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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ – UESC DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – DFCH COLEGIADO DO CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA NATHALIA SANTOS DA SILVA RELATÓRIO DO DOCUMENTÁRIO ILHÉUS - BAHIA 2023 O documentário Brasil Tupinambá dirigido por Celene Fonseca em 2022, traz relatos sobre a luta dos povos indígenas para manter a própria cultura e habitação. Os povos indígenas tem uma relação de pertencimento com a terra que habitam, relação que nada tem a ver com posse como relata Nubiã Tupinambá: “O planeta é nosso, a terra é nossa. Porque a gente tava num Pólo e veio pra o outro”. Nubiã ainda reforça a teoria da chegada dos povos originários na América através dos diversos processos de migração dos povos que se originaram na outra extremidade do planeta e foram construindo povoados e aldeias, vindo pelo estreito de Bering até chegar aqui. No texto Lutas Indígenas e ações afirmativas no Brasil Contemporâneo, escrito por Casé Angatu no livro Ações afirmativas no Brasil Contemporâneo, podemos visualizar a necessidade de validar os direitos dos povos indígenas a terra que habitam, como também foi colocado durante o Ato Toré(ritual indígena), realizada no espaço do CEU na Universidade Estadual de Santa Cruz no dia 15 de Junho de 2023, que foi realizado com o objetivo de homenagear o cacique Val Tupinambá que que Ancestralizou e Encantou no dia 08 de junho de 2023, e como um protesto ao Marco temporal, ação que visa a demarcação de terras ocupadas por indígenas só a partir de 5 de outubro de 1988. Ato Toré em 15 de Junho de 2023. Foto tirada por Nathalia Santos No livro O conceito de civilização grapiúna de Rebeca Silva Rosa e Cristiano Augusto da Silva (2021), os autores trazem a tona o fato de que todas as produções culturais da época pós colonização, traziam consigo as duas visões: A do colonizador, e a do colonizado. E o documentário traz justamente essa visão do colonizado. De todo processo por trás do descobrimento, catequização, e sobre as tentativas de apagamento da cultura indígena no Brasil, como foi citado por Cacique Ramon Tupinambá da aldeia Tucum: Hoje a gente conversa mais no português que nos foi ensinado, mas quando a gente faz o processo de busca dentro da educação com esses mais antigos que diziam que quando conversavam na língua que era coisa proibida, tava fazendo junção de forças para lutar contra o governo. Então os mais velhos diziam que tavam ‘cortando língua’. Quando sabiam que tava fazendo isso, as pessoas eram torturadas, eram pregadas as orelhas, eram arrancadas as unhas... Forçando assim, o povo indígena que vivia na época da colonização, a se camuflar dentro da língua portuguesa e dos costumes impostos pelos colonizadores para garantir a própria sobrevivência, como salienta Cláudio Magalhaes(Tororomba), morador da aldeia Tupinambá de Olivença: “E os nossos antepassados, e os nossos avós, bisavós e tataravós, tiveram que fazer essa convivência pacífica, para se manter na sua origem”. Uma personalidade citada durante o vídeo é o Caboclo Marcelino, que lutou fortemente contra a interferência dos homens brancos na aldeia indígena. Marcelino era considerado um grande líder Tupinambá e é dito pelos anciões que ele era o único indígena na aldeia que sabia ler e escrever. Sua luta ficou mais evidente após seus protestos contra a construção de uma ponte sobre o Rio Cururupe. Segundo o Auto de perguntas feitas a Marcellino Alves (Rio de Janeiro, 1936, Arquivo Nacional), Marcelino foi apontado pelo Processo nº 356 do Tribunal Nacional de Segurança de 1936 como “um malandro explorador da ingenuidade dos pacatos e genuínos descendentes de caboclos que vivem na zona de Olivença”. Por conta dessas acusações, ele foi duramente perseguido em toda sua vida pela justiça, e todos que se aliavam a sua luta eram acusados de bando de criminosos. Fotografia do jornal Estado da Bahia (06 de novembro de 1936) sobre a prisão de Caboclo Marcelino e seus companheiros de luta, Caboclinho (17 anos), Marcionilio, Marcellino, Pedro Pinto e Marcos Leite. Após prisões e fugas, Marcelino viveu por um tempo na Aldeia Indígena Serra das Trempe, onde foi pego por uma emboscada policial. Após conseguir fugir, ele nunca mais foi visto. A revolução dentro das aldeias indígenas tomou ainda mais força com a mobilização encabeçada pelas mulheres da aldeia, que reivindicaram por saúde, educação, e resgate da própria cultura para a geração presente e a futura. Luta essa que teve como liderança Nubiã Tupinambá que é Mestra em Linguística pela UnB e atuou como Educadora Popular no âmbito da Educação não Formal na Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional-FASE-Ba (Nos programas sociais de Alfabetização de crianças, jovens e adultos no Coletivo de Alfabetizadores Populares do Sul da Bahia - CAPOREC). Atuou como professora primária, coordenadora estadual da Educação Escolar Indígena, na Diretoria Regional-DIREC-7 como Auxiliar pedagógica da Fundação de Administração e Pesquisa Econômico-Social. Atuou também como monitora da Educação Integral na Escola Classe Mestre D'Armas. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Escolar Indígena, Educação Popular, Educação do Campo e Direitos Humanos. Como relata a Cacique Maria Valdelice da aldeia Itapoã: “Foi a partir dela que a gente começou a caminhar e ver as necessidades das comunidades” https://memoria.ebc.com.br/aldeia-indigena-serra-das-trempe https://memoria.ebc.com.br/aldeia-indigena-serra-das-trempe Em um esforço conjunto entre outras lideranças, instituições não governamentais e governamentais, as aldeias foram gradualmente recebendo acesso a medicamentos e a educação, com implantação de escolas, acesso a medicação e atenção da saúde básica. E também foi-se iniciado um processo de interação da igreja católica com as comunidades, não como processo de catequização, mas como forma de presença, e de auto responsabilização por trazer para as comunidades indígenas, uma interação não invasiva, mas de convivência. Concluindo, o documentário tem diversos elementos como depoimentos, imagens e sons, que trazem o conceito do que foi e é a luta indígena no Brasil. Mesmo com todos os percalços que a luta indígena sofreu durante todo o tempo de colonização até os dias atuais, o documentário traz esse recado de que as comunidades indígenas vão continuar lutando pelo direito a sua terra e cultura, como diz Nádia Akawã Tupinambá, da Aldeia Tucum: “Hoje a gente tá falando. Então a terra pode até estar calando, mas os Tupinambá tão falando”. Referencias FONSECA, Celene. Documentário Brasil Tupinambá. Edital Bahia na Tela resultado da parceria entre o Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb) e a Agência Nacional de Cinema (Ancine), via Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). 2022. O que é marco temporal e quais são os argumentos favoráveis e contrários. Camara dos deputados,2023. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/966618-o-que-e-marco- temporal-e-quais-os-argumentos-favoraveis-e-contrarios/. Acesso em: 24 de Junho de 2023 Caboclo Marcelino na memória dos anciões. Thydêwá. Disponível em: https://www.thydewa.org/livros1/memoria/tupinamba/caboclo-marcelino-na-memoria-dos- ancioes/. Acesso em 24 de junho de 2023 Nubia Batista da Silva. Escavador, 2022. Disponível em: https://www.escavador.com/sobre/3307069/nubia-batista-da-silva. Acesso em: 24 de junho de 2023. ROSA, Rebeca Silva; SILVA, Cristiano Augusto da. O conceito de civilização grapiúna na literatura Sul Baiana: Colonização e Cultura. Miguilim-Revista Eletrônica do Netlli, brato, v.10, n.1, p. 396- 424, jan, abr.2021. ANGATU, Casé. Lutas indígenas e ações afirmativas no BrasilContemporâneo. In: Ações afirmativas no Brasil Contemporâneo: dinâmicas e perspectivas. Editora: Editus, Ilhéus, 2022, p.53-68. https://www.camara.leg.br/noticias/966618-o-que-e-marco-temporal-e-quais-os-argumentos-favoraveis-e-contrarios/ https://www.camara.leg.br/noticias/966618-o-que-e-marco-temporal-e-quais-os-argumentos-favoraveis-e-contrarios/