ao abaixar para empurrar a calça do biquini pelas pernas, seu
cabelo molhado cai sobre seu rosto e seus seios balançam. Quando
ela se endireita, aquele olhar incerto volta. Suas mãos tremem
quando olho para sua boceta bonita ali, esperando para ser tomada.
Dou um passo à frente. Ela dá um passo para trás, olhando para
mim com medo.
Eu sorrio e deslizo um dedo ao longo de sua mandíbula.
– Já te disse. Não sou esse tipo de monstro. Não vou te
machucar.
– Por que eu deveria acreditar em você?
Eu me aproximo, pressiono meus lábios em sua bochecha,
depois em sua orelha.
– Principessa, acredite em mim porque não lhe dei nenhuma
razão para não acreditar. Você está na minha casa há quase uma
semana. Se fosse esse tipo de monstro, teria te fodido do jeito que
eu queria naquela primeira noite.
Eu sei que ela está molhada. Se eu enfiasse um dedo na sua
boceta apertada agora, sei que estaria molhada por causa das
minhas palavras sujas. Quando me afasto, ela tenta reafirmar seu
desafio, mas falha. Eu sorrio para mim mesmo.
Desabotoou minha camisa e a deslizo pelos meus ombros. Eu
tiro minhas calças em seguida, junto com meus sapatos e meias. A
curiosidade em seu rosto enquanto ela me observa ao me despir é
demais. Ela assiste com fascínio, mas tenta esconder. Sua
fascinação fica ainda mais evidente quando sobra apenas minha
cueca. Empurroa peça por minhas pernas e meu pau se projeta
livre, perfeitamente ereto e pronto para fodê-la.
Ela está olhando fixamente para onde quero que olhe. E espero
que responda afirmativamente à minha próxima pergunta.
– É a primeira vez que vê um homem nu, Emelia?
Seus olhos encontram os meus.
– Sim – responde, hesitante.
Isso soa como música aos meus ouvidos.
Ainda tenho dúvidas sobre aquele melhor amigo dela. Não sei
muito sobre ele fora do que li no relatório de investigação. Mas,
tenho a sensação de que ele queria mais do que amizade com ela.
Olhando para ela, não sei que homem vivo não iria querer.
– Venha aqui.
Ela se aproxima. Abro a porta do chuveiro e a guio para dentro.
Entro e abro a torneira deixando um spray leve borrifar sobre nós.
Colocando minhas mãos de cada lado dela, vejo a água escorrer
pelo lado de seu rosto.
– O que estamos fazendo? – ela pergunta. – O que você está
fazendo?
– Um homem não pode tomar banho com sua futura esposa,
especialmente depois de um longo dia de trabalho?
– Você não tem Gabriella para isso? – ela acusa.
– Não. Já disse que não sou mentiroso, então pare de perguntar
sobre ela. Você é uma garota esperta, Emelia — provoco e passo a
mão pelo meu cabelo molhado. – Sabe quem eu sou. Sabe muito
bem se quisesse Gabriella, não estaria no chuveiro nu com você.
Sabe muito bem que estou exatamente onde quero estar.
Quando me afasto e olho para ela, consigo a resposta que
desejei a porra do dia todo. Ela me quer também. Queria que
Riccardo estivesse aqui para ver como sua filha olha para mim
agora. Não preciso tomar nada dela. Ela quer me dar.
Pego sabonete em gel e a toalhinha, esguicho o gel no pano e
esfrego seus seios, tirando a areia de sua pele. Ela se vira quando a
encorajo a ficar de frente para a parede e eu corro o pano pelas
suas belas costas.
– Por que trabalha tanto? Por que, se não precisa? – pergunta.
Demoro na parte baixa de suas costas, olhando para sua pele
lisa.
– Isso tira minha mente das merdas – respondo, compartilhando
um pequeno pedaço de mim.
– Que tipo de merdas?
Afasto seu cabelo do caminho, empurrando-o por cima do
ombro.
– Merdas com as quais espero que você nunca tenha que lidar –
Há muito mais a dizer do que isso. Mas, não o faço.
Ela olha por cima do ombro, me encarando.
– Isso não me diz nada. Vai ser sempre assim? Você vai sumir
por dias e me deixar sem saber onde você está, só porque tem
umas merdas na sua mente?
Sua pergunta me surpreende. Eu paro e a viro para me encarar.
Ela pressiona as costas contra a parede, seu olhar grudado no meu.
– Não, não vai ser assim.
– Como será, então? Imagino que vou receber ordens como uma
criança e ficar confinada aqui como um animal esperando o retorno
de seu dono.
Eu mereço isso.
Mais uma vez, ela atinge o alvo. O mesmo que me fez me sentir
um idiota depois que lhe dei o anel. É como se ela trouxesse à tona
a pessoa que eu era antes de conhecer a escuridão. A pessoa que
eu tento reprimir o tempo inteiro.
– Não, não vai ser assim. Vou te levar aonde quer que eu vá.
Aqui em Los Angeles ou na Itália.
Seu rosto se ilumina com a menção da Itália.
– Você me levaria para a Itália?
– Sim. Vou te exibir para que as pessoas saibam que você é
minha.
– Ah, sim, claro, a esposa troféu – ela zomba. – O objeto que
tirou do meu pai. Você me exibiria para que as pessoas soubessem
que você o conquistou – completa com sarcasmo.
Abaixando minha cabeça novamente, eu pairo a centímetros de
seus lábios.
– Não – pareço um eco. – Não é por isso que iria te exibir,
Emelia. Faria isso porque você é o tipo de mulher que deve ser
exibida.
Ela pisca, antes de se concentrar em mim, surpresa com minhas
palavras. Seus olhos ficam arregalados, menos cautelosos, quanto
mais ela me encara. O brilho de seu desejo cintila.
Meus olhos caem para seus lábios novamente. Desta vez, olhar
para sua boca carnuda me faz pensar em beijá-la. Tomar seu
primeiro beijo, roubá-lo.
Ou talvez ela me dê de bom grado.
Quando desço em direção aos seus lábios, a inocência em seus
olhos desaparece e a linda mulher se move em minha direção
também.
Chapter
Dezessete
Q
EMELIA
uando vi Massimo na praia, lembrei logo dos meus planos de
fuga. Tinha que fazê-lo confiar em mim, abrir a porta para minha
liberdade.
Todas as ideias que tive nos últimos dias voltaram à minha
mente e vi minha chance de colocá-las em prática.
Estava jogando esse jogo, com esse objetivo, até que ele disse
as palavras mágicas.
Você é o tipo de mulher que deve ser exibida.
Foi isso que ele disse. E quando falou, desejo cintilou nas
profundezas de seus olhos, cativante e magnético, me atraindo
como se fosse uma isca. Não pude mais conter minha curiosidade,
nem a atração que sinto por ele. Não me sinto mais como aquele
‘nada’ que ele disse que eu era na noite em que me deu o anel.
Agora, tenho ele diante de mim, a poucos centímetros de
distância dos meus lábios, esperando que eu lhe dê meu primeiro
beijo. Algo que sei que ele poderia roubar. Algo que ele poderia
facilmente tirar de mim.
O que vejo é uma porta. Uma porta para abrir o caminho para
minha fuga. Posso ser dele, levá-lo exatamente até onde quero para
depois ir embora. Como Candace sugeriu. Fugir e nunca mais olhar
para trás.
A porta está aberta, mas o que vejo lá dentro, naquele caminho
que poderia ser minha liberdade, é outra coisa que me atrai e atiça
minha curiosidade. Vejo desejo, o desejo dele por mim. Ele me quer.
Isso é o que eu vejo.
Massimo me quer, e não porque queira foder com papai, ou
mesmo foder comigo. Nunca tive um homem como ele olhando para
mim desse jeito. E nunca consegui olhar para alguém e enxergar tão
claramente o que a pessoa deseja.
Esse pensamento envia um arrepio de excitação que atravessa
meu corpo como espirais de prazer. Acendem meus nervos e um
calor selvagem se espalha por todo o meu ser.
Ele se aproxima ainda mais, me chamando para ir até ele.
Quando o faço, tudo desaparece da minha mente, exceto o desejo
de prová-lo.
Sou eu quem elimina o espaço entre nós. Eu que dou a ele meu
primeiro beijo.
Quando meus lábios tocam os dele, minha alma pega fogo.
Massimo é proibido para mim. É meu inimigo, meu captor. Mas,
quando nossos lábios se encontram, parece que nada disso
importa. É como se eu sempre tivesse pertencido a ele.
O prazer desperta a paixão, forte e implacável, tornando o beijo
mais exigente. Em um piscar de olhos, estou faminta por ele. É
quando perco a cabeça.
A luxúria queima meus neurônios e solto um gemido dentro de
sua boca, dura e exigente. Ele aproveita para sugar minha língua e
a paixão queima minhas veias.
Estamos nos beijando. Nos beijando para valer e não quero que
ele pare nunca. Quero que continue me beijando para sempre.
Quando Massimo agarra minha nuca e aprofunda o beijo, também
não quero que ele pare de me tocar.
Eu o saboreio mesmo sabendo, no fundo, que não deveria
gostar deste momento proibido, roubado.
Suas mãos percorrem meu rosto, descem pelo meu pescoço, até
meu peito. Ele aperta meus seios, me fazendo gemer tão alto que
fico envergonhada.
Minha carne nua toca a dele e, quando o beijo, sinto como se ele
fosse meu. Sinto como se Massimo também me pertencesse. Nunca
imaginei que meu primeiro beijo seria assim.
E todas as vezes que imaginei como seria beijar Massimo, nunca
pensei que me sentiria assim. Como se parte de mim tivesse
enlouquecido. Ao mesmo tempo, a outra parte de mim o deseja
tanto que dói.
A dor brota bem dentro do meu ser e espalha, em cascata pelo
meu corpo, me fazendo querer cada vez mais. Só não sei
exatamente o que quero.
Nós nos beijamos até que o mundo, e todos nele desaparecem,
ficam em segundo plano. A única coisa que sinto agora é prazer,
uma vontade frenética de me entregar a ele. Essa necessidade crua
parece atingi-lo também. Mas, ao invés de me reivindicar, ele se
afasta, quebrando nosso beijo.
Massimo me encara, tão atordoado quanto eu. Sustento seu
olhar, sem saber o que dizer.
Também não sei o que espero que ele diga. Ou faça. Mas, com
certeza, não esperava o que elefaz a seguir. Seu rosto endurece e
ele se torna aquela fera de novo. O Massimo com quem estou
acostumada. Não o homem a quem acabei de dar o meu primeiro
beijo.
Ele se afasta, me deixando ali, de pé. Não sei o que fiz de
errado. À medida que a realidade retorna, também não entendo o
que diabos acabou de acontecer.
Emoções conflitantes apertam meus pulmões, correm pelo meu
corpo. O efeito poderoso entorpece minha mente. Isso me diz que,
embora adorasse mentir para mim mesma e acreditar que esse
beijo foi apenas um beijo, sei que não é verdade.
Nesse instante, um pensamento me atinge com a força de um
furacão. Será que sinto mais do que mera atração por Massimo? E
como diabos isso aconteceu?
Mas, o que será que ele sente? Afinal, ele me deixou aqui
sozinha.
Por quê?
M�� ����� � ����� ����. As cenas daquele beijo no chuveiro
ficaram passando em minha mente como um looping. E foi a
primeira coisa que lembrei quando acordei esta manhã.
O beijo deveria ser apenas isso, um beijo.
Mesmo que fosse meu primeiro, não deveria significar nada para
mim ou carregar qualquer tipo de sentimento por causa da nossa
situação.
Não deveria gostar de nenhuma parte desse arranjo maluco que
Massimo e eu temos. É um contrato de merda com o qual tenho que
viver o resto da minha vida.
Viver com isso. Ou tentar escapar.
Fugir.
Eu não consigo viver assim. Eu certamente não posso viver com
um homem volátil que muda de humor como o vento e que não
consigo entender. Mas, agora compliquei tudo para mim mesma
porque minhas emoções me traem toda vez que estou com ele. Não
houve fingimento ontem. Tudo o que fiz com ele foi real. Então,
como posso começar a fingir agora?
Talvez o melhor a fazer seja deixar que as coisas aconteçam. É
assim que ele pode começar a confiar em mim. E, como duvido que
consiga isso antes do casamento, acho que tudo acontecerá de
acordo com seu grande plano. Terei que me casar com Massimo e
me tornar o símbolo da derrota do meu pai.
Queria conversar com papai. Eu sei que isso faz pouco sentido.
Afinal, tudo já foi dito e feito. Mas, sinto que preciso de mais
contexto. Gostaria de poder falar com ele longe de tudo isso, longe
de todo mundo. Não sei se ele me contaria alguma coisa, mas
tentaria tirar dele o que pudesse. Minha única chance de fazer isso
será no evento beneficente. E não sei se Massimo vai me permitir
falar com papai.
Deus, tudo isso é uma merda.
Não sei o que fiz para merecer isso. É tão injusto.
O dia passa enquanto eu me sinto como um fantasma vagando
pela casa. Quando a noite cai, começo a me perguntar onde está
Massimo. Começo a acreditar que ele passou as noites com
Gabriella. Até o nome dela é típico de uma mulher fatal. Gabriella.
Senhor! Pareço uma idiota.
Engulo em seco quando o pensamento dele na cama com ela
aperta meu coração de uma forma que eu odeio.
Sinceramente, estou com ciúmes. Estou, confesso. E odeio
admitir isso, mas caramba, sei que estou, e mentir para mim mesma
nunca acabou bem para mim.
Estou com ciúmes porque Gabriella parece ser o tipo de
Massimo. Tenho ciúmes de seu corpo perfeito e, acima de tudo,
ciúmes porque ela parecia saber exatamente o que fazer com um
homem como ele, parecia saber como agradá-lo na cama. Não
como eu que nunca tinha visto um pau até ontem.
Às dez, sentada na varanda do segundo andar, fico olhando para
a praia, imaginando onde Massimo estaria. Eu sou tão estúpida. Ele
poderia estar aqui com Gabriella e eu nem saberia. Eu nunca sei
merda nenhuma.
Nem descobri onde é o quarto dele ainda. Durante meu tour pela
casa, essa parte foi deixada de fora. Há partes da casa que eu não
visitei. Ninguém disse nada sobre essas áreas. Eu as notei, mas
não me aventurei por lá, nem mesmo sozinha. Presumi que as
portas estariam trancadas de qualquer maneira.
Eu me viro quando ouço passos e vejo Candace se
aproximando, carregando um pratinho com biscoitos.
– Oi, tudo bem? Estava torcendo para que não estivesse aqui,
daí teria uma desculpa para comer tudo isso sozinha.
Eu sorrio, meu primeiro sorriso sincero do dia.
– Pode comer, não estou com fome.
– Não, eu não gostaria de ser esfomeada ou mentir para Priscilla
– brinca antes de ficar séria. – Você não desceu para o jantar e nem
deu muito as caras o dia todo.
– Estava vagando por aí – respondo. Sei que não posso falar
com ela sobre o que conversamos na praia. Não dentro de casa.
Essas paredes, com certeza, têm ouvidos.
Ela me dá um olhar preocupado, coloca o prato na mesa e se
senta ao meu lado.
— O que está matutando nessa sua cabeça, Emelia? – pergunta
em voz baixa.
– Todos os tipos de coisas – respondo, baixando minha voz
também.
– Daquilo que falamos outro dia?
– Sim, isso.
– Eu realmente não posso falar aqui – balança a cabeça.
– Eu sei – concordo.
— Você vai prosseguir?
– Eu quero. Seria estúpido não tentar. Mas, não sei o que pode
acontecer.
– Isso é, definitivamente, algo para se preocupar. Parece que
Massimo está começando a confiar em você — ela aponta.
– Você acha?
– Acho. No entanto, se houver alguma dúvida em sua mente,
não faça nada – ela adverte.
– Não vou fazer. Além do mais, – baixo a voz e olho para o
jardim, onde vejo Manni acendendo um cigarro – sempre tem
alguém me observando. Vai ser difícil saber quando as coisas vão
finalmente se acalmar.
Neste exato momento, parece que isso nunca vai acontecer.
– Eu pensei em te fazer companhia. Mas, nas poucas vezes em
que te vi, parecia que você queria ficar sozinha.
– Não, teria sido bom te ver – o pensamento de perguntar a ela
sobre o paradeiro de Massimo invade minha mente. – Candace,
onde ele está?
– Massimo pode estar em qualquer lugar. Ele é assim. Às vezes
fica aqui por muito tempo. Depois, some.
– Onde ele vai quando some? Havia uma mulher aqui outro dia
chamada Gabriella. Ele está com ela?
Um sorriso puxa para cima os cantos de sua boca, e ela levanta
as sobrancelhas.
– Emelia, você está preocupada com ele estar com Gabriella?
Minhas bochechas coram. Eu sou tão boba. Devo parecer tão
óbvia perguntando a ela algo assim.
– Só queria saber.
– Vou te contar o que você precisa saber sobre Gabriella: nada.
Ela significa problema. Fique fora do caminho dela. Com certeza,
ela ouviu sobre o casamento e por isso veio aqui no outro dia. Se
você a encontrar, nem converse com ela.
– É que... – começo dizer, mas Candance me interrompe.
– Não, Emelia, confie em mim. Tem coisas que quanto menos
souber, melhor. Então, concentre-se no que você mais quer e siga
em frente. Não sei se ele virá para casa esta noite, então não
espere acordada. Por favor, não me pergunte mais do que isso.
Chame se quiser comer mais alguma coisa.
Enquanto ela se afasta, meu estômago dá um nó por causa da
maldita ansiedade que está me corroendo por dentro.
Candace disse para focar no que mais quero e começar desse
ponto. Minha liberdade deveria ser o que mais quero acima de tudo.
Mas ontem, meu corpo queria Massimo.
Eu o queria e não parei de querer.
Essa parte de mim quer ceder ao meu lado negro.
Por mais que eu queira minha liberdade, agora que experimentei
o gosto de Massimo D'Agostino, quero mais.
Chapter
Dezoito
D
MASSIMO
ominic deposita sua cerveja na mesa e sorri para mim.
Estamos bebendo, mas não o suficiente para ficar bêbados.
Tento não beber muito quando estou no Renovatio e,
definitivamente, não bebo quando tenho que ir de moto para casa.
Quando estou aqui, fico sempre alerta, é algo que sinto que preciso
fazer, já que meu clube atrai todos os tipos de homens. Os que vêm
só curtir as mulheres nuas e os que vêm para me espionar.
Estamos sentados no meu camarote, de onde posso ver tudo o
que acontece: as garotas no palco fazendo strip-tease; a multidão
habitual de empresários ricos e sofisticados; e os outros tipos que,
só pela aparência, sei que são perigosos.
O meu pai ficou chateado comigo quando abri este lugar. Ele
detesta o clube e tudo o que representa. Ele disse que combinava
mais com Dominic ou Tristan do que comigo. Contudo, entre nós
três, sou o mais selvagem em se tratando de mulheres. Minha
desculpafoi que o clube me ajudava a relaxar.
O que poderia ser melhor do que ter um número infinito de
mulheres para foder quando quisesse? Costumava estar sempre
aqui, com aquele número infinito de mulheres, sempre dispostas a
me agradar. Algumas ainda estão por aqui. Estão aqui esta noite e
me observam com olhar faminto, esperando que esta seja a noite
em que voltarão para minha cama.
Sempre escolho as melhores garotas com peitos grandes e
bundas grandes. São todas lindas e, mais importante, não têm
medo de tirar a roupa e deixar alguém fodê-las, se for preciso. Meu
clube oferece serviços do tipo picante. Não é um clube de sexo
explícito como o Dark Odyssey que meus amigos Giordanos
possuem em Chicago, mas oferecemos salas especiais, com
garotas especiais, que não se importam de receber um extra para
deixar o cliente feliz. É um paraíso de bocetas.
Eu vim aqui hoje só para me distrair dos problemas e pensei em
chamar Dominic porque ele está sempre aqui de qualquer maneira.
Dizem que a melhor maneira de tirar uma mulher da sua mente é
fodendo outra. No entanto, ninguém diz o que raios fazer quando
você não consegue nem pensar em foder outra mulher que não seja
aquela que não sai da sua mente.
Não tenho me sentido eu mesmo desde que deixei Emelia no
chuveiro, dois dias atrás. Estou distraído, com a cabeça na lua,
ainda sob o efeito daquele beijo.
Um maldito beijo que despertou algo no meu coração que
deveria ser gelado.
Enquanto seus lábios macios se moviam contra os meus, tudo
que queria fazer era possuí-la, reivindicar seu corpo doce, inocente
e proibido, chamá-la de minha. Essa fome voraz me arranhou por
dentro, me fez querer empurrá-la contra a parede e fodê-la até nós
dois perdemos os sentidos.
Eu nunca perdi o controle das minhas emoções assim antes.
Isso é perigoso porque prova que ela tem poder sobre mim.
Poder. Esse foi o problema. Houve uma troca de posições de
poder. Naquele momento, eu me entreguei a ela e sucumbi à
paixão, à necessidade que sinto dela.
Necessidade e desejo são duas coisas diferentes. Eu posso lidar
com o fato de que a desejo. Ter necessidade dela é algo que me
surpreendeu e rasgou o véu que me protegia da realidade.
Dominic agita sua mão na frente do meu rosto, me tirando do
devaneio.
– Jesus, irmão, você está a quilômetros de distância – diz ele.
– Desculpe. Estava só pensando.
– Meio óbvio. Estava te dizendo que vou continuar vasculhando
as ruas –afirma, jogando os ombros para trás. – É apenas uma
questão de tempo até que aquele idiota faça alguma coisa estúpida
e nós consigamos uma pista.
Estávamos falando sobre Vlad. Tentei escutar e acompanhar a
conversa, mas minha maldita mente está definitivamente a
quilômetros de distância.
– Obrigado, Dom, não sei o que faríamos sem você.
Eu me pergunto isso às vezes, porque sei que a realidade é que
estaríamos voando às cegas a maior parte do tempo.
– Não esquenta. Você sabe que fico feliz em ajudar.
– Eu sei.
Talvez não devesse colocar toda a minha confiança nele, mas
em tempos como estes, não posso evitar. Especialmente por causa
da experiência de Dominic. Ele se formou no MIT pelo amor de
Deus! E saiu com dois diplomas! Sendo que o segundo, só tirou
porque achou o primeiro fácil demais e precisava preencher o tempo
com outra coisa. Porra, não conheço ninguém que faria uma merda
assim. Estudei em Stanford e fiquei bem satisfeito em tirar um
diploma, o de negócios.
– Eu só queria que a situação fosse diferente – acrescento.
– Não posso discordar. Não estamos em uma boa situação,
Massimo. Odeio quando a merda está virando uma pilha, mas não
temos pistas para seguir. Ao menos sabemos que há problemas no
horizonte, mesmo que não saibamos o que é.
– Sim, bem colocado.
Ele me olha com curiosidade e inclina a cabeça para o lado.
– Massimo, por mais que goste de passar um tempo contigo,
você não é de falar de negócios aqui, desse jeito.
Tomo um gole da minha cerveja e coloco a garrafa ao lado da
dele.
– Queria uma paisagem diferente.
Minha resposta soa como uma puta desculpa esfarrapada e
tenho certeza que Dominic enxerga isso.
– Não diga! – retruca ele.
– Digo.
– O que há de errado com a vista na sua casa? Até onde sei,
você tem uma mulher linda para olhar – provoca ele, rindo.
– Por favor, não me lembre disso.
– Por que diabos não?
– Há coisas mais sérias com que me preocupar do que ela.
– O que aconteceu? – pergunta com os olhos apertados, indo
direto ao ponto.
– Nada.
Olho para o palco quando um grito alto ecoa no ar.
Donna, minha melhor stripper, acabou de se despir e está
correndo pelo centro do palco para dar um show aos homens da
plateia.
Posso visualizar os caras correndo até a bilheteria para agendar
uma lap dance com ela.
Desvio meu olhar e encontro o de uma morena que está de olho
em mim desde que cheguei aqui. Ela está no palco também, acabou
de tirar o sutiã, e seus seios enormes balançam enquanto suas
mãos acariciam o ferro do pole dance atrás dela, como ela faria se
estivesse segurando meu pau. Isso deveria me excitar, mas não
acontece nada. Isso porque minha mente fodida só pensa na porra
da minha futura esposa.
Soltando um suspiro de frustração, volto meu olhar para
Dominic. Estou prestes a levar nossa conversa de volta para Vlad,
mas cerro os dentes quando vejo Candace subindo os degraus que
levam ao camarote. Ela carrega uma pasta de plástico na mão.
Merda. A única pessoa que odeia este lugar mais do que papai é
ela. Então, não sei por que está aqui.
Usando um vestido de verão, ela parece bem diferente do
habitual. De resto, continua igual. Seu cabelo está trançado de lado,
como sempre. E a cara feia de desaprovação, que se apossou de
seu rosto bonito desde que Emelia chegou, também continua a
mesma. Ou talvez mais intensa.
Dominic se vira para ela e não perco a secada que ele dá nela,
nem a maneira como senta com a coluna mais reta, como se
estivesse tentando esconder sua atração por ela. Eu não sei se ele
sabe que eu noto toda vez que faz isso. Ou que ele faz isso há mais
de uma década.
A última vez que Candance veio aqui, ficou uma semana sem
falar comigo. Ela nunca concorda em me encontrar aqui quando
sugiro. Quando chega perto de nós, olha para a stripper no palco,
olha de volta para mim e balança a cabeça. Não sei por que ela olha
para mim como se esperasse mais de mim. Ela cresceu comigo,
então meus segredos e apetites sexuais não são novidade para ela.
Eu a trato de forma diferente dos outros, mas isso é porque ela é
quem ela é.
– Buonasera, Anjo – Dominic deseja boa noite em italiano,
inclinando a cabeça. Ele a chama de Anjo desde que éramos
crianças. Às vezes, ela parece adorar o nome carinhoso porque,
não que ele tenha notado, mas ela também gosta dele. Em outros
momentos, como agora, ela parece irritada. – Como você está nesta
bela noite? – acrescenta ele.
– Não me venha com essa, Dominic D'Agostino.
– Baby, você parece brava comigo. O que eu fiz? Estou apenas
sentado aqui tomando uma cerveja com meu irmão – estende as
palmas das mãos, fingindo inocência, e ela revira os olhos para ele.
– Você não poderia ter escolhido um local melhor? – Ela lança
um olhar mortal para ele.
Candace tem uma personalidade submissa, sempre respeitosa
conosco. Mas, às vezes, muda da água para o vinho e mostra que
tem fogo ardendo por baixo de toda sua doçura. Isso costuma
acontecer sempre que um de nós faz algo para decepcioná-la.
– Candace, o que está fazendo aqui? – corto a conversa para
salvar meu irmão de ter que responder àquela pergunta.
– Você deveria ter retirado isso na igreja hoje – ela responde,
praticamente enfiando a pasta nas minhas mãos. – Precisa assinar
e enviar tudo por fax para o padre De Lucca até amanhã de manhã,
se quiser que a igreja seja reservada para o casamento. Ele tentou
falar com você o dia todo.
Bosta. Esqueci totalmente que deveria ter me encontrado com
ele.
– Obrigado, vou resolver isso. Sei que não gosta deste lugar.
Não precisava ter vindo aqui para me dar isso – levanto uma
sobrancelha.
– Massimo, você sumiu da face da terra. Além disso,não queria
ser eu a estragar seus planos. Ainda mais quando você me pediu
para cuidar de Emelia.
À menção de Emelia, meu estômago se aperta.
– Ela está bem?
– Tá tirando uma, Massimo? Por falar nisso, o mínimo que
deveria fazer era avisar Emelia quando for sair com Gabriella.
– Eu não estava com ela – respondo.
– Claro que não – a voz dela destila veneno. – Não sei quem
pensa que está enganando. Certamente não a mim. Aliás, não
tenho tempo para tolices. Meu carro quebrou e preciso passar na
lavanderia para pegar minhas roupas antes que feche.
– Eu te dou uma carona, Anjo – Dominic oferece, já se
levantando.
– Não quero atrapalhar sua diversão com o show – Candace
retruca.
– Nem estava assistindo. Estava mesmo de saída para chegar
cedo em casa e fazer minhas orações. Amanhã é Domingo de
Pentecostes.
Jesus! Tenho que fazer esforço para segurar o riso. Estou
surpreso que Dominic conheça o calendário cristão. Pelo menos, ele
fez Candace rir.
– Você sabe o quão ridículo você é? – ela retruca, batendo no
peito dele.
– É verdade, bebê. Deveria ficar orgulhosa de mim – ele ri. –
Vamos. Vou te comprar aquele chá que você gosta.
Antes que ela possa dizer mais alguma coisa, ele passa o braço
em volta dos ombros dela e a leva embora. Com um suspiro pesado
eu me levanto, decidindo sair também. Não adianta ficar aqui.
Subo na moto e volto para casa. São onze horas quando
atravesso as portas do meu escritório. Rapidamente, assino os
documentos e envio o fax para o padre De Lucca para não ter que
me preocupar com isso pela manhã. Quando termino, subo até o
quarto de Emelia. A princesa está dormindo. Puta merda, mas como
é gostosa! Está de camisola de seda e renda, deitada, sem coberta.
As últimas noites têm sido quentes demais e sua janela está
aberta. Uma brisa suave entra no quarto, acariciando seu corpo
gostoso do jeito que eu quero fazer.
Eu a encaro por alguns minutos, absorvendo sua perfeição,
notando a beleza que irradia dela, por dentro e por fora.
Quando me lembro da sensação de seus lábios nos meus, me
pego querendo prová-la novamente. Eu me pego querendo tocá-la e
saboreá-la, cada centímetro dela. Eu me pego querendo fodê-la até
não aguentar mais.
Isso seria tão fácil. Tudo que eu preciso fazer é acordá-la e
colocá-la de quatro na cama.
Então, o que está me impedindo de transar com ela?
O que estou esperando? Afinal, nós dois queremos isso. Porra,
desde quando eu penso nesses detalhes?
É porque ela é virgem e sei que um demônio como eu não
merece sua inocência.
Sei que, apesar de querê-la tanto que dói, a parte de mim que
sentiu compaixão por ela no baile de caridade voltou para me
atormentar e foder com minha cabeça. Eu sei que ela não merece
nada disso. Mas, o filho da puta egoísta que sou não vai desviar um
centímetro dos planos que tracei.
Caminho para o assento na janela e me sento, descansando as
costas contra a parede. Faço a mesma pergunta que ela me fez no
chuveiro. É assim que vai ser?
É isso que eu quero? Sou homem suficiente para admitir que,
embora tivesse sido sincero na minha resposta, assim que falei
aquelas palavras, sabia que queria que ela fosse minha
independente de qualquer contrato.
Eu olho para ela agora diante de mim, como a virgem que é,
deitada na cama pronta, para eu a reivindicar. E ainda quero agora o
mesmo que antes.
Ela.
Chapter
Dezenove
A
EMELIA
cordo quando sinto a presença de alguém no quarto comigo.
Estava tão cansada ontem à noite que adormeci no segundo
em que minha cabeça encostou no travesseiro. Quando abro os
olhos, encontro o homem em quem estava pensando antes de
adormecer.
Massimo está sentado junto à janela como estava na semana
passada. As únicas diferenças são que está completamente vestido
e, em vez de me observar, está olhando o nascer do sol pela janela.
Ele segura algo brilhante nas mãos que circula entre os dedos.
Eu não tenho certeza do que dizer a ele quando afasta o olhar
da janela e pousa em mim. Então, sento na cama e tento adivinhar
por que ele está aqui.
É para brincar comigo de novo?
Ou me deixar maluca?
Deus sabe que estou ficando louca imaginando onde ele esteve
esses dias e noites. Nem vou perguntar, porque agora não quero
ouvir a resposta.
– Bom dia – digo, quebrando o silêncio tenso.
– Não – responde ele.
Estreito meus olhos.
– Não o quê? Estava só te dizendo bom dia. Apesar de que
ainda não é bem de manhã.
Olho para o céu negro onde raios vermelhos do sol que se
aproxima ameaçam atravessar a escuridão.
– Eu sei o que você estava dizendo e eu quis dizer que não vai
ser um bom dia – aponta para a janela e balança a cabeça. –
Nascer do sol vermelho significa que o dia à frente será perigoso.
Céu vermelho à noite, os marinheiros ficam encantados; céu
vermelho pela manhã, os marinheiros ficam preocupados.
Eu o encaro tentando descobrir por qual porta desta louca
dimensão alternativa eu acabei de passar. Ele está falando comigo
como uma pessoa normal e não sinto aquela angústia que
normalmente pesa no ar entre nós.
Enquanto ele me observa, sinto que poderíamos ser apenas
duas pessoas conversando.
– Eu nunca ouvi isso antes.
– É verdade. É uma rima de marinheiro – desvia o olhar e joga
uma moeda para cima.
Era isso que ele tinha na mão. Não parece uma moeda normal.
Parece mais algum tipo de runa.
Algo me atrai para ele e me vejo saindo da cama. Quando
caminho até ele, tenho sua atenção completa e seu olhar percorre
meu corpo, trazendo de volta aquela vibração sexual que não
consigo resistir.
Sinto como se estivesse me aproximando de uma fera a cada
passo que dou, mas continuo indo em direção a ele e sento à sua
frente no parapeito da janela.
– O que é isso? – pergunto, referindo-me à moeda. – É uma
runa?
– Sim. Minha mãe me deu. É como um talismã. Supostamente
protege quando se está nas águas.
– Quando você consegue velejar? Você está sempre no trabalho
ou por aí.
– Todo último domingo do mês. Fico fora uma semana no veleiro
grande.
– Você leva alguém com você?
– Sim.
Minhas bochechas queimam quando eu o imagino com Gabriella
no barco.
– Entendo – eu resmungo e desvio o olhar.
– Meus irmãos – diz ele e eu olho de volta para ele. – Não
permito mulheres nesse barco. Dá azar.
– Você realmente acredita nisso? – sorrio para ele.
– Ainda não testei, nem pretendo arriscar. Sou marinheiro à
moda antiga. Eu não acredito em desafiar o mar ou o destino.
– Então, vai desaparecer por uma semana e não vou saber onde
está?
– Vai sentir minha falta? – sua pergunta soa como um desafio.
– Não – respondo, mas nem eu não acredito nessa resposta.
Claro que ele também não.
Seu rosto se torna severo e nós nos encaramos. Seus olhos
estão tão cautelosos que não consigo dizer o que ele está
pensando.
Massimo rompe nossa conexão colocando a moeda no bolso.
Quando olha para mim novamente, a mesma luxúria que
transbordava em seus olhos no outro dia está de volta, me
permitindo um vislumbre de seus sentimentos.
– Venha aqui – comanda, estendendo a mão para mim.
Minha respiração trava. Novamente, o caminho se abre para
ganhar sua confiança. Mas, não penso nisso quando vou até ele.
Ele me agarra, me puxa para seu colo. Então, antes que possa
recuperar o fôlego, ele segura minha nuca, entrelaçando os dedos
em meu cabelo e posicionando minha cabeça para que ele possa
me guiar até seus lábios.
Lembrando do gosto dele, vou com a mesma vontade da
primeira vez.
Quando nossos lábios se encontram, meu cérebro se esvazia.
Nossas línguas se enroscam e se provocam e quero que ele me
possua. Nossos corpos se tocam e tenho novamente aquela
sensação de nunca querer que ele pare de me tocar.
Quando ele se afasta, eu me preocupo se vai fazer a mesma
coisa que fez no chuveiro.
– Relaxe, princesa, quero mais de você esta manhã. Muito mais
– ele provoca, lendo minha expressão.
Sinto que a hora chegou. Ele quer roubar a última parte de mim
que resta para ele pegar.
Roubar.
Tomar.
Ele não pode roubar algo que estou dando a ele.
Ele me pega no colo, me leva até a cama onde deixo que tire
minha roupa.
Massimo tira sua camisae volta aos meus lábios. Eu corro meus
dedos por seu cabelo. Ele trilha um caminho dos meus lábios até
meus seios, chupando os mamilos duros enquanto sua mão viaja
até minha boceta, onde enfia dois dedos.
– Eu vou te foder com tanta força que não vai conseguir andar –
promete e uma onda de prazer me atravessa como um terremoto.
Ele está prestes a desafivelar seu cinto quando a porta se abre e
uma Priscilla muito chocada fica parada lá nos observando.
Rapidamente, pego o lençol para me cobrir e as mãos de
Massimo congelam sobre a fivela do cinto.
– Meu Deus, sinto muito – diz ela. – Não incomodaria se não
fosse urgente. Nick e Cory estão aqui e precisam falar com você.
– Vou sair em um minuto – responde Massimo e Priscilla nos
deixa, trancando a porta.
Massimo se afasta da cama e pega sua camisa. Quando ele a
veste e olha para mim, todo o meu corpo aquece.
O que vejo em seus olhos é o mesmo medo que sinto por
desejá-lo.
A diferença entre nós é que ele tem poder sobre mim e eu não
tenho nenhum sobre ele.
Eu me sinto ainda mais impotente quando ele se afasta,
deixando-me mais uma vez sem nada. Nada além do desejo por ele
que me enfraquece e tudo o que sou quando estou com ele.
Achei que era mais forte do que isso.
Mas, não sou.
J� ������ do meio-dia e não vou ficar mais um dia imaginando
onde está Massimo, nem esperando por ele.
No outro dia, decidi não ser um fantasma na casa, nem um
animal de estimação esperando o retorno de seu dono. Não farei
isso hoje; definitivamente, não depois do que houve esta manhã.
Já se passaram duas semanas inteiras desde que fui arrancada
da minha antiga vida. Duas semanas que deveria ter passado em
Florença. Deveria ter começado no verão em preparação para o
início oficial do ano escolar em seis semanas.
Estar nesta casa me deixou fora de sincronia comigo mesma.
Não ter uma rotina de atividades me forçou a entrar nesse estado de
espírito onde fico apenas esperando, em contagem regressiva.
Também não é como se algo bom fosse acontecer no final da
contagem regressiva. Como ficar livre, por exemplo.
No ritmo que as coisas estão indo, vou ficar presa aqui por um
tempo. Muito, muito, muito tempo. Não consigo nem planejar uma
estratégia de fuga que não signifique me meter em problemas piores
do que já tenho. Em todo lugar que olho, há um guarda.
Acabei de descer as escadas com meu bloco de papel e caneta
e vejo dois guardas no corredor, perto da porta da frente. Há mais
do lado de fora que vejo através das janelas de vidro. Estão ali
parados, como se eu fosse burra o suficiente para tentar passar
correndo por eles.
É um pensamento tolo, pois tenho certeza de que Massimo não
os colocou lá só por minha causa. Ele tem inimigos, e o que quer
que tenha acontecido que o fez sair correndo esta manhã é parte
integrante de quem ele é.
Esta manhã foi uma loucura e não vou tentar justificar minhas
ações. Eu não vou tentar negar, também, que eu queria que ele me
possuísse. E não vou chamar meu desejo de insanidade. Não sou
louca, não perdi a cabeça. O que perdi foi o controle das minhas
emoções.
Caminho até a sala de estar. Eu queria sair para o terraço e
desenhar a paisagem. Nada de especial, apenas a praia. O dia está
estranho, parece que vai chover. Um peso paira no ar em
antecipação da tempestade. Massimo estava certo. Céu vermelho à
noite, os marinheiros ficam encantados; céu vermelho pela manhã,
os marinheiros ficam preocupados.
Quando ele compartilhou isso comigo, parecia que algo mais
havia mudado entre nós, algo que me atraiu para ele. Algo tão
perigoso quanto a tentação mascarada de pureza destinada a me
enganar. Como uma tola, fui até ele.
Dou um passo para dentro da sala de estar e paro quando meu
olhar pousa em Gabriella sentada no sofá perto da porta que dá
para o terraço. Ela está folheando uma revista Vogue e parece em
casa com os pés para cima.
Olho para ela, raiva instantânea enche meu peito com sua
audácia. Ela abaixa a revista para olhar para mim com um sorriso
que um gato daria a um canário. Assim como no outro dia, ela
parece perfeita, e agora que a vejo de perto, não posso negar que
ela bem poderia estar na capa daquela revista.
Quando olha para mim, a realidade me dá um soco no estômago
soando alarmes de advertência me dizendo que esta é a mulher
com quem meu futuro marido passará seu tempo. Ela será a
amante. Ele estará na cama dela e eu não passarei de uma piada.
A ideia me atinge como um raio, mas acalmo meu coração
sabendo que não seria inteligente mostrar fraqueza ou insegurança
perto dessa mulher.
– Ora, veja quem apareceu – ela murmura com uma voz
açucarada. – Você não é a moça linda de quem todo mundo está
falando?
Cadela.
Eu temia este dia e parece que sabia que ela diria algo desse
gênero. Foi a sensação que tive quando a vi na praia com Massimo
e ela olhou para mim.
– Posso fazer algo para ajudá-la? – pergunto, mantendo meu
tom neutro.
Acho que é uma pergunta razoável, já que ela está aqui e
Massimo não.
Ela ri, para minha surpresa, e se endireita.
– Uau, você vai direto ao ponto. Gosto disso. Julgando pela
expressão de vadia que você está fazendo, suponho que saiba
quem eu sou.
– Eu sei quem você é; o que eu não sei é porque está aqui.
Lá vou eu novamente soando mais corajosa do que me sinto.
Pelo menos, minha voz não tremeu e eu pareço crível.
– Se sabe quem sou, deve saber que estou aqui para ver
Massimo. Ele e eu temos negócios inacabados que precisamos
discutir. Negócios que duvido que pessoas como você entenderiam.
Seu olhar de escrutínio me examina da cabeça aos pés. E ela
assume uma expressão como se já tivesse decidido que me
conhece por dentro e por fora.
Uma ideia terrível se forma em minha mente. Ela surge em
minha cabeça e atinge minha língua antes que eu possa me conter
ou refletir sobre ela.
– Tente. Talvez eu possa ajudar com esse assunto, já que ele
não está aqui.
Novamente ela ri. Desta vez, seu tom é mais zombeteiro.
– Você não pode me ajudar, Emelia Balesteri. O negócio de que
estou falando tem relação com sexo. Quando alguém monta pau há
tanto tempo quanto eu, quer ter certeza de que um homem como
Massimo consegue o que quer. Isso os faz voltar querendo mais.
A vontade de mandá-la embora incinera meu sangue. Não há
nada que eu queira fazer mais do que isso, porque seria tudo que
eu poderia fazer. Mas, esta casa não é minha. Posso morar aqui,
mas estar presa na casa não a torna meu lar.
A humilhação arranha meu peito por dentro. Queria conseguir
parar essa sensação, mas não tenho controle sobre ela, nem sobre
todas as emoções fodendo com minha mente neste instante. Já que
estou pensando em desejos impossíveis, queria que minha vida
fosse diferente.
– Deveria ver seu rosto – Gabriella provoca. – A pobre princesa
muda, sem saber como retrucar.
– Ah, acredite, não é nada disso. É que não costumo dar trela
para vadias.
O sorriso some de seu rosto e uma onda de triunfo corre pela
minha pele.
– Como ousa... — ela começa a dizer.
– Já chega – interrompe Massimo.
Gabriella e eu olhamos para a outra porta da sala onde Massimo
e Candace estão parados na soleira.
Gabriella se levanta com a graça de um felino, com um sorriso
satisfeito no rosto. Odeio o fato de que odeio o jeito que ela olha
para Massimo.
– Olá, meu amigo – ela ronrona e a expressão dele endurece. –
Não se preocupe, já vou embora. Gosto mais de você quando está a
fim de brincar.
Amigo.
Brincar.
É uma mistura de palavras e não tenho mais certeza de nada.
Mas, não sou estúpida de acreditar que ele nunca dormiu com ela.
– Eu acho melhor – ele responde.
Gabriella pega sua bolsa e caminha com a cabeça erguida e um
largo sorriso de vitória no rosto.
Eu a observo até que ela vira a esquina do corredor e eu não
posso mais vê-la.
Quando olho para Massimo, lembro desta manhã. Minha pele
fica vermelha com o calor das chamas sensuais e selvagens que me
queimaram quando ele me beijou.
– Candace, por favor, acompanhe Emelia para onde quer que
estava indo – ele diz e ela acena com a cabeça.
– Isso não será necessário, vou voltarpara o quarto – digo antes
que Candace possa se mover, e me afasto com um peso no coração
que faz minhas pernas parecerem chumbo a cada passo que dou.
Ele não é meu.
Foi isso que esse pequeno encontro me mostrou. Massimo não é
meu e não deveria desejar que ele fosse.
Eu não deveria ceder àquela parte de mim que assume o
controle sempre que estou perto dele. Isso está errado de tantas
maneiras. Tenho consciência disso. Da mesma forma que sei que
seria muito mais fácil odiá-lo se não o quisesse tanto.
Mas, eu o quero.
Chapter
Vinte
V
MASSIMO
olto para o meu escritório e me jogo na cadeira. Já passa das
nove da noite. Tarde para caralho para ainda estar trabalhando,
mesmo para um workaholic como eu.
Aquela visita de Nick e Cory ontem nos levou de volta às ruas
porque descobrimos que alguns dos homens com quem nos aliamos
foram vistos conversando com prováveis membros do Círculo das
Sombras.
Quando chegamos a eles, a maioria havia se espalhado, e os
dois que ficaram para trás não sabiam nos dizer merda nenhuma.
É tudo tão elaborado. Tudo feito de uma forma tão silenciosa que
nem homens como eu não conseguem chegar aos culpados. E
considerando quem eu sou, esconder alguma coisa de mim é quase
impossível.
Agora, estou aqui no escritório quando, na verdade, deveria
estar em casa. Tomei uma atitude covarde porque preciso pensar e
não consigo quando estou perto de Emelia.
Ontem foi um daqueles dias de altos e baixos e a visita de
Gabriella não ajudou. Não queria que ela encontrasse Emelia.
E aconteceu exatamente o que pensei que aconteceria. Exceto
pelo fato de que Emelia deu o troco à altura de uma forma que não
imaginei que faria. Na verdade, não deveria ter ficado surpreso
porque ela é uma lutadora.
O que me matou, porém, foi aquele olhar que ela me deu depois
que Gabriella foi embora. Tinha uma mistura de desejo e ódio
nascido da confusão do que sentimos um pelo outro e do que não
deveríamos sentir.
Uma batida na minha porta me surpreende. Todo mundo que
trabalha para mim já foi embora para casa.
– Entre – respondo.
Meu queixo cai ao ver quem está parada na porta.
– Gabriella, o que diabos está fazendo aqui?
É uma pergunta idiota. Sei exatamente o que ela quer, só de
olhar para ela. O mesmo que queria no outro dia. Voltar para a
minha cama. Voltar para meu pau. É por isso que ela estava em
casa ontem e por isso está aqui agora. Porra!
Ela sorri.
– Estava procurando você. Passei pela sua casa de novo e me
disseram que ainda estava trabalhando. Resolvi te trazer um alívio
para o estresse.
Ela senta-se no meu colo e me recordo da última vez que a
comi. Seus olhos verdes brilham com malícia quando ela passa a
mão pelo meu peito e esfrega a bunda no meu pau.
– Você está duro – diz ela, com um sorriso de satisfação.
– Não por sua causa – retruco.
– Não me importo, desde que esteja duro, é isso que conta – sua
voz baixa destila sedução como se fosse ondas.
Eu a encaro, prendendo seu olhar. É a segunda vez que, na
presença dessa mulher, penso se deveria mesmo dormir com ela.
Isso é novidade para mim. Um novo recorde.
Na primeira vez, na praia, estava puto da vida e num estado de
espírito estranho. Como estou me sentindo nesta noite?
Gabriella passa os dedos pelo meu peito, me tirando do estupor.
– Qual é? Vamos brincar um pouquinho – ela pede, abaixando a
cabeça para sussurrar em meu ouvido. – Deixe-me cuidar de suas
necessidades.
Eu deveria fazer isso. Foder Gabriella para tirar Emelia da minha
cabeça.
Talvez isso resolvesse. Talvez funcione se fizer sexo com ela e
não com uma prostituta qualquer que peguei no clube.
Se era para ficar com alguém, uma mulher que já considerei
minha no passado, com certeza, tiraria o desejo que tenho por
Emelia.
Mas, assim que penso isso, o lindo rosto de Emelia surge em
minha mente. A expressão de prazer em seu rosto quando eu a
toco. O olhar de adoração que ela luta para esconder. Mas esse
maldito olhar está sempre lá, mesmo quando a irrito.
Lembro de sua pele macia e da suavidade do seu beijo.
Emelia me deu seu primeiro beijo. Para mim, pareceu meu
primeiro também. Certamente, foi o único beijo que dei que me fez
sentir uma paixão arrebatadora.
Quando Gabriella passa a mão pelo meu peito de novo, fecho os
olhos. Ela segue para baixo até agarrar meu pau e me acariciar.
– Você tem camisinha? – sussurra em meu ouvido. Seus lábios
roçam meu pescoço.
– Sim – respondo, abrindo os olhos.
Minha voz soa distante, como se a escutasse na beira do vento.
Um sorriso de triunfo ilumina seu rosto.
– Então, me foda – pede ela.
Ela se inclina para frente e beija meu pescoço.
Quando seus lábios tocam minha pele, congelo novamente
pensando em Emelia. Não posso fazer isso. Não posso porque é ela
quem realmente quero.
Porra! Querer tanto ela assim não deveria ter acontecido. Mas,
eu a quero, e não consigo fazer nada com Gabriella, ou qualquer
outra, por causa disso.
– Gabriella, pare.
– Qual é o problema? – pergunta, endireitando-se no meu colo.
– Não vai rolar – respondo e a tiro de cima de mim enquanto me
levanto.
Eu me afasto dela, mas ela agarra meu braço. Eu a encaro de
uma forma que deveria lembrá-la de quem eu sou. Ela entende e
me solta.
– Por quê? Por causa dela? Por causa da sua noiva comprada?
– desafia.
Não estou pronto para admitir isso para ninguém, muito menos
para ela. Fecho a cara e ela estremece sob o peso do meu olhar.
– Cuidado, Gabriella. Tome muito cuidado. Lembre-se com quem
está falando.
Ela recua, dando um passo para trás.
Eu saio. Meu corpo se move por conta própria. Como se
estivesse sendo chamado para casa, para Emelia.
Dirijo de volta pensando nela e no que aconteceu ontem. Lembro
do quanto ela me queria também. Não é tão tarde quando chego em
casa, mas não sei se ela já está dormindo. A porta do quarto dela
está aberta. Chego perto, mas, paro na porta e espero. Ela está
ajoelhada no chão. Diante dela vejo estojos de maquiagem e papel
sulfite branco nos quais ela andou desenhando.
Há andorinhas voando sobre uma montanha. O céu está
manchado com tons de azul e violeta. Ela mergulha os dedos em
um estojo de sombra para os olhos e espalha o pó pelo papel, nas
áreas que ainda não foram tocadas.
Eu não havia trazido os materiais de pintura para ela porque
tinha planos para eles. Planos para ela. Nada malicioso. Era apenas
uma ideia. Agora, me sinto um canalha ao vê-la usar o que ela pode
encontrar para fazer aquilo que tanto ama.
Ela se move, engatinhando, para alcançar um pincel de
maquiagem largo. Ao fazer isso, acaba me dando uma visão de dar
água na boca de sua bunda perfeita coberta por um shorts super
curto.
Quando ela se vira e me vê parado na porta, dá um pulo,
assustada.
A expressão cautelosa que sempre tem quando está comigo
surge em seu lindo rosto. Ela se levanta, claramente se preparando
para enfrentar o que quer que minha mente safada invente para ela
esta noite.
Nos encaramos em silêncio por alguns momentos. Ela parece
ainda mais linda do que me lembrava. E o que minha memória
conjurou já era ótimo. A diferença é o desejo brilhando no fundo do
seu olhar. Ele me chama, dizendo que ela estava pensando em mim
também.
Entro, fecho a porta, e passo o trinco para que ninguém nos
perturbe. As pessoas saberão que, se virarem a maçaneta e a porta
não abrir, não devem bater. Ainda não sei o que vou fazer com ela.
Tudo o que sei é que tenho que tocá-la.
Eu me aproximo e faço exatamente isso. Toco sua bochecha, a
pele macia e suave sob meus dedos. Ela dá um passo para trás se
afastando de mim.
– O que foi agora? – pergunta ela.
Meu olhar cai para o movimento de subida e descida do seu
peito. Pelo jeito que uma veia pula em seu pescoço, sei que a
pulsação de seu batimento cardíaco está acelerando.
– Queria te ver – respondo.
Enquanto as palavras saem dos meus lábios, percebo
novamente aquela parte de mim que ficou trancada por tantos anos.
Ficou trancada desde o dia em que encontrei minha mãe no rio,
seus olhos arregalados de terror olhando para mim como se pedisse
minha ajuda, já no além-túmulo.Quando olho para Emelia, me sinto a pessoa que eu era antes
daquilo acontecer. O homem que poderia ter me tornado, se não
tivesse sido queimado pela tragédia.
Seus olhos enevoados se estreitam e se enchem de decepção,
como aconteceu algumas noites atrás. Ela aponta o queixo para
minha camisa.
– Tem batom no seu colarinho – afirma, em voz neutra.
Mesmo assim, vejo o ciúme em sua expressão. Ciúme e mágoa.
Ao contrário do que fiz no outro dia, não quero provocá-la hoje.
– É o batom dela? – demanda, encarando-me diretamente – Da
Gabriella?
– Sim – respondo.
A dor em seus olhos se aprofunda. Nenhuma mulher olhou para
mim assim antes. Principalmente porque nunca dei a nenhuma
mulher a chance de acreditar que poderíamos ser algo mais do que
uma rápida trepada.
– O que a Gabriella é para você, Massimo?
– Uma amiga – respondo com cautela.
– Uma amiga com quem você trepa?
– Sim – respondo e ela fica visivelmente arrasada com minha
declaração.
Seu peito e ombros afundam. Suas sobrancelhas apertam e
seus lábios tremem.
– Fique longe de mim – ela rosna e se afasta.
Eu a sigo até que ela perde o equilíbrio e encosta na parede.
Quando tenta escapar, coloco minhas mãos na parede, uma de
cada lado dela, cercando-a.
– Fique longe de mim, Massimo – murmura, novamente.
– Não – respondo, e naquele momento, lembro o que Tristan
disse. Que eu deveria pensar no que ela é, não quem ela é.
Naquela hora, respondi que era a mesma coisa. Não é. Ela é uma
mulher por quem estou atraído há meses. Eu fui atraído por ela. Do
mesmo jeito que estou agora.
– Não quero fazer isso hoje à noite – diz ela, balançando a
cabeça.
– Fazer o que?
Uma lágrima desce por sua bochecha.
– Ouvir você me dizer que eu sou um nada. Não quero ouvir
sobre sua noite com ela. Não preciso ser lembrada de que estou
com um homem que não é meu. Agora saia, vá embora.
Eu não permito que termine a frase. Antes que ela possa dizer
outra palavra, esmago meus lábios contra os dela, capturando sua
linda boca. No segundo que a provo, todo o desejo que sentia por
ela inunda meu peito de novo.
O gosto dela, sua doçura, sua inocência, tudo me deixa louco
para caralho. Fico bêbado com o sabor de sua necessidade por
mim.
É a mesma coisa que sinto por ela.
O choque desse pensamento quebra o transe do beijo. Eu me
afasto um pouco e observo sua expressão atordoada, o desejo em
seus olhos. Isso quebra as amarras que coloquei em mim mesmo e
me obriga a contar a verdade.
– Não dormi com ela – confesso.
Eu nunca me explico a ninguém. Nem minhas ações, nem meus
motivos para fazer qualquer coisa. No entanto, essa mulher me
obriga a torná-la uma exceção. Especialmente agora quando
estende sua mão delicada e toca minha bochecha. Mais uma coisa
inesperada nesta noite.
É a primeira vez que ela me toca por vontade própria. É como
ser tocado por um anjo. Uma mulher pura demais para um canalha
como eu. Uma mulher que é íntegra e intocada.
Ela é como algo santificado, enquanto eu sou o diabo esperando
na porta para levá-la pelo caminho da tentação. Ela sabe disso. Está
ciente de quem e o que sou, mas ainda assim olha para mim como
se me quisesse. Em seu olhar, vejo meu caminho para a redenção.
Redenção da vingança que busquei por tempo demais.
De repente, não dou a mínima para provar ao Riccardo que ele
estava errado. Não importa porque, quando olho para ela, vejo
quem ela é também. Ela é apenas Emelia. E, neste momento, não
me importo se é filha do meu inimigo.
Quando a bela guia meu rosto de volta para seus lábios, eu
permito, respondendo ao chamado da paixão, deixando de lado todo
o passado e o presente para poder saboreá-la.
Paixão incandescente pulsa de mim para ela quando me deleito
com sua língua deliciosa. Quando ela geme em minha boca, passo
a mão por seu seio esquerdo. Emelia responde pressionando-se
contra mim, agarrando minha camisa.
Com meus lábios ainda presos aos dela, caminho com ela até a
cama e a coloco no centro. Só deixo seus lábios para tirar minha
camisa, depois a dela.
Para minha satisfação, ela não está usando sutiã por baixo,
então seus lindos seios me chamam. Diferente da mulher
aterrorizada que ela era na semana passada, agora ela olha para
mim com excitação brilhando em seus lindos olhos.
– Quero foder você, Emelia – aviso em tom rouco.
Sua pele adquire um tom vermelho intenso enquanto seu peito
arfante sobe e desce. Sua respiração fica mais pesada. Eu quero
fodê-la com tanta força e tantas vezes que ela vai gritar meu nome a
noite inteira.
– Quero foder você, principessa. Por favor, deixe-me –
acrescento e parece uma súplica.
– Sim – responde. – Quero que você me foda.
Ouvi-la falar nesses termos mostra quanto já a corrompi, o que
me faz sorrir.
Eu me afasto da cama. Ela se levanta e se apoia sobre os
cotovelos para me observar enquanto tiro o resto das minhas
roupas. Quando seus olhos pousam no meu pau, sinto que
endurece ainda mais, e as gotas de sêmen aparecem na ponta
mostrando o quanto eu a quero.
Volto para ela e tiro seu shorts e sua calcinha em um único
movimento, expondo sua linda boceta ao meu olhar faminto.
Eu quero enterrar meu pau bem fundo em sua boceta virgem e
fazê-la minha. Marcá-la como minha. Reivindicá-la de tal forma que,
quando olharem para ela, saberão pela sua expressão que ela
pertence a mim. Mas, sei que tenho que ser delicado, gentil. Nunca
transei com uma virgem antes, mas é claro que tudo será novo e
assustador para ela. Não quero que ela sinta medo esta noite.
Quando subo na cama e me coloco sobre ela, ela descansa as
mãos nos meus ombros.
– Não sei o que -– ela começa a se desculpar, mas a silencio
com um beijo.
– Basta confiar em mim. Confie seu corpo a mim – respondo.
Ver a confiança encher seus olhos é um prazer que nunca
pensei que teria.
– Eu confio em você – diz ela, erguendo o rosto para me beijar.
Eu a beijo com força até ficarmos sem folego. Depois, agarro seu
rosto, olhando fundo em seus olhos e retomando o controle.
– Abra suas pernas para mim – ordeno.
Eu a solto e ela obedece ao meu comando. Minha boca enche
de água quando a observo abrir as pernas para mim. Seus
deliciosos seios balançam conforme ela se move, as pontas rosadas
endurecem sob meu olhar, fazendo meu pau enrijecer ainda mais.
– Boa menina – elogio antes de afundar meu rosto entre suas
coxas.
Empurro minha língua para dentro de sua boceta apertada para
prepará-la. Porra, já está toda molhada para mim. Quero levá-la ao
orgasmo pelo menos uma vez antes de fodê-la para que seja mais
fácil para ela. Mais fácil e mais prazeroso.
Lambo a protuberância dura de seu clitóris, fazendo-a gemer.
Quando ela agarra meus ombros, empurro minha língua com mais
força e chupo o pequeno botão até que ela joga a cabeça para trás
e grita meu nome.
Meu nome em seus lindos lábios me faz levantar a cabeça para
observá-la se desmanchar de prazer em meus braços. Absorvo a
imagem de puro êxtase em seu rosto e a guardo na memória. É
assim que quero me lembrar dela. Isso é o que eu quero lembrar,
não importa o que aconteça conosco.
– Massimo – suspira, estendendo a mão para mim.
– Está tudo bem, princesa. Esse foi apenas um tira-gosto de
prazer – mergulho de volta e passo minha língua em círculos sobre
seu clitóris, inalando seu doce aroma, lambendo sua excitação
quando começa a fluir para minha boca. Ela goza de novo, com
ainda mais força, empurrando seu corpo contra o meu rosto. Eu
seguro sua bunda e a pressiono contra mim para poder tirar tudo o
que quero dela.
Bebo mais um tanto de seu prazer, deixando lubrificação
suficiente para penetrar sua vagina. Fico de joelhos e mantenho
suas coxas abertas. Nossos olhares se enroscam quando seguro
meu pau para guiá-lo para dentro dela.
Nunca pensei que conseguiria ser gentil fazendo sexo. Não há
uma gota de delicadeza em mim. Mas, quero tentar ser gentil por
causa dela.
Esfrego meu pau sobre os lábios de sua boceta para lubrificar
bem antes de empurrá-lo em sua entrada. Avanço devagar,
centímetro por centímetro, por sua passagem virgem. Faço uma
pausa para dar tempo para que suasparedes se moldem à largura
do meu pau. Elas agarram a ponta do meu pau até eu ver estrelas.
Porra, ela é tão apertada que chega a ser quase doloroso. Ao
mesmo tempo, é gostoso para caralho.
– Massimo – ela sussurra, sem fôlego.
Corro meus dedos sobre a curva de seus quadris.
– Vai se sentir bem logo, prometo.
Com isso, deslizo meu pau pelo seu canal apertado. Ela
engasga quando ele encontra a barreira da sua virgindade. Com um
movimento firme dos meus quadris, rompo o selo, o último
obstáculo.
Emelia grita meu nome novamente. Seus olhos refletem uma
combinação selvagem de dor e prazer.
Tudo isso é para mim.
Tudo meu.
Nesse instante, sinto que finalmente ela pertence a mim.
Chapter
Vinte E Um
Q
EMELIA
uando a dor atravessa meu corpo como um raio, parece que
estou sendo empalada por seu pênis. Mas, um doce prazer me
inunda em seguida e faz minha alma girar de volta para os braços
da paixão.
O prazer cai em cascata sobre meu corpo, correndo sobre minha
pele como uma cachoeira. Prazer em sua forma mais pura ondula
através de cada fibra do meu ser, incendiando-me. Vem em ondas
que se sobrepõe. Meu corpo se curva com a sensação, cedendo a
ela.
Cedendo a ele.
Massimo agarra meus quadris, fixando seus olhos nos meus,
enquanto empurra seus quadris para frente, depois os puxa para
trás, iniciando um movimento pendular lento e constante.
– Porra, Emelia, você é tão apertada – ele rosna. Uma veia
grossa na lateral de seu pescoço pulsa, fazendo meu estômago se
contorcer em nós.
Pura luxúria engrossa tanto a minha garganta que não consigo
falar. Em vez disso, eu gemo enquanto mais prazer se acumula no
meu peito. Agora, me sinto diferente de quando ele me penetrou
pela primeira vez, diferente da maneira que me senti quando
fizemos outras coisas.
Meus dedos dos pés se curvam e minhas costas arqueiam
contra os lençóis de cetim frios sob minha pele enquanto seu pau
entra e sai do meu corpo. Ondas crescentes de prazer me atingem
repetidas vezes enquanto Massimo aumenta seu ritmo, me fodendo
como se fosse meu dono.
Procuro sinais em seus olhos para saber o que está pensando.
Não consigo dizer. Pela tensão em seu rosto, porém, acho que está
se segurando. Algo muda quando o prazer aumenta. Ele torna-se
mais forte, mais selvagem, quente e carnal com uma força feroz que
nenhum de nós consegue controlar. Ele sente isso também, e range
os dentes.
Suas bolas batem na minha bunda quando ele enfia seu pau
mais fundo na minha vagina, atingindo meu ponto G. Ele fode meu
corpo cada vez mais rapidamente. Outro orgasmo nasce e cresce,
me levando ao limite. Um rugido escapa de seus lábios enquanto
suas estocadas se tornam mais duras, mais certeiras, cada vez
mais rápidas. É demais, e ele me leva ao limite mais uma vez.
A explosão de paixão e prazer varre meu corpo com uma força
avassaladora. Eu caio em outro orgasmo selvagem e devastador.
Meus músculos formigam e minha alma estremece em puro deleite
que me consome, me deixa ofegante, inalando nosso cheiro
enquanto nossos corpos se chocam.
– Massimo! – gemo alto quando ele penetra ainda mais fundo.
Minhas paredes apertam seu pau com a intensidade de mais um
orgasmo, fazendo com que a fricção entre seu pinto e meu sexo tire
meu fôlego e desligue minha mente.
Ele me fode através de outro orgasmo, seu olhar o denuncia.
Massimo ofega e murmura uma série de palavrões inaudíveis em
italiano, me empalando com seu pau duro enquanto seu prazer
inunda minha boceta. Seu gozo quente cobre minhas paredes e
essa sensação nova desperta minha carne novamente. Aquece meu
corpo inteiro, me enche com uma sensação de luxúria que faz meus
nervos formigarem.
Seus ombros caem para frente e sua respiração sai
entrecortada. Apesar do tamborilar alto do meu coração batendo em
meus ouvidos, ouço sua respiração mais do que a minha própria.
No instante em que seu pau sai da minha vagina, me sinto
dolorida, em carne viva. Percebo a mancha do meu sangue
misturado com seu esperma no seu pau. Mas, ele não parece se
importar. Está mais fascinado comigo.
Massimo se abaixa, apoia os cotovelos no colchão e roça os
lábios nos meus. Levo minha mão até sua bochecha, sentindo a
aspereza de sua barba. Ele leva minhas mãos até sua boca e beija
os nós dos meus dedos.
– Você está bem, princesa? – pergunta em uma voz baixa e
rouca ainda carregada com a paixão que acabamos de compartilhar.
Ele esfrega o polegar sobre o topo dos meus dedos e prende meu
olhar no seu.
– Estou – sussurro e sorrio para ele.
O sorriso surge naturalmente, como se devesse dar isso a ele
depois do que acabamos de fazer.
Há um brilho em seus olhos que adoraria poder capturar. Esse
olhar e tudo o que acabamos de fazer me confunde. Mas, afasto
qualquer pensamento que possa quebrar o encanto deste momento
que quero lembrar para sempre. Há uma diferença palpável entre
nós.
– Você me chama de princesa quando está menos bravo comigo
por eu ser quem sou – sussurro.
Ele aperta os lábios.
– Eu não deveria ficar bravo com você por isso – passa o dedo
sobre o anel no meu dedo e o torce de um lado para o outro. –
Quando vi isso, achei que combinava com você.
– Obrigada.
Enquanto nos encaramos, analiso suas palavras. Sei que isso é
o máximo de sentimentalismo que vou conseguir dele. Acho que
está tentando pedir desculpas pela forma como ele me deu o anel.
Eu não sei o que essa coisa entre nós é. Não sei o que estamos
fazendo, mas não quero resistir à essa entidade que está nos
aproximando a cada minuto que passa.
Ele se levanta e me puxa para eu sentar. Quando sento na
cama, uma mistura de sangue e esperma flui de mim e escorre
pelas minhas coxas, sobre os lençóis. Minhas bochechas queimam
de vergonha, mas ele ergue meu queixo, me forçando a olhar nos
olhos dele.
– Você é minha. Essa mancha significa que você é minha.
Aconteça o que acontecer, você é minha. Você me pertence,
Emelia, com ou sem contrato.
Eu olho para ele e sinto o poder em cada uma dessas palavras
enquanto ele me mostra vislumbres de seu verdadeiro eu. Ainda
que aquele muro de vingança continue de pé.
Examino sua expressão. Gostaria de poder ver além do muro.
Estou nua, por dentro e por fora. Eu dei tudo a ele. A coisa mais
preciosa que eu possuía pertence a ele agora. Eu me entreguei a
ele.
— Você me entende, Emelia?
– Entendo.
– Vamos tomar aquele banho que não terminamos no outro dia.
Ele me pega no colo e eu deslizo meus braços ao redor de seu
pescoço.
A ��� do sol da manhã brilhando através da janela me acorda.
Minhas pálpebras se abrem lentamente e lembro-me da noite
passada e de tudo que fiz com Massimo.
Fizemos sexo mais três vezes. Uma vez no chuveiro e mais duas
nesta cama.
Eu me viro de lado e descubro que o local onde ele estava
quando adormeci agora está vazio. Eu caí no sono com seu braço
em volta da minha cintura e minha cabeça descansando em seu
peito. Adormecemos como se fôssemos amantes, nos abraçando
como se isso fosse um hábito antigo.
Agora ele se foi.
Puxo o travesseiro de cetim, levando-o ao nariz, inalando o
cheiro almiscarado e masculino dele que perdura no tecido. À
medida que o cheiro enche minhas narinas, evoco a imagem do
homem perfeito e divino que reivindicou meu corpo a noite toda. Ele
me fodeu, sem descanso. Bonito e perigoso, ele é a tentação
encarnada.
Deus, o que diabos estou fazendo? O que fiz? Minhas emoções
estão descontroladas. Ontem, estava empenhada em fugir. No
entanto, quando a noite caiu, estava morrendo de ciúmes de
Massimo e Gabriella. Horas depois, estava enroscada com ele na
cama.
Apesar do meu pai ter me vendido para pagar sua dívida, sinto
como se o tivesse traído dormindo com seu inimigo e desejando
esse inimigo mais ainda.
Se acreditar na estória de que papai foi forçado a fazer o que fez
comigo, então eu o traí. Não devo desejar um homem que quer
destruir meu pai.
Mas, há o outro lado dessa moeda, a parte que ainda não sei
sobre papai. A informação vaga que recebi é exatamente isso.
Incompleta. Não é suficiente para formar qualquer conclusão sobre
minha situação nessa coisa toda.Então, o que eu faço agora?
O que eu faço sobre Massimo?
Eu puxo as cobertas perto do meu peito para cobrir minha
nudez. Sentando-me, olho ao redor e passo a mão pelo meu cabelo
emaranhado. Está bem claro lá fora, então acho que deve ser o final
da manhã.
Mais uma vez, não sei como o dia vai desenrolar hoje.
Dando de ombros, levanto, tomo banho e lavo as lembranças da
noite passada do meu corpo. A região entre as minhas coxas está
bastante dolorida. Quando a água escorre sobre minha boceta, ela
queima. É uma sensação gostosa, porém. E não posso dizer que
esteja infeliz.
Quando termino de me secar, coloco um vestido leve de verão e
prendo meu cabelo para trás em um rabo de cavalo.
Uma batida leve na porta soa quando estou prestes a começar a
me maquiar. Sei que não é ele. Massimo não bateria. Ele nunca
bateu antes de entrar.
– Entre – respondo.
Priscila abre a porta. Candace vem logo atrás dela carregando
uma bandeja com torradas e café.
– Bom dia – ambas me cumprimentam.
– Olá – respondo.
Candace olha para mim e fico corada quando seus olhos
brilham. Esse brilho me faz pensar que ela notou o que Massimo e
eu fizemos aqui ontem à noite.
– Não vou deixar você fazer o que fez ontem – anuncia Priscilla.
– É quase meio-dia e você não desceu para o café da manhã.
Arregalo meus olhos.
– Nossa! Não percebi a hora.
Não fazia ideia de que já era tão tarde. Não sou do tipo que
dorme a manhã inteira. Quando morava em casa, sempre acordava
cedo para pintar.
– Coma isso porque voltaremos em dez minutos – ela avisa.
– Massimo arranjou algo legal para você hoje – Candace sorri.
Não consigo imaginar o que poderia ser.
– O que é?
– Algo que vai gostar, querida – Priscilla responde. Os cantos de
seus olhos se enrugam quando ela sorri.
Eu mordo o interior do meu lábio e tento parecer feliz.
Provavelmente é mais alguma coisa relacionada ao casamento. Sei
que as duas gostaram de me ajudar a escolher o vestido no outro
dia. E quando a costureira voltou, fizemos tudo juntas também.
Outras pessoas passaram por aqui para tratar de assuntos ligados
ao casamento. Até onde sei, não há muito mais a fazer.
– Coma e nós voltaremos para te mostrar – Candace parece
satisfeita.
Isso aumenta minha curiosidade.
– Tudo bem – concordo.
Estou curiosa para saber o que pode ser isso. O que será que
Massimo aprontou? Com o coração apertado, rezo para que não
seja alguma coisa que me faça lembrar os motivos pelos quais
estou aqui. Isso estragaria a noite passada.
Quando elas saem, me apresso em terminar a maquiagem e
como tudo que está na bandeja. Dez minutos depois, Candace
retorna. A suspeita em seus olhos me faz pensar que ela voltou
sozinha para me questionar.
– Está pronta? – pergunta.
– Sim.
– Vamos para uma parte diferente da casa.
– Vamos? Que parte?
– A ala esquerda – responde. – Você parece bem melhor do que
estava quando te deixei ontem à noite – observa ela.
– Jura? – pergunto, fingindo inocência.
Sei muito bem o que ela quer dizer. Mais cedo, quando me olhei
no espelho do banheiro, minha pele estava brilhando como se
tivesse luz própria.
– Sim, muito melhor. Você está bem?
Quando concordo com um aceno de cabeça, ela me dá um
sorriso tranquilizador. Isso é tudo o que ela faz. E não me pergunta
mais nada.
Atravessamos o átrio e descemos os largos degraus de mármore
que levam ao salão onde experimentei os vestidos de noiva.
Passamos por ele e continuamos o caminho até outra escadaria.
Esta é de pedra e leva até um maciço par de portas de carvalho que
costumam ficar trancadas. Sempre que as via, pensava que
deveriam levar para fora da casa. Agora, descubro que não. As
portas não estão trancadas hoje. Candace puxa uma, revelando um
salão espaçoso.
O que vejo lá dentro me tira o fôlego. Arte. Essa é a melhor
palavra que posso usar para descrever a cena diante de mim. Arte
em abundância. Há pinturas a óleo cobrindo todas as paredes.
Entramos, e mergulho em obras de arte tão gloriosas que fazem
meus nervos formigarem de felicidade. As pinturas são uma mistura
de paisagens e retratos. Amo tanto paisagens que sou atraída por
elas. Reconheço alguns dos lugares, todos na Itália. Florença,
Verona e Sicília. Tudo tão lindo.
– Meu Deus – murmuro e me viro para encarar Candace. – São
incríveis.
– Sim. A mãe de Massimo era uma artista e tanto.
A surpresa me atinge como um raio.
– A mãe dele pintou tudo isso?
– Sim, ela era incrível. Aquela ali sou eu quando era pequena,
brincando com os meninos – diz ela, apontando para uma das
pinturas maiores à nossa esquerda.
Nela há uma garotinha, quatro meninos e um golden retriever
correndo por um prado, brincando.
Nos aproximamos do quadro e ela aponta o garoto mais próximo
do cachorro.
– Esse é Massimo. Ele devia ter sete ou oito anos.
Percebo a forma como o azul de seus olhos brilha. O sorriso
resplandecente em seu rosto, porém, é algo que nunca vi.
– Esses quadros todos são realmente incríveis – eu digo.
– Eles são. Acho que Massimo deve ter pensado que você se
sentiria mais à vontade aqui dentro. Ele veio aqui mais cedo para
terminar de arrumar o quarto para você – ela me informa.
Minha boca fica seca.
– Como assim? Ele arrumou o quarto para mim? – olho para ela,
incrédula.
– Sim. Era mais um depósito. Ele nunca deixa ninguém entrar
aqui. Mas, outro dia, trouxe essas coisas para cá – aponta por cima
do meu ombro – e eu o ajudei a limpar o lugar.
Eu me viro para onde ela apontou e encontro uma pilha de
caixas perto do grande arco que dá vista para a praia. Ao lado das
caixas tem um cavalete. Dou um passo naquela direção para
confirmar minha suspeita e solto um suspiro. São mesmo as caixas
que embalei com minhas pinturas e todos os meus materiais de
arte. Tudo o que levaria comigo para Florença.
Corro até as caixas que estão abertas e arrumadas de modo que
eu possa terminar de organizar o conteúdo. Candace me dá um
sorriso brilhante quando volto meu olhar para ela.
Não consigo segurar a lágrima que desce pelo meu rosto
enquanto solto um suspiro alto. Não tinha percebido o quanto senti
falta da minha arte. Ter minhas roupas foi bom e aliviou minha
mente. Mas, isso acalma minha alma.
– Ei – Candace diz quando enxugo a lágrima com a palma da
minha mão — Você está bem, Emelia?
– Não – respondo porque essa é a verdade. Eu não estou bem.
Esse ato de bondade de Massimo me jogou em um turbilhão de
emoções. Não sei mais o que é certo ou errado. Nem em quem
confiar. Seria mais fácil odiar Massimo se ele se comportasse como
o monstro que conheci. O mesmo monstro que apontou uma arma
para a cabeça do meu pai e me trancou nua no meu quarto para me
ensinar uma lição. Seria mais fácil se ele fosse horrível. Ao fazer
esse gesto agora ele me faz repensar como devo me sentir.
– Seja forte, Emelia. Seja forte e ouça seu coração.
– Não sei, não, Candace. Ouvir meu coração me faria trair meu
pai.
Deus, acho que falei demais.
Ela balança a cabeça.
– Pense em você. Ninguém mais. No final, é isso que precisa
fazer para sobreviver a este jogo. Você não pode pensar em mais
ninguém. No momento em que fizer isso, você se perde – alisa meu
ombro, me dando um sorriso amigável. – Vou deixar você em paz
para matar saudade das suas coisas.
Ela me dá um aceno curto de cabeça. Mais uma vez, tenho a
sensação de que ela está indo embora porque não quer falar mais
nada.
Fico olhando ela ir embora. A porta se fecha e sou deixada com
meus pensamentos e com a beleza da arte ao meu redor.
Respirando fundo, decido examinar os quadros. Quero ver que
tipo de mulher era a mãe de Massimo antes de mergulhar na minha
própria criação.
Vou até a pintura que Candace me mostrou mais cedo e me
pego olhando para Massimo, para seus olhos. Eu posso dizer pela
maneira como sua mãe pintava que ela trabalhava com emoção.
Isso está embutido em suas pinceladas. Os matizes e gradientes
que usou na textura de fundo misturam-se para criar uma estória
própria. Ela pintou um dia feliz.
Massimo me contou que fez com que sua família perdesse tudo.
Com certeza, este dia aconteceu antes disso.
O que será quemeu pai aprontou? Que coisa cruel ele fez?
Quanto mais penso nisso, mais percebo que não o conheço. Não
sei quem são os monstros nesta estória.
Achei que era meu futuro marido.
Agora não tenho tanta certeza.
Se eu continuar fingindo que meu pai é um santo, realmente
serei como uma princesa presa numa torre. Sei que ele sujou as
mãos, que ele fez coisas ruins. Deve ter feito algo que foi pura
maldade para Massimo e sua família nos odiarem tanto.
No canto mais profundo do meu coração, há um lugar que não
quer que ele me odeie.
Chapter
Vinte E Dois
E
MASSIMO
ntro no salão e a vejo.
Eu tinha razão. Ela está no lugar perfeito aqui, no meio de
tanta arte. Da mesma forma que os quadros de mamãe.
Emelia está tão absorta em sua pintura que nem me ouve entrar.
Com minha mãe era a mesma coisa. Ela se perdia em seu
trabalho. Eu já tinha visto o trabalho de Emelia no dia em que
verifiquei as caixas, mas vê-la criar algo, ao vivo, é outra estória.
Ela colocou uma grande tela sobre o cavalete. Nela, pintou um
mar tempestuoso contra a escuridão da noite e um cavalo preto
como a meia-noite com asas transparentes cavalgando sobre a
água. É uma fantasia sombria.
Ela olha momentaneamente para o mar lá fora. Contra a
escuridão da noite as ondas se movem nas sombras, não
parecendo em nada com sua pintura. Mas é isso que ela vê, o que
ela ainda vê enquanto continua a olhar pela janela.
Percorro seu corpo com o olhar, seu vestido curto sobe,
revelando sua bunda por um segundo. Suficiente para me fazer
lembrar de todas as diferentes maneiras que a possui na noite
passada. Eu poderia ter continuado por horas, mas esgotei a
energia dela. Saí de sua cama cedo, com a mente em profundo
estado de conflito. Acho que fiquei observando-a dormir por uma
hora antes de vir aqui arrumar as coisas. Tive essa ideia alguns dias
atrás, mas não tinha certeza se estava pronto para compartilhar
esse pedaço de mim com ela.
Agora que a vejo aqui, estou feliz por ter feito isso.
Eu paro a passos de distância. Ela ainda está alheia à minha
presença. Eu não gosto disso porque qualquer um poderia se
aproximar dela. Não que seja provável que isso aconteça aqui.
– Tem um cavalo na água? – pergunto o mais gentilmente
possível, mas ainda assim, ela pula, assustada, e se vira para mim,
com a mão no peito. Não sei como, mas ela está mais bonita agora
do que quando a deixei esta manhã. – Não quis te assustar.
– Você está em casa – ela suspira.
– Estou. Viu, não precisa se perguntar onde estou. Vim direto do
trabalho para casa.
Isso é uma pequena mentira, mas ela não precisa saber detalhes
como esse. Estava com Tristan e Andreas, interrogando algumas
pessoas que sabemos ter ligações com Vlad. Dos cinco, um
sobreviveu, mas tenho certeza que está à beira da morte. Isso é o
que acontece quando se é deixado sangrando em profusão. Os
cinco eram o pior tipo de canalha podre que se pode encontrar. No
momento em que os achamos, eles haviam acabado de sequestrar
uma jovem, que não poderia ter mais do que dezesseis anos. Sei
que estavam se preparando para estuprá-la. Só isso já seria o
suficiente para eu acabar com eles. Mas, ainda tinha a morte de
Pierbo.
– Você veio direto para casa – a bela repete, me tirando do
devaneio escuro.
Concentro minha atenção nela porque quero uma repetição de
nossa noite passada.
– Vim.
– Obrigada – diz ela.
Sei que não está se referindo a eu voltar para casa. Está falando
sobre o que eu fiz aqui no salão para ela. Algo completamente fora
do meu caráter.
– Por ter vindo direto para casa? – pergunto mesmo assim.
O sorriso que queria tanto ver aparece em seu rosto. O sorriso
que é só para mim.
– Não. Por isto aqui. Não sabia que minhas coisas de arte
tinham vindo também. Isto é perfeito.
Aqui é onde deveria esmagar essa leveza que ela sente quando
está comigo. Deveria colocá-la na linha, impedi-la de sentir o que
sente por mim. Mas, decidi que não quero que sejamos assim.
Possuí-la ontem à noite foi tão emocionante porque ela se entregou
a mim de bom grado. Ela permitiu que eu fizesse o que eu queria
com seu corpo. Esta noite, quero fodê-la com força, do jeito que
gosto de foder. E isso não vai dar certo se ela estiver com medo de
mim.
Eu me aproximo e ela guarda o pincel.
– É perfeito o suficiente para você enxergar o que quer pintar? –
pergunto e ela assente com a cabeça. – É isso que vê lá fora? – Ma
costumava falar assim.
– Sim. Vejo essas coisas o tempo todo. Elas aparecem na minha
mente. Às vezes, parece que posso quase tocá-las.
– Pégaso Negro saindo das águas. – Ela ainda não terminou,
mas começou a pintar um brilho laranja na superfície da água. – O
que mais vai pintar, principessa? – pergunto, colocando ênfase no
termo principessa.
Na noite passada, ela estava parcialmente certa sobre o que ela
disse. Sobre chamá-la assim quando estou bravo com ela.
Ela fica tensa ao ouvir a palavra e seu sorriso desaparece.
Seguro seu rosto antes que sua linda mente comece a criar
fantasias.
– Gosto de te chamar assim. Isso é tudo. Não estou bravo.
– Contudo, não sou uma principessa.
– Você é a minha princesa – respondo com uma risada. – Agora
responda minha pergunta – aceno com a cabeça para a pintura e a
solto.
– Vou pintar um portal no mar. O cavalo está voltando para a
terra de onde veio. No outro lado do portal há um reflexo deste
mundo. Imagens espelhadas deste lado.
Volto a examinar o quadro, fascinado pelo que ouço.
– Isso é impressionante.
– Obrigada. As pinturas de sua mãe são lindas.
– Que bom que você gosta delas.
– Minha mãe também era artista. Foi de onde puxei.
Costumávamos pintar juntas o tempo todo.
– Você é muito talentosa.
– Obrigada – sussurra.
Parece que realmente gosta do meu elogio.
Chega de conversa agora, no entanto. Eu preciso prová-la.
– Venha aqui – comando.
Ela se aproxima de boa vontade.
Passo meus dedos sobre sua bochecha e, enquanto nos
olhamos, o ar fica carregado com desejo.
Pressiono minha boca contra a dela em um beijo ardente que ela
retribui com paixão. Ela abre os lábios, permitindo que nossas
línguas se provoquem, se enrosquem.
Ela sabe o que eu quero. Então, não me impede quando levanto
a bainha de seu vestido e seguro sua boceta por cima do cetim de
sua calcinha.
As portas estão abertas, mas poucas pessoas se aventuram por
aqui. Esperei o dia todo para tê-la nos meus braços. Agora que
estou com ela, vou possui-la aqui mesmo. Não me importo se
alguém estiver ouvindo. Se alguém nos escutar, será um aviso para
ficar bem longe.
Aprofundo o beijo, deslizo minhas mãos pelo seu cabelo,
desfazendo o rabo de cavalo. Gosto do cabelo dela solto. Quero
correr meus dedos pelos fios macios como veludo enquanto eu a
fodo.
Devoro sua boca quando ela inclina a cabeça para trás e a faixa
escorrega dos meus dedos. Suas mechas caem por seus ombros,
derramando sobre meus dedos como seda líquida. Adoro isso, da
mesma forma que adoro a sensação de seu corpo esbelto em
minhas mãos. Frágil e delicado, mas tentador com as curvas
acentuadas de seus quadris e os montes macios de seus seios.
Eu consigo mover o pequeno pedaço de tecido de sua calcinha
para longe da virilha para tocar sua boceta. Ela pula, agarrando
minha camisa. Ela geme contra meus lábios, e um estremecimento
de prazer a percorre quando enfio meus dedos mais fundo em seu
sexo. As paredes de sua boceta tremem sob meu toque, e ela
ofega. Seus lábios tremem.
Tirando meus dedos de sua boceta molhada, interrompo meu
ataque aos seus lábios para provar seu desejo, o doce néctar que
cobre meus dedos, a evidência de sua excitação por mim. Surpresa
tinge suas bochechas de cor de rosa quando coloco meus dedos na
minha boca e lambo cada gota.
– Você me quer de novo – afirmo.
Ela me olha como se não soubesse o que dizer. Entendo. Afinal,
nós dois temos o mesmo problema. Deveríamos ser proibidos um
ao outro. Nossa relação não deveria ser agradável. Mas, aqui
estamos nós, desejando um ao outro como um prato raro e exótico.
Eu sorrio para ela e a bela faz a coisa mais estranha. Desliza um
dedo pelo meu queixo e traçao contorno dos meus lábios. Deixo
que ela continue, me perguntando por que está fazendo isso.
– O que houve? – pergunto.
– Você me deu um sorriso que não zomba de mim – sussurra em
voz trêmula.
Sei que ela não merece nada disso. Não merece estar com um
homem como eu, cheio de ódio e morte. Não deveria tê-la enjaulado
como um pássaro selvagem. Ela merece ser livre.
Seguro seus dedos e beijo as pontas. O começo de um sorriso
levanta os cantos de sua linda boca. Quando a sedução surge em
seus olhos, porém, o desejo de estar dentro dela volta com força
redobrada.
Chego perto de seu ouvido e sussurro palavras sujas que sei
que irão fazê-la vibrar.
– Sua boceta ainda está dolorida, princesa? – murmuro e rio
quando o rubor sobe por seu pescoço.
– Estou bem – responde.
— Meu pau ficou duro por sua causa, pedindo por você, o dia
todo, Emelia. Quero te foder de verdade hoje. Com força, do jeito
que eu gosto. Acha que consegue aguentar meu pau?
Está na hora de levar isso para a próxima fase e começar a
treiná-la para me agradar.
Meus lábios estão perto dos dela agora e o brilho em seus olhos
é uma prova de que ela mais do que quer que eu a possua. Mais
importante que isso, mostra que ela vai me deixar fazer o que bem
quiser com ela.
– Consigo aguentar – responde, confirmando meus
pensamentos.
Isso é bom. É a única coisa boa que me aconteceu nesse dia.
– Tire as roupas.
Gosto de observá-la.
– A porta está aberta, Massimo. E se alguém entrar aqui ou nos
ouvir?
– Se quiserem continuar vivos, vão embora correndo.
Estou falando sério para caralho e ela sabe disso. Ela também
sabe que não gosto de me repetir.
Ela tira o vestido, ficando apenas de sutiã e calcinha. Seus lindos
seios saltam quando ela tira o sutiã. Ela tira a calcinha,
transformando-se numa deusa nua de pura perfeição, parada diante
de mim.
Eu tiro minha jaqueta e minha camisa, jogando-as ao chão. Seus
olhos me observam quando desafivelo o cinto, abro o zíper das
calças e empurro pelas minhas pernas. Eu a seguro com uma mão
e meu pau com a outra.
Trazendo-a para perto, dirijo meu pau para dentro de sua boceta
apertada. Ela perde o fôlego, agarrando meus ombros. Ela segura
com tanta força que suas unhas cravam na minha pele, indo tão
fundo que vão deixar marca. Não me importo. Às vezes, gosto da
dor. Principalmente, quando acompanhada de prazer. Ela vai
aprender isso também, quando explorarmos alguns dos meus
gostos mais sombrios.
Ela é tão apertada que dói novamente. É quase como se eu não
tivesse estado dentro dela ontem. Sua expressão é uma mistura de
prazer e dor. Devo estar machucando-a, mas ela está aguentando
firme.
Eu puxo para fora um pouco, depois mergulho de volta, indo
mais profundo desta vez. Ela grita alto, jogando a cabeça para trás.
Essa visão deixa meu pau mais duro. Os sons que ela faz tornam
insaciável minha ganância por ela. O olhar faminto dela me enche
de desejo e passo a fodê-la com força. Duro e rápido, do jeito que
queria ter feito ontem. Eu me segurei. Agora, não conseguiria,
mesmo se quisesse. Eu a quero tanto que dói. Eu quero tirar tudo
dela.
Nós dois gememos quando os sons dos nossos corpos se
chocando enchem a sala, o som de sexo selvagem. Não há como
alguém passando não nos ouvir. Imagino que as pessoas nos
ouviriam mesmo que não estivessem por perto por causa da
maneira como o som propaga pelo corredor.
Porra, é tão gostoso estar dentro dela. Suas paredes apertam
meu pau deliciosamente quando uma onda de orgasmo a arrebata.
Isso é bom para caralho também. Não vou deixar que isso me faça
perder o controle. Quero durar mais tempo.
Decidindo fazer exatamente isso, tiro meu pênis de dentro dela,
no auge de seu orgasmo, e a pego no colo. Ela envolve seus braços
em volta do meu pescoço.
– Segure firme, principessa. Você está prestes a ter o passeio da
sua vida – digo a ela com uma piscadela e a empalo com meu pau.
Sua boceta molhada e lisa é gostosa para caralho. Isso me
enche de fome. Caminho até a parede, derrubando um vaso de
plantas que cai no chão, quebrando.
Empurrando-a contra a parede, planejo devorar cada centímetro
dela. Seus dedos cavam mais fundo na minha pele. Seus gritos
ficam mais altos. Prazer e dor queimam em um delicioso coquetel
enquanto possuo seu corpo com uma velocidade furiosa, inclinando-
a para que possa cumprir minha promessa de fodê-la do jeito certo.
Quando terminar com ela, não será capaz de andar, e não vai
esquecer esta noite. Enquanto viver, não esquecerá este momento.
Porque eu não vou também.
Não me importo que ela seja Emelia Balesteri. Em poucas
semanas, ela será Emelia D'Agostino. Toda minha, de acordo com
todas as leis humanas e aos olhos do criador quando fizermos
nossos votos diante do padre.
As paredes de sua boceta pulsam, apertando meu pau como
uma luva bem apertada. Ela é gostosa. E por mais que queira
continuar, sei quando atingi meu limite.
Com mais um grito de prazer saindo de sua linda boca e com o
volume dos seus seios no meu rosto, ela me faz explodir de prazer.
Descarrego minha semente dentro dela. Porra, meus joelhos
dobram. O prazer é tão intenso que quase caio.
Sua boceta espreme todo esperma do meu pau, até a última
gota, deixando-me esgotado.
Esgotado, mas ainda querendo mais.
Chapter
Vinte E Três
S
EMELIA
into a pele de Massimo quente contra a minha quando ele
segura minhas duas mãos.
A leve carícia de seus dedos na minha pele renova o
redemoinho de prazer no qual estou flutuando nos últimos dias.
– Mais um passo, princesa – sorri, seus olhos brilham sob o luar.
Olho para ele, parado nas águas do mar sem ondas. A água já
bate no meu peito e sei que, com mais um passo, não vou mais
alcançar o chão arenoso e isso vai me colocar em uma posição em
que terei que confiar nele.
– Parece muito fundo – suspiro, e ele acaricia minhas mãos.
– É fundo, mas você não vai conseguir aprender a nadar no raso
– sorri, inclinando a cabeça, e um fio de água escorre de seu cabelo
molhado, descendo pelo lado de seu rosto.
Essa ideia brilhante foi dele que queria nadar ao luar. Por ironia,
estamos a poucos passos do lugar de onde estava planejando fugir.
Estamos do lado oposto da praia, perto das cavernas e formações
rochosas que, recortadas contra a escuridão da noite, parecem
pequenas montanhas sombrias.
– Vai dar tudo certo – acrescenta, soltando minhas mãos para
segurar minha cintura.
– Massimo, se me deixar afogar, vou voltar para assombrá-lo –
aviso brincando.
Ele ri gostoso.
Adoro quando ele está assim, amo esse som. O som de sua
risada. Ela me enche de algo que não consigo descrever, mas é
uma sensação boa.
– Princesa, não vou deixar você se afogar – diz o homem que
quer destruir meu pai. Só que esta noite ele não se parece com
aquele homem.
Massimo não se parece com aquele homem há alguns dias. Ele
se parece com o homem que está me cativando muito rapidamente.
Um homem de quem me sinto muito próxima, de uma forma que
nunca senti com ninguém.
Acho que é isso que acontece quando você se entrega a alguém
e essa pessoa fica com uma parte de você que ninguém mais
reivindicou. É confiança.
Ele aumenta seu aperto em volta da minha cintura e eu me sinto
segura. Com esse pensamento, dou esse passo e, como previ, a
água me engole. No entanto, me tranquilizo quando Massimo me
segura e passo os braços em volta de seu pescoço, enquanto a
água fria cobre meus ombros e mergulha meu cabelo.
Ele sorri para mim.
– Você está segura comigo, Emelia. Apenas relaxe e sinta a
água.
– Estou tentando.
– Relaxe – repete ele. – Tudo o que quero que faça é segurar
firme em mim.
O impulso magnético de seu olhar me atrai quando nossos
olhares se encontram. Deixo que suas palavras penetrem em minha
mente e minha alma.
Segurar firme nele. Eu quero muito fazer isso, mas não do jeito
que quis dizer ou do jeito que eu deveria fazer. O que quero é me
agarrar à essa versão leve e contente dele.
– Pode deixar – faço um esforço para responder.
– Boa garota – essa resposta, acompanhada de uma piscadela
safada, faz coisas engraçadas com minha libido. Elecontinua com
voz firme. – Esta noite, vamos só trabalhar para você se acostumar
a estar em águas profundas. Tente mover as pernas lentamente
contra o empuxo do mar. Mas isso é tudo.
– Acho que isso é tudo que consigo fazer, Massimo. O resto do
meu corpo está com medo demais para fazer qualquer outra coisa –
estremeço e pulo para cima dele quando uma onda bate em meus
ombros.
– Nunca tenha medo quando estiver comigo – diz, como se eu
pudesse confiar nele o suficiente para cuidar de todos os meus
problemas, não importa quais sejam.
Com um braço poderoso e musculoso, Massimo garante que
estou bem apertada contra seu peito, enquanto com o outro braço,
ele dá braçadas para se mover pela água.
Nós nos afastamos do raso, flutuando até que estamos
balançando para cima e para baixo com as ondas calmas, e parece
que somos as duas últimas pessoas na terra. Estamos no mar,
nadando em um mundo diferente, separado do resto. Aqui,
existimos sem os detalhes de quem somos e como chegamos neste
ponto de nossas vidas.
Isso é bom. A distância que já percorremos é maior do que já me
aventurei em qualquer tipo de água, seja piscina, lago, rio ou mar.
Há algo de libertador em se enfrentar um medo.
– Você está bem? – Massimo quer saber.
– Sim, mas é estranho não sentir a areia debaixo dos meus pés.
– No começo, sim. Depois, você se acostuma. Não adianta fugir
– ele diz, sorrindo, quando desvio meu olhar. – Sabe o que vou
perguntar. Por que não sabe nadar? Nossos pais vieram do mesmo
lugar na Sicília. E todo mundo que conheço em San Leone sabe
nadar. Meus pais praticamente viviam dentro da água e nós
crescemos assim também. Acho estranho sua infância ter sido tão
diferente neste aspecto.
Ele tem razão. Todo mundo que conheço em San Leone também
sabe nadar. É uma cidade litorânea com um porto ao sul de
Agrigento. Sempre que visitava nossos parentes, passeávamos pela
beira-mar todos os dias. Só eu era diferente.
– Minha mãe tentou me ensinar, mas vi uma coisa uma vez que
me deixou ressabiada.
Ele estuda minha expressão com atenção.
– O que você viu, princesa?
– Aos dez anos, vi um menino da minha escola se afogar.
Quando confesso isso, preocupação profunda brilha em seu
olhar. Outra emoção com a qual não estou acostumada a lidar,
partindo dele.
– Como isso aconteceu?
– Era uma atividade beneficente para arrecadar fundos para
nossa escola. Mas, foi organizada na praia. Ele caiu do píer e
ninguém conseguiu alcançá-lo a tempo. Foi horrível. Desde então,
tenho muito cuidado com água. Para dizer a verdade, já não
gostava muito de água antes. Depois que isso aconteceu, tento ficar
bem longe.
– Sinto muito que isso tenha acontecido e que você teve que ver
a morte dessa maneira.
– Foi terrível. Eu não o conhecia pessoalmente, mas o via na
escola o tempo todo. Eu tive dificuldade em apagar aquilo da minha
mente depois que aconteceu. Ele era um daqueles garotos que
traziam vida e risadas onde quer que fosse.
Seu nome era Jamie Scottsman. Ele jogava no time de basebol
da liga infantil e, por causa disso, era muito popular. Lembro-me
bem do rosto dele quando vivo. Demorei muito para apagar a
imagem dele deitado na areia, morto, depois que tentaram reanimá-
lo, sem sucesso. Lembro-me de papai me levando para longe da
cena enquanto eu chorava, sabendo o que estava acontecendo.
– O mar pode ser perigoso, mas também pode ser mágico.
– Mágico? – sorrio com essa ideia e tento imaginar como seria.
– Sim. Mágico. Olhe ao nosso redor. Tenho certeza que verá
coisas de forma diferente de mim. Não consigo ver um Pégaso
saindo da água como você viu no outro dia – ele sorri. – Se pensar
da maneira que faz quando está pintando, será capaz de apagar o
medo de sua mente.
Acredito nele porque superei muitas coisas confiando em minhas
habilidades criativas. Decidindo seguir seu conselho, olho em volta e
me concentro na faixa de luar que beija a superfície da água. Ele
treme e reluz como se tivesse sido tocado por magia.
– O que você vê, princesa? – pergunta, e deixo minha
imaginação correr solta.
– Sereias – respondo. Isso é o que imagino. Em minha mente,
vejo quatro, belas e mágicas, como nos contos de fadas e nas
ilustrações populares há séculos. – Elas acabaram de emergir sob a
luz da lua e estão cantando.
Ele ri e eu olho para ele.
– Sereias? Eu gosto disso.
– Gosta mesmo?
– Adoro. Minha mãe gostava de sereias. Ela as pintou também.
Foi ela quem me ensinou a nadar. Mas, como sabe, gosto mais de
velejar. Puxei meu pai nisso.
Eu gosto quando ele compartilha coisas sobre si mesmo e seu
passado.
– Que legal.
– Sim. Toda a família do meu pai está muito envolvida com
navegação de modo geral. E são do tipo que fazem tudo à moda
antiga, bem tradicionais.
– Tradicionais em que sentido?
– Supersticiosos.
– Do tipo que não deixa nenhuma mulher subir no barco? –
arqueio uma sobrancelha para ele.
No outro dia, quando me disse isso, parecia algo tirado de um
filme de pirata.
– Sim, tipo que não deixa nenhuma mulher subir no barco –
concorda ele com uma risada, antes de piscar e acrescentar. – Mas,
acho que vou ter que abrir uma exceção e testar essa maldição por
sua causa.
Essa ideia faz com uma grande excitação atravesse meu corpo.
A possibilidade de que ele faça algo assim por mim me faz sentir
especial. Afinal, ele faria algo apenas por mim, e não por alguém
como Gabriella, por exemplo.
– Jura que você faria isso por mim, Massimo D'Agostino? –
provoco.
– Faria, Emelia Balesteri – responde no mesmo tom.
Quando o olhar dele me prende, meu desejo aumenta. Eu o
quero de novo, e de novo, e sempre. Sei que não deveria, mas
qualquer que seja a magia que ele pensa existir aqui no mar, parece
que me colocou sob esse feitiço.
Eu me inclino para mais perto e passo meus lábios de leve sobre
os dele. É um toque breve, mas que se intensifica em segundos,
ficando quente enquanto nos beijamos e nossas línguas se
enroscam, alimentando esse desejo selvagem que sempre toma
conta de nós quando nos tocamos.
Ele se afasta com um brilho sedutor em seus olhos.
– A aula acabou.
– O que estamos fazendo agora, então? – pergunto com uma
risada.
– Algo selvagem. É hora de brincar novamente.
Brincar. Gosto de brincar com ele do jeito que ele insinuou.
Antes que eu possa dizer mais alguma coisa, ele começa a
nadar, dando braçadas para trás, comigo presa ao seu peito,
espirrando água para todos os lados.
Quando nos aproximamos mais da praia, meus pés alcançam a
areia e ele pega minha mão.
Saímos do mar e caminhamos em direção às grandes paredes
de pedra da caverna. Estou prestes a perguntar novamente o que
vamos fazer quando ele me empurra contra a parede e recaptura
meus lábios.
A maneira urgente que Massimo me beija deixa claro o que
faremos e onde o faremos. Especialmente quando ele passa os
dedos sobre a borda da parte de baixo do meu biquíni e sinto a
cabeça enorme de seu pau pressionando minha barriga através de
seu shorts molhado.
Seus dedos encontram minha boceta e eu gemo contra sua boca
quando ele começa a acariciar, lentamente, mas, de forma
constante.
Ele tira os dedos de mim, se afasta dos meus lábios e desliza os
dedos para dentro de sua boca, lambendo a evidência do meu
prazer. Esse gesto sempre me excita de uma forma que me deixa à
beira da insanidade. Algo que sempre acontece quando estou com
esse homem.
Todos os nervos do meu corpo formigam quando ele se inclina
perto do meu ouvido e passa a mão sobre meus seios.
– Vou foder você aqui mesmo contra a parede desta caverna,
princesa.
Meu estômago dá uma cambalhota e as chamas do desejo me
queimando exigem que eu permita que ele faça o que quiser
comigo. Mesmo que seja aqui.
– Aqui, Massimo? – sussurro, e ele agarra meu rosto.
– Vou possuir você onde e quando eu quiser. Você é minha –
seu olhar prende o meu com essa última palavra.
Antes, quando ele dizia isso, eu entendia como destruição,
cativeiro, privação de liberdade. Nesta noite, eu gosto porque sei
que ser dele não significa o fim da minha existência. Pertencer a ele
significa que Massimo vai me levar ao auge doprazer.
Quando ele me segura, me posicionando para me penetrar com
seu pau ereto, não me importo mais se estamos fora de casa. Há
guardas fazendo patrulha no caminho acima de nós. Provavelmente,
eles nos ouvirão. Mas, não me importo.
Ele esfrega a palma da mão sobre meu sexo, me preparando,
me excitando, antes de deslizar seu pau grosso para dentro do meu
corpo apertado. Neste instante, realmente não me importo com
quem somos e como chegamos até aqui.
Seus lábios prendem os meus e ele começa a mover seu pau
para dentro e para fora de mim, estabelecendo um ritmo forte e
rápido. E a única coisa que sei é que estou me apaixonando por
Massimo.
Chapter
Vinte E Quatro
D
MASSIMO
ois malditos dias inteiros...
Esse é o tempo que ficamos na cama desde o nosso
encontro na praia. Dois dias.
Já é quinta-feira de manhã e esta noite temos o jantar cerimonial
onde Pa me dará seu anel passando a liderança oficialmente para
mim. Será um verdadeiro símbolo de sua aposentadoria como líder
da família D'Agostino.
Meus irmãos, meus dois tios e suas esposas que vieram da
Itália, meus oito primos, dois dos quais têm esposas, estarão todos
presentes.
É um evento importante e havia planejado levar Emelia a este
jantar como um símbolo de vitória, mostrando a todos que nossa
família conquistou o diabo. Ela deveria ser um troféu, um prêmio. No
entanto, quando a observo dormir tranquilamente, como agora, o
que vejo é a mulher que dominou todos os meus pensamentos nos
últimos dias. Não, isso não é verdade. Ela tomou conta da minha
mente desde a noite do baile beneficente quando surgiu, como um
anjo, pendurada no braço de seu pai. Desde aquele instante, sabia
que tinha que tê-la.
Acordei antes do nascer do sol e vim me sentar aqui junto à
janela, meu lugar preferido, para observá-la melhor, enquanto fumo
meu charuto. Parece que caí num ritual de observar, ponderar,
avaliar. Tudo isso para decidir o que fazer a seguir.
Olhar para ela me dá equilíbrio. Ela é tão tranquila dormindo.
Neste quarto, ficamos presos em uma fantasia, só existe ela e eu.
Nós dois podemos nos perder no êxtase da paixão e acreditar que
nada mais existe além da atração que nos une.
Aqui, esqueço o passado. Não sei se isso é bom ou ruim. Porque
quando estou com ela, a raiva que sentia do pai dela fica saciada e
me pego pensando nela.
O sol lança seus raios radiantes sobre minha bela adormecida,
atingindo-a em todos os lugares certos. O lençol desceu até sua
cintura, permitindo que eu me delicie com a visão do seu corpo
gostoso, seus seios expostos. Ela é uma deusa. Seu lindo cabelo
negro está espalhado pelo travesseiro. Como o luar na outra noite, a
luz do sol suave agora envolve seu corpo, acaricia sua pele do jeito
que eu quero fazer. Do jeito que sempre quero fazer.
Talvez eu goste de observá-la enquanto dorme porque assim
tento capturar sua imagem assim, plácida e encantadora, antes que
ela acorde e nos tornemos novamente quem deveríamos ser:
Inimigos mortais.
Apesar dessa sede enorme de vingança que minha família e eu
temos contra o pai dela, Emelia não precisaria ser minha inimiga.
Não quero que ela seja.
Mas, as coisas estão mudando.
Infelizmente, não poderemos ficar mais um dia nessa cama. Não
posso me dar ao luxo de continuar brincando de casinha com minha
noiva linda porque sinto que muitas coisas estão acontecendo nas
ruas. E isso não me agrada. Aliás, já deveria ter ligado para Tristan
também, só para checar com ele o que está rolando. Eu sei que ele
não anda se sentindo muito bem com aquele filho da puta do Vlad
voltando dos mortos daquele jeito. E cabe a mim tomar conta dele,
certificar-me de que não está fazendo nenhuma merda, como tentar
encontrar Vlad sozinho, por exemplo.
Enquanto observo minha garota deitada à minha frente, o desejo
de mantê-la segura toma conta de mim.
A minha garota.
Será que ela poderia ser mesmo minha garota?
Ter um casamento de conveniência é muito diferente de estar
com alguém com quem você quer estar.
Não sei como isso funciona, mas quero explorar a ideia.
Certamente, quero saborear isso, seja o que for, e brincar com
minha bela sempre que quiser.
Mas, tenho que dar algo a ela, e quando fizer isso, vou precisar
de toda paciência do mundo porque ela vai me perguntar um monte
de merda que não quero ouvir.
Quando me mexo para pegar outro charuto, ela acorda. Seus
olhos se abrem e ela olha para mim.
Vê-la acordar é a melhor coisa do mundo. Ela puxa o lençol para
cobrir os seios enquanto um sorriso aparece em seus lindos lábios.
Eu preciso desses lábios no meu pau logo. Ela enrola-se no lençol,
levanta-se e caminha até mim, sentando-se no meu colo.
Quando faz coisas assim, penso no filho da puta do seu pai e
nas merdas que disse para mim. Ele terá um maldito ataque
cardíaco se puder ver o jeito que ela olha para mim. Isso será em
alguns dias, quando nos encontrarmos no evento beneficente. Será
uma repetição do outro baile, exceto que ela estará no meu braço.
Ela me beija e eu quase me deixo levar por essa emoção
selvagem que sempre nos envolve. Em vez disso, acaricio seu nariz
com o meu e a abraço. É hora de deixar o prazer de lado e voltar
aos negócios. Neste momento, está mergulhada na mesma névoa
de prazer que nubla minha mente, esquecendo quem somos, quem
eu sou.
Sou um chefe da máfia, e não existe realidade onde uma garota
inocente como ela escolheria um homem violento como eu. Em
circunstâncias normais, ela fugiria de mim e da escuridão que me
acompanha.
– Tenho que ir trabalhar hoje – declaro. – Mas, voltarei às seis
para buscá-la para irmos ao jantar. Quero que esteja pronta.
Assim que digo isso, uma tensão tão espessa que poderia
sufocar nós dois preenche o espaço entre nós. Envolvo sua cintura
com meu braço e ela estremece. Deve estar se preocupando com o
encontro com minha família e como irão tratá-la. A verdade é que
não sei como vão recebê-la.
– Tenho mesmo que ir? – pergunta, confirmando minha suspeita.
– Sim. Como minha futura esposa, deverá comparecer.
Apesar de que todos acreditariam se eu inventasse alguma
merda dizendo que ela está doente ou algo assim, Pa não aceitaria
isso de jeito nenhum. Ele me faria arrastá-la até sua casa passando
mal e vomitando se fosse preciso, caso estivesse doente. Ele não é
um homem sem coração, mas quando se trata de qualquer coisa a
ver com Riccardo, ele se torna completamente diferente.
– O que devo fazer? O que quer que eu faça? – pergunta
nervosa, mordendo seus lindos lábios rosados.
– Vai ficar ao meu lado – Tristan é alguém pode mostrar alguma
compaixão por ela. Tanto Dominic quanto Andreas podem ser uns
bastardos quando querem. – O que preciso que faça é se comportar
– concluo.
Essa boca safada dela, às vezes pode colocá-la em maus
lençóis. E não quero que ela tenha problemas com as pessoas que
estarão nesse jantar.
– Me comportar? – pergunta, mordendo o interior do lábio.
– Sim, comporte-se. Fale apenas quando alguém falar com você
e não faça nenhum comentário para provocar ninguém.
Seus olhos se estreitam.
– E se alguém me provocar?
– Isso não vai acontecer.
Pelo menos, acho que isso não vai acontecer. Não é o estilo
deles. As mulheres que estarão lá não são do tipo de falar coisas
por maldade, como poderia ser o caso em uma situação como essa.
Embora, não saiba realmente o que esperar. Elas podem ficar com
ciúmes e Emelia é muito bonita.
– Todos vão me odiar, mesmo que nem me conheçam.
Ela está certa, considerando quem é o pai dela.
Parecendo derrotada, ela baixa a cabeça e olha o local onde
minha mão toca sua cintura fina. Eu levanto seu queixo, fazendo-a
olhar de volta para mim.
– Se alguém se atrever a te desrespeitar terá que lidar comigo –
prometo.
Não sei o que vou fazer, mas tenho o dever de garantir que ela
se sinta confortável onde quer que vá. Isso é para a vida toda, até
que a morte nos separe. Eles vão aceitá-la como minha esposa de
agora em diante e espero que a tratem com o mesmo respeito que
me mostram. Não significa que vai acontecer. A última coisa que
quero fazer é entrar em uma brigadentro da família por causa disso.
– Você faria isso mesmo? – ela me estuda.
Eu sorrio para ela.
– Princesa – digo, sabendo que ela gosta quando eu a chamo
assim. – Você é uma garota inteligente. Sabe que não prometo nada
que não cumpra. O que me leva a isso.
Eu me abaixo e puxo uma pequena sacola com o telefone dela.
É o telefone mesmo dela, não comprei um novo. Ela observa e seus
olhos se arregalam quando tiro o telefone da sacola.
Ela aceita o aparelho quando ofereço a ela, a emoção enche
seus olhos.
– Oh, meu Deus – ela suspira, segurando-o contra o peito. – O
que isto significa?
– Estou te devolvendo isso. Não preciso dizer para usá-lo com
cuidado.
Ela sabe o que quero dizer com isso.
– Vai me dizer com quem eu posso e não posso falar?
– Acha que preciso?
Ela me lança um olhar afiado.
– Por favor, não estrague nossos momentos juntos, Massimo.
Ela balança a cabeça. Seus olhos me implorando para não
manchar a imagem do que vivemos nesses últimos dias.
– Emelia, uma coisa não tem relação com a outra – respondo,
me sentindo como um disco quebrado. Eu já disse essas palavras
para ela vezes demais.
– O que é isso, então? Não podemos ser apenas nós dois e
deixar o resto para lá?
Seus olhos se agarram aos meus. Eu quero dizer que sim, mas
não posso. Também não posso dizer que não.
– Cuidado – aviso, apertando sua cintura.
Sei que estraguei tudo apenas com essa palavra.
– Posso ligar para o meu pai? – ela pergunta, ignorando meu
aviso.
– Não, não até depois do casamento.
Já estou me arriscando muito ao devolver a ela esse telefone.
– Não posso ligar para ele antes? Mas, vamos vê-lo no evento
para arrecadação de fundos. Você vai me proibir de falar com ele lá
também, se ele quiser falar comigo?
Ela desce do meu colo, e eu permito.
Eu não quero que ela fale com aquele bastardo, mas nem
mesmo eu não posso ser tão cruel.
– Poderá conversar por cinco minutos. Não quero que ele encha
sua cabeça com merda.
Noto que ela segura a língua para não falar o que pensa. Já que
suas mãos estão fechadas em punhos ao lado de seu corpo, posso
imaginar que eu não iria gostar de ouvir o que ela pensou em dizer
para mim.
– E meu amigo? Jacob? Massimo, ele é meu melhor amigo. Nos
conhecemos desde que nascemos. Ele deve estar muito
preocupado comigo.
– Amigo? – Vou fazer um teste. Se ela me der a resposta certa
para minha próxima pergunta, vou deixá-la ligar para ele quantas
vezes quiser. – Esse seu amigo já demonstrou algum interesse em
você? Já deu algum indício de que gostaria de ser mais do que seu
melhor amigo? Responda-me com sinceridade, Emelia. Eu sou um
filho da puta, mas nunca menti para você. Não minta para mim.
Quando seus olhos nublam, já sei a resposta para minhas
perguntas.
– Responda – exijo.
Ela pula com meu tom de voz alto. Fico puto da vida porque eu
estava certo.
– Sim – responde em voz baixa.
– Sim, o que? – insisto.
– Sim, acho que ele queria que fôssemos mais do que amigos.
– Bem, então não, não haverá ligações ou mensagens para
Jacob.
– Como você pode ser tão filho da puta? Ele é meu amigo.
Ela parece mais furiosa por não poder falar com esse Jacob do
que com o pai. Não vou perguntar como ela se sente sobre ele. Não
quero saber a resposta.
– Ele é um amigo que quer foder você. Essa conversa acaba
aqui.
– Desculpe, estávamos conversando? Parecia muito mais que
você estava me dizendo um monte de merda.
Meu sangue ferve e me levanto tão rápido que ela pula para trás
para ficar fora do meu alcance. Mas, eu a pego, colocando meus
braços ao redor de sua cintura. O lençol cai quando ela tenta me
bater. Eu a levo de volta para a cama, deito-a sobre os lençóis e
prendo suas mãos acima de sua cabeça. Ela parece uma deliciosa
refeição com seus lindos seios à mostra.
– Me solte! Some daqui – ela grita, mas eu a seguro firme.
– Emelia, isso é bobagem.
– Como é uma bobagem? Eu só quero falar com meu amigo.
Penso em mencionar Gabriella e perguntar se ela ficaria feliz
sabendo que estou falando com ela, mas não é a mesma coisa.
Gabriella é uma antiga amante. Jacob não é e sei disso com
certeza. Eu tirei a virgindade dela, não aquele idiota. Apesar de que
poderia apostar que ele adoraria ter feito isso.
Emelia é ingênua e inocente. Ela não sabe a montanha de
merda depravada que um homem tem capacidade para imaginar. Eu
mesmo estou fazendo isso agora olhando-a lutar debaixo de mim,
me desafiando. Tenho muita dificuldade em resistir à tentação de
fodê-la até que me obedeça, até conseguir sua total submissão.
– Não vou me sentir bem sabendo que você está falando com
um homem que deseja minha garota – digo.
É só nesse instante que ela para de lutar comigo.
Eu libero suas mãos e saio de cima da cama, para longe dela.
Ela se apoia nos cotovelos e me encara.
– Eu poderia ter colocado um rastreador nesse telefone, ou
alguma merda assim para manter o controle sobre com quem você
fala. Eu poderia ter lhe dado um novo aparelho com um novo
número. Escolhi não fazer nada disso porque queria que você
tivesse um mínimo de privacidade – explico. – Mas, em se tratando
dessas duas pessoas, as regras mudam. Não vai ligar para nenhum
deles. Você me pediu para não estragar tudo. Estou te pedindo o
mesmo. Se me trair, não vai gostar do que vou te fazer, então não
faça isso. Você não quer ter problemas comigo.
Com isso, eu saio, mas sinto seus olhos sobre mim.
E�� ���� quieta durante todo o trajeto até a casa do meu pai, como
sabia que ficaria. Ela mal falou lá em casa quando fui buscá-la. Eu
estava absorto demais em sua aparência para notar que estava
chateada comigo.
Ela está linda em um vestido de festa sem alças que acentua
seus seios e suas curvas. Seu cabelo está solto, do jeito que eu
gosto, e seu rosto está maquiado de um jeito que nunca tinha visto
antes, com sombra esfumaçada nos olhos.
Enquanto estaciono o Bugatti na garagem do meu pai e olho
para os outros carros estacionados, fico nervoso também. É uma
noite importante para mim. Serei o chefe dessas pessoas. É minha
apresentação e preciso conquistar o respeito deles. Olho para ela
sentada ao meu lado e percebo como ela está ansiosa.
– Você está linda – digo, e ela me encara.
– Obrigada – sua expressão está menos tempestuosa do que
esta manhã, mas ainda está pesada.
Ela sabe que estava certo sobre Jacob. Mas, está chateada
porque não pode ligar para ele. Preciso que ela se livre dessa cara
fechada antes de entrarmos.
– Isso é tudo que ganho, principessa? Nem um beijo?
Essa é a versão mais brincalhona de mim que ela vai conseguir
ver. Eu me inclino, chegando mais perto dela e ela me beija
brevemente.
Seguro uma mecha de seu cabelo e observo as pontas se
enrolarem no meu polegar.
– Nós vamos terminar isso mais tarde.
Quando o brilho retorna aos seus olhos, sei que ela voltou para
mim. Saio do carro, dou a volta e abro a porta para ela. Quando ela
sai, entrelaço nossos dedos. Esta é a primeira vez que saímos
juntos. Até parece que isso é um encontro. Estou vestindo um terno
e uma camisa escura por baixo, enquanto ela está de vestido.
Vislumbro nosso reflexo na janela do carro. Nós ficamos bem juntos.
Eu olho para ela e vejo que ela percebe isso também, mas
desvia o olhar.
Enquanto caminhamos, parece que a estou carregando para a
cadeira elétrica. Fico sempre feliz em visitar meu velho. Esta é a
primeira vez que gostaria de poder reagendar.
Como de costume, Mario, o mordomo de Pa, abre a porta antes
que eu possa alcançá-la. Ele era nosso mordomo quando eu era
menino. Depois que perdemos tudo, tivemos que dispensar nossa
equipe. Mas, uma das primeiras coisas que Pa fez quando nos
reerguemos foi encontrar essas pessoas, como Mario, Candace e
Priscilla.
– Buonasera, Mestre Massimo – ele me dá as boas-vindas,
abaixando a cabeça para um breve aceno.
– Buonasera, Mário. Esta é Emelia, minha noiva – eu digo. É a
primeira vez que a apresento como tal.
– Buonasera, signorina. Espero que aproveite a sua estadia – ele
diz a ela.
Fico feliz por sua gentileza. Nossos funcionários da casa sempre
agem como se não soubessem o queestá acontecendo, mas sei
que sabem de tudo.
– Muito obrigada e buonasera – ela responde. Ele inclina a
cabeça.
– Todo mundo já está aqui. Chegaram cedo.
É sua maneira de me avisar para manter minha cabeça acima da
água.
Todos querem vê-la. Emelia. Estão curiosos e provavelmente
queriam estar aqui para nos ver entrar. Esta noite definitivamente vai
ser interessante.
– Grazie, Mário.
Ele caminha à nossa frente até chegarmos à sala de jantar onde
entro com Emelia no meu braço.
Será primeiro o jantar, depois a cerimônia da liderança.
A conversa na sala cessa no instante em que chegamos à porta
e todos viram para nós. Emelia aperta meu braço com mais força.
Estão todos olhando para ela, sem fazer nada para parecer menos
óbvios.
Pa está sentado à cabeceira da mesa. Há dois lugares vazios ao
lado dele para nós. Do outro lado estão meus três irmãos, sentados
em ordem de classificação. Esta é a primeira vez que isso acontece.
Tristan está bem ao lado de Pa e Andreas fica entre ele e Dominic.
Todos os outros podem sentar-se da maneira que escolherem.
– Boa noite a todos. Espero que não estejamos atrasados – digo.
– Nunca – Pa responde, inclinando a cabeça para mim. Ele olha
para minha mão segurando a de Emelia e uma curiosidade mais
profunda preenche seu olhar. Quando ele se levanta, todos olham
para ele. – Desejo dar as boas-vindas ao meu filho, o novo chefe
desta família, e sua noiva, Emelia Balesteri.
Não esperava que ele fizesse isso. No entanto, sua acolhida dá
o tom para o comportamento de todos os outros esta noite.
– Obrigado, pai – respondo.
– Obrigada – Emelia repete, sua voz saindo em um tom rouco.
– Venham e sentem-se – convida Pa.
Nós o fazemos e todos os olhos me seguem.
Eu puxo a cadeira para ela se sentar e tomo o lugar ao lado de
papai. Eu dou o tom, também, quando coloco minha mão na mesa,
acenando para ela a segurar para que todos possam ver.
Ela olha para mim, mas pega minha mão. Quando Pa olha para
mim com admiração, me sinto melhor.
Sinto-me melhor esta noite, mesmo que ainda haja um milhão de
coisas com as quais me preocupar.
Chapter
Vinte E Cinco
E
EMELIA
u nunca estive tão nervosa na minha vida.
Ao mesmo tempo, nunca me senti tão forte. No minuto em
que Massimo pegou minha mão, houve uma mudança na atmosfera.
A tensão evaporou, embora a curiosidade exibida por todos ainda
estivesse lá.
Eu observei com atenção quando o pai dele lhe deu o anel da
família. Depois disso, Massimo parecia diferente. Antes, ele já
estava no comando e tinha muito poder. Mas, ao colocar o anel, me
deu a impressão de que virou um líder de verdade.
Ainda fico impressionada ao constatar quanto ele e os irmãos se
parecem, entre si, e com o pai deles. Todos são altos, morenos e
bonitos. Todos têm feições e olhos parecidos. Andreas é o único que
destoa um pouco. Seus olhos azuis brilhantes não são tão escuros
quanto os olhos de seus três irmãos. Parece que Deus decidiu
variar um pouco apenas para torná-lo diferente. Ele é o mais velho.
Estou surpresa por ele não ser o chefe. No caso da minha família é
diferente porque sou mulher. Na maioria das famílias italianas, sei
que o filho mais velho é quem assume a liderança. Acho que deve
ser diferente aqui. Definitivamente não é algo que eu vou questionar.
Andreas parece mais assustador que Massimo.
Nós comemos uma refeição maravilhosa que eu realmente pude
desfrutar. Depois, fiquei presa conversando com algumas das
esposas que queriam se apresentar a mim. Elas me afastaram dos
homens e me levaram para a sala de estar para conversar. Agora,
estão falando sobre férias. Elas têm sido legais comigo, embora
imagino que deve ser difícil para elas considerando quem sou.
Apesar disso, tentam me fazer sentir bem-vinda. Mais uma vez,
isso me faz questionar quem são os monstros desta estória.
Quando Aurora, a esposa mais jovem, começa a falar sobre
bebês, as outras começam a se preocupar com ela. Não sei o que
diabos dizer, então fico calada.
– Massimo precisa de você – diz uma voz atrás de mim e me viro
para ver Andreas.
– Obrigada – respondo, me sentindo nervosa por falar com ele.
As mulheres param de conversar na presença dele. Percebi o
respeito que todos demonstraram pelos irmãos.
– Por aqui – diz ele, acenando com a cabeça para eu segui-lo.
Eu faço isso e ele me leva por um corredor. Mas, Massimo não
está aqui.
– Onde está Massimo? – pergunto, olhando, inquieta, ao redor.
– Relaxe, achei que precisava ser salva delas quando
começaram a falar sobre bebês. A menos que eu estivesse
enganado? – levanta uma sobrancelha, e meus nervos aumentam.
– Não. E, obrigada. Você está certo – concordo.
– Ah, bom. Eu não gostaria de estar errado.
Eu sorrio, mas meus nervos ainda estão à flor da pele. Não sei
por que, mas me sinto estranha. Algo nele me incomoda. Talvez
seja porque ele é o mais velho. Provavelmente, se lembra melhor do
que Massimo das coisas que meu pai fez.
Ou talvez seja porque sei que seria dele se ele fosse o chefe. O
que teria acontecido comigo nesse caso? Duvido que teria
enfrentado o mesmo destino que tive com Massimo.
Andreas me estuda. Não tenho ideia do que ele está pensando,
então não encorajo a conversa para não dizer a coisa errada.
– Espero que meu irmão esteja tratando você bem – afirma.
– Sim – eu respondo.
– Bem, vocês dois ficam bem juntos – murmura. Aqueles olhos
me perfuram. – Espero que ele continue te tratando bem.
Alguém limpa a garganta. É Massimo. Eu olho para ele e me
surpreendo ao ver que ele tem o mesmo ar possessivo do dia em
que eu estava conversando com Manni na praia. Eu não pensei que
ele seria assim com seu irmão.
– Só salvei sua garota de uma conversa sobre bebês – explica
Andreas.
Ele disse que sou a garota do Massimo.
O dia todo fiquei pensando que Massimo disse algo semelhante
esta manhã. Gosto de ser chamada assim.
– Espero que isso seja tudo o que você esteja fazendo – afirma
Massimo.
Andreas estreita os olhos, caminha até ele e coloca uma mão
pesada em seu ombro.
– Calma, garoto – diz e segura a mão de Massimo. – O anel fica
bem em você. Estou orgulhoso de você, como sempre.
Não tenho muitos amigos. Meu pai me mantinha em rédea curta,
mas não tinha amigos porque as escolas que frequentei abrigavam
muitos esnobes que tinham inveja de mim. Se tem uma coisa que
consigo identificar é um elogio falso.
Como o que Andreas disse sobre o anel. Eu não acredito que ele
ficou bem em não ter sido escolhido para chefe. Não acho que
esteja tão orgulhoso de Massimo quanto diz. Será que Massimo
percebeu isso também? Para mim é tão óbvio.
– Obrigado, irmão – responde ele, dando-lhe um abraço de um
ombro só.
– Vejo você pela manhã – diz Andreas.
– Fique bem – comenta Massimo.
– Sempre. Você também – Andreas lhe dá outro tapinha e se
afasta.
Massimo volta sua atenção para mim e se aproxima.
– Pronta para ir?
– Estou – respondo. – Você sempre vai ser assim quando algum
homem falar comigo?
– Sim.
– Mas, esse é o seu irmão que estava sendo gentil – retruco.
Não sei qual é a estória verdadeira, então vou dar o benefício da
dúvida a Andreas. Deve ser difícil ser o mais velho e não ser
escolhido para liderar a família.
– Meus irmãos são tubarões, Emelia. Aos olhos deles, até que
digamos o 'sim', você ainda estará no mercado.
Ele está falando sério.
– Bem, então estou pronta para ir já.
Colocando a mão na parte inferior das minhas costas, ele me
guia para fora. Sinto que deveria ter me despedido das senhoras,
mas está tudo bem.
Giacomo não falou comigo. Eu não esperava que ele fosse
conversar. E acho que não saberia o que dizer a ele.
Entramos no carro e pegamos o caminho de volta para o lugar
que agora chamo de lar. Quando passamos pelo restaurante onde
encontrei Jacob pela última vez, meu coração dói. Eu não consegui
mentir para Massimo. Queria mentir porque, de fato, Jacob nunca
me disse o que sentia por mim. Teria sido fácil mentir e dizer que eu
não sabia que ele queria ser mais do que amigos. Só que não
poderia fazer isso. Mesmo porque, tenho certeza que Massimo teria
percebido a mentira.Quando estamos a meio caminho de casa, o silêncio começa a
me incomodar. Quero, pelo menos, ter uma ideia do que seu pai
pensou de mim. Os homens ficaram conversando por um longo
tempo. É horrível quando você sabe que as pessoas estão falando
de você. Não serei egocêntrica achando que passaram o tempo
todo falando sobre mim, mas, tenho certeza de que fui discutida.
Eu me viro para Massimo e observo o contorno de suas belas
feições contra a o luar e o suave brilho âmbar das luzes dentro do
carro. Às vezes, me pego olhando para ele porque suas feições são
tão marcantes. Outras vezes, olho para ele porque ele é um
mistério. Um homem que pode mudar de humor como o vento, mas
que também tem segredos, muitos segredos.
– O que foi? – pergunta ele.
O profundo tom de barítono de sua voz atravessa o manto de
silêncio.
– Estava apenas pensando no que seu pai deve achar de mim.
– Ele não disse nada – responde Massimo. Não estou muito
certa de como deveria tomar isso. É bom ou ruim? Não pode ser
bom, com certeza. – Não coloque minhocas na cabeça, principessa.
Ele é assim mesmo.
Eu penso nisso por um momento, lembrando de quando
chegamos na casa. Giacomo não tinha a mesma energia maliciosa
que senti quando nos conhecemos. Diria que esta noite quase
parecia que estávamos em um simples jantar em família.
– Foi legal da parte dele me apresentar – afirmo.
É verdade. Ele não precisava e sei que isso definiu a maneira
como todos os outros deveriam me tratar.
– Foi mesmo.
Começa a chover e Massimo estende a mão para o painel
ornamentado de seu carro e liga o rádio. Encontra uma estação de
jazz e se contenta com isso.
Tomo nota de pequenas coisas assim porque este homem é a
definição de um livro fechado. Fiquei surpresa dias atrás quando ele
contou tanta coisa sobre sua mãe. Agora, descubro que gosta de
jazz.
– Você gosta de jazz – declaro e me sinto melhor quando os
cantos de seus lábios se transformam em um sorriso sensual.
– Gosto. Ele acalma a alma. Assim como meu carro.
Eu rio. Ele se vira totalmente para olhar para mim. Percebo que
sempre que dou um sorriso ou risada, ele me lança um olhar de
fascínio.
– Seu carro acalma sua alma? – pergunto, tentando não
gargalhar.
– Meu carro acalma minha alma.
– Como, exatamente? Entendo por que o jazz acalma. Eu gosto
de jazz, mas como diabos seu carro faria a mesma coisa
Uma risada profunda ressoa em seu peito e, como toda vez que
o escuto rir, saboreio o som.
– Simplesmente acalma, princesa. Este aqui, me acalma – bate
no painel.
– Tem alguma coisa a ver com o fato de ser um Bugatti? Um
sinal claro de riqueza?
Ele sorri.
– Não dou a mínima para isso. Eu gosto de coisas bonitas. Eu
nem sempre tive riqueza, então acho que faço um agrado para mim
mesmo quando estou a fim.
Penso no fato de que ele nem sempre teve riqueza e tento
imaginar como deve ter sido para ele. Nem todos tiveram o privilégio
de viver no luxo que tive a minha vida toda. Deve ter sido difícil
passar de tudo para nada, depois ter que reconstruir.
– Bugatti é uma boa marca – afirma. – Olho para ele e lembro
até onde cheguei. É um carro confiável.
Está prestes a dizer alguma coisa quando o carro dá um
solavanco, faz um som estridente e desacelera. Massimo o conduz
até o acostamento, onde ele morre.
– Porra, o que diabos é isso agora? – ele xinga, tentando
reiniciar o carro.
Não funciona. As luzes do pisca alerta acendem, mas isso é
tudo.
Não entendo muito sobre carros, mas este não vai se mover
daqui esta noite. A parte eletrônica parece ter desaparecido, o que
significa que precisa de um mecânico.
– O que há de errado com ele? – pergunto.
– Não sei. Vou conferir – Ele sai e a chuva respinga nas minhas
pernas antes dele fechar a porta.
Ele levanta o capô do carro, mexe em vários lugares, até que
volta para meu lado do carro e descansa a cabeça molhada no topo
da porta.
– O carro não tem conserto. Vai levar duas horas para o guincho
chegar até nós – O tom tempestuoso de seus olhos combina com o
azul de meia-noite do céu. – Porra, troco de carro regularmente para
evitar esse tipo de merda.
– Há quanto tempo tem esse carro? – pergunto.
Ganhei meu carro quando aprendi a dirigir, três anos atrás, e
nunca pensei em trocá-lo.
– Dois meses.
Pressiono meus lábios para não rir, mas perco a batalha em dois
segundos.
– Por que está rindo, Emelia?
– Porque isso é hilário. Não foi você quem acabou de dizer que
este carro era tão confiável e bem-feito?
Ele faz uma cara severa antes de rir também.
– Isso não é engraçado. Deveria ser confiável.
Decidindo me juntar a ele, abro a porta e saio. A chuva não está
tão forte agora, embora ainda esteja garoando. Gosto de sentir a
chuva na minha pele. Especialmente quando o tempo está quente,
como agora.
Massimo me observa atentamente enquanto me aproximo dele.
– Meu Miata nunca me deixou na mão e eu o tenho há três anos.
– Boneca – diz ele, encostado na porta do carro. – Você
consegue me ver dirigindo um Miata?
– Pelo menos, não quebraria como este. Miatas são carros
confiáveis.
Ele estuda meu rosto.
– Venha aqui – diz ele, inclinando a cabeça para o lado.
Quando me aproximo, ele alcança minha cintura, me puxando
para perto, eliminando o espaço entre nós. Seus lábios encontram
os meus e nos beijamos.
Toda vez que esse homem me beija, acabo me esquecendo de
tudo. Toda vez que ficamos juntos, de forma íntima, tudo o que
existe no meu mundo é ele e eu, e o que somos um para o outro
nesses momentos.
É perigoso para mim pensar assim.
Hoje, o dia todo, foi um grande lembrete para mim, um aviso de
que não posso me permitir me apaixonar por ele. Mas, fica difícil
quando ele me beija como se quisesse me consumir.
Afastando-se dos meus lábios, ele segura meu rosto, me
encarando.
– Essa boca insolente.
– Mas, é verdade. Miatas são carros confiáveis – corro meus
dedos sobre seu peito e seus olhos percorrem meu corpo.
– Estamos a cerca de uma milha de casa. Vou chamar um táxi.
Eu quero você, mas essa estrada está muito aberta para eu tirar sua
roupa aqui mesmo e te foder sobre o capô do meu carro.
Minhas bochechas queimam em resposta à imagem dele
fazendo exatamente isso comigo. Acho que eu gostaria disso. Pena
que estaríamos expostos.
– E se caminhássemos? Vai demorar um pouco para esperar o
táxi. Poderíamos simplesmente caminhar juntos.
Seus olhos se estreitam.
– Você quer andar comigo?
– Sim.
– Com esses sapatos?
Ele aponta meus sapatos de salto alto. Ele tem razão. Seria um
pesadelo andar por mais de dez minutos. No jantar, fiquei feliz por
não ter que me mover muito neles.
– Vou conseguir – afirmo porque seria bom apenas caminhar. –
Assim, podemos conversar um pouco mais sobre o que gostamos.
Ele olha para mim como se a ideia fosse estranha, mas balança
a cabeça.
– Tenho uma ideia melhor – diz ele.
Suspiro quando ele me pega no colo.
– Vai me levar até em casa? – provoco, com uma risada.
– Vou, princesa – responde ele.
Passo meus braços ao redor de seu pescoço e ele sorri para
mim.
– Gosto de Bugattis, mesmo que este tenha me feito parecer um
idiota – diz ele, chutando a porta com o calcanhar.
– Gosto de Miatas. São carros confiáveis – repito.
Ele começa a andar pela estrada.
– Também ando de moto.
– Sério?
– Sim – responde, passando a falar sobre sua Ninja X2.
Ele fala comigo como se sempre tivéssemos sido assim, um
casal. Estou tão impressionada com suas palavras e a maneira
como seu rosto se ilumina enquanto ele fala que tudo o que faço é
ouvir.
Chapter
Vinte E Seis
A
EMELIA
conversa está tão boa que mal percebo o tempo passar e já
chegamos de volta em casa. Os portões se abrem antes mesmo
de chegarmos perto e os guardas nos olham, observando Massimo
me carregar.
Ninguém diz nada. E nós apenas continuamos pelo longo
caminho até a casa.
As portas se abrem para nós também e me preparo para descer
do colo dele, quando entramos, mas ele não me coloca no chão,
continua me carregando. Seguimos em direção ao meu quarto, mas
por um caminho que não conheço.
– Para onde vamos?
– Meu quarto. Quero você na minha cama. Ficarána minha
cama a partir desta noite. Vou trazer suas coisas amanhã.
Uma decisão como essa, tomada assim no calor do momento,
deveria me desequilibrar, mas não é isso que acontece. Apenas
olho para ele. Estou trilhando caminhos perigosos, não apenas em
minha mente. Desta vez, também em meu coração. Estou
colocando–o em risco porque continuo esquecendo quem somos.
A ideia de estar em sua cama faz minha cabeça girar, e minha
alma vai junto, direto para os braços da tentação.
Chegamos à uma porta que ele abre, entra e só então me coloca
no chão. Quando as luzes se acendem, fico atordoada com a
elegância de seu quarto.
É tão grande quanto um apartamento. Agora posso entender
como ele consegue desaparecer por dias e não ser visto em
nenhum lugar. Uma pessoa poderia viver nesta parte da casa. Há
uma área com um sofá de couro preto e uma televisão de cinquenta
polegadas na parede. Um lugar perfeito para relaxar e passar o
tempo. À esquerda, uma passagem em forma de arco leva ao
quarto propriamente dito.
Massimo pega minha mão e me conduz pelo arco.
Quando entramos, a decoração me lembra uma clássica vila
europeia. Exatamente como vi tantas vezes na Itália.
Uma cama de mogno king-size domina o centro do espaço e
todos os móveis combinam com a cama. Um lustre de ferro forjado
paira sobre nós. O teto é alto e as paredes são pintadas em creme e
azul-marinho, exceto uma que é toda de vidro.
Posso ver a praia daqui e, a julgar pelo ângulo desta vista, o
quarto dele não está muito longe do meu. Há uma porta lateral que
aposto deve levar até meu quarto, através de algum tipo de
corredor.
Há uma porta no meu quarto também, sempre trancada. Achei
que levasse para fora. Agora, sei que liga ao quarto dele.
– Seu quarto é perto do meu – declaro.
– É sim. Parece que está decidindo ainda se fica brava comigo
ou não.
– Não estou brava.
– Bom, não quero perder tempo disciplinando você esta noite. A
menos que queira umas boas palmadas. Você ficou tão molhada
depois daquela surra na outra semana.
Seu sorriso safado e palavras escandalosas fazem o meu corpo
todo corar sob o olhar faminto dele.
– Não gostei daquilo – respondo.
Está certo em olhar para mim com descrença porque fiquei
mesmo molhada. E ele sentiu a maior evidência de que o que ele
fez me excitou para cacete.
– Não se preocupe. Prometo que da próxima vez será ainda
mais prazeroso. Você tem uma bunda perfeita, principalmente para
tomar uns bons tapas.
Ele ri quando eu engulo em seco e esse som mexe comigo,
como sempre.
Mantenho meu olhar grudado em seu rosto. Ele passa a língua
pelo lábio inferior e caminha para postar-se atrás de mim. Seu calor
toca minha pele enquanto ele desce o zíper do meu vestido, e nós
dois observamos o material leve flutuar até meus pés. Meu sutiã
sem alças segue o mesmo caminho. Ele enche suas palmas com
minha carne nua, acariciando e apertando até eu gemer sob seu
toque.
– O vestido ficou lindo em você, mas prefiro seu corpo nu. Amo
brincar com seus seios, tão grandes e macios – murmura em meu
ouvido, seu hálito quente faz cócegas na minha pele.
Eu gemo de prazer enquanto continua a massagear meus seios.
O prazer assume controle da minha mente. Estou pronta para
recebê-lo quando ele me vira para continuar o beijo que partilhamos
na estrada.
Nossos lábios se encontram, e eu decido que esta noite será
diferente. Normalmente, sou como uma boneca para ele brincar,
mas hoje também o quero. Quero explorar seu corpo do jeito que
ele explora o meu. Quero aproveitar cada segundo compartilhado
com ele.
Puxo sua camisa, liberando-a da calça e começo a desabotoar.
Na metade do caminho, ele segura minhas mãos gananciosas,
aperta-as contra si.
Um sorriso safado levanta os cantos de sua boca quando ele se
afasta de mim para examinar meu rosto.
– Você me quer, admita – exige com um olhar tão faminto que
me faz derreter.
– Eu quero você – respondo, sem hesitação, apesar da vergonha
queimando minha face.
Ele se aproxima, parecendo um grande animal predatório, como
se fosse me devorar. O medo momentaneamente me preenche.
– Cuidado, Emelia – avisa. – Muito cuidado com o que deseja,
minha princesa. Se não, você vai conseguir, e nem sempre será
uma coisa boa. Eu sou o lobo mau, o diabo. – Ele me encara, firme.
Mas, quando olho para ele, só vejo o Massimo que meu coração
deseja. O homem que me atrai, faz meu coração bater acelerado.
– Tem certeza que me quer?
– Você não quer que eu te deseje?
– Não. Porque você merece coisa melhor – sussurra.
Mas, acho que é mentira. Acho que ele quer mesmo acreditar
nisso, só que não é verdade. Seus olhos ficam tão escuros quanto o
céu na hora do pôr do sol e ele me lança um olhar duro.
– Sou um filho da puta egoísta, Emelia – continua ele. – Mas, já
deve saber disso. Então, quero que me deseje, independentemente
de isso ser bom ou ruim.
Ao invés de responder com palavras, retomo minha missão,
terminando de desabotoar sua camisa. Ele permite que eu a retire
antes de desabotoar seu cinto. Enquanto me ocupo em despi-lo,
Massimo brinca com meus seios, distraído. Seus polegares
pressionam meus mamilos duros.
— O que vai fazer comigo? – indaga ele, sorrindo.
– Quero chupar seu pau – respondo e meus ouvidos queimam
com essas palavras.
Nunca disse isso e nunca fiz isso antes. Sei que ele quer e eu
também.
– Verdade? – seu sorriso se alarga, enquanto seu olhar prende o
meu.
– Sim – respondo.
Abro sua braguilha e puxo para baixo o elástico de sua cueca
boxer. Seu pau salta, ereto e livre. Passo meus dedos ao longo de
seu comprimento. Ele está duro feito aço e pronto para me penetrar.
Mas, hoje vou degustá-lo primeiro.
Eu me ajoelho e lambo as gotas de sua excitação que se
acumularam na larga cabeça em forma de cogumelo. Tem um gosto
salgado e masculino, o gosto dele.
Aperto meus dedos ao redor da base e massageio seu pênis,
para cima e para baixo, antes de enfiá-lo na boca. Ele geme como
nunca ouvi antes.
Não tenho ideia do que estou fazendo, mas sua reação me diz
que estou indo bem. Não quero que pense em ninguém quando
estiver comigo. Nem que me compare com outra, como a Gabriella.
Chupo mais forte quando a imagino fazendo um boquete nele. Ele
enterra os dedos em meu cabelo.
– Puta merda, Emelia, você é perfeita para caralho.
Tomo isso como um sinal de que estou fazendo um bom
trabalho, então continuo chupando forte. Ele empurra os quadris
para frente, fodendo minha boca com o mesmo vigor que costuma
impor à minha vagina. Ele leva seu pau mais fundo e eu aceito. Ele
aumenta seu aperto sobre a minha cabeça e eu aguento. Ele
esfrega seu pau em minha garganta com tanta força que sinto que
vou engasgar. Mas, aceito porque sei que ele está gostando.
Quando começo a massagear suas bolas, ele geme alto, como
sempre faz antes de gozar, mas ele para e acaricia meu cabelo com
seus dedos quentes. Paro de chupar e procuro seus olhos.
– Não quero terminar na sua garganta – ele geme, me puxando
para cima. Seu rosto está ainda mais lindo, cheio de prazer. Um
prazer que eu dei a ele. –– Quero gozar dentro de você, mas quero
te foder de um jeito diferente, Emelia. Você vai me deixar ser mais
depravado, mais sombrio esta noite, principessa?
O pau dele continua ereto, a ponto de explodir, mas ele ainda
possui controle suficiente para beijar meus lábios com tanta força
que eles queimam.
– O que vai fazer? – pergunto.
Há uma sombra à espreita no fundo de seus olhos endurecendo
seu rosto com um desejo que chega a ser brutal. Fico curiosa em
saber o que ele quer dizer com mais depravado e mais sombrio.
Ele me leva até a parede onde fica o guarda-roupa, me solta e
puxa uma cortina. Achei que ela cobria uma janela, mas descubro
que não. Meu queixo cai quando meu olhar pousa sobre uma
grande cruz de metal em forma de X, montada em um canto. Ao
lado, há uma pequena mesa com uma variedade de correntes,
algemas, cordas e chicotes.
Equipamento de BDSM. É isso que estou vendo.
Apesar de ter sido superprotegida por toda a minha vida,
precisaria ter sido surda para não escutar as conversas picantes
que rolavampelo campus. Ou ignorar os segredos que os amigos
hardcore de Jacob mantinham. Eles falavam o tempo todo sobre
esse tipo de coisas.
No espaço de poucas semanas, dei meu primeiro beijo, perdi
minha virgindade e agora olhe para mim. Onde estou me metendo?
Com o que estou concordando?
– Está com medo, princesa? – pergunta atraindo meu olhar que
estava grudado na estrutura de metal. – Quero te amarrar e te foder.
Quero viver uma fantasia sombria que tenho desde que te vi pela
primeira vez no baile de caridade.
O pensamento de um homem como ele fantasiando sobre mim é
o que me prende e me faz desejar que ele me amarre e faça o que
quiser comigo.
– Isso assusta você, princesa? – pergunta novamente.
– Não – respondo, mesmo sem ter plena certeza do que estou
dizendo.
Sinceramente, estou com um pouco de medo e a razão diz que
deveria estar tentando fugir deste quarto. Porém, meu coração me
mandou dizer que sim.
Dizer sim e concordar com tudo o que este homem quiser fazer
comigo.
Profunda satisfação ilumina seus olhos. Desejo queima no fundo
de seu olhar, com um calor tão intenso que me derrete.
— Você me permite amarrá-la? – afastando-se da cortina, ele
pega minha mão. Levando-a à boca, plantando um beijo em meus
dedos. – Pode dizer não. Pode me mandar a merda se isso for
demais para você. Mas, quero muito te foder assim.
Eu quero que ele me queira desse jeito, de todos os jeitos.
– Eu quero também – respondo e engulo em seco tentando
acalmar o desejo que pulsa no fundo da minha garganta.
– Precisa confiar em mim para isso funcionar. É simples assim.
Só você e eu.
– Sim – respondo.
É o sim mais fácil que já dei a ele porque também quero muito
isso.
– Sua palavra de segurança é vermelho, principessa. Não vou
fazer nada para te machucar, mas se fizer algo que você não queira,
ou precisar de um fôlego, basta dizer vermelho. Entendeu?
– Entendi.
Ele fecha a mão sobre a minha e me conduz até a cruz.
Enquanto analiso a estrutura, ele pega um par de algemas de couro
sobre a mesa, prendendo uma algema no lado esquerdo da cruz,
passando a corrente pelo pequeno aro no topo.
Ele estende a mão para mim, pedindo a minha. Quando a dou,
ele prende a faixa larga de couro no meu pulso e repete a mesma
coisa do outro lado.
Ele tira minha calcinha, antes de prender meus tornozelos na
parte inferior do X. Quando termina de me amarrar, estou
completamente à sua mercê.
Mas, isso não me importa. Já entreguei meu corpo a ele. Dei a
ele minhas escolhas e minha mente. Meu coração me mandou fazer
isso.
Ele tira as calças e a cueca. Agora, ambos estamos nus.
Caminhando até mim, ele se agacha e enterra o rosto entre as
minhas coxas para sugar meu clitóris, bem devagar. Sua lenta
suavidade me deixa mais excitada.
O comprimento das correntes, presas aos meus tornozelos,
permite movimento suficiente para ele me posicionar do jeito que ele
preferir para me comer. O mesmo acontece com as algemas nos
meus pulsos, permitindo me curvar para frente. Tudo está ajustado
para me mover para qualquer posição sexual que ele queira. Na
medida do possível, aperto meu corpo contra sua língua implacável
enquanto ele a usa para chicotear minha boceta, atormentando meu
corpo.
– Oh, Deus! – grito, jogando minha cabeça para trás. – Porra –
alcanço o orgasmo imediatamente. A prova líquida do meu gozo flui
direto para sua boca. E ele bebe tudo, usando uma mão para
massagear meus mamilos. Com as restrições aos meus
movimentos, não consigo me mexer da maneira que faria para obter
mais prazer. Isso é bom, mas doloroso ao mesmo tempo por causa
da sobrecarga de prazer intenso.
– Massimo! – grito.
Ele responde com uma risada sombria que reverbera pela minha
carne.
– Grite meu nome, principessa, até não poder falar. Mal comecei
com você.
Suspiro alto quando mergulha seu rosto de volta e continua se
banqueteando. Desta vez, sinto ainda melhor sua língua safada. O
fato de não poder me mover me mantém nas garras do prazer. E
tudo que posso fazer é aceitar tudo que ele me dá, tudo o que ele
quiser fazer com meu corpo. Não preciso pensar, nem decidir.
Estou viciada e ávida por mais desse prazer sujo, escuro e
perigoso que ele me apresentou. E que ele continua me dando mais
e mais. Gozo novamente, gritando. Desta vez, não sai nenhuma
palavra dos meus lábios, apenas o som primitivo do prazer puro que
ele me dá.
Massimo se levanta, lambendo os lábios, o néctar da minha
boceta escorre pelo canto de sua boca.
Seu pau parece que está para estourar, mas ele ainda exala
aquele ar de controle. Quero tocá-lo, mas ele está no comando do
que faremos a seguir.
Ele se coloca atrás de mim e agarra meus quadris. Alinhando
seu pau com a minha entrada, penetrando minha boceta por trás, o
ângulo permitindo que ele atinja todos os meus pontos sensíveis.
Suspiro quando meu corpo se estica para acomodar sua largura e
comprimento.
Ele começa a me foder. É tão bom que mal consigo respirar. Eu
me sinto tão incrível que esqueço que estou amarrada.
Ele bombeia seu pau com força, e aceito suas estacadas duras.
Ele agarra um punhado do meu cabelo, entrando e saindo de mim,
fazendo nossos corpos se chocarem. Os sons de nossos gemidos
enchem o quarto e se juntam à música de carne contra carne,
resultante de fazer sexo tão quente.
Outro orgasmo toma conta de mim e ele solta meu cabelo. Seus
golpes profundos e descontrolados jogam meu corpo para frente,
contra as amarras, fazendo as correntes tilitarem.
Seus dedos quentes descem pelas minhas costas, deixando um
rastro de fogo, até que circulam sobre a roseta apertada do meu cu.
Quando ele empurra os dedos para dentro, meus joelhos dobram e
ele diminui a velocidade de seus movimentos.
– Princesa, por favor, deixa eu te foder aqui. Deixa – geme.
Eu deveria ficar indignada, mas quero dar tudo a ele.
– Sim – respondo, em um suspiro de prazer.
Seu pinto desliza para fora de mim e Massimo se afasta por um
instante. Logo retorna carregando um tubo de gel e cobre minha
bunda com a substância gelada. Esguicha o lubrificante entre
minhas nádegas, enfiando-o para dentro do pequeno orifício com os
dedos. Empolgada com o prazer que ele me dá, mal percebo
quando a cabeça gorda de seu pau pressiona o buraco proibido.
Meus olhos se arregalam quando ele avança e tudo fica tão
estranho de repente.
– Está tudo bem, princesa, prometo que isso vai passar logo e
você vai se sentir bem – ele me acalma, acariciando minhas costas
suavemente.
Seus gestos são tão delicados, ele está tão gentil que mal posso
acreditar que é o mesmo Massimo que adora me foder com
urgência e força.
Em resposta, solto um gemido alto e ele para.
– Vermelho, princesa? Pode dizer vermelho. Você manda esta
noite.
Suas palavras me pegam de surpresa, fazendo meu coração
esquecer de bater. Tento olhar para ele, mas meu cabelo cai sobre
meu rosto.
– Não. Quero que continue – sussurro, e ele me acaricia
novamente.
Lentamente, ele enfia o resto do seu longo pênis até que esteja
todo dentro. Uma explosão de prazer queima meu corpo. Puta
merda, a nova sensação é inacreditável.
Mas, fica ainda melhor quando ele começa a se mover
lentamente mais para dentro de mim, indo mais fundo. Prazer
urgente inunda minha mente e grito tão alto que todos na casa e nos
arredores devem ter me ouvido. Merda.
O som parece encorajá-lo porque ele começa a bombear com
mais força. Meu corpo já se adaptou ao seu tamanho e está pronto
para receber sua estocadas. Assim, quando ele aumenta a
intensidade e fode minha bunda com a mesma força que costuma
foder minha boceta, tudo que sinto é prazer, um deleite puro que se
espalha de dentro para fora.
Eu gozo novamente. No mesmo instante, seu pau ejacula dentro
de mim e ele solta um grito feroz, soando como um guerreiro
vencendo uma batalha. O calor de seu esperma me marca,
reivindicando essa parte de mim como ele fez quando tirou minha
virgindade. Não resta mais nada que possa dar a ele. Este homem
levou tudo.
Nós nos acalmamos, mas estou completamente exausta,
esgotada. Não resta nenhuma energia em mim. O peso do cansaço
tomou contado meu corpo inteiro.
Ele me segura com uma mão enquanto solta as algemas. Uma
de cada vez, me libertando de sua fantasia. Sei que ele gostou, mas
o prazer que me deu foi diferente de tudo que já experimentei.
Como uma droga, eu quero mais. Mais dele.
Ele me pega no colo e me leva para a cama. Estou tão esgotada
que mal percebo que ele não se deitou. Mas, logo reaparece,
passando um pano quente e úmido sobre o meu sexo e a minha
bunda, limpando a bagunça que fizemos. Quando termina, ele se
deita ao meu lado. Eu me viro para que seus braços possam me
segurar.
– Você está bem, principessa? – pergunta.
– Estou cansada.
– Eu cuidarei de você.
Sua afirmação parece mais um juramento, um voto. Será que é?
Prendo seu olhar com o meu. É como se o estivesse vendo pela
primeira vez. Há um brilho profundo no azul escuro de seus olhos. É
igual ao que vi na pintura que a mãe dele fez. É a alma dele. Isso é
o que ela pintou. Ela me deu uma janela para sua alma que agora
consigo usar para enxergar quem ele realmente é.
– Eu vejo você – afirmo.
Lentamente, ele balança a cabeça e o brilho desaparece.
– Não.
É um bom conselho que pode ser aplicado a muitas coisas, mas
sei exatamente o que ele quer dizer. Ele está avisando para não me
apaixonar por ele, é isso que ele está tentando me dizer.
Esta noite, pensei muito no que tudo isso está fazendo com meu
coração. Pedi a mesma coisa ao velho teimoso. Massimo já levou
tantos pedaços de mim. Achei que não tinha mais nada para lhe dar.
Mas tenho. Tenho ainda meu coração e minha alma. Isso é tudo
que me resta.
Ele não me ama. Nem acho que ele sabe amar alguém.
Então, eu nunca devo permitir que ele tire essas duas últimas
coisas de mim porque ele não vai me dar o coração dele em troca.
Chapter
Vinte E Sete
E
MASSIMO
u saio para o terraço e admiro as estrelas enquanto as memórias
da noite passada voltam.
Sempre irei me lembrar do brilho nos olhos de Emelia, do jeito
que ela me olhou a noite inteira.
– Eu vejo você. – Foi isso que ela me disse. Eu entendi o que ela
quis dizer. Ela conseguiu ver minha alma atrás da parede que
construí com tanto cuidado ao longo dos anos. Ela enxergou o meu
verdadeiro eu.
Assim como no baile, baixei a guarda. No baile, quando a vi pela
primeira vez, ela me impressionou tanto que não consegui manter a
muralha firme. A mesma coisa aconteceu ontem. Permiti que ela
entrasse.
Mas eu arruinei o momento. Esmaguei a conexão como se fosse
um inseto. Esmaguei antes que pudesse florescer. Matei os
sentimentos que compartilhamos depois de tudo que vivemos na
noite passada.
Ela confiou seu corpo a mim, quando permitiu amarrá-la. O que
ela não sabia é que estava me entregando mais do que isso. Ela me
deu sua própria confiança. A maioria das pessoas não pensa nisso
como um conceito tão importante quanto amor, amizade,
compaixão. Mas, é tão importante quanto.
Fizemos sexo mais duas vezes durante a madrugada. Foi bom
tê-la finalmente na minha cama, mas havia algo diferente nela.
Será que prestou atenção ao meu aviso para não se apaixonar
por mim?
Não devo me apaixonar por ela também. Mas, seria tão fácil
porque já estou quase lá. No entanto, há tantas razões pelas quais
não posso amá-la. Tantas razões pelas quais não deveria. Ela
também não deve me dar seu amor.
Estamos nisso só por causa de um contrato. O amor é uma
fraqueza que não posso permitir. No meu mundo, esposas não
contam.
As mulheres na casa do meu pai ontem são bons exemplos
disso. Embora, admita que meu primo Matthew está claramente
apaixonado por sua esposa. Mas, essa é uma escolha dele e fico
feliz por eles. Mas, todos os outros homens lá traem suas esposas.
Eu odeio isso, mas o que eu pensei que faria? Casar-me com
Emelia e respeitá-la como minha esposa, do jeito que acho que
deveria ser? Ou teria amantes como a maioria dos homens da
minha família?
Pa não fez assim com minha mãe. E, embora meus irmãos
sejam animais loucos por sexo, sei que quando se apaixonam, eles
amam demais. Da mesma forma que eu sempre achei que faria.
É por isso que não posso me apaixonar e sei que é por isso que
meus irmãos também não. O amor queimou nosso pai, queimou
Tristan. A última coisa que quero fazer é me apaixonar do jeito que
eles fizeram e perder minha garota.
Com Emelia, seria muito difícil se a perdesse ou se falhasse com
ela de alguma forma. Não posso viver com medo.
O medo te deixa fraco. Como chefe e membro do Sindicato, não
posso mostrar fraqueza. Emelia é um plano que está indo bem.
Falta uma semana para o casamento. Estou prestes a ter tudo. Não
posso estragar as coisas agora.
Volto para dentro quando meu telefone vibra no bolso traseiro da
minha calça. Meu pai está aqui querendo me ver. Acabei de chegar
do clube onde fui cuidar das contas. Emelia ainda nem me viu.
Desço até a sala de estar e, quando chego, meu pai já está
acendendo um charuto. Entro e fecho a porta. Ele quer falar comigo
em particular, mas preciso falar com ele também. A situação com
Vlad está me incomodando.
– Oi, Pa – digo, sentando-me à sua frente.
– Filho, você está com uma cara horrível – sorri, me olhando
com cuidado.
– Já tive dias melhores.
– Fale comigo, sou todo ouvidos – oferece.
Suspiro, passando a mão pelo meu cabelo.
– Não sei o que fazer sobre Vlad. Não sei se ainda está em Los
Angeles. Ele normalmente não fica em um lugar por muito tempo.
– É bem possível que já tenha saído. Por outro lado, ainda pode
estar aqui. Tudo depende do motivo dele ter vindo. Ele e as
Sombras.
– Exato, só que não há como descobrir isso – respondo.
Pa olha para mim longa e duramente.
– Você está preocupado com ela – observa ele. – Emelia.
– Devo protegê-la se ela estiver comigo.
Vai ser difícil falar com ele sobre ela sem entregar muita emoção.
– Você praticamente declarou que ela é sua ontem à noite. Eu vi.
Ele não está me questionando. Ele está afirmando um fato.
Passo a mão por minha barba.
– Queria que ela se sentisse confortável – respondo, e sua
expressão suaviza.
– Notei isso, mas havia mais. Ela não é como ele. Não é como
Riccardo.
– Não, ela não é – fito o chão.
– Você gosta dela – afirma.
Meu olhar volta a encontrar o dele.
— Só estou fazendo o que tenho que fazer. Esse é o acordo,
certo?
Ele sorri para mim.
– Massimo, você vai se casar com essa garota na próxima
semana. Ela está com você há três semanas, o casamento foi ideia
sua. Uma ideia brilhante com a qual eu teria concordado de
qualquer maneira. Mas, notei como você ficou puto da vida quando
Riccardo falou sobre ela na reunião do Sindicato.
Eu mordo o interior do meu lábio.
– Ele me irritou, só isso.
– Seus olhos te entregaram, filho. Eu vi o jeito que ela olhou para
você no jantar e como você olhou para ela. Você quer protegê-la. Da
mesma forma que eu era com sua mãe.
Ele se endireita e me encara. Sustento seu olhar, sem saber o
que dizer. Se há alguém com quem posso ser honesto, é meu pai.
Mas, é difícil porque estamos falando da filha do nosso inimigo.
– Não quero que nada aconteça com ela.
– Entendo – um brilho inquieto se instala em seus olhos. –
Massimo, sinto que chegou a hora de compartilhar uma ou duas
coisas sobre o passado. É por isso que eu queria ver você.
Meu interesse desperta. O que ele vai me dizer?
Ele respira fundo antes de falar.
– Tenho certeza que já se perguntou o que aconteceu para fazer
Riccardo me odiar, nos odiar tanto. Eu sempre falei que tivemos um
desentendimento. É verdade, mas não do jeito que todos pensam.
– O que aconteceu?
Há tanto tempo estou consumido pelo ódio por tudo o que
Riccardo fez conosco que nunca me preocupei com detalhes da
estória.
– Nós três começamos como melhores amigos. Eu, Riccardo e
sua mãe. Eu sempre a amei. Sempre. Mas, nunca pensei que fosse
bom o suficiente para ela. À medida que ficamos mais velhos, eu me
esquivei e ele tomou a frente.
Eu me endireito, sem entender para onde esta conversa está
indo. Eu sabia que meus pais conheciam Riccardo quando eram
mais jovens e praticamente cresceram juntos porque suas famílias
eram do Sindicato. Mas, parece que papai

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