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Equoterapia A importância do Médico Veterinário e a utilidade do cavalo ATUAÇÃO PROFISSIONAL ENTREVISTA Bernard Vallat Diretor geral da OIE Janeiro a abril 2014 ano xx brasília df ISSN 1517-6959 61 Revista Cães de Guerra Como são treinados e utilizados em serviço avicultura agroecológica Um mercado em expansão nº 61 Janeiro a Abril 2014 16 12 44 33 16 CAPA equoterapia a importância do Médico veterinário e o valor do cavalo 21 a prática Médico-veterinária na equoterapia 5 enTreVisTa Bernard vallat Diretor Geral da Oie 8 O mundo vem ao Brasil para discutir o ensino da Medicina veterinária 9 Novas estratégias de ensino e aprendizagem para formação profissional 12 Uma nova agenda para Médicos veterinários e Zootecnistas 14 Bem-estar animal: quais serão as respostas e soluções? 25 Destaques CFMv 28 CFMv na mídia 29 avicultura agroecológica é possível 33 Cães de guerra 37 tratamentos hormonais e inseminação artificial em tempo fixo em bovinos 44 Números da Medicina veterinária e Zootecnia no Brasil 49 suplemento Científico 84 Opinião: Paulo Maiorka 86 Publicações SUMÁRIO Bernard Vallat a primeira edição de 2014 da Revista CFMv está totalmente renovada. ela segue seu propósito de educação continuada, mas com novo projeto gráfico para uma leitura mais agradável. Também traz temas diversificados sobre a atuação de Médicos veterinários e Zootecnistas. Nesta edição, o destaque vai para a equoterapia, uma das áreas em expansão na Medicina veterinária e Zootecnia. Com uma lei que regulamenta a atividade em fase final de tramitação no Congresso Nacional, o Conselho Federal de Medicina veterinária (CFMv) foi atuante para garantir que os Médicos Veterinários fizessem parte da equipe de apoio da atividade. além disso, a revista aborda assuntos sobre novas estratégias de ensino na graduação e aprimoramento, tecnologia, bem-estar animal e artigos de destaque no caderno científico. Convidamos você a participar da Revista CFMv com sugestão de temas, avaliação e envio de artigos. boa leitura! a Revista CFMv é quadrimestral e destina-se à divulgação de trabalhos técnico-científicos (revisões, artigos de educação continuada e artigos originais) e matérias de interesse da Medicina veterinária e Zootecnia. a distribuição é gratuita aos inscritos no sistema CFMv/CRMvs e aos órgãos públicos. a Revista CFMv é indexada na base de dados agrobase. aGRis L70 CDU619 (81)(05) É permitida a reprodução de artigos da revista, desde que seja citada a fonte. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores, não representando, necessariamente, a opinião do CFMv. as fotos enviadas serão automaticamente cadastradas no banco de imagens do CFMv com o devido crédito. Conselho federal de Medicina Veterinária sia – trecho 6 – Lotes 130 e 140 Brasília-DF – CeP 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 www.cfmv.gov.br cfmv@cfmv.gov.br tiragem: 95.000 exemplares diretoria executiva Presidente Benedito Fortes de arruda CRMv-GO nº 0272 Vice-Presidente eduardo Luiz silva Costa CRMv-se nº 0037 secretário-Geral antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk CRMv-PR nº 0850 Tesoureiro amilson Pereira said CRMv-es nº 0093 Conselheiros Conselheiros efetivos adeilton Ricardo da silva CRMv-RO nº 0002/Z Fred Júlio Costa Monteiro CRMv-aP nº 0073 José saraiva Neves CRMv-PB nº 0237 Marcello Rodrigues da Roza CRMv-DF nº 0594 Nordman Wall Barbosa de Carvalho Filho CRMv-Ma nº 0454 Nivaldo de azevedo Costa CRMv-Pe nº 1051 Conselheiros suplentes Francisco Pereira Ramos CRMv-tO nº 0019 Heitor David Medeiros CRMv-Mt nº 0951 João esteves Neto CRMv-aC nº 0007 José Helton Martins de sousa CRMv-RN nº 0154 Conselho editorial Presidente antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk líder da Área de Comunicação Helenise Ribeiro Caldeira Brant editor Ricardo Junqueira Del Carlo subeditora Flávia tonin Coordenador de Comissões Joaquim Lair revista CfMV editor Ricardo Junqueira Del Carlo CRMv-MG nº 1759 Jornalista responsável Flávia tonin MtB nº 039263/sP Projeto e Diagramação ideorama Design e Comunicação impressão Gráfica Editora PallottiE X P E D IE N T E Moderna e atual benedito fortes de arruda Presidente do CFMV EDITORIAL Bernard Vallat Diretor geral da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), Médico Veterinário formado em Toulouse, França, com doutorado e duas pós-graduações técnicas, começou na inspeção, mas nos 17 anos iniciais de carreira atuou em cooperação e acordos internacionais, envolvendo programas e treinamentos de sanidade animal e produção pelo mundo. Atuou em ministérios na França e, em 1997, assumiu pela primeira vez o alto posto da OIE. Em maio de 2010, foi eleito pelos 178 países-membros da organização para seu terceiro mandato na direção geral. É voz firme e atuante em todo o mundo. ENTREVISTA Como avalia e quais são os principais pontos para melhorar o ensino da Medicina Veterinária no mundo? Fizemos visitas de avaliação em 120 países e em quase cem se constatou que a educação médico- veterinária não estava adequada para cumprir as necessidades dos países e normas internacionais de sanidade animal. Havia problemas e falta de harmonia em programas analíticos. Os recursos das instituições eram insuficientes para o ensino de qualidade, com falta de equipamentos, pro- fessores e animais. a Oie tem proposto uma lista de competências mínimas para a formação dos Médicos veterinários em todos os países. tam- bém influenciamos governos para liberar recur- sos financeiros e apoiar os estabelecimentos, lembrando a importância social da presença de Médicos veterinários qualificados, o que irá re- percutir, por exemplo, na economia, nas exporta- ções e na saúde pública. Defendemos que o Mé- dico veterinário é um bem público e os governos podem fazer mais pela educação. A OIE é uma organização preocupada com a sani- dade. Por que há o interesse na educação? Para cumprirmos o objetivo de melhorar a saúde ani- mal e do planeta, como proposto pelos países-mem- bros, há necessidade de Médicos veterinários capaci- tados e a base é sua formação. É condição essencial para humanos, animais e planeta saudáveis. Como os órgãos estatutários, como o CFMV, podem ajudar a cumprir esse objetivo? em todo o mundo, não há vínculo entre os Médicos veterinários e os responsáveis pela educação mé- dico-veterinária; em muitos, nem o diálogo. a me- lhor maneira de melhorar a educação veterinária é dar responsabilidade aos organismos veterinários quando fazem os registros profissionais e vincular critérios de sua formação. Um dos requisitos seria a arquivo CFMv Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 5 ENTREVISTA BERNARD VALLAT demonstração de que os estabe- lecimentos de ensino cumprem as normatizações da Oie, adotadas por todos os países. se a lei der poder e condições a esses órgãos, eles poderão influenciar a quali- dade do ensino. Seria um trabalho de certificação dos profissionais e reconhecimen- to das instituições pelos órgãos es- tatutários, com base nas diretrizes da OIE? a ideia é que os órgãos estatutá- rios possam influenciar o governo para que ele imponha os critérios de qualidade para reconhecer es- tabelecimentos. a Oie não quer ser um organismo de certificação. Nossa função é preparar e adotar normas, mas não fazemos controle. É importante que os Médicos Veterinários comuniquem a importância de seu trabalho e tenham orgulho dele Serviço médico-veterinário é um bem público Essas normativas educacionais, no futuro, poderiam se tornar indire- tamente barreiras comerciais? a Organização Mundial do Comér- cio não tem responsabilidade para com a educação e não pode fazer barreiras com esse pressuposto. No futuro, pode pedir que os profis- sionais que certificam os produtos tenham algum tipo de reconheci- mento. Normalmente, nos acordos de comércio internacional, há exi- gência de capacitaçãodos que fa- zem a certificação. O Brasil tem mais de 200 escolas de Medicina Veterinária. Qual é sua avaliação? É importante avaliar a deman- da de mercado profissional para que os recém-formados tenham boas condições de trabalho. É pa- pel do governo ajustar o número de estabelecimentos à demanda O custo da boa educação em Medicina Veterinária é alto Unimar Arquivo CFMV Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 20146 Arquivo CFMV ENTREVISTA Bernard Vallat Segurança alimentar: responsabilidade do Médico Veterinário e fazer as devidas negociações. O custo da boa educação em Me- dicina veterinária é alto e os re- cursos disponíveis se diluem com muitas escolas. Com exemplos de excelência, como o Brasil pode contribuir para a educação da Medicina Ve- terinária no mundo? Qualquer país-membro da Oie pode propor intercâmbio de coo- peração com outros países. isso é assessorado e monitorado pela organização, principalmente por causa das prioridades. Com mais de cem mil profissionais, o Brasil tem peso em temas relacionados à Medicina veterinária. além dis- so, é o principal exportador mun- dial de produtos de origem animal e se destaca em competitividade e custo de produção, assegurando sanidade dos rebanhos. esse é um tema que o País pode propor. Muito se fala em “um mundo, uma saúde”. Há maior percep- ção da sociedade sobre o papel do Médico Veterinário para a saúde pública? No mundo, a sociedade não sabe a importância do Médico vete- rinário para a sua saúde. ainda associa os profissionais aos cães e gatos. isso é justificado pela concentração em centros urba- nos desconectados do campo. as crianças acham que o ovo é um produto industrial. É preciso edu- car e se comunicar com a socie- dade, que precisa entender que 70% das enfermidades humanas têm origem nos animais e são os Médicos veterinários que prote- gem os homens. E os Médicos Veterinários têm a consciência de sua importância para a saúde pública? Muitos trabalham limitados ao seu espaço e não sabem se comu- nicar. Não têm consciência da sua importância. É preciso aprender a se comunicar desde as univer- sidades e isso está previsto nas competências mínimas propostas pela Oie. Além da saúde pública, existe o bem-estar animal. Como os Médi- cos Veterinários podem contribuir? O bem-estar animal é uma de- manda mundial das socieda- des urbanas. Os consumidores querem conhecer as condições de produção e somente os Mé- dicos Veterinários têm a forma- ção apropriada para entender o que é ou não aceitável. eles pre- cisam estar na linha de frente para a definição da legislação e sua aplicação, de forma que seja aceitável pelos consumidores e produtores. É um tema comple- xo que precisa de pessoas com elevado conhecimento. Gostaria de deixar uma mensa- gem aos profissionais e estudan- tes brasileiros? É importante que comuniquem a importância de seu trabalho e te- nham orgulho do que fazem. além disso, é preciso que ampliem as fronteiras e olhem para além do que acontece no Brasil. Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 7Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 7 ENSINO O mundo vem ao Brasil para discutir o ensino da Medicina Veterinária Evento reuniu mais de mil congressistas, que apresentaram suas realidades locais e discutiram, em conjunto, um modelo mínimo ideal para a formação profissional da Oie na área do ensino. Os temas foram abor- dados por representantes de todo o mundo, que evidenciaram suas realidades antes das discus- sões. todas as apresentações estão disponíveis, em inglês, no site da OIE (www.oie.int). Ao final da conferência foi lavrado um do- cumento que será levado à apreciação dos 178 países-membros daOie, para posterior recomen- dação mundial. ele propõe As competências do dia 1, texto que trata das habilidades necessá- rias para que os Médicos veterinários prestem um serviço nacional de qualidade. a organização respeita as particularidades locais, mas entende que há uma deficiência na formação, o que im- pacta na qualidade dos produtos e na proteção da saúde pública e do meio ambiente. Direcionada ao público participante, o CFMv publicou uma edição espe- cial da Revista CFMV para a 3ª Conferência Mundial sobre o Ensino da Medi- cina veterinária, com conteúdo específico. a publicação, bilíngue, apresentou dados atuais sobre a sistematização do ensino, sua estrutura e particularida- des. também detalhou as diferentes formas de pós-graduação e trouxe uma entrevista com a então ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. tam- bém foram abordados temas emergentes da profissão e o perfil acadêmico. O conteúdo completo pode ser acessado em www.cfmv.gov.br. Por: Flávia Tonin C om participação direta do CFMv na promoção do evento, foi realizado no Brasil o maior evento mundial para discussão do ensino da Medicina veteriná- ria. A 3ª Conferência Mundial sobre o Ensino da Medicina veterinária, realizada de 4 a 6 de dezembro de 2013, re- uniu em Foz do iguaçu, PR, mais de mil congressistas dos cinco continentes. Preparada pela Organização Mundial de saúde animal (Oie) e também promovida pelo Minis- tério Ministério da agricultura, Pecuária e abastecimento do Brasil, nela foram debatidas e apresentadas diretrizes mínimas para a formação profissional. as palestras abordaram a situação atual dos progra- mas de ensino; a contribuição dos Médicos veterinários privados e as suas necessidades educacionais; a investi- gação científica aplicada à Medicina veterinária; o papel dos órgãos estatutários; e as normas e recomendações Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 20148 ENSINO Novas estratégias de ensino e aprendizagem para formação profissional As diferentes organizações mundiais sabem da importância do ensino para que se tenha um profissional que atenda às demandas da sociedade. O CFMV também tem essa preocupação e oferece aos docentes brasileiros uma gama de estratégias práticas voltadas, principalmente, para os dilemas humanísticos P ara a Organização Mun- dial da saúde animal (Oie), os Médicos veterinários, in- dependentemente da sua área de prática profissional, são respon- sáveis pela promoção da saúde e bem-estar animal, saúde públi- ca e segurança alimentar, sendo seus serviços considerados bens públicos mundiais. O Consórcio Norte-ameri- cano de educação em Medicina veterinária (NavMeC) coloca o Médico veterinário como líder influente em assuntos relacio- nados aos animais, humanos e saúde dos ecossistemas. tra- ta-se de profissão reconhecida como das mais gratificantes, in- teressantes e desafiadoras, pois tem amplo espectro de opções na carreira. O NavMeC propõe uma visão que traz elevado ní- vel de responsabilidade social, considera e atende às necessi- dades da sociedade e comparti- lha avanços tecnológicos e par- cerias (Figura 1). Nacionalmente, as Diretri- zes Curriculares de Medicina veterinária (Resolução CNe/Ces nº 1/2003) compartilham de preocupações semelhantes e es- tabelecem nos arts. 3º e 4º: art. 3º O Curso de Gradua- ção em Medicina veterinária tem como perfil do formando egresso/ profissional formação generalis- ta, humanista, crítica e reflexiva, apto a compreender e traduzir as necessidades de indivíduos, grupos sociais e comunidades [...] em seus campos específicos de atuação. art. 4º a formação do Médico veterinário tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos Unimar Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 9Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 9 Competências profissionais do Médico Veterinário segundo o NAVMEC e a OIE fiGura 1 O naVMeC relaciona como competências profissionais essenciais do médico veterinário: a Organização Mundial da Saúde animal, por sua vez, refere como competências: •a comunicação • a colaboração • o gerenciamento (de si mesmo, de equipes e de sistemas) • a educação permanente • a liderança • a consciência da diversidade • a adaptação a ambientes em mudança • a comunicação; • a administração e o gerenciamento; • pesquisa a aplicação de análises de risco; • dentre outras. para desenvolver ações e obter resultados volta- dos à área de Ciências Agrárias no que se refere à Produção animal, Produção de alimentos, saúde animal e Proteção ambiental, além das seguintes competências [Figura 2] e habilidades gerais: [...]. Essas competências, denominadas humanísti- cas, são interdependentes. a menção a elas não se refere meramente ao desenvolvimento de deter- minados comportamentos nos alunos, que podem vir a denotar a presença ou não da competência. espera-se o desenvolvimento desta de maneira aplicada. a resolução mostra a preocupação em fornecer as bases para o enfrentamento dos pro- blemas sociais. Outro documento, os Quatro Pilares da Educa- ção, propostos pela UNesCO na publicação Edu- cação: Um Tesouro a Descobrir (DeLORs, 2000), chama atenção para a importância de se conce- ber a educação como um todo, reforçando a ne- cessidade da implementação de outras formas de aprendizagem. Nos pilares da educação (Figu- ra 3), há um entrelaçamento no desenvolvimento das competências. É possível, portanto, perceber as ideias convergentes sobre a educação para o futuro e o que se espera do profissional que nele atuará. A PRÁTICA DAS ESTRATÉGIAS DE ENSINO-APRENDIzAGEM PARA O DESENVOLVIMENTO DE COMPETêNCIAS HUMANíSTICAS Seguindo a tendência mundial, foi lançada a publicação Estratégias de ensino-aprendizagem para desenvolvimento das competências humanísticas, fruto do esforço do Conselho Federal de Medicina veterinária (CFMv) em incentivar as reflexões sobre educação e construída com o apoio de docentes e coordenadores de curso nos seminários Nacionais de ensino organizados pelo conselho. O material traz, inicialmente, uma reflexão sobre os valores da educação e vai além, com sugestão de técnicas para aqueles que têm o comprometimento com a formação dos futuros profissionais. são propostas estratégias (Figura 4) usadas com regularidade no ambiente da educação, assim como em eventos educacionais, de desenvolvimento e de Pilares da educação segundo a Unesco fiGura 3 1. aprender a conhecer 2. aprender a fazer 3. aprender a viver juntos 4. aprender a ser 1 2 3 4 Competências humanísticas segundo a resolução CNE/CES nº 01/2003 fiGura 2 atenção à saúde tomada de decisões Comunicação Liderança administração e gerenciamento educação permanente Educação Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201410 Estratégias usadas no ambiente da educação e em eventos educacionais, de desenvolvimento e de capacitação para jovens e adultos fiGura 4 aula expositiva dialogada dramatização estudo de caso estudo do meio estudo de texto estudo dirigido Fórum capacitação para jovens e adultos, segundo anasta- siou e alves (2003). as estratégias propostas, se aplicadas com con- sistência e coerentemente com as demais etapas do processo de ensino-aprendizagem, como o plane- jamento e a avaliação, contribuirão para melhorar a qualidade do ensino, porém não apenas no que tange ao desenvolvimento de competências humanísticas. ao colocar as necessidades do aluno em primeiro pla- no e vislumbrá-las sob o ponto de vista da combina- ção de conhecimentos, habilidades e atitudes, como compreende o conceito de competência, o professor pode direcionar as atividades, bem como o “espírito” das aulas, para a formação do profissional adaptável que a sociedade tanto precisa. A publicação Estratégias de Ensino-aprendizagem para Desenvolvimento das Competências Humanísticas está disponível em www.cfmv.gov.br referênCias ANASTASIOU, L.G.C.; ALVES, L. Processos de Ensinagem na Universidade - Pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. Univile, 2003. DELORS, J. educação: um tesouro a descobrir: Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. 4ed. Cortez, 2000. GRAMIGNA, M.R.M. Jogos de empresa. 2ed. Pearson, 2007. SAVERY, J.R. “overview of problem-based learning: Definitions and Distinctions.” The Interdisciplinary Journal of Problem-based Learning v.1,n.1,p.9-20, 2006. rafael Gianella Mondadori (Presidente) Médico Veterinário, CRMV-RS nº 5672 CoMissão naCional de eduCação DA meDICINA VeterINárIA (CNemV) Do CFmV comissoes@cfmv.gov.br Celso Pianta Médico Veterinário, CRMV-RS nº 1732 Paulo César maiorka Médico Veterinário, CRMV-SP nº 6928 breno schumaher Henrique Médico Veterinário, CRMV-AM nº 0303 francisco edson Gomes Médico Veterinário, CRMV-RR nº 0177 Marcelo diniz dos santos Médico Veterinário, CRMV-MT nº 0818 João Carlos Pereira da Silva Médico Veterinário, CRMV-MG nº 1239 rogério martins Amorim Médico Veterinário, CRMV-SP nº 6757 auTores lista de discussão por meios informatizados Mapa conceitual Oficina de trabalho (workshops) Painel Portfólio Seminário Solução de problemas tempestade cerebral aprendizagem baseada em problemas (Problem-based learning – PBl) aprendizagem Baseada em Projetos (aBP) tribunal do júri Jogos Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 11 POLíTICA Uma nova agenda para Médicos Veterinários e zootecnistas texto alerta para a necessidade de conhecer os marcos legais que amparam o exercício profissio- nal e as justas e pertinentes demandas da socie- dade e, necessariamente, as ações do Conselho Federal de Medicina veterinária frente a realidade que se apresenta. O que, aparentemente, pode ser caracterizado por um conflito entre vertentes da sociedade é um reflexo do amadurecimento das práticas democrá- ticas, em particular, o contraditório. assim, no dia a primeira década deste século vem apresentando à sociedade um conjunto de desafios e de rea- lidades imprevisíveis e de difícil entendimento. Na es- sência, as relações entre os indivíduos e o espaço social tornaram-se mais abrangentes. a importância dada aos animais e ao meio ambiente alcançou grande complexi- dade, às vezes ultrapassando barreiras ou confrontando paradigmas constituídos há séculos. Defender o direito dos animais, a tentativa de humanizá-los, assegurar que os recursos da natureza e até a sua biodiversidade sejam preservados são atitudes denominadas “do bem” e, inva- riavelmente, no contexto atual, “politicamente corretas”. Premissas ancestrais apontaram para a necessidade dos princípios convergirem para um estado de equilíbrio, onde a construção harmônica dos valores e das regras constituíram as convenções da própria sociedade. a di- versidade de interesses e de forças divergentes tem im- pedido a manutenção do “bom convívio” exclusivamente pelas convenções dos homens. Por necessidade, surgiram os princípios constitucionais escritos, as leis, normas, mar- cos regulatórios e uma infinidade de códigos de condu- tas. No entanto, a sociedade, diante de uma nova conduta, subjetiva, intangível e até circunstancial, desafia seus pró- prios códigos tentando estabelecer uma nova ordem para o mundo, resultando no estabelecimento de divergências. Como resultado, criam-se grandes conflitos: o bem-estar e humanização dos animais e a preservação do ambien- te; ambos se contraponto com a produção de alimentos e a geração da pesquisa científica que gera produto para a saúde de animais e pessoas. aparentemente, as atitudes “do bem” ou “politicamente corretas” estão em conflito com aquelas essenciais à garantia do “bom convívio”. Neste contexto, Médicos veterinários e Zootecnistas constituem duas profissões muito sensíveis. assim, este Código Federal de Bem-estar Animal (+ de 15 PLs) Política nacional de Meio Ambiente Criminaliza conduta contra cães e gatos Comercialiação de clones e material biológicoVeda patrocínio a eventos com uso de animais Descarte de embalagens de uso veterinário Terapia assistida por animais Criação de selo de qualidade ambiental nos produtos de origem animal Combate ao tráfico de animais selvagens Controle sobre material genético de mamíferos, répteis e aves Pls relacionados ao Bem-estar animal Pls relacionados ao Meio ambiente Síntese dos principais projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional vinculados ao Bem-estar Animal e ao Meio Ambiente Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201412 a dia, é comum e cada vez mais intensa a convi- vência com estes contraditórios. Ao Médico Vete- rinário cabe assegurar, dentre outras atribuições, a saúde aos animais, mas é questionado pela so- ciedade quanto ao “uso de animais” na pesquisa. É desumana a fome no mundo, por outro lado, é desumano produzir carne por métodos intensivos de criação. É evidente que estes dois exemplos são postos de forma linear, mas o objetivo não é estabelecer uma opinião finalística, apenas desen- cadear uma discussão. então, diante destas situa- ções, muitas vezes paradoxais, o estado cria seus mecanismos de resposta, na forma de normas, re- soluções, decretos e marcos normativos, no senti- do de disciplinar, orientar e estabelecer equilíbrio e bom convívio. também, o Congresso Nacional ao captar os movimentos da sociedade passa a propor uma sé- rie de Projetos de Lei (PL) que resultam em novas diretrizes para os temas. atualmente, tramitam e são monitorados pelo Conselho Federal de Me- dicina veterinária (CFMv), por meio da Comissão Nacional de assuntos Políticos (Conap), aproxima- damente 40 PLs que tratam das questões do meio ambiente e aquelas relacionadas aos direitos dos animais (bem-estar) e que tem relação com Médi- cos veterinários e Zootecnistas. O escopo de cada PL, em discussão no Congresso Nacional, não pos- sui consenso no âmbito da sociedade, pois para cada tema, por mais oportuno e pertinente que seja, os diversos aspectos da nova proposta devem ser amplos. O PL que trata do Código Federal de Bem-es- tar animal talvez seja um dos instrumentos mais abrangentes nesse objeto de regulamentação, mas dada a natureza contraditória de muitos de seus atos, exige da sociedade e, em particular dos pro- fissionais Médicos veterinários e Zootecnistas, uma ampla discussão e participação com pondera- ções na tentativa de estabelecimento de um equi- líbrio. Por exemplo, ao mesmo tempo em que o PL protege animais de companhia e de produção, pro- põe normas rigorosas e pouco factíveis aos siste- mas de produção de carne, leite e ovos que podem inviabiliza-los. Considere-se ainda que as cadeias produtivas da carne e leite no Brasil são essenciais para a sua economia e à segurança alimentar. O CFMv vem atuando, por meio da análise de- talhada de todas as implicações do novo código, Júlio o. J. barcellos (Presidente) Médico Veterinário, CRMV-RS nº 3185 CoMissão naCional de assunTos PolítICoS (CoNAP) Do CFmV comissoes@cfmv.gov.br ricardo Pedroso oaigen Médico Veterinário, CRMV-PA nº 2272 Marcelo Henrique Puls da Silveira Médico Veterinário, CRMV-SC nº 1646 Geraldo Marcelino Carneiro Pereira do rêgo Médico Veterinário, CRMV-RN nº 0015 roberto baracat de Araújo Médico Veterinário, CRMV-MG nº 1755 nilton abreu Zanco Médico Veterinário, CRMV-SP no. 6956 Carlos Humberto almeida ribeiro filho Médico Veterinário, CRMV-BA nº 0454 auTores + direitos Povo guardião Direitos e deveres Novas Leis Estado guardião das Leis Novos Princípios Princípios Convenções para o “bom convívio” Nova ordem para o “bem e politicamente correto” As demandas da sociedade e seus valores circunstanciais criam um desequilíbrio entre a ordem vigente e o que está sendo apresentado sustentado no conhecimento científico que existe a res- peito de cada item, de modo a apresentar manifestações de apoio e sugestões para o aperfeiçoamento, modifica- ções ou até mesmo ações pela retirada de artigos incom- patíveis. este trabalho acontece no Congresso Nacional junto aos parlamentares envolvidos em cada PL. O momento atual, de intensa participação da po- pulação brasileira nos movimentos sociais, com suas im- plicações, exige uma participação efetiva das profissões, mormente dos Médicos veterinários e Zootecnistas. O CFMv, por sua vez, exerce seu papel de guardião e media- dor dos interesses profissionais cujo objetivo final é a saú- de única, ou seja, do homem, do animal e do planeta. Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 13 BEM-ESTAR Bem-estar animal: quais serão as respostas e soluções? Motivado pelo avanço no conhecimento cientifíco e também pelas demandas sociais, o bem-estar animal cada vez desperta maior interesse de Médicos Veterinários e Zootecnistas. O III Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-estar Animal traz novos debates para o palco das profissões s erá possível pensar em bem-estar de animais de produção quando o mundo enfrenta uma necessidade sem precedentes de aumento na produção de alimentos? Como ofereceremos mais espaço para cada ave, suíno, bovino e até peixe para aumentar seu bem-estar e evitar o sofrimento de uma vida confinada ao extremo? Por que, em tantos países, é crescente o segmento da sociedade que demanda respeito aos ani- mais? e porque mais de 25 cientistas, em sua maioria eminentes neurologistas, reuniram-se em Cambridge, Reino Unido, no dia 7 de jullho de 2012, para publicar a Declaração de Cambridge sobre a Consciência em Ani- mais Humanos e Não Humanos? Por que advogados, no Brasil e no mundo, começam a sugerir que animais sejam sujeitos de direito? será que a forma como percebemos os sentimentos nos animais é confiável e merece toda essa atenção? O que pensar sobre ativistas arrombando laboratórios para libertar os animais usados em expe- rimentação? E a criação de animais transgênicos, como interfere no bem-estar dos animais envolvidos? O que devemos fazer com os cães que estão nas ruas? O que nossas ações causam, direta e indiretamente, aos ani- mais selvagens? Considerando o peso de tais perguntas e, principalmente, as consequências das suas respostas, parece pertinente o interesse de Médicos veteri- nários e zootecnistas pelo conhecimento cientí- fico sobre bem-estar animal. De acordo com o diagnóstico do Conselho Fe- deral de Medicina veterinária (CFMv), publicado na edição 57 da Revista CFMv, o bem-estar animal está entre os temas de maior interesse dos Médicos vete- rinários e Zootecnistas do Brasil. eles procuram atuali- zação, pois sabem da responsabilidade para a correta orientação de clientes, seja no campo ou na cidade, como também de legisladores e da sociedade. além disso, um quarto dos projetos de lei de interesse da Medicina veterinária e Zootecnia, monitorados pelo CFMv, publicado na Revista CFMv, número 56, es- tavam relacionados ao tema. Ciente da importância deste, o CFMv organiza a terceira edição do Con- gresso Brasileiro de Bioética e Bem-estar animal. a iniciativa é também fruto do reconhecimento da im- portância da discussão embasada nos mais recentes conhecimentos científicos, envolvendo estudantes e profissionais, assim como o poder público, os profes- sores e a sociedade. esse tradicional evento realizado no país reúne pesquisadores de todo o Brasil e gran- Arquivo CFMV Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201414 des expoentes internacionais para debater os últi- mos avanços na área. Neste ano, sua realização será no sul do país, em Curitiba (PR), de 5 a 7 de agosto. Para 2014, foram selecionados temas de alta relevância para a relação entre seres humanos e animais em nosso país, com base em marcantes movimentos sociais e questões cada vez mais va- lorizadas no âmbito do comércio de produtos de origem animal. Na abertura, uma das maiores referências na área de bem-estaranimal, o professor John Webs- ter, da Universidade de Bristol, discorrerá sobre a relação bem-estar de animais de produção e sus- tentabilidade ambiental, à semelhança do abor- dado em seu mais recente livro, Animal husbandry regained: the place of farm animals in sustainable agriculture, publicado em 2013. Na sequência, apresentar-se-á o organizador da reunião de neu- rologistas que resultou, em Cambridge, na declara- ção científica sobre a presença de consciência nos animais, inclusive em invertebrados. Philip Low é coordenador geral da empresa Neurovigil e expli- cará por que a Declaração de Cambridge foi redi- gida e recebeu o suporte da neurologia mundial. Nos dois dias seguintes, serão organizados oito minissimpósios, nos quais serão discutidos temas variados. O assunto bem-estar de animais de produ- ção prosseguirá, trazendo aos Médicos veterinários e Zootecnistas brasileiros uma visão das principais discussões e normativas mundiais, no âmbito da américa Latina e do Brasil. Coordenador do maior projeto de bem-estar animal da atualidade, o profes- sor adroaldo Zanella, que recentemente voltou ao Brasil, tem posição privilegiada para discorrer sobre as iniciativas globais em bem-estar animal, enquanto Antonio Velarde, membro do Comitê de Saúde e Bem-Estar animal da european Food safety authority, apresentará as di- retivas sobre bem-estar animal da União europeia. a ética da aplicação dos recentes avanços em nano e biotecnologia em animais a partir da perspectiva de um filósofo e de dois pesquisadores constituirá um debate interessante e rico. a questão ética abordando o uso de animais em laboratórios será tema de um minissimpósio que se iniciará com a palavra de Judy Macarthur Clark, que chefia o controle do uso de animais para experimentação no Reino Unido. O ensino obrigatório de bem-estar animal nos cur- sos de graduação em Medicina veterinária e Zootecnia, que avança com dificuldades em nosso país, também será abordado. Haverá respostas? Devido à complexidade das ques- tões, talvez seja melhor pensar que as soluções estão em permanente construção. É esperado, durante o iii Congres- so Brasileiro de Bem-estar animal, participar de avanços significativos no sentido de uma nova realidade, mais compassiva em relação a animais e seres humanos, espe- cialmente aqueles em situação de vulnerabilidade. Programação e inscrições em www.cfmv.gov.br Preço promocional até o final de maio Envio de trabalhos até o dia 12 de maio de 2014 alberto neves Costa (Presidente) Médico Veterinário, CRMV-PE nº 0382 ComISSão De ÉtICA, BIoÉtICA e Bem-eStAr ANImAl (CeBeA) Do CFmV comissoes@cfmv.gov.br luis Fernando Batista Pinto Zootecnista, CRMV-BA nº 0235/Z rita leal Paixão Médica Veterinária, CRMV-RJ nº 3937 Carla forte Maiolino Molento Médica Veterinária, CRMV-PR nº 2870 Marcelo Weinstein Teixeira Médico Veterinário, CRMV-PE nº 1874 maria das Dores Correia Palha Médica Veterinária, CRMV-PA nº 0917 auTores Instalações adequadas para animais de produçãoArquivo CFMV Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 15 ATUAÇÃO PROFISSIONAL EQUOTERAPIA Liana Gati É uma alternativa de tratamento não medicamentoso que cada vez tem mais adeptos. O trabalho de um terapeuta deve ser em conjunto com o de um Médico Veterinário que conheça a prática. A saúde alia-se à fisiologia e comportamento animal, além de haver a estimulação da interação animal-paciente Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201416 a equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo numa abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvi- mento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência e/ou necessidades especiais. Ela exige a participação do corpo inteiro, ou seja, de todos os músculos e de todas as articulações, e o cavalo é o meio para alcançar os objetivos terapêuticos (aNDe, 1999). ainda, é uma alternativa de trata- mento não medicamentoso em que se trabalham as várias formas do desenvolvimento da criança, de forma lúdica, com o cavalo e em seu ambiente natural (siLva, 2004). em 1970, foi criada a associação Nacional de equoterapia (aNDe-Brasil), que, em 1989, registrou o termo ‘equoterapia’ no instituto Nacional de Pro- priedade industrial (iNPi) do Ministério do Desen- volvimento, da indústria e do Comércio. em 1997, o tratamento foi reconhecido como um método terapêutico pelo Conselho Federal de Medicina e pela sociedade Brasileira de Medicina Física e Rea- bilitacional, de acordo com a legislação brasileira. atualmente, a equoterapia compõe os serviços especializados oferecidos pelo sistema Único de saúde (sUs) (aNDe-BRasiL, 2007; KLeiN, 2007). ImPortÂNCIA DA PArtICIPAÇão Do mÉDICo VeterINárIo O Médico veterinário é responsável pela ava- liação dos animais, sendo o único profissional ca- pacitado para verificar a saúde de um cavalo tera- peuta. exerce função de orientador, informando e ensinando os cuidados básicos de saúde e higiene, bem como suas particularidades. ele também deve participar do desenvolvimento e acompanhamento do projeto, realizando avaliações frequentes e es- tabelecendo cuidados higiênico-sanitários, como obediência de calendários de vacinação e vermifu- gação (FLÔRes, 2009). De acordo com Buchene e savini (1996), a es- colha do cavalo adequado é fundamental para o desenvolvimento da equoterapia. a docilidade é o pré-requisito mais importante. se macho, o animal deve ser castrado. ele não pode ter um elevado es- core corporal, pois dificulta sua agilidade e preju- dica a montaria do praticante. Deve possuir idade superior a 10 anos e ser treinado para ser montado pelos lados direito e esquerdo. a altura não deve ultrapassar 1,5 m e o ângulo da quartela deve ser o mais próximo de zero. a raça não é relevante. em relação ao cavalo e ao ambiente, é importante que o terapeuta os conheça, bem como os estímulos que eles oferecem, além dos movimentos do cavalo e tipos de anda- mento, quando se está montado em sela ou em mantas ou estando em decúbito ventral ou dorsal. Devem-se conside- rar todas essas variantes e os diversos tipos de terrenos que podem ser utilizadas, dependendo do que pode ser visto como estímulo útil ao praticante (CiRiLLO, 1998). O trabalho do coterapeuta deve ser em conjunto com o de um Médico veterinário que conheça a terapia, pois estarão aliando saúde com fisiologia e comportamento animal, além da estimulação da interação animal-paciente. a saúde plena do animal terapeuta é um aspecto es- sencial e visa não somente ao bom desempenho e bem -estar do animal, mas também à garantia de que não ha- verá transmissão de zoonoses. Cuidados especiais com a higiene, como o banho diário e corretas vacinação e vermi- fugação, não podem ser negligenciados. a pele e pelos de- vem receber cuidado especial para que o encontro fique mais agradável e isento de riscos para a saúde do paciente (aNDeRLiNe; aNDeRLiNe, 2007). Um animal terapeuta deve demonstrar comportamen- to confiável, controlado, previsível e inspirar confiança na- quele que está a interagir com ele (CaMPOs, 2009). A seleção do cavalo é fundamental para o desenvolvimento da equoterapia Liana Gati Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 17 A mArCHA Do CAVAlo e SUA CoNtrIBUIÇão PArA A reABIlItAÇão O cavalo pode movimentar-se de três modos: ao passo, ao trote e ao galope. Nessas diferentes moda- lidades, o cavalo não move os membros da mesma ma- neira, sendo os movimentos do dorso diferentes e os do praticante adaptados a cada um deles. todas essas modificações de atitudes impõem um ajuste muscular ao praticante, a fim de responder aos desequilíbrios provocados (WiCKeRt, 1999). O passo, por suas características, é o andamento bási- ca da equitação e é com ele que a maioria dos trabalhos de equoterapia é executada. O trote e o galope são saltados. isso quer dizerque entre um lance e outro, seja de trote ou galope, o cavalo executa um salto, existindo um tempo de sustentação em que ele não toca os membros no solo. Em consequência disso, seu esforço é maior, seus movi- mentos, mais rápidos e mais bruscos e, quando ele retor- na ao solo, exige do praticante mais força para se segurar e acompanhar os movimentos do animal (CiRiLLO, 1998). Por isso, só podem ser usados, em equoterapia, por prati- cantes em estágio mais avançado. O caminhar do cavalo, passo a passo, proporciona ao praticante um movimento tridimensional (Figura 1), similar à marcha humana, levando seus corpos ao mesmo tempo para cima e para baixo, de um lado para o outro e, por fim, verticalmente subindo e descendo (WiCKeRt, 1999; QUei- ROZ, 2006; FRaRe; vOLPi, 2011). INDICAÇÕeS e CoNtrAINDICAÇÕeS DA eQUoterAPIA De acordo com Medeiros e Dias (2002), en- tre as indicações, podem ser citadas: paralisia cerebral, acidente vascular cerebral, síndromes neurológicas (Down, West, Rett e outras), trau- matismo cranioencefálico, déficits sensoriais, atraso maturativo, lesão raquimedular, autismo, hiperatividade, deficiência mental, alterações do comportamento, dificuldades da aprendizagem ou da linguagem, etc. as contraindicações para a prática da equo- terapia são classificadas como relativas ou abso- lutas e, entre elas, citam-se: portadores de sín- drome de Down com menos de 3 anos e/ou com instabilidade atlantoaxial, ferimentos abertos, alergia ao pelo do cavalo, hiperlordose, luxações do ombro e/ou do quadril, escoliose acima de 40 graus, osteoporose, hérnia de disco, cardiopatias graves, epilepsia não controlada etc. Referindo- se ao ponto de vista psicológico, a equoterapia é contraindicada para medos e fobias em grau acentuado, distúrbios de comportamento que acarretam risco para o praticante e/ou outros, forte rejeição ao cavalo e graves transtornos psi- quiátricos (NasCiMeNtO, 2006). Figura 1. Movimento tridimensional produzido ao passo pelo cavalo e transmitido ao paciente Fonte: equitação especial.blogspot.com A prática resgata o indivíduo de forma global, atuando na mente e no corpo Ande Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201418 a segurança física do praticante deve ser uma preo- cupação constante de toda a equipe, tendo em vista o comportamento e atitudes habituais do cavalo e as cir- cunstâncias que podem vir a modificá-los; os cuidados com a segurança do equipamento de montaria, particu- larmente correias, presilhas, estribos, selas e manta; e os cuidados com a vestimenta do cavaleiro, principal- mente quanto aos itens que podem trazer desconforto ou riscos de outras naturezas, e o local das sessões, evi- tando ruídos anormais que possam assustar os animais (CesJCD, 2007). O solo do local pode ser coberto por areia ou grama. Geralmente, a prática é realizada no am- biente natural do cavalo, onde ele já está familiarizado e reconhece como espaço próprio (QUeiROZ, 2006). benefíCios a equoterapia permite ao terapeuta interagir em múl- tiplos sistemas orgânicos, oferecendo uma oportunidade ímpar para atingi-los num ambiente que pode enriquecer o movimento durante o seu desenvolvimento. a fisioterapia na equoterapia proporciona ao pratican- te a prevenção e o tratamento de patologias, bem como a reabilitação e o desenvolvimento de seu estado atual por meio do uso dos movimentos tridimensionais e multidire- cionais do cavalo. Quadro 1. Benefícios da equoterapia Melhora o equilíbrio e a postura Desenvolve a coordenação de movimentos entre tronco, membros e visão estimula a sensibilidade tátil, visual, auditiva e olfativa Oferece sensações de ritmo Desenvolve a modulação do tônus e a força muscular Desenvolve a coordenação motora fina Promove a organização e a consciência corporal aumenta a autoestima ajuda a superar fobias estimula a afetividade pelo contato com o animal Aumenta a capacidade de independência Promove a sensação de bem-estar, motivando a continuidade do tratamento Letícia Calavi Liana Gati Liana Gati Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 19 ConsideraçÕes finais a equoterapia deve despertar grande interesse como forma de tratamento, por se tratar de uma abordagem inovadora dentro de um ambiente estimulante. sua prá- tica resgata o indivíduo de forma global, atuando tanto na mente quanto no corpo do praticante, levando-o a um estado de equilíbrio, desenvolvimento e manutenção do marconi César Palmeira Filho Médico Veterinário, CRMV-PB nº 0560 marconi.palmeira@bol.com.br magna lúcia de Souza Palmeira Pedagoga, CREFITO 1 – LTF 7031 auTores referênCias ANDE – Associação Nacional de Equoterapia. História da equoterapia no mundo. Bra- sília, 2000. Disponível em: http://www.ande.org.br/. Acesso em 25 mar. 2013. ANDERLINE, G.P.O.S.; ANDERLINE G.A. Benefícios do envolvimento do animal de companhia (cão e gato) na terapia socialização e bem estar das pessoas e o papel do Médico Veterinário. revista CfMV. Brasília, Ano XIII, n.41, mai/jun/jul/ago. 2007, p.70-75. CAMPOS, P. R. C. o tratamento e ajuda através dos animais. Disponível em: http:// www.slideshare.net/hospvetporto/o-tratamento-e-ajuda-atraves-dos-animais 2009>. Acesso em: 22 abril de 2013. CESJCD (Centro de Equoterapia Soldado Josué Cipriano Diniz). O que é Equoterapia. noticiário Tortuga. Edição especial eqüídeos. Ano 53. p.60, nov./dez. 2007. CIRILLO, L. Equoterapia, hipoterapia e equitação terapêutica. equoterapia v.1, n.1, p.7-10, 1998. FLÔRES, L. N. os benefícios da interação homem animal e o papel do médico ve- terinário. Porto alegre, RS. 2009. Monografia (Especialização em clinica médica de pequenos animais) – Universidade Federal Rural do Semi árido. FRARE, F.F.; VOLPI, J.H. Equoterapia, corpo e emoções em movimento. In: ENCONTRO PARANAENSE. CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS; 16/11/2011. Anais. Curitiba; Centro Reichiano, 2011. [ISBN – 978-85-87691-21-7]. Disponível em; <http://www. centroreichiano.com.br/artigos>. Acesso em: 08 de março 2013. FREIRE, H.B.G. equoterapia: teoria e técnica, uma experiência com crianças autistas. São Paulo: Vetor. ISBN: 8587516019; 1999. 266p. KLEIN, M.Z. Possíveis benefícios da relação criança/equino na equoterapia. Biguaçu. 2007. Monografia (Graduação em psicologia) – Universidade do Vale do Itajaí. LERMONTOV, T. Psicomotricidade na equoterapia. Aparecida, SP: Idéias e Letras, 2004. MEDEIROS, M.; Dias, E. equoterapia: Bases & Fundamentos. Niterói, RJ: Revinter, 2002. NASCIMENTO, Y. O. O papel do psicólogo na equoterapia. In CALIL F. e CAMPOS M.C.P. 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Arquivo CFMV Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201420 A atuação ultrapassa os limites das ações clínicas. O profissional precisa ser paciente, observador e um educador A prática médico-veterinária na equoterapia Por: Flávia Tonin e Ricardo Junqueira del carlo C omo forma de tratamento que envolve a interação homem e animal, a equoterapia torna-se cada vez mais conhecida econta, no Bra- sil, com quase 300 centros filiados à associação Nacional de equoterapia (aNDe-Brasil). No total, são 12.500 praticantes, somados os participantes em centros filiados ou não, e esse número tende a crescer. em razão de o “cavalo” ser um dos pro- tagonistas da história, é vital a participação de um Médico Veterinário, o que vai além da assistência em clínica médica, interagindo na observação do comportamento, seleção de animais, treinamento multidisciplinar da equipe, entre outros. Para a fundadora e diretora do Grupo de Abordagem Terapêutica e Integrada (Gati), de São Paulo (SP) Liana Santos, além da assistência, o profissional tem uma função educacional. ”ele conversa, esclarece e educa as crianças sobre a importância das vacinas, remédios, ferraduras, entre outros”, exemplifica. ela acredita que o profissio- nal se torna um agente de confiança da equipe, pais e pacientes. ”a garotada e as famílias ficam bem mais pró- ximas do animal, pois passam a entender um pouco e per- dem o medo”, conclui. O Médico veterinário do Gati, Dácio de Castro Dias, res- salta a importância da capacitação e dos esclarecimentos sobre o comportamento animal e possíveis ocorrências que presta a equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. também destaca a relação com as crianças. “são explicações simples que fa- zem a diferença na interação e tratamento”. ele exemplifica com os cuidados e orientações para o banho ou escovação, em que uma criança supervisionada pode ajudar, se essa atividade for importante para sua recuperação. QUem PoDe trABAlHAr Dias acredita que o profissional precisa ter conheci- mento aprofundado em equídeos e desenvolver a prática da observação. “ao ficar ao pé da cerca, acompanhando um tratamento, identificam-se características que irão formar o Arquivo CFMV Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 21 conhecimento sobre o comportamento animal dese- jável para a atividade”. ele lembra que a seleção do animal para a prática da equoterapia é vital e pode ser feita também por Zootecnista. “Um susto ou si- nal de agressividade pode causar retrocesso em um paciente”, sentencia. Os cavalos devem permitir o toque sem esboçar qualquer reação negativa. No interior de são Paulo, em sorocaba, a Médi- ca veterinária Maria isabel de toledo Natthes, que atua no Centro de equoterapia e saúde aziz, diz que é importante ter paciência e carinho, principal- mente, pelo contato educativo com os pacientes e familiares. “O profissional tem que estar atento a tudo, mesmo durante um procedimento em outro animal, pois pode impressionar uma criança que está passando por perto”, diz sobre os cuidados, que vão além do ato clínico. Como complemento, o Médico veterinário Márcio Correa, que também assiste o Centro aziz, acredita que o profissional deve estar comprometido e ter um entendimento mínimo sobre as atividades realizadas. Pelo perfil da equoterapia, Correa defende que os esforços devem ser direcionados ao efeito profi- lático, evitando ocorrências que possam interromper a atividade do equino. “existem casos de forte empa- tia entre os pacientes e determinado animal, o que influencia o progresso do tratamento”. ele explica que “no caso de troca do cavalo pode ser necessário um novo processo de adaptação na relação de confiança, atra- sando o andamento do processo”. a Médica veterinária Leticia Calovi, do Centro de trei- namento Roger vieira, em viçosa (MG), compartilha da importância da valorização do animal como indivíduo. “O cavalo não é uma simples ferramenta de trabalho. ele é o coterapeuta e, por isso, os cuidados com animais de equo- terapia são diários”, explica. entre eles, estão a escovação, limpeza dos cascos, boa alimentação, controle parasitário e imunológico, rotinas de trabalho, descanso e treinamento bem estabelecidos. além disso, ela enfatiza a importância de condutas que considerem o bem-estar animal. “O cavalo bem cuidado fica disposto a praticar a terapia simplesmen- te por ter uma índole naturalmente sociável e com a vonta- de de servir”, avalia. estritamente na clínica de equoterapia, os Médicos vete- rinários concordam que não há grandes ocorrências. Na maio- ria das vezes, ocorrem distúrbios locomotores que podem interferir no estímulo ao paciente ou problemas comuns a cavalos com mais idade. PACIeNteS Normalmente, antes do primeiro contato são feitas a análise e avaliação da situação atual do praticante para que a relação seja adaptada de acordo com sua demanda. Aspectos da higienização do cavalo são utilizados de forma lúdica e com orientação de Médico Veterinário. Arquivo CFMVArquivo CFMV Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201422 Médico Veterinário também pode ser paciente Formado em Medicina veterinária, Rafael Roberto alves sofreu um grave acidente automobilísticoe os médicos ficaram desacreditados de sua reabili- tação. Hoje, após 5 anos, ele fala sobre a sua recu- peração auxiliada pela equoterapia. Qual foi a importância da equoterapia? tenho algumas sequelas, mas a equoterapia me auxiliou na recuperação dos movimentos, postu- ra, concentração e equilíbrio, me proporcionando movimentação com ajuda apenas de muleta. Sendo Médico Veterinário e paciente, como é a sua relação com o cavalo? Quando sofri o acidente, faltavam 8 meses para me formar. eu não imaginava que meu paciente pas- saria a ser meu terapeuta. Hoje sou Médico vete- rinário e a admiração que tinha pelos animais, em especial os cavalos, se tornou ainda maior. Recomenda alguma mudança na relação paciente e cavalo? Recomendo a aproximação física com o cavalo, quando possível, para aumentar a cumplicidade entre homem e animal e senti-lo parte da terapia. Os cavalos não devem ser um objeto do tratamen- to. Os profissionais também precisam valorizar e divulgar mais a atividade. CFMV busca incluir Médico Veterinário em lei que regulamenta a atividade O Projeto de lei que regulamenta a prática da equote- rapia (Pl 4761/2012) está em tramitação no Congresso nacional em caráter conclusivo e o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) esclareceu aos legis- ladores a importância da atuação direta de um Médico Veterinário como parte da equipe. “Por se tratar de um projeto que diz respeito à atuação profissional, procu- ramos incluir o Médico Veterinário no escopo da pro- positura da nova lei”, afirmou o presidente do CFMV, Benedito Fortes de arruda. após os esforços, no texto atual, o profissional faz parte da equipe de apoio, sendo responsável por emitir laudos permissivos aos animais. entende-se que o Médico Veterinário é o único com formação para garantir a saúde do cavalo, além de ter conhecimento especializado sobre o comportamento animal, suas atitudes e reações prévias ou durante a prática da terapia. “em geral, no primeiro contato entre o animal e o praticante, o medo e a insegurança são normais e essa barreira vai sen- do quebrada ao longo do tempo, até que o paciente inicie um vínculo afetivo de confiança com o animal”, diz a Letícia. Responsável pelo Centro aziz, no interior de são Paulo, a fisioterapeuta Munique Moreira explica quea procura é feita por pessoas de todas as idades e para as mais diversas pato- logias, sendo os distúrbios neurológicos as mais comuns. a mãe de Gabriel, erika Pappalardo, viu que o filho está mais calmo, perdeu o receio com animais e teve ganho, principal- mente, em sua socialização. Para Rian, filho de silvia Regina sampaio, os avanços são locomotores. “Os médicos diziam que ele iria andar após os 5 anos e ele já caminha bem com menos de 4 anos”, avalia. Letícia Calavi Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 23 única metodologia, segundo ele, comprovada para tornar os cavalos bons terapeutas. em relação à manutenção no centro, o custo por animal está em torno deR$ 1.200, o que irá variar de acordo com o preço do volumoso no mercado regional. também estão incluídos ração, água, sal, casqueamento, ferrageamento, serviço veterinário e tratador. a esse valor deve-se somar o exercício que continua sendo feito, uma vez que os animais pre- cisam continuar em atividade para que não fiquem restritos aos movimentos da terapia. a mensalidade, por aluno, varia de acordo com a região, mas pode ir de R$ 250 a R$ 800, em aulas de 30 a 45 minutos. Os centros de equoterapia também podem oferecer aulas de equitação para completar a renda (F.t. e R.J.C.). QUANTIDADE DE CENTROS DE EQUOTERAPIA POR ESTADO 29 15 19 107 5 9 4 32 210 3 1 1 2 2 13 3 1 5 4 2 2 Etapas para iniciar um centro de equoterapia a s etapas iniciais para formação de um centro de equoterapia exigem, no mínimo, conhecimento da terapêutica, equipe multidisciplinar, estrutura e animais treinados. Roger vieira, fundador do Centro de treinamen- to Roger vieira, em viçosa (MG), sugere que para montar a equipe, além do conhecimento técnico específico de cada área, os profissionais devem ser capacitados para o traba- lho com o animal. “Para o bom andamento, é muito impor- tante o conhecimento mínimo sobre o cavalo, que é um coterapeuta”, afirma vieira, formado em educação Física. a estrutura pode se dividir em área administrativa (sala de reunião, recepção, banheiros), setor de manejo equino, box, piquete, deposito de alimentos, lavador, redondel, pista aberta e pista coberta (20x40m ou 20x60m). O maior cuidado está na seleção dos cavalos, que tam- bém podem ser treinados para a prática. esse tempo de aprendizado pode durar até 3 anos e meio, com custo de R$ 25.000, dependendo do equitador. “após o treinamento, os cavalos passarão apenas por um período de adaptação para o novo manejo”, explica Letícia Calovi, uma das Médicas veterinárias do centro. “O animal precisa estar bem iniciado no adestramento clássico”, completa vieira, referindo-se à fo nt e: A nd e- Br as il Arquivo CFMV Os cavalos precisam ser mantidos em atividade constante Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201424 Missão da OIE tratou de educação em visita ao CFMV Acupuntura Veterinária é reconhecida como especialidade O CFMv recebeu, em fevereiro, uma missão da Organização Mun- dial da saúde animal (Oie) com o objetivo de discutir a atual con- juntura da Medicina veterinária no país. Os representantes da Oie estavam acompanhados por servi- dores do Ministério da agricultura, Pecuária e abastecimento e foram recebidos pelo Ppresidente do CFMv, Benedito Fortes de arruda, pelo secretário-geral, Felipe Wouk, e pelo tesoureiro, amilson Pereira. O principal tema abordado pelo CFMv foi a necessidade de O CFMv reconheceu mais uma especialidade da profissão: a acupuntura veterinária (Reso- lução CFMv nº 1.051/2014). a concessão do título partirá da as- sociação Brasileira de acupuntura regulamentar a exigência do Exame de Certificação Profissional para a aquisição do registro no sistema CFMv/CRMvs. “entendemos ser de suma importância que seja regula- mentado pelo nosso Poder Legis- lativo o exame para que entrem no mercado de trabalho profissionais preparados para atender às deman- das da sociedade”, afirmou arruda. a comitiva da Oie prometeu ela- borar recomendações ao governo brasileiro com vistas à melhoria do ensino e do exercício profissional no país. Veterinária (Abravet) e a exigência para o candidato será a aprovação em prova escrita e a análise de currículo. No Brasil, há hoje cerca de 500 acupunturistas na Medici- na veterinária, mercado que é as- cendente segundo o presidente da abravet, Jean Joaquim. Na opinião do presidente do CFMv, Benedito Fortes de arruda, os profissionais estão em busca de mais conhecimento, para ofe- recer aos animais qualidade de vida e longevidade. “Um espe- cialista tem a capacidade de diag- nosticar doenças com mais preci- são. O novo cenário no mercado de pets, que cresce a cada ano, pode ser um reflexo, também, da exigência dos proprietários de animais, que estão cada vez mais cuidadosos”, declarou. a técnica faz parte da medici- na complementar. O uso é mais fre- quente em animais de companhia e alguns exemplos de tratamento estão ligados a quadros neurológi- cos, como no combate a sequelas da cinomose e lesões neurais. Na Medicina veterinária esportiva, a acupuntura é recomendada para lesões na coluna de equinos. em bovinos, o uso das agulhas gera melhora no sistema locomotor. DESTAQUES CFMV Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 25Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 25 DESTAQUES CFMV CFMV esclarece sobre ilegalidade no tratamento da Leishmaniose O tratamento da Leishma- niose continua sendo ilegal e pode trazer riscos para os se- res humanos, enfatiza o CFMv. Continua em vigor a Portaria nº 1.426/2008, que proíbe o trata- mento de animais infectados. a Organização Não Governamen- tal (ONG) amigo dos Bichos en- trou com duas ações, uma caute- lar e uma principal, no tribunal Regional Federal da 3ª Região pedindo a autorização para o tratamento da leishmaniose em cães e, portanto, questionando a portaria. a União recorreu da decisão da ação cautelar, que foi posteriormente julgada pelo su- perior tribunal Federal (stF). No entanto, a ação principal julgada pelo tribunal Regional Federal da 3ª Região, manteve a Portaria. Nesse sentido, a decisão válida é a da ação principal, de modo que se exige a eutanásia dos cães que manifestarem a doen- ça. a advocacia-Geral da União (aGU) também publicou um pa- recer informando que a decisão do stF não afastou a obrigato- riedade da portaria, tampouco a revogou. segundo ela, os Mé- dicos veterinários devem traba- lhar de acordo com a Portaria nº 1.426/2008, que proíbe o trata- mento de cães com leishmanio- se, sendo indicada a eutanásia em todos os casos. a nota, na ín- tegra, que ainda trata dos riscos à população, orientação aos pro- fissionais e medidas para evitar a doença, está no Portal do CFMv (www.cfmv.gov.br). O Conselho quer ouvir os profissionais sobre as mudanças na Resolução CFMV no. 1015 a Resolução CFMv n°1.015/2012, que define alguns novos critérios para o funcionamento de esta- belecimentos veterinários, foi prorrogada para entrar em vigor a partir do dia 15 de setembro de 2014, de acordo com a Resolução CFMv nº 1.052/2014. além disso, o CFMv submete o texto, com alterações, à consulta pública para que todos os profissionais possam opinar. sugestões po- dem ser enviadas até o dia 31 de maio próximo pelo e-mail: consultapublica@cfmv.gov.br. a Resolução de 2012 foi redi- gida com o intuito de garantir melhores condições de atendi- mento aos animais, acompanhar o desenvolvimento do conhe- cimento e da tecnologia, como também alinhar-se à legislação sanitária vigente. “Nosso intuito foi buscar a garantia do aten- dimento dentro das condições necessárias. Queremos ainda, ouvir os profissionais sobre as novas exigências”, afirmou o presidente do CFMv, Benedito Fortes de arruda. Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201426 CFMV publica resolução que dita novos procedimentos de inscrição e registro Foi publicada pelo CFMv, no dia 10 de janeiro, a Resolução nº 1.041/2013, que disciplina os procedimentos de inscrição/re- gistro, movimentação, suspensão e cancelamento de pessoas físi- cas e jurídicas no sistema CFMv/ CRMvs. O texto entrará em vigor em 1º de julho de 2014 e revoga o anterior, de 2000. entre as alte- rações, destacam-se: possibilida- de de suspensão de inscrição de profissionais; previsão de registro de empresas rurais, e processo de registro de pessoas jurídicas. DESTAQUES CFMV Cadastre-se em www.cfmv.gov.br e receba, semanalmente, o boletimCFMV Informa com notícias de interesse para a Medicina Veterinária e Zootecnia. twitter.com/CFMV_oficial facebook.com/cfmvoficial www Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 27Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 27 CFMV NA MíDIA CFMV alerta sobre tráfico nas férias CFMV ratifica ilegalidade do tratamento da leishmaniose artigos na revista Cães e Cia nova especialidade 3ª Conferência Mundial da OIe Durante os meses de dezem- bro e janeiro, a imprensa repercu- tiu sobre o alerta feito pelo CFMv a respeito do aumento do tráfico de animais selvagens no período de férias nas rodovias do País. O Pre- sidente do CFMv, Benedito Fortes arruda, o Presidente da Comissão Nacional de animais selvagens do CFMv, Rogério Lange concederam entrevistas sobre o assunto. O tema foi discutido na Rádio Nacional, Agência de Notícias de Direitos Ani- mais (ANDA), Agência RádioWeb, TV Cultura, BandNews FM e Jornal Hoje em Dia (Belo Horizonte-MG). a ação na imprensa teve como objetivo esclarecer aos possíveis compradores que portar animais selvagens é extremamente preju- dicial para a saúde do animal e do ecossistema e orientar a sociedade para denunciar a prática à Polícia Rodoviária Federal (PRF). a ilegalidade do tratamento da Leishmaniose. O texto foi publica- do nos sites UOL e G1 e nas Revis- tas Agron e Cães e Cia. em seu po- sicionamento, o CFMv ratificou que a decisão do Poder Judiciário em ações movidas no estado do Mato Grosso do sul não invalidou a Por- taria nº 1.426/2008, do Ministério da saúde, que proíbe o tratamento. também foi enfatizado que o Mé- dico veterinário que tratar animais com Leishmaniose e for flagrado ou denunciado estará sujeito à aber- tura de processo ético (Resolução CFMv 875/2007). Mensalmente, o Presiden- te do CFMv, Benedito Fortes de arruda, assina a coluna “amigo vet” na Revista Cães e Cia (maior revista de pets da américa Latina). Os últimos assuntos tratados foram: as diversas atuações do Médico veterinário para a saúde da Humanidade; Relatório da Re- latório da ONU sobre Zoonoses e Leishmaniose. O reconhecimento da acupun- tura veterinária, pelo CFMv, como especialidade foi tema de diversas matérias jornalísticas. entre elas, veiculação no Canal Rural, TV RBS, Globo Rural, Revista Veja Brasília, Re- vista Saúde, Rural BR, Portal do Agro- negócio, Revista Grupo CIPA e Terra Viva (Gurpo Bandeirantes). Durante a 3ª Conferência Mun- dial sobre educação veterinária, o Presidente do Conselho Federal de Medicina veterinária (CFMv), Bene- dito arruda, concedeu entrevistas so- bre os objetivos do encontro para a TV Band; Rádio do Governo do Para- ná; TV do Governo do Paraná; e Jor- nal Gazeta do Iguaçu (Foz do iguaçu). O encontro também foi assunto tam- bém da Agência Brasil de Notícias, Avisite, Jornal Gazeta do Povo, Catve (TV Cascavel-PR); Rural BR, e site O Paraná. A conferência foi realizada entre os dias 3 e 6 de novembro, em Foz do iguaçu (PR). Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201428 PRODUÇÃO DE AVES avicultura agroecológica é possível Com um mercado que cresce 30% ao ano, no Brasil e no mundo, há espaço para pesquisa e aumento da produção de carne e ovos de frango com base ecológica rurais e mesmo em algumas propriedades urbanas, com finalidade de prover carne e ovos às famílias. Os siste- mas produtivos eram rudimentares, criavam raças e cru- zamentos adaptados à reprodução natural (choco), eram de crescimento lento e menos exigentes, capazes de ba- lancear suas dietas com os recursos forrageiros e alguma suplementação de grãos e restos da agricultura. as es- pécies eram criadas soltas na propriedade, com acesso a pastagens, estábulos e áreas agrícolas. exerciam um papel a avicultura é uma das atividades agrope- cuárias que mais se desenvolveu no mun- do e, atualmente, lidera o emprego da tecnologia para a produção de carne e de ovos. várias espé- cies avícolas são criadas com finalidade produtiva, sendo a de galinhas (Gallus gallus) a mais criada. No passado, antes da urbanização e industria- lização, as galinhas e as demais espécies avíco- las eram criadas em quase todas as propriedades Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 29 importante no controle de insetos e de algumas plantas invasoras nas áreas agrícolas, sendo, porém, suscetíveis ao ataque de predadores e algumas doenças (cólera, tifo, bouba etc.). esse sistema é conhecido como sistema de criação de galinha caipira. Com a urbanização e industrialização, foi criado um grande mercado para carne e ovos nos estabelecimentos que forneciam refeições, mercearias e supermercados, levando ao rápido desenvolvimento dos sistemas produ- tivos para melhorar o desfrute, a precocidade, a taxa de postura e o rendimento de carne no peito e pernas, fase que perdurou até o início dos anos 70 e tem sido referida como produção colonial. No entanto, tal desenvolvimento tem sido contínuo desde então, passando por fases distintas (cruzamentos, nutrição, instalações, manejo, ambiência, logística, abate, processamento, exportação, refeições prontas etc.), levan- do à especialização e ao aumento da escala e dos contro- les de qualidade, do ambiente, da mão de obra e outros, tornando a avicultura um negócio lucrativo e transforman- do-a em atividade industrial. Premissas para a produção agroecológica evitar aquisição de insumos externos Ciclagem dos nutrientes no solo Manutenção da biodiversidade Controle biológico das pragas e doenças Práticas conservacionistas evitar superpastoreio e degradação Proteger fontes de água lotação adequada por m2 720 mil dúzias de ovos são produzidas por ano no Brasil 30% de crescimento ao ano dos mercados nacional e internacional de carne e ovos orgânicos 550 mil frangos abatidos para produção de carne orgânica no Brasil Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201430 PArtICUlArIDADeS e eSForÇoS Os agricultores familiares que ainda se dedi- cam à criação de aves como antigamente procuram nichos de mercado para sua pequena produção e também procuram agregar valor aos produtos. Mui- tos exploram o produto rotulado como caipira ou colonial, que está normatizado pelo Ministério da agricultura, Pecuária e abastecimento, e auferem alguma vantagem mercadológica com isso. alguns, entretanto, aperfeiçoaram seus sistemas para uma produção orgânica também normatizada pela Lei dos Orgânicos (Lei nº 10.831/2003) e pela ins- trução Normativa nº 46/2011, em que todos os ingredientes utilizados na produção das aves são produzidos de forma orgânica, dentro do mesmo espaço rural. O termo ‘orgânico’, em alguns países, como a França, é referido como biológico e é normatizado segundo a orientação da international Federation of Organic agriculture Movements (iFOaM), com sede na alemanha, também auferindo vantagem pela agregação de valor aos produtos. No Brasil, esses sistemas são referidos como sistemas de base ecológica. entretanto, na verdadeira produção de aves em siste- mas de base ecológica se procura associar a produção de carne e ovos das aves com a ecologia da propriedade rural, manejando os recursos de maneira a permitir uma produ- ção saudável, com a qualidade desejada pelo consumidor, sem a necessidade de aquisição de insumos externos à propriedade e restaurando/privilegiando os processos na- turais, como a ciclagem dos nutrientes no solo por meio da fixação biológica do nitrogênio do ar e da solubilização do fósforo pelos fungos do solo, da rotação das culturas e da compostagem; a manutenção da biodiversidade; o contro- le biológico das pragas e doenças; e as práticas conserva- cionistas (evitar o superpastoreio e a degradação do solo e das fontes de água), com a lotação adequada de aves por m2 para evitar a competição, o canibalismo e a degra-dação/poluição do solo/ambiente. Um sistema produtivo com essas características é altamente demandante de co- nhecimento científico, principalmente sobre os processos biológicos (ecológicos, agronômicos, zootécnicos e veteri- nários) para o controle da produção e das doenças (rações e aves) e de inspeção dos produtos. anualmente no Brasil, por exemplo, são abatidas 550 mil cabeças de frangos para a produção de carne orgânica e produzidas 720 mil dúzias de ovos orgânicos, produções Manejo associado à ecologia da propriedade rural Arquivo CFMV Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 31 elsio Antônio Pereira de Figueiredo Zootecnista CRMV-SC nº0074Z, Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves – Concórdia, SC. elsio.figueiredo@embrapa.br auTor aquém da demanda dos mercados nacional e inter- nacional, que crescem em torno de 30% ao ano para esse tipo de produto. Portanto, ainda não existe ofer- ta de carne e de ovos, produzidos em bases ecológicas, suficiente para o desenvolvimento do mercado, que se restringe a poucas feiras e mercados periféricos. Grandes esforços vêm sendo feitos para que a produção animal e vegetal de base ecológica se de- senvolva no Brasil, seja no campo legislativo, com a criação da Lei dos orgânicos, e de políticas públicas com a implementação do Plano Nacional de agroe- cologia e Produção Orgânica (BRasiL, 2012), seja no alinhamento de pesquisas com a criação do marco referencial em agroecologia (eMBRaPa, 2006) e do portfólio de projetos em sistemas de produção de base ecológica da empresa Brasileira de Pesquisa agropecuária (eMBRaPa, 2012), que está ordenando e reunindo todos os projetos e tecnologias nessa área na empresa e disponibilizando para produtores fami- liares, associações e cooperativas práticas e proces- sos para a produção carne, ovos e outros produtos de base ecológica. entre os resultados importantes obtidos pela em- brapa, estão os genótipos para produção de carne e ovos mais adaptados à produção colonial/orgânica/ ecológica, com linhagens de produção de carne (aves abatidas com 2,5 kg em 84 dias) e ovos (300 ovos/ ave/ano) (FiGUeiReDO; sOaRes, 2012). Os trabalhos são para que a avicultura de base ecológica seja um sistema moderno que agregue va- lor aos recursos da propriedade rural pela integração Conforto na produção de ovos em ambientes fechados da produção vegetal com a produção avícola e dimen- sionado em função da vocação/ecologia da propriedade rural para os policultivos e do quantitativo de mão de obra disponível, considerando o mercado consumidor e as expectativas de renda e bem-estar dos produto- res para que essas propriedades obtenham sustenta- bilidade e os agricultores familiares obtenham a renda necessária para a perpetuação do negócio. Contudo, no Brasil, ainda são poucos os exemplos concretos de sucesso com essa visão e muitas confusões entre as diferentes denominações têm atrapalhado o desenvol- vimento do sistema, tendo predominado os sistemas caipira/colonial e orgânico. referênCias EMBRAPA. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Marco referen- cial em agroecologia. Brasília: EMBRAPA, fevereiro. 2006. Disponível em <http:// www.embrapa.br/publicacoes/institucionais/titulos-avulsos/marco_ref.pdfL>. Acesso em: Janeiro/2014. FIGUEIREDO, E. A. P. de; SOARES, J. P. G. sistemas orgânicos de produção animal: dimensões técnicas e econômicas. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEI- RA DE ZOOTECNIA, 49., 2012, Brasília. A produção animal no mundo em transfor- mação: anais. Brasília, DF: SBZ, 2012. 1 CD-ROM. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Plano Nacional de Agroecologia e produção orgânica 2013-2015. Decreto número 7794. Diário Oficial da Repú- blica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 20 de ago. 2012. Brasília: MDA, 2012 BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Norma- tiva n 46. Legislação para os sistemas orgânicos de produção animal e vegetal. Diário Oficial da República Federativa do Brasil , Poder Executivo, Brasília, DF, 23 de dez. 2011. Brasília: MAPA, 2011. BRASIL. Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003. . Diário Oficial da República Federativa do Brasil , Poder Executivo, Brasília, DF, 23 de dez. 2003. Seção 1 p.8. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Instrução Norma- tiva nº 46 de 6 de outubro de 2011. Regulamento técnico para os sistemas or- gânicos de produção animal, vegetal constante do Anexo I à presente Instrução Normativa DOU. Nº 194, Seção 1. P. 4-11. 7 de outubro de 2011. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO/MAA. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal – DIPOA. Divisão de Operações Indus- triais –DOI. Oficio Circular DOI/DIPOA nº 007/99 de 04/11/99. Registro do pro- duto “Frango Caipira ou Frango Colonial” ou “Frango Tipo ou Estilo Caipira” ou “Tipo ou Estilo colonial”. 1999. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO. Secretaria de Defesa Agro- pecuária – DAS. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal – DI- POA. Oficio Circular nº 60/99 de 04/11/99. Registro do produto “Ovos Caipira” ou “Ovos Tipo ou Estilo Caipira” ou “Ovos Colonial” ou “Ovos Tipo ou Estilo co- lonial”. 1999. Levino Bassi Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201432 ATIVIDADE CINOTÉCNICAS Cães de guerra Eles já foram usados como bombas vivas para derrotar o inimigo. Passaram a mensageiros, patrulheiros, e sentinela. Hoje se destacam como farejadores para as mais diversas finalidades O s cães de emprego militar, no Brasil conhecidos por cães de guerra, são, há muito tempo, utiliza- dos para as mais diferentes finalidades. a atividade foi ini- cialmente descrita pelo historiador Plínio, que viveu entre 496 e 406 a.C. e destacou os Pugnaceietbellicosi (cães de luta ou de combate) em seu tratado de história natural. Na antiguidade, foram relatados espécimes molossoi- des portando um colete de couro com recipientes cheios de óleo, onde era ateado fogo, e coleiras com lancetas. eram empregados para desestabilizar e atacar os inimi- gos, causando grandes danos às tropas a pé, à infantaria e à tropa montada, a cavalaria. Durante a segunda Guerra Mundial, as tropas soviéticas utilizaram cães com coletes carregando dispositivos magnéticos, os quais, quando em contato com os veículos blindados, deflagravam suas car- gas explosivas. esses exemplos ilustram o que a criativida- de e o esforço bélico podiam criar, ainda que não se con- corde com a finalidade e a falta de consciência para com o bem-estar animal. Madri / Reginaldo Aranda Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 33 Na segunda metade dos anos 1960, o exército Bra- sileiro vislumbrou a possibilidade de empregar cães em suas organizações militares, inicialmente nas unidades de Polícia do exército, depósitos de suprimento e unidades paraquedistas. assim, o Manual de Campanha de adestra- mento e emprego de Cães de Guerra, o C 42-30, estabe- leceu que as finalidades de emprego fossem o cão men- sageiro ou estafeta, o cão patrulheiro ou esclarecedor, o cão localizador de feridos e o cão de guarda ou sentinela. estabeleceu ainda que a raça pastor alemão seria empre- gada como cão de guerra. Dessas formas de emprego, a mais utilizada foi o cão de guarda. Com a reativação do quadro de oficiais Médicos veterinários, extinto em 1974, e a formação da primeira turma em 1992, as atividades gerenciadas pelos Médicos veterinários foram retomadas e, com elas, os canis militares. as atividades cinotécnicas militares sofreram uma reestruturação, com novo direcio- namento de emprego, voltado para a demanda, inclusive com a adoção de novas raças, fomento de cursos de forma- ção de adestradores, auxiliares veterinários e condutores de cães. Outro ponto que sofreu reestruturação foi a forma de aquisição de cães. apesar de prevista a compra de exem- plares, a grande via de obtençãode cães era por doação, o que nem sempre trazia exemplares ideais. Às vezes, eram muito agressivos ou com idade superior àquela de impres- são comportamental (adestramento). Com a estruturação dos Centros de Reprodução de Cães de Guerra, o exército Brasileiro passou a selecionar, adquirir, reproduzir e dis- tribuir aos seus canis militares, ou seções de Cães de Guerra, cães de elevado padrão zootécnico e comportamental. atualmente, as seções de Cães de Guerra mantêm constante intercâmbio de informações voltadas ao biotipo, comportamento, técnicas de adestramento, seleção, clínica e cirurgia de cães de trabalho, participando de conferências, reuniões e congressos. a consolidação dessas informações define as novas e atuais vertentes do emprego mi- litar de cães. fareJadores se desTaCaM Frutos desses estudos de demanda e situações, grande ênfase vem sendo dada aos cães detecto- res. também conhecidos como cães farejadores, eles são aqueles animais cujo perfil é selecionado para atuar na detecção de substâncias pelo olfa- to. entre os exemplos, estão os entorpecentes, ex- plosivos, cupim, contrabandos (dinheiro, CD, DvD, cigarro, pessoas, armas etc), cadáveres, vítimas de soterramento, tumores, minerais, vazamentos de gás e combustíveis. O treinamento de cães para detecção não os inviabiliza para treinamento em outras atividades, como cães de patrulhamento, atividade bastante difundida em outros países, onde são conhecidos como dual purpose dogs (cães para duas finalidades). Diversas instituições, entre elas o Exército, vêm buscando esse tipo de cão e essa forma de adestramento, com resultados bas- tante expressivos, levando a uma maior oferta de possibilidades de emprego dos cães de trabalho, sem impactar em aumento dos efetivos, seja cães ou recursos humanos. O treinamento de cães detectores começa a partir de um estudo de situação. são avaliadas todas as variáveis, como ambiente operacional, ocorrências mais comuns e meios disponíveis. em seguida, é elaborado um plano de trabalho, havendo a seleção do binômio homem-cão e a oferta dos meios necessários para a obtenção dos melhores resultados. O adestramento de um cão começa, na realida- de, na seleção e treinamento dos cinotécnicos, os militares que serão responsáveis ou pelo adestra- mento ou pela condução e emprego dos cães. Iniciação de filhotes em caixas de recompensa, ambiente externo. Arquivo do autor Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201434 Os militares que vencem as etapas de seleção e for- mação começam a receber a tarefa de adestrar. esse pro- cesso é acompanhado e avaliado, considerando ainda que o direcionamento do adestramento levará em conta o es- calonamento das dificuldades, o planejamento e acompa- nhamento das respostas comportamentais produzidas e a aferição dos resultados. aqueles que mostrarem amadure- cimento profissional e respeito, principalmente aos cães, poderão participar do estágio de formação de adestrado- res de cães detectores. ESCOLHA DO CÃO DEPENDE DE OBSERVAÇÃO E PACIêNCIA Os profissionais participam das atividades com os filhotes desde o nascimento, pois serão futuros cães de trabalho. aprender a “ler” na ninhada ou nas pequenas matilhas formadas pelos cãezinhos as sutis diferenças comportamentais será fundamental para registrar nos bancos de dados os progressos que os filhotes irão de- senvolver, observando, ainda, as impressões ambientais e sociais que eles estão recebendo e produzindo. essas observações começam desde o nascimento, com acompa- nhamento das curvas de ganho de peso, exploração do ni- nho ou caixa de parto, e seguem no desmame e exploração dos ambientes, como solários e creches. Diversos testes de seleção comportamental podem ser aplicados durante o desenvolvimento dos filhotes, numa busca pelo direcio- namento da “vocação profissional”, ou seja, da atividade mais favorável a ser desenvolvida pelo futuro cão de tra- balho, ou, até mesmo, na falta de aptidão para o serviço, pelo direcionamento para cão de companhia. Para trabalhar com cães o militar precisa Ser capaz de trabalhar sem supervisão ter controle emocional em situações adversas ter boa condição física Ser voluntário ter paciência Gostar de cães Etapas de seleção para condução Estágios de formação de adestradores programa de treinamento Duração média de nove semanas acompanhamento das atividades no canil teoria cinotécnica atuar na alimentação dos cães e higienização dos canis técnicas de adestramento Qualificação para condução de cães já adestrados Psicologia e comportamento caninos Noções de auxiliar veterinário e emprego militar de cães selecionados se tornam adestradores 1 1 2 2 3 3 4 4 5 6 Estágio de cães de faro em busca nas matas Arquivo do autor Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 35 ainda bem jovens, diversas atividades são desenvolvi- das de forma lúdica, como jogos de recuperação e localiza- ção de brinquedos, base do trabalho dos cães detectores, ou mesmo a impressão comportamental dos exercícios básicos de adestramento. Métodos como o clicker (artigo para treinamento que sinaliza ao cão que ele atingiu o objetivo) e reforçadores positivos são empregados como estimuladores dos comportamentos desejados e como Curso de treinador de cães de explosivos nos EUA modeladores das respostas, evitando, assim, a ne- cessidade de punições ou estimulações negativas, construindo a base de um cão seguro, sociável com as pessoas e outros animais, alegre e motivado. todo o processo é acompanhado por avalia- ções clínicas realizadas por Médicos veterinários militares, por meio de exames periódicos, perfis laboratoriais, imagens e criterioso programa de imunização. Em torno do sexto mês, os filhotes seleciona- dos passam a frequentar o laboratório de odores, um ambiente controlado em que são apresenta- das as caixas de recompensas. Há os exercícios de recuperação direcionados a uma associação entre a recompensa, o brinquedo e o odor que ele irá identificar. À medida que o filhote demonstra que entendeu e associou que, quando localiza o odor, recebe o prêmio, os adestradores modelam a forma como ele sinalizará a identificação desse odor. esta é uma fase sutil de indução comporta- mental, que necessita no mínimo de um adestrador e de um observador comportamental, que não po- dem correr o risco de, com suas atitudes, posturas ou gestos, levar o filhote a interpretar a expressão comportamental ou a ansiedade como um “gati- lho”, passando a explorar o ambiente visualmente e não pelo olfato. Uma curva crescente de dificul- dades e situações é gradualmente apresentada aos cães em treinamento, culminando com as buscas em ambientes e cenários reais. O momento atual brasileiro, com a realização de grandes eventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, vislumbra a necessidade de emprego de grande número de cães de trabalho, com par- cela significativa de cães detectores para auxiliar o trabalho militar e proteger a nação. Área de sociabilização de filhotes e impressões ambientais nos Estados Unidos Carlos de almeida baptista sobrinho Médico Veterinário, CRMV-SP nº 9687 Major Veterinário do Exército Brasileiro, atualmente compondo o Batalhão Brasileiro no Haiti auTor Arquivo do autor Arquivo do autor Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201436 PRODUÇÃO Tratamentos hormonais e Inseminação Artificial em Tempo Fixo em bovinos a inseminação artificial (ia) é uma técnica consagrada e viável para acelerar o avanço genético e o retorno econômico da bovinocultura. entretanto, em todo o mundo, existem relatos que indicam baixa taxa de serviço em bovinos, devido, principalmente, à ineficiência da detecção de estros (BaRUseLLi et al., 2007). esse problema é mais desta- cado em Bos taurus indicus, devido a particularidades no comportamento reprodutivo, como estro de curta duração com elevadaporcentagem de manifestação noturna (BaRUseLLi; MaRQUes, 2002). O anestro pós-parto e as falhas na detecção de estro no início da estação de monta, em rebanhos co- merciais de corte, são fatores que contribuem para o prolongamento do período de serviço (MeNeGHetti; vasCONCeLOs 2008), sendo comprovado o efeito negativo da mamada sobre o ciclo estral de vacas de corte, em função da inibição da secreção de hormô- nio liberador de gonadotrofina (GnRH) por opioides endógenos (encefalinas, endorfinas e dinorfinas), limitando o uso da ia tradicional, com observações diárias de cio (aRMstRONG et al., 2003), determi- nando baixo desempenho reprodutivo e baixa taxa de desfrute. Na inseminação artificial em tempo Fixo (iatF), os protocolos procuram induzir uma onda de cres- cimento folicular sincronizada, controlar a duração do crescimento folicular e da fase luteínica até o estágio pré-ovulatório, sincronizar a retirada da progesterona exógena e endógena, e induzir a ovulação sincronizada em todos os animais trata- dos (BaRUseLLi, 2004). a escolha do protocolo de sincronização deve considerar a categoria animal, a ciclicidade do rebanho e o escore de Condição Corporal (eCC) (MeLO, 2009). a avaliação do eCC é é um dos fatores mais im- portantes para o sucesso da iatF, com resultados de prenhez variando de 25% a, no máximo, 75%. O eCC de vacas e novilhas no início de um proto- colo de sincronização não deve ser menor que 2,5 (em escala variando de 1 a 5) (CUtaia et al., 2003). A escolha do protocolo de sincronização deve considerar a categoria animal, a ciclicidade do rebanho e o escore corporal Faider Villadiego Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 37 GNrH (HormôNIo lIBerADor DAS GoNADotroFINAS) Pursley et al. (1995) apresentaram um protoco- lo de manipulação hormonal, em fêmeas bovinas leiteiras, envolvendo o o GnRH e a prostaglandina F2α (PGF2α), formando ambos a base do primeiro protocolo para iatF, denominado OvSynch. Pursley et al. (1998), trabalhando com 733 va- cas de diferentes granjas leiteiras, separadas em cinco grupos, avaliaram o tempo ótimo para ia, uti- lizando o protocolo OvSynch. Essas fêmeas foram inseminadas 0, 8, 16, 24 e 32 horas após a segunda dose de GnRH. O grupo hora zero foi inseminado no momento da aplicação da segunda dose (Co -Synch). as taxas de concepção e parição dos gru- pos 0, 8, 16 e 24 horas foram maiores do que aque- las observadas para o grupo 32 horas. Não houve diferença entre os grupos 0, 8, 16 e 24 horas. atualmente, diversos protocolos de sincro- nização de estro continuam sendo pesquisados, com os objetivos de facilitar o manejo reprodu- tivo em rebanhos de leite e de corte e melhorar as taxas de concepção das fêmeas sincronizadas (BaRUseLLi et al., 2002; aLMeiDa et al., 2006). entre eles, destaca-se o uso frequente de dispo- sitivos intravaginais ou auriculares de progestá- genos associados ao GnRH e à PGf2α (PURsLeY et al., 1998), tendo sido contudo, o protocolo OvSynch o referencial inicial para o desenvolvi- mento desses novos procedimentos. Dentre os tratamentos hormonais que permitem inseminar um grande número de animais num pe- ríodo de tempo estabelecido, os mais utilizados, em gado de corte, combinam progesterona ou progestá- genos, prostaglandina F2α, e estrógenos, como ben- zoato, cipionato ou valerato de estradiol (BaRUseLLi; MaRQUes, 2002). Contudo, combinações de proges- tágenos com o protocolo OvSynch e com o protocolo Co-Synch, em programa de iatF para vacas nelore em rebanho comercial, também foram testadas, propor- cionando elevada taxa de prenhez, principalmente quando utilizadas após triagem ginecológica das ma- trizes (PaLHaNO et al., 2012). ProStAGlANDINA F2α a PGF2α e seus análogos são os agentes mais utilizados para sincronização do estro em fêmeas bovinas (ODDe, 1990) e o sucesso é dependente da presença de Corpo Lúteo (CL), provocando sua regressão morfológica e funcional (RatHBONe et al., 2001). a maior taxa de regressão do CL é obtida quando a substância é administrada entre os dias 6 e 17 do ciclo estral (vasCONCeLOs, 2000). a PGF2α não induz efeti- vamente a luteólise durante os cinco ou seis dias após o estro. acreditava-se que essa falta de responsividade do CL imaturo fosse devido à deficiência em número ou afini- dade de receptores para a PGF2α, porém foi demonstrada a presença de receptores com alta afinidade a partir de dois dias após a ovulação. Foi observado, então, que o CL maduro possui um sistema de feedback positivo que resul- ta na produção intraluteal de PGF2α, possibilitando a con- tinuidade do processo luteolítico iniciado por uma única aplicação de PGF2α (WiLtBaNK, 1997). Geralmente, os tratamentos usados para a sincro- nização do estro consistem na administração de duas doses de PGF2α com intervalos de 11 a 14 dias (BROa- DBeNt et al., 1993). Nas fêmeas em que se verifica a lu- teólise, a ocorrência do estro é distribuída no intervalo de dois a seis dias (geralmente três dias após), tornando impraticável a iatF em protocolos que utilizam apenas PGF2α (BÓ et al., 2002). a variação no intervalo entre a aplicação da PGF2α até o estro e a ovulação ocorre devi- do a diferenças no estágio das ondas foliculares no mo- mento do tratamento (MaPLetOFt et al., 2000). Quando o tratamento é realizado na presença de um folículo dominante em fase final de crescimento ou no início da fase estática, a ovulação ocorre dentro de três a quatro dias. Por outro lado, se a PGF2α for aplicada quando o folículo dominante estiver no meio ou no final da fase estática, a ovulação ocorrerá cinco a sete dias depois, ou Inseminação artificial realizada após tratamento hormonal Faider Villadiego Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201438 seja, após o desenvolvimento do folículo dominante da próxima onda folicular (KasteLiC; GiNtHeR, 1991). Portan- to, a variabilidade do intervalo entre o tratamento e a ovu- lação, com a utilização da PGF2α e seus análogos, refor- ça a necessidade de controlar tanto o desenvolvimento luteal quanto o folicular em protocolos cujo objetivo é a iatF (MeLO, 2009). ProGeSteroNA oU ProGeStáGeNoS Os dois sistemas mais utilizados para encurtar ou prolongar a fase luteínica do ciclo estral envolvem agentes luteolíticos e as drogas à base de progestero- na. tais métodos, embora adequados para programar o estro, são ineficientes para promover altas taxas de con- cepção à iatF (PORRas; GaLiNa, 1992). Os tratamentos utilizados envolviam longos períodos (12 a 14 dias) de administração de progesterona, que pos- sibilitavam boa sincronia dos estros e ovulações, porém associadas com fertilidade variável e, em geral, menor que a dos animais de controle (ROCHe, 1974). esses tratamen- tos tinham por objetivo superar a duração de um possível CL existente no ovário (MeLO, 2009). a progesterona inibe o estro e a ovulação e altera a di- nâmica folicular, atuando sobre o hipotálamo e regulando a liberação de GnRH (MiHM; aUstiN, 2002) e, consequen- temente, do hormônio luteinizante (LH). assim, a adminis- tração de progesterona ou progestágenos por um período suficiente para permitir a regressão natural do CL pode promover o estro sincronizado, uma vez que a supressão do tratamento progestacional determina a ocorrência do pico de LH e a ovulação (KesNeR et al., 1982). apesar de esses tratamentos serem efetivos para a sin- cronização do estro, a fertilidade é reduzida (ODDe, 1990), porque os sistemas de liberação lenta de progesterona ou progestágenos não mimetizam o CL na supressão do LH. Na ausência de CL, tais tratamentos produzem concen- trações subluteais de progesterona e permitem que os pulsos de LH aumentem até uma frequência intermediá- ria, o que prolonga o crescimento do folículo dominante (siROis; FORtUNe, 1988), resultando em baixas taxas de prenhez (MaDUReiRa et al., 2006) devido à ovulação de oócitos envelhecidos (MeLO, 2009). a possibilidadede associar os tratamentos com pro- gesterona ou progestágenos com um agente capaz de eliminar o CL surgiu com a disponibilidade comercial de análogos sintéticos da PGF2α (aLBeRiO; BUtLeR, 2001). em estudos realizados por smith et al. (1984), tratamen- tos de oito dias com progesterona finalizados com uma aplicação de PGF2α produziram sincronia de es- tros apropriada para realizar a ia e obter fertili- dade normal em novilhas. Os principais métodos de administração de progesterona ou progestágenos utilizados em bo- vinos são os implantes subcutâneos de Norgesto- met, os dispositivos intravaginais de silicone com liberação lenta de progesterona e a administração de progestágenos no alimento (MORaes, 2002). Recentemente, mais dois dispositivos intravagi- nais de liberação de progesterona foram lançados, o Bovine Intravaginal Device (DiB®) e o Cronipress® (PORtO FiLHO, 2004). a exposição à progesterona, por períodos de cinco a nove dias, pode induzir ciclicidade em va- cas em anestro e no período pós-parto (RHODes et al., 2002). Rhodes et al. (2003) levantaram a hi- pótese de que o tratamento com progestágenos estimula o desenvolvimento e a maturação dos folículos dominantes, em vacas em anestro, por au- mentar a secreção de LH e estimular o desenvolvi- mento de receptores de LH e a síntese de estradiol. atualmente, os progestágenos estão sempre asso- ciados a outros hormônios nos protocolos de sin- cronização para a iatF, principalmente os estróge- nos, como benzoato de estradiol (Be), cipionato de estradiol (eCP), valerato de estradiol (ve), e PGF2α. esTróGenos Os estrógenos são indutores da ovulação e estão sempre associados aos progestágenos nos protoco- los de sincronização. a combinação com benzoato de estradiol (Be) ou valerato de estradiol (ve) possi- bilitou a diminuição do tempo de exposição à pro- gesterona (MeLO, 2009). esses tratamentos tinham por objetivos estender artificialmente a fase luteal (com o uso de progesterona/progestágeno) e iniciar a luteólise antecipada (com o uso de estrógenos), de maneira que, ao finalizar o tratamento com progeste- rona/progestágeno, iniciaria uma fase de proestro e se produziriam estro e ovulação em dois a três dias (aLBeRiO; BUtLeR, 2001). O estrógeno, quando associado à progesterona ou progestágeno, promove o crescimento sincroni- zado de uma nova onda folicular cerca de quatro a cinco dias após a sua aplicação, independentemen- te do estágio do ciclo estral no qual o tratamento é iniciado (ROCHa, 2000). Quando administrado pouco Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 39 tempo após a ovulação, o estradiol aparentemente age como antiluteotrófico (MeLO, 2009) e, quando administrado na presença de um CL ativo, geralmen- te é luteolítico, apesar de a habilidade para induzir a regressão do CL ser mais limitada nos primeiros dias de atividade do CL (dias três a cinco pós-ovulação) do que mais tarde (PRatt et al., 1991). Falhas na regres- são do CL pela ação do estradiol resultam em falhas na sincronização (MeLO, 2009). Diferentes tipos de éster de estradiol, incluin- do 17-β estradiol, Be, ve e eCP, estão disponíveis comercialmente na américa do sul (MeLO, 2009). todos são capazes de induzir a regressão de folí- culos antrais quando administrados na presen- ça de elevadas concentrações de progesterona (BÓ et al., 1995). somente com a intensificação do uso da ul- trassonografia como meio diagnóstico pode-se determinar com precisão o desenvolvimento das ondas foliculares. Observando tal padrão folicu- lar, foi demonstrado que as altas doses de estra- diol administradas nos tratamentos originais de sincronização de estro não somente produziam uma luteóliseantecipada, como também mudan- ças nos padrões de desenvolvimento folicular (aLBeRiO; BULteR, 2001). Pesquisadores passa- ram a observar que combinando a regulação da fase folicular com a fase lútea era possível obter um apropriado controle do ciclo estral com uma sincronia uniforme do estro e ovulação com fertilidade normal (MeLO, 2009). segundo Driancourt (2000), eficien- tes protocolos de sincronização do estro precisam induzir a atresia dos maiores folículos presentes nos ovários, in- dependentemente do estágio de desenvolvimento, resul- tando no recrutamento de uma nova onda de crescimento folicular, desenvolvimento sincronizado de um novo folí- culo dominante em todas as fêmeas e ovulação em mo- mento predeterminado. O estrógeno pode estimular ou inibir a concentração de gonadotrofinas, dependendo da dose e das concentrações sanguíneas de progesterona (MeLO, 2009). em doses fisio- lógicas e baixas concentrações de progesterona, o estrógeno estimula a liberação de LH para que ocorra a ovulação. ao contrário, elevadas doses de estrógenos, na presença de ele- vadas concentrações de progesterona, bloqueiam as gonado- trofinas, inibindo, principalmente, a produção e liberação de LH. além disso, o estrógeno é fundamental para a expressão de receptores para ocitocina no endométrio, o que é impor- tante no processo de liberação de PGF2α para a regressão do corpo lúteo (MORaes et al., 2002; MeLO, 2009). a duração da supressão das gonadotrofinas pode ser afetada pela concentração e pelo tipo de estradiol utiliza- do, pela concentração de progesterona e por característi- cas individuais entre animais que se encontram em dife- rentes estágios reprodutivos (PORtO FiLHO, 2004). atualmente, os dispositivos intravaginais de progeste- rona e estradiol têm sido amplamente utilizados em pro- Escala de escore corporal ECC 2,0 ECC 1,0 1. Severa subcondição 2. Esqueleto visível Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201440 gramas de sincronização do estro e da ovulação em iatF para bovinos de corte e de leite (Neves, 2010). Lane et al. (2001), ao sincronizar novilhas de corte com dispositivo de liberação de progesterona e Be, não obtiveram diferença entre os dois grupos com relação à manifestação de estro, mas as novilhas às quais foi administrado Be, independentemente da fase folicular em que se encontravam no início do tratamento, apresentaram menor intervalo en- tre a retirada do dispositivo e o início do estro (45 versus 59 horas). No grupo que estava em fase de dominância folicular no início do tratamento, as fêmeas que receberam o BE apresentaram maior taxa de prenhez (84%) que aquelas que não o re- ceberam (65%), indicando que o tratamento com Be, como indutor da ovulação, pode ser eficiente em protocolos para a sincronização da ovulação em novilhas de corte, melhorando a eficiência desses protocolos. ao comparar a utilização de CiDR® e e-17β, de CiDR® exclusivamente e de duas aplicações de PG- F2α em intervalo de 11 dias em novilhas de corte, Bó et al. (1994) observaram que 75% das novilhas do grupo CiDR® e e-17β ovularam entre 72 e 84 horas após a retirada do implante; as novilhas que receberam somente o CiDR® apresentaram taxa de ovulação de 33% e as novilhas que receberam PGF2α atingiram índice de ovulação de 40%, esses dois últimos grupos também entre 72 e 84 horas após a retirada do implante. esses resultados apontam para a utilização de protocolos com CiDR® e Be em novi- lhas como um método satisfatório para obter uma boa sin- cronia do desenvolvimento folicular e luteínico, além de ovulação em momento oportuno do ciclo estral. Macmillan (1999) comparou a utilização do CiDR® por 7 (G1) ou 8 (G2) dias, associado a Be no D0 (inserção do dispositivo), PGF2α no momento da retirada deste e Be 48 horas após a aplicação de PGF2α. Houve maior concentra- ção de estros um dia depois do tratamento no G2 (97,5%) e dois dias depois do tratamento no G1 (80,3%). as taxas de concepção dos dois grupos foram semelhantes (45,2% no G1 e 47,4% no G2), indicando que os dispositivos de liberação de progesterona podem ser mantidos por sete a nove dias, sem comprometimento nas taxas de concepção de prenhez.a fim de verificar qual o melhor momento para a apli- cação do agente luteolítico associado ao CiDR® e Be, sá Filho et al. (2003) separaram 35 novilhas de corte em dois grupos. O grupo 1 (G1) recebeu o agente luteolítico no D7, sendo D0 o dia da inserção do dispositivo intra- vaginal, e o grupo 2 (G2) recebeu o agente luteolítico no D9, com a retirada do dispositivo intravaginal. O G1 apre- sentou tendência a uma maior taxa de concepção na IATF (64,7%, 11/17) do que o G2 (38,9%, 7/18). esse fato pode ter sido decorrente da manutenção de uma única fonte de progesterona nos animais tratados no D7, o que faria com que os níveis de P4 fossem mantidos subluteais, aumen- tando a pulsatilidade do LH, promovendo a manutenção ECC 3,0 3. Esqueleto e tecidos de cobertura bem balanceados ECC 4,0 ECC 5,0 4. Esqueleto não tão visível quanto o tecido de cobertura 5. Severa supercondição Ar qu iv o do a ut or Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 41 e crescimento do folículo dominante, aumentan- do o seu diâmetro e, consequentemente, favore- cendo a formação de um CL com maior diâmetro (MeLO, 2009). Lammoglia et al. (1998) observaram que a ad- ministração de Be 24 a 30 horas após a retirada do implante de progesterona, em vacas e novilhas, pode resultar em um maior pico na concentração de 17-β estradiol, maior número de animais de- monstrando estro, maior número de animais apre- sentando o pico pré-ovulatório de LH e redução do intervalo entre a retirada do implante e o pico de LH. a aplicação de 0,5 a 1 mg de Be 24 horas após a retirada dos implantes de progesterona sincroni- za o estro e a ovulação, aumentando, inclusive, a porcentagem de fêmeas bovinas que ovulam após o tratamento (MeLO, 2009). O tratamento com Be promove a liberação de um pico de LH dentro do intervalo de 16 a 30 horas (LaMMOGLia et al., 1998). a administração de GnRH induz pico de LH que se inicia logo após a aplicação, em torno de 15 minutos. Da mesma forma, os fármacos que agem diretamente nos receptores de LH, como a gonadotrofina coriô- nica equina (eCG), têm sua ação estabelecida logo após a sua absorção (MeLO, 2009). assim, existem outros produtos no mercado brasileiro, como o GnRH, LH e eCG que também são utilizados em protocolos para a realização da iatF em bovinos. ConsideraçÕes O número de fêmeas inseminadas tem aumentado no Brasil e esse aumento tem sido possível pela utilização da iatF, a partir do uso de protocolos hormonais que possi- bilitam o controle da sincronização, do desenvolvimento folicular e da ovulação. Os produtos têm mostrado uma acomodação de preços no mercado nacional, possibilitan- do sua utilização em larga escala, devendo ser adequados, sempre que possível, à realidade de cada propriedade. atualmente, os índices de concepção são satisfatórios, tanto em vacas quanto em novilhas, contribuindo para melhorar a eficiência reprodutiva e produtiva do rebanho. Contudo, os resultados obtidos com fêmeas primíparas, principalmente em rebanhos de corte zebuínos, explora- dos de forma extensiva, são baixos quando comparados aos das categorias de novilhas e multíparas, sendo a con- dição corporal o principal fator de impacto, o que torna evidente a necessidade de ajustes nutricionais para ade- quá-las ao programa de iatF. Não menos importante é o estado sanitário do rebanho e a capacitação da mão de obra que irá executar as etapas envolvidas. O exame ultrassonográfico permite determinar o desenvolvimento de ondas foliculares Crédito: Faider Villadiego Dispositivo intravaginal de liberação de progesterona Arquivo dos autores Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201442 referênCias ALMEIDA, A.B. et al. Avaliação da reutilização de implantes auriculares contendo norgestomet associados ao valerato ou ao benzoato de estradiol em vacas nelore inseminadas em tempo fixo. braz. J. Vet. res. anim. sci. v.43, p.456-465, 2006. 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Helcimar Barbosa Palhano Médico Veterinário, CRMV-RJ nº 4.235 Professor adjunto Instituto de Biologia, UFRRJ. auTores Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 43 Por: Flávia Tonin e Ricardo Junqueira del carlo ESTATíSTICAS BRASILEIRAS norte 4.255 Médicos veterinários atuantes 683 Zootecnistas atuantes 4.773 pessoas jurídicas atuantes nordeste 11.742 Médicos veterinários atuantes 1.328 Zootecnistas atuantes 12.639 pessoas jurídicas atuantes Centro-oeste 12.163 Médicos veterinários atuantes 1.931 Zootecnistas atuantes 9.174 pessoas jurídicas atuantes sudeste 47.060 Médicos veterinários atuantes 3.373 Zootecnistas atuantes 38.754 pessoas jurídicas atuantes sul 21.950 Médicos veterinários atuantes 1.286 Zootecnistas atuantes 24.433 pessoas jurídicas atuantes Total 97.170 Médicos veterinários atuantes 8.601 Zootecnistas atuantes 89.773 pessoas jurídicas atuantes 57% 70% 43% 30% números da Medicina Veterinária e zootecnia no Brasil São apresentados dados obtidos em censos recentes que representam um conjunto de valores da Medicina Veterinária e Zootecnia brasileira, dos profissionais atuantes e dos rebanhos de animais de produção e de companhia criados no Brasil Crédito: Faider Villadiego Fontes: Siscad/CFMV e CRMV-MG (2014) MEDICINA VETERINÁRIA zOOTECNIA Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201444 PERFIL DOS PROFISSIONAIS MÉDICOS VETERINÁRIOS Área de aTuação % de respondentes Clínica e/ou cirurgia de pequenos animais Agropecuária Inspeção Produção de alimentos de origem animal Outra Indústria de medicamentos Defesa agropecuária Magistério Médico Veterinário militar Saúde pública Clínica e/ou cirurgia de grandes animais Pesquisa Segurança de alimentos ou alimento seguro Tecnologia dos produtos de origem animal Indústria de ração Extensão rural Exposições e feiras agropecuárias Responsabilidade técnica Educação/ensino Laboratório Meio ambiente Animais selvagens Assessoria/consultoria Animais silvestres Biotério Nutrição animal Melhoramento genético Representação comercial 10 20 30 40 50 áreAS De INtereSSe No AProFUNDAmeNto de ConHeCiMenTos % d e re sp on de nt es 100 80 60 64 62 59 56 54 41 36 35 30 23 4 40 20 0 Bem-e sta r a nim al NASF Vigilâ ncia sa nitá ria Segura nça alim enta r Meio ambiente Bio étic a Anim ais sil vestr es Bio te rro ris mo Anim ais se lvagens Bio te ris mo Nenhuma 2 1 VíNCUloS emPreGAtíCIoS 60 45 34 22 13 9 8 40 20 0 Autô nomo Funcio nário públic o Empre gado da in ici ativ a priv ada Empre sá rio Outro s Dese mpre gado ONGs Apose nta do % d e re sp on de nt es Os dados apresentados foram extraídos de pesquisa completa realizada pelo Conselho Federal de Medicina veterinária (CFMv), disponível na edição 57 da Revista CFMv. Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 45 REBANHOS E PRODUÇÃO EM NúMEROS Dados estatísticos de rebanho total e distribuído por região geográfica brasileira. fonte: Anualpec (2013). Bovino 2013 * 31.823.637 Plantel de pintos de corte 2012 ** 531.437 Plantel de poedeiras 2012 ** 13.393 suíno 2012 *** 5.815.247 Bubalino 2010 *** 125.692 Ovino 2010 *** 10.112.726 Caprino 2010*** 8.538.290 equino 2010*** 1.342.489 Bovino 2013 * 34.036.089 Plantel de pintos de corte 2012 ** 1.260.389 Plantel de poedeiras 2012 ** 42.960 suíno 2012 *** 7.097.430 Bubalino 2010 *** 134.016 Ovino 2010 *** 771.190 Caprino 2010*** 225.643 equino 2010*** 1.344.629 Bovino 2013 * 95.915 Plantel de pintos de corte 2012 ** 3.190 Plantel de poedeiras 2012 ** 1.542.322 suíno 2012 *** 820.133 Bubalino 2010 *** 627.563 Ovino 2010 *** 165.264 Caprino 2010*** 775.398 equino 2010*** 736.075 Bovino 2013 * 60.941.494 Plantel de pintos de corte 2012 ** 765.508 Plantel de poedeiras 2012 ** 8.799 suíno 2012 *** 5.774.973 Bubalino 2010 *** 79.392 Ovino 2010 *** 1.209.581 Caprino 2010*** 114.275 equino 2010*** 1.123.287 Bovino 2013 * 25.483.401 Plantel de pintos de corte 2012 ** 3.353.727 Plantel de poedeiras 2012 ** 17.204 suíno 2012 *** 19.323.555Bubalino 2010 *** 118.842 Ovino 2010 *** 4.947.003 Caprino 2010*** 342.844 equino 2010*** 924.798 bovino 2013 * 193.393.388 Plantel de pintos de corte 2012 ** 6.006.975 Plantel de poedeiras 2012 ** 85.548 suíno 2012 *** 39.553.527 bubalino 2010 *** 1.278.075 ovino 2010 *** 17.668.063 Caprino 2010*** 9.386.316 equino 2010*** 5.510.601 N CO NE SE S norTe nordesTe CeNtro-oeSte sudesTe sul TOTAL * Nº de cabeças | ** Mil cabeças | *** Cabeças 2o maior rebanho bovino do mundo com 193 milhões de cabeças 4o maior rebanho suíno e equino do mundo ilu st ra çã o de O liv ie r G ui n pa ra o N ou n Pr oj ec t Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201446 ilu st ra çõ es d e Co ns ue lo e lo G ra zi ol a (q ue ijo ) e C as si e M cK ow n (m el ) pa ra o N ou n Pr oj ec t PRODUÇÃO ANIMAL POR REGIÃO Dados estatísticos de produção total e distribuída por região geográfica brasileira. fonte: Anualpec 2013. Carne bovina - Estimativa 2013 * 1.542.968 Leite de vaca - Estimativa 2012 ** 1.389.897 Carne de frango 2012 *** 232.457 Ovos 2011 **** 1.981.413 Carne de porco 2012 *** - Mel 2011 *** 946 Carne bovina - Estimativa 2013 * 1.221.695 Leite de vaca - Estimativa 2012 ** 3.162.084 Carne de frango 2012 *** 1.157.603 Ovos 2011 **** 10.343.992 Carne de porco 2012 *** - Mel 2011 *** 13.117 Carne bovina - Estimativa 2013 * 1.774.473 Leite de vaca - Estimativa 2012 ** 8.142.424 Carne de frango 2012 *** 2.674.816 Ovos 2011 **** 31.445.720 Carne de porco 2012 *** - Mel 2011 *** 6.150 Carne bovina - Estimativa 2013 * 2.548.742 Leite de vaca - Estimativa 2012 ** 3.396.298 Carne de frango 2012 *** 1.604.939 Ovos 2011 **** 5.217.048 Carne de porco 2012 *** - Mel 2011 *** 1.416 Carne bovina - Estimativa 2013 * 1.774.473 Leite de vaca - Estimativa 2012 ** 8.142.424 Carne de frango 2012 *** 2.674.816 Ovos 2011 **** 31.445.720 Carne de porco 2012 *** - Mel 2011 *** 6.150 Carne bovina - estimativa 2013 * 8.385.609 leite de vaca - estimativa 2012 ** 24.976.827 Carne de frango 2012 *** 12.645.099 ovos 2011 **** 60.212.303 Carne de porco 2012 *** 3.531.975 Mel 2011 *** 41.578 norTe nordesTe CeNtro-oeSte sudesTe sul TOTAL maior exportador e 3º maior produtor mundial de carne de frango maior exportador e produtor mundial de carne bovina maior exportador e produtor mundial de suínos maior exportador mundial de mel maior produtor mundial de leite e 3º maior produtor mundial de queijo 1o 1o 4o 4o 6o * tonelada equivalente carcaça | ** Por mil litros | *** toneladas | **** Caixa de 30 d úzias Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 47 ilu st ra çã o de C hr is to ph er t . H ow le tt p ar a o N ou n Pr oj ec t PEQUENOS ANIMAIS EM NúMEROS Cã es G at os Pá ss ar os Pe ix es o ut ro s 37,1 milhões 21,3 milhões 19,1 milhões 26,5 milhões 2,17 milhões TOTAL 106,2 2º maior mercado mundial 4º maior população total de animais de estimação do mundo 2º em cães e gatos Fonte: Abinpet (2012) 1. Tosador 37,7% 2. banhista 12,6% 3. Vendedor 11,6% 4. representante 10,2% 5. Veterinário 10,1% 6. Adestrador 5,0% 7. dog Walker 5,0% 8. balconista 4,0% 9. recreacionista 2,0% 10. aux. Veterinário 0,7% 11. aquarista 0,3% 12. Tratador 0,3% 13. Zootecnista 0,3% 14. Promotor 0,2% 15. técnico em Veterinária 0,2% DIVISÃO DE EMPREGO Fonte: Pet Empregos / Elaboração: Ambipet milhões Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201448 Suplemento Científico 50 Tratamento da vaca seca e controle de mastite bovina no período seco CRistiNa siMões CORtiNHas / MaRCOs veiGa DOs saNtOs 59 Intoxicação por ureia em bovinos GRaZieLa BaRiONi / RODOLPHO JOsÉ Da siLva BaRROs/ DiOGO aNtONiO RiZZO / MaRCeL aRCaNJO siLva/ FLavia De aLMeiDa LUCas / CaRLa BRaGa MaRtiNs 65 Herpesvírus equino tipo 1 eNiO MORi / CLaUDia MaDaLeNa CaBReRa MORi / PaULO CesaR MaiORKa 73 Produção de embriões bovinos in vivo e in vitro JURaNDY MaURO PeNiteNte FiLHO / CiRO aLexaNDRe aLves tORRes / FaBRíCiO aLBaNi OLiveiRa as noRmas PaRa aPREsEnTação dos aRTigos EsTá Em WWW.cFmv.gov.bR E a TRamiTação é ExclusivamEnTE ElETRônica. revista CfMV Brasília DF ano xx nº 61 Janeiro a abril 2014 Comitê Científico da revista CfMV Cláudio Lisias Mafra de siqueira (Presidente) CRMv-MG nº 5170 Roberto Baracat de araújo CRMv-MG nº 1755 Gilson Helio toniollo CRMv-sP nº 2113 João Luis Rossi Júnior CRMv-sP nº 11607 e CRMv-es nº 1206/vs Luiz Fernando teixeira albino CRMv-MG nº 11607 errata Diferentemente do que foi publicado nas páginas 46 e 48 da Revista CFMv, edição 59 (19), os créditos corretos das imagens são: Figura 1. ONG Campo de santana e Figura 2. Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em animais Domésticos (iPeC/ Fiocruz). Peter ilicciev/ Agência Fiocruz. SUPLEMENTO CIENTíFICO TraTaMenTo da VaCa seCa e ConTrole de MasTiTe boVina no PeríoDo SeCo THERAPY AND BOVINE MASTITIS CONTROl ON DRY PERIOD a mastite bovina é a doença mais comum e onerosa de toda a cadeia produtiva do leite e o período seco é um dos pontos críticos, que merece especial atenção, por ser o momento no qual ocorrem diversas alterações na glândula mamária, que aumentam a suscetibilidade. Baseando-se na fisiologia desse período, métodos como a terapia da vaca seca têm se destacado por promoverem maiores taxas de cura que durante a lactação; eliminarem infecções existentes e prevenirem as novas; possibilitarem a utilização de antimicrobianos em maior concentração e de liberação mais lenta, para manter níveis da droga no úbere por um longo período e diminuir o risco de descarte do leite por resíduos de drogas. Palavras-chave: infecções intramamárias, contagem de células somáticas, período seco Bovine mastitis is the most common and costly disease in the dairy industry. The dry period is a critical point that deserves special attention because at this time occurs physiological changes on mammary gland which increases mastitis susceptibility. Based on dry period physiology, tools such as dry cow therapy has been recommended because of: hither cure rates than during lactation period, elimination and prevention of subclinical infections, enabling the use of antibiotics in higher concentration and slower release, to maintain drug levels for a long period in the udder, and also by reducing the disposal milk with antibiotic residues. Keywords: intramammary infection, somatic cell count, dry period resuMo absTraCT inTrodução O período seco é crucial no controle da mastite, pois essa fase é caracterizada como o momento no qual ocor- rem alterações fisiológicas na glândula mamária, que resultam em maior suscetibilidade às infecções intrama- márias (iiMs). as iiMs do período seco podem ser causadas por patógenos ambientais ou ter como origem infecções preexistentes, causadas por patógenos contagiosos. Baseando-se no tipo de infecção e classificação do pa- tógeno, o tratamento da mastite durante o período seco Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201450 apresenta como principais características: maiores taxas de cura que durante a lactação; possibilidade de elimina- ção e prevenção de infecções subclínicas; possibilidade de utilização de antimicrobianos em maior concentração e de liberação mais lenta, para manter níveis da droga no úbere por um longo período e, ainda, diminuição do des- carte do leite com resíduos de antimicrobianos. além dessas vantagens, o tratamento da vaca seca é uma medida com efeito na redução da contagem de cé- lulas somáticas (CCs) do leite de tanque. O aumento da taxa de cura, ou simplesmente a prevenção de iiM pós- parto, reduz a ocorrência de casos clínicos e subclínicos e, consequentemente, a CCs do leite de tanque. FISIoloGIA DA GlÂNDUlA mAmárIA DUrANte o PeríoDo SeCo O período seco é caracterizado por diversas alte- rações fisiológicas; entre elas, para oaumento de suscetibilidade às iiMs, o início da síntese de leite (colostro) é a de maior importância (OLiveR e sOR- DiLO, 1988). a distribuição do risco ou suscetibilida- de às iiMs durante todo o período seco está descrita na Figura 1. Quando a extração do leite é interrompida de forma abrupta ou intermitente, ocorrem descontinuação da SUPLEMENTO CIENTíFICO liberação de hormônios galactopoiéticos, redução de síntese de leite e diferenciação de células secretórias (vaNGROeNWeGHe et al., 2005). Outro evento importan- te nessa fase, também denominada involução ativa, é o acúmulo de leite (aproximadamente 75 a 80% da produ- ção diária até 2 a 3 dias após secagem), com aumento de pressão no lúmen alveolar da glândula mamária. Durante essa fase, lisossomos, macrófagos e outros polimorfonu- cleares participam do processo de autofagocitose, que é iniciado pelas células secretoras cujos lisossomos fagoci- tam seu próprio conteúdo celular, sendo seguidos pelos macrófagos, que fagocitam as células secretoras já degra- dadas (BRaDLeY e GReeN, 2004). O aumento de imunoglobulinas (igG1, igG2, iga, igM) é marcante durante os 7 primeiros dias pós secagem. Nessa fase, o aumento das imunoglobulinas associado à diminuição do ferro disponível, constitui importante me- canismo de defesa da glândula mamária contra infecções (sMitH et al., 1971). a formação do tampão de queratina é fator de defesa da glândula mamária, ocorrendo entre 1 e 2 semanas pós secagem, em média. esse tampão, além de conter substâncias de inibição da síntese microbiana, atua como selante natural da teta (PYÖRÄLÄ, 2008). Du- rante a involução ativa a ocorrência de novas infecções pode ser aumentada por: volume de leite acumulado e aumento da pressão interna do úbere; descontinuidade da desinfecção das tetas; redução das atividades fagocíti- cas de leucócitos; e secreções produzidas durante o pro- cesso de involução que podem favorecer o crescimento de bactérias (DiNGWeLL et al., 2003). após a fase de involução ativa, inicia-se a fase de in- volução constante, que tem duração variável de acordo com a duração do período seco. Durante essa fase, as concentrações de imunoglobulinas e de lactoferrina são mantidas em níveis elevados e a predominância celular é de linfócitos e macrófagos (sMitH et al., 1971). O tam- pão de queratina encontra-se completamente formado e constitui mecanismo de prevenção contra novas iiMs. a alta concentração de imunoglobulinas, a lactoferrina e o tampão de queratina tornam a fase de involução cons- tante a de menor suscetibilidade a infecções mamárias durante o período seco. figura 1. Distribuição da suscetibilidade às infecções intrama- márias em vacas durante o período seco. Fonte: adaptado de Ruegg (2011). Alta Su sc ep tib ili da de 1 2 3 5 6 7 8 4 Baixa Período seco (semanas) Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 51 O final do período seco é marcado por alterações hor- monais provenientes do final da gestação e início da lactogênese. Durante a colostrogênese, a suscetibilida- de da glândula mamária a novas infecções aumenta em razão do maior risco de invasão bacteriana pelo canal da teta e do início do processo secretório da glândula (OLiveR e sORDiLO, 1988). além das alterações hormo- nais e da formação de colostro, durante a fase de lacto- gênese as concentrações de imunoglobulinas (principal- mente igG1) aumentam progressivamente, iniciando-se 2 a 3 semanas pré-parto e atingindo a máxima concentra- ção 5 a 10 dias antes do parto (sMitH et al., 1971). entre as alterações imunocelulares, a atividade de macrófagos decresce, com aumento na síntese dos componentes do leite. Durante essa fase, ocorre diminuição da concentra- ção de linfócitos e de lactoferrina, o que resulta em maior suscetibilidade da vaca a novas iiMs, principalmente as causadas por agentes ambientais. relAÇão eNtre mAStIte e PeríoDo SeCo A importância do período seco sobre a ocorrência de iiM durante a lactação subsequente vem sendo estu- dada desde a década de 1940. O aumento de quartos mamários infectados durante o período seco resulta em perdas financeiras por ser fator de risco para o de- senvolvimento de mastite durante a próxima lactação e reduzir a produção e a qualidade do leite (alta CCs) (GReeN et al., 2002). as iiMs do período seco podem ter duas origens prin- cipais. a primeira diz respeito às infecções persistentes da lactação anterior, que geralmente são causadas por microrganismos contagiosos. a segunda corresponde a infecções adquiridas durante o período seco, ou novas iiMs, causadas por microrganismos de origem ambien- tal. A prevalência de IIMs causadas por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae é maior durante a lactação, por serem microrganismos contagiosos, que são transmitidos, principalmente, durante a ordenha e têm como reservatório principal a glândula mamária (BRaDLeY e GReeN, 2004). ao contrário do que acon- tece durante a lactação, a prevalência de patógenos ambientais, como Streptococcus spp, é maior durante o período seco, pois nessa fase a contaminação é favore- cida por fatores ambientais (BRaDLeY e GReeN, 2004). O perfil e a origem dos patógenos dependem em parte de fatores ambientais, como a variação sazonal e entre fa- zendas (GReeN et al., 2007). No Brasil, Birgel et al. (2009) registraram taxas de novas infecções iguais a 66,67% e de infecções persistentes iguais a 61,54%. em rebanhos bem manejados e que utilizavam terapia da vaca seca (tvs), a maioria das novas iiMs pós-parto originaram-se durante o período seco (Figura 2). Considerando todo o período seco e toda a lactação (Fi- gura 3), o risco de novas iiMs é maior no início do período seco, próximo ao parto e início da lactação, em razão de alte- rações fisiológicas. Como a maioria das novas iiMs é ocasio- nada por microrganismos ambientais, o risco de novas infec- ções durante o período seco e pós-parto pode ser agravado quando os animais são alojados em ambientes inadequa- dos, com altas temperaturas e umidade, acúmulo de lama e esterco, falta de sombra e conforto (GReeN et al., 2007). a velocidade de formação do tampão de queratina após secagem é um dos principais fatores de risco para a ocorrência de novas IIMs. Essa velocidade está estri- tamente relacionada à produção da vaca (COMaLi et al., 1984) durante o processo de secagem e a fatores ra- ciais (BRaDLeY e GReeN, 2010). segundo Dingwell et al. (2003), aproximadamente 50% das vacas com produção igual ou maior que 21 kg de leite ainda permaneceram com o canal da teta aberto seis semanas após a secagem. A ocorrência de mastite na lactação anterior e o número de lactações, também são fatores que au- mentam o risco de novas iiMs, o que ocorre em ra- zão de exposições ou infecções prévias causadas por patógenos da mastite. Pantoja et al. (2009) relata- ram que quartos mamários com mastite na lactação anterior têm 4,2 vezes mais chance de apresentar mastite clínica na próxima lactação do que quar- tos sadios na lactação anterior. além disso, quartos mamários de vacas com mais de quatro lactações têm 4,2 vezes mais chance de apresentar mastite do que quartos de vacas de segunda lactação. ain- da, no mesmo estudo, quartos mamários com CCS ≥ 200.000 cels/mL no período seco apresentaram 2,7 vezes mais chances de desenvolvimento de mastite clínica na lactação subsequente do que quartos com CCs < 200.000 cels/mL. SUPLEMENTO CIENTíFICO Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201452 Devido a propriedades queratolíticas, o Corynebac- terium bovis tem sido associado ao incremento da sus- cetibilidade a novas iiMs e desenvolvimento de mastite clínica pós-parto quando adquirido no início do período seco (BRaDLeY e GReeN, 2004). No entanto, o Corynebac- terium bovis também é descrito como protetor, quando animais que adquiriram esse patógeno na fase final do período seco apresentaram menor risco de desenvolvi- mento de mastite nalactação subsequente (BRaDLeY e GReeN, 2004). ConsideraçÕes sobre o MoMenTo da seCaGeM a produção de leite no momento da secagem é de fundamental importância para o sucesso da tvs, pois o volume de leite produzido é fator determinante no in- cremento da suscetibilidade às novas infecções, devido, principalmente, ao aumento do tempo de formação do tampão de queratina (COMaLi et al., 1984). em vacas de alta produção, a redução ou o corte no fornecimento de concentrado 7 a 10 dias antes da secagem, pode reduzir a produção de leite para menos de 15 kg/dia até o mo- mento da secagem (NatiONaL Mastitis COUNCiL, 2011). O processo de secagem pode ser realizado de duas maneiras: 1) interrupção abrupta da ordenha (secagem abrupta); 2) redução no número de ordenhas diárias ou no número de ordenhas por semana (secagem intermi- tente). Na secagem abrupta, em dia preestabelecido, procede-se à esgota completa dos quartos mamários. a secagem intermitente é realizada ordenhando-se a vaca pelo menos uma vez por dia durante 3 a 4 dias até que a ordenha seja cessada por completo (NeWMaN et al., 2010). em ambos os casos, a vaca deve ser observada durante os primeiros dias para detecção de edema no quarto mamário, indicativo de mastite clínica. SUPLEMENTO CIENTíFICO 100 80 60 40 20 Coag - v e S ta phs Coag + ve Sta phs Coryn eb acte riu m sp p E. c oli IIMs persistentes Novas IIMs All E nter obacte rit aca e Proporção de IIMs pós-parto provenientes do período seco S. d ys galacti ae S. u beri s 0 figura 2. Perfil microbiano das infecções intramamárias pós-parto (novas ou persistentes) provenientes do período seco em vacas. Fonte: Bradley e Green (2004). figura 3. Distribuição de novas IIMs em vacas durante o período seco e a lactação. Fonte: Bradley e Green (2004). Ta xa d e no va s in fe cç õe s Secagem Período seco Lactação Parto Secagem Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 53 eFICIêNCIA De trAtAmeNto DUrANte o PeríoDo SeCo a tvs tem duas funções básicas: 1) cura de iiMs exis- tentes na secagem; 2) prevenção de novas iiMs du- rante o período seco. ela foi desenvolvida em 1950 e implantada no programa dos 5 pontos de controle da mastite em 1960, com o objetivo principal de controlar infecções existentes na secagem, por meio da utiliza- ção de antimicrobianos de longa duração. além disso, a TVS passou a ser utilizada, com ênfase, também na prevenção de novas infecções durante o período seco, o que levou ao desenvolvimento dos selantes internos de tetas (BRaDLeY; GReeN, 2004, 2007). a tvs é um método importante no controle da mas- tite, pois elimina em média 80% das infecções exis- tentes e previne até 80% das novas iiMs durante o período seco, dependendo principalmente do agen- te infectante (RUeGG, 2011). Umas das suas grandes vantagens é a utilização de antimicrobianos de longa duração, que permitem a eliminação de infecções sub- clínicas existentes, pois apresentam taxa de cura maior que durante a lactação. além disso, com a utilização da tvs não há descarte do leite e o risco de resíduos no leite é mínimo, se o período seco for de cerca de SUPLEMENTO CIENTíFICO 60 dias (a duração do período seco é fator importante na tvs). sua utilização contra infecções causadas por Strep- tococcus agalactiae apresenta alta taxa de cura, pois a eficácia contra esse patógeno é de cerca de 90%. No entanto, quando se trata de iiMs crônicas causadas por Staphylococcus aureus, os resultados são conflitan- tes. estima-se uma taxa de cura de até 50% na utili- zação da tvs contra o Staphylococcus aureus, porém essa taxa depende de fatores como a CCs do quarto infectado, a idade da vaca, o antimicrobiano utilizado, a duração do período seco e as condições higiênicas da fazenda (BaRKeMa et al., 2006). Por exemplo, er- skine et al. (1994) descreveram taxas de cura para o Staphylococcus aureus, até quatro semanas pós-parto, de 29,4% e 27,5% utilizando penicilina benzatina in- tramamária associada à oxitetraciclina intramuscular e penicilina intramamária, sem associações, no perío- do seco, respectivamente. Já Nickerson et al. (1999) descreveram taxas de cura para o Staphylococcus au- reus de 78,1% com cefapirina benzatina intramamá- ria, 74,2% com cefapirina associada à tilmicosina in- jetável e 9,2% apenas com tilmicosina injetável, no período seco. ainda que os resultados da tvs para a cura de iiMs por Staphylococcus aureus sejam variá- veis, essa prática alcança maiores taxas de cura quan- do comparada com a terapia para vacas em lactação (10% a 30%). atualmente, a administração intramamária é considera- da a via de eleição para aplicação de antimicrobianos na tvs. sendo assim, são aprovados, comercialmente para a terapia, apenas produtos para infusão intramamária de dose única que contenham um ou mais antimicrobia- nos de liberação lenta que tenham a capacidade de se manter em níveis terapêuticos por longo tempo dentro do úbere (NatiONaL Mastitis COUNCiL, 2011). Grande parte dos antimicrobianos para tvs foi desenvolvida para eliminar e prevenir iiMs causadas por bactérias gram-po- sitivas, especialmente Staphylococcus aureus e Strepto- coccus agalactiae, pois, além da dificuldade de controlar iiMs causadas por essas bactérias no período de lactação, de forma geral, iiMs causadas por bactérias Gram-nega- tivas possuem alta taxa de cura espontânea (Quadro 1). figura 4. Distribuição de casos de mastite clínica provenientes do período seco e da lactação de vacas leiteiras. Fonte: Bradley e Green (2007). 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Ca so s /1 00 v ac as Meses em lactação Infecções provenientes do período seco Infecções provenientes da lactação Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201454 SUPLEMENTO CIENTíFICO desVanTaGens da TVs Uma das desvantagens do uso de antimicrobianos intramamários é o fato de ser considerado um fator de risco a novas iiMs, pois, no momento da aplicação, há risco de introdução de microrganismos com o antimi- crobiano. assim, o uso de múltiplas infusões, além de não demonstrar vantagens quando comparado com a infusão única, aumenta o risco a novas iiMs (BRaDLeY et al., 2011). Outro questionamento se faz sobre o duplo propósito da tvs, tratamento e prevenção, uma vez que a maioria dos patógenos envolvidos nas infecções pré-existentes tem características muito diferentes daqueles encontra- dos nas novas iiMs. Dessa forma, em razão do risco de resistência microbiana e por motivos econômicos, a utili- zação da tvs com os mesmos antimicrobianos em todas as vacas no momento da secagem tem sido questionada em muitos países. assim, surgiram alternativas para a tvs, como o desenvolvimento de selantes internos e a utiliza- ção da tvs de forma seletiva, baseada nas características da vaca, no histórico de iiMs e nos valores de CCs próxi- mos ao momento da secagem. Recentemente, Batista et al. (2010) avaliaram a in- fluência de medicamentos indicados para o tratamen- to de mastite no período seco sobre a função fagocítica de leucócitos obtidos do leite de vacas. Foram avalia- das amostras de leite, negativas ao exame bacterioló- gico, expostas a soluções contendo cefalônio anidro, gentamicina, cloxacilina benzatina e benzilpenicilina procaína em associação com naficilina e dihidroestrep- tomicina. Os autores concluíram que a função fagocíti- ca pode ser prejudicada por alguns dos medicamentos disponíveis no mercado e que aplicações de medica- mentos formulados para o período seco em animais não infectados podem interferir negativamente no processo fisiológico de secagem, quando a fagocitose é fundamental. embora a tvs apresente algumas desvantagens, os benefícios obtidos com essa prática são maiores e, por isso, está incluída como prática obrigatória no progra- ma de controle da mastite estabelecido pelo Natio- nal Mastitis Council desde 1960(programa dos cinco pontos). No Brasil, a alta prevalência de bactérias das espécies Staphylococcus aureus (Cruppe et al., 2008), somada às altas taxas de cura obtidas com a utilização da tvs para essa espécie, torna a utilização dessa prá- tica de extrema importância. selanTe inTerno de TeTas O canal da teta possui como mecanismo de defe- sa natural contra novas iiMs o tampão de queratina. esse tampão é formado em média 2 semanas pós-se- cagem, período que é variável dependendo da pro- dutividade da vaca (BRaDLeY e GReeN, 2010). Con- siderando que algumas tetas apresentam demora na formação do tampão de queratina, foi desenvolvido o selante interno de tetas, que mimetiza a ação do tampão de queratina. O selante de tetas não possui ação ativa contra os microrganismos existentes, tendo como composição um sal inorgânico pesado (subnitrato de bismuto) e uma base de parafina. Devido à boa ação de fixação, o selante interno de tetas permanece em quantida- de variável até o final do período seco e é removido pós-parto pela sucção do bezerro ou pela ordenha. esse produto não oferece riscos à saúde do bezerro e o material residual não oferece riscos à saúde hu- mana por ser detectado em quantidades mínimas no leite de tanque (CaRNeiRO, 2006). GraM PoSItIVoS GraM neGaTiVos Penicilinas +++ - ampicilina ++ + Cloxacilina / naficilina +++ - Cefalônio ++ ++ Cefquinoma ++ ++ dihidroestreptomicina + +++ Framicetina / neomicina ++ +++ Quadro 1. espectro de atividade de alguns antimicrobianos utilizados para a terapia da vaca seca. Fonte: Adaptado de Bradley e Green (2007) Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 55 SUPLEMENTO CIENTíFICO Quando utilizado em tetas sem infecções pré-exis- tentes, o selante resultou em eficácia igual ou supe- rior na prevenção de novas iiMs, quando compara- do com a utilização de antimicrobianos (NatiONaL Mastitis COUNCiL, 2011). Quando se trata de vacas com infecções pré-existentes, ou quando não se sabe o estado da vaca em relação às iiMs, o selante pode ser utilizado em combinação com a tvs. No Brasil, Carneiro et al. (2006) compararam o uso do selante (subnitrato de bismuto) isolado ou em associação com antimicrobiano intramamário (gen- tamicina) e o comparando-os com o uso exclusivo do antimicrobiano (gentamicina) intramamário. segun- do os autores, não houve diferença entre a tvs e o selante interno de tetas na incidência de IIMs e não houve benefício significativo na aplicação simultâ- nea do selante e tvs. O selante interno, sem a associação de antimicro- bianos, não é prática eficaz no tratamento de vacas com iiMs pré-existentes no período seco. No entan- to, é uma alternativa bem interessante no caso de produtores que praticam o monitoramento da saúde do úbere e são capazes de determinar quais vacas estão livres de iiMs na entrada do período seco. Nes- ses casos, o selante interno apresenta a vantagem de permanecer na teta das vacas por mais tempo que os antimicrobianos intramamários. uso seleTiVo da TVs Quando a tvs começou a ser utilizada, recomenda- va-se seu uso em todas as vacas do rebanho com o mesmo produto no momento da secagem. atualmente, em alguns países, há considerável pressão para utiliza- ção da tvs em nível de quarto selecionado, por cultura microbiológica ou CCs. esses novos procedimentos fo- ram recomendados com o aprimoramento do conheci- mento sobre novas e persistentes iiMs no período seco e a crescente preocupação com o uso indiscriminado de antimicrobianos em animais de produção. O prin- cípio da tvs seletiva é que somente vacas com iiMs devem receber esse tratamento. ainda que os critérios de seleção para a tvs sejam con- sistentes na detecção de IIMs, a prevalência de mastite no início da lactação em rebanhos que recebem a tvs seletiva é consideravelmente maior. Nesse contexto, a tvs seletiva é efetiva quando usada em rebanhos com o objetivo de eliminar infecções existentes, mas, quando o rebanho tratado tem alto risco de novas iiMs, a terapia em todas as vacas torna-se mais efetiva. adicionalmente, quartos mamários que não recebem a TVS têm maior pro- babilidade de novas iiMs durante o período seco. além disso, uma vaca com um quarto infectado tem mais chan- ces de desenvolver infecção nos outros quartos mamá- rios do que uma vaca sem infecção nos quatro quartos (NatiONaL Mastitis COUNCiL, 2011), o que torna a tvs seletiva pouco indicada e utilizada. O sucesso da tvs seletiva depende da capacidade de diagnóstico da mastite no momento da secagem e das características epidemiológicas do rebanho. Para tanto, podem ser utilizadas a CCs do tanque, a CCs individual e o histórico de iiMs clínicas durante a lac- tação. No entanto, a cultura microbiológica individual é fundamental na definição da etiologia da mastite (saNtOs e FONseCa, 2006). Com relação à CCs, em nível de quarto mamário, o limite de 200.000 cels/ mL tem sido utilizado na tomada de decisões para o tratamento da vaca seca, porém esses dados de- vem ser analisados em conjunto com o histórico do animal. as vacas no final da lactação tendem a apre- sentar ligeiro aumento na CCs e podem não estar in- fectadas, mesmo que os valores de CCs ultrapassem 200.000 cels/mL, o que constitui um potencial aumen- tado no número de animais selecionados para a tvs (saNtOs e FONseCa, 2006). Considerando o atual estágio de controle de mastite na maioria dos países, o uso da tvs seletiva não resulta em maior relação custo-benefício. assim, o emprego da tvs em todas as vacas do rebanho ainda é o mais indicado no controle da mastite. Durante mais de 50 anos, muitos experimentos avaliaram o emprego de diferentes meto- dologias e sua eficácia na cura ou prevenção das iiMs du- rante o período seco. Devido à grande variação existente na interpretação dos efeitos da tvs entre experimentos e à variedade de técnicas utilizadas na tvs, recentemente Halasa et al. (2009) propuseram 3 estudos. O primeiro objetivou avaliar o efeito preventivo da tvs em todas as vacas do rebanho, da tvs se- Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201456 SUPLEMENTO CIENTíFICO letiva e do selante de tetas, e o uso da cloxacilina comparada com outros produtos para tvs, pela me- todologia de metanálise de 33 experimentos. Halasa et al., (2009b) concluíram que a tvs confere maior proteção contra novas iiMs causadas por Streptococ- cus spp. e menor para novas iiMs causadas por Sta- phylococcus aureus. No entanto, a tvs não confere proteção contra novas iiMs causadas por coliformes. No mesmo estudo, a cloxacilina promoveu proteção similar contra novas iiMs, inclusive contra iiMs cau- sadas por Staphylococcus aureus, quando comparada com outros produtos utilizados na tvs. Quando com- parada com a ausência de tratamento, a TVS seletiva promoveu maior proteção contra novas iiMs, mas, quando comparada com a tvs em todos os quartos mamários de todas as vacas, a tvs seletiva teve me- nor eficiência. O uso de selantes internos de tetas promoveu boa proteção contra novas iiMs. O segundo estudo foi realizado com os dados de 22 experimentos, nos mesmos moldes do primeiro, mas com o objetivo de analisar as taxas de cura de iiMs nos quartos mamários. a tvs em todos os quar- tos mamários promoveu taxas de cura 1,78 vez maior do que a ausência de tratamento e essas taxas fo- ram similares às taxas de cura alcançadas com a tvs seletiva (1,76). as taxas de cura foram semelhantes quando se comparou a tvs contra Staphylococcus aureus e Streptococcus spp. Não houve diferença quando se comparou a cloxacilina com outros pro- dutos para tvs na cura de iiMs causadas inclusive por Staphylococcus aureus. O custo-benefício da tvs foi calculado por Halasa et al. (2010) por meio de modelos estatísticos ava- liando os diferentes tipos de intervenção: tvs em to- das as vacas do rebanho, tvs seletiva e uso de selan- tes, sem tvs ou selante. Nesse estudo, um número substancial de vacas adquiriunovas iiMs durante o período seco e iniciou a lactação com iiMs, fato que interferiu na dinâmica das iiMs durante a lactação e no custo líquido anual da mastite. a utilização da tvs foi fundamental na redução de perdas econômicas. além disso, a tvs em todas as vacas do rebanho con- tribuiu para menor custo anual total da mastite, pois aqui considerou-se também o custo do diagnóstico de mastite no momento da secagem. De forma geral, produtores de leite brasileiros ainda têm grande dificuldade em diagnosticar a mastite no momento da secagem; desta forma, o uso da tvs em todas as vacas do rebanho é altamente recomendado. ConsideraçÕes finais a produção de leite é uma atividade complexa e de- pende não só de investimentos financeiros, como tam- bém de esforços na aquisição de conhecimentos que permitam visualizar os pontos críticos da produção de leite no organismo da vaca. Nesse contexto, o entendi- mento da fisiologia do período seco é importante, pois permite a utilização de técnicas que minimizem a ins- talação e manifestação de iiMs, durante a lactação, e perdas de produção. a técnica mais utilizada, e que de- veria ser obrigatória em todos os rebanhos brasileiros, é a tvs com antibióticos intramamários em todas as vacas do rebanho e todos os quartos mamários. Outras práticas como a terapia da vaca seca associada ao uso de selante interno de tetas podem ser utilizadas, mas são de maior complexidade por terem sua eficiência atrelada a correta identificação de iiMs existentes no momento da secagem. a utilização da terapia da vaca seca não dispensa a necessidade de outras medidas de prevenção contra as iiMs, como manter os animais em ambiente limpo, seco e com nutrição adequada. Cristina simões Cortinhas Médica Veterinária CRMV-SP no 11593 MSc e DSc pela Universidade de São Paulo ccortinhas@usp.br Marcos Veiga dos santos Médico Veterinário CRMV-SP nº 9252. DSc. Docente Universidade de São Paulo auTores Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 57 BARKEMA, H.W.; SCHUKKEN, Y.H.; ZADOKS, R.N. Invited Review: The Role of Cow, Pa- thogen, and Treatment Regimen in the The- rapeutic Success of Bovine Staphylococcus aureus Mastitis. Journal of dairy science v.89, n.6, p.1877-1895, 2006. BATISTA, C.F.; BLAGITZ, M.G.; AZEVEDO, M.R.; STRICAGNOLO, C.R.; LIBERA, A.M. P.D. Efeito de medicamentos indicados para o trata- mento de mastite bovina no período seco sobre os índices de fagocitose. Ciência Ani- mal brasileira v.10, n.2, p.574-580, 2010. BIRGEL, D.B.; BIRGEL JUNIOR, E.H.; POGLIANI, F.C.; RAIMONDO, R.F.S.; BIRGEL, E.H.; ARAÚ- JO, W.P. 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Keywords: urea, poisoning, non-proteic nitrogen resuMo absTraCT inTrodução a análise dos rebanhos mantidos a pasto, em es- pecial no período seco, no Brasil Central, indica que pelo menos 10 milhões de bovinos estejam rece- bendo anualmente suplementos contendo ureia (BaRUseLLi, 2005). Nos ruminantes, o catabolismo das proteínas é re- gulado pelos microrganismos ruminais, que possuem a capacidade de transformar o nitrogênio da dieta em proteína de boa qualidade, a denominada proteína microbial. a proteína da dieta entra no organismo em forma de proteína verdadeira e nitrogênio não protei- co (NNP), sendo que 40% da proteína total passa pelo rúmen sem transformação alguma, escapando da di- gestão microbiana, se perdendo sem modificações nas fezes. Os 60% restantes da proteína total e o NNP são transformados no rúmen, por ação da urease, e desdo- brados em amônia e dióxido de carbono. essa amônia é utilizada como fonte de nitrogênio, para síntese de proteínas pelos microrganismos ruminais (protozoá- rios Peptostreptocci spp e Prevotella spp) até peptídeos e aminoácidos, que fazem parte da chamada proteína microbiana, que é digerida e absorvida pelo intestino (RODRíGUeZ, 2007). a suplementação proteica com NNP é prática comum na alimentação de bovinos (CaMPOs NetO et al., 2007) e tem sido utilizada em substituição parcial à proteí- na natural na dieta (BaRUseLLi, 2005). Com o objetivo Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 59 de melhorar o aporte de proteína na dieta e diminuir os custos com suplementos proteicos, existe uma ten- dência à utilização de compostos nitrogenados não proteicos (OLiveiRa et al., 2001). a ureia é a principal fonte de NNP, possui baixo cus- to e praticidade na utilização (CaMPOs NetO et al., 2007) e a intoxicação, nos ruminantes, não ocorre diretamente pela ureia alimentar, mas, sim, pela amô- nia gerada como primeiro composto de degradação após a fermentação bacteriana ruminal (HaLiBURtON et al., 1989). a presença de surtos de intoxicação é o principal obstáculo para que seu uso rotineiro seja adotado por mais criadores. apesar de esporádica, a intoxicação apresenta quadro clínico drástico, rápido e na maioria das vezes devastador, podendo levar à morte em até 30 minutos após a ingestão (ORtOLaNi et al., 2000). segundo Gonzáles et al. (2000), a intoxicação ocor- re, principalmente, de forma aguda, quando os animais são suplementados com ureia ou sais de amônia, sem que tenha sido realizada uma adaptação prévia ade- quada. Nessas circunstancias, a microbiota do rúmen não aproveita as fontes de nitrogênio de forma eficien- te, o que também acontece quando são ultrapassados os limites de utilização e os animais ingerem quantida- de excessiva. a ureia a ureia representa um composto orgânico classifica- do como amida, constituído por nitrogênio, oxigênio, carbono e hidrogênio (CO(NH)2)2, altamente higroscó- pico, solúvel em água e álcool, de cor branca e sabor amargo, e é considerada um composto nitrogenado não-proteico [NNP] (aNtONeLLi et al., 2009). Seu uso, como fonte de nitrogênio para ruminantes mantidos exclusivamente a pasto, deve ser feito no período da seca, quando as pastagens apresentam-se com elevados teores de fibra e baixos teores de pro- teína, visando à manutenção ou ganho de peso (BaRU- seLLi, 2005). a administração de NNP associada a forragens fibro- sas, contendo baixo teor proteico, tem sido sugerida em diferentes sistemas de criação de ruminantes e dietas (GOMes, 2007). Candido et al. (1999) percebe- SUPLEMENTO CIENTíFICO ram que a amonização, via ureia, proporcionou melho- ria no valor nutritivo do bagaço de cana-de-açúcar e esta é uma das dietas mais utilizadas no Brasil. Barusseli (2005) relatou que os objetivos da utili- zação da ureia na alimentação de bovinos de corte e de leite, são a redução de custo pela substituição par- cial de fontes proteicas vegetais e o fornecimento de quantidades adequadas de proteínas degradáveis no rúmen para que ocorra maior eficiência da digestão da fibra e da síntese de proteína microbiana. No mercado brasileiro, existem a ureia pecuária lí- quida protegida com ácido fosfórico e a ureia extru- sada com fontes de carboidrato solúvel, bem como a ureia não protegida, comumente utilizada como fertili- zante, que também pode ser utilizada na dieta animal (aNtONeLLi et al., 2009). FISIoPAtoloGIA DA INtoXICAÇão a quantidade de ureia necessária para provocar in- toxicação depende de diversos fatores, como a velo- cidade de ingestão, a quantidade e a capacidade de reciclagem diante de fatores dietéticos, tais como: a porcentagem de nitrogênio ingerido, a degradabilida- de de nitrogênio no rúmen, o tipo de forragem, a por- centagem de grãos, a fermentabilidade de carboidra- tos no rúmen, o pH do rúmen e o grau de adaptação do animal (HUNtiNGtON et al., 1996). Quanto maior o pH, maior será a concentração de amônia (NH3), que, por ser lipossolúvel, vai ser mais facilmente absorvida pela parede ruminal. Condições como jejum e dietas ricas em fibra e baixo teor de carboidratos ou mesmo grandes quantidades de consumo de ureia são compostas, em sua maioria, por aminoácidos dicarboxílicos que afetam o estado ácido-básico ao serem oxidados, causando alcalose metabólica e, portanto, aumento na absorção, gerando hiperamonemia no animal (WeeB et al., 1972; BaRtLeY, 1976; PatieNCe, 1990). Doses de ureia superiores a 0,44 g/kg, em animais em jejum, podem ocasionar sinais de intoxicação e doses entre 1-1,5 g/kg, geralmente, são letais. a administração contínua de ureia determina tolerância e adaptação à dieta, porém, após três dias sem ingestão, os animais se tornam novamente sensíveis e nova adaptação de- Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201460 verá ser realizada (CORRea et al., 2001; RaDOstits et al., 2006). esse grau de adaptação também é reduzido por jejum prolongado e por dietas com baixos níveis de proteínas (RaDOstits et al., 2006), ou, ainda, por die- tas com baixos níveis energéticos, que refletem falta de sincronia nutricional no ambiente intrarruminal, pois di- minuem a taxa de utilização da ureia pelos microrganis- mos do rúmen (GiMaRÃes JUNiOR et al., 2007). a ureia ingerida é rapidamente hidrolisada no rúmen, pela urease bacteriana, em compostos amoniacais (NH4+ e NH3). enquanto o amônio (NH4+) é hidrosso- lúvel e não absorvível pela parede ruminal, aamônia é lipossolúvel e altamente absorvível (BaRtLeY et al., 1976). assim, condições que favorecem o surgimen- to de pH alcalino, como jejum, dieta rica em fibra e/ ou com baixo teor de carboidratos solúveis ou mes- mo a ingestão de quantidades consideráveis de ureia, predispõem à intoxicação por amônia, pois aceleram a absorção para a corrente sanguínea. a maior parte da amônia absorvida é rapidamente transformada no fígado, com a síntese da ureia por meio do ciclo da ureia. entretanto, quando há aumento na produção e absorção de amônia, ocorrem sobrecarga no sistema hepático, e, como consequência, aumento nos teores de amônia no sangue (O’CONNOR e COsteLL, 1990) (Figura 1). No ambiente intracelular, a amônia bloqueia o ciclo de Krebs por saturação do sistema glutamina-sinteta- se, resultando em diminuição da produção de energia e, finalmente, inibição da respiração celular (Figura 2) (aNtONeLLi et al., 2009). Campos Neto et al. (2007) verificaram que a rápida liberação de amônia no rúmen é fator limitante para o uso da ureia como fonte de NNP na alimentação, pois, caso ocorra deficiência de energia na dieta, situação frequente no período da seca, a amônia livre no líquido ruminal não será utilizada pelos microrganismos para sintetizar proteínas bacterianas e, consequentemente, será absorvida pelas papilas ruminais e direcionada ao fígado, para ser metabolizada no ciclo da ornitina, de- terminando dispêndio de energia que refletirá, negati- vamente, nas fases produtiva e reprodutiva do animal. Os resultados observados tanto na solubilização da ureia in vitro quanto no tempo de liberação da amô- nia no líquido do rúmen, aliados aos testes clínicos de intoxicação, demonstraram que a suplementação por ureia revestida com polímeros proporcionou liberação lenta e contínua da amônia e evitou o aparecimento dos sinais clínicos de intoxicação, por diminuir a velo- cidade de liberação de amônia no ambiente ruminal. a ureia é cerca de 40 vezes menos tóxica que a amô- nia (BaRUsseLi, 2005). O excesso de amônia liberada SUPLEMENTO CIENTíFICO ingestão de Uréia saliva (reciclagem) Filtração renal excreção urinária Ciclo da ureia Ureia Rúmen PtN bacteriana hidrólise Degradação de PtN bacteriana rúmen absorção PtN Abomaso e intestinos NH4 NH3 Ureia Fígado alto HN3 saturação do sistema glutamina-sintetase Neurônios alteração liberação neurotransmissores alteração passagem estímulo Redução dos estímulos nervosos Diminuição da produção de energia inibição da respiração celular alta absorção alta amônia intracelular figura 1. Ciclo de metabolização da ureia. figura 2. Mecanismo da intoxicação pela ureia. Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 61 eleva o pH do rúmen (7,0 a 8,5) e provoca aumento da permeabilidade da parede ruminal, favorecendo a ab- sorção da amônia em altas quantidades, predispondo à alcalose ruminal e intoxicação (BRaNDiNi, 1996). O uso de ureia polímero (protegida) promove uma maior e constante produção de nitrogênio na forma amoniacal (N-NH3), no ambiente ruminal, e propor- ciona maior estabilidade de pH durante 24 horas de observação (PaULa et al., 2009). a pulverização de óleos (linhaça e tungue) acrescida de mistura catalíti- ca de minerais (cobalto e manganês) permitiu que a ureia fosse metabolizada pela urease, com produção de amônia em dose lenta e contínua, para a síntese de proteína bacteriana (CaMPOs NetO et al., 2003). sinais ClíniCos Os sinais clínicos da intoxicação por ureia passam a ser visíveis quando o nível de amônia no conteúdo ruminal bovino atinge o valor de 1.000 mg/L, os níveis séricos de nitrogênio na forma de amônia (N-NH3) estão entre 10 e 13 mmol/L (10 mg/l) e os níveis de nitrogênio no sangue atingem 0,7-0,8 mg/dl (RaDOstits et al., 2006). Os sintomas se iniciam 10 a 30 minutos após a in- gestão e a gravidade dos sinais relaciona-se aos níveis sanguíneos de amônia e não aos ruminais (RaDOstits et al., 2006). eles incluem apatia, tremores muscula- res e de pele, salivação excessiva, micção e defecação frequentes, respiração acelerada, incoordenação mo- tora, dores abdominais, enrijecimento dos membros anteriores, prostração, tetania, convulsões, colapso circulatório, asfixia e morte (GOMes, 2007). Correa et al. (2001) citam que, além desses sintomas, podem ocorrer timpanismo e mugidos altos e que os animais se debatem exaustivamente antes de morrer e, nor- malmente, são encontrados mortos ou sobrevivem por um período de até 4 horas após a ingestão excessiva da ureia. a letalidade é próxima de 100%. acredita-se que a causa da morte seja a parada respiratória devido ao excesso de amônia. Já em casos com pouca gravida- de, os animais se apresentam sonolentos e em decúbi- to (RaDOstits et al., 2006). Na necropsia poderão ser observados, timpanismo, congestão da carcaça, excesso de fluido pericárdico, edema pulmonar, espuma nas vias aéreas superiores e hemorragias na musculatura cardíaca (GONZaLes e siLva, 2006). antonelli et al. (2009) utilizaram diferentes doses de amônia, depositada intrarruminalmente por de cânula, e perceberam que os animais que receberam ureia gra- nulada (não-protegida) demonstraram sinais clínicos de intoxicação mais rapidamente que os tratados com doses tóxicas de ureia extrusada (protegida). O diagnóstico de intoxicação por amônia é basea- do no histórico de ingestão de grandes quantidades de fonte de NNP, associado à presença de sintomas característicos, e à determinação laboratorial da concentração de amônia no sangue ou líquido rumi- nal (aNtONeLLi et al., 2009). Caso não haja histórico de consumo, os diagnósticos diferenciais serão insu- ficiência hepática aguda, anafilaxia, intoxicação por cianobactérias, hipomagnesemia, intoxicação aguda por sal, enfisema e edema pulmonar agudo, ence- falite ou encefalomalácia (RaDOstits et al., 2006), intoxicação por nitritos e nitratos, cianídricos, orga- nofosforados, carbamatos, sobrecarga de soja, 4-me- tilimidazole, gases tóxicos (monóxido e dióxido de carbono), doenças infecciosas agudas, encefalopatia hepática, enterotoxemia, timpanismo ruminal e hi- pocalcemia (RODRíGUeZ, 2007). SUPLEMENTO CIENTíFICO Rebanho com aptidão leiteira confinado, está sujeito à intoxicação após suplementação com uréia Ar qu iv o CF M V Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201462 trAtAmeNto e PreVeNÇão O tratamento emergencial da intoxicação por ureia pode ser realizado pela administração de vinagre por via oral (3 a 6 litros por animal), que, além de baixar o pH, diminui a hidrólise da ureia e forma compos- tos com a amônia (acetato de amônia), reduzindo a absorção. a utilização de ácido acético a 5% serve como antídoto, porém podem ocorrer recidivas dos sinais 30 minutos após o tratamento, sendo neces- sário repeti-lo. O tratamento mais eficaz é a rume- notomia para o esvaziamento imediato e completo do rúmen, porém, quando a intoxicação atinge gran- de número de animais, torna-se inviável, devido ao rápido curso da enfermidade (CORRea et al., 2001; RaDOstits et al., 2006). Pode-se utilizar uma sonda oroesofágica, para aliviar a compressão por gases oriundos do timpanismo, de- vendo-se evitar uma possível falsa via. Água gelada em grandes quantidades (20-40 L/animal) pode ser usada para reduzir a temperatura ruminal e diminuir a ativi- dade da urease (RODRíGUeZ, 2007). segundo Kitamura et al. (2010), a utilização de fluidoterapia, à base de solução salina isotônica ou hipertônica, por via endovenosa ou sonda esofági- ca, promove rápido e marcante aumento do volume urinário, possibilitando maior eliminação de amônia na forma de ureia favorecendo a desintoxicação. a administração de furosemida (2 mg/kg/Pv) com a fluidoterapia foi capaz de reduzir em 50% a dose tóxica de amônia sérica, durante a primeira hora de tratamento. Devido à extrema toxicidade da ureia, recomenda- secuidado ao utilizá-la na suplementação alimentar, ao manuseá-la e também quanto ao local de esto- cagem. Quanto aos produtos industriais ou misturas pré-estabelecidas, devem-se respeitar, obrigatoria- mente, as instruções do fabricante a respeito das concentrações máximas de ureia na ração ou na die- ta para cada animal (RaDOstits et al., 2006). Um período gradual de adaptação à ureia é neces- sário para evitar riscos de intoxicação, independente- mente da forma de apresentação. em boas condições de manejo, a ureia não deve ser ingerida em uma única SUPLEMENTO CIENTíFICO vez, mesmo para animais adaptados, utilizando-se um limitador de consumo, tal como sal comum, ou o forne- cimento parcelado da ureia em duas ou mais vezes ao dia (aNtONeLLi et al., 2009). ConClusÕes A utilização de nitrogênio não proteico na com- plementação alimentar de ruminantes é uma forma barata de suplementação, que apresenta ótimos resultados, e é capaz de otimizar diversos tipos de sistemas de criação no Brasil, representando alter- nativa em caso de baixa oferta de alimentos ricos em proteínas. Para utilização faz-se necessária orienta- ção técnica e qualificada. Agradecimento a Médica Veterinária Barbara Rauta de Avelar. Cerca de 10 milhões de bovinos mantidos a pasto recebem, anualmente, suplemento contendo uréia. Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 63 auTores Graziela barioni Médica Veterinária CRMV-ES nº 0487 MSc DSc. Docente Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) grazibari@gmail.com marcel Arcanjo silva azevedo Médico Veterinário CRMV-ES nº 01758 MSc. Carla braga Martins Médica Veterinária CRMV-ES nº 1320 MSc DSc. Docente UFES diogo antonio rizzo Médico Veterinário CRMV-BA nº 3890 rodolpho José da silva barros Médico Veterinário CRMV-ES nº 1589 CCS/UFES flavia de almeida lucas Médica Veterinária CRMV-SP nº 8208. MSc DSc Unesp/ Araçatuba, SP referênCias SUPLEMENTO CIENTíFICO ANTONELLI, A.C. et al. Intoxicação por amô- nia em bovinos que receberam uréia extru- sada ou granulada: alterações em alguns componentes bioquímicos do sangue. braz. J. 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A REVIEW O herpesvírus equino tipo 1 (eHv-1) é um patógeno capaz de causar perdas econômicas significativas aos plantéis e possui distribuição cosmopolita. ele tem sido identificado como a causa de abortamentos, mortali- dade neonatal, doença respiratória e manifestações neurológicas em cavalos. a mieloencefalopatia é menos comum do que as outras formas de doença causadas pelo eHv-1; entretanto, surtos de manifestações neu- rológicas têm sido relatados. Das 14 espécies de herpesvírus que acometem os equídeos, as mais relevantes são o eHv-1 e o eHv-4. sabe-se que o eHv-1 encontra-se presente na população equina no Brasil e, até o momento, não existem estudos sobre a ocorrência de outros tipos de herpesvírus que acometem os equídeos em nosso meio. Palavras-chave: rinopneumonite equina, aborto equino a vírus, mieloencefalopatia herpética Equine herpesvirus type-1 (EHV-1) is a major pathogen with significant economic impact. It has long been impli- cated causally in the occurrence of abortion, neonatal death, respiratory disease and neurological disorders in horses. Myeloencephalopathy is less common than other manifestations of EHV-1 infection; however, outbreaks have been reported. Among the 14 equine herpesviruses that affect horses,the most important are EHV-1 and EHV-4. EHV-1 infection is endemic in horse populations worldwide and it is also present in Brazil; however, until the current moment, there is no evidence of occurrence of other types. Keywords: equine rhinopneumonitis, equine herpesvirus abortion, equine herpesvirus myeloencephalopathy resuMo absTraCT inTrodução O herpesvírus equino tipo 1 (eHv-1) foi descrito pela primeira vez no início da década de 1930 (DiMOCK e eDWaRDs, 1933). Desde então, inúmeras publicações tiveram o objetivo de investigar a infecção causada por esse agente, relacionando-a à imunidade do hos- pedeiro (HeLDeNs, 2005; KYDD et al., 2006). No entan- to, cerca de 80 anos depois, o eHv-1 continua sendo um patógeno capaz de ocasionar perdas econômicas significativas, tornando-o ameaça à criação mundial de equinos, uma vez que sua distribuição é cosmopolita. Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 65 eTioloGia até o momento, foram identificadas 14 espécies de herpesvírus que acometem os equídeos (KiNG et al., 2011), das quais as mais relevantes são os tipos 1 (eHv-1) e 4 (eHv-4). a nomenclatura taxonômica foi determinada pela ordem de descoberta ou de clas- sificação como herpesvírus, porém nem todos estão relacionados com manifestação de enfermidades em cavalos. Os principais herpesvírus responsáveis por infecções em membros da família Equidae estão des- critos no Quadro 1. O eHv-1 é causador de diferentes doenças em cava- los, das quais as mais comuns são a rinopneumonite, Vírus sinôniMo subfaMília Gênero HoSPeDeIro naTural doença eHV-1 vírus do abortamento equino (antigo eHv-1 subtipo 1) α Varicellovirus Equus caballus Respiratória, abortamento, neurológica eHV-2 antigo citomegalovírus equino γ Percavirus Equus caballus Rinite e conjuntivite eHV-3 vírus do exantema coital equino α Varicellovirus Equus caballus exantema coital eHV-4 vírus da rinopneumonite equina (antigo eHv-1 subtipo 2) α Varicellovirus Equus caballus Respiratória eHV-5 antigo citomegalovírus equino γ Percavirus Equus caballus Na eHV-6 Herpesvírus asinino tipo 1 (aHv-1 ou asHv-1) α Varicellovirus (?) Equus asinus exantema coital eHV-7 Herpesvírus asinino tipo 2 (aHv-2 ou asHv-2) γ NC Equus asinus Na eHV-8 Herpesvírus asinino tipo 3 (aHv-3 ou asHv-3) α Varicellovirus Equus asinus Rinite eHV-9 Herpesvírus de gazela (GHv) α Varicellovirus Equus grevyi Neurológica aHV-4 Herpesvírus de zebra γ NC Equus asinus Pneumonia aHV-5 Herpesvírus asinino tipo 4 (aHv-4 ou asHv-4) γ NC Equus asinus Pneumonia AHV-6 Herpesvírus asinino tipo 5 (aHv-5 ou asHv-5) γ NC Equus asinus Pneumonia ZHV ou ezebGHV-1 Herpesvírus asinino tipo 6 (aHv-6 ou asHv-6) γ NC Equus zebra Na WaHV Herpesvírus de zebra tipo 1 ou Equus zebra gammaherpesvirus 1 (antigo Equus zebra rhadinovirus 1) γ NC Equus somalicus Na WaHV Herpesvírus de jumento selvagem γ NC Equus somalicus Na Quadro 1. Principais herpesvírus de alguns membros da família Equidae, segundo king et al. (2011) α: Alphaherpesvirinae; γ: Gammaherpesvirinae; NC: não classificado; NA: não associado. Fonte: King et al. (2011) SUPLEMENTO CIENTíFICO caracterizada por manifestações respiratórias no trato superior em animais jovens; o abortamento a vírus em éguas no terço final da gestação e mortalidade perina- tal em potros; e a mieloencefalopatia herpética equina (eHM), caracterizada por manifestações neurológicas em cavalos adultos. Com menor frequência, o EHV-1 pode provocar doenças oculares e infecção pulmonar vasculotrópica. essas enfermidades podem ocorrer de forma isolada ou conjunta (PUsteRLa et al., 2010). Relatos informam que infecções causadas pelo eHv-1 estavam restritas à espécie equina, existindo raras descrições em outras espécies, como aborta- mentos em vacas ou encefalites em antílopes, alpa- Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201466 cas e lhamas (CHOWDHURY et al., 1986; ReBHUN et al., 1988). artigos recentes apresentam infecções naturais fatais em animais selvagens em zoológi- cos, como gazelas e ursos, e sugerem a quebra das barreiras naturais entre espécies (WOHLseiN et al., 2011; GReeNWOOD et al., 2012). HisTóriCo Em 1932, foi relatada a ocorrência de surtos epizoó- ticos de abortamentos em éguas no estado de Ken- tucky (estados Unidos), causados por agente de prová- vel etiologia viral (DiMOCK e eDWaRDs, 1933). estudo retrospectivo nesse estado, de 1921 a 1947, concluiu que 26% dos casos de abortamento do total de 1.150 fetos foram de etiologia viral (DiMOCK et al., 1947). estudos foram conduzidos em éguas prenhes infec- tadas com material biológico (macerado, filtrado e bac- teriologicamente negativo), proveniente dos órgãos de fetos abortados, resultando em abortamento (DiMOCK et al., 1947). Relataram-se lesões necróticas e presença de corpúsculos de inclusão intranucleares acidofílicos no baço, timo, fígado e pulmões dos fetos abortados; contudo, sem relação com manifestação clínica prévia. em 1941, na Hungria, Manninger e Csontos de- monstraram que esse agente etiológico viral causava abortamento em éguas e doença respiratória em ca- valos, inferindo que o abortamento seria sequela da influenza equina. a seguir, nos estados Unidos, Doll et al. (1959) concluíram que o vírus causador do aborto equino deveria ser renomeado para vírus da rinopneu- monite equina. verificaram que a doença respiratória que precedia o abortamento não estaria relacionada com o vírus causador da influenza, pois as lesões da rinopneumonite eram distintas daquelas observadas na gripe. Os primeiros estudos in vitro foram realizados por Randall et al. (1953), demonstrando que o vírus pode- ria ser cultivado com sucesso em células fetais equinas (pulmão e baço). além da reprodução de alterações observadas na infecção natural, observou-se aumento do título de antígeno viral após passagens seriadas em cultivo celular. Plummer e Waterson (1963) classificaram o vírus da rinopneumonite e do abortamento em equinos como pertencente à família Herpesviridae, adotando o nome de herpesvírus equino (eHv), devido à similaridade morfológica com o Herpes simplex evidenciada por meio da microscopia eletrônica. a primeira associação entre o eHv e a enfermidade neurológica ocorreu em 1966, quando saxegaard iso- lou o vírus do encéfalo e da medula de um cavalo com paralisia nos membros pélvicos. Devido às similaridades morfológicas e antigênicas, até 1981 o eHv-1 e o eHv-4 eram considerados va- riantes de um único agente, sendo denominados sub- tipos 1 e 2 do eHv-1. Com base nos diferentes padrões eletroforéticos do DNa viral, studdert et al. (1981) re- classificaram os subtipos 1 e 2 para eHv-1 e eHv-4, respectivamente. a comparação eletrofenotípica obtida pela análise de restrição de isolados de eHv-4 de origens geográfi- cas distintas indica uma grande estabilidade genética, com pouca variação intraespecífica. entre os isolados de eHv-1, encontra-se maior variabilidade, com apa- rente relevância epidemiológica. allen et al. (1983), a partir de 272 isolados do eHv-1 derivados de casos de abortamento em éguas no esta- do de Kentucky, eUa, no período entre 1960 e 1982, identificaram a existência de pelo menos 16 padrões eletroforéticos distintos do DNa viral, denominados de variantes, que foram classificados como protótipo eHv -1P e eHv-1a até eHv-1O. entretanto, mais de 90% dos isolados, provenientes de animais não vacinados, apresentaram a predominância de somente duas va- riantes do eHv-1, denominadas de P e B, sugerindo, assim, uma variação molecular viral limitada na popu- lação estudada. De forma semelhante, alguns pesquisadores en- contraram pouca diversidade molecular e predomí- nio da variante P em isolados do eHv-1 provenien- tes do Brasil (MORi et al., 2012), argentina (GaLOsi et al., 1998), Canadá (NaGY et al., 1997), Dinamarca (PaLFi e CHRisteNseN, 1995), França (ZieNtaRa et al., 1993), Holanda (vaN MaaNeN et al., 2000),Ja- pão (PaGaMJav et al., 2005), Oceania (stUDDeRt et al., 1992), Reino Unido (McCaNN et al., 1995) e índia (GUPta et al., 2005). SUPLEMENTO CIENTíFICO Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 67 allen et al. (1985) observaram que a variante P do eHv-1 era predominante e responsável por mais de 80% dos abortamentos ocorridos no estado de Ken- tucky nas décadas de 1960 e 1970. em 1980, a varian- te B passou a ser encontrada com maior frequência e tornou-se o isolado mais comum em fetos abortados. A emergência de novas estirpes virais em substituição das mais antigas sugere que pressões biológicas e an- tigênicas, como, por exemplo, a imunidade vacinal, po- dem selecionar o crescimento e a sobrevivência das variantes do eHv-1. Por outro lado, as distintas estir- pes virais isoladas de cavalos com manifestações neu- rológicas têm sido classificadas como sendo do tipo P do eHv-1, incluindo aquelas encontradas no Brasil e na argentina (GaLOsi et al., 1998; MORi et al., 2012). até recentemente, encontravam-se relatos esporádi- cos de manifestações neurológicas ocasionadas pelos evHs, sendo que os surtos eram raramente notificados. a partir de 2001, cresceu o número de casos de eHM na europa e na américa do Norte, sugerindo aumento na prevalência e/ou morbidade e mortalidade causa- das por esses vírus em decorrência de possíveis muta- ções (aPHis, 2007). sabe-se que variações genéticas entre o eHv-1 tipo P e B estão relacionadas a mutações do gene da região Open Reading Frame (ORF) 64, que codifica a proteína da célula infectada 4 (iCP4), que pode estar relacionada com a neuropatogenicidade (PaGaMJav et al., 2005). Nugent et al. (2006) demonstraram diferenças em regiões variáveis específicas do genoma viral do eHv-1 originário de casos de eHM e de abortamen- to de diversas regiões do mundo, identificando uma mutação por substituição nucleotídica não sinônima de base única (Single Nucleotide Polymorphism - sNP) no gene codificador da DNa polimerase (ORF30) nas amostras neuropatogênicas. Tal mutação, provavel- mente, estaria relacionada com a ocorrência de doen- ça neurológica decorrente da infecção pelo eHv-1, sugerindo a existência de um marcador genético de neuropatogenicidade. Observaram também variabili- dade na ORF68 em isolados do eHv-1 originários de oito países localizados na europa, américas do sul e do Norte e Oceania, permitindo classificá-los em seis grupos geograficamente restritos, indicando um pro- vável marcador filogenético. segundo allen e Breathnach (2006), a estrutura da enzima DNa polimerase foi modificada devido à mu- tação na ORF30, ocasionando maior agressividade na replicação viral e, consequentemente, levando ao aumento da carga viral e da duração da viremia asso- ciada aos leucócitos. a exposição intensa da superfície endotelial dos vasos sanguíneos do sistema Nervoso Central (sNC) ao eHv-1 pode contribuir para o eleva- do risco de desenvolvimento de doença neurológica. De acordo com Borchers et al. (2006), além da lesão vascular, a doença neurológica pode ser decorrente da multiplicação viral nos neurônios por fatores relacio- nados ao vírus e/ou ao hospedeiro. HisTóriCo no brasil O primeiro relato de doença herpética em cavalos no Brasil (CORRea e NiLssON, 1964) apresenta, em dois fetos abortados, lesões pulmonares e hepáticas carac- terísticas. No entanto, mais dois anos foram necessá- rios para isolamento do vírus de fígado de feto equino abortado originário de Botucatu (sP). a identidade com a amostra Ky-D do eHv-1 foi estabelecida pela técnica de soroneutralização viral (NiLssON e CORRea 1966). Reiner et al. (1972) isolaram o eHv-1 pela inoculação, em hamsters, da suspensão de fígado, baço e pulmão de feto equino abortado originário de Campinas (sP). Relataram sinais neurológicos, como convulsões tôni- co-clônicas e paralisia em hamsters lactentes, após a inoculação. após 1980, a maior parte dos diagnósti- cos do eHv-1 foi realizada pela inoculação em células veRO (KOtait, 1991). No ano de 1992, foi isolada a estirpe denominada a9/92 do eHv-1, em células veRO, a partir de fragmen- tos do fígado, baço e pulmão de um potro com 10 dias de idade proveniente de araçariguama (sP), pela imu- nofluorescência direta (CUNHA et al., 1993). a estirpe denominada a3/97 foi isolada em 2004, em cultivo de células de origem equina e-Dermal, a partir de frag- mentos de fígado de feto equino abortado em Porto Feliz (sP), em 1997 (CaRvaLHO et al., 2012). tentativas anteriores de isolamento viral, em células veRO, não foram bem-sucedidas devido à dificuldade de adapta- SUPLEMENTO CIENTíFICO Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201468 ção do vírus em células de origem não equina (CUNHa e.M.s. comunicação pessoal). também foi confirmada identificação viral, em sur- tos de abortamento, por Carvalho et al. (2000) em Minas Gerais (estirpes isa e CR), Moreira et al. (1998) em Curitiba (PR) e Weiblen et al. (1994) em santiago (Rs). No Brasil, ainda não é comum o diagnóstico de doença neurológica em cavalos causada pelo eHv-1, sendo que o primeiro relato foi publicado por Lara et al. (2008). ePIDemIoloGIA O eHv-1 é responsável pela rinopneumonite que apresenta alta morbidade e baixa mortalidade na po- pulação de equinos e é geralmente negligenciada pe- los tratadores, porque, na maioria dos casos, suas ma- nifestações clínicas são de caráter leve ou inaparente. No entanto, resulta em perdas econômicas quando acomete animais de competição, com cancelamento das provas, interrupção de treinamento, diminuição do desempenho atlético e altos custos de tratamento, es- pecialmente quando ocorrem complicações bacteria- nas secundárias (MORi, 2005). apesar de os abortamentos em éguas (Figura 1) serem frequentes no Brasil, existem poucos estudos que os relacionem à infecção herpética (WeiBLeN et al., 1994; MOReiRa et al., 1998; CaRvaLHO et al., 2000). Os prejuízos econômicos decorrentes da mortalidade fetal ou do nascimento de potros fracos ainda não foram adequadamente avaliados. acredi- ta-se que surtos de abortamento podem ocorrer tan- to em casos isolados quanto simultâneos em vários animais (epizoóticos), podendo atingir 10% do plan- tel (KOtait, 1991). As três principais fontes de infecção natural do eHv-1 para cavalos suscetíveis são: (1) animais ati- vamente infectados, que eliminam o vírus pelas secreções respiratórias; (2) fetos abortados e seus envoltórios ou secreções provenientes do trato re- produtivo de éguas imediatamente após o aborta- mento; (3) reativações endógenas do vírus, que se encontrava quiescente, em indivíduos portadores (KOtait, 1991; aLLeN, 2002). Éguas são as principais fontes de infecção primária do eHv-1 para potros fiGura 1. Feto equino abortado no terço final de gesta- ção infectado pelo EHV-1 SUPLEMENTO CIENTíFICO em fase de lactação, com idade entre 30 e 120 dias. Posteriormente, a disseminação viral para os animais suscetíveis é ampliada pela transmissão entre popu- lações de potros antes e após o desmame. No final desse ciclo, quase todos os animais tornam-se porta- dores latentes (GiLKeRsON et al., 1999). O eHv-1 é altamente contagioso e sua transmissão é horizontal, ou seja, ocorre pela inalação de aerossóis ou pela ingestão de alimento e água contaminados por secreções (KOtait, 1991; aLLeN, 2002). a transmissão via fômite também pode ocorrer, por exemplo, quando o mesmo endoscópio é utilizado em diversos indivídu- os, sem desinfecção prévia. a principal porta de entra- da do eHv-1 é a mucosa do trato respiratório, na qual a infecção primária se instala pela multiplicação viral local (aLLeN, 2002). Levantamentos sorológicos realizados em dife- rentes regiões do Brasil, entre os anos de 1988 e 2010, revelaram que o eHv-1 encontra-se dissemi- nado na população equina em todo o território na- cional (Quadro 2) e já foram identificados diversos isolados originários de casos de doençaneurológica (COsta et al., 2008; LaRa et al., 2008; MORi et al., 2011) e de abortamento ou mortalidade perinatal (ReiNeR et al., 1972; CUNHa et al., 1993; WeiBLeN et al., 1994; CaRvaLHO et al., 2000; CaRvaLHO et al., 2012; MORi et al., 2012). Não existem relatos de isolamento de outros tipos de herpesvírus em equí- deos no território nacional. Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 69 em estudo sorológico analisando uma população de equídeos não vacinados, observou-se que a in- fecção por eHv-1 e eHv-4 encontra-se amplamente distribuída no estado de são Paulo (MORi e. comuni- cação pessoal). a maioria dos cavalos pesquisados (93,2% - 249/267) foi soropositiva para o eHv-4, sugerindo alta prevalência do agente na população analisada, corroborando resultados de estudos epi- demiológicos realizados no estado do Pará (Dias, 2000), na Colômbia (sÁeNZ et al., 2008) e na aus- trália (GiLKeRsON et al., 1999). esse mesmo estudo revelou que somente 23,2% (62/267) dos equinos foram soropositivos para o eHv-1. essa proporção também foi semelhante ao descrito no Pará (Dias, 2000), na Colômbia (sÁeNZ et al., 2008) e na austrá- lia (GiLKeRsON et al., 1999). ConsideraçÕes finais O eHv-1 causa diferentes tipos de doença, que va- riam em gravidade, desde leve afecção respiratória até o abortamento em éguas, mortalidade perinatal e distúrbios neurológicos. a natureza e a gravidade da doença dependem de inúmeros fatores, como a idade, o estado imunitário e a condição de saúde do hospedeiro. O potencial patogênico da estirpe viral pode desempenhar papel importante no desenvol- vimento das diferentes manifestações de doença. até o presente, vários aspectos da patogenia e epi- demiologia das doenças causadas pelo eHv-1 ainda são desconhecidos. estudos visando à caracteriza- ção de isolados nacionais do eHv-1 são fundamen- tais para determinar as melhores formas de prevenir e controlar a infecção. auTores TesTe sorolóGiCo % De PoSItIVoS n loCalidade Fernandes (1988) FC 67,2 586 sP Modolo et al. (1989) FC 17,6 250 sP (noroeste) Kotait et al. (1989a) sN 13,5 1.178 sP Vargas e Weiblen (1991) sN 84,7 348 Rs Vasconcellos (1997) FC FC 88,14 67,3 59* 52** sP sP Moreira et al. (2000) sN 17,7 299 PR (Curitiba) Cunha et al. (2002) sN 27,2 1.341 sP (noroeste) Heinemann et al. (2002) sN 17,71 96 Pa (Uruará) lara et al. (2003a) sN 14,3 70 PR (Curitiba) lara et al. (2003b) sN 33,4 659 sP diel et al. (2006) sN 4,5 1.506 Rs Pena et al. (2006) sN 45,45 506 Pa (sul) lara et al. (2006) sN 5,2 97 PR (Curitiba) aguiar et al. (2008) sN 22,7 176 RO (Monte Negro) Cunha et al., (2009) sN 26,0 163 sP (sul) lara et al. (2010) sN 17,6 826 MG FC: fixação de complemento, SN: soroneutralização, IP: imunoperoxidase, IFI: imunofluorescência indireta *histórico de abortamento; ** sem relatos anteriores de abortamento SUPLEMENTO CIENTíFICO Quadro 2. Dados de levantamentos sorológicos de equídeos infectados por herpesvírus equino tipo 1 em diferentes regiões do Brasil Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201470 SUPLEMENTO CIENTíFICO ALLEN, G.P. Epidemic disease caused by Equine herpesvirus-1: recommendations for prevention and control. equine Veterinary education v.14, n.3, p.177-184, 2002. ALLEN, G.P.; BREATHNACH, C.C. Quantifica- tion by real-time PCR of the magnitude and duration of leucocyte-associated viraemia in horses infected with neuropathogenic vs. non-neuropathogenic strains of EHV-1. equi- ne Veterinary Journal v.38, n.3, p.252-257, 2006. ALLEN, G.P.; YEARGAN, M.R.; TURTINEN, L.W. et al. A new field strain of equine abortion virus (equine herpesvirus-1) among Kentucky hor- ses. american Journal of Veterinary research v.46, n.1, p.138-140, 1985. ALLEN, G.P.; YEARGAN, M.R.; TURTINEN, L.W. et al. 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SUPLEMENTO CIENTíFICO Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201472 SUPLEMENTO CIENTíFICO ProDUÇão De emBrIÕeS BoVINoS in vivo e in viTRo IN VIVO AND IN VITRO BOVINE EMBRYO PRODUCTION Os avanços na biotecnologia da reprodução aumentam a participação da fêmea bovina no processo de me- lhoramento genético do rebanho, visto que o número de descendentes deixados por uma única fêmea ao longo de sua vida reprodutiva aumentou significativamente, com o aperfeiçoamento das técnicas de transfe- rência e produção in vitro de embriões. a produção de embriões bovinos in vivo, por meio da superovulação da doadora e posterior lavagem uterina, é consagrada mundialmente como forma eficiente de multiplicação rápida dos indivíduos de melhor mérito genético dentro de um rebanho. Os embriões também podem ser produzidos no laboratório utilizando técnicas de fecundação in vitro ou por clonagem de células embrioná- rias ou somáticas. Geralmente, fêmeas cruzadas (Bos taurus taurus x Bos taurus indicus), jovens, com boa ca- pacidade de conversão alimentar, alta fertilidade e boa habilidade materna são consideradas as melhores re- ceptoras. algumas considerações devem ser feitas em relação à sincronia da receptora com a doadora, tendo em vista que, no momento da colheita, os embriões apresentam importante variabilidade em seus estágios de desenvolvimento (24 a 36 horas de diferença). assim, é adequada uma sincronia de aproximadamente 24 horas entre doadora e receptora. Palavras-chave: bipartição de embriões, eficiência reprodutiva, fertilização in vitro, transferência de embriões. Advances in reproductive biotechnology over the years improved the participation of female in the process of cattle genetic improvement, since the number of descendants left by a single female throughout her reproductive life increased significantly with the use of techniques as embryo transfer and in vitro production. Production of bovine embryos in vivo, by donor superovulation and posterior embryo recovery is known worldwide as an efficient mode to multiply individuals with better genetic characteristics within cattle. Bovine embryos may also be produced in laboratory using in vitro fertilization techniques or by cloning somatic or embryonic cells. Gen- erally, crossbreed females (Bos taurus taurus x Bos taurus indicus), young, with good feed conversion capacity, high fertility and good maternal ability are considered the best recipient. Attention should be given regarding the synchrony between recipient and donor because embryos exhibit a significant variability in their developmental stages (24 to 36 hours apart) at the time of collection. Therefore it is appropriate a synchrony about 24 hours between donor and recipient. Keywords: embryo bipartition, embryo transfer, in vitro fertilization, reproductive efficiency resuMo absTraCT Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 73 inTrodução a utilização e o desenvolvimento de biotécnicas da reprodução animal são condições indispensáveis para o aumento da eficiência produtiva. Nesse sentido, es- pecialmente no que se refere aos ruminantes domés- ticos, biotécnicas como a inseminação artificial, fertili- zação in vitro e transferência de embriões vêm sendo utilizadas com sucesso (FiGUeiReDO et al., 2007). Os avanços obtidos nas biotécnicas reprodutivas ao longo dos anos permitiram maior participação da fêmea bovina no processo de melhoramento genéti- co do rebanho, visto que o número de descendentes deixados por uma única fêmea ao longo de sua vida reprodutiva aumentou significativamente com o aper- feiçoamento das técnicas de transferência e Produção In Vitro (Piv) de embriões (GONÇaLves et al., 2007). DINÂmICA FolICUlAr O desenvolvimento folicular de bovinos ocorre em um padrão de ondas. Cada onda de crescimento fo- licular é caracterizada por um grupo de pequenos folículos que são recrutados e iniciam uma fase de crescimento comum por cerca de três dias. Desses folículos, apenas um continua seu desenvolvimento, enquanto os outros sofrem decréscimo de tamanho, estabelecendo-se, então, o fenômeno da divergên- cia folicular (BaRUseLLi et al., 2007). Vacas e novilhas podem ter duas ou três ondas por ciclo, com um folículo tornando-se dominan- te em cada uma delas. Por isso, uma população de pequenos, médios e grandes folículos é encontrada em cada ovário, durante todos os dias do ciclo estral (BORGes et al., 2001). Cada onda de crescimento folicular é dividida em quatro fases: emergência, seleção, dominância e atre- sia ou ovulação. A emergência de uma onda é carac- terizada por um crescimento de mais de 20 folículos pequenos que são estimulados pelo hormônio folículo estimulante (FsH) (Reis, 2004). a concentração de FsH atinge seu pico quando o maior folículo, denominado dominante (FD), alcança o tamanho de 4 a 5 mm (Nas- seR, 2006). Uma das maneiras de o FD manter seu status é pro- duzir substâncias que inibam o desenvolvimento de SUPLEMENTO CIENTíFICO outros folículos antrais. Uma dessas substâncias é a ini- bina, um hormônio peptídeo produzido pela granulosa que inibe a secreção do FsH por efeito de retroalimen- tação negativa sobre a liberação de FsH, aparentemen- te por efeito direto sobre a hipófise (FLORiaNi, 2006). a dinâmica folicular em animais zebuínos tem-se mostrado diferente da de bovinos de raças europeias, de modo que o diâmetro dos FDs e a área do Corpo Lúteo (CL) são menores nas fêmeas zebuínas (BORGES et al., 2001). Rasi (2005) ressalta que a emergência da terceira onda folicular está associada a uma fase luteí- nica mais prolongada (Figura 1). figura 1b. Ciclos estrais B. três ondas foliculares figura 1a. Ciclos estrais a. duas ondas foliculares 14 a mm ↑P4; ↓LH ↓P4; ↑e2; ↑LH 10 6 2 Dia 0 Dia 10 Dia 20 P4; LH 14 mm ↑P4; ↓LH ↑P4; ↓LH ↓P4; ↑e2; ↑LHB 10 6 2 Dia 0 Dia 8 Dia 16 Dia 23 Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201474 SeleÇão e SINCroNIzAÇão De reCePtorAS as receptoras de embriões necessitam de cuida- dos tão rigorosos quanto os dispensados às doado- ras. Os cuidados, em relação à sanidade (iBR, BvD, leptospirose, tuberculose, brucelose, tricomonose), nutrição, mineralização de qualidade e fertilidade, influenciam significativamente os resultados da téc- nica (teCNOPeC, 2010). Geralmente são utilizadas fêmeas cruzadas como re- ceptoras jovens (zebu x taurino), com boa capacidade de conversão alimentar, alta fertilidade e boa habilida- de materna. em geral, as receptoras eram descartadas após a primeira cria, porém atualmente o reaproveita- mento de receptoras tem se tornado comum, pois os preços praticados pelos fornecedores de receptoras têm se tornado cada vez maiores (TECNOPEC, 2010). algumas considerações devem ser feitas em rela- ção à sincronia da receptora com a doadora, tendo em vista que, no momento da colheita, os embriões apresentam uma importante variabilidade em seus estágios de desenvolvimento (24 a 36 horas de dife- rença) (HaFeZ, 1995). sendo assim, é adequado ter um grau de sincronia de aproximadamente 24 horas entre a doadora e a receptora, o que permite ele- ger a receptora mais apropriada para cada tipo de embrião colhido. ASSoCIAÇão De ProGeStáGeNoS e eStrADIol a função principal do estradiol (e2) é de induzir a re- gressão dos folículos antrais em crescimento. Os resul-tados mais eficazes foram obtidos quando o estradiol foi aplicado até 1 dia depois da inserção do implante de progesterona (P4). O mecanismo pelo qual o estradiol causa regres- são folicular envolve a inibição do FsH, até que o e2 seja metabolizado. a partir de então, o FsH volta a aumentar seus níveis e uma nova onda folicular é re- crutada. A dose de 5 mg de E2 causa uma emergên- cia folicular 4 dias após sua aplicação. O benzoato de estradiol (Be), na dose de 5 mg, possui efeito similar. Os ajustes nos protocolos são controversos, mas tem- se notado maior sincronização da emergência folicu- lar, quando o Be é aplicado no dia 0 com 50 mg de P4 (MORieRa et al., 2000). tríbulo (2000) sugere a inserção do dispositivo de liberação lenta de P4 (PRiMeR et al., 2000) combinado com 2 mg de Be no dia 0 e uma aplicação de prosta- glandina F2α (PGF2α) no dia 7, ou seja, no momento da retirada do CiDR, e mais uma dose de 1 mg de Be no dia 9, sendo que para todas as vacas foram considera- das que o dia 10 era o dia do estro (Figura 2). SUPLEMENTO CIENTíFICO figura 2. Protocolo para transferência de embriões em tempo fixo para receptoras cíclicas BE PGF 2α BE CL 14 10 06 02 Dia 0 Dia 4,3 Dia 8 Dia 9 Dia 17 Inovul P4 PROTOCOLO DI.P4: OVUL SIMPLES mm Fêmeas que falham na concepção apresentam me- nores níveis de progesterona do que aquelas que con- cebem. O desenvolvimento embrionário e a habilidade do concepto em secretar interferon τ estão relaciona- dos com a concentração sérica de progesterona. Uma forma estudada para aumentar a concentração de progesterona plasmática é a indução de múltiplas ovulações, por meio da indução de maior recrutamen- to folicular pela utilização de gonadotrofina coriônica equina (eCG) (Figura 3a) ou FsH (Figura 3B) durante o protocolo de sincronização. BE BE eCG 400 UI PGF 2α P4 SUPEROVULAÇÃO DE RECEPTORASA 14 10 06 02 Dia 0 Dia 5 Dia 8 Dia 9 ↑P4 mm figura 3a. Protocolo de superovulação. a. utilizando eCG Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 75 figura 3b. Protocolo de superovulação. b. utilizando fsH BE LHPGF 2α P4 FSH SUPEROVULAÇÃO EM TEMPO FIXOB 14 10 06 02 Dia 0 Dia 4 Dia 7 Dia 8 ↑P4 mm SeleÇão e SUPeroVUlAÇão (SoV) DAS DoADorAS Entende-se por doadoras as fêmeas que de alguma forma contribuam para o ganho genético de um reba- nho. as doadoras devem ter características superiores à média de produtividade encontrada no rebanho, pois assim multiplica-se qualidade. vacas sadias que já atingiram a puberdade devem ser escolhidas. Doa- doras que apresentam problemas reprodutivos, ciclo estral irregular, metrite e/ou anestro não respondem bem ao tratamento superovulatório. SUPLEMENTO CIENTíFICO figura 4. Protocolo de superovulação baseado no cio natural associado com FSH + PGF2a figura 5. Protocolo de superovulação em e2 + P4 + CIDr + PGF2a dia 0 10 11 12 13 14 15 MANHÃ CIO FSH FSH FSH PGF2a FSH CIO IA TARDE FSH FSH FSH PGF2a FSH IA dia 0 4 5 6 7 8 9 MANHÃ P4 + E2 + CIDR® FSH FSH FSH FSH CIDR® (Retirada) CIO IA TARDE FSH FSH FSH PGF2a FSH IA a sOv é o aumento do número fisiológico de ovula- ções, próprio de cada espécie, provocado pela adminis- tração exógena de gonadotrofinas. Nos bovinos, consi- dera-se que houve resposta ao tratamento quando se conseguem mais de duas ovulações. a sOv, portanto, é um método que estimula diversos folículos terciários a se desenvolverem até o estágio de pré-ovulação, com subsequente ovulação (Rasi, 2005). a resposta das doadoras à sOv apresenta grande va- riabilidade tanto na taxa de ovulação quanto na produ- ção de embriões viáveis. Há grande efeito da idade da doadora, do coeficiente de endogamia da doadora, da ordem de colheita, da dose da droga e do número de inseminações sobre esses resultados (PeixOtO et al., 2002). as doadoras podem ser superovuladas repeti- damente a cada 40 dias, durante um período de 1 a 2 anos, com resultados satisfatórios (HasLeR, 2003). Utilizando o cio natural, realizam-se oito aplicações de FsH com intervalos de 12 horas, para aumentar o recruta- mento dos folículos, e, no terceiro dia da sOv, realizam-se duas aplicações de PGF2α promovendo a luteólise, para que haja redução da P4 e consequente pico de LH, ocor- rendo, assim, a ovulação (Figura 4) (Rasi, 2005). O uso de P4 e e2 em protocolos foi um grande avan- ço para a biotecnologia da reprodução animal, permi- Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201476 tindo que a sOv fosse iniciada em fases aleatórias do ciclo estral dos bovinos. O Be, em protocolos de sOv, é utilizado com a função de suprimir o desenvolvimento folicular e sua resposta é mais eficaz quando combina- do com aplicação de P4 iM na introdução de implante vaginal, CiDR®, de P4 (Figura 5) (Rasi, 2005). Nem sempre a ovulação está sincronizada nos trata- mentos de sOv e, portanto, há dificuldade no acerto das inseminações realizadas, levando à recuperação de inúmeras estruturas não fecundadas. O hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) tem sido utilizado para controle da ovulação no final destes protocolos, assim como o LH (Figura 6). SUPLEMENTO CIENTíFICO Figura 6. Protocolo de superovulação com e2 + P4 + CIDr + P4 F2a + GNrH/lH para a inseminação em tempo fixo figura 7. Protocolo tetF para doadoras taurinas figura 8. Protocolo tetF para doadoras zebuínas dia 0 4 5 6 7 8 9 MANHÃ P4 + E2 + CIDR® FSH FSH FSH PGF2a FSH CIDR® (Retirada) GnRH/LH IA TARDE FSH FSH FSH PGF2a FSH IA dia 0 4 5 6 7 8 9 16 MANHÃ Inserir PRIMER + 3ml RIC-BE Foltropin Foltropin Foltropin Foltropin IA Coleta de Embriões TARDE Foltropin Foltropin Foltropin + 2ml Prolise Foltropin Retirada PRIMER Lutropin IA dia 0 4 5 6 7 8 9 16 MANHÃ Inserir PRIMER + 3ml RIC-BE Foltropin Foltropin Foltropin Foltropin Lutropin IA Coleta de Embriões TARDE Foltropin Foltropin Foltropin + 2ml Prolise Foltropin Retirada PRIMER IA O protocolo de Transferência de Embriões em Tem- po Fixo (tetF) para doadoras taurinas consiste em aplicar no dia do início do protocolo (D0) 3 ml de Be (Ric-Be®) e inserir um dispositivo de liberação de P4 (Primer®), no dia 4 iniciar a sOv com oito doses de FsH (Folltropin®) aplicadas de 12/12 horas, no dia 6 às 18h se usa PGF2α (Prolise®), no dia 7 às 18h se retira o dis- positivo de liberação de P4, no dia 8 às 18h usa-se LH (Lutropin®), no dia 9 fazem duas inseminações artifi- ciais, sendo uma às 6h e outra às 18h. a colheita dos embriões é realizada no dia 15 (Figura 7) (teCNOPeC, 2010). Já o protocolo recomendado para sOv em doa- doras zebuínas é diferente das doadoras taurinas, em Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 77 Os embriões viáveis encontrados devem ser avaliados e classificados segundo os critérios da da internatio- nal embryo transfer society (iets) (stRiNFFeLLOW; Gi- veNs, 2010): exCeLeNte ou BOM (grau i) – estágio de desenvol- vimento corresponde ao esperado; massa embrionária simétrica e esférica com blastômeros individuais que são uniformes em tamanho, cor e densidade; forma regular a Zona Pelúcida (ZP) não deve apresentar su- perfície côncava ou plana, deve ser lisa e, preferencial- mente, intacta; menos de 15% de células extrusadas. ReGULaR (grau ii) – estágio de desenvolvimento corresponde ao esperado; forma regular, ZP intacta ou não, irregularidades moderadas na forma geral da massa embrionária ou no tamanho; pelo menos 50% das células compõem massa embrionária viável; me- nos de 15% de células extrusadas. POBRe (grau iii) – estágio de desenvolvimento não corresponde ao esperado; irregularidades maiores na forma geral da massa embrionária ou no tamanho; menos de 75% das células degeneradas; pelo menos 25% das células compõem massa embrionária viável. MORtO OU DeGeNeRaDO (grau iv) – estágio de desenvolvimento não corresponde ao esperado: em- brião em degeneração; massa embrionária de menos de 25% de todoo material celular presente no inte- rior da ZP. TransferênCia dos eMbriÕes somente embriões classificados como grau i a iii de- vem ser transferidos para receptoras. A transferência, de preferência, deve ser realizada por via transcervi- cal. O embrião precisa ser previamente acomodado no centro de uma palheta de 0,25 ml (Figura 9). as receptoras devem estar sincronizadas com a idade do embrião, ou seja, se o embrião tem 7 dias, a receptora deve ter ciclado 7±1 dias atrás. antes de transferir os embriões, avaliar o CL da receptora, con- firmando a ovulação. A tranferência de embriões ou inovulação consiste na deposição do embrião no terço médio final do corno uterino ipsilateral ao CL. Utilizan- do aplicador semelhante ao utilizado na inseminação artificial, passa-se a cérvix, realizando-se a inovulação o mais cranialmente possível, na luz do corno uterino ipsilateral ao CL. SUPLEMENTO CIENTíFICO que o indutor de ovulação (LH) é aplicado com 12 ho- ras de antecedência e as inseminações artificiais tam- bém são adiantadas 12 horas em relação às doadoras taurinas (Figura 8) (teCNOPeC, 2010). Convencionalmente, a indução da sOv em vacas doadoras de embriões é realizada aplicando, por via intramuscular, doses decrescentes de FsH, duas vezes ao dia, durante 4 dias (duração da fase foli- cular do ciclo estral). a aplicação de doses decres- centes tem por objetivo mimetizar a queda fisioló- gica do FsH durante a fase folicular, melhorando a resposta superovulatória. ColHeiTa, rasTreaMenTo e ClassifiCação de eMbriÕes a colheita normalmente é realizada com o animal em posição quadrupedal, por método transcervical, utilizando um sistema fechado. Realiza-se aneste- sia epidural, utilizando 2 a 4 ml de lidocaína 2%, e limpeza do reto e rigorosa assepsia da região vulvar. Utiliza-se um cateter de silicone contendo um balão inflável na sua extremidade distal, guiado inicial- mente por um mandril de metal em seu lúmen para torná-lo rígido, para que o cateter seja introduzido e posicionado em um dos cornos uterinos. Remove-se o mandril e infla-se o balão com 10 a 20 ml de ar, para evitar refluxo de líquido durante a lavagem. O balão deve estar no terço médio do útero, para que a lava- gem seja realizada no terço final. O cateter é acoplado a um equipo ligado a uma bolsa de 1 l de PBs e a um filtro próprio para embriões. todo o equipamento está disponível comercialmente com custos acessí- veis. Cada corno uterino é lavado aproximadamente 10 vezes, massageando levemente, utilizando 500 ml de tampão fosfato-salino (PBs) para cada. O PBs deve estar numa temperatura de 25 a 30 ºC (ambiente). Devem-se manter 2 a 3 cm de líquido no filtro duran- te a lavagem, para que as estruturas não grudem no fundo. O filtro com as estruturas colhidas deve seguir para o laboratório. O conteúdo do filtro é transferido para uma placa de Petri previamente quadriculada, para procura dos em- briões. Realizam-se duas procuras completas removen- do todas as estruturas viáveis e inviáveis encontradas. Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201478 ProDUÇão in viTRo de eMbriÕes boVinos as diversas vantagens e aplicações da Piv de em- briões estão relacionadas à determinação e controle do sexo dos produtos; aumento da eficiência dos pro- gramas de produção; rápidas e melhores possibilida- des para executar programas de cruzamento; avalia- ção do efeito materno sobre a descendência; rápida multiplicação de raças; facilidade de importação e ex- portação de material genético da fêmea; formação de bancos de gametas congelados; aumento da eficiência do sêmen congelado de alto valor genético; e estudo e desenvolvimento de outras biotécnicas reprodutivas a partir da micromanipulação de gametas e embriões (GONÇaLves et al., 2002). O advento da aspiração folicular in vivo ou Ovum Pick Up (OvU) e; e o aprimoramento das condições de culti- vo in vitro tornaram viável a aplicação da Piv em escala comercial (GONÇaLves et al., 2007). Os índices atuais de blastocistos obtidos com a técnica de Piv de em- briões giram em torno de 20 a 50% (média de 35%). segundo Gonçalves et al. (2002), cada fêmea bovina é capaz de produzir 50 a 100 embriões/ano, com um re- gime de duas punções semanais por doadora, durante vários meses. a OPU apresenta maior flexibilidade em relação à transferência de embirões, pois permite a obtenção de oócitos de fêmeas a partir dos 6 meses de idade (ainda com resultados inferiores nessa idade), de vacas pre- nhes até o terceiro mês de gestação ou mesmo após o parto. a aspiração folicular, duas vezes por semana, produz maior percentagem de embriões grau 1 e maior núme- ro de embriões transferíveis do que aspirações reali- zadas uma vez por semana (GiBBONs et al., 1994). No entanto, a aspiração folicular semanal de animais da raça Nelore pode produzir um bezerro por semana via Piv (WataNaBe et al., 1998), isso demonstra a capaci- dade da associação OPU/Fiv de multiplicar de maneira rápida e eficiente animais geneticamente superiores. Os complexos cumulus-oócito (COC´s) colhidos de- vem ser separados em quatro categorias, de acordo com as características baseadas na compactação e transparência das células do cumulus e homogeneida- de e transparência do ooplasma, utilizando o sistema de classificação descrito por Leibfried e First (1979). Consideram-se COCs viáveis os de classificação i a iii, sendo os COCs de classe iv descartados. Grau i: oócitos com cumulus compacto e mais de três camadas de células. Ooplasma com granulações finas e homogêneas, preenchendo o interior da ZP e de co- loração marrom (Figura 10a). Grau II: oócitos com menos de três camadas de célu- las do cumulus oophorus. Ooplasma com granulações distribuídas heterogeneamente, podendo estar mais concentradas no centro e mais claras na periferia ou condensadas em um só local, aparentando uma man- cha escura. O ooplasma preenche todo o espaço inte- rior da ZP (Figura 10B). Grau iii: oócitos que possuem o cumulus presente, mas expandido. Ooplasma contraído, com espaço en- tre a membrana celular e a zona pelúcida, preenchen- do irregularmente o espaço perivitelino, degenerado, vacuolizado ou fragmentado (Figura 10C). Grau iv: Oócitos desnudos sem células do cumulus, citoplasma com cor e granulação anormais ou com cé- lulas expandidas com aspecto apoptótico (Figura 10D). Para que o oócito seja capaz de ser fecundado e posteriormente se desenvolver até o estágio de blastocisto, precisa ser maturado e, durante essa fase, sofrer diversas transformações tanto em seu citoplasma quanto em seu núcleo. Durante todo o seu desenvolvimento, o oócito se encontra no es- tágio diplóteno da prófase i; o reinício da meiose, ou maturação, tem início após o pico pré-ovulató- rio de LH durante o estro. a retirada do oócito do contato com as células foliculares, in vitro, é sufi- ciente para dar início ao processo de maturação nuclear. a maturação nuclear do oócito compreen- de a progressão do estágio diplóteno prófase i até SUPLEMENTO CIENTíFICO Figura 9. esquema de palheta contendo o embrião Meio Ar Meio + Embrião Ar Meio Bucha Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 79 a fase de metáfase ii. O período de maturação in vitro varia de 18 a 24 horas em atmosfera contro- lada contendo 5% de CO2 em ar e umidade satura- da (GONÇaLves et al., 2007). Diferentes condições de cultivo e protocolos já fo- ram testados, in vitro, para a maturação de oócitos; além disso, vários meios de maturação, como fluido sintético de oviduto (sOF; GaNDHi et al., 2000), Dul- becco’s Modified Eagle Medium (DMeM), Ham’s F-10, Ham’s F-12 (sMetaNiNa et al., 2000) e meio de culti- vo tecidual 199 (TCM 199), têm sido utilizados. O cocultivo (espermatozoide e oócito) é realizado em temperatura de 39 °C, atmosfera com 5% de CO2 e umidade saturada. Os espermatozoides viáveis conti- dos em uma palheta de sêmen precisam ser separados do plasma seminal,crioprotetores, extensores e dos espermatozóides, mortos antes de serem cocultivados com os oócitos. em bovinos, o método de separação espermática mais utilizado é o gradiente de PeRCOLL. após a separação, os espermatozoides são diluídos a uma concentração de 1 a 5 x 106 sptz/ml de meio (GONÇaLves et al., 2007). O cocultivo de embriões com células somáticas foi utilizado, por muitos anos, com bons resultados. entretanto, esse sistema tem sido substituído ao longo do tempo por sistemas mais simples que uti- lizam meios semidefinidos como os meios Charles Rosenkrans-1 (CR-1), Charles Rosenkrans-2 (CR-2; ROseNKRaNs et al., 1993), meio simples otimizado enriquecido com potássio (KsOM) e fluido sintético de oviduto (sOF) associados a uma atmosfera gasosa controlada contendo baixa tensão de oxigênio (GON- ÇaLves et al., 2007). Fatores de crescimento como o semelhante à insulina (iGF-1) e fator de crescimento e transformação β1 (tGF 1) têm sido adicionados ao meio de cultivo in vitro objetivando melhorar o de- senvolvimento embrionário (MatsUi et al., 1997). O tempo de cultivo, in vitro, varia de 7 a 9 dias, em temperatura de 39 ºC com atmosfera controlada (5% de CO2) e umidade saturada. a taxa de blasto- cistos, geralmente, é avaliada no sétimo dia de cul- tivo in vitro e a taxa de eclosão in vitro, no nono dia (GONÇaLves et al., 2007). BIPArtIÇão De emBrIÕeS apenas 25% da massa celular total do embrião é requerida para manter sua viabilidade. Nesse caso, embriões bipartidos podem manter ainda razoá- vel capacidade de desenvolvimento (WiLLaDseM e POLGe, 1981). a bipartição de embriões, com finalidades comer- ciais, iniciou-se em meados da década de 1980 (BaKeR e sHea, 1985). a partir desse período, vislumbrou-se a possibilidade de aumentar a progênie de machos e fêmeas pela colheita e posterior bipartição de em- briões. a bipartição permite aumentar o número de be- zerros a partir de menor número de embriões (tORRes et al., 2012). Com o auxílio de um estereomicroscópio com base de transiluminação, acoplado a um dispositivo de micromanipulação mecânico, cada estrutura é po- sicionada de forma a permitir uma divisão o mais equitativa possível da massa embrionária, objetivan- SUPLEMENTO CIENTíFICO figura 10. Classificação de oócitos segundo Stringfellow e Givens (2010): A. grau I, B. grau II, C. grau III e D. grau IV A B C D Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201480 do a separação do embrião em duas metades com a maior semelhança. esse procedimento simplificado de bipartição embrionária utiliza lâmina metálica de microcirurgia (Figura 11) (FeRNaNDes et al., 2007). Os embriões podem ser bipartidos nas fases de mó- rula, blastocisto inicial e blastocisto (OLiveiRa et al., 2012). embriões na fase de mórula podem ser bipar- tidos em qualquer sentido. aqueles na fase de blas- tocisto são divididos de forma a se obter metades equitativas da blastocele e botão celular. A totipotência dos blastômeros isolados ou em gru- pos pequenos já foi relatada, principalmente com cé- lulas originadas de embriões de duas a oito células. Para embriões com estágio de desenvolvimento mais adiantado, a totipotência é dependente de um grupo maior de células (WiLLiaNs et al., 1984). a separação dos blastômeros de embriões de duas a oito células pode ser obtida pela ruptura da ZP e posterior proteólise ou separação mecânica. Uma vez rompida a ZP, os blastômeros podem ser separados por SUPLEMENTO CIENTíFICO figura 11. Sequência de bipartição de uma mórula, segundo Fernandes et al. (2007) Jurandy mauro Penitente Filho Médico Veterinário CRMV-MG nº 12856 Doutorando pela UFV, Viçosa, MG jurandy.filho@ufv.br Ciro alexandre alves Torres Médico Veterinário CRMV-MG nº 1.475. Professor da UFV Viçosa, MG fabrício albani oliveira Médico Veterinário CRMV-ES nº 1.486 Pós-Doutorando pela UFV Viçosa, MG repetidas pipetagens em meio de cultivo apropriado. Os blastômeros de embriões bovinos de oito células produzidos in vitro, mesmo após separação em duas metades, mostraram a mesma capacidade de desen- volver para o estágio de blastocisto que os embriões de oito células intactos. além disso, uma alta taxa de gestação foi obtida com a transferência desses blasto- cistos (taGaWa et al., 2008). ConsideraçÕes finais a utilização e o desenvolvimento de biotécnicas da reprodução em bovinos permitem o aumento da eficiência produtiva e reprodutiva. O número de des- cendentes deixados por uma fêmea ao longo de sua vida aumentou com o aperfeiçoamento das técnicas de transferência de embriões, PIV e bipartição. Contu- do, embora as técnicas apresentem resultados satis- fatórios, pesquisas ainda são requeridas objetivando redução dos custos da produção de embriões, ainda proibitivos para a grande maioria dos proprietários. auTores Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 81 BAKER, R.D.; SHEA, B.F. 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Vet. luis augusto nero CRMv-PR nº 4261 Zootecnista luis fernando Teixeira albino CRMv-MG nº 0018/Z Med. Vet. luiz Cláudio lopes Correia da silva CRMv-sP nº 5993 med. Vet. lukiya Birungi Silva Campos mata CRMv-sP nº 16506 Med. Vet. Marcus alexandre Vaillant beltrame CRMv-es nº 0563 Med. Vet. nivaldo de azevedo Costa CRMv-Pe nº 1051 med. Vet. Paulo renato dos Santos Costa CRMv-sP nº 7973 Med. Vet. rafael Gianella Mondadori CRMv-Rs 5672 Med. Vet. rafael Teixeira CRMv-RJ nº 9511 Med. Vet. rebeca bacchi Villanova CRMv-PR nº 7470 med. Vet. roberto Baracat de Araujo CRMv-MG nº 1755 Med. Vet. sony dimas bicudo CRMv-sP nº 2843 ilu st ra çã o po r W ils on Jo se ph p ar a o N ou n Pr oj ec t Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 83 OPINIÃO Paulo Maiorka A contribuição da experiência universitária para o desenvolvimento pessoal Médico Veterinário. CRMV-SP nº 6928 Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Santa Maria, mestre e doutor em Patologia Experimental e Comparada pela USP. Pós-doutor em Patologia Molecular pela OMS - IARC – França. Membro da CNEMV/CFMV. N o final de janeiro, com- pletou 1 ano da tragédia em santa Maria (Rs), resultado do incêndio da Boate Kiss e morte de estudantes, entre eles, muitos da Medicina veterinária e da Zootec- nia, atingindo um centro universi- tário de importância para as ciên- cias agrárias do Brasil. ao refletir sobre o acontecido, nos depara- mos com a importância da expe- riência universitária e das relações que se constroem entre professo- res, alunos e colaboradores. É no ambiente universitário que surgem as novas ideias e, com a autonomia do pensamento, surgem as mudanças internas, os novos paradigmas que norteiam as escolhas, e é moldado o cida- dão/profissional que será inseri- do na sociedade. a vida de um jovem estudante na universidade é repleta de de- safios. É onde vivenciam debates, questionam, refletem sobre valo- res existentes e novos e passam a ter uma nova visão do mundo. É relevante ter oportunida- de de participar de discussões e mudanças num ambiente flexível, informado e permeável ao novo. a capacidade de raciocínio, imagi- nação e criatividade são enrique- cidas pelas relações de amizades e convívios diversificados, nos quais também se aprende a res- peitar a diversidade. Há espaço para a crítica, do- tado das ferramentas e ambiente necessários para que as reflexões ocorram, colocando os jovens Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201484 diante de desafios complexos na tentativa de pre- pará-los para as responsabilidades sociais vindou- ras e conciliar as diversas dimensões da vida, quais sejam: nas áreas profissional, familiar, social e polí- tica, e nas suas crenças e espiritualidade. Os docentes têm responsabilidade direta nes- sa formação e a oportunidade ímpar de enriquecer essa experiência. São influenciadores, exemplos no processo de aceitação de novas ideias e for- mação de conceitos pelos acadêmicos. Lidam com uma clientela que chega cada vez mais jovem à universidade, cheia de sonhos; é neste momento que sua maturidade e experiência poderão auxiliar o desenvolvimento do cidadão, entregando para a socie- dade um profissional crítico, consciente e apto para a to- mada de decisões.embora a relação aluno-professor possa parecer assi- métrica, o processo de aprendizagem envolve a troca de informações e experiências. Uma tragédia, como a de San- ta Maria, evidencia ainda mais a importância desses atores na vida um do outro. afinal, quantos, de ambos os lados, mudaram a forma de ver o mundo? De se relacionar? De se doar? Os professores devem assumir o papel de timoneiro nesses novos mares a ser navegados e se preocupar com a humanização de seu ambiente de trabalho. a fase universitária é uma etapa da vida que, além do técnico, deve ser norteada por vínculo afetivo que será eterno na memória e nos sentimentos dos que praticaram o ensino e o aprender. a sensação de pertencimento, de ser parte da história da instituição, é um elo forjado no amadurecimento cog- nitivo, técnico e profissional, mas, sobretudo, deve ser hu- mana, pois as universidades são feitas de pessoas, espaço da universalidade do saber, local da verdadeira evolução da nossa sociedade. Fui acadêmico de Santa Maria e, mesmo distante fi- sicamente dos acontecimentos, não me faltaram a refle- xão e o sentimento de solidariedade para com aqueles que passaram por momentos tão difíceis nesse último ano. Que santa Maria continue sendo uma instituição que zele pela humanização de suas salas de aula. Encontro, em 2013, com alunos e coordenador da Medicina Veterinária da UFSM Arquivo SM Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 85 PUBLICAÇõES O livro faz uma profunda e minuciosa revi- são da anatomia, contém excelentes ilustrações e imagens de preparados e cada técnica é anali- sada detalhadamente. aborda tópicos de fisio- logia do sistema nervoso periférico, anestési- cos locais, equipamentos e suas aplicações para anestesia locorregional e os diversos tipos de anestesia locorregional. anestesia locorregional em Pequenos Animais Paulo Roberto Klaumann e Pablo ezequiel Otero 2013 editora roca www.medvetlivros.com.br O livro aborda aspectos da anatomia dos sis- temas reprodutores feminino e masculino, fisiolo- gia e controle do ciclo estral, manejo reprodutivo e técnicas modernas de reprodução. trata também de aspectos relacionados à nutrição e reprodução, sanidade na reprodução, e conceitos de bem-estar animal e implicações práticas no manejo reprodu- tivo em ovinos e caprinos. Biotécnicas reprodutivas em ovinos e Caprinos Maria emilia Oliveira, Pedro Paulo teixeira e Wilter Ricardo Russiano editora Medvet www.medvetlivros.com.br O livro preenche a lacuna existente no conhe- cimento das implicações da relação de convivência e do intercâmbio de afeto entre as pessoas e o cão. tentando explorar esse caminho, os autores esta- beleceram em um estudo, dois indicadores para a avaliação do bem-estar e apontaram, por meio da análise multivariada de correspondência múltipla, alguns possíveis fatores da relação homem-animal que estariam envolvidos com o bem-estar do cão. a relação homem-animal: aplicação da Metodologia de investigação fenomenológica sheila Regina andrade Ferreira e Walter Motta Ferreira editora novas edições Acadêmicas www.nea-edicoes.com a publicação tem por objetivo fornecer supor- te aos Médicos veterinários que buscam uma pre- paração adequada para prestar concursos públicos nas diversas instituições das esferas federal, esta- dual e municipal. Trata-se de obra de cunho acadê- mico, técnico e científico. 2.000 Questões para Concursos de Medicina Veterinária Organizado por sandra Maria Gomes thomé e irineu Machado Bernardes Filho editora rubio www.rubio.com.br Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201486 3ª CAPA Anuncio Congresso CEBEA Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014 87 Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 201488