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RELACIONAMENTOS
Uma confusão que vale a pena
Relacionamentos - Uma confusão que vale a pena de Tim Lane e Paul David Tripp © 2011 
Editora Cultura Cristã. Título original Relationships: A Mess Wortb Making Copyright © 2006 
by Tim Lane and Paul Tripp. Traduzido e publicado com permissão da New Growth Press, 728 
W. Davis Street - Burlington NC 27215, USA. Todos os direitos são reservados.
l s edição - 2011 - 3.000 exemplares 
l8 reimpressão - 2016 - 3.000 exemplares
Conselho Editorial Produção Editorial
Antônio Coine Tradução
Augustus Nicodemus Gomes Lopes Markus Hediger
Cláudio Marra (Presidente) Revisão
Heber Carlos de Campos Jr. Jônatas Botelho
Misael Batista do Nascimento Alzira Muniz
Tarcízio José de Freitas Carvalho Sebastiana Gomes de Paula
Ulisses Horte Simões Editoração
Lidia de Oliveira Dutra 
Capa
Leia Design
L2651r Lane, Timothy
Relacionamentos / Timothy Lane; Paul David Tripp. Tradução; Markus 
Hedíger. _ São Paulo: Cultura Cristã, 2011
176 p.: 16x23 cm 
Tradução de Relationships 
ISBN 978-85-7622-363-4
1. Aconselhamento 2. Vida Cristã I. Título
CDD 253-5
A posição doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil é expressa em seus “símbolos de fé”, que 
apresentam o modo Reformado e Presbiteriano de compreender a Escritura. São esses símbolos a 
Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos, o Maior e o Breve. Como Editora oficial de uma 
denominação confessional, cuidamos para que as obras publicadas espelhem sempre essa posição. 
Existe a possibilidade, porém, de autores, às vezes, mencionarem ou mesmo defenderem aspectos 
que refletem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta Editora represente 
endosso integral, pela denominação e pela Editora, de todos os pontos de vista apresentados. A 
posição da denominação sobre pontos específicos porventura em debate poderá ser encontrada
nos mencionados símbolos de fé.
abfrt.
€
GDITORfl CUITURR CRISTÃ
Rua Miguel Teles Júnior, 394 - CEP 01540-040 - São Paulo - SP 
Caixa Postal 1 5 .1 3 6 -C E P 0 1 5 9 9 -9 7 0 -São P a u lo -S P 
Fone (11) 3207-7099 - Fax (11) 3209-1255 
www.editoraculturacrista.com.br - cep@cep.org.br
Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas 
Editor: Cláudio Antônio Batista Marra
http://www.editoraculturacrista.com.br
mailto:cep@cep.org.br
Para nossas esposas, 
Barbara e Luella
Sumário
Agradecimentos..............................................................................................7
Capítulo I: O capítulo mais curto e mais importante
deste livro.................................................................................. 9
Capítulo 2: Por que se importar?.................................................................12
Capítulo 3: Sem opções.............................................................................. 24
Capítulo 4: O pecado................................................................................. 36
Capítulo 5: Objetivos pessoais............ .......................................................47
Capítulo 6: Adoração.................................................................................. 58
Capítulo 7: Palavras.................................................................................... 70
Capítulo 8: Obstáculos............................................................................... 79
Capítulo 9: Perdão...................................................................................... 92
Capítulo 10: Esperança..............................................................................105
Capítulo 11: Fardos...................................................................................116
Capítulo 12: M isericórdia..........................................................................130
Capítulo 13: Tempo e dinheiro..................................................................140
Capítulo 14: Providência...........................................................................152
Capítulo 15: Saindo para o mundo.............................................................166
Agradecimentos
Quando alguém escreve um livro, o le itor presume que o autor é 
um perito no assunto. Deixe-nos pedir de maneira inequívoca 
que o leitor não faça essa suposição a nosso respeito. A inda mais quando 
o assunto do livro é relacionamentos. Não existe nada mais complexo e 
desafiante na vida. N o primeiro capítulo, falamos sobre nossas próprias 
dificuldades de amar os outros devidamente, inclusive um ao outro. N o 
início, queríamos que aquele capítulo fosse apenas uma breve introdução. 
Mas, após refletirmos, chegamos à conclusão de que ele deveria fazer parte 
do corpo principal do livro. Não queremos que as pessoas esqueçam que 
nós também somos pecadores que dependemos diariamente da graça de 
Deus para fazer aquilo que encorajamos os outros a fazer.
Mas o reconhecimento de dificuldades e fracassos não deve encobrir 
a esperançosa verdade de que, em Cristo, os relacionamentos podem ser 
mantidos e restaurados. Eles podem florescer. Eles podem se tornar mais 
profundos e significantes do que eram antes de serem rompidos pelo pe­
cado. Esperamos que ambos os aspectos dos relacionamentos se tornem 
evidentes neste livro. Relacionamentos são confusos; eles também são o 
instrumento que Deus usa para salvar-nos de nós mesmos. Por meio deles, 
Deus demonstra que somos incapazes de amar uns aos outros se, antes, 
não encontrarmos força no nosso relacionamento com o Deus que nos 
criou e redimiu.
A luz disso tudo, queremos agradecer àqueles que mais nos ensinaram 
sobre a nossa necessidade da graça de Deus. Em prim eiro lugar, agradece­
mos às famílias que nos criaram e aos nossos pais e irmãos que nos ensina­
ram tanto. Em segundo lugar, agradecemos às nossas esposas e filhos que 
continuam vivenciando as nossas dificuldades e o nosso crescimento como 
maridos e pais. Em terce iro lugar, somos gratos às igrejas e aos ministérios 
que pudemos servir; eles nos ajudaram a pôr em prática tudo aquilo que 
escrevemos neste livro. Em quarto lugar, agradecemos aos funcionários e
8 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
docentes da C C E F que nos desafiaram e encorajaram durante a nossa jor­
nada. E, finalmente, agradecemos às igrejas das quais fazemos parte agora. 
Crescim ento na graça é, com certeza, um projeto comunitário.
Mais uma vez somos muito gratos pelo trabalho editorial de Sue Lutz e 
sua equipe. Sua apurada supervisão e experiência melhorou em muito este 
livro. O próprio processo de edição foi uma oportunidade de crescimento 
para os nossos relacionamentos. Todos nós somos gratos por isso.
A o ler este livro, esperamos que você reconheça que não precisamos de 
novas e sofisticadas técnicas para que os relacionamentos possam florescer. 
Tudo se reduz às qualidades de caráter básicas que só podem ser moldadas 
no coração por meio do evangelho. E assim que os relacionamentos cres­
cem e que comunidades se formam para refletir a graça e a glória de Deus. 
Esperamos que este livro o ajude a prosseguir nesse caminho de maneiras 
significativas. Para nós foi isso que aconteceu quando o escrevemos.
T im Lane e Paul Tripp 
5 de junho de 2006
I IO capítulo mais curto e mais 
I importante deste livro
Quem se põe a escrever um livro embarca numa viagem cheia de 
inesperadas mudanças de rumo. Mesmo que você planeje cada 
etapa do seu trajeto, nunca chegará exatamente ao destino visado. Este 
capítulo é um desses imprevistos. Quando term inamos de escrever este 
livro, percebemos que devíamos explicar a você como fora escrito. Você 
está prestes a ler um livro sobre relacionamentos, escrito em um relaciona­
mento. Quando escrevemos How People Change, dividimos os capítulos e 
os redigimos separadamente. Este livro, porém, decidimos escrever juntos. 
Trabalhamos na casa de T im - ele sentado ao computador e Paul andando 
para lá e para cá o tempo todo.Discutimos frases, parágrafos, páginas e 
capítulos. Depois de term inado o livro, ambos julgamos que esse processo 
fora uma das experiências mais especiais e agradáveis do nosso ministério.
O resultado da nossa colaboração não é apenas uma investigação, é 
um exemplo atual de pessoas arruinadas em comunidades fragmentadas 
que vivenciaram a graça reconciliadora de Deus. Escrevemos o livro como 
pessoas imperfeitas num relacionamento próximo que experimentaram a 
graça de Deus em seu cotidiano e em seu ministério. Não o escrevemos 
partindo da sabedoria do sucesso, mas sim da sabedoria do empenho. Um a 
breve história do nosso relacionamento servirá como ilustração para esse 
ponto.
Uns cinco anos atrás, Paul estava trabalhando para a Christian Coun- 
seling & Educational Foundation onde era chefe do departamento de 
treinamento baseado em igrejas locais. O corpo docente da C C E F veio a 
entender que essa tarefa era grande demais para uma pessoa só e decidiu 
contratar um pastor experiente para ajudar o Paul. Chegaram à conclusão
1 0 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
de que T im era a pessoa ideal para preencher esse papel. Com empolgação 
e apreço recíproco, nós nos dedicamos ao nosso novo trabalho. O s proble­
mas começaram a surgir quando nós, dois líderes que até então haviam se 
conhecido apenas a uma distância segura, decidimos trabalhar na mesma 
sala. Apesar de compartilharmos a mesma visão, tornou-se evidente que 
tínhamos personalidades e dons bem diferentes. Não demorou para que o 
pecado, a fraqueza e o fracasso mostrassem suas garras. Pequenas ofensas 
e grandes mal-entendidos começaram a turvar nosso apreço recíproco - e 
a obra para qual Deus nos reunira para fazer.
Esse momento era crucial. Sucumbiríamos à desilusão e ao desânimo 
ou nos dedicaríamos a fazer o que ensinávamos aos outros? Chegamos à 
conclusão de que a nossa única opção era fazer aquilo que pedíamos dos 
outros, ou seja, confiar em C risto e dar-lhe a chance de operar em nós para 
que ele pudesse operar por nosso intermédio.
Somos os primeiros a confessar que não somos heróis de relaciona­
mentos. Muito pelo contrário. Desejamos que este livro o ajude a olhar por 
meio do vidro quebrado do nosso pecado para ver a glória de um Redentor 
que está sempre presente, trabalhando para nos salvar e transformar. Q ue­
remos que saiba que os autores deste livro são iguais a você, tanto em suas 
lutas quanto em seu potencial. Somos pecadores capazes de causar enormes 
danos a nós mesmos e aos nossos relacionamentos. Necessitamos da graça 
de Deus para nos salvar de nós mesmos. Mas também somos filhos de Deus, 
providos de grande esperança e potencial - uma esperança baseada não em 
nossos dons, experiência ou histórico, mas em Cristo. Porque ele está em 
nós e nós estamos nele, podemos afirmar que o nosso potencial é Cristo.
Temos plena consciência de que estamos no meio do processo de 
santificação de Deus. E, assim sendo, voltaremos a ter dificuldades. Egoís­
mo, orgulho, um espírito irreconciliável, irritação e impaciência retornarão 
com certeza. Mas não estamos com medo, nem sem esperança. Nós já 
vivenciamos o que Deus pode operar em meio a essa confusão. Antes de 
chegarmos ao céu, relacionamentos e ministério serão sempre forjados 
no fogo da batalha. Nenhum de nós tem o privilégio de se relacionar com 
pessoas perfeitas, tampouco de evitar os efeitos da queda na obra que ten­
tamos realizar. Mesmo assim, em meio a essa confusão toda, encontramos 
nos relacionamentos e no m inistério as mais sublimes alegrias.
Querem os assegurar-lhe que aquilo que você encontrará neste livro é 
verdade. Sabemos que é verdade, não só porque examinamos a teologia do 
livro e nos certificamos de que é ortodoxa, mas também porque pusemos 
o Deus deste livro à prova e vivenciamos sua fidelidade uma e outra vez. O 
que o livro lhe oferece não é a sabedoria de dois homens que alcançaram seu
O CAPÍTULO MAIS CURTO E MAIS IMPORTANTE DESTE LIVRO - 1 1
destino, mas a devoção de dois homens necessitados que querem conduzir 
você aos incomensuráveis e acessíveis recursos daquele Deus que tem estado 
conosco e que está com você. Ele está ao seu lado, com você e em você. 
Isso significa que há esperança para você, mesmo naqueles relacionamentos 
que o deixam confuso e decepcionado.
Desejamos que você possa experimentar a sua graça da mesma forma 
que a vivenciamos todos os dias.
Por que se importar?
Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?
Por que se acham longe de minha salvação as palavras de 
meu bramido?
Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; tam­
bém de noite, porém não tenho sossego.
Salmo 22.1-2
í i £ u esperava tanto da nossa amizade. O que deu errado? Pensei que 
C finalmente tinha encontrado alguém em quem podia confiar.”
“ Eu não acredito que você esteja questionando minha integridade 
depois de tudo que fiz por você. Não sou o único que falhou neste relacio­
namento. Você também me machucou.”
“Veja só, você sempre faz isso. Eu venho até você e você vira o jogo 
contra mim. Você é mestre em fazer outras pessoas se sentirem culpadas 
pelos seus próprios fracassos! Seu problema é que você é muito melhor 
em reconhecer as falhas nos outros do que em você mesmo. Você não faz 
a menor ideia do quanto me machucou. Você traiu a minha confiança ao 
contar para eles o que eu te contei.”
“Você nunca me disse que eu não deveria falar sobre o que compartilhou 
comigo. Eu não sabia que você era tão sensível a esse respeito.”
“ Eu achava que você me conhecia o suficiente para não ter que lhe pedir 
que não falasse para ninguém! Eu acreditava que o nosso relacionamento 
era tão importante para você quanto é para mim.”
“ Está aí o problema. Você sempre age com o se você se dedicasse mais 
a nosso relacionamento do que eu. Você fica me observando com o um falcão 
e, ao menor sinal de falha, crava suas garras em m im .”
Po r q u e se im po r ta r? - 1 3
“ Por que sempre chegamos a esse ponto? Nós não conseguimos nem 
falar sobre o clima sem que a conversa acabe em acusações.”
Isso LHE SOA FAMILIAR?
A o acompanhar esse diálogo, ele lhe soou familiar? Você pode não ter 
usado essas exatas palavras, mas provavelmente já se sentiu igual em algum 
momento de sua vida. Talvez, essas palavras o lembrem de um relaciona­
mento específico ou de uma pessoa em particular. Você já sentiu a dor da 
mágoa e da decepção. Sabe que você também já decepcionou alguém. Você 
já deve estar consciente de que a realidade de um relacionamento nunca 
corresponde às suas expectativas. A sua imaginação entra em conflito com 
a realidade, e a realidade dói.
“ Eu não acredito que você fez algo assim por mim! Não ter que passar 
por essa experiência sozinho foi um grande encorajamento para mim.”
“ Recebi tanto em troca quanto dei. Sua amizade tem sido uma fonte 
constante de incentivo.”
“ Realmente. Sabe, quando nos conhecemos, não tínhamos a menor 
ideia do que Deus faria por meio da nossa amizade.”
“O que eu tanto aprecio é que, apesar de nem sempre te r sido fácil, 
você sempre procurou tratar os nossos problemas e diferenças de opinião 
de forma construtiva. A sua honestidade é reanimadora.”
“ E você, mesmo em momentos difíceis, sempre demonstrou paciência 
e disposição para me ouvir. Deus usou você na minha vida para me ajudar 
a ser sincero e piedoso ao mesmo tempo.”
“ Eu desconfio que nem sempre será tão fácil, mas é encorajador 
saber que estamos comprometidos a enfrentar futuros problemas desta 
maneira.”
P a l a v r a s f a m il ia r e s ?
Essas podem, também, não te r sido as suas exatas palavras, mas es­
peramos que você possa se identificar com essa experiência de amizade 
e encorajamento recíproco. Deus colocou outras pessoas em sua vida e 
colocou você na vida delas. O lhando para trás, você pode reconhecer a 
marca deixada por elas em seu caráter. Houve tempos em que você era 
grato por não te r que andar sozinho. Mesmo após um fracasso,foi acolhido
1 4 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u ê v a le a p e n a "
com paciência e graça. E você, também, esteve disposto a perdoar e expe­
rimentou as bênçãos que essa atitude lhe proporcionou.
Dois m u n d o s
Elise sentia muita gratidão pelo círculo de amigos que Deus lhe dera. 
Durante os primeiros meses após sua mudança para outro estado, para 
assumir um novo emprego, ela sentiu uma enorme solidão. Antes de se 
mudar, ela nunca imaginara o quanto ela sentiria falta de sua igreja e de seus 
amigos. A sua única esperança era a promessa de Kurt de segui-la, para que 
pudessem dar continuidade a seu relacionamento e casar-se num futuro 
não tão distante.
Não demorou e Elise começou a conhecer outras pessoas numa boa 
igreja. Ela fez amizades com Amanda e Marta em particular. Ela era grata a 
Deus por tê-las colocado em sua vida. As coisas pareciam andar bem: ela 
tinha amigas por perto, e em breve Kurt estaria com ela.
Então, as coisas começaram a mudar. Primeiro, as mensagens de texto 
que Kurt costumava lhe mandar diariamente deixaram de v ir todos os dias. 
Depois, os e-mails semanais pararam de chegar. Elise começou a entrar em 
pânico quando, numa sexta-feira à noite, estava esperando pela sua chamada 
(o ponto alto da sua semana) e o telefone não tocou. N o sábado, ela ligou 
para Kurt a fim de saber se tudo estava em ordem. Ele disse que estava 
bem, mas era óbvio que não estava dizendo a verdade. Durante a semana 
seguinte, houve menos contato ainda - só algumas curtas mensagens de 
texto. Então, na outra segunda-feira, veio um longo e-mail, mas não era o 
que Elise desejava receber. Kurt lhe escreveu que tinha mudado de opinião. 
Ele não se mudaria mais para a cidade dela, e escreveu que achava que cada 
um deveria “seguir em frente” . O mundo de Elise desabou. Kurt não só 
encerrara o seu relacionamento, mas o fizera por e-mail.
N os dias que se seguiram, Elise procurou a companhia de amigos, já 
que não parava de chorar quando estava sozinha. Por meio de seu amor 
e apoio, ela obteve forças para não desistir. De um lado, Amanda e Marta 
tinham demonstrado bondade e compreensão incríveis. Mas de outro, ela 
se sentia traída por Kurt. Ela achava que nunca conseguiria superar aquilo. 
E se perguntava se valia a pena correr o risco de sofrer tanta dor por causa 
de um relacionamento.
Todos nós, de uma forma ou de outra, vivemos nesses dois mundos. 
Algumas das nossas mais sublimes alegrias e das mais profundas dores foram 
por causa de relacionamentos. Há momentos em que queríamos poder
P o r q u e se im po r ta r? - 1 5
viver sozinhos, e há outros em que somos gratos pela companhia. O fato, 
na verdade, é que relacionamentos cheios tanto de tristeza com o de alegria 
tiveram uma influência significativa em nossa formação.
T ire um tempinho para pensar sobre os relacionamentos da sua vida. 
Tente lembrar-se dos relacionamentos familiares na sua infância. Quais eram 
as regras das quais não se falavam, mas eram obedecidas pela sua família? 
Com o vocês lidavam com conflitos? Qual era o método típ ico empregado 
para resolver problemas? Existia o hábito de perdoar um ao outro? Você 
chegou a ver um membro da família pedir e receber perdão? Normalmente, 
quais eram os modos de comunicação? Quem costumava te r a primeira 
palavra? Você cresceu numa família silenciosa ou barulhenta? Com o era a 
conversa à mesa de jantar? Existiam assuntos tabus, ou era perm itido falar 
sobre tudo e todos? Com o vocês expressavam raiva? Existia um jeito de lidar 
com ela de forma construtiva? Na correria do dia a dia, quanto esforço se 
investia na manutenção da saúde dos relacionamentos? A motivação se dava 
por meio de incentivos ou de ameaças e culpa? A sua casa era um lugar onde 
você podia relaxar ou parecia um campo minado? A sua família ensinava e 
estimulava o serviço mútuo? Qual era o relacionamento da sua família com 
a comunidade em que vivia?
A resposta a essas perguntas básicas revela a influência da sua família 
na maneira como você se relaciona com os outros. O s valores da sua família 
se tornaram os seus também? As dificuldades da sua família são as mesmas 
que você enfrenta hoje? A nossa família biológica é apenas uma das muitas 
influências que definem a nossa maneira de encarar relacionamentos. Você 
não se tornou o que é sozinho, e é por isso que relacionamentos são tão 
importantes. E impossível escapar deles, e eles exercem uma influência po­
derosa sobre nós. O que os torna tão difíceis é que pecado e graça coexistem 
em todos eles. O pecado obstrui o potencial da graça, enquanto a graça 
cura os efeitos do pecado. Nossos relacionamentos refletem vividamente 
essa mistura dinâmica de ouro e escória.
A h , n ã o ! O u t r o l i v r o s o b r e r e l a c i o n a m e n t o s ?
As livrarias já estão entulhadas de livros e revistas sobre relacionamen­
tos, para que, então, dar-se ao trabalho de ler o nosso? O que podemos 
oferecer de interessante tanto aos mais ingênuos quanto aos que já estão 
saturados? Queremos ressaltar as incríveis lentes exclusivas que Deus oferece 
aos seus filhos para analisar suas próprias vidas. Estas lentes o ajudarão a 
discernir entre pecado e graça nos seus relacionamentos. Sem elas, você
1 6 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a pena"
permanecerá ingênuo ou se tornará cínico. A o enfrentar problemas, você 
poderá contar apenas com a sabedoria e técnicas humanas que oferecem 
soluções a curto prazo, mas que não podem prom eter mudanças pessoais 
e interpessoais duradouras. O erro fatal da sabedoria humana é a sua p ro­
messa de que você pode mudar seus relacionamentos sem ter que mudar 
a si mesmo. Quando essa perspectiva prevalece, você acaba se contentando 
com muito menos do que Deus deseja para a sua vida e suas amizades. 
Com o observou o autor cristão C . S. Lewis:
Nosso Senhor considera nossos desejos não demasiadamente for­
tes, mas demasiadamente fracos. Somos criaturas perdidas, correndo 
atrás de álcool, sexo e ambições, desprezando a alegria infinita que 
se nos oferece, como uma criança ignorante que prefere continuar 
fazendo seus bolinhos de areia numa favela porque não consegue 
imaginar o que significa um convite para passar as férias na praia. 
Contentamo-nos com muito pouco.1
Em nossa sabedoria humana, nós nos contentaríamos com uma dim i­
nuição das tensões em nossos relacionamentos, mas Deus quer nos levar 
aos nossos limites para que possamos reconhecer a nossa necessidade de 
um relacionamento com ele e com os outros. Cada sofrimento que expe­
rimentamos em um relacionamento tem o propósito de nos lembrar da 
nossa necessidade dele. E cada alegria que vivenciamos tem o propósito 
de servir como metáfora para aquilo que podemos encontrar apenas nele. 
C itando C. S. Lewis mais uma vez, esse relacionamento vertical primário é 
o fundamento para tudo que a Bíblia fala sobre relacionamentos:
Quando eu aprender a amar a Deus mais do que meus entes 
queridos, eu amarei meus entes queridos mais do que os amo agora.
Mas se eu aprender a amar meus entes queridos em detrimento de 
Deus ou em vez dele, me aproximarei do ponto em que não terei 
amor nenhum pelos meus entes queridos. Quando colocamos o mais 
importante em primeiro lugar, aquilo que vem em segundo, não é 
reprimido, mas aumentado.2
E bem provável que isto que Lewis descreve nem sempre seja evidente 
em sua vida. Tampouco é sempre evidente em nossa própria vida. Existem 
muitos indícios que revelam a nossa inclinação para reverter a ordem das 
nossas prioridades e colocar em primeiro lugar o que deveria v ir em segundo. 
Essa é a razão pela qual - achamos difícil abrir mão de uma experiência de 
sofrimento:
P o r q u e se im po r ta r? - 1 7
- ficamos c o m raiva dos nossos filhos adolescentes que complicam 
a nossa vida
- assumimos uma atitude de defesa quando somos desafiados
- evitamos encarar conflitos por medo
- ostentamos uma atitudeexageradamente política no trabalho
- nos contentamos com relacionamentos danificados que poderiam 
ser restaurados
- fofocamos sobre outras pessoas
- mentimos com medo da reação dos colegas
- traímos nossas convicções a fim de agradar aos outros
- procuramos relacionamentos confortáveis e evitamos relacio­
namentos difíceis
- duvidamos de Deus quando nossos relacionamentos se tornam 
confusos
- invejamos os outros pelos seus relacionamentos
- tentamos controlar os relacionamentos para satisfazer nosso 
desejo de segurança
- explodimos de raiva quando alguém atrapalha os nossos planos
- diante da decepção, vivemos em amargo isolamento.
E por isso que o tema deste livro é tão importante, todos nós precisa­
mos entender com mais clareza o que significa colocar o mais importante 
em primeiro lugar e a maneira de como Jesus nos capacita a fazê-lo. Também 
precisamos entender as mudanças práticas, necessárias para criar uma nova 
agenda para nossos relacionamentos, e conhecer as medidas concretas que 
devemos adotar a fim de agradar a Deus.
A PERSPECTIVA BÍBLICA SOBRE RELACIONAMENTOS
Já que esse assunto é tão abrangente e tanto já foi escrito sobre ele, 
queremos começar com oito fatos bíblicos que resumem a forma como 
Deus quer que vejamos nossos relacionamentos. Esses fatos determinarão 
a forma com o abordaremos tudo neste livro. Não os discutiremos separa­
damente em cada capítulo, mas eles servirão de base para o nosso modelo 
de um relacionamento saudável e sagrado.
1 8 - R e la c io n a m e n to s : “ U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
Vo c ê FOI CRIADO PARA r e l a c io n a m e n t o s
Esse fato nos remete ao início. Ele faz as perguntas básicas: “Quem 
somos, e qual é a importância de nossos relacionamentos?” Em Gênesis 2 .18, 
Deus diz que não é bom que o homem esteja “só” . Essa afirmação tem mais 
a ver com o plano de Deus para a humanidade do que com a necessidade 
de Adão. Deus nos criou com o seres relacionais porque ele é um Deus 
social. Dentro da Trindade, Deus vive em comunhão com o Pai, o Filho e 
o Espírito Santo, e ele criou a humanidade à sua imagem. Gênesis 2 não se 
refere primordialmente à solidão de Adão, mas revela a natureza com a qual 
Deus o criou. E porque Deus criou um ser social - projetado para viver em 
relacionamentos - a criação permanece incompleta sem um companheiro 
adequado. Apesar de Gênesis 2 tratar da questão de como homem e mu­
lher se completam, suas implicações são mais amplas e abrangem todos os 
relacionamentos humanos. A lém disso, a palavra “auxiliadora”, usada aqui 
para Eva, fala, em toda a Bíblia, da natureza complementária de todos os 
relacionamentos humanos. A palavra “auxiliador” é empregada em primeiro 
lugar para descrever um companheiro, e não um colega de trabalho.
Sabemos que isso é verdade porque a palavra “auxiliador” é, muitas 
vezes, usada para descrever a relação de Deus com o seu povo. Quando 
utilizada dessa forma, ela nunca se refere a Deus como nosso colega de tra­
balho ou empregado, méis sim a Deus com o nosso supremo companheiro 
que acrescenta qualidades ao relacionamento que nós mesmos não podemos 
suprir (SI 27.9; 33.20-22). Assim sendo, Deus não está se referindo à carga de 
trabalho de Adão e, sim, ao fato de se tratar de um ser social que sente falta 
de um companheiro adequado. Assim como os seres humanos foram criados 
com uma necessidade vertical pelo companheirismo de Deus, também foram 
feitos para manter um companheirismo horizontal com outras pessoas.
Gênesis 2 aponta para o fato de que os relacionamentos são um com ­
ponente central daquilo que Deus projetou para você. Relacionamentos são 
tão importantes para Deus que a sua criatividade alcança o auge na criação 
de Eva. Juntos, Adão e ela, podem desfrutar da comunhão - vertical e ho­
rizontal - na presença do Deus vivo.
D e c e r t a f o r m a , t o d o s o s r e l a c io n a m e n t o s s ã o d if íc e is
Mesmo que o primeiro fato nos deixe empolgados, ainda precisamos 
lidar com a realidade. Todos os nossos relacionamentos são menos que 
perfeitos. Se quisermos que prosperem, precisamos investir trabalho. Ime­
diatamente após a empolgação de Gênesis 2, segue Gênesis 3 onde a entrada 
do pecado causa frustração e confusão nos relacionamentos. Em Gênesis 3, 
encontramos homem e mulher trocando acusações e calúnias. Em Gênesis
Po r q u e se im po r ta r? - 1 9
4, as coisas pioram mais ainda com o assassinato de um homem, cometido 
pelo próprio irmão.
Embora muitos de nós não tenhamos cometido nenhum homicídio, 
levamos uma vida em algum ponto entre assassinato, acusação e culpa. Por­
tanto, não é de se admirar que nossos relacionamentos sejam tão confusos. 
Nossa luta com o pecado se revela neles a cada instante. Se você quiser 
desfrutar de algum progresso ou de alguma bênção em seus relacionamentos, 
precisará reconhecer seu pecado com humildade e dedicar-se ao esforço 
que eles exigirem.
To d o s n ó s s o m o s t e n t a d o s a v e r o s r e l a c io n a m e n t o s c o m o
UM FIM, EM VEZ DE UM MEIO
A o refletirmos sobre Gênesis 1-3, entendemos que o relacionamento 
primário a ser desfrutado por Adão e Eva era seu relacionamento com Deus. 
Essa comunhão vertical com Deus providenciaria o fundamento para a sua 
comunhão horizontal. Tudo que Deus criou indicava a Adão e Eva a primazia 
de seu relacionamento com ele. A função de toda a criação era a de servir 
como uma seta que aponta para Deus. Mas, em nosso pecado, tendemos a 
tratar as pessoas e a criação como mais importantes. As próprias coisas que 
Deus criou para revelar a sua glória se transformaram na própria glória que 
buscamos. E nesta altura que, com C.S. Lewis, percebemos que os nossos 
desejos são demasiadamente fracos, e não demasiadamente fortes. Nós nos 
contentamos com a satisfação de relacionamentos humanos quando estes 
deveriam apontar para a satisfação relacionai perfeita que encontramos 
apenas com Deus. A ironia é que, ao revertermos essa ordem, elevando 
a criação acima do criador, acabamos destruindo os relacionamentos que 
Deus queria - e teria possibilitado - que desfrutássemos.
NÃO EXISTEM SEGREDOS QUE GARANTAM RELACIONAMENTOS 
LIVRES DE PROBLEMAS
Todos nós estamos à procura de estratégias ou técnicas que nos livrem 
da dor nos relacionamentos e do penoso esforço que bons relacionamentos 
exigem. Temos a esperança de que um planejamento melhor, uma comu­
nicação mais eficiente, uma definição clara dos papéis, uma estratégia para 
resolver conflitos, estudos sobre o sexo oposto e testes de personalidade
- para citar apenas alguns poucos - façam a diferença. Talvez haja algum 
valor nisso tudo, mas se essas coisas fossem tudo o que precisássemos, 
então a vida, m orte e ressurreição de Jesus teriam sido desnecessárias ou, 
no melhor dos casos, redundantes.
2 0 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
Habilidades e técnicas nos atraem porque nos fazem acreditar que os 
problemas relacionais podem ser resolvidos com ajustes de comportamento, 
sem mudanças nas inclinações do nosso coração. A Bíblia, porém, diz algo 
muito diferente. Ela diz que C risto é a única esperança verdadeira para os 
relacionamentos, porque somente ele consegue sondar as profundezas do 
nosso coração e tratar das motivações e dos desejos em seu âmago.
EM ALGUM MOMENTO, VOCÊ SE PERGUNTARÁ SE CULTIVAR 
RELACIONAMENTOS VALE A PENA
O momento virá em que cada um de nós se sentirá desanimado e 
decepcionado com um relacionamento. A saúde e maturidade de um rela­
cionamento não se refletem na ausência de problemas, mas sim na forma 
como lidamos com os conflitos inevitáveis. Do nascimento à morte, somos 
pecadores que vivem na companhia de pecadores. Um bom relacionamento 
inclui suficiente sinceridade para identificar padrões pecaminosos que ten­
dem a afetá-lo. Ele também inclui humildade e disposição para proteger a 
si mesmo e a outra pessoa desses padrões. Já que os conflitoshumanos são 
o resultado das batalhas espirituais em nosso coração, os relacionamentos 
sábios sempre procuram estar atentos a essas lutas ocultas. Mesmo em 
tempos de paz você precisa ficar de olho nos desejos subjacentes do seu 
coração, que são sutis e se encontram em constante mudança, e que podem 
ferir os seus relacionamentos.
Com o você lida com decepções relacionais? Você culpa, nega, foge, 
evita, ameaça e manipula? O u você fala a verdade, demonstra paciência, se 
aproxima das pessoas com sutileza, pede e concede perdão, ignora ofensas 
menores, encoraja e honra os outros? Precisamos admitir que essas perguntas 
dizem respeito diariamente em nossas vidas. Essa é a autêntica e verdadeira 
maturidade cristã em sua forma mais prática e concreta.
D e u s n o s m a n t é m e m r e l a c io n a m e n t o s c o n f u s o s
PARA CUMPRIR O SEU PROPÓSITO DE REDENÇÃO
O sexto fato nos lembra de que aquilo que procuramos evitar é 
exatamente aquilo que Deus escolheu com o instrumento para deixar-nos 
mais semelhantes a ele. Você já se perguntou, por que Deus simplesmente 
não melhora seus relacionamentos de um dia para o outro? Muitas vezes 
pensamos que, se Deus realmente se importasse conosco, tornaria nossos 
relacionamentos mais fáceis. Na verdade, um relacionamento difícil é sinal 
de seu am or e cuidado. Querem os que Deus simplesmente transforme 
o relacionamento, mas ele não se contenta antes que o relacionamento
P o r q u e se im po rta r? - 2 1
nos transforme também. Foi assim que Deus quis que os relacionamentos 
funcionassem.
O que acontece em meio à confusão dos relacionamentos é que nos­
so coração é revelado, nossas fraquezas são expostas e nós começamos a 
chegar aos nossos limites. Somente quando isso acontece é que procuramos 
a ajuda que apenas Deus pode providenciar. Pessoas fracas e necessitadas 
que encontram esperança na graça de C risto são o sinal de um relaciona­
mento maduro. O aspecto mais perigoso dos seus relacionamentos não 
é a sua fraqueza, mas sua ilusão de força. A autoconfiança quase sempre 
é ingrediente de um relacionamento ruim. Embora desejemos evitar a 
confusão e desfrutar de uma comunhão profunda e íntima, Deus diz que é 
no próprio processo de lidar com a confusão que encontramos essa intim i­
dade. Quais são os relacionamentos que mais têm valor para você? Muito 
provavelmente são aqueles em que houve períodos de dificuldades, muito 
esforço e sofrimento.
O FATO DE NOSSOS RELACIONAMENTOS FUNCIONAREM 
VERDADEIRAMENTE BEM É UM SINAL CLARO DA GRAÇA
Um dos maiores empecilhos que enfrentamos em nossos relacionamen­
tos é a nossa cegueira espiritual. Muito frequentemente, não enxergamos o 
nosso pecado nem as muitas maneiras com que Deus protege a nós e aos 
outros dele. Parecemo-nos muito com o servo de Eliseu em 2Reis 6 .15-22. 
Ele ficou dominado pelo medo do exército inimigo que o ameaçava, até que 
Deus abriu seus olhos para que ele visse o exército de anjos muito mais form i­
dável que Deus enviara para protegê-lo. Por que será que o servo conseguia 
ver os inimigos que cercavam Israel, mas não “os montes cheios de cavalos 
e carros de fogo” do Senhor? Era a cegueira espiritual da descrença.
Com o você mede seu potencial em relacionamentos? Você mede o 
tamanho dos problemas ou a magnitude da presença de Deus em você? 
Tendo em vista o nosso pecado, já é incrível que as pessoas consigam se 
dar bem em geral. Toda noite, o noticiário começa com uma longa lista de 
mortes, estupros e assaltos, passando assim a impressão de que nossas 
comunidades são lugares muito perigosos. Mas ele deixa de mencionar as 
milhares de coisas boas que são feitas por pessoas para tornar habitáveis 
essas mesmas comunidades. A maneira com o julgamos nossos relaciona­
mentos pode ser igualmente tendenciosa. Tendemos a ver os pecados, 
fraquezas e fracassos em vez do bem que Deus está operando. Se você for 
procurar Deus em seus relacionamentos, sempre encontrará coisas pelas 
quais possa agradecer.
2 2 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
As E s c r it u r a s o fe re ce m um a e sp e ra n ça c la r a p a ra n o s s o s 
re la c io n a m e n to s
O desafio e a confusão dos relacionamentos o deixam desanimado? A 
sinceridade com que a Bíblia fala da comunhão humana o choca? Você acha 
que não está à altura do árduo trabalho que os relacionamentos exigem 
de você? Se este for o caso, você está pronto para conhecer este último 
fato: Quando Jesus estava na cruz, o relacionamento entre o Pai, o Filho 
e o Espírito Santo estava completamente arrasado, e nisso encontramos 
o fundamento para a nossa reconciliação. Relacionamento algum jamais 
sofreu tanto quanto aquilo que o Pai, o Filho e o Espírito Santo tiveram 
que suportar quando Jesus, pendurado na cruz, clamou: “ Deus meu, Deus 
meu, por que me desamparaste?” Jesus se dispôs a ser o Filho rejeitado 
para que nossas famílias pudessem experimentar reconciliação. Jesus se 
dispôs a tornar-se o amigo desamparado para que nós pudéssemos te r 
amizades cheias de amor. Jesus se dispôs a ser o Senhor rejeitado para que 
nós pudéssemos viver submissos uns aos outros em amor. Jesus se dispôs 
a ser o irmão desamparado para que nós pudéssemos te r relacionamentos 
divinos. Jesus se dispôs a ser o Rei crucificado para que nossas comunidades 
pudessem te r paz.
Em sua vida, morte e ressurreição, Jesus possibilitou a reconciliação 
de duas maneiras fundamentais. Jesus nos reconciliou com Deus, o que 
então vem a ser a base para a forma com o nos reconciliamos uns com os 
outros. Com o C . S. Lewis disse, Deus restaura primeiro as coisas impor­
tantes para que aquilo que vem em segundo lugar não seja diminuído, mas 
sim aumentado. Quando Deus reina em nossos corações, a paz reina em 
nossos relacionamentos.
Essa obra só será completada no céu, mas existe muito que podemos 
desfrutar agora. O Novo Testamento oferece a esperança de que os nos­
sos relacionamentos possam ser caracterizados por humildade, bondade, 
paciência, sinceridade construtiva, paz, perdão, compaixão e amor. Não é 
maravilhoso que a graça de Deus torne tudo isso possível, até mesmo para 
pecadores que vivem num mundo caído? Essa esperança desafia qualquer 
complacência e qualquer desânimo que possamos nutrir em relação aos 
nossos relacionamentos, porque sempre há mais crescimento, mais paz e 
mais bênçãos que a graça de Deus pode proporcionar, até mesmo aqui na 
terra. A esperança do Evangelho nos convida a assumirmos uma atitude de 
descontentamento santo em todos os nossos relacionamentos, até mesmo
- e especialmente - naqueles em que estejamos enfrentando problemas.
Po r q u e se im p o r ta r? - 2 3
N O SSO ALVO E ESPERANÇA
A o ler este livro, por favor, lembre-se de que nosso objetivo é sermos 
tão sinceros sobre relacionamentos quanto a Bíblia. Se conseguirmos, este 
livro se projetará sobre suas experiências. A lém de sinceros, esperamos ser 
tão positivos quanto o Evangelho sobre o potencial dos relacionamentos. Isso 
lhe dará a coragem para encarar o gratificante, embora penoso, trabalho de 
relacionamentos redimidos. Se você ainda estiver se perguntando: “ Por que 
me importar?” a resposta é: “Porque Deus se importou.”
N o t a s
1 C. S. Lewis, The Weight o f Glory and Other Addresses (Nova York: Harcourt Brace 
Jovanovich, 1960), 3-4.
2 C. S. Lewis, Letters o f C. S. Lewis (Nova York: Harcourt Brace Jovanovich, 1966), 
248.
3 Sem opções
Um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus, e 
não se envergonhavam.
Gênesis 2.25
ínhamos acabado de nos mudar para uma casa nova e estávamos
ainda longe de sentir-nos em casa. Em todos os aspectos, a vida
parecia complicada e caótica. A nossa agenda estava absurdamente apertada. 
O s nossos filhos, de dois a onze anos de idade, estavam ambos meio que 
sem noção. As semanas passavam tão rápido que era como se eu tivesse 
começado a vestir as calças na segunda-feira e já era sábado quando con­
seguiafechar o zíper.
Tudo bem, a nossa família se reunia para seu tempo devocional toda 
manhã e, à noite, o jantar em família era relativamente calmo. Nós nos es­
forçávamos a fazer atividades em família, mas tudo parecia uma confusa e 
estressante obrigação. Eu e minha esposa tentamos reservar algum tempo 
para nós, mas não conseguimos demonstrar muito entusiasmo por nosso 
relacionamento. Estávamos exaustos e perm itimos que irritação e impaci­
ência invadissem o nosso relacionamento.
Eu acabara de ser nomeado para fazer uma visita noturna ao supermer­
cado porque, mais uma vez, não tínhamos nada em casa para colocar nas 
lancheiras escolares dos nossos filhos para o dia seguinte. Após as compras, 
já a caminho de casa, eu estava esperando o sinal verde quando me peguei 
imaginando como seria ser solteiro novamente. Estou falando sério. Eu es­
tava completamente sobrecarregado e desanimado com os relacionamentos 
mais importantes da minha vida e me perguntava com o daria conta de tudo 
aquilo que pesava nas minhas costas.
N o mesmo instante em que o pensamento surgiu, eu fiquei horrorizado. 
Eu amo meus filhos e sou privilegiado por conhecer a minha esposa e ser 
amado por ela. Não queria viver sem eles nem por um segundo. Mas, naquele
S e m o p ç õ e s - 2 5
momento, esses relacionamentos me pareciam demasiadamente difíceis e 
exigentes..Eu amava minha família, mas ali no carro, naquela noite, me deparei 
com o muro da realidade dos relacionamentos em um mundo caído.
Cada um já se deparou com o muro chamado “Por que se importar 
com outras pessoas?” Alcançamos um ponto em nossos relacionamentos 
em que nos perguntamos se eles valem a pena. Um a esposa decide que não 
vale mais a pena abrir-se com seu marido. Um funcionário vai ao trabalho, 
fecha a porta e só aparece de novo na hora de ir para casa. Um adolescente 
volta da escola e vai para o quarto até ser instigado a juntar-se à família para 
o jantar. Nesta semana, alguém provavelmente deixou de freqüentar um 
pequeno círculo de contatos porque acreditava que não valia o esforço. 
Reuniões familiares passam a ser nada além de um encontro de pessoas 
que compartilham o mesmo espaço geográfico, mas que não mantêm ne­
nhum relacionamento significativo. O culto na igreja vira uma formalidade, 
obedecida com pouca ou nenhuma intenção de compartilhar a sua vida com 
os outros. Vizinhos vivem lado a lado durante anos, mas nenhum deles sabe 
qualquer coisa significante sobre a vida do outro.
O que todas essas pessoas e cenários têm em comum? Todas elas já 
se depararam com a dificuldade de manter relacionamentos com pessoas 
falhas em um mundo danificado, e decidiram desligar-se deles. Essa reação 
é apropriada? E bom isolar-nos dos outros para que não sejamos magoados 
e não magoemos a outra pessoa? O que há de errado em não querer se 
arriscar?
Mesmo assim, algo sempre nos arrasta de volta para a companhia de 
outras pessoas. Sabemos que somos menos do que humanos quando estamos 
completamente sozinhos. Por que o funcionário que se isola no trabalho 
fica imaginando o que os seus colegas lá fora estariam fazendo? Por que o 
adolescente fica enciumado quando vê seus pais darem atenção ao irmão ou 
à irmã, apesar de ter sido e/e quem os excluiu de sua vida? Por que a pessoa 
que decidiu viver longe da companhia de outros descreve a sua experiência 
em termos de “ solidão”?
Vivemos com essa tensão entre o isolamento de autoproteção e o sonho 
de relacionamentos significativos. Onde, entre esses dois pontos, você se 
encontra neste momento? Você está se distanciando dos outros devido a uma 
experiência dolorosa recente? Você está se aproximando de outros porque 
esteve sozinho por tempo demais? Qual a tendência que você observa em 
sua vida? Você normalmente tende a procurar o isolamento ou a imersão? 
Você prefere independência ou codependência? Cada decisão relacionai 
que tomamos se inclina para uma dessas duas direções. Somos tentados a 
transformar um relacionamento em algo maior ou menor do que aquilo que
2 6 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a pena"
foi projetado para ser. Sem um modelo bíblico para explicar o papel que 
os relacionamentos devam ocupar em sua vida, é muito provável que você 
experimente desequilíbrio, confusão, desejos conflitantes e frustração geral. 
Você simplesmente fica sem saber como atravessar esse campo minado. 
A té mesmo os melhores relacionamentos podem surpreendê-lo com os 
desafios que apresentam.
Dois e x t r e m o s
Apesar de a maioria de nós não viver em nenhum desses dois extre­
mos, nós demonstramos uma inclinação para um lado ou outro em todos 
os nossos relacionamentos:
“Eu quero estar seguro.” “Eu preciso de você para viver.”
(Isolamento) (Imersão)
Figura 3-1
O ponto em que nos encontramos entre esses dois extremos varia 
de relacionamento para relacionamento, mas, para a maioria de nós, 
nossos problemas se concentram perto de um dos dois extremos. Na 
maioria dos casos, quaisquer que sejam os problemas que enfrentamos 
em nossos relacionamentos, eles tendem a se encaixar em um de três 
perfis relacionais.
O RELACIONAMENTO FRUSTRADO
Aqui, uma pessoa procura o isolamento; a outra, a imersão. Uma das 
duas deseja segurança; a outra, proxim idade e intimidade. Imagine como 
cada uma delas faria os preparativos para as férias. Aquela que procura o 
isolamento coloca uma pilha de livros na mala, aquela que deseja a imersão 
lota a agenda com atividades a dois. Com o deve ser o sentimento de viver 
nesse tipo de relacionamento? O isolacionista se sente esmagado; o imersio- 
nista se sente rejeitado. Já que as expectativas de ambos são constantemente 
frustradas, o relacionamento é uma eterna decepção. Cada pessoa acha que 
o seu ponto de vista e as suas expectativas são justas e razoáveis, e assim a 
decepção de ambos acaba se transformando em raiva.
S e m o p ç õ e s - 2 7
O RELACIONAMENTO EMARANHADO
Aqui, ambos buscam a imersão. Eles embarcam na montanha russa das 
emoções um do outro. Por dependerem tanto um do outro, eles são mago­
ados facilmente quando suas necessidades não são satisfeitas pelo outro. As 
suas expectativas são tão altas que elas tendem a se isolar de outras pessoas. 
Se essas duas pessoas fossem passar as férias juntas, elas gastariam cada 
momento do dia juntas. Você pode até pensar que expectativas semelhantes 
resultassem em paz e harmonia, mas o fato é que isso produz mais problemas, 
pelo menos nesse tipo de relacionamento. Pelo fato de cada um esperar 
que o outro satisfaça as altíssimas expectativas relacionais, ambos se tornam 
muito sensíveis, são facilmente magoados e desenvolvem uma atitude crítica. 
Muita energia é gasta no relacionamento para lidar com ofensas menores, 
sejam elas reais ou imaginárias. Cada um se sente magoado porque aquilo 
que espera da outra pessoa nunca é completamente cumprido. E também 
se sentem desanimados porque, não importa o quanto se esforcem, nunca 
conseguem fazer jus às expectativas do outro. Esse tipo de relacionamento 
é exaustivo porque o trabalho que exige impossibilita a paz.
O RELACIONAMENTO ISOLADO
Aqui, ambos se aproximam do isolamento. Cada um está muito atento 
aos perigos de um relacionamento e sempre dá preferência à segurança. 
As conversas são limitadas, seguras e impessoais. Am bos preferem revelar 
pouco de si. As férias ideais para esses dois incluiriam muito tempo para 
cada um, com um mínimo de interação. Cada um leria um livro diferente, 
imerso em seu mundo particular. Esse tipo de relacionamento é complicado 
porque o seu desejo por segurança e independência colide com seu anseio 
por um relacionamento. Já que são seres sociais feitos à imagem de Deus, 
ambos sentem falta de alguma forma de conexão, mesmo que seja fraca. E 
apesar de ambos desejarem segurança, é o seu desejo por ela que os separa, 
tornando o seu relacionamento vazio e decepcionante.
Em cada um desses cenários há um impasse relacionai. N o relaciona­
mento frustrado,o movimento é afastar-se um do outro. N o relacionamento 
emaranhado, a aproximação mútua é tão extrema que o cumprimento das 
expectativas se torna impossível. N o relacionamento isolado, a busca pela 
segurança impede um relacionamento verdadeiro.
Você se reconhece em algum desses perfis? Apesar de todos os relacio­
namentos serem únicos, é provável que você encontre nesses perfis carac­
terísticas que, de certa forma, estão presentes em seus relacionamentos. (É 
provável que você também conheça relacionamentos entre outras pessoas 
que se encaixem em uma ou várias dessas descrições.) O interessante a
2 8 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
respeito desses perfis é que cada um descreve um relacionamento desequi­
librado porque cada pessoa tende exigir demais ou de menos do relaciona­
mento. O s isolacionistas chegaram à conclusão de que relacionamentos são 
difíceis demais; são desnecessários e não valem o esforço. (“Eu não preciso de 
relacionamentos para ser eu mesmo.”) D o outro lado, os imersionistas estão 
convictos de que relacionamentos são tudo. (“Sem relacionamentos, não sou 
ninguém.”) Essas conclusões estão enraizadas no coração e na expectativa das 
pessoas. Quando algo dá errado nos relacionamentos, o problema, muitas 
vezes, começa ali. Embora os relacionamentos não sejam, por natureza, 
perigosos, as nossas expectativas em relação a eles o podem ser. E por isso 
que é importante que nos perguntemos o que Deus pretende para essa área 
da nossa vida. Precisamos perguntar: “Deus quer que os relacionamentos 
sirvam a que propósito em minha vida? Já que sou uma pessoa criada à sua 
imagem, como devem ser os meus relacionamentos?”
Nosso D e u s d e c o m u n h ã o
Todos os livros sobre relacionamentos levantam as mesmas questões 
que nós levantamos até agora. Infelizmente, a maioria responde a essas 
perguntas apenas de uma perspectiva horizontal. Mas se fo r verdade que 
somos pessoas criadas à imagem de Deus, a primeira coisa a fazer quando 
falamos sobre relacionamentos é levantar perguntas verticais. Você chegará 
a um entendimento melhor sobre o propósito dos relacionamentos não por 
meio de uma análise do ser humano, mas olhando para Deus. M iroslav Volf 
começa com Deus para chegar a uma conclusão sobre a essência humana.
Já que o Deus cristão não é um Deus solitário, mas antes uma 
comunhão de três pessoas, a fé leva as pessoas para dentro dessa 
comunhão divina. E, porém, impossível estar em comunhão exclusiva 
com este Deus trino - um círculo “a quatro”, assim por dizer pois 
o Deus cristão não é uma deidade particular. Comunhão com esse 
Deus é, ao mesmo tempo, comunhão com os outros que, por meio da 
fé, se entregaram ao mesmo Deus. Assim, um único ato de fé coloca 
a pessoa em um novo relacionamento tanto com Deus quanto com 
todos os outros que estão em comunhão com esse mesmo Deus.1
Isso lhe parece muito teórico e irrelevante? O que a doutrina da Trin­
dade tem a ver com o meu relacionamento com a minha esposa ou com 
um colega de trabalho? O motivo pelo qual parece ser descabido introduzir 
Deus e teologia numa discussão sobre relacionamentos humanos é que
S e m o p ç õ e s - 2 9
normalmente temos uma noção errada de Teologia. Vemos Teologia como 
o estudo sistemático do pensamento religioso que pouco tem a ver com o 
nosso dia a dia. Mas compreendida corretamente, teologia nada mais é do 
que a história verdadeira do relacionamento de Deus conosco e do nosso 
relacionamento uns com os outros num mundo danificado. V isto dessa 
forma, quer você “pense” de forma teológica ou não, você está “ fazendo” 
teologia dia após dia por meio das decisões que toma, das palavras que fala, 
e dos sentimentos e das atitudes que você alimenta em seu coração. Todas 
essas reações estão enraizadas em sua perspectiva da natureza de Deus, 
de você mesmo, de seus relacionamentos e do mundo em sua volta. Essas 
“perspectivas” são teologia porque elas mostram e delimitam a forma como 
você vive a vida. A questão não é se, mas que tipo de teólogo você é.
"Iodas as pessoas acumulam um conjunto de “fatos” que elas acredi­
tam ser verdadeiros. Esses fatos funcionam com o uma lente, utilizada para 
interpretar a vida e os relacionamentos. A Bíblia é a única fonte confiável 
para esses fatos interpretativos da vida. O fato fundamental é a existência 
de Deus. Porque fomos feitos à semelhança de Deus, não podemos falar 
sobre a natureza dos relacionamentos humanos sem antes ponderar sobre 
a natureza de Deus. A história bíblica nos apresenta um Deus que é três 
pessoas em uma só. Esse é o fundamento para entendermos o significado 
de sermos feitos à imagem de Deus e, ao mesmo tempo, inteiramente hu­
manos. João 17.20-26 explica como a Bíblia estabelece uma relação entre 
a natureza de Deus e a nossa, e o propósito que ele tem para nós. Essa
passagem é mais pungente ainda por se tratar da oração de Jesus pelo seu
povo em face da sua morte.
Não rogo somente por estes, mas também por 
aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua 
palavra; 21 a fim de que todos sejam um; e como és tu, 
ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; 
para que o mundo creia que tu me enviaste. 22 Eu lhes 
tenho transmitido a glória que me tens dado, para que 
sejam um, como nós o somos; 23 eu neles, e tu em mim, 
a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que 
o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como 
também amaste a mim.
24 Pai, a minha vontade é que onde eu estou, este­
jam também comigo os que me deste, para que vejam a 
minha glória que me conferiste, porque me amaste antes 
da fundação do mundo.
3 0 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
25 Pai justo, o mundo não te conheceu; eu, porém, 
te conheci, e também estes compreenderam que tu me 
enviaste. 26 Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o 
farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste 
esteja neles, e eu neles esteja.
A o relembrar o seu ministério público e o propósito deste, e ao an­
tecipar a cruz e tudo que esta estava designada a gerar, o foco de Jesus se 
fixou na comunhão. Entre todas as coisas pelas quais C risto poderia ter 
orado nesse momento, ele decide orar pela união do seu povo. Vejamos as 
premissas que são o fundamento da oração de C risto e da estrutura para 
relacionamentos.
D e u s É a ú n ic a c o m u n h ã o e m t o d o o u n iv e r s o q u e
FUNCIONA ADEQUADAMENTE
Em sua conversa com o Pai, Jesus medita sobre o relacionamento que 
Pai, Filho e Espírito Santo tiveram por toda a eternidade. Ele deseja que seu 
povo possa experimentar as mesmas coisas em sua comunhão com Deus e 
com outras pessoas. As palavras de C risto refletem as realidades presentes 
no relato da criação da humanidade em Gênesis 1.26. C om o diz Anthony 
A. Hoekema: “A primeira coisa que nos salta aos olhos quando lemos G ê ­
nesis 1.26 é que o verbo principal está no plural: ‘Disse Deus: Façamos o 
homem ’” .2 O versículo nos perm ite olhar de relance a comunhão divina no 
momento em que Pai, Filho e Espírito se dedicam à criação da humanidade 
conforme a imagem do Deus Trino. João 17 traz mais clareza sobre o plano 
de Deus em Gênesis 1.26, ao descrever a união íntima que Deus tinha em 
mente e seus propósitos. O capítulo nos permite entender o desígnio e a 
função de Cristo para a igreja. Deus sabe como nos ajudar em nossas difi­
culdades com a comunhão porque ele é uma comunhão.
A Tr in d a d e é o ú n ic o m o d e l o a d e q u a d o p a r a a
COMUNHÃO HUMANA
Quando Jesus reflete sobre o propósito de Deus para a comunhão 
humana, o único padrão adequado que consegue encontrar é a comunhão 
entre Pai, Filho e Espírito. Basicamente, o que ele está dizendo é: “Pai, o único 
exemplo de comunhão que elaboramos para o nosso povo é a comunhão 
que nós vivenciamos um com o outro” . Quando nossos relacionamentos 
não funcionam como devem, podemos nos orientarpor esse modelo.
O fato de Deus se apresentar como modelo para a comunhão humana o 
surpreende? Pode ser surpreendente porque estamos acostumados a pensar
S e m o p ç õ e s - 3 1
em Deus com o um indivíduo. Enquanto Deus é um só, a Bíblia também diz 
que ele existe em três pessoas.
O ensino bíblico da Trindade é muito prático para relacionamentos, já 
que o próprio Deus é um exemplo de comunhão amorosa, cooperativa e 
unificada e onde a diversidade é algo positivo e não um obstáculo. Se Deus 
nos fez à sua semelhança podemos nos sentir encorajados que ele nos dará 
a graça para vivermos assim em comunhão uns com os outros.
A S PESSOAS FEITAS À SEMELHANÇA DE DEUS FORAM FEITAS 
PARA A COMUNHÃO
A oração de C risto reflete a palavra de Deus em Gênesis 2 .18, quan­
do ele, antes da Queda, olha para a sua gloriosa criação: “ Não é bom que 
o homem esteja só” . A comunidade humana não era somente o plano de 
C risto para os seus discípulos, era, desde o início, também o plano de Deus 
para todas as pessoas. Apesar de sermos pessoas falhas em relacionamentos 
falhos, fomos criados com o seres sociais. A comunhão de um com o outro 
não é apenas uma obrigação, é um aspecto da nossa humanidade.
D e u s t e m u m p r o p ó s it o d u p l o p a r a a c o m u n h ã o h u m a n a :
CRESCIMENTO PESSOAL E TESTEMUNHO PARA O MUNDO
A oração de C risto é que o seu povo possa crescer e refletir a sua gló­
ria como testemunho para o mundo. O defeito principal dos três tipos de 
relacionamentos que descrevemos anteriormente é que cada um é movido 
pelo desejo pessoal, e não pelo propósito de Deus. Em nosso convívio, nunca 
devemos perder de vista o objetivo maior que é a glória de Deus. Nossos 
relacionamentos precisam ser moldados não por aquilo que nós queremos, 
mas por aquilo que Deus quer.
O EGOCENTRISMO DO PECADO NOS DISTANCIA DE DEUS E DE 
OUTRAS PESSOAS
Jesus não estaria orando por nós e se aproximando da cruz se nós 
fôssemos capazes de construir esse tipo de comunidade por força própria. 
O ponto de partida de C risto é o mesmo do apóstolo Paulo em 2 Corín- 
tios 5.14-15: O pecado nos leva a voltar a nossa atenção para dentro de 
nós mesmos e para longe da graça de Deus e dos outros. “Pois o am or de 
C risto nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos 
morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais 
para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” Aquela 
noite em que me imaginei solteiro revelou de forma avassaladora o meu
3 2 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
egoísmo. Eu queria uma vida confortável, previsível e fácil. Eu queria aquilo 
porque imaginava que era o melhor para mim.
Co m u n h ã o h u m a n a v e r d a d e ir a s ó r e s u l t a d a c o m u n h ã o 
c o m D e u s
Neste ponto, a linguagem de Jesus é notável. Ele nos convida a par­
ticipar dessa comunhão divina com o Pai, o Filho e o Espírito para que 
possamos experimentar comunhão uns com os outros. Naquela noite, no 
estacionamento do supermercado, meu problema não era apenas que eu 
não amava a minha família o tanto quanto devia. Meu problema era que eu 
não amava Deus o tanto quanto devia. Isso enfraqueceu o am or por minha 
família. Meu pânico não se devia apenas ao fato de eu achar que não era 
capaz de cum prir com as minhas responsabilidades; ele revelou uma falta de 
confiança em Deus. Não podemos procurar a comunhão uns com os outros 
antes de estarmos em comunhão com Deus. A imagem aqui é a de dois 
círculos concêntricos, em oposição a dois círculos separados. O círculo da 
comunhão humana só pode crescer dentro do círculo maior da comunhão 
com Deus. N o versículo 23, Jesus ora para que possamos entender que o 
am or do Pai para conosco é o mesmo amor que ele tem por Jesus. Que 
acolhida maravilhosa na comunhão divina!
Imagine isso como ilustrado pela Figura 3-2.
Figura 3-2
S e m o p ç õ e s - 3 3
A DETERMINAÇÃO DE CRISTO CONFIRMA O COMPROMISSO FEITO PELO
Pa i, F i l h o e Es p ír it o a n t e s d a c r ia ç ã o d o m u n d o
Jesus não está construindo uma ideia nova para os relacionamentos 
humanos ou para a igreja. Sua oração reflete o que tem sido o plano de 
Deus desde sempre. Eu me tornara desanimado como pai e marido porque 
perdera de vista o plano de Deus. As pessoas, feitas à semelhança de Deus, 
somente refletirão essa semelhança e glória se viverem em uma comunhão 
com compromisso. A o olhar para a cruz e a vitória final sobre o pecado, 
Jesus sabe que sua morte e ressurreição não reconciliarão apenas o peca­
dor individual com Deus, mas também os pecadores entre si. A m orte e 
ressurreição de Jesus criam uma comunhão inteiramente nova que terá sua 
expressão plena na eternidade (veja Ef 2 .1 I -22).
D e u s v iv e e m c o m u n h ã o c o m s e u p o v o p a r a q u e p o s s a m o s t e r 
c o m u n h ã o u n s c o m o s o u t r o s
Quando Jesus faz sua oração, ele sabe que a culpa do pecado nos 
separa de Deus e dos outros. E por isso que ele está indo para a cruz. Mas 
ele também sabe que a presença contínua do pecado impossibilita a vida 
em comunhão, a não ser que sejamos capacitados de forma contínua. O 
versículo 22 é importante porque a glória da qual Jesus está falando é a 
glória do Espírito Santo que permitiu que ele ministrasse em um mundo 
caído. Ele nos dá esse mesmo Espírito glorioso porque sem ele nada con­
seguimos fazer.
Naquela noite no meu carro, eu não tinha uma noção correta do meu 
potencial. Meu potencial para te r sucesso naquilo que Deus me chamara 
a fazer não se baseava em meu currícu lo nem em minhas responsabili­
dades. Ele dependia da graça que eu recebera em Cristo . Jesus me daria 
tudo que eu precisava para v ive r com minha família. Jesus encarou o 
inimaginável para que eu tivesse a força para v iver em relacionamentos 
cheios de amor.
Você percebe o que está acontecendo aqui? Quando Jesus pede ao Pai 
a criação de uma nova comunhão humana, ele antecipa o que acontecerá 
com o seu próprio relacionamento com o Pai durante a sua morte pelos 
pecados do seu povo. O seu grito na cruz, “ Deus meu, Deus meu, por que 
me desamparaste?”, é o grito de uma comunhão rompida entre os membros 
da Trindade. O relacionamento perfeito e de eterno amor entre Pai, Filho 
e Espírito foi desfeito para que nós pudéssemos ser restaurados em Deus 
e reconciliados uns com os outros.
3 4 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a p e n a "
A IMAGEM DE DEUS É UMA COMUNHÃO
Quando você olha as várias fases da vida de uma pessoa, o que você 
percebe? Dependemos de nossa mãe a partir do momento em que somos 
concebidos. Assim que nascemos, precisamos dos cuidados da nossa família 
para sobreviver. E mesmo quando nos tornamos mais independentes, conti­
nuamos procurando o companheirismo de outras pessoas. Com o adolescen­
tes queremos ser aceitos pelos nossos colegas e começamos a sentir o desejo 
por relacionamentos mais profundos, mais duradouros e mais dedicados. 
Com o adultos vivemos numa variedade de comunidades que se entrelaçam: 
família, igreja, vizinhança e trabalho. A o passo em que envelhecemos, olhamos 
para a nossa vida e lembramos da rede de relacionamentos que tivemos. 
Nossas memórias mais queridas e nossas mágoas mais profundas envolvem 
relacionamentos. Finalmente, um dos momentos mais tristes da nossa vida 
ocorre quando a morte nos rouba uma pessoa querida.
O que esse resumo da vida de uma pessoa nos mostra? Apesar de 
sermos pessoas egoístas num mundo caído, as nossas vidas revelam a nossa 
imagem e semelhança com Deus. Deus é uma comunhão e nós, como sua 
criação, refletimos essa qualidade. E mais do que isso, ele nos coloca em 
comunidades e faz brotar em nossos corações o desejo por comunhão. N o 
final das contas, nunca conseguiremos escapar da nossa natureza de sermos 
quem e aquilo que Deus criou. A característica relacionaié essencial para 
aquilo que somos; ela nos leva a causarmos grandes bens e grandes males. 
Isso foi demonstrado pelo terrorism o e heroísmo que aconteceu simultane­
amente em I I de setembro de 2001. O ódio de uma comunidade por outra 
levou à morte e destruição, mas o amor que outras pessoas tinham pela sua 
comunidade resultou em incríveis atos de coragem, gentileza e sacrifício.
O que todos esses dados bíblicos e experienciais nos revelam? Que 
não se pode falar de seres humanos criados à imagem de Deus sem falar 
sobre relacionamentos. Mesmo assim, muitas vezes essa é a primeira coisa 
que ignoramos. Somente quando as pessoas vivem em comunhão é que elas 
refletem completamente a semelhança de Deus.
V o c ê e s t á n e g a n d o a s u a h u m a n i d a d e ?
Relacionamentos, para você, são opcionais? As Escrituras e o dia a dia 
afirmam: “ De jeito nenhum!” Se a minha identidade com o ser humano está 
ligada à comunidade, então negá-la e evitá-la, fugir dela, abusar ou destruí-la 
significa negar a minha própria natureza humana. Toda vez que você evita 
alguém, se irrita com seus filhos, cada vez que escolhe se isolar em vez de
S e m o p ç õ e s - 3 5
encarar a sua dor, cada vez que explorar uma pessoa ou sucumbir à intole­
rância, você estará negando a sua humanidade. Tiago 3.9 diz: “Com ela [a 
língua], bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os 
homens, feitos à semelhança de Deus” . Sempre que você insulta uma pessoa, 
você está destruindo aquilo que ambos foram criados para te r - comunhão 
moldada à imagem de Deus. N o final das contas, você está insultando o Deus 
que criou aquela pessoa, o que significa que você não está negando apenas 
a humanidade da outra pessoa, mas também a sua própria.
Por outro lado, cada vez que você se aproxima de alguém com com ­
paixão, você afirma a sua humanidade. Sempre que você dá importância à 
história de outra pessoa tanto quanto dá à sua própria, e sempre que procura 
e concede perdão ou exerce a função de pacificador, você faz isso. E toda vez 
que você reafirma a humanidade de outra pessoa, você honra o C riador que 
criou vocês dois. Por causa da coexistência de pecado e graça, todos nós os­
cilamos entre a negação e a afirmação da nossa humanidade. Num momento, 
você está consolando seu filho, no outro, está no telefone trocando fofocas. 
Numa tentativa de prestar um serviço a alguém, você acaba discutindo com 
sua esposa sobre a melhor forma de realizar esse seu bom ato.
João Calvino disse: “Pois os pecados nunca poderão ser desarraigados 
do coração humano antes que o verdadeiro conhecimento de Deus seja ali 
plantado” .3 Se você estiver enfrentando problemas em seus relacionamen­
tos, a solução começa com Deus. Normalmente começamos com aquilo 
que queremos. Mas ao começar consigo mesmo e com aquilo que você 
acredita serem seus desejos e necessidades, você entrará em conflito com 
outra pessoa que está fazendo o mesmo. O relacionamento está destinado 
a falhar. E apenas quando começamos com Deus - que é maior do que nós 
mesmos - que conseguimos escapar dos resultados destrutivos do nosso 
próprio egoísmo. A maior satisfação nasce de relacionamentos que iniciamos 
não para agradar a nós mesmos ou a outra pessoa, mas para agradar a Deus. 
O círculo da comunhão humana só é saudável quando ele existir dentro do 
círculo maior da comunhão com Deus.
N o t a s
1 Miroslav Volf, After Our Likeness: The Church as the Image o f íhe Trinity (Grand 
Rapids: Eerdmans, 1998), 173.
2 Anthony A. Hoekema, Created in God’s Image (Grand Rapids: Eerdmans, 1986), 12.
3 João Calvino, The Institutes o f the Christian Religion, Vol. 1 (Filadélfia: Westminster 
Press, 1960), 73.
A O pecado
Viu o S e n h o r que a maldade do homem se havia 
multiplicado na terra e que era continuamente mau todo 
desígnio do seu coração; então, se arrependeu o S e n h o r de 
ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração.
Gênesis 6.5-6
Kristin e Shane eram amigos desde a escola primária. N o segundo 
grau, algo mais do que amizade começou a brotar. Apesar de 
freqüentarem faculdades diferentes, eles mantiveram um relacionamento 
próxim o e passavam pelo menos três fins de semana por mês juntos.
Não demorou e eles começaram a falar sobre casamento. Eles se 
julgavam muito felizes por estarem se casando com alguém que conheciam 
desde a infância. O s anos de faculdade passaram voando, e pouco tempo 
após a formatura eles se casaram. Estavam ansiosos para passarem o resto 
das suas vidas lado a lado.
Shane e Kristin conseguiram bons empregos e compraram uma linda 
casa numa vizinhança que ambos amavam. Seus dias eram corridos, mas as 
noites que passavam juntos eram maravilhosas. Durante a semana, anteci­
pavam o café da manhã que costumavam tom ar num restaurante boêmio 
perto de onde moravam. Parecia que estavam vivendo seu sonho quando, 
inesperadamente, Kristin começou a passar mal. Seu médico lhe deu a notícia 
chocante de que ela estava grávida. Mas ela tinha tomado tanto cuidado! Isso 
não fazia parte dos planos. E agora, o que ela diria a Shane?
Kristin tinha pavor da reação de Shane e das perguntas que ele, com 
certeza, lhe faria. Ela queria mesmo era que ele reagisse com compreen­
são, talvez até com entusiasmo, mas ela sabia que isso era improvável. Essa 
conversa foi um ponto de virada em seu relacionamento. Shane ficou muito 
irritado por Kristin “não te r tido mais cuidado” . Kristin ficou arrasada por ele
O PECADO - 3 7
culpá-la pela gravidez e tratar do nenê como se fosse uma doença. E como 
se isso não bastasse, Kristin e Shane precisavam desesperadamente do seu 
salário, mas se ela continuasse passando mal do jeito que estava, ela não 
seria capaz de trabalhar por muito mais tempo. Shane estava desencorajado, 
Kristin estava doente, e sua situação financeira estava ficando mais apertada 
a cada dia que passava.
As dificuldades logo começaram a desgastar o relacionamento. Shane 
ficou amargurado e frustrado. Ele crescera numa família bem administrada e 
estável em termos financeiros. Ele estava irritado por se encontrarem numa 
situação tão precária. Kristin estava magoada porque seu melhor amigo agora 
parecia ser seu pior inimigo. Am bos se perguntavam o que havia acontecido 
para transformar o seu casamento nessa confusão toda.
E m m e i o à c o n f u s ã o
O seu melhor relacionamento - e não importa com quem seja - está 
confuso. Pare para pensar sobre o seu relacionamento mais gratificante. (Se 
você tem dificuldades de pensar em algum, já provamos nosso ponto.) Faça 
as seguintes perguntas, simples, sobre esse relacionamento:
Você já se sentiu mal compreendido?
Você já foi magoado por algo que a óutra pessoa disse?
Você já se sentiu como se não fosse ouvido?
Você já foi traído?
Você já teve que resolver um mal-entendido?
Você, alguma vez, não concordou com uma decisão?
Você, ou a outra pessoa, já guardou algum rancor?
Você já se sentiu sozinho mesmo quando tudo estava correndo bem?
Você já foi decepcionado?
Você já duvidou do amor da outra pessoa?
A outra pessoa já questionou o seu compromisso?
Você já teve dificuldades em resolver um conflito?
Você já quis não ter que dar ou servir?
Você já se sentiu usado?
Você, alguma vez, já pensou: Ah, se eu soubesse...
3 8 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
Essas perguntas revelam dificuldades e tentações escondidas que você 
enfrenta em seu melhor relacionamento? N o nosso caso, mantemos nossos 
melhores relacionamentos com as nossas esposas (o que é o ideal, mas nem 
sempre é o caso). Ambos estamos casados há muitos anos e consideramos os 
nossos casamentos fortes e afetuosos. Estamos casados com mulheres que res­
peitamos muito, e nossos casamentos foram beneficiados pela graça e sabedoria 
de Deus. Mesmo assim, ambos poderíamos responder com um “sim” a cada 
pergunta acima, e temos certeza de que as nossas esposas diriam o mesmo.
Não é difícil entender a pergunta deTiago, em Tiago 4 .1: “De onde 
procedem as guerras e contendas que há entre vós?” A sua experiência em 
relacionamentos o ajuda a entender por que a Bíblia inclui tantos mandamen­
tos e exortações para sermos pacientes, gentis, clementes, m isericordiosos, 
meigos e humildes. A Bíblia assume que os relacionamentos deste lado da 
eternidade sempre serão confusos e que exigem muito trabalho. Se isso se 
aplica aos nossos melhores relacionamentos, imagine o quanto é verdade 
para aqueles relacionamentos que são ainda mais difíceis.
D e DENTRO, DE FORA E DE CABEÇA PARA BAIXO
A tentação de olharmos para os problemas em nossos relacionamentos e 
localizarmos o problema do lado de fora de nós mesmos é grande. E é verdade
- a outra pessoa é fraca e pecaminosa por natureza. Infelizmente, nós também 
somos. Tiago 4 .1 (e todo o resto das Escrituras) nos lembra de que o nosso 
verdadeiro problema está dentro de nós. Todos nós, em algum momento, 
tomamos a decisão de virar tudo de cabeça para baixo. Aquilo que queremos
- para nós mesmos e dos outros - tornou-se mais importante para nós do que 
o próprio Deus. Nós nos colocamos em primeiro lugar; e Deus, em segundo. 
A Bíblia chama isso de pecado porque rejeitamos a soberania que, por direito, 
cabe a Deus e decidimos ser o nosso próprio senhor. A o fazermos isso, nossos 
desejos egoístas passam a dominar os nossos relacionamentos, resultando assim 
em problemas, conflitos e decepções que sofremos com os outros.
Em Romanos 7 .21 -25, o apóstolo Paulo descreve o seu maior problema 
como algo interno:
Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de 
que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem 
interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus 
membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha 
mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos
O PECADO - 3 9
meus membros. Desventurado homem que sou! Quem 
me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus 
Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, 
com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a 
carne, da lei do pecado.
Paulo emprega quatro termos que ajudam a descrever a sua expe­
riência:
1. O termo lei explica um princípio que opera em sua vida e do qual 
lhe é impossível escapar. Esse princípio é como a gravidade: Você 
não tem escolha se quer ou não estar sujeito a sua influência. Até 
finalmente ser liberto do poder e da presença do pecado, você 
nunca conseguirá escapar do seu próprio pecado presente nos 
relacionamentos.
2. O termo guerra ilustra a batalha constante que está sendo travada 
dentro de Paulo. Esse conflito interno, entre o desejo de fazer o 
que é certo e o poder do pecado, permanece atual.
3 .0 termo prisioneiro descreve a experiência do pecador libertado.
Você, alguma vez, já quis fazer o que era certo, mas foi levado 
para o lado do pecado? Você disse a si mesmo: Não acredito que fiz 
isso de novo/ É assim que um prisioneiro se sente. Um prisioneiro 
perdeu a sua liberdade.
4. A palavra livrar é uma palavra dramática que, muitas vezes, é ig­
norada nesses versículos, apesar de brilhar ainda mais forte à luz 
dos três termos anteriores. Quando você precisa ser libertado, 
isso significa que não há esperança para você, a não ser que você 
receba ajuda de fora.
Essas quatro palavras significam que o nosso maior problema está dentro 
de nós e que não conseguimos resolvê-lo sozinhos. A o chamar a nossa atenção 
ao impacto que a nossa luta contra o pecado tem em nossos relacionamentos, 
a avaliação de Paulo não deixa espaço para qualquer ilusão. O pecado nos 
afeta de seis maneiras fundamentais.
Eg o c e n t r is m o
Quando você rejeita Deus, você cria um vácuo que não pode permane­
cer vazio. O pecado o levará a preenchê-lo instintivamente consigo mesmo.
4 0 - R e la c io n a m e n to s : "U m a c o n f u s ã o q u e v a le a pena"
Quando a situação ficou feia para Kristin e Shane, eles automaticamente assu­
miram a posição de “O que é melhor para mim?” em vez da perspectiva de 
“O que Deus está operando em e por meio de nós?” . Já que o propósito dos 
relacionamentos é voltar a sua atenção para outro centro, o egocentrismo do 
pecado inevitavelmente corrom pe o plano de Deus. E já que ambos estarão 
lutando com a mesma coisa, é fácil ver os conflitos que podem resultar e, 
de fato, resultarão. (“Achei que eu era importante para você” contra “Eu 
simplesmente estava tentando proteger os meus direitos” .)
A u t o r r e g ê n c ia
Quando a sábia e amorosa regência de Deus sobre você é substituída 
pela autorregência, as outras pessoas se tornam seus súditos. Você exige 
que elas se sujeitem às suas ordens e se submetam ao seu controle. Com o 
é que Kristin e Shane responderam um ao outro em meio às dificuldades? 
Eles assumiram o controle. Shane tentou dominar Kristin por meio de crí­
ticas e exigências; Kristin tentou controlar Shane por meio de isolamento 
e silêncio. Porém, já que os relacionamentos devem ser vividos por duas 
pessoas que sejam igualmente submissas a Deus, a busca pelo controle 
sempre acabará em desastre. (“Se você me amasse de verdade, você faria 
o que me agrada.”)
A u t o s s u f ic iê n c ia
Quando você rejeita a Deus, você passa a acreditar na intoxicante, po­
rém venenosa, ilusão de que não depende de ninguém. N o caso de Kristin 
e Shane, o problema não são somente as circunstâncias inesperadas com 
que se veem confrontados. A sua situação é difícil, mas Deus não os deixou 
sozinhos. Ele se deu a eles, e deu um ao outro. Mas ao se afastarem um do 
outro, eles também se afastam de um dos principais meios que Deus tem 
para cuidar deles. Se você não reconhecer que você depende de Deus, é 
improvável que você possa depender de outros com humildade.
O melhor fundamento para um relacionamento é a dependência mútua 
e sagrada. A redentora troca de dádivas, que Deus usa para demonstrar o seu 
amor por nós, está ausente onde rege a independência. (“Se eu precisar de sua 
ajuda, eu lhe peço. Eu gosto da sua amizade; eu só não gosto da sua ajuda.”)
A u t o ju s t if ic a ç ã o
Se a santidade de Deus não for o seu padrão pessoal para tudo aquilo que 
é bom, verdadeiro e certo, então você passa a ser o seu próprio padrão para 
tudo isso. Foi o que aconteceu com Kristin e Shane. Cada um se acha mais 
justo do que o outro. Cada um tem plena consciência do pecado do outro,
O PECADO - 4 1
e ambos fazem um tremendo esforço para que este o reconheça. Enquanto 
isso, nenhum dos dois examina o próprio coração onde residem a fraqueza 
e o pecado próprio, e ambos deixam de procurar a ajuda que somente Jesus 
pode providenciar. Esse método, invariavelmente, levará você a uma opinião 
inflada a seu respeito e, por conseqüência, a uma visão exageradamente 
crítica dos outros. Relacionamentos santos se desenvolvem melhor entre 
duas pessoas humildes que reconhecem as próprias falhas e pecados e a sua 
mútua necessidade da graça de Deus. A pessoa que se acha justificada e que 
nega a sua própria necessidade não será um mediador da graça para outros. 
(“Depois de tudo que fiz por você, é assim que você me trata?”)
A u t o s s a t is f a ç ã o
Quando você se convence de que satisfação e realização podem ser 
encontradas fora de Deus, você pode seguir em duas direções. O s dois, tanto 
Kristin quanto Shane, são culpados nesse ponto. Kristin substitui a comunhão 
que Deus queria que ela tivesse com Shane (pela comunhão com suas amigas). 
Shane coloca toda a sua energia e esperança em seu trabalho. Nenhum dos 
dois está investindo no relacionamento, coisa que, antes, eles faziam com 
tanto prazer. Perceba a dinâmica aqui. Se você encontra satisfação em coisas 
materiais, você não estará interessado em relacionamentos ou apenas os 
usará para conseguir aquilo que você quer. Se você encontra satisfação em 
outras pessoas, você usará os relacionamentos para a sua própria felicidade. 
(“ Isso não é o que eu queria desse relacionamento. Se eu soubesse que isso 
aconteceria,eu nunca teria começado.”)
A u t o e n s in o
Quando você é a sua própria fonte da verdade e sabedoria, você abre 
mão do espírito de aprendiz humilde, vital para um bom relacionamento. 
Você sempre será o mentor em seu relacionamento e passará a impressão 
de que você tem pouco ou nada a aprender dos outros. (“ Eu não preciso 
que você me diga o que eu preciso fazer!”) O fato mais chocante no rela­
cionamento de Kristin e Shane é o quão rápido os dois pararam de prestar 
ouvidos um ao outro.
A figura 4 - 1 resume os efeitos que esse tipo de pecado tem sobre uma 
pessoa e seus relacionamentos. Caso você se reconheça em muitas dessas 
categorias, isso não é nada incomum. Não se desanime: esse diagnóstico, 
apesar de ser duro de engolir, pode levar a uma transformação verdadeira, 
abrindo seus olhos para o quanto você precisa da graça de Deus.
Porque o pecado volta a nossa atenção para dentro, existe uma Kristin e 
um Shane em todos nós. Quando o amor por Deus é substituído pelo amor
4 2 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
Egocen­
trismo
Autor-
regência
Autos-
suficiên-
cia
Autojus-
tificação
Autos-
satisfa-
ção
Autoen-
sino
, . , r . emoçao/. , preço pesadelo/ ereito ;busca/querer . , , , açaoaceitavel medo em outros , ,reveladora
atenção,
aprovação
disposto a 
sacrificar 
controle e 
independên­
cia
rejeição, 
falta de 
aceitação ou 
reafirmação
sentimento 
de serem 
usados, 
diminuídos, 
esmagados
ansiedade,
carência
querer 
estar sempre 
certo e em 
controle
disposto a 
sacrificar 
intimidade e 
união
ser vis­
to como 
errado, ser 
dependente
sentimento 
de serem 
coagidos, 
manipulados
raiva
independên­
cia, tempo 
a sós
disposto a
sacrificar
intimidade,
comunhão
de beneficio
mútuo
a depen­
dência e 
carência de 
outros
sentimento 
de serem ig­
norados, não 
apreciados
frieza,
distância
querer estar 
certo aos 
olhos dos 
outros
disposto a 
sacrificar 
relaciona­
mentos que 
desafiam ou 
confrontam
estar errado, 
ser cul­
pado ou 
condenado
sentimento 
de serem 
desafiados, 
conde­
nados ou 
descartados
agressivo,
argumen-
tativo
prazer (auto- 
definido)
disposto a 
sacrificar a 
comunhão, 
caso não seja 
conveniente
de outros 
interferirem 
em seu pra­
zer pessoal
sentimento 
de serem tra­
tados como 
objetos, e 
não como 
companhei­
ros
contro­
lador,
exigente,
insatisfeito
um fórum 
para expor a 
sua própria 
opinião
disposto a 
sacrificar o 
crescimento 
mútuo, caso 
você discorde
ter seus pen­
samentos, 
palavras e 
atos ditados 
por outros
sentimento 
de serem 
tratados com 
condescen­
dência e 
desrespeito
imposi­
ção de 
opinião, 
dominante
Figura 4-1
O PECADO - 4 3
por nós mesmos, vemos nos outros obstáculos que nos impedem de atingir 
nossos alvos ou meios para promovê-los. O autointeresse pecaminoso vira 
os dois grandes mandamentos de cabeça para baixo: Em vez de amarmos 
a Deus e usarmos os seus dons para servir uns aos outros, nós passamos a 
amar os dons e a usar as pessoas para consegui-los. Pais, por exemplo, que 
almejam uma boa reputação veem seus filhos como meio para construí-la. 
Casais que desejam intimidade manipulam seus parceiros para consegui-la. 
Pessoas que querem ter sucesso veem os outros como instrumento ou 
como ameaça para os seus planos. Pessoas que procuram conforto ficam 
animadas com relacionamentos fáceis e decepcionadas com relacionamentos 
difíceis. Pessoas que querem o controle se sentem ameaçadas pela força e 
tendem a buscar os mais fracos. Pessoas que desejam bens materiais evitam 
relacionamentos que as atrapalhem em sua busca.
Você percebe o que acontece quando algo que não seja o Deus vivo 
rege o seu coração? Não há como escapar da profunda verdade de Tiago 4 .1. 
Sempre que aquilo que você quer se torna mais importante do que Deus, 
seus relacionamentos sofrem. Mesmo quando os próprios relacionamentos 
se tornam mais importantes do que Deus, seus relacionamentos sofrem. É 
esse o efeito do pecado. Ele nos impede de reconhecer a nossa dependên­
cia de Deus, volta a nossa atenção para dentro e nos leva a te r medo dos 
outros ou a explorá-los.
N o capítulo dois, vimos que o círculo de relacionamentos humanos 
deveria existir apenas dentro do círculo maior da comunhão com Deus. 
Nesse contexto, todos os relacionamentos são moldados pela dedicação 
a Deus, e eles prosperam e crescem. O pecado, porém, exige que a co ­
munidade humana se dedique a outros deuses (conforto, controle, bens 
materiais, poder, sucesso, reconhecimento). Isso altera de forma radical os 
planos que temos para as outras pessoas. Nesse contexto, meu afeto por 
outras pessoas nunca é um fim em si mesmo, mas um meio para alcançar 
outro fim: o de conseguir o que eu quero.
Figura 4-2
4 4 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a pena"
E QUANTO ÀS COISAS RUINS QUE OUTRAS PESSOAS CAUSAM
EM MINHA VIDA?
É uma pergunta justa. Não é apenas justa, é também boa e sábia. Tudo o 
que falamos até agora pode passar a impressão de que seus relacionamentos 
sofrem apenas por causa dos seus pecados. Mas a Bíblia é um livro muito 
realista. Ela leva também em conta os pecados cometidos contra você. As 
vezes, você, assim com o Shane, causa vítimas e precisa lidar com o seu 
próprio pecado. E, às vezes, você é a vítima, com o Kristin. E outras vezes, 
você assume o papel de ambos. Sem dúvida alguma, aquele que causa vítimas 
precisa encarar seu pecado, mesmo assim, a vítima é responsável por sua 
reação ao pecado que foi cometido contra ela.
A Bíblia está repleta de exemplos que tratam do assunto da vitimização 
com sinceridade, desde o assassinato de Abel, em Gênesis 4, à perseguição 
da igreja, no livro de Apocalipse. Há milhares de histórias sobre pessoas 
que cometeram pecados umas contra as outras. O Novo Testamento está 
cheio de exortações para que sejamos pacientes, clementes e compassivos, 
repudiemos a vingança e a raiva, perdoemos aos outros e amemos os nossos 
inimigos. A Bíblia menciona tudo isso porque Deus sabe que, com frequên­
cia, sofremos os efeitos dos pecados cometidos por outros. Aqui na terra, 
sempre seremos pecadores que se relacionam com outros pecadores.
Portanto, mesmo quando nós sofremos com um pecado cometido 
contra nós, nós somos responsáveis pela nossa reação a ele. Essa é a única 
forma de invertermos o poder destrutivo do pecado em um relacionamento. 
Miqueias 6.8 nos oferece orientação para as nossas reações ao pecado: “Ele 
te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o S EN H O R pede de ti: 
que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com 
o teu Deus.” Essa instrução seria desnecessária se não houvesse o enten­
dimento de que pecados seriam cometidos contra nós. Isso é importante 
porque o nosso instinto é pecar com o reação a um pecado cometido contra 
nós. Assim, acrescentamos mais problemas ao nosso problema. Algumas 
reações típicas são:
- Eu confesso os seus pecados a mim, com amargura. Não posso 
acreditar que ela fez isso comigo!
- Eu confesso os seus pecados a outra pessoa, por meio de fofocas. 
Deixe-me contar a você o que ela fez comigo!
- Eu confesso seus pecados a Deus, querendo vingança. “Deus, 
quando é que você vai agir contra essa pessoa que me magoou?”
- Eu confesso seus pecados a você com raiva. “Como você ousa 
fazer algo assim contra mim?”
O PECADO - 4 5
Quando se trata dos pecados que outros cometem contra nós, a nossa 
tendência é falar sobre eles de maneira destrutiva. Isso é errado e nos leva a 
acreditar que o nosso maior problema se encontra fora de nós. A Bíblia nos 
lembra de que, mesmo nos casos em que nós somos a vítima do pecado de 
outros, no final das contas, o nosso maior problema, diante de Deus, continua 
sendo a inclinação do nosso coração para o pecado. Mesmo quando nosso 
coração fo r terrivelmente ferido pelos pecados de outra pessoa, precisamos 
protegê-lo para que não sejamos dominados pela força destruidora do pe­cado. Quando sofremos os efeitos de um pecado, somos tentados a pecar. 
Então, quando alguém comete um pecado contra nós, nossa carência por 
C risto é de tal modo grande quando somos nós quem pecamos. O apelo 
a sermos pacientes, humildes, clementes e gentis não é um apelo a sermos 
passivos. Deus quer que você reaja, mas do jeito que ele ordena. Guardar 
rancor, tornar-se amargurado, orar por vingança e fofocar não são os mé­
todos que Deus honra. Quando você julga o perpetrador “com o digno de 
castigo”, mas não com uma atitude humilde, paciente e compassiva, você 
acaba pervertendo a própria justiça que você busca.
H á g r a ç a p a r a e s s a l u t a
Está sendo difícil ler esse capítulo sem que você se sinta desanima­
do pela confusão dos relacionamentos? Talvez você esteja dizendo: “Vou 
procurar uma ilha onde eu possa viver sozinho!” O que impedirá Kristin e 
Shane de assumirem essa atitude? O que lhes devolverá a esperança para se 
aproximarem novamente um do outro com am or e paciência? Já dissemos 
que algumas das nossas melhores e piores experiências são resultados de 
relacionamentos. Falamos muito sobre as razões por que algumas das piores 
coisas aconteceram. Mas, por que algumas das nossas melhores experiências 
se deram nesse mesmo contexto? Você já se perguntou por que você já teve 
algum relacionamento bom?
Cada relacionamento bom que temos é uma dádiva da graça de Deus. 
Se fôssemos entregues a nós mesmos, nada de bom aconteceria. É pela 
graça de Deus que uma mãe egocêntrica também é capaz de demonstrar 
amor genuíno por seus filhos. E por isso que um marido egoísta consegue 
amparar a sua esposa quando esta adoece. Você já se perguntou por que duas 
pessoas que não são cristãs podem te r um relacionamento razoavelmente 
bom? E porque o próprio Deus que eles negam está demonstrando a sua 
graça e abençoando-os apesar da ignorância deles.
4 6 - R e la c io n a m e n to s : "U m a c o n f u s ã o q u e va le a pena "
Pense naquilo que Deus nos deu para nos ajudar a vivermos relacio­
namentos num mundo caído. Ele nos deu a sua Palavra, repleta de sábios 
conselhos. Ele nos deu o seu Espírito que nos condena quando erramos, que 
nos dá força para buscarmos o perdão e que nos capacita a demonstrarmos 
compaixão por aqueles que nos causaram algum mal. Ele nos deu a comu­
nidade de cristãos que nos corrige e anima continuamente.
Duas provisões, muitas vezes ignoradas, são os sacramentos do Batismo 
e da Santa Ceia. Cada uma incorpora todas essas bênçãos em um único ato. 
Elas demonstram a nossa dependência da graça e a nossa dependência um 
do outro para crescermos nessa graça. O Batismo é um sinal que proclama 
o meu relacionamento com Deus e a minha inclusão no povo de Deus. A 
Santa Ce ia nos une ao redor da mesma mesa. E a imagem de uma reunião 
familiar e de uma refeição compartilhada. Essas coisas são mais do que meros 
símbolos: são veículos da graça. Por elas, Deus nos concede sua graça quando 
participamos delas por meio da fé. O nosso erro é que entendemos graça 
como uma libertação dos nossos problemas; na realidade, ela nos capacita 
a perseverarmos em meio a esses problemas. Nós queremos a “graça” do 
alívio, enquanto Deus nos dá a verdadeira graça da capacitação.
Com etem os um erro quando medimos o nosso potencial de lidar 
com dificuldades com o tamanho e a duração do problema. Deveríamos 
medir o nosso potencial de acordo com o tamanho das provisões divinas e a 
promessa de sua eterna presença. Mesmo em meio às maiores dificuldades, 
nunca ficamos sem recursos. Nunca estamos sozinhos. Essa é uma forma 
profunda e radical de pensar sobre relacionamentos. Nossos problemas têm 
tudo a ver com o pecado, e o nosso potencial tem tudo a ver com Cristo. O 
propósito deste livro é lembrar ambos esses fatos. O pecado é uma realidade 
sempre presente, mas não é rival para Jesus Cristo. Esperamos que você 
se torne mais realista (e menos temeroso) em relação às dificuldades dos 
relacionamentos e que, ao mesmo tempo, adquira uma compreensão mais 
esperançosa da graça que Deus lhe concede para essa luta.
Shane e Kristin receberam essa graça para a sua luta. Quando decidiram 
buscar ajuda, foi difícil no início. Foi devastador te r que ouvir o outro falar 
sobre suas mágoas. Foi desanimador te r que reconhecer o quanto e quão 
rápido eles tinham se afastado um do outro. Mas quando encararam essas 
realidades, eles também viram algo diferente. Eles começaram a ver Deus
- não em algum ponto distante, mas logo ali ao seu lado, em meio as suas 
dificuldades. A o passo que começaram a confiar nele, eles encontraram a 
coragem para confiarem novamente um no outro. E porque já tinham vi- 
venciado a ajuda de Deus, eles continuaram se aproximando um do outro, 
sabendo que sua ajuda estaria disponível sempre que precisassem dela.
Objetivos pessoais
Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há 
de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a 
um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às 
riquezas.
Mateus 6.24
Ao ler as seguintes afirmações, tente descobrir o objetivo oculto 
que se esconde por trás delas:
“Estou tão feliz por não discutirmos mais como costumávamos. ”
“Eu adoro estar com você. ”
"0 tempo que passo com minha família me dá muito prazer. ”
“Sou tão grato pelos meus amigos."
“Você tem sido tão bom comigo.”
“E muito bom saber que encontrei alguém em quem eu possa 
confiar de verdade.”
“Somos tão parecidos. ”
“E maravilhoso como as nossos personalidades se complementam. ”
“Isso foi muito legal. Vamos nos encontrar de novo. ”
“Temos uma vida sexual incrível."
“Antes de encontrar você, eu estava sozinho. ”
"É maravilhoso nós nos conhecermos há tanto tempo.”
“Temos vivido tantos momentoi bons. ”
“Nós tivemos os nossos problemas, mas sempre conseguimos 
resolvê-los."
4 8 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
Quem não queria poder d izer tudo isso sobre os seus relacionamentos? 
Todas essas coisas são boas. Mas qual é o objetivo oculto em cada uma dessas 
afirmações? E o proveito que a pessoa tira do relacionamento. Esse objetivo 
de felicidade pessoal é muito sedutor para todos nós, pessoas egocêntricas. 
O pecado sempre dirige nossa atenção para aquilo que nos interessa pesso­
almente. E bem possível que a motivação até mesmo dos nossos atos mais 
altruístas seja o proveito que nós tiramos daquela situação.
Um a celebridade rica acaba de doar uma quantia considerável a uma 
causa nobre. Durante uma entrevista, perguntam a ele: “O que o motivou a 
fazer essa doação?” A primeira vista, a doação parece ser um generoso ato 
de bondade. Mas a resposta da celebridade revela outra intenção: “Quando 
me levanto de manhã, eu posso me olhar no espelho e d izer que sou uma 
boa pessoa. E à noite, quando me deito, eu estou em paz comigo mesmo” . 
Sem dúvida alguma, a sua doação trará benefícios para outros, independen­
temente dos motivos dessa celebridade, mas o que estamos tentando dizer 
é que o que parece tão bom, olhando de fora, nem sempre é quando se 
examina mais de perto.
O que as Escrituras têm a d izer sobre relacionamentos é completa­
mente singular. Estes são os dois temas predominantes:
O PODER DO INTERESSE PRÓPRIO CONTINUA A PERSISTIR NO FIEL
Apesar de o poder do pecado te r sido quebrado, o pecado remanes­
cente não está disposto a se entregar sem luta. Isso significa que, enquanto 
você estiver na terra, não conseguirá escapar completamente do poder 
que o interesse próprio tem sobre a sua vida. Continuará presente mesmo 
em seus melhores relacionamentos. De fato, quanto mais gratificante um 
relacionamento for, menos atento você estará aos interesses próprios. As 
doenças mais destrutivas são aquelas que não se manifestam de forma óbvia. 
O mesmo vale para as doenças espirituais.
DEUS TEM UM OBJETIVO PARA OS NOSSOS RELACIONAMENTOS 
QUE É MAIOR DO QUE O NOSSO
A pergunta padrão que deveríamos fazer em cada área da nossa vida é: 
“Quais sãoo propósito e o plano de Deus? Por que ele criou isso?” Quando 
você questiona os seus relacionamentos dessa forma, você começa a ver 
como os objetivos dele são diferentes dos seus. Nós facilmente nos conten­
taríamos com a nossa própria definição de felicidade, enquanto o objetivo 
de Deus é nada menos que transformar-nos à imagem de Cristo. Indepen­
dentemente de estarmos conscientes disso ou não, todos nós temos sonhos
O b jet iv o s pe ss o a is - 4 9
para os nossos relacionamentos e estamos continuamente trabalhando para 
realizá-los. Quão perto está seu sonho do objetivo de Deus?
Neste capítulo, queremos comparar os sonhos que você e Deus têm 
para os seus relacionamentos. Todos nós vivemos em algum ponto entre os 
dois. A melhor coisa que você pode fazer é tornar-se mais consciente sobre 
qual sonho rege a sua vida. Oferecemos a você um modelo que o ajudará a 
avaliar os seus relacionamentos.
U m m a p a p a r a u m o b je t iv o m a io r
O nosso modelo ou mapa é Efésios 4. Enquanto você estiver lendo o 
capítulo, tente descobrir o que ele diz a respeito: I) da luta contra o interesse 
próprio e 2) do objetivo de Deus para seus relacionamentos. Essa passagem 
servirá como ferramenta à qual você poderá recorrer para analisar os tópicos 
relacionais que tratamos neste livro.
Ao refletir sobre essa passagem, lembre-se de Elise, Kurt, Kristin e 
Shane. E aproveite para pensar sobre você também. Por que ficamos com 
raiva? Por que somos impacientes? Por que não conseguimos ser gentis e 
bondosos? Por que guardamos rancor ou tentamos nos vingar? Por que nos 
recusamos a cooperar? Por que dizemos coisas que nunca deveriam sair da 
nossa boca? Por que viramos as costas, cheios de ódio? Por que mentimos 
para alguém ou tentamos manipulá-lo? Por que somos competitivos e inve­
josos? Por que achamos difícil alegrar-nos com a bênção de outra pessoa? 
Fazemos tudo isso por um único motivo: Queremos que a nossa vontade seja 
feita, queremos que ela seja feita do nosso jeito e na hora que nós julgamos 
ser a melhor. Nós nos amamos demais e temos um plano maravilhoso para 
a nossa vida. "temos um sonho. O problema é que o nosso sonho não é o 
sonho do Senhor.
U m c h a m a d o à u n i ã o
Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que 
andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, 
com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, 
suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos 
diligentemente por preservar a unidade do Espírito no 
vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como
5 0 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
também fostes chamados numa só esperança da vossa 
vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um 
só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio 
de todos e está em todos (Ef 4.1-6).
Há dois meses, Josh e Sara se mudaram com seus quatro filhos para uma 
região completamente nova. A expectativa de uma promoção no trabalho, 
uma casa maior e um clima mais gostoso era o assunto do dia. Pouca atenção 
se deu ao impacto espiritual que a mudança poderia causar na família. Na 
internet, fizeram uma rápida pesquisa sobre igrejas na região, mas só depois 
de já terem tomado a decisão de se mudar. Apesar de não haver nada de 
errado com uma mudança ou uma promoção, Josh e Sara estavam sendo 
guiados pelo desejo de um estilo de vida confortável, e não pela vontade de 
Deus. Em seu processo de decisão, deram pouca importância à sua neces­
sidade de fazer parte de um grupo de fiéis onde pudessem investir na vida 
de outros e onde outros fariam o mesmo por eles. N o processo de tomar 
sua decisão, eles ignoraram o objetivo que Deus tinha para as suas vidas e 
o fato de que ele os havia criado para viverem em comunhão.
Após um longo discurso sobre a graça de Deus, em Efésios 4, Paulo 
passa a aplicar essa graça na área de nossos relacionamentos. O primeiro 
versículo nos urge a vivermos uma vida “de modo digno da vocação a que 
fostes chamados” . Você é um recebedor da graça e sua vida deveria refletir 
esse fato. Em termos mais específicos, Paulo diz que ela deve ser revelada 
em nossos relacionamentos dentro do corpo de Cristo. Em outras palavras, 
é impossível levar o Evangelho a sério sem, também, levar seus relaciona­
mentos a sério. Mas nós tendemos a fazer concessões que têm um impacto 
negativo sobre os nossos relacionamentos e nem nos damos conta dessa 
contradição.
Veja o que Paulo acredita e o que ele espera que a graça de Deus ope­
re em nossos relacionamentos. A o ler a seguinte lista, pergunte-se se isso 
reflete o seu modo de pensar sobre seus relacionamentos. Talvez seja útil 
usar a lista para refletir sobre um relacionamento específico.
P r e s e r v e a u n iã o c o m o Es p ír it o
Paulo diz que os nossos relacionamentos com outros cristãos não são 
algo que devemos tomar por certo. Ele diz que devemos preservar - e não 
criar - esses relacionamentos. Se você é cristão, então automaticamente 
você está em um relacionamento com outros cristãos. Vocês estão em 
união um com o outro porque estão unidos com Cristo. Pelo fato do Es­
pírito Santo habitar em vocês, vocês já compartem uma ligação forte que
O b jet iv o s pesso a is - 51
lhes foi concedida pela graça. Esses relacionamentos, portanto, são dádivas 
que precisam ser conservadas com muito cuidado. Ou sou um bom ou um 
mau administrador dessas dádivas. Se eu criar quaisquer obstáculos para 
os meus relacionamentos com outros fiéis, eu estarei desprezando esses 
relacionamentos. Se eu fofocar ou provocar um conflito injusto, eu estarei 
prejudicando a dádiva de Deus. Mas se eu estiver disposto a buscar, perdoar 
e servir, eu estarei demonstrando cuidado por essas dádivas.
Fa ç a t o d o e s f o r ç o p o s s ív e l
Paulo não é ingênuo em relação ao árduo trabalho que os relaciona­
mentos exigem. Ele bem sabe que relacionamentos, mesmo entre pessoas 
que têm o Espírito, não são fáceis. Você já percebeu que os relacionamentos 
passam a ser desagradáveis, insatisfatórios e desinteressantes assim que co­
meçam a exigir algum esforço? Quantos casamentos não sofreram porque 
nem o marido nem a esposa possuíam uma ética de trabalho bíblica para o 
seu relacionamento? Paulo diz que entusiasmo e satisfação são encontrados 
dentro do contexto do trabalho árduo. Mas a maioria de nós desiste ao jul­
gar que o retorno não vale o investimento. Infelizmente, nós costumamos 
fazer o balanço baseado em nossos interesses pessoais e não no chamado 
de Deus.
S e ja h u m il d e , p a c ie n t e , t o l e r a n t e e g e n t il n o a m o r
Paulo lidera com qualidades de caráter que são o oposto daquilo que, 
muitas vezes, move os nossos relacionamentos. É importante notar que, 
antes de serem ações direcionadas a outras pessoas, são qualidades de 
caráter. A humildade nos capacita a ver os nossos próprios pecados antes 
que voltemos a nossa atenção para os pecados e as fraquezas do outro. 
Você exige padrões mais altos dos outros do que de si mesmo? Uma pessoa 
gentil não é fraca, mas sim uma pessoa que usa a sua força para capacitar os 
outros. Um a pessoa gentil sabe usar a sua força sem causar danos àqueles 
que deseja ajudar. As pessoas, com frequência, se sentem magoadas em seu 
relacionamento com você? Uma pessoa paciente dá mais ou igual importância 
às necessidades dos outros que as suas próprias. Ela não persegue objetivos 
egocêntricos. Uma pessoa tolerante é alguém que faz tudo isso, até mesmo 
quando provocada. Em outras palavras, pessoas que são pacientes e toleran­
tes também são humildes e gentis, mesmo quando desafiadas ou quando o 
investimento que fizeram em um relacionamento se transformar em perda. 
Você ama as pessoas dentro dos /imites que foram demarcados pelas suas próprias 
necessidades ou interesses? As outras pessoas acham que precisam estar sempre 
devolvendo algum favor a você para mantê-lo satisfeito com elas?
5 2 - R e la c io n a m e n to s : "U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
Essas qualidades de caráter criam um clima de graça para os relaciona­
mentos. Normalmente, os relacionamentos são regidos por uma estrutura de 
lei, violação e punição. Eu estabeleço regras que você precisa seguir. Eu fico 
de olho para garantir que você cumpra essas regras. Se você não cumprir, 
eu me vejo no direito de estabelecer alguma forma de punição. Isso está 
em contradição flagrante com o Evangelho e impede que a glória e o valor 
da graça de Deus se revelem em seus relacionamentos. E o exato oposto 
daquilo que, segundo Paulo, deve ser a atitude dos recebedores da graça.
HÁ u m Es p ír it o , u m S e n h o r e u m Pa i
Paulo baseia a nossa união na união da Trindade e não na nossa ca­
pacidade de convivermos. Nós conseguimos conviver uns com os outros 
porque o Pai, o Filho e o Espírito nos deram a sua permissão. Podemos dar 
graça porque recebemos graça. Jesus se humilhou. O Pai, com bondade e 
paciência, trabalha na nossa salvação. O Espírito é tolerante e, apesar do 
nosso pecado, permanece conosco, julgando e corrigindo, mas nunca nos 
condenando. O Pai, o Filho e o Espírito foram separados violentamente para 
que pudéssemos ser unidos com eles e uns com os outros.
Esse tipo de integridade relacionai é um chamado difícil, mas o mesmo 
Deus que exige isso de nós é o mesmo que providencia tudo que precisamos 
para cumpri-lo. O que teria acontecido se Josh e Sara tivessem analisado a 
sua possível mudança sob essa perspectiva? O s relacionamentos com outros 
cristãos teriam sido tratados com o prioridade e não reduzidos a uma mera 
reflexão após o fato.
U m a a p r e c ia ç ã o d a d iv e r s id a d e
A graça foi concedida a cada um de nós segundo a 
proporção do dom de Cristo. Por isso, diz:
“Quando ele subiu às alturas, 
levou cativo o cativeiro 
e concedeu dons aos homens. ”
Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia 
descido às regiões inferiores da terra? Aquele que desceu 
é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, 
para encher todas as coisas. E ele mesmo concedeu uns 
para apóstolos, outros para profetas, outros para evan­
gelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao
O b jet iv o s p esso a is - 5 3
aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu 
serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que 
todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimen­
to do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida 
da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais 
sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e 
levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artima­
nha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.
Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo 
naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, 
bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, 
segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu 
próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor 
(Ef 4.7-16).
Pelo fato de estar fundamentada na Trindade, a nossa união também 
nos perm ite celebrar a diversidade no corpo de Cristo. Há um só Deus, mas 
três pessoas. Deus usa a nossa diversidade para alcançar o seu objetivo - o 
nosso crescimento na graça. Diversidade não é um obstáculo, mas sim um 
meio muito significante para esse fim.
A GRAÇA FOI CONCEDIDA A CADA UM DE NÓS SEGUNDO 
A PROPORÇÃO DO DOM DE CRISTO
Dê uma olhada em todas as diferenças que existem entre nós. Temos 
dons diferentes, exercemos funções diferentes no corpo de C risto e nos en­
contramos em variados níveis de maturidade espiritual. Todas essas diferenças 
existem segundo a concessão soberana de Deus. Isto é, Deus nos coloca no 
meio de pessoas diferentes de nós porque ele sabe que isso servirá ao seu 
propósito. Apesar disso, quantas vezes vemos na diversidade um obstáculo 
para bons relacionamentos e para o propósito de Deus?
Pa r a a e d if ic a ç ã o d o c o r p o d e Cr is t o
Reconhecemos o propósito de Deus nos versículos 12-16. Paulo 
não se cansa de repetir que os nossos relacionamentos são preciosos por­
que Deus tem um propósito para eles. Sempre que nós tentamos dar um 
propósito aos nossos relacionamentos, ficamos impacientes, frustrados e 
assumimos uma atitude exploradora. E já que todos nós somos pecadores, 
sempre acabamos frustrando os propósitos da outra pessoa. Essa dinâmica 
começa a revelar por que Deus nos colocou em relacionamentos. O nosso 
propósito é conseguir o que nós queremos, mas o propósito de Deus é
5 4 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
dar-nos aquilo que realmente precisamos. N o final das contas, Deus quer 
que amadureçamos, que sejamos edificados e que paremos de agir como 
crianças. Ele quer que aquilo que reinava no coração de C risto também 
reine em nosso coração.
E aqui que o verdadeiro valor de nossos relacionamentos vai contra 
aquilo que acreditamos normalmente. Acreditamos que as coisas estão indo 
bem apenas quando conseguimos conviver uns com os outros. Mas o que 
Deus está dizendo é que, mesmo quando estamos tendo dificuldades com 
outras pessoas, ele está alcançando o seu propósito. Por exemplo, se você 
desistir de fazer ginástica ao prim eiro sinal de cansaço, você está perdendo 
a oportunidade de entrar ainda mais em forma. O s exercícios feitos após o 
ponto de exaustão são os mais eficientes e produtivos para a forma física. 
Essa verdade também se aplica aos relacionamentos. Deus criou os nossos 
relacionamentos para que funcionassem tanto com o diagnose quanto como 
cura. Quando ficamos frustrados e chegamos a ponto de desistir, Deus está 
atuando, mostrando-nos as áreas em que sucumbimos aos nossos objetivos 
egoístas (a diagnose). Ele então usa essa nova consciência para nos ajudar a 
crescer precisamente nessas áreas de dificuldades (a cura). E é sobre isso 
que o resto deste livro falará.
Entramos em relacionamentos por motivos de prazer pessoal, realiza­
ção própria e diversão. Queremos um custo pessoal baixo e um alto retorno 
nos termos que nós definimos. Deus, porém, quer custos pessoais altos e 
um alto retorno definido por ele. E apesar de discordarmos de Deus com 
frequência, o seu plano é melhor. Por trás de todos os nossos conflitos com 
outras pessoas se esconde o conflito mais profundo entre estes dois objeti­
vos: o nosso e o de Deus. Quando Josh e Sara decidiram se mudar, eles não 
levaram em conta nenhum desses aspectos. Trataram os relacionamentos 
com tanta leviandade que acabaram se privando dos principais meios que 
Deus lhes providenciou para se tornarem semelhantes a Cristo. O que 
parecia ser uma inocente e óbvia escolha de progresso na carreira acabou 
sendo um empecilho para o seu crescimento na graça.
A NOSSA LUTA E OS OBJETIVOS DE ÜEUS
Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não 
mais andeis como também andam os gentios, na vai­
dade dos seus próprios pensamentos, 18 obscurecidos 
de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da 
ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, 19
O b jet iv o s p esso a is - 5 5
os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à 
dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de 
impureza.
20 Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, 2 / 
se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, 
segundo é a verdade em Jesus, 22 no sentido de que, 
quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, 
que se corrompe segundo as concupiscências do engano,
23 e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, 24 
e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em 
justiça e retidão procedentes da verdade.
25 Por isso, deixando a mentira, fale cada um a 
verdade com o seu próximo, porque somos membros uns 
dos outros. 26 Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol 
sobre a vossa ira, 21 nem deis lugar ao diabo. 28 Aquele 
que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com 
as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que 
acudir aonecessitado.
29 Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, 
e sim unicamente a que for boa para edificação, con­
forme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que 
ouvem. 30 E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual 
fostes selados para o dia da redenção. 3 1 Longe de vós, 
toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, 
e bem assim toda malícia. 32 Antes, sede uns para com 
os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos 
outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou 
(Ef 4.17-32).
Finalmente, Paulo descreve as características de um relacionamento 
guiado pelos objetivos de Deus. Ele identifica sete tendências do coração 
pecaminoso, que danificam relacionamentos, que obstruem o propósito de 
Deus e que precisam ser combatidos com persistência. Veja se alguma delas 
está presente em seus relacionamentos em casa, no trabalho, na igreja, com 
seus parentes e amigos, ou em sua comunidade.
5 6 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
A inclinação ao comodismo (Vs. 19-24)
O meu comportamento no relacionamento é movido pelos meus 
desejos e não pelo propósito de Deus.
A inclinação à falsidade (v. 25)
Eu estou disposto a manipular a verdade a fim de receber do 
relacionamento aquilo que eu quero.
A inclinação à raiva (vs. 26-27)
Eu quero controlar o relacionamento, dando vazão à raiva ou 
ameaçando você com ela a fim de controlar você.
A inclinação ao egoísmo (v. 28}
Eu quero proteger aquilo que é meu em vez de oferecê-lo a você 
para que lhe possa ser de serviço.
A inclinação à comunicação destrutiva (v. 29-30)
Em vez de usar a minha fala para fazê-lo se sentir melhor e colocá- 
lo numa posição melhor, eu abro a boca para eu me sentir melhor e 
para manter a minha posição no topo.
A inclinação à separação (v. 31)
Eu cedo à tentação de ver você como adversário, e não como 
companheiro, nas dificuldades do relacionamento.
A inclinação ao espírito rancoroso (v. 32)
Eu quero que os outros paguem pelos erros que cometeram 
contra mim.
Todos nós somos tentados por essas inclinações. Mesmo como crentes, 
não somos imunes. Paulo está se dirigindo aos cristãos porque ele acredita 
que essas áreas de dificuldades serão cruciais. A notícia maravilhosa dessa 
passagem é que ela promete graça para cada uma dessas áreas. Um dos 
primeiros momentos em que vivenciamos a evidência da graça de Deus em 
nossa vida pessoal é quando entendemos que relacionamentos exigem muito 
trabalho. Em vez de evitar as dificuldades, nós nos dispomos a enfrentá-las 
porque começamos a entender que é aí que Deus está presente e ativo. Nós 
nos aproximamos dos outros em vez de afastar-nos deles e começamos a 
vivenciar o seguinte:
O quanto o plano de Deus é mais sábio do que o plano que nós 
temos para a nossa vida (vs. 19-24).
0 poder transformador da honestidade (v. 25).
Os benefícios remediadores da gentileza, paciência e do amor 
(vs. 26-27).
A alegria de estar a serviço das necessidades de outra pessoa 
(v. 28).
O b jet iv o s pesso a is - 5 7
O valor de uma comunicação amável e construtiva (vs. 29-30).
A beleza da união funcional em um relacionamento (v. 31).
A liberdade em praticar o perdão (v. 32).
Qual é a visão de relacionamentos que a Bíblia está pintando para nós? 
De acordo com Efésios 4, as alegrias mais sublimes nascem no solo das 
mais profundas dificuldades. Antes de serem obstáculos, as dificuldades são 
instrumentos nas mãos de Deus. Cada luta é uma oportunidade para você 
experimentar a graça de Deus e compartilhá-la com a outra pessoa. Pense 
em seus relacionamentos. Quais são os mais significantes? Não são aqueles 
que sobreviveram ao tempo e passaram por dificuldades excruciantes? Se 
você analisar o seu caráter, você verá que o maior crescimento foi resultado 
de grande estresse e aflição.
Ao term inar a leitura deste capítulo, seja sincero. O que você quer dos 
seus relacionamentos? O que você quer que Deus realize nesses relaciona­
mentos? Você se contentará com conforto, aprovação, facilidade e felicidade? 
O u está disposto a aceitar o desafio da visão bíblica sobre relacionamentos, 
revelada em Efésios 4? A sua santificação está em jogo, dependendo de como 
você responde a essa pergunta.
A cada dia, você corre atrás de um desses planos em seus relaciona­
mentos, impulsionado por um destes dois objetivos: o seu ou o de Deus. O 
plano que você segue determina cada reação a tudo que você vivência em 
cada um dos seus relacionamentos.
O restante deste livro é sobre trabalho árduo, mas é o mais valioso 
trabalho que você fará. Se você crescer em tudo isso, as bênçãos serão 
evidentes. A sua vida e os seus relacionamentos vão melhorar de muitas 
maneiras, mas eles também se tornarão mais complicados e mais caóticos. 
Por isso você reconhecerá ainda mais a sua dependência da graça de Deus. 
Essa é a parte mais emocionante.
Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com 
ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de 
Deus. De uma só boca procede bênção e maldição. Meus 
irmãos, não é conveniente que estas coisas sejam assim.
Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce 
e o que é amargoso? Acaso, meus irmãos, pode a figueira 
produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco fonte de 
água salgada pode dar água doce.
Tiago 3.9-12
Jenna estava obcecada com a opinião que Kelsey tinha dela, e por mais 
que tentasse, ela não conseguia evitar.
constante atenção de Lisa pela limpeza da sua casa estava levando 
Jordan à loucura.
Tamara queria tanto ser bem-sucedida em seu novo emprego que 
pouco tempo sobrava para o seu ainda novo casamento.
Andy sabia que gastava tempo demais falando da imaturidade espiritual 
de Gwen, mas ele não conseguia encontrar um jeito de parar.
Lindsey se irritava com Brandon porque ele tinha tem po para ficar 
tocando violão o dia todo, mas nunca tinha tempo para ler um livro.
"lòny não se importava com a hospitalidade de Celia, mas o fato de ela 
reservar tão pouco tempo para eles como casal o incomodava.
Jason e Seth deixaram de trabalhar juntos após concluírem que eram 
diferentes demais para que pudesse dar certo.
O fato de Melanie parecer tão espiritual sem demonstrar nenhuma 
sensibilidade teológica deixava John aborrecido.
Eram muitas coisas pequenas: o tubo de pasta de dente amassado, o 
papel higiênico que nunca se encontrava no rolo, a manteiga esquecida na
A d o r a ç ã o - 5 9
mesa, e, toda noite, o jornal completamente bagunçado. Essas diferenças 
entre Alfie e Jane deixavam seus nervos à flo r da pele.
Tina estava sentada ao lado de Chris na igreja, pensando que não se ima­
ginava estando naquela igreja todos os domingos após o seu casamento.
Dwayne estava convencido de que tinha se casado com a pessoa mais 
desajeitada que jamais viveu.
Ann estava grata pela sua amizade com Grace, mas tinha certeza de 
que nunca estariam no mesmo nível em termos espirituais.
A LUTA DE CADA UM, A HISTÓRIA DE CADA UM
Você se reconhece nessas lutas? Pense nas pessoas que você encontra 
todo dia. Quais são as situações em que esses relacionamentos se tornam 
difíceis? Existe alguém que você ama, mas que também o leva a loucura? Há 
alguém em sua vida que você gostaria de mudar? Existem momentos em que 
você se sente desligado espiritualmente de uma pessoa que você conhece e 
ama? Há vezes em que a opinião de outra pessoa sobre você se torna impor­
tante demais? Você já se encontrou discutindo sobre coisas sem importância? 
Você já se assustou com a reação de uma pessoa em uma situação específica? 
Você, alguma vez, já pensou que talvez fosse mais fácil ficar sozinho do que 
te r que atravessar o campo minado dos relacionamentos?
Relacionamentos com lutas é a história de cada um. Nenhum de nós ja­
mais teve um relacionamento que fosse completamente livre de dificuldades. 
Todos nós já passamos por momentos em que nos sentimos desencorajados 
pelo esforço que um bom relacionamento exige. Todos nós já sonhamos com 
algum milagre quetornasse esses relacionamentos mais fáceis. Cada um de 
nós já quis te r o poder de mudar outra pessoa - e, de fato, muitos de nós já 
tentamos recriar alguém à nossa própria imagem. Todos nós já permitimos 
que ações e hábitos inconseqüentes nos irritassem, e já argumentamos em 
prol de uma preferência pessoal como se ela fosse um absoluto moral. E 
cada um já tentou assumir o papel do Espírito Santo na vida de outra pessoa, 
querendo provocar mudanças espirituais que só Deus pode operar.
Já falamos um pouco sobre o porquê de nossos relacionamentos serem 
tão difíceis e desgastantes. Mas quais são os fundamentos de um relaciona­
mento saudável e que honre a Deus? Quais são os pensamentos, desejos e 
hábitos diários que fazem com que um relacionamento seja bom? Por que você 
tem certas dificuldades com uma pessoa e outras dificuldades com outra?
Começaremos a analisar essas questões neste capítulo. Ele foi escrito 
sabendo que bons relacionamentos não caem do céu. Bons relacionamentos
6 0 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a p e n a "
são construídos sobre um alicerce sólido. Sem esse alicerce, nenhum esfor­
ço, e não importa quão grande seja, transformará os seus relacionamentos 
naquilo que Deus quer que eles sejam.
A S DUAS PEDRAS ANGULARES
Matt e Rob não conseguiam entender o que a teologia tinha a ver 
com os problemas que enfrentavam ao trabalharem juntos. N o início, seu 
empreendimento comercial tinha sido tão emocionante, mas agora estava 
cheio de conflitos. Ter que tomar uma decisão era horrível e as conversas que 
precisavam te r para chegarem até ela eram piores ainda. Tanto Matt quanto 
Rob tinham a tendência de se sentirem agredidos pessoalmente pelas suas 
diferenças; ambos se sentiam com o se estivessem envolvidos numa eterna 
luta pelo controle da firma. Achavam eles que precisavam de um manual 
de autoajuda para parcerias que lhes ajudaria a se relacionarem um com o 
outro. Eles acreditavam que, se esse tal livro existisse, ele solucionaria seus 
problemas. Mas eles estavam precisando de muito mais do que isso.
Certo dia, eles reconheceram as suas verdadeiras necessidades quando 
estavam estudando a Bíblia. Eles encontraram dois conceitos bíblicos que 
não só lhes ajudaram a diagnosticar aquilo que estava causando os seus 
problemas, mas que também lhes indicava a solução. Este capítulo traça a 
jornada dos dois em seu caminho para a reconciliação.
Bons relacionamentos sempre são construídos sobre as pedras an­
gulares da identidade e da adoração. Essas ideias podem até parecer bem 
distantes das nossas dificuldades diárias, mas nada pode proteger os nossos 
relacionamentos de problemas se não estivermos construindo a nossa co ­
munhão sobre esse alicerce. Muitas vezes, pensamos erroneamente que 
os nossos relacionamentos são difíceis porque, com o uma criança que está 
aprendendo a andar, simplesmente nos faltam as habilidades e a experiência 
para não cairmos. Em parte, isso pode até ser verdade, mas o maior problema 
é o fundamento sobre o qual andamos. Para que os nossos relacionamentos 
possam ser aquilo que Deus projetou para eles, a reconstrução, a reedificação 
e a reconciliação precisam começar com um novo e sólido alicerce.
Esse alicerce não é aquilo que fazemos ou dizemos. Ele começa no 
coração, que é a fonte dos pensamentos e das motivações que, por sua vez, 
determinam o que fazemos e dizemos. O seu coração sempre está com você, 
e, de maneiras profundas, ele molda as suas interações com os outros. Se o 
alicerce do nosso coração fo r sólido e estiver fundamentado na verdade, no 
plano e no propósito de Deus para nós, então seremos capazes de construir
A d o r a ç ã o - 61
relacionamentos saudáveis e que honrem a Deus apesar de sermos pessoas 
falhas que vivem num mundo danificado. Por outro lado, uma comunidade 
danificada é sempre resultado de um alicerce danificado.
As duas pedras desse alicerce são identidade e adoração. Quando fala­
mos de identidade, não nos referimos a seu nome, sua data de nascimento, 
nem seu C PF Referimo-nos a com o você se define - quais talentos, quali­
dades, experiências, conquistas, alvos, crenças, relacionamentos e sonhos 
você utiliza para dizer: “ Isto é quem eu sou” . De forma similar, quando 
falamos de adoração, não pensamos apenas na liturgia do culto na sua igreja 
aos domingos de manhã. O que estamos tentando d izer é que, pelo fato de 
você ser humano, sempre há algo pelo qual você vive; sempre existe algum 
desejo, alvo, tesouro, propósito, valor ou anseio que controla o seu coração. 
A Bíblia nos lembra que Deus quer - e merece - ser o núcleo de definição 
de ambas essas coisas.
Quando eu vivo de acordo com a percepção bíblica de quem eu sou 
(identidade) e confio naquilo que Deus é (adoração), eu serei capaz de 
construir um relacionamento saudável com você. Estes não são conceitos 
teológicos abstratos. Estamos falando sobre o conteúdo e o caráter dos 
nossos corações. Esses aspectos fundamentais de identidade e adoração são 
partes inescapáveis da sua natureza humana. O que você acredita e faz em 
relação a essas duas coisas determinará a forma pela qual você conviverá 
com as pessoas que Deus colocou em sua vida. Por isso podemos d izer que 
todos nós vivemos teologia; isto é, o que acreditamos a respeito de Deus e 
nós mesmos é o fundamento para todas as decisões que tomamos, todas 
as ações que iniciamos e todas as palavras que falamos. A teologia que você 
vive é muito mais importante para o seu dia a dia do que a teologia que 
você diz acreditar.
L e m b r a n d o q u e m v o c ê é
Não há com o a questão da identidade não ser importante para o ser 
humano. Deus nos criou como seres racionais que tomam decisões basea­
das no modo com o interpretam a vida. Um a das formas mais importantes 
de com o tentamos ver sentido na nossa vida é contando-nos quem somos.
Todos nós temos um “ Eu s o u ___________________ , portanto eu posso
__________________ ” jeito de viver. N o plano de Deus, essa busca pela
identidade pessoal tem o propósito de nos levar de volta ao C riador para 
que encontremos nosso sentido e propósito nele.
6 2 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
A identidade que eu atribuo a mim mesmo sempre refletirá na forma 
com a qual eu respondo a você. Por exemplo, se eu disser a mim mesmo 
que sou mais inteligente do que você, dificilmente aceitarei um conselho 
seu. Se eu disser a mim mesmo que eu mereço o seu respeito, eu ficarei de 
olho para ver se você está me dando o que eu acho que mereço. Em formas 
como essas, a minha percepção de identidade sempre determinará a forma 
como eu penso sobre a minha vida e os meus relacionamentos. Era isso o 
que estava acontecendo com Matt e Rob, mas eles não sabiam.
Rob baseou sua identidade em sucesso e conquistas, mas o tempo todo 
achava que Matt estava obstruindo o seu caminho. Matt se identificava com
o respeito e a aceitação das pessoas a sua volta; todo e qualquer desenten­
dimento com Rob, ele levava para o lado pessoal. Já dá para perceber como 
a questão da identidade complicava esse relacionamento.
Um a grande parte da história bíblica trata de identidade. Ela revela 
tanto as reações erradas que resultam do esquecimento da nossa identidade 
quanto as respostas divinas que surgem quando nos lembramos dela. Adão 
e Eva deram ouvidos à serpente, acreditaram em suas mentiras e comeram 
do fruto proib ido porque se esqueceram da sua identidade verdadeira - a 
identidade que Deus lhes dera. Não cabia a eles tom ar uma decisão inde­
pendente. Eles eram criaturas de Deus, feitas para viver dentro dos limites 
que Deus determinara para eles.
A o passo em que a história da Bíblia prossegue, os resultados de tal 
esquecimento são repetidos continuamente. Em vez de confiarem em 
Deus, Sara e Abraão tramaram a sua própria solução para que a promessa 
de Deus fosse cumprida. Se você aceitar a sua identidade como filho de 
Deus e, consequentemente,um herdeiro das suas promessas, então poderá 
descansar enquanto espera que ele cumpra a sua promessa em seu devido 
tempo. O s filhos de Israel se esqueceram da sua identidade como filhos do 
Deus Tòdo-Poderoso, Rei e Senhor do universo. Assim, passaram a tem er 
as nações vizinhas ao invés de Deus, se casaram com suas filhas e adoraram 
os seus ídolos. O rei Saul se esqueceu da sua identidade verdadeira como 
rei terrestre, representante do verdadeiro Rei celestial, quando confiscou 
para o seu próprio uso os bens saqueados durante a guerra sagrada, em 
vez de oferecê-los a Deus. O s discípulos esqueceram que foram eleitos os 
mordomos do trabalho do reino do Messias e por isso se esconderam de 
medo enquanto o Messias estava enfrentando a morte. Pedro se esqueceu 
de sua identidade com o mensageiro do Evangelho para todas as nações e 
sucumbiu à pressão dos cristãos judeus ao rejeitar seus irmãos gentios.
Há, porém, também muitos exemplos de pessoas que não se esque­
ceram da sua identidade. Moisés atravessou o Mar Vermelho com os filhos
A d o r a ç ã o - 6 3
de Israel, com muros de água se erguendo de ambos os lados, porque ele se 
lembrou de quem ele era: o líder eleito do povo de Deus que podia contar 
com o poder de Deus. Davi corajosamente enfrentou Golias. Sadraque, 
Mesaque e Abednego se recusaram a adorar a imagem dourada de Nabu- 
codonosor, mesmo correndo o risco de serem queimados até a morte. Eles 
se lembraram de quem eram e não tiveram medo das ameaças do rei. Paulo 
e Silas cantaram hinos na prisão de Filipos. Você só consegue fazer isso se 
você se lembrar de que o seu bem-estar e a sua liberdade estão nas mãos 
do Deus lodo-poderoso , que é o seu pai. Grande parte do drama do povo 
de Deus é um drama de identidade.
O que isso tem a ver com relacionamentos? Tudo. Mesmo que nem 
todos esses exemplos falem especificamente sobre relacionamentos, eles 
reiteram um ponto importante. O que você diz a si mesmo que é tem um 
impacto muito poderoso na maneira como você lida com os pequenos e 
grandes problemas do seu dia a dia. Da mesma forma, o que você acreditar 
ser sua identidade tem tudo a ver com o modo como você responde ao 
árduo trabalho nos relacionamentos com outros. Ou eu obtenho minha 
identidade verticalmente (da minha percepção de quem Deus é e quem ele 
me fez em Cristo), ou procurarei obter a minha identidade horizontalmente 
(das minhas circunstâncias, relações e conquistas).
Rob estava extraindo a sua identidade do sucesso da sua empresa; 
isso moldou a forma com o julgava tudo que Matt fazia. Enquanto isso, Matt 
estava recebendo sua identidade por meio da aprovação e estima de Rob,
0 que influenciou a maneira como ele ouvia tudo o que Rob lhe dizia. Rob 
vivia constantemente irritado porque, cada vez que Matt discordava de seus 
planos para a empresa, ele se sentia atacado pessoalmente. E Matt achava 
que não havia nada que ele pudesse fazer para ganhar o respeito de Rob.
Quando vivemos com uma percepção de quem somos em Cristo, 
vivemos a nossa vida baseada em tudo que recebemos por meio de Cristo. 
Assim, não vivemos à procura de receber essas coisas das pessoas e situ­
ações à nossa volta. E por isso que há tantas afirmações sobre identidade 
no Novo Testamento. (Aqui estão algumas poucas: Colossenses 1.2 1 -23,
1 Pedro 2 .9 -12, IJoão 3.1-3, Efésios I -3, Hebreus 10 .19-25.) Grande parte 
das decepções e mágoas que experimentamos resultam das nossas tentativas 
de conseguirmos extrair algo dos relacionamentos que já temos em Cristo. 
Durante os quase trinta anos de aconselhamento, conversei com inúmeras 
mulheres em casamentos difíceis que diziam: “Tudo que eu queria era que 
meu marido me fizesse feliz” . Meu primeiro pensamento, sem exceção, 
sempre foi: Bem, então o coitado está frito.
6 4 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a pena "
Nenhuma pessoa foi criada para ser a fonte de satisfação e felicidade 
pessoal de outra. E nenhum pecador, com certeza, será capaz de realizar 
essa proeza em um relacionamento tão abrangente com o o casamento. 
Sua esposa, seus amigos e seus filhos não podem ser a fonte de sua identi­
dade. Se você buscar sua identidade nesses relacionamentos, você estará, 
de fato, pedindo a um pecador que seja o seu messias, e que ele lhe dê 
aquela tranqüilidade de espírito que só Deus pode dar. Somente quando 
eu buscar a minha identidade no lugar certo (em meu relacionamento com 
Deus) é que eu serei capaz de colocar você no lugar certo também. A o me 
relacionar com você, sabendo que eu sou um filho de Deus e recebedor 
de sua graça, eu serei capaz de servir e amar você. Eu terei a esperança 
e a coragem para sujar as minhas mãos com o trabalho penoso que se faz 
necessário quando dois pecadores vivem juntos. E você será capaz de fazer 
o mesmo comigo.
Se, porém, eu estiver buscando a minha identidade em você, eu pas­
sarei a observar você, a ouvi-lo e a precisar de você em excesso. Eu serei 
um passageiro da montanha-russa dos seus melhores e piores momentos 
e de todos os outros momentos entre esses dois extremos. E pelo fato 
de eu o estar observando muito de perto , eu estarei intensamente ciente 
das suas fraquezas e dos seus fracassos. Eu me transformarei numa pessoa 
exageradamente crítica, frustrada, decepcionada, irada e desiludida. Eu 
ficarei com raiva, não pelo fato de você ser um pecador, mas pelo fato de 
você não te r me dado aquela coisa principal que busquei em você: a minha 
identidade. Mas nenhum de nós conseguirá receber, por meio dos nossos 
relacionamentos, aquele conforto que resulta do conhecimento da nossa 
identidade. Muito pelo contrário, essa busca no lugar errado resultará em 
relacionamentos danificados, cheios de mágoa, frustração e raiva. Matt e Rob 
tinham chegado nesse ponto. Eles chegaram ao ponto de te r pavor de ir ao 
trabalho ou de uma simples conversa. Ambos se sentiam magoados por coisas 
que simplesmente não eram de natureza tão pessoal quanto acreditavam. 
Por quê? Porque estavam tentando encontrar suas identidades por meio de 
coisas que nunca foram projetadas para providenciá-las.
A o lembrar-me de que C risto me deu tudo que necessito para ser a 
pessoa que ele quer que eu seja, eu serei livre para servir e amar você. Ao 
saber quem eu sou, eu serei livre para ser humilde, gentil, paciente, tolerante 
e amável enquanto procuro o meu caminho na inevitável confusão dos rela­
cionamentos. Há indícios em sua vida que indiquem que você esteja buscando 
em seus relacionamentos aquilo que já lhe foi providenciado em Cristo?
A d o r a ç ã o - 6 5
L e m b r a n d o q u e m D e u s é
A adoração é o outro item que está intrinsecamente ligado a quem 
somos com o seres humanos. Não deixe que a palavra adoração o confunda. 
Não estamos falando apenas das atividades religiosas formais praticadas na 
igreja. A adoração, antes de ser uma questão de atividade, é uma questão de 
identidade. Isto é, você e eu somos adoradores, e é por isso que adoramos. 
Nossos corações estão sempre sendo controlados por algo, e aquilo que 
controla seu coração também controla o seu comportamento. Com o Bob 
Dylan escreveu de forma tão certeira: “Você precisa servir a alguém” .
Em Mateus 6, C risto explica que aquilo que adoramos é, também, 
aquilo que nos controla. Ele usa uma palavra maravilhosa para explicar essa 
ligação: “tesouro” . Um tesouro é algo com valor atribuído. Daí a expressão: 
“O que é lixo para um, é tesouro para outro” . Em Mateus 6 .19-24, Cristo 
nos lembra de que todos nós vivemos em função de algum tipo de tesouro. 
O que decidimos ser valioso é o que controla o nosso coração (v. 21). Se 
você prestar atenção em si mesmo, será fácil reconhecer isso. Quando 
você recebe algo que julga ser valioso, você fica feliz e encorajado; quando 
não recebe, fica triste e frustrado. O que C risto está dizendo é que aquilo 
que controla o nosso coração também controla o nosso comportamento 
(v. 24). Se algo for de valor para nós, nóstentaremos consegui-lo por meio 
das situações e dos relacionamentos do nosso dia a dia.
Isso influencia os relacionamentos de muitas maneiras porque, somente 
ao adorar a Deus por quem ele é, eu sou capaz de amá-lo por quem você 
é. Am or e estima verdadeiros por outras pessoas sempre provêm da nossa 
adoração de Deus. Você tem dificuldades em ver a ligação entre os dois? 
Aqui estão três meios para identificar esse vínculo.
Pa r a a m á -l o c o m o d e v o , p r e c is o a d o r a r a D e u s c o m o Cr ia d o r
Eu preciso vê-lo com os olhos de Davi no salmo 139.
... Deus formou o teu interior; 
ele te teceu no seio de sua mãe.
Graças dou a Deus, visto que por modo assombrosa­
mente maravilhoso te formou; 
as suas obras são admiráveis, e eu o sei muito bem.
Os teus ossos não foram encobertos para Deus, 
quando no oculto foste formado e entretecido como 
nas profundezas da terra.
Os seus olhos viram a tua substância ainda informe 
(SI 139.13-16a, adaptado pelos autores).
6 6 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
Que palavras lindas, maravilhosas e importantes! Se eu não reconhecer 
a sábia obra do C riador quando olho para você, isso afetará o modo como 
eu me relaciono com você. Deus quer que eu me lembre de que foram as 
suas mãos que moldaram cada uma das suas partes. A sua atenção nunca se 
desviou, suas mãos nunca escorregaram, ele não cometeu nenhum erro, e 
não houve nenhum acidente. A forma do seu queixo, o seu tamanho, a sua 
personalidade, seus dons intelectuais, suas habilidades físicas, a cor do seu 
cabelo e da sua pele, o tim bre da sua voz, o seu jeito de andar e milhares 
de outras coisas que fazem de você a pessoa que é - todas elas foram feitas 
por um C riador gloriosamente sábio. Você é a criatura que é por causa do 
seu lindo plano.
Apesar da maioria de nós ter afirmado que Deus é o C riador de todas 
as coisas, é muito simples adorá-lo como Criador aos domingos e amaldiçoar 
a sua obra durante a semana. Fazemos isso sempre que ficamos insatisfeitos 
com a maneira como ele criou as pessoas com quem nos relacionamos to ­
dos os dias. Quando deixamos de adorar a Deus com o C riador em nossos 
relacionamentos, tentamos subir ao seu trono e fazer de tudo para recriar 
as pessoas à nossa própria imagem. Isso sempre leva à frustração e ao fra­
casso.
Você secretamente deseja que seu namorado tenha um físico um pouco 
mais atraente? O fato de seu amigo não ser tão intelectual quanto você o 
deixa frustrado? Você está fazendo tudo em seu poder para transformar 
aquela pessoa robótica numa pessoa que se relaciona mais? Você deseja que 
sua esposa tím ida possa ser a alma de uma festa? Você está tentando trans­
formar aquele planejador bem-organizado numa pessoa mais espontânea? 
Você se esforçou ao máximo para transformar aquele le itor assíduo em um 
atleta com o você? Você está frustrado porque uma pessoa chegada a você 
não tem sensibilidade para detalhes, ou não se importa com bagunça, ou 
é extrovertida demais, ou é brincalhona demais para o seu gosto? Você se 
importa com o fato de seu marido ter perdido seu cabelo tão cedo ou de que 
o cabelo de sua esposa ficou branco prematuramente? Você fica frustrado 
porque é tão diferente de uma pessoa próxima a você?
Seja sincero: Você, alguma vez, já tentou recriar alguém à sua semelhan­
ça? Sem que eles tivessem percebido, era exatamente isso que Rob e Matt 
estavam tentando fazer um com o outro. Rob era um visionário que estava 
tentando transformar o seu parceiro, obcecado por detalhes, num sonhador. 
Matt era um administrador que estava tentando recriar Rob à sua imagem 
(pelo bem da empresa, é claro). Isto é bastante previsível: Se eu não aceitar 
a glória de Deus na forma em que ele o criou (inclusive naquilo em que você 
é diferente de mim), eu ficarei frustrado com o que você é, e serei tentado
A d o r a ç ã o - 6 7
a tentar recriá-lo de alguma forma. Shawna sempre lia algo para Mike. Isso 
o levava à loucura. Ela acreditava que se ela continuasse lendo para ele, ele 
aprenderia a amar livros e se transformaria naquele leitor que ela sempre 
queria que ele fosse. A sua falta de vontade de adorar a Deus como Criador 
de M ike resultou numa série de conflitos.
Se eu quiser dar valor a quem você é e usufruir das nossas diferenças, 
eu preciso olhá-lo e reconhecer a sabedoria do Criador. Mas há mais.
Pa r a a m á -l o c o m o d e v o , p r e c is o a d o r a r a D e u s o S o b e r a n o
As palavras de Paulo em A tos 17 podem ajudar em relação a isso:
De um só homem Deus fez todas as nações huma­
nas para que habitassem toda a terra; e ele determinou 
os tempos previamente estabelecidos e os lugares exatos 
para sua moradia (At 17.26, adaptado pelos autores).
Todos nós sabemos que nossas vidas não se desenvolveram conforme 
planejamos. "Iodos nós sabemos que não fomos nós que escrevemos a nossa 
própria história. Paulo diz que a razão disso é que a nossa história foi escrita 
por outro. Deus, de forma específica e pessoal, determinou os detalhes de 
cada pessoa. E por isso que a minha história é diferente da sua. Foi Deus 
quem determ inou com precisão onde cada um de nós deveria nascer, quais 
os pais que deveriam nos criar e qual a cultura em que deveríamos viver. 
A o olhar para você, preciso reconhecer a soberana mão de Deus que está 
escrevendo a sua história de forma perfeita. A pessoa que você é e a sua 
maneira de responder à vida foi moldada pelas escolhas soberanas de Deus 
e pelas suas reações à história que ele escreveu para você. Foi ele quem 
determinou que você fizesse parte dos hábitos e da cultura de um grupo 
étnico específico. Seu plano incluiu que você fosse influenciado por certas 
condições geográficas. Ele determinou que você fizesse parte de uma família 
singular com a poderosa influência de todos os seus valores e regras, fossem 
elas explícitas ou não. E mais, ele determ inou que você se envolvesse em 
relacionamentos e situações fora de sua casa que, por sua vez, também 
exerceriam uma influência poderosa em tudo que você faz. O que é um 
relacionamento? E o lugar onde as histórias de duas pessoas se cruzam. O 
problema é que esse cruzamento é um local de muitos crimes.
Se eu deixar de honrar a soberania que Deus tem sobre as influências 
às quais ele submeteu a sua vida e sobre a forma de como essas influências 
moldaram você, eu tentarei ocupar o lugar de Deus e criar um clone à 
minha imagem. Eu estarei tentado a pensar que o meu jeito é melhor do
6 8 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
que o seu, que minha cultura é melhor do que a sua, que meus hábitos e 
comportamentos são mais adequados do que os seus. Você será uma fonte 
de frustração constante para mim e eu ficarei ainda mais frustrado na minha 
tentativa de refazê-lo à minha imagem. Rob, por exemplo, desejava que Matt 
tivesse sido criado por uma família que sempre procurasse uma visão mais 
profunda das coisas. Matt, por sua vez, desejava que Rob não tivesse sido 
criado por hippies que nunca se preocupavam com os detalhes da vida.
Também em nossos relacionamentos, grande parte da comunicação 
malsucedida, dos conflitos desnecessários e da constante frustração resultam 
das nossas reações às diferenças da outra pessoa. Alguns valorizam a comu­
nhão, outros, a privacidade. Alguns guardam o dinheiro enquanto outros 
acham que o dinheiro foi feito para ser gasto. Alguns estão acostumados a 
sentar-se à mesa com a família para o jantar enquanto outros não acham 
nada de errado em com er um sanduíche às pressas. Nós não somos iguais 
simplesmente porque Deus decidiu escrever histórias diferentes para cada 
um de nós. E ele nos colocou lado a lado porque ele sabe que esse é exa­
tamente o lugar onde precisamos estar para o nosso próprio bem e para 
que possamos cum prir o seu bondoso propósito aqui na terra. Você está 
frustrado com alguém em sua vida? Você esteve tentando remodelá-lopara que 
se encaixasse em suas preferências pessoais?
Pa r a a m á -l o c o m o d e v o , p r e c is o a d o r a r a D e u s 
c o m o Sa l v a d o r
Adorar a Deus como Salvador significa reconhecer que sou um pecador 
que vive em relacionamentos com outros pecadores. Eu não esqueço que 
você ainda está em meio ao processo de redenção divina - assim como eu 
também estou. Ele ainda está te convencendo, ensinando e transformando 
o seu coração. Ele está fielmente operando todas essas coisas em seu melhor 
tem po e da melhor maneira possível. Nunca teremos um relacionamento 
com uma pessoa completa. A divina obra redentora de transformação 
continua na vida de todos nós. Quando eu me esqueço disso, eu me torno 
hipócrita, impaciente, crítico e julgador. Eu cedo à tentação de querer ser 
Deus e de tentar transformá-lo da forma que só Deus pode. Rob e Matt 
estavam simplesmente achando difícil trabalhar com alguém que não era 
perfeito e que, portanto, necessitava da obra transformadora de Deus. 
Matt, por exemplo, não queria continuar trabalhando com alguém que não 
sabia tratar com respeito um parceiro de trabalho. Mas Deus queria que 
essa situação ajudasse ambos a crescerem.
Quando eu deixo de adorar a Deus como Senhor, eu deixo de levar 
a sério o meu próprio pecado e volto a minha atenção para o seu. Muitas
A d o r a ç ã o - 6 9
vezes, nossos relacionamentos sofrem porque tentamos abafar os nossos 
próprios pecados e, ao mesmo tempo, condenamos a outra pessoa pelos 
seus. Quando um pecado é cometido contra você, você sofrerá o impacto 
das fraquezas e dos fracassos dessa outra pessoa. Quando isso acontece, 
você precisa perm itir que Deus te use como instrumento em suas mãos 
redentoras e não querer transformar aquela pessoa por meio dos seus pró­
prios esforços. Só Deus pode fazer essas coisas. Você está tentando operar 
algo na vida de outra pessoa que só o Salvador pode fazer?
O BALANÇO FINAL
Bons relacionamentos estão enraizados em identidade e adoração. 
Somente quando me lembro de quem eu sou e quando adoro a Deus por 
quem ele é, é que eu sou capaz de lhe oferecer um amor paciente, gentil, 
esperançoso e corajoso. A o passo que Matt e Rob começaram a te r uma 
visão mais correta de sua identidade, o seu relacionamento começou a se 
desenvolver numa direção positiva. Rob deixou de se sentir agredido pesso­
almente sempre que Matt não concordava com seus planos para a empresa. 
Matt não se desesperava mais tanto quando Rob não demonstrava respeito. 
Por causa das mudanças que Deus operou no coração de cada um, eles 
conseguiram planejar e trabalhar juntos melhor. Eles continuaram tendo 
que lidar com os mesmos problemas, mas agora conseguiam resolvê-los de 
forma menos conflituosa e mais produtiva.
7 Palavras
Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos ou­
tros, vede que não sejais mutuamente destruídos. 
Gálatas 5.15
Ele se ajoelhou e abraçou sua filhinha, dizendo-lhe palavras tenras 
de conforto. Seu cachorro acabara de arrancar um braço do seu 
ursinho de pelúcia preferido. Ele lhe disse o quanto a amava e que a mamãe 
conseguiria consertar o ursinho com facilidade. Ela enxugou suas lágrimas 
e, quando saiu correndo, o seu sorriso já estava voltando.
Eles estavam sentados no meu escritório, e a raiva que sentiam um pelo 
outro era palpável. Há muito tempo não se falavam de forma civilizada. Tudo 
que falavam agora estava carregado de sarcasmo e nutrido de amargura. 
Utilizavam-se das palavras como pistoleiros, e ambos tinham desenvolvido 
uma ótima mira. Para mim, foi difícil ouvir as coisas horríveis que diziam 
com tanta facilidade. De repente, entendi que nem sempre havia sido assim. 
Houve um tempo em que costumavam trocar palavras carinhosas, confor­
tantes e encorajadoras, em que encontravam prazer em abençoar-se com 
palavras. Mas estes eram tempos passados. Agora, encontravam-se em pé 
de guerra e as armas fumegavam.
Enquanto todo mundo ria da história que jiJitrRaafetowaddftéfitar sobre 
a sua esposa, pude ver uma expressão de dor rrna'00»ÍS£tíd^.BÍl^|áb^!rtha 
visto fazer isso antes. Jim era um contador deétariãdss«i06£èábtâ&árôl>$£^
Pa la v r a s - 71
entreter uma multidão, mas ele nunca contava histórias engraçadas sobre 
si mesmo. Liz sempre era o objeto da piada, e era aparente que ela não 
gostava de estar nesse papel. Mas Jim estava concentrado demais em ser a 
alma da festa para ver a dor que estava causando à sua esposa. Ele estava 
muito concentrado na “diversão” do momento.
A sua amizade era maravilhosa. Eles eram capazes de d izer as coisas 
mais duras um para o outro, coisas que são difíceis de d izer e de ouvir, 
mas as diziam com amor. Evitavam elogios insinceros e críticas cruéis. Não 
atenuavam a verdade, mas diziam o que precisava ser dito da melhor forma 
possível. Eu fiquei impressionado com o enorme respeito que tinham um pelo 
outro, com a facilidade com que sua comunicação fluía e com a disposição 
de cada um para ouvir o que o outro tinha a dizer.
Ele parecia estar sempre procurando uma oportunidade para discordar, 
criticar ou zombar. Quando não estava em silêncio, utilizava-se das palavras 
para magoar. Apesar de ainda ser um adolescente, a sua raiva transformou 
suas palavras num fogo feroz que queimava tudo que encontrava pela frente. 
Ele sabia que palavras podiam ferir e usou esse poder a seu favor. Discutia 
cada aspecto, apontava toda e qualquer fraqueza, zombava de todos e fazia 
mais ameaças do que jamais poderia cumprir. Seus pais e irmãos evitavam 
falar com ele. Era simplesmente fatigante e doloroso demais.
❖
Era uma noite de verão quente nas montanhas da Pensilvânia. Ele estava 
sentado numa roda de o ito garotos inquietos e desvendava-lhes os mistérios 
da graça de Deus com a Bíblia na mão. Escolhia suas palavras com cuidado 
e clareza. Ele parecia saber que aquilo que diria naquela noite tinha o poder 
de mudar as suas vidas para sempre. Nunca perdia a paciência quando os 
garotos ficavam inquietos e nunca se desviava do assunto. Suas palavras 
ressoavam com autoridade, não porque as gritava ou lecionava. As suas 
palavras possuíam a autoridade da graça; ele parecia saber que isso bastava. 
Eu era um daqueles garotos e a minha vida foi transformada para sempre 
por meio das palavras que ele falou naquela noite.
7 2 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
Q u a l é o s e g r e d o d a s p a l a v r a s ?
Sempre que falo sobre palavras, fico frustrado. Todas as palavras que 
usamos para descrever o fenômeno da comunicação me parecem utilitá­
rias demais. “Tivemos uma conversa." “ Eu lhe passei a informação.” “Ele 
me deu outro sermão." “Simplesmente não conseguimos nos comunicar." 
“A discussão foi longa.” “Tomamos o tempo para compartilhar um com o 
outro .” “ N o nosso relacionamento, a troca é insuficiente.” A s palavras pa­
recem não carregar bastante peso. Parecem ordinárias demais. Talvez seja 
porque achamos que comunicação é algo ordinário. Nossa comunicação 
acontece principalmente em momentos irrelevantes do nosso dia a dia, e 
por isso é fácil subestimar a sua importância. São raros os momentos em 
que aquilo que você diz literalmente transforma uma vida. O que determina 
o curso da vida de uma pessoa são as maneiras com que ela responde aos 
momentos insignificantes. O caráter que você desenvolve em milhares 
desses momentos é o caráter que terá quando surgirem os grandes e 
importantes momentos.
A sua comunicação diária influencia a forma, a qualidade e a direção 
dos seus relacionamentos. A cada dia, suas palavras determinam o tom dos 
seus relacionamentos. Cada dia, você comunica às pessoas o que pensa de­
las, o que deseja delas e o que gostaria de apreciar com elas. Mas você não 
faz isso por meio de grandes oratórias. São comentários passageiros, feitos 
no dorm itório quando você se arruma para o trabalho, ou na calçada antes 
de entrar no carro, ou na cozinha enquanto você prepara um sanduíche, 
ou durantea sobremesa naquele bistrô perto de casa, ou na sala durante o 
intervalo para os comerciais.
Pelo fato de as nossas conversas acontecerem no mundo ordinário, é 
fácil esquecer da sua verdadeira importância. E fácil esquecer do impacto das 
nossas palavras em cada um dos nossos relacionamentos. Nunca houve um 
bom relacionamento sem que houvesse, também, uma boa comunicação. 
E nunca houve um relacionamento ruim sem que isso se desse, pelo me­
nos em parte, por algo que foi dito. A nossa capacidade de nos expressar 
verbalmente é tudo menos ordinária. Ela nos remete ao centro daquilo que 
somos como criaturas de Deus e daquilo em que ele, com o nosso Salvador, 
está nos transformando.
Neste capítulo, convidamos você a ouvir as suas próprias palavras e a 
avaliar a forma como elas moldam os seus relacionamentos. E mais do que 
isso, convidamos você a analisar as suas palavras através da lente das Escri­
turas. A Bíblia tem muito a d izer sobre o nosso mundo de palavras. Ela não 
acredita que esse aspecto da vida seja ordinário ou insignificante. Bem pelo
Pa la v r a s - 7 3
contrário. Ela dá às palavras o valor que, de fato, merecem. Este capítulo te 
convida a levar em conta a ajuda transformadora que você pode encontrar 
na pessoa e nas promessas do Senhor Jesus C risto para as dificuldades que 
você tem com as palavras.
A PERSPECTIVA DE DEUS SOBRE AS NOSSAS PALAVRAS
Afinal de contas, qual é a ajuda que a Bíblia oferece em relação às 
palavras? Talvez você esteja pensando: Só sei que não gostaria de ouvir uma 
gravação de tudo que eu disse no mês passado. Seria vergonhoso demais! Ou: 
No meu casamento, parece que a gente não conversa. Quando tentamos, a 
coisa fica feia rápido demais. Ou, talvez: Eu simplesmente não sei o que dizer 
quando a minha amiga abre seu coração comigo; estou sempre procurando as 
palavras certas. Ou: Eu não estou satisfeito com a maneira com que falo com 
meus filhos. Eu tento dizer as coisas certas, mas sempre acabo errando.
A boa notícia é que a Bíblia tem algo prático a dizer para cada uma 
dessas experiências. Ela pode ajudá-lo a diagnosticar em que ponto você se 
encontra com sua fala e com o pode chegar aonde precisa estar. Aqui está 
uma análise das palavras pela lente das Escrituras.
NOSSAS p a l a v r a s t ê m p o d e r
Há um provérb io maravilhoso que Eugene Peterson traduz assim: 
“Palavras matam, palavras dão vida; ou são veneno, ou são fruta - a escolha 
é sua."1 Isso ilustra o poder construtivo e destrutivo que as palavras têm, e 
ao mesmo tem po nos alerta para o fato de que as nossas palavras sempre 
têm direção. O u vão em direção à vida ou em direção à morte. A maior 
destruição que as palavras podem causar é a morte; então, na frase “palavras 
matam” , subsumem-se todas as formas de fala irritada, ofensiva, caluniosa, 
egoísta, amargurada, divisiva e degradante. N a frase “palavras dão vida” , 
subsumem-se todas as formas de comunicação encorajadora, confortante, 
pacífica, edificante, grata, unificadora e amável. As nossas palavras têm poder 
e direção e por isso elas sempre produzem algum tipo de fruto. O u serão 
frutos da vida com o conforto, encorajamento, esperança, compreensão, uni­
dade e alegria, ou frutos da morte como medo, desânimo, falsidade, divisão 
e tristeza. Palavras podem desvendar os mistérios do universo para alguém. 
Palavras podem esmagar o espírito de uma pessoa, elas podem emocionar, 
irritar ou estimular o amor. Palavras têm poder.
7 4 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
A S NOSSAS PALAVRAS PERTENCEM AO SENHOR
Parece óbvio demais para d izer isso, mas Gênesis I não deixa dúvida 
de que as primeiras palavras foram faladas por Deus. A linguagem não é uma 
invenção humana que possa ser usada para servir aos nossos interesses. Se 
Deus foi o primeiro locutor, então a linguagem é criação sua. Isso significa que 
a nossa capacidade de falar nos foi dada pelo C riador e que ela existe para a 
sua glória. Tudo que dizemos pertence a ele e deve ser usado para os seus 
propósitos. Isto é, a função das palavras é sagrada e nobre. São as palavras 
que te separam do resto da criação e que fazem com que você se assemelhe 
mais a Deus do que aos animais. A dádiva das palavras nos chama a viver e 
falar voltados para Deus. Um dos nossos maiores erros na comunicação é 
tratar das palavras com o se fossem nossas e como se pudéssemos usá-las 
como bem entendemos. E isso que o adolescente faz quando zomba do seu 
amigo em público. E isso que o marido faz quando critica sua esposa durante 
o jantar. E isso que os amigos fazem quando fofocam ao telefone. E isso que 
faz o pai crítico e exigente. A o tratarem das palavras como se fossem sua 
própria criação, todos eles estão roubando a glória de Deus.
O MUNDO DAS CONVERSAS É UM MUNDO DE PROBLEMAS
Ninguém diz isso de forma mais poderosa do que Tiago: “Se alguém não 
tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o co rpo” 
(Tiago 3.2b). Quem, com toda sinceridade, pode afirmar que sempre fala 
com boas intenções e de forma apropriada? Quem nunca magoou alguém 
com palavras ou usou palavras por motivos egoístas? Quem nunca usou 
palavras como armas da ira em vez de usá-las com o instrumentos da paz? 
Não recue diante dos problemas. Se você for sincero, você irá adm itir que 
palavras já danificaram seus relacionamentos, tanto quanto já os ajudaram. 
Tiago nos urge a admitirmos que as nossas palavras são os indicadores mais 
poderosos e consistentes da nossa necessidade da graça de Cristo. Tiago 
diz que, se fôssemos perfeitos nessa área, seriamos perfeitos em todas as 
outras também. Então, ouça as suas palavras. Elas não revelam o quanto 
você necessita da graça clemente de Deus? N ós manchamos os nossos 
relacionamentos com palavras irrefletidas e malignas. Somos culpados por 
termos transformado essa dádiva em uma arma. Precisamos de perdão e 
precisamos de ajuda.
OS PROBLEMAS DAS PALAVRAS SÃO PROBLEMAS DO CORAÇÃO
Cristo disse: “O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, 
e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o 
coração" (Lc 6.45, grifado pelos autores). O nosso problema com as palavras
Pa la v r a s - 7 5
não é, em primeira linha, uma questão de vocabulário, de habilidade ou de 
escolha do momento em que dizemos algo. Você, alguma vez, já disse: “Ôpa, 
eu não queria d izer isso!” Muitas vezes, seria mais correto dizer: “Sinto mui­
to por te r dito o que realmente queria dizer!” Se o pensamento, a atitude, 
o desejo, o sentimento ou o propósito não estivessem em seu coração, 
aquilo não teria saído da sua boca. C risto não está dizendo que as pessoas 
nunca falam da boca para fora ou que nunca falam algo estúpido. Todos nós 
já fizemos isso. Mas ele quer que nós sejamos os donos da conexão entre 
os nossos pensamentos, desejos e palavras. O verdadeiro problema da sua 
comunicação é o que você quer d izer e por que você quer dizê-lo; e isso, 
no final das contas, nada tem a ver com suas habilidades lingüísticas. Cristo 
revela que o quê e o porquê são determinados pelo coração. Portanto, se 
quisermos transformar a nossa maneira de falar uns com os outros, nosso 
coração precisa ser transformado primeiro.
U m c o m p r o m is s o r a d i c a l c o m o c h a m a d o d e C r i s t o
Deus tem um propósito para os nossos relacionamentos. Por isso, 
uma comunicação correta não mira extrair dos relacionamentos aquilo que 
nós queremos, mas tem em vista aquilo que Deus está querendo alcançar. 
Paulo expressa isso de maneira poderosa em 2Coríntios 5.20: “De sorte 
que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por 
nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis 
com Deus” (palavra grifada pelos autores). Um embaixador faz uma única 
coisa - ele representa. Sua função é a de personificar um rei que está ausente. 
Cada uma das suas palavras é determinada pelos interesses e pela vontade 
dorei. E exatamente isso que Deus nos chama a fazer. O que dizemos 
deve ser motivado por aquilo que Deus está procurando operar em nós e 
na outra pessoa.
O que é que ele está querendo operar? Paulo expressa isso por meio de 
uma única palavra: reconciliação. O propósito de Deus é que “não vivamos 
mais para nós mesmos, mas para aquete que po r nós m orreu e ressusci­
tou” (2Co 5 .15, adaptado pelos autores). Deus está atuando em todas as 
situações e relacionamentos para reivindicar os nossos corações errantes. 
Ele quer nos transformar em pessoas que estão mais interessadas naquilo 
que ele quer para nós do que naquilo que nós queremos para nós mesmos. 
Ele não recuará antes de nos libertar do nosso objetivo escravizante de 
felicidade pessoal. E ele nos chama para que falemos mantendo em vista o 
seu propósito de reconciliação.
7 6 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f l/ s ã o q u e va le a p e n a "
Infelizmente, perdemos de vista a reconciliação pelos motivos mais 
variados: Você lisonjeia a sua amiga porque quer que ela goste de você. Você 
deixa de falar toda a verdade para evitar um conflito. Você grita com seu 
filho por causa do caos em que se encontra o seu quarto. Você quer te r a 
última palavra. Você fofoca. Você é melhor em apontar as falhas do que em 
pedir perdão. Você usa palavras para magoar alguém em vez de ajudá-lo. A 
sua comunicação permanece firmemente impessoal. As suas palavras fazem 
de você o centro das atenções.
O problema é este: As suas palavras sempre buscam o interesse de 
algum tipo de reino. O u você fala como um minirrei que tenta im por a sua 
vontade nos relacionamentos e nas circunstâncias, ou você fala como um 
embaixador que tenta ser parte daquilo que o Rei está fazendo. A guerra 
de palavras nunca chega ao fim quando dois minirreis discutem um com o 
outro. Quando as nossas palavras refletem os desejos de um coração volta­
do para si e não para a obra reconciliadora de Deus, não haverá fim para a 
nossa luta. Quando usamos as palavras para im por a nossa vontade, em vez 
de nos submetermos à vontade de Deus, mergulharemos em um mar de 
dificuldades. Se desejarmos ser ajudados, é aqui que precisamos começar.
E por isso que Tiago diz que as nossas palavras claramente demonstram 
a nossa necessidade da graça de Deus. Com o pecadores, queremos o que 
queremos quando queremos, e muitas vezes vemos nos outros um obstáculo. 
Tratamos das palavras com o se pertencessem a nós para conseguirmos o 
que nós queremos. Quando nos damos conta de com o é poderoso o nosso 
interesse próprio, somos confrontados com a verdade de que somente uma 
mudança em nosso coração poderá mudar as nossas palavras.
F a l a r c o m o u m e m b a ix a d o r
O que significa comunicar-se como um embaixador? Significa citar as 
Escrituras o tempo todo ou apontar os pecados na vida dos outros o tempo 
todo? Significa que nunca posso falar sobre esportes ou sobre o clima? E 
quanto à necessidade diária de discutir os detalhes de compromissos, res­
ponsabilidades, problemas e planos com as pessoas com quem convivemos? 
Mais uma vez, Paulo nos oferece uma ajuda em Efésios 4.29-30:
Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e 
sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a 
necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem. E
Pa la v r a s - 7 7
não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados 
para o dia da redenção.
Aqui está um modelo maravilhosamente prático para a comunicação 
de um embaixador. Falar com o um embaixador nada tem a ver com o uso 
de palavras bíblicas; significa falar com um propósito bíblico. Se você deseja 
que suas palavras reflitam mais daquilo que Deus quer do que aquilo que 
você quer, você deve levar em consideração três coisas:
Le v e e m c o n s id e r a ç ã o a p e s s o a (" u n ic a m e n t e o q u e f o r b o m
PARA EDIFICAÇÃO")
Comunicação saudável é a comunicação que se concentra no outro. 
Se minhas palavras forem determinadas mais pelos meus do que pelos seus 
interesses, elas perdem seu abrigo contra as dificuldades. Paulo diz que nunca 
devo dizer algo que não seja de ajuda para você. Já que Deus está focado 
em transformá-lo à sua imagem, eu devo falar de maneira que edifique você. 
Então, não importa apenas o que eu digo, mas também com o eu o digo. 
Agora, eu tenho um propósito redentor ao falar sobre qualquer coisa. Eu 
quero que tudo que falamos seja construtivo para fins de redenção, desde 
os detalhes mais mundanos às grandes decisões da vida. Q uero que minhas 
palavras nunca sejam um obstáculo para a obra de Deus. As palavras de um 
embaixador sempre se concentram no outro.
Le v e e m c o n s id e r a ç ã o o p r o b l e m a ("c o n f o r m e a s u a 
n e c e s s id a d e ")
Um embaixador sempre se pergunta: “Qual é o problema neste m o­
mento?” Antes de falar, preciso refletir sobre as dificuldades que você está 
tendo e sobre a sua maior necessidade. Você precisa de encorajamento, con­
solo, esperança, orientação, sabedoria, coragem, repreensão, advertência, 
perdão, paciência, ensinamento, correção, agradecimento, discernimento, 
a descrição de um trabalho ou outra coisa? As minhas palavras devem ser 
moldadas pelas suas necessidades. As palavras de um embaixador sempre se 
dirigem às necessidades verdadeiras da pessoa naquele momento.
Le v e e m c o n s id e r a ç ã o o p r o c e s s o ("q u e p o s s a b e n e f ic ia r 
a o s q u e o u v e m ")
Isso significa que preciso me concentrar na melhor forma de dizer aquilo 
que precisa ser dito. A comunicação do embaixador não diz respeito apenas 
ao conteúdo das nossas palavras, mas também à forma como são faladas. 
Muitas vezes, falamos a coisa certa da forma errada ou na hora errada. Mas o
7 8 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
processo da comunicação precisa ser de igual benefício para a pessoa quanto 
ao conteúdo das palavras. Confrontar um adolescente cinco minutos antes 
de ele ir para a escola não ajuda, mesmo que o conteúdo das suas palavras 
seja correto. Advertir um amigo por causa de uma ofensa na frente de outras 
pessoas não ajuda. Pedir ao marido que pense em com o ele te magoou na 
hora em que ele está tentando dorm ir não ajuda. Um embaixador procura 
dizer a coisa certa da melhor forma possível.
O modelo prático de Paulo para guiar as nossas palavras term ina com 
algo muito interessante: “Não entristeçais o Espírito de Deus” . Quando você 
e eu falamos como minirreis para conseguir o que nós queremos, nossas 
palavras não ajudam e são faladas na hora errada. Não apenas magoamos e 
entristecemos as outras pessoas, com o também entristecemos o Senhor. 
Esse jeito de falar obstrui completamente o que ele está querendo operar 
em e por meio de nós em nossos relacionamentos. E aqui que todos nós 
precisamos lembrar que os nossos relacionamentos foram criados como 
oficinas da redenção, e não com o abrigos para a felicidade humana. Se 
quisermos compartilhar a graça quando falamos, precisamos da graça para 
libertar-nos da nossa própria prisão para que as nossas palavras possam ser 
libertas para o uso de Deus.
N o t a
1 Eugene Peterson, The Message (Colorado Springs, CO: NavPress, 2002), Provérbios 
18.21.
O Obstáculos
Não te deixes vencer do mal, 
mas vence o mal com o bem.
Romanos 12.21
Po r um lado, nunca devemos acreditar que po­
demos depender dos nossos próprios esforços 
para vivermos como pessoas “decentes” , nem mesmo nas 
próximas vinte e quatro horas. Se Deus não nos ajudar, 
nenhum de nós estará a salvo de pelo menos algum tipo 
grosseiro de pecado. Por outro lado, nenhum possível 
grau de santidade ou heroísmo que já foi documentado 
dos maiores santos, está além daquilo que ele, no fim, está 
determinado a operar em cada um de nós. O trabalho não 
será completado nesta vida: Mas ele pretende levar-nos 
o mais longe possível antes da m orte.1
O conflito com outras pessoas é um dos métodosmisteriosos e con- 
traintuitivos que Deus usa para salvar-nos de nós mesmos. Deus o usa para 
nos levar àquele ponto que quer que alcancemos antes da morte. Não es­
tamos acostumados em pensar que provações podem ser usadas de forma 
tão positiva, e, por isso, essa verdade nos pega de surpresa. Mas não deveria. 
Todos os tipos de sofrimento, incluindo o conflito com outros, podem servir 
para a redenção por causa da graça de Deus. Quando falamos em redenção, 
queremos d izer que Deus pode usar o conflito (assim com o tudo na nossa 
vida) para vencer o pecado em nós e tornar-nos mais semelhantes a Cristo, 
com um amor por Ele e pelos outros, que reflita a sua natureza em nós.
8 0 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a pena "
O b j e t i v o s c o n f l i t a n t e s
A escolha, que estava diante de Ashley, parecia óbvia, até bíblica. Ela 
acabara de ser magoada pela sua amiga e estava furiosa, mas o conflito 
vinha se acumulando há anos. Aos poucos, a amizade fora infectada pela 
competição. Ashley odiava o jeito com o as coisas estavam indo, e ela sim­
plesmente queria pôr um ponto final nisso tudo. Agora estava na hora de 
ela abrir a boca.
Durante boa parte de cinco anos, Ashley e Hannah tinham trabalhado 
lado a lado no m inistério entre estudantes. Elas amavam o que faziam e 
amavam fazê-lo juntas. Mas Hannah passara a solapar os relacionamentos 
de Ashley com os estudantes. Ela queria ser vista como a principal e a mais 
capaz. Francamente, o que ela queria era que os estudantes gostassem mais 
dela e a admirassem mais do que a Ashley. Agora, Ashley achava que a situação 
estava fora de controle e, por isso, marcou uma reunião com Hannah.
Ashley deu início à reunião acusando Hannah de falar mal dela com 
alguns estudantes. “ Não posso acreditar que você possa falar desse jeito 
pelas minhas costas! Eu nunca fiz isso com você, e jamais faria.” A mágoa de 
Ashley ferveu a ponto de virar raiva e acusação. Hannah negou tudo. “Não 
acredito que você me acuse de dizer essas coisas para outras pessoas. Pensei 
que nossa amizade fosse mais forte do que isso. Com o você pôde guardar 
esse rancor durante cinco anos? Por que você não veio e falou comigo sobre 
isso antes?”
Enquanto as duas conversavam, a origem do problema começou v ir à 
tona. Certa vez, ao falar com alguém que não tinha muito carinho por Ash­
ley, Hannah fizera um comentário sobre o quanto Ashley era “orientada a 
tarefas” . Disse que, às vezes, era um verdadeiro sacrifício conviver com ela. 
Esse comentário, então, adquirira vida própria ao passo em que fora passado 
adiante para outras pessoas, cada uma acrescentando algo aqui e ali. Depois 
de algum tempo, esse comentário chegou aos ouvidos de Ashley. Àquela 
altura, parecia que Hannah a via com o um demônio orientado a tarefas que 
se aproveitava das pessoas para alcançar os seus alvos no ministério.
Esse pequeno conflito não era apenas uma tempestade em um copo 
d ’água. Ashley e Hannah perseguiam objetivos significantes que acabaram 
causando uma colisão dentro da sua amizade. Hannah insinuara que a mania 
controladora de Ashley não era apenas um aspecto de seu temperamento, 
mas sim um pecado. Tudo bem, seu comentário foi sutil, mas era preme­
ditado e feito com a intenção de deixá-la mal aos olhos daquele estudante 
específico. O que Hannah estava dizendo, era: “ Eu sou melhor que Ashley 
e mereço sua admiração mais do que ela” .
O b s t á c u l o s - 81
E n c a r a n d o o c o n f l it o d e fr e n t e
É inevitável. Se você conviver com outros pecadores, haverá con­
flitos. Quanto mais você se aproximar de alguém, maior será o potencial 
para conflitos. Relacionamentos são custosos, mas evitá-los também é. Se 
você escolher evitá-los, você minimizará os conflitos em sua vida, mas essa 
segurança também tem seu preço. Se você decid ir encarar os conflitos de 
cara, você correrá muitos riscos e a probabilidade de ser magoado é gran­
de, mas também pode ser algo redentor. Qualquer que seja a sua escolha, 
a sua decisão afetará a sua vida. Qual é a sua inclinação? Você tende a fugir 
de conflitos? Você os provoca ou enfrenta o conflito com uma perspectiva 
centrada em Deus?
Se tudo que dissemos até agora neste livro for verdade, há escolhas cer­
tas e escolhas erradas. E se o que dissemos sobre o Deus trino fo r verdade, 
você precisa aproximar-se das pessoas, e não distanciar-se delas. Lembre- 
se, o Pai, o Filho e o Espírito foram separados violentamente quando Jesus 
morreu para que nós pudéssemos nos abraçar, não para que excluíssemos os 
outros da nossa vida. Precisamos estar dispostos a enfrentar conflitos. Deus 
quer que cresçamos, e o conflito é um lugar crucial onde crescimento, muitas 
vezes, acontece. Ele quer fazer de nós pessoas mais semelhantes a Cristo, 
e ele pretende usar outras pessoas para que isso aconteça. Ele quer que 
Ashley e Hannah reflitam a sua própria imagem. Ele as juntou para alcançar 
esse objetivo. Sem dúvida alguma, nem Ashley nem Hannah acreditam que 
Deus tenha feito a escolha certa. E caso você se encontre em um conflito 
neste exato momento, é bem provável que você saiba como elas se sentem. 
Mas uma coisa é verdade: Deus está fazendo hora extra para salvá-lo de 
você mesmo.
C a u s a e c u r a p a r a c o n f l it o s ím p io s
Por que brigamos? Por que temos dificuldades com outras pessoas? 
Por que pelo menos um dos nossos relacionamentos não vem com uma 
etiqueta que diz: “ livre de conflitos”? Algumas pessoas acreditam que o 
casamento serve para isso. Essas pessoas estão prestes a te r uma grande 
surpresa. Na realidade, o casamento é o lugar mais provável para conflitos. 
Mas relacionamentos próximos como o casamento também são os lugares 
mais prováveis para transformações sobrenaturais.
Se você tiver algum problema, o conflito é um bom problema a se ter. 
Por quê? Porque conflitos são problemas que a Bíblia encara sem rodeios. 
Você não precisa ser um erudito especializado em assuntos bíblicos para
8 2 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a ”
encontrar ajuda neles. Tudo o que você precisa é de um coração pronto e 
disposto a ouvir a resposta. Uma das passagens que diagnostica o motivo 
de conflitos e oferece uma cura é encontrada no muito prático livro de 
Tiago.
P e r g u n t a n ° 1: P o r q u e b r ig a m o s u n s c o m o s o u t r o s ?
Boa pergunta. Tiago faz a mesma pergunta. Devemos a ele nossa gra­
tidão por também fornecer a resposta:
De onde procedem guerras e contendas que há entre vós1 De 
onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? Cobiçais e nada 
tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer 
guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque 
pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres (Tiago 4.1-3).
Bem, isso é bastante sucinto. N o te que Tiago diz exatamente o oposto 
daquilo que costumamos d izer numa situação de conflito. Normalmente, 
dizemos algo como: “ Eu fiz isso porque você...” , ou: “ Eu não ficaria com 
tanta raiva se você não...” . A nossa reação típica a um conflito é apontar o 
dedo para o nosso oponente. Sentimo-nos no direito, porque aquela pessoa, 
muitas vezes, fez algo irritante, frustrante ou simplesmente pecaminoso. 
Mas Tiago não nos deixa sair de nossa armadilha tão facilmente. Ele deixa 
bem claro que, mesmo quando alguém comete um pecado contra nós, o 
motivo verdadeiro pelo qual brigamos é que há algo de errado dentro de 
nós. Ele diz: “Será que essas brigas não têm a sua origem nos prazeres que 
travam uma luta dentro de você? Você quer algo que não recebe.” A palavra 
“prazer” que Tiago usa aqui seria melhor traduzida como “prazer egoísta” . 
Nem todos os prazeres são errados. Mas o prazer egoísta é.
C e rto dia, um conflito surgiu na cozinha entre mim e a minha esposa. 
Eu estava colocando a louça na lava-louça enquanto ela preparava o jantar. 
Um acabou atrapalhando o outro e trocamoscomentários sarcásticos. Eu 
disse: “Que chato eu atrapalhar você enquanto coloco a louça na lava-louça!” 
Ela retrucou: “Que chato te atrapalhar enquanto preparo o jantar!” O que 
estava acontecendo? Eu estava tentando term inar uma tarefa e me achava 
um ótim o marido por causa do sacrifício que estava fazendo. Minha esposa 
também estava tentando term inar uma tarefa e se achava uma ótima esposa 
e mãe por causa do seu sacrifício. Am bos os nossos desejos, na superfície, 
eram bons desejos: Eu queria ajudar na cozinha e ela queria servir à família, 
preparando a refeição. Mas esses desejos, rapidamente, deixaram de ser 
bons e se transformaram em desejos egoístas. Eu queria servir, mas só nos
O b s t á c u l o s - 8 3
meus termos e na hora que me agradasse. Minha esposa queria servir, mas 
queria fazê-lo sem ser distraída. O egoísmo se revelou nos nossos comen­
tários hipócritas. Am bos queríamos reconhecimento pelo nosso serviço, e 
quando isso não aconteceu, o conflito surgiu. Separamos o nosso serviço 
tanto da glória de Deus como do bem do outro e o transformamos em algo 
que servisse a nós mesmos: “ Eu vou servir quando eu quiser e quero ser 
reconhecido por isso.”
O que tende a produzir conflitos na sua vida? É o desejo por conforto, 
prazer, reconhecimento, poder, controle ou aceitação? Aqui está a razão pela 
qual coisas boas podem se transformar em “prazeres egoístas” que levam 
ao conflito. (Note, também, que o oposto daquilo que queremos é aquilo 
que tememos.) Essas coisas não são pecaminosas em si mesmas enquanto 
não forem egoístas. Conforto , prazer, reconhecimento, poder, contro le 
ou aceitação podem ser bênçãos a serem usufruídas. Mas elas se tornam 
pecaminosas quando perm itimos que deixem de ser bênçãos e tomem o 
lugar daquele que abençoa. Veja com o as seguintes coisas boas podem se 
transformar em algo pecaminoso:
Conforto . Eu quero, preciso e mereço conforto, e é melhor que 
você não fique no meu caminho quando procuro obtê-lo. Eu tenho 
medo de trabalho árduo.
Prazer. Eu quero, preciso e mereço prazer, e é melhor que você 
forneça isso para mim. Eju tenho medo de dor.
Reconhecim ento. Eu quero, preciso e mereço reconhecimento.
Se não o receber, ficarei completamente abalado. Eu tenho medo de 
ser ignorado.
Poder. Eu quero, preciso e mereço poder, e é melhor que você 
faça o que eu quero. Eu tenho medo de receber ordens.
Contro le . Eu quero, preciso e mereço ter controle, e você sentirá 
a força da minha decepção se criar um caos no meu pequeno universo 
arrumadinho. Eu tenho medo do imprevisto.
Ace itação . Eu quero, preciso e mereço aceitação, e você é o 
responsável por providenciá-la. Eu tenho medo de ser rejeitado.
Você se identifica com alguma delas? Talvez até possa acrescentar algo 
à lista. Tente se lembrar da última vez que entrou em conflito com alguém. 
Qual desejo se corrompeu ao ser dominado pelo egoísmo? Tiago nos diz 
que é esse tipo de coisa que arde debaixo da superfície do conflito. Tanto
8 4 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a p e n a "
Ashley quanto Hannah têm dificuldades nessa área. Qual é o verdadeiro 
problema do seu relacionamento?
Talvez você ache que Hannah não deveria te r falado mal de Ashley 
para outra pessoa. Você também poderia d izer que Ashley, ao ver sua re­
putação manchada, confrontou Hannah de maneira imprópria. Ambas as 
afirmações são corretas, embora os problemas do seu relacionamento sejam 
mais profundos. Para Ashley, não havia nada mais importante do que a sua 
reputação. Para Hannah, o que mais lhe importava era ser reconhecida pelo 
seu ministério. Nenhum desses desejos é ruim em si, mas Hannah e Ashley 
permitiram que eles se transformassem em algo que desejavam mais do 
que a Deus ou o bem do outro. Uma boa reputação e o reconhecimento 
podem ser coisas boas, mas não se dominarem a vida de alguém a ponto de 
não deixarem espaço para outra coisa. Assim que se desviam da glória de 
Deus e das necessidades dos outros, elas se transformam em instrumentos 
da autoglorificação e do interesse próprio. Em outras palavras: A glória de 
Deus e o amor ao próxim o são substituídos pela glória e amor próprios. 
Você consegue ver com o as coisas foram viradas de cabeça para baixo?
P e r g u n t a n ° 2 : 0 q u e , p a r a m im , s e t o r n o u m a is im p o r t a n t e
DO QUE MEU RELACIONAMENTO COM DEUS?
Tiago faz essa pergunta porque quer que reconheçamos a gravidade 
de transformar algo como conforto, prazer, poder, controle, aceitação e 
reconhecimento em desejos egoístas. Se você não reconhecer isso, você não 
crescerá em sua capacidade de lidar com conflitos de forma redentora.
Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga 
de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se 
inimigo de Deus (Tg 4.4).
Quando colocamos algo nas nossas vidas em primeiro lugar que não 
seja Deus, segundo Tiago, nos tornamos amigos demais do mundo e com e­
temos adultério espiritual. Isso é coisa séria. Para Ashley e Hannah, que são 
cristãs em crescimento, o reconhecimento e a reputação se tornaram mais 
importantes do que a glória e a graça de Deus. Somente Deus merece a 
lealdade e atenção delas porque só ele é Deus. Mas elas transformaram uma 
parte da criação em seu melhor amigo e foco primário. Elas se apaixonaram 
por algo além de Deus.
Você vê como esse versículo é severo e encorajador ao mesmo tempo? 
A o nos dizer que somos culpados de adultério, Tiago usa duas metáforas 
para descrever nosso relacionamento com Deus. A imagem do adultério
O b s t á c u l o s - 8 5
significa que somos casados com Deus. Quando diz que somos culpados de 
sermos amigos do mundo, ele dá a entender que o nosso único amigo, por 
direito, é Deus. Para cada um que conhece a Bíblia, isso é maravilhosamente 
chocante. Um Deus absolutamente santo, que não tolera e não pode tolerar 
o pecado, fez de nós a sua noiva e seu amigo por meio da vida, morte e 
ressurreição de Jesus.
Você entende agora como coisas boas e inocentes podem se tornar 
mais importantes para nós do que Deus? Quando eu estava colocando a 
louça na lava-louça, deixei de servir a outra pessoa e passei a servir a mim 
mesmo. Eu estava buscando a minha própria glória e me tornei culpado de 
amor próprio. Quais são as coisas boas e inocentes pelas quais você vive mais 
do que por Deus? Tente se lembrar da última vez em que se irritou com um 
amigo, parceiro, colega de trabalho ou filho sem motivos justos. Pergunte-se: 
O que era mais importante para mim do que a glória de Deus? Qual a bênção 
passageira que você queria receber, mas não obteve? O que você temia 
acontecer se não recebesse o que desejava? Essas perguntas são ótimas para 
quem deseja aprender a lidar com conflitos de maneira sagrada.
P e r g u n t a n ° 3 : 0 q u e D e u s f a z c o m p e s s o a s q u e o a b a n d o n a ­
r a m POR OUTRA COISA?
Imagine um casal casado. Um dos dois parceiros tem uma aventura 
sexual fora do matrimônio. Essa pessoa traiu aquela com quem mantém o 
maior compromisso. Compartilhou com outra a intimidade à qual apenas o 
conjugue tem direito. O que você espera que a esposa traída faça? Acha que 
ela deveria agir como se nada tivesse acontecido? O que seria se a esposa 
traída dissesse: “Ah, deixa isso prá lá”? Você não teria dúvidas se essa pes­
soa realmente se importa com seu casamento? Se a esposa traída estivesse 
interessada no casamento, mesmo que só um pouquinho, você esperaria ver 
algum tipo de ciúme ou raiva por causa da infidelidade do marido, ou não?
É assim com Deus também. Deus não é indiferente quando somos 
infiéis a ele. Ele é um Deus ciumento que se importa profundamente com 
o seu relacionamento conosco. Mesmo quando nos desviamos e acabamos 
nos braços de amantes falsos, ele é instigado a agir em nosso favor. Com o 
vemos nesses versículos surpreendentes, Deus nos persegue para o nosso 
próprio bem:
Ou supondes que em vão afirma a Escritura: E com ciúmeque 
por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós? Antes, ele dá 
maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça 
aos humildes (Tg 4.5-6).
8 6 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
Esses versículos são um pouco difíceis de decifrar, mas aqui está a essên­
cia daquilo que Deus faz quando nós nos desviamos. Quando nos afastamos 
de Deus, o Espírito, que ele derramou sobre nós e que agora vive em nós, 
fica muito preocupado e ciumento. Seria melhor traduzir “ciumento” por 
“zeloso” . A palavra “ciúme” tem conotações negativas, mas pode ser uma 
palavra muito positiva. Assim como a pessoa traída pelo marido, Deus é ze­
loso para fazer tudo o que fo r necessário para reconquistar o afeto do nosso 
coração. Não porque precisasse de nós; ele o faz porque nos ama. Quando 
ele nos persegue e nós retornamos a ele com humildade, ele derrama até 
mais graça sobre nós.
O que você acha que Deus usa para reconquistar o nosso afeto? Ironi­
camente, ele usa outras pessoas. Essa é uma das bênçãos que resultam dos 
conflitos. Ele usa os períodos difíceis nos nossos relacionamentos para que 
vejamos aquilo que, além de Deus, é nossa razão de viver. Veja a pequena 
discussão entre mim e a minha esposa lá na cozinha. A única forma de fa­
zer-me ver que eu, às vezes, servia a outros por motivos de glória e amor 
próprios, foi colocar a minha esposa comigo naquela cozinha. A única forma 
de fazer com que a minha esposa reconhecesse as suas próprias tendências 
pecaminosas foi colocá-la na cozinha comigo. Isso vale para todos os nossos 
relacionamentos. Deus usa outras pessoas para nos salvar da glória e do 
am or próprios de forma misteriosa e contraintuitiva. Por que ele faz isso? 
Porque ele nos ama mais do que nós mesmos nos amamos.
Veja, mais uma vez, Hannah e Ashley. Ambas as mulheres eram cristãs 
em processo de amadurecimento e mesmo assim tinham dificuldades uma 
com a outra em um nível fundamental. Sem Ashley, Hannah não poderia 
reconhecer que ela, muitas vezes, vive em função do reconhecimento do 
seu serviço cristão. O mesmo vale para Ashley. Deus ama as duas, por isso 
ele as juntou para que pudessem ver a si mesmas e crescer em arrependi­
mento e fé. Que pessoa Deus está usando na sua vida dessa forma? Você 
reconhece que o sábio, soberano e m isericordioso Redentor está agindo 
para seu próprio bem quando a colocou em sua vida? Se esse fo r o caso, 
você está crescendo em sua capacidade de lidar com conflitos de maneira 
sagrada. Lembre-se, você não pode evitar conflitos, mas eles podem ser 
motivos para um crescimento maravilhoso.
P e r g u n t a n ° 4 : Um a v e z q u e f o m o s s a l v o s , o q u e d e v e m o s
FAZER?
A resposta para essa pergunta se encontra em Tiago 4 .7 -10. O reco­
nhecimento do amor redentor de Deus deve nos levar a um crescimento na 
alegria da fé e do arrependimento diário. Reconhecer, admitir, confessar e
O b s t á c u l o s - 8 7
rejeitar o pecado (arrependimento) juntamente com reconhecer, aceitar e 
adorar a C risto (fé) é a única dinâmica que pode transformar um provocador 
de guerras em um criador de paz. Estes versículos combinam a realidade de- 
sembriagante do nosso pecado com a promessa transformadora da graça.
Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá 
de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as 
máos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração. 
Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a 
vossa alegria, em tristeza. Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele 
vos exaltará (Tg 4.7-10).
Tiago chama a pessoa que se encontra em conflito para uma guerra 
espiritual. O diabo usa parte da criação para seduzir o seu coração ainda 
pecaminoso e levá-lo para longe de Deus. Ele quer que você se torne vítima 
da glória e do amor próprios. Tiago já disse que você é recebedor da graça 
para que possa se tornar humilde. Ele agora lhe ordena a ser humilde e a 
clamar pela ajuda de Deus. Por meio desse processo, seu coração é trans­
formado, e você começa a ver que sua lealdade a outra coisa que não Deus 
é um assunto sério. A o se arrepender, você experimenta a purificação do 
seu coração e seu comportamento começa a mudar também. A o mesmo 
tempo que você é minimizado pela graça de Deus, ele promete erguê-lo 
novamente. Você está sendo virado de cabeça para cima. Você está colocan­
do a sua vida dentro do círculo maior da graça de Deus e renovando o seu 
am or por ele. De agora em diante, conflitos podem ser sagrados, e coisas 
boas começam a acontecer entre você e as outras pessoas. E com o C. S. 
Lewis diz: Quando você coloca as coisas importantes em prim eiro lugar, o 
que vem em segundo não é diminuído, mas sim aumentado.
Na cozinha, naquela noite, minha esposa e eu experimentamos a graça 
de Deus e mudamos de rumo depois da nossa briga. Em vez de apontarmos 
o dedo para o outro e lutarmos por autoproteção, glória e am or próprios, 
confessamos o nosso pecado, pedimos perdão e continuamos trabalhando 
juntos. Talvez você se pergunte por que eu compartilharia um incidente tão 
insignificante. É porque se não crescermos nesses momentos pequenos, 
não conseguiremos crescer quando tempos mais difíceis vierem. Se Ashley 
e Hannah não conseguirem crescer em seu relacionamento em que há tan­
to amor e compromisso, como é que conseguirão crescer quando forem 
chamadas a amar um inimigo?
8 8 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
E AGORA, À PRÁTICA
Para aplicar o que Tiago 4 ensina, você precisa começar com rela­
cionamentos construídos sobre os fundamentos de comprom isso e amor. 
Dentro desses relacionamentos você pode começar a formar hábitos que 
podem ser aplicados mais tarde em momentos mais difíceis de conflito. 
Com o se lida com conflitos de forma sagrada no calor do momento? Aqui 
estão algumas sugestões.
En t e n d a q u e o c o n f l it o é u m a f o r m a d e D e u s o p e r a r
EM NOSSA VIDA
O conflito pode ser bom. O próprio Deus se empenha em conflitos. O 
fato é que a Bíblia é um livro no qual Deus entra em conflito para nos salvar. 
Ele vem de maneira humilde, na pessoa de Cristo, e luta por nós e contra 
a destruição do pecado. Ele sofre, morre e é ressuscitado como vencedor 
sobre o pecado e a morte. Ele nos incentiva a imitá-lo quando nós entramos 
em conflito com os outros. O conflito sagrado é um ato de compaixão.
Id e n t if iq u e o q u e c a u s a c o n f l it o s p e c a m in o s o s n a s u a v id a
O que tende a atrair a sua lealdade e seu afeto para longe de Deus? 
Seja específico, e não fique surpreso caso cada exemplo de conflito pecami­
noso revele um ídolo diferente na sua vida. Será aceitação, poder, controle, 
reconhecimento, conforto, prazer ou sempre querer ter razão? Esses são 
alguns dos ídolos mais comuns na vida das pessoas.
Id e n t if iq u e a s u a e s t r a t é g ia -p a d r ã o e m c o n f l it o s
A maioria de nós tem uma estratégia-padrão para conseguir o que quer. 
Você gosta de brigar porque gosta de te r razão? Você evita conflitos porque 
não quer que as pessoas discordem de você? Você evita conflitos porque 
você não gosta do desconforto que eles causam?
D e d iq u e -s e a u m a a r t e d e g u e r r a e s p ir it u a l e s p e c íf ic a
E INTELIGENTE
Quando você identifica as razões pelas quais normalmente vive e as 
maneiras de como tenta conseguir o que quer, você pode começar a cres­
cer em arrependimento e fé. Você precisa ser impiedosamente sincero em 
relação ao seu pecado, mas também precisa ser ardentemente esperançoso 
em relação àquilo que C risto fez por você na cruz. Você precisa se lembrar 
de que, pelo fato de te r o Espírito Santo, já tem todos os recursos à sua 
disposição para lutar contra o conflito pecaminoso.
O b s t á c u l o s - 8 9
P e n s e n a o u t r a p e s s o a
A o passo queseu coração é reconquistado pela graça de Deus, per- 
gunte-se com o seria empenhar-se num conflito sagrado. Você precisa ir atrás 
de alguém e confrontá-lo? Você precisa te r paciência e encorajá-lo? Você 
precisa ignorar uma ofensa? Quais são os pecados e as fraquezas que você 
precisa levar em consideração quando decid ir o seu próxim o passo? Em I 
Tessalonicenses, o apóstolo Paulo, com muito amor, encoraja a igreja a em ­
penhar-se em conflitos sagrados uns com os outros. Nos versículos 14 - 18 do 
capítulo 5, Paulo diz que existem diferentes maneiras de confrontar alguém, 
baseadas nas necessidades daquela pessoa e daquilo que a edificará.
£xortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis 
os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os 
fracos e sejais longânimos para com todos. Evitai que al­
guém retribua a outrem mal por mal; pelo contrário, segui 
sempre o bem entre vós e para com todos. Regozijai-vos 
sempre. Orai sem cessar. Em tudo, dai graças, porque 
esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco 
(ITs 5.14-18).
Há uma hora certa para advertir, encorajar e ajudar a pessoa com 
quem estamos em conflito. Somos chamados a sermos sempre pacientes 
e renunciar à vingança.2 O versículo 16 fundamenta esse estilo de vida na 
adoração. Se não estivermos adorando a Deus e colocando-o em primeiro 
lugar, fracassaremos miseravelmente e o que fizermos prejudicará mais do 
que ajudará as outras pessoas.
Fa ç a u m p l a n o p a r a a b o r d a r a p e s s o a
Se você chegar à conclusão de que paciência não resolverá o proble­
ma e que você precisa falar sobre o assunto, aborde a pessoa da seguinte 
forma:
Assuma qualquer pecado pessoal com o qual você tenha contribuído para 
a situação. Faça isso apenas se houver algo a ser assumido. Às vezes, será 
preciso; outras vezes, não. Na maioria dos casos, nós contribuímos com 
algum pecado, então não tenha medo de adm itir se você não conseguiu 
amar de forma apropriada. A sua confiança na retidão de C risto (e não na 
sua própria) é a única coisa que o capacitará a fazer isso.
Fale claramente qual é o problema. Talvez haja mais do que um problema 
que precise ser abordado. Seja específico para que ambos estejam lidando 
com o mesmo problema. Trate de um só problema de cada vez.
9 0 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
Pondere as possíveis soluções. Mantenha o seu foco no problema e ve­
nha com o desejo de lidar com ele. Sugira possíveis soluções alternativas e 
escolha uma a ser realizada.
Realize a soluçáo escolhida por ambos. Seja específico e defina o resul­
tado esperado.
Avalie a realização. Faça um comprom isso para encontrar-se de novo 
para avaliar como a solução está funcionando. Esse comprom isso é uma 
forma de assumir responsabilidade. Ele comunica um compromisso profundo 
com o relacionamento.
Se você ficar preso e a situação não melhorar, esteja disposto a procurar 
ajuda de fora. Juntos, vocês deveriam escolher uma pessoa que acreditem 
ter a capacidade de respeitar ambos os lados do conflito.
Ninguém disse que conflitos seriam divertidos! Mas a vida do cristão 
nem sempre é divertida. Não é isso que mais importa a Deus. Ele está de­
dicado a algo muito maior. O plano do seu reino inclui a restauração total 
daquilo que ele criou. Ele não se contentará com nada menos do que com 
uma criação em que todas as coisas sirvam para a sua glória. N o fim dos 
tempos, ele será o centro de tudo, e quando isso acontecer, nós, também, 
teremos a maior satisfação. N o presente, ele está usando o conflito para 
realizar o seu amplo plano em você. Tenha confiança, pois ele está presente 
em suas dificuldades e ele está lutando em seu favor.
Começamos o capítulo com uma citação de C . S. Lewis. Vamos com- 
pletá-la aqui:
£ por isso que não precisamos ficar surpresos se a situação ficar 
difícil. Quando um homem se volta para Cristo e parece estar pro­
gredindo bem (no sentido de que alguns de seus maus hábitos foram 
corrigidos), ele muitas vezes acha que seria natural se as coisas 
continuassem fáceis assim. Quando surgem problemas - doenças, 
dificuldades financeiras, novos tipos de tentações - ele fica decepcio­
nado. Ele acredita que essas coisas sejam necessárias para despertá- 
lo e fazê-lo arrepender-se em seus antigos e maus tempos; mas por 
que agora? Porque Deus o está forçando a continuar e a subir para 
um nível mais alto, colocando-o em situações em que ele precisa ser 
muito mais corajoso, ou mais paciente, ou mais amável do que ele 
jamais imaginou. Para nós, tudo parece desnecessário, mas apenas 
porque ainda não temos a menor noção do tremendo plano que ele 
tem para nós.
Vejo que preciso emprestar mais uma parábola de George MacDo- 
nald: Imagine que você seja uma casa viva. Deus vem para reconstruir 
essa casa. Talvez, no início, você entenda o que ele está fazendo. Ele
O b s t á c u l o s - 91
conserta a tubulação e tapa os buracos no telhado, e oss/m por diante. 
Você sabia que esses trabalhos precisavam ser feitos e, por isso, não 
está surpreso. Mas agora ele está derrubando partes da casa, causando 
dores terríveis, e não parece fazer o menor sentido. 0 que ele pensa 
que está fazendo? A explicação é que ele está construindo uma casa 
bem diferente daquela que você imaginou - está edificando uma ala 
nova aqui, colocando um piso extra ali, erguendo torres e plantando 
jardins. Você achava que estava sendo transformado numa pequena 
e decente casinha, mas ele está construindo um palácio. Ele mesmo 
pretende vir e morar nele.3
N o t a s
1 C. S. Lewis, Mere Christianity (Nova York: Macmillan, 1943), 173-174.
2 Falaremos mais sobre perdoar os outros no próximo capítulo. Pedir e conceder perdão 
são partes essenciais para redimirmos os nossos relacionamentos. Cometeremos erros, 
mas mesmo assim há esperança.
3 C. S. Lewis, Mere Christianity {Nova York: Macmillan, 1943), 174.
Q Perdão
Apartaste de mim os meus conhecidos e me fizeste 
objeto de abominação para com eles; estou preso e não 
vejo como sair.
Os meus olhos desfalecem de aflição.
Salmo 88.8-9
Grace se sentia traída, e era exatamente isso que tinha acontecido. 
Uns seis meses atrás, seu marido John conhecera alguém pela 
internet; estavam tendo um caso durante os últimos três. Grace descobriu 
quando usou o nome de usuário de John para entrar no computador. Quando 
viu todas aquelas mensagens instantâneas, ficou desolada. O que iria fazer? 
Ela vacilava entre o desejo de vingança e de autoacusação.
❖
Em sua adolescência, Heather foi abusada sexualmente por um dos 
membros da família. Agora, ela estava na faculdade e sofria com sentimentos 
de culpa. Ela mantinha seu cabelo longo porque cobria o seu rosto; assim, 
ela se sentia mais segura. Com o Grace, ela vacilava entre vingança e culpa.
❖
Andy e Melissa estavam casados há vinte anos. Seu casamento era forte 
e continuava crescendo. Mas, alguns dias atrás, Melissa se irritou quando Andy 
voltou tarde do trabalho. Ela fez algum comentário sarcástico - ela nem se 
lembrava do quê. Mas a resposta de Andy foi agressiva, crítica e justificativa. 
Alguns dias mais tarde, a tensão continuava. O pecado se infiltrara em seu 
relacionamento e criara uma barreira entre eles.
P e r d ã o - 9 3
Bill amava seus filhos e queria que crescessem para se tornarem adultos 
firmes na fé. Agora, eram adolescentes e estavam desenvolvendo uma mentali­
dade própria. Certo dia, um filho de Bill, Michael, que estava no quintal, voltou 
para dentro e arrebentou a porta ao entrar. Ele estava com raiva porque seu 
irmão não cumprira a sua promessa de jogar basquete com ele. Bill levantou- 
se imediatamente e gritou com Michael por ter se irritado. “Você tem um 
problema, filho, e não vou tolerar isso por mais tempo. Sua raiva está fora de 
controle! Volte lá para fora e esfrie a cabeça!” Quando Michael ouviu seu pai 
gritar com ele, ele gritou de volta, virou-se de costas e saiu correndo.
T e r r it ó r io f a m il ia r?
O que esses episódios têm em comum? Você se reconhece em algum 
deles? O s primeiros dois são sobre os assuntos sérios de abuso e infideli­
dade. O s outros dois parecem mais comuns. Cada história inclui pessoas 
que pecam e os que sofrem os efeitos do pecado de outros. Esse é um fato 
inevitável quando vivemos entre outros pecadores.
Cada cenário apresenta a necessidade e a oportunidade para praticar 
perdão. Mas, muitas vezes e em situações semelhantes, preferimos acer­
tar as contas ou pretender que ignoramos a ofensa. Quando rejeitamos a 
oportunidade para perdoar ou para pedir perdão, o relacionamento sofre. 
Quando decidimos praticar perdão verdadeiro, o relacionamento não só 
é restaurado ao nível em que se encontrava antes da ofensa; ele, de fato, 
progride além desse ponto em sua jornada à maturidade. Cada um desses 
cenários é diferente em grau, porém não em essência. Em cada um deles 
surgem perguntas: “Com o é que esse relacionamento pode ser restaurado 
e tornar-se mais significante?” 1 “O que aconteceria se eu praticasse o perdão 
nessa situação?” “Com o posso perdoar sem fazer de conta que aquilo que 
ele fez não foi grave?” “Onde posso encontrar o desejo para perdoar ou 
para pedir perdão?” “Afinal de contas, o que é perdão?”
Ninguém vive um só dia sem que tenha de fazer essas perguntas, e 
mesmo assim o perdão é uma das atividades menos praticadas na comunidade 
cristã - isso, se é que é praticada. Eu sei disso pela minha experiência pastoral 
e pessoal. Eu havia sido cristão por vinte anos e estava casado por dez anos 
antes de entender o que significa praticar o perdão com minha esposa. Mas 
a Bíblia fala sobre a prática do perdão com o se fosse algo cotidiano. C . S. 
Lewis dá um belo resumo aqui.
9 4 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a p e n a "
Perdoar as incessantes provocações da vida diária - continuar per­
doando a sogra mandona, o marido briguento, a esposa resmungona, 
a filha egoísta, o filho enganador - como podemos fazê-lo? Somente, 
penso eu, lembrando-nos do nosso próprio mal e das nossas orações 
toda noite quando dizemos: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como 
nós temos perdoado aos nossos devedores”. 0 perdão nos é oferecido 
somente nesses termos. Recusá-lo significa recusar a misericórdia de 
Deus para conosco. Não há o menor indício de que exista alguma 
exceção, e Deus está falando sério.2
O Pai Nosso nos ordena a orar “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim 
com o nós temos perdoado aos nossos devedores” logo após nos instruir 
a orar pelo pão nosso de cada dia. Praticar o perdão é algo que devemos 
fazer diariamente, assim como pedimos pelo fornecimento diário de comida. 
Faz parte do nosso cotidiano, e não é algo que deve ser reservado para os 
pecados e eventos “grandes” da vida. Deixe-me dar um exemplo. Eu tive 
a oportunidade de conhecer centenas de casais que estavam à procura de 
ajuda para o seu casamento. Um dos problemas mais comuns é conceder 
e receber perdão. Conheci casais que estavam casados há vinte anos, mas 
nenhum deles, em momento algum, havia admitido algum pecado e pedido 
perdão com toda sinceridade. Com o isso é possível? A Bíblia é um livro so­
bre um Deus que perdoa; e aqueles que receberam perdão são chamados a 
serem pessoas que praticam o perdão. Porém, muito pouco do perdão que 
se recebe é traduzido em perdão que se oferece. Precisamos de ajuda! As 
pessoas do início deste capítulo precisam de ajuda, e você também.
O r i e n t a ç ã o a o l o n g o d a j o r n a d a d o p e r d ã o
Por que não perdoamos? Por que o perdão não é praticado com maior 
frequência em igrejas, famílias e relacionamentos cristãos? O perdão não é 
praticado porque não entendemos o que é, mas as Escrituras não nos deixam 
na dúvida quanto a essa prática vital. Em Mateus 18 .2 1 -35, Jesus conta uma 
parábola. Com o é o caso de muitas parábolas, esta também é poderosa e 
imprevisível. Você raramente antecipa a força que ela tem - e não espera 
que essa força seja dirigida a você. Mas, muitas vezes, as parábolas de Jesus 
se aproximam cautelosamente e nos surpreendem, apontando as nossas 
próprias falhas e a nossa própria necessidade da graça. Esta parábola não é 
nenhuma exceção.
P e r d ã o - 9 5
A essa altura, Pedro criou coragem e perguntou: “Senhor, quantas 
vezes devo perdoar a um irmão ou uma irmã que me magoou? Sete 
vezes?"
Jesus respondeu: “Sete vezes? Dificilmente. Tente setenta vezes 
sete.
“0 reino de Deus é semelhante a um rei que resolveu acertar as 
contas com os seus servos. E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um 
que acumulara uma dívida de cem mil dólares. Não tendo ele, porém, 
com que pagar, ordenou o senhor que fossem vendidos no mercado de 
escravos ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía.
“Então o coitado se jogou aos pés do rei e implorou: 'Dê-me uma 
chance e lhe pagarei tudo’. 0 rei, comovido pelo apelo, mandou-o 
embora e perdoou-lhe a dívida.
0 servo mal terminara de sair da sala quando encontrou um dos 
seus conservos que lhe devia dez dólares. Agarrando-o pela garganta, 
exigiu: ‘Me pague o que me deve. Já!’
Então, o coitado se jogou aos seus pés e implorou: ‘Dê-me uma 
chance e lhe pagarei tudo’. Ele, entretanto, não aceitou. Antes, man­
dou prendê-lo e jogá-lo na prisão, até que saldasse a dívida. Quando os 
outros servos viram o que estava acontecendo, ficaram muito agitados 
e foram relatar ao rei detalhadamente tudo que acontecera.
Então, o rei chamou o homem e disse: ‘Servo malvado! Perdoei- 
lhe toda aquela dívida quando você apelou à minha compaixão. Não 
devia você, igualmente, compadecer-se do seu conservo, que também 
pediu por misericórdia?’ 0 rei estava furioso e o entregou ao carrasco, 
até que lhe pagasse toda a dívida. E é exatamente isso que o meu Pai 
celestial fará com cada um de vocês que não perdoar incondicional­
mente àquele que pedir por misericórdia.3
Essa história revela verdades impactantes sobre a natureza do perdão, 
mas ela também nos permite olhar de relance sobre o motivo que deveria 
alimentar o nosso desejo de perdoar. Ao analisarmos profundamente essa 
parábola, começaremos a reconhecer o que o perdão é e por que é tão 
importante.
P e r d ã o in c l u i o c a n c e l a m e n t o d e u m a d ív id a
A metáfora do cancelamento de uma dívida define claramente a nature­
za do perdão. O rei misericordioso absorveu uma dívida de 100 mil dólares 
que lhe eram devidos. Quando você perdoa alguém, também cancela uma 
dívida. Mais especificamente, você faz uma escolha consciente de absorver
9 6 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a p e n a "
os custos pessoalmente. Você decide não fazer com que o ofensor pague 
pela ofensa. A o abrir mão do seu direito de arrecadar o que é seu, você faz 
pelo menos três promessas.
Promete que não fará uso da dívida como instrumento de coerção. 
Quando você perdoa, você se compromete a não lembrar ao ofensor toda 
hora daquilo que se fez numa tentativa de controlá-lo, fazendo que pague 
por sua ofensa dessa forma. Isso não significa que você não possa falar sobre
o que aconteceu e lidar com a ofensa de forma redentora. E aqui que entra 
em jogo o conflito sagrado que discutimos no capítulo anterior.
Você promete qüe não falará da ofensa para outros a fim de difamar a 
pessoa que pecou contra você. Isso não significa que você não possa buscar 
a ajuda e o conselho de outros enquanto tenta lidar com a situação; significa, 
porém, que você não difamará a pessoa sob o pretexto de buscar ajuda de 
fora. Você não fofocará sobre aquilo que a pessoa cometeu contra você.
Finalmente, você promete que não ficará remoendo a ofensa. Quando 
alguém peca contra você, um dos seus maiores desafios é não reviver a 
ofensa continuamente, uma e outra vez em sua mente.
A o falhar em perdoar alguém, você quebra essas três promessas. Em 
vez de cancelar a dívida, você não permite que nem o ofensor, nem terceiros 
e nem você mesmo seesqueçam da dívida. O seu desejo de fazer a pessoa 
pagar por aquilo que fez pesa mais que o seu desejo de perdoá-la.
P e r d ã o c u s t a m u it o , m a s n ã o p e r d o a r
CUSTA MAIS AINDA
Não importa de que lado você analise a questão: o perdão tem o seu 
preço. Independentemente do tamanho da ofensa, cancelar uma dívida e 
absorver os custos dói. Mas a parábola nos mostra que não perdoar também 
tem o seu preço, e este é mais alto do que o preço cobrado pelo perdão. 
E nesse ponto que precisamos perm itir que a verdade vença os nossos 
sentimentos, já que, muitas vezes, ficar remoendo uma ofensa nos faz sen­
tir bem. Esse sentimento gostoso, em oposição ao sacrifício exigido pelo 
perdão, não nos deixa ver a conta que acumulamos espiritualmente. Jesus 
não deixa nenhuma dúvida quanto ao fato de que o preço da constante falta 
de vontade para perdoar terá que ser pago por toda a eternidade. Deus lhe 
tratará da mesma forma que você trata os outros. A recusa insistente de 
perdoar é um sinal de que você não experimentou o maravilhoso perdão de 
Deus. Seu comportamento feio revela o estado feio do seu coração. A lém 
disso, apegar-se a uma ofensa fará de você uma pessoa amargurada e incapaz
P e r d ã o - 9 7
de amar, e você, inevitavelmente, causará danos aos seus relacionamentos. 
Independentemente da sua escolha, você terá que pagar um preço. Qual o 
preço que você está disposto a pagar?
A SUA FALHA DE NÃO PERDOAR ALGUÉM TRANSFORMARÁ VOCÊ
N ote o que o servo impiedoso faz após recusar o cancelamento da 
dívida de seu conservo. “Ele agarrou-o pela garganta” (v. 28) e mandou joga­
rem-no na cadeia (v.30). Diante do rei, ele havia sido a vítima de sua própria 
negligência, mas a sua amargura e raiva injustificadas o transformaram em 
um agressor. Você entende como é fácil isso acontecer? Parece tão lógico 
fazer alguém pagar. Nosso senso de justiça rapidamente ultrapassa os limites 
e se transforma em vingança. Talvez você não chegue ao ponto de asfixiar 
alguém, mas talvez você exclua alguém da sua vida. Quando a amargura 
consegue colocar um pé na porta, com o passar do tempo, se a situação 
não for reconhecida e o perdão não fo r concedido, ela toma conta da sua 
vida. E por isso que é tão importante praticar perdão diariamente quando 
uma ofensa é cometida contra você. Se você não começar com as pequenas 
brigas, você perderá as batalhas e, eventualmente, a guerra.
P e r d ã o é u m e v e n t o e u m p r o c e s s o
Quando Pedro pergunta a Jesus quantas vezes ele deve perdoar a uma 
pessoa, ele acha que está sendo bastante generoso ao sugerir sete vezes. 
Mas Jesus repreende Pedro e lhe diz que o perdão não tem limites. Não há 
como fugir das palavras de Jesus, e também não adianta tentar amenizar as 
suas implicações. Esse princípio se aplica a inúmeras ofensas e até mesmo à 
repetição infinita das mesmas. Somos tentados a pensar que, uma vez que 
perdoamos alguém, nos livramos disso. Mas o perdão não é um evento que 
passa a fazer parte do passado. E algo que precisamos continuar a praticar, 
mesmo quando somos forçados a lidar com uma ofensa que já havíamos 
perdoado. Mesmo se eu já lhe perdoei por algo que você fez no passado, 
eu preciso estar alerta para não desenvolver algum tipo de rancor por causa 
disso no futuro. Eu preciso continuar praticando perdão cada vez que vejo 
ou penso em você.
Por que esse processo de perdão é tão importante? Porque você, 
mesmo tendo perdoado a ofensa de alguém, será tentado a lembrar dela 
na próxima vez que o encontre ou que ele cometa outro pecado contra 
você. Sem perceber, você acrescentará esse pecado à lista dos antigos 
pecados daquela pessoa. Assim, conceder perdão a ela se tornará cada vez 
mais difícil.
9 8 - R e la c io n a m e n to s : “ U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
P e r d o a r n ã o s ig n if ic a e s q u e c e r
Muitas vezes, ouvimos alguém d izer que a prova do perdão verdadeiro 
é esquecer o que lhe foi feito. O trecho citado nessas ocasiões é Jeremias 
3 1.34, onde Deus diz: “ Perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados 
jamais me lembrarei” . Alguns acham que esse versículo nos diz como de­
vemos perdoar.
Há, porém, pelo menos dois problemas com essa definição de perdão. 
Primeiro, não é realista. A nossa mente não funciona dessa forma e a nossa 
memória é poderosa. A tentativa de esquecer o que alguém cometeu contra 
você servirá como incentivo para lembrá-lo. E com o se alguém o proibisse 
de não pensar em um elefante cor de rosa. O que você fez no momento 
em que leu a frase? Apagar por completo uma ofensa da sua memória não 
funciona. Segundo, não é bíblico. A passagem em Jeremias não diz que Deus 
sofre de amnésia quando olha para você. O nosso Deus onisciente não 
esquece nada. A palavra “ lembrar” , aqui, não é relacionada à “memória” , 
mas sim à “promessa” , à aliança. Deus promete que, quando confessamos 
nossos pecados, “eu não tratarei vocês do jeito que seus pecados merecem. 
Em vez disso, eu lhes perdoarei.”
E por isso que o perdão é tanto um evento do passado quanto um 
processo que continuará no futuro. E uma promessa que você fez no passa­
do e que cumprirá no futuro. Quando isso é feito, a lembrança de ofensas 
menores normalmente se dissipa. A de ofensas maiores, provavelmente não. 
Grace nunca esquecerá a traição de John. Heather nunca esquecerá que foi 
abusada sexualmente. Melissa e Andy sempre estarão conscientes de que 
pecaram um contra o outro. Michael se lembrará das vezes em que seu pai 
ficou com raiva dele de forma pecaminosa. Mesmo assim, cada uma dessas 
pessoas pode praticar o perdão bíblico. Elas podem fazer uma promessa e 
permanecer fiéis a essa promessa ao longo do tempo.
E muito importante que você entenda essas duas dimensões do perdão. 
Senão vai se desviar em uma de duas direções opostas, sendo que ambas são 
igualmente erradas: I) você será atormentado por dúvidas e se perguntará se, 
de fato, perdoou aquela pessoa, porque você acredita que perdoar é igual a 
esquecer. O u 2) você cederá à amargura sem perceber, porque acha que, já 
que perdoou a alguém no passado, tem o direito de guardar e nutrir alguns 
restos daquela mágoa no presente. Grace, por exemplo, pode estar sofrendo 
porque ela acha que perdoar John significa que ela deveria esquecer o que 
ele lhe fez. O u pode, aos poucos, ficar amargurada porque acredita que fez 
tudo que precisava fazer quando concedeu perdão no passado. Nenhuma 
dessas formas reflete a maneira como Deus perdoa.
P e r d ã o - 9 9
P e r d ã o p o s s u i u m a d im e n s ã o v e r t ic a l e h o r iz o n t a l
A Bíblia apresenta muitos outros apelos para a prática do perdão além 
dessa parábola. Há dois que quase parecem contraditórios: Marcos I 1.25 e 
Lucas 17.3. Marcos 11.25 diz: “Quando estiverdes orando, se tendes algu­
ma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as 
vossas ofensas” . E Lucas 17.3 diz: “Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra 
ti, repreende-o; se e/e se arrepender, perdoa-lhe” (grifado pelos autores). 
Marcos I 1.25 parece estar dizendo que devemos perdoar sem exceção, 
enquanto Lucas 17.3 demonstra que você só deve perdoar se essa pessoa 
se arrepender. Qual desses versículos está certo? Am bos estão.
O s versículos falam sobre dois aspectos diferentes do perdão. Marcos
I 1.25 fala sobre o perdão com o atitude do coração diante de Deus. O 
contexto é a adoração. Quando reflito o pecado de alguém e estou diante 
de Deus, sou chamado a assumir uma atitude de perdão diante da pessoa 
que pecou contra mim. Isso não é negociável. Eu não tenho o direito de 
negar perdão e guardar rancor no meu coração. Lucas 17.3, por outro lado, 
fala sobre perdão como uma transação horizontal entre mim e o ofensor. 
Muitas vezes, isso é chamado de reconciliação. A ênfase de Lucas 17.3 é 
que, enquanto devo te r uma atitude de perdão diante de Deus, eu só posso 
conceder perdão à outra pessoa se ela se arrepender e adm itirte r pecado 
contra mim. Mesmo se ela nunca o fizer, eu sou chamado a manter uma 
atitude de perdão em relação ao ofensor. O aspecto vertical do perdão é 
incondicional, mas o aspecto horizontal depende da admissão de culpa e do 
pedido de perdão por parte do ofensor.
Isso significa que Grace pode d izer a John: “ Diante do Senhor, eu lhe 
perdoei e não farei você pagar por aquilo que fez” . Mas ela só pode con­
ceder perdão a John e procurar a reconciliação se ele adm itir que pecou e 
pedir a ela que lhe perdoe. Nesse ponto, a Bíblia é realística e sutil. Essas 
duas dimensões deixam claro o que o perdão significa. Grace pode desejar 
a reconciliação com John. Ela pode abrir o caminho para a reconciliação as­
sumindo uma atitude de perdão. Mas, no final das contas, ela não pode fazer 
a reconciliação acontecer. Para Grace, o aspecto vertical do perdão nunca é 
opcional, mas ela não tem como fazer a reconciliação acontecer sozinha.
P e r d ã o n ã o s ig n if ic a p a z a q u a l q u e r c u s t o
Isso significa que você simplesmente deve perm itir que as pessoas pe­
quem contra você? As Escrituras falam também sobre essa preocupação. A 
nossa parábola faz parte de uma discussão mais longa sobre a vida no reino 
de Deus. O capítulo 18 de Mateus nos ensina a lidar com os pecados dos 
outros. Mateus 18 .1 -5 ensina que a vida no reino exige humildade para que
1 0 0 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
possamos confrontar alguém de forma sutil com os seus pecados. Mateus 
18.6-9 ensina que a vida no reino exige que levemos o pecado a sério. Não 
podemos escondê-lo debaixo da cama em nossa própria vida ou na vida dos 
outros. Mateus 18.10-14 ensina que a vida no reino exige que devamos ir 
atrás das pessoas que se perderam e se desviaram. Am or verdadeiro requer 
perseguição. A parábola que estudamos ensina que a vida no reino inclui 
um perdão radical. E bem no meio do capítulo (vs. 15-17) você encontra 
instruções específicas sobre com o deve se aproximar de alguém que pecou 
contra você.
Se seu irmão na fé o magoar, vá e fale com ele - resolvam o assunto 
entre vocês dois. Se ele o ouvi, você ganhou um amigo. Se, porém, 
não ouvi-lo, leve contigo uma ou duas pessoas, para que a presença 
de testemunhas garanta que tudo se dê com honestidade, e tente 
novamente. Se, mesmo assim, ele não o ouvir, conte-o à igreja. Se 
ele também se recusar a ouvir a igreja, você deve recomeçar do início 
e confrontá-lo com sua necessidade de arrependimento, e ofereça a 
ele mais uma vez o amor e o perdão de Deus.4
A Bíblia, em momento nenhum, diz: “Facilite para que os outros pe­
quem contra você.” Em vez disso, ela providencia um meio para você lidar 
com o pecado de forma redentora. Romanos 12 .18 diz: “Se possível, quanto 
depender de vós, tende paz com todos os homens” . Paulo nos incentiva a 
buscarmos a paz, mas ele sabe que há limites para quem persegue alguém em 
amor. Quando você alcança esses limites, existem outras opções redentoras 
ao seu alcance. Suas tentativas de amar uma pessoa repetidamente abusiva 
e que não mostra arrependimento, às vezes, incluem confronto e, possivel­
mente, separação. Certas vezes, será necessário pedir ajuda aos líderes da 
igreja. Outras vezes, caberá ao governo intervir em favor do ofendido.
P e d ir e c o n c e d e r p e r d ã o
É vital saber como pedir e conceder perdão. Andy e Melissa adotaram 
um padrão ruim para as situações que necessitam de reconciliação. Quan­
do um dos dois peca contra o outro, o que acontece normalmente é isto: 
“Melissa, sinto muito por você te r ficado magoada quando gritei com você. 
Eu odeio quando isso acontece” . Melissa responde: “Tudo bem, Andy. Acho 
que só estava um pouco cansada após um longo dia de trabalho.”
Se não fosse verdadeira, essa cena poderia até ser engraçada. O que 
foi que Andy acabou de fazer? Ele jogou a culpa pela briga sobre Melissa.
P e r d ã o - 1 0 1
Deu a entender que o problema não era ele te r gritado com ela, mas ela 
ser sensível demais. Melissa responde, assumindo a culpa pelo pecado de 
Andy e desculpando a sua própria reação. N o início de um relacionamento, 
essas coisas podem não importar muito. Mas, no decorrer do tempo, essa 
versão corrompida de pedir e conceder perdão é fatal. Ninguém assume 
responsabilidade por pecado algum e ninguém oferece ou pede perdão.
O que Andy e Melissa deveriam fazer? Se um pecado foi, de fato, co ­
metido, ele precisa ser assumido especificamente pela pessoa que pecou. 
Então, essa pessoa precisa pedir perdão por esse pecado específico. Agora, 
a pessoa ofendida precisa decidir se perdoa ou não. Se não perdoar, Melissa, 
em algum ponto, desenvolverá uma raiva contra Andy e o acusará de nunca 
adm itir seus erros. Andy, provavelmente, fará o mesmo com Melissa. E eles 
estarão certos.
E é assim que deveria ser: “ Melissa, sinto muito por te r gritado com 
você. O que eu fiz foi errado. Você me perdoa?” Dessa vez, Andy foi espe­
cífico e disse qual foi o seu pecado. Agora, seria errado Melissa responder 
dizendo: “Tudo bem” . Por quê? Porque não é bom pecar contra outra 
pessoa. Em vez disso, ela precisa tomar uma decisão: Perdoar ou não? Se 
ela entendesse o perdão que está concedendo, ela diria: “Obrigada pelas 
suas palavras. Sim, eu lhe perdoo” . Caso ela tenha pecado contra Andy, ela 
poderia até acrescentar: “ E você pode me perdoar por te r sido sarcástica 
com você?” Minha esposa e eu amadurecemos espiritualmente ao passo que 
começamos a praticar perdão e a comunicar-nos com clareza e por meio 
de palavras que demonstram humildade, sinceridade e graça.
Claro, é possível usar todas as palavras certas e não ser sincero na­
quilo que se diz. Isso é hipocrisia e nada tem a ver com perdão. Quando 
praticamos perdão, as nossas palavras fluem de um coração humilde que 
realmente sente o que diz.
D e s c u l p a s e p e r d ã o
Existe uma diferença entre pedir desculpas e pedir perdão. Uma des­
culpa é apropriada quando você fez algo sem querer. Por exemplo, se eu, 
acidentalmente, derramar uma xícara de café quente sobre você, eu devo 
dizer: “Sinto muito por te r feito isso” . Também devo fazer todo o possível 
para ajudá-lo na limpeza. Mas suponhamos que eu estava irritado e joguei 
o café em você de propósito. Isso não é um acidente. Isso é um pecado. 
Eu posso até pedir desculpas e d izer que sinto muito, mas também preciso 
assumir que pequei, reconhecer que o que fiz foi errado e pedir perdão.
1 0 2 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
P e r d ã o p e l a g r a ç a
Com o é que Grace poderá perdoar John? Onde Heather encontrará 
a força para perdoar àquele que dela abusou se ele se arrepender? Com o 
é que Andy e Melissa poderão praticar perdão em seu casamento dia após 
dia? Onde é que Michael encontrará o poder para perdoar seu pai pelos 
seus ataques de raiva? Com o é que John chegará ao ponto de confessar os 
seus pecados e pedir perdão a Grace? E pressupondo que isso aconteça, 
onde é que o abusador de Heather encontrará a força para admitir o mal 
que cometeu? Onde é que Melissa, Andy e Bill encontrarão a capacidade 
espiritual para reconhecer seus próprios pecados e pedir perdão? E quanto 
a você?
Uma coisa é obter clareza sobre o que o perdão é e o que não é; e 
é outra coisa completamente diferente praticá-lo. A o ler este capítulo, é 
provável que você tenha pensado em pessoas que pecaram contra você. 
Talvez o apelo para perdoá-los o inquietou. Talvez você também se lembrou 
de alguém contra quem você pecou. Você sabe que precisa pedir perdão a 
essa pessoa. Isso o amedronta? lenha confiança. Esse trecho não está apenas 
repleto de instruções; ele também vibra de esperança e promessa.
O rei na parábola de Jesus absorve a perda de milhares de dólares. Que 
rei generoso! Imagine-se devendo 100.000 dólares ou até mesmo vários 
milhões de dólares em impostos atrasados ao governo. E bem provável que 
vocêtenha de se preparar para passar algum tempo na cadeia. Agora, imagine 
uma pessoa rica que se oferece para quitar suas dívidas e, além disso, dar-lhe 
tanto dinheiro para que você possa viver como um bilionário. Você estaria 
transbordando de gratidão por essa pessoa. Ela sempre estaria presente em 
seus pensamentos, e você provavelmente contaria essa história para todos. 
Com suas novas riquezas, você provavelmente se tornaria uma pessoa muito 
generosa, ajudando às pessoas que se encontram em dificuldades, mesmo 
aquelas que, no passado, tiraram proveito de você. Se você não reagisse 
dessa forma, seu comportamento seria motivo suficiente para questionar 
seriamente a condição da sua alma.
Você está entendendo? O rei da parábola não é nenhum outro senão 
o próprio Rei Jesus. Ele veio para absorver os custos do seu pecado - uma 
dívida em pecados que fazem os milhões de dólares parecerem esmola. Jesus 
veio e derramou seu sangue por você. O Pai tirou do céu seu maior tesouro 
para que você pudesse receber perdão. Leia I Pedro 1.1-9:
Eu, Pedro, sou um apóstolo designado por Jesus, o 
Messias, e escrevo aos exilados espalhados pelo mundo
P e r d ã o - 1 0 3
afora. Não há sequer um só de vocês que falte, não há 
um só que esteja esquecido. Deus guarda cada um de 
vocês e, por meio da obra do Espírito, está determinado a 
mantê-los obedientes por meio do sacrifício de Jesus. Que 
tudo de bom que vem de Deus lhes seja providenciado.
Que Deus é esse que temos! E como somos afortu­
nados por tê-lo, o Pai do nosso Senhor Jesus! Por que Jesus 
foi ressuscitado dos mortos, recebemos uma vida nova e 
completa razão de viver, inclusive um futuro no céu - e o 
futuro começa agora! Deus nos guarda com todo cuidado 
e assegura o nosso futuro. 0 dia virá em que você terá 
tudo - uma vida restaurada e completa.
Bem sei que isso faz vocês se sentirem muito bem, 
mesmo que, no presente, precisem lidar com todo tipo 
de provações. 0 ouro puro colocado à prova pelo fogo sai 
comprovadamente puro; e a f é genuína ao passar por esse 
sofrimento se comprova como verdadeira. Quando Jesus 
finalmente encerrar tudo isso, será a sua fé, e não o seu 
ouro, que Deus deixará como prova da vitória dele.
Vocês nunca o viram, mesmo assim vocês o amam.
Vocês ainda não o veem, mesmo assim vocês confiam 
nele - com alegria e cânticos. Porque não abriram mão 
da sua fé, vocês receberão o que tanto desejam: salvação 
completa.5
Leia esse trecho mais uma vez. Agora, volte e releia outras cinco vezes! 
Durante toda essa semana, leia-o toda manhã quando se levantar. Leia-o 
toda noite antes de dormir. Leia-o e reflita sobre você e aquelas pessoas 
específicas que você precisa perdoar ou a quem você precisa pedir perdão. 
É exatamente isso que Jesus quer que você faça quando ele conta a parábola 
em Mateus 18. Ele quer que você se coloque no lugar do servo impiedoso 
para evitar que cometa o mesmo terrível erro. Essa parábola é uma amável 
advertência.
A o refletir sobre a sua verdadeira identidade em Cristo, você reconhece 
o quão rico é? Esse é o único fundamento para o perdão radical que Jesus quer 
que você pratique. Você só consegue fazer isso pela graça. Você não pode 
ler e re ler I Pedro e Mateus 18 e continuar querendo acabar com alguém. 
Se você é beneficiário da custosa graça de Deus, você precisa praticar essa 
custosa graça com outros.
1 0 4 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a p e n a "
Deixe-me encerrar este capítulo com um exemplo de vida real. Certa 
vez, um oficial turco assaltou e saqueou a casa de um armênio. Matou os 
pais idosos e entregou as suas filhas aos soldados, ficando com a mais velha 
para si. Algum tempo depois, ela conseguiu escapar e se formou com o en­
fermeira. Com o passar do tempo, encontrou trabalho numa guarnição de 
oficiais turcos. Certa noite, à luz de uma lanterna, ela viu o rosto daquele 
oficial. A sua doença era tão grave que, sem cuidados excepcionais, estaria 
entregue à morte. Os dias se passaram e ele se recuperou. Um dia, o médico, 
se aproximando da sua cama com a enfermeira, lhe disse: “Se não fosse a 
devoção dela, você estaria m orto” . Ele olhou para ela e disse: “Nós já nos 
encontramos antes, não é?” “Sim,” ela disse, “nós já nos encontramos” . 
“Por que você não me matou?” Ele perguntou. Ela respondeu: “ Eu sou um 
seguidora daquele que disse: Amai vossos inimigos” .6
Pela maravilhosa graça de Deus, im itemos essa irmã em C risto nas 
nossas vidas e relacionamentos.
N o t a s
1 Quando, porém, um crime é cometido, as coisas, é claro, mudam. Em casos como o da 
Heather, conceder perdão não a impede de prestar queixas criminais.
2 C. S. Lewis, The Weight o f Glory (Nova York: Macmillan, 1947), 125.
3 Eugene Peterson, The Message (Colorado Springs, CO: NavPress, 1993), Mateus 
18.21-35.
4 Ibid., Mateus 18.15-17 (trad. livre).
5 Ibid., 1 Pedro 1.19 (trad. livre).
6 L. Gregory Jones, Embodying Forgiveness: A Theological Analysis (Grand Rapids: 
Eerdmans, 1995), 265-266.
Esperança
Por isso, está longe de nós o juízo, e a justi­
ça não nos alcança; esperamos pela luz, e eis que há 
só trevas; pelo resplendor, mas andamos na escuridão.
Apalpamos as paredes como cegos, sim, como os que não 
têm olhos, andamos apalpando; tropeçamos ao meio-dia 
como nas trevas e entre os robustos somos como mor­
tos. Todos nós bramamos como ursos e gememos como 
pombas; esperamos o juízo, e não o há; a salvação, e ela 
está longe de nós.
Isaías 59.9-11
S
empre é mais difícil viver no meio do caminho de algo do que no 
seu início ou fim. Quando você está no início de algo, você ainda 
está cheio de esperança e potencial. Está entusiasmado com a visão daquilo 
que poderá v ir a ser. N o início de algum projeto, as pessoas tendem a ser 
sonhadoras; querem começar a realizar o seu sonho. N o fim, as pessoas 
tendem a sentir alívio e gratidão e a ter um sentimento de tarefa cumprida. As 
dificuldades ao longo do caminho não parecem mais tão grandes. Parece que 
os sacrifícios valeram a pena, e estão felizes porque o trabalho está feito.
N o meio do caminho, as pessoas normalmente descobrem que o tra­
balho exigido é maior do que esperavam. Fica difícil manter vivo o sonho, 
e, muitas vezes, a expectativa se transforma num simples desejo de sobre­
viver. Em meio ao trabalho duro, é difícil ater-se a altos padrões e manter 
sua esperança viva. Você é tentado a se conformar e a ceder. N o meio do 
caminho, gratidão muitas vezes se transforma em reclamação e esperança 
vira resignação. E duro viver no meio de algo, mas é exatamente aí que todos 
os nossos relacionamentos acontecem. Veja alguns exemplos.
1 0 6 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a pena"
Enquanto o seguia pelo corredor até o meu escritório, vi que ele estava 
cansado. Seus passos eram pesados. O s ombros caídos contavam a história 
de um homem vencido. Ele não precisava d izer que estava desanimado; seu 
corpo dizia tudo. A bomba tinha estourado em suas mãos mais uma vez. Ele 
tinha acabado de se convencer de que deveria criar um pouco de esperança 
quando, na quinta-feira à noite, a sua esposa voltou a repetir todas as suas 
terríveis e raivosas ameaças. Tinham sobrevivido duas semanas sem carni­
ficina. Ele se perm itira pensar que talvez, dessa vez, eles teriam conseguido 
dar outro rumo a seu relacionamento. Veio falar comigo sozinho porque 
ela se recusara a v ir com ele. Mas ele não queria falar comigo. O que ele 
realmente queria era pôr um fim a sua própria dor.
Tudo começou quando os filhos saíram de casa. A té então, eles pare­
ciam estar bem. Claro, eles tinham problemas de comunicação, mas sempre 
pareciam dar um jeito de resolvê-los. Provavelmente houve conflitos em 
excesso entre eles, mas sempre pareciam term inar em perdão. Algumas 
coisas nele deixavam sua esposa muito irritada, mas ele realmente tentara 
melhorar. Ele esperava ansioso pela vida mais simples que iriam ter, uma vez 
que seusdias de cuidar dos filhos fossem coisa do passado. Mas rapidamente 
tudo foi de mal para pior.
Brigavam o tempo todo. Ela suportava cada vez menos a sua companhia, 
e toda vez que ela se aborrecia, ameaçava deixá-lo. N a quinta-feira à noite, 
ela lhe disse que dessa vez estava realmente decidida a ir embora. Ele não 
pôde acreditar. Tentara responder a cada uma de suas reclamações. Eles até 
viajaram juntos e chegaram a curtir o seu passeio. Durante algum tempo, 
após a viagem, a situação parecia te r melhorado. Mas agora tudo estava aos 
pedaços; e ele, simplesmente, exausto.
❖
Am y tinha vinte e nove anos de idade e estava prestes a desistir. Fora 
criada num lar difícil e sempre tivera problemas em se abrir com outras 
pessoas. A inda jovem, aprendera a não mostrar suas cartas e a revelar in­
formações pessoais, apenas com muito cuidado. Mudara para uma cidade 
grande quando recebeu uma ótima oferta de trabalho. Antes de aceitar o 
emprego, ela se dera ao trabalho de procurar uma boa igreja onde poderia 
se envolver. A Grace Church parecia o lugar perfeito. Suas pregações eram 
vibrantes e bíblicas, ela oferecia muitas oportunidades de confraternização e 
ministério e, mais importante, tinha muitos membros da sua idade que eram
Es p e r a n ç a - 1 0 7
jovens profissionais com o ela. Quando visitou a igreja no prim eiro domingo, 
ela parecia se reconhecer em toda parte.
Logo após a sua mudança, Am y descobriu um grupo de estudo bíblico 
perto do seu emprego que se encontrava toda sexta-feira na hora do almoço. 
Esse grupo imediatamente lhe forneceu um meio de conhecer pessoas da 
igreja na sua faixa etária. C om o sempre, ela foi cautelosa e não se abriu de 
primeira. Mas na sua terceira visita, ela se sentou ao lado de Marisa e elas 
começaram a conversar. Não demorou muito e elas se tornaram amigas.
Enquanto isso, as coisas não corriam bem no trabalho. Am y amava o 
seu trabalho e recebia muitos elogios pelo seu desempenho, mas ela tinha 
um grande problema. Sentia-se atraída pelo seu chefe. Ele tinha uma boa 
aparência, era educado, cuidadoso e engraçado. Nunca conhecera um 
homem como ele antes e, apesar de tentar abafar seus sentimentos, eles 
persistiram. Tudo isso eventualmente a levou a um momento de indiscrição 
com seu chefe que deixou Am y arrasada. Ela estava convencida de que o 
que fizera estava errado, de que havia perdido todo o respeito de seu che­
fe e que aquilo talvez até colocasse a sua carreira em risco. Ela sabia que 
precisava falar com alguém. Então, num banco de uma praça no centro da 
cidade, Am y contou tudo a Marisa. A resposta de Marisa a ajudou bastante, 
e ela se sentiu melhor por não ter de carregar todo o peso sozinha.
Mas os bons sentimentos não duraram. Durante um curto telefonema 
com outra amiga, Am y ficou chocada ao saber que Marisa havia compar­
tilhado o seu dilema com outra pessoa. Quando desligou o telefone, não 
conseguiu respirar. Não acreditava que Marisa pudesse ser tão insensível e 
desleal. Ela sabia que seria preciso confrontá-la em amor e com toda clareza, 
mas ela não queria nem tinha forças para fazê-lo.
A DIFICULDADE DO AMOR
O problema com os relacionamentos é que eles acontecem bem no 
centro de alguma coisa, e essa coisa é a história da redenção, ou seja, o plano 
de Deus de transformar tudo em nossa vida em instrumentos de transfor­
mação e crescimento à semelhança de Cristo. Você e eu nunca estaremos 
casados com um cônjuge completamente santificado. Nunca teremos um 
relacionamento com um amigo completamente maduro. Nunca viveremos 
ao lado de um vizinho que esteja completamente livre da necessidade de 
crescer e mudar. Nunca teremos filhos que saibam cuidar de si mesmos. 
Nunca estaremos próximos a pessoas que sempre pensem, desejem, digam
1 0 8 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
ou façam a coisa certa. E isso é assim porque vivemos nossos relacionamentos 
entre o já e o ainda não.
Jesus já veio para providenciar a nossa salvação, mas a sua salvação ainda 
não está completa. O poder do pecado já foi quebrado, mas a presença do 
pecado ainda não foi erradicada. Já crescemos e mudamos de muitas formas, 
mas ainda não somos tudo aquilo que seremos em Cristo. Já passamos por 
muitas dificuldades, mas ainda não vencemos o obstáculo final, já aprende­
mos muitas lições da fé, mas ainda não aprendemos a confiar totalmente 
em Deus. O Senhor já estabeleceu o seu reino no nosso coração, mas esse 
reino ainda não veio por completo. Já vimos o pecado ser vencido de muitas 
formas, mas a sua derrota final ainda não aconteceu.
A nossa vida com os outros é sempre uma vida no meio do caminho. 
Estamos sempre construindo comunhão na tensão entre a graça de Deus já 
concedida e aquela que ainda não foi dada. E não temos controle nenhum 
a mais sobre o ainda, do que o controle que tivemos sobre o já. O tempo 
está nas mãos do soberano Senhor da graça. A sua hora sempre é certa e 
ele nunca erra um endereço. O nosso dever é aprender a viver no meio do 
caminho da melhor maneira possível. Assim, vivemos como pessoas danifica­
das que estão sendo restauradas, vivemos entre vizinhos que se encontram 
na mesma situação, somos gratos por aquilo que já foi feito, mas sempre 
cientes da nossa necessidade por aquilo que ainda não foi concedido.
R e l a c i o n a m e n t o s n o m e i o d o c a m i n h o
Todos que vivem entre o j á e o ainda não vivenciarão quatro coisas.
NOSSOS RELACIONAMENTOS NUNCA FUNCIONARÃO 
CONFORME OS NOSSOS PLANOS
Já reconhecemos o fato de que nenhum de nós pode escrever a história 
dos nossos relacionamentos porque fazem parte da história mais ampla da 
redenção. Nossos relacionamentos não funcionam de acordo com os nossos 
planos porque fazem parte do plano divino. Isso significa que Deus nos levará 
a pontos que não tínhamos a intenção de alcançar, a fim de produzir em nós 
aquilo que não poderíamos alcançar por nós mesmos. Ele nos guiará em meio 
às dificuldades para que possamos nos tornar cada vez mais semelhantes a 
ele. Muitas dessas dificuldades acontecerão em relacionamentos nos quais 
Deus revela o nosso coração e constrói o nosso caráter. Em conseqüência 
disso, nossos relacionamentos nunca serão o que imaginamos e nunca se­
guirão o trajeto que nós traçamos.
Es p e r a n ç a - 1 0 9
NOSSOS RELACIONAMENTOS NUNCA SATISFARÃO AS 
NOSSAS EXPECTATIVAS
Quando antecipamos um relacionamento, costumamos sonhar com 
uma união inabalável, romance sem fim, comunicação desobstruída, coo ­
peração mútua, aceitação total e respeito pleno, decisões compartilhadas, 
amizade íntima ou ausência de conflitos. Nossos sonhos tendem a esquecer 
que vivemos nossos relacionamentos no meio do caminho entre o j á e o ainda 
não. N o caminho para o céu, nenhum de nós tem o privilégio de ficar com 
a pessoa dos nossos sonhos e nenhum de nós está pronto para ser a pessoa 
dos sonhos de alguém. Todos nós somos falhos e vivemos num mundo caído; 
temos, porém, um Deus fiel. E em algum ponto de cada relacionamento 
somos desafiados a aceitar graciosamente a outra pessoa com o ela é, rece­
bendo humildemente, ao mesmo tempo, quem nós mesmos somos.
NOSSOS RELACIONAMENTOS SEMPRE ENFRENTARÃO ALGUM 
TIPO DE DIFICULDADE
Constru ir relacionamentos se parece, muitas vezes, com a tentativa de 
enfiar um fio numa agulha enquanto se dirige por uma rua cheia de buracos. 
Nenhum relacionamento conseguirá evitar todas as dificuldades que fazem 
parte da vida. A s vezes, a dificuldade estará na outra pessoa. Orgulho, ego­
ísmo, ganância, raiva, amargura e impaciência sempre dificultam um relacio­
namento. As vezes, a dificuldade refletirá na realidade de um mundo caído. 
Mesmo como crentes fiéis, nem sempre conseguiremos escapar de racismo, 
perseguição, ferimentos, doença, guerra, falhas mecânicas e problemas de 
cultura, governo e economia. Em última análise, a Bíblia diz que todas as 
dificuldades são enviadas por Deus e que tudo está sob seu sábio controle.Juntamente a isso, a Bíblia sempre nos lembra de que Deus nos concede a 
incômoda graça da provação, não para nos destruir ou desanimar, mas para 
tornar-nos mais maduros e puros. A o mesmo tem po que precisamos ser 
realistas sobre as dificuldades, essa deve ser a nossa esperança.
OS NOSSOS RELACIONAMENTOS SEMPRE TERÃO DE MELHORAR
Minha esposa e eu estamos casados há muitos anos e nosso relacio­
namento é realmente muito bom. Respeitamos e curtimos um ao outro, 
temos um comprom isso um para com o outro e com o senhor, e ambos 
somos muito gratos um pelo outro. Mas mesmo depois de todos esses anos 
e de todo o crescimento que experimentamos, o nosso relacionamento 
ainda não é tudo aquilo que poderia ser. A inda há trabalho a ser realizado 
e mudanças a serem feitas. Apesar de todo o nosso amor e compromisso, 
ainda não escapamos do pecado, e por isso o nosso relacionamento ainda
1 1 0 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a p e n a "
exige trabalho árduo e depende dos recursos da graça de Deus. Essas ne­
cessidades permanecerão até o retorno de C risto ou até o dia em que ele 
nos levará para a sua casa.
O CARÁTER PARA O MEIO DO CAMINHO
Devido ao fato que nossos relacionamentos sempre são vividos em meio 
a algum tipo de dificuldade, bons relacionamentos exigem caráter. Lembre- 
se, Deus não criou relacionamentos como um instrumento para felicidade 
humana, mas com o instrumento para a redenção. Não basta você pedir pelo 
caráter que precisa para sobreviver às dificuldades da vida e às fraquezas 
das outras pessoas. Fomos chamados a servir às pessoas que Deus, em sua 
sabedoria, colocou em nossas vidas. Ele quer nos usar como instrumentos 
da graça para os outros. V iver assim exige caráter.
E preciso humildade para viver com um pecador num mundo de dificul­
dades. E preciso mansidão para fazer parte daquilo que Deus está operando 
na vida de outra pessoa sem atrapalhar. É preciso paciência para lidar com o 
pecado e a fraqueza daqueles à sua volta. E preciso perseverança para fazer 
parte da transformação de um relacionamento porque essa mudança, na 
maioria das vezes, é um processo e raramente um evento. E preciso perdão 
para superar as vezes em que fomos maltratados por outra pessoa. E preciso 
tolerância para continuar a amar uma pessoa, mesmo quando você é provo­
cado. E difícil responder com gentileza quando se é tratado de forma rude. 
E preciso am or extraordinário para servir ao bem de outra pessoa e não se 
deixar distrair pelas necessidades do dia a dia. (Note que essas qualidades 
de caráter são mencionadas em todo o Novo Testamento: Gálatas 5.22-26, 
Efésios 4.1-3, Filipenses 2.1-12, Colossenses 3.12-14.)
Essas são as qualidades que caracterizam um relacionamento saudável, 
mas precisamos adm itir que muitas vezes não são elas que regem o nosso 
coração. Na maioria das vezes, nosso coração é governado por raiva, medo, 
mágoa, hipocrisia, amargura e o desejo por algum tipo de vingança.
A DIFICULDADE DE RELACIONAMENTOS NO MEIO 
DO CAMINHO
A questão é esta: A dificuldade dos relacionamentos não se encontra 
apenas no fato de serem difíceis. A dificuldade inclui aquilo que Deus nos 
chama a ser e fazer em meio à dificuldade. Deus chama cada um de nós a
E s p e r a n ç a - 1 1 1
ser humilde, paciente, gentil, perseverante e clemente. Deus nos chama a 
falar com graça e a agir com amor, mesmo quando o relacionamento carece 
da graça e quando não somos tratados com amor.
Por isso, seus relacionamentos o levarão além dos limites da sua força 
normal. Eles o levarão além do alcance de suas habilidades naturais e além 
das fronteiras da sua sabedoria natural e adquirida. O s relacionamentos o 
forçarão a ir além dos limites da sua capacidade de amar, servir e perdoar. 
Eles o levarão além de você mesmo. De vez em quando, eles o levarão ao 
lim ite da sua fé. As vezes, eles o levarão ao ponto da exaustão. Em certas 
situações, seus relacionamentos o deixarão decepcionado e desanimado. 
Eles exigirão de você o que você parece não possuir, mas é exatamente isso 
que Deus pretende. E precisamente essa a razão de ele te r colocado esses 
relacionamentos exigentes no meio do processo da santificação, onde Deus, 
progressivamente, nos molda à semelhança de Jesus. Quando você desiste 
de si mesmo, você começa a depender dele. Quando você está disposto a 
abrir mão dos seus próprios pequenos sonhos, você começa a depender dele. 
Quando o seu jeito de fazer as coisas, mais uma vez, deixá-lo na pior, você 
está pronto para reconhecer a sabedoria do jeito de Deus fazer as coisas.
O s nossos relacionamentos não foram simplesmente criados para 
tornar-nos dependentes uns dos outros. Foram criados para guiar-nos até 
ele em humilde dependência pessoal. Em algum momento, cada relaciona­
mento nos leva ao nosso limite e, com Deus, não há lugar mais saudável 
do que esse. Quando estou disposto a confessar o quão fraco sou, estou 
pronto para receber a graça que pode ser encontrada apenas em Cristo. 
Ele esteve disposto a seguir o plano do seu Pai e tornar-se fraco para que 
pudéssemos receber a sua força em nossos momentos de fraqueza. Essa 
dinâmica de dificuldade-fraqueza-força é a razão pela qual precisamos de 
tanto encorajamento em nossos relacionamentos. Tornamo-nos cegos pela 
dificuldade, desencorajados pela nossa fraqueza e acabamos perdendo de 
vista aquilo que nos foi dado em Cristo.
E n c o r a ja m e n t o n o m e io d o c a m in h o
Encorajamento é uma qualidade essencial de uma comunidade bibli- 
camente saudável. O encorajamento raramente vem na hora errada. Mas 
mesmo quando queremos encorajar alguém, nosso encorajamento pode não 
ser suficiente. Tendemos a cometer dois erros. Primeiro, acreditamos que 
o propósito primário do encorajamento é fazer a pessoa sentir- se melhor, 
por isso dizemos coisas como:
1 1 2 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
“ Aguenta firme que você vai conseguir. ”
“ Não é tão ruim quanto você pensa. ”
“ Você não é o único que teve que passar por isso. ”
“ Tudo ficará bem. ”
“ Isso também vai passar. ”
Essas afirmações podem oferecer conforto temporário, mas nunca 
levam a uma transformação duradoura. N o melhor dos casos, resultam em 
uma mudança temporária no estado de ânimo que normalmente evapora 
assim que a pessoa fo r novamente confrontada com a sua dificuldade.
A segunda coisa que fazemos é que tentamos encorajar a pessoa, expli­
cando-lhe o seu problema e o porquê de ele estar acontecendo. Acreditamos 
que, se a pessoa entender o que está acontecendo, ela ficará menos ansiosa 
e será capaz de fazer algo que a ajude e que seja construtivo. Há ocasiões 
em que isso acontece, mas uma explicação nem sempre me conforta. As 
vezes, quanto melhor eu entender a minha situação, mais desanimado eu 
fico. Antes, eu tinha um entendimento superficial, mas agora eu sei o quão 
profundo o meu problema realmente é, e acabo me sentindo mais fraco do 
que antes. £ importante entender e compreender, méis o encorajamento 
precisa ir mais fundo do que isso.
O encorajamento verdadeiro tem mais a ver com visão do que com 
explicação. Quando falo sobre visão, não estou me referindo aos olhos físicos, 
mas sim aos olhos do coração. Deus nos deu a capacidade de ver realida­
des espirituais invisíveis que são tão reais e vitais quanto qualquer objeto 
que possamos ver ou tocar. A visão espiritual é uma dádiva preciosa e uma 
habilidade essencial da vida. O motivo pelo qual não nos sentimos à altura 
do desafio e ficamos desencorajados em relacionamentos não é porque não 
entendemos o que está acontecendo. Sentimo-nos desencorajados porque 
não vemos a C ris to .1
Por força própria, vemos um marido que mal se comunica. Vemos o 
amigo que foi desleal repetidamente. Vemos a criança que se rebela contra 
qualquer ordem. Vemos o chefe que é um crítico inexorável. Vemos a parente 
que quebra cada promessa que faz. Vemos a esposa amargurada e irritada.Vemos o grupo pequeno congelado em relacionamentos casuais. Vemos 
vizinhos que se preocupam mais com os limites do seu terreno do que com 
a comunidade. Nossos problemas de relacionamentos podem parecer tão 
grandes que passam a obstruir a nossa visão daquilo que nos poderia dar 
esperança e coragem para continuar. Aquilo é Cristo. O encorajamento não 
se trata somente de fazer alguém se sentir e pensar melhor; é estimular a
E s p e r a n ç a - 1 1 3
imaginação espiritual. Encorajamento dá a pessoas que se encontram em 
dificuldades, os olhos para verem o C risto até então não visto. Ele é a única 
esperança em que posso confiar quando o chamado do relacionamento me 
levar além da minha própria sabedoria, força e personalidade.
Quando convivemos uns com os outros no meio do caminho entre 
o j á e o ainda não, precisamos de muito mais do que só bons sentimentos 
e um entendimento claro. Precisamos de olhos para ver essa maravilhosa 
realidade: Que nós pertencemos a Cristo; e ele, a nós. Precisamos ver que 
espiritualmente é impossível estarmos sós. O s recursos maravilhosos da sua 
graça estão sempre a nossa disposição. Nele encontramos sabedoria, força 
e razão para a esperança que nos faltava. Muito mais do que sentimentos 
agradáveis e compreensão correta, C risto me dá razão para continuar com 
algo que, sem ele, já me teria derrotado há muito tempo atrás.
Com o é que podemos nos encorajar em meio à dificuldade relacionai? 
E dando uns aos outros os olhos para ver três coisas.
A PRESENÇA DE CRISTO
O seu objetivo aqui é ajudar as pessoas a desenvolverem uma men­
talidade de “C risto está com igo” . Essa perspectiva na vida é retratada no 
salmo 4 6 .1 -2: “ Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas 
tribulações. Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e 
os montes se abalem no seio dos mares” (grifado pelos autores). Eu gosto 
demais da imagem usada aqui. Imagine-se olhando as montanhas desabando 
ao seu redor e caindo no mar sem que você sinta medo. E uma imagem de 
paz, estabilidade e segurança pessoal bem no centro de acontecimentos 
catastróficos porque sei que o nosso poderoso e glorioso Deus está comigo. 
M inha esperança não mais repousa sobre a minha própria sabedoria, força 
e personalidade. Quando vejo a Cristo, eu entendo que posso depender de 
alguém além de mim. Ele está aqui e é capaz de fazer aquilo que eu nunca 
poderia fazer.
A S PROMESSAS DE CRISTO
Cristo nos deu promessas que podem alterar de forma radical a ma­
neira em que reagimos às dificuldades relacionais. Eu posso encorajá-lo, 
lembrando-o daquilo que foi prometido. Essas promessas não devem ser 
vistas como irrealidades místicas em um céu co r de rosa, mas com o uma 
avaliação verdadeira e precisa dos recursos que tenho como um dos filhos 
de Deus. Quando tento mostrar às pessoas a relação que existe entre as 
promessas de C risto e a sua situação, muitas vezes elas reagem de forma 
negativa. Elas acham que as promessas de Deus são uma ilusão espiritual
1 1 4 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o o u e v a le a p e n a "
que tem o propósito de fazê-las sentir-se bem em relação àquilo que as 
incomoda. Mas as promessas de C ris to não são sonhos imaginários de 
um emocionalismo espiritual. São a verdadeira identidade do crente. As 
promessas do Evangelho providenciam a única perspectiva exata daquilo 
que eu realmente necessito e a única imagem confiável do meu verdadeiro 
potencial de transformação. O encorajamento ajuda as pessoas a medirem 
com precisão o seu potencial.
O NOSSO POTENCIAL EM CRISTO
Quando lutamos com dificuldades, medimos nosso potencial. Fazemos 
uma avaliação de nós mesmos para saber se possuímos as habilidades ne­
cessárias para vencer a dificuldade. O problema é que a maioria de nós é de 
avaliadores pessoais ruins. Quando fazemos as contas e somamos tudo que 
define o nosso potencial, nos esquecemos de acrescentar o recurso mais 
importante: Cristo. A verdade radical sobre o nosso potencial é que, como 
filhos de Deus, o nosso potencial é Cristo. Ver-nos de outra forma não é 
bíblico nem correto. Em Gálatas 2 .19-20, Paulo diz: “Estou crucificado com 
Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas C risto vive em mim; e esse viver 
que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e 
a si mesmo se entregou por m im“ . Essa, sim, é uma avaliação precisa do 
potencial pessoal.
Já que todos os nossos relacionamentos são vividos no meio do cami­
nho entre o j á e o ainda não, o encorajamento é uma habilidade essencial. 
Qual o seu comprometimento para ajudar as pessoas a sua volta a verem a 
Cristo? Você está pronto e disposto a encorajá-las? Com o você faria isso? 
Mas lembre-se, você primeiro precisa vê-lo para assim poder mostrá-lo aos 
outros. Eu me lembro de uma época difícil para mim e minha esposa. As 
responsabilidades do casamento, da paternidade e do ministério pareciam 
maiores do que podíamos suportar. Tínhamos pouco dinheiro e nosso carro 
acabara de quebrar. Desencorajados, ficamos sensíveis e irritáveis um com o 
outro. Tudo mudou quando percebemos que os nossos fardos estavam nos 
deixando cegos para as incríveis verdades encorajadoras de Deus. A o passo 
que nos lembrávamos de que não estávamos sozinhos e começamos a estudar 
as suas promessas para nós, algo aconteceu. C risto nos aproximou um do 
outro. A apreciação da nossa situação por meio da lente da sua presença 
e providência mudou a nossa visão das coisas e nos ajudou a encorajar-nos 
mutuamente. O que ele podia fazer em e por nós se tornou mais importante 
do que qualquer coisa que pudéssemos desejar naquele momento.
O nosso relacionamento não ficou perfeito de um momento para o 
outro. Foi um período difícil e ficamos cegos mais de uma vez, mas tínhamos
E s p e r a n ç a - 1 1 5
aprendido algo. Aprendemos a medir o nosso potencial com o casal de uma 
maneira completamente nova. Isso nos deu nova coragem e nova esperança, 
e isso, por sua vez, começou a transformar o nosso relacionamento.
N o t a
1 Falaremos mais sobre isso no capítulo 13.
Fardos
Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a 
torcida que fumega; em verdade, promulgará o direito.
Isaías 42.3
Foi A nd rew quem me ensinou que o que eu 
acredito não é aquilo que digo acreditar; o que 
eu acredito é aquilo que faço... Estou aprendendo a acre­
ditar em coisas melhores. Estou aprendendo a acreditar 
que outras pessoas também existem, que a verdade 
não se encontra na moda; mas sim que Jesus é a figura 
mais importante da história e que o Evangelho é a força 
mais poderosa do universo. Estou aprendendo a não me 
empolgar com coisas vãs, mas sim a cultivar paixão pela 
justiça, graça e verdade e a comunicar a ideia de que Jesus 
gosta das pessoas e até mesmo as ama.1
Palavras podem ser poderosas ou podem valer pouco. O que as torna 
poderosas é a ação que delas fluem. A teologia também pode ser poderosa 
ou te r pouco valor. O que torna o pensamento correto sobre o Deus pode­
roso é a vida que emerge diariamente dessa teologia. Eu preciso confessar 
que essa é uma das lições mais difíceis da vida cristã para mim.
T ia g o e J o ã o a n t e s d a m o r t e e
DA RESSURREIÇÃO DE JESUS
Falamos muito sobre o pensar de forma correta sobre o Evangelho 
e tentamos mostrar com o uma fé correta deve se m ostrar em nossos 
relacionamentos. A nossa teologia se revela não em nossas palavras, mas
Fa r d o s - 1 1 7
na maneira com o tratamos os outros. Tiago e João tiveram de aprender 
isso quando brigavam por uma posição no reino de C ris to (Mc 10.35-45). 
Quando perguntaram se poderiam sentar-se à direita e à esquerda de 
Jesus no céu, a resposta de Jesus virou suas expectativas de cabeça para 
baixo.
Quando os outros dez ficaram sabendo dessa conversa, eles se 
indignaram contra Tiago e João. Jesus os reuniu para resolver o as­
sunto. “Vocês viram como governadores ímpios usam o seu poder, ” 
ele disse. “E viram tambémo quão rápido as pessoas ficam cheias de 
si assim que alcançam um pouquinho de poder. Com vocês, não será 
assim. Quem quiser tornar-se grande precisa tornar-se servo. Quem 
quiser ser o primeiro entre vocês precisa ser o seu escravo. Foi isso 
que o próprio Filho do Homem fez: Ele veio para servir, não para ser 
servido - e para, então, dar a sua vida em resgate por muitos que 
são mantidos reféns. ”2
Esse era um daqueles momentos cruciais de ensino que Jesus sabia 
aproveitar tão bem. Aqui, Jesus comunicou algo radical sobre a vida no seu 
reino. Veja com o é fundamentalmente diferente da vida em qualquer reino 
da terra. O caminho que leva à grandeza aponta para baixo. O caminho para 
a grandeza é a humildade. E mais do que isso: O caminho para a grandeza 
se encontra no serviço aos outros.
Se quisermos que nossos relacionamentos resultem em um caráter 
à semelhança de C risto e se quisermos que a comunidade cristã floresça, 
serão necessárias muitas pessoas que sintam prazer em se rebaixar aos 
olhos do mundo. Imaginem pessoas, que, pela sua natureza, buscavam 
posição, poder e reconhecimento, e agora são transformadas em pessoas 
que alegremente abrem mão da glória e do amor próprio para serem 
servos à imagem de Jesus. É isso que tornará relacionamentos normais em 
algo glorioso. Servir uns aos outros é uma forma simples de juntar todas 
as passagens de “uns aos outros” da Bíblia em uma única e grande ideia. 
Quando servimos uns aos outros, ajudamos uns aos outros a carregar o 
fardo de forma prática. Sujamos as nossas mãos quando andamos ao lado 
de outras pessoas e prestamos atenção aos detalhes de suas vidas. Se o 
nosso comprom isso professo com Jesus não nos levar à sua semelhança 
em nossas ações, então estamos zombando dele e não o representamos 
para o mundo de forma correta.
Pense em seus relacionamentos. Quantos deles, no final das contas, 
são dominados pelas suas tentativas de se fazer ouvir as suas preocupações 
em satisfazer as “ necessidades” que você mesmo definiu? Com ece com
1 1 8 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
aqueles que você mais ama. Eu sou casado e tenho quatro filhos, e na maior 
parte do tem po fico pensando em com o eles poderiam deixar a minha vida 
mais repleta. Sei que isso é verdade porque me irrito facilmente quando 
preciso abrir mão de algum conforto pessoal para servi-los. Isso é para as 
pessoas que eu afirmo amar; nem comecei a pensar sobre pessoas mais 
difíceis. E nem falemos dos nossos inimigos! Você se reconhece nisso? Esse 
é o prim eiro passo no caminho para tornar-se um servo. Prim eiro você 
precisa reconhecer o quão longe você está de ser um servo, para então 
com eçar a tornar-se um. Essa é a ironia permanente da vida cristã. O alto 
é baixo, a vida é m orte e poder se encontra e se expressa por meio do 
serviço aos outros.
O CARÁTER E AS AÇÕES DE UM SERVO
Os discípulos também tiveram de aprender isso - o que significa que 
estamos em boa companhia. Aqui estavam doze homens comuns que passa­
ram vários anos na presença de Jesus e mesmo assim eram tão teimosos que 
disputavam por poder e posição. Há um momento pungente no ministério 
de Jesus quando os discípulos entendem claramente o que significa seguir 
a Jesus. João 13 descreve algo que Jesus faz na véspera de sua crucificação 
que deixa os discípulos pasmos, e Pedro até se ofende. O que é que Jesus 
faz? O que ele quer que seus seguidores entendam enquanto ele se prepara 
para a morte? Em uma situação como esta, você espera que o líder reúna 
seus seguidores e lhes dê instruções que ajudarão a transformar o mundo.
E o que Jesus faz, porém de sua própria e surpreendente forma. Ele o faz
por meio de palavras e de ações.
Pouco antes da Festa da Páscoa, Jesus sabia que 
tinha chegado a hora de passar deste mundo para o Pai.
Tendo amado seus queridos companheiros, ele os con­
tinuou amando até o fim. 2 Era a hora da ceia. A essa 
hora, o diabo já tinha Judas, filho de Simâo Iscariotes, sob 
seu firme domínio, preparado para a traição.
3 Jesus sabia que o Pai lhe tinha dado poder sobre 
tudo, sabia também que viera de Deus e que voltaria para 
ele. 4 Então, levantou-se da mesa, tirou seu manto e 
vestiu um avental. 5 Depois, encheu uma bacia com água 
e passou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com
Fa r d o s - 1 1 9
o seu avental. 6 Quando chegou a vez de Simáo Pedro,
Pedro disse: “Mestre, você é que lavará os meus pés?”
1 Jesus respondeu: “0 que eu faço você não entende 
agora, mas entenderá mais tarde”.
8 Pedro insistiu: “Jamais você lavará os meus pés
- jamais!”
Jesus disse: “Se eu não lavar você, você não poderá 
fazer parte daquilo que estou fazendo”.
9 "Mestre!” disse Pedro. “Então, não lave apenas 
meus pés. Lave minhas mãos! Lave minha cabeça!"
10 Jesus respondeu: “Se você tomou banho de 
manhã, agora só precisa lavar seus pés para ficar limpo 
da cabeça aos pés. Entenda que minha preocupação não 
é com a higiene e sim com a santidade. Agora vocês estão 
limpos. Mas não todos.” II (Ele sabia quem o estava 
traindo. E por isso que ele disse: “Mas não todos”.)
12 Depois de lhes ter lavado os pés, vestiu seu man­
to e voltou à mesa. Então lhes perguntou: “Compreende­
ram o que lhes fiz?" 13 Vocês me chamam de “Mestre” 
e de “Senhor" e fazem bem. Pois é isso que sou. 14 
Portanto, se eu, sendo Senhor e Mestre, lavei os seus pés, 
vocês também devem lavar os pés uns dos outros. 15 Eu 
lhes dei um exemplo. O que eu fiz, façam vocês também.
16 Estou apenas ressaltando o óbvio. O servo não é maior 
do que seu senhor; um funcionário não dá ordens ao seu 
superior. 17 Se entenderem o que lhes digo, ajam de acor­
do - e vivam uma vida abençoada (trad. Livre).
Esse trecho é surpreendente. Assim com o o resto das Escrituras, seu 
objetivo é perturbar o confortável e confortar o perturbado. Se entendido 
de forma correta, ambas as coisas devem acontecer na mesma pessoa. O 
que aprendemos nesse trecho sobre o significado de ser um líder? O que 
aprendemos sobre nós mesmos quando refletimos sobre a vida dos discípu­
los? O que nos motivará a amarmos dessa forma? Se você colocar em prática 
estas respostas em sua vida, você será transformado e terá uma nova visão 
e vitalidade em seus relacionamentos.
1 2 0 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
N ã o s ã o a s c ir c u n s t â n c ia s q u e d e t e r m in a m se v o c ê
DEVE SERVIR OU NÃO
Um a das minhas desculpas mais comuns para não ser mais amável e 
prestativo são as minhas circunstâncias. Quando você sofre com o peso das 
dificuldades, qual a primeira coisa que você quer fazer? Nada. Você quer 
que os outros façam algo por você. Você quer ser servido, não servir. De 
novo, preciso voltar no tempo apenas até ontem para encontrar exemplos. 
Quando meus filhos voltam da escola e, no mesmo instante, começam a 
me pedir mil coisas, de repente me lembro das minhas responsabilidades. 
Será que não entendem que tenho um trabalho a fazer e muitas coisas em que 
pensar? Por que insistem que eu lhes ajude a fazer seus deveres de casa nesse 
instante? Será que não enxergam que tenho coisas mais importantes com que 
me preocupar do que seu trabalho de casa? Esses são os pensamentos que 
passam pela minha cabeça. Logo me sinto culpado pela minha impaciência 
e tento justificá-la. Eu teria mais paciência com eles se não tivesse de me pre­
ocupar com o pagamento das contas e com o meu trabalho. Seria um pai mais 
gentil e bondoso se os filhos fossem mais obedientes e respeitosos e não tão 
agressivos. Em outras palavras, se minhas circunstâncias fossem mais fáceis, 
eu seria um servo melhor. Se eu pudesse satisfazer as minhas necessidades, 
eu me preocuparia mais com os outros. O fato é que meus filhos estavam 
chegando da escola na hora exata em que eu estava escrevendo estas linhas, 
e senti que estava sendo tentado a ficar irritado - de novo!
As circunstâncias em que encontramos Jesusem João 13 são horríveis. 
Jesus sabia que sua hora de m orrer na cruz por pecadores egocêntricos 
havia chegado. Sabia que a ira de um santo e justo Deus cairia sobre ele 
dentro de pouco tempo. O castigo justo para todos os pecados do seu 
povo o destruiria dentro de poucos dias. Mas o que é que ele faz? Ele 
serve. Ele faz para os seus discípulos o que estes deveriam estar fazendo 
por ele. Ele pega uma toalha e uma bacia d ’água e começa a lavar seus 
pés. Teria sido fácil para Jesus dizer: “Será que vocês não sabem o que 
está prestes a acontecer comigo? Se liguem e me confortem !” Mas ele não 
diz nada sobre aquilo que está para acontecer; ele simplesmente serve 
sem pena de si mesmo. Na hora em que seria mais fácil ser egoísta, ele 
é completamente altruísta.
Isso não é normal. De fato, é completamente milagroso. Quando nossas 
circunstâncias são difíceis, servir a outra pessoa parece um ato milagroso. 
Mas foi isso que Jesus fez e ele quer que seus seguidores façam o mesmo. 
Nunca devemos rebaixar o serviço humilde que uma pessoa faz por outra; 
é um sinal de que a graça de Deus está operando na vida de uma pessoa.
Fa r d o s - 1 2 1
O MERECIMENTO DE UMA PESSOA NÃO DETERMINA SE VOCÊ 
DEVE SERVIR OU NÃO
Jesus não só serve em meio a sua maior crise, ele também serve àqueles 
que não merecem o seu serviço. Quando Jesus olhava para cada um naquele 
quarto, eu me pergunto o que lhe passava pela mente. Viu Judas, que logo 
o trairia e o entregaria às autoridades romanas. Viu Pedro, que logo negaria 
que tinha qualquer ligação com Jesus. O s outros dez discípulos usariam os pés 
que ele estava lavando para fugir, no momento em que Jesus mais precisaria 
deles. Mesmo assim, Jesus se ajoelhou e serviu a todos eles.
A tentação de usar minhas circunstâncias como desculpa para evitar o 
serviço é grande. A tentação de avaliar alguém e decidir não servi-lo porque 
você acha que ele não merece ou não saberia valorizar a sua ajuda também é 
grande. Você não precisa estar no ministério por muito tempo até encontrar 
pessoas egocêntricas que acham que é o seu dever responder a qualquer 
um de seus pedidos ou desejos. Haverá pessoas para quem você faz tudo o 
que estiver ao alcance, e, em seguida, elas te olham e dizem que você não 
fez o suficiente. Esse tipo de pessoas realmente não merece o meu serviço. 
De fato, elas me tiram do sério!
Talvez você seja um daqueles que acredita se dar bem com qualquer 
um. Se esse for o caso, ou você ainda não viveu muito tem po ou foi capaz 
de se esconder da maior parte dos seres humanos. Mas algum dia alguém 
entrará na sua vida e o colocará em uma situação que você nunca antes 
enfrentou. O u talvez você seja alguém que se aventurou pela vida de ou­
tras pessoas e se machucou muito. Você jurou nunca mais se expor a um 
relacionamento vulnerável . Tornou-se frio, cuidadoso e protetor. Jesus o 
chama a se expor à vida de outros e a tornar-se vulnerável. Ele não d iz que 
será fácil, mas o que ele diz é que essa é a única circunstância em que você 
pode encontrar a vida. Você encontra a vida morrendo para si mesmo e 
cuidando dos outros de formas arriscadas.
Podemos dar graças a Deus pelo fato de Jesus ter se aproximado dos 
seus discípulos, merecidamente ou não. Romanos 5.8 diz: “Deus prova o 
seu próprio amor para conosco pelo fato de te r C risto m orrido por nós, 
sendo nós ainda pecadores” . Quem faz com que você queira desistir? Quem 
abusou da sua cota de compaixão? Jesus quer que você sirva a essas pessoas. 
Esse tipo de amor é evidência irrefutável de que realmente acreditamos 
naquilo que dizemos. Quando servimos àqueles que não merecem, somos 
transformados e Deus usa isso de modo poderoso na vida dos outros. Pense 
em uma ou duas das pessoas que mais tiveram um impacto positivo e signi- 
ficante na sua vida. Será que humildade e o serviço não foram, em grande
1 2 2 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
parte, responsáveis por essa influência? Essas duas qualidades nos pegam 
de surpresa e nos fazem querer tratar as outras pessoas da mesma forma. 
Elas têm uma influência poderosa.
Eu tenho 44 anos de idade. T ive mais de 20 anos para pensar em como 
meus pais me serviram. Mas foi necessário que casasse e tivesse meus pró­
prios filhos para começar a entender tudo aquilo que eles fizeram por mim 
enquanto eu crescia. A o passo que vejo tudo isso com maior clareza, isso 
me motiva a caladamente servir aos meus próprios filhos. Assim, o serviço 
prestado por meus pais agora transborda para a vida dos meus filhos. Jesus 
serviu porque era a coisa certa a fazer, mas ele também sabia que era a 
única forma de livrar seus discípulos da fútil busca pela glória pessoal e da 
escravidão do amor próprio. Q ue impacto isso teve na vida dos discípulos 
e do mundo!
A SUA POSIÇÃO NÃO DETERMINA SE VOCÊ DEVE 
SERVIR OU NÃO
Agora, chegamos à parte mais maravilhosa dessa história. Lembre-se, 
Jesus sabia quem era. N o versículo I , Jesus está ciente de sua volta ao Pai. 
N o versículo 3, ele sabia que era o Rei do universo. Em outras palavras, Jesus 
sabia que era Deus. Não devia nada a ninguém. Era autossuficiente e não 
precisava de ninguém. Mesmo assim, ele decidiu se humilhar e lavar os pés 
dos discípulos. Esse ato maravilhoso seria superado apenas pela humilhação 
que aturou voluntariamente na cruz.
A nossa cultura nos conta a mentira de que o objetivo principal na vida 
é subir a escada do poder e da influência. Ela nos incentiva a olhar para Do- 
nald Trump e outros com o ele se quisermos ser grandes. Acreditamos que 
propósito, realização e significado são encontrados quando avançamos na 
carreira. Mas Jesus nos diz que todas essas coisas são encontradas quando 
nos rebaixamos. Jesus e seu reino estão em veemente colisão com os valores 
deste mundo caído e ele nos chama a seguirmos a sua postura.
Se Jesus estiver certo e você disser que o reconhece com o Salvador e 
Rei, com o você está se desenvolvendo em relação a sua própria grandeza? 
Você, em alguma ocasião nessa semana, serviu quando o mundo lhe disse 
que você deveria te r sido servido? Não consigo imaginar nenhum outro 
relacionamento em que isso é posto à prova tão frequentemente quanto 
no relacionamento com os filhos. A Bíblia deixa absolutamente claro que os 
pais têm autoridade sobre os filhos. Quem manda em casa não são os filhos, 
são os pais. A dedução lógica seria que os filhos devem servir aos pais. A o
Fa r d o s - 1 2 3
mesmo tempo, porém, a Bíblia redime a autoridade de seus padrões peca­
minosos, rebaixando os pais e chamando-os a usarem sua autoridade para 
o benefício dos seus filhos. Diariamente, tenho oportunidades para avaliar 
a sinceridade daquilo que afirmo ser a minha fé em Jesus. Infelizmente, es­
sas afirmações muitas vezes não estão em sintonia com meus atos. Mas, às 
vezes, por causa da graça de Deus, minhas afirmações e meus atos entram 
em harmonia e agradeço a Deus por isso. Onde, em sua vida, você tem o 
privilégio de servir a pessoas que estão “abaixo” de você?
P o d e r p a r a o s s e r v o s
A história de Jesus lavando os pés dos discípulos deveria deixá-lo arra­
sado. Se você se sentiu confortável no início deste capítulo, agora deveria 
estar inquieto. Você consegue ver o quanto o egocentrismo está presente 
em seus relacionamentos? Toda vez que leio João 13, vejo quantas vezes fra­
casso diariamente. Vejo como sou centrado em mim mesmo, mesmo quando 
acredito estar servindo. Mesmo assim, apesar do nosso egocentrismo, Jesus, 
nos versículos 14 e 15, nos chama para esse tipo de serviço humilde. Isso 
pode ser arrasador, mas também pode nos ajudar a reconhecer que nós 
não possuímos aquilo que é necessário para que possamos nos comportar 
dessa forma. Reconhecemos que carecemos do poder e da graça de Deus 
para nos transformar.
Apesar de os discípulos não terem entendido o que Jesus estava fazen­
do naquele momento, tudo veio a fazer sentido após a sua ressurreição e a 
vinda doEspírito Santo. O que os transformou em servos não foi uma nova 
revelação cognitiva. Foram transformados radicalmente porque vivenciaram 
a transformação espiritual interior, originada por aquilo que Jesus fez por 
eles. O s discípulos “entenderam” , por causa daquilo que vivenciaram, e isso 
os transformou em homens completamente diferentes. Nós precisamos do 
mesmo entendimento para que possamos servir às pessoas a longo prazo.
A LAVAGEM DOS PÉS E A CRUZ
“Quando Jesus se aproxima de Pedro para lavar os seus pés, Pedro não 
aguenta ver Jesus nessa posição desprezível de submissão” . Ele não quer per­
m itir que Jesus prossiga. Jesus explica o que está fazendo e o que isso significa. 
N o versículo 7, Jesus diz: “O que eu faço você não entende agora, mas en­
tenderá mais tarde” . E quando Pedro protesta, ele diz: “Se eu não lavar você,
1 2 4 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a pena"
não poderá fazer parte de mim (trad. Livre)” . O que essas palavras críticas 
significam? O que Jesus diz é que aquilo que está fazendo simboliza algo ainda 
maior. Seu humilde serviço de lavar os pés dos discípulos aponta para aquilo 
que, dentro de poucos dias, ele fará por eles na cruz. Mas em vez de água 
será o seu sangue que será derramado quando ele der a sua vida por eles. O 
sacrifício do seu sangue será o agente purificador que lavará os seus pecados 
e os transformará em templos vivos nos quais reside o Espírito Santo. O que 
Jesus está dizendo para Pedro é que, se ele não se humilhar e não aceitar aquilo 
que Jesus está prestes a fazer por ele na cruz, Pedro não terá parte nele. Jesus 
sabe que, se esses homens orgulhosos não se humilharem para receber graça, 
eles nunca serão capazes de compartilhar a graça da mesma forma que Jesus 
se dispôs a servi-los. Pecadores orgulhosos que não aceitam a graça como 
dádiva de Deus provavelmente não serão capazes de oferecê-la a outros. 
Você não pode servir a outros pecadores se não aceitar o serviço que Jesus 
fez por você. Sem isso, é impossível estar à altura da tarefa.
A NECESSIDADE DE GRAÇA DIÁRIA
Jesus diz outra coisa surpreendente no versículo 10: “Se você tomou 
banho de manhã, agora, só precisa lavar seus pés para ficar limpo da cabeça 
aos pés. Agora você está limpo. Mas não todos (trad. livre).” O que Jesus 
quer dizer? Ele está falando sobre o relacionamento deles com Deus. Eles 
tomaram banho, o que significa que estão em um relacionamento com Deus 
pela simples virtude da sua fé em Jesus, seu Salvador. Em outras palavras, 
eles foram justificados. Mas Jesus diz que o banho, por mais importante que 
seja, precisa ser acompanhado pela purificação diária. Eles precisam da graça 
diária da santificação. É necessário que a purificação diária por meio da vida, 
morte e ressurreição de Jesus seja aplicada em nossa vida diariamente. Você 
não pode viver da graça do passado. Você precisa da graça de hoje.
N o mesmo instante em que sair para o mundo, você encontrará 
dificuldades e sofrerá perseguição. Talvez você precise se envolver em 
conflitos feios entre crentes em sua igreja ou algo igualmente doloroso. 
Haverá momentos em que se perguntará se vale a pena seguir a Jesus. 
Nesses exatos momentos, será preciso que a obra do Espírito na sua vida 
o lembre de seu próprio pecado e da graça disponível. Arrependimento e 
fé devem ser seu estilo de vida diário. Por quê? Porque eles o rebaixam e 
o erguem ao mesmo tempo.
Quando foi a última vez que você foi chamado para servir a alguém? O 
que fez você se aproximar daquela pessoa? Foi porque você se lembrou da
Fa r d o s - 1 2 5
sua própria grandeza e achou que essa pessoa precisava ser tocada por ela? 
Se for isso que o motivou, seu serviço foi, no melhor dos casos, desprezível. 
Quando foi a última vez que você prestou bons serviços a alguém, mesmo 
sabendo que ninguém estava ali para ver o que estava fazendo? O que o levou 
afazê-lo? Em algum nível, você estava ciente da graça que Cristo lhe ofereceu, 
apesar da sua própria decadência. A o passo que o Espírito Santo plantou essas 
profundas verdades em seu coração, você desenvolveu o desejo de carregar 
o fardo de outra pessoa. Você o fez independentemente daquilo que poderia 
ganhar com isso. Somente a graça diária pode ter esse efeito.
A o refletir sobre essa história você precisa reconhecer o quanto precisa 
da graça diária. Lembre-se das muitas vezes em que você, em momentos 
de autoproteção e glória própria, deixou outros na mão. Se não houvesse 
para onde recorrer para receber purificação e cura, não haveria motivo para 
continuar. Mas o serviço que Jesus nos prestou por meio da sua vida, morte 
e ressurreição não foi apenas para que pudéssemos receber perdão pelos 
nossos pecados ou te r um futuro no céu; foi também para que pudéssemos 
te r a força diária para mudarmos o presente. Não recebemos apenas a pro­
messa de uma vida após a morte, mas também de uma vida antes da morte. 
Lembre-se disso ao lidar com as realidades de uma vida no mundo caído.
A S PROMESSAS DE BÊNÇÃOS
Em João 13.17, Jesus diz: “Se entenderem o que lhes digo, ajam de 
acordo e terão uma vida abençoada” . A s bênçãos vêm quando conhecimen­
to e atos coincidem, e a vida cristã é a vida mais abençoada que pode ser 
vivida. N o filme Charriots o f Fire, o protagonista, Eric Lidell, diz: “Quando 
corro, sinto o prazer de Deus” . Jesus diz que, quando servimos a outra 
pessoa, experimentamos o prazer de Deus. Quando Eric Lidell corria, ele 
estava vivendo o que Deus o criara para ser - um corredor. Quando você 
e eu servimos, estamos vivendo o que Deus nos criou para ser - servos. E 
quando servimos que somos mais semelhantes à Trindade. Pai, Filho e Espírito 
redimiram um mundo caído por meio de serviço e sacrifício. Não há nada 
mais semelhante a Deus do que o serviço pelos outros.
R e v e n d o T i a g o e J o ã o
Após a ressurreição de Jesus, Tiago e João não eram mais os mesmos. 
Isso pode ser visto nos escritos posteriores dos dois homens. O próprio João
1 2 6 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a p e n a "
é o autor da passagem que estivemos estudando. Mas Tiago e João também 
escreveram outras cartas do Novo Testamento que voltam sua atenção para 
os atos que acompanham as nossas palavras. O s atos específicos que eles 
discutem são os atos dirigidos a outras pessoas. Tiago relata da seguinte 
forma em Tiago 2 .14 - 17:
Queridos amigos, vocês acham que conseguirão 
obter algum resultado se aprenderem as palavras cer­
tas, mas nunca fizerem nada? Apenas falar sobre a fé, 
por acaso, revela se a pessoa realmente entendeu? Se, 
por exemplo, você encontrar um velho amigo vestido 
em trapos e morrendo de fome, e você disser: “Bom dia, 
meu amigo! Que Cristo seja seu manto e que o Espírito 
Santo o satisfaça!”, e for embora - sem sequer lhe dar um 
manto ou um prato de sopa -, aonde isso o levará? Não 
é óbvio que falar sobre Deus sem, ao mesmo tempo, agir 
como Deus é uma tolice ultrajante?3
Parece que João,como Tiago, aprendeu a mesma lição. Veja o que ele 
d izem IJoão 3.16-18:
£ assim que viemos a conhecer e a experimentar o 
amor: Cristo sacrificou sua vida por nós. E por isso que 
devemos nos sacrificar para os nossos irmãos na fé e não 
procurar apenas o que é nosso. Se você vir um irmão ou 
uma irmã passar por alguma necessidade e possuir os 
recursos para fazer algo por ele, mas virar as suas costas 
e não fizer nada, o que acontece com o amor de Deus?
Ele desaparece. E foi você quem fez com que ele desapa­
recesse. Meus queridos filhos, não falemos apenas sobre o 
amor; pratiquemos o amor verdadeiro.4
Sem dúvida alguma, Tiago e João estão falando e agindo de forma dife­
rente do que em Marcos 10. O que os transformou de maneira tão radical? 
Foi o serviço prático e sacrificial de Jesus na cruz e todas as bênçãos que 
fluem da sua obra. Se há esperança para homens com o Tiago e João, há 
esperança para você e para mim. O que Jesusfez por eles como seu Senhor 
e Salvador vivo não é nada menos do que milagroso. Eles foram perdoados,
Fa r d o s - 1 2 7
adotados e preenchidos com o Espírito. Deus prometeu protegê-los e cui­
dar deles nessa vida e, em algum dia, libertá-los de todo o pecado para que 
pudessem amar o Pai, o Filho e o Espírito por toda eternidade. E isso que 
os transformou; é isso que transforma a mim e a você. Essas são as boas- 
novas do Evangelho. Jesus veio para que os pecadores pudessem iniciar 
um processo de transformação total que terminará em nós espelhando o 
próprio caráter de Jesus.
S e r v i n d o o u t r o s
O s seguintes trechos de “uns aos outros” podem ajudá-lo a aplicar o 
que você leu neste capítulo. Pare por alguns instantes e pense em alguns 
relacionamentos específicos na sua vida. Pense em três pessoas: em uma 
pessoa querida, em uma pessoa difícil, que normalmente você tenta evitar, e 
em um inimigo. Mantendo essas pessoas em mente, considere os seguintes 
textos e as orientações práticas neles contidas. Faça uma avaliação do seu 
comportamento. Reflita sobre a graça e o serviço que tem recebido de 
Cristo. Pense em maneiras de servir a essas pessoas durante os próximos 
meses.
S e j a m d e d ic a d o s u n s d o s o u t r o s
Romanos 12.10 diz: “Am ai-vos cordia lm ente uns aos outros com 
amor fraternal” . Isso significa que devemos tratar as outras pessoas como 
se fossem parte da nossa família, com o am or mútuo que existe entre pais, 
filhos e irmãos. C laro, sempre há pequenas brigas, mas quando a situação é 
ameaçadora, nós nos reunimos em volta da família. Com quem é que você 
se deve reunir como se fosse de seu próprio “sangue”? Pensando bem, se 
forem cristãos, a ligação entre vocês é mais do que apenas biológica. Vocês 
estão unidos espiritualmente por meio do seu irmão mais velho, Jesus. Com o 
esse fato deve moldar os seus relacionamentos?
HONREM UNS AOS OUTROS
Romanos 12 .10 diz: “ preferindo-vos em honra uns aos outros” . Honrar 
alguém significa que você o trata com seriedade. Você o trata com o uma 
pessoa valiosa. Paulo sugere que você faça isso se mantendo em segundo 
plano. Jesus veio e se humilhou para que nós pudéssemos ser levantados. 
Ele fez isso por você. Quem é que você precisa tratar com honra?
1 2 8 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a p e n a "
A c e it e m u n s a o s o u t r o s
Romanos 15.7 diz: “Acolhei-vos uns aos outros, com o também C risto 
nos acolheu para a glória de Deus” . Todos nós discordamos uns dos os outros 
em relação a uma série de assuntos que não são essenciais para a vida de um 
cristão. Muitas vezes, essas diferenças se tornam o mais importante, e por 
causa disso facilmente nos afastamos uns dos outros. Em Tiago 2, os ricos 
se tornaram culpados pelo favoritismo. Eles se afastaram daqueles que não 
ocupavam a mesma posição social e econômica. Cada vez que falhamos em 
aceitar os outros, perdemos uma oportunidade para servir. Qual a pessoa 
que você tende a excluir? Quais as convicções secundárias e não necessárias 
que turvam seu relacionamento com outros cristãos? De que formas você 
precisa aceitar os outros? Quem precisa da sua aceitação neste momento?
CARREGUEM OS FARDOS UNS DOS OUTROS
Gálatas 6.2 diz: “ Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a 
lei de C risto ” . Essa ordem é bem prática. Quando outro cristão está lutando, 
somos chamados a lutar com ele. Parte do peso da sua carga recairá sobre 
você. Talvez isso mude o seu estilo de vida e exija sacrifícios. Pode significar 
que você tenha de se encontrar com alguém durante um certo tempo. Pode 
significar um sacrifício financeiro. Pode significar ambas as coisas. Em que 
casos você precisa carregar o peso de outra pessoa? Com o é que isso mudará 
a maneira como você usa o seu tem po e dinheiro, talentos, patrimônio e 
reputação? Quais são os outros recursos que você possui que podem ser 
usados para aliviar o fardo de outra pessoa?
S u p o r t e m u n s a o s o u t r o s
Efésios 4.2 ensina: “com toda a humildade e mansidão, com longanimi- 
dade, suportando-vos uns aos outros em am or” . Já falamos sobre a impor­
tância de perdoar a outros quando estes cometeram pecados contra nós. 
Suportar uns aos outros é igualmente importante. O que significa suportar 
uns aos outros? Significa ser paciente quando seria mais fácil irritar-se com 
eles. Que fraquezas e traços você acha difícil de to lerar nos outros? Não 
precisam ser pecados, apenas coisas que o incomodem. Quem você acha 
difícil amar? Que tipo de pessoas você evita inconscientemente porque 
simplesmente o aborrece? Com certeza você se lembra de alguém. Servir 
a essa pessoa significa estar disposto a ser tolerante mesmo quando ela faz 
algo que o incomoda. Lembre-se, você também possui fraquezas e traços 
que incomodam a outros. Veja como Jesus foi tolerante com seus discípulos. 
Podemos ser gratos por ele ser assim conosco também.
Fa r d o s - 1 2 9
S e r v ir a o s o u t r o s é u m a q u e s t ã o p r á t ic a
É servindo uns aos outros que colocamos pés na nossa fé. O que acre­
ditamos não é refletido apenas por aquilo que dizemos; está intimamente 
ligado àquilo que fazemos. E quanto a você? A sua fé em Jesus está se expres­
sando em seus relacionamentos? Eu ganho minha vida falando e escrevendo 
sobre a Bíblia. Isso me assusta porque pode passar a impressão de que sou 
uma pessoa muito madura espiritualmente. C o rro o risco de até eu mesmo 
acreditar nisso. Mas sou realmente maduro e estou, de fato, crescendo na 
graça? O s meus atos correspondem àquilo que falo?
E você? Você é reconhecido por saber muito sobre a Bíblia e sua dou­
trina, mas não por servir aos outros em silêncio? Se você é um pai, esposo, 
filho, vizinho ou irmão, como seria se você fosse um servo durante esta 
semana? O serviço humilde é um sinal de que o Espírito está operando em 
você. Q ue ele possa se tornar cada vez mais evidente em todos nós ao passo 
que crescemos na graça!
N o t a s
1 Donald Miller, Blue Like Jazz: Nonreligious Thoughts on Christian Spiritualiiy (Nash- 
ville: Thomas Nelson, 2003), 110, 112.
2 Eugene Peterson, The Message (Colorado Springs, CO: NavPress, 1993), Marcos 10.41- 
45 (trad. livre).
3 Ibid, Tiago 2.14-17 (trad. livre).
4 Ibid., lJoão 3.16-18 (trad. livre).
Misericórdia
São os seus pés velozes para derramar sangue, 
nos seus caminhos, há destruição e miséria; 
desconheceram o caminho da paz.
Romanos 3.15-17
Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor 
Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção 
de pessoas. Se, portanto, entrar na vossa sinagoga al­
gum homem com anéis de ouro nos dedos, em trajos 
de luxo, e entrar também algum pobre andrajoso, e 
tratardes com deferência o que tem os trajos de luxo e 
lhe disserdes: Tu, assenta-te aqui em lugar de honra; e 
disserdes ao pobre: Tu, fica ali em pé ou assenta-te aqui 
abaixo do estrado dos meus pés, não fizestes distinção 
entre vós mesmos e não vos tornastes juizes tomados 
de perversos pensamentos?
Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os 
que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e 
herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam? 
Entretanto, vós outros menosprezastes o pobre. Não 
são os ricos que vos oprimem e não são eles que vos 
arrastam para tribunais? Não são eles os que blasfemam 
o bom nome que sobre vós foi invocado? Se vós, contudo, 
observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu 
próximo com o a ti mesmo, fazeis bem; se, todavia, fazeis 
acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo arguidos 
pela lei com o transgressores. Pois qualquer que guarda 
toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado 
de todos. Porquanto, aquele que disse: Não adulterarás
M is e r ic ó r d ia - 1 31
também ordenou: Não matarás. Ora, se não adúlteras, 
porém matas, vens a ser transgressor da lei. Falai de tal 
maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão 
de ser julgados pela lei da liberdade. Porqueo juízo é sem 
misericórdia para com aquele que não usou de misericór­
dia. A misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg 2 .1 - 13).
Tínhamos certeza de que era isso que Deus nos chamara a fazer. Iría- 
mos viver com o comprom isso de manter nossa casa aberta para hóspedes 
e ver em nossa casa um recurso ministerial que Deus nos dera. A maioria 
dos nossos hóspedes, que recebíamos por meio do ministério, ficava pouco 
tempo. Depois de uma ou duas noites, eles costumavam se despedir e a 
nossa casa voltava à sua confortável normalidade. Mas desta vez foi diferente. 
Semanas haviam passado e o fim não estava em vista. O problema era que 
ela simplesmente me levava à loucura e, apesar de todas as minhas tentativas 
de lidar com isso, mal conseguia suportá-la.
O telefone tinha tocado tarde, num domingo à noite. Ela tinha dezessete 
anos de idade. Havia sido expulsa de casa e estava se preparando para passar 
a noite num parque da cidade. A lém de envergonhada e insegura quanto ao 
que lhe esperava naquela noite, também estava magoada, com raiva e com 
medo. Dentro de poucos dias, ficou claro que ela não poderia voltar para 
casa e que não existiam outras opções. Então, confiando na soberania de 
Deus e no chamado para a misericórdia, assumimos esse comprom isso de 
longo prazo. Estávamos empolgados porque Deus estava nos dando uma 
oportunidade para fazer o que nos comprometêramos a fazer. Estávamos 
motivados pelas maneiras que Deus poderia usar essa situação para trans­
formar a vida dessa jovem mulher. Adorávamos o fato de que Deus estava 
vendo a nossa casa como instrumento do ministério, e estávamos dispostos 
a aprender, na prática, exatamente o que isso significava.
O problema era que ela colocava a minha paciência à prova como pou­
cas outras pessoas. Nós a apresentamos às pessoas da nossa igreja e, depois, 
ao nosso pequeno grupo. Todos imediatamente a acolheram e pareciam 
entusiasmados com aquilo que estávamos fazendo. V iemos a conhecer sua 
história, estabelecemos um contato com sua família e começamos a ajudá- 
la a ver como havia chegado a esse ponto e como deveria se preparar para 
o futuro. Quanto mais tempo ela passava conosco, mais abertas as nossas 
conversas se tornaram. Podíamos ver que a sua visão de si mesma e da vida 
em geral estava começando a se transformar, e víamos que o seu interesse 
espiritual estava crescendo. Mas apesar de todas essas coisas boas que es- 
tavam acontecendo, ela ainda continuava a dar nos meus nervos.
1 3 2 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a p e n a "
Ela era imatura, egocêntrica, rebelde, rude, ilógica, caótica e intrometi­
da. Eu nunca tinha vivido com alguém que reunia todas essas más qualidades. 
Parecia que, quando ela melhorava numa área, me irritava em outra. Não 
havia muitas coisas que ela acertava, e quase nada que dizia era lógico ou 
maduro. Era óbvio que ela estava precisando de alguma autoridade em sua 
vida, mas ela se revoltava até contra as regras mais insignificantes do nosso 
lar. Discutia com todos que ousavam oferecer-lhe alguma orientação. Aonde 
quer que fosse, criava um caos, e era alérgica a qualquer tipo de tarefa do ­
méstica. Ela havia tomado uma série de decisões terríveis que literalmente 
a deixaram na rua, mas sabia justificar cada uma delas. Vivia num universo 
muito pequeno, mas era o seu centro. Vivia como se tudo “tivesse a ver com 
ela” . E, além de tudo isso, parecia estar dedicada a invadir qualquer cantinho 
de privacidade que ainda nos restava. Ela tinha o dom de provocar o pior 
que havia em mim, mas não parecia se dar conta disso, e provavelmente 
diria que o nosso relacionamento era bom.
A DIFICULDADE DA MISERICÓRDIA
Há uma variação da lei de Murphy que diz o seguinte: “Qualquer de­
cisão sua vai lhe custar mais do que pensou inicialmente”. E assim com o 
ministério. Se você se com prom eter a fazer mais do que apenas sobreviver 
às pessoas em sua volta, se tiver objetivos maiores do que a sua felicidade 
pessoal e desejar ser um instrumento nas mãos de Deus, logo aprenderá que 
os custos do ministério sempre ultrapassam os seus cálculos preliminares. 
O mesmo se aplica à misericórdia.
Um relacionamento sem m isericórdia é um relacionamento vivido fora 
dos limites bíblicos. Deus claramente nos chama para respondermos uns 
aos outros com um coração m isericordioso. A sua ordem é que ofereçamos 
aos outros a mesma m isericórdia que recebemos dele. O problema é que 
m isericórdia é algo difícil. Esse foi o meu problema com a nossa hóspede. 
Eu queria te r uma casa aberta e tocar a vida das pessoas. Simplesmente não 
pensei que seria tão difícil.
Alguém certa vez disse que m isericórdia é uma comodidade que to ­
dos desejam, mas ninguém está disposto a oferecer. Deus, porém, havia 
me levado a um ponto que eu não apenas queria receber misericórdia; eu 
também reconheci o valor de oferecê-la. Queria que o nosso lar fosse um 
lugar onde misericórdia pudesse ser encontrada. Tinha simpatia pelos menos 
afortunados. Queria usar aquilo que Deus nos dera para aliviar a sua aflição, 
e queria que a nossa m isericórdia os levasse à m isericórdia de Deus. Mas a
M is e r ic ó r d ia - 1 3 3
misericórdia custa mais do que imaginamos, e quando a conta é apresentada, 
a sua beleza já não nos parece tão desejável. Essa era a situação em que eu 
me encontrava.
Quando você pratica a m isericórdia e se depara com seu preço alto, 
você verá como é fraco o seu comprom isso com a m isericórdia e com o suas 
respostas podem ser cruéis. Essa é uma experiência muito humilhante, mas o 
comprom isso com a m isericórdia revelará sua própria necessidade de obtê- 
la. Infelizmente isso é algo que, muitas vezes, preferimos não reconhecer. 
Querem os nos ver como fundamentalmente diferentes daquelas pessoas 
que precisam de m isericórdia quando, na verdade, somos iguais. Também 
somos pessoas falhas; nós também precisamos de m isericórdia a cada dia 
das nossas vidas. Mas é mais fácil ver a nós mesmos com o justos e fortes e 
aos outros como fracos e carentes. E assim, quando o assunto é m isericór­
dia, medimos com duas medidas diferentes. Preferimos dar a necessitar de 
misericórdia, e mesmo assim gostaríamos que dar m isericórdia não fosse 
tão custoso e revelador.
D o ponto de vista de Deus, um dos aspectos mais beneficiais da m iseri­
córdia é que ela coloca todos os envolvidos no mesmo nível. A m isericórdia 
força cada um de nós a reconhecer que precisamos dela. Em termos espiri­
tuais, nenhum de nós está um passo à frente do outro. Em nossa luta com o 
pecado, todos nós precisamos de compaixão, simpatia, perdão e salvação. 
Todos nós somos pobres em algum aspecto, todos nós sentimos falta de 
algo de que precisamos desesperadamente. Cada um de nós tem de viver 
com fraquezas e com os resultados das nossas próprias decisões erradas. 
Mas mesmo quando aparentamos estar no caminho certo, mesmo quando 
estamos comprometidos a viver em misericórdia, temos dificuldades de amar 
aquelas próprias pessoas que receberam nossa simpatia. E ao mesmo tempo 
que usufruímos do perdão de Deus, temos imensas dificuldades para aturar 
o pecado e a fraqueza dos outros. E por isso que, quando nos olhamos no 
espelho da misericórdia, somos todos iguais.
O QUE, AFINAL DE CONTAS, É MISERICÓRDIA?
Certa vez pedi à turma de um acampamento que definisse fé para 
mim. A primeira pessoa respondeu: “ Bem, significa acreditar em algo” . Eu 
disse: “E o que significa acreditar?” Um a segunda pessoa levantou o braço: 
“Acred itar significa confiar” . Então eu perguntei: “ E o que significa confiar?” 
E alguém respondeu: “Significa te r fé!” Precisou apenas de três respostas 
para que o círculo se fechasse, e não tínhamos chegado a nenhum resultado
1 3 4 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
na nossa tentativa de definir a fé. É a mesma coisa com a misericórdia. É 
uma daquelas palavras que cada crente já ouviu, que muitos usam, mas 
queapenas poucos sabem definir adequadamente. Por isso, quero lhes dar 
duas definições de misericórdia: I) m isericórdia é a forma gentil, simpática 
e clemente de tratar outras pessoas, que ajuda a aliviar as suas aflições e a 
cancelar suas dívidas; ou 2) m isericórdia é compaixão em combinação com 
tolerância e ação.
Essas duas definições revelam muito sobre o que a m isericórdia é, por 
que precisamos dela e como ela se expressa. Ela é muito mais do que aquela 
simpatia que você sente quando passa por um co letor de lixo desabrigado na 
rua. Passa pela sua mente que deve ser duro não ter um lugar para morar. 
Durante um segundo, você se pergunta com o é que ele consegue sobrevi­
ver e, ao passar por ele, sente-se aliviado por não se encontrar na mesma 
situação. Um instante mais tarde, você já o esqueceu e está conversando 
com seus amigos, tentando escolher um restaurante legal para aquela noite. 
Você pode te r sentido uma simpatia momentânea, mas, aos seus atos, faltou 
misericórdia. O que faz com que a m isericórdia seja m isericordiosa é uma 
compaixão sincera que resulta em algum tipo de ação dirigida àquela pessoa. 
M isericórdia não é apenas algo que você sente; é algo que você faz. E um 
estilo de vida, é uma postura virada para os outros, que influencia tudo que 
dizemos e fazemos.
A misericórdia tem olhos. Ela presta atenção em suas aflições e percebe 
suas fraquezas e seus fracassos. Mas a m isericórdia vê tudo isso pelos olhos 
da compaixão. Ela não o critica por causa da situação difícil em que você se 
encontra nem o condena pelos seus pecados. A m isericórdia quer aliviar o 
seu sofrimento e perdoar suas dívidas. Ela procura meios de ajudá-lo a se 
livrar das suas dificuldades e a tirar a sua culpa e vergonha. A m isericórdia 
verdadeira é incansável. Ela não se contenta com o status quo. Ela não para 
antes que a sua situação tenha melhorado. Ela trabalha muito, custa muito 
e está disposta a perseverar até que o trabalho esteja feito.
A m isericórdia é alimentada por três qualidades de caráter:
Compaixão. Compaixão é estar profundamente ciente do sofri­
mento alheio de ta l forma que leva ao desejo de ajudar. A compaixão 
vê além das próprias dificuldades e se preocupa com as dificuldades 
de outras pessoas.
Perdão. 0 perdão absolve uma pessoa das suas ofensas sem 
tratá-la como um marginal e sem guardar mágoas contra ela.
Ib le râ n c ia Tolerância é ser paciente mesmo quando se é pro­
vocado. t á disposição de ficar ao lado de algúém em dificuldades, 
mesmo quando isso torna a sua vida difícil.
M is e r ic ó r d ia - 1 3 5
A m isericórdia vê as dificuldades de outras pessoas e se preocupa com 
elas, age, perdoa e persevera.
O QUE FAZ A MISERICÓRDIA SER TÃO ESSENCIAL?
Assim como muitas outras qualidades de um bom relacionamento, a 
m isericórdia também é essencial porque os nossos relacionamentos aconte­
cem no centro da grande história da redenção. Vivemos num mundo caído e 
temos de lidar com dificuldades e aflições enquanto lutamos com o pecado 
que ainda está em nós. Precisamos de m isericórdia porque nem o mundo 
em que vivemos nem as pessoas que nele vivem são perfeitos.
Nenhum de nós poderia v iver num mundo em que houvesse apenas 
justiça. Por causa do nosso pecado, nenhum de nós está preparado para se 
submeter ao exercício de uma justiça pura. Sem misericórdia, todos nós 
estaríamos condenados. Então, até a vinda do reino de Deus, ele retém a sua 
justiça final. Ele nos concede mais um dia para confessar e mudar de rumo. 
Sua paciência é maravilhosa; sua gentileza, infinita; seu perdão, incrível. A sua 
compaixão faz com que sua justiça espere e que a sua m isericórdia entre em 
ação. E já que Deus decidiu responder a seu mundo com misericórdia, isso 
serve como chamado para que nós sejamos misericordiosos também. Apesar 
disso, costumamos misturar completamente os conceitos de m isericórdia 
e justiça. Querem os m isericórdia para nós mesmos porque queremos que 
nossa vida seja confortável, e queremos justiça para aquela pessoa porque 
queremos que nossa vida seja confortável. Com o pecadores voltados para 
si, simplesmente não queremos ter de lidar com pessoas aflitas e falhas. Mas 
é impossível te r relacionamentos sem se preocupar com as preocupações 
dos outros.
O ensino da Bíblia em relação à m isericórdia é claro. A té a vinda do 
reino de Deus e a restauração de todos os danos, o sofrimento continuará a 
existir. Enquanto Deus estiver disposto a conceder aos pecadores mais uma 
oportunidade para o arrependimento, a aflição de viver num mundo caído 
continuará. Por isso a m isericórdia é um ingrediente essencial de qualquer 
relacionamento sagrado. Recebemos m isericórdia e somos chamados para 
sermos misericordiosos. A m isericórdia é o meu comprom isso de viver 
a seu lado neste mundo danificado, mesmo sabendo que irei sofrer com 
você, por você e por causa de você. Farei tudo em meu poder para aliviar 
a sua aflição.
1 3 6 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
S e u s r e l a c io n a m e n t o s e o s 
o b je t iv o s d a m is e r ic ó r d ia
Um compromisso com a misericórdia transformará seus relacionamen­
tos, assim como ela transformará você. Vejamos como um comprom isso 
prático com a m isericórdia define os objetivos da sua vida relacionai.
M is e r ic ó r d ia s ig n if ic a q u e v o c ê e s p e r a p o r s o f r im e n t o e m
SEUS RELACIONAMENTOS E ESTÁ DISPOSTO A SUPORTÁ-LO
Isso inclui a disposição de ver sua vida afligida pelas fraquezas e aflições 
dos outros. M isericórdia significa que ficarei ao lado do meu filho adoles­
cente, mesmo se sua roupa me envergonhar e sua desorientação espiritual 
perturbar o meu coração. M isericórdia significa que irei perseverar com um 
esposo que apresenta mais fraquezas do que eu imaginava quando me casei 
com ele. M isericórdia significa amar alguém cujo comportamento me ofende. 
Inclui, também, a disposição para me envolver na vida de alguém, mesmo 
que isso cause inconveniências e sacrifícios pessoais. Seus relacionamentos 
demonstram a disposição para sofrer para o bem de outra pessoa?
M is e r ic ó r d ia s ig n if ic a q u e v o c ê e s t á d is p o s t o a
VIVER COM OS POBRES
Tiago 2 deixou isso bem claro. Muitas vezes, a grande dificuldade que 
temos com a m isericórdia é seu chamado para relacionar-nos com pessoas 
que consideramos inferiores a nós. Muitas vezes, quando descobrimos a 
“pobreza” de outra pessoa, ficamos desencantados com o relacionamento 
e começamos a planejar a nossa saída. Lembre-se de que pobreza nem 
sempre é de natureza econômica. Pode ser difícil conviver com uma pessoa 
porque ela é pobre em termos espirituais ou sociais. O ponto é que, quando 
você está em um relacionamento com alguém, a sua “pobreza” será a sua 
experiência imediata. E aqui que o seu comprom isso com a m isericórdia 
revelará seu pensamento errado. Você e eu costumamos ver a nós mesmos 
com o “ricos” e a outra pessoa como “pobre” . A verdade espiritual diz que 
todos nós somos pobres: Nenhum de nós conseguiria sobreviver num mundo 
desprovido de misericórdia. As suas atitudes e reações mudam quando você 
descobre que uma pessoa é, de uma forma ou de outra, “pobre’?
M is e r ic ó r d ia s ig n if ic a q u e v o c ê r e s is t e à t e n t a ç ã o d o
FAVORITISMO
Tiago 2 é um ataque frontal a uma das idolatrias mais freqüentes do 
cristianismo, o favoritismo. Agradecemos a Deus por aceitar-nos, apesar
M is e r ic ó r d ia - 1 3 7
de sermos pessoas confusas e difíceis, mesmo assim costumamos procurar 
a companhia de pessoas fáceis de amar e que também nos amam. Ficamos 
frustrados quando descobrimos que as pessoas “fáceis” acabam sendo não 
tão fáceis assim. A tentação de favorecer uma criança mais obediente é 
grande para os pais, ou para um amigo de favorecer um amigo mais chegado, 
ou para um grupo pequeno de ficar mais entusiasmado quando um casal rico 
se junta a eles do quequando um homem viciado começa a frequentá-lo. Se 
o nosso comprom isso para sermos acolhedores valer apenas para pessoas 
que consideramos confortáveis, ainda falta m isericórdia em nossa vida. Há 
relacionamentos em que você cedeu ao favoritismo?
M is e r ic ó r d ia s ig n if ic a q u e v o c ê e s t á c o m p r o m e t id o a p e r s e v e -
RAR EM TEMPOS DIFÍCEIS
A m isericórdia vê as dificuldades e não foge. Ela as encara e se envolve. 
Ela faz seu melhor trabalho quando o sofrimento é aparente ou o perdão é 
necessário. Ela não procura uma saída só porque as coisas de repente ficaram 
difíceis. M isericórdia que não persevera não é misericórdia. N o mundo, não 
existem relacionamentos ideais. Todos nós somos chamados a perseverar 
em situações dolorosas para que possamos fazer parte daquilo que Deus 
está operando. Onde, em seus relacionamentos, você está tendo dificuldades 
com o chamado de Deus para perseverar?
A MISERICÓRDIA REJEITA OS OBJETIVOS DA "FELICIDADE PESSOAL"
Se eu quiser que os meus relacionamentos satisfaçam as minhas necessi­
dades, ou se o propósito da minha vida é obter conforto e facilidade, eu não 
oferecerei m isericórdia quando as coisas ficarem mais difíceis. M isericórdia 
significa viver para um propósito maior do que a minha felicidade atual. A 
m isericórdia está disposta a se envolver com coisas que não são alegres ou 
confortáveis. Ela encontra mais prazer fazendo a vontade de Deus do que 
levando uma vida confortável e previsível. A m isericórdia renuncia ao con­
forto para levar o conforto de Deus para outra pessoa. Ela encontra mais 
satisfação no progresso do reino de Deus do que no desenvolvimento do 
reino do homem. Ela sempre é mais incentivada por aquilo que Deus está 
querendo fazer em um relacionamento do que por aquilo que achamos poder 
ganhar com ele. Onde é que Deus está chamando você a sair do conforto a fim 
de compartilhar com outros aquilo que ele lhe deu?
M is e r ic ó r d ia s ig n if ic a v iv e r u m c o m p r o m is s o c o m o p e r d ã o
Sempre que você estiver envolvido com pessoas que precisam de 
perdão, é inevitável que você sofra com algum pecado cometido contra
1 3 8 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
você. Quando eu me com prom eto a amá-lo, o seu pecado e as suas dificul­
dades serão a minha experiência imediata. O motivo pelo qual escolhemos 
favoritos é que não queremos nos relacionar com pessoas que precisarão 
do nosso perdão. Mas m isericórdia significa que sou tão grato pelo perdão 
diário que eu recebo que não tenho com o não oferecer o mesmo a você. 
Meus atos e minhas atitudes são regidos pelo reconhecimento humilde de 
que tudo aquilo que eu lhe ofereço eu também preciso desesperadamente. 
Há pessoas em sua vida às quais você acha difícil perdoar?
M is e r ic ó r d ia s ig n if ic a q u e você ig n o r a o fe n s a s m e n o re s
É grande a tentação de me concentrar nas coisas irritantes que a outra 
pessoa faz e, ao mesmo tempo, desculpar as minhas próprias pequenas 
ofensas. Mas a m isericórdia não é tão vigilante assim, nem se irrita com faci­
lidade, nem se sente ofendida rapidamente. A m isericórdia está tão tomada 
pela beleza das grandes obras que Deus está fazendo que não tem tempo 
para se concentrar naquilo que não tem importância alguma. Onde é que 
você permitiu que ofensas insignificantes, cometidas por outros, o distraíssem 
e irritassem?
A m is e r ic ó r d ia n ã o n e g o c ia o q u e é m o r a l m e n t e
CERTO E VERDADEIRO
Oferecer m isericórdia não significa virar as costas para a lei de Deus. 
Estender a minha mão para você não requer que eu traia o que é moralmente 
certo e verdadeiro. M isericórdia significa que, se você estiver preso no pe­
cado, eu não ignorarei a sua luta, nem ficarei com raiva, nem o abandonarei, 
mas eu continuarei a dirigi-lo para Deus e para as promessas e os princípios 
da sua palavra. Minha disposição de perseverar e perdoar reflete meu desejo 
de dar espaço a Deus para que ele possa operar aquelas coisas boas na sua 
vida que somente ele pode realizar. A m isericórdia entende que a graça é 
um caminho melhor para a transformação do que a condenação, mas ela 
nunca negocia aquilo que é moralmente certo e verdadeiro. Há ocasiões em 
que você confundiu com p rom isso com misericórdia?
Um COMPROMISSO COM A MISERICÓRDIA REVELARÁ OS TESOUROS DO 
SEU CORAÇÃO
Por que achamos tão difícil oferecer misericórdia? N ós lutamos por­
que há coisas que desejamos mais do que Deus e a sua glória. A nossa luta 
revela que nosso coração é regido por conforto, apreço, respeito, amor, 
sucesso, controle, conquista, patrimônio, posição, poder e aceitação, e de 
forma mais poderosa do que estamos dispostos a admitir. Essa é a realidade
M is e r ic ó r d ia - 1 3 9
espiritual dolorosa: A nossa luta com a m isericórdia não é apenas uma luta 
com o segundo grande mandamento; é uma luta com o primeiro grande 
mandamento também. Temos dificuldades em reagir corretam ente aos 
outros porque não colocamos Deus em seu devido lugar. A m isericórdia 
em nossos relacionamentos foi comprometida pela busca sutil por variadas 
substituições de Deus. Os seus desejos impedem você de oferecer misericórdia 
aos outros?
O f e r e c e r m is e r ic ó r d ia s e m p r e e x ig e m is e r ic ó r d ia
A o oferecer misericórdia, você começa a ver o quão egoísta, impacien­
te, impiedoso e inconsistente você mesmo é. A m isericórdia lhe mostrará o 
quanto seu próprio coração ainda necessita da obra contínua do Redentor. 
Ela o levará ao fim de suas próprias forças e até a graça do seu Salvador 
m isericordioso. E isso é uma coisa muito boa!
O RESTO DA HISTÓRIA
A garota de dezessete anos que vivia em nossa casa agora é uma mu­
lher adulta e tem seus próprios filhos. Ela ainda faz parte das nossas vidas. 
Enquanto esteve conosco, Deus transformou seu coração de forma radical 
e mudou o rumo da sua vida. Mas não posso me lembrar daquele período e 
pensar somente nela. Normalmente, a minha mente me leva a mim mesmo 
e ao meu Senhor. A o chamar-me para ser m isericordioso, Deus estava de 
fato estendendo sua m isericórdia para mim. Ele não estava sacrificando sua 
obra em mim a fim de operar algo valioso nela. Quando Deus me escolheu 
para ser o seu instrumento de misericórdia, isso não foi apenas um cha­
mado para o dever; foi uma dádiva da graça. Apesar de não te r tido muita 
vontade e te r falhado muitas vezes ao longo do caminho, eu sou tão grato 
pela determinação da graça de Deus. Ele nos capacitou para permanecer­
mos firmes, Embora muitas vezes eu tenha resistido. Ele foi m isericordioso
- com ela e comigo.
Tempo e dinheiro
Com efeito, passa o homem como uma sombra;
em vão se inquieta; 
amontoa tesouros e não sabe quem os levará.
Salmo 39.6
Se você quiser descobrir quais são os seus tesouros, dê uma olhada 
em sua agenda e no seu talão de cheques. Seu uso do tempo e 
dinheiro revela muito sobre o seu relacionamento com Deus. Também 
diz muito sobre como você vê outras pessoas. Efésios 4.28 e 5.16 falam 
coisas importantes sobre dinheiro e tempo. E, curiosamente, Paulo insere 
esses comentários em seu ensino sobre relacionamentos. Ele o faz porque 
a maneira como usamos tempo e dinheiro tem um impacto significante em 
nossos relacionamentos.
Antes de darmos uma olhada mais de perto nesses versículos, preci­
samos dar um passo para trás para obter uma visão mais completa. Não é 
possível ver algo de forma correta sem vê-lo com o um todo. E já que o todo 
é Deus, precisamos começar com ele.
A glória é a coisa mais importante para Deus. Deus zela por sua repu­
tação de forma completamente correta e exclusiva a ele. Ele quer que sua 
fama se espalhe por todo o universo. Ele pretende estabelecer o seu reino 
perfeito e glorioso em toda a sua criação, e enviou seu filho Jesus para que 
trouxesse o seu reino para a terra. Mas se Deus estiver decidido a trazer 
seu reinado para a terra,e se ele verdadeiramente for Deus, por que ele 
não pode fazê-lo agora? Ele pode, mas se o fizesse, toda a humanidade pe­
caminosa seria destruída. Em vez disso, tirou do céu seu maior tesouro para 
nos redim ir a fim de que pudéssemos te r um lugar em seu reino quando 
ele v ier para estabelecê-lo de uma vez por todas. Pai, Filho e Espírito Santo 
generosamente incluíram os seres humanos no reino, enfrentando o pecado 
que nos separava de Deus. Deus investiu seu tesouro mais precioso, seu
T e m p o e d in h e ir o - 1 4 1
único Filho Jesus, para nos redim ir de nós mesmos e da tirania do pecado. 
Isso demonstra o comprom isso de Deus com a sua própria glória, a sua 
intenção de apresentar toda sua glória por meio do seu reino e o seu plano 
de integrar-nos com o parte vital nessa apresentação. Qual a importância da 
fama ou da glória de Deus para você? A resposta a essa pergunta pode ser 
encontrada, em parte, na forma em que você investe seu tempo e dinheiro. 
Não é complicado, mas também não é fácil.
D i n h e i r o e p e s s o a s
Com o já dissemos, Efésios 4.28 faz parte de uma argumentação mais 
ampla sobre relacionamentos.
... deixando a mentira, fale cada um a verdade com 
o seu próximo, porque somos membros uns dos outros. 26 
Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa 
ira, 21 nem deis lugar ao diabo. 28 Aquele que furtava 
não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias 
mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao 
necessitado. 29 Não saia da vossa boca nenhuma palavra 
torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, 
conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos 
que ouvem. 30 E não entristeçais o Espírito de Deus, no 
qual fostes selados para o dia da redenção. 3 1 Longe de 
vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfê­
mias, e bem assim toda malícia. 32 Antes, sede uns para 
com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns 
aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou 
(E f4.25-32, grifado pelos autores).
Por que razão Paulo incluiria um comentário sobre o ato de dar numa 
discussão sobre relacionamentos? N o versículo 25, o texto fala sobre “ser­
mos membros de um só corpo” e então prossegue com conselhos práticos, 
tendo em vista os nossos relacionamentos.
A pergunta que Paulo faz é: “Com o você pode saber se ama os outros?” 
Outra forma de refletir sobre o versículo 28, é perguntar: “Quando é que 
um ladrão deixa de ser ladrão?” E quando para de roubar? É quando para 
de roubar e arruma um emprego? Um ladrão deixa de ser ladrão quando 
para de roubar, arruma um emprego e começa a dar para os outros. Isso
142 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a pe n a "
é apenas outra forma de desvendar o oitavo mandamento “Não furtarás” . 
Nesse mandamento, há um lado negativo e um lado positivo: Pare de fazer 
uma coisa e comece a fazer outra, diferente. E o “ livrar-se de” e o “re­
vestir-se com ” , dos quais Paulo tanto fala em suas epístolas. O que Paulo 
está dizendo é que só começamos a amar os outros com o nosso dinheiro 
quando começamos a dá-lo para ajudar os outros. E bom parar de roubar. 
E bom conseguir um emprego. Mas você não deixou de ser um ladrão até 
que parte do seu dinheiro seja destinada a ajudar outras pessoas além de 
você mesmo.
Dê uma olhada em seu relacionamento com o dinheiro. Daquilo que 
você vê, o que pode concluir sobre o seu relacionamento com Deus? Ele 
exerce a função daquele que providencia tudo aquilo que você precisa? E a 
ele que você confia a sua segurança? O que seus investimentos revelam sobre 
os seus pensamentos em relação a você e aos outros? Um bom planejamento 
financeiro pode ser uma maneira sábia de cuidar dos outros no futuro. Mas 
em que você está investindo nesse momento, além do seu portfólio? Há 
algum indício de que você esteja investindo em coisas que, segundo Deus, 
são importantes? O u está apenas construindo celeiros maiores e melhores 
que servem apenas aos seus próprios propósitos?
A u m e n t a n d o r iq u e z a s , d im in u in d o d o a ç õ e s
Coloquem os esse assunto no contexto social e histórico em que vive 
a maioria de nós. Hoje, o americano mediano ganha, após reajuste de 
impostos e inflação, quatro vezes mais do que ganhava em 19 2 1. A renda 
real aumentou 100% desde o fim da década de 1950. O cidadão de classe 
média de hoje vive como o banqueiro rico da geração dos nossos avós. Te­
mos mais roupas, casas maiores e jantamos fora regularmente. Tudo bem, 
a maioria dos americanos é mais generosa comparada com os cidadãos de 
outros países. Mas, pelos padrões bíblicos, não somos nada generosos. N o 
decorrer dos últimos vinte anos, 70% dos americanos doaram apenas I % 
ou 2% de suas rendas à instituições caritativas. 30% não contribuíram nada. 
As pessoas que confessam ser cristãs não apresentam um panorama muito 
melhor e doam, em média, apenas 3% a 4% da sua renda anual. Em valores 
percentuais, os americanos continuam sendo avarentos, mesmo que a soma 
total possa parecer generosa.
Tem po e d in h e ir o - 143
S in a is d e g e n e r o s id a d e
Com o saber se você é uma pessoa generosa? A Bíblia não deixa dúvida 
alguma quando trata desta característica básica da maturidade espiritual. 
Tanto o Velho como o Novo Testamentos dizem que você começa a se 
tornar uma pessoa generosa quando investe pelo menos dez por cento da 
sua renda nas coisas de Deus. A preocupação de Deus com os perdidos e 
aqueles que sofrem neste mundo, inevitavelmente levará você a contribuir 
para satisfazer as necessidades de outros também. Isso pode ser feito de 
muitas maneiras, mas dando à sua igreja local provavelmente lhe permitirá 
participar em muitos ministérios diferentes por meio das pessoas, dos p ro­
gramas e das causas que ela apoia.
O Antigo Testamento estabeleceu o d ízim o de 10% com o lim iar 
m ín im o para o povo de Deus em relação à generosidade. N o Novo 
Testamento, Jesus não rescinde o dízimo. M uito pelo contrário, ele nos 
chama para um estilo de vida radical, dedicada a cuidar dos outros com 
o nosso dinheiro. Em Lucas I 1.42, Jesus repreende os fariseus e diz: “A i 
de vós, fariseus! Porque dais o d ízim o da hortelã, da arruda e de todas as 
hortaliças e desprezais a justiça e o am or de Deus; devíeis, porém, fazer 
estas coisas, sem om itir aquelas.” N o te que Jesus diz que devemos dar 
pelo menos dez por cento assim também com o praticar justiça em favor 
daqueles que precisam de ajuda. Por causa da graça radical que recebe­
mos de Cristo, devemos ser radicalmente generosos com outros. Aqui 
estão algumas dicas para você exam inar a sua própria vida em relação à 
generosidade. 2Corín tios 8.1-15 oferece uma imagem maravilhosa da 
generosidade segundo o evangelho.
Amigos, quero contar-lhes das surpreendentes e ge­
nerosas maneiras nos quais Deus está operando nas igre­
jas da Macedônia. 2 Tribulações violentas chegaram às 
pessoas daquelas igrejas, levando-as aos seus limites. A 
tribulação revelou sua verdadeira essência: Manifestaram 
uma alegria incrível, apesar de sua pobreza desespera- 
dora. A pressão causou algo totalmente inesperado: uma 
quantidade considerável de presentes puros e generosos.
3 Eu estive lá e vi com meus próprios olhos. Fizeram do­
ações de tudo que podiam - muito acima do que podiam!
- 4 pedindo pelo privilégio de participarem da assistência 
aos cristãos pobres.
1 4 4 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a p e n a "
Aconteceu de forma totalmente espontânea, 
partindo deles apenas, e nos pegou completamente de 
surpresa. 5 A explicação para isso é que se entregaram 
sem reservas primeiro a Deus e depois a nós. As outras 
dádivas foram, simplesmente, resultado da obra dos pro­
pósitos de Deus em sua vida. 6 Isso nos levou a pedir que 
Tito apresentasse a vocês essa oferta de alívio, para que 
aquilo que fora começado tão bem pudesse ser comple­
tado. 7 Vocês estão indobem em tantas áreas - confiam 
em Deus, são eloqüentes, entendem e estão animados, 
vocês nos amam - agora, demonstrem o que há de me­
lhor em vocês nisso também.
8 Não quero mandar em vocês contra a sua pró­
pria vontade. Mas, trazendo até vocês o entusiasmo dos 
macedônios, espero revelar o que há de melhor em vocês.
9 Conhecem a generosidade do nosso Senhor Jesus Cristo.
Rico como era, deu tudo por nós - de uma só vez tornou- 
se pobre e nós nos tornamos ricos.
10 Pois aqui está o que penso: A melhor coisa que 
podem fazer neste momento é completar o que começa­
ram no ano passado e não permitir que aquelas boas in­
tenções adormeçam. 0 seu coração esteve no lugar certo 
durante todo este tempo. 11 Vocês têm o que é preciso 
para completar aquela obra, então a realizem. 12 Uma 
vez que o compromisso for claro, façam o que podem: 
e não o que não podem. 0 coração dirige as suas mãos.
13 Façam isso não para que alguns possam descansar, 
enquanto vocês fazem todo o trabalho. Mas porque vocês 
estão todos lado a lado durante toda essa caminhada, 14 
para que o que vocês têm em abundância possa suprir a 
falta deles. E no fim, estarão quites.
15 Como está escrito: “0 que muito colheu não teve 
sobra; e o que pouco, não teve falta.
Paulo faz duas comparações que providenciam exemplos claros de 
com o devemos ver a questão da generosidade.
T e m p o e d in h e ir o - 145
A PRIMEIRA c o m p a r a ç ã o : A d o a ç ã o d o s m a c e d ô n io s
Esse trecho é um exemplo de verdadeira generosidade do reino. Veja 
os irmãos da Macedônia e compare o relacionamento deles com o dinheiro 
com o seu próprio relacionamento.
A S SUAS DOAÇÕES INCENTIVARAM A UNIÃO
O s macedônios eram gentis e deviam sua nova vida espiritual aos cristãos 
judeus. As suas doações refletem isso. Em Romanos 15.25-27, Paulo diz:
Primeiro, vou a Jerusalém para levar a oferta de 
alívio aos cristãos de lá. Os gregos - desde a Macedônia 
no norte até a Acaia no sul - decidiram fazer uma coleta 
para os pobres entre os fiéis em Jerusalém. Fizeram isso 
com alegria, mas também era o seu dever. Cientes de que 
usufruíram de todas as dádivas espirituais que receberam 
com tanta generosidade da comunidade de Jerusalém, 
nada mais justo que agora façam tudo em suas forças 
para aliviar a sua pobreza.2
Aqui está uma expressão palpável da união entre cristãos judeus e 
gentios. Isso é notável, devido à profunda separação que existia entre os 
judeus e gentios até mesmo no início da igreja do prim eiro século. A nossa 
experiência da graça reconciliadora é expressa sempre que juntamos os 
nossos recursos para o reino de Deus.
A S SUAS DÁDIVAS FORAM UMA OBRA SOBRENATURAL DO ESPÍRITO
Voltando para 2Coríntios 8, no versículo I, Paulo diz que as suas dádivas 
eram um sinal do trabalho que Deus estava operando neles. Esse tipo de 
generosidade não acontece naturalmente. A sua adoração unida ao Deus 
vivo possibilitou dádivas surpreendentes e até chocantes.
A S SUAS DÁDIVAS ERAM SURPREENDENTES
O s macedônios deram de forma contrária a qual o mundo dá. Eles 
não compartilharam da sua abundância, mas sim apesar das suas próprias 
necessidades. Em meio a sua própria pobreza e perseguição, demonstraram 
generosidade e alegria. Este é um contraste assombroso! Um a pessoa nor­
mal dá quando conseguiu obter o bastante para arcar com o seu estilo de 
vida escolhido. Os irmãos da Macedônia deram no contexto de sua falta de
146 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a pe n a "
recursos. A s estatísticas mostram que aqueles que ganham 10.000 dólares 
ou menos costumam doar 5,5 por cento da sua renda, enquanto aqueles 
que ganham 100.000 dólares ou mais doam apenas 2,9 por cento. A gene­
rosidade não é impossibilitada pela falta de recursos e não é um privilégio 
exclusivo dos ricos.
S u a s d á d iv a s r e p r e s e n t a r a m u m s a c r if íc io
N o versículo 3 de 2Coríntios 8, lemos que eles “deram muito mais do 
que suas posses perm itiam” . Aqui, vemos os macedônios tornarem uma 
situação já difícil ainda mais difícil para eles mesmos por meio das suas doa­
ções. Nessa situação, a maioria de nós colocaria um limite em suas doações. 
Mas não os irmãos da Macedônia. N a seguinte afirmação, John Piper desafia 
as nossas noções de riqueza e segurança:
O ponto é este: uma renda anual de 70.000 dólares não precisa ser 
acompanhada por um estilo de vida que custe 70.000 dólares. Deus 
nos chama para sermos condutores da graça, e não becos sem saída.
O grande perigo está em pensarmos que os condutores precisem de 
um manto de ouro. Não é verdade. Basta um manto de cobre. Não 
importa o quão gratos somos, o ouro não fará o mundo pensar que o 
nosso Deus é bom; fará as pessoas pensarem que Deus é ouro. Isso 
não honra a supremacia do que Ele vale.3
Eu tinha um amigo que foi investigado pelo IRS [Receita Federal dos 
EUA] porque achavam que havia algo de errado com a soma que ele dizia 
te r doado em um só ano. Quantos de nós provocamos na Receita Federal 
ao ver o quanto doamos?
S u a s d o a ç õ e s e r a m e s p o n t â n e a s
N o versículo 4 está escrito que eles “pediam o privilégio de participa­
rem da assistência aos cristãos pobres. Aconteceu de forma espontânea, 
partindo deles apenas, e nos pegou completamente de surpresa” . Você 
consegue acreditar nisso? Aqui está uma congregação gentil, sofrendo com 
sua pobreza, pedindo pela oportunidade de doar aos seus irmãos judeus 
desesperados. N o te quem está implorando aqui: Não é Paulo. Paulo não 
precisa coagi-los ou apelar para seu sentimento de culpa. Você também 
implora pela chance de poder doar os seus recursos? Você se dedica com 
paixão ao trabalho de abençoar outras pessoas? Esse é o sinal de verdadeira 
generosidade.
T e m p o e d in h e ir o - 1 4 7
S u a s d o a ç õ e s e r a m u m a t o d e s u b m is s ã o
Será que eles estavam se submetendo a Paulo, o grande apóstolo, ou ao 
seu ministério visionário? Nenhum dos dois; primeiro, eles se submeteram a 
Deus e depois aos seus irmãos e irmãs em Cristo, de Jerusalém. O versículo 
5 deixa isso claro. Suas doações eram fruto do seu relacionamento com Deus 
e de sua solidariedade para com a sua família espiritual.
S u a s d o a ç õ e s e r a m u m b a r ô m e t r o e s p ir it u a l
N o versículo 12, Paulo diz: “O coração dirige as suas mãos” . Em outras 
palavras, os seus atos eram um indício daquilo que estava acontecendo em 
sua alma. As suas doações eram prova do quanto a graça de C risto estava 
operando neles. O que o seu talão de cheques diz sobre a graça de Cristo 
em sua vida? A té que ponto o seu coração está sendo transformado para 
que ele se expresse em uma generosidade desse nível?
A s e g u n d a c o m p a r a ç ã o : A d o a ç ã o d e J e su s
Paulo vê uma ligação entre a generosidade radical dos macedônios e a 
rica dádiva que receberam de Cristo. Sua generosidade é apenas uma fraca 
reflexão da generosidade de Jesus. Paulo os lembra disso quando diz: “Vocês 
conhecem a generosidade do nosso Senhor Jesus Cristo. Rico como era, deu 
tudo por nós - de uma só vez tornou-se pobre e nós nos tornamos ricos.” 
O que os motivou não foi um código moral nem a regra do dízimo. Foi o 
desejo de demonstrar sua gratidão pelos imensos tesouros que receberam 
por causa da disposição de Jesus de dar a eles tudo que ele possuía.
Pense em quem você era antes de se tornar um cristão. Era pobre, 
separado de Deus, objeto de sua ira, escravo do pecado e condenado à 
morte eterna. Mas em C risto foi reconciliado com Deus, tornou-se objeto 
de seu afeto, recebedor da sua obra purificadora na cruz, um templo do 
Espírito Santo e incrivelmente rico. E depositando sua confiança nessa reali­
dade que você se transformará em uma pessoa generosa. Por ser recebedor 
das riquezas de Deus em Cristo, você está disposto a compartilhar com 
outros não apenas a sua abundância, mas também quando tiver de fazer 
um sacrifício.
Analise o seurelacionamento com o dinheiro. O que ele lhe diz sobre 
seu relacionamento com Deus? O que ele revela sobre as suas prioridades? 
O reino de Deus dirige a sua vida até que grau? Quão forte é o dom ínio do 
seu “reino” pessoal de prazer, conforto, segurança e posição? Nosso dinhei­
ro é uma parte pessoal intensa de nossa vida, e apenas um relacionamento
148 - R e la c io n a m e n to s : "U m a c o n f u s ã o q u e vale a pe n a"
pessoal intenso com o Redentor pode fazer com que abramos mão de 
outras coisas.
T e m p o e p e s s o a s
Com que, além de dormir, você gasta a maior parte do seu tempo? 
Assim como o dinheiro, o tempo também é uma janela para a sua alma. 
Ele revela o quanto você foi transformado pela graça de Cristo. Tempo é 
um recurso que todos nós temos em quantidade igual. O que o uso do seu 
tempo diz sobre sua atitude em relação a Deus e aos outros? Em Efésios 
5.15-21, Paulo diz:
Vede prudentemente como andais, não como 
néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os 
dias são maus. Por esta razão, não vos torneis insensatos, 
mas procurai compreender qual a vontade do Senhor. E 
não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, 
mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, 
entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos 
e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a 
nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, 
sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo.
Assim como em seu comentário sobre o dinheiro em Efésios 4.28, aqui 
Paulo também cria uma ligação entre o tempo e o nosso relacionamento 
com outros cristãos e com o mundo. Ele diz: “Aproveite no máximo cada 
oportunidade, porque os dias são maus” . A Bíblia, na versão A lmeida Revista 
e Atualizada, diz: “rem indo o tempo, porque os dias são maus” . O que isso 
significa?
O chamado para “rem ir o tem po” é semelhante ao carpe diem, a ex­
pressão latina para “aproveite o dia” . Um a tradução mais literal de “rem ir 
o tem po” seria “servir-se do tem po” . A palavra grega empregada aqui para 
“tem po” não é chronos, palavra usada para referir-se ao passar do tempo em 
horas, meses e anos, e sim kairos, que a Bíblia usa para se referir ao tempo 
entre a primeira e a segunda vinda de Jesus. Esse é um tempo de oportu­
nidade única, em que nós podemos mostrar a graça de C risto para outros. 
Algum dia, quando C risto retornar com poder e grande glória, esse período 
chegará ao fim. Assim, uma tradução mais desajeitada, porém apropriada,
Tem po e d in h e iro - 149
desse versículo seria: “Enquanto você vive a sua vida nesse tempo ‘entre 
tempos’, aproveite-o ao máximo para demonstrar a graça de C risto aos 
outros” . A luz dessa nova informação, como devemos entender o que esse 
versículo está pedindo de nós?
El e n ã o e s t á c h a m a n d o v o c ê a o a t iv is m o f r e n é t ic o
Esse trecho não encoraja a um ativismo to lo que sobrecarregue sua 
agenda com eventos e obrigações na igreja. Nem exige que você transforme 
momentos relacionais normais em encontros para testemunhos anormais. 
Esse tipo de com portam ento pode até impedi-lo de viver sabiamente. 
Usar seu tempo de forma sábia pode incluir oportunidades de ministério 
formais com o uma viagem missionária, ser professor de escola dominical 
ou o trabalho na creche da igreja, mas o chamado aqui não se dirige tanto 
a atividades específicas, e sim a um estilo de vida dedicado aos propósitos 
de Deus que incluem todos os detalhes da vida diária.
S ig n if ic a v e r a s u a v id a à l u z d e s e u s v á r io s c h a m a d o s
Esse trecho está dizendo: “Faça o melhor possível em cada área em 
que Deus o co locou” . Você é solteiro, casado, aposentado, pai, filho, ami­
go, chefe, empregado, estudante ou avô? Cada uma dessas situações é um 
chamado e um período em sua vida e você deve vê-las como oportunidades 
para demonstrar a graça de Cristo. Nós temos a tendência de viver com 
uma mentalidade do tipo “sobreviver a essa tempestade” . D izemos a nós 
mesmos: Se eu conseguir sobreviver a este período estressante da minha vida, eu 
ficarei bem. Essa não é uma compreensão sagrada das suas responsabilidades 
e oportunidades atuais. Eu costumo fazer isso em relação aos meus filhos: 
Se eu conseguir sobreviver à fase das fraldas... E quando os filhos saíram das 
fraldas, eu disse: Se eu conseguir sobreviver a esses primeiros anos da escola 
primária, então poderei me dedicar ao ministério para outros. Mas se eu não tiver 
cuidado, eu passarei a minha vida desejando e, assim, perdendo as muitas 
oportunidades de amar e servir aos meus filhos. Essas são oportunidades 
perdidas para m orrer para o seu ego e para crescer na graça. Deus quer que 
vejamos as dificuldades diárias como momentos críticos de oportunidades 
redentoras, e não como obstáculos.
S ig n if ic a q u e v o c ê d e v e a p r o v e it a r o s p e q u e n o s 
m o m e n t o s d a v id a
Você sabia que 95% da sua vida são vividos num contexto mundano? 
Imagine, por exemplo, um marido e sua esposa irritados um com o outro. 
Eles estenderão a mão um para o outro ou continuarão irritados? Esse é um
1 5 0 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e v a le a p e n a "
momento redentor do tamanho de um elefante - enorme! Quantos desses 
momentos você perde a cada dia? Imagine esse casal perdendo milhares 
desses momentos ao longo de seu casamento. Em que ponto estará seu 
casamento em vinte anos? Imagine, agora, esse casal se aproveitando desses 
momentos. Você consegue enxergar a diferença que isso faria?
Vo c ê p r e c is a v e r o c o n t e x t o e m q u e a s c o is a s a c o n t e c e m
Paulo diz: “ Porque os dias são maus” . Você vive em meio a uma zona 
de guerra. Você se levanta da cama de manhã e se depara com uma guerra 
sendo travada pela sua alma, sua vida, suas amizades e seu casamento. Você 
não se pode dar ao luxo de desperdiçar esses momentos. A guerra é ganha 
nas pequenas batalhas que acontecem ao longo de toda a sua vida. “Acorde!” 
Paulo diz. “Você está em guerra.”
D in h e ir o , t e m p o e p e s s o a s
Você reconhece como o dinheiro e o tempo revelam o seu coração em 
relação a Deus e a outras pessoas? A forma com que você usa seu tempo e 
dinheiro em seus relacionamentos humanos diz muito sobre seu relaciona­
mento com Deus. Pelo fato de que Deus está comprometido a se glorificar, 
ele enviou seu Filho para redim ir a sua criação. E no topo da lista das coisas 
que ele quer redim ir estão as pessoas. Ele generosamente derrama seus 
recursos sobre nós para que possamos participar na obra do seu reino e 
m orar com ele para sempre quando ele completar o seu trabalho.
As suas prioridades estão em sintonia com as de Deus? Você investe 
nas mesmas coisas que ele? Outras pessoas compartilham das bênçãos de 
Deus em sua vida, ou você guarda todas elas para si mesmo? Somos cha­
mados para amar a Deus e para usar as suas bênçãos para amar os outros. 
Mas infelizmente muitas vezes usamos as outras pessoas a fim de obter as 
coisas que nós amamos.
Quando eu me casei, fiz o que todos os outros noivos fazem. Repeti 
as juras para a minha esposa e disse que a amaria sacrificialmente durante 
todos os dias da minha vida. Quem eu estava tentando enganar? O lho para 
trás e vejo que pouco sabia daquilo que estava prometendo. O que, em 
grandes partes, eu realmente estava pensando era: Isso é maravilhoso! Eu 
me amo e agora você também me amará! Meu am or era muito superficial. 
Levei apenas alguns poucos dias de casado para descobrir isso. Deus tinha 
um plano para usar a minha esposa e meus filhos para mostrar para mim o 
quão superficial meu am or era e para ajudar a aprofundá-lo ao passo que
T e m p o e d in h e ir o - 1 51
reconhecia que precisava crescer. Reconhecer isso me levou a depender de 
Deus e de sua graça ainda mais.
Não há um dia que passa sem que eu tenha dificuldades com a maneira 
em que uso meu tempoe meu dinheiro com a minha família. E essas são 
pessoas que eu afirmo amar. Tenho dificuldades em manter meu tempo à 
disposição dos outros quando não quero ser incomodado. Meu instinto é 
fechar a mão cada vez que um dos meus filhos pede alguns dólares para 
poder sair com seus amigos. Esses lembretes diários revelam um coração 
que ainda precisa de uma grande revisão. A única coisa capaz de penetrar 
a dureza do meu coração é a graciosa redenção que Pai, Filho e Espírito 
efetuaram em meu favor. Se eu quiser que meu coração seja transformado, 
ele precisa permanecer submerso nessa graça.
Imagine um bife. Se você quiser que seja macio e saboroso, você o co ­
locará numa marinada por algum tempo antes de colocá-lo na churrasqueira. 
Se quisermos amar os outros com o nosso tempo e dinheiro, algo parecido 
precisa acontecer com o nosso coração. Ele é duro e cheio de cartilagem. 
A maneira de torná-lo macio é colocá-lo no molho da graça redentora de 
Deus em Cristo. Essa é a única coisa que possui suficiente poder para fazer 
com que abramos mão do nosso dinheiro e tempo e produzir uma trans­
formação verdadeira. O Evangelho me lembra que tudo que tenho vem de 
Deus. Romanos 8.32 diz: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, 
por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele 
todas as coisas?” Vale a pena refletir sobre isso. De fato, esta é a única coisa 
que pode lhe capacitar a v iver tudo aquilo que falamos até agora.
N o t a s
1 Eugene Peterson, The Message (Colorado Springs, CO: NavPress, 1993), 2Coríntios 
8.1-15 (trad. livre).
2 Ibid., Romanos 15.25-27 (trad. livre).
3 John Piper, Let the Nations Be Glad: The Supremacy o f God in Missions (Grand Rapids: 
Baker Book House, 1993), 16.
1 ^ Providência
Até quando estarei eu relutando dentro de mi­
nha alma, com tristeza no coração cada dia? Até quando 
se erguerá contra mim o meu inimigo?
Salmo 13.2
Brian e Kara estavam casados há o ito anos. E agora se encontravam 
diante de uma montanha de problemas. Am bos cresceram em 
famílias privilegiadas e tiveram tudo que a vida tinha a oferecer. O s pais de 
ambos tinham altas expectativas para o seu futuro e haviam providenciado 
tudo que acreditavam ser essencial para o seu sucesso. Esperavam de Brian, 
Kara e seus irmãos que aproveitassem ao máximo destas vantagens e as 
usassem para alcançar um nível de excelência.
Brian e Kara responderam à sua criação de formas muito diferentes. 
Nascido bem mais tarde do que os seus irmãos, Brian sempre viveu na som­
bra deles. Seu irmão era um cirurgião célebre em um hospital universitário; 
e sua irmã, uma advogada energética em uma das melhores firmas. Brian se 
sentia como se todos o estivessem observando para ver se ele conseguiria 
repetir o sucesso dos seus irmãos. Em seu terce iro ano de faculdade, os 
problemas começaram a aparecer. Após vários semestres, em que quase 
fora reprovado em suas aulas de introdução ao direito, ele decidiu estudar 
filosofia. Isso foi uma grande decepção para os seus pais e deixaram isso claro 
para ele. Também fizeram com que seu irmão e irmã ligassem para ele e 
demonstrassem sua “preocupação”, a fim de reforçar a sua mensagem. Foi 
nesse período que a luta de Brian contra a depressão começou.
Kara, por sua vez, era a mais velha de quatro filhos. Usufruiu do en­
corajamento dos pais e nunca sofreu as comparações que Brian teve de 
aturar. Aqueles anos de encorajamento lhe deram a confiança para acreditar 
que conseguiria fazer quase tudo que queria. Ela encerrou seus estudos
P ro v id ê n c ia - 153
de pré-graduação com honras e se formou na faculdade de dire ito com o a 
melhor da turma.
Quando Brian e Kara se conheceram, pareciam ser o par perfeito. Kara 
se sentia atraída pela personalidade pensativa e sensível de Brian. Ele era o 
refúgio dela das pressões sobre seu desempenho. Brian se sentia atraído por 
Kara porque ela se parecia com sua família em muitos aspectos. Ele sabia que 
seus pais a acolheriam. As experiências de infância que tinham em comum 
facilitaram a sua comunicação. Era tão fácil que, na verdade, os impediu de 
verem que eram duas pessoas muito diferentes.
N o início, a sensibilidade de Brian e as conquisteis de Kara funcionaram 
com o um laço para o seu relacionamento, mais tarde, porém, se transfor­
mariam na linha de separação, no centro de seus problemas. Foi somente 
após o seu casamento que Kara percebeu que Brian tinha abandonado o 
sonho das conquistas que ela tanto desejava alcançar. Ela não sabia que o 
seu relacionamento viria a desafiar tudo aquilo que lhe era importante em 
termos profissionais, materiais, sociais e pessoais. Brian não se deu conta 
de que Kara viria a esperar dele as mesmas coisas que seus pais esperavam 
dele. A o passo que seu casamento prosseguia, desenvolveu-se uma dinâmica 
nada saudável. Quando Brian percebeu que não satisfazia as expectativas 
de Kara, suas depressões pioraram. Kara reagiu à apatia e depressão de 
Brian com incessantes cobranças e agulhadas, insistindo que conquistasse 
qualquer coisa, e quando ele não conseguia completar nem as mais sim­
ples tarefas domésticas, reclamava dele. Porém, quanto mais Kara tentava 
contro lar Brian mais ele se afastava dela. Era um círculo vicioso que estava 
destruindo ambos.
As perdas eram evidentes em muitos níveis. Brian estava começando 
seu sexto emprego de meio expediente como professor de filosofia na fa­
culdade da comunidade local. Kara havia criado uma firma na internet que 
lhe permitia ficar em casa com seus dois filhos. A renda desses dois trabalhos 
não chegava nem perto do seu antigo estilo de vida luxuoso. Eles sentiam 
vergonha de seu apartamento; não convidavam suas famílias porque elas 
só os lembravam de seu fracasso. Devido à tendência de Brian de evitar 
conflitos e à de Kara de buscar o confronto, suas conversas assumiam um 
tom agressivo rapidamente, mesmo quando tratavam de assuntos sem 
importância. Não conseguiam chegar a um acordo sobre questões de edu­
cação e, assim, o seu relacionamento com os filhos sofria. Suas amizades 
na igreja local também estavam sofrendo. Apesar de tentarem manter uma 
aparência positiva, a tensão entre eles fez com que a sua presença criasse 
um clima embaraçoso para qualquer um entre eles. Finalmente, em um ato 
de desespero, Kara pediu ajuda. A depressão de Brian havia piorado ainda
1 5 4 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a pena"
mais e ela tinha chegado ao fim da linha. Ela ligou para uma mulher que havia 
compartilhado seus próprios problemas com a igreja. Kara esperava que ela 
entendesse o que ela estava passando.
A v id a c o m o K a r a a v ê
A “realidade” que você vê é a realidade que determina o que você vive. 
Isso certamente era verdade para Kara. Enquanto sua amiga da igreja ouvia a 
ladainha de Kara com seus problemas e decepções, ela sabia que não haveria 
cura rápida para Kara. Grande parte da luta de Kara se devia ao fato de que 
ela não enxergava nada além de seus próprios problemas. Nada em seu 
mundo parecia estar dando certo. Ela se sentia isolada e sozinha e não tinha 
ninguém que a entendesse. O tempo que passava com pessoas que pareciam 
te r tudo sob controle apenas alimentava essa impressão falsa nela.
O u t r a v is ã o d o m u n d o d e K a r a
A amiga de Kara se comoveu com o seu sofrimento. Ela se lembrou 
de te r se encontrado em uma situação semelhante alguns anos atrás. Não 
era difícil sentir empatia por ela e, prudentemente, não tentou minimizar 
os problemas na vida de Kara. Mesmo assim, ao analisar o mundo de Kara, 
ela viu coisas que Kara não conseguia enxergar. Por toda parte, encontrava 
evidências da obra da graça redentora de Deus. Viu o amor de Kara por 
seu marido e seus filhos. Apesar de estarem em uma situação financeira 
apertada, viu a providência óbvia de Deus. O nde Kara via apenas fracassos, 
sua amiga reconhecia a capacidade de Deus em usar essas dificuldades para 
levar estecasal a outro nível em suas vidas e em seu casamento. Viu uma 
igreja disposta a oferecer apoio e ajuda. E pelo que Kara lhe havia contado, 
parecia que Brian também estava disposto a pedir ajuda.
O sinal mais óbvio da presença de Deus era o que, para Kara, era o 
menos óbvio: a conversa que ela estava tendo naquele exato momento. O 
próprio fato de Kara, que tinha tanta autoconfiança, adm itir que precisava 
de ajuda era um sinal maravilhoso da graça de Deus na sua vida. Mas devido 
àquilo que não enxergava, ela estava presa. Estava em pânico e desespera­
da porque Deus era a última pessoa em quem estava pensando. Faltavam 
esperança e encorajamento a Kara, porque não ela não via o Deus que já 
estava agindo em seu favor e em favor de Brian e sua família.
P r o v i d ê n c i a - 1 5 5
E x p l i c a ç ã o : I s s o b a s t a ?
Quando nos encontramos em meio a circunstâncias desafiantes, a nossa 
tendência é procurar uma explicação que tem três objetivos:
El a n o s a j u d a a e n t e n d e r o q u e e s t á a c o n t e c e n d o
Querem os entender as nossas dificuldades. Kara quer saber por que 
Brian age daquela forma. Q uer saber por que se sente daquela forma em 
relação a ele. Com o é que Brian se transformou daquela pessoa tão atraente 
em alguém tão desagradável? São, todas elas, boas perguntas.
El a n o s a j u d a a v e r e m q u a l d ir e ç ã o d e v e m o s p r o s s e g u ir
Quando a vida se torna difícil, vem o momento em que desistimos de 
propósitos maiores e nos contentamos com a sobrevivência. Paramos de 
perguntar: “O que posso realizar?” e, em vez disso, perguntamos: “Eu con­
seguirei sobreviver?” Kara deseja ter alguns alvos que lhe deem um propósito 
e motivação. Esse, também, é um bom desejo.
El a n o s d i z c o m o p o d e m o s c h e g a r lá
Após entendermos o que está acontecendo e onde precisamos chegar, 
queremos adquirir habilidades práticas e estabelecer um plano de ação que 
nos leve até lá. Kara quer saber com o pode obter algum progresso em suas 
dificuldades. Isso também não deve ser menosprezado.
Apesar desses elementos positivos, as explicações apenas aumentarão 
o desespero de Kara no decorrer do tempo. Podem até ter o efeito de en­
corajamento no início, mas ele não persistirá. Isso, porque as explicações 
apenas convencerão Kara de que seus problemas são maiores do que ima­
ginava; seus alvos, mais distantes; e suas habilidades práticas, inadequadas 
para resolver o seu problema. Kara e Brian não precisam de algo que seja 
menos do que uma explicação: Eles precisam de algo a mais.
I m a g i n a ç ã o : O r e s t o d a h i s t ó r i a
Quanto à sua situação, a compreensão de Kara é distorcida por aquilo 
que ela não vê. Digamos que alguém tenha uma dívida de 10.000 dólares, 
mas não sabe que uma herança de 100.000 dólares está a caminho. Isso não 
afeta a forma como a pessoa encara a sua dívida? Kara e Brian têm em vista 
o seu problema de 10.000 dólares, mas não veem a providência de 100.000
156 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a pe n a "
dólares que Deus colocou à sua disposição. O que os dois precisam não é 
de explicação, e sim de imaginação.
Imaginação não é a capacidade de ver coisas que não são reais; é a 
capacidade de ver o que é real, mas que, muitas vezes, é invisível. C om o diz 
Eugene Peterson em Subversive Spirituality, para um cristão, cuja esperança 
é um Deus invisível, a capacidade de ver o invisível é essencial.1 Hebreus I I 
chama isso de fé. Permita que Peterson amplie seus pensamentos por meio 
de sua descrição da fé em termos da imaginação:
Quando olho para uma árvore, a maior parte daquilo que “vejo”, 
na verdade, não vejo. Vejo um sistema de raízes na terra que, com 
suas gavinhas, penetra o solo e suga os nutrientes da argila. Vejo a luz 
despejando energia nas folhas. Vejo a fruta que aparecerá em alguns 
meses. Eu olho e olho e vejo os galhos desfolhados e austeros na neve 
e no vento do próximo inverno. Vejo tudo isso, de verdade, e não 
estou inventando nada disso. Mas não poderia fotografar nada disso.
Vejo tudo isso por meio da minha imaginação. Se minha imaginação 
estiver atrofiada ou inativa, verei apenas o que posso usar ou algo que 
estiver no meu caminho.2
O que Peterson diz aqui é profundo, mas não é novo. Ele descreve 
algo que fazemos o tempo todo. Sempre que os pais ajudam seu filho com 
os deveres de casa, eles imaginam o futuro da criança no segundo grau e na 
faculdade. Quando um casal se senta à mesa para discutir assuntos financeiros, 
antecipam a sua aposentadoria no futuro. Pais que economizam dinheiro para 
férias especiais encorajam seus filhos a imaginarem com o elas serão; isso 
diminui a dor do sacrifício que é necessário para alcançar o alvo. Quando as 
crianças reclamam, os pais as lembram da diversão que as espera. As crianças 
aprendem a viver com escassez porque aprendem a ver o invisível.
A imaginação nos permite entender mais profundamente duas realida­
des invisíveis: a nossa identidade (as realidades invisíveis daquilo que Deus diz 
que somos) e os recursos de Deus (as realidades invisíveis da sua presença 
e providência com e para nós).
I d e n t i d a d e : Q u e m s o u e u ?
Imagine-se numa galeria de arte onde as paredes estão cobertas com 
lindas pinturas. O único problema é que as luzes estão apagadas e você 
não consegue vê-las. Imagine que uma música maravilhosa esteja tocan­
do, mas seus ouvidos estão entupidos com algodão. Imagine-se comendo
P r o v i d ê n c i a - 1 5 7
uma refeição deliciosa, mas uma gripe faz com que os sabores passem 
despercebidos pela sua língua. Essa é a verdade espiritual de Kara. Ela não 
consegue ver nem vivenciar as coisas que são reais porque lhe faltam visão, 
audição e paladar espirituais. A sua perspectiva é dominada por aquilo que 
está errado em sua vida e em seus relacionamentos. Essa é a realidade que 
determina a sua vida. Imaginação, ou fé, não significa que Kara deva negar 
as suas circunstâncias atuais; significa, porém, que deva vê-las no contexto 
de uma visão abrangente que inclui quem ela é em Cristo.
Muitas vezes, as coisas invisíveis, que são verdadeiras para nós como 
filhos de Deus, passam despercebidas por nós. Mas a Bíblia diz que dois 
aspectos fundamentais caracterizam aqueles que estão em Cristo. Primeiro, 
houve uma transformação radical no centro do nosso ser. A Bíblia diz que 
nosso coração de pedra foi substituído pelo coração de carne. Ezequiel 36.26 
diz: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei 
de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne” . Paulo se refere à 
mesma coisa quando diz que somos uma nova criatura em C risto (2Co 5.17). 
Essa realidade maravilhosa não significa que nos tornamos perfeitos, mas sim 
que os nossos corações são maleáveis, sensíveis e vivos para Deus.
Para Kara e Brian essa verdade maravilhosa significa que não estão 
presos, apesar de enfrentarem dificuldades aparentes em seu casamento. 
Mas eles precisam de imaginação (isto é, fé) para enxergar seu verdadeiro 
potencial de transformação. Muitas vezes ficamos presos quando somos 
confrontados repetidamente com problemas, fracasso, fraqueza, decepção e 
pecado. O nosso currículo tenta convencer-nos de que é impossível mudar. A 
imaginação não nega o currículo, mas o coloca no contexto de quem somos 
em Cristo. Ela nos lembra de que o Espírito de Deus está operando em nós 
e de que somos “participantes da natureza divina” (2Pe 1.4). Assim, Brian e 
Kara foram presenteados por Deus com o potencial para mudança.
A Bíblia também atiça a nossa imaginação quando explica a nossa cone­
xão com Deus como seus filhos. A nossa nova filiação acontece em termos 
legais, mas é, também, pessoal e prática. Tanto o casamento quanto a adoção 
envolvem uniões legais, mas a sua intenção é criar relacionamentos que vão 
muito além de contratos legais. Imagine um casal casado que se relaciona 
apenas em um nívellegal sem qualquer amor. Seu casamento em nada seria 
diferente de uma parceria empresarial. O que seria se os pais adotivos se 
relacionassem com seu novo filho apenas em termos de suas obrigações 
legais de alimentar, vestir e educá-lo? As palavras “Eu te amo” nunca seriam 
pronunciadas. Isso seria terrível, porque a nova situação legal pretende ser 
apenas o contexto dentro do qual possa florescer um relacionamento mais
158 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a pe n a "
profundo e completo. Relacionamentos entre um casal ou entre pais e filhos 
não são menos do que legais; são muito mais do que isso.
Da mesma forma, a nossa reconciliação com Deus nos dá um relacio­
namento com ele que deveria mudar as nossas reações a tudo. Deus agora 
é meu Pai e eu sou seu filho. Ele me vê com carinho. Sou o objeto de sua 
atenção e de seu afeto. Tenho acesso aos seus cuidados. Ele me abençoa com 
seus recursos. O ferece perdão e purificação constante quando luto contra o 
pecado. Promete nunca me deixar ou me desamparar. Ele se comprometeu 
a completar a sua obra de transformação que começou em mim.
Brian e Kara fazem parte de uma boa igreja onde seu novo status legal 
em relação a Deus faz parte do ensino, mas a sua compreensão pessoal disso 
permaneceu no nível teórico. Nunca aprenderam a ligá-lo à sua experiência 
do dia a dia e assim, enquanto as palavras soam bonito no domingo de manhã, 
não têm relevância nenhuma na terça-feira à noite quando se encontram 
no meio de uma briga. Eles não fazem a menor ideia do que seu novo rela­
cionamento com C risto realmente significa. A presença pessoal de Jesus no 
meio das brigas de Brian e Kara nunca foi reconhecida. Eles não param para 
pedir ajuda a ele porque não pensam nele como pessoa. Pensam nele mais 
em termos de um advogado que conseguiu mantê-los fora da prisão. Agora 
que esse perigo já não existe mais, pararam de se relacionar com ele.
Quais são as implicações disso tudo para Brian, Kara e para nós? Sig­
nifica que cada um de nós pode se levantar de manhã cheio de esperança; 
sabemos que o Senhor dos céus e da terra é verdadeiramente nosso Pai. 
V iver pela fé significa isso. A imaginação nos leva ao cume da montanha da 
graça de Deus para que possamos ver as nossas dificuldades e desafios do 
ponto de vista do amor inexorável que ele tem por nós.
Imagine Kara entrando em contato com C risto pessoalmente toda 
manhã e falando com ele desta forma: “Jesus, obrigada por estar comigo 
neste momento e durante todo o dia. Por sua causa, nunca estou sozinha. 
Por sua causa, não preciso administrar o universo - nem mesmo o Brian! 
Por favor, me dê forças para confiar o Brian a você; ajude-me a amá-lo de 
uma forma que nos ajude a vê-lo e a amá-lo e um ao outro.” Imagine Brian 
dizendo palavras como: “Pai, sei que dei muita importância a coisas com o 
posição social e sucesso para sentir-me bem. Fiquei deprim ido quando não 
consegui alcançá-los. Menosprezei seu amor por m im em Cristo. Por isso, 
mereço sua condenação. Mas por causa daquilo que Cristo fez por mim, você 
me aceitou - você não apenas me tolera, mas me abraça maravilhosamente. 
Quando eu der um passo após outro durante este dia, ajude-me a lembrar 
que você é por mim e está comigo. Mesmo lutando com a depressão, sei 
que sou, em prim eiro e mais importante lugar, seu filho amado. Que essas
P r o v i d ê n c i a - 1 5 9
verdades e sua presença pessoal possam me encorajar a aproximar-me da 
vida e do meu relacionamento com Kara.” Nessas pequenas orações, Brian 
e Kara estão colocando a sua fé em ação. Estão tendo comunhão com o 
Deus invisível porque a sua imaginação os capacita a ver a realidade. Quando 
a amiga de Kara a apresentou a pessoas na igreja que podiam ajudá-los, foi 
isso que Kara e Brian começaram a aprender.
A P R E S E N Ç A E P R O V ID Ê N C IA D E D E U S
O que mais Brian e Kara precisam ver com os olhos da imaginação e 
da fé? Quando as dificuldades persistem e a vida não muda de um dia para o 
outro, rapidamente surgem confusão e um sentimento de impotência. Essas 
coisas nublam a imaginação. Elas o levam a cre r que as dificuldades da sua 
vida são singulares, que ninguém o entende e que você está sozinho. E um 
esforço maior apenas parece agravar o problema. Você está se esforçando 
ao máximo para entender o que está acontecendo, mas mesmo assim não 
consegue encontrar a resposta.
Quando você se encontra nesse ponto de necessidade e desânimo, você 
quer respostas e estratégias, mas Deus nos dá algo melhor. A providência 
de Deus não pode, simplesmente, ser reduzida a respostas e estratégias 
porque a sua providência está ligada à sua própria presença. Deus sabe que a 
nossa necessidade é muito maior e profunda do que aquilo que acreditamos 
que pode satisfazê-la. Por isso, ele não nos dá apenas conselhos práticos, 
ele nos dá a si mesmo. Ele é a nossa sabedoria. Ele é a nossa força. Ele é o 
nosso perdão. Ele é o nosso Pai. Com o diz Moisés em Êxodo 33 .15: “Se a 
tua presença não vai comigo, não nos faças subir deste lugar” . Moisés sabia 
que, se Deus não estivesse ao seu lado, nenhuma estratégia ou técnica do 
mundo poderia ajudá-lo contra os obstáculos de superioridade esmagadora. 
Jesus leva a realidade da presença e providência um passo mais adiante em 
João 14.15-20. Ele diz que não estará apenas do nosso lado ou conosco, 
mas em nós.
Se me amais, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao 
Pai, e e/e vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre 
convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque 
náo o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e 
estará em vós. Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros. Ainda 
por um pouco, e o mundo não me verá mais; vós, porém, me vereis; 
porque eu vivo, vós também vivereis. Naquele dia, vós conhecereis 
que eu estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós.
160 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a pe n a "
Jesus descreve a sua presença nos termos de um relacionamento fami­
liar quando diz que não nos deixará órfãos. Brian e Kara precisam lidar com 
suas dificuldades, sabendo que Deus, a suprema fonte de tudo aquilo que 
precisam, está vivendo neles. Em meio às suas dificuldades, Brian e Kara não 
precisam se desesperar e sentir-se sós em suas lutas; Deus está presente. 
Não precisam recorrer a palavras que magoam; podem falar palavras que 
curam. Não precisam entregar-se à decepção, amargura e vingança; podem 
escolher a paciência, gentileza, compaixão e perdão. Podem encorajar em 
vez de condenar. Podem carregar os fardos um do outro e servir um ao 
outro com alegria. As promessas de um novo potencial não precisam ser 
vistas por meio de olhos exaustos; elas podem ser recebidas de forma que 
alimentem uma nova esperança e obediência de coração, mesmo se a situa­
ção não melhorar imediatamente. Por quê? Porque a sua imaginação não vê 
apenas um casamento restaurado, mas um relacionamento com Deus mais 
profundo e vivido momento após momento. N o final das contas, foi para 
isso que Brian e Kara foram criados e redimidos.
A aposta é alta: A realidade que a nossa imaginação escolhe é a realidade 
que determina a nossa vida. Se a verdade de vivermos em um relacionamen­
to profundamente pessoal com Deus não nos cativar, dim inuiremos nossas 
expectativas e sonhos ao tamanho de nossos egoístas desejos, anseios e 
estratégias pessoais. Foi isso que aconteceu com Brian e Kara e é o que 
acontece muitas vezes conosco também. Brian estava sendo esmagado pela 
pressão de obter um sucesso que fora definido por outros. Agora, ele estava 
vendo que Deus o estava transformando em algo muito mais glorioso: Deus 
o estava transformando à semelhança de Cristo. Kara perm itira que sua 
visão da vida fosse diminuída a ponto de querer contro lar o seu cantinho do 
universo. Mas agora estava vendo pela primeira vez que Deus já estava no 
controle. Podia confiar que eletransformaria Brian porque estava começando 
a confiar que ele a transformaria também.
O q u e D e u s e s t á f a z e n d o e m s u a v i d a ?
Quando não reconhecemos nossa identidade em C risto ou não vemos 
a sua presença e providência, acabamos vendo um Deus ocupado demais 
para se preocupar conosco. A oração se torna algo como um telefonema 
de emergência. Para conseguirmos a atenção de Deus, fazemos a chamada 
para que Deus acorde, para que veja as nossas necessidades, aja em nosso 
favor e providencie socorro. Mas quando ele aparece e faz o que achamos
P r o v i d ê n c i a - 1 6 1
que ele deve fazer, acreditamos que logo ele se retira para cuidar de outros 
assuntos urgentes até o chamarmos de novo.
Isso é uma visão completamente errônea de quem Deus é e de como 
ele trabalha, mas é assim que Brian e Kara costumavam vê-lo. Para eles, 
ele era distante e inativo. De fato, Kara já se perguntara por que Deus não 
estava fazendo nada para ajudá-la no casamento. Brian se indagara por que 
Deus não o livrava da depressão. A sua visão da passividade de Deus foi um 
dos ingredientes principais de sua impotência persistente. O u tro ingrediente 
era seu foco nas circunstâncias que não os permitia reconhecer as questões 
mais graves de seu coração em relação a sucesso, controle e aceitação e que 
precisavam ser tratadas pelo poder do Evangelho.
Mais uma vez, as Escrituras aumentam nossa imaginação ajudando-nos 
a ver coisas que normalmente não vemos. As Escrituras aumentam nossa 
sensibilidade em relação a um Deus que está próximo, que está disposto 
e é capaz de nos salvar. N o Salmo 12 1, o salmista aponta para a presença 
constante de Deus e sua incansável atividade em nosso favor:
Elevo os olhos para os montes: 
de onde me virá o socorro?
0 m e u so co rro vem do S e n h o r , 
q u e f e z o cé u e a terra.
Ele não permitirá que os teus pés vacilem; 
não dormitará aquele que te guarda.
E certo que não dormita, 
nem dorme o guarda de Israel.
0 S e n h o r é q u e m te guarda; 
o S e n h o r é a tua so m b ra à tu a d ire ita .
De dia não te molestará o sol, 
nem de noite, a lua.
0 S e n h o r te gu a rd a rá d e todo m a l; 
g u a rd a rá a tu a alm a.
O S e n h o r g u a rd a rá a tua sa íd a e a tu a e ntrad a, 
d e sd e agora e p a ra se m p re .
A mesma imagem de Deus pode ser encontrada na vida e nas palavras 
do apóstolo Paulo. Em meio a muitas dificuldades e sob muitas pressões, 
Paulo diz em Romanos 8.28-39:
Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem 
daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados
162 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a pen a"
segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão 
conheceu, também os predestinou para serem conformes 
à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogê­
nito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses 
também chamou; e aos que chamou, a esses também 
justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.
Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus 
é por nós, quem será contra nós? Aquele que não pou­
pou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, 
porventura, não nos dará graciosamente com ele todas 
as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de 
Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? E 
Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, 
o qual está à direita de Deus e também intercede por 
nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tributa­
ção, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou 
perigo, ou espada? Como está escrito:
Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, 
fomos considerados como ovelhas para o matadouro.
Em todas estas coisas, porém, somos mais que 
vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu 
estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem 
os anjos, nem os principados, nem as coisas do presen­
te, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem 
a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá 
separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, 
nosso Senhor.
Com o a nossa imaginação fraca é desafiada radicalmente por estes 
versículos! Quando nos encontramos em dificuldades, a nossa tendência é 
pensarmos que Deus não está à vista e que precisamos resolver nossos p ro­
blemas por conta própria. Quando nossa visão da realidade é tão pequena, as 
nossas tentativas de resolver um problema muitas vezes acabam agravando 
o problema. O u tentamos consertar as coisas erradas ou consertamos as 
coisas certas de forma errada.
A Bíblia não só nos diz que Deus trabalha sem interrupção, mas diz 
também com o trabalha e em que está trabalhando. Isso nos dá esperança 
e providencia propósito e direção ao nosso próprio trabalho. Quando co ­
meçamos a trabalhar e seguimos o mesmo rote iro de Deus, funcionamos
P r o v id ê n c ia - 163
de maneiras verdadeiramente redentoras. Se Deus perdoa, precisamos 
trabalhar para perdoar. Se ele está trabalhando para tornar alguém uma 
pessoa melhor, devemos fazer o que esteja em nosso poder para apoiar 
essas transformações. Se Deus está trabalhando para criar paz, devemos 
ser criadores de paz. Se Deus carrega diariamente os nossos fardos, quere­
mos ajudar a carregar os fardos dos outros. Se Deus está trabalhando para 
criar um coração de adoração em nós, devemos estimular uns aos outros à 
adoração. Em resumo, somos chamados a ajudar uns aos outros para ver a 
realidade invisível do nosso Deus ativo, presente e pessoal. A obra de Deus 
é movida por um propósito muito maior do que simplesmente tornar as 
nossas vidas mais fáceis. Ele quer refazer-nos à sua imagem. E essa seme­
lhança pode ser vista em Jesus.
Poderíamos oferecer muitas explicações a Brian e Kara sobre os moti­
vos de tudo te r dado tão errado e o que podem fazer para tentar consertar. 
Mas nenhuma explicação os levará a um novo nível em seu casamento. Uma 
explicação pode trazer entendimento e mudança temporária, mas nada que 
seja duradouro. A imensidão da glória de Deus precisa erguer-se diante 
de seus olhos para que possam ver seus problemas sob um ponto de vista 
adequado. A coragem para nutrir uma esperança por uma transformação 
permanente é do tamanho do Deus que sua - e nossa - imaginação é capaz 
de ver. Quando vejo minha identidade em Cristo, a presença e providência 
de Deus e aquilo que ele está operando nesse processo, estou disposto e 
sou capaz de fazer o que, sem ele, não faria. Brian e Kara estão começando 
a fazer isso em pequenos, mas importantes passos.
A explicação, apesar de ser um aspecto importante da transformação, 
não é suficiente. Ela precisa ser alimentada pela imaginação. Eugene Peterson 
capta a interação vital das duas:
Possuímos um par de habilidades mentais, a imaginação e a ex­
plicação, destinadas a trabalhar em conjunto. Quando o Evangelho é 
expresso de forma sólida e saudável, as duas trabalham em graciosa 
sincronia. A explicação analisa as coisas para que possam ser manu­
seadas e usadas - obedecer e ensinar, ajudar e orientar. A imaginação 
abre as coisas para que possamos crescer e amadurecer - adorar e 
celebrar, exclamar e honrar, seguir e confiar.
A explicação restringe e define e prende; a imaginação expande 
e liberta. A explicação mantém nossos pés no chão; a imaginação 
levanta nossa cabeça para o céu. A explicação nos veste com uma 
armadura; a imaginação nos lança no mistério. A explicação reduz a 
vida para aquilo que pode ser usado; a imaginação aumenta a vida 
para aquilo que pode ser adorado.3
1 6 4 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a pen a"
V iv e n d o n o G r a n d e P a ís C e l e s t ia l d e D eu s
A o ler estas páginas, talvez você esteja pensando: Tudo bem, Paul e 
Tim, tudo isso soa muito bem, mas o que posso fazer para estimular a minha 
imaginação? Com o é que você estimula a sua imaginação em qualquer ou­
tra área da vida? Quando quer redecorar a sua casa, você comprarevistas 
especializadas no assunto e as examina até obter uma noção daquilo que 
você quer. Quando planeja as suas férias e se encontra com alguém que já 
esteve aonde você quer ir, conversa com ele sobre a sua viagem e assim 
ganha conhecimentos e empolgação quanto àquilo que poderá fazer quando 
chegar ao seu destino. Provavelmente, pedirá folhetos de viagem ou dará 
uma olhada nas fotos da viagem do seu amigo.
Para Brian e Kara não basta trabalharem para melhorar o seu casamento, 
eles precisam trabalhar para melhorar a sua imaginação. Deus lhes deu meios 
para fazer isso. Ele providenciou maneiras simples que estimulam e ampliam 
a sua imaginação para ver o que precisam ver. Esses meios são oração, verda­
de, discipulado, adoração e os sacramentos. Somos tentados a menosprezar 
esses meios porque parecem tão ordinários. E quando nos aproximamos 
deles, sem noção clara do motivo pelo qual nos foram dados, corremos 
perigo de perder o impacto profundo que deveriam te r em nós.
O estudo bíblico e a leitura pessoal perdem seu efeito quando não 
entendemos o propósito do estudo bíblico e da leitura. Devem ser um 
meio, não um fim. O propósito do estudo bíblico é fornecer uma visão do 
Deus que é meu Salvador e com quem eu mantenho um relacionamento. 
O estudo bíblico deve servir com o estímulo para a adoração, mas muitas 
vezes sua atenção é voltada à teologia e às regras. O s relacionamentos com 
meus irmãos e minhas irmãs no corpo de C risto devem estimular o nosso 
apreço coletivo da grandeza e da graça de Deus. Mas muitas vezes os rela­
cionamentos se transformam em fins e são postos a serviço do nosso desejo 
por aceitação. A Santa Ce ia é uma experiência rica em que as verdades 
espirituais são apresentadas de formas tangíveis. A sua intenção é atiçar a 
nossa imaginação para que vejamos a graça de Deus por meio do paladar, 
toque e visão. Mas muitas vezes, a Ce ia do Senhor se transforma em nada 
mais do que um ritual que realizamos com o mera rotina.
Há muitas outras coisas que Deus providencia para atiçar a imagina­
ção da nossa fé: hinos e cânticos, sermões, seminários, poesia, alegorias, a 
criação física e excursões missionárias, para mencionar apenas algumas. O 
mundo natural deveria estimular a nossa imaginação. A vida e o ministério 
do corpo de C risto deveriam expandir a nossa fé e adoração. Em meio às 
dificuldades e oportunidades da vida, todos nós precisamos nos perguntar
P r o v id ê n c ia - 165
com o podemos estimular a nossa imaginação a fim de ver e adorar a Deus. 
Também devemos estar atentos aos meios que Deus nos deu para que isso 
possa acontecer.
A realidade que sua imaginação vê é a realidade que determ ina suas 
palavras, seus atos, suas atitudes e seus relacionamentos. A pergunta não 
é: “Será que Deus providenciou tudo de forma adequada?” A pergunta é: 
“ Nós o vemos? Estamos reagindo uns aos outros não apenas baseados na 
força pessoal, no tamanho do problema ou no nosso currículo, mas baseados 
naquilo que Deus providenciou?”
Brian e Kara se parecem muito conosco. Assim como eles, nós nos 
esquecemos de que as batalhas espirituais são vencidas ou perdidas nos 
pequenos momentos. Costumamos minimizar a importância das lutas diárias 
com circunstâncias externas e o pecado interno. Mas Brian e Kara estão 
começando a entender o que significa depender de C risto nesses pequenos 
momentos. Brian talvez continue a lutar com sua depressão, mas C risto 
está do seu lado, ajudando-o a te r uma nova visão de si mesmo. Kara se 
encontra numa jornada parecida. Ela está abrindo mão de sua necessidade 
de estar no controle e está confiando que Deus fará tudo novo - até ela 
mesma! Apesar de ainda ser necessário acontecer muita transformação, os 
olhos de seu coração estão se abrindo para ver a largura, a profundeza e a 
extensão do amor e da glória de Cristo. A o passo que olhem por meio dos 
olhos da fé (ou dos olhos da realidade), C risto os elevará de um nível de 
glória para um superior nível de glória. Isso é verdadeiramente maravilhoso, 
mas é exatamente o que, segundo Deus, sempre tem sido a realidade.
Com o é que você está vendo a realidade? Está crescendo em sua ca­
pacidade de ver o invisível? O apóstolo Paulo nos encoraja e ordena a fazer 
isso em Efésios 5.14: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os 
mortos, e C risto te iluminará” .
N o t a s
1 Eugene Peterson, Subversive Spirituality (Grand Rapids: Eerdmans, 1997), 160.
2 Ibid., 161.
3 Ibid, 167.
Saindo para o mundo
Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para 
que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus 
inculpóveis no meio de uma geração pervertida e cor­
rupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo, 
preservando a palavra da vida...
Filipenses 2.14-16
As letras das músicas da banda Green Day conseguem captar a 
experiência de muitas pessoas. Se você fo r pai, pergunte aos 
seus filhos quantos dos seus amigos vêm de um lar desestruturado. Se for 
solteiro, pense em quantos dos seus relacionamentos incluem algum grau 
de dor e decepção. Dê uma olhada em sua própria família e seus parentes. 
Todos nós podemos ver com o essas músicas refletem algum aspecto das 
nossas próprias histórias. Todos nós vivemos com parte do dano causado 
pelo pecado e do qual também somos responsáveis.
O que faz da Bíblia um livro tão convincente é que ela entende isso. O 
drama das Escrituras é o nosso drama. Ela soa verdadeira, independente­
mente do grau de dano que nós vivenciamos. Toda a nossa vida é repleta de 
momentos de arrependimento. Há tempos em que gostaríamos de anular as 
palavras que dissemos. Há tempos em que gostaríamos de voltar no tempo 
para desfazer uma decisão. Há tempos em que a paixão venceu sobre os 
princípios. Aprendemos ao longo do caminho e às vezes acertamos, outras 
vezes erramos terrivelmente. Motivações colidem com motivações até não 
sabermos mais o que é o certo. As vezes, você se irrita ferozmente com uma 
pessoa que ama profundamente. As vezes, revive momentos repetidamente, 
apesar de saber que não deveria fazer isso. As vezes, todos os momentos de 
paz parecem ser perturbados por conflitos. E, às vezes, há muitos motivos 
para gratidão, mas também muitos motivos para tristeza.
S a in d o para o m u n d o - 1 6 7
À luz disso tudo, é surpreendente que, mesmo assim, consigamos encon­
trar momentos em que tudo dá certo. O que mais espanta a respeito do nosso 
mundo não é o tamanho de dano que nele há, mas a presença de qualquer 
coisa boa. O fato de relacionamentos permanecerem intactos e até durarem 
anos é um sinal de que a bondade de Deus ainda reside no mundo.
E s p e r a n ç a e m m e io à s r u ín a s
Por causa da presença de Deus, você pôde experimentar alegria nos 
seus relacionamentos. Conflitos realmente podem ser resolvidos. Um a con­
versa difícil acaba dando frutos positivos. Alguém estendeu sua mão a você 
em tempos difíceis. Você recebeu perdão. Am o r verdadeiro foi expresso 
e compartilhado. Alguém lhe prestou um serviço e você esteve disposto a 
servir. Um relacionamento casual amadureceu e se transformou em uma 
profunda amizade. Pessoas têm ignorado as suas fraquezas e aplaudido suas 
forças. A s pessoas têm aprendido a serem honestas sem serem rudes.
Apesar de Green Day não te r consciência disso, escreveu um salmo 
de lamento moderno. Suas letras clamam por algo a mais, assim como os 
Salmos fazem. O s Salmos expressam a fragilidade e o sofrimento da vida 
nos gritos de pessoas que anseiam por algo que é verdadeiramente melhor. 
Mas há também louvor nos Salmos das Escrituras. Não é emocionalismo 
vazio, mas louvor que subsiste em situações cheias de medo, dor, mágoa e 
decepção. O louvor nunca ignora essas experiências. Em vez disso, à medida 
que reconhece o Deus redentor que vai ao nosso encontro nas dores e nas 
alegrias da vida, se torna cada vez mais alegre. Um salmo que capta bem 
o encontro de dano e graça é o salmo 57 .1 -2. Ouça como o salmista vive 
nessa interseçãoenquanto encara as realidades da vida:
Tem misericórdia de mim, ó Deus, tem misericórdia, 
pois em ti a minha alma se refugia; 
à sombra das tuas asas me abrigo, 
até que passem as calamidades.
Clamarei ao Deus Altíssimo, 
ao Deus que por mim tudo executa.
O salmista não recua diante das dificuldades da vida, mas também não 
evita falar delas. Ele reconhece a realidade do desastre e mesmo assim clama 
por Deus em meio a ele. Seu salmo é uma adoração marcada pela dor.
1 6 8 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e va le a p e n a "
A VIDA NA INTERSEÇÃO
Ben e Erin se conheceram quando ainda eram adolescentes. Sua amiza­
de logo adquiriu traços românticos porque sentiam que haviam encontrado 
um tipo de amor que nunca tinham vivenciado em casa. Encontraram refúgio 
um no outro. Dentro de poucos meses, Erin ficou grávida e eles foram con­
frontados com a primeira de uma série de decisões difíceis. A vergonha da 
gravidez os levou a se casarem às escondidas, mas eles pouco sabiam sobre 
a vida conjunta e não faziam ideia de com o amar um ao outro.
Ben era um garoto no corpo de um homem. Parecia estar mais interes­
sado no mais novo videogame do que nas responsabilidades de um marido 
ou de um pai. Tinha sido uma criança sem supervisão que nunca devera 
explicação a ninguém. O s pais de Erin eram divorciados. Eles tentaram com­
pensá-la com presentes e adivinhando cada um dos seus desejos. Ela havia 
sido mimada de todas as formas erradas e esperava esse tipo de tratamento 
como expressão de amor. Ben não queria nem tinha com que satisfazer es­
sas expectativas. Apesar de te r se esforçado bastante para ganhar seu afeto 
enquanto ainda estavam namorando, isso mudou assim que se casaram.
A decepção de Erin e os sentimentos de fracasso de Ben, em combina­
ção com sua inabilidade de resolver conflitos, transformaram o casamento 
numa zona de guerra. Erin se queixava de que Ben não a amava de verdade; 
Ben se queixava de que Erin era exigente demais. Períodos de discussões 
agitadas se alternavam com períodos de frio isolamento. Em ambos os casos, 
eles sempre apontavam o dedo para o outro.
Certa noite, seu conflito transbordou e foi parar na escadaria do seu 
prédio. Outro casal ouviu a sua discussão e perguntou se podia ajudar. Com o 
resultado desse simples ato de gentileza, Erin começou a se encontrar com a 
esposa e Ben iniciou uma amizade com o marido. Também passaram tempo 
juntos como casais. Esses novos amigos eram membros de uma igreja local 
que se distinguia por receber pessoas que se encontravam em dificuldades 
e em discipulá-las na graça. Ben e Erin imediatamente encontraram outros 
casais dispostos a compartilhar de forma sincera as suas dificuldades que, 
surpreendentemente, acabaram sendo muito parecidas com os seus pró­
prios problemas. Enquanto essas pessoas compartilhavam, o que prendeu 
a atenção de Ben e Erin foi a sua sinceridade em combinação com a forte 
esperança de que as coisas mudariam. Transformações pessoais significantes 
começaram a acontecer em Ben e Erin ao passo que começaram a confiar 
em Cristo. Essa simples, porém poderosa experiência dos benefícios do 
Evangelho transformou seu casamento. A inda tinham muitas dificuldades, 
mas trataram delas de modo diferente. Estavam, também, rodeados por fiéis
que estavam comprometidos a estender a mão para eles e a perseverar com 
eles neste processo confuso que agora havia sido iniciado.
A H IST Ó R IA V E R D A D E IR A
O que começou como uma história sobre Ben e Erin é, na verdade, a 
história sobre um casal anônimo e a silenciosa comunidade revolucionária a 
qual eles pertenciam. As armas de sua guerra eram humildade, sinceridade, 
esperança, graça e coragem. Seus membros se aproximaram de Ben e Erin 
e os convidaram para fazerem parte do seu mundo.
O que esse casal fez pode ser resumido por uma palavra da Bíblia: 
reino. A revolução do reino de Deus não é barulhenta nem explosiva. E 
uma revolução silenciosa, feita por servos humildes que, muitas vezes, 
passam despercebidos. Basta lembrar-se do Rei desse reino radicalmente 
novo. Com o é que Jesus entrou na história da humanidade? Ele veio como 
nenê, nascido em pobreza no meio de um povo oprim ido. Ele pregou uma 
mensagem de esperança que se disseminou por meio da silenciosa, porém 
poderosa demonstração do am or de Deus mediante seu sofrimento, sua 
morte e ressurreição. Onde esse Rei estiver presente, essas mesmas virtudes 
surpreendentes também estarão. Foram essas qualidades que conquistaram 
o coração de Ben e Erin.
O que foi que atraiu Ben e Erin a esse casal anônimo? Ben e Erin es­
tavam com medo, sem esperança e desesperados, mas esse casal anônimo 
os convenceu. Suas vidas falavam do poder, da esperança e da realidade 
do Rei Jesus. Ben e Erin sentiam que podiam confidenciar a eles os seus 
problemas. Eles, em troca, estavam dispostos a lidar com a confusão que 
pessoas carentes com o Ben e Erin causariam em suas vidas. Sempre que 
a graça de Deus transforma seu coração e sua vida, você vivência um 
pouco da vinda do reino, que já existe no céu e na terra. E quando você 
vivência o poder desse reino, você quer que outros também tenham essa 
experiência.
S a in d o para o m u n d o - 169
N Ã O E X A T A M E N T E O Q U E V O C Ê EST Á P R O C U R A N D O
Numa conversa com os fariseus, Jesus apontou sua compreensão falsa 
do reino de Deus. Eles imaginavam um sistema de regras políticas dentro do
170 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a pe n a "
qual eles fariam parte da classe poderosa. Jesus lhes disse que o seu reino 
não é um sistema, mas sim a demonstração palpável da presença do Rei.
Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino 
de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus 
com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está!
Porque o reino de Deus está dentro de vós 
(Lc 17.20-21).
O s fariseus estavam esperando um reino terrestre e político e, por isso, 
sua expectativa em relação a sua vinda estava voltada para o futuro. Tinham 
uma noção errada sobre a forma visível em que o reino se apresentaria. 
Muitas pessoas têm tomado esse trecho com o base para sua conclusão de 
que o reino não é visível e que reside apenas no coração das pessoas. A 
tradução A lmeida Revista e Atualizada reforça essa visão ao traduzir “o reino 
de Deus está dentro de vós” . Mas Jesus está dizendo: “O reino está em seu 
meio” , apontando uma realidade interna e externa.
O que Jesus está dizendo para os fariseus é que o reino está bem aí 
para eles verem, mas eles não o veem. O que ele estava dizendo era que 
porque o Rei já está aqui, há sinais visíveis do seu reinado. Que sinais são 
esses que contradizem as expectativas dos fariseus? Jesus está apontando 
para uma realidade interna da graça que se expressa por meio de mudanças 
visíveis em indivíduos e seus relacionamentos. Deixa uma trilha de humildade, 
compaixão, sacrifício, alegria e paciência, além de muitas outras qualidades. 
O impacto dessa revolução se estenderá a sistemas e instituições, mas 
não é onde ela começa. Ela é iniciada no coração da pessoa e seus efeitos 
ondulatórios alcançam os mais remotos aspectos do pecado. O que Jesus 
está dizendo é que os fariseus, enquanto se perguntavam quando o reino 
prometido viria, estavam olhando para o próprio Rei desse reino.
O REINO INVISÍVEL VISÍVEL
O que o reino de Deus tem a ver com a história de Ben e Erin, ou com 
você e seus relacionamentos? Tudo! Se você estiver vivenciando humildade, 
perdão, paciência ou conflitos sagrados, está vivenciando a obra do Rei que 
está construindo o seu reino. Isso significa que os relacionamentos são um 
lugar onde o reino já chegou, e seu propósito é atrair outras pessoas ao Rei. 
A lém disso, sempre que você falar de mudanças em sua vida e relaciona­
mentos, não estará chamando a atenção para a sua sabedoria, sua esperteza
Sa i n d o par a o m u n d o - 1 7 1
relacionaiou seus dons pessoais; estará chamando a atenção para Jesus, seu 
Rei. O casal e a comunidade que acolheram Ben e Erin entenderam que o 
reino de Deus não serve apenas para o prazer particular, mas deve ser de­
monstrado publicamente. As pessoas que acolhemos em nosso meio verão 
a obra do reino, mas não necessariamente o Rei. E nossa responsabilidade 
e privilégio apontá-las para ele.
T o r n a n d o o r e in o v is ív e l
A Bíblia fala do reino de Deus de muitas formas, mas Jesus usa duas 
metáforas que falam especificamente da sua natureza visível. Em Mateus 
5.13-16, Jesus diz que sua própria presença real em seu povo o capacita a 
exercer a função de sal e luz para aqueles que estão a sua volta.
Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insí­
pido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta 
senâo para, lançado fora, ser pisado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a 
cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma 
candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no vela- 
dor, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim 
brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que 
vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que 
está nos céus.
Vejamos o que isso significa para nós e para as oportunidades redentoras 
que encontramos em todo lugar.
S e r o s a l : s a ir p a r a o m u n d o
A imagem do sal desafia o isolacionismo porque o sal só é eficiente como 
retardador da decomposição quando se encontra em contato próximo com 
a substância a decompor. Esse é um chamado incômodo porque nos afasta 
do conforto dos relacionamentos que já foram transformados pelo Rei. E, 
porém, quando vivemos entre pessoas danificadas que cumprimos o nosso 
chamado. O chamado do reino é um chamado para dentro do mundo, nunca 
para fora dele. Jesus não deixou dúvida quanto a isso quando disse em João 
17 .15: “ Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal” .
172 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a pe n a "
Devemos estar no mundo, não devemos, porém, ser dele. Muitas vezes, os 
cristãos fugiram do desafio desse chamado e definiram seu papel como sal 
em termos negativos. Simplesmente denunciaram as coisas ruins da cultura 
e assumiram uma posição contrária a elas em vez de ficarem do seu lado.
Mas a imagem do sal também ressalta a importância do nosso caráter. 
O sal só é efetivo se fo r realmente salgado! Somos chamados para ser pes­
soas de caráter forte para que ele possa exercer uma influência nos outros 
quando entramos em contato com o mundo. Essas qualidades não são 
apenas coragem e convicção, mas também humildade e compaixão. O que 
dizemos é importante, mas a forma com o dizemos também é. O que você 
representa é importante, mas o que você é enquanto você representa aquilo 
também é. Se, pela graça de Deus, você for verdadeiramente “salgado” , Deus 
quer que você use e aplique esse sal em relacionamentos em processo de 
decomposição onde a necessidade de sal é maior.
Quais são as oportunidades de ministério que existem para você em 
relação às pessoas que Deus colocou em seu caminho?
Há alguma família em sua vizinhança que está enfrentando di­
ficuldades?
Há algum pai ou mãe solteiros na escola do seu filho?
Há alguém em sua igreja que esteja sozinho e desanimado?
Há algum adolescente que precisa ver como uma família funciona?
Há relacionamentos em que você pode investir por meio das 
atividades extracurriculares dos seus filhos?
Quais são as necessidades de serviço, misericórdia e ajuda em 
sua comunidade?
Deus colocou alguma pessoa idosa em sua vida que precisa de 
companhia?
Onde estão as pessoas pobres em sua comunidade? Como você 
pode fazer parte de suas vidas?
Essas podem ser algumas das formas pelas quais Deus está incentivan­
do você a sair para o mundo. Você não necessariamente foi chamado para 
fazer todas essas coisas devido a outros chamados e responsabilidades que 
você já tem. Mas Deus, sem dúvida alguma, tem lhe dado a oportunidade 
para ser sal. Se você tiver filhos, você é chamado para cuidar deles, e uma 
forma de fazer isso é incluí-los em algumas oportunidades de ministério que 
Deus tenha lhe dado.
S a in d o par a o m u n d o - 1 7 3
Uma coisa é certa: Para ser sal você precisa te r confiança naquele Deus 
que veio ao mundo para redimi-lo. Devemos ser sábios, mas não devemos 
ter medo do mundo em que Deus nos colocou. Sim, haverá confusão. Mas se 
você fo r humilde ao reconhecer a confusão do pecado em sua própria vida, 
e mesmo assim mantiver a sua confiança na sua transformação pela graça 
de Deus, você não terá medo de se aproximar de outros pecadores que 
necessitam dessa mesma graça. Deus usará a confusão que você encontrará 
em outros para incentivar o seu crescimento no Evangelho.
S e r a l u z : a c o l h e r e m se u m e io
As coisas boas que experimentamos são um sinal de que o reino de 
Deus está vindo para a nossa vida. Tornar-se sal inclui sair para o mundo, ser 
luz inclui receber pessoas em seu meio para que elas possam ver que o reino 
já chegou. Você acolhe outras pessoas para que elas possam ver o impacto 
que o reino teve em seus relacionamentos. Os nossos relacionamentos 
devem ser faróis em um mundo escuro, e somos chamados para acolher 
as pessoas nessa luz. O apóstolo Paulo falou sobre a função da comunidade 
cristã como luz em Filipenses 2 .14-16:
Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para 
que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus 
inculpáveis no meio de uma geração pervertida e cor­
rupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo, 
preservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, 
eu me glorie de que não corri em vão, nem me esforcei 
inutilmente.
Em Efésios 5.1 I, Paulo nos chama para “reprovarm os” as “obras 
infrutíferas das trevas” . A palavra que Paulo usa para “reprovar” as trevas 
não significa “apontar o dedo e julgar” . Significa que devemos convencer as 
pessoas de que o Evangelho é verdadeiro porque a nossa vida é testemu­
nho convincente de que Deus veio para os pecadores. Paulo continua sua 
abordagem no versículo 15, onde diz: “Vede prudentemente como andais, 
não com o néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias 
são maus” . A nossa vida e relacionamentos devem ser mais convincentes 
do que os prazeres passageiros do pecado.
Lembre-se de que uma das coisas mais convincentes que pode ser 
vista por outras pessoas é a sua própria necessidade da graça. Este não é
174 - R e la c io n a m e n to s : " U m a c o n f u s ã o q u e vale a p e n a "
um ministério que se beneficia na postura do “ Eu já cheguei lá mas você 
precisa da graça” . E no contexto dos seus próprios pecados, dificuldades e 
fraquezas que o amor e o poder do Rei podem ser vistos com maior clareza. 
Am bos temos acolhido pessoas em nossas casas durante períodos extensos. 
Sem exceção, os nossos hóspedes disseram que uma das coisas que mais as 
ajudaram nessa experiência (além das coisas boas que puderam observar) foi 
o fato de terem visto os nossos próprios pecados e a nossa necessidade diária 
da graça. Um sinal do reino é a humilde conscientização da força contínua 
do pecado e os clamores por ajuda diários que dela resultam.
Quais são as oportunidades que você tem para convidar outras pessoas 
a entrarem na luz para que possam ver o reino?
Seu filho tem um amigo que se beneficiaria de um convite para 
morar em sua casa por algum tempo?
Você tem um colega de trabalho que possa convidar para um 
jantar e uma visita ao cinema com seus amigost
Você conhece uma pessoa idosa que se alegraria em compartilhar 
do amor de uma família durante as férias?
Há alguém que esteja sobrecarregado ou se encontre numa crise 
que precisa de um tempo para recuperar suas forças?
Existe outra família que adoraria passar um tempo com sua 
família?
Você conhece um casal mais jovem que poderia ser aconselhado 
por um casal mais velho?
Se você for solteiro, háalguma família com filhos pequenos que 
poderia precisar de sua ajuda? Como isso poderia servir de bênção 
para você também?
E claro que você não é chamado para fazer tudo isso o tempo todo. 
Mas fique pensando em com o pode convidar outras pessoas para dentro da 
sua vida e comece a procurar por essas oportunidades de maneira prática.
H e r ó i s e s q u e c i d o s
A história de Ben e Erin foi, de fato, a história do casal anônimo e de sua 
comunidade na igreja. Apesar de todas as fraquezas e fracassos que esse casal 
anônimo certamente vivenciou, ele acertou em cheio algo em relação ao seu 
relacionamento. Eles sabiam que as coisas boas que Deus fizera neles não 
deveriam ser guardadas só para si; eles eram os instrumentos que Deus queria
S a in d o para o m u n d o - 1 7 5
usar. É assim que a economia de Deus funciona. Ele esbanja sua graça sobre os 
pecadores para que eles possam fazer o mesmo por outros em seu nome.
M i n i s t é r i o é a d o r a ç ã o
O chamado que analisamos neste capítulo não é apenas um chamado 
para o ministério; é um chamado para a adoração. Isso pode soar estranho, 
mas toda vez que você servir a outra pessoa não estará servindo apenas a 
ela, estará servindo ao Rei - e isso é adoração. Am or por C risto sempre se 
estende aos outros. Gratidão a C risto sempre resulta em compartilhar as 
nossas bênçãos com outros. Usufruir dos benefícios do perdão de Cristo 
sempre se expressa em perdão a outros. A gratidão pela amável perseguição 
de Deus sempre nos levará a perseguir outros - mesmo quando estes não 
querem ser perseguidos. A gratidão pela disposição de C risto para v ir a 
nosso mundo confuso despertará a nossa própria disposição de mergulhar 
na confusão de outra pessoa. A adoração reconhece que os nossos bons 
relacionamentos não pertencem a nós, mas sim a Cristo. Portanto, não 
podemos guardá-los para nós mesmos; somos incentivados a compartilhá- 
los com outros. C om o respondemos às pessoas sempre depende de como 
respondemos a Cristo. Nossa adoração e teologia sempre estarão à vista na 
forma em que tratamos os outros. Cristo preencheu o vácuo entre os nossos 
relacionamentos verticais e horizontais com estas palavras surpreendentes 
e humilhantes em Mateus 25.34-40:
Dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, 
benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos 
está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive 
fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de 
beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me 
vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me.
Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi 
que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com 
sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e 
te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos 
enfermo ou preso e te fomos visitar?
O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afir­
mo que, sempre que o fizestes a um destes meus peque­
ninos irmãos, a mim o fizestes.
Você não fica feliz pelo fato de Jesus ter feito exatamente isso por você?
A o l e r e s t e l i v r o , e s p e r a m o s q â j e v o c ê s r e c o n h e ç a q u e n ã o p r e c i s a m o s d e n o v a s 
e s o f i s t i c a d a s t é c n i c a s p a r a q u e o § " r e ! a c i q n a m e n t o s f l o r e s ç a m . T u d o s e r e d u z à s 
q u â l i d a d e s d e c a r á t e r b á s i c a s q u e / S Á ^ p o j l e m s e r m o l d a d a s n o c o r a ç ã o p o r m e i o 
d o g i / a n g e l h o . É a s s i m q u e o s r e l a c i o n a m e n t o s c r e s c e m e q u e c o m u n i d a d e s s e 
■ f o f r i i a m p a r a r e f l e t i r a g r a ç a e a g l o r i a d e D e u s . E s p e r a m o s q u e e s t e l i v r o o a j u d e 
a p r o s s e g u i r n e s s e c a m i n h o d e m a p e i r a s i g n i f i c a t i v a .
^ ^ Tlm Lane e Paul Tripp
" S o u u m p | ^ | © ; i p a r n a t u r e z a . . . a t é q u e n ã o a g u e n t e i m a i s . Q u e r i a t e r l i d o 
e s t e l i v r o q u a n d o j e s u s ^ r i e f o r ç o u a t e r r e l a c i o n a m e n t o s . E u t e r i a m e f e r i d o m e n o s 
o u , p e l o m e n o N s t e f f â c o m p r e e n d i d o o s f e r i m e n t o s , c o m o o s a d q u i r i , c o m o o s 
i n f l i g i a o u t r o s e c o m o e u ( e o s o u t r o s ) p o d e r i a s e r c u r a d o . Q u e l i v r o m a r a v i l h o s o ! 
E l e v a i f a z e r u m a g r a n d e d i f e r e n ç a e m s u a v i d a e n a d a s p e s s o a s q u e v o c ê a m a . 
L e i a e s t e l i v r o e v o c ê v a i q u e r e r s e r m e u a m i g o p o r r e c o m e n d á - l o a v o c ê . "
Steve B r o w n , A u t o r , P r o f e s s o r n o R e f o r m e d 
T h e o l o g i c a l S e m i n a r y , O r l a n d o .
R e l a c i o n a m e n t o s c r i a m c o n f u s ã o , m a s n ã o p r e c i s a m c o n t i n u a r a s s i m . N e s t e 
l i v r o . L a n e e T r i p p n o s f o r n e c e m a j u d a v a l i o s a p a r a d e s e m b a r a ç a r e s s a s 
c o m p l i c a ç õ e s . E v i t a n d o l u g a r e s c o m u n s o u t é c n i c a s c o m p l i c a d a s v i s t a s e m o u t r o s 
l i v r o s d o g ê n e r o , e s s e s t a l e n t o s o s a u t o r e s n o s l e m b r a m d e q u e u m c o r a ç ã o 
t r a n s f o r m a d o é a c h a v e p a r a r e l a c i o n a m e n t o s s a u d á v e i s . "
Robert Jeffress, P a s t o r .
Dr. Timothy S. Lane (MDiv, DMin) é o Diretor Executivo da Christian 
Counseling & Educationai Foundation (CCEF), professor e conselheiro com 
25 anos de experiência, incluindo 10 anos como pastor. Tim e sua esposa 
Barbara têm quatro filhos.
Dr. Paul David Tripp (MDiv, DMin) é membro da equipe pastoral da Tenth 
Presbyterian Church em Filadélfia, professor de vida e cuidado pastorais em 
Fort Worth, Texas e autor de vários títulos sobre vida cristã. Entre outros livros, 
escreveu Guerra de Palavras (Cultura Cristã). Paul é casado com Luella e o 
casal têm quatro filhos adultos.
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Vida Cristã 
Aconselhamento
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